CRIANÇA ESPERANÇA: A IDEOLOGIA DO SOLIDARISMO SOCIAL
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7/24/2019 CRIANA ESPERANA: A IDEOLOGIA DO SOLIDARISMO SOCIAL
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CRIANA ESPERANA: A IDEOLOGIA DO SOLIDARISMO
SOCIAL1
Nayad Pereira AbonizioEspecializao em Ensino de Sociologia Centro de Cincias Humanas
Universidade Estadual de Londrinanayad_abonizio!otmail"com
#rientador$ %ro&" 'r" (riovaldo Santos
Introduo
(presenta)se* neste artigo* elementos de pes+uisa ainda em curso cu,o
ob,etivo - investigar o +ue se encobre na emisso da .ede /lobo de 0eleviso*
denominado %rograma Criana Esperana 1%CE2" # intuito da investigao proposta -e3trair* se,a do %rograma em si* se,a atrav-s de material contido em seu site* um con,unto
de pr4ticas discursivas +ue operam en+uanto poss5vel instrumento ideol6gico* +ue re&ora
estruturas de dominao ao mesmo tempo em +ue serve ao capital para +ue este manten!a
seus mecanismos de produo e reproduo social"
7a origem da nossa investigao veri&icou)se +ue parte dos artigos
consultados e publicados +ue tratam desta tem4tica* analisam o %CE apenas como uma
mani&estao do +ue se convencionou c!amar por 0erceiro Setor* desvinculando o %CE de
+ual+uer iniciativa +ue contribui para re&orar as estruturas de dominao propostas pela
sociabilidade capitalista" %or isso se &az necess4ria uma discusso apro&undada do re&erido
ob,eto* de modo a perceber como o %rograma - carregado de ideologia* ao mesmo tempo
em +ue esta se apresenta estruturada* de modo a ser capaz de criar o esp5rito solid4rio nos
indiv5duos" 7este intuito de buscar a !armonia social* oculta a e3istncia das classes
sociais e as possibilidades de +ual+uer tentativa de embate entre elas"
Com base no e3posto* a !ip6tese central +ue a+ui desenvolvemos
recon!ece +ue a iniciativa do %CE en&ra+uece as tentativas de trans&ormao da estrutura
social baseada no capitalismo* uma vez +ue* &az com +ue os indiv5duos percebam a
necessidade de mudanas* sem* contudo estabelecer uma leitura +ue desvende os
10rabal!o orientado pelo %ro&" 'r" (riovaldo de #liveira Santos 1%ro&essor (ssociado C do 'eptode Cincias Sociais da Universidade Estadual de Londrina2"
1
mailto:[email protected]:[email protected] -
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verdadeiros ne3os da vida social e os reais camin!os para a supresso da mis-ria +ue
supostamente pretende combater e eliminar" %elo contr4rio* o +uepassa aser absorvido por
amplos estratos da sociedade - a necessidade de se &orti&icar os laos de solidariedade e
deste modo tentar promover a !armonia social" (ssim* o terreno no +ual se move o %CE
no -* e&etivamente* o da cr5tica social e sim o do re&ormismo social* dentro de um esp5rito
religioso sem religio"
Proedi!ento" Metodo#$%io"
%ara dar conta do ob,etivo proposto por este estudo a investigao tem
sido acompan!ada pelo levantamento bibliogr4&ico* procurando materiais +ue contribuam
no sentido de mel!or problematizar a leitura de mundo proposta pelo %CE* cu,a
perspectiva consiste em legitimar os es&oros se prop8em 9 amenizao das desigualdades
sociais" %ara isto nos apropriamos de autores cl4ssicos e contempor:neos +ue &ornecem
elementos para o estabelecimento da devida cr5tica a estas propostas" (l-m disso*
consultamos peri6dicos com a &inalidade de au3iliar nos campos abrangidos pelo %CE no
levantamento de dados +ue demonstrem o investimento do Estado no per5odo desde ;
aos dias atuais* contrariando o +ue - e3posto 9 sociedade* pelo %CE* de +ue o Estado ,4 no
desempen!a um papel decisivo"
Este percurso - &undamental para +ue bus+uemos apreender o ob,eto em
sua essncia" %ara +ue se c!egue a essncia do ob,eto* - necess4rio apreender a ?coisa em
si@* +ue - o ob,eto tal como ele -* no como ele se apresenta* a n5vel imediato* para o
con,unto da sociedade" Asto e3ige pensar o ob,eto para al-m do &enomnico* sem
desconsiderar* contudo* +ue esta dimenso - parte integrante do comple3o do ob,eto e* ao
mesmo tempo* momento constitutivo e constituinte de outros comple3os" Seguimos* pois*
a+ui* camin!o alertado por Bosi 1D>>D2* +uando a&irma$
%ortanto* a realidade no se apresenta aos !omens* 9 primeira vista* sob oaspecto de um ob,eto +ue compre intuir* analisar e compreenderteoricamente* cu,o p6lo oposto e complementar se,a ,ustamente o abstratosu,eito cognoscente* +ue e3iste &ora do mundo apresenta)se como ocampo em +ue se e3ercita a sua atividade pr4tico)sens5vel* sobre cu,o&undamento surgir4 a imediata intuio pr4tica da realidade" 7o tratopr4tico)utilit4rio com as coisas em +ue a realidade se revela comomundo dos meios* &ins* instrumentos* e3igncias e es&oros para satis&azera estas o indiv5duo Fem situaoF cria suas pr6prias representa8es dascoisas e elabora todo um sistema correlativo de no8es +ue capta e &i3a oaspecto &enomnico da realidade" 1B#SAB* D>>D* p" ;G2"
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Embora o car4ter do %CE se apresente como algo positivo por tentar
sanar a situao de mis-ria +ue a l6gica capitalista imp8e a parte da sociedade* a iniciativa*
+ue tem na m5dia um de seus pontos de sustentao e divulgao* no pode ser analisada
sem considerar +ue ela &az parte da 6rbita dos interesses do capital* e por isso* traz consigo
uma determinada &orma de ideologia +ue* aparentemente neutra* do ponto de vista social*
e&etiva* na pr4tica* uma &alsa leitura da realidade" ( pseudoconcreticidade - o mundo da
aparncia* sua destruio - a superao da aparncia" ( realidade* ou se,a* a+uilo +ue
e3iste* se mani&esta em um primeiro momento nos seus traos mais gerais* +ue - a
aparncia" Com a investigao se desvenda o +ue a realidade realmente -" C!ega)se 9
essncia"
# &enmeno no - radicalmente di&erente da essncia* a essncia no -uma realidade pertencente a uma ordem diversa da do &enmeno" Se assim&osse e&etivamente* o &enmeno no se ligaria 9 essncia atrav-s de umarelao 5ntima* no poderia mani&est4)la e ao mesmo tempo escond)la asua relao seria reciprocadamente e3terna e indi&erente" Captar o&enmeno de determinada coisa signi&ica indagar e descrever como a coisaem si se mani&esta na+uele &enmeno* e como ao mesmo tempo nele seesconde" Compreender o &enmeno - atingir a essncia" Sem o &enmeno*sem a sua mani&estao e revelao* a essncia seria inating5vel" 7omundo da pseudoconcreticidade o aspecto &enomnico da coisa* em +ue acoisa se mani&esta e se esconde* - considerado como a essncia mesma* ea di&erena entre o &enmeno e a essncia desaparece" 1I2 ( realidade - aunidade do &enmeno e da essncia" %or isso a essncia pode ser to irreal+uanto o &enmeno* e o &enmeno tanto +uanto a essncia* no caso emquese apresenta isolados e* em tal isolamento* se,a considerados como aJnica ou FautnticaF realidade" 1B#SAB* D>>D* p" ;K2"
preciso pes+uisar o ob,eto amarrando a esta an4lise as v4rias dimens8es
+ue o cercam* e apenas deste modo ser4 poss5vel re&letir sobre o %CE como um dos
poss5veis instrumentos ideol6gicos* mantenedores da estrutura social vigente"0are&a cu,a
realizao se torna poss5vel$
1"""2 recorrendo compulsoriamente 9 abstrao* avana do emp5rico 1os?&atos@2* apreende as suas rela8es com outros con,untos emp5ricos*pes+uisa a sua gnese !ist6rica e o seu desenvolvimento interno ereconstr6i* no plano do pensamento todo esse processo" 17E00#* ;
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#s resultados esperados com o desenvolvimento deste trabal!o -
demonstrar como o %CE - um instrumento ideol6gico +ue au3ilia na manuteno da ordem
capitalista" %or +ue* ainda +ue este pro,eto atue com a perspectiva de atender a
individualidades pertencentes 9 classe dos no propriet4rios dos meios de produo*
genericamente identi&icados como ?os e3clu5dos@* apresentando)se* pois* como tentativa de
a,udar a classe desprovida de bens materiais* - preciso demonstrar como o discurso e 9s
pr4ticas +ue est4 por detr4s destas a8es imediatas cria obst4culos 9 construo de um
pro,eto de sociedade +ue supere o modo de produo capitalista" Uma vez +ue* a ao
deste pro,eto em nen!um momento se reporta 9 possibilidade de trans&ormao social
e&etiva* &icando em suas dimens8es mais gen-ricas* isto -* mel!orias nas condi8es de vida
para agrupamentos espec5&icos atendidos pelo %CE" # +ue - reiterado - a necessidade de
desenvolvimento de um esp5rito de ,ustia e solidariedade* onde todos os indiv5duos se
mobilizem na busca de uma sociedade menos desigual" ( ideia de +ue a sociedade
capitalista pode ser re&ormada a ponto de +ue toda a sociedade se bene&icie - uma leitura
&etic!izada* +ue o %CE a,uda a di&undir* e isto se d4 pelo &ato de +ue a pr6pria l6gica
interna do capitalismo re+uer a e3istncia de contradi8es sociais para sua permanncia"
Espera)se +ue este trabal!o au3ilie aos +ue de alguma &orma esto
inseridos em pro,etos* #7/s e tamb-m aos pro&issionais da educao* a pensar sobre o
discurso +ue est4 por detr4s das inJmeras iniciativas +ue consideram a participao da
sociedade civil e a busca de uma sociedade mais !armoniosa" E assim* al-m do esp5rito
positivo destas a8es* se abarcadas no como meio para misti&icar o real e sim como
iniciativa +ue* contemplando a totalidade do social em seu movimento contradit6rio
1dimenso imposs5vel nestas iniciativas midi4ticas2 possa impulsion4)lo a outros patamares
des&etic!izados de sociabilidade de car4ter* estabelea a discusso sobre a &alta de um
pro,eto +ue supere os moldes nos +uais a sociedade capitalista est4 assentada" Uma vez
+ue* agir no imediato* ainda +ue ten!a sua import:ncia* no rompe com as contradi8esinerentes a ordem vigente* embora no imediato* espao tempo no +ual se d4 a
continuidade* se,am traados os camin!os para a construo de um outro pro,eto de
!umanidade"
O Pro%ra!a Criana E"'erana
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Criado em ;
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a realidade pode ser apreendida ontol6gicamente* isto -* todas as a8es so e podem ser
desvendadas em sua cone3o interna* e o %CE no escapa a esta determinao" (o no
partir deste princ5pio* /omes dissolve a relao de classes e3istente na sociedade
capitalista* pois para ela a diviso consiste na simpli&icao +ue divide ?o mundo entre
dominantes e dominados@" 1/#PES* D>>M* p" ;K2"
7o lugar da an4lise cr5tica* o +ue se apresenta em /omes 1D>>M2 - uma
leitura do problema na +ual organiza8es no estatais* associa8es de bairro e volunt4rios
de di&erentes 4reas so c!amados a propor medidas +ue atenuem a disparidade e3istente na
sociedade brasileira" # v5nculo desta iniciativa com a U7ESC# acentua este car4ter de
parcerias entre o setor pJblico* a iniciativa privada e a sociedade civil* uma vez +ue - a
pr6pria #rganizao das 7a8es Unidas para a Educao* Cincia e a Cultura +ue
seleciona os pro,etos +ue recebero a verba arrecadada com o %CE"
/omes 1D>>M2 diz +ue a atuao das m5dias tem redesen!ado a realidade*
e* por isso* tem dado origem a novos modos de sociabilidade" Essas novas &ormas de
sociabilidade destacadas contam com a ascenso do 0erceiro Setor" Contudo* esta
a&irmao - um e+u5voco se considerada +ue as rela8es de sociabilidade +ue estruturam o
%CE* - a capitalista" ( relao capital e trabal!o permanece"
Certamente* neste processo* a m5dia televisiva desempen!a um papel
importante* destacado por /omes$
a+ui +ue a televiso* mas especi&icamente a verso em canal aberto da/lobo* entra* atuando na disputa por um lugar de desta+ue nesse +uadrode mobiliza8es" Quase sempre identi&icada com &un8es deentretenimento* o sistema televisivo se prop8e a agir em um territ6riotradicionalmente reservado ao sistema social pol5tico em especial a+uelerepresentado pelo poder pJblico bem como com outros sistemas dasociedade" Ela anuncia contribuir de maneira e&etiva com a resoluo dosproblemas sociais abordados* como se &ora uma mobilizadora de primeiraordem dessas +uest8es" 1/#PES* D>>M* p" ;
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Soiedade Ci(i#: Mar) e o PCE
preciso especi&icar a perspectiva adotada pelo %CE e tamb-m pela
U7ESC# +uanto 9 especi&idade do conceito de sociedade civil" Anversamente ao discutido
por Par3 para +uem a sociedade civil est4 na base da sociedade de classes* o %CE se
apropria deste termo* mas &ornecendo)l!e uma nova conotao* mais identi&icada ao uso
+ue l!e - dado por autores como Habermas* 0oc+ueville entre outros" %or este camin!o
destaca +ue a ao da sociedade civil baseia)se na organizao dos indiv5duos na de&esa de
seus interesses privados" Como os indiv5duos no se identi&icam como pertencentes a uma
classe social* no conseguem visualizar a diviso imposta pelo capital" %ortanto* eles no
compreendem +ue uma poss5vel organizao em classes se,a capaz de trans&ormar a
realidade" # resultado - +ue cada um age con&orme seus interesses privados" Contr4rio a
Par3* onde por !aver di&erentes interesses de classe a possibilidade do con&lito - latente* a
inverso no uso do conceito de sociedade civil trans&orma a vida social em espao de
di4logo e entendimento e a pr6pria sociedade civil em complemento do Estado e do
mercado" 7este caso* a sociedade civil deve ?tecer uma Rrede de solidariedade +ue se,a
capaz de proteger os mais pobres@ 1%A7HEA.#* p"=K2" %ara tanto* - proposta a
participao cidad em organiza8es diversas* a &im de
ampliar o poder popular dos oprimidos e e3plorados* 1e assim2 conter asinsatis&a8es destes e pulverizar a participao e lutas sociais* retirando ocar4ter trans&ormador e classista destas e trans&ormado)as em atividadesde&ensoras dos interesses espec5&icos de pe+uenos grupos 1"""2 trata)se emJltima inst:ncia de um pro,eto conservador" 1%A7HEA.#* p"
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direta do pr6prio movimento e da contradio insolJvel do capital" .eduzem a contradio
9 ausncia de solidariedade entre as pessoas* as +uais no so identi&icadas pelo programa
+uanto ao seu pertencimento de classe" (pontam* ainda* para a necessidade de construir a
boa vontade e o envolvimento abstrato de todos &ace aos problemas detectados"
Envolvimento este +ue independe da classe social na +ual o su,eito est4 inserido* uma vez
+ue* tanto o trabal!ador +uanto o burgus podem ter o sentimento de a,uda mani&estado"
/omes 1D>>M2 transcreve uma entrevista da coordenadora geral da Trea
%rogram4tica e de Cincias Humanas e Sociais da Unesco Parlova 7oleto concedida a
apresentadora (na Paria raga* onde a mesma e3plicita +ue a o %CE est4 mudando a vida
das pessoas" Vaz)se necess4rio compreender no +ue consite essa ?mudana@ para o
programa" %reparar para uma nova sociabilidade ou incluir na condio de ?cidados
assalariados@W 'e acordo com a descrio e3posta no site do %CE* os pro,etos &inanciados
no ano de D>>
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in,usta* capazes de serem re&ormadas e se tornarem sociedade menos desigual ou menos
in,usta"
Um ol!ar cr5tico acerca do %CE - imprescind5vel* ainda* para entender
como o capitalismo di&unde seus ideais atrav-s de instrumentos de misti&icaocada vez
mais sutis" Um deles remete diretamente ao papel do Estado" # %CE em certo sentido +uer
ocupar o espao +ue seria do Estado burgus* sem +ue* no entanto* nem o Estado burgus
nem o programa e3plicitem as contradi8es sociais"
( n&ase na suposta capacidade destes programas em resolver as
desigualdades e3istentes obscurece o papel +ue o Estado burgus est4 c!amado a
desempen!ar &ace 9s contradi8es dos interesses de classe dominantes e por ele sustentados
e* mesmo o papel +ue ,4 vem desempen!ando com seus programas +ue se e3pressam* por
e3emplo* n6s Jltimos governos &ederais* sob a &orma de ?bolsas@ aos mais necessitados
socialmente" ( mensagem transmitida pelo %CE e direcionada ao con,unto da sociedade
no traduz o +ue realmente acontece* pois o poder pJblico contribui signi&icativamente
com recursos destinados ao apoio 9 mel!oria de condio de vida das crianas e
adolescentes* atrav-s de programas sociais" (ssim* o car4ter ideol6gico deste programa
consiste em obscurecer a primazia do Estado na concretizao de pol5ticas pJblicas* e
passar para o voluntariado esta tare&a* induzindo o grande pJblico a acreditar +ue de
alguma maneira ir4 estabelecer &ormas de garantir +ue os direitos b4sicos se,am o&ertados"
Pas* 9 medida em +ue atende os interesses de manuteno da ordem e criao de laos de
solidariedade social entre os indiv5duos* a pr6pria es&era estatal se v na condio de
manter)se em silncio* pois o +ue importa -* em Jltima inst:ncia* manter vivo os interesses
do capital"
O Mundo da P"eudoonretiidade
(s representa8es +ue &azemos sobre determinado &enmenoXob,eto so&ormuladas sem +ue o su,eito apreenda todas as &aces do ob,eto" Como o su,eito de vida
cotidiana em geral* no tem clareza sobre a realidade* ele age atrav-s da intuio" Suas
percep8es* dadas pela imediaticidade* o ?guiam@* uma vez +ue ele considera apenas o
car4ter e3terno do ob,eto" 0omando como e3emplo o %CE* as representa8es +ue se &azem
deste tipo de iniciativa* - +ue - partir delas* ou se,a* atrav-s do solidarismo* !aver4 a
superao da mis-ria social" 7o %CE tem)se a sedimentao destas representa8es* a da
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capacidade do programa em sanar as problem4ticas sociais* e isto &ica claro +uando !4 o
envolvimento de grande parte dos indiv5duos a,udando de alguma &orma o programa" Essa
ao pautada nas representa8es comuns* ou se,a no campo da aparncia* - &etic!izada"
%ois* o %CE desconsidera o papel do Estado* +ue contribui atrav-s de pol5ticas sociais para
o mel!oramento da sociedade e tamb-m age como se esses programas de car4ter pontual
so su&icientes para trans&ormar de &ato a vida dos su,eitos* mesmo estando dentro da
l6gica capitalista" %or-m* os seres sociais* as individualidades envolvidas com a re&erida
+uesto no se percebem agindo em sintonia com a aparncia do problema* uma vez +ue*
para eles* esta diviso entre aparncia e essncia nem se apresenta" %or isso* +uando
a,udam o %CE* no vem o mascaramento das contradi8es sociais e sim a possibilidade de
superar a mis-ria a partir da a,uda de todos"
De"en(o#(i!ento
# %CE trata de inJmeros problemas relacionados a crianas e
adolescentes brasileiros" ( perspectiva adotada pelo %CE - a doao por parte dos
telespectadores* de din!eiro +ue servir4 para o &inanciamento de pro,etos espal!ados pelo
pa5s" 'entre as poucas an4lises acadmicas sobre o %CE encontra)se a de Patos 1D>>=2" (
re&erida autora no analisa especi&icamente o %rograma Criana Esperana* mas discute
sobre a maneira como a m5dia trata do tema ?e3cluso social@* a&irmando em seu trabal!o
o modo como os meios de comunicao so instrumentalizados para ?engendrar valores*
comportamentos* vis8es de mundo* pr4ticas sociais +ue tentam* en&im* propor aos su,eitos
1tele2 leitores lentes* &ormas* atrav-s das +uais devemXpodem ol!ar para o mundo"@ 1p";2"
(inda de acordo com Patos 1D>>=2* o modo como as problem4ticas
sociais so abordadas pela m5dia* denotam a de&esa de um determinado discurso* &onte de
determinadas pr4ticas" ( mensagem preponderante na m5dia* e* conse+uentemente no
%CE* incita a solidariedade entre os su,eitos sociais" importante destacar +ue* apesar do%CE tratar de desigualdades sociais* em nen!um momento - discutido a !istoricidade de
determinada situao* avaliando as pol5ticas sociais em curso e os parado3os e3istentes" #
tratamento dado a esta tem4tica articula uma s-rie de elementos +ue ?permite a
institucionalizao social de certos sentidos 1"""2 e do silenciamento de outros sentidos@"
1P(0#S* D>>=* p" G2" En+uanto a solidariedade - destacada* a contestao sobre o
capitalismo no - considerada em nen!um momento" ( autora discorre +ue a m5dia re&lete
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a sociedade* mas de uma maneira +ue no condiz essencialmente com o real" #s !omens
passam a agir con&orme as representa8es +ue a m5dia e3p8e* caracterizando uma pr43is
&etic!izada" ( e3cluso social - utilizada como entretenimento" # auge deste espet4culo
ocorre +uando um dos indiv5duos e3clu5dos consegue sair da condio de miserabilidade"
(s gl6rias destinadas a esta realizao* +uando no - vista sob a perspectiva individual* ou
se,a* o su,eito conseguiu pelo seu es&oro pr6prio* - dedicada a programas como o
analisado a+ui" este racioc5nio +ue torna v4lida essas iniciativas"
#utra autora a se debruar sobre o problema - /omes 1D>>M2* segundo
ela* ao c!amar a ateno da sociedade atrav-s do apelo emocional* o programa
parece pretender me3er com a capacidade do telespectador em sergeneroso* mobilizando mesmo um potencial de culpa ,udaico)crist to&orte em nossa cultura" Ser capaz de doar signi&ica Fter corao abertoF*por conse+uencia* no doar - ser mes+uin!o e insens5vel 9 situao dascrianas e adolescentes +ue podero ser bene&iciados@ 1/#PES* D>>M* p";ND2"
Esta &orma de abordar a +uesto conduz a uma polarizao na +ual o %CE
divide a realidade entre o bem e o mal" ( +uesto social - desistoricizada* o mesmo
ocorrendo com as a8es dos indiv5duos" (o a,udar* o su,eito - bom* caso se omita* ele -
mau" /omes 1D>>M2 ,ulga +ue !4 o esvaziamento da pol5tica nesta &orma de analisar o
problema" %ara ela$'eve)se levar em conta* entretanto* +ue o valor do Fbom !omemF* +ue emalguma medida apro3ima)se do F!omem cordialF +ue demarcaria nossabrasilidde tradicional 1na verdade* !istoricamente imposta2* remete a umaperspectiva potencialmente apol5tica" asta ter FcoraoF para saber anecessidade de contribuir* no importando a noo sobre a condiosocial* pol5ica e econmica do pa5s@ 1/#PES* D>>M* p" ;ND2"
Segundo a autora a ao do %CE - apol5tica" Pas* na verdade* ela no -
apol5tca* e sim pol5tica* +uando se considera +ue o aprisionamento social da conscincia no
plano da &etic!izao do social contribui para +ue a,a a manuteno da ordem socialcapitalista* sem +ue os indiv5duos +ue comp8e esta sociedade compreendam isso* o +ue
demonstra a &ora +ue os instrumentos ideol6gicos tem para manipular a realidade"
#utro ponto do O0 +ue tamb-m incita certo distanciamento dos processos!ist6ricos est4 na &rase FComea com uma ligao" E de repente* a genteest4 mudando o pa5sF" Esse te3to -* ao nosso ver* pro&undamenterelevante para a semiose gerada pelo Criana Esperana" 7uma &rase emestrutura de gradao primeiro a ligao* depois a mudana do pa5s -apresentada a possibilidade de trans&ormar o cen4rio social brasileiro* a
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despeito do CE incluir apenas algumas #7/s brasileiras" 0odo umconte3to de crise social tem sua comple3idade reduzida* incluindo a5 apossibilidade de participao do telespectador* para +uem basta umtele&onema e sua participao no processo est4 concretizada" 1/#PES*D>>M* p" ;ND2"
(ssim como colocado por /omes* o %CE traz o problema 9 tona* mas
no resgata o processo s6cio)!ist6rico +ue o produz* bem como a organizao coletiva e a
ao pol5tica dos indiv5duos" # re&ormismo - pregado como capaz de trans&ormar a vida de
todos os cidados" %ara isso* - necess4rio a a,uda de toda a sociedade" Pas no se &ala
supresso das desigualdades sociais" e3plicitado apenas a necessidade de tirar da
precariedade completa a+uela parcela da populao +ue se encontra em tal estado* sem
discutir as contradi8es e3istente entre as classes* e +ue tipo de movimento seria leg5timo
para pensar em revolucionar as estrutura da sociedade capitalista" %retende)se mudar o
pa5s* mas no !4 a discusso da necessidade de romper com a l6gica do capital" ( mudana
incitada - mais sub,etiva 1do pensamento dos indiv5duos* ou se,a* atua no campo
emocional* com a es&era mais irracional e inst4veis do ser2" 'esconsidera a ao coletiva e
cr5tica* a organizao dos su,eitos em classes no - relevado" Este duplo processo
operacionaliza com as emo8es individuais* cataliaza)as sob a &orma de comportamento
coletivo e despotiliza os instrumentos de ao" E a partir da legitimao deste discurso a
sociedade - envolvida na crena de +ue - poss5vel a,udar os mais necessitados* pelacaridade* uma vez +ue* escapa ao le+ue de viso uma leitura +ue compreenda a totalidade
da realidade" # +ue est4 na super&5cie - a urgncia em a,udar e +ue tais a8es so
su&icientes para um dia tornar a sociedade satis&at6ria para todos" # +uese tem como meta
- mel!orar as condi8es das crianas e adolescentes brasileiros" Entretando* isto - muito
di&erente de trans&ormar a vida destes su,eitos" (o mesmo tempo +ue o programa remete 9
id-ia de +ue ele - capaz de tran&ormar a realidade brasileira* os pro,etos +ue recebem a
a,uda &inanceira utilizam em seus discursos conceitos como a mel!oria do +uadroe3istente* e no propriamente sua trans&ormao* descaracterizando a necessidade de
organizao pol5tica autnoma por parte de +uem contribui e de +uem vai ser bene&iciado"
ideol6gico pensar +ue a 0O ou +ual+uer outro sistemaXes&era pode
resolver os problemas sociais do modo como o %CE &az* uma vez +ue no !4 a cr5tica da
base material +ue os produz" # es&oro +ue a /lobo* e neste caso espec5&ico o Criana
Esperana* realiza para se distanciar da pol5tica - uma &alsa tentativa de a&irmar +ue a a,uda
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dos telespectadores no - pol5tica* ,4 +ue esta - vista como pr4tica corrompida" Entretanto*
esse movimento +ue acontece no programa* de cada su,eito doar a +uantidade +ue ele +uer*
- uma ao pol5tica* +ue passa despercebida por +uem se seduz pelo discurso do %CE"
'eve)se sempre observar +ue a ao do %CE - orientada con&orme os interesses de uma
determinada concepo de mundo* da5 ser ela uma ao de dimenso pol5tica"
Em s5ntese* a ao pol5tica - substitu5da pela ao monet4ria" Um
e3emplo - a doao ao %CE" #bserva)se +ue no - mais necess4rio a organizao em
classes* o pouco +ue o su,eito doa ,4 - o su&iciente para mudar a situao" 0ratar o %CE
como uma alternativa para a soluo dos problemas e3istentes na realidade brasileira -
ideologizao"
#s limites do %CE &icam e3pl5citos +uando o pr6prio te3to traz algumas
in&orma8es* como por e3emplo* a &ala da atriz %atr5cia %illar em um dos O0s retratados
por /omes 1D>>M2* onde - dito +ue o programa ,4 a,udou mais de G mil!8es de crianas e
adolescentes em D> anos de atuao" preciso pois* comparar esses dados com onJmero
de crianas e adolescentes +ue so atendidas pelo Estado" (t- por +ue - a&irmado +ue o
poder pJblico no tem mais condi8es* nem interesse em cumprir seu papel social" 0anto
+ue* celebridades* esportistas* coordenadores de algumas #7/s so c!amados a participar
do programa* mas a presena de pol5ticos ine3iste" .e&ora)se* assim* a compreenso de
+ue para estruturar +ual+uer ao +ue vise a,udar - necess4rio desvincular)se do Estado* ,4
+ue a&irmam no !aver respaldo nen!um desta es&era"
Essa estrat-gia representa* a nosso ver* um re&oro 9 centralidade da/lobo no apenas em relao ao Criana Esperana* mas em todo oconte3to de reao a crise social +ue ela a&irma v4rias vezes e3istir aolongo do per5odo de campan!a" # +ue vai estabelecer e isso &ica maisclaro em outros pontos da programao* como o da Fprestao de contasFdurante o programa do Vausto uma relao de disputa com outrossistemas sobre +uem pode resolver os problemas sociais do pa5s"Amportante dei3ar claro +ue no !4 a+ui de&esa da participao de
pol5ticos no CE" # +ue nos importa - o sentido produzido a partir tanto do+ue est4 presente +uanto do +ue est4 ausente" 1/#PES* D>>M* p" ;KG2"
'este modo* - preciso considerar se realmente apenas a +uantia
arrecadada com o %CE consegue sanar os problemas postos na sociedade atual* ,4 +ue esta
- uma a&irmao &eita pelo programa* comparando seus resultados* +uando poss5vel* 9
e&ic4cia das pol5ticas e programas governamentais"
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7a analise de /omes 1D>>M2 a preponder:ncia em grau de import:ncia
acaba recaindo nas #7/s em vez do Estado" e3plicitado pela autora sobre o surgimento
das #7/s sem +ue uma cr5tica mais s6lida se,a &eita" ?#bserva)se* modo geral* um
en&ra+uecimento da con&iana no poder pJblico e* por conse+uncia* da capacidade do
campo pol5tico de resolver os diversos problemas sociais do %a5s"@ 1/#PES* D>>M* p" G;2"
(o mesmo tempo* o poder pJblico - descaracterizado como provedor de
pol5ticas sociais* e o programa %CE - +uali&icado como respons4vel pela ?mel!oria@ nas
condi8es de vida de mil!8es de crianas e adolescentes" 7o site do programa Criana
Esperana - citada a capacidade deste na reduo das desigualdades* atuando mais
e&icazmente do +ue o governo" .emetendo a ideia de +ue a es&era pJblica no d4 conta de
atender as demandas* e por isso cabe aos su,eitos tomar para si essa responsabilidade e agir
em busca de a,udar aos des&avorecidos* e assim promover a !armonia social"
&ato +ue as #7/s surgiram para preenc!er as lacunas dei3adas pelo
Estado* mas isso no +uer dizer +ue o Estado se,a incapaz* e sim* +ue o ele est4 submerso
em uma estrutura de classe* no +ual ele representa* no limite* os interesses dos dominantes"
Sendo assim* o Estado atende a interesses dos trabal!adores* mas tamb-m 1e
principalmente2 aos dos burgueses" G
# discurso de debilidade ou limite do Estado* acaba se tornando discurso
de legitimao para a e3istncia de outras &ormas de a8es institucionais" ( ascenso do
c!amado 0erceiro Setor* cu,o &im - ocupar espaos dei3ados pelo Estado ou reduzidos pelo
mesmo em sua interveno dominada - uma &orma deaba&ar a luta de classe* uma vez +ue*
a desigualdade no - tida como inerente ao capitalismo* ela?simplesmente@ e3iste" Pesmo
com a e3istncia da disparidade entre os indiv5duos* eles passam a ser tratados como
cidados iguais* mesmo +ue apenas ,uridicamente a e&etivao dos direitos e deveres
e3istam" 7a an4lise de /omes 1D>>M2* as classes desaparecem e com ela toda a cr5tica ao
capital* uma vez +ue* as desigualdades no so vistas como conse+uencias das contradi8esinerentes ao desenvolvimento do capitalismo* - &eito uma cr5tica de cun!o mora pelo %CE"3?Em meio a tanto tiroteio 1crise pol5tica* crise econmica* desapontamento coletivo contra ospol5ticos etc"2* o Estado v)se en&ra+uecido" #corre um reordenamento das regras vigentes* e aresponsabilidade at- ento a cargo do poder pJblico - aos poucos trans&erida para outras inst:nciasda sociedade" Yunto com essa trans&erncia* muda tamb-m a mentalidade da populao em geral*+ue se por um lado descr da pol5tica* tamb-m comear4 a valorizar o ativismo social espont:neo*realizado pelos cidados comuns* &azendo parte de diversos tipos de organiza8es" Esse ativismovem marcado pelo princ5pio ora de solidariedade e altru5smo* ora de assistencialismo* nos doiscasos realizado em geral atrav-s de a8es volunt4rias"@ 1/#PES* D>>M* p" G;2"
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Em v4rias passagens do te3to* a autora tenta descontruir a e3istncia das classes sociais$
?7o !4mais o limite das dicotomias* impera a pluralidade de condi8es e situa8es no
+ue tange aos potenciais de sociabilidade eis a comple3idade@" 1/#PES* D>>M* p" GN2*
segundo a pr6pria no !4 mais direita e es+uerda* no !4 mais ideologias de&inidas" (
comple3idade +ue reina dissolve as desigualdades materiais e3istentes e sustentadas pela
ideologia +ue legitima o capitalismo* por v4rias verdades* v4rios tipos de su,eitos e o +ue -
mel!or - agir de &orma +ue se estabelea a !armonia entre essa variedade de su,eitos e
situa8es"
7a medida em +ue o terceiro setor ocupa lacunas dei3adas pelo Estado*ele no o &az apenas atrav-s de resultados pr4ticos 1por meio de pro,etossociais espec5&icos2* mas tamb-m em um n5vel mais so&isticado* +ue - osimb6lico" +uando as #7/s* por e3emplo* trazem na natureza de seus
trabal!os a denJncia sobre a omisso dos governos na resoluo deproblemas sociais" 7esse :mbito* no raro as #7/s buscam a m5diamassiva 1I2 ou lanam mo de dispositivos pr6prios de comunicaopara concretizar denJncias contra os governos" Sc!erer)Zarren aponta+ue uma das lin!as de ao das #7/s - a construo de um camposimb6lico de contestao* resistncia e solidariedade cidad &ace aproblemas sociais" %ara isso* atua com o apoio dos grandes meios decomunicao* ainda +ue sob determinados aspectos eles possam signi&icarrisco" 1/#PES* D>>M* p" [;2"
7esta &orma de discusso proposta pela autora &ica)se preso*
estritamente* ao campo ,ur5dico" E e3atamente na medida em +ue &ica presa ao campo
,ur5dico* - +ue ela coloca 9 margem a discusso das classes sociais" Esta implica pensar o
con&lito +ue ultrapassa as &ronteiras e a l6gica do ,ur5dico" (o discorrer +ue o 0erceiro
Setor &az papel de mediador entre a sociedade civil e o Estado* e +ue - atrav-s da m5dia
+ue articula e e3p8e as reivindica8es para +ue toda a sociedade &i+ue ciente* o +ue -
en&atizado - a &alta de ao do Estado" poss5vel perceber +ue o papel da m5dia - a de um
brao ideol6gico* uma vez +ue no coloca em +uesto o papel +ue o Estado deveria
e&etivar com maestria* apenas reitera sua &ragilidade" (o criticar o Estado e &alar da
ascenso das #7/s* a autora no relaciona estas representa8es institucionais com as
rela8es sociais de produo" %or isso sua an4lise - ideol6gica* uma vez +ue* &alseia a
realidade* ,4 +ue para Par3* no !4 como desvincular in&raestrutura de supraestrutura"
En&im* a autora no compreende o car4ter de classe do Estado" Ela no v o Estado como
um aparel!o de dominao* ela v o Estado en+uanto uma inst:ncia &ormal 1&ora da
realidade2" %or isso ela a&irma +ue o crescimento das #7/s vo ocupar o lugar do Estado"
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Pas isso no - poss5vel* ,4 +ue o Estado &az parte da organizao social capitalista* ele no
vai dei3ar de e3istir* apenas no vai desempen!ar a8es sociais* ,4 +ue a sociedade civil se
encarregou desta tare&a"
#s pro,etos &inanciados pelo %CE so aprovados pela U7ESC#* +ue
ocupa um papel igualmente ideol6gico ampliado por tratar)se de uma instituio de
recon!ecimento internacional* o +ue serve para ?assegurar@ a seriedade da iniciativa"
(pesar de serem totalmente di&erentes nos encamin!amentos* %CE e U7ESC#
compartil!am do mesmo discurso$ promoo da ,ustia social" claro o es&oro em
solidi&icar uma conscincia de +ue - mel!or ?!armonizar@ a vida social diante de tantas
desigualdades"
(o tratar das inJmeras desigualdades o programa dissolve tais
problem4ticas em v4rios temas +ue sero tratados pelo programa" Em um O0 da atriz
/l6ria %ires* +ue /omes 1D>>M2 reproduz* os temas$ %obreza no semi)4rido* a e3plorao
se3ual* a mortalidade in&antil e a e3cluso cultural so apontados como os +uatro
problemas sociais +ue mais assolam o pa5s" # programa no analisa estes +uatro grandes
problemas como inter)relacionados com a mis-ria social" (o omitir o termo F&omeF nas
mat-rias sobre desnutrio in&antil e mortalidade in&antil* e evitar abordar as causas dessas
problem4ticas sociais* a /lobo realiza ,ustamente essa amenizao" (o amenizar as
mis-rias o %CE discursa o seu potencial trans&ormador da realidade* o +ue - uma &alsa
leitura* pois o +ue realmente acontece - apenas uma mel!ora pontual" Esse movimento
aba&a as possibilidades de se pensar numa real trans&ormao"
certo +ue &alta uma an4lise +ue articule as diversas problem4ticas
sociais* o +ue permitir4 demonstrar como esto integradas em um +uadro maior e* aos
su,eitos envolvidos en+uanto ob,eto de atendimento* compreenderem o +ue proporciona tal
situao* e os limites de tais respostas no interior da totalidade social" # es&oro em
promover o esp5rito solid4rio em detrimento de uma conscincia de classe* - realado namaneira como as &alas dos apresentadores* volunt4rios* doadores e tamb-m os bene&ici4rios
esto repletas de ?n6s@" Em Patos 1D>>=2 - pontuada a maneira como a m5dia trata da
e3cluso social* &orando a unio entre os di&erentes atores sociais* ?1"""2 articula)se em
torno da identi&icao de um su,eito coletivo* um Rn6s inclusivo* cu,os operadores de
identi&icao aparecem em e3press8es como Rso brasileiros como n6s"""@" 1P(0#S*
D>>=* p"M2" 'entro desta 6tica todos devem a,udar* pois - poss5vel proporcionar condi8es
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dignas para todo o con,unto da sociedade" (l-m de transportar a responsabilidade de
garantia de direitos ,4 contemplados no campo ,ur5dico para a sociedade civil* - um
e+u5voco considerar a possibilidade de +ue todos os su,eitos possam vir a ter mel!orias
e&etivas em sua +ualidade de vida* uma vez +ue a essncia do capitalismo necessita das
contradi8es para sua permanncia"
7a proposio de &ortalecer os laos de solidariedade entre os indiv5duos*
ocorre o ?en+uadramento dos indiv5duos* condicionando)os a uma atitude ora de
passividade e desmobilizao* ora de aceitao da sua situao estrutural e da busca de
sa5das individuais* no raro permeadas pela &- religiosa"@ 1P(0#S* D>>=* p"
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ideia de +ue atrav-s do es&oro pessoal - poss5vel superar as adversidades" Patos 1D>>=2
tamb-m pontua a ?individualizao@ na superao das condi8es adversas$
1"""2 conclu5mos por ora !aver a emergncia de um silenciamento dasimplica8es pol5ticas* !ist6ricas sobre a e3cluso social na medida em +ue o
campo pol5tico est4* em boa medida* ausente das discuss8es" Este vaziodiscursivo - preenc!ido pelas organiza8es civis* indiv5duos* Agre,a Cat6lica*AU.'" 1"""2 .e&ora* ademais* o bem)estar privado* a sa5da individual* o +ue&ragiliza o sentido coletivo de mudanas sociais" 7o !4 a5 proposta pol5ticaou inteno de mudana estrutural da situao de e3cluso" 1P(0#S* D>>=*p" ;>2"
Con&orme o racioc5nio e3posto acima* o modo como o %CE e3p8e as
crianas e adolescentes marginalizados* sempre traz a noo de +ue apesar de todos os
percalos* essas crianas e adolescentes ainda tem esperana* bravura em lutar por algo
mel!or" Entretanto* as crianas e adolescentes +ue sero atendidas pelas #7/s &inanciadas
com o din!eiro do %CE passam por uma esp-cie de triagem* ou se,a* a+ueles +ue so
denominados menores in&ratores no tem nen!uma ao espec5&ica +ue possa a vir retir4)
los desta situao" ( sensibilizao - recorrente no programa* de acordo com /omes
1D>>K2" (o transmitir as not5cias sobre a in&:ncia* adolescncia* e3cluso social e
educao* a m5dia age na tentativa de imbuir nos telespectadores a necessidade destes
agirem embasados em uma pr4tica cidad"
%ortanto* como direcionar a8es para a+ueles +ue por no terem ?vontade
su&iciente@ acabam caindo na marginalidade e se envolvem em crimes* sendo +ue um dos
grandes ob,etivos - a !armonia social e a cultura de paz" #u se,a* a imparcialidade pregada
tanto pelo programa como pela emissora pode ser contestada pelo &ato deles selecionarem
+ue tipo de criana e adolescente sero atendidos pelas #7/s" %or-m* a marginalizao de
crianas e adolescentes - crescente no pa5s* necessitando de inJmeras iniciativas +ue
possam a,udar estes su,eitos" Pas* como &azer uso de um discurso moral* de bons e maus* e
a,udar a+ueles sue,eitos +ue roubam* assassinamW Como as bases materiais no so
contestadas* a Jnica e3plicao para estes atos - a crena na &alta de &ora de vontade em
mudar de vida" (specto +ue - bemen&atizado pelo %CE$ a &ora de vontade - &undamental
para +ue as crianas e adolescentes possam ter uma vida mel!or* as condi8es materiais
+ue eles so e3postos durante sua e3istnca - apontada em alguns momentos"
(o e3por seus trabal!os* as #7/s de&endem +ue &azem uma an4lise da
problem4tica em n5vel macro* por-m a resoluo reca5 no n5vel pessoal* individual" #u
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se,a* no saem do plano imediato ou a an4lise +ue &azem considerando a !istoricidade do
problema no tem as media8es* liga8es com outros problemas e3istentes na realidade"
'este modo* como ,4 &oi dito logo acima* - pontuado +ue e3istem desigualdades e
problemas sociais +ue precisam ser resolvidos* mas no so vistos como conse+uncia das
contradi8es impostas pelo capitalismo al-m de +ue a resoluo - colocada para +ue o
indiv5duo sozin!o* com sua &ora de vontade para +ue possa sair desta condio" Este
racioc5nio do programa - ,usti&icado por no abarcar a comple3idade +ue envolve as
desigualdades sociais"
( preocupao a+ui - como especi&icamente o sistema midi4tico televisivovai realizar esse processo de tematizao do social* estabelecendo um elo deligao com os demais sistemas sociais ao acenar com bandeiras direta ouindiretamente relacionadas ao conceito de cidadania$ in&:ncia* educao*
terceiro setor* &ilantropia empresarial* voluntariado e assuntos cone3os" 1"""2( 0O* pois* institui uma representao sobre o real de modo singular"Singularidade est4 marcada no apenas pelos recursos de conteJdo com os+uais trabal!a* mas acima de tudo pelos modos como essa realidade -constru5da" 1/#PES* D>>K" p" D2"
( responsabilidade das desigualdades sociais - ento posta para todos
os indiv5duos"
1"""2 !istoricamente tem sido uma marca da /lobo o cumprimento de umpapel de Fsocializadora antecipadaF* o&ertando aos brasileiros modelos devida" ( /lobo* ao tematizar o social atrav-s dessas inser8es o&erta aotelespectador um capital simb6lico +ue - o do Fbom cidadoF* a+uelecapaz de cuidar da sua saJde* agir solidariamente* respeitar pessoasportadoras de necessiddes especiais* preservar o meio ambiente* entrev4rios outros@" 1/#PES* D>>M* p" ;>=2"
buscado construir uma &orma espec5&ica de ser social* re&erencial a
sociabilidade burguesa"
# +ue - transmitido pelo programa - +ue suas a8es mel!oram
e&etivamente a vida de crianas e adolescentes pelo pa5s" Contudo /omes 1D>>M2
transcreve uma reportagem &eito com uma das #7/s selecionadas pela Unesco* c!amada
A%.E'* +ue demonstra os limites de suas a8es" # A%.E' - respons4vel por atender
crianas e adolescentes com desnutrio no nordeste brasileiro" ( verba destinada a esta
#7/ ir4 garantir o atendimento por seis meses" 'estaco +ue o discurso do %CE prop8e a
resoluo dos problemas sociais* a pr6pria &uncion4ria do A%.E' coloca +ue a #7/ a,uda
as crianas e suas &am5las a mudar de vida" Pas* como - poss5vel e&etivar a resoluo dos
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problemas da+uele pJblico em apenas seis mesesW # +ue signi&ica mudar de vida para a
#7/ e para o %CEW E depois o +ue o A%.E' &azW O)se ento* a misti&icao da realidade"
#s problemas colocados pelo %CE seguem o es+uema da enunciao* ou
se,a* !4 a apresentao dos problemas mas no a demonstrao das ra5zes e as liga8es
com outros &atos* essenciais para seu real entendimento" /omes 1D>>M2 discorre$
Asso se mostra* por e3emplo* na abordagem +ue a tem4tica desnutriogan!a ao longo da reportagem" Embora se,a dito no in5cio +ue este - o&oco da instituio* o tratamento dado ao tema - super&icial* &ocado naatuao de uma Jnica #7/" 7ada - dito ou +uestioado a respeito dascausas +ue provocam um grande contingente de crianas desnutridas noCear4 eXou rasil" 7o conte3to do discurso tele,ornal5stico* o tema FsurgeFe - dado como &ato" Esse tratamento* em verdade* no diz respeito aapenas as mat-rias +ue abordam entidades au3iliadas pelo CrianaEsperana* mas se con&igura numa marca do ,ornalismo na 0O* +ue +uase
sempre opta pela abordagem menos apro&undada e* muitas vezes* maisespetacularizada" 1p" ;==2"
En&im* podemos perceber no discurso do %CE +ue o modo de produo
no +ual a sociedade brasileira est4 assentada no - citado em momento algum" ( diviso da
sociedade em classes - ocultada atrav-s da organizao dos su,eitos em associa8es* #7/s
e movimentos sociais" # capital* atrav-s de seus mecanismos ideol6gicos* tenta
desvencil!ar a trans&ormao social da superao da sua l6gica interna* transmitindo aos
indiv5duos +ue a busca por mel!orias dentro do capitalismo - a Jnica opo +ue l!es trar4
benesses" ?1"""2 os personagens vivem uma !ist6ria de con&lito embasada na dualidade
moralista do bem e do mal e tm a sua situao resolvida graas a um encanto de n5vel
e3traordin4rio* a &ada madrin!a@ 1/#PES* D>>M* p" ;=
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ambi8es* nas culpas dos su,eitos" 7o por acaso imagens sucessivas decrianas em situaao de vulnerabilidade social so e3ibidas nasenuncia8es dos tele,ornais" 1/#PES* D>>M* p" ;=>M* p" ;>
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/#PES* (na ngela Varia" A te!atizao do "oia# atra(e" do /Criana E"'erana0*.evista UNIrevista, RioGrande doSul, Vol. 1, n. 3, p. 1- , !un."##$ % ISSN& 1'#(-)$*1.'ispon5vel em$ !ttp$XX```"unirevista"unisinos"brX_pd&XU7Arev_arias" (cesso em >N set"D>>D ,un" D>>>