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janeiro/fevereiro de 2010 edição 52 ano 7 © Paha_l | Dreamstime.com 4 6 7 8 Consumismo: estamos no caminho certo? COMO ORIENTAR NOSSAS CRIANçAS PARA QUE DESENVOLVAM O CONSUMO CONSCIENTE Sustentabilidade no currículo: você tem? Palhaços e celebridades O trânsito está nos matando. Mesmo

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Consumismo: estamos no caminho certo?Como orientar nossas Crianças para que desenvolvam o Consumo ConsCiente

Sustentabilidade no currículo: você tem?

Palhaços e celebridades

O trânsito está nos matando. Mesmo

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cidadania janeiro/fevereiro de 20102 edição 52 ano 7 cidadania 3

Jacques Marcovitchpresidente

Carlo Lovatellidiretor-executivo

Adalgiso Maia Telles e SouzaAdib JateneAntónio Carlos RodriguesCarlos Henrique de Brito CruzCarlos Afonso NobreCelso LaferEduardo Moacyr KriegerJesus Hortal SanchezJoão de ScantimburgoJosé Julio Cardoso de LucenaJosé Roberto Mendonça de BarrosMaria BonomiMário Alves Barbosa NetoMilton NotrispeMilú VillelaRoberto RodriguesSérgio Roberto Waldrich

Renato Wentersecretário executivo

Cláudia CalaisGerente de responsabilidade social

Anna BarcelosCoordenadora de Comunicação

Cecília CarvalhoCoordenadora de projetos

Juliana SantanaCoordenadora de projetos

Marilúcia BottalloCoordenadora do Centro de memória Bunge

Publicação da Fundação Bunge,entidade sem fins lucrativosmantida pelas empresas Bunge.

www.fundacaobunge.org.br

Av. Maria Coelho Aguiar, 215Bl. D . 5o andar . São Paulo . SP05804-900tel.: (11) 3741 1288fax: (11) 3741 1044e-mail: [email protected]

Carlo LovatelliCoordenação

Anna Barcelos e Claudete Pereirasupervisão

Alexandre BandeiraMTb 49.431projeto e edição

Andrea Vilela de Almeidadireção de arte e arte-final

Alexandre BandeiraJuliana Calderaritextos

EscalaCoordenação(11) 3037 [email protected]

Stilgrafimpressão

16.000 exemplarestiragem

reflorestamentoO termo aplica-se apenas à implantação de florestas em áreas naturalmente florestais que, por ação antrópica (do homem) ou natural, perderam suas características originais. Distinto de florestamento, que é a implantação de florestas em áreas que não eram florestadas naturalmente.

RESPEITO REFLORESTADO

Foi no início da década de 1950, na cidade de Aimorés, Minas Gerais, que tudo começou. Um fazendeiro por ali se estabeleceu e, como se fazia naquela época, derrubou árvores para construir casa e pasto para seu sustento. As nascentes secaram, os animais nativos se foram. Ficou apenas uma triste lembrança do que antes era a abundante Mata Atlântica.

Onze anos atrás, cansados de olhar para a paisagem devastada da fazenda Bul-cão, o fotógrafo Sebastião Salgado – herdeiro das terras – e sua mulher, Lélia Deluiz Wanick Salgado, criaram o Instituto Terra, uma organização civil sem fins lucrativos, cujo objetivo é a recuperação florestal da propriedade e da região do Vale do Rio Doce.

A fazenda se tornou uma Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN), e mais de 1,5 milhão de mudas foram plantadas desde então. No lugar da degradação, hoje há uma jovem floresta. Oito nascentes foram recuperadas e os animais re-tornaram. Nos seus 676 hectares existem 172 espécies de aves, 33 de mamíferos, 15 de anfíbios e outras 15 de répteis.

As ações romperam os limites da propriedade e semearam suas ideias na redon-deza, num esforço que alcançou vinte municípios. Educação ambiental passou a ser matéria em pauta nas escolas da região. Os alunos se tornaram monitores da floresta e a moda é trabalhar a agricultura sustentável. Junto com a Mata Atlân-tica, é reflorestado o respeito pela natureza local.

Conheça o Instituto Terra: www.institutoterra.org

É possível recuperar quase cinco décadas de desmatamento? Em Aimorés (MG), 1,5 milhão de mudas e educação ambiental nas escolas já são um bom começo

Cidadania é participação.Escreva para nós, opine, critique, sugira pautas ou divulgue seu projeto.

[email protected]. Maria Coelho Aguiar, 215 . Bloco D . 5o andar . Jd. São Luiz

São Paulo . SP . 05804-900 . tel.: (11) 3741 1288

Pesquisando no Google sobre meu livro omo-obá: Histórias de princesas (Mazza Edições) , deparei-me com uma divulgação no site de vocês e fui olhar. Estou agradecida e gostaria de parabenizá-los pelo site, que é belíssimo, com conteúdo muito interessante.

Profa. Dra. Kiusam de Oliveira, São Paulo (SP)

Cidadania on-line

O votenaweb é uma rede de relacio-namentos que ajuda eleitores a conhe-cer e a acompanhar os projetos de lei que são feitos no Brasil. Criando um perfil, o usuário pode votar contra ou a favor de cada proposta e ver que fim elas levam. Além de checar o que fazem os candidatos que levaram seu voto, também é uma chance de mostrar sua opinião. O Votenaweb ainda está em versão beta, mas a expectativa de seus criadores é de que, com o tempo, os usuários possam comparar sua maneira de votar com a forma com que cada um dos políticos vota e, assim, achar aqueles com quem têm mais afinidade. Participe: www.votenaweb.com.br

Casa para todos

Presente em mais de 90 países, a ONG Habitat para a Humanidade busca acabar com o problema das moradias inadequadas, tão frequentes no Brasil. Para atingir tal objetivo, a organização atua com parceria de recursos públicos e privados na construção e na reforma de habitações, na mobilização de crédi-to e regularização urbanística, entre ou-tros. A ONG também aborda a questão de forma menos óbvia, promovendo a capacitação profissional e a educação financeira dos moradores. Conheça: www.habitatbrasil.org.br

Canteiro de ideias

O canteiro de obras se torna um ate-liê quando operários da construção civil fazem do material descartado nas construções matéria-prima para obras de arte. Este é o conceito por trás da associação mestres da obra, que desenvolve atividades culturais para promover conhecimento e melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores do setor. As ações acontecem em ateliês- -escola criados dentro dos canteiros, onde também são exibidos filmes e peças de teatro que est imulam a reflexão e a discussão do cotidiano dos trabalhadores. Conheça:www.mestresdaobra.org.br

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cOP-15: umA hiSTóRiA DE impASSES

O mundo se reuniu pela primeira vez para discutir sobre a degradação da natu-reza em 1972. O encontro promovido pela ONU, em Estocolmo (Suécia), deveria estabelecer princípios “para guiar os povos do mundo na preservação e melhoria do meio ambiente”.

Mas estavam todos ocupados com a Guerra Fria. A questão foi retomada apenas em 1988, com a criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Seu primeiro relatório, de 1990, previu que, caso os níveis de emissão de gases do efeito estufa não fossem reduzidos, a temperatura global aumentaria drasticamente no século XXI, causando o aumento de eventos extremos como furacões e tempestades.

A partir de 1995, foi reconhecida a necessidade de estabelecer compromissos legais de redução das emissões, e um acordo internacional passou a ser discutido em reuniões anuais, as Conferências das Partes (COP). Dois anos depois, um tra-tado redigido na cidade de Kyoto, Japão, previa que 37 nações industrializadas reduziriam suas emissões em 5,2% em média, entre 2008 e 2012. Porém discor-dâncias levaram à saída dos americanos e travaram as negociações.

As COP continuaram lançando conceitos como “créditos de carbono” e “desen-volvimento sustentável”, e países como China e Brasil entraram para a lista dos grandes poluidores. Mas a verdade é que, na prática, pouco foi feito.

A expectativa ficou para a COP-15, realizada em Copenhague (Dinamarca) no final de 2009, quando um novo acordo pós-Kyoto seria redigido. Mas novamente a reunião terminou em impasse. Todos concordaram que algo deve ser feito, mas nenhum país quis (ou pôde, dependendo do argumento) se comprometer. O que, aliás, parece ser uma característica bem comum à nossa época.

A natureza, no entanto, não espera.

lições do passado para atuar no presente e contribuir para o futuro

Selos postais do primeiro encontro pela Terra promovido pela ONU, em Estocolmo, 1972

Fontes MistasGrupo de produto proveniente de florestas bem manejadas e fontes controladas

www.fsc.org Cert no. © 1996 Forest Stewardship Council

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cidadania janeiro/fevereiro de 20104 edição 52 ano 7 cidadania 5

OS DESAFIOS DO CONSUMO CONSCIENTE

SERãO ENFRENTADOS POR UMA GERAçãO

qUE DESDE A INFâNCIA APRENDEU

A COMPRAR EM EXCESSO

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“Nossa enorme economia produtiva demanda

que façamos do consumo nosso meio de vida,

que convertamos as compras e o uso dos produtos em rituais, que procuremos

nossa satisfação espiritual e de ego no consumo (...). Nós precisamos consumir

coisas e depois queimá-las, substituí-las e descartá-las

em um ritmo cada vez maior.”Victor Lebow, economista americano

oferta é que “elas precisam estar dentro de um padrão para se socializar”, diz Laís Fontenelle, psicóloga do Instituto Alana, que trabalha para conscientizar a sociedade sobre o consumismo infantil. “O problema é que o padrão oferecido é o do consumo”. Segundo Laís, “até os 12 anos a criança é vulnerável, não tem leitura crítica de elementos como jingles, animações, testemunhos de famosos”.

Não por acaso, a TV é um dos principais alvos de quem critica a publicidade volta-da para as crianças. De acordo com pes-quisa realizada em 2003 pela empresa de marketing TNS InterScience, os fato-res que mais influenciam as escolhas das crianças são: em primeiro lugar, os anún-cios de TV; em segundo, a associação de produtos ou serviços a personagens fa-mosos; e, em terceiro, as embalagens.

Como atualmente muitas crianças pas-sam mais tempo em frente à TV do que na companhia dos pais, a situação é pre-ocupante. O Painel Nacional de Televiso-res do Ibope 2007 indica que a criança brasileira, entre 4 e 11 anos, passa, em média, 4 horas, 50 minutos e 11 segun-dos por dia diante da telinha. São as que mais assistem à TV no mundo.

No doCumeNtário Criança, a Alma do Negócio (2009), da diretora Estela Renner, depoimentos mostram como pensam os ávidos consumidores mirins. Em um dos momentos, cinco crianças são questionadas se preferem brincar ou comprar. Apenas uma diz preferir uma brincadeira a ir às compras e é ela mes-ma que, surpresa, pergunta aos demais: “Ninguém gosta de brincar?”

Ricardo Oliani, do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, aponta outro pro-blema no consumismo infantil: “Tudo que vem fácil vai fácil: não passam dois dias, a criança já esqueceu aquele brinquedo,

que se amontoa em casa, vira lixo, termi-na indo pro lixo”.

Além do lixo acumulado nos aterros, o excesso também é visto nos corpos das crianças. Segundo dados da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de 2006, 30% da população infantil tem sobrepeso e 15% é obesa. No mesmo ano, a agência divulgou que 80% da pu-blicidade infantil de alimentos é de comi-das calóricas, com alto teor de açúcar e gordura e pobres em nutrientes.

SeguNdo o artigo 227 da Constitui-ção Brasileira, proteger as crianças é res-ponsabilidade da família, da sociedade e do Estado.

Laís Fontenelle assina embaixo, chaman-do a atenção para o papel dos educado-res e dos pais na prevenção ao consumis-mo infantil. “Os pais têm de conduzir as crianças com palavras e exemplos”, diz a psicóloga. “Não dá para oferecer duplo comando: dizer uma coisa e fazer outra”.

Por outro lado, não dá para culpar os pais por uma situação em que também são vítimas. “80% da influência da com-pra de uma casa vem das crianças”, diz Ana Lucia Villela, presidente do Instituto Alana. É um dado que não passa desper-cebido pela publicidade nacional e que se manifesta sempre que um pai ou uma mãe – estressados, bem-intencionados, sem tempo para o diálogo – fazem a vontade dos filhos sobre essa ou aquela marca de achocolatado, de celular ou de calçado.

Pensando nisso, parte da sociedade se uniu para criar na internet o manifesto

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“Tudo que vem fácil vai fácil: não passam dois dias, a criança

já esqueceu o brinquedo, que se amontoa em casa,

vira lixo, termina indo pro lixo.”

PuBliCado em 1955, o artigo em que Lebow escreveu as palavras ao lado até hoje gera dúvidas se a intenção do au-tor era prescrever uma fórmula de mar-keting ou apresentar uma observação científica e desapaixonada da sociedade americana na metade do século XX. Seja como for, poucos discordariam de que suas palavras parecem mais verdadeiras e universais do que nunca – principal-mente para uma parcela da população que influencia cada vez mais o mercado consumidor: as crianças.

Para estudiosos, mais do que vender produtos, campanhas publicitárias ven-dem afeto. “A publicidade promete mais do que a alegria da posse. Ela promete a alegria da inscrição na sociedade”, diz Clovis de Barros Filho, doutor em Ciên-cias da Comunicação pela USP (Univer-sidade de São Paulo). O que torna as crianças mais vulneráveis a esse tipo de

“Publicidade Infantil Não”, que já reúne mais de 6.500 assinaturas. A intenção é que, como acontece em outros países, o Estado crie regras para a publicidade infantil. Na Alemanha, Dinamarca, Irlan-da e Noruega, por exemplo, programas infantis não podem ser interrompidos por publicidade alguma. Na Suécia, um comercial dirigido a menores de 12 anos só é permitido a partir das 21h.

No Brasil não há lei para o tema, apenas orientações. Em 2006, o Conar (Conse-lho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) adotou recomendações co- mo a não utilização de apelos imperati-vos de consumo (“peça para a mamãe comprar”, “não fique fora dessa”).

Já o publicitário e presidente da Thymus Branding Ricardo Guimarães acredita numa solução mais simples: o próprio excesso levará ao esgotamento do consumismo.

“Nossa sociedade, como um todo, está passando por uma fase jovem. O que vai acontecer? Vamos enfrentar problemas sérios provocados pelo consumo com-pulsivo, desde depressão e angústia até o esgotamento de recursos naturais. Só então vamos ter mais consciência”. Gui-marães termina o seu depoimento com uma previsão que, para alguns, parece otimista demais: “As crianças de hoje vão chegar mais fartas de consumo do que as anteriores”.

Assista ao documentário Criança, A Alma do Negócio, disponível no Youtube.

Conheça o Instituto Alana: www.alana.org.br

Conheça o Instituto Akatu: www.akatu.net

Visite o site do Conar: www.conar.org.br

Confira dicas do guia publicado pelo Instituto Alana:

Crie o hábito de fazer coisas com seus filhos que não envolvam a mídia, como ler, visitar museus ou cozinhar.Converse com as crianças sobre o real objetivo da publicidade.Mostre que as datas comemorativas não existem apenas para trocar presentes.Antes de sair às compras, negocie o que poderá ser comprado.Não deixe aparelhos de TV nos quartos das crianças.Limite o número de horas em frente ao televisor.

Acesse o guia completo em:www.alana.org.br/CriancaConsumo/Biblioteca.aspx?v=4&pub=4

A resposta está no próprio documentário, em que várias outras crianças manifestam discursos e anseios mais apropriados para adultos. Como a menina de oito anos que busca uma calça que “valorize seu cor-po” ou a adolescente que conta como conseguiu seu quarto celular “numa pro-moção muito boa, estava por R$ 1.800 mas conseguimos por R$ 400”.

O resultado dessa “adultização” – ne-cessária para um mercado que precisa de mais e mais consumidores – pode ser desastroso. Laís Fontenelle tem observa-do nas crianças que atende “uma dimi-nuição da criatividade, da capacidade de imaginar e de ousar, o que é tristíssimo”.

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É um ciclo virtuoso. “À medida que a sociedade toma conhecimento de uma questão, são criados novos mercados de trabalho”, explica o professor. Esse mer-cado, por sua vez, necessita de pessoas habilitadas para as novas funções, e, para isso, são oferecidos cursos e disciplinas em escolas e universidades. A safra de novos profissionais dá continuidade ao processo, levando às empresas uma nova visão, o que acarreta a criação de novos empregos. E assim sucessivamente.

“A mudança é uma onda que se multi-plica e que toma forma à medida que os movimentos vão acontecendo”, conclui Wagner Brunini, presidente da Associa-ção Brasileira de Recursos Humanos.

Brunini, que vem acompanhando as mudanças nas demandas do mercado de trabalho desde a década de 1970, se sente melhor com as novidades. No lugar do sucesso a qualquer custo, as empre-sas vêm cobrando de seus funcionários que sigam condutas éticas e que sejam responsáveis pelas consequências de suas

o deSaFio todos já conhecem: no sé-culo XXI, a humanidade terá de inaugu-rar um novo ciclo de desenvolvimento, baseado na conciliação do crescimento econômico com a preservação da biodi-versidade, o uso de energias renováveis e tecnologias limpas. As empresas serão cobradas por isso, e a sustentabilidade será um imperativo não apenas ético, mas prático, quando se esgotarem os recursos que dão suporte ao modelo de desenvolvimento praticado até hoje. A questão é: estamos preparados? qual será o perfil do novo profissional diante desse cenário?

“Antes não havia preocupação ambien-tal e atualmente não dá para pensar no mundo sem ela”, diz Geraldo Borin, coordenador do curso de gestão am-biental da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). O próprio curso, cuja primeira turma se forma este ano, é um exemplo de uma alteração recente, impulsionada pela nova ordem mundial que traz consigo novas necessidades, novos valores e conhecimentos.

educação em sustentabilidade

Uma empresa de 6 bilhões

de pessoas

PARABÉNS, VOCê ACABA DE SE FORMAR E CONSEGUIU UM TRABALHO.

SEU DESAFIO: CONCILIAR O CRESCIMENTO PROFISSIONAL COM O FUTURO DO PLANETA

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ações no planeta. “Sustentabilidade é o que perpetuará as organizações”, afirma. Isso significa que, em vez de obter resul-tados imediatos, o profissional do futuro deverá saber avaliar se o que faz ajuda-rá a manter sua empresa no mundo por mais tempo.

Pedro Jacobi, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (Procam-USP), vai além. Para ele, a sustentabi-lidade implica em uma nova maneira de pensar. “Temos de rever e repensar nossos hábitos de consumo. Não dá para imaginar, por exemplo, que todos os chineses terão um automóvel. Mas, por outro lado, se compramos menos, pes-soas são demitidas e a sociedade sente”. Jacobi considera que a situação contra-ditória é o grande desafio a ser supera-do no século XXI. E aí, quem não tiver a preparação necessária para lidar com esse desafio estará em desvantagem. “A educação – em toda a amplitude do termo – será fundamental nesse proces-so”, resume Brunini.

como o circo infLuenciou as artes brasiLeiras

tV e cinemaAlém de formar os primeiros técnicos de iluminação e som, o circo formou ou influenciou artistas consagrados, como oscarito e Os Trapalhões. Em 1951, o Palhaço Carequinha põe uma plateia ao vivo em seu programa de variedades. Nasciam os programas de auditório.

teatroCriado em 1760 na Inglaterra, o circo moderno chega à América do Sul unindo o teatro aos números de acrobacia, malabarismo e ilusionismo. É o circo-teatro (ou circo criollo), que impulsionou as artes cênicas do País formando inúmeros atores.

música“Os palhaços foram nossos primeiros cantores populares”, diz Verônica Tamaoki. Até o início dos anos 1980, o circo foi o principal palco para duplas sertanejas.

pelo próprio fundador, Nerino Avanzi, e herdado pelo filho Roger Avanzi. Ainda maior que o Nerino, o Circo Garcia, cria-do por Antolin Garcia em 1928, traz uma história de quase 75 anos, durante os quais lotava plateias na América do Sul, na América Central, na África e na Ásia. Foi o circo de maior longevidade no País.

“A história do circo passa pela história de todas as nossas expressões artísticas, não apenas a acrobática”, diz Verônica. “Ele ajudou a formar o teatro, o cinema, a te-levisão, a música e o rádio brasileiros”.

A curadora ressalta ainda que, para além dos circos em si, as artes circenses vivem um momento de efervescência, com ar-tistas de vários gêneros incorporando o repertório circense em seus espetáculos. Rody Luiz Jardim, diretor-executivo da Academia Brasileira de Circo, que man-tém uma escola de circo, lembra que o público de suas aulas é ainda muito mais diverso. “O circo hoje é também uma op-ção de lazer, de condicionamento físico e até de gestão e integração de pessoal por parte de grandes empresas”, diz Rody.

É da Academia Brasileira de Circo o Cir-co Spacial, hoje o maior em atividade no País, com capacidade para 3 mil lugares. É exceção entre os mais de 2.500 circos itinerantes citados por Marlene queru-bim, que também é diretora do Spacial. “A imensa maioria oferece entre 500 e 800 lugares, principalmente devido ao preço dos terrenos hoje”, diz ela. “Por isso que se tem a noção de que o circo está morrendo, quando antes você tinha um Garcia ou um Orlando Orfei com 5 mil lugares. Mas não é verdade”.

A verdade é que pode faltar mídia para o circo, mas o público, o respeitável público, não falta.

Visite o Centro de Memória do Circo:Galeria Olido Av. São João, 473, Centro São Paulo

Veja fotografias do acervo:www.fundacaobunge.org.br

SejamoS SiNCeroS. A televisão está presente em quase 100% dos domicílios brasileiros, inclusive nos de áreas rurais. A TV por assinatura cresce ano após ano. Por todo o País pipocam novas salas de cinema, e o uso da internet em lan hou-ses aumentou mais de 75% nos últimos três anos, de acordo com o IBGE (Institu-to Brasileiro de Geografia e Estatística). Neste país, quem ainda tem tempo ou interesse de ir ao circo?

Ao que tudo indica, muita gente.

Segundo Marlene querubim, presidente da UBCI (União Brasileira de Circos Itine-rantes), existem cerca de 2.530 circos em atividade – um número jamais superado na história do circo no Brasil. E o público, ela assegura, continua a comparecer.

Se a notícia surpreende é porque o circo já não é mais, como foi por décadas des-de a sua chegada ao Brasil, no início do século XIX, uma das poucas senão a úni-ca opção de lazer e cultura para a popu-lação. O circo continua vivo, apenas sem o mesmo destaque de quando espetácu-los sob lonas eram o núcleo agregador da cultura nacional e palhaços eram ce-lebridades de primeira grandeza.

Mas esse capítulo da história não está perdido. Em novembro de 2009, foi inau- gurado em São Paulo o Centro de Me-mória do Circo, que inicialmente reúne o acervo documental de dois grandes cir-cos brasileiros: o Nerino (1913-1964) e o Garcia (1928-2002). O acervo é composto por fotografias, figurinos, instrumentos musicais, registros textuais e audiovisu-ais. Documentos que chegaram às mãos da curadora Verônica Tamaoki graças às famílias que fizeram essa história.

Da família Avanzi vêm as memórias do Circo Nerino, que viajou por todo o País durante 52 anos e tinha como estrela o palhaço Picolino, personagem encarnado

cultura e memória

Respeitável circoCENTRO DE MEMóRIA DO CIRCO,

EM SãO PAULO, CELEBRA O PASSADO

DE UMA ARTE qUE ESTÁ MAIS VIVA

DO qUE NUNCA

© Luis Alfredo | Divulgação

Roger Avanzi como Picolino, personagem que herdou do pai num tempo

em que palhaços eram celebridades

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O Sr. argumenta que os órgãos de saúde no Brasil não dão a devida importância à questão da poluição urbana. Por quê?

Os padrões de qualidade do ar aceitos hoje são menos exigentes do que de-veriam. Estamos com uma legislação ambiental que traduz o conhecimento científico dos anos 1970. É a política do avestruz: preferimos manter como está a interferir com mobilidade urbana, pa-drão de combustível, os interesses de diversas indústrias. E está tudo relaciona-do. Por incrível que pareça, quando tem greve dos transportes públicos em São Paulo, a qualidade do ar muda, já nos dias seguintes. quando o metrô para de funcionar, aumenta a mortalidade por doenças cardiovasculares. Mas se é gre-ve de ônibus, a qualidade do ar melhora. Mostrando que o diesel é um problema sério na cidade de São Paulo.

E que não afeta a todos da mesma forma.

Claro! Se a qualidade do ar está ruim aqui em São Paulo, ela está pior para o cara que passa horas na parada de ôni-bus. O fato de que nós, implicitamente, aceitamos que o indivíduo mais pobre tenha de respirar um ar pior é o que eu

Qual seria a solução?

Os custos externos deveriam ser incorpo-rados aos custos de produção de um veí- culo: o custo hospitalar de internações, a perda de anos de vida por mortalidade precoce, o número de horas paradas em congestionamentos intermináveis, o di- nheiro gasto para manter o sistema viá-rio. Se você computasse tudo isso, talvez não fosse tão bom negócio [investir na indústria automobilística]. Mas o pensa-mento é: nos EUA existem 700 veículos por mil habitantes, no Brasil temos 300. Então podemos dobrar esse mercado. Mas onde você põe o dobro de carros numa cidade como São Paulo?

Como educar o brasileiro para o consumo consciente?

Acredito que a geração que está aí pe-los próximos 20 anos não vai abdicar do seu padrão de consumo, a não ser que aconteça algo que prejudique cada um individualmente. Ninguém se impressio-na com uma pilha de corpos ou filas em hospitais, mas com a dificuldade de se locomover. Um programa de transporte coletivo de qualidade vai ser mais fruto da imobilidade do sistema que da cons-ciência socioambiental.

Assista à palestra do Dr. Paulo Saldiva “Exclusão e Racismo Ambiental” (14/9/2009):www.tedxsaopaulo.com.br/paulosaldiva/

Quem disse que o pulmão do brasileiro é 90%

mais resistente?PATOLOGISTA Vê TRâNSITO DAS GRANDES CIDADES

COMO qUESTãO DE SAúDE PúBLICA E DEFENDE

MUDANçA NA POLíTICA AMBIENTAL DO PAíS

chamo de “racismo ambiental”. É a or-dem pela força econômica. Pela mesma razão, o ônibus velho daqui de São Paulo pode ser reutilizado na Baixada Flumi-nense ou nas cidades do interior. Aqui só pode entrar ônibus limpo, mas lá pode emitir mais poluentes? E isso acontece em nível internacional também. O cami-nhão vendido na Europa é 90% menos poluente do que o mesmo modelo ven-dido no Brasil. quem disse que o pulmão do brasileiro é 90% mais resistente?

O Sr. é bastante cético às políticas de responsabilidade socioambiental de várias empresas. Por quê?

Porque acho que elas têm mais a ver com o setor de marketing do que com algum compromisso real. Por exemplo, o carro padrão brasileiro emite mais [poluentes] do que um americano, que por sua vez emite mais do que o carro padrão na Califórnia. Às vezes o mesmo modelo. Como é que uma mesma multinacional que fabrica esses carros se diz social e ambientalmente responsável? Se você é intrinsecamente responsável, sua ética é igual em todo lugar. Mas o discurso não é suficiente para que as empresas abram mão da sua natureza, que é o lucro.

Paulo Saldiva está preocupado com o meio ambiente. sobretudo com uma espécie ameaçada pela emissão de po- luentes no trânsito das grandes cidades: o homem. saldiva é chefe do serviço de patologia do instituto do Coração da Faculdade de medicina da usp (universidade de são paulo), e há mais de 30 anos estuda como a poluição urbana afeta a saúde humana. É um dos pioneiros na área, tendo

contribuído com a oms (organização mundial da saúde) e com a epa (agência de proteção ambiental americana) para estabelecer

padrões mais rígidos de qualidade do ar no planeta. padrões que, no Brasil, ainda não foram atualizados pela legislação

em vigor. por isso saldiva está preocupado. e por acreditar que nossas políticas ambientais são regidas pela mesma lei que rege

o mercado, protegendo mais a saúde dos que têm poder econômico.

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