Caderno Atividades Final Modificado2

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II Encontro Internacional e IV Nacional de Estudos Medievais do Translatio Studii Núcleo Dimensões do Medievo – UFF PROBLEMATIZANDO A IDADE MÉDIA Produção e Divulgação do Conhecimento 12 a 14 de Novembro de 2012 1

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II Encontro Internacional e

IV Nacional de Estudos Medievais

do

Translatio Studii

Núcleo Dimensões do Medievo – UFF

PROBLEMATIZANDO A IDADE MÉDIA

Produção e Divulgação do Conhecimento

12a 14 de Novembro de 2012

Campus do Gragoatá, UFF - Niterói

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Comitê CientificoProfª Drª Lívia Lindóia Paes Barreto (Coordenadora Translatio Studii – CEIA – UFF)

Profª Drª Renata Vereza (Vice-Coordenadora Translatio Studii – UFF)Prof. Dr. Mário Jorge da Motta Bastos (Translatio Studii – NIEP – Marx-PréK – UFF)

Prof. Dr. Paulo Faitanin (Translatio Studii – UFF) Prof. Dr. Ciro Flamarion Santana Cardoso (CEIA-GHT – UFF)

Profª Drª Leila Rodrigues da Silva (PEM-UFRJ)

Comissão Organizadora Profª Drª Lívia Lindóia Paes Barreto (UFF)

Profª Drª Renata Vereza (UFF) Prof. Dr. Mário Jorge da Motta Bastos (UFF)

Profª Drª Carolina Coelho Fortes (UGF) Almir Marques de Souza Junior (Doutorando – PPGH – UFF)

Álvaro Mendes Ferreira (Mestre – UFF) Ana Clara Thomazini Racy (Graduanda – UFF) Cinthia Moreira da Rocha (Doutoranda – UFF)

Eduardo Cardoso Daflon (Graduando – UFF) Jéssica Furtado de Sousa Leite (Graduanda – UFF)

Paula de Souza Valle Justen (Graduanda – UFF) Thiago Pereira da Silva Magela (Graduando-UFF)

PROGRAMAÇÃO

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Segunda-feira, 12.11.2012

08:30 às 9:45

Mini-Curso 1 – Relações de dependência pessoal no alto-medievo ibérico (IV-VII): formas do intercâmbio e dominação

Prof. Ddo. Paulo Pachá (PPGH-UFF – NIEP-Marx-Prék)

Mini-Curso 2 – Arte Medieval: visões e imagens

Profa. Dda. Cinthia Rocha (PPGH-UFF – Translatio Studii)

9:45 às 10:00

Intervalo

10:00 às 12:00

Reuniões dos Grupos de Trabalho (GTs)

12:00 às 14:00

Intervalo para almoço

14:00 às 15:45

Reuniões dos Grupos de Trabalho (GTs)

15:45 às 16:00

Intervalo

16:00 às 17:45

Reuniões dos Grupos de Trabalho (GTs)

17:45 às 18:00

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Intervalo

18:00 às 18:30

Cerimônia de Abertura

18:30 às 20:30

Conferência de Abertura – Do passado façamos tábua rasa? Retrato do historiador paralisado pelo tempo passado (e do medievalista pela Idade Media)

Prof. Dr. Joseph Morsel (LAMOP – Université Panthéon-Sorbonne – Paris 1)

Terça-feira, 13.11.2012

08:30 às 9:45

Mini-Curso 1 – Relações de dependência pessoal no alto-medievo ibérico (IV-VII): formas do intercâmbio e dominação

Prof. Ddo. Paulo Pachá (PPGH-UFF – NIEP-Marx-Prék)

Mini-Curso 2 – Arte Medieval: visões e imagens

Profa. Dda. Cinthia Rocha (PPGH-UFF – Translatio Studii)

9:45 às 10:00

Intervalo

10:00 às 12:00

Mesa-Redonda 1 – Latim e Idade Média: abordagens interdisciplinares

Integrantes: Profa. Dra. Jaciara Ornélia N. de Oliveira (UNEB-UCS); Prof. Dr. Leonardo Kaltner (UFF); Prof. Dr. Celso Azar (UFF); Prof. Dr. Paulo Faitanin (UFF – Translatio Studii); Prof. Dr. António Manuel Ribeiro Rebelo (Universidade de Coimbra)

Moderador: Lívia Lindóia Paes Barreto (UFF – Translatio Studii);

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12:00 às 14:00

Intervalo para almoço

14:00 às 15:45

Reuniões dos Grupos de Trabalho (GTs)

15:45 às 16:00

Intervalo

16:00 às 17:45

Reuniões dos Grupos de Trabalho (GTs)

17:45 às 18:00

Intervalo

18:00 às 20:00

Mesa-Redonda 2 – Relações de Poder e Sociedade na Alta Idade Média

Integrantes: Profa. Dra. Eleonora Dell’Elicine (UBA-UGS) e Prof. Dr. Edmar Checon de Freitas (UFF – Scriptorium)

Moderador: Prof. Dr. Mário Jorge da Motta Bastos (UFF – Translatio Studii – NIEP-Marx-Prék)

Quarta-feira, 14.11.2012

08:30 às 9:45

Mini-Curso 1 – Relações de dependência pessoal no alto-medievo ibérico (IV-VII): formas do intercâmbio e dominação

Prof. Ddo. Paulo Pachá (PPGH-UFF – NIEP-Marx-Prék)

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Mini-Curso 2 – Arte Medieval: visões e imagens

Profa. Dda. Cinthia Rocha (PPGH-UFF – Translatio Studii)

9:45 às 10:00

Intervalo

10:00 às 12:00

Mesa-redonda 3 – Política, Antropologia e História na Baixa Idade Média

Integrantes: Profa. Dra. Vânia Leite Fróes (UFF – Scriptorium) e Prof. Dr. Leandro Duarte Rust (UFMT – Vivarium)

Moderador: Profa. Dra. Renata Vereza (UFF – Translatio Studii)

12:00 às 14:00

Intervalo para almoço

14:00 às 15:45

Reuniões dos Grupos de Trabalho (GTs)

15:45 às 16:00

Intervalo

16:00 às 17:45

Reuniões dos Grupos de Trabalho (GTs)

17:45 às 18:00

Intervalo

18:00 às 20:00

Conferência de Encerramento – A história da África antiga vista pelos africanos: gênese e desenvolvimento da “Escola de Dakar"

Prof. Dr. José Rivair Macedo (UFRGS)

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PROGRAMAÇÃO GERAL

Horário/data 12.11 13.11 14.11

08:30 – 09:45

Mini-cursos Mini-cursos Mini-cursos

09:45 – 10:00

Intervalo Intervalo Intervalo

10:00 – 12:00

GTs Mesa Redonda Mesa Redonda

12:00 – 14:00

Intervalo de almoço Intervalo de almoço

Intervalo de almoço

14:00 – 15:45

GTs GTs GTs

15:45 - 16:00

Intervalo Intervalo Intervalo

16:00 – 17:45

GTs GTs GTs

18:00 – 20:00

Cerimônia de Abertura

Conferência

Mesa Redonda Conferência

GRUPOS DE TRABALHO

Horário/data 12.11 13.11 14.11

10:00 – 12:00 - Estado, soberania e relações de poder (Sessão 1)

- Gênero, corpo e sexualidade

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14:00 – 15:45 - Produção social do espaço

- Religiões e espiritualidade

- Estado, soberania e relações de poder (Sessão 2)

- Estado, soberania e relações de poder (Sessão 4)

- Identidade e alteridade

- Representações e imaginário (Sessão 1)

- Estado, soberania e relações de poder (Sessão 5)

- Língua e literatura (Sessão 2)

- Igreja e sociedade (Sessão 2)

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16:00 – 17:45 - Reflexões historiográficas

- Estado, soberania e relações de poder (Sessão 3)

- Igreja e sociedade (Sessão 1)

- Língua (Sessão 1)

- Representações e imaginário (Sessão 2)

- Igreja e sociedade (Sessão 3)

- Representações e imaginário (Sessão 3)

- Ruralidade, dominação e resistência camponesa

RESUMOS

Mini-cursos

Relações de dependência pessoal no alto-medievo ibérico (IV-VII): formas do intercâmbio e dominação

Prof. Ddo Paulo Henrique Pachá

(PPGH-UFF – NIEP-Marx-Prék)

O mini-curso abordará as formas do intercâmbio e dominação no alto-medievo ibérico como modo de enquadramento privilegiado para a caracterização das relações de dependência pessoal. Para atingir esse objetivo, analisaremos o panorama da medievalística contemporânea e as concepções de totalidade social que a informam, as principais formas de intercâmbio no alto-medievo ibérico e uma caracterização das relações de dependência pessoal como as relações sociais fundamentais do período.

Arte Medieval: visões e imagens

Profa. Dda. Cinthia Rocha

(PPGH-UFF – Translatio Studii)

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O objetivo deste minicurso é analisar as transformações na Arte Medieval entre os séculos V e XV, o que envolve discussões sobre o processo de assimilação e gênese de uma arte dita cristã, o Românico, o Gótico e as grandes mudanças no panorama artístico no fim do Medievo. A análise dará especial atenção aos conceitos de imagem e visão, conforme suas variadas utilizações pela historiografia medieval.

Conferências

Do passado façamos tábua rasa?Retrato do historiador paralisado pelo tempo passado

(e do medievalista pela Idade Media)Joseph Morsel

(LAMOP – Université Panthéon-Sorbonne – Paris 1)

E se o problema do historiador fosse o passado – não o passado na designação corrente, fácil, do conjunto dos tempos ao longo dos quais foram produzidos os inúmeros documentos com os quais trabalha o historiador, mas o passado como objeto que compete ao historiador? Essa concepção de historiador especialista do passado degenera logo em sub-especialidades, elas próprias validadas academicamente e, portanto, naturalizadas: os medievalistas pesquisam sobre a Idade Média ou são especialistas em Idade Média (como seção particular do passado e a eles reservada). Essa definição pela relação com o passado (ou com a Idade Média) explica, por um lado, porque os historiadores em geral têm tanta dificuldade em livrar-se da tarefa memorialista que lhes é imposta apesar da distinção entre passado e memória por eles regularmente recordada. Por outro lado, explica porque aos olhos dos não-historiadores o trabalho dos historiadores seja tão mal distinguido das ficções romanescas ou que lhes seja irrelevante quem se faça passar por historiador (ou historiador medievalista) desde que tenha publicado algumas linhas sobre o passado (a Idade Média) sem ocorrer a ninguém a idéia de denunciar (pelo menos eficazmente) o engodo. Toda a ambigüidade jaz na preposição “sobre”: se, de fato, o historiador pesquisa sobre documentos antigos, provenientes “do passado”, nada permite considerá-los documentos sobre o passado. Os historiadores

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não pesquisam sobre o passado, mas com o passado sobre sociedades, sobre a ocorrência de sociedades do passado (e, no que tange aos medievalistas, a sociedade medieval), mas não porque elas sejam do passado e sim porque sejam sistemas sociais que mudaram no tempo e porque essa dinâmica é o objeto do historiador.

A história da África antiga vista pelos africanos: gênese e desenvolvimento da “Escola de Dakar"

José Rivair Macedo

(UFRGS)

     

Na exposição, pretende-se avaliar a contribuição historiográfica dos estudiosos da África ocidental francófona, provenientes, sobretudo, do Senegal, Mali, Guiné e Burkina Fasso, vinculados direta ou indiretamente ao Institut Fondamental de l’Afrique Noire, sediado em Dakar. O foco da análise será a produção intelectual dos anos 1960-1970, vinculada aos pressupostos da negritude e do pan-africanismo, em perspectiva crítica ao eurocentrismo. A referência de estudo será o periódico intitulado Bulletin de l'IFAN, e suas publicações relativas aos antigos povos da região da Senegâmbia e da Guiné no período anterior aos contatos com os europeus e à constituição do mundo atlântico.

 

Mesas-RedondasMesa-Redonda 1 – Latim e Idade Média: abordagens interdisciplinares

Bernardo de Claraval e o Latim da Idade MédiaJaciara Ornélia Nogueira de Oliveira

(UNEB/PPGEL)

Costuma-se chamar o latim usado na escrita medieval, em lugar das línguas vernáculas, de baixo-latim, latim tardio, latim da decadência e, até, latim bárbaro, denominações preconceituosas que refletem, sem

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dúvida, o conceito de bárbarie e obscurantismo que até pouco tempo se difundiu sobre a Idade Média. Muitos conceitos foram atribuídos ao latim medieval, quando ele, é de fato a continuação do latim do medievo que “não em vão, foi o veículo de toda uma civilização e de uma riquíssima literatura”. Aliás, a produção literária, artística ou prática da Idade Média foi grande e toda ela se compunha em latim. Em latim se escreveram as leis e as ordenações emanadas de soberanos e autoridades eclesiásticas. Enorme é o acervo de histórias, biografias, crônicas, obras científicas e filosóficas escritas em latim. Sobretudo imensa é a literatura cristã. A Patrologie cursus completus de Migne tem algumas centenas de volumes, grande parte de autores latinos. Os séculos XI e XII, por exemplo, marcaram um ponto alto nesse longo período que se convencionou chamar Idade Média e que, cronologicamente, cobriu cerca de mil anos. No século XII, Bernardo de Claraval é, sem dúvida, um dos seus mais legítimos representantes. É fato evidente que a Igreja, também do ponto de vista linguístico, exerceu uma função centralizadora e unificadora, sendo o latim o principal responsável por esse tipo de ação, já que era a língua unificadora e universal da Igreja. Bernardo de Claraval foi explicitamente e com sucesso um grande mestre espiritual: não se limitou ao testemunho silencioso, mas falo, pregou, escreveu. Com grandes dotes literários ele produz uma considerável obra, toda ela escrita em latim.

Quod tot ficerat miracula quot scripserat articulos: Um relato da Solenidade de canonização de Santo Tomás de Aquino em 1323

Paulo Sergio Faitanin

(UFF – Translatio Studii)

Há dois relatos históricos sobre a solenidade de canonização de Santo Tomás de Aquino. Um, trata-se de possível relato anônimo. Outro, trata-se de um relato de um religioso, historicamente identificado. A intenção é trabalhar sobre o relato anônimo e em especial identificar o autor da frase latina acima referida; e, seguindo as hipóteses de dois historiadores da filosofia medieval, Mandonnet e Grabmann, analisar o documento e traçar algumas aproximações estilísticas com os possíveis autores deste relato, sem o compromisso de identificar, mas de ao menos apresentar um possível autor.

Importância do Latim Medieval para os estudos medievaisAntónio Manuel Ribeiro Rebelo

(Universidade de Coimbra)

É impossível estudar a Idade Média sem se saber latim, designadamente latim medieval, tendo em conta as fontes latinas da Idade Média.

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O que é, afinal, o latim medieval? Como surgiu a necessidade do estudo científico do latim medieval? Qual a mais-valia do conhecimento do latim medieval para o estudioso da Idade Média?

Procuraremos responder a todas estas perguntas apresentando exemplos práticos, que nos mostram como é importante estudar a especificidade linguística do latim medieval, se quisermos compreender a Idade Média.

Mesa-Redonda 2 – Relações de Poder e Sociedade na Alta Idade Média

La teoría, el Estado visigodo y el eremita Valerio del Bierzo (m. 695):

una composición posibleEleonora Dell' Elicine

(UBA – Univ. Gral. Sarmiento)

¿Resulta viable compatibilizar un estudio acerca de un eremita perdido en el Bierzo, una reflexión acerca de las posibilidades y límites de la documentación que se dispone y una teoría sobre la dinámica del reino visigodo? Postulamos aquí que este enfoque combinado resulta camino fértil para pensar las condiciones que dieron pie a la caída del reino visigodo. En efecto, la consideración de lugares de enunciación diferentes (en este caso, el de los eremitas y el de la retórica oficial de obispos y concilios acerca del lugar del rey) y de estrategias de intervención variadas permiten advertir una pugna entre perspectivas diferentes acerca de la función del Estado en la sociedad. Esta confrontación de proyectos habilitó, a nuestro criterio, el desfondamiento de la experiencia inaugurada en 589 a partir de la conversión de Recaredo.

De escravo a conde: a narrativa da trajetória de Leudaste e as possibilidades de investigação histórica da obra de Gregório de

Tours

Edmar Checon de Freitas

(UFF - Scriptorium)

As Histórias de Gregório de Tours (†594) oferecem um vasto panorama acerca da sociedade da Gália do século VI. As possibilidades de utilização de tal material como fonte de pesquisa histórica são, por essa razão, bastante amplas, indo muito além da mera reconstituição de eventos de natureza política ou religiosa. Gregório tinha um gosto pelo detalhe, característica que ao ser transposta para seus textos levou à

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produção de narrativas repletas de episódios aparentemente triviais, casos pitorescos ou relatos de intrigas as mais diversas. Por vezes o fluxo principal da narrativa é cortado, sendo oferecida ao leitor a possibilidade de uma distração. Resulta disso um quadro bastante confuso, tornando pesado o trabalho daquele que pretende recompor documentalmente o mundo de Gregório. Entretanto, a nosso ver é justamente nessa característica episódica que reside a grande riqueza documental da obra gregoriana. Sua obra se oferece de maneira bastante apropriada para a abordagem em escala reduzida. O detalhe torna-se aqui o foco, não tomado por seu valor em si mesmo, como retrato a ser recomposto, mas como oportunidade de desvelar relações sociais e universos culturais que neles se manifestam. Seguiremos aqui essa perspectiva, na esteira de algumas ideias de Carlo Ginzburg, explorando o relato de Gregório de Tours acerca da trajetória de Leudaste, antigo escravo que veio a ser conde de Tours nos tempos de Gregório (Hist. V,47-49).

Mesa-redonda 3 – Política, Antropologia e História na Baixa Idade Média

História e antropologia

Vânia Leite Fróes

(UFF – Scriptorium)

As relações da história com a antropologia estruturam-se atualmente num universo polêmico, mas frutífero para a historiografia medieval. A comunicação fará um balanço de algumas destas controvérsias, localizando questões onde o encontro destas duas áreas do conhecimento deram contribuições valiosas. Neste sentido, dois temas serão tomados como exemplo: os estudos do parentesco virtual e as relações socioeconômicas no interior das corporações de oficio; a questão do casamento e a divisão do trabalho nas comunidades camponesas.

A “Reforma Gregoriana” como Filosofia Política ModernaLeandro Rust

(UFMT – Vivarium)

Poucas expressões são tão familiares aos medievalistas como “A Reforma Gregoriana”. Generosamente difundida por historiadores e escritores ao longo do século XX, ela reúne ideias que modelaram nosso atual entendimento a respeito da Igreja, do Papado e das relações de poder na Idade Média. No interior deste amplo conceito os estudiosos sustentam a

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validade da descrição do passado nos termos de uma “teocracia pontifícia do século XI”, da “centralização eclesiástica” ou ainda da “racionalização jurídica das práticas feudais”. Todavia, a historiografia, de um modo geral, resiste em problematizar a fundo os fundamentos teóricos e as implicações conceituais abrigados no interior desta referência verdadeiramente paradigmática. Deste modo, os incontáveis trabalhos fiéis ao emprego da expressão mantém viva a rotina de tracejar as relações políticas medievais com linhas de realidade desenhadas por categorias de análise extemporâneas à chamada “Era Gregoriana”, já que comprometidas com os referentes históricos da filosofia política moderna. Noções como a concepção hobbesiana de contrato social, a teoria de Jean Bodin acerca da soberania e a premissa hegeliana da política como organização pública da eticidade foram firmemente assentadas como fundamentos intelectuais do significado histórico da “Reforma Gregoriana”: legado do catolicismo reformista de 1890-1960. A força deste modelo interpretativo revela-se pelas restrições tácitas impostas ao trabalho metodológico como regras comuns, óbvias e inequívocas à pesquisa sobre o passado medieval, ou seja, como critérios de uma inspeção direta da escrita da história.

Grupos de Trabalho

Grupo de Trabalho Estado, soberania e relações de poder

Coordenador: Prof. Ms. Almir Marques de Souza Júnior

Sessão 1

Dia: 12.11.2012

Horário: 10:00 às 12:00

O Fuero Real em foco: uma breve análise do codex jurídico alfonsino

Igor Formagueri Cunha de Oliveira(Graduando – UGF)

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Este trabalho propõe-se a dar uma breve perspectiva sobre o Fuero Real. Elucidaremos algumas questões que ainda são motivos de debate entre os historiadores que debruçam-se sobre o reinado de Afonso X, de Castela (1252-1284); o ano de produção do fuero, as questões relacionadas a autoria e a real aplicabilidade deste código jurídico. A partir destas conclusões poderemos explicitar, de forma clara, os motivos para que tal códex de leis fosse elaborado; em outras palavras buscaremos explicitar a busca, empreendida pelo referido monarca castelhano, pela centralização do poder régio em Castela, iniciando assim, a edificação de um Estado patrimonialista, o embrião do Estado Moderno. Palavras-chave: Fuero Real, Afonso X, Castela, Centralização política

A construção do conceito de pena no Fuero RealProfa. Dra. Marta de Carvalho Silveira

(UGF)

A elaboração do conceito de pena durante o período medieval carece ainda de uma definição mais precisa. Já que este próprio conceito, de cunho jurídico, confunde-se com o conceito de penalidade, elaborado no âmbito do discurso religioso. O que torna a elucidação desta indefinição uma questão das mais produtivas no campo da história jurídica medieval.

Considerando-se o Fuero Real como uma das principais obras de referência para o direito medieval, visto ter sido elaborado, no século XIII, como um instrumento da política de centralidade de poder empreendia pelo monarca Afonso X no reino castelhano, o tomamos como o nosso material básico de análise para este trabalho. Sendo assim, propõe-se aqui a elaboração de uma reflexão acerca da forma como o conceito de pena foi elaborado no discurso interno do Fuero Real e as relações que ele apresenta com outros elementos discursivos a ele contemporâneos.Palavras-chave:Direto – pena – Castela – monarquia – Igreja

Estado e poder na Castela do século XIII

Almir Marques de Souza Junior

(Doutorando – PPGH-UFF)

A proposta desta comunicação conciste em estabelecer uma reflexão acerca da utilização do conceito de Estado para a Idade Média. Com este intuito, partimos da recorrente afirmação, repetidas tanto por historiadores quanto por cientistas sociais, de que o medievo foi caracterizado por uma suposta “anarquia feudal” onde a atomização dos poderes políticos inviabilizaria a aplicabilidade do conceito em questão à quele período da história. Em face desta questão, tentaremos sugerir

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uma concepção alternativa para o entendimento do Estado em si. Utilizaremos o caso do reino castelhano-leonês do século XIII para demonstrar que, dentro da lógica do próprio feudalismo, levando-se em conta as instituições de governo existentes e a forma de organização da própria sociedade, é possível identificar instancias de poder que constituem um tipo de Estado diferente do Estado nacional moderno e contemporâneo.

Sessão 2Dia: 12.11.2012

Horário: 14:00 às 15:45

Hastings, 1066: Entre Huskarls e CavaleirosHiram Alem

(Graduando – UFRJ)

Ocorrida em 1066, a batalha de Hastings aparece como ponto fundamental para a história inglesa. Com a invasão normanda liderada pelo duque William, temos que dois modelos militares se encontram em campo. Esta comunicação objetiva analisar o guerreiro normando e o guerreiro anglo-saxão à luz de suas formas de combate e equipamentos de guerra. Para tanto, utilizaremos tanto fontes escritas quanto iconográficas, com especial atenção para a Tapeçaria de Bayeux.

Cultura Militar no Japão Medieval do Século XIIIDouglas Magalhães Almeida

(Graduando – UFF)

Este trabalho realizado dentro do Grupo de Estudos sobre História do Japão Antigo do Centro de Estudos Interdisciplinares sobre a Antiguidade da Universidade Federal Fluminense, com o aprimoramento do conhecimento fornecido pelo Grupo de Estudos sobre História Militar (GEHJA; GEHM-CEIA-UFF) durante o segundo semestre de 2010 fora pautado na fonte primária Môko Shûrai Ekotoba, o pergaminho de guerra ilustrado (Emaki) de Takezaki Suenaga tendo como objetivo pontuar as características do estilo medieval de combate japonês antes e depois das duas invasões mongóis, lideradas pelo Imperador Kublai Khan durante o Séc. XIII, identificando transformações em seu período posterior na esfera militar. 

Os Mujahidin das Cruzadas: A Construção da Ética Guerreira Árabe

Robson Mattos Rezende

(Graduando - UFF)

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A pesquisa que ora se propõe visa, em linhas gerais, abordar, no contexto das três primeiras cruzadas (1095–1192) e do enfrentamento bélico que teve, então, lugar – a configuração de uma ética guerreira muçulmana em contraposição à do “invasor” cristão. Na imagem do cristão formulada pelos muçulmanos transparece-nos uma aversão a essa ética que se reproduz no momento das cruzadas; nesse caso, é imprescindível analisarmos tanto o aspecto religioso quanto o militar propriamente dito daquelas empreitadas. O enfoque religioso ganha respaldo no elemento fé, pela qual ambos iriam “negativizar” a imagem do outro e reafirmar a sua própria. Assim, nesta articulação de guerra e religião, propomos que a figura de Saladino seria referência central para averiguarmos a ética guerreira muçulmana, ainda que não seja ele o objeto central dessa análise. O estudo deste período -as cruzadas - e dos seus dois atores principais – o cristianismo e islamismo -, duas doutrinas religiosas possuidoras de um grande número de fieis ao redor do mundo, pode fazer com que entendamos não apenas esse momento específico das cruzadas (ou melhor, das três primeiras), mas também o porquê da evolução da relação entre ambos permanecer tão conturbada. Cremos que deriva, do período em questão, a perpetuação de modelos formulados que acabaram por rotular cristãos e muçulmanos como inimigos irremediáveis.

Palavras-chave: História Medieval, Islã, Religião, Cruzadas, Ética Cavaleiresca

Sessão 3Dia: 12.11.2012

Horário: 16:00 às 17:45

A transformação do corpo e a transformação do espírito: os guerreiros polimórficos na tradição germano-escandinava (sécs.

III-XIII)Renan Marques Birro

(Mestrando – PPGH-UFF)

A tradição germano-escandinava legou à posteridade uma série de evidências sobre guerreiros metamorfos, capazes de se transformarem em águias, lobos ou javalis. Com base num amplo recorte temporal, este trabalho pretende abordar alguns casos desses homens de guerra desde os Alamanni até as sagas islandesas. Minha intenção será enfatizar os aspectos belígeros e as condições para que essas transformações ocorressem, além de sua associação com a guerra na tradição germano-escandinava. Para tanto, pretendo utilizar a História simbólica de Michel Pastoreau e a longue durée de Fernand Braudel para propor novas abordagens para a História militar.Palavras-chave: Germânicos - Escandinavos - História Militar - Polimorfia – Guerra

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Guerra e Política: Generais Romanos e a Ascensão da Realeza Gótica (382-410)

Sandro Teixeira Moita(Mestrando – PPGH–UNIRIO)

Com a entrada dos Godos no Império Romano em 382, fruto do tratado de paz que encerrou a Segunda Guerra Gótica (376-382), uma nova relação surgiu no seio da sociedade gótica. Com a antiga nobreza destruída pela guerra e migração forçada, o poder passou das lideranças tradicionais para chefes guerreiros, gerando uma luta por quem seria capaz de conduzir os Godos em sua nova moradia dentro do Império. Com o poder residindo basicamente nas mãos daqueles que possuíam grupos de guerreiros, e consequentemente, forçamilitar, houve uma tentativa romana de cooptar as lideranças góticas através de diversos recursos, sendo que as patentes militares eram o recurso mais cobiçado pelos chefes bárbaros. Os casos de Gainas, Eriulf, Fravitta e Alarico são emblemáticos para demonstrar tal relação entre a o Império Romano e os Godos, servindo para fortalecer a incipiente realeza, sendo que o primeiro Rei, Alarico, era uma liderança indesejada pela corte romana.

Palavras-chave: Godos - Império Romano - História Militar - Guerra

Fredome is a noble thing: a cavalaria em The BrusCarolina Cardoso Walliter

(Graduanda – UFF)

Apresentação da proposta de projeto monográfico sobre a cavalaria no poema épico The Brus, de autoria do arquidiácono de Aberdeen, John Barbour. A obra conta a trajetória de Robert Bruce, futuro Robert I da Escócia, durante o processo que ficou conhecido como as Guerras de Independência Escocesa (1306 a 1314).Palavras-chave: Cavalaria, Robert I da Escócia

Sessão 4

Dia: 13.11.2012

Horário: 14:00 às 15:45

As Cortes Medievais na Emergência do Estado Moderno Português

(1438-1481)João Cerineu Leite de Carvalho

(Doutorando – PPGH-UFF)

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Compreendendo o Estado baixo-medieval como instrumento dos grupos politicamente hegemônicos, na manutenção e expansão das relações de produção que lhes eram favoráveis, vejo nas Cortes portuguesas um de seus mais eficazes recursos legitimadores nos séculos XIV e XV. As inúmeras assembleias reunidas nesse período foram fundamentais na constituição do Portugal Avisino, na concretização de um dado projeto político, e na subsequente transformação do reino em uma estrutura estatal moderna. Tal perspectiva demanda a ampliação, e, até certo ponto, a reformulação do conceito de Estado utilizado para analisar a Baixa Idade Média portuguesa, operação que busco sustentar sobre princípios como a noção gramsciana de Estado Integral.

Afasto-me, por essa razão, da ideia de que um suposto desequilíbrio entre os privilegiados nas disputas travadas em Cortes no período que vai de 1438 a 1481, com um maior benefício dos poderes senhoriais, implicaria, especialmente no reinado de D. Afonso V, um hiato (ou retrocesso) no processo de modernização de Portugal. Ao contrário, recorro a uma leitura na qual as variações conjunturais na dinâmica das disputas e dos grupos beneficiados por seus resultados em cada reunião de Cortes seriam evidências não só da natureza do Estado Português baixo-medieval, mas do papel essencial dessas assembleias na sua constituição histórica.Palavras-chave: Estado, Baixa Idade Média, Século XV, Portugal, Cortes

A Crônica de El-Rei D. João I, da Boa Memória: messianismo e escatologia na Dinastia de Avis

Josena Nascimento Lima Ribeiro(Graduanda – UEMA)

A sociedade medieval construiu durante séculos, imagens messiânicas e escatológicas relacionadas a figuras de destaque. Durante boa parte destas tentativas de encontrar aquele que seria o “salvador” em uma estrutura social repleta de contrastes, os reis foram os escolhidos para carregarem os títulos de guardiões das máximas e preceitos cristãos. De modo que, no reino de Portugal, sempre esteve em voga uma idéia de que a preservação da história e dos grandes feitos seria primordial para a formação da memória. Assim, as obras de Fernão Lopes encomendadas pelo monarca D. Duarte atravessaram o tempo e tornaram-se fontes na historiografia atual. Sua trilogia de crônicas tornou-se a principal leitura voltada para a análise do momento crucial que o reino de Portugal passava durante a Baixa Idade Média. Logo, nota-se em especial a Crônica de D. João I, onde expectativas messiânicas e escatológicas imbricam-se para a legitimação de uma dinastia em ascensão, a dinastia de Avis. Dessa forma, o monarca D. João I torna-se, segundo Lopes, o “Mexias de Lisboa” e o inaugurador da

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Sétima Idade no reino português, como uma espécie de Imperador dos Últimos Dias. A pesquisa realizada intenciona antes de tudo, construir o percurso do rei a partir da análise das obras de Fernão Lopes e distinguir de que maneira o discurso messiânico foi colocado em prática para a consolidação de uma “nova era” e para a produção do passado português.

Palavras-chave: Crônica de El-Rei D. João I – Messianismo – Portugal

O Estado Português às Vésperas da Modernidade: Tensões e Relações de Poder em uma Sociedade Nobiliárquica

Thaís Silva Félix Dias(Graduanda – UGF)

O trabalho a ser apresentado é subprojeto da pesquisa “O Estado Português na Baixa Idade Média: Tensões e Relações de Poder em uma Sociedade Nobiliárquica”, financiado pelo programa de Iniciação Científica da Universidade Gama Filho - PIBIC/UGF, e visa compreender a estrutura do Estado Português no início da Era Moderna.

Para isso, faz-se necessária a compreensão de que o Estado do século XVI não correspondia à conceituação de Estado Absolutista, desenvolvida em relação a suas configurações no século XVIII; bem como entender que as relações de poder, na tentativa de centralização, entre poder central e poderes periféricos – em particular a nobreza – não se caracterizavam por desestabilizar a estrutural estatal. Antes, contribuíam para um equilíbrio da ordem e da organização vigentes.

Diante disso, tendo por referência os reinados de D. Afonso V e D. Manuel, a pesquisa dá ênfase a análise das relações existentes entre a Coroa e a nobreza portuguesas, como essa relação se apresentava no corpo social, e como sistematizava o mesmo.Palavras-chave: Estado – Modernidade – Portugal – Relações de Poder

A burguesia de Lisboa e D. Dinis: conflitos e negociações entre monarquia e poder concelhio (1279-1325)

Bruno Marconi da Costa(Mestrando – PPGHC-UFRJ)

A construção do Estado medieval português, de acordo com Adelaide Millán da Costa, foi feita por forças 'de cima' - o poder monárquico - e 'de baixo' - o conjunto dos concelhos, as menores circunscrições civis reconhecidas pelo sistema político da Idade Média. No que diz respeito ao concelho de Lisboa, a maior cidade do reino, a burguesia exerceu importante pressão política na exigência de direitos e na estruturação do espaço urbano da cidade. Nosso objetivo nessa comunicação é analisar, a partir de uma perspectiva marxista, as relações entre D. Dinis (1279-1325) enquanto rei e senhor da cidade com comerciantes e artesãos representados na instituição concelhia,

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identificando como exerciam o poder no que diz respeito a conflitos concernentes à política econômica do monarca, à construção do espaço urbano olisiponense e a atuação de D. Dinis sobre a oligarquização da cidade.Palavras-chave: Lisboa, D. Dinis, concelho, burguesia

Sessão 5

Dia: 14.11.2012

Horário: 14:00 às 15:45

Mudança nas relações de dominação da Antiguidade à Alta Idade Média

Eduardo Cardoso Daflon

(Graduando – UFF – PIBIC/CNPq)

Tenho por objetivo traçar, nessa comunicação, um breve apanhado com os resultados parciais da pesquisa que venho desenvolvendo na condição de bolsista CNPq-UFF. Trata-se de abordar os desenvolvimentos históricos intrínsecos à complexificação social germânica entre os séculos I a.C. – V d.C., tomando por base as obras De Bello Gallico, de Júlio César, e Germania, de Cornélio Tácito, além dos referenciais colhidos em pesquisas arqueológicas.  Proponho-me, ainda, relacionar essa transição histórica na Germânia com as mudanças que vinham ocorrendo no interior do Baixo Império Romano, na tentativa de formar um quadro inicial da passagem da Antiguidade para a Alta Idade Média.

Palavras chave: Estado; relações de dominação; Antiguidade; Alta Idade Média

Hispania Visigótica: Consolidação da monarquia e o nascimento de uma teoria política

José Ricardo Rodrigues

(Mestrando – PPGH-UFF)

Esta comunicação tem por objetivo refletir sobre a consolidação da Monarquia Visigótica principalmente a partir da conversão do Rei Recaredo (586-601) e do povo godo à ortodoxia nicena ou católica aliando esforços com a hierarquia católica visando a manutenção e unidade do reino. A partir das atas conciliares, pode-se constatar a construção de uma teoria política a sustentar a prática da "unção real" pelos representantes da igreja. Nesta perspectiva, figuras como "rei

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ideal" e "modelo de monarca cristão" são propostas para conferir legitimidade sacral ao rei visigodo-católico que buscava superar os limites provocados pela ausência de uma legitimidade de sangue.

Palavras-chave: Alta Idade Média, Hispania Visigótica, Igreja Católica.

‘Gênese do Estado moderno’: um instrumento de pesquisa?Douglas Mota Xavier de Lima

(Doutorando – PPGH-UFF)

Os projetos europeus de pesquisa sobre a gênese do Estado moderno têm oferecido nas últimas décadas importantes acúmulos acerca do processo de desenvolvimento das estruturas políticas no Ocidente entre os séculos XIII e XVIII. Nesse conjunto historiográfico, Jean-Philippe Genet aparece como expoente, e em um dos textos marcantes do movimento defende a utilização do ‘Estado moderno’ como um ‘modelo operatório’ (1990). Após trinta anos de estudos, a temática continua produzindo e pautando novas pesquisas, congressos, e publicações. Em meio à tais questões, nos colocamos a analisar as principais linhas de investigação que direcionaram os projetos de pesquisa nos anos 80 e 90, indicando os acúmulos produzidos até o momento, e refletindo acerca das limitações e problemas dos mesmos projetos.Palavras-chave: Historiografia – Idade Média – Estado Moderno

Grupo de Trabalho Gênero, corpo e sexualidade

Coordenador: Prof. Dr. Marcelo Pereira Lima (UFBA)

Dia: 12.11.2012Horário: 10:00 às 12:00

Virtuosas e mundanas: mulheres e religião em Decamerão, de Giovanni Boccaccio

Flavia Vianna do Nascimento(Graduanda – UFF)

Um dos aspectos mais interessantes na obra Decamerão, de Giovanni Boccaccio é a maneira como o clero aparece em algumas

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novelas. Nelas, o autor faz críticas à postura moral dos religiosos em fins da Idade Média. Ao mesmo tempo, o autor procura estabelecer um “padrão social de comportamento” para as mulheres; porém dirige este discurso às mulheres da aristocracia. Convém lembrar que a vida religiosa era uma maneira de controle social das mulheres. Para esta comunicação, darei enfoque às novelas nas quais aparecem mulheres ligadas ao clero e mostrarei como se apresenta a relação entre mulheres e práticas religiosas. Além disso, apontarei as críticas que Boccaccio faz ao clero feminino.

Um estudo comparativo da cantiga XCIII de Santa Maria de Alfonso X: texto, imagem e sexualidade – século XIII

Guilherme Antunes Junior (Doutorando – PPGHC-UFRJ)

A cantiga 93 de Alfonso o Sábio intitulada Como Santa Maria guareceu un fillo dun burges que era gafo faz parte do conjunto de manuscritos pertencentes à biblioteca do El Escorial, chamados de códice T ou rico. Analisaremos os papeis interventores de Maria para a representação da reorganização social comparando as perspectivas textuais e iconográficas. Além disso, refletiremos acerca dos papeis marianos sobre a sexualidade. Este trabalho inscreve-se na minha tese de doutorado vinculada ao Programa de Pós-graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro e está sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Andreia Cristina Lopes Frazão da Silva.Palavras-chave: Mariologia – cantigas – sexualidade

Reflexões sobre o Regramento Sexual presente no pensamento de Agostinho de Hipona

Wendell dos Reis Veloso(Mestrando – PPGH-UFRRJ)

Os IV e V séculos – período em que o Bispo de Hipona viveu (nasce em 354 e morre em 430) – apresentam-se como um contexto de institucionalização do credo niceno, processo histórico este de grande dinamismo e no qual vemos o Bispo Agostinho de Hipona forjar elementos identitários para a crescente sociedade cristã. Sendo assim, por meio da análise de trechos de alguns dos seus escritos objetivamos identificar o lugar da sexualidade no projeto agostiniano de identidade cristã e suas potenciais reverberações em práticas discursivas de distinção direcionadas aos supostamente destoantes. Para a análise proposta nos valemos de uma hermenêutica histórica que busca a compreensão dando atenção não somente aos textos, ou à linguagem, mas na realidade histórica, ou seja, o horizonte hermenêutico deve ser expandido para além dos sentidos e significados das palavras, em benefício da relação entre textos e contextos, um movimento dialógico

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entre as propriedades da obra discursiva e as propriedades estruturais do seu contexto sócio-histórico. Desta maneira, a análise dos escritos de Agostinho de Hipona levará em conta o seu enquadramento no que denomina-se de literatura patrística, com suas características comuns; assim como tais escritos serão estudados observando também as suas características próprias, como as concepções agostinianas sobre a sexualidade.

O gênero e as sexualidades em fontes afonsinasProf. Dr. Marcelo Pereira Lima

(UFBA)O objetivo dessa comunicação é (re)pensar as relações entre

gênero, corpo e sexualidades do ponto de vista teórico-metodológico, mas também a partir de uma perspectiva epistemológica e historiográfica. Para tanto, elejemos as fontes produzidas no período de governo de Afonso X para darmos exemplificações medievais das especificidades dessas relações. No entanto, a outra meta é discutir os limites e possibilidades de (re)construção de uma espécie de História Institucional de Gênero.

Grupo de Trabalho Identidade e alteridade

Coordenadora: Profa. Dra. Carolina Fortes (UGF)

Dia: 13.11.2012Horário: 14:00 às 15:45

O Conceito de Identidade: considerações sobre sua definição e aplicação à história medieval

Profa. Dra. Carolina Coelho Fortes (UGF)

Atualmente a noção de identidade está disseminada no senso comum, e tem recebido atenção constante dos estudiosos nas áreas de humanidades. Mas como essa noção pode ser definida? É possível utilizá-la na pesquisa em História Medieval? São a essas questões que pretendemos responder nesta comunicação. Como todo conceito, também o de identidade só se sustenta se vinculado, pensado em

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relação a um objeto específico. Assim, a reflexão a que nos propomos se constrói a partir da pesquisa que realizamos no doutorado, concernente à institucionalização da Ordem dos Frades Pregadores ao longo das décadas centrais do século XIII.

Desta forma, é necessário que se ressalte que, se o conceito que ora tentamos definir se baseia na leitura de certos “teóricos”, muito do que discernimos dele é resultado do trato com as fontes, com a historiografia sobre nosso objeto, e com a nossa própria trajetória de pesquisa. Em outras palavras, embora tenhamos ido buscar a base para nossas reflexões sobre identidade em Hall, Woodward, Silva, Bauman, eles sozinhos não tinham como apresentar todas as facetas que o tema assume em nossa documentação, uma vez que se preocuparam em defini-lo para realidades distintas da nossa, tanto no tempo quanto nos objetivos que traçaram para suas respectivas pesquisas.Palavras-chave: Idsntidade, Ordem dos Frades Pregadores, Século XIII

Ingleses e escandinavos: (re)definindo as identidades na Inglaterra do século IX-X

Profa. Ma. Isabela Dias de Albuquerque(UFRJ)

Nossa comunicação tem como objetivo discutir de que forma as identidades dos povos de origem anglo-saxã e escandinava foram construídas na Inglaterra, entre os séculos IX e X. Para tanto, tomaremos como base os pressupostos teóricos dentro dos estudos culturais, partindo da premissa de que as identidades não existem a priori, mas são fruto do processo histórico em si.

A partir de finais do século VIII, a presença dos chamados vikings passou a ser cada vez mais constante na ilha, fato que culminará mais tarde na demarcação de uma região ocupada e controlada por chefes escandinavos, a Danelaw.

Para que possamos compreender melhor as relações entre os daneses - como eram denominados pelas fontes do período - e anglo-saxões, utilizaremos como documentação The Anglo-Saxon Chronicles, The Life of King Alfred e relatos de pesquisadores de universidades britânicas sobre escavações arqueológicas das cidades de Lincoln e Stamford, no atual condado de Lincolnshire. Palavras-chave: identidade, anglo-saxões, escandinavos

A construção das identidades na Europa: reflexões sobre os estudos medievais ibéricos no século XXI

Profa. Dra. Aline Dias da Silveira(UFSC)

Rodrigo Prates de Andrade(Graduando UFSC – PIBIC/CNPq)

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Os atentados de 11 de setembro, as respectivas invasões do Afeganistão e do Iraque, a questão do Estado Palestino, além das discussões sobre uma “islamização” da Europa, influenciaram a escrita da História sobre a Idade Média em nosso século. Nos últimos anos, a historiografia europeia se dedicou ao estudo das identidades e da diversidade cultural no medievo, sendo que muitos destes historiadores tiveram seu objeto de pesquisa na Península Ibérica, pois nesta região, cristãos, judeus e muçulmanos conviveram por praticamente todo o período medieval. Deste modo, procuramos neste trabalho identificar e analisar criticamente a recente produção historiográfica na Espanha e em Portugal sobre as relações entre as três culturas monoteístas na Península Ibérica medieval. Nesta primeira etapa do projeto levantamos dados presentes nos sites das universidades portuguesas e espanholas sobre grupos de pesquisa e/ou pesquisadores ligados a temática das relações entre cristãos, judeus e muçulmanos no medievo. A partir destes dados foram constituídos gráficos e mapas sobre estes grupos de pesquisa e/ou pesquisadores na Península Ibérica. Em um primeiro levantamento percebemos que tanto em Portugal quanto na Espanha, mais da metade das universidades com curso de História possuem grupos de pesquisa e/ou pesquisadores ligados a temática proposta nesta pesquisa. Nas descrições dos departamentos, grupos de pesquisa e cursos de pós-graduação as relações entre as três culturas monoteístas aparecem como fundadoras de seus respectivos países. Outro ponto a ser destacado é que as diferenças histórico-regionais constituídas no período medieval influenciam a presença ou não de grupos de pesquisa nestes locais.Palavras-chave: Península Ibérica; Idade Média; Historiografia;

Grupo de Trabalho Igreja e sociedade

Coordenador: Prof. Dr. Leandro Rust (UFMT)

Sessão 1

Dia:13.11.2012

Horário: 16:00 às 17:45

Autoridade religiosa no reino visigodo do sétimo século: uma análise comparada dos cultos a Eulália de Mérida e Leocádia de

Toledo

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Vanessa Gonçalves Paiva(Graduanda – UFRJ)

A presente comunicação centra-se nos aspectos teórico-metodológicos de nossa pesquisa, a qual diz respeito ao culto aos santos no reino visigodo do século VII. Desenvolvida no âmbito do Programa de Estudos Medievais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, trata-se da análise comparativa dos cultos a Eulália de Mérida e Leocádia de Toledo, inseridos em um provável contexto de rivalidade política e religiosa entre estas cidades. Analisamos, dessa forma, como o controle dos recursos de devoção a Eulália e Leocádia integra as estratégias de afirmação e legitimação de autoridade da monarquia e dos episcopados emeritense e toledano. Para tanto, procedemos ao estudo dos documentos hagiográficos e litúrgicos referentes às duas santas para a sétima centúria. Nesse sentido, beneficiamo-nos das noções do sociólogo Pierre Bourdieu acerca das lutas simbólicas que estruturam o campo religioso. Interessa-nos, por fim, ressaltar que a abordagem comparativa revelou-se a mais adequada a nossos objetivos, devido ao caráter relacional de nossos questionamentos e hipóteses.

Dos sacrifícios dos pântanos aos salões da Era Viking: a mudança na cosmovisão e na compreensão social dos cultos

escandinavosMunir Lutfe Ayoub

(Mestrando – PPGH-PUC/SP)

O presente trabalho tem o intuito de analisar a modificação dos locais de culto de sacrifícios dos pântanos para os salões do mundo escandinavo, compreendendo a mudança de locais de culto como indício de uma modificação social que geraria nas sociedades Vikings certa unificação política e religiosa que viria a formar a imagem e o ideal real no mundo escandinavo.

O objetivo principal do trabalho nasce pela discussão da imagem da realeza sacra que ao longo da historiografia do século XX tem sido muito trabalhada e discutida, tomando por últimas considerações historiográficas e conclusões de nosso trabalho os estudos de historiadores como Gro Steinsland que demonstrará o momento ritual como ato máximo religioso que auxiliou nas formações de alianças políticas e militares permitindo aos reis uma manutenção de seus poderes durante o período viking.Palavras-chave: Mito; Rito; Vikings; Realeza.

As Cartas de Bráulio de Saragoça ao abade Frunimiano: relações episcopais e a educação

Rodrigo dos Santos Rainha

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(Doutorando – PPGHC-UFRJ)

Esta comunicação se relaciona com nossa pesquisa de doutorado em curso que aborda a relação entre as cartas visigóticas e a educação presente no seio episcopal. Neste sentido estudaremos a carta entre dois membros destacados do clero e irmãos, o bispo de Saragoça e o abade de um mosteiro riojano.

Bráulio de Saragoça escreve três cartas a seu irmão, duas como resposta mas que não possuímos a de Frunimiano, sendo a mais famosa a que antecede a vida de Emiliano. A vida de Emiliano, mais tarde conhecido como San Millán de la Cogolla, escrita por Bráulio de Saragoça no século VII é considerada como um dos principais documentos sobre a região de La Rioja neste período, no entanto, esta carta introdutória, que aparece em todos os manuscritos da Vita, tende a ser visto como um documento auxiliar, com algumas instruções de uso e uma relevante apresentação da visão do bispo sobre o culto do Santo.

Entendemos que tal carta revela algumas tensões políticas e abre uma perspectiva diferenciada se a analisarmos juntos com outras duas correspondências trocadas entre os irmãos presentes no Epistolário de Bráulio de Saragoça. Assim neste artigo, abordaremos em perspectiva comparada a abordagem dos três documentos, sinalizando suas interseções e contradições na relação entre estes membros do episcopadoPalavras-chave: Educação, Cartas, Visigodo

Sessão 2

Dia 14.11.2012

Horário: 14:00 às 15:45

Cúria Papal e Franciscanismo na Primeira metade do século XIIIProfa. Dra. Miriam Lourdes Impellizieri Silva

(UERJ)

O marco fundamental da Ordem dos Frades Menores é sentido como o momento em que Francisco e seus primeiros companheiros, em 1209, após diversos problemas de aceitação pela sociedade assisense, vão à Cúria Romana com o objetivo de pedir a Inocêncio III a aprovação ao modo de vida da sua pequena "fraternitas". É como um grupo de penitentes e não como membros de uma "ordo" ou "religio" que o encontro com o papa ocorre e este concede a aprovação oral ao novo

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movimento e o direito de pregar em vernáculo sobre temas que não fossem objeto de divergência doutrinária. A partir daí, o seu desenvolvimento posterior estará atrelado às decisões pontifícias e ao seu cumprimento por parte dos Menores. Da mesma forma, desenvolve-se a relação com o ramo feminino do movimento, iniciado, em 1212, por Clara, também de Assis. Aqui, a intervenção foi mais incisiva e sistemática, não obstante a resistência apresentada por aquela e suas companheiras mais leais.

De forma a analisar a relação entre a Cúria e a Ordem Franciscana na primeira metade do século XIII, dividiremos nossa exposição em duas partes. Na primeira, apresentaremos a documentação oficial oriunda da cúria em relação aos menores, enfatizando aqueles documentos considerados mais importantes. Na segunda, trabalharemos com uma questão específica: as canonizações dos ditos "fundadores" (Francisco, em 1228 e Clara, em 1255) pelo papado a partir das bulas de canonização e demais documentos coetâneos e suas consequências.Palavras-chave: Franciscanismo Primitivo - Cúria Papal - Santidade Minorítica

Experiência e Autoridade no Libro de las confesiones de Martín Pérez (1316)

Marcos Schulz(Mestrando – PPGH-UFRGS)

Martín Pérez é um clérigo secular castelhano que, imbuído de um espírito pastoral e moralizador, escreveu o Libro de las confesiones no início do século XIV com o objetivo de ensinar aos padres curas de alma os conhecimentos básicos necessários à boa administração do sacramento da penitência. Dado que não há documentação inequívoca a respeito de sua trajetória biográfica, esta comunicação pretende destacar, dentre os autores, tratados, passagens bíblicas e demais “autoridades” canônicas, aqueles que mais fortemente deixaram marcas no texto de Martín Pérez. Em contrabalanço a este tratamento erudito dos textos, serão analisados os espaços reservados à experiência pessoal (tanto do autor, presumida, quanto dos leitores, necessária pela sua normatividade) na resolução de casos e questões duvidosas – quando as autoridades e os “doutores” não acordam. Acreditamos que essa análise pode fornecer indícios seguros para a melhor localização da obra nas suas balizas temporais e espaciais próprias, além de permitir a formulação de hipóteses sobre a figura obscura de Martín Pérez. Quem foi? O que leu? O que pensava? Como se posicionava frente aos debates teológicos e eclsesiológicos de seu tempo? Por fim, esta comunicação se enquadra numa pesquisa de mestrado em história da cultura e das representações, em fase final, cujo objetivo é compreender a concepção de sociedade de Martín Pérez – utilizando como chave interpretativa os

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casos de excomunhão listados e descritos logo no início do Libro de las confesiones.Palavras-chave: Confissão – Direito Canônico – Experiência 

O Lavrador Ladrão de Juan Gil de Zamora: franciscanismo, demônios e enquadramento social no século XIII em Castela

Thalles Braga Rezende Lins da Silva (Mestrando – PPGHC)

Em minha pesquisa de mestrado desenvolvida no âmbito do PPGHC - UFRJ, orientada pela Prof.ª Dra. Andréia Frazão, meu objetivo principal é discutir como as representações do Diabo foram usadas como discurso de enquadramento social pela Igreja medieval castelhana do século XIII. Utilizo para tanto os referenciais teórico-metodológicos o conceito de representação de Roger Chartier e a metodologia de História Cruzada, segundo Michael Werner e Bénédicte Zimmermann. Nesta apresentação, que consiste em um recorte da minha dissertação, analisarei o texto El Labrador Ladrón, que conta uma versão da história de um lavrador ganancioso que é salvo de demônios por ser muito devoto da Virgem Maria. Esta narrativa é parte da hagiografia Liber Ihesu et Mariae, datada do século XIII, escrita no reino de Castela pelo franciscano Juan Gil de Zamora.Palavras-chave: Diabo, Reino de Castela, Idade Média Central, franciscanismo, enquadramento social.

Sessão 3

Dia: 14.11.2012

Horário: 16:00 às 17:45Alicerces do pensamento político-religioso em princípios da

Idade Média: as proposições de Agostinho de Hipona e Gelásio IMariana de Matos Ponte Raimundo

(Mestranda – PPGH-UFJF)

A transição do mundo antigo para o mundo medieval marcou o Ocidente nos diversos âmbitos da sociedade. O pensamento político, nesse contexto, foi bastante pontuado por considerações religiosas. Desde o “agostianismo político” de Agostinho de Hipona ficou evidente um dos traços fundamentais desse pensamento: a Igreja apresentava-se

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como detentora de um poder supremo por ser ela a mediadora entre Deus e os homens, enquanto todos os outros poderes seriam efêmeros. Corroborando essa concepção a carta do papa Gelásio I dirigida ao imperador Anastácio afirmava a existência de duas esferas de poder que governariam o mundo: a autoridade sagrada dos sumos pontífices e o poder real, sendo a primeira superior ao segundo. Através das proposições de Agostinho e de Gelásio I, no século V, pretende-se demonstrar a construção de uma nova estruturação política associada à Igreja. Palavras-chave: Pensamento político. Igreja. Agostinho de Hipona. Papa Gelásio I.

O discurso eclesiástico acerca da relação patrimonial com os bens das igrejas

Guilherme Marinho Nunes(Graduando – PEM/UFRJ)

Esta comunicação tem como principal objetivo debater sobre o discurso episcopal acerca da relação patrimonial do clero com os bens da instituição eclesiástica no reino visigodo. Cabe ressaltar que este trabalho está, em grande parte, pautado no projeto de mestrado apresentado ao processo seletivo de mestrado do Programa de Pós-Graduação de História Comparada da UFRJ, portanto não temos a pretensão de apresentarmos, neste momento, aspectos conclusivos da investigação.

Em meados do século VI percebemos delinear-se um processo de organização política do clero, associado ao desenvolvimento de um poder central na Península Ibérica. Um dos aspectos disto é a institucionalização de um patrimônio eclesiástico que é definido, entre outras coisas, pela sua inalienabilidade frente à ação de laicos ou religiosos, bem como uma divisão entre os bens dos bispos e das igrejas. No entanto, devemos levar em consideração que a sociedade visigótica é regida por um sistema protofeudal, no qual existe uma íntima relação entre a propriedade de terras, a dependência pessoal e o prestígio político. Isto nos leva a questionarmos como se estabelece a relação entre os membros do episcopado e as posses de sua diocese.

Visando facilitar a análise sobre nossa problematização, três noções teóricas serão as norteadoras de nossa exposição: sistema simbólico e ideologia duplamente determinada, de Bourdieu, bem como aspectos do feudalismo de Guerreau. Discorreremos também acerca da opção por um método comparativo para auxiliar em nossa pesquisa.Palavras-chave: Patrimônio eclesiástico, visigodos, episcopado

Observações sobre o eremitismo nas atas conciliares da primeira metade do século VII

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Juliana Salgado Raffaeli

(Graduanda – PEM/UFRJ)

Resumo: O trabalho proposto é o resultado de uma das etapas desenvolvidas no nosso projeto de pesquisa atual. Tal projeto visa estabelecer uma comparação, segundo o método sistematizado por Jürgen Kocka, entre o eremitismo apresentado como modelo de santidade nas obras do monge Valério do Bierzo (século VII) e a orientação tida como oficial por seus contemporâneos. Esta última perspectiva pode ser observada nas atas dos concílios toledanos que correspondem ao período de atividade do monge na sua região, o século VII.

A questão que guia nossa análise é a presença na documentação de indícios de conflitos entre Valério do Bierzo e as autoridades a quem ele está submetido. Verificamos divergências entre o seu discurso e o posicionamento pretendido como oficial. Entendemos, em conformidade com a teoria de Pierre Bourdieu, que o discurso presente nas atas é entendido dentro dessa concepção como produção oficial e legítima.

O objetivo desse trabalho é identificar e analisar a perspectiva oficial, naquele contexto, acerca da relação entre eremitismo e monacato, tendo como referência fundamental as atas dos concílios toledanos.

Palavras-chave: Eremitismo, Concílio, Monacato.

As contribuições da Sociologia para uma análise documental: o De Viris Illustribus de Ildefonso de Toledo (século VII)

Izabela Morgado Da Silva(Graduanda – UFRJ)

Neste trabalho analisaremos o De Viris Illustribus de autoria de Ildefonso de Toledo, bispo metropolitano do reino visigodo de 657 a 667. No presente documento, Ildefonso realiza uma lista, juntamente com pequenas biografias, de treze varões ditos como ilustres do reino visigodo. Vale ressaltar que todos os varões citados além de serem membros eclesiásticos, vinculam-se diretamente ao episcopado visigótico ou mais especificamente a cidade de Toledo. Como suporte teórico para tal análise, utilizaremos as contribuições do sociólogo Pierre Bourdieu, dando atenção especial à teoria dos campos, e aos conceitos elaborados por Bourdieu tais como poder simbólico e capital religioso. Nesse sentido, nossa apresentação relacionará o estudo sobre a estrutura do campo religioso de Bourdieu com uma questão específica da análise documental: a escolha das treze figuras eclesiásticas para a confecção do De Viris Illustribus de Ildefonso de Toledo.Palavras-chave: De Viris Illustribus, reino visigodo, Pierre Bourdieu

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Grupo de Trabalho Língua e literatura

Coordenador: Profa. Dra. Lívia Lindóia (UFF)

Sessão 1

Dia: 13.11.2012

Horário: 16:00 às 17:45

A reconciliação do herege ariano na Igreja VisigóticaLuiz Pedro da Silva Barbosa

(Graduando – UFF)

Este trabalho versa sobre a Oratio ad Reconciliandvm evm qvi in heresi arrianvm babtizatvs fverit – Oração para reconciliar aquele que houver sido batizado na heresia ariana. Tal ritual é parte integrante do Liber Ordinum, compilação de manuscritos que continham fórmulas ritualísticas e orações da Igreja da Espanha Visigótica entre os séculos V e XI. A oração aqui enfocada é apenas a primeira de uma série de rituais para aqueles que estão em processo de conversão e reconciliação com a igreja. Após a tradução, será feita uma análise do texto com base nos pressupostos teóricos da Linguística Textual/Ingedore Koch e seguida de um estudo semântico-etimológico dos principais referentes do texto.Palavras-chave: Renúncia, Conversão, Arianismo

O uso dos ornamentos no ritual fúnebre praticado pela Igreja da Espanha Visigótica

Nilcileia da Silva Rosário (Graduanda – UFF)

O presente trabalho é parte da pesquisa realizada durante a vigência da bolsa de Extensão da PROEX em língua latina, sob orientação da professora Lívia Lindóia Paes Barreto. O texto latino selecionado foi aquele que se refere ao funeral de um presbítero: “Ordo in conmendatione presbiteri”, e nossa proposta é apresentar uma

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tradução e análise do texto litúrgico escrito em latim, elaborado entre os séculos V e XI na Europa Ocidental, a fim de compreendermos o uso de certos ornamentos utilizados em práticas funerais que não se limitavam ao simples adorno do defunto, mas de uma simbologia em que indicava o status que o homem medieval ocupava na sociedade. Os pressupostos teóricos da Linguística Textual (Teoria da Referenciação – Ingedore Koch) constituem a base deste trabalho que toma o texto como objeto de estudo para a compreensão da seleção lexical e as possíveis relações como período histórico em que foi produzido.Palavras-chave: rituais fúnebres, vestimenta, teoria da referenciação.

A Literatura no mundo Árabe Medieval: Reflexões e problemas a cerca das narrativas literárias e fabulísticas

Dandara Arsi Prenda (Mestranda – UFF)

A pesquisa, no âmbito geral, tem como objetivo o estudo do mundo árabe no medievo central a partir de sua rica literatura, analisando mais especificamente, duas obras de caráter aconselhador, prática muito comum no mundo árabe. Porém neste apresentação, propõe-se uma reflexão sobre as obras, no que tange as questões do manejo de fontes de caráter literário como: registros das mesmas, autoria, processo de tradução e, neste caso específico, uma breve análise das narrativas no cenário árabe. São tomadas como o objeto deste estudo a obra Kalila e Dimna, como também a obra O Leão e o Chacal Mergulhador e que podem ser claramente classificadas como fabulários políticos e recheados de narrativas de cunho aconselhador, disseminando valores e experiencias através de provérbios e máximas populares.

A questão da submissão da mulher medieval na dedicatória das cartas de Heloísa a Abelardo

Vanessa Lanes Meirelles

(Graduanda – UFF)

A história de amor do famoso casal da Idade Média- Abelardo e Heloísa-chegou-nos por meio das cartas tiradas entre os dois. No trabalho não cabem discussões a respeito da veracidade de autoria das mesmas. Tomando por base os postulados da Teoria da Referenciação (Ingedore Koch) será feita uma análise do referencial nas dedicatórias

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de Heloísa ao amado, com foco na questão da submissão feminina na Idade Média.

Palavras-chave: Referenciação, Idade Média, Heloísa

Sessão 2

Dia: 14.11.2012

Horário: 14:00 às 15:45

Revisitando a Matéria de Bretanha hoje: leituras da personagem feminina de Novela de Cavalaria na contemporaneidade

Francisco de Souza Gonçalves(Doutorando – PPGL-UERJ)

Morgaim, Morgaian, Morgaine, Morgaiana, Morgana, estes são alguns dos muitos nomes que esta singular personagem do lendário artúrico recebeu no sortido conjunto de obras medievas que versam sobre o rei guerreiro e suas façanhas. Morgana desponta no universo literário da Matière de Bretagne através da pena de Geoffrey de Monmouth, no século XII: muitas releituras têm sido feitas desta personagem desde então. A figura morganiana chegará à narrativa escrita de expressão portuguesa por meio d’ A Demanda do Santo Graal, já no século XIII, emergindo como persona de atroz antagonismo à Távola Redonda e urdindo maléficos planos contra seu irmão Artur. Na obra, concebe Mordredo, aquele que arruinará o reino de Camelot e incita os demais cavaleiros a se voltarem contra seu rei. O presente estudo visa, primeiramente, a deslindar alguns aspectos desta figura, em sua íntima relação com o mirabilis (é uma fée) e os liames profundos que travará com o poder (ou busca deste), o que se atrelará, diretamente, à construção de uma perspectiva negativa da personagem. Para além, fitamos estabelecer ilações sobre a projeção literária da relação trinômia fundamental, subjacente na persona de Morgana: mulher-magia-poder, em A Demanda do Santo Graal, numa perspectiva comparada com manifestações artísticas da contemporaneidade, a saber, narrativas fílmicas do século XXI.

Palavras-chave: Literatura Medieval; Morgana Le Fay; Cinema; A Demanda do Santo Graal.

Reflexões sobre a história da cozinha portuguesa medieval através do Livro de Receitas da Infanta Dona Maria

Elisa Paula Marques (Doutoranda – PPGH-UFSC)

Em Portugal, o primeiro livro de cozinha medieval conhecido até o momento é o Livro de cozinha da infanta D. Maria, escrito no século XVI, mais especificamente entre as décadas de 1540 e 1560, e até hoje

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guardado na Biblioteca Nacional de Nápoles. As receitas do livro de D. Maria, via de regra, trazem uma intensa mistura de especiarias, o acentuado gosto agridoce e a combinação indistinta entre doces e salgados. Com uma leitura mais atenta, descobre-se nas receitas as influências dos descobrimentos, como na receita do “vinho de açúcar que se bebe no Brasil, que é muito são e para o fígado é maravilhoso” – uma mistura fermentada de água e açúcar – ou mesmo da presença árabe, como na galinha mourisca, que levava salsa, hortelã, limão e canela. E assim podemos percebemos que os livros de receitas, com seus sabores estranhos e esquecidos, suas receitas muitas vezes consideradas por nós como malucas e feitas com utensílios engraçados, nos revelam muito da época em que viveram seus autores e leitores.Palavras-chave: Culinária medieval, livros de receitas medievais, Portugal

A eterna saudade: reflexões luso-literárias do episódio de Inês de Castro

Bárbara Cecília Kreischer

(Graduanda – UCP)

O episódio de Inês de Castro é descrito pela primeira vez através do historiógrafo português Fernão Lopes, no século XV. A partir disto, vários autores se debruçaram sobre o tema, resultando em manifestações e gêneros diversos sobre o amor e a saudade de Pedro e Inês, amor este que abre interpretações para o tema da saudade tão recorrente nas obras luso-literárias. Assim, a presente proposta tem como objetivo abordar o momento histórico e analisar de modo comparativo as obras, “Os Lusíadas”, de Luis Vaz de Camões e “A Castro”, de Antonio Ferreira, tomando como base a obra medieval “Crônica de Dom Pedro”, de Fernão Lopes. A escritora, filóloga e crítica literária Carolina Michaëlis aprofundou seus apontamentos literários acerda do tema na obra “A Saudade Portuguesa”, referencial teórico que será tomado na presente proposta. Dessa forma, visa-se evidenciar os sentimentos do amor e da saudade que o tema remete em tais obras literárias, tomando por base os acontecimentos no Baixo Medievo Português narrados por Fernão Lopes.

A relação do homem com Deus na Idade Média: expressões da experiência mística na Literatura

José Carlos de Lima Neto (Mestrando – UERJ)

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Este trabalho procura estudar as relações do homem com Deus na Idade Média entre os séculos XIII e XIV. Dentro dos estudos medievais sobre espiritualidade, percebemos inúmeras formas de se alcançar a experiência religiosa; assim, delimitamo-nos neste trabalho a observar a experiência mística, onde procuraremos analisar sob que contexto se deu o seu afloramento, bem como elucidar o seu corpo doutrinário. Por fim, a partir destas considerações, pretendemos fazer uma leitura de Boosco Deleitoso, obra mística redigida pelo fim do século XIV em Portugal, avaliando os diversos aspectos e desdobramentos da união mística presente no texto e que, de alguma forma, estavam manifestos na consciência religiosa do homem medieval.

Grupo de Trabalho Produção social do espaço

Coordenador: Profa. Dra. Renata Vereza (UFF)

Dia: 12.11.2012

Horário: 14:00 às 15:45

In fronteria sarracenorum: entendendo os conceitos de fronteira em Castela no século XIII

Marcio Felipe Almeida da Silva(Mestrando – PPGH-UFF)

Neste trabalho temos por objetivo o levantamento de questões referentes a interações religiosas entre a Cristandade e a Umma na fronteira sul de Castela. Sendo assim, trataremos sobre o posicionamento dos autores com relação à historiografia e a forma de compreender esta fronteira, pois acreditamos que as características dos limites territoriais com o mundo islâmico, na Península Ibérica, diferem de outras fronteiras religiosas existentes no medievo.Palavras-chave: Castela, fronteira, século XIII

Condições sociais de produção: arquitetura e centralização política em Castela no século XV

Cinthia Rocha

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(Doutoranda – PPGH-UFF)

A análise das “condições sociais de produção” tem sido um recurso utilizado pelos historiadores da arte nas últimas décadas, especialmente por aqueles ligados à História Social da Arte. Ao lançar mão dessa categoria de análise buscam trabalhar de forma relacionada a arte e diversos outros fatores presentes na sociedade que a produziu – como a situação política e econômica de um determinado período. O objetivo dessa comunicação é discutir o uso do conceito e como ele vem sendo aplicado à pesquisa que vem sendo realizada.Palavras-chave: condições sociais de produção, arte, política, Castela

A catedral e seus domínios: poder espacial do cabido de Sevilha no reinado de Alfonso X

Paula de Souza Valle Justen (Graduanda – UFF)

O trabalho busca compreender as novas configurações espaciais de poder desenvolvidas em Sevilha durante o reinado de Alfonso X, no contexto da Reconquista e de reorganização territorial da recém-conquistada Andaluzia. A partir dos diplomas lançados por Alfonso X, é possível mapear a distribuição territorial em favor da Igreja, em especial ao cabido da catedral, e estabelecer as novas relações de poder territorial rural e urbano.Palavras-chave: Reconquista; cetedral de Sevilha; propriedades eclesiásticas.

Grupo de Trabalho Reflexões historiográficas

Coordenador: Prof. Ms. Álvaro Mendes Ferreira

Dia: 12.11.2012

Horário: 16:00 às 17:45

Um capitel sem coluna: A ruptura entre monges e intelectuais medievais à luz das construções historiográficas e testemunhos

de época (séculos XI e XII)Carlile Lanzieri Júnior

(Doutorando – PPGH-UFF)

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A comunicação analisa como a historiografia da segunda metade do século XX descreveu o papel do monaquismo para formação intelectual da Europa medieval. Pelas obras analisadas e confrontadas às fontes primárias dos séculos XI e XII, percebemos que existiu uma forte tendência historiográfica em diminuir (ou mesmo negligenciar) as contribuições monásticas em favor dos mestres intelectuais ligados ao meio urbano e às futuras universidades. O fator econômico foi apresentado como principal elemento que pavimentou os caminhos do saber e do ensino que surgiram a partir do século XII. Ao longo do período abordado, percebemos que as diversas trocas entre ambientes e personagens dedicados à formação discente demonstram mais contribuições e permanências que rupturas.Palavras-chave: Educação – historiografia – Idade Média – intelectuais – monaquismo

Batalha de Montaperti (1260): Literatura ou história? As relações entre Fictio e desvelamento da Verdade nas narrativas

histórico-literárias do Ocidente MedievalVânia Vidal Luiz

(Mestranda – PPGH-UNIRIO)

Florença, na segunda metade do séc. XIII e primeira do XIV, fervilha. Nas artes, na política, na cultura, nos embates teológicos. Nesse período ocorre o acirramento das contendas entre guelfos e gibelinos, cujo ápice encontra-se na violenta Batalha de Montaperti (1260) que deixou como legado uma cidade traída por um braço do próprio exército, mais de 15,000 mortos em um único dia, e um livro tomado por “Direito de Conquista” como símbolo máximo da vitória de Siena. Tal livro ( Libro di Moantaperti) é a única fonte oficial florentina do combate, cuja memória deveria ser apagada. Nesse contexto de efervescência cultural Giovanni Villani concebe um dos mais ousados projetos de escrita histórica que se tem notícia: a história da cidade de Florença desde sua fundação até os dias correntes. Ocupa-se também dessa batalha. Surge assim uma crônica nova, com um claro projeto de poder entremeado por questões que colocam Literatura e História em debate. Escrita em língua vulgar, com 111 manuscritos mapeados, torna-se a voz florentina da Verdade e da Providência – inapagável. Temos também o manuscrito Le Cento Novelle Antiche, compilação de cem novelas na estrutura de Vulgata englobando todos os tipos de narrativas medievais do final do séc. XIII, que muito nos diz acerca dessa relação entre Literatura e História. A percepção medieval de mundo é repleta de sutilezas, que implicam na noção nítida de que há um sentido extrínseco, transcendente e eterno cuja apreensão é impossível para o intelecto humano em sua dimensão temporal, dessa maneira, aquilo que é passado, portanto existiu, aquilo que poderia ter existido e aquilo que existe se mesclam, intercambiam

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e, muitas vezes, tornam-se indissociáveis. Diante disso, da visão orienada de um devir que emana de Deus, e da fluidez entre realidade acontecida e hipotética, portanto entre a Verdade e Verossimilhança, acaba com que se equivalham dentro da concepção desse sentido, permeando a vivência, em todas as suas acepções, do medievo.

A “revolução feudal”: Por uma revisão da obra de Georges DubyThiago Pereira da Silva Magela

(Graduando – UFF – PIBIC/Faperj)

A Idade Média é um celeiro de disputas de vária ordem. A necessidade de legitimação ideológica num momento de crise como o atual na Europa leva os medievalistas europeus a repensar as suas “origens” medievais (por exemplo, a busca pela História Rural em Portugal, as teses sobre as reformas monetárias de Afonso X na Espanha). Posto isso, a tese de Georges Duby sobre o Mâcon fundou e/ou instituiu um novo momento para a historiografia do feudalismo. A obra de Marc Bloch (Sociedade Feudal) seria revisada por Georges Duby. A “invenção” do senhorio banal levou a uma “revolução” nos estudos medievais, e a tese de Duby passou a reinar como uma verdade incontestável no cenário acadêmico a ponto de ser modelo para outras regiões da Europa. A atual crise do Capital nos remete ao passado na busca da compreensão do processo de transição do feudalismo ao Capitalismo em suas várias nuanças (desenvolvimento do Estado centralizador, ascensão da burguesia etc.), processo este chave para o entendimento da lógica unificadora do mundo em que vivemos. Sendo assim, a avaliação crítica da obra de Duby e de seu modelo de “revolução feudal” é necessária, pois nos remete ao “paradigma” que marcou gerações de medievalistas. A comunicação visa, então, por um lado traçar uma crítica do modelo de “revolução feudal” vislumbrando algumas vias alternativas para a compreensão da implantação do feudalismo no Ocidente medieval.Palavras-chave: Feudalismo – Idade Média – Ruralidade

A autoridade episcopal na Gália merovíngia como problema historiográfico: o percurso da Iniciação Científica ao projeto de

dissertaçãoLetícia Sousa Campos da Silva

(Mestranda – PPGH-UFF)

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Se atualmente desenvolvo no PPGH-UFF um projeto de dissertação intitulado “O bispo diante dos desafios à sua autoridade: uma história social do pensamento político-eclesiológico na Gália do sexto século a partir dos casos de Arles e de Tours”, devo admitir que alguns dos questionamentos presentes nesta proposta derivam dos tempos de participação de um projeto de pesquisa de Iniciação Científica. Entretanto, cerca de três anos após meus contatos iniciais com o problema da autoridade episcopal na Gália merovíngia, perspectivas teóricas, métodos e objetos já não permanecem os mesmos. Nesta comunicação então objetivo uma reflexão de minha trajetória acadêmica. Palavras-chave: autoridade episcopal, Gália merovíngia

Grupo de Trabalho Representações e imaginário

Coordenador: Prof. Dra. Raquel Alvitos

Sessão 1

Dia: 13.11.2012

Horário: 14:00 às 15:45

Cantigas de Santa Maria de Afonso X: Análise comparativa entre texto e imagem da Cantiga 4

Bárbara D. B. Covre

(Graduanda – UFES)

As Cantigas de Santa Maria, escritas pelo rei Afonso X de Castela e Leão, no século XIII, são uma obra extensa escrita em galego português antigo. Possui 424 relatos de milagres da Virgem Maria e canções em louvor a ela por meio de textos, imagens e notações musicais. Na presente comunicação analisaremos a Cantiga 4, “Esta é como Santa Maria guardou ao fillo do judeu que non ardesse, que seu padre deitara no forno”, do manuscrito T.1.1 da biblioteca do Escorial, na Espanha (conhecido como “códice rico”), buscando analisar comparativamente texto e imagem, a fim de estudarmos como a noção de escultura é tratada nestes dois tipos de registro.

Palavras-chave: Cantigas de Santa Maria; imagem; escultura.

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O processo de confecção da Tese de Doutorado: “Patrício, a Construção da Imagem de um Santo”

Prof. Dr. Dominique Vieira Coelho dos Santos (FURB)

Esta comunicação apresenta uma reflexão sistematizada sobre o processo de confecção da Tese de Doutorado “Patrício, a Construção da Imagem de um Santo”, defendida em 2012 na Universidade Federal de Goiás, após período de estágio PDEE CAPES na University College Dublin, Irlanda. A pesquisa abordou a História da Irlanda dos séculos V ao XII, tendo como principal foco de interesse o modo como São Patrício foi representado na documentação. O objetivo da comunicação é colaborar com a discussão central do evento, problematizando, assim, a Idade Média e a produção e divulgação do conhecimento sobre o período.

Aelfred Venerabilis Rex: A construção da imagem do Rei-Guerreiro na Vita Ælfredi Regis Angul Saxonum

Anderson de Souza (Graduando FURB)

O objetivo deste trabalho é compreender o processo de construção da imagem de Alfred, o Grande, a partir de dois grupos de fatores: os relacionados com a guerra e os vinculados à religiosidade cristã na Ilha da Britânia do período do personagem em questão. Faremos isso por meio de uma análise detalhada da obra Vita Ælfredi Regis Angul Saxonum, escrita pelo monge galês Asserius.Palavras-chave: Alfred, o Grande; Rei-Guerreiro; Inglaterra Medieval.

Sessão 2Dia: 13.11.2012

Horário: 16:00 às 17:45

Os brasões avisinos e o Liuro do Armeiro-Mor (1509): análise iconográfica

Franklin Maciel Tavares Filho (Mestrando – PPGH-UFF)

O século XVI, no que tange ao contexto heráldico lusitano, tem sido tratado por heraldistas como o “Período dos Grandes Armoriais ou da Iluminura”, com base na iniciativa dos monarcas avisinos de incumbir os reis de armas, sob suas ordens, de preparar livros onde se registrassem todos os brasões existentes, ou parte deles, e aqueles que viessem a ser concedidos. Começa, então, a revelar-se uma acentuada preocupação

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da Coroa e dos nobres da Corte no tocante à compilação de materiais heráldicos e genealógicos manuscritos e suntuosamente ilustrados. O Livro do Armeiro-Mor, produzido em 1509, é um códice em pergaminho, com ricas iluminuras. Tratou-se do armorial quinhentista luso mais prestigiado sendo um dos objetos de análise de minha pesquisa. Palavras-chave: Livro do Armeiro Mor, Heráldica, Iluminura

O claustro de Sant Benet de Bages: uma perspectiva de análise dos capitéis românicos ornamentais

Aline Benvegnú dos Santos(Mestranda – PPGHS-USP)

A profusão de elementos ornamentais esculpidos em capitéis no período românico tem motivado estudos recentes que buscam discutir qual sua importância na arte medieval. A partir de estudos sobre o papel dos ornamentos nas imagens medievais, principalmente desenvolvidos pelo filósofo e historiador da arte francês Jean-Claude Bonne, pretendemos discutir as funções, possibilidades de leitura e importância de tais elementos na economia imagética do claustro medieval, tendo em vista a superação de análises puramente estilísticas e filológicas sobre os capitéis românicos. Tomamos como objeto de estudo o claustro de Sant Benet de Bages, que se destaca pela grande quantidade e diversidade de elementos ornamentais esculpidos em seus capitéis.Palavras-chave: Ornamento, Capitéis, Românico

Análise das cores em bestiários ingleses dos séculos XII e XIIIMuriel Araujo Lima Garcia(Mestrando – PPGHS-USP)

Os bestiários, um gênero literário bastante difundido na Idade Média, são manuscritos dedicados a descrever animais, plantas e minerais; com frequência, as descrições são acompanhadas de uma exegese religiosa que busca extrair da natureza exemplos morais. Além do texto, esses manuscritos em geral contêm miniaturas ricamente coloridas e, portanto, os usos e funções das cores nessas imagens não podem ser ignorados. No entanto, a análise deve levar em conta os desafios teóricos e metodológicos de se estudar as significações, usos e funções das cores.

Sessão 3Dia: 14.11.2012

Horário: 16:00 às 17:45

Construindo uma análise sobre a Cavalaria: a história dialoga com a Literatura

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Profa. Ms. Neila Matias de Souza(UEMA)

Durante o desenvolvimento da pesquisa de mestrado que resultou na dissertação intitulada Modelando a Cavalaria: uma análise da Demanda do Santo Graal (século XIII) houve uma mudança significativa do objeto a ser trabalhado, do referencial teórico e do procedimento metodológico a ser utilizado. Assim, enfocamos não mais na figura do eremita mas nas relações entre Cavalaria e Igreja. Por tratar-se de uma fonte literária, trabalhamos essencialmente com teorias sobre literatura e análise literária conjugadas com o método estruturalista genético de Lucien Goldmann, destacando sempre as imbricadas relações entre história e literatura. No intuito de compreender a ligação entre os cavaleiros e aquela instituição religiosa consideramos que a fonte apresentava modelos de comportamento a serem seguidos ou evitados de acordo com os preceitos cristãos. Apresentaremos, portanto, o trato com o objeto possibilitado pelo referencial teórico e metodológico escolhidos. Palavras-chave: História, Literatura, Cavalaria, Igreja

A Influência Eclesiástica na Novela de Cavalaria A Demanda do Santo Graal

Camila Oliveira Costa (Graduanda – UEMA)

Esse artigo tem como objetivo discorrer sobre a influência eclesiástica n’A Demanda do Santo Graal. Narrativa essa de cunho mítico-religioso é o texto mais acabado da segunda prosificação portuguesa das lendas arturianas. De origem oral foi sendo moldada e muitas vezes alterada no decorrer do tempo, popularizando-se e proliferando em Portugal, e a posteriori por toda a Europa, a partir do século XIII. Conta, tal romance, a saga incessante dos cavaleiros arturianos na busca do Santo Graal, busca essa que se inicia com a promessa de um dos cavaleiros da Távola Redonda, Galvam, de ter novamente a dádiva das graças do santo Vaso, como tinha sido naquele dia de Pentecoste, quando essa promessa foi proferida. E juntamente com os outros cavaleiros de Logres inicia essa busca que duraria um ano e um dia, a qual foi iniciada com cento e cinquenta cavaleiros, mas apenas doze, numeração essa que remete aos doze apóstolos de Jesus Cristo, conseguiram tal magnitude. Assentada na Idade Média Central essa narrativa perpassa pelo cotidiano, ética, normas, cultura e imposições da sociedade vigente. É a partir desse contexto que tal trabalho tabulará os elementos associados à religiosidade ímpar da era medieval, destacando a mentalidade medieva como fruto da influência da Igreja enquanto instituição nesse período.Palavras-chave: Idade Média Central, Igreja Católica, Santo Graal

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Entre Vícios e Virtudes: Pecado, Pureza e Salvação numa Viagem Imaginária ao Além túmulo

Solange Pereira Oliveira(Mestranda – PPGHIS-UFMA)

Nesta comunicação trataremos sobre o destinos das almas nos espaços do Além medieval, divididos em Inferno, Purgatório e Paraíso, na versão portuguesa do século XV do manuscrito Visão de Túndalo. Essa obra de autoria anônima é um exemplo de viagem imaginária medieval difundida oralmente pelos clérigos que narram a experiência do cavaleiro Túndalo nos espaços do Inferno, Purgatório e Paraíso. Através dessa narrativa percebemos vários modelos de conduta comportamental terrena que estão associadas aos tipos de punições e glórias eternas no além-túmulo. Neste sentido, compreendemos que a Visão de Túndalo se caracteriza como um manual pedagógico de comportamento social com o objetivo de conduzir à salvação. Palavras-chave: Pecado. Salvação. Visão de Túndalo

Grupo de Trabalho Religiões e espiritualidade

Coordenador: Prof. Dr. Edmar Checon de Freitas

Dia: 12.11.2012

Horário: 14:00 às 15:45

Poder sobre o corpo nas regras monásticas de Leandro e Isidoro de Sevilha

Bruno Uchoa Borgongino (Mestrando – PPGHC-UFRJ)

Em minha pesquisa de mestrado, proponho abordar o exercício do poder sobre o corpo em duas regras monásticas visigodas: a Regula Leandri, escrita na década de 590 pelo bispo Leandro de Sevilha e originalmente destinada à sua irmã, a monja Florentina, e a Regula Isidori, elaborada entre 615 e 619 pelo também bispo Isidoro de Sevilha.  Dessa maneira, os conceitos de poder e corpo constituem o cerne de meus esforços investigativos. Nesta apresentação, discuto o modo como defino e aplico ambos em minha análise da documentação.

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Ressalto que a pesquisa com a qual esta comunicação se vincula é realizada no âmbito do Programa de Estudos Medievais (PEM) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Leila Rodrigues da Silva. Meu projeto individual integra um esforço investigativo coletivo, coordenado pela minha orientadora, que versa sobre a produção intelectual eclesiástica e a normatização da sociedade nos reinos romano-germânicos.Palavras-chave: Corpo, poder, regras monásticas.

Os milagres na obra “Glória dos Mártires” de Gregório de ToursVanessa Gonçalves Bittencourt de Souza

(Graduanda – UFF – PIBIC/CNPq)

No livro “Glória dos Mártires”, o bispo Gregório de Tours nos apresenta um extenso relato sobre 169 mártires, traçando um interessante percurso entre os personagens bíblicos e os santos da Gália. Produzida provavelmente entre 585 e 588, esta obra nos fornece dados que tornam possível uma análise ampla sobre o significado do fenômeno do milagre na narrativa de Gregório. O objetivo desta comunicação é avaliar de que forma a temática do milagre se faz presente na obra, apresentando os dados coletados e as classificações possíveis sobre o fenômeno abordado. Este trabalho se insere como parte do projeto de Iniciação Científica PIBIC/CNPq/UFF “Profetas, Curandeiros e Videntes na Gália de Gregório de Tours”, sob orientação do Prof. Dr. Edmar Checon de Freitas.Palavras-chave: Gregório de Tours; hagiografias; milagres

O processo de cristianização da Islândia nos séculos XI/XIIIAna Clara Thomazini Racy

(Graduanda – UFF – PIBIC/Faperj)

A partir da análise das fontes Íslendingabók e Kristni Saga (Livro dos Assentamentos e História da Cristianização, respectivamente),o presente trabalho tem como proposta analisar e compreender os mecanismos que permitiram à religião cristã tornar-se oficialmente a religião na Islândia no ano 1000, a partir das mudanças de cunho político-cultural ocorridas na região com o processo de cristianização efetuado pelos primeiros missionários enviados à Islândia pelo rei Norueguês Óláf Tryggvason. Neste trabalho serão utilizados os conceitos de Religião Formal e Religião Popular, propostos pela historiadora Karen L. Jolly.Palavras-chave: Cristianização, Igreja, Escandinávia

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Para Além do Texto: O judaísmo Ashkenazi na segunda metade do século XII e o hassidismo medieval como prática intelectual

Cristiano Ferreira de Barros(Mestrando – PPGH-UFRRJ)

Após as perseguições às comunidades judaicas situadas no território imperial germânico após o início das Cruzadas em 1096, florescerá um novo fenômeno sociorreligioso dentro do Judaísmo ashkenazi, o Hassidismo, uma postura espiritual austera e ascética, verificada no caráter pietista do Sefer Hasidim (livro dos piedosos), que marcará o caráter religioso comunitário de judeus em território germânico. Nossa pretensão é entender a configuração que essa nova prática social e religiosa assume no seio da comunidade judaica durante a segunda metade do século XII na região do Reno e analisar quais as forças motrizes que conduzem a produção intelectual dos Hasidei Ashkenaz na constituição de tais representações acerca da postura que o judeu deveria assumir cotidianamente. Palavras-chave: Judaísmo Ashkenazi; Hassidismo; Império Romano Germânico.

Grupo de Trabalho Ruralidade, dominação e resistência camponesa

Coordenador: Prof. Dr. Mário Jorge da Motta Bastos (UFF)

Dia: 14.11.2012

Horário: 16:00 às 17:45

Relações entre o homem e a natureza na Idade Média Portuguesa (sec. XIV/XV)

Jonathan Mendes Gomes(Doutorando – PPGH-UFF)

Estudo sobre a Literatura Técnica produzida nos primeiros reinados da Dinastia de Avis, em Portugal, a fim de caracterizar as novas concepções e fenômenos de sensibilidade produzidos pela relação homem/natureza, experimentadas durante os jogos e demais atividades a que se referem os tratados, bem como as perspectivas adotadas com relação ao tratamento dado aos elementos naturais, tendo em vista seu

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papel como forma de apreensão do conhecimento, e a influência do discurso civilizador vigente no período.Palavras-chave: Portugal/Idade Média – Literatura Técnica de Avis – Natureza

Os Camponeses da Provença nos sermões de Cesário de Arles (502-542)

Suelyn da Silva Goulart(Graduanda – UFF)

Neste trabalho procuramos delinear, por meio dos sermões do bispo Cesário de Arles (502 542), as práticas cotidianas das populações camponesas da Provença na primeira metade do século VI e o híbrido cultural e religioso que se constituía.

Para tanto, recorremos a uma classificação que tomou como norte áreas representativas da vida no campo, são elas: do calendário, dos ritos, da comunidade.Palavras-chave: paganismo, cristianismo, Cesário de Arles

Organização Espacial do Campesinato: elementos históricos de formação e coesão aldeãs

Prof. Ms. Álvaro Mendes Ferreira

Repositório das tradições, objeto privilegiado dos etnógrafos, o campesinato (os primitivos da Europa!) tendeu a ser visto não apenas como fundamentalmente conservador, mas em formulações radicais (O. Spengler) como alheio mesmo à História, perspectiva que ganha hoje às vezes trajes mais domingueiros pela hipermetropia da longa duração. Os estudos, no entanto, mostram que a Idade Média, sobretudo a Central, foi período de profundas transformações na estrutura do campesinato, as quais correspondem a outros processos dessa sociedade. A organização espacial é fruto das inter-relações dos Homens entre si e destes com a natureza, de maneira que a imagem automática, pavloviana que associa camponês a aldeia precisa ser matizada: a aldeia é apenas uma das muitas formas de organização do espaço camponês e oferece ela própria enorme variedade. R. Fossier, P. Toubert e R. Sablonier descreveram, p. ex., a influência dos poderes senhoriais no “encelulamento” dos campônios como meio de assegurar pela concentração espacial o controle social. Nesta breve comunicação, tentaremos expor alguns fatores que haveriam atuado na formação e na coesão das aldeias, com particular atenção à Alemanha e aos Países Baixos.

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