Criatividade inovação e sustentabilidade
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Criatividade, inovação, sustentabilidade, boas práticas empresariais e o bem-estar social
Prof. Ms. Valdec Romero Castelo Branco
Professor da Faculdade Sumaré [email protected]
RESUMO
O objetivo deste artigo é analisar a atual busca por um aprimoramento constante de produtos,
serviços e processos em virtude da enorme competitividade do mercado imposto pela internacionalização das economias. Para alcançar essa competitividade as empresas devem abandonar o modelo tradicional, substituindo-o por um processo criativo e inovador capaz de gerar
soluções alternativas ao modelo produtivista tradicional. O presente artigo delimita-se a análise das inter-relações entre a criatividade, a inovação, a sustentabilidade, as boas práticas empresaria is
e o bem-estar social, reforçando o reconhecimento da necessidade de se construir novos caminhos à viabilidade econômica de atividades produtivas e a conciliação com as necessidades socioambientais. A hipótese que se investiga é a forma tradicional de produção, considerando-se,
a partir daí a construção de um modelo de gestão criativa que impulsione a inovação tecnológica e atenda as atuais necessidades do mercado, sem excluir o respeito ao meio ambiente e ao bem-
estar social. A ideia de inovação sustentável, tem como referência as estratégias de desenvolvimento local – as cidades criativas, por meio de ações de renovação e desenvolvimento regional centradas em setores criativos e inovadores, geradoras de riqueza econômica, ambienta l,
cultural e social. Neste contexto, a criatividade e a inovação tornam-se fatores essenciais à gestão de cidades criativas e, em resposta aos diferentes desafios impostos no atual cenário
internacionalizado, mas assume grande importância quando associada, principalmente, à singularidade de cada cidade.
Palavras-Chave: Criatividade; Inovação; Sustentabilidade, Boas Práticas Empresariais; Bem-Estar Social
ABSTRACT
This article's objective is to analyze the current search for a constant improvement of products, services and processes due to the enormous market competitiveness imposed by the
internationalization of the economies. To achieve this competitiveness, companies must abandon the traditional model, replacing it with a creative and innovative process capable of generating alternative solutions to the traditional productivity model. This article is delimited to the analys is
of the interrelationships between creativity, innovation, sustainability, good business practices and social welfare, reinforcing the recognition of the need to build new paths to the economic viability
of productive activities and the reconciliation with socio-environmental needs. The hypothesis that is investigated is the traditional form of production, considering from there the construction of a model of creative management that drives technological innovation and meets the current needs
of the market, without excluding respect for the environment and the social welfare. The idea of sustainable innovation is based on local development strategies - creative cities, through actions
of renewal and regional development focused on creative and innovative sectors, generating economic, environmental, cultural and social wealth. In this context, creativity and innovation become essential factors for the management of creative cities and, in response to the different
challenges imposed in the current internationalized scenario, but it assumes great importance when associated, mainly, with the singularity of each city.
Keywords: Creativity; Innovation; Sustainability, Good Business Practices; Social Welfare
INTRODUÇÃO
A criatividade e a inovação são cada vez mais utilizadas por organizações como
ferramentas competitivas, fundamentados em critérios estratégicos, concorrenciais e econômicos,
isto implica na dissociação das questões ambientais e as boas práticas empresariais voltadas ao
bem-estar social.
Neste artigo defende-se um novo modelo produtivo que incorpore novos valores às
empresas e a sociedade, mas isso está longe de acontecer, principalmente em um cenário
concorrencial internacionalizado, mas a educação pode ser o grande agente de transformação.
A educação é o motor da promoção de novos valores e o aumento da capacidade das
empresas e a sociedade para enfrentarem as questões ambientais e o desenvolvimento de forma
sustentável. A educação deve ocorrer em todos os níveis nas empresas, visando à formação de
gestores preocupados com a sustentabilidade, capazes de modificar atitudes, padrões e
comportamentos ambientalmente conscientes, sustentados pela ética e a responsabilidade com o
meio ambiente.
O objetivo deste artigo é analisar a atual busca por um aprimoramento constante de
produtos, serviços e processos em virtude da enorme competitividade do mercado imposto pela
internacionalização das economias. Para alcançar essa competitividade as empresas devem
abandonar o modelo tradicional, substituindo-o por um processo criativo e inovador capaz de gerar
soluções alternativas ao modelo produtivista tradicional.
O presente artigo delimita-se a análise das inter-relações entre a criatividade, a inovação, a
sustentabilidade, as boas práticas empresariais e o bem-estar social, reforçando o reconhecimento
da necessidade de se construir novos caminhos à viabilidade econômica de atividades produtivas
e a conciliação com as necessidades socioambientais.
A hipótese que se investiga é a forma tradicional de produção, considerando-se, a partir daí
a construção de um modelo de gestão criativa que impulsione a inovação tecnológica e atenda as
atuais necessidades do mercado, sem excluir o respeito ao meio ambiente e ao bem-estar social.
A metodologia empregada neste trabalho buscou articular as particularidades teórico-
conceituais que estão em íntima relação com as amplitudes, os interesses, os conhecimentos e os
saberes do pesquisador. O campo de pesquisa é derivado do universo do conhecimento, do
conhecimento científico, em suas relações com as áreas específicas dos saberes do pesquisador.
Para tanto, o desenvolvimento metodológico da pesquisa foi baseado em campo teórico,
exploratório bibliográfico, tomando como base livros, artigos científicos, trabalhos acadêmicos,
revistas acadêmicas, entre outras fontes de consulta.
EMPRESA SUSTENTÁVEL
Empresa sustentável é a organização capaz de criar valor no longo prazo, trazendo lucros
para os proprietários, desenvolvimento e satisfação aos profissionais que nela trabalham, além de
contribuir com soluções de problemas ambientais e sociais, sejam eles espontâneos ou de forma
compulsória.
O que caracteriza uma empresa sustentável? Os negócios devem satisfazer aos anseios dos
proprietários, mas usando os recursos necessários de modo sustentável; utilizar bases tecnológicas
limpas, aumentar o reuso, reciclagem ou renovação de recursos; ter como política ambienta l,
também, a restauração de quaisquer danos causados pela empresa; além de contribuir para
solucionar problemas de cunho social.
O comprometimento com a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) deve ser
incorporada à gestão da empresa, por meio do compromisso público que ela faz em relação aos
processos produtivos, comerciais e gerenciais baseados em relações éticas, transparentes e
solidárias da empresa com todos aqueles que são afetados pelas suas atividades, visando o
estabelecimento de ações empresariais compatíveis com a sustentabilidade e a capacidade de
continuidade no longo prazo, a preservação de recursos, respeitando a diversidade, preocupando-
se essencialmente com as gerações futuras.
As inter-relações entre a criatividade, a inovação e a sustentabilidade no desenvolvimento
de novos negócios requerem uma nova maneira de encarar o novo contexto competitivo, o que
transporta à ideia de maior eficiência na gestão empresarial e na inovação sustentável (BRITO;
BRITO; MORGANTI, 2009), isso remete a uma política de gestão que contribua para o alcance
do desenvolvimento sustentável.
Entendendo que sustentabilidade é uma responsabilidade global, tendo como protagonista s
a sociedade, o governo e as organizações públicas e privadas, atuando todas juntas e voltadas ao
desenvolvimento sustentável.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O desenvolvimento sustentável pode ser definido como o procedimento que levem em
consideração a sustentabilidade, o setor produtivo de uma forma ampla, otimizando e, ao mesmo
tempo, preservando os recursos naturais renováveis, maximizando a utilização dos não renováveis,
procurando satisfazer as necessidades da atual geração, sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades. (CORAL, 2002).
O desenvolvimento sustentável é um desafio para todos: sociedade organizada, estado,
setor não governamental e setor privado, neste sentido, Maciel (2016, p. 4-6) faz referência à difícil
tarefa de forjar uma nova relação com o mundo natural:
Durante o século XXI a sociedade mundial tende a enfrentar a difícil tarefa de forjar
uma nova relação com o mundo natural. Se quisermos sustentar a vida com qualidade,
deveremos antes buscar o equilíbrio entre as ações humanas e a preservação do meio
ambiente onde vivemos. O termo desenvolvimento sustentável é entendido como a
preocupação com a garantia do bem viver das gerações atuais e futuras, promovendo
um ambiente onde prevaleça a diversidade, a justiça, a equidade e as possibilidades para
a promoção de sociedades sustentáveis em todas as suas dimensões, tendo como cerne
a conservação de todas as formas de vida. Diante da observação de Barbosa (2008) o
desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades do presente sem afetar
as possibilidades de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades.
Ao abordamos o desenvolvimento sustentável, inclui-se aí o conceito de sustentabilidade e
as boas práticas ambientais, uma necessidade urgente a ser adotada por todos, tendo como pano
de fundo a atual crise socioambiental, consequência de um modelo capitalista hegemônico,
pautada no lucro. A destruição do planeta, a pressão da opinião pública, novos hábitos, exige das
empresas novas formas no modo de produzir, novas práticas sustentáveis, pautadas em três
dimensões: a econômica, a social e a ambiental (Triple-Bottom Line).
Nos anos de 1990, o sociólogo britânico John Elkington cunhou o termo “triple-bottom
line, esse tripé da sustentabilidade” apresenta três grandes dimensões: crescimento econômico,
equidade social e equilíbrio ecológico, em outras palavras, o desenvolvimento sustentáve l
equilibra as dimensões econômica, social e ambiental. (CARVALHO; VIANA, 1998).
SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
A criatividade e inovação além de propiciar lucros às empresas, devem estar voltadas a
sustentabilidade ambiental, mas isso passa, necessariamente, pela transformação no foco
empresarial, nas ações governamentais e no papel da sociedade, nesse contexto, o
desenvolvimento sustentável só se tornará fato quando a produção de bens ocorrer de forma
sustentável, contribuindo para o desenvolvimento socioambiental, no entanto, ainda estamos longe
desse modelo.
A atual hegemonia capitalista não permite uma inter-relação mais efetiva nesse processo,
visto que parcela considerável da sociedade não tem consciência quanto às questões ambientais.
Carlucci (2009) - presidente da Natura - concede entrevista ao Jornal Folha de S.Paulo, no
caderno mercado, tecendo comentários sobre a sustentabilidade e o lucro:
FOLHA - Uma grande parcela dos empresários afirma que os custos da
responsabilidade social e ambiental são pesados demais. A ideologia da Natura não
atrapalha os negócios? ALESSANDRO CARLUCCI - Modestamente, pois minha
opinião é obviamente influenciada pela experiência da Natura, acho que temos aí um
falso paradigma. Essa concepção só existe nas empresas que tratam a sustentabilidade
como uma moda ou uma ação de marketing. Quem resolveu de fato conduzir sua
atividade dentro dos princípios da sustentabilidade percebeu que não se trata de custo,
mas sim de investimento. É uma forma de inovar, de se diferenciar, de ter mais Ebitda
[lucro]. Se eu pudesse resumir em um conceito o que é sustentabilidade, diria que é
cuidar das relações - com o ambiente, com vizinhos, fornecedores, a imprensa. E uma
empresa que cuida bem das suas relações ganha mais dinheiro.
Em função das legislações ambientais e o aumento da conscientização em relação a
preservação do planeta, tonou o debate público mais intenso em relação a necessidade de medidas
mais efetivas que propiciem a redução na emissão de poluentes, a mudança de hábitos e
comportamentos intrínsecos à sociedade, demonstrando, cada vez mais, aberta a soluções que
promovam maior qualidade de vida.
A criatividade e a inovação exigem do poder público, organizações e sociedade uma
constante observação, análise e crítica do que já existe, acreditando que aquilo que é considera do
bom pode ficar ainda melhor. (FERREIRA, 2017).
Para Dornelas (2005) as inovações incrementais são compostas das ideias mais próximas
das competências-chave da empresa, que tem baixo risco e baixo retorno, assim como as inovações
radicais, que mantém as competências-chave, porém com alto risco e alto retorno (CAMARGO,
2013, p.13).
Segundo Oslo (2005) inovação radical é uma inovação que causa um impacto significat ivo
para um setor no mercado. Podendo mudar a estrutura do mercado ou criar novos negócios. Esta
inovação está concentrada em novas tecnologias, novas descobertas e novos modelos de negócios.
Na inovação incremental a empresa opera em um setor estável, mas procura melhorar os sistemas
existentes tornando-os mais rápidos, baratos e melhores (IDEM, 2013, p. 13).
As ações criativas e inovadoras são componentes estratégicos para as empresas, mas podem
promover um adequado encaminhamento as diversas demandas da sociedade, podemos destacar
as cidades criativas como fonte do desenvolvimento de produtos e serviços diferenciados, os quais
conciliam os interesses das empresas e a necessidade de boas práticas empresariais e o bem-estar
social e a preservação ambiental. (WEYERMÜLLER ET AL, 2015, p. 83-85).
As dificuldades encontradas entre os interesses econômicos e sociais reside no fato da
sociedade estar habituada a certos padrões de conforto e consumo, tarefa difícil de ser revertidos
em benefício de uma proposta de conservação dos recursos naturais e continuidade nas atividades
de transformação do ambiente. Deste modo, promover formas inovadoras para defender a
sustentabilidade precisa fazer parte de qualquer atividade econômica que se diga inovadora e
conectada com as necessidades amplas da sociedade.
Para tanto, é importante neste momento, conceituar o que é sustentabilidade e sua importância:
Sustentabilidade é um termo usado para definir ações e atividades humanas que visam
suprir as necessidades atuais dos seres humanos, sem comprometer o futuro das
próximas gerações. Ou seja, a sustentabilidade está diretamente relacionada ao
desenvolvimento econômico e material sem agredir o meio ambiente, usan do os
recursos naturais de forma inteligente para que eles se mantenham no futuro. Seguindo
estes parâmetros, a humanidade pode garantir o desenvolvimento sustentável.
(BRUNDTLAND, 1987; DIAS, 2015)
É fundamental encontrar caminhos eficientes para a superação das diversas dificuldades
que surgem com o desenvolvimento e a busca constante de novos produtos e serviços. Uma
ferramenta de gestão que deve ser promovida é a utilização da criatividade e a inovação, isso
significa implementar, cada vez mais, o modelo com caráter prático e conectado com a realidade
de consumo, em relação aos riscos ambientais e as necessidades amplas da sociedade de consumo.
Atividades econômicas conectadas a um compromisso inovador e criativo pode ser a fonte
de soluções e, assim, receber incentivos por meio de políticas públicas que se estabelecem por
normas jurídicas, incentivando núcleos de pesquisa, desenvolvimento e produção de produtos e
serviços criativos que proporcionam importantes melhorias nas mais diversas áreas do
conhecimento e atividades econômicas, com avanço social.
Responsabilidade empresarial, desenvolvimento e meio ambiente não são conceitos
isolados, portanto, não devem ser tratados separadamente, pelo contrário, devem ser sujeitos
indissociáveis, pautado na construção de ações criativas e inovadoras, inter-relacionadas a
sustentabilidade e o bem-estar social.
A criatividade e a inovação não estão associadas apenas às atividades econômicas, elas
devem gerar ideias que viabilizem inovações de produtos, processos e serviços, mas capazes de
aliar as práticas de mercado e os benefícios que esse processo traz à sociedade.
De acordo com Weyermüller et al. (2015, p. 86):
Por certo que essa designação de uma atividade, seja ela qual for como “verde”, impõe
uma série de características e práticas que possam realmente fundamentar essa
designação. Também costuma-se utilizar com o mesmo sentido, a noção de
sustentabilidade, muito difundida como indicativo de conservação e utilização racional
dos recursos naturais. Cabe aqui uma ressalva quanto à equivalência entre a designação
de “verde” e “sustentável”. Um conceito mais tradicional indica que o [...]
desenvolvimento sustentável implica, então, no ideal de um desenvolvimento
harmônico da economia e ecologia que devem ser ajustados numa correlação de valores
onde o Máximo econômico reflita igualmente um máximo ecológico. Na tentativa de
conciliar a limitação dos recursos naturais com o ilimitado crescimento econômico, são
condições à consecução do desenvolvimento sustentável mudanças no estado da técnica
e na organização social. (DERANI, 2001, p. 191-278)
Nesse sentido Weyermüller et al. (2015, p. 87) diz que a sustentabilidade pode ter uma
conotação bastante ampla. O sentido mais próximo do que se pode denominar por “princípio do
desenvolvimento sustentável” é essencialmente ecológico, para complementar Weyermüller
(2014) diz “Sustentabilidade também pode estar relacionada com viabilidade econômica no
sentido de garantia de continuidade sob determinadas condições mantidas próximas do ideal.
Talvez esse seja o sentido mais realista de sustentabilidade”.
A sustentabilidade está ligada as questões ambientais urgentes, mas não representa ainda
uma realidade entre a teoria, a conscientização e a prática, visto que as ações criativas e inovadoras
estão ligadas aos resultados obtidos por meio de novos produtos e serviços. Isto significa a
atividade econômica predomina sobre o social, na maioria das vezes não se leva em conta padrões
ambientais mínimos para garantir a utilização dos recursos pelas gerações futuras, mantendo-se os
padrões tradicionais de desenvolvimento.
Para diminuir esses passivos, diante da escassez e esgotamento que não podem
simplesmente ser eliminadas da realidade, deve-se encontrar formas inovadoras de harmonização,
conciliação e convivência entre os interesses ambientais e os econômicos. A defesa de novas
formas inovadoras de desenvolvimento é possível de serem discutidas pelos agentes interessados
na busca de melhorias reais, boas práticas empresariais e o bem-estar social, sem deixar de lado
os interesses econômicos.
Nesse sentido Weyermüller et al, (2015, p. 87) diz:
Isso significa conciliar os interesses econômicos com os interesses sociais , mas
infelizmente se faz uma utilização equivocada da sustentabilidade, nesse sentido afirma
Altmann (2009, p. 75) [...] o princípio do desenvolvimento sustentável foi banalizado,
e muitos dos problemas que prometia resolver agravaram-se. Par muitos, o princípio do
desenvolvimento sustentável não resolverá a crise ambiental porque não ataca a raiz do
problema. Em certa medida, essa banalização decorre da apropriação do discurso do
desenvolvimento sustentável por atores sociais que apenas ocupam-se com a viabilidade
econômica de suas empresas.
Um novo tipo de ação adaptativa se impõe que transcende às necessidades essenciais do
ser humano e da sociedade e, vai muito além na busca da necessária adequação e avaliação de
riscos. Os avanços tecnológicos foram criados para proporcionar bem-estar e segurança frente às
diversidades e limitações do ambiente, mas ao mesmo tempo produziram passivos e possibilidades
concretas de escassez e esgotamento que não podem simplesmente ser eliminadas da realidade,
até porque os produtos dessa transformação causadora desses passivos se incorporaram de tal
forma no modo de vida da sociedade que dificilmente haveria espaço para aceitar por consenso,
simplesmente não fazer mais ou mudar radicalmente de rumo. (WEYERMÜLLER ET Al, 2015,
p. 94-95)
Leff (2001) considera a Educação Ambiental como uma proposta baseada na busca de
alternativas ao produtivismo, porém, a internacionalização das economias transformou essas
alternativas originais em mecanismos de mercado “como forma de transição para um futuro
sustentável e reduzindo a educação ambiental a um mero processo de conscientização de cidadão
e/ou capacitação de profissionais para uma gestão ambiental orientada para a maximização
econômica”. (RODRIGUES, 2017)
A inserção das empresas nas questões ambientais demanda transformações na forma de
produção, isso exigirá ainda mais esforços na busca pelas inter-relações entre criatividade,
inovação e a sustentabilidade, como ação intensa e benéfica ao bem-estar social, “já que tem o
potencial de substituir produtos e processos que impactam negativamente no meio ambiente”.
(KRUMMER ET AL, 2013, p. 2)
Krummer et al. (2013, p. 2) também cita Leff (2001):
Em virtude dos crescentes problemas socioambientais que provocam debates sobre a
necessidade de reestruturação dos sistemas produtivos, as empresas passam a ser
incluídas nesse esforço coletivo em busca de mudanças que incluem a construção de
sistemas produtivos ecologicamente benéficos por meio da introdução de inovações
tecnológicas com potencial sustentável.
A criatividade e inovação voltadas a sustentabilidade devem ser norteadas não mais pelo
enfoque puramente econômico, passa a ter como viés as boas práticas empresariais, o bem-estar
social e o meio ambiente, essas deixam de incidir apenas na geração de lucro para as empresas,
mas uma maneira de contribuir e promover o uso mais racional dos recursos, considerando a
construção e validação de um instrumento direcionado à avaliação da orientação para a
sustentabilidade nas ações de inovação desenvolvidas no ambiente empresarial.
Krummer et al. (2013, p. 3) refere-se a esse contexto citando Bansal (2004):
Quando abordadas no nível da organização, as três dimensões ou princípios que
norteiam a busca pela sustentabilidade devem ser aplicados de forma conjunta em seus
produtos, políticas e práticas organizacionais para que as empresas atinjam um
desenvolvimento empresarial sustentável e possam garantir a prosperidade econômica
ao mesmo tempo em que mantém a integridade ambiental e a equidade social do meio
em que estão inseridas.
O desenvolvimento sustentável está estreitamente relacionado a criatividade e a inovação
e o impacto que pode ter sobre o meio ambiente e o bem-estar social, neste sentido, pode-se afirmar
que a criatividade e a inovação orientada para a sustentabilidade têm o potencial de abranger tanto
as questões econômicas, as questões ambientais e sociais, proporcionando as empresas e a
sociedade um aumento do capital econômico, ambiental e social.
Para Gurgel (2006, p. 11):
Na verdade, a capacidade de inovar se tornou um dos fatores mais relevantes na
determinação da competitividade das empresas e da economia em geral. Porém, os
problemas que essas empresas e economias vêm enfrentando envolvem cada vez mais
transformações, tomadas de decisões e desenvolvimento de soluções que nem sempre
podem ser embasadas em experiências anteriores. O cenário econômico fez a
criatividade assumir um papel importantíssimo junto ao processo de inovação. Será
visto ao longo desta pesquisa, que estes conceitos – criatividade e inovação – estão
intrinsecamente ligados: enquanto um implica na maior geração de ideias, o outro se
refere à aplicação destas ideias na prática.
A imprevisibilidade, a incerteza e as complexas inter-relações entre as empresas, o meio
ambiente e a sociedade, exigem das empresas a criação de um ambiente favorável ao exercício da
criatividade e a inovação, condição sine qua non à sobrevivência em um cenário concorrencia l
implacável e internacionalizado.
Hoje, o conceito mais utilizado – apesar de existirem muitas interpretações – é de que
a criatividade é um fenômeno multifatorial e multidimensional, que não leva em
consideração apenas os aspectos individuais e cognitivos, mas também os psicossociais,
como as influências ambientais sobre o conjunto de relações implicadas no processo de
criar. (GURGEL, 2006, p. 23)
A empresa para estabelecer um ambiente favorável à criatividade depende,
fundamentalmente, dos atores protagonistas envolvidos nesse processo, isso compreende a
empresa e seus stakeholders.
A criatividade é capacidade de inovar, criar e fazer a diferença, desde que se mude a sua
forma de agir, portanto, o processo criativo só é obtido por meio de um ambiente favorável; mas
pode-se afirmar, também, que há pessoas extremamente criativas em ambientes nada favoráve is,
trabalhando sob pressão e acompanhadas por pessoas nada criativas. Um dos fatores mais
importantes da criatividade é o conhecimento, matéria-prima às novas ideias, porém, só
conhecimento não é suficiente para tornar uma pessoa criativa.
As empresas de sucesso descobriram que o ambiente criativo é fator fundamental para se
alcançar o resultado esperado; estabelecendo-se aí: condições, ambiente favorável, espírito de
equipe, gerenciamento, clima organizacional em que a criatividade pode ser mais prontamente
desenvolvida, ou seja, a criatividade é uma competência utilizada para gerar ideias e, a partir daí,
provocar inovação e soluções úteis para resolver os problemas e desafios do dia a dia corporativo.
A criatividade e a inovação não são panaceia para todos os problemas corporativos e/ou
social, mas devem estar engajados em um processo atrelado a uma estratégia empresarial, talentos
e conhecimento, visando ampliação da vantagem competitiva da empesa.
Vale ressaltar que só há inovação a partir de ideias, sendo assim, os bens e serviços são
desenvolvidos nas empresas, por meio de ideias, deste modo, a inovação não é acidental,
dependem de ferramentas, processos e ambiente favorável à criatividade. No entanto, o mais
importante é que sem as pessoas as ideias não acontecem, por conseguinte, a inovação também
não acontece.
A inovação ocorre, de fato, quando os bens e serviços são introduzidos no mercado ou
quando um processo inovador passa a ser utilizado pela empresa. Inovação é o principal fator que
possibilitou a sobrevivência da humanidade. Portanto, a criatividade e a inovação fazem parte da
natureza humana.
As inovações tecnológicas podem ser classificadas de acordo com o impacto causado nos
processos e produtos, configurando-se: inovações radicais ou inovações de impacto ou inovações
disruptivas são consideradas inovações que quebram paradigmas, como a criação de novos
processos e produtos, o desenvolvimento de um novo produto ou processo inteiramente novo,
inédito para a empresa ou o mercado.
Já, as inovações incrementais são consideradas inovações que aprimoram produtos e
processos, conhecidos também como melhorias ou adaptações, por meio de melhorias em um
produto ou processo sem alteração substancial sua estrutura, melhorando a eficiência, a
produtividade, a qualidade, a competitividade, a redução de custos, maximização na utilização de
recursos, entre outros ganhos.
Gurgel (2006, p. 23) cita pesquisa do IBGE (2003, p.18) na qual se refere à inovação
tecnológica da seguinte maneira:
Ainda segundo a pesquisa do IBGE, a inovação tecnológica s e refere a um produto ou
processo novo ou substancialmente aprimorado para a empresa, não sendo,
necessariamente, novo para o mercado, podendo ter sido desenvolvida pela empresa ou
por terceiro. Quanto à divisão entre produto e processo, o IBGE esclarece que: Inovação
de produto se refere a um produto cujas características fundamentais - especificações
técnicas; usos pretendidos; software ou outro componente imaterial incorporado -
diferem significativamente de todos os produtos previamente produzidos pela empresa.
A inovação de produto pode ser progressiva, através de um significativo
aperfeiçoamento tecnológico de um produto previamente existente, cujo desempenho
foi substancialmente aumentado ou aprimorado. Inovação de processo pode ser
entendida como um processo tecnologicamente novo ou substancialmente aprimorado ,
que envolve a introdução de uma nova tecnologia de produção ou significativamente
aperfeiçoada. Estes novos métodos podem envolver mudanças nas máquinas e
equipamentos ou na organização produtiva - desde que acompanhadas de mudanças na
tecnologia de transformação do produto. Esse tipo de inovação tem como objetivo a
produção de produtos tecnologicamente novos ou substancialmente aprimorados que
não possam utilizar os processos previamente existentes, ou, simplesmente aumentar a
eficiência da produção dos produtos já existentes.
As empresas ao utilizarem a criatividade e a inovação podem cair na armadilha da busca
por resultados tangíveis no curto prazo, associados à produtividade e a melhoria das decisões
táticas e operacionais, cobrando impactos imediatos com a implantação de tais ações na
organização.
Às medidas criativas e inovadoras, pelo contrário, devem ser de longo prazo, sendo que o
foco das inovações deve passar a ser estratégico e apoiada em um processo de engajamento
contínuo e a capacitação dos profissionais em toda a empresa.
Vale observar que a criatividade, inovação e sustentabilidade podem caminhar no mesmo
sentido, visto que são complementares e, juntas, formam os meios específicos destinados a uma
mesma finalidade - o ganho econômico, por meio da competitividade com agilidade e à geração
de valor aos negócios, mas capaz, também, de gerar enormes ganhos ao bem-estar social.
Para Gurgel (2006, p. 89):
A inovação tecnológica hoje se encontra numa situação onde a incorporação de
conhecimento científico, cada vez mais complexo, pode ser feita em processos cada vez
mais simples de geração de riqueza. A inovação passa do foco principal tecnológico
(produto e/ou processo) para o campo da gestão organizacional, ambos visando o
aumento da produtividade. Curtarelli et al. (2004) defende este ponto, afirmando que
no cenário econômico atual, as empresas necessitam se adequar tanto tecnologicamente,
quanto em termos de gestão, para efetivamente conseguir fazer da inovação um fator
determinante para a competitividade. (GURGEL, 2006, p. 89)
A inovação ambiental pode ser entendida como o uso adequado da inovação a favor do
meio ambiente, visto que implica na utilização intensiva da criatividade, do capitalismo
consciente, equilíbrio voltados ao bem-estar social. Os problemas ambientais atuais foram gerados
por meio da industrialização e urbanização descontrolada, podem ser acolhidos, equacionados e
até minimizados com a aplicação da criatividade e a inovação em diversas áreas, com um novo
olhar sobre o meio ambiente.
No entender de Schmitt e Pereira, (2017, p. 3-9):
O planejamento estratégico tem relação direta com o estabelecimento de objetivo
estratégicos, que visam reforçar as competências essenciais da organização nos fatores
críticos de sucesso, através da conversão da visão e missão em desempenhos -alvo
específicos e proporcionando foco em resultados para a organização (Serra, 2004). No
alcance do desempenho existe uma forte evidência de que as capacidades
administrativas e os princípios organizacionais, não só “know-how” tecnológico, são as
chaves da inovação (Volberda et al, 2005). Os atributos chave das capacidades
dinâmicas administrativas são a base de conhecimento amplo, alta capacidade de
absorção, ampla visão administrativa, e o. alto nível de aprendizado. O desenvolvimento
de formas criativas e inovadoras de desempenhar as atividades vem sendo o aspecto
fundamental para o alcance de objetivos e viabilização das atividades. A inserção de
novas tecnologias vem sendo observadas, como elementos facilitadores para o sucesso
desse processo seja para a agilizar processos, maximizar resultados ou possibilitar a
maior interatividade com o meio.
Esse processo deve, essencialmente, ser direcionados às micros e pequenas empresas - os
setores que mais empregam no país – para que possam desenvolver soluções que impactem direta
e positivamente no meio ambiente, mas essas empresas menores devem ter acesso a recursos
públicos para conseguirem realizar seus projetos em uma escala maior. Já as grandes empresas
industriais têm muito recurso para explorar e produzir com soluções inovadoras, sem gerarem
grande impacto no meio ambiente, mas geralmente não o fazem.
As grandes empresas alegam ter elevados custos para implementar esse processo, exigindo
sempre as benesses do poder público, com projetos atrelados à ajuda monetária recebida do
governo, deixando de lado a questão ambiental e social, mas tendo como objetivo, principal, levar
vantagem e sem uma contrapartida favorável ao bem-estar social, mas a sociedade brasileira vem
cobrando uma mudança drástica nessa relação entre empresa, poder público e recursos públicos.
CIDADES CRIATIVAS: CRIATIVIDADE, INOVAÇÃO E CAPITAL SOCIAL
Gonçalves e Cunha (2012, p. 5-6) relacionam os processos de elaboração de criatividade,
inovação, capital social e a globalização:
A criatividade, o conhecimento e a inovação, potenciadas pelas múltiplas oportunidades
geradas pela globalização, disseminação de informação e comunicação, têm sido assim
reconhecidas como os principais motores de desenvolvimento económico, social e
cultural das cidades. A este respeito é bem clara a UNCTAD quando refere que: No
mundo contemporâneo, um novo paradigma está a emergir, que liga a economia e a
cultura, abrangendo aspectos do desenvolvimento económico, cultural, tecnológico e
social tanto ao nível macro como micro. Central para o novo paradigma é o facto de a
criatividade, o conhecimento e o acesso à informação serem cada vez mais reconhecidos
como motores de crescimento económico e impulsionadores de desenvolvimento num
mundo globalizado. (2008, p. 3)
O incremento de ações voltadas ao desenvolvimento de uma cidade criativa e inovadora
não deverá basear‑ se em instrumentos convencionais de gestão, visto que requerem ações
coletivas, envolvendo os governos nos três níveis de poder, para tanto, a discussão, a seleção e a
legitimação do desenvolvimento tem foco orientador na ação coletiva.
A criatividade e inovação devem ser colocadas a serviço do desenvolvimento voltado a
cidade, representando um desafio para as autoridades públicas, visto que a cidade criativa é
construída com a cooperação entre as empresas, escolas, universidades e a comunidade. A ação de
governança da cidade criativa passa a ter uma abordagem centrada na sociedade e o bem-estar
social.
A rede de Cidades Criativas segundo a UNESCO:
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
criou em 2004 sua Rede de Cidades Criativas para promover a cooperação com e entre
as cidades que identificaram a criatividade como um fator estratégico para o
desenvolvimento urbano sustentável. A rede também está comprometida com o
desenvolvimento da Agenda para o Desenvolvimento Sustentável 2030 e seus objetivos
são: – Estimular e reforçar as iniciativas lideradas pelas cidades -membros para tornar a
criatividade um componente essencial do desenvolvimento urbano através de parcerias
entre os setores público e privado e a sociedade civil; – Fortalecer a criação, produção,
distribuição e divulgação de atividades, bens e serviços culturais; – Desenvolver polos
de criatividade e inovação e ampliar as oportunidades para criadores e profissionais do
setor cultural; – Melhorar o acesso e a participação na vida cultural, bem como o
aproveitamento dos bens e serviços culturais, nomeadamente para o s grupos e
indivíduos marginalizados ou vulneráveis; – Integrar plenamente a cultura e a
criatividade no desenvolvimento de planos e estratégias locais. O Brasil possui 5
cidades na rede atualmente: Belém (gastronomia), Salvador (música) e Santos (cinema)
desde 2015, Curitiba (design) e Florianópolis (gastronomia) desde 2014. Ainda não há
cidades brasileiras nas áreas de artesanato, literatura e mídia. Disponível em:
<http://via.ufsc.br/a-rede-de-cidades-criativas-da-unesco/>. Acesso em:
03/Fevereiro/2017
A cidade criativa (CUNHA; MAKIYA, 2014) tem sua sustentação na visão colaborativa,
isto envolve os setores público, privado, não lucrativo e a comunidade, colaborando
sinergicamente para dar forma real e cunho social aos bairros, vilas e cidades em torno das
atividades culturais, criativas e a sustentabilidade.
Gonçalves e Cunha (2012, p. 8-9) citam Evans et al. (2006) e Woodcraft et al. (2011) para
destacar as atividades culturais e criativas:
Evans et al. (2006) [ ] ...“as atividades culturais e criativas são também um poderoso
veículo para o desenvolvimento e o envolvimento da comunidade fornecendo
oportunidades a bairros e grupos sociais economicamente desfavorecidos”. A dimensão
inclusiva da cidade criativa e inovadora revela‑ se assim intrínseca ao seu conceito. De
facto, a prioridade tem sido dada à dimensão económica e ambiental no contexto das
cidades e das políticas públicas, como são exemplo projetos de comunidades de baixo
carbono, edifícios inteligentes, veículos elétricos, eficiência energética, recursos
renováveis e recicláveis promovendo comportamentos ecológicos (WOODCRAFT et
al., 2011). No entanto, como resultado desta tendência, poucos recursos práticos
respondem diretamente à questão de criar cidades socialmente sustentáveis para além
das vertentes económica e ambiental.
A gestão da cidade criativa a criatividade e a inovação deixam de ter apenas o caráter
competitivo e organizacional, tem uma concepção mais social, baseada na produção de novas
ideias, produtos, serviços e processos, capazes de atender aos interesses econômicos, mas acima
de tudo, criando novas relações econômico-sociais, orientada ao bem‑ estar social, deixando de
ser uma utopia, deste modo, passa a configurar um aspeto mais importante à vida da cidade - as
pessoas e como elas vivem.
Para Gonçalves e Cunha (2012, p. 10) “uma cidade socialmente criativa e inovadora deverá
ser capaz de gerar novas ideias em resposta às necessidades sociais emergentes e transformar essas
ideias em práticas e ações”.
A relação entre a criatividade e a inovação no desenvolvimento urbano, a sustentabilidade,
a importância das atividades sociais, tornam-se desassociadas do paradigma de que cidade criativa
é sinônimo de atividades culturais, passando a configurar-se em um:
“sentido mais amplo e uma necessidade de identificar criatividade urbana com algo de
transversal à sociedade e à economia atual (remetendo para novas formas de atuar,
produzir, organizar, intervir, consumir), e portanto também transversal à cidade e à
atuação pública que sobre ela se pode desenhar” . É um facto inegável que a relação
entre criatividade e desenvolvimento urbano contempla um debate sociocultural,
político e académico de crescente intens idade, desde pelo menos o início desta década
(Scott, 2006). (SEIXAS; COSTA, 2017, p. 6-12).
É necessário criar nas cidades uma nova visão quanto a gestão pública – o atual prefeito da
cidade de São Paulo - vem sinalizando seu governo com a institucionalização de uma gestão mais
profissionalizada, trazendo para a administração pública sua experiência bem-sucedida no setor
privado, permitindo à geração de ideias e inovações, a interação social, a parceria entre o setor
privado em ações sociais, essas ações ganham mais espaço a cada dia na agenda política da cidade.
Espera-se que essa agenda não fique apenas no campo do discurso.
As políticas públicas, no Brasil, estão normalmente atreladas a imperativos econômicos em
detrimento a investimentos em bem-estar social, educação, saúde e apoio a outras formas de
criatividade.
Mas, está na hora, das autoridades brasileiras, principalmente, as municipais, invest irem
em múltiplos polos criativos e inovadores capazes de incentivar a descoberta de novas soluções
para problemas sociais, urbanos e ambientais, em parceria com empresas socialmente
responsáveis.
De acordo com Closs et al. (2014, p. 4):
Landry (2011), outro autor seminal nos estudos sobre Cidades Criativas, apresenta dez
indicadores para avaliar um local criativo, quais sejam: 1) contexto político e público;
2) distinção, diversidade, vitalidade e expressão; 3) abertura, confiança, tolerância e
acessibilidade; 4) empreendedorismo, exploração e inovação; 5) liderança estratégica,
agilidade e visão; 6) talento e perspectiva de aprendizagem; 7) comunicação,
conectividade e redes; 8) o lugar e o placemaking (relacionado ao planejamento,
desenho e gestão do espaço público); 9) habitabilidade e bem estar; 10) profissionalismo
e efetividade. O autor sugere ainda a busca da presença das seguintes qualidades:
motivação, tenacidade, consciência, comunicação clara, pensamento aberto, inspiração,
aspiração, adaptabilidade, dinamismo, abertura, participação, sensibilidade para o
design, apreço sensorial, orgulho profissional, liderança e visão.
Segundo o British Council (2010) há cinco razões para se verificar os níveis de criatividade
e inovação de uma:
“cidade ou região: (1) levantar um perfil das indústrias criativas; (2) aprender mais sobre
esse setor dinâmico e sua evolução; (3) preparar-se para crescimento futuro; (4) engajar
líderes em questões de políticas públicas que afetem as indústrias criat ivas tais como
revitalização urbana, desenvolvimento rural e (5) coesão social”. (CUNHA; MAKIYA,
2014, p. 2).
Uma cidade criativa é uma cidade capaz de surpreender, que atiça a curiosidade, o
questionamento, o pensamento alternativo e, por conseguinte, a busca de soluções. Em uma cidade
criativa, independentemente de sua história, condição socioeconômica e tamanho, existem três
elementos essenciais e indissociáveis: inovação; conexões; cultura. (REIS; KAGEYAMA, 2011,
p. 33).
Assim sendo, para que uma cidade possa ser criativa requer uma transformação na gestão
pública, criar condições para que as pessoas possam se tornar agentes deste processo, valorizar
ações criativas e inovadoras, reorganizar o espaço urbano de forma sustentável, sem excluir os
aspectos sociais.
Closs et al. (2014, p. 6) cita Borén e Young (2013) em relação a novas formas criativas
aliadas ao bem-estar social:
Borén e Young (2013) esboçam, igualmente, proposições de novas formas para a
criatividade contribuir para o bem-estar e crescimento urbano, sugerindo: a reunião de
esforços para promover uma maior apreciação de formas de criatividade que apresentem
caráter local ou regional; a utilização de índices que associem criatividade com
habitabilidade e sustentabilidade; a abordagem de questões relativas à igualdade. Os
autores defendem que é preciso ir além da dicotomia presente na literatura entre
trabalhos que celebram a criatividade e trabalhos que rejeitam um papel para a
criatividade na cidade, abrindo novos caminhos para estudos acadêmicos
interdisciplinares que auxiliem formuladores de políticas públicas e atores envolvidos
em atividades criativas a interagir de um modo mais produtivo.
A cidade criativa tem papel fundamental em relação a infraestrutura urbana, a atração de
investimentos e profissionais criativos e inovadores, permitindo um melhor gerenciamento da
cidade, o desenvolvimento local, valorizando os aspectos culturais, intelectuais, tecnológicos,
inovadores, responsabilidade social empresarial com boas práticas, trazendo enormes ganhos ao
bem-estar social.
CONCLUSÃO
O ensaio apresentado indica que as inter-relações entre criatividade, inovação e
sustentabilidade podem contribuir para o desenvolvimento das cidades, gerando emprego,
movimentando a economia local, contribuindo para a sustentabilidade, por conseguinte, o aumento
do bem-estar social.
Entende-se que o processo criativo é fundamental para o desenvolvimento da “inovação
sustentável”, mas as questões relacionadas às empresas e o caráter econômico, ainda são os
aspectos que ainda produzem os maiores gargalos, isso implica na necessidade de uma intervenção
e monitoramento mais efetivo do poder público no desenvolvimento de formas criativas e
inovadoras para o alcance de objetivos e viabilização de resultados reais à sociedade.
Promover a sustentabilidade por meio da criatividade e da inovação é uma forma de olhar
para o futuro da sociedade. Se hoje os avanços tecnológicos são celebrados por diminuir fronteiras
e facilitar a comunicação entre as pessoas, talvez no futuro possamos comemorar, finalmente, a
união entre homem e natureza.
Acredita-se que a utilização de mecanismo de acompanhamento de indicadores com base
na criatividade, inovação, sustentabilidade, boas práticas empresariais e a gestão social venham a
ser o grande marco na gestão pública para os próximos anos.
Não há dúvidas quanto à necessidade de transformação dos modelos produtivos atuais, isto
exige a redução drástica deste cenário de destruição impostas às cidades, regiões e ao planeta.
A ideia de associação da criatividade e inovação, por meio de estratégias de
desenvolvimento local – as cidades criativas, veem acompanhadas de ações de renovação e
desenvolvimento regional e estão centradas em setores criativos e inovadores, geradores de riqueza
econômica, cultural e social.
Neste contexto, a criatividade e a inovação tornam-se fatores essenciais utilizados pelas
cidades criativas em resposta aos diferentes desafios impostos no atual cenário internacionalizado,
mas assume grande importância quando associada, principalmente, à singularidade de cada cidade.
Cabe aqui ressaltar o papel das cidades criativas, enquanto modelo dinamizador das inter-
relações entre criatividade, inovação e sustentabilidade, capazes de promover boas práticas
empresariais, refletido diretamente no bem-estar social.
No entanto, vale ressaltar, também, que os políticos e grande parte do empresariado são
responsáveis pelas inúmeras barreiras impostas ao processo para obter o melhor uso do potencial
criativo e inovador, agregado a esforços na luta pelo desenvolvimento sustentável de determinadas
regiões.
A cidade criativa deve ter um eixo norteador não só nas grandes empresas, mas o
desenvolvimento de micros e pequenas empresas - os setores que mais empregam no país,
destinando recursos a esses empreendedores, visto que eles podem fazer maior e melhor uso de
seu potencial criativo, agregando assim, esforços na luta pelo desenvolvimento sustentável de
determinadas regiões.
Um modelo que pode ser utilizado para o desenvolvimento de ações criativas e inovadoras,
seria a criação de arranjos produtivos locais voltados as micros e pequenas empresas, neste sentido,
destaca-se o planejamento de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento urbano que
contemple a criatividade, a inovação, a sustentabilidade, a diversidade cultural e a inclusão social.
Portanto, desenvolver um modelo de cidade criativa exige alteração da sua estrutura, o
papel do poder público, das empresas e dos habitantes, em busca de um desenvolvimento
econômico-social mais adequados as necessidades da cidade, considerando-se, também, os ganhos
para o bem-estar social.
A cidade criativa baseia-se na “inovação sustentável” configurada na organização
institucionalizada pelos agentes envolvidos nesse contexto, capazes de desenvolverem ações
criativas e inovadoras com eficiência, sem deixar de lado, os aspectos naturais e a responsabilidade
socioambiental.
O novo modelo baseado na cidade criativa é capaz de impulsionar as inter-relações entre
criatividade, inovação, sustentabilidade, boas práticas empresariais, e tem como eixo central, uma
nova forma como se dá a concorrência organizacional, além do viés econômico, mas, também,
com uma abrangência ambiental e social.
Apesar de se tratar de uma pesquisa bibliográfica foi possível apontar a urgente necessidade
de se repensar o modelo de produção atual, substituindo-se por um novo modelo respeitando o
meio ambiente, compreendendo o quanto os recursos naturais são finitos e a necessidade de
criarem-se estratégias produtivas conectadas com preceitos sustentáveis.
Ainda que o objetivo da presente pesquisa tenha sido atingido, vale salientar que as
limitações impostas pelo campo teórico, por meio da pesquisa bibliográfica, ficam evidentes e,
como sugestão para pesquisas futuras, sugere-se a investigação por meio de uma pesquisa
exploratória que incorpore os elementos de análise de cidades criativas e os diversos agentes
envolvidos nesse processo, capaz de mensurar o grau de desenvolvimento em uma região criativa,
permitindo aprofundar a compreensão das potencialidades, limitações e suas implicações.
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