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69 CONTRIBUIÇÃO PARA A GEOGRAFIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS: A LUTA DO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA E AS METAMORFOSES NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO¹ Anderson Luiz Machado dos Santos² César de David³ Introdução Das contradições existentes entre a organização de uma sociedade civil divida em classes sociais, cujos interesses objetivos e subjetivos estão em conflito, emergem relações de poder. Nesse sentido, o poder, “é precisamente o resumo oficial do antagonismo na sociedade civil”. (MARX, 2007, p. 155) Diante dessas relações contraditórias se forjam movimentos sociais e políticos. Sobretudo, mediante a hegemonia do modo de produção que organiza as múltiplas dimensões da vida em sociedade, em diversas formações econômicosociais: o capitalismo. Dessa forma, os movimentos sociais compõem parte do mundo concreto e não devem ser omitidos pelas categorias analíticas das ciências sociais de um modo geral. Nas últimas décadas do século XX abriuse um franco debate a cerca dos movimentos sociais e a teoria social. Gohn (2004) oferece uma síntese significativa sobre esse processo. No âmbito da ciência geográfica é possível inferir que a mesma passou a abarcar tal reflexão, sobretudo a partir do momento em que se inseriu na reflexão a respeito do espaço enquanto instância social, visão que decorre do movimento de renovação iniciado após a década de 1970. Do final do século XX ao início do século XXI, a partir de diversas pesquisas, geógrafos e estudiosos como Souza (1995, 2008), Fernandes (1996, 2000, 2005), Martín (1997), Porto Gonçalves (2003), Alantejano (2006) e Ferreira (2007) têm procurado esboçar os caminhos do que se pode chamar geografia dos movimentos sociais. Assim, esses têm se esforçado no sentido de apontar e aprofundar as relações entre a teoria geográfica e a práxis dos movimentos sociais. Entretanto, muitos desafios estão colocados para que se compreenda a dinâmica de tais movimentos a partir da clivagem espacial. Nesse contexto, o presente trabalho buscará 1 Artigo referente à disciplina “Seminários de Mestrado” do Programa de PósGraduação em Geografia e Geociências da Universidade Federal de Santa Maria. 2 Mestrando do Programa de PósGraduação em Geografia e Geociências da Universidade Federal de Santa Maria. ³ Orientador, Professor Doutor do Departamento de Geociências da UFSM.

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CONTRIBUIÇÃO PARA A GEOGRAFIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS: A LUTADO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA E AS

METAMORFOSES NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO¹

Anderson Luiz Machado dos Santos²César de David³

Introdução

Das contradições existentes entre a organização de uma sociedade civil divida em classessociais, cujos interesses objetivos e subjetivos estão em conflito, emergem relações de poder.Nesse sentido, o poder, “é precisamente o resumo oficial do antagonismo na sociedade civil”.(MARX, 2007, p. 155)

Diante dessas relações contraditórias se forjam movimentos sociais e políticos. Sobretudo,mediante a hegemonia do modo de produção que organiza as múltiplas dimensões da vida emsociedade, em diversas formações econômico­sociais: o capitalismo. Dessa forma, osmovimentos sociais compõem parte do mundo concreto e não devem ser omitidos pelascategorias analíticas das ciências sociais de um modo geral.

Nas últimas décadas do século XX abriu­se um franco debate a cerca dos movimentossociais e a teoria social. Gohn (2004) oferece uma síntese significativa sobre esse processo. Noâmbito da ciência geográfica é possível inferir que a mesma passou a abarcar tal reflexão,sobretudo a partir do momento em que se inseriu na reflexão a respeito do espaço enquantoinstância social, visão que decorre do movimento de renovação iniciado após a década de 1970.

Do final do século XX ao início do século XXI, a partir de diversas pesquisas, geógrafos eestudiosos como Souza (1995, 2008), Fernandes (1996, 2000, 2005), Martín (1997), PortoGonçalves (2003), Alantejano (2006) e Ferreira (2007) têm procurado esboçar os caminhos doque se pode chamar geografia dos movimentos sociais. Assim, esses têm se esforçado nosentido de apontar e aprofundar as relações entre a teoria geográfica e a práxis dos movimentossociais.

Entretanto, muitos desafios estão colocados para que se compreenda a dinâmica de taismovimentos a partir da clivagem espacial. Nesse contexto, o presente trabalho buscará1 Artigo referente à disciplina “Seminários de Mestrado” do Programa de Pós­Graduação em Geografia e Geociências daUniversidade Federal de Santa Maria.2 Mestrando do Programa de Pós­Graduação em Geografia e Geociências da Universidade Federal de Santa Maria.³ Orientador, Professor Doutor do Departamento de Geociências da UFSM.

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contribuir na discussão a cerca da geograficidade dos movimentos sociais centrando­se emduas questões: como os movimentos sociais se constituem enquanto agentes produtores doespaço? Como através da espacialização e territorialização de suas lutas sociopolíticas sãocapazes de realizar metamorfoses na produção do espaço?

Para tal, essa reflexão fundamenta­se não só na incorporação das contribuições teóricasa respeito da relação entre a ciência geográfica e a(s) teoria(s) dos movimentos sociais. Mas,sobretudo na releitura de processos desencadeados por um dos principais movimentossociais brasileiros, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), cuja dinâmicatem sido acompanhada desde 2005, seja através de ações em conjunto, possibilitadas pelaarticulação entre o MST e o movimento estudantil universitário em decorrência da participaçãoneste movimento social no período de 2005 a 2009, seja através do desenvolvimento deprojetos de ensino, pesquisa, extensão e da proposta de dissertação, frente a realidades emque a luta pela reforma agrária é latente.

Dentre as premissas norteadoras desse trabalho destacam­se: a) a ciência geográfica,deve permanentemente renovar seu olhar sobre os processos sociais, para que seja capaz deresponder aos movimentos inerentes a sociedade de classes; b) o materialismo histórico­dialético pode lhe fornecer as bases para essa compreensão; c) a abordagem geográficaacerca dos movimentos sociais deve contribuir para a práxis desses movimentos nãopodendo se tornar mera cristalização teórica.

A geografia em movimento: entre a tradição e a renovação

A geografia está em movimento, pois o espaço se transforma permanentemente emdecorrência da práxis humana. Do ponto de vista teórico essa é uma premissa que norteiaparte do movimento que culminou na chamada Geografia Nova, ou Geografia Críticadesenvolvida a partir da década de 1970, como pontua Moraes (1999). Entretanto, aocontrário do que a tendência aparente denota, muitos aspectos da visão filosófica queorienta essa perspectiva, encontravam eco desde o nascimento da geografia enquantociência moderna. Também as contradições inerentes ao modo de produção vigente emcada período histórico, exercem significativos impactos sobre o aporte teórico­metodológicoe a postura política dos geógrafos. Aliás, esse elemento não deve ser omitido dodesenvolvimento de qualquer campo científico.

Santos (2002), procurou demonstrar como a matriz filosófica materialista dialética,influenciou em muitos aspectos o pensamento de alguns “principistas”4 desta ciência, assimcomo encontrava eco entre “geógrafos” de orientação anarquista e anti­imperialista quevivenciaram o período de institucionalização da geografia enquanto ciência moderna, mas4 Santos (2002), considera como principistas todos os que lutaram para encontrar leis ou princípios que norteassem adisciplina geográfica nascente como ciência moderna. Insere nesse patamar geógrafos como Ritter, Humbolt, La Blache,Ratzel e Brunhes

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que foram relegados a uma condição secundária nas elaborações que guiaram odesenvolvimento da mesma. Dentre esses, Santos (2002) identifica Elissé Reclús, CamilleVallaux na França e até mesmo Pior Kropotkine na Rússia.

Reclús (1985), por exemplo, apesar de manter em certos aspectos o caráter descritivoinerente à geografia tradicional, propôs uma geografia social, concebeu que, “a geografia não éimóvel, ela se faz e refaz todos os dias; a cada instante ela se modifica pela ação do homem”(RECLUS, 1985, p.30). Também, inseriu­se nos movimentos sociais de seu tempo, como aComuna de Paris5. A partir dessas questões compreende­se que seu horizonte filosófico e suapráxis o aproximavam da concepção materialista histórico­dialético do mundo, apesar de suasdivergências do ponto de vista da ação política que os principais representantes dessa visãoanunciavam.

O “esquecimento” dessas abordagens corrobora para a tese que afirma que donascimento da geografia enquanto ciência moderna no século XIX, à “New Geography” dadécada de 1950, triunfou uma visão estática e mecânica a respeito do espaço e da sociedade(QUAINI, 1979); (SANTOS, 2002). Visão que paulatinamente refutou o materialismo histórico­dialético como possibilidade de orientação filosófica e científica para a episteme geográfica, emvirtude da adesão acrítica ao positivismo, ao cartesianismo e ao darwinismo social comoparadigmas no caso de Ratzel na Alemanha ou ao historicismo conservador no caso de LaBlache na França.

Da abordagem Ratzeliana, Quaini (1979), destaca a redução da cientificidade geográficaao homem como um animal, na qual a história do homem é absorvida na história natural e ageografia do homem é recomposta na geografia física. Elementos que fundamentaram odeterminismo geográfico, cuja função reside na seguinte objetividade:

[...] a naturalização significa a eternização das relações sociaiscapitalistas. Não é por acaso que com Ratzel a luta pela existência setorna luta pelo espaço vital. Trata­se de uma transformação que refletea passagem do capitalismo do estágio da livre concorrência ao estágiomonopolista e imperialista. (QUAINI, 1979, p. 19)

Nota­se que a luta pelo espaço vital como apontou Quaini (1979), aparece como umatransfiguração da luta pela existência humana, elemento fundamental que compõe aconcepção materialista da história elaborada por Karl Marx e Friederich Engels em meadosdo século XIX.

Ao tomar essa questão como premissa, é possível inferir que Ratzel (1990) foiinfluenciado por Marx. Mas, não é possível equipar a abordagem ratzeliana aomaterialismo histórico, como concebeu Plekhanov (1989), um dos introdutores domarxismo na Rússia.5 Luta dos trabalhadores na França do século XIX (1871), que reuniu diversas correntes do movimento operário e se constituina primeira experiência de um Estado socialista.

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Este filósofo ao fazer uma leitura em certa medida determinista sobre o processohistórico e as condições espaciais deste fazer, chegou à conclusão de que as elaboraçõesde Ratzel (1990) encontravam grande proximidade com a concepção materialista dahistória, ao interpretar que tanto para Marx quanto para Ratzel,

[...] as propriedades do meio geográfico determinam o desenvolvimentodas forças produtivas, que por sua vez, determina o desenvolvimentodas forças econômicas e com estas, o de todas as outras relaçõessociais” (PLEKHANOV, 1989, p.33).

Santos (2002), ao referir­se a Plekhanov, compreendeu que tal visão representa o impactodo positivismo sobre os próprios marxistas.

No que concerne Vidal de La Blache, Santos (2002), identifica que o mesmo ao incorporaruma visão unitária das relações homem­natureza, aproxima­se da tese marxista da naturezahumanizada, e procura abordar o caráter histórico desse processo. Entretanto, ao reduzir suaabordagem à noção de gêneros de vida, procurou definir relações particulares em que apersonalidade do homem é marcada pela dinâmica regional.

Desse modo a geografia La Blacheana afastou­se da perspectiva materialista histórico­dialética. Principalmente ao negligenciar a dinâmica espacial impactada pela divisão econômica esocial do trabalho em plena fase da grande indústria e do imperialismo, pois, “a essa altura dosacontecimentos, nada que se passava nas regiões francesas ou de qualquer outro país europeupodia estar sem relação direta ou indireta com os eventos econômicos nacionais e mundiais”.(SANTOS, 2002 p.56)

Do triunfo dessas visões, em detrimento das posturas críticas a expansão capitalista, aciência geográfica, seja pela elaboração estratégica voltada aos interesses dos Estados­nacionais, seja pela omissão dos processos econômico­sociais, demonstrava seus objetivospolítico­ideológicos: contribuir para o desenvolvimento do modo de produção capitalista nasdiversas formações econômico­sociais. (QUAINI, 1979; SANTOS, 2002). Questão que deve sertomada como parte da tradição inerente aos estudos geográficos, e que conduziu a escolha e odesenvolvimento de determinadas abordagens, métodos e técnicas de análise dessa ciência.

Essa tendência se tornou mais aguda na medida em que a dinâmica capitalista consolidaum novo estágio de acumulação no qual “a concorrência cede inevitavelmente lugar aomonopólio via a concentração e centralização do capital”. (SWEEZY, 1977 p.47) A abordagem deSweezy (1977), aponta os efeitos do crescimento dos monopólios e de suas formas institucionais(as grandes empresas e o sistema financeiro que os alimentam) sobre o processo deacumulação de capital. Contudo, para atingir esses objetivos o capitalismo monopolistanecessitava de uma nova racionalidade espacial, sobretudo passado os processos emblemáticosinerentes a natureza da acumulação capitalista como a I Guerra Mundial, a crise de 1929 e a IIGuerra Mundial.

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Esses movimentos conjunturais foram centrais para a reformulação das bases científicasda geografia, visto que os métodos e técnicas tradicionais já não conseguiam dar respostassatisfatórias ao dinamismo imposto pelo novo estágio de desenvolvimento do modo deprodução, “daí sua defasagem e sua crise” (MORAES, 1999, p.95).

No contexto do pós II Guerra Mundial, Santos (2002), enfatiza que a geografia nãoescapou das transformações ocorridas no conhecimento científico do período, principalmente noque diz respeito aos avanços nos suportes desse trabalho e as mudanças nas necessidades deseus utilizadores, o que culminou em transformações nos objetivos da ciência. Assim, da lutaentre a manutenção de certa tradição e a incorporação de novos elementos nasceu à NovaGeografia.

Em consonância com essa leitura, Moraes (1999) destaca que o planejamento econômicose estabeleceu como uma das armas de intervenção do Estado nesse período, e com ele, oplanejamento espacial sintetizou uma proposta de ação para organização do espaço. O querefletia a necessidade de gerar um instrumental vinculado aos avanços tecnológicos, a geografiatradicional não apontava nessa direção. Para tal,

[...] a chamada Nova Geografia se manifestou, sobretudo através daquantificação. Mas ela utilizou igualmente como instrumentos osmodelos, a teoria dos sistemas (ecossistemas incluídos), a tese dadifusão de inovações, as noções de percepção e de comportamento,e, da mesma maneira, as múltiplas formas de valorização do empíricoe do ideológico. (SANTOS, 2002, p. 63)

Ainda que o debate não tenha se esgotado, e nesse movimento tenham se levantadovozes insatisfeitas com o quantitativismo, o peso econômico, político e ideológico docapitalismo prevaleceu e, foi capaz de impor uma nova racionalização para análise espacial.

Esta operação que se explica em larga medida em razão das novas necessidades daprogramação econômicas e territorial, se revolve, salvo poucas exceções, numa relação comos problemas reais, que é, sim, relativamente nova (por que nível tecnocrático), mas não écrítica e, afinal, serve de apoio e está subordinada às escolhas dos centros decisórios.(QUAINI, 1979, p.12)

Assim, a Nova Geografia apesar de reformular em muitos aspectos as bases teórico­metodológicas dessa ciência, mantém e aprofunda algo que se apontou como parte datradição dos estudos geográficos: seu afago pelo capitalismo.

Nesse processo também cabe destacar a exclusão dos movimentos sociais daspreocupações geográficas, visto que as teorias espaciais originárias desse momento histórico,“em geral ignoram as estruturas sociais, leva a que não se preocupem com os processos sociaisnem com as desigualdades sociais. Acabam, simplesmente, por ignorar o homem. (SANTOS,2002, p.105)

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Contudo, um movimento nunca é estanque, mas sempre transitório. Como afirma Lowy(1989, p.14), “tudo o que existe na vida humana e social está em perpétua transformação,tudo está sujeito ao fluxo da história”. Assim, como produto das contradições inerentes aopróprio modo de produção capitalista e aos objetivos que impôs a produção do conhecimentogeográfico, emergiu um novo olhar sobre a sociedade e seu espaço, abordando criticamentea acumulação capitalista com vistas à transformação social. Mediante essa perspectiva épossível conceber o espaço como instância social, assim como abordar os movimentossociais agentes produtores e transformadores do espaço.

Contribuições da concepção materialista histórico­dialética na renovação daciência geográfica: o espaço como instância da sociedade e o papel dosmovimentos sociais

A compreensão do espaço como instância da sociedade, passou a se desenvolvercom maior vigor na geografia, a partir da reaproximação da teoria espacial com aperspectiva materialista histórico­dialética do mundo principalmente a partir da década de70 do século XX. Nesse movimento, destacam­se as contribuições de Lefebvre (1901­1991), filósofo e sociólogo francês cujas elaborações exercem grande influência para odesenvolvimento da geografia crítica marxista, além das reflexões que partiram degeógrafos como Quaini (1979), Harvey (2006) e Santos (2002).

Diante dessa visão, novos e permanentes desafios foram colocados para a ciênciageográfica, pois a compreensão do movimento contraditório inerente ao modo de produçãocapitalista possibilitou desvelar agentes produtores do espaço, outrora camuflados pelodiscurso geográfico dominante. Dentre esses se situa a ação do Estado, do capital, dasclasses sociais em luta e, a partir dessas os movimentos sociais.

Não obstante, apesar de se reconhecer que o movimento de renovação que culminouna geografia crítica incorporou outras visões de mundo como possibilidade de orientaçãofilosófica e científica. Compreende­se como mister destacar as abordagens teórico­metodológicas que foram capazes de superar a esclerose vigente na geografia, cujapremissa pode ser sintetizada na seguinte expressão: Marx e Engels, ou os marxistas emgeral, nunca disseram nada sobre o espaço, por isso, não é possível tomar a concepçãofilosófica e científica elaborada pelos mesmos, como possibilidade de desenvolvimento daciência geográfica. Visão que ainda se faz presente em muitos círculos acadêmicos.

Nesse sentido antes mesmo de esboçar a resposta dos referidos teóricos a essaquestão, se pressupõe como fundamental reconstituir algumas premissas da concepçãomaterialista histórico­dialética do mundo.

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A reconstituição das premissas do materialismo histórico­dialético e aquestão espacial

É extremamente desafiador apontar algumas premissas norteadoras do materialismohistórico­dialético, sobretudo quando se concebe essa perspectiva enquanto uma teoriaaberta. Entretanto, esta é uma tarefa elementar para se compreender a dinâmica doespaço enquanto instância social.

Primeiramente, cabe salientar o reconhecimento de que essa concepção abrange ummomento filosófico (materialismo dialético) e um momento científico (materialismo histórico)articulados entre si. Por isso, o emprego do termo materialismo histórico­dialético. Porém,um elemento distintivo dessa visão de mundo e de sua perspectiva científica, diz respeito anão se limitar a contemplar a dinâmica das sociedades, mas, compreendê­la paratransformá­la. Nesse sentido, a XI tese de Marx de sobre Feuerbach6, é esclarecedora: “osfilósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes, a questão é transformá­lo” (MARX 1989, p.111). Assim, acredita­se que Gramsci (1987), sintetizou de formamagistral essa visão de mundo através da expressão “filosofia da práxis”. Ainda que sereconheça que essa expressão, seja uma metáfora utilizada pelo intelectual italiano nosentido de despistar a repressão do sistema carcerário ao qual estava submetido. Mas, acategoria práxis, enquanto processo de reflexão e ação que abarca diversos níveis, é semdúvida central para essa visão de mundo.

Outra premissa marcante na concepção materialista histórico­dialética é a abordagemcentrada no ser social. Marx (1989, p. 109) na VI tese sobre Feuerbach expressaclaramente essa visão, ao afirmar que “a essência humana não é uma abstração inerente acada indivíduo. Na sua realidade ela é o conjunto das relações sociais”. Portanto, paraessa concepção, nenhum indivíduo vive isoladamente, mas em relação com a natureza ecom outros seres humanos, e assim produzem os meios para a satisfação de suasnecessidades.

O desenvolvimento de tal premissa aparece no primeiro capítulo de A ideologia alemã(1847), em que a consideração do ser em suas relações sociais, representa o pontoelementar para a compreensão e transformação da estrutura das sociedades. Nesteaspecto, a filosofia materialista dialética, distancia­se tanto do idealismo dialético hegelianoconservador e pós­hegeliano de esquerda, quanto do materialismo mecânico emergentedesde o século XVII e XVIII, sendo capaz de superá­los (LOWY, 1989).

6 As teses sobre Feuerbach foram escritas por Karl Marx entre 1845­1846. Foram descobertas e publicadas somente apóssua morte, através de Friederich Engels. Eram notas que faziam para de um caderno de Marx. Segundo Engels (1975, p.378),“possuem um valor inestimável, por ser o primeiro documento em que se contém o germe genial de uma concepção demundo”. Luwig Feuerbach (1804­1872), filósofo alemão cuja visão estava entre o materialismo e idealismo, dialética e ametafísica.

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Conforme afirmam Marx e Engels (1982),Em completa oposição à filosofia alemã, a qual desce do céu para àterra, aqui sobe­se da terra para o céu. Isto é, não se parte daquilo queos homens dizem, imaginam ou se representam, e também não doshomens narrados, pensados, imaginados, representados, para daíchegar aos homens como carne e osso; parte­se dos homens realmenteativos, e com base no seu processo real de vida apresenta­se tambémo desenvolvimento dos reflexos e ecos ideológicos deste processo devida. Também as fantasmagorias no cérebro dos homens sãosublimados necessários de seu processo de vida material,empiricamente constatável ligado a premissa material. A moral, areligião, a metafísica e a restante ideologia, e as formas de consciênciaque lhes correspondem, não conservam assim por mais tempo aaparência de autonomia. Não têm história, não têm desenvolvimento,são os homens que desenvolvem a sua produção material e o seuintercambio material que, ao mudarem esta sua realidade, mudamtambém o seu pensamento e os produtos de seu pensar. (MARX;ENGELS, 1982 P. 14)

Os elementos presentes nessa referência apontam para outros dois aspectosfundamentais do materialismo histórico­dialético: 1) o ser social como parte da totalidadeconcreta e 2) a centralidade do processo de trabalho como o metabolismo da existência doser social.

No que diz respeito ao primeiro aspecto, Marx e Engels (1982), ao criticarem omaterialismo contemplativo de Feuerbach, apontam para a necessidade de considerar oshomens como sujeitos ativos que diante das situações imediatamente encontradas,produzem sua história pelas conexões sociais que estabelecem. Dessa maneira concebemo mundo sensível como “a totalidade da atividade sensível viva dos indivíduos que oconstituem”. (MARX; ENGELS, 1982, p.19)

Em outra obra, Marx (1982), ao discutir o método da economia política deixou claroque tudo que é concreto expressa a síntese de múltiplas dimensões. Portanto, essespressupostos levam a crer que,

[...] a atitude primordial e imediata do homem, em face da realidade,não é a de um abstrato sujeito cognoscente, de uma mente pensanteque examina a realidade especulativamente, porém, a de um ser queage objetiva e praticamente,de um indivíduo histórico que exerce suaatividade prática no trato com a natureza e com os outros homens,tendo em vista a consecução dos próprios fins e interesses, dentro deum determinado conjunto de relações sociais. (KOSIK, 1976. p. 13)

Entretanto, ao contrário de ser sobredeterminado por uma natureza econômica, comouma leitura economicista do materialismo histórico­dialético supõe, o ser social enquanto

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sujeito concreto é constituído de múltiplas dimensões. Por isso, a crítica da economiapolítica enquanto ciência burguesa deve ser encarada, apenas como parte dessaconcepção.

Nesse sentido Plekhanov (1987), em que pese seu referido determinismo, já respondiacategoricamente a essa crítica no final do século XIX, ao discutir a chamada teoria dosfatores histórico­sociais como meras abstrações e revelar o sentido da concepçãomaterialista da história.

Na sua interpretação, “não existe um único fato da história que não tenha a sua origemna economia social. Mas, não é menos verdade que não existe fato histórico que não tenhaprecedido, acompanhado e seguido de certo estado de consciência” (PLEKHANOV, 1987,p. 297). Daí a considerável importância da psicologia social. Portanto, “se é absolutamentenecessário tê­la em conta na história do direito, das instituições políticas, sem ele não sepode avançar uma passo na história da literatura, da arte, da filosofia, etc. (PLEHHANOV,1987, p. 297)

Lowy (1989), corrobora com a crítica aos que reduzem o materialismo histórico­dialético como materialismo econômico. Partindo deste princípio segundo o referido autor,poderia se chegar a seguinte fórmula: a dialética marxista é aquela teoria científica queexplica o comportamento dos indivíduos através de seus interesses materiais e que estescorrespondem, sobretudo aos seus interesses econômicos.

Eu acho que se definir o método marxista nesses termos, o fundadordeste método não seria Marx, nem Engels, mas Adam Smith e seusrepresentantes atuais seriam provavelmente Milton Friedman, e a EscolaMonetarista de Chicago. (LOWY, 1989, p.17)

Logo, a compreensão do ser humano em suas relações sociais a partir da dialéticamaterialista situa­se na categoria histórica e no princípio metodológico da totalidadeconcreta. Segundo Kosik (1976, p.42), “a compreensão dialética da totalidade significa nãosó que as partes se encontram em relação interna de interação e conexão entre si e com otodo, mas também que o todo não pode ser petrificado na abstração situada por cima daspartes, visto que o todo se cria a si mesmo na interação das partes.

Ao encontro dessa perspectiva, Lowy (1989) esclarece que o estudo da totalidade, nãosignifica estudar toda a realidade, uma vez que a realidade é sempre infinita, é inesgotável.Mas, significa a percepção da realidade social como um todo orgânico, estruturado, no qualnão se pode entender um elemento, um aspecto, uma dimensão, sem perder a sua relaçãocom o conjunto. Articulado ao princípio teórico­metodológico da totalidade estão osprincípios do movimento e da contradição.

A totalidade não está estática, como desenvolve Mandel (1978, p.115), “tudo muda,tudo está em perpétuo movimento”. Lowy (1983) radicalizou esta perspectiva ao afirmar:

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Esse é o coração do método dialético, é o primeiro elemento do métodode análise. Nessa consideração radical da historicidade, datransitoriedade de todos os fenômenos sociais, o próprio marxismo temque aplicar a si próprio esse princípio, tem que considerar a si mesmoem sua transitoriedade. (LOWY, 1983 p.15)

Não obstante, todo movimento é causado, resulta de algo, possui uma origem, umcontexto. E a causa última de todo movimento, de toda a mudança, como pondera Mandel(1978, p. 119), “são as contradições internas do objeto em mutação. Todo objeto, todofenômeno “dá de si”, modifica­se e transforma­se, em última instância, sob o efeito de suascontradições internas”. Logo, para a concepção materialista histórico­dialética ascontradições são concebidas como um fenômeno universal, inerente ao estado das coisas.

No que concerne ao segundo aspecto, Marx e Engels (1982), enfatizam a luta pelaexistência e capacidade de transformação, como elementos distintivos do ser social emrelação aos demais animais.

Podemos distinguir os homens dos animais pela consciência, pelareligião, por tudo o que se quiser, mas eles começam a se distinguir dosanimais assim que começam a produzir os seus meios de vida, passoeste que é condicionado pela sua organização física. Ao produzirem osseus meios de vida, os homens produzem indiretamente a sua própriavida material. (MARX; ENGELS, 1982, p.8)

Esse processo é tanto objetivo quanto subjetivo, visto que na perspectiva materialistahistórico­dialética, “a produção de idéias, representações, da consciência está a princípiodiretamente entrelaça com a atividade material e o intercâmbio material dos homens,linguagem da vida real”. (MARX, 1982, p. 13)

Porém, existem relações históricas primordiais para a produção da vida e nesseaspecto o processo de trabalho é o elemento central a partir do qual o ser social sedesenvolve. Em O Capital (1859), Marx pontuou com maior clareza esse processoconcebendo o trabalho como “eterna necessidade natural de mediação do metabolismoentre homem e natureza, e, portanto da vida humana” (MARX, 1983, p.50). Ao aprofundar aperspectiva marxiana, Engels (1975), também enfatizou o papel do trabalho como elementofundante da condição humana ao afirmar que “es la condicion básica y fundamental de todala vida humana. Y lo es en tal grado que, hasta cierto punto, debemos decir que el trabajoha creado al proprio hombre”. (ENGELS, 1975, p.78)

A partir desse processo, os homens desenvolvem determinadas relações sociais,políticas e ideológicas, formas de consciência, que correspondem a um dado modo deprodução. Formam­se as classes sociais através do antagonismo existente entre aprodução coletiva e a apropriação privada pelos detentores dos meios de produção (MARX,

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1982). Logo, outra premissa da concepção materialista histórico­dialética a ser destacada éa luta de classes como força motriz do processo histórico.

Nesse contexto das múltiplas relações do ser social, de sua inserção no processo detrabalho transformando a si e a natureza externa, da sua organização política em classes apartir das lutas que desenvolve, das noções teórico­metodológicas da totalidade,contradição e movimento, é possível refletir como o espaço se constitui em uma dasinstâncias da vida social. A elaboração de Lefebvre (1976) a partir da releitura das obras deMarx e Engels, tornou­se fundamental para essa compreensão, o mesmo colocou comoelemento estratégico para o entendimento e superação do modo de produção capitalista, anecessidade de se discutir os impactos de sua economia política na produção do espaço.

Como ponto de partida, concebeu que o espaço é um processo construído pelasociedade. Dessa maneira propôs a noção de produção do espaço7, que na suaabordagem, “significa que no se considera el espacio como um dado a priori, bien sea delpensamiento (Kant), bien seja del mundo (positivismo). Se ve en el espacio el desplieguede una actividad social” (LEFEBVRE 1976, p.40).

Na produção do espaço, ocorre a reprodução das relações sociais de produção, pois“a estratégia de classes trata de assegurar a reprodução de relações essenciais através datotalidade do espaço” (LEFEBVRE, 1976, p.41). Assim, a produção do espaço estámarcada por contradições que “são produto do conteúdo prático e social e, maisespecificamente do conteúdo capitalista” (LEFEBVRE, 1976, p. 42).

Também para Lefebvre (1976, p.120) esse processo “supõe a utilização das forçasprodutivas e de técnicas existentes, a iniciativa de grupos e classes sociais capazes deintervir em grande escala”. Portanto, encontram­se na sua abordagem algumas premissasque podem contribuir significativamente para compreensão dos movimentos sociais comoagentes envolvidos na produção do espaço. Sobretudo no que diz respeito a ação, asestratégias políticas das classes e grupos sociais na apropriação do espaço, visto que paraLefebvre (1976, p.52) “hay uma política del espacio, porque el espacio es política”. Essapolítica resulta do jogo entre as forças sociais, sejam de esquerda ou de direita.

Portanto, a demonstração da dimensão social e política do movimento é um elementoconvergente entre a abordagem de Lefebvre (1976) e de Marx que na obra A Miséria daFilosofia (1846), ponderava a necessidade de se reconhecer essa dupla dimensão. “Nãose diga que o movimento social exclui o movimento político. Não haverá nunca movimentopolítico que não seja ao mesmo tempo social”. (MARX, 2007, p.155). Também aperspectiva da transformação global da sociedade a partir da superação do capitalismo éoutra questão que está em consonância entre a leitura de Marx e Lefebvre, nas obras7 Cabe destacar que o conceito de produção para Lefebvre, possui um sentido amplo, “não se restringe a produção materialstritu sensu, mas, defini­se a partir das relações envolvidas no processo produtivo como um todo, bem como, as instituiçõesresponsáveis pela reprodução dessas mesmas relações, a saber: o direito, a família, o sistema jurídico, o Estado e etc. Aprodução refere­se também, de acordo com o autor, à produção de fatos, de acontecimentos históricos, de conflitos e deguerras. (Godoy, 2008, p. 126)

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mencionadas, a inovação do último reside na inserção do espaço como enclave paratransformação do modo de produção.

O reencontro dos geógrafos com o marxismo: o espaço e os movimentossociais nas abordagens de Massimo Quaini, David Harvey e Milton Santos

Mediante os condicionamentos impostos pelo capitalismo sobre a formaçãoeconômico­social italiana do final da década de 60, às contradições capital­trabalho,levaram ao surgimento do movimento obreirista, movimento dos trabalhadores italianosque via a fábrica como uma das células da sociedade e empreendeu diversas lutassociopolíticas que impactaram o país. (SADER, 1991).

Diante dessas contradições, do surgimento desse e de outros movimentos sociais, daprópria influência da abordagem espacial de Lefebvre, emerge a geografia crítica marxistana Itália. Dentre os geógrafos que integram essa perspectiva, está Quaini (1979), o qualpassou a conceber que,

[...] às prováveis objeções do geógrafo acostumado a exorcizar asprofundas contradições da realidade que estuda, a exorcizar, portanto,também o marxismo, o proletariado e a luta de classes, podemos contra­objetar que na crítica de Marx à economia política está contida nãosomente a crítica da “geografia” (e quase um século antes dosmodernos críticos da geografia descritiva), mas principalmente algunselementos essenciais daquela nova e mais rigorosa instrumentalizaçãológica de que se sente necessidade para fundamentar uma ciência doterritório que não seja nem caótica erudição nem saber apologético.(QUAINI, 1979, p.13­14)

Em sua reinterpretação do materialismo histórico­dialético Quaini (1976) destaca aimportância do método de investigação elaborado por Marx para compreensão da dinâmicado território, assim, como a sua concepção científica que considera simultaneamente arelação dos homens com a natureza e suas relações entre si, como fonte para a superaçãodas dicotomias geográficas, sobretudo no que diz respeito a tradicional divisão geografiafísica ­ geografia humana.

Por sua vez, em uma das formações econômico­sociais em que o capitalismo passoua ser encarado como uma das expressões mais acabadas das construções humanas, osEstados Unidos da América do Norte (EUA), a organização do periódico Antípode no finalda década de 1960, tornou­se um dos instrumentos fundamentais do movimento crítico­geográfico norte­americano e mundial. Segundo Harvey (2006), nesse período, parte domovimento radical associado à geografia, estava dividido entre a revitalização da tradiçãoanarquista e a abordagem materialista histórica, sobretudo entre os geógrafos

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simpatizantes dos movimentos revolucionários anti­imperialistas e de libertação nacional.Esses foram marginalizados e muitas vezes vistos como “párias” em suas disciplinas.

Mas, diante da violenta oposição as suas idéias, procuraram justificar suas posiçõesvalendo­se de textos de Marx e Engels, Lenin, Rosa Luxemburgo, Lukács, dentre outros,que passaram a ser publicados no referido periódico, criado em 1968.

Harvey (2006), geógrafo britânico, demonstra como ao se transferir para os EUA e aorever suas posições, ingressou nesse movimento. Enfatiza que, do ponto de vista marxista,haviam poucos textos sobre a geografia da acumulação de capital, a qual abrange aprodução desigual do espaço ou o desenvolvimento geográfico desigual inerente aocapitalismo. E, a partir de seus estudos, procurou fazer uma leitura abrangente da teoria daacumulação capitalista elaborada por Marx, chegando à conclusão de que

[...] o exame atento de suas obras revela que ele reconheceu queacumulação de capital ocorria num contexto geográfico, criando tiposespecíficos de estruturas geográficas. Além disso, Marx desenvolveuuma nova abordagem relativa a teoria da localização (em que adinâmica está no centro das coisas) e mostrou ser possível ligarteoricamente, o processo geral de crescimento econômico com oentendimento explicito de uma estrutura emergente de relaçõesespaciais. (HARVEY, 2006, p.43)

Nesse sentido, a abordagem de Harvey (2006), converge com a leitura de Quaini(1979), sobretudo quando este afirma que para Marx falar em capital (no sentido darelação capitalista de produção e do processo de reprodução e acumulação de capital) nãosignifica pensar em algo que diz respeito exclusivamente à produção econômica ou àstécnicas de produção, mas em algo que ao mesmo tempo se refere à sociedade e aoterritório.

Porém, Harvey (2006), ao conceber que a teoria marxista propicia relacionar aacumulação de capital e a transformação das estruturas espaciais, bem como fornece umtipo de compreensão teórica e material que permitirá entender os relacionamentos entregeografia e história, tempo e espaço. Propõe a criação de uma teoria geográfico­históricado capitalismo. “A geografia histórica do capitalismo deve ser o objeto de nossa teorização,enquanto o método de inquirição deve ser o materialismo histórico­geográfico”. (HARVEY,2006 p.144)

Não menos crítico, mas mais heterodoxa, é a contribuição de Santos (2002), noâmbito da geografia brasileira, que apesar de estabelecer nesta obra certa crítica a Marx eaos marxistas de um modo geral, seja pela negligência da categoria espaço, seja pelaforma como o espaço foi abordada, apresenta uma síntese particular. Na qual reafirma aperspectiva materialista histórico­dialética do mundo. Propõe que a reflexão sobre oespaço geográfico, não pode encará­lo como um receptáculo de ações, uma estrutura

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subordinada, mas como uma instância da sociedade dotada de uma autonomia relativa,que se configura como meio, condição e processo social.

Dessa forma Santos (2002), procurou refletir sobre o espaço enquanto totalidade etempo, que se manifesta em diferentes escalas através da dinâmica da sociedade.

As categorias fundamentais do estudo do espaço são, pois, a totalidadee o tempo; mas como o acontecer sobre o espaço não é homogêneo,a noção de lugar e de área se impõem, impondo ao mesmo tempo acategoria da escala, isto é, a noção de fração do espaço dentro doespaço total. (SANTOS, 2002, p. 218)

Porém, a compreensão de uma totalidade pode ser teórico e metodologicamentedefinida pelas categorias forma, função, estrutura e processo. Nesse sentido, Santos(2002), aprofunda a perspectiva de Lefebvre (1974), para quem o espaço, como todarealidade social, é definido metodologicamente e teoricamente por três categorias gerais: aforma, a estrutura e a função. O que significa que todo espaço social pode ser objeto deanálise formal, estrutural e funcional.

Santos (2002), assim como já vinha desenvolvendo em ensaios anteriores, insere acategoria processo. “Os processos nada mais são do que uma expressão da totalidade,eles são o instrumento e o veículo da metamorfose da universalidade em singularidade porque passa a totalidade” (SANTOS, 2007, p. 199). Do desenvolvimento de sua reflexão aolongo das últimas três décadas do século XX, resulta a síntese na qual, Santos (2008)pontua que espaço geográfico “é formado por um conjunto indissociável, solidário etambém contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não consideradosisoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá”. (SANTOS, 2008, p. 63)

A temática dos movimentos sociais está presente nos três autores referidos e dentreos aspectos convergentes de suas abordagens, destacam­se a análise a partir dasrelações contraditórias entre as classes sociais e a luta dos movimentos sociais comocondição para a libertação humana das diversas formas de exploração e opressão. Nãoobstante, compreende­se que Santos, através de seu ensaio “O espaço Geográfico comocategoria filosófica” (1988), apresenta outro desdobramento teórico­metodológicosignificativo para o entendimento da geografia dos movimentos sociais.

A sociedade em movimento pode, a um dado momento, dar­se comose fosse estática, as formas aparecem então, como o continente de umaparcela da sociedade, instrumento de distribuição da sociedade noespaço. Por isso, o valor se distribui diferentemente no espaço e cadalugar tem um valor diferente. Mas, como a sociedade não é estática –mas sim dinâmica – a cada movimento da sociedade corresponde umamudança de conteúdo das formas geográficas e uma mudança na

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distribuição do valor no espaço. Em resumo: as estruturas espaciaissão, ao mesmo tempo, um estado – o que é provisório – e são o objetodo movimento que modifica seu conteúdo – o que é permanente.(SANTOS, 1988, p.15)

Questão que possibilita refletir sobre a gênese dos movimentos sociais a partir dasdiversas formas de desigualdade que se concretizam no espaço. E, ao mesmo tempo,permite conceber que, ao se tornarem agentes da produção do espaço, os movimentosvigentes na sociedade também são capazes de forjar transformações sociais e espaciais.

Do debate sobre a geograficidade dos movimentos sociais no século XXI àconstrução de uma proposta de pesquisa: O MST e as metamorfoses naprodução do espaço

Das últimas décadas do século XX ao início do século XXI, o debate a cerca dosmovimentos sociais e sua geograficidade tem se ampliado. Entretanto, frente à explosãode novas contradições intrínsecas a dinâmica da acumulação capitalista e, diante doimpacto da teoria pós­estruturalista sobre as ciências sociais, os geógrafos têm assumidoposições diferentes no que tange a teoria e prática dos movimentos sociais. Nota­se essaquestão a partir da leitura de publicações que procuram esboçar as relações entre a teoriageográfica e os movimentos sociais, como Souza (1995, 2009), Fernandes (1996, 2000,2005), Martín (1997), Porto Gonçalves (2003), Alantejano (2006) e Ferreira (2007).

Assim, é possível inferir a existência de uma perspectiva de interpretação maispróxima a teoria dos novos movimentos, que se apóia em abordagens pós­estruturalistas,como Foucault (2008), que enfatiza a dimensão microsocietal, a fragmentação sobre oestado das coisas e o deslocamento das relações de poder para os níveis individuais. Aoencarar os movimentos sociais sob essa perspectiva, como demonstra Gohn (2004), criam­se esquemas interpretativos que enfatizam a cultura, a ideologia, as lutas sociaiscotidianas, a solidariedade entre as pessoas de um grupo ou movimento social e oprocesso de identidade criada. Entretanto, ponderam­se as possibilidades de grandestransformações sociais, pois não se considera a existência de questões estruturais, nem adisputa pelo poder de Estado, mas sim a atuação dos movimentos sociais somente noâmbito das questões específicas, cotidianas, cujo sentido da luta é a conquista deterritórios autônomos. (SOUZA, 1995, 2009), (MARTÍN, 1997)

Por outro lado, há os geógrafos que buscam se apoiar em uma perspectivaneomarxista, tendo como referencia as obras de Marx, de Gramsci, Lefebvre, dehistoriadores britânicos como Hobsbawm e Thompson8, priorizando uma abordagem

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macrosocietal, não negando a existência das classes sociais, mas enfatizando a categoriada “experiência” na sua formação e dinâmica, em detrimento da determinação estrutural.Assim procuram apontar, também, as grandes desigualdades impostas pelo capitalismo.Entre esses há diálogos com a perspectiva dos novos movimentos sociais, sobretudo coma corrente acionalista francesa, tanto quanto com a perspectiva norte americana,principalmente no que diz respeito aos ciclos de mobilização de Tarrow9, como se verificanas análises de Fernandes (1996, 2000, 2005).

Em que pesem as divergências entre alguns autores, essa linha de pensamento temprocurado apontar para a necessidade de superação da ordem capitalista. Bem comoprocura demonstrar o papel dos movimentos diante das grandes questões impostas e/(re)configuradas por esse modo de produção, como a questão agrária, a questão urbana, oracismo, o machismo, dentre os autores que se situam nessa perspectiva estão Fernandes(2000), Alantejano (2006), Porto Gonçalves (2003) e Ferreira (2007)

No que se refere às categorias analíticas utilizadas para se reconhecer a geografiados movimentos sociais, destaca­se a espacialização e territorialização, (Fernandes, 1996,2000), Martín (1997), Souza, (1995, 2009). O sentido histórico de sua práxis e o projetosocial do movimento (Alantejano, 2006). Assim como seu papel na produção do espaço(Ferreira, 2007) e sua atuação sobre a dinâmica dos lugares (Porto Gonçalves, 2003).Diante dessas e de outras referencias, do acompanhamento da práxis de um dos principaismovimentos sociais brasileiros, o MST, apresenta­se a seguinte proposta como base paracompreensão de seu papel enquanto movimento capaz de realizar transformaçõesespaciais.

As lutas do MST e as metamorfoses na produção do espaço

A expansão do modo de produção capitalista sobre a formação econômico­socialbrasileira é marcada pela desigualdade visto que o crescimento harmonioso ou equilibradoé inteiramente acidental, devido à natureza caótica da produção e circulação demercadorias no capitalismo (Harvey, 2006). Logo, na medida em que a acumulação de

8 Segundo Gohn (2004), os estudos do historiador Eric Hobsbaw, tem a preocupação de recuperar as condições concretas devida das classes trabalhadoras, suas lutas, movimentos e projetos. Já Thompson, procura resgatar a categoria da experiênciahistórica e cultural a partir da perspectiva materialista histórica, situando esse processo como central no desenvolvimento daslutas sociais. Sobre os temas consultar: HOBSBAW, E. A era dos extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995;THOMPSON, E.P. A formação da classe operária inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. v..39 A corrente acionalista francesa possui como um de seus grandes representantes Alain Touraine, o qual analisa osmovimentos sociais enquanto ações coletivas que se definem a partir de três elementos centrais: o ator, seu adversário e oque está em jogo no conflito. Sua abordagem parte de uma perspectiva macrosocietal, e privilegia a cultura e da identidade noprocesso de luta dos novos movimentos sociais. Já no que concerne ao paradigma norte americano, a abordagem de SidneyTarrow, segue a perspectiva da mobilização política em torno de recursos essenciais e na análise dos movimentos sociaispropõe a existência de ciclos de mobilização Fonte: GOHN, M. da G. Teoria dos movimentos sociais: paradigmas clássicos econtemporâneos. São Paulo: Loyola, 2004.

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capital se instaura pela subsunção do trabalho ao capital (MARX, 1985), as desigualdadessociais florescem e, em face desse processo, a dinâmica do tempo­espaço passa aexpressar tais desigualdades.

Nesse contexto, o impacto do modo de produção capitalista sobre espaço ruralbrasileiro, aprofundou uma das questões inerentes a sua formação econômica desde operíodo colonial: a questão agrária, cuja “gênese é a desigual apropriação da terra” (SUZUKI,2006, p. 221). Seu aspecto elementar, conforme a visão de Silva (1990), reside no fato dapropriedade fundiária se constituir no elemento fundamental que separa os trabalhadores dosmeios de produção na agricultura. O que implica em inúmeras conseqüências econômico­sociais, políticas e culturais para as diferentes classes e grupos sociais que atuam em tornoda mesma.

Desta forma, “o campo brasileiro vai, no seio das contradições do desenvolvimentocapitalista no país, forjando sua unidade de luta na diversidade das suas origens. É, pois,esse o caminho para a sua compreensão e entendimento: diverso e contraditório” (OLIVEIRA,1988, p.55). Por sua vez, a questão agrária passou a se configurar como um dos problemasestruturais do capitalismo tupiniquim. Na leitura de Fernandes (2008), esse problema,

[...] é criado pela lógica da reprodução ampliada do capital, que provocao desenvolvimento desigual, por meio da concentração do poderexpresso em diferentes formas, por exemplo: propriedade da terra,dinheiro e tecnologia. Esta lógica produz a concentração do podercirando um poder de concentrar, reproduzindo­se infinitamente.(FERNANDES, 2008, p.43)

Para os trabalhadores, em razão da exploração e expropriação a qual estãosubmetidos, se impôs a necessidade de resistência e luta pelo acesso à terra de trabalho,pela reprodução de sua vida com dignidade. São dessas condições e contradições que temse forjado uma dos principais movimentos sociais brasileiros e latino­americanos, o MST,que além da luta pelo acesso à terra, reivindica a reforma agrária, e se contrapõem ahegemonia do capitalismo sobre o espaço rural e a formação econômico­social brasileiraem suma.

Segundo Oliveira (1988, p. 80), “o movimento dos trabalhadores rurais sem terrarepresenta no campo brasileiro um avanço no nível de organização nacional e dadescoberta de novas formas de luta pela reconquista da terra”. Contudo, entendê­loenquanto uma nova forma de organização social e política, não significa enquadrá­lo nomodelo teórico dos novos movimentos sociais. Visto que dentre os elementos norteadoresdessa proposta teórica, está a visão de que esses movimentos representam o surgimentode novos sujeitos históricos, que viriam transcender a estrutura de classes das sociedades.(GOHN, 2004)

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Ao contrário disso, compreende­se que o MST emerge, justamente, das contradiçõesde classe intrínsecas a sociedade civil e ao Estado, na formação econômico­socialbrasileira. E, como indica Gramsci (1968), frente a dinâmica capitalista, “a sociedade civiltransformou­se numa estrutura muito complexa” (GRAMSCI, 1968, p. 73). Assim, seudesenvolvimento contraditório, permite o surgimento de movimentos sociais como“processos sociopolíticos e culturais da sociedade civil, num universo de forças sociais emconflito” (GOHN, 2004, p. 245).

Mas, sua intervenção não se restringe a esfera pública da sociedade civil, como umainterpretação Foucaultiana pode conduzir. Suas lutas sociopolíticas estão articuladas àdisputa pelos centros de exercício do poder, como os Aparelhos de Estado, nãonecessariamente em um sentido restritivo, de dominação desses aparelhos, mas,sobretudo na busca por políticas públicas.

Suas inovações residem nas formas de organização política, nas estratégias de lutaelaboradas para reivindicar suas demandas. É a partir desses processos, que se tornapossível compreender o MST enquanto um dos agentes envolvidos na produção doespaço, que ao buscar a reforma agrária e a transformação da sociedade, tambémtransforma o espaço em que se insere. Por isso a utilização do termo metamorfoses naprodução do espaço.

A espacialização e a territorialização como elementos para a compreensãoda geografia do MST

Ao conceber o espaço enquanto totalidade e tempo, frente às contradições e aomovimento inerente a dinâmica social, bem como através da utilização das categoriasforma, função estrutura e processo, abordadas por Santos (1988, 2002, 2008), earticulação das mesmas com a noção de produção do espaço na perspectiva de Lefebvre(1976), procurou­se construir a noção de metamorfoses na produção do espaço, outransformações espaciais. Assim, chegou­se a síntese provisória de que essa noçãocorresponde às mudanças na forma e/ou na função do espaço, nas suas relaçõesestruturais­superestruturais, a partir dos processos vigentes no movimento da sociedade,visto que essa só se reproduz a parir da produção de seu espaço.

Portanto, ao se inserir na totalidade espacial, frente suas estratégias de luta, épossível inferir que o MST torna­se capaz de transformar a produção do espaço atravésdos processos de espacialização e territorialização (Fernandes, 1996, 2000, 2005).Entretanto, não se consideram esses processos como a causa última de seu êxito,conforme a proposição de Martín (1997), e como critica Alantejano (2006). Apenas osmesmos são encarados como constituidores da práxis desse movimento social e, comoconceitos que permitem compreender seu papel na produção e transformação do espaço.

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Nesse sentido “espacializar” significa registrar no espaço social um processo de luta.É “escrever” no espaço por intermédio de ações concretas como as manifestações,passeatas, caminhadas, ocupações de prédios públicos, negociações, ocupações ereocupações de terras (FERNANDES, 1996, p. 136).

Por sua vez, a espacialização da luta abre a possibilidade de apropriação dosespaços em que suas ações se materializam. Assim, os espaços transformam­se emterritórios e são criadas as condições para territorialização do movimento. Ou seja, “é naespacialização da luta pela terra que os trabalhadores organizados no MST conquistam afração do território, e dessa forma, desenvolvem o processo de territorialização do MST”(FERNANDES, 1996, p. 136). Os assentamentos rurais são uma das expressões dessasconquistas parciais do movimento. Também, é importante destacar que esses processossão interativos de modo que a espacialização cria a territorialização e, é reproduzida poressa (Fernandes, 2000).

Frente essas proposições, é possível inferir que o MST, ao se inserir na luta declasses através da disputa pela superação da questão agrária no âmbito da formaçãoeconômico­social brasileira, também está inserido em uma disputa territorial. O quesignifica que o território não deve ser tratado como uma coisa, mas como o produto derelações sociais. Segundo Dematteis, (2007, p.9), “para quem raciocina como Marx, issoestá implícito e é inerente ao conflito de classe, no qual o território é mediador das relaçõessociais de produção”.

Assim, na medida em que o MST espacializa sua luta e territorializa­se enquantomovimento, transforma a produção do espaço oriunda da dinâmica imposta pelos agentesde outrora, como a ação do capital personificado nas classes sociais dominantes e naspolíticas públicas que em muitos casos vem ao encontro de seus interesses. Essastransformações abarcam a dimensão estrutural da vida no espaço rural, sobretudo, atravésda formação dos assentamentos visto que os mesmos,

[...] apresentam­se como elementos reestruturadores do campo, pois,à medida que novos assentamentos são organizados, se estabelecemnovas formas de produção, novas práticas e novas formas deorganização do trabalho. (BUTH, 2006, p.162)

Ocorre através desses processos uma metamorfose na forma e na função, noconteúdo da produção do espaço. Pois, com a formação dos assentamentos, a terra denegócio cuja expressão maior é o latifúndio, transforma­se em terra de trabalhofundamental para a produção de uma vida digna entre os trabalhadores rurais (PradoJunior, 1981).

Envolvem ao mesmo tempo transformações na dimensão superestrutural, pois “aospoucos o território dos assentamentos vai produzindo os seus próprios símbolos,

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identidades; cria significações da luta e do jeito cultural de cada um” (MEDEIROS, 2006,p.284).

Estes elementos estruturais e superestruturais passam a construir a territorialidadedos assentados. Desta forma, se reconhece que a territorialidade “reflete amultidimensionalidade do vivido territorial pelos membros de uma comunidade”(RAFFESTIN, 1993, p.158). Ela expressa uma relação com a exterioridade e pode serdefinida segundo Raffestin (1993, p.160): “como um conjunto de relações que se originamnum sistema tridimensional sociedade­espaço­tempo em vias de atingir a maior autonomiapossível”.

Sobretudo, a relação do MST com a exterioridade é marcada pelo conflito. Pois, paraterritorializar­se, o MST enfrenta diversas relações de poder, que envolvem a propriedadeda terra, o capital e as políticas estatais, nas suas relações com as classes sociaisdominantes e grupos econômicos que também atuam como agentes produtores do espaço.Estas relações expressam o exercício de um poder que é tanto econômico quanto político,pois é assegurado pelas relações econômico­sociais que permitem as classes sociais egrupos econômicos que especulam a grande propriedade das terras, incidir sobre osaparelhos de Estado.

Nesse contexto, o poder expressa “a capacidade de uma classe social realizar seusinteresses objetivos específicos” (Poulantzas, 1977, p.100). Também se configuram centrosde exercício do poder e, o Estado pode ser considerado, “o centro do exercício do poderpolítico” (Poulantzas, 1977, p.111).

Não obstante, as relações de poder empreendidas por esses agentes produtores doespaço impactam a dimensão simbólica da vida social. Pois, através das relações culturaisque estabelecem no âmago da sociedade civil, em que a ideologia da grande propriedadeé difundida, forja­se uma forma transfigurada de poder. Poder simbólico, que segundoBourdieu (2005), é uma forma transformada, oriunda de outras expressões do poder. Omesmo tem a capacidade de,

[...] constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, deconfirmar ou de transformar a visão do mundo e, deste modo, a açãosobre o mundo, portanto o mundo; poder quase mágico que permiteobter o equivalente daquilo que é obtido pela força (física oueconômica). (BOURDIEU, 1998, p.14).

O enfrentamento a essas relações de poder corrobora com a tese de que aterritorialização é, “em primeiro lugar, um processo que envolve o exercício de relações depoder e a projeção destas no espaço” (SOUZA, 2009, p. 60). E que essas relaçõesabrangem múltipas dimensões, que vão “do poder mais material das relações econômico­políticas, ao poder mais simbólico das relações de ordem estritamente cultural”.(HAESBAERT, 2006, p.79)

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Dessa maneira, pode­se reconhecer que a territorialidade e a territorializaçãoenglobam respectivamente, a relação com a exterioridade e a busca por autonomia,(Raffestin, 1993); bem como o exercício de relações de poder (Raffestin, 1993; Souza,2009 e Haesbaert, 2006). Também é possível identificar que a territorialidade construídapelos militantes desse movimento social delineia­se nos moldes do que Dematteis eGoverna (2005), definem como territorialidade ativa. A qual deriva “da ação coletivaterritorializada e territorializante dos agentes locais e se dirige a construção de estratégiasde inclusivas” (DEMATTEIS; GOVERNA, 2005, p. 45).

Na construção desta territorialidade segundo Dematteis e Governa (2005), os agentesse inserem nas relações de poder local sem aceitar as imposições e as estratégias decontrole dominantes, pois as examinam de forma ativa.

En la territorialidad activa los agentes juegan papeles y desarrollanacciones. Se configuran, de este modo, estrategias de respuesta y deresistencia respecto a la impositiva del control y así se construyentambién cambios e innovaciones” (DEMATTEIS; GOVERNA, 2005,p.45)

Portanto, é possível reconhecer que outras expressões das transformações naprodução do espaço residem nas mudanças das relações de poder, pois “qualquerassentamento, com o simples ato de ser criado, altera as relações de poder local”. (BUTH,2006, p.162). Tanto quanto demonstra que categoria lugar, se torna significativa para oentendimento da espacialidade construída pela MST. Como alerta Porto Gonçalves (2003),deve­se considerar com mais atenção o lugar em que ocorrem determinados conflitos,visto que este é constituído por relações, sobretudo por lutas sociais.

Frente esses processos, acredita­se que é possível compreender as transformaçõesnas formas, na função, na estrutura e nos símbolos da produção do espaço, dos processosde luta do MST, ainda que essas possam ser limitadas e condicionadas por uma série defatores, como o meio natural em que se inserem; a correlação entre as forças sociais; aconjuntura política; a seletividade das políticas públicas inerente ao estado capitalista(OFFE, 1984), que funciona como um sistema de filtro que busca consolidar as estratégiasde acumulação de capital e ao mesmo tempo neutralizar seus efeitos negativos, através daimplementação de políticas que visam minimizar a exclusão gerada pela sua natureza declasse. Questões que ora fortalecem a luta pela reforma agrária, ora fortalecem a ação dosgrandes propriedades de terra na dinâmica da produção do espaço.

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Considerações finais

A reflexão sobre o espaço enquanto instância da sociedade na perspectivamaterialista histórico­dialética conduz a renovação do olhar e da posição política dosgeógrafos sobre os processos vigentes em seu tempo. Assim, a geografia se mantémcomo um saber estratégico, que pode estar a serviço da dominação ou da libertação do sersocial. Negar essa condição seria incorrer num erro de tipo positivista que afirma aneutralidade axiológica das ciências sociais, que em última instância significa a ocultaçãodas contradições vigentes na sociedade de classes.

Não obstante, quando se fala em territórios do MST, ou na sua capacidade detransformação social e espacial, não se deve imaginar uma autonomia total. Mas, em umaautonomia relativa forjada no processo da luta sociopolítica do movimento. Também, o fatodessas lutas possuírem um sentido anticapitalista, sobretudo ao enfrentar um doselementos centrais da ordem do capital, como a propriedade privada dos meios deprodução, não significa que esse movimento social seja detentor de um projeto socialtotalizante para o Brasil.

Assim, é necessário reafirmar que a transformação em sua totalidade, na sociedade eno espaço, só será possível mediante a superação da ordem capitalista. Tarefa que não seresume a luta dos movimentos sociais como o MST, mas de uma aliança estratégica entreas diversas forças sociopolíticas e os diversos intelectuais que se identificam com a classetrabalhadora na formação econômico­social brasileira.

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