Correntes Pedagogicas Contemporâneas I - Texto Apoio

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Correntes pedagógicas contemporâneas

do ensino da música I

EDWIN GORDON

a) Conceitos chave da pedagogia

O desígnio primeiro da pedagogia de Edwin Gordon, é

ensinar aos alunos como compreender a música que estão a

ouvir, que já ouviram e que irão ouvir. Deste modo, o

pensamento musical estará em vantagem sobre o pensamento

acerca da música. “Toda a aprendizagem, e a música não é

excepção, começa pelo ouvido e não pelo olho”1. Assim, para

Edwin Gordon, é fundamental começar por ouvir música, de

preferência de características diferentes, tendo como

preocupação que ela seja executada por músicos de qualidade.

Para o pedagogo americano, a música a ouvir não tem que ser

de nenhum género específico.

A teoria de aprendizagem musical de Edwin Gordon

tem implícita a distinção entre aptidão musical e aquisição de

conhecimentos musicais.

Segundo ele, a aprendizagem musical deve ser

adaptada aos diferentes níveis de aptidão musical de cada

aluno. Deste modo, sentiu a necessidade de desenvolver:

Testes de aptidão musical – destinados a avaliar o

potencial musical do aluno para aprendizagens futuras. Os

testes de aptidão musical têm como objectivo principal

diagnosticar para melhorar a instrução, adaptando-a às

necessidades individuais. “Todos podem fazer música, embora

nem todos atinjam igual nível”.2

1 Edwin Gordon. Learning Sequences in Music: Skill, Content and Patterns. Chicago: GIA Publications, 19932 Helena Rodrigues. Thank You, Doctor Gordon, in APEM Boletim n.º 88. Lisboa, 1996, pp. 8 - 14

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Testes de realização musical – destinados a avaliar a

aquisição de conhecimentos do aluno com um

determinado nível de aptidão musical.

Gordon critica o ensino tradicional que se dirige á

mediania dos alunos, o que, em sua opinião, faz com que

os mais fracos fiquem frustrados e os mais aptos

desmotivados.

“A forma como normalmente a música é ensinada é

retrógrada; ensina-se como se foi ensinado, com muitos erros

metodológicos”.3

“Audiation”

Audiation é “a capacidade para ouvir e compreender

musicalmente quando o som não está, nem nunca esteve,

fisicamente presente.”4

O processo de audiation é análogo ao da linguagem:

quando se escuta alguém a falar, entende-se a mensagem a

partir do que se ouve e também a partir da capacidade de

prever o que o outro vai dizer. Do mesmo modo, consegue-se

ouvir música e ao mesmo tempo audiate música, pelo que, para

o autor “a audiation está para a música, assim como o

pensamento está para a linguagem.”5

Para Edwin Gordon a verdadeira apreciação musical

exige compreensão, no sentido de que aprender música é ser

guiado de forma a dar significado àquilo que se ouve. Perante o

mesmo excerto musical pode exercer-se a capacidade de

audiation em termos de compreensão tímbrica, harmónica,

melódica ou rítmica.

3 Citado por RODRIGUES, H. (1996) “Entrevista a Edwin Gordon”. Associação Portuguesa de Educação Musical. Boletim 90, pp. 7-114 Edwin Gordon. Learning Sequences in Music: Skill, Content and Patterns. Chicago: GIA Publications, 19935 Edwin Gordon Apud Helena Rodrigues. Thank You, Doctor Gordon, in APEM Boletim n.º 88, Lisboa, 1996, pp. 8 - 14

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Embora sem comunicação, a música não é uma

linguagem, uma vez que não é imediata a associação entre som

e símbolo. No entanto, o seu processo de aprendizagem deve

ser idêntico ao processo de aprendizagem de uma linguagem.

Neste contexto, ele dá especial relevância à imitação,

pois considera-a a base do desenvolvimento da aprendizagem

musical e compara este processo de aprendizagem ao da

aprendizagem de uma linguagem.

Uma criança deve compreender antes de repetir, não

reduzindo, desta forma, a imitação a um processo exclusivo de

desenvolvimento da memória.

Assim, o aluno deve ser capaz:

1.º ouvir fisicamente;

2.º ouvir interiormente;

3.º reproduzir os motivos que vai ouvindo.

Este processo vai-se tornando mais complexo à medida

que a aprendizagem vai avançando, o mesmo acontecendo com

a consciência musical daquilo que se ouve.

“Imitar é aprender através dos ouvidos dos outros.

Audiation é aprender através dos nossos próprios ouvidos.”6

b) Teoria da aprendizagem musical

“Toda a aprendizagem, e a música não é excepção,

começa pelo ouvido e não pelo olho.”7

O objectivo da teoria da aprendizagem musical de

Gordon é ensinar aos alunos como compreender, através da

audiation, a música que estão a ouvir, que já ouviram e que irão

ouvir. Deste modo, o pensamento musical estará em vantagem

sobre o pensamento acerca da música.

6 GORDON, E. (1993) “Learning Sequences in Music: Skill, Content and Patterns”, GIA Publications, Inc, Chicago7 GORDON, E. (1993) “Learning Sequences in Music: Skill, Content and Patterns”, GIA Publications, Inc, Chicago

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Para Gordon, a teoria da aprendizagem musical é

evolutiva. Combina conhecimentos sobre aprendizagem musical

sequencial, sobre aptidão musical e sobre audiation. Para que

isto aconteça, os professores devem se envolver no processo de

ensino e ensinar aos alunos aquilo que eles próprios necessitam

de aprender. Devem-se considerar “professores estudantes”.

As actividades de aprendizagem sequencial

constituem, pois, uma espécie de vocabulário musical que

ajudam o aluno a encontrar a sintaxe daquilo que ouve.

Sequências da aprendizagem musical

Na teoria da aprendizagem musical de Gordon há duas

sequências de aprendizagem musical:

1- Aprendizagem sequencial de conteúdos melódicos

(tonal content learning sequence), que inclui a

aprendizagem sequencial de padrões melódicos;

2- Aprendizagem sequencial de conteúdos rítmicos

(rhythm content learning sequence), que inclui a

aprendizagem sequencial de padrões rítmicos.

Estas duas sequências devem ser usadas em conjunto.

Segundo Gordon, a aprendizagem musical pode ser

dividida em: aprendizagem detalhada e aprendizagem

conceptual. Na primeira, o aluno está consciente do que está a

aprender, mas embora não o entenda totalmente, está a ser

ensinado, isto é está a ser “guiado” pelo professor. Na segunda,

o aluno não tem consciência do que está a aprender porque

está a aprender por ele próprio, ou seja, está a vivenciar a sua

própria experiência. Através da utilização da aprendizagem

sequencial, o professor ensina aos alunos na aprendizagem

detalhada como e o que aprender, enquanto que na

aprendizagem conceptual ensina como aprender.

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Gordon reforça a ideia de que é importante que a

criança encontre a sua voz cantada, diferenciando-a da voz

falada. A utilização de canções sem letra é fundamental para

que haja também uma distinção clara entre voz falada e voz

cantada, pois só assim se consegue que a criança se concentre

no som e exercite a sua capacidade de audiation. Só

posteriormente faz sentido usar canções com letra. “Do mesmo

modo que pensar é ‘falar silenciosamente’, a audiation é ‘cantar

silenciosamente’ ”.8

KEITH SWANWICK

Keith Swanwick tem uma abordagem expressionista

dos objectivos principais da sua pedagogia. A música é

abordada na sua vertente emocional.

Para Swanwick a música é uma forma de cada um

manifestar os seus sentimentos. A sua preocupação centraliza-

se no desenvolvimento de uma educação estética que privilegie

o relacionamento humano e contribua para um crescimento

harmonioso de todos.

A improvisação está inserida num conjunto de cinco

postulados que se relacionam e completam entre si: C –

composition (composição), (L) – literature studies (literatura

sobre música ou literatura musical), A – audition (audição), (S) –

skill aquisition (aquisição de competências) e P – performance

(desempenho).

A composição, audição e desempenho (C, A e P)

pertencem à categoria de actividades de avaliação estética,

enquanto que a literatura musical e a aquisição de

competências são actividades cimentadoras das anteriores.

Para Swanwick todo e qualquer conceito a ensinar deve

passar pela realização de actividades de composição, audição e

8 Edwin Gordon Apud Helena Rodrigues. Thank You, Doctor Gordon, in APEM Boletim n.º 88. Lisboa, 1996, pp. 8 - 14

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desempenho (performance), apoiadas pela informação literária

sobre o conceito e aptidões relacionadas com o conceito.

A improvisação deve, pois, estar sempre presente no

ensino da música, podendo e devendo ser utilizada como forma

de proporcionar aos alunos experiências ricas e criativas que

lhes desenvolvam o sentido estético e lhes permitam encarar o

mundo e a sociedade onde vivem de outra maneira.

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