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PLANTAS MEDICINAISUSOS POPULARES TRADICIONAIS

P. CLEMENTE J. STEFFEN, S.J.

2010Instituto Anchietano de Pesquisas/UNISINOS

P. Clemente J. Steffen, S.J.

P. Clemente Jos Steffen, S.J.Era sacerdote jesuta. Nasceu em Santo Cristo, RS, em 14.09.1925. Morreu em So Leopoldo, RS, em 14.04.2003. Bacharel em Histria Natural, especialista em Fisiologia Vegetal e Ecologia. Como professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, dedicou sua vida aos alunos, aos colegas e manuteno da ecologia do Campus Universitrio. Desde 1992 interessou-se pelas plantas medicinais: Plantou-as num grande jardim, criou uma coleo de herbrio, reuniu suas sementes e deu princpio a uma Farmcia Viva. A partir de 2010 o Instituto Anchietano de Pesquisas se envolveu na continuidade do Projeto Plantas Medicinais. P. Clemente usava todos os meios para tornar conhecidas as plantas medicinais: cursos, palestras, conversas informais, manuseio e jornal. Os textos do presente caderno foram publicados no Jornal O Interior e aqui foram reproduzidos sem modificaes. Ele os escreveu para levar a um leitor no universitrio as plantas medicinais mais comuns: suas caractersticas, denominaes cientficas, seu uso popular tradicional. No se trata de textos cientficos, nem de receitas para automedicao, mas de divulgao de prticas de uso popular, transmitidas durante muitas geraes. Com o desenvolvimento da pesquisa e da indstria farmacutica, o uso caseiro, natural, dessas plantas praticamente desapareceu e passou a fazer parte da histria da cultura de nosso povo, que vale a pena conhecer.

Denise Maria Schnorr Biloga, colaboradora e continuadora do Projeto Plantas Medicinais. Maria Salete Marchioretto Biloga, doutora em botnica, curadora do Herbrio Anchieta PACA. Pedro Igncio Schmitz Coordenador de Pesquisas no Instituto Anchietano de Pesquisas.

NDICE

AAFRO-DA-TERRA ......................................................................... 5 ALCACHOFRA ....................................................................................... 6 ALCAS ............................................................................................... 7 ALECRIM ................................................................................................ 8 ALFAZEMA ............................................................................................ 9 ALHO ..................................................................................................... 10 ARNICA................................................................................................. 11 ARRUDA ............................................................................................... 12 BABOSA................................................................................................ 13 BARDANA ............................................................................................ 14 BELDROEGA........................................................................................ 15 BOLDO .................................................................................................. 16 BOLSA-DE-PASTOR............................................................................ 17 CALNDULA........................................................................................ 18 CAMOMILA.......................................................................................... 19 CAPIM-CIDR...................................................................................... 20 CAPUCHINHA...................................................................................... 21 CARDO-MARIANO.............................................................................. 22 CARQUEJA ........................................................................................... 23 CARURU ............................................................................................... 24 CAVA-CAVA ........................................................................................ 25 CAVALINHA ........................................................................................ 26 CEBOLA ................................................................................................ 27 CELIDNIA .......................................................................................... 28 CENTELA-ASITICA .......................................................................... 29 CH-DE-BUGRE .................................................................................. 30 CHAPU-DE-COURO .......................................................................... 31 CIP-MIL-HOMENS ............................................................................ 32 CONFREI ............................................................................................... 33 CRAVO-DE-DEFUNTO ....................................................................... 34 DENTE-DE-LEO ................................................................................ 35 ERVA-CANCOROSA ........................................................................... 36 ERVA-CIDREIRA ................................................................................. 37 ERVA-DE-SANTA-MARIA ................................................................. 38 ERVA-DE-SO-JOO.......................................................................... 39 ERVA-LANCETA ................................................................................. 40 ERVA-LUISA ........................................................................................ 41 ESPINHEIRA SANTA .......................................................................... 42

FUNCHO................................................................................................ 43 GENGIBRE............................................................................................ 44 GINKGO ................................................................................................ 45 GUACO.................................................................................................. 46 GUANXUMA ........................................................................................ 47 GUIN.................................................................................................... 48 HORTEL ............................................................................................. 49 LINHAA .............................................................................................. 50 LOSNA................................................................................................... 51 MA .................................................................................................... 52 MACELA ............................................................................................... 53 MAMO ................................................................................................ 54 MANGERICO ..................................................................................... 55 MARROIO ............................................................................................. 56 MASTRUO.......................................................................................... 57 MELO-DE-SO-CAETANO ............................................................. 58 MIL-FOLHAS........................................................................................ 59 MORRIO-DOS-PASSARINHOS ....................................................... 60 PATA-DE-VACA .................................................................................. 61 PICO-PRETO ...................................................................................... 62 POEJO .................................................................................................... 63 QUEBRA-PEDRA ................................................................................. 64 QUEBRA-TUDO ................................................................................... 65 QUITOCO .............................................................................................. 66 SLVIA ................................................................................................. 67 SLVIA-DA-GRIPE ............................................................................. 68 SERRALHA ........................................................................................... 69 TANACETO .......................................................................................... 70 TANCHAGEM ...................................................................................... 71 TOMILHO.............................................................................................. 72 URTIGA ................................................................................................. 73 VIOLETA............................................................................................... 74

AAFRO-DA-TERRA Num livro de plantas medicinais de 1981 se diz que na antiguidade o aafro-da-terra era muito mais apreciado que em nossos dias; que caiu em desuso na Idade Mdia, depois de ter ocupado um lugar pelo menos to proeminente como o gengibre, com o qual estreitamente aparentado. Ambos so da famlia Zingiberaceae. Esta j no felizmente a situao hoje, quando o aafro-daterra aparece com destaque num livro editado no ano de 2001 nos EEUU, recuperando o interesse popular, e agora tambm o cientfico. O que , como e para que serve o aafro-da-terra? O aafroda-terra tambm chamado crcuma e seu nome cientfico Curcuma longa. Existe outra crcuma diferente, chamada zedoria, por isso, para evitar confuso, usamos seu nome mais popular, aafro-da-terra. Suas folhas compridas e largas brotam quase do cho e chegam a um metro de altura. O que usado so os rizomas formados debaixo da terra. Estes so bem caractersticos da espcie: cor amarelo-alaranjado forte, aroma forte e gosto picante. Por causa destas qualidades o aafro-da-terra usado como tempero. Por isso se diz que h sculos o aafro-da-terra vem sendo usado como corante vegetal. Constitui um ingrediente essencial no curry, ao qual empresta cor e sabor, sendo ainda adicionado mostarda, aos curtidos e a diversos molhos. Usa-se igualmente para dar cor e sabor a ovos, queijos, manteiga, bebidas de frutas, licores e saladas, podendo inclusive substituir o aafro. Para falar das propriedades medicinais, pode-se comear dizendo que o aafro-da-terra uma farmcia por si s, como diz um autor atual. Vrias pesquisas cientficas demonstraram que esta especiaria dourada pode proporcionar para a sade efeitos sobre os sistemas digestivo, cardiovascular, reumtico e imunolgico. So grandes suas propriedades antinflamatrias. Apresenta um documentado efeito de reduzir o colesterol, dando-lhe um importante papel na diminuio dos riscos de ataques cardacos. Um dos usos tradicionais do aafro-da-terra tem sido o tratamento de artrite, diminuindo a dor e o enrijecimento. Ele parece tambm realmente ajudar o organismo a desintoxicar-se de substncias potencialmente causadoras de cncer. O aafro-da-terra h muito usado como agente antibitico natural. Pesquisas do mundo todo confirmam que componentes dele podem inibir o crescimento de bactrias, fungos e vrus. Vale lembrar ainda que o corante do aafro-da-terra tradicionalmente usado para tingir indumentria budista. 5

ALCACHOFRA

A alcachofra planta comestvel e medicinal no muito conhecida e usada entre ns, o que no acontece nos pases do mediterrneo, de onde originria. Seu nome cientfico Cynara scolymus, da famlia Compositae. Era conhecida dos antigos egpcios e, entre os romanos, escrevia Dioscrides esta receita singular: "Sua raiz negra e grossa, a qual, aplicada em forma de emplastro, corrige a sovaqueira e a hediondez das outras partes do corpo." Foi cultivada tambm na antiga Grcia. Embora considerada pela maioria como um alimento extico, seu cultivo e consumo aumentaram ultimamente, talvez devido a seu uso cada vez maior como planta medicinal. Como alimento so usadas as grandes folhas e as inflorescncias ou captulos globosos. As alcachofras constituem um alimento excelente para os diabticos, tanto as bases de suas folhas florais ou brcteas do invlucro, como o receptculo floral e ainda as hastes que o sustentam. Quando novos e previamente fervidos so moles e perdem todo o seu amargor. Segundo um especialista brasileiro em alimentao, a alcachofra um alimento privilegiado entre diabticos, devido a sua atividade hipoglicemiante (baixa a glicose no sangue), alm de ser um excepcional mineralizante, haja vista sua riqueza em sais orgnicos como fsforo, ferro, iodo, silcio, alm de possuir vitaminas A, C e todo o complexo B. No uso medicinal suas propriedades se referem principalmente aos problemas do fgado e diabete. Um livro alemo de 1996 resume estas propriedades da seguinte maneira: "Os preparados de alcachofra so, do ponto de vista farmacutico, um produto amargo com influncia favorvel sobre o metabolismo heptico. Estimula ao mesmo tempo a produo de blis e o fluxo da mesma. O mal-estar, a sensao de repleo e o meteorismo causados por um mau funcionamento do fgado e acompanhados de dores, diminuem com os preparados de alcachofra. Os pacientes com clculos biliares padecem menor nmero de clicas. Outras propriedades do tratamento com alcachofra so a eliminao da gordura e colesterol no sangue. Desconhece-se qual o efeito exato que causam os preparados de alcachofra com a diabete."

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ALCAS

Falando de alcaz, poucos hoje saberiam escrever corretamente o nome desta planta. Mas ela apresenta outras curiosidades. Quem, por exemplo, saberia responder a esta pergunta: o que tem a ver o alcaz com bombeiro? A resposta : ele usado como agente espumante em extintores. Com a mesma finalidade usado tambm na fabricao de certas cervejas. Em cervejas, bebidas no alcolicas e produtos farmacuticos, ainda usado como aromatizante. E aqui aparece seu uso certamente menos nobre: usado para aromatizar tabaco. O que afinal este alcaz? Seu nome cientfico bem complicado: Glycyrrhisa glabra, da famlia Leguminosae. Os livros dizem que se parece com a ervilha-de-cheiro. originrio da sia Menor e das regies mediterrneas. Os monges beneditinos o levaram para a Inglaterra, onde o cultivaram e onde tambm ficou famoso por causa dumas pastilhas fabricadas com ele. Entre ns, os antigos de origem alem se lembram duns bastes escuros, extremamente doces, chamados lakritz, os quais se cortavam em pedacinhos que se deixavam derreter na boca para tratar problemas respiratrios. A substncia principal do alcaz a glicirrizina, conforme uns 50, conforme outros 5 vezes mais doce que a sacarose, e que tem efeitos semelhantes cortisona. A parte que se usa do alcaz a raiz. Nela esto as propriedades medicinais, usadas desde a antiguidade. Egpcios, gregos e romanos o usavam como peitoral, a mais importante das propriedades que a ele so atribudas, tratando-se com ele principalmente a asma, tosse e bronquite, sendo um poderoso expectorante. Muito usado tambm como estimulante digestivo e receitado para inflamao gstrica. Utiliza-se ainda como antiinflamatrio nas artrites e nos transtornos alrgicos. Favorece a funo suprarenal, sendo usado na doena de Addison, que a deficincia desta glndula. O extrato solidificado, que se vende em forma de barras, constitui a base de muitos laxantes comerciais, estimulando o fluxo biliar, com ao suave sobre a priso-de-ventre. O uso excessivo pode produzir reteno de gua, com aumento da presso sangnea.

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ALECRIM

O alecrim ou alecrim-de-jardim, cujo nome cientifico Rosmarinus officinalis, mais conhecido como tempero. Nesse sentido usado principalmente para temperar carnes. "Porco, cabrito e carneiro ficam uma delcia temperados com molho de alecrim. Por ter um sabor muito forte, deve ser empregado com moderao", diz o Guia Rural Ervas e Temperos. Ou como diz Dalmo Giacometti em Ervas Condimentares e Especiarias: "Na Itlia, Gr-Bretanha e Estados Unidos o alecrim indispensvel nos assados e grelhados de frango e de porco. Universalmente usado para temperar molhos com suco de limo para saladas, carnes, e frangos guisados". Mas o que nos interessa aqui seu valor medicinal. Como tal tem tambm muitas aplicaes, sendo as principais: acalma os nervos e levanta o nimo; reduz gases intestinais e estimula a digesto, aumentando a secreo biliar; estimulante cardaco e ativador da circulao; externamente um timo desinfetante e alivia dores reumticas. Uma propriedade extraordinria do alecrim foi confirmada recentemente por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco. Na tradio popular j se sabia que o alecrim era eficaz no tratamento das hemorridas, mal que atormenta uns 40% da populao brasileira, segundo levantamento da mesma Universidade. Submetida a experimentao, a tradio popular foi confirmada cientificamente e o preparado base de alecrim se mostrou to eficiente e constante, a ponto de surpreender pacientes e mdicos. Isto ainda mais surpreendente considerando-se que a preparao e o uso da planta faclimo, acessvel a qualquer um. Basta identificar o verdadeiro alecrim, colocar 20 gramas de folhas secas em um litro de lcool prprio para consumo (lcool de cereais ou cachaa), guardar uns 5 dias, coar e tomar 10 gotas em um pouco de gua 3 vezes ao dia. Segundo as informaes, todos os pacientes que tomaram o preparado durante 10 a 15 dias se livraram da doena. Em recente conversa com um amigo, ao mostrar-lhe o material sobre o alecrim como receita para curar hemorridas, disse-me ele: "Isto a me tirou da mesa de operao. Tinha marcado cirurgia para depois de uma semana, quando me ensinaram esta receita. Tomei o ch, desmarquei a cirurgia e estou bom at hoje." Se voc ainda no tem um p de alecrim em sua propriedade, acho bom providenciar um. 8

ALFAZEMA A alfazema uma planta que era mais conhecida e usada em outros tempos que nos nossos dias. , contudo, uma erva que preciso revalorizar, por causa de suas mltiplas propriedades, algumas delas muito importantes para o nosso tempo. A alfazema chamada tambm lavanda e o seu nome cientfico Lavandula officinalis ou tambm Lavandula angustifolia, da famlia Labiatae. em primeiro lugar uma planta ornamental, com suas mltiplas ramificaes, cobertas de folhas pequenas e estreitas, semelhantes s do alecrim, porm de colorao esbranquiada. Os primeiros usos da alfazema foram provavelmente como planta aromtica. Como tal era amplamente usada por gregos e romanos, que preparavam com ela os seus banhos. Ainda hoje seu uso como cosmtico muito difundido. As guas de lavanda, diz uma autora, so conhecidas no mundo inteiro e so anti-spticas e refrescantes. Sachs de lavanda so um luxo adicional a qualquer banho, e colocados nos armrios e nas gavetas deixam a roupa com um cheirinho delicioso. E, para completar, alm do aroma divino, a lavanda repele as traas e todos os insetos comedores de roupas, carpetes e cortinas. Como medicinal, a alfazema tem muitas indicaes. Age sobre os brnquios, sendo anti-sptico respiratrio eficaz no tratamento da tosse. O leo essencial age sobre o mesencfalo estimulando-o atravs do nervo olfativo, o que confere uma ao calmante. Na medicina popular usada internamente como calmante suave, no combate tosse, ou em casos de perturbao gstrica caracterizada pela flatulncia. Indicada tambm para doenas respiratrias como asma, bronquite, catarro, gripe, alm de sinusite, enxaqueca, depresso, tenso nervosa, insnia, inapetncia, vertigens, dermatites, eczemas, abcessos, pediculose e psorase, queimaduras, leucorria, e para aliviar picadas de insetos. Sobre o efeito calmante da alfazema diz uma autora canadense com humor: os banhos de alfazema acalmaro nossos pequenos diabos, provocando neles um sono profundo e reparador. Muito forte o efeito antiparasitrio do leo essencial da alfazema. Segundo a mesma autora de incrvel eficcia contra as infestaes peridicas de piolhos que se propagam ainda em nossos dias nos meios escolares de todas as classes sociais. A soluo passar leo essencial e pente fino nas cabeas infestadas, uma vez por dia, at o desaparecimento completo dos piolhos. Ainda uma receita, esta para estudantes: excitante nervoso, o leo essencial da alfazema substitui muito bem a cafena em perodos de exames; antevendo longas noites em claro, use o leo em massagens do couro cabeludo. 9

ALHO H poucas plantas to conhecidas como o alho. Assim diz um autor espanhol ao apresent-lo: "O benvolo leitor queira excusar a falta de uma figura que represente o alho comum; mas esta espcie no nativa, seno de terras cultivadas, e na Espanha to conhecida, que no so necessrias imagens dela para que todo mundo saiba de que se trata." So tambm por demais conhecidas as suas mltiplas propriedades medicinais. Como diz o mesmo autor: "No decurso dos sculos, as virtudes atribudas ao alho so pouco menos que inumerveis." Originrio da sia, o alho foi cultivado principalmente nos pases ao redor do Mediterrneo e h notcias do seu uso h quatro ou cinco mil anos. Seu nome cientfico Allium sativum, da famlia Liliaceae. famoso o seu uso como alimento e condimento no tempo dos gregos e romanos, e a sade dos construtores das pirmides do Egito era garantida base do farto consumo de alho. Como condimento o alho aumenta o sabor da maioria das carnes, mariscos e muitas verduras. um ingrediente essencial de pratos regionais em muitas partes do mundo, em especial o sul da Europa, Oriente Prximo, Extremo Oriente, Caribe, Mxico e Amrica do Sul. As mltiplas propriedades medicinais podem-se resumir assim: Uso interno: previne infeces e cura resfriados, bronquite, gripe, tosse convulsiva, gastroenterite e disenteria. Uso externo: problemas cutneos, em especial acne e infeces por fungos. Alm desses usos tradicionais, faz pouco que se descobriu que o alho reduz o metabolismo da glicose nas diabetes, retarda o desenvolvimento da arterioesclerose e reduz o risco de enfartes ulteriores em pacientes que sofreram um enfarte do miocrdio. Textualmente diz um autor atual: "Muito estimado desde pelo menos cinco mil anos, faz muito tempo que se sabe que o alho reduz o nvel de colesterol no sangue. Inclusive a medicina ortodoxa reconhece que a planta reduz o risco de ulteriores ataques nos pacientes do corao; tambm um estimulante do sistema imunitrio e um antibitico." O forte odor do alho se deve em grande medida a compostos sulfurosos que so os responsveis pela maior parte de suas propriedades medicinais; os preparados desodorizados so significativamente menos eficazes. Existem disponveis no mercado prolas de leo de alho, fceis de consumir. Estas podem ser substitudas com vantagem por cpsulas, que contm p de alho, mais eficazes. Os poderosos compostos aromticos do alho se excretam atravs dos pulmes e da pele. Pode-se reduzir o odor desagradvel do hlito dos consumidores de alho mastigando folhas frescas de salsa. 10

ARNICA

A planta medicinal chamada arnica muito falada, mas tambm objeto de muita confuso, tanto na tradio oral como na escrita. Esta confuso no s nossa e nem s de hoje. Para uns, arnica toda planta que tem flores amarelas; ou ento considerada arnica toda planta que se usa para afomentar machucaduras. Um livro espanhol diz: Enfin, qualquier planta de esta famlia, com tal que sus flores sean amarillas, puede passar por rnica, y no solo en nuestro pas, sino en otros muchos paises europeos. Y, a menudo, la persuasin de las gentes es tan firme, que se irritan cuando se niega veracidad a sus asertos y se les dice que su rnica no es rnica ni mucho menos. A arnica a que se referem os livros estrangeiros e tambm os nacionais, a que os botnicos chamam Arnica montana, da famlia Compositae. uma planta tipicamente europia e no h informao que exista espontnea ou cultivada em nossa regio. Em relao a seu uso, uma informao importante e que aparece praticamente em todos os livros, que ela txica, e por isso seu uso interno est condicionado orientao mdica. Nesta forma usado, por exemplo, para problemas cardacos, derrames e outros. Seu uso mais universal externo. Assim diz uma bibliografia bem nacional: A raiz, as folhas e, sobretudo, as flores desta planta, contm diversas substncias, entre as quais se destaca a arnicina, abortiva e veneno enrgico, que torna perigoso seu uso pelos leigos. Na atualidade o seu emprego est limitado principalmente aos golpes, quedas e contuses de qualquer natureza. Um dos nomes antigos da arnica tabaco das montanhas. Tabaco, porque suas folhas secas eram fumadas como substituto do fumo. Das montanhas, porque se dizia que crescia convenientemente ao p das montanhas, onde as quedas e respectivos arranhes eram mais freqentes. Entre as plantas que no Brasil recebem o nome de arnica est principalmente a erva-lanceta, Solidago chilensis (S. microglossa), que se usa muito contra machucaduras, quedas, contuses, derrame de sangue interno, hemorragias. A nossa arnica tem sobre a arnica europia a vantagem de no ser txica. 11

ARRUDA

A arruda uma planta por demais conhecida da maioria do povo. Quanto mais a gente a estuda, tanto mais se fica em dvida se deve divulg-la, escrever sobre ela, ou no. que se trata de uma planta muito forte, de poderes positivos, mas tambm muito negativos. Por isso, de um lado seria melhor se no fosse divulgada, conhecida. Por outro lado, como j por demais conhecida, preciso chamar ateno sobre ela, para prevenir aqueles que no a conhecem suficientemente, e a usam sem precauo. Muitos autores nem a colocam em seus livros de plantas medicinais, outros a colocam entre as plantas txicas; mas a maioria previne que se deve us-la com muito cuidado. A arruda originria dos pases do Mediterrneo, e espalhada hoje por todo o mundo. conhecida desde a antiguidade e dela foram feitos os mais diversos usos. Segundo os livros indicada em uso interno principalmente para combater vermes intestinais, mas tambm para outros males, porm sempre em doses moderadas, de preferncia sob indicao de uma pessoa autorizada, responsvel. A arruda especialmente perigosa para gestantes, pois doses exageradas podem provocar aborto e mesmo a morte. No uso externo indicada sem problemas para combater piolhos, lavando-se a cabea com o ch ou usando um sabonete de cuja composio faz parte. usada ainda para sarna e para lavar feridas, onde favorece a cicatrizao. As folhas da arruda tm uma colorao verde-azulada e as flores so amarelas. Uma caracterstica muito notvel da arruda seu cheiro forte, penetrante e inconfundvel. Provavelmente por causa desse cheiro forte e at certo ponto desagradvel, que se atriburam sempre arruda propriedades mgicas, alm das medicinais. Esta crena perdura at hoje entre o povo, e por isto to freqente encontrar um p de arruda junto das casas, das quais afastaria os malefcios. E muito popular tambm usar um raminho de arruda atrs da orelha para a mesma finalidade. Este cheiro forte afeta no somente as pessoas, mas tambm os animais. Por isso a arruda largamente usada como repelente para pragas, desde insetos at cobras. Resumindo, acho que se pode dizer: se voc no tem vermes ou piolhos incomodando, e no acredita em suas propriedades mgicas, esquea a arruda. 12

BABOSA A babosa, tambm chamada de alos, uma planta conhecida popularmente como ornamental e medicinal. Como ornamental d um bom efeito pelas suas folhas longas, grossas, largas na base e terminando em ponta, com espinhos nos lados, e que nascem ao redor de um caule central. Quando floresce, nasce entre as folhas uma longa haste, em cuja ponta se forma um cacho vermelho ou amarelo de flores em forma de tubo, que vo caindo, enquanto novas desabrocham. Como uma planta perene no precisa ser replantada. Do seu p nascem brotos, de modo que aos poucos se forma uma touceira bem fechada. Cada broto uma nova muda que basta destacar e plantar. Como medicinal a babosa conhecida e usada desde a antigidade, e em nossos dias volta a ter, ou continua tendo, as mesmas aplicaes e mesmo encontrando novas. Da Bblia sabemos que fazia parte de uma composio para embalsamar corpos, como o de Cristo. Gregos e romanos a usaram em suas medicinas. rabes popularizaram seu uso na Pennsula Ibrica. Do suco que escorre de suas folhas cortadas se obtm por desidratao uma resina, chamada pelos espanhis acibar, muito empregada em outras pocas. Talvez o uso mais importante hoje, na medicina popular, como na clssica, no tratamento de queimaduras. Por isso a indstria cosmtica a usa na preparao de loes contra queimaduras do sol, nos bronzeadores. Mdicos americanos usam o suco da babosa para tratar queimaduras nucleares e de outras radiaes. Uma grande empresa petrolfera nossa, h mais de seis anos no usa outra coisa, no setor mdico, para queimadura seno a babosa. Da a importncia de ter um p de babosa na propriedade, e perto de casa. Acontecendo uma queimadura s cortar uma folha e aplicar o suco que escorre, sobre a ferida. Este suco da babosa tira a dor, evita infeco e produz uma rpida cicatrizao, sem mesmo deixar cicatrizes. Pode-se tambm reduzir uma folha a uma pasta, depois de retirar os espinhos, aplicando a pasta sobre a queimadura. Outra maneira cortar a folha, que grossa, em fatias finas e aplicar estas sobre o local ferido. Parece que a pele absorve toda a substncia da folha de maneira que fica s uma camada fina como papel. Externamente a babosa ainda usada em inflamaes e tumores e, em soluo fraca em gua, para lavar feridas e os olhos. usada, ainda, para queda e tratamento do cabelo. Para uso interno da babosa recomenda-se muito cuidado. Ela muito forte e pode causar problemas at graves. O suco das folhas usado para o estmago e o fgado. usado como laxante em preparaes farmacuticas. 13

BARDANA

A bardana uma planta medicinal muito conhecida e usada desde a antiguidade e, como se diz, suas propriedades nunca foram contestadas. A bardana forma uma haste vertical de at mais de um metro, com folhas bem grandes na base e cada vez menores para cima. O que a distingue so os cachos de flores que se transformam em carrapichos, que se agarram fortemente roupa. Seu nome cientfico Arctium lappa, da famlia Compositae. Segundo um livro bem popular, a bardana provoca suor, diurtica, aumenta a urina e tima contra clculos renais, molstias da pele; grande depurativa do sangue, do fgado, dos rins; remdio antisifiltico; folhas untadas com azeite ou seu suco, aplicam-se sobre feridas; para reumatismo; ajuda o crescimento e evita a queda do cabelo. J num livro ingls recente se l que a bardana era um purificador tradicional do sangue, que se combinava muitas vezes nas poes populares com o vinho de dente-de-leo. Em tempos foi popular contra a indigesto. Na China se empregam as sementes para afastar os males do ar e o calor. Tambm reduzem o nvel de acar no sangue. Esta ltima indicao, muito importante para os nossos dias, acentuada em outro livro, tambm ingls, que diz textualmente, na traduo espanhola: Hace poco que se h demostrado que los extractos de semillas reducen el nivel de azcar en la sangre. O mesmo livro ainda diz que a bardana usada internamente para enfermidades cutneas ou condies inflamatrias causadas por toxicidade (em especial eczemas, psorase, reumatismo, gota, furnculos e chagas). importante lembrar que vrios autores indicam esta planta para tratar a psorase. As palavras de outra autora inglesa resumem e englobam os principais usos desta planta: Estimuladora do apetite, colagoga, sudorfera, tnica e calmante, a bardana sempre tem utilidade, mas a propriedade que a faz ocupar um lugar importante na farmcia caseira a de depuradora do sangue. Ela retira substncias txicas do organismo atravs de sua atuao sobre a bilis, rins e glndulas sudorparas, aliviando a congesto do sistema linftico. A raiz a parte mais usada.

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BELDROEGA

A beldroega planta ao mesmo tempo alimentcia, medicinal e ornamental. conhecida e usada desde a antiguidade at nossos dias. Existe espontnea ou cultivada em todos os continentes. Atualmente caiu em desuso em muitos lugares, mas, por suas propriedades, merece ser mais conhecida e usada. Alm de beldroega, tem outros nomes populares, como caruru-de-porco, bredo-de-porco, ora-pro-nobis, salada-de-negro, caaponga, porcelana, verdolaga, beldroega-pequena, beldroega-vermelha, beldroega-das-hortas; em espanhol verdolaga. Seu nome cientfico Portulaca oleracea, da famlia Portulacaceae. Em livros de plantas ornamentais se encontra uma beldroega com flores grandes, amarelas ou vermelhas, que a tornam prpria para recobrir canteiros. Como alimento a beldroega foi usada desde tempos antigos na ndia e Extremo Oriente, sendo introduzida na Europa na Idade Mdia, e continua sendo coletada no estado silvestre em muitas regies, inclusive no Brasil. A beldroega rica em protenas, vitaminas A, B e C, clcio, fsforo e ferro. Ao longo dos sculos foi empregada na cura do escorbuto. Um livro bem atual diz: Las hojas se cocinan como verdura, se embuten en vinagre, se aaden a salsas y ensaladas. Como planta medicinal recomendada em muitos livros. Exemplo: mucilaginosa, diurtica, laxativa, vermfuga e antiescorbtica. Em outros tempos foi muito empregada no combate s doenas do fgado, hemoptises e clicas nefrticas. tambm vulnerria. Num livro argentino vem esta indicao: Es planta diurtica, refrescante, purgante y vermfuga. La infusn de las sumidades se usa para combatir ciertas enfermedades de las vas urinarias y hepticas. Adems, se puede utilizar como ensalada. A informao mais atual e talvez a mais importante vem num livro de 1996: Investigaciones recientes han demostrado que Portulaca oleracea es una fuente rica de cidos grasos omega-3, que se consideran importantes para prevenir ataques cardacos y fortalecer el sistema inmunolgico. Se estas investigaes se confirmarem, vai ser necessrio cultivar beldroega em grande quantidade.

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BOLDO

H vrias plantas medicinais com o nome de boldo. Todas elas so indicadas para problemas do estmago e do fgado. Entre ns so trs as espcies mais conhecidas. A primeira chamada simplesmente boldo, ou boldo-comum ou ainda falso-boldo, e tem como nome cientfico Coleus barbatus, da famlia das Labiadas. Este boldo muito freqente, cultivado em jardins. Tem folhas peludas, de um verde claro, com cheiro forte, caracterstico e gosto forte e desagradvel. Reproduzse facilmente com mudas feitas de estacas. Ele perene, isto , cresce o ano todo, no precisando ser replantado. Outro boldo, que existe nativo principalmente em nossos campos e lavouras abandonadas, o boldo-do-campo ou doce-amargo-do-campo, que tem o nome cientfico Pterocaulon polystachium, da famlia das Compostas. Este anual, s existe durante o vero, quase na poca da macela. uma erva com uma s haste fina, forte e reta, ao longo da qual esto as folhas verdes, um tanto pegajosas, como tambm a haste. No topo forma, na poca da florao, uma cachopa ramificada com muitos cachos de flores esbranquiadas. No todo lembra um pouco a ervalanceta. Usam-se as folhas em ch ou tintura. Tem cheiro agradvel e o gosto amargo, mas bom. Como planta anual, deve ser colhida na poca da florao, secada sombra ou em estufa e guardada para o resto do ano. Um terceiro boldo, este citado em livros nacionais e estrangeiros e aparecendo na formulao de muitos remdios para estmago e fgado, o boldo-do-Chile. muito raro entre ns. Seu nome cientfico Peumus boldus da famlia das Monimiceas. Como seu nome popular indica originrio do Chile. Como se l nos livros, as folhas deste boldo tm um perfume semelhante ao da hortel. Os ndios dos Andes sempre as usaram para o estmago e para abrir o apetite. Este boldo, como tambm os outros, estimula a secreo da bilis pelas clulas do fgado e facilita o funcionamento da vescula biliar. Parece at mais que coincidncia, que numa terra onde se come churrasco de carne gorda, cresce tambm um ch providencial, o doceamargo-do-campo.

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BOLSA-DE-PASTOR

A bolsa-de-pastor uma erva que cresce espontnea em diversos ambientes, ocorrendo praticamente no mundo todo, sendo em muitos lugares considerada erva daninha. Seu nome cientfico Capsella bursapastoris, da famlia Cruciferae. No das plantas mais conhecidas, mas, pelo que se l em muitos autores, de valor muito grande. Em 1653 se dizia dela que poucas plantas tem maiores virtudes que esta, e ainda assim totalmente ignorada. No era ignorada no tempo dos romanos que j a usavam para estancar sangue, que a sua principal propriedade. Sabe-se tambm que os alemes, na primeira guerra mundial, usavam um extrato dela para estancar ferimentos. Nos livros bem populares as indicaes so bem variadas e um tanto disparatadas. J um livro argentino diz mais brevemente: empregase em medicina popular como planta adstringente, vulnerria e secante. O cozimento da planta muito indicado para combater hemorragias, diarrias, disenteria, transtornos menstruais etc. As indicaes populares so confirmadas em livros cientficos: anti-hemorrgica; a erva tem efeito vasoconstritor e por esta razo empregada para tratar certas hemorragias, especialmente menstruaes excessivas. Cr-se que fomenta as contraes do tero durante o parto. Um livro recente (1995) diz praticamente a mesma coisa: uso externo e interno: para deter hemorragias, em especial menstruaes excessivas, sangue na urina, hemorridas, hemorragias nasais e feridas. Tambm internamente para cistite e externamente para varizes. A bolsa-de-pastor pode tambm ser usada como alimento. As folhas novas tm sabor parecido ao do agrio, sendo normalmente consumidas como salada. Suas sementes foram encontradas no estmago de restos humanos antiqussimos. A austraca Maria Treben, no seu livro Sade pela Botica do Senhor (1985) relata curas espetaculares obtidas com bolsa-de-pastor com doenas variadas, como atrofia muscular, prolapso intestinal, hrnia inguinal e outras.

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CALNDULA

A calndula uma planta no muito conhecida pela nossa populao. Entretanto foi muito famosa em outros tempos, usada de maneiras mltiplas e objeto de histrias e lendas. Ainda hoje dela se fala em todos os livros sobre plantas medicinais, cosmticas e ornamentais. Seu nome cientfico Calendula officinalis, da famlia Compositae. originria do sul da Europa. O que em primeiro lugar chama nela ateno a cor amarela a alaranjada de suas vistosas flores. cultivada para produo de flores de corte, prestando-se tambm para bordaduras e para formar macios em canteiros. Em 1551 dizia um autor: "Alguns a usam para tingir seu cabelo de amarelo... no estando satisfeitos com sua cor." E j no sculo XII se recomendava olhar simplesmente para a planta para melhorar a vista, aliviar a cabea e induzir alegria. A calndula tem tambm uso na culinria. As ptalas podem ser tomadas frescas em saladas. So, porm, mais usadas para dar uma cor de aafro e um leve gosto picante ao arroz, sopas de peixe e de carne, queijo, manteiga, bolos e pes doces. Um de seus principais usos na cosmtica, onde usada em cremes e loes para peles sensveis e impuras, produtos ps barba e ps depilao, xampus, condicionadores capilares, sabonetes, no tratamento da acne e na preveno e tratamento de assaduras de crianas. ainda protetor da radiao ultra violeta. Medicinalmente antinflamatria e tem propriedades cicatrizantes, sendo usada para ulceraes da pele e ferimentos, queimaduras suaves, queimaduras do sol. tambm til para aliviar clicas, dores de estmago, resfriados e at tuberculose. Nos sculos XVII e XVIII foi to estimada para o tratamento de tal quantidade de enfermidades, que os herboristas deviam ter sempre disposio tonis da mesma. Externamente foi usada como verrucria, quer dizer para tirar verrugas, e at meados do sculo XIX, como "herba cancri", foi um conhecido remdio contra o cncer, caindo depois no esquecimento. Ainda hoje, homens do campo usam as flores da calndula como barmetro: se as flores depois das 7hs da manh ainda esto fechadas, anunciam chuva; se abrem entre as 6hs e as 7hs, prometem um dia ensolarado.

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CAMOMILA

Esta planta medicinal ima das de uso mais universal. De to universal e comum sofre o perigo de, no fim, no se saber mais exatamente para que, afinal, indicada. Seu nome cientfico Matricaria chamomilla. Popularmente tambm chamada camomilados-alemes, camomila vulgar e maanilha, e se distingue da camomilaromana ou camomila-nobre, que outra planta, de nome cientfico Anthemis nobilis. A camomila uma erva que deve ser semeada a cada ano. Atinge cerca de meio metro de altura, com folhas muito repartidas, flores com uma cabecinha amarela, oca, e ptalas brancas ao redor. O que se aproveita esta cabecinha, que tem um cheiro caracterstico prprio da camomila e inconfundvel. A camomila certamente uma das plantas mais usadas em todos os lugares e desde tempos antiqussimos. J era apregoada por Dioscrides, mdico grego do exrcito romano de Nero. Em sua obra Matria Mdica diz textualmente: As razes, as flores e, em suma toda a erva, tm fora de aquecer e afinar. Provocam a menstruao, o parto, a urina e tambm a pedra se bebem ou o enfermo se senta sobre seu cozimento. Do a beber contra as ventosidades e contra a doena ilaca. Curam a ictercia e as enfermidades do fgado. Serve seu cozimento de muito til fomentao contra doenas da bexiga. Comparando estas indicaes antigas com a atual, vemos que essencialmente so as mesmas: A camomila sedativa, antinflamatria, analgsica, age contra clicas do estmago e do intestino e tambm estimula a menstruao. Alm das funes medicinais tem a camomila tambm funes cosmticas, como diz,por exemplo, o mesmo livro de Dioscrides, agora atualizado por Pio Font Quer: A flor da camomila se utiliza tambm para dar cor ruiva ao cabelo ou para conserv-lo desta cor. Para isto se recomenda a infuso concentrada da camomila.

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CAPIM-CIDR

Esta erva medicinal muito conhecida do nosso povo e muito cultivada e usada. Tem ainda os nomes populares de capim-limo, capim-cidreira, capim-santo e outros. Seu nome cientfico Cymbopogon citratus, da famlia Gramineae. Os alemes e os ingleses o chamam de capim-da-febre, aludindo a uma de suas principais propriedades que a de baixar a febre. Na literatura universal conhecido como lemon grass, que corresponde ao nosso capim-limo. Como seu nome diz, um capim que cresce em touceiras vigorosas, at cerca de um metro de altura. A touceira formada por numerosas brotaes, que fazem que ela se alargue rapidamente. No se observa florao e por isso tambm no h sementes. A reproduo feita facilmente dividindo-se as touceiras, formando cada brotao uma nova muda. Porque fcil de reproduzir e porque as touceiras so largas e firmemente enraizadas, o capim-cidr muito plantado em lavouras, ao longo das curvas de nvel, para evitar eroso e ao longo de rodovias para firmar os barrancos, donde lhe vem ainda o nome de ch-de-estrada. O capim-cidr tem um aroma caracterstico e muito agradvel, que lembra tanto o do limo, como o da melissa ou erva-cidreira, o que explica seus nomes populares. Na indstria se extrai dele um leo essencial, que usado em perfumaria e produtos farmacuticos. H pesquisas que provam que tem propriedades inseticidas. Como planta medicinal tem vrios usos. Para comear, uma bebida que, por seu gosto, agradvel de tomar, tanto quente como gelada. Muito usado adicionado ao chimarro. digestivo, calmante, sudorfero, febrfugo, sendo usado tambm contra dores musculares e gases intestinais. sabido que abaixa a presso sangnea, pelo que se recomenda cautela aos que tem presso baixa. Durante a secagem se perde em grande parte o aroma do capimcidr. Por isso, bom mesmo ter um p plantado em algum espao perto de casa.

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CAPUCHINHA

A capuchinha, tambm chamada popularmente chagas, uma planta que merecia mais ateno e aproveitamento. ao mesmo tempo medicinal, comestvel e ornamental. Sua origem sul-americana, tendo sido levada do Peru para a Europa. Seu nome cientfico Tropaeolum majus, da famlia Tropaeolaceae. Tem caractersticas bem marcantes Seus caules rastejantes com suas folhas e flores de pecolos longos cobrem barrancos, muros e depsitos de restos de construo, pelos quais parecem ter predileo. As flores tm cores variadas, predominando o amarelo e o vermelho. Sobre as folhas orbiculares, colocadas horizontalmente, costuma acumular-se gua da chuva, sem elas se molharem. Por causa das folhas e flores uma planta ornamental muito chamativa. anual, mas no precisa ser replantada, porque as sementes, trs em cada fruto, caindo ao solo, renascem espontaneamente todos os anos. Como alimento servem as folhas, flores e frutos. As folhas so tima salada, de sabor picante e muita vitamina C. Mais saborosas ainda so as prprias flores. Os botes florais e tambm os frutos novos so preparados em conserva de sal e vinagre, sendo conhecidos como alcaparra dos pobres, usados como aperitivo. Desde sua descoberta no Peru e sua transferncia para a Europa, comeou tambm a ser usada como planta medicinal. Rica em vitamina C, eficiente no tratamento do escorbuto. Os marinheiros cultivavam-na em caixas nos navios para consumi-l durante as viagens. Segundo pesquisas recentes, toda a planta tem ao anti-bacteriana e antimictica. empregada em infeces do sistema genito-urinrio e do sistema respiratrio. Especialmente as sementes so ricas em princpios ativos, sendo um antibitico vegetal, ativo contra os microorganismos dos gneros Estafilococo, Proteus, Estreptococo e Salmonela. Alm disso, a capuchinha tem ainda uma propriedade muito solicitada tambm em nossos dias, como diz um autor do comeo do sculo: ... toda la planta, es decir, tallos, hojas y sus rabillos y flores, machacada en un mortero y formando emplasto, estimula la actividad del bulbo piloso, previene la caida del cabello y favorece su salida. Para ello, emplese siempre la planta recin cogida, crtese el pelo previamente y afitese la cabeza antes de aplicar el emplasto.

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CARDO-MARIANO

Pouca gente conhece o cardo-mariano. Entretanto ele o tipo de planta muito medicinal e muito ornamental. Por isso deveria ser mais conhecida, mais plantada e mais usada. planta anual, que se reproduz facilmente por sementes, que so produzidas em quantidade, mas que so um tanto difceis de ser colhidas nas cachopas muito espinhentas, semelhantes s da alcachofra. Seu nome cientfico Silybum marianum, da famlia Compositae (Asteraceae). Produz folhas grandes, onduladas, de bordos espinhentos, de cor verde, rajadas de branco. Do meio da massa de folhas sobe uma haste longa, s vezes ramificada, que termina na cachopa espinhenta com flores lilases. O valor ornamental desta planta est muito bem resumido nesta citao: Existen algunas plantas anuales que, aunque merece la pena cultivarlas, son poco conocidas y es dificil encontrar sus semillas. Entre ellas est una de caractersticas realmente llamativas, Silybum marianum, el cardo mariano o cardo lechal. O valor medicinal do cardo-mariano j foi conhecido na antigidade e hoje cada vez mais reconhecido. Os romanos j o usavam pelo menos no primeiro sculo depois de Cristo, como atesta Dioscrides, mdico grego do exrcito de Nero. O reconhecimento atual do valor medicinal desta planta se constata muito bem pelo que diz um livro publicado em 1990 por dois mdicos ingleses. Quando tratam da hepatite, afirmam: O cardo-mariano comum contm silimarina, um dos remdios hepticos mais potentes conhecidos, Em estudos com o ser humano, a silimarina demonstrou ter efeitos positivos no tratamento de vrias doenas, inclusive cirrose, hepatite crnica, infiltrao gordurosa do fgado (induzida por produtos qumicos e lcool), colestase subclnica da gravidez e inflamao da vescula biliar. O ch do cardo-mariano se faz com as sementes, trituradas ou inteiras, e as folhas. Estas tambm podem ser usadas em saladas. So muito tenras. A nica dificuldade cortar os espinhos, muito agudos, ao longo de todo o bordo da folha, muito ondulada.

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CARQUEJA

Muito abundante em nosso estado, a carqueja tambm muito familiar para a maioria da populao, sendo usada basicamente para problemas digestivos. A carqueja pertence a um grupo muito grande de plantas, do qual faz parte tambm, por exemplo, a vassoura comum, to usada para varrer o ptio e para esquentar o forno de po. So duas as espcies muito usadas como medicinais. Uma a que geralmente chamada simplesmente carqueja, que tem o nome cientfico Baccharis trimera. A outra chamada carquejinha, com o nome cientfico Baccharis articulata. Ambas so da famlia das Compostas. Encontramse em potreiros, em roas abandonadas, em capoeiras baixas, enfim em lugares ensolarados. As duas tm uma coisa em comum: elas no tm propriamente folhas. Ao longo dos galhinhos muito ramificados, mais na carquejinha que na carqueja, se estendem umas aletas, que substituem as folhas. Na carqueja so trs e na carquejinha duas. As aletas da carqueja so mais largas e de um verde claro. A carquejinha tem aletas bem estreitas e a cor de um verde acinzentado. Estas carquejas no so rvores. A carquejinha tem porte ereto, com raminhos fortes, com at mais de um metro de altura. A carqueja tem os raminhos finos e fracos e por isso costuma formar touceiras deitadas. Na tradio popular as duas carquejas so tomadas como chs em caso de problemas digestivos. comum us-las no chimarro. No livro Medicina campeira e povoeira de Hlio Moro Mariante, a carqueja febrfuga, estomacal, diurtica e fortificante, e a carquejinha febrfuga e digestiva. Um verso de Luiz Alberto Ibarra ensina: "A contra-erva e a carqueja pr o vidente que deseja fortificar a carcaa". Um livro argentino, que trata das plantas usadas na medicina popular, diz isto da carqueja: "Los tallos contienen un cido resnico y absintina, sustancias que, a pesar de sus nombres difciles, hacen de esta planta un excelente colagogo y un buen diurtico".

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CARURU

Existem vrias espcies de carurus, conhecidas principalmente pelos agricultores, porque so consideradas ervas invasoras. Mas, como outras invasoras, os carurus tm tambm outras propriedades, pois podem ser ornamentais, comestveis e medicinais. Entre os vrios carurus, um dos mais teis e comuns o que tem o nome cientfico Amaranthus deflexus, da famlia Amaranthaceae. Um representante ornamental do grupo dos carurus o rabo-degato, Amaranthus caudatus, que tem inflorescncias vistosas, longas, delgadas, recurvadas, vermelhas, com inmeras flores diminutas, formadas durante a primavera e vero. Uma espcie de caruru muito cultivada pelos antigos habitantes da Amrica Central, principalmente do Mxico, Amaranthus hypochondriacus. Ele fornece em quantidade pequenas sementes, usadas principalmente como farinha, com a qual se preparam variados pratos. Usadas tambm como pipoca. No Brasil vrias espcies de carurus tm uso culinrio. So utilizados em refogados, molhos, pastis e panquecas. As folhas e os talos devem ser cozidos e depois escorridos, para eliminar o excesso de cido ntrico, que prejudica o sabor. Os carurus so ricos em ferro, potssio e clcio. Suas propriedades medicinais so reconhecidas desde a antigidade quando ele era considerado smbolo da imortalidade, porque suas flores no murcham, mesmo quando a planta morre, e, como as flores de umas espcies tm cor vermelha viva, era usado para estancar hemorragias. Algumas indicaes de usos medicinais: a decoco das folhas se toma em casos de problemas de fgado, tais como dores e digestes difceis e na reteno de urina. A salada e o suco so diurticos. O pigmento vermelho de algumas espcies serve como corante de alimentos e remdios.

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CAVA-CAVA

Tem aparecido ultimamente com freqncia nos noticirios referncias a uma planta chamada cava-cava. O nome cientfico desta planta Piper methysticum, da famlia Piperaceae. uma das plantas redescobertas na atualidade por causa de novas propriedades nela descobertas. Mas uma planta de uso muito antigo. Num livro editado a primeira vez em 1841, lemos estas indicaes na ortografia de ento: os preparados de Kava... so de uma grande efficcia no tratamento das blenorrhagias, gonorrhias, flores brancas, purgaes recentes ou chrnicas. Todas essas doenas, se curam em poucos dias, com absoluta discrio, sem tisanas, sem regimen, sem a mnima fadiga dos rgos digestivos. A parte usada da planta a raiz engrossada. Os povos das ilhas do Pacfico faziam e ainda fazem uma beberagem, mastigando a raiz e deixando-a fermentar em gua. O uso como droga recreativa e religiosa no infreqente, j que em grandes quantidades produz efeitos hipnticos e euforizantes com sonhos confusos. Na bibliografia atualizada se diz que atua como diurtica, alivia a dor, relaxa espasmos e estimula o sistema nervoso e circulatrio. Alm disso usada para infeces genitourinrias, doenas vesiculares, artrite e reumatismo. Nos tempos modernos, ingerida ocasionalmente em cerimnias, mais consumida como bebida relaxante e remdio tranqilizante. Pesquisas cientficas modernas confirmam os efeitos benficos da cava-cava no tratamento da ansiedade e da insnia, no devendo ser usada indiscriminadamente, podendo ocorrer vrios efeitos colaterais. para tratar sua ansiedade, informam as notcias, que uns 50 milhes de americanos recorrem medicao. Infelizmente, a maioria dos remdios para o nervosismo e os problemas do sono provoca efeitos colaterais, como sonolncia diurna e possvel dependncia. A cava-cava talvez oferea uma opo til e natural, embora no deva ser considerada um elixir mgico para a eliminao do estresse da vida. Um pesquisador atual conclui que a cava-cava um valioso remdio feito com ervas que pode constituir-se em uma alternativa aos remdios farmacuticos para a ansiedade e a insnia. Mas deveria ser usada como parte de um programa que inclua tambm a preocupao pelas causas que levam necessidade de us-la. 25

CAVALINHA

Entre as plantas nativas da nossa regio existe uma pouco conhecida como medicinal, mas que foi muito usada como tal aqui e em todo mundo. Trata-se da cavalinha, com o nome cientfico Equisetum giganteum, da famlia Equisetaceae. uma planta primitiva, pertencente ao grupo das samambaias. Aqui e em outras regies existem vrias outras espcies, todas muito parecidas. So umas hastes finas, verdes, muito speras, que s no alto apresentam finas ramificaes. Indicaes que vm da Argentina nos dizem que uma das plantas mais conhecidas e usadas em medicina popular. Usa-se especialmente como diurtico e d resultados muito bons nas afeces do fgado, dos rins e do bao. Tambm se emprega para combater resfriados e certas afeces pulmonares. Usada tambm para lavar feridas e chagas. considerada uma incrvel planta medicinal. Combate a dor de cabea graas a seu cido acetilsaliclico. Pode ser usada em hemorragias internas e externas. Junto com o alecrim forma uma dupla imbatvel para equilibrar a presso e um dos mais espetaculares chs para as mulheres de mais de quarenta anos, pois repe no organismo os minerais perdidos juntamente com os hormnios, combatendo eficazmente a osteoporose. Um texto popular resume bem as propriedades da cavalinha. Chamada tambm cauda-de-cavalo, rabo-de-cavalo. Cresce de preferncia nos terrenos midos, beira dos riachos. Contm slica em grande quantidade. remineralizante do organismo depauperado, de modo especial para os tuberculosos e gente que sofre dos pulmes. Possui virtudes, propriedades hemostticas, diurticas, digestivas, depurativas. Tem ainda indicaes contra a tuberculose, doena dos ossos, lceras gstrica e intestinal, perdas de sangue; ajuda no tratamento das molstias da bexiga e dos rins, incontinncia noturna da urina das crianas e pessoas de idade. Prepara-se um ch com 20 a 50g por litro e tomam-se 3 a 4 xcaras por dia. Em doses exageradas pode ser txica. Como uso no medicinal podem-se lembrar duas curiosidades. Por ser muito spera, por causa da muita slica, a cavalinha foi usada em outros tempos para pulir madeira e metais, principalmente estanho. A cavalinha concentra tambm ouro em seus tecidos, no em quantidades explorveis, mas o suficiente para servir de indicadora da presena do nobre metal no solo.

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CEBOLA

Como diz um autor, "posso me poupar o ter que descrever o aspecto da cebola". De fato, de to comum em nossas cozinhas e nossas mesas, dispensa apresentaes. Seu nome cientfico Allium cepa, da famlia Liliaceae. Uma lenda muulmana diz que, quando satans abandonou o jardim do den, depois da queda, o alho surgiu da sua pegada esquerda e a cebola, da direita. Ilustra a vantagem do consumo de cebola o fato seguinte: as melhores cebolas do mundo so as da Calbria. Nesta regio, por causa do consumo intenso de cebola em todas as faixas etrias, a incidncia de hipertenso arterial e enfarte do miocrdio pequena e surpreendente o elevado nvel regional de longevidade humana. Infelizmente poucos dos consumidores costumeiros de cebola, que somos quase todos ns, sabem dos valores medicinais que elas tm para a sade. uma pena, diz um autor, que as cebolas frescas tenham to escassa utilizao medicinal, j que atuam estimulando as secrees, favorecendo a digesto, abrindo o apetite, como diurtico, cicatrizante e como excelente profiltico contra a gripe e o catarro, a amigdalite e a tosse. Estas indicaes, to abandonadas pela medicina acadmica, so aproveitadas pelo popular em forma de remdios caseiros. Assim, ela usada como antibitica, diurtica, expectorante, hipotensora, estomquica, antiespasmdica, hipoglicmica, til no tratamento da tosse, resfriados, bronquite, laringite e gastroenterite. Reduz a presso sangnea e o nvel de acar no sangue. Consideradas todas estas virtudes da cebola, lgica a concluso que tira um autor alemo atual (1996) quando diz: "Quem se mostrava at agora receoso quanto ao uso da cebola nos alimentos, provvel que mantenha agora uma opinio mais favorvel. No h nenhum condimento que seja mais sadio que a cebola (se prescindimos do alho). Crua, frita ou cozida, em rodelas, picada, em molho, com assados, com manteiga e nas saladas. Combina com tudo. No somente serve para temperar, mas, com um uso adequado na cozinha, ajuda a viver com mais sade. O nico vilo nesta histria o tiopropionaldedo, que a substncia responsvel pelas lgrimas que a cebola produz ao ser cortada.

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CELIDNIA

Esta uma planta medicinal muito importante, mas tambm muito discutida. Vejamos, por isso, o que dizem os livros de uso popular e os de cunho cientfico. O nome cientfico da celidnia Chelidonium majus, da famlia Papaveraceae. uma erva comum no mundo todo, onde recebe os mais diversos nomes, ligados s suas propriedades e s lendas a seu respeito. Entre os nomes populares so caractersticos os de iodina ou iodo vegetal, por causa do suco amarelo-alaranjado das folhas e razes. Suas propriedades medicinais so indicadas num livro bem popular da seguinte maneira: Calmante do fgado, cimbra do estmago, crises asmticas; o suco das folhas e raizes serve para fazer desaparecer verrugas, calos, espinhas do rosto. Recomendada contra a presso alta e curar o cncer. recomendada tambm para ativar as funes hepticas e biliares e eliminar clculos biliares; como normalizador e regulador da taxa de colesterol. Livro europeu recente (1995), traz a seguinte indicao: Uso interno: inflamao da vescula e conduto biliar, ictercia, hepatite, gota, artrite e reumatismo; febres renitentes, tosse espasmdica e bronquite; erupes cutneas, lceras e cncer (em especial da pele e estmago). Uso externo: inflamaes oculares e cataratas, machucaduras, verrugas, psorase e tumores malignos. Observa ainda que em excesso pode provocar sonolncia, irritao cutnea, tosse irritante e dificuldades respiratrias. de estranhar que muitos livros considerem a celidnia como uma planta perigosa, txica. Um livro francs at aconselha usar luvas para manuse-la. Vem a calhar aqui as palavras da autora do livro sobre plantas medicinais mais vendido na Europa, Maria Treben, quando fala da celidnia: Antigamente gozava a celidnia de grande prestgio, enquanto hoje muitos a tomam por planta venenosa. Este desprezo s me posso explicar considerando o efeito que teve a campanha de propaganda que lanou a indstria farmacutica em seus comeos contra as melhores plantas, para desviar o povo das ervas curativas e introduzir os medicamentos qumicos. Esta autora, alm de confirmar que a celidnia o remdio mais eficaz para curar os graves transtornos do fgado, diz que com ela se cura leucemia, cataratas, cncer da pele, alm de outras doenas menores. preciso reabilitar a celidnia. 28

CENTELA-ASITICA

Esta planta era mais ou menos desconhecida at h pouco tempo, e nem consta nos livros populares de plantas medicinais. Quando suas propriedades foram constatadas cientificamente na dcada de 40, e seu uso foi aprovado no tratamento da celulite, tornou-se das mais conhecidas. Foi usada h milnios nos pases orientais, principalmente para leses cutneas. Seu nome cientfico quase idntico ao popular, Centella asiatica, da famlia Umbelliferae. uma erva daninha, rasteira, que aparece em tudo que lugar, no meio da grama, nos jardins, terrenos baldios, beiradas de prdios, calamentos, etc. As folhas so arredondadas, parecidas com as da violeta-de-jardim, ou lembrando uma pata de cavalo, que um dos seus nomes populares, que alis so muitos. Sobre suas propriedades medicinais diz um livro europeu de 1995: Erva rejuvenecedora diurtica que purifica toxinas, reduz inflamaes e febres, melhora a cura e imunidade e tem efeito equilibrador sobre o sistema nervoso. Usada internamente para feridas, condies cutneas crnicas (incluindo lepra), enfermidades venreas, malria, varizes, lceras, problemas nervosos e senilidade. Externamente usada para hemorridas, feridas e articulaes reumticas. A maior procura e uso da centela-asitica para o tratamento da celulite. E ela no apenas mais uma planta da moda ou uma onda popular passageira. Num livro recente (1994) de dois mdicos ingleses se encontram informaes seguras sobre sua eficincia. Dizem eles: Existem muitas frmulas cosmticas e preparaes base de ervas no mercado que afirmam ser efetivas na cura da celulite. Contudo, a maioria dessas frmulas no tem base cientfica que apoie seu uso. Entretanto, vrios compostos vegetais tem efeitos confirmados no tratamento da celulite. Vrios estudos experimentais demonstram que a centela-asitica exerce uma ao normalizadora sobre o tecido conjuntivo. Um extrato de centela-asitica contendo suas substncias ativas demonstrou resultados clnicos impressionantes quando administrado por via oral no tratamento da celulite. Quando tratam do problema das veias varicosas ou varizes, afirmam novamente: Quando administrado oralmente, um extrato purificado de centela-asitica demonstrou resultados clnicos impressionantes no tratamento da insuficincia venosa dos membros inferiores e das veias varicosas. Seu efeito na insuficincia venosa e nas varizes parece estar relacionado com sua capacidade de ampliar a estrutura do tecido conjuntivo, reduzir a esclerose e melhorar o fluxo sangneo atravs dos membros afetados. 29

CH-DE-BUGRE

No incio da primavera em muitos locais o ar fica todo perfumado com a florao de uma rvore baixa de copa larga, que um ch muito apreciado. Tem muitos nomes populares como ch-de-bugre, erva-de-bugre, guaatonga, carvalhinho, pau-de-lagarto, erva-dapontada, cafezeiro-do-mato, e outros. Felizmente, como todas as plantas, tem um s nome cientfico, que Casearia sylvestris. Pertence a uma famlia de nome complicado: Flacourtiaceae. Esta rvore se conhece facilmente pela distribuio das folhas e flores. As folhas, pequenas e simples, esto colocadas alternadamente de cada lado dos raminhos finos, formando duas filas horizontais. Na insero de cada folha no raminho agrupam-se conjuntos de dezenas de pequenas flores. O ch-de-bugre tem muitas utilidades. ornamental, podendo ser plantado em pequenos espaos. Suas flores so melferas. Bem variado seu uso medicinal. Arnildo Pott, em Plantas do Pantanal, diz: Calmante (peo quer distncia deste ch) e depurativo (diz-se que o lagarto vence a cobra se comer a folha). considerado antidiarrico, depurativo e antireumtico, diurtico e para doenas da pele. Por conter princpios antiinflamatrios e analgsicos recomendado para picada de cobras e insetos. Uma propriedade importante do ch-de-bugre o de curar o herpes, esta infeco viral to comum e que incomoda nas suas variadas manifestaes. Para fazer o tratamento, basta fazer um ch das folhas do ch-de-bugre e tomar este ch em dose normal, digamos uma xcara 3 vezes ao dia. Alm disto, umedecer com algodo embebido com o ch as partes afetadas e doloridas. Bom fazer este tratamento assim que se manifestam os primeiros sintomas de que vai surgir uma reincidncia da infeco.

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CHAPU-DE-COURO

Quem for procurar informaes sobre o chapu-de-couro na literatura estrangeira vai encontrar muito pouco ou quase nada. Mesmo em nossas bibliografias estas informaes so bastante limitadas. Ele uma planta nativa da Amrica tropical e subtropical. encontrada, com frequncia, no Rio Grande do Sul, sempre em solos midos, nas beiras de rios, arroios, lagos e em banhados. uma planta at bem ornamental. Tem folhas grandes de pecolo longo e formato ovalado ou cordiforme, com nervuras bem destacadas e cor verde forte e brilhante. As folhas formam um tufo que brota do cho. Da tambm brotam as inflorescncias, bem maiores que as folhas, ramificadas, com flores brancas. Seu nome cientfico Echinodorus grandiflorus (ou E. macrophyllus) da famlia Alismataceae. No confundir com outra planta parecida, que vive nos mesmos ambientes, que tem folhas grandes em forma de flecha, chamada sagitria. Como planta medicinal o chapu-de-couro de uso vastamente popular. Usam-se normalmente as folhas, mas o rizoma tambm empregado. Um livrinho popular diz: "Contra molstias da pele, reumatismo, artritismo, sfilis, afeces dos rins e bexiga; depurativo do sangue. Ajuda a baixar a presso alta. Evita a arteriosclerose. O rizoma triturado usa-se aplicado sobre hrnia." Publicao do incio do sculo j dizia quase a mesma coisa em outras palavras: "As folhas so adstringentes, usadas em gargarejos ou banhos respectivamente contra as inflamaes da garganta e as lceras de mau carter; o rizoma foi reputado til contra a hidrofobia. Recentemente vulgarizou-se o consumo das folhas em infuso, guisa de ch, a qual tem sabor agradvel sendo ligeiramente laxativa, atribuindo-se-lhe diversas propriedades medicinais (anti-artrtica, antireumtica e anti-sifiltica), til ainda contra certas molstias da pele e do fgado, assim como a dizem depuradora do sangue e eliminadora do cido rico. Os ervanrios tiram grande vantagem deste comrcio, tanto se difundiu entre o povo a mais inabalvel crena nas mltiplas virtudes medicinais que acabamos de enumerar."

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CIP-MIL-HOMENS

H vrios cips medicinais chamados cip-mil-homens. Recebem tambm os nomes de cassa, angelic, papo-de-peru e outros. Tratamos aqui do que tem o nome cientfico Aristolochia triangularis, da famlia Aristolochiaceae. O nome cientfico, Aristolochia, vem do grego e significa que um remdio para um bom parto, o que nos lembra que j era usado por gregos e romanos. O nome popular explicado assim por um historiador riograndense: Esta trepadeira ou cip da famlia das Aristolochiaceae e veio-lhe to rara denominao de uma ocorrncia que tivera um curandeiro brasileiro. Expondo a energia que tem esta planta como contra-veneno da mordedura de jararaca, disse que tinha curado, por meio dela, mais de mil homens. Se reconhece o cip-mil-homens pelas folhas triangulares, alongadas, pela flor pequena em forma de jarrinha, e principalmente pelo cip, que pode engrossar at vrios centmetros e coberto de uma casca de cortia toda fendilhada. O cip cortado ou descascado desprende um cheiro forte e caracterstico. Seus usos populares so assim resumidos nas bibliografias: um remdio nas febres em geral. Tnico, estimulante, estomacal, melhora o apetite, estimula os rins, o bao e o fgado, combate clicas intestinais, constipao do ventre, diarria, apendicite, ajuda a provocar regras, no aconselhado durante a gravidez, abortivo; afugenta cobras e cura suas picadas, antdoto; usado nos estados nervosos como histeria, convulses epilpticas, dor citica, dor no corao, nas cadeiras, nevralgias, reumatismo, depurativo; o p serve para curar feridas. No interior toma-se muito como aperitivo cachaa com cip-mil-homens. Tambm no interior encontra-se ainda s vezes a crendice, totalmente descabida, de que as cobras mamam o leite das vacas. Os que crem nesta lenda conhecem tambm o remdio para afugentar as cobras: enrolar um pedao de cip-mil-homens no pescoo da vaca. Semelhantemente diz tambm a nossa tradio que para conseguirem os ndios a preservao da mordedura ofdica, trazem junto ao corpo um pedao deste cip.

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CONFREI

Talvez nenhuma planta medicinal tenha sido objeto de tanta controvrsia nos ltimos tempos como o confrei. Encontram-se os maiores defensores, como tambm os que condenam totalmente. Sem meter-nos nesta briga, vejamos o que h de certo sobre ele. A primeira coisa certa que foi usado desde tempos muito antigos. Seu nome cientfico, que Symphytum officinale, da famlia Boraginaceae. de origem grega, e sabido que gregos e romanos o usavam, principalmente para consertar feridas e ossos quebrados, coisa muito comum em suas guerras. esta, alis, a sua propriedade mais importante e certa, confirmada por todos os livros, e que devida a uma substncia chamada alantoina, abundante principalmente na raiz e que acelera a cicatrizao e a soldadura dos ossos. O seu efeito cicatrizante to eficiente, que, entre as precaues, um livro recente (1993) diz textualmente: No debe utilizarse en heridas sucias, ya que la rpida cicatrizacin puede atrapar suciedad o pus. Outra precauo refere-se ao uso interno: Se deve evitar o consumo interno excessivo da planta devido aos alcalides pirrolicilnicos, que algumas investigaes vinculam ao cncer de fgado em ratos. Apesar destas precaues, a maioria dos livros, principalmente os mais recentes e estrangeiros, esto cheios de indicaes para o uso interno e externo. Algumas delas: A raiz se emprega internamente no tratamento de lceras gstricas e duodenais e da diarria. As folhas se empregam em casos de pleurisia e bronquite. As folhas secas podem substituir o ch. As folhas frescas se empregam como verdura. Outra citao recente (1992): Para uso interno, a presena da mucilagem aliviadora, faz do confrei um valioso remdio para as lceras ppticas, a gastrite e a colite ulcerosa. O confrei tambm um calmante expectorante til para a bronquite e as tosses irritantes. Tambm um remdio calmante para o sistema urinrio. Esta planta era to popular em tempos passados que h at umas receitas um tanto pitorescas, como esta do sculo 14: ... se bebe para el dolor de espalda debido a los movimientos como la lucha o el uso excessivo de mujeres....

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CRAVO-DE-DEFUNTO

Pelo seu nome esta planta no parece ter nada de medicinal. Mas sempre teve e no futuro poder ter muito mais. H duas plantas bem conhecidas com este nome; uma ornamental e a outra daninha e ambas so medicinais. A planta daninha tem o nome cientfico Tagetes minuta, da famlia Asteraceae (Compositae). tambm conhecida como chinchilho. daninha, mas tambm medicinal. Um livro atual diz que na medicina popular a planta reputada como linimento contra o reumatismo articular. Para um autor mais antigo ainda aromtica excitante, difusiva, diurtica e antihelmntica. Comprovadamente til contra o reumatismo articular, as clicas intestinais e a dispepsia. Da mesma famlia, com o nome cientfico Tagetes patula, o cravo-de-defunto ornamental e medicinal. A sua resistncia s intempries e ao sol, a abundncia e durabilidade de suas flores, assim como a sua prpria cor, levaram o povo a preferi-lo para confeccionar grinaldas e coroas fnebres, bem como para plant-lo sobre as sepulturas (de onde se origina seu nome). A medicina popular diz que peitoral e calmante, empregado contra as dores reumticas, os resfriados, a bronquite e a tosse. Segundo autor atual erva aromtica, diurtica, calmante e digestiva. Era isto que se conhecia sobre o cravo-de-defunto, especificamente o Tagetes patula. Recentemente, porm, apareceu nos meios de comunicao uma novidade, uma nova propriedade deste ch. Numa revista esta novidade aparece sob o ttulo: O cravo e a dengue. Em poucas frases o artigo relata o extraordinrio efeito deste ch sobre os sintomas desta doena: durante uma epidemia de dengue numa comunidade rural, o mdico colheu uma boa quantidade de folhas de cravo e as levou at o hospital. Foi solicitado que a cozinheira preparasse litros daquele ch (10 folhas para um litro de gua). Todos os casos em que havia dor muscular ou articular generalizada com febre, independentemente do diagnstico, foram tratados pela enfermagem, perplexa, com goles do ch ainda morno. A perplexidade geral aumentou aps as duas primeiras horas de atendimento. J no havia mais as queixas de dores de cabea, febre ou dores por todo o corpo. Em outra oportunidade, em menos de um ms, todos os casos de dengue de uma comunidade de 900 famlias de um bairro foram tratados. 34

DENTE-DE-LEO

Poucos imaginariam que uma planta to comum como o dentede-leo tivesse tantas propriedades e fosse to til. No entanto, exatamente isto que acontece. No livro "Enciclopdia da Medicina Natural", publicado na Inglaterra em 1990 e j disponvel no Brasil em traduo, os autores dizem textualmente: "Enquanto muitos indivduos consideram que o dente-de-leo comum uma erva daninha indesejada, os herboristas em todo o mundo reverenciaram essa erva valiosa durante muitos sculos". Neste livro o dente-de-leo a primeira planta que os autores recomendam para o tratamento de problemas do fgado. Segundo eles "o dente-de-leo considerado como um dos melhores remdios hepticos, tanto como alimento quanto como remdio". Isto , as folhas do dente-de-leo do uma excelente salada e as folhas e as razes se usam como ch, tudo com efeitos benficos sobre o fgado. Claro que tem tambm outras propriedades, como diz o livrinho do Irmo Cirilo, Plantas Medicinais: "...depurativo, bom para fgado e pele, melhora o sangue fraco, falta de apetite, priso de ventre, seu suco tomado em gua um vantajoso fortificante dos nervos." E no param a as suas vantagens. Num livro espanhol sobre plantas comestveis se diz: "As razes desta planta, torradas e modas, se utilizam para fazer caf de dente-de-leo, do qual se diz que no pode distinguir-se do caf verdadeiro, possui tambm propriedades tnicas e estimulantes mas carece de cafena, a substncia que possivelmente seja prejudicial". . Afinal que planta extraordinria esta e onde encontr-la? Seu nome cientfico Taraxacum officinale, da famlia Compositae. Na realidade ela conhecida mais como "erva daninha indesejada", encontrada muito em hortas, jardins, terrenos baldios, beira de estradas e lavouras. muito infestante: das flores amarelas se forma uma bola branca de sementes, que o vento espalha. Alm disso tem uma raiz reta e profunda, que, cortada superficialmente, brota de novo. As folhas formam uma roseta ao nvel do solo e so profundamente recortadas, donde o nome dente-de-leo. Originrio da Eursia se espalhou pelo mundo todo. Na Europa to comum que recebeu uns 500 nomes populares diferentes. Por tudo isto se reconhece que o simples e comum dente-de-leo no deve ser considerado uma planta invasora indesejada, mas um bom pasto para os animais e para os homens uma comida saudvel e um remdio eficiente. 35

ERVA-CANCOROSA

A primeira coisa a observar sobre esta planta medicinal que no se deve confundir com outra parecida que a espinheirasanta. A ervacancrosa tambm chamada cancerosa, cancorosa ou cancorosade-trs-pontas. Este ltimo nome muito esclarecedor, porque de fato suas folhas se caracterizam por seu formato romboidal com um espinho na ponta e um de cada lado. Seu nome cientfico Jodina rhombifolia, da famlia Santalaceae. A erva-cancrosa uma rvore muito elegante, de porte mdio, com suas folhas espinhentas e brilhantes. rara em nossas matas, e rarssima como cultivada. Sobressai pelo valor medicinal. J em 1910, em sua tese de doutorado, o gacho Dr. Manuel Cypriano DAvila dizia da erva-cancrosa: Usa-se o p torrificado das folhas sobre lceras de mau carter, carcinomas, etc. Tambm se costuma empregar a decoco de suas folhas, externamente, na cura de plipos nasais e molstias cancerides. Segundo indicaes recentes, as folhas so usadas internamente no tratamento de problemas estomacais e contra resfriados. O cozimento das cascas usado como adstringente em disenterias. Um livro argentino, onde a erva-cancrosa chamada sombrade-toro, d as seguintes indicaes: a casca e as folhas desta planta se empregam para combater as inflamaes das vias respiratrias, digestiva e tambm se usa em caso de disenteria. O fruto, que comestvel, proporciona um azeite muito til para curar as chagas venreas. Receitas populares muito interessantes constam em outro livro argentino: La infusin de las hojas, preparadas a razn de dos cucharadas soperas de stas en medio litro de agua, es recomendada contra la tos. Para curar el alcoholismo, dicen que hay que beber el decoctado de las hojas durante treinta dias seguidos. Una receta de una curandera contra el asma dice que basta com hervir un puado de hojas de sombra de toro, junto con otro tanto de semillas de girasol en medio litro de agua y tomar el decoctado diariamente, para eliminar dicha afeccin.

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ERVA-CIDREIRA

A erva-cidreira recebe ainda o nome de melissa, que tambm seu nome cientfico, Melissa officinalis, da famlia Labiatae (hoje Lamiaceae). uma das plantas medicinais mais universalmente conhecidas, cultivadas e usadas, e isto desde os tempos mais remotos. uma erva de menos de 1 m de altura, muito ramificada, formando aglomeraes densas. Identifica-se facilmente por seu aroma adocicado intenso. Reproduz-se por sementes ou dividindo touceiras maduras. A melissa tem uma relao estreita com as abelhas. Na mitologia, a melissa a ninfa que descobriu a maneira de colher o mel. No primeiro sculo da nossa era, o romano Plnio dizia que as abelhas se deliciavam mais com a erva-cidreira que com qualquer outra planta, e era costume esfregar com ela a caixa onde um novo enxame de abelhas ia ser colocado. Suas propriedades medicinais e usos so to variados e benficos, que ela devia ser mais conhecida, estimada e usada. Em qualquer livro de plantas medicinais, encontram-se os maiores louvores a esta planta. J em 1679 um ingls escrevia: A erva-cidreira extraordinria para o crebro, fortalecendo a memria, e dissipando energicamente a melancolia. Outro ingls dizia que ... a erva conforta o corao e afasta toda a tristeza... e ela era um dos ingredientes favoritos nos elixires da juventude medieval. As folhas da erva-cidreira so boas para a depresso e a tenso, ideais para quem sofre de alteraes digestivas quando se sente preocupado e ansioso. Pesquisas modernas confirmam que age como sedativo sobre o sistema nervoso central, e os aromaterapeutas recomendam seu leo essencial para depresso, ansiedade, dor de cabea nervosa e insnia. Da Argentina, onde chamada toronjil, nos vem esta receita: A infuso das folhas se recomenda contra ataques e dores do corao (sozinha ou misturada com orelha-de-gato Hypericum connatum) e para diminuir a alta presso arterial. Um livro bem nosso resume em poucas palavras as propriedades e usos principais da erva-cidreira: Uso popular: internamente em problemas de nervos, insnia, dores de cabea, dor de dente, reumatismo, distrbios gastrointestinais etc. considerada uma panacia.

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ERVA-DE-SANTA-MARIA

Para no haver confuso quando se fala em Erva-de-SantaMaria, necessrio esclarecer antes de mais nada que existem duas plantas com este nome e que receberam pelo menos mais uns vinte outros nomes populares, inclusive o de mastruo, que para ns bem outra planta. As duas plantas tm o nome cientfico de Chenopodium ambrosioides, da famlia Chenopodiaceae. A nossa Erva-de-Santa-Maria considerada botanicamente uma variedade, e por isso recebe o nome de Chenopodium ambrosioides var. anthelminticum. Esta ltima palavra significa que contra vermes, que sua principal propriedade. Esta planta deve ser usada com muita cautela. Um livro europeu atual diz que ela tem um odor muito desagradvel e constitui um vermfugo poderoso. Usa-se internamente para scaris, ancilstomos e tnias pequenas; na disenteria amebiana, asma e catarro. Adverte, porm, que, em excesso, provoca tonturas, vmitos, convulses e morte. A mesma precauo aparece tambm num livro argentino, quando fala do paico, como l chamam a erva: Con las hojas y frutos se preparan infusiones teiformes o en cocimiento que poseen propiedades antihelmnticas, digestivas, estimulantes, sudorficas, etctera. Esta planta debe utilizarse con suma prudencia, pues es muy peligrosa, especialmente para los nios. Se preciso muito cuidado com o uso interno desta planta, o mesmo no acontece com o uso externo. Pode-se us-la para afugentar todo o tipo de parasitas. H indstrias que fabricam uma srie de produtos para higiene de animais domsticos, usando como matria prima a Erva-de-Santa-Maria. A Erva-de-Santa-Maria chamada simplesmente de Chenopodium ambrosioides, foi, segundo relata a histria, levada pelos padres jesutas, no sculo XVII, do Mxico para a Europa, para cultiv-la como sucedneo do ch, sendo por alguns preferida ao verdadeiro ch. uma erva muito aromtica, com perfume a cnfora, usada inclusive em culinria, para aromatizar milho, vagens e pescado. Quem conhece a nossa Erva-de-Santa-Maria percebe logo que se trata de uma outra planta.

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ERVA-DE-SO-JOO

A Erva-de-So-Joo est se tornando uma planta medicinal cada vez mais solicitada em nosso tempo, por ser usada como um remdio para um mal do nosso sculo que a depresso. Como se trata de assunto muito importante e de responsabilidade, vamos esclarec-lo com muito cuidado. Tanto em transmisses orais como escritas, h informaes sobre duas Ervas-de-So-Joo: uma da Europa, outra daqui. A da Europa tem o nome cientfico Hypericum perforatum, da famlia Hypericaceae. A nossa Erva-de-So-Joo tem o nome cientfico Ageratum conyzoides, da famlia Compositae. So, portanto, duas plantas diferentes, mas com uma propriedade comum: combater a depresso. A nossa Erva-de-So-Joo tambm chamada mentrasto. A Erva-de-So-Joo europia pode ser encontrada entre ns, mas somente como cultivada. chamada hiperico. A nossa Erva-de-SoJoo ou mentrasto no deve ser confundida com o Cip-de-So-Joo, que outra erva medicinal. Um livro tradicional sobre nossas plantas medicinais diz que esta planta de largo uso emprico, dadas as suas valiosas propriedades medicinais, que dela fazem um remdio que goza da melhor reputao entre a gente humilde que habita o interior do nosso pas. tnico geral, amargo. Indica-se ainda no tratamento das diarrias, disenterias, clicas produzidas pelo acmulo de gases nos intestinos; reumatismo agudo etc. Bibliografia bem recente indica a Erva-de-So-Joo para artrose, reumatismo, contuses, ferimentos abertos, diarrias e disenterias, clicas uterinas, afeces das vias urinrias, gases e estimulante do apetite. Acrescenta ainda que seu efeito teraputico cientificamente comprovado em pesquisas por professores e pesquisadores, que confirmam sua ao analgsica e antiinflamatria. Seu uso para combater a depresso parece ser mais recente e, como se trata de uma planta nativa nossa, faltam informaes em publicaes acessveis. Entretanto, este seu uso est sendo confirmado pela informao e tradio popular. 39

ERVA-LANCETA

A ervalanceta uma planta medicinal muito comum em nossa regio. Aparece principalmente em capoeiras, lavouras abandonadas e beiras de estrada. Se reconhece facilmente pelo lindo pendo de flores amarelas no alto de uma haste de um metro a metro e meio. Floresce pelo fim do vero e outono. No costuma ser cultivada, mas usada em arranjos, pois existe em abundncia espontaneamente. Seu nome cientfico Solidago chilensis (antes Solidago microglossa) da famlia Compositae. H uma srie de confuses em relao erva-lanceta, a comear pelo nome. chamada tambm arnica, arnica-do-mato, federal, flecha, vara-de-foguete, vara-de-ouro, quitoco e outros nomes. Esta erva usada principalmente em contuses, traumatismos e reumatismos. Existem, porm, outras plantas que so usadas com a mesma finalidade. Assim, na Europa e outros lugares, uma destas plantas a arnica verdadeira (Arnica montana). Por isso aqui a erva-lanceta chamada arnica. E como na Europa existe a Solidago virgaurea, aqui ela tambm chamada vara-deouro. Alm disso, uma planta da nossa regio, que usada para a mesma finalidade da erva-lanceta, o quitoco (Pluchea sagittalis); da o nome de quitoco. Os usos da erva-lanceta vem indicados em livros populares. Um deles diz: Bom vulnerrio (tratar feridas), frieiras, curar pontadas. Usa-se muito contra machucaduras, quedas, contuses. A raiz acalma dores e mesmo dor de dente. Estas indicaes so confirmadas por estas de um outro livro: Emprega-se esta planta para curar ou aliviar azia, acidez, na digesto, diarrias. No uso interno e externo atua poderosamente combatendo traumatismos, pancadas, tores, estiramentos musculares, contuses, quedas, hematomas, dores traumticas etc.

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ERVA-LUISA

Esta planta medicinal tambm conhecida pelos nomes de ervacidreira ou cidreira. Preferimos o nome erva-luisa, para no confundir com outras plantas que tambm so chamadas de cidreira, e porque combina com o nome cientfico que Aloysia triphylla, da famlia Verbenaceae. Embora seja planta originria da Amrica do Sul, no muito conhecida entre ns. Se reconhece como um arbusto de ramificao alargada; os galhos so esbranquiados; as folhas nascem sempre em grupos de trs, so alongadas, estreitas, speras e muito aromticas. Nas pontas das ramificaes nascem cachos de flores pequenas, esbranquiadas. A planta se reproduz facilmente por estacas. Descoberta no Chile, foi levada para a Europa e a cultivada. Era usada para aromatizar a gua, em que se lavavam as mos nos banquetes e tambm para passar no corpo depois do banho. Como planta medicinal muito til em nosso tempo, porque indicada para dois tipos de problemas muito comuns hoje, digestivos e nervosos. Assim diz um livro argentino: Los tallitos y las hojas se emplean en infusiones para calmar los malestares estomacales y enfermedades nerviosas. Uma obra de 1784 d a seguinte informao: As folhas e flores despedem um aroma muito agradvel de limo; reforam o sistema nervoso; e so eficazes nas indigestes, palpitaes, flatulncias e vertigens provenientes da hipocondria e da histeria. As indicaes da erva-luisa num livro de nossos dias mostram como seu uso uniforme: Antiespasmdica, estomquica, aromtica, preparada em forma de ch benfica no tratamento das nuseas, indigesto, flatulncia, palpitaes e vertigens, Por causa do seu aroma agradvel, a erva-luisa tambm usada em travesseiros aromticos e outros preparados, junto com outras ervas que se distinguem por seu aroma. Seu leo essencial usado em perfumaria.

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ESPINHEIRA SANTA

fcil distinguir a espinheira-santa de outras rvores com as quais confundida muitas vezes. O que caracterstico nela so as folhas pequenas, duras, brilhantes, de um verde mais claro em baixo que em cima, com as margens onduladas e com espinhos em cada salincia, variando geralmente de 5 a 10 pares. Seu nome cientfico Maytenus ilicifolia, da famlia Celastraceae. Muitos lhe do o nome popular de cancorosa, inclusive os Argentinos que a chamam gongorosa ou gangorosa. Isto, claro, traz muita confuso, porque a erva-cancrosa ou cancerosa bem outra planta. A espinheira-santa um caso em que a experincia e a sabedoria populares foram comprovadas pela cincia, pois a primeira planta brasileira aprovada para uso medicinal em 1988, dentro do programa da CEME (Central de Medicamentos). Em experincias com ratos e testes clnicos com seres humanos a espinheira-santa mostrou-se eficiente na cura de lcera e no tratamento de problemas digestivos de forma geral, alm de se mostrar completamente atxica. Outros usos: internamente, como antiasmtica, anticonceptiva, em tumores estomacais e contra ressaca alcolica. Externamente, como antissptica em feridas e lceras. Outra indicao resume suas principais propriedades: pode-se empregar esta planta para curar ou aliviar lceras no trato digestivo, gastrite, gastralgias, azia, m digesto, flatulncia, fermentao e inflamaes intestinais, hepatite, insuficincia heptica, anemia, fraqueza, doenas dos rins e bexiga, feridas, tumores, acne, eczemas etc. Precisa mais? Ento s mais uma receita, bem prtica e oportuna. Contra lcera interna: misturar 30g de folhas em p em 1 1/2 xcara (ch) de gua fervente; cobrir e deixar esfriar; coar; tomar diariamente. Encontra-se nos estados do sul do Brasil, mas no se deixe enganar por amadores, que lhe queiram vender qualquer folha espinhenta como espinheira-santa.

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FUNCHO

O funcho sem dvida uma planta muito conhecida. Nem tanto parecem ser suas muitas propriedades e utilidades. conhecido cientificamente como Foeniculum vulgare, da famlia Umbelliferae. Com seu porte de mais de um metro, sua cor verde-clara, suas folhas finamente recortadas, encimadas pelas umbelas de mltiplas flores amarelas, um verdadeiro ornamento na horta ou no jardim. Suas sementes so muito usadas como tempero em vrios alimentos. usado tambm como alimento o chamado funcho-doce, com a base engrossada e comestvel. J Dioscrides, no tempo dos romanos, se referia a ele quando dizia que h o funcho selvagem e o cultivado. "Entre o funcho cultivado, diz textualmente, h um doce em extremo, que comemos ordinariamente ao fim das refeies em Roma; o qual nasce da semente do rstico metida dentro de um figo seco e assim semeada." Deste tempo vem tambm a crena que as serpentes chupam o suco da planta para melhorar sua vista, depois de trocar a pele. A crena nesta propriedade acompanhou o funcho at a Amrica do Sul, onde, no Pampa Argentino