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ANÁLISE DAS INTOXICAÇÕES POR PLANTAS TÓXICAS NA REGIÃO SUL DO BRASIL PARA OS ANOS DE 2007 A 2010 FRANCISCO, Natália Milena Assíria Costardi; NOWACKI, Luciana RESUMO As intoxicações e envenenamentos envolvendo plantas tóxicas representam um problema de saúde pública, além de envolver gastos para a economia do país. Através dos dados publicados pelo Ministério da Saúde, tanto de forma voluntária como compulsória é possível estabelecer um perfil básico dos indivíduos mais atingidos a fim de se buscar formas de prevenção mais eficientes. Além das plantas tóxicas conhecidas e estudadas em diversos trabalhos, o uso indevido de plantas medicinais também causam os agravos. As crianças menores de nove anos são as mais acometidas pelas intoxicações, em forma de acidentes domésticos, envolvendo plantas utilizadas como ornamentais, portanto apresentando acidentes que podem ser evitados. Os adultos também são intoxicados, mas pelo mau uso das plantas, como pela falta de conhecimento da toxicidade delas. Palavras-chaves: Plantas tóxicas, Plantas medicinais, intoxicação, região sul. ANALYSIS OF POISON FOR TOXIC PLANTS IN SOUTHERN BRAZIL FOR THE YEARS 2007 TO 2010 ABSTRACT Intoxications and poisonings involving toxic plants represent a public health problem, and involve expenditures for the country's economy. Using data published by the Ministry of Health, both voluntarily compulsory as it is possible to establish a baseline profile of individuals most affected in order to seek more efficient ways of prevention. Besides the toxic plants known and studied in several works, the misuse of medicinal plants also cause injuries. Children younger than nine years are the most affected by poisoning, in the form of home accidents involving plants used as ornamentals, therefore showing that accidents can be avoided. Adults are also intoxicated, but the misuse of the plants, and the lack of knowledge of their toxicity. Key words : Toxic plants, medicinal plants, poisoning, southern region.

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ANÁLISE DAS INTOXICAÇÕES POR PLANTAS TÓXICAS NA REG IÃO SUL DO BRASIL PARA OS ANOS DE 2007 A 2010

FRANCISCO, Natália Milena Assíria Costardi; NOWACKI, Luciana

RESUMO

As intoxicações e envenenamentos envolvendo plantas tóxicas representam um problema de saúde pública, além de envolver gastos para a economia do país. Através dos dados publicados pelo Ministério da Saúde, tanto de forma voluntária como compulsória é possível estabelecer um perfil básico dos indivíduos mais atingidos a fim de se buscar formas de prevenção mais eficientes. Além das plantas tóxicas conhecidas e estudadas em diversos trabalhos, o uso indevido de plantas medicinais também causam os agravos. As crianças menores de nove anos são as mais acometidas pelas intoxicações, em forma de acidentes domésticos, envolvendo plantas utilizadas como ornamentais, portanto apresentando acidentes que podem ser evitados. Os adultos também são intoxicados, mas pelo mau uso das plantas, como pela falta de conhecimento da toxicidade delas.

Palavras-chaves: Plantas tóxicas, Plantas medicinais, intoxicação, região sul.

ANALYSIS OF POISON FOR TOXIC PLANTS IN SOUTHERN BRA ZIL FOR THE YEARS 2007 TO 2010

ABSTRACT

Intoxications and poisonings involving toxic plants represent a public health problem, and involve expenditures for the country's economy. Using data published by the Ministry of Health, both voluntarily compulsory as it is possible to establish a baseline profile of individuals most affected in order to seek more efficient ways of prevention. Besides the toxic plants known and studied in several works, the misuse of medicinal plants also cause injuries. Children younger than nine years are the most affected by poisoning, in the form of home accidents involving plants used as ornamentals, therefore showing that accidents can be avoided. Adults are also intoxicated, but the misuse of the plants, and the lack of knowledge of their toxicity.

Key words : Toxic plants, medicinal plants, poisoning, southern region.

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1. INTRODUÇÃO

Atualmente no Brasil e no mundo são crescentes os casos envolvendo

intoxicações e envenenamentos por diversos contaminantes, sejam produtos

disponíveis em nossas residências, assim como produtos utilizados no meio-

ambiente (BORTOLETTO, 1999; FABIANO, 2009; MARTINS, 2006; PINILLOS,

2003).

Diversos estudos no país apontam que os acidentes envolvendo este tipo de

envenenamento estão aumentando progressivamente, e representam uma parcela

grande em relação as intoxicações em geral, como por uso abusivo de

medicamentos, utilização de agrotóxicos e produtos sanitários. (BORTOLETTO,

1999, GETTER, 2011).

As intoxicações podem ocorrer tanto de forma acidental, seja por ingestão,

manuseio e até de forma relacionada ao trabalho, como também de formas

intencionais, como em homicídios e suicídios. Além da mortalidade envolvendo os

envenenamentos, estes também podem ocasionar lesões permanentes que

diminuem a qualidade de vida do indivíduo, também contribuindo para a falta de

capacidade laboral.

Além dos medicamentos e contaminantes tóxicos encontrados em alimentos e

até na água, as plantas que fazem parte de nosso meio também são uma fonte de

envenenamentos, principalmente envolvendo crianças. Estas podem ser utilizadas

de forma ornamental, mas também como forma de alimentação equivocada e uso

terapêutico.

O Brasil possui uma vasta flora e são conhecidas diversas plantas, nativas e

exóticas, que possuem potencial para acidentes de envenenamentos, caracterizadas

através de diversos estudos, como plantas tóxicas. Estas podem ser facilmente

encontradas tanto em ambientes públicos, incluindo escolas, como dentro de nossas

residências. Muitas vezes utilizamos estas plantas como forma de ornamentação,

seja dentro de casa ou em eventos específicos, facilitando nosso contato

cotidianamente. (BIONDI, 2008; RODRIGUES, 2002; TEIXEIRA, 2011).

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Plantas tóxicas são aquelas que apresentam substancias bio-disponíveis que

podem causar alterações metabólicas, reconhecidas como sintomas de intoxicação

em humanos e animais, podendo causar acidentes graves, incapacitações

temporárias ou permanentes e até a morte dos indivíduos (VASCONCELOS, 2009).

Por outro lado, as plantas medicinais, comumente utilizadas pela população

de forma alternativa aos medicamentos alopáticos, dependendo da dosagem

utilizada, podem ser consideradas tóxicas como também podem apresentar reações

adversas e interações medicamentosas. Devemos lembrar que a maior parte dos

medicamentos, incluindo os sintéticos e semi-sintéticos, teve alguma origem natural.

O uso concomitante de plantas e medicamentos alopáticos também, ao contrário do

que se pensa, podem produzir interações medicamentosas com reações tóxicas ao

organismo (VEIGA JUNIOR, 2005).

Sabe-se que mesmo que existam as informações sobre sua toxicidade, como

cartilhas e programas de informações sobre a toxicidade de plantas que fazem parte

de nosso cotidiano, esse conhecimento não é repassado de forma eficaz para a

maior parte das comunidades brasileiras, o que acarreta os acidentes envolvendo

tanto o consumo como o manuseio de certas partes destas plantas (TEIXEIRA,

2011). É necessário então que se tomem medidas educacionais para que este

conhecimento seja difundido, a fim de se evitar estas ocorrências.

A falta de fiscalização em relação aos produtos “naturais” encontrados

facilmente em feiras e mercados especializados, algumas vezes incluindo plantas

importadas, pode ter consequências sérias. Muitas plantas comercializadas como

remédios, por mais que não apresentem toxicidade, podem ser adulteradas com

substancias tóxicas, conter outras espécies vegetais misturadas, às vezes por

engano, e até mesmo contaminação por microrganismos patogênicos (VEIGA

JUNIOR, 2005).

No País, desde 1980, é realizado pelo Ministério da Saúde o

acompanhamento de casos de intoxicações com base em dados coletados em

centros específicos, e estes dados são anualmente divulgados através do Sistema

Nacional de Informações Tóxico-Farmacológico (SINITOX) da Fundação Oswaldo

Cruz (FIOCRUZ) desde 1985. Os dados contem informações sobre as ocorrências

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de envenenamentos por diversos agentes tóxicos, incluindo plantas, e fornecem

como e onde estes ocorrem com mais frequência. Além disso, possuem as

informações separadas pelas regiões do Brasil, o que facilita a visualização e

análise (GETTER, 2011).

Além das notificações remetidas ao SINITOX, que são voluntárias, existem

outros centros no país que realizam essas notificações compulsórias, como as do

SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) Ministério da Saúde:

“O Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN é alimentado, principalmente, pela

notificação e investigação de casos de doenças e agravos que constam da lista nacional de doenças

de notificação compulsória (Portaria GM/MS Nº 104, DE 25 DE JANEIRO DE 2011 ), mas é facultado a

estados e municípios incluir outros problemas de saúde importantes em sua região, como varicela no

estado de Minas Gerais ou difilobotríase no município de São Paulo.”

Conforme os centros de intoxicação e estudos na área, as crianças menores

de 9 anos são as mais atingidas por serem mais vulneráveis tanto em sua

capacidade natural, como por seu organismo mais frágil, quando comparado ao dos

adultos (RAMOS, 2005). Os envenenamentos infantis representam um dos

principais acidentes envolvendo crianças, e com altas taxas de morbi-mortalidade

infantil (MARTINS, 2006). De acordo com o SINITOX, 60% dos casos de

ennenenamentos acidentais são com crianças menores de 9 anos. Levando-se

estes dados em conta, a análise destes dados é importante, pois uma vez

caracterizado o problema, melhor será a linha de prevenção a ser realizada, tanto

para os pais, como nas escolas e lugares públicos facilmente acessíveis para os

menores. (AMADOR, 2000; FABIANO, 2009; VASCONCELOS, 2009; RAMOS,

2005)

Como cada região do país possui diferentes condições climáticas e

geológicas, as plantas também possuem uma diversidade muito grande quando

agrupadas em regiões e demonstram perfis diferentes de envenenamentos quando

comparadas (AGRA, 2007; GETTER, 2011).

Sendo assim, apesar dos dados e informações estarem disponíveis, é

necessária sua análise por partes e sua devida compilação para que sejam úteis,

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neste caso, tendo como foco as ocorrências da Região Sul do país, tanto pela

possível proximidade climática, como pela flora encontrada na região.

Ao se analisar as espécies mais abundantes em determinadas comunidades,

podemos relacionar mais facilmente as principais plantas que podem gerar

envenenamentos e fornecer uma melhor orientação para uma ação preventiva mais

local.

A identificação das principais plantas responsáveis pelas intoxicações e

envenenamentos é importante primeiramente para definir estas ações preventivas e

em segundo lugar, para o alerta do consumo sem orientação de plantas medicinais

que podem apresentar reações adversas, ao contrário do que se pensa em geral de

que “se é natural, não faz mal” (GOMES, 2001; OLIVEIRA, 2006; SILVEIRA, 2008;

VEIGA JUNIOR, 2005)

O Propósito deste artigo é contribuir para a análise do impacto das

intoxicações por plantas tóxicas em seres humanos na região sul do país, conforme

os dados disponíveis na rede SINITOX e nos dados do SINAN, incluindo as

principais espécies envolvidas nestes envenenamentos no período de 2007 a 2010.

2. ANÁLISE DE DADOS

2.1 PLANTAS TÓXICAS

As plantas tóxicas são aquelas que sabidamente apresentam algum efeito

nocivo aos seres humanos e animais, independente da dose utilizada, seja por

contato ou ingestão (GETTER, 2011). A maior parte dos estudos foi iniciada e

continua na área da medicina veterinária pela observação de toxicidade em animais,

como bovinos, ovinos, caprinos e suínos. Animais criados em pastos apresentam

reações tóxicas e até mesmo óbito após o consumo de determinadas plantas.

Em seres humanos, os estudos são realizados principalmente por afetar

crianças com menos de 9 anos (FABIANO, 2009; VASCONCELOS, 2009;

TEIXEIRA, 2011) por estarem mais expostas a plantas encontradas em ambientes

públicos e suscetíveis às intoxicações por conta de seu desenvolvimento natural e

muitas vezes por curiosidade inerente a idade . As intoxicações provocadas por

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plantas tem constituído problema de saúde pública, afetando inclusive a economia

do país (MATOS, 2011).

Os acidentes tóxicos podem ocorrer de forma direta ou indireta, seja por

ingestão de flores, frutos tóxicos confundidos como alimentícios, por drogas vegetais

de abuso, uso inadequado de plantas medicinais ou abortivas, contato de crianças

com plantas tóxicas de uso ornamental e até de forma intencional, como nas

tentativas de suicídio (DAMAS, 2009).

A forma indireta e menos comum, até por falta de estudos na área, seria pela

ingestão de carne, leite e derivados de animais que tenham ingerido plantas tóxicas

e as toxinas permaneceram acumuladas nos alimentos (MATOS, 2011).

Comumente as intoxicações são acidentais e acontecem por

desconhecimento do potencial tóxico da espécie justificando assim a realização de

trabalhos para prevenção destas intoxicações, que poderiam ser evitadas

(TEIXEIRA, 2011).

Os princípios ativos presentes nas plantas tóxicas são em sua maioria

alcaloides, glicosídeos cardioativos, glicosídeos cianogênicos, taninos, saponinas,

oxalato de cálcio e toxialbulminas. Todas estas substâncias causam intoxicações

muitas vezes de forma grave. Os alcaloides são responsáveis pelos efeitos

vasoconstrictores e alucinógenos, podendo levar ao Ergotismo (caracterizada por

necrose dos tecidos e grangrena) e também efeitos tremorgênicos, que pode levar a

morte. A metabolização de alcaloides pelo fígado pode levar hepatotoxicidade, mas

exigem uma ingestão de grandes quantidades. As substâncias cardioativas, embora

utilizadas de forma medicinal em culturas antigas, sempre vem acompanhada de

registros de intoxicações, principalmente no sistema cardiovascular, podendo levar a

morte. Também podem produzir sintomas no aparelho digestivo, como gastrenterite

hemorrágica, dor abdominal e diarreia. As substâncias calcinogênicas causam

acumulo de cálcio nos tecidos, podendo chegar a paralisia e morte por parada

respiratória. Os glicosídeos cianogênicos podem por reação química produzir ácido

cianídrico (HCN), extremamente tóxico. Outros grupos de substâncias, como

saponinas, taninos e cristais de oxalato de cálcio, responsáveis por intoxicações,

podem ser encontrados em cerca de 220 famílias de plantas. (MATOS, 2011).

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2.2 PLANTAS MEDICINAIS

As plantas medicinais são aquelas com potencial químico para agir como

remédio. No Brasil, devido a sua grande biodiversidade, as plantas medicinais são

utilizadas comumente em todas as regiões (AGRA, 2007).

Muitas vezes elas são obtidas e comercializadas em feiras livres, longe da

fiscalização e controle de sua produção, o que pode interferir na padronização das

substâncias ativas, que dependendo da dosagem utilizada, pode tanto trazer

benefícios a saúde, como causar envenenamentos graves. A sua crescente procura

pode ser justificada pelo difícil acesso da população à assistência médica e

farmacêutica, aliado ao custo dos medicamentos industrializados (SILVEIRA, 2008).

Devido a sua facilidade do acesso e do conhecimento popular muitas vezes

sem base científica, o seu uso é indiscriminado e realizado sem orientação médica

sendo por automedicação (SILVEIRA, 2008). Os próprios profissionais da área

médica não possuem o conhecimento necessário para a indicação de seu uso,

mesmo tendo o conhecimento de que a indústria de fitoterápicos vem crescendo

rapidamente (RODRIGUES, 2002). Por outro lado, os estudos de plantas que eram

utilizadas de forma medicinal também vêm comprovando a toxicidade destas plantas

utlizadas anteriormente sem restrição, incluindo espécies como a Kava-Kava e

Confrei, comuns no Brasil, incluindo o Sul do país (OLIVEIRA, 2006).

Apesar dos estudos na área, a população que utiliza plantas de forma

medicinal, parece não possuir o conhecimento tóxico de algumas delas, por crer que

elas não apresentam reações adversas e até mesmo reações alérgicas. Em um

estudo realizado por OLIVEIRA (2006), de 360 pessoas entrevistadas, 60% delas

acreditavam que as plantas medicinais não apresentavam efeitos tóxicos.

Outra questão envolvendo o uso destas plantas é o da possível interação

medicamentosa existente que pode ser ignorada, pois muitas plantas podem

diminuir ou aumentar os efeitos dos medicamentos alopáticos, podendo causar

intoxicações sérias (SILVEIRA, 2008).

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2.3 SINITOX

O Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX),foi

criado em 1980 pelo Ministério da Saúde, tendo sede na Fundação Oswaldo Cruz

(FIOCRUZ) e tem como principal atividade coordenar os processos de coleta,

compilação, análise e divulgação dos casos de intoxicações humanas registrados no

país pela Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica

(Renaciat). Esta rede é coordenada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(Anvisa) e foi criada em 2005 pela Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 19 da

Anvisa e é composta por 35 unidades localizadas em 18 estados brasileiros e no

Distrito Federal. A região sul do país contém 6 centros, localizados em Curitiba,

Londrina, Maringá, Florianópolis e Porto Alegre.

A Fiocruz passou a divulgar, anualmente, os casos de intoxicação e

envenenamento humanos a partir de 1985. Até 1986, o SINITOX era vinculado

diretamente à Presidência da Fiocruz. Posteriormente, foi incorporado à estrutura do

Centro de Informação Científica e Tecnológica (CICT/Fiocruz), hoje, Instituto de

Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT/Fiocruz).

O atendimento da rede é realizado de forma de plantão permanente, todos os

dias do ano com fornecimento de informações aos profissionais de saúde e

população leiga, podendo ser realizado através de telefone, e-mail ou fax. Os

atendimentos realizados são documentados em fichas que são encaminhadas para

um banco de dados e posteriormente informados para a Anvisa e ao SINITOX.

(SINITOX, 2013)

Conforme BORTOLETTO (1999) a base de dados do SINITOX foi criada em

1980, seguindo o modelo norte-americano da American Association of Poison

Control Centers – AAPCC, adaptada a realidade brasileira, contendo 19 categorias

de agentes tóxicos: medicamentos, agrotóxicos de uso agrícola, agrotóxicos de uso

doméstico, produtos veterinários, raticidas, domissanitários, cosméticos, produtos

químicos industriais, metais, drogas de abuso, plantas, alimentos, animais

peçonhentos (serpentes, aranhas e escorpiões) , outros animais peçonhentos,

animais não peçonhentos, desconhecido e outros. Sendo que as categorias de

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produtos veterinários, metais, drogas de abuso e outros animais peçonhentos foram

incluídas em 1999.

Conforme os dados obtidos pela rede SINITOX nos anos de 2007 a 2010 para

a Região Sul (Tabela 1), as intoxicações por plantas representam 1,83% do total das

intoxicações exógenas, incluindo medicamentos, alimentos e ataques por animais

(peçonhentos e não peçonhentos) dentre outros.

Tabela 1. Casos registrados de intoxicação humana por agente tóxico. Região Sul, 2007 a 2010.

ANO TOTAL

AGENTE 2007 2008 2009 2010 Nº %

Medicamentos 9321 7345 7117 6291 30074 30,66

Agrotóxico agrícola 1749 1139 1058 898 4844 4,94

Agrotóxico doméstico 1073 798 643 614 3128 3,19

Raticida 1045 740 684 52 2521 2,57

Produtos veterinários 378 325 323 255 1281 1,31

Domissanitários 2481 1884 1741 1654 7760 7,91

Cosméticos 365 319 289 266 1239 1,26

Produtos químicos industriais 1834 1353 1142 1186 5515 5,62

Metais 64 49 27 28 168 0,17

Drogas de Abuso 442 221 161 106 930 0,95

Plantas 610 456 399 330 1795 1,83

Alimentos 32 22 23 20 97 0,10

Animais (peçonhentos e não peçonhentos) 10560 7296 7509 7153 32518 33,15

Desconhecido 1365 650 671 797 3483 3,55

Outros 802 652 631 647 2732 2,79

TOTAL 98085 100

Fonte: SINITOX, 2013

Os dados provenientes do SINITOX são apresentados para a Região Sul, não

possuindo dados por estado, que seriam PR, SC e RS, mas sim com valores

somados para a região toda.

Foram 1795 casos notificados para a região nos anos analisados. Destas, 809

foram notificações envolvendo crianças de 1 a 4 anos de idade. Na tabela 2 são

apresentados os dados anuais conforme a faixa etária envolvida.

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Tabela 2. Casos registrados de intoxicação humana por plantas tóxicas e faixa etária. Região Sul, 2007 a 2010.

ANO TOTAL

FAIXA ETÁRIA 2007 2008 2009 2010 Nº %

<1 14 2 6 3 25 1,39

1 a 4 253 220 173 163 809 45,07

5 a 9 89 78 57 54 278 15,49

10 a 14 23 27 16 14 80 4,46

15 a 19 23 9 9 8 49 2,73

20 a 29 50 26 30 15 121 6,74

30 a 39 46 26 26 20 118 6,57

40 a 49 39 23 30 15 107 5,96

50 a 59 37 15 27 18 97 5,40

60 a 69 22 10 8 12 52 2,90

70 a 79 6 8 9 4 27 1,50

>80 2 5 6 0 13 0,72

Desconhecido 6 7 2 4 19 1,06

TOTAL 1795 100,00

Fonte: SINITOX, 2013

A maior parte das intoxicações registradas pelo SINITOX envolveram crianças

de 1 a 4 anos (45% do total). Conforme outros trabalhos realizados envolvendo

intoxicações com crianças (AMADOR, 2000; BIONDI, 2008; GETTER, 2011;

RAMOS, 2005) todos apresentaram a faixa etária de até 9 anos e também até 15

anos (MARTINS, 2006). Neste caso temos como maioria as crianças de 1 a 9 anos.

Conforme vários estudos a relação dos acidentes envolvendo plantas tóxicas

é maior em crianças de até 9 anos. Neste estudo os dados não são diferentes. A

maior parte das intoxicações são na infância envolvendo crianças de 1 a 4 anos,

seguidas pelas crianças de 5 a 9 anos, tanto nos dados do SINITOX como do

SINAN .

Quando os dados são separados por sexo, podemos notar que as

intoxicações envolvem mais indivíduos do sexo masculino em todos os anos. A

tabela 3 apresenta os dados totais por sexo. Comparando-se os anos, há uma

diminuição dos casos notificados, lembrando de que estes dados são obtidos de

forma voluntária, representando indivíduos que foram atrás de informações sobre as

intoxicações. De 2007 e 2010 houve uma diminuição de quase a metade de

notificações para os dois anos. 2009 e 2008 apresentam quase o mesmo número,

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com uma diferença de 57 notificações, mas mantendo um número médio quando

comparados aos valores de 2007 e 2010.

Tabela 3. Casos registrados de intoxicação humana por plantas tóxicas e sexo. Região Sul, 2007 a 2010.

ANO TOTAL

SEXO 2007 2008 2009 2010 Nº %

FEMININO 281 208 172 156 817 45,52

MASCULINO 328 245 227 172 972 54,15

IGNORADO 1 3 0 2 6 0,33

TOTAL 610 456 399 330 1795 100,00

Fonte: SINITOX, 2013

O fato dos indivíduos do sexo masculino serem a maioria, não é caso isolado.

Trabalhos como o de BORTOLETTO (1999) e GETTER (2011), também

demonstraram que os homens são mais acometidos por intoxicações que as

mulheres, e isto se reflete nas crianças. Talvez os meninos sejam menos cuidadosos

e mais curiosos que as meninas no que se refere ao contato com agentes exógenos.

No caso de adultos, estudos analisam que as mulheres são mais propensas a

acidentes com medicamentos (BORTOLETTO, 1999)

A tabela 4 apresenta os dados das intoxicações classificadas conforme a

circunstância, onde os casos de acidentes individuais representam a maioria.

Algumas das circunstâncias comumente analisadas em casos de intoxicação e que

apresentaram dados nulos foram deixadas na tabela para se ter a ideia geral dos

tipos de intoxicações que podem ocorrer e que muitas vezes envolvem outros

agentes como medicamentos, agrotóxicos e uso abusivo de drogas ilícitas.

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Tabela 4. Casos registrados de intoxicação humana por plantas tóxicas e circunstância. Região Sul, 2007 a 2010.

ANO TOTAL

TIPO INTOXICAÇÃO 2007 2008 2009 2010 Nº %

Acidente individual 488 391 352 294 1525 84,96

Acidente coletivo 17 10 8 2 37 2,06

Acidente ocupacional 15 13 6 4 38 2,12

Uso terapêutico 1 1 3 1 6 0,33

Prescrição médica inadequada 0 0 0 0 0 0,00

Erro de administração 0 0 0 0 0 0,00

Automedicação 9 3 3 3 18 1,00

Abstinência 0 0 0 0 0 0,00

Abuso 11 9 3 4 27 1,50

Ingestão de alimentos 31 5 1 3 40 2,23

Tentativa suicídio 10 6 6 1 23 1,28

Tentativa aborto 3 3 5 4 15 0,84

Violência/Homicídio 2 0 1 0 3 0,17

Uso indevido 17 10 10 8 45 2,51

Outros 4 3 1 2 10 0,56

Não determinado 2 2 0 4 8 0,45

TOTAL 610 456 399 330 1795 100,00

Fonte: SINITOX, 2013

Conforme estudos de dados de intoxicações observa-se que os casos

envolvendo menores estão em sua maioria classificados como acidentes individuais

(AMADOR, 2000) envolvendo substâncias que estão dentro de casa (RAMOS,

2005). Os casos contendo a intoxicação de adultos envolvem mais acidentes

coletivos, abuso de substâncias, uso de plantas medicinais sem orientação devida,

tentativas de suicídios e para provocar abortos.

2.4 SINAN

O Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN é um sistema

diretamente vinculado ao Ministério da Saúde, responsável pela organização das

notificações compulsórias emitidas pelos profissionais de saúde do país ligados ao

Sistema Único de Saúde – SUS e da rede privada. Em 2011 as notificações se

tornaram compulsórias à todos os estados brasileiros, devendo ser informadas as

Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde. Dentre os agentes e doenças

presentes na Lista de Notificação Compulsória, estão as intoxicações exógenas: por

substâncias químicas, incluindo agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados.

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Enquanto o SINITOX visa a prestação de informações e orientações aos

profissionais de saúde para as condutas clínicas nos casos de intoxicações, o

SINAN tem como objetivo a notificação e divulgação destes dados.

Apesar do SINITOX obter as notificações de forma voluntária, por ser mais

antigo, apresenta uma maior quantidade de dados, no que se refere aos obtidos de

casos envolvendo plantas, quando comparado ao SINAN. Visto que no SINAN as

notificações são compulsórias e que as notificações das plantas tóxicas somente

ocorreram a partir de 2007, nota-se uma uniformidade das notificações nos anos de

2007 a 2010, com valores totais da Região Sul menores do que os dados obtidos

pelo SINITOX para o mesmo período, principalmente para o estado do Rio Grande

do Sul que certamente apresenta uma subnotificação dos dados. Esta

subnotificação fica evidente quando se compara o total da Região Sul, para as

notificações voluntárias e as compulsórias (BOMBARDI, 2011).

Esta diferença entre as notificações poderia ser em parte explicada pelo fato

da Rede SINTOX possuir centros de informações toxicológicas geralmente nas

capitais dos estados e cidades maiores, provocando uma subnotificação de áreas

rurais e cidades mais distantes. Mas este não é o caso, pois esta Rede ainda possui

um maior número de notificações que os dados divulgados pelo SINAN.

Sobre possíveis questionamentos sobre esta diferença, não existe definição

clara, pois os estudos foram realizados com dados anteriores a 2007, com novas

categorias existentes (BOMBARDI, 2011). O que podemos inferir é que as

notificações compulsórias ainda não são realizadas de acordo com o real número de

intoxicações ocorridas até mesmo no país inteiro, havendo subnotificação.

Apesar de possuir uma maior quantidade de dados, observando as mesmas

variáveis, o SINITOX não apresenta em seu site as espécies das plantas envolvidas

nas notificações, o que dificulta a análise das espécies mais expressivas para as

ações de prevenção. O SINAN NET também não fornece a listagem. Como

demonstrado anteriormente nos dados obtidos pelo SINITOX, a tabela 5 apresenta

os dados das intoxicações por agentes exógenos separados pelas notificações

estaduais do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Comparando-se os

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dados podemos observar que a incidência das intoxicações, agora de forma

compulsória, são semelhantes, agora com 1,22% do total dos casos.

Tabela 5. Casos registrados de intoxicação humana por agente tóxico. PR, RS e SC, 2007 a 2010.

Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul TOTAL

AGENTE 2007 2008 2009 2010 2007 2008 2009 2010 2007 2008 2009 2010 Nº %

Ignorado 546 537 833 623 420 140 160 149 39 48 38 63 3596 9,38

Medicamentos 3507 3175 3150 3186 465 797 960 1134 143 134 163 281 17095 44,60

Agrotóxico agrícola 738 624 634 552 138 224 243 248 39 49 86 100 3675 9,59

Agrotóxico doméstico 172 155 154 189 18 32 46 41 10 9 11 21 858 2,24

Agrotóxico saúde pública 6 5 7 9 1 4 2 2 0 0 1 1 38 0,10

Raticida 538 459 415 464 66 107 91 128 16 7 20 18 2329 6,08

Produtos veterinários 104 98 91 87 12 31 13 19 4 8 6 10 483 1,26

Produto uso domiciliar 624 525 506 504 55 84 85 141 8 12 9 26 2579 6,73

Cosméticos 65 58 42 56 10 6 14 9 2 0 2 3 267 0,70

Produtos químicos 461 381 352 414 28 69 69 81 9 7 6 23 1900 4,96

Metal 32 25 17 21 3 0 3 2 0 0 0 0 103 0,27

Drogas de Abuso 462 538 508 538 58 72 85 170 10 11 18 26 2496 6,51

Plantas tóxicas 103 121 75 71 11 13 24 36 1 2 9 2 468 1,22

Alimentos 494 361 399 144 46 38 94 61 28 27 26 65 1783 4,65

Outros 149 127 118 124 14 37 23 30 14 6 8 8 658 1,72

TOTAL 8001 7189 7301 6982 1345 1654 1912 2251 323 320 403 647 38328 100

Fonte: SINAN NET, 2013.

Em seguida, de acordo com os dados do SINAN temos os registros totais da

Região Sul, somando-se os três estados que a região contempla, fornecendo os

registros por faixa etária e sexo (Tabelas 6 e 7).

Os registros também concordam com o fato da exposição ocorrer em maior

número com crianças de até 9 anos, exibindo cerca de 30% dos casos envolvendo a

faixa etária de 1 a 4 anos.

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Tabela 6. Casos registrados de intoxicação humana por plantas tóxicas e faixa etária. Região Sul, 2007 a 2010.

ANO TOTAL

FAIXA ETÁRIA 2007 2008 2009 2010 Nº %

<1 8 3 3 4 18 3,85

1 a 4 34 31 34 42 141 30,13

5 a 9 23 35 17 18 93 19,87

10 a 14 6 13 11 6 36 7,69

15 a 19 6 6 6 4 22 4,70

20 a 39 16 30 16 19 81 17,31

40 a 59 18 15 15 11 59 12,61

60 a 64 2 1 2 2 7 1,50

65 a 69 1 1 1 0 3 0,64

70 a 79 1 1 2 2 6 1,28

80 e + 0 0 1 1 2 0,43

TOTAL 115 136 108 109 468 100,00

Fonte: SINAN NET, 2013

Tabela 7. Casos registrados de intoxicação humana por plantas tóxicas e sexo. Região Sul, 2007 a 2010.

ANO TOTAL

SEXO 2007 2008 2009 2010 Nº %

FEMININO 281 208 172 156 817 45,52

MASCULINO 328 245 227 172 972 54,15

IGNORADO 1 3 0 2 6 0,33

TOTAL 610 456 399 330 1795 100,00

Fonte: SINAN NET, 2013

Em relação ao sexo, também nota-se que os mais acometidos são os

indivíduos do sexo masculino.

Ou seja, tanto os dados fornecidos de forma voluntária como de forma

compulsória apresentam as mesmas características, quando separados por agente

tóxico, neste caso específico somente envolvendo plantas, por idade e sexo. Apesar

dos dados do SINAN apresentarem um número inferior de notificações para o

mesmo período e para a mesma região, este fato somente pode ser explicado pela

ocorrência de subnotificações, mas serve muito bem para delimitar o perfil dos

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envolvidos, tornando possível assim uma forma de prevenção voltada para os casos

mais explícitos. Sendo assim, esta definição dos perfis somente pode ser realizada

se as notificações forem devidamente realizadas pelos profissionais de saúde

envolvidos.

Para que o trabalho de prevenção seja realizado de forma eficaz, torna-se

necessário a identificação dos principais agentes envolvidos.

Neste trabalho, as espécies das plantas envolvidas e casos de intoxicações,

voluntárias ou compulsórias, foram obtidas diretamente nos centros de notificações.

Em SC a lista foi obtida através do CIT/SC em parceria com a UFSC, que forneceu

uma listagem de espécies de plantas para os anos de 2007 a 2010, no RS a lista foi

obtida pelos Relatórios Anuais de Dados de Atendimentos do Plantão de

Emergência do Centro de Informação Toxicológica do Rio Grande do Sul, pelo

período de 2008 a 2010. Embora exista o Relatório para o ano de 2007, as espécies

das plantas não foram divulgadas conforme os demais anos. No PR a lista das

principais espécies notificadas foi obtida diretamente com profissionais da Secretaria

da Saúde ligados a Superintendência de Vigilância em Saúde, vinculados ao SINAN-

NET, para o período de 2007 a 2010.

Apesar das listas apresentarem as espécies de plantas que acarretaram

agravo, seja de forma compulsória ou voluntária, podemos notar claramente que a

planta comigo-ninguém-pode representa a maior parte dos casos em todos os

estados e em todos os anos analisados (Tabela 8). Em seguida, as plantas que mais

ocasionaram agravo foram as seguintes: pinhão, coroa-de-cristo, mamona para o

estado do PR. Em SC houveram notificações de aroiera, avelós(ou pau-pelado),

bucha (ou cabacinha) copo de leite e novamente coroa-de cristo e pinhão e

mamona. No RS também foram relatadas coroa-de-cristo, avelós, aroiera, copo de

leite, mamona e pinhão. Analisando a tabela podemos ver então que as plantas

utilizadas na região sul e que provocaram intoxicações são praticamente as

mesmas, excetuando-se outras plantas que tiveram baixa ocorrência, na maioria

delas apenas um caso. Como se verá neste artigo, e conforme alguns estudos na

área, as principais plantas envolvendo intoxicações são bem conhecidas e é

possível encontrar as informações sobre suas características tóxicas na literatura em

geral.

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O site do SINITOX possui uma lista deste tipo, incluindo imagens das

principais plantas encontradas com facilidade em nosso dia a dia que possuem

características venenosas e podem causar sérios danos.

Tabela 8. Relação dos registros de plantas notifica das nos casos de intoxicação humana. Paraná, 2007 a 2010

Nome Popular/Espécie Presumida Nº Nome Popular/Espé cie Presumida Nº Nome Popular/Espécie Presumida Nº

COMIGO-NINGUÉM-PODE Dieffenbachia SP 116 PINHÃO ROXO Jatropha gossypiifolia L. 2 FOLHA BRAVA Não Identificada 1

PINHÃO Jatropha curcas 29 PINHEIRINHO Aeschynomene indica L. 2 INHAME Colocasia esculenta 1

COROA-DE-CRISTO Euphorbia milli 22 PLANTA-DA-AMAZÔNIA Não Identificada 2 IPÊ ROXO Handroanthus impetiginosus 1

COGUMELO cogumelo indeterminado 10 AMORA ROXA Não Identificada 1 IPEIA Não Identificada 1

FUMO Nicotiana tabacum 10 ANTÚRIO Anthurium andraeanum 1 LEITEIRA DO DIABO Não Identificada 1

MAMONA Ricinus communis 8 ARVORE (LIQUIDO INTERIOR) Não Identificada

1 LEITOSINHA DA AMAZONIA Não Identificada

1

AVELÓS Euphorbia SP 7 BABOSA Aloe vera 1 LÍRIO Não Identificada 1

COPO-DE-LEITE Zantedeschia aethiopica 7 BUCHINHA Luffa sp 1 LUTEIRA Não Identificada 1

ALMECEGUEIRA Protium heptaphyllum 5 BUTI Não Identificada 1 PIMENTA Capsicum sp 1

ARVORE ORNAMENTAL Não Identificada 4 CACTO Cactus 1 RAIZ FORTE Não Identificada 1

MANDIOCA-BRAVA Manihot utilíssima 3 CANDELATRO(OXALATO DE CALCIO) Não Identificada 1 SAIA ROSA Não Identificada 1

TAIOBA Xanthosoma sagittifolium L. 3 COSTELA-DE-ADÃO Philodendron bipinnatifolium

1 VELOX Não Identificada 1

TAIOBA BRAVA Xanthosoma sagittifolium L. 3 COXINHA Não Identificada 1 Planta Desconhecida 61

AROEIRA/BUGREIRO Lithraea sp/ Schinus SP

2 DEDO-DE-DIABO/AVELÓS Euphorbia tirucalli L.

1 Não Identificada 20

CORNETA/TROMBETA Brugmansia sp 2 ERVA-DE-SANTA-MARIA Chenopodium ambrosioides 1 Planta Tóxica Desconhecida 3

ESPIRRADEIRA Nerium oleander L. 2 ESPINHO-AGULHA Dasyphyllum brasiliense

1

FIGO Ficus carica 2 FLOR TIPO LIRIO Não Identificada 1

Fonte : SESA/PR, 2003

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Tabela 9. Relação dos registros de plantas notifica das nos casos de intoxicação humana. Santa Catarina , 2007 a 2010

Nome Popular/Espécie Presumida Nº Nome Popular/Espé cie Presumida Nº Nome Popular/Espécie Presumida Nº

COMIGO-NINGUÉM-PODE Dieffenbachia SP

198 ALHO Allium sativum 2 CASTANEA Castanea sp 1

AROEIRA Lithraea sp/ Schinus SP 28 AMENDOIM-BRABO/LEITEIRA/CAFÉ-DO-DIABO/ADEUS-BRASIL Euphorbia heterophylla

2 CIMICIFUGA Cimicifuga racemosa 1

AVELÓS/PAU PELADO Euphorbia gymnoclada Boiss

26 ARRUDA Ruta graveolens L 2 CIPÓ-MIL-HOMENS Aristolochia cymbifera 1

LIMÃO Citrus limon 14 AZALÉIA Rhododendron simsii 2 CLERODENDRO Clerodendrum speciossimum 1

BUCHA, BUCHINHA-DO-NORTE, CABACINHA, ESFREGÃO Luffa SP

13 BANANA-DE-MACACO Monstera deliciosa 2 ERVA-DE-SÃO-SIMÃO Vernonia scorpioides

1

COPO-DE-LEITE Zantedeschia aethiopica 13 CAJUEIRO Anacardium occidentale 2 ESPINHEIRA SANTA Maytenus ilicifolia 1

COROA-DE-CRISTO Euphorbia milli 12 CARALLUMA Caralluma fimbriata 2 FALSO BOLDO/ASSA-PEIXE/BOLDO GRANDE/FIGATIL Vernonia condensata 1

CACTO Cactus 11 CASTANHA-DA-ÍNDIA Aesculus hippocastanum

2 FUNCHO Foeniculum vulgare 1

PINHÃO Jatropha curcas 11 CHÁ VERDE/CHÁ PRETO/CHÁ DA ÍNDIA Camellia sinensis 2 GERÂNIO Pelargonium peltatum 1

COGUMELO cogumelo indeterminado 10 ERVA-DOCE Pimpinella anisum 2 GRAVIOLA FALSA Annona montana 1

FUMO Nicotiana tabacum 10 ERVA-MOURA/ PIMENTA NEGRA / PIMENTA DE GALINHA Solanum nigrum

2 HIBISCO Hibiscus sp 1

MAMONA Ricinus communis 9 ESPADA-DE-SÃO-JORGE Sansevieria trifasciata 2

INSULINA-VEGETAL / CIPÓ-PUCÁ Cissus sicyoides 1

TAIÓ Colocasia antiquorum 8 FIGUEIRINHA ROXA, BARRABÁS, ROXINHA Euphorbia cotinifolia

2 IPÊS Tubebuia sp 1

COSTELA-DE-ADÃO Philodendron bipinnatifolium 6 GENGIBRE Zingiber officinale 2

JUÁ-BRAVO, PEITO DE MOÇA Solanum mammosum 1

EUPHORBIA Euphorbia Indeterminada 6 HERA Hedera helix 2 KALANCHOE Kalanchoe sp 1

ARNICA Arnica Montana 5 HORTELÃ Mentha sp 2 LOSNA (ABSINTO) Artemisia absinthum 1

CITRONELA Cymbopogon winterianus 5 JEQUIRITI Abrus precatorius 2 MALVARIÇO / HORTELÃ-GRAÚDA Plectranthus amboinicus

1

PINGO DE OURO/ VIOLETEIRA AMARELA Duranta repens 5 LÍRIO-DA-PAZ Spathiphyllum wallisi 2

MATA-PASTO / FEDEGOSO-GRANDE Cassia occidentalis 1

ANTÚRIO Anthurium andraeanum 4 MANDIOCA NÃO IDENTIFICADA Manihot sp

2 OLHO DE POMBO Rhyncosia phaseoloides 1

BABOSA Aloe vera 4 MARIA-SEM-VERGONHA, BEIJO-TURCO Impatiens sp 2 ONZE HORAS Portulaca grandiflora 1

JIBÓIA Paphidophora áurea 4 MASTRUÇO Coronopus didymus L 2 PATA DE VACA Bauhinia 1

MELISSA Melissa officinalis 4 NOGUEIRA DA ÍNDIA Aleurites molucana 2 PAU-DE-BUGRE, BUGREIRO Lithraea brasiliensis

1

BELADONA Atropa belladonna 3 NOZ MOSCADA Miristicina 2 PEDILANTHUS Pedilanthus sp 1

BOLDO VERDADEIRO Peumus boldus 3 PENICILINA Alternanthra brasiliane 2 ROSA BRANCA Rosa alba 1

BUGANVILE Bougainvillea glabra 3 QUINA AMARELA Cinchona Calisaya 2 SOLANUM SP Solanum sp 1

DAMA DA NOITE/TROMBETEIRA/SAIA-BRANCA Brugmansia suaveolens 3 SENE Senna alexandrina Mill 2 TAIÁ Caladium Bicolor Vent 1

ERVA-DE-SÃO-JOÃO/ HIPÉRICO Hypericum perforatum L

3 TREVO, AZEDINHA Oxalis sp. 2 TINHORÃO Caladium sp 1

FIGO Ficus carica 3 TUNGUE Aleurites fordii 2 TREPADEIRA-ELEFANTE, ROSA-DE-PAU Argyreia nervosa 1

INHAME Colocasia esculenta 3 ACALIFA, CRISTA DE PERU, RABO DE MACACO Acalypha wilkesiana

1 TROMBETA, TROMBETEIRA, SAIA-BRANCA, CARTUCHEIRA Datura suaveolens

1

MALVA Malva sylvestris 3 AGAVE Agave sp 1 UNHA-DE-GATO Ficus pumila 1

MANDIOCA-BRAVA Manihot utilíssima 3 ARACEA Araceae indeterminada 1 UXI-AMARELO, UCHI-AMARELO, PURURU Endopleura uchi

1

PIMENTA MALAGUETA Capsicum SP 3 BOLDO MIUDO/BOLDO GAMBÁ Plectranthus ornatus

1 VIOLETA AFRICANA Saintpaulia ionantha 1

URTIGA Urtica SP 3 BROMÉLIA Alcantaraea imperialis 1 Não identificada 92

ALAMANDA Allamanda blanchetti 2 CAFÉZINHO DE JARDIM, ARDÍSIA Ardisia crenata

1

Fonte : CIT/SC, 2013

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Tabela 10. Relação dos registros de plantas notific adas nos casos de intoxicação humana. Rio Grande do Sul, 2008 a 2010

Nome Popular/Espécie Presumida Nº Nome Popular/Espé cie Presumida Nº Nome Popular/Espécie Presumida Nº

COMIGO-NINGUÉM-PODE Dieffenbachia SP 281 UNHA-DE-GATO Ficus pumila 6 CAMARÁ Não Identificada 1

COROA-DE-CRISTO Euphorbia milli 52 VALERIANA Valeriana officinalis 6 CARAMBOLA Averrhoa carambola L. 1

AVELÓS Euphorbia SP 46 ÁRVORE-AVENCA Ginkgo biloba 5 CHEFLERA Schefflera arboricola 1

PLANTAS ESPINHOSAS Desconhecido 39 DAIME Banisteriopsis caapi 4 CHUVA-DE-OURO Cassia fistula 1

AROEIRA Lithraea sp/ Schinus SP 34 DATURA Datura sp 4 CICUTA Cicuta sp 1

COPO-DE-LEITE Zantedeschia aethiopica 33 FILODENDRO Philodendron sp 4 CIPÓ-MIL-HOMENS Aristolochia cymbifera 1

COSTELA-DE-ADÃO Philodendron bipinnatifolium

31 FLOR DE NATAL Euphorbia pulcherrima 4 FORQUILHEIRA Acnistus breviflorus 1

PIMENTA Capsicum SP 28 ARRUDA Ruta graveolens L 3 GUINÉ Petiveria alliacea L. 1

INHAME Colocasia esculenta 24 BABOSA Aloe vera 3 KAVA-KAVA Piper methysticum 1

MAMONA Ricinus communis 22 CALÁDIO/TINHORÃO Caladium bicolor 3 LIGUSTRO Ligustrum sp 1

PINHÃO Jatropha curcas 21 CANELA Cinnamomum zeylanicum 3 MARIA-MOLE Senecio brasiliensis 1

CINAMOMO Melia SP 20 CHAPÉU-DE-NAPOLEÃO Thevetia peruviana 3 OLHO DE POMBO Rhyncosia phaseoloides 1

CITRONELA Cymbopogon winterianus 18 CRAVO-DA-ÍNDIA Syzygium aromaticum L. 3 PRIMAVERA Bouganvillea sp 1

JIBÓIA Paphidophora áurea 14 ESPIRRADEIRA Nerium oleander L. 3 ROMÃ Punica granatum 1

CASTANHA-DA-ÍNDIA Aesculus hippocastanum

12 FAVEIRO Stryphnodendron sp 3 SAMANBAIDA-DAS-TAPERAS Pteridium SP

1

ESPADA-DE-SÃO-JORGE Sansevieria trifasciata 11 HERA Hedera helix 3 UMBU Spondias tuberosa 1

LÍRIO-DA-PAZ Spathiphyllum wallisi 10 TUNGUE Aleurites fordii 3 VEDÉLIA Sphagneticola trilobata 1

MANDIOCA-BRAVA Manihot utilíssima 10 URTIGA Urtica sp 3 Outras Plantas 40

ANTÚRIO Anthurium andraeanum 8 ALAMANDA Allamanda blanchetti 2 Outras Plantas Tóxicas 34

MATA-CAVALO/ERVA MOURA Solanum SP

8 ERVA-DE-SANTA-MARIA Chenopodium ambrosioides

2 Não Identificada 29

LEITEIRO VERMELHO Não Identificada 7 PITEIRA Não Identificada 2

BUCHINHA-DO-NORTE Luffa SP 6 SINGÔNIO Syngonium podophyllum 2

Fonte : CIT/RS, 2013

A partir da análise das listas de plantas envolvidas com intoxicações,

podemos notar que algumas das plantas relatadas possuem algum uso medicinal.

Corroborando com os estudos sobre a toxicidade de plantas e com o que já foi

discutido sobre a falta de conhecimento sobre o uso medicinal, este trabalho une

mais informações ao fato de que realmente plantas de uso popular podem trazer

sérias consequências. Plantas inclusive utilizadas como condimentos e temperos,

como o limão e a pimenta, foram responsáveis por intoxicações, provavelmente de

origem alérgica.

Outro fato que fica claro é o da intoxicação envolvendo as plantas

ornamentais. Várias das plantas que são relacionadas na listagem deste trabalho,

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não possuem qualquer uso medicinal, portanto são encontradas em áreas públicas

ou residenciais ornamentação, por suas qualidades de beleza.

3. CONCLUSÃO

A maior parte das intoxicações por plantas tóxicas se deve aos acidentes

individuais envolvendo crianças menores de 9 anos, sendo portando evitáveis.

A flora envolvida nos acidentes e intoxicações com as plantas tóxicas, ou

medicinais com potencial tóxico, foi muito parecida nos três estados que compõe a

região sul.

As plantas envolvidas são em sua maioria plantas utilizadas para

ornamentação, por apresentarem características de beleza como cores e flores

atraentes e em localidades acessíveis as crianças, seja em suas residências, como

em escolas.

Em alguns casos plantas utilizadas de forma intencional por serem

conhecidas como medicinais, também foram relatadas nos agravos. Cabe aqui um

alerta para o uso indiscriminado de plantas medicinais sem indicação de um

profissional competente, para avaliar o real poder de cada uma delas e das

possíveis interações medicamentosas existentes. Também deve se focar na falta de

fiscalização e controle de qualidade, específicos para este tipo de comércio, o que

poderia evitar a contaminação e fornecer produtos padronizados. A maior parte dos

médicos não faz uso de receitas que contenham estas plantas, o que pode indicar

que faltam estudos mais aprofundados das substancias que podem ter uso

terapêutico eficaz, ou falta de acesso às publicações existentes.

Apesar de existirem informações sobre a toxicidade destas plantas, a

informação não é percebida pela população de modo geral, ou é simplesmente

ignorada. A prevenção deve ser iniciada de forma a apresentar de forma percebível

o real potencial tóxico destas plantas, incluindo os possíveis efeitos adversos de

plantas medicinais, incentivando o uso de espécies substitutas que não sejam

venenosas.

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As pessoas responsáveis diretamente ligadas aos menores de idade, como

pais e professores, devem estar alerta para as plantas que existem nos ambientes e

evitar que sejam acessíveis às crianças. Para isso devem ser bem informados dos

riscos e das formas de contato com as plantas que podem levar a uma intoxicação,

visto que algumas plantas podem intoxicar apenas por contato, muitas vezes não

sendo necessária a ingestão.

Os centros de notificações realizam um trabalho primoroso para ajudar na

prevenção destes acidentes, inclusive apresentando material didático que pode ser

utilizado em aulas e palestras comunitárias, como forma de prevenção, além de

fornecerem informações e auxílio nos tratamentos.

Estas notificações são de extrema importância para estudos de diversos

agentes tóxicos, uma vez que fornecem um panorama do que deve ser prioridade ao

divulgar dados que ajudam a produzir um perfil das intoxicações e envenenamentos

que ocorrem por agentes exógenos, incluindo-se as plantas, sejam conhecidamente

tóxicas ou com a toxicidade a ser avaliada em outros estudos.

A partir de um perfil estabelecido, as ações de prevenções a acidentes, tanto

por ingestão acidental ou uso incorreto de plantas, podem ser realizadas de forma

mais eficiente.

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Agradecimentos

À Gisélia (do CIT/PR), Alessandra (do SESA/PR) e Ieda (do CIT/SC, UFSC) pela

gentileza e prontidão no envio dos dados, à Professora/Orientadora Luciana pelas

idéias valiosas e Isabela e Leandro pelo apoio e ajuda na análise dos dados.