Cyntia Martins Lima Integrões em Bactérias de Gram ...

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Universidade de Aveiro Ano 2011 Departamento de Biologia Cyntia Martins Lima Integrões em Bactérias de Gram-negativo em Ambiente Hospitalar

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Universidade de Aveiro

Ano 2011

Departamento de Biologia

Cyntia Martins Lima

Integrões em Bactérias de Gram-negativo em Ambiente

Hospitalar

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Universidade de Aveiro

Ano 2011

Departamento de Biologia

Cyntia Martins Lima

Integrões em Bactérias de Gram-negativo em Ambiente

Hospitalar

Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento

dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em

Microbiologia, realizada sob a orientação científica da Professora

Doutora Sónia Alexandra Leite Velho Mendo, do Departamento de

Biologia da Universidade de Aveiro.

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O júri

Presidente Prof.ª Doutora Adelaide Almeida

Professora Auxiliar do Departamento de Biologia da Universidade de

Aveiro

Doutora Anabela Oliveira Pereira

Investigadora em Pós-Doutoramento do CESAM

Vogais

Prof.ª Doutora Sónia Alexandra Leite Velho Mendo.

Professora Auxiliar do Departamento de Biologia da Universidade de

Aveiro

Dr. Elmano Ramalheira

Médico Patologista Clínico do Hospital Infante D. Pedro de Aveiro

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5

Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus que me permitiu estar aqui diante de tantas

dificuldades.

A Prof. Sónia Mendo, que me recebeu no seu laboratório e com muito

carinho, e deu-me força quando não as tinham.

A todos do laboratório LBM, que me acolheram e com muita paciência me

ensinaram, e quando já não tinha mais vontade de continuar essa difícil

caminhada, eles me ensinaram a ser persistente.

A minha família que mesmo longe esteve presente nas horas mais difíceis

da minha vida, apoiando-me e incentivando-me. Meus pais sempre estarão

comigo.

Obrigada pela força a todos!

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Palavras-chave

Integrão classe 1, disseminação de genes de resistência, bactérias de Gram-negativo

multirresistentes

Resumo

O aparecimento de surtos bacterianos tem sido um dos maiores problemas nas

instituições hospitalares. O uso abusivo e indiscriminado de antibióticos tem

conduzido à emergência de bactérias multiresistentes. Estas bactérias possuem

diversos elementos genéticos móveis (plasmídeos, transposões, sequências de

inserção e integrões) que contribuem para a disseminação de genes de resistência

aos antibióticos entre diferentes espécies, por meio de um dos três mecanismos de

transferência de genes de resistência entre células bacterianas: transformação,

conjugação e transdução.

A disseminação de integrões em bactérias de Gram negativo em meio hospitalar

constituiu o objectivo do presente trabalho.

As amostras foram recolhidas nas superfícies do Serviço de Medicina II (2008) e

Serviço de Medicina Intensiva (2010), no Hospital Infante D. Pedro, Aveiro. Após

o isolamento das bactérias em meio selectivo para bactérias de Gram-negativo

(MacKonkey agar), todos os isolados foram analisados por BOX-PCR para

avaliação da clonalidade,

Foi pesquisada a presença de integrões de classe 1 e nos isolados positivos, foi

amplificada, caracterizada e sequenciada a respectiva região variável.

Os resultados mostraram a presença de integrões de classe 1 em diferentes espécies,

tais como Klebsiella oxytoca, Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae,

Enterobacter cloacae e Stenotrophomonas maltophilia tendo sido encontrado o

mesmo tipo de integrãoem diferentes espécies.

Assim, foi possível concluir que os integrões de classe 1 podem contribuir para a

disseminação de genes de resistência, podendo por isso contribuir para a

emergência de bactérias multirresistentes, sendo este um problema de preocupação

a nível Mundial.

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Keywords

Abstract

Class 1 integron, dissemination of resistance genes, Gram-negative bacteria

multiresistant

The emergence of bacterial outbreaks has been the main problem in several

hospitals. The excessive and indiscriminate use of antibiotics has led to the

emergence of multiresistant bacteria, which possess mobile genetic elements

(plasmids, transposons, insertion sequences and integrons) that contribute to the

dissemination of antibiotic resistance genes between different species. There are

three main mechanisms that allow transfer of resistance genes between bacterial

cells: transformation, conjugation and transduction.

The dissemination of integrons in Gram negative bacteria within the hospital

environment contribute to the dissemination of antibiotic resistance genes, and

constituted the main aim of the present work.

The samples were collected from the inanimate surfaces of the Serviço de Medicina

II 2008and Serviço de Medicina Intensiva 2010 of Hospital Infante D. Pedro,

Aveiro. After the bacterial isolation in selective media for Gram-negative bacteria

(MacKonkey agar), all isolates were selected, based on their clonality, using the

molecular technique BOX-PCR.

The presence of class 1 integrons was evaluated and in the positive isolates the

variable region was amplified sequenced and characterized.

Results showed the presence of class 1 integrons in different species, such as

Klebsiella oxytoca, Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae, Enterobacter cloacae

and Stenotrophomonas maltophilia, and the same array was present in different

bacterial species.

It can be concluded that class 1 integrons can contribute to the dissemination of

antibiotic resistance genes, and can therefore, contribute to the emergence of multi-

resistance strains.

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Índice

Introdução ............................................................................................................................................................. 15

1. Infecções em Ambiente Hospitalar ................................................................................................................ 16

1.1 Klebsiella ........................................................................................................................................................ 16

1.2 Escherichia coli............................................................................................................................................... 17

1.3 Pseudomonas aeruginosa................................................................................................................................ 17

1.4 Enterobacter cloacae ...................................................................................................................................... 18

1.5 Acinetobacter baumannii ................................................................................................................................ 19

2 –Antibióticos ..................................................................................................................................................... 20

3- Mecanismo de Acção do Antibiótico ............................................................................................................. 20

3.1 - Inibição da Síntese da Parede Celular Bacteriana ......................................................................................... 22

3.2 - Inibição da Síntese Proteica .......................................................................................................................... 22

3.3 - Inibição da Síntese de Ácidos Nucleicos ...................................................................................................... 23

3.4 - Ligação à Membrana Citoplasmática ............................................................................................................ 23

4. - Mecanismos de Resistência dos Antibióticos .............................................................................................. 24

4.1 - Resistência intrínseca .................................................................................................................................... 26

4.2 - Resistência Adquirida ................................................................................................................................... 26

4.3 - Inactivação e Degradação enzimática do Antibiótico ................................................................................... 27

4.4 -Alterações na estrutura do local alvo do antibiótico ...................................................................................... 27

4.5 - Efluxo do Antibiótico ................................................................................................................................... 28

4.6 – Alteração da Permeabilidade Membranar .................................................................................................... 29

5 - Disseminação dos genes de resistência aos antibióticos ............................................................................. 29

5.1 - Mutação ........................................................................................................................................................ 30

5.2 - Transformação .............................................................................................................................................. 31

5.3 - Conjugação ................................................................................................................................................... 31

5.4 - Transdução .................................................................................................................................................... 32

5.5 - Elementos Genéticos Móveis ........................................................................................................................ 32

5.5.1 - Plasmídeo ................................................................................................................................................... 33

5.5.2 - Transposões ............................................................................................................................................... 35

5.5.3 - Integrões .................................................................................................................................................... 36

5.5.3.1 - Plataforma dos integrões ......................................................................................................................... 37

5.5.3.2 - Genes Cassettes ...................................................................................................................................... 39

5.5.3.3 - Segmento Conservado 3’ ........................................................................................................................ 38

5.5.3.3 - Segmento Conservado 5’ ........................................................................................................................ 37

5.5.3.4 - Região Variável ...................................................................................................................................... 38

5.5.3.6 - Classificação dos Integrões ..................................................................................................................... 40

5.5.3.6.1 - Integrões de Classe 1 ........................................................................................................................... 41

5.5.3.6.2 - Outras Classes dos Integrões ............................................................................................................... 41

6. Objectivo .......................................................................................................................................................... 43

7 - Material e Métodos ........................................................................................................................................ 45

7.1 - Identificação dos locais de recolhas dos Isolados ......................................................................................... 45

7.2– Recolha, Selecção e Conservação dos Isolados ............................................................................................ 45

7.3– Extracção de DNA ........................................................................................................................................ 46

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7.4 - Caracterização Fenotípica ............................................................................................................................. 46

7.4.1- Avaliação da Clonalidade dos Isolados ...................................................................................................... 46

7.4.2 – Amplificação dos Ácidos Nucleicos por PCR ( Polymerase Chain Reaction) .......................................... 47

7.4.3 – Detecção de Genes que codificam enzimas β-Lactamases ........................................................................ 48

7.4.4 – Visualização dos Produtos Amplificados .................................................................................................. 50

7.4.5 – Digestão da Região Variável ..................................................................................................................... 50

7.4.6 – Purificação dos Produtos ........................................................................................................................... 51

7.4.7 – Determinação da Sequência Nucleotídica ................................................................................................. 51

8 - Resultados e Discussão .................................................................................................................................. 53

8.1 - Serviço de Medicina II (SMII) ...................................................................................................................... 53

8.1.1 – Tipagem Molecular ................................................................................................................................... 53

8.1.2 Caracterização da Região Variável .............................................................................................................. 53

8.1.3 Presença de enzimas β-lactamases no SMII ................................................................................................. 56

8.2 - Serviço de Medicina Intensiva (SMI) ........................................................................................................... 59

8.2.1 Tipagem Molecular ...................................................................................................................................... 59

8.2.2 Caracterização da Região Variável .............................................................................................................. 61

9. Conclusão ......................................................................................................................................................... 65

10. Referências Bibliográficas ............................................................................................................................ 66

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Índice de Figuras

Figura 1 -Mecanismos de acção exercidos pelas diferentes classes de antibióticos ........................................ 16

Figura 2- Estrutura geral dos antibióticos β-Lactâmicos ............................................................................. 17

Figura 3 -Mecanismos de Resistência Bacteriana ....................................................................................... 18

Figura 4 -Mecanismos genéticos de transferência de DNA entre bactérias ................................................... 24

Figura 5 -Esquema simplificado de um plasmídeo ..................................................................................... 31

Figura 6 -Representa o esquema de um transposão simples, associado às respectivas IS ................................ 32

Figura 7 -Representação esquemática de um Transposão Composto ............................................................ 33

Figura 8- A figura esquematiza as três regiões que constituem um integrão.................................................. 34

Figura 9- A figura representa o mecanismo de inserção dos genes cassette na região variável de um integrão . 37

Figura 10 -Prevalência de isolados bacterianos recolhidos nas diferentes superfícies do Serviço de medicina

Intensiva .................................................................................................................................................. 56

Figura 11-Percentagem de enzimas β-lactamases presentes nos isolados que apresentavam integrão classe1 .. 63

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Listas de Abreviaturas

aac – Aminoglicosídeo acetiltransferase

aad – Aminoglicosídeo adeniltransferase

arr – Rifampicina ADP ribosil transferase

attI – Local de recombinação 5’ CS

attC – Local de recombinação 3’CS

CS – Conserved Sequence

DNA – Ácido Desoxirribonucleico

ESBL – Beta-Lactamase de Espectro Alargado

IntI – Enzima Integrase

IR – Sequência de Inserção Invertida

IS – Sequência de Inserção

MBL – Metalo –Beta-Lactamase

MDR – Drogas Multirresistente

PBP – Penicillin Binding Proteins

PCR – Reacção em Cadeia de Polimerase

qac – Gene que codifica para a resistência a Compostos de Amónio Quaternário

Qnr – Gene de Resistência as Quinolonas

sul – Gene que codifica para a resistência de sulfonamidas

Tn – Transposão

tnpA – Transposase

VR- Região Variável

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INTRODUÇÃO

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Introdução

O crescente problema da resistência bacteriana está difundido em todo o mundo, e o

aparecimento de surtos hospitalares como consequência do uso indevido de antibióticos

constitui uma das maiores preocupações para a saúde humana. Assim, esta problemática tem

um grande impacto na morbilidade, na mortalidade e conduz a elevados custos nos cuidados

para a saúde pública. Contudo, o uso inadequado das diferentes classes de antibióticos,

conduziu à emergência de bactérias multirresistentes, as quais apresentam um perfil de

resistência a três ou mais classes de antibióticos, sendo por isso as opções terapêuticas cada

vez mais limitadas. (Sundsfjord 2004; Sousa 2006; Ferreira 2010; Tenover 2006). Além da

aplicação dos antibióticos na medicina humana, estes compostos são igualmente utilizados na

agricultura e na agropecuária, e muitas vezes de forma incorrecta. A elevada pressão selectiva

constitui um factor importante na emergência e disseminação de estirpes bacterianas

multirresistentes, uma vez que as bactérias têm a capacidade de desenvolver ou adquirir

mecanismos de resistência, em resposta aos mecanismos de acção dos antibióticos de forma a

sobreviverem na sua presença (Martinez 2009; Senka 2008; Sousa 2006).

Sendo que independentemente das condições do meio, podemos encontrar diferentes espécies

de bactérias de Gram-negativo, principalmente no ambiente hospitalar, as quais são

responsáveis por uma grande parte das infecções bacterianas (Senka 2008).

1. Infecções no Ambiente Hospitalar

O ambiente hospitalar está colonizado por uma vasta diversidade de espécies bacterianas,

nomeadamente bactérias de Gram-negativo, as quais têm a capacidade de desenvolver ou

adquirir adaptações que lhes permitem sobreviver nas superfícies hospitalares. Esta

permanência no ambiente hospitalar constitui um grave problema, uma vez que estas estirpes

podem facilmente infectar os pacientes imunodeprimidos. Devido à pressão selectiva

antibiótica existente no ambiente hospitalar, cada vez é mais frequente a emergência de

bactérias de Gram-negativo multirresistentes associadas a infecções nosocomiais. Em muitos

casos, esta evolução está associada a bactérias comensais e oportunistas, tais como

Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae, que rapidamente apresentam um reduzido perfil de

susceptibilidade às diferentes classes de antibióticos (Senka 2008).

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As bactérias de Gram-negativo, geralmente apresentam um reduzido perfil de susceptibilidade

aos antibióticos devido em parte à composição da parede celular, a qual é constituída por uma

membrana interna e uma membrana externa, reduzindo assim a permeabilidade membranar

aos antibióticos (Mahamoud 2007). Também a presença de enzimas β-lactamases corresponde

a um dos mais importante mecanismo de resistência aos antibióticos, encontrados tanto em

espécies da família Enterobacteriaceae, como em espécies de Acinetobacter spp. e

Pseudomonas spp., as quais podem facilmente causar infecções nosocomiais (Peng

2007;Coque 2008).

A elevada prevalência associada a infecções e a aquisição de mecanismos de resistência a

novos antibióticos, tem levado os microrganismos a alcançar notoriedade como patogénicos

causadores de surtos de infecção hospitalar (Ardanuy 1998).

1.1 Klebsiella pneumoniae

O género Klebsiella pertence à família Enterobacteriaceae, e é composto por cinco espécies

bacterianas, sendo a espécie Klebsiella pneumoniae a mais importante (Martínez 2004).

Sendo esta uma espécie anaeróbia facultativa, pode ser encontrada em quase todos os

ambientes naturais, tais como o solo, a água e as plantas, mas pode também ser isolada

principalmente a partir do trato respiratório e do trato urinário. Actualmente, esta espécie

comensal e oportunista está na origem de uma diversidade de infecções nosocomiais, sendo

responsável por uma elevada taxa de mortalidade, e por isso é considerada uma espécie

patogénica (Baron 1996).

Esta espécie apresenta adaptações que lhe permitem sobreviver por muito tempo na pele e em

ambientes secos, tais como nas superfícies hospitalares, e têm a capacidade de conjugarem

com facilidade, o que lhes vai permitir adquirir genes que codificam resistência a diferentes

classes de antibióticos. Apesar da resistência adquirida, esta espécie é intrinsecamente

resistente a ampicilina devido à presença da enzima β-lactamase SHV-1, mas pode também

produzir enzimas plasmídicas como ampC, metalo-β-lactamases (MBL) e carbapenases

(KPC) (Pfaller 1998).

A espécie K. pneumoniae é a que produz maior variedade destas enzimas, o que poderia ser

explicado pelo facto destes microrganismos serem bons vectores / disseminadores de

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plasmídeos, ou adquirirem genes que codificam enzimas β-lactamases de espectro estendido

(ESBLs) mais rapidamente que outras espécies pertencentes à família Enterobacteriacea

(Livermore 1995).

K. pneumoniae é uma importante causa de infecção hospitalar principalmente associada à

pneumonia decorrente da colonização de pacientes hospitalizados, sendo proporcionais aos

dias de internação, podendo ser isoladas nasofaríngea, mãos e fezes com uma frequência de

20%, 42% e 77% respectivamente. A alta taxa de colonização nosocomial pela Klebsiella

pode estar associada com o uso do antibiótico e prestação dos cuidados hospitalares. Ou seja,

pacientes que tiveram infecções por K.pneumoniae produtoras de ESBL, tiveram infecções

precedidas pela colonização do tracto gastrointestinal. A capacidade desse microrganismo em

se disseminar rapidamente, muitas vezes, pode levar aos surtos nosocomiais (Podschun 1998).

1.2 Escherichia coli

A espécie E. coli pertence ao género Escherichia, que por sua vez pertence à família

Enterobacteriaceae. Esta espécie é caracterizada como anaeróbica facultativa, oxidase

negativa e pode ser isolada predominantemente do sistema gastrointestinal do Homem e

diversos animais (Sáenz 2004).

A bactéria E. coli, juntamente com outras bactérias comensais, desempenha um papel

protector do intestino contra infecções causadas, por exemplo, por bactérias patogénicas como

a Salmonella. No entanto, a bactéria E. coli, apesar de ser considerada uma espécie comensal

e oportunista, pode tornar-se patogénica devido à aquisição de genes de resistência aos

antibióticos e ao desenvolvimento de uma série de factores de virulência (Yingst 2006).

Sendo assim, esta espécie é responsável por graves infecções intestinais, infecções urinárias,

colite hemolítica, meningite neonatal e septicémia (Obi 2004). Contudo, pode desencadear

infecções entéricas, dependendo do tipo de factor de virulência possuem: enterotoxigénicas,

enteroinvasivas, enterohemorragicas, enteropatogenicas e enteroagregativas (Guentzel 1996;

Obi 2004).

1.3 Pseudomonas aeruginosa

Esta espécie oportunista é uma das mais patogénicas e virulentas, e apresenta algumas

propriedades que a tornam um problema para as instituições hospitalares, nomeadamente

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inúmeros factores de virulência, e uma grande capacidade de adquirirem genes de resistência

aos antibióticos (Siegel 2008, Pool 2001).

Infecções causadas por esta espécie (pneumonias, infecções do trato urinário, bacteremias e

infecções nos rins) têm sido particularmente desafiantes, uma vez que o seu perfil de

resistência tem-se tornado significativo ao longo do tempo, em consequência da pressão

selectiva existente no ambiente hospitalar (Nouér 2005).

Sendo assim, a maioria das infecções causada por P. aeruginosa ocorre no ambiente

hospitalar em pacientes submetidos a procedimentos invasivos, como o uso de sondas,

cateteres vasculares, tubo endotraqueal e cirurgias, sendo mais frequente em pacientes

internados no serviço de medicina intensiva (Mulvey 2009).

A capacidade de P. aeruginosa sobreviver e colonizar superfícies hospitalares deve-se em

grande parte à formação de biofilmes, que impedem a penetração dos antibióticos (Siegel

2008). Também o desenvolvimento e aquisição de mecanismos de resistência contribuem para

o perfil de multirresistência apresentado por esta espécie, e daí a elevada patogenicidade.

Perante estes factores, as opções de tratamento de infecções causadas por P. aeruginosa são

cada vez mais escassas e limitadas, e daí a elevada percentagem de mortalidade (Nickel

1989).

1.4 Enterobacter cloacae

A espécie E. cloacae pertence à família Enterobacteriaceae e é considerada uma

espécie oportunista, uma vez que faz parte da flora normal do trato gastrointestinal dos

humanos, mas também pode ser encontrada no ambiente (Keller 1998).

Esta espécie é intrinsecamente resistente à ampicilina e às cefalosporinas de estreito

espectro, devido à produção de cefalosporinases cromossómicas e de algumas ESBLs

codificadas por plasmídeos. Também apresenta uma elevada frequência de mutações

que lhes conferem resistência às cefalosporinas de amplo espectro e ao aztreonam, mas

o seu perfil de resistência pode também estar associado a proteínas da membrana

externa, que expulsam o antibiótico (Cornaglia 1995). No caso de isolados clínicos de

E. cloacae, a resistência ao imipenemo pode ser devida a alteração nas porinas em

17

combinação com a hiperprodução de cefalosporinases cromossomais, ou pode estar

associada directamente à produção de carbapenemases (Jeong 2003).

Sendo esta espécie comensal e oportunista pode tornar-se patogénica e infectar

pacientes imunodeprimidos. Alguns autores sugerem que infecções causadas por E.

clocae, normalmente estão associadas ao trato digestivo (Jeong 2003; Lambert-

Zechovsky 1992; Sekar 2008).

1.5 Acinetobacter baumannii

O genéro Acinetobacter é caracterizado como bacilo de Gram-negativo, ubiquitário,

aeróbio estrito, não fermentador, imóvel, catalase positiva e oxidase negativa. Até à

data, dentro deste género estão descritas trinta e uma espécies, distribuídas por diversos

habitats naturais (solo, água, vegetais, animais e humanos), mas algumas fazem parte da

flora comensal da pele e mucosas humanas (Ash 2002).

A bactéria A. baumannii é oportunista e apresenta vários factores de virulência que

permitem a sua sobrevivência em superfícies hospitalares, e a colonização de

equipamentos hospitalares, principalmente ventiladores mecânicos, máquinas de

diálises, fontes de água. Além das suas adaptações, esta espécie consegue sobreviver em

condições ambientais adversas como soluções de desinfectantes e variações de

temperatura, o que contribui para o seu potencial de patogenicidade (Bernards 2004).

Um outro mecanismo de resistência presente nestas espécies é a produção de ESBL e de

carbapenemases, que lhes conferem um alto índice de resistência aos oximino-β-

lactâmicos. Os produtores destas enzimas são cada vez mais um grave problema para as

instituições hospitalares devido à disseminação horizontal destes genes (Livermore

2007).

Sendo assim, actualmente esta espécie está frequentemente associada a surtos

hospitalares, causando graves infecções tais como septicemia, pneumonias e infecções

urinárias (Poirel 2006).

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2 –Antibióticos

Antibióticos são compostos que têm a capacidade de interagir com as bactérias. Estes, podem

ser classificados como bactericidas, quando eliminam totalmente o microrganismo, ou como

bacteriostáticos, se apenas inibem o seu metabolismo.

O primeiro antibiótico surgiu de uma forma imprevisível e surpreendente. Após várias

experiências realizadas por Alexander Fleming, em 1928 surge a penicilina. A partir de 1940

iniciou-se o processo de comercialização dos antibióticos e sua administração terapêutica. No

decorrer do tempo, esses compostos foram importantes no controlo de surtos bacterianos, e

mostraram-se eficazes no tratamento de infecções causadas por bactérias patogénicas

(Livermore 2003; Aminov 2009).

A introdução dos antibióticos é provavelmente uma das formas mais bem sucedidas no

tratamento de infecções na história da medicina. No entanto, esta descoberta pode estar cada

vez mais ameaçada pela emergência de bactérias resistentes às diferentes classes de

antibióticos, e pela diminuição do desenvolvimento de novos compostos (Aminov 2009).

Tendo em conta que os microrganismos possuem uma enorme diversidade metabólica, as

diferentes classes de antibióticos apresentam locais de acção específicos dentro da célula

bacteriana, de modo a combatê-la. (Hancock 2007;Aminov 2009 Sousa 2006; Ferreira 2010).

Esta eficácia também está relacionada com a concentração administrada e com a estabilidade

da estrutura química, de forma a não ser facilmente alterada ou degradada (Hancock 2007;

Senka 2008).

3 - Mecanismo de Acção dos Antibióticos

O recurso aos antibióticos na medicina moderna é inevitável e essencial no combate a

infecções bacterianas. Contudo, e apesar da sua eficácia, cada vez mais surgem bactérias

resistentes a diferentes classes de antibióticos. A resposta a essa grande problemática foi e

continuará a ser a introdução de novos antibióticos, com diferentes locais de acção dentro da

célula bacteriana, de modo a combater as bactérias resistentes (Coates 2007).

Os antibióticos não exercem uma actividade biológica no organismo humano, uma vez que

apenas actuam contra células procarióticas, mas impedem o crescimento ou provocam a morte

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dos microrganismos infectantes. As diferentes classes de antibióticos são agrupadas de acordo

com seu modo de acção na célula bacteriana, como esquematiza a Figura 1 e resume a Tabela

1. Existem diferentes mecanismos de acção, entre os quais se destacam: a inibição da síntese

da parede celular, inibição da síntese proteica, inibição da síntese de ácidos nucléicos e

interferência ao nível do metabolismo celular bacteriano (Ferreira 2010; Wright 2005; Senka

2008).

Figura 1. Mecanismos de acção exercidos pelas diferentes classes de antibióticos sobre a célula bacteriana

(Adaptada Saenz, 2004).

3.1 - Inibição da Síntese da Parede Celular Bacteriana

A estrutura rígida da parede celular permite que as bactérias mantenham uma pressão

osmótica muito elevada, devido à ligação cruzada dos seus precursores, que ocorre durante a

síntese da parede celular bacteriana e é catalisada por enzimas específicas. As classes de

antibióticos que actuam ao nível da síntese do peptidoglucano afectam a integridade da parede

celular e levam à sua lise. Este processo é controlado pelas proteínas PBP (penicilin-binding-

proteins), que interagem com os antibióticos β-lactâmicos de forma a inibir irreversivelmente

as enzimas D-D-carboxitranspeptidases. Os antibióticos β-lactâmicos (penicilinas,

Síntese da Parede Celular

β-Lactâmicos

Glicopéptidos

Síntese de DNA

Quinolonas

Síntese de RNA

Rifampicina

a

Síntese Proteica

Tetraciclina

Cloranfenicol

Aminoglicosídeo

Macrolídeos

Ma

Vias Metabólicas

Sulfonamidas

20

cefalosporinas, carbapenemos e monobactâmicos), possuem um anel β-lactâmicos activo

(Figura 2), que impede a biossíntese do peptidoglucano na sua fase parietal. Em relação aos

glicopéptidos (vancomicina e teicoplanina), estes interferem igualmente na síntese do

peptidoglucano, mas ligam-se quimicamente ao terminal D-alanina-D-alanina, bloqueando a

reacção transpeptidase (Lemaire 2008;Ferreira 2010; Senka2008; Tenover 2006).

Figura 2. Estrutura geral dos antibióticos β-Lactâmicos (http://imagem.google.com).

3.2 - Inibição da Síntese Proteica

O mecanismo da inibição da síntese de proteínas bacterianas é bastante distinto da célula

eucariótica, uma vez que as subunidades ribossomais são diferentes. Assim o alvo de acção

dos macrolídeos, das tetraciclinas e dos aminoglicosídeos é ao nível das subunidades

ribossomais 30S ou 50S, impedindo que a tradução do RNA mensageiro ocorra normalmente

(Ferreira 2010; Senka 2008; Walsh2000).

À subunidade ribossomal 30S ligam-se os aminoglicosídeos que têm a capacidade de inibir a

iniciação da síntese proteica, e as tetraciclinas que impedem a ligação codão-anticodão entre o

RNA transferência e o local A dos ribossomas. À subunidade ribossomal 50S ligam-se os

macrolídeos que interferem com a elongação da cadeia polipeptídica, e os cloranfenicóis que

impedem a acção da transpeptidase (Ferreira 2010;Senka 2008; Tenover 2006).

21

3.3 - Inibição da Síntese dos Ácidos Nucléicos

Existem classes de antibióticos que actuam ao nível da replicação e da transcrição do DNA,

de modo a que estas fases não ocorram normalmente, inibindo assim a síntese dos ácidos

nucleicos (Senka 2008; Walsh 2000).

As quinolonas interferem na acção das enzimas topoisomerase II, DNA girase e

topoisomerase IV, as quais estão envolvidas na replicação do DNA. No caso da rifampicina,

esta interfere a nível da transcrição do DNA, uma vez que tem a capacidade de se ligar à RNA

polimerase (Senka 2008; Ferreira 2010; Tenover 2006).

3.4 - Ligação à Membrana Citoplasmática

A membrana celular bacteriana tem a função de semi-permeabilidade, e permite a passagem

de iões K+ acumulados no citoplasma bacteriano. A alteração dessa permeabilidade provoca

efluxo de K+, de aminoácidos e de nucleótidos, causando a morte celular. Como exemplo, as

polimixinas têm efeito inibitório onde alteram a permeabilidade da membrana externa e

ligam-se entre os fosfolípidos. A polimixina é bastante eficaz em bactérias de Gram-negativo,

pois altera tanto a membrana citoplasmática como a membrana externa (Ferreira 2010).

Tabela 1 - Mecanismos de acção de diferentes classes de antibióticos. (Adaptada de Alanis 2005)

Mecanismos de acção Família dos Antibióticos

Inibição da Síntese

da parede celular

β-lactâmicos (penicilinas, cefalosporinas, carbapenemos;

monobactâmicos), glicopeptídicos.

Inibição da Síntese

de Proteínas

Tetaciclinas; aminoglicosídeos,

Oxazalidinonas(Linezolidas),Streptogaramicinas.

Inibição da Síntese de DNA Fluoquinolonas

Inibição e Síntese de RNA Rifampicinas

Reacções Metabólicas Sulfonamidas e Trimetropim

Desorganização da

Membrana Citoplasmática

Polimixinas

22

4. - Mecanismos de Resistência aos Antibióticos

Ao longo do tempo, cada vez mais classes de antibióticos foram utilizadas de forma

indiscriminada, quer na medicina quer na pecuária e na agricultura. Perante esta pressão

selectiva, as bactérias tentaram responder com o desenvolvimento e aquisição de mecanismos

de resistência aos antibióticos, de modo a conseguirem sobreviver na presença destes

compostos. Actualmente, sabe-se que existem espécies bacterianas intrinsecamente resistentes

a determinadas classes de antibióticos, sendo estes mecanismos inatos da própria célula. No

entanto, há uma grande diversidade de espécies que têm a capacidade de adquirir genes de

resistência, alterando assim o seu perfil de susceptibilidade aos antibióticos, conseguindo

ultrapassar a acção imposta pelos antibióticos (Alonso 2001; Lim 2009;Poole 2004;

Sundsfjord 2004Alanis 2005; Martinez 2009).

Os padrões de resistência têm sido principalmente determinados por modificações na

permeabilidade da membrana externa de proteínas específicas, a outer membrane protein

(Omp), pela presença de bombas de efluxo, e pela produção de enzimas especializadas na

hidrólise de antibióticos (Figura 3). Existem bactérias com capacidade de combinar e

expressar diferentes mecanismos de resistência, desenvolvendo um perfil de resistência

significativo, como acontece com algumas espécies de K. pneumoniae que apresentam

resistência aos carbapenemos, devido à combinação da hiperprodução de ESBLs ou

cefalosporinases, com mutações em proteínas membranares, nomeadamente as OMPK.

Assim, esta combinação de mecanismos de resistência permite-lhes uma melhor “defesa”

contra os antibióticos em causa (Mohamudha 2010; Livemore 2002; Bush 1995).

23

Figura 3. Mecanismos de Resistência Bacteriana. (http://imagem.google.com)

4.1 - Resistência intrínseca

A resistência intrínseca está normalmente associada a genes cromossomais ou a determinantes

das características da bactéria, independentes das mutações ou da resistência adquirida. Este

tipo de resistência ocorre naturalmente nas células bacterianas que não sofrem alterações

genéticas ou bioquímicas no genoma e, portanto desenvolvem os seus próprios mecanismos

resistência. Sendo assim, uma espécie bacteriana pode ser resistente a uma determinada classe

de antibióticos em virtude da sua composição genética (Mulvey 2009;Harbottle 2006).

Como exemplo, os bacilos de Gram-negativo são intrinsecamente resistentes à vancomicina e

teicoplanina, e espécies de Streptococcus spp. são intrinsecamente resistentes aos

aminoglicosídeos. Em ambos os casos, a resistência intrínseca está relacionada com o elevado

peso molecular das moléculas que constituem estes compostos, o que impede a sua difusão

através das porinas presentes na membrana externa (Sousa 2006; Mulvey M.2009; Alanis

2005).

4.2 - Resistência Adquirida

A resistência adquirida envolve a aquisição de um novo material genético, e como resultado a

alteração do genótipo da bactéria. Como consequência da alteração genética, o fenótipo

24

apresentado pela bactéria receptora será igualmente alterado, sendo o resultado dos genes

adquiridos, podendo exibir assim um perfil de resistência (Mulvey 2009;Harbottle 2006).

Sendo assim, a transferência horizontal de genes de resistência tem um papel importante na

disseminação de determinantes genéticos de resistência entre diferentes espécies bacterianas,

sendo este um problema mundial cada vez mais preocupante no tratamento de infecções

bacterianas (Alonso 2001; Alanis 2005). O processo de conjugação ocorre entre espécies

devido principalmente a plasmídeos conjugativos. Contudo, há outros elementos genéticos

móveis importantes na disseminação de genes de resistência aos antibióticos, tais como

transposões, sequências de inserção e integrões (Lim 2009;Poole 2004; Sundsfjord 2004;

Ferreira 2010). Actualmente, um exemplo preocupante em todo o mundo é a disseminação

horizontal de genes que codificam enzimas β-lactamases, os quais podem ser facilmente

adquiridos por diversas bactérias patogénicas (Mulvey 2009;Harbottle 2006).

As mutações cromossomais, apesar de menos frequentes, podem também ser consideradas um

processo de resistência adquirida, uma vez que a bactéria pode exibir um novo perfil de

resistência (Mulvey 2009; Martinez 2009).

4.3 - Inactivação e Degradação enzimática do Antibiótico

Actualmente, a maioria das espécies bacterianas desenvolvem ou adquirem enzimas capazes

de inactivar ou degradar a maioria das classes de antibióticos, sendo este considerado um dos

principais mecanismos de resistência. As alterações na estrutura química destes compostos

ocorrem por hidrólise, transferência de grupos químicos e mecanismos de oxidação-redução.

Estes determinantes de resistência normalmente surgem associados a elementos genéticos

móveis, o que tem contribuído para uma elevada disseminação destes genes e para um

aumento da multirresistência (Mulvey 2009; Senka2008; Ferreira 2010).

A presença de enzimas β-lactamases constitui um dos mecanismos enzimáticos mais comuns

e representativos em bactérias de Gram-negativo, tendo apresentado, ao longo dos anos, um

impacto considerável em todo o mundo (Mulvey 2009). Estas enzimas têm a capacidade de

hidrolisar o anel β-lactâmico das penicilinas, cefalosporinas e carbapenemos, inactivando-os,

impedindo assim que estes exerçam a sua acção na célula bacteriana. A grande maioria dos

genes que codificam para enzimas β-lactamases pode estar localizado no cromossoma, ou

25

associados a elementos genéticos móveis, facilitando a sua transferência entre diferentes

espécies (Mulvey 2009; Senka 2008; Tenover 2006).

Outro grupo importante na inactivação antibiótica são as enzimas transferases, que têm a

capacidade de actuar e modificar quimicamente algumas classes de antibióticos, tais como os

aminoglicosídeos, cloranfenicol, macrolídeos e rifampicina (Senka, 2008).

4.4 -Alterações na estrutura do local alvo do antibiótico

A alteração do local de acção dos antibióticos constitui uma outra forma de resistência

igualmente importante, uma vez que facilmente pode ocorrer mutações no local alvo, de

forma a impedir que o respectivo antibiótico se ligue e exerça a sua acção (Chroma 2010).

Um exemplo deste mecanismo de resistência pode ocorrer ao nível dos genes cromossomais

que codificam as enzimas DNA girase e a topoisomerase IV, o que vai provocar uma redução

na susceptibilidade às quinolonas (Mulvey 2008; Ferreira 2010).

4.5 - Efluxo do antibiótico

O sistema de efluxo é um mecanismo importante na resistência a diversas classes de

antibióticos, nomeadamente macrolídeos, tetraciclinas e quinolonas (Senka 2008). Neste tipo

de mecanismo são os transportadores activos que bombeiam compostos para fora da célula,

diminuindo a concentração do antibiótico no interior da bactéria (Zechini 2009; Martinez

2009; Chevalier 2008). Um outro exemplo é o sistema MexA-MexB-OprD presente na

espécie P. aeruginosa, que pode estar associado à resistência ao meropenemo (Martinez

2009).

Os sistemas de efluxo são agrupados em famílias de proteínas transportadoras com base na

homologia da sequência de aminoácidos, semelhança na estrutura secundária e tamanho.

Estão descritas cinco classes: Major Facilitator Superfamily (MFS), ATP-binding cassette

(ABC), Small Multidrug Resistance (SMR), Resistance nodulation-division (RND),

Multidrug and Toxic compound extrusion (MATE). Todos utilizam força motriz de protões

como fonte de energia, com excepção da família ATP-binding que utilizam energia da

hidrólise do ATP para exportação dos substratos (Poole 2004; Mahamoud 2007).

26

O sistema de efluxo da família RND é o mais importante sistema de resistência aos

antibióticos em bactérias de Gram-negativo, apresenta uma baixa especificidade de substrato,

sendo capaz de transportar uma variedade de compostos como antibióticos, biocidas, corantes,

detergentes, inibidores metálicos, hidrocarbonetos aromáticos, sais biliares, homoserinas e

lactonas associadas com o “quorum-sensing” (Poole 2004; Moreira 2004; Martinez 2009).

4.6 – Alteração da Permeabilidade membranar

A parede celular das bactérias de Gram-negativo difere da parede celular das bactérias de

Gram-positivo, devido à presença de uma membrana externa, a qual tem um papel importante

como barreira permeável que evita a entrada de substâncias nocivas, mas ao mesmo tempo

permite o fluxo de moléculas de nutrientes. Este fluxo de moléculas para o interior da célula é

assegurado por um complexo de proteínas transmembranares ou porinas, nomeadamente as

OMPs. As porinas permitem a difusão de solutos hidrófilos e hidrofílicos, de acordo com o

seu peso molecular, dimensão e estrutura (Nikaido 1994; Ferreira 2010). Em algumas

espécies, a sobreexpressão ou subexpressão de uma ou mais porinas pode estar relacionada

com a resistência a algumas classes de antibióticos (Nikaido 1994).

5 - Disseminação dos genes de resistência aos antibióticos

Como referido anteriormente, actualmente, é cada vez mais frequente a emergência de

estirpes multirresistentes aos antibióticos, principalmente devido à rápida disseminação de

genes de resistência. Esta transferência horizontal de genes ocorre devido a elementos

genéticos móveis, contribuindo para a evolução e adaptação bacteriana ao meio envolvente

(Benett 2008; Kelly 2009).

As modificações na herança genética podem ser feitas por uma de duas maneiras: i) por

mutações que alteram o DNA de uma célula pré-existente, essas alterações resultam de

alterações de bases, deleções e ou inversões no DNA e ii) por aquisição de um novo material,

através da captura de novos genes (Kelly 2009).

As bactérias apresentam três principais mecanismos de transferência de determinantes de

resistência de uma célula bacteriana para outra, tais como a transformação, a conjugação e a

transdução (Figura 4).

27

Figura 4. Mecanismos genéticos de transferência de genes entre bactérias. (A) Transformação; (B) Transdução e

(C) Conjugação (Adaptada Furuya 2006).

5.1 – Mutação

As mutações espontâneas ocorrem aleatoriamente por delecção, duplicação, inversão ou

translocação de fragmentos de DNA, durante a sua replicação, podendo por vezes não serem

reparadas por mecanismos celulares. No entanto, existem mutações induzidas por agentes

mutagénicos físicos e químicos. As mutações provocam alterações nas sequências de bases de

uma determinada região genómica, e como consequência, modificações nos níveis de

expressão dos genes, e nas funções das proteínas (Ferreira 2010;Lima e Mota 2003; Senka

2008). Assim, a resistência aos antibióticos pode ocorrer por mutações pontuais nos

nucleótidos da cadeia de DNA em crescimento e permitem produzir um fenótipo de

resistência (Senka 2008; Normark 2002).

28

5.2 - Transformação

A transformação é uma propriedade natural de algumas espécies bacterianas para captar

fragmentos de DNA do meio ambiente, os quais são incorporados no genoma bacteriano por

recombinação homóloga. Esta alteração genotípica pode conferir um novo fenótipo / perfil de

resistência à bactéria (Ferreira 2010; Kelly 2009).

As bactérias competentes que utilizam um mecanismo de captação de DNA não

selectivo podem translocar não só fragmentos de DNA cromossómicos, como

plasmídeos; sendo que a captação de plasmídeos pelas células naturalmente

competentes é menos eficaz dada a complexidade do processo (Ferreira 2010).

5.3 - Conjugação

A conjugação é um importante mecanismo e o mais comum na transferência de genes de

resistência aos antibióticos, de uma célula dadora com um determinado perfil de resistência,

para uma célula receptora, normalmente com elevada susceptibilidade. Este mecanismo é

mediado por plasmídeos conjugativos, os quais sofrem inicialmente replicação, e

posteriormente são transferidos entre bactérias através da formação de pillus sexual que

permite a ligação entre as duas células (Alanis 2005; Kelly 2009;Ferreira 2010;Lima e

Mota2003). Após a transferência do plasmídeo ou de parte dele para a célula receptora, esta

pode mantê-lo viável, ou se não o conseguir suportar este degenera (Tenover 2008; Summers

2006).

5.4 - Transdução

A transdução é mediada por bacteriófagos que permitem a transferência de material genético

entre bactérias, e por isso contribuem para a disseminação de determinantes de virulência e

para a evolução de bactérias patogénicas (Kelly 2009). A célula bacteriana é usada para a

multiplicação das partículas virais e, no final do processo, ocorre a lise da célula bacteriana

com libertação de novas partículas para o ambiente circundante (Kelly 2009;Ferreira

2010;Lima e Mota2003).

Na transdução generalizada qualquer gene da bactéria dadora pode ser transferido para a

bactéria receptora; na transdução especializada, sendo um processo mais específico, sendo

29

um processo dependente da ocorrência de um ciclo lisogênico. Regiões específicas do DNA

bacteriano unem-se covalentemente ao DNA do fago, são empacotados e transferidas. Após

um determinado período de tempo e de acordo com certos estímulos, este fago pode iniciar

um ciclo lítico (Ferreira 2010; Kelly 2009).

5.5 - Elementos Genéticos Móveis

Como referido anteriormente, a disseminação de genes de resistência aos antibióticos está

associada a elementos genéticos móveis, e é um problema crescente em todo o mundo, pois

compromete o tratamento de infecções bacterianas (Mulvey 2009; Mindlin 2006; Partridge

2002, Harbottle 2006).

Os elementos genéticos móveis são segmentos de DNA que codificam proteínas importantes

na mediação e movimentação dos fragmentos de DNA. Estes elementos podem mover-se de

um local para outro dentro do genoma de uma mesma célula bacteriana, onde se incluem os

transposões, integrões e sequência de inserção; ou podem mover-se de uma célula para outro,

pelos mecanismos já descritos. Em ambos os casos, normalmente ocorre mobilização de

genes de resistência a antibióticos (Kelly 2009;Benett 2008).

5.5.1 - Plasmídeos

Plasmídeos são moléculas circulares de DNA de cadeia dupla, extra-cromossomais, com

capacidade auto-replicativa e que contêm genes que codificam os elementos necessários para

sua expressão e mobilização. Estas estruturas não possuem genes essenciais à sobrevivência

das bactérias, mas quando presentes conferem determinadas vantagens: capacidade de

conjugar, capacidade de expressar genes que conferem resistência aos antibióticos ou que

codificam para factores de virulência, e capacidade de metabolizar alguns substratos (Bennett

2008; Clewell 2005, Harbottle 2006). Assim, é cada vez mais evidente que os plasmídeos

contribuem para a diversidade fenotípica nas comunidades bacterianas (Bahl 2007).

O tamanho dos plasmídeos é variável, e a sua complexidade genética aumenta com o

tamanho. Os plasmídeos de pequenas dimensões – plasmídeos não conjugativos – possuem

apenas informação para a sua auto-replicação, não apresentam mobilidade horizontal, mas

podem ser mobilizados para outras células por plasmídeos conjugativos que se encontrem na

30

mesma célula. Os plasmídeos de maiores dimensões – plasmídeos conjugativos – codificam

funções necessárias (genes tra) para promover a transferência horizontal de genes, e assumem

um importante papel na disseminação de genes de resistência e na problemática mundial da

multiresistência bacteriana (Bennett 2008; Clewell 2005, Ferreira 2010).

Os plasmídeos que transportam genes de resistência são denominados Plasmídeo R ou Factor

R. Estes elementos são móveis e podem transportar um ou mais genes de resistência, como

por exemplo, a metais pesados, a alguns anti-sépticos, antibióticos e desinfectantes (Clewell

2005; Harbottle 2006; Li 2005). Normalmente, estes plasmídeos podem transportar outros

elementos como integrões, transposões e/ou sequência de inserção, permitindo a combinação

de vários determinantes de resistência aos antibióticos num único elemento genético móvel

(Novais 2010).

5.5.2 - Transposões

Transposões são segmentos de DNA linear delimitados por sequências de nucleótidos

repetidas e invertidas, que podem “saltar” de um local para outro, nomeadamente do

cromossoma para o plasmídeo bacteriano, ou vice-versa. Todos os genes que se encontrem

associados a estes elementos, como por exemplo, genes de resistência aos antibióticos, são

igualmente transportados e disseminados (Mulvey 2009; Clewell 2005, Kelly 2009).

Os transposões que pertencem ao conjunto de elementos transponíveis mais simples são as

sequências de inserção (IS) (Figura 6). Normalmente movem-se de um local para outro no

cromossoma bacteriano ou para o plasmídeo, ou vice-versa (Clewell 2005; Bennett 2008,

Kelly 2009).

31

Figura 6. Representação esquemática de um transposão simples

O mecanismo de transposição ocorre devido à recombinação genética entre a sequência

nucleotídica do transposão e dos genes a ele associados, e o local de inserção. Sendo assim,

este mecanismo é mediado pela enzima transposase (tnpA) que se encontra associada ao

transposão, e flanqueada por sequências invertidas (IR) características de cada IS. Esta

enzima reconhece a sequência do local de recombinação e permite assim a inserção ou

excisão dos genes associados ao transposão (Bennett 2008, Ferreira 2010; Clewell 2005).

Além dos transposões simples, existem os transposões compostos, como representa a Figura

7, os quais apresentam duas IS a ladear um segmento de DNA (Souza 2006, Ferreira 2010).

Figura 7. Representação esquemática de um Transposão Composto.

IS IS

SRI SRI SRI SRI G1 G2

Transposão Composto

Transposase

32

5.5.3 - Integrões

Nos anos 80 foi descoberto um outro elemento que permite a disseminação de genes de

resistência aos antibióticos – o integrão – cuja integração e excisão destes genes ocorre por

um mecanismo sítio-específico (Lévesque 1995; Hall e Collis 1995).

Hall e Collis (1995) definiram os integrões como sendo elementos genéticos não móveis por

si só, mas que têm a capacidade de reconhecer e capturar genes cassette por um sistema de

recombinação sítio-específico (Peters 2001; Fluit e Schmitz 1999; Hall e Collis 1995). Os

genes cassette normalmente codificam resistência aos antibióticos, e quando integrados

podem ser expressos devido a um promotor presente na estrutura conservada do integrão.

Perante esta situação, os integrões são outros dos elementos responsáveis pela disseminação

de multirresistência em bactérias de Gram-negativo, quer no ambiente hospitalar, quer fora

deste, uma vez que normalmente se encontram associados a plasmídeos, transposões ou

sequências de inserção (Cambray 2010; Mazel 2006; Summer 2006; Bennett 2004; Fruit e

Schmitz 2004).

5.5.3.1 - Constituição dos integrões

Regra geral, um integrão é composto / flanqueado por duas regiões conservadas terminais

(5’CS e 3’CS), e uma região central constituída por uma diversidade de genes cassette que

normalmente conferem resistência às diferentes classes de antibióticos (Figura 8) (Hall e

Collis 1995; Bennett 2008).

Figura 8. A figura esquematiza as três regiões que constituem um integrão.

intI attI

Pc

P2

qacEA sulI

5’CS 3’CS

- - - - - - - - - SRI

- - - - - - -

33

5.5.3.2- Segmento Conservado 5’ (5’CS)

O 5’CS constitui o “coração” do integrão, uma vez que inclui os componentes essenciais para

o mecanismo de integração e expressão dos genes de cassette. Sendo assim, este segmento é

composto por: a) um gene que codifica a enzima integrase (intI); b) um local de recombinação

adjacente (attI) que permite o reconhecimento e integração / inserção dos genes cassette na

região variável do integrão; e c) um promotor principal, Pc (ou PAnt) que permite a expressão

dos genes cassette (Carattoli 2001; Soto 2003). Além deste promotor, neste segmento está

presente um segundo promotor, provavelmente mais fraco e orientado em sentido contrário ao

Pc, sendo este designado por promotor P2 (Fluit e Schmitz 2004; Cambray 2010).

O processo de integração ocorre devido à recombinação sítio-específico entre as sequências

homólogas dos locais específicos attI do 5’CS e attC do gene cassette (Ceccarelli 2007;

Gonzáles 2004). Quando integrados na região variável, os genes cassette podem ser expressos

pela enzima integrase (intI), a qual pertence à superfamília das tirosinas recombinases

(Mindlin 2006; Collis e Stokes 2002; Ceccarelli 2007).

O promotor Pc é constituído por duas sequências de seis nucleótidos nas posições -35 e -10

bp, e regula a expressão dos genes de resistência integrados na região variável. Estudos

anteriores revelaram algumas diferenças nos níveis de expressão dos genes cassette, e

concluíram que quanto mais próximo o gene cassette estiver da região promotora, maior será

a probabilidade deste gene ser expresso, e consequentemente maior poderá ser o nível de

resistência de acordo com o meio envolvente (Bennett 2008;Collis e Hall 1995).

5.5.3.3 - Segmento Conservado 3’ (3’ CS)

O 3’CS é composto por dois genes de resistência que se encontram fundidos: a) um gene que

confere resistência aos compostos de amónio quaternário (qacEΔ1); e b) um gene que confere

resistência às sulfonamidas (sul1) (Fluit e Schmitz 1999; Soto 2003). A montante destes

genes, por vezes surge um terceiro gene designado por insertion sequence commun region

(ISCR1), o qual permite a mobilização de genes de resistência que se encontrem a montante

deste segmento (Bennett 2008).

34

Vários trabalhos têm mostrado que este segmento nem sempre se encontra com esta

disposição conservada. O que está acontecer, é que foram descritos integrões que não

apresentavam este segmento, ou seja, o gene qacEΔ1/sulI foi delectado, e no seu lugar

permaneceram genes correspondentes ao transposão Tn402 (Santos, 2010; Toleman, 2007).

5.5.3.4 - Região Variável (RV)

Esta região, como o nome indica, pode ser constituída por um tamanho e número variável de

genes cassette, os quais normalmente conferem resistência a diferentes classes de antibióticos.

Os genes cassette são integrados de forma sequencial, e sempre da posição 5’-3’, não havendo

um limite para o número de genes cassette inseridos (Hall e Collis 1995; Bennett 2004). Em

alguns casos, esta região pode não apresentar qualquer tipo de gene cassette, e por isso, diz-se

que se encontra vazia (Gillings 2008).

5.5.3.5 - Genes Cassette

Os genes cassette não apresentam promotores e podem ser encontrados sob duas formas: a)

podem-se apresentar sob a forma de uma molécula livre circular incapaz de promover por si

só a sua replicação e expressão; b) podem-se apresentar sob a forma de uma molécula linear,

fazendo parte do conteúdo genético do integrão (Michael 2004;Sabaté 2002; Bennett 2008).

Os genes cassette inseridos na região variável do integrão têm normalmente entre 500 a 1000

bp, e apresentam características estruturais específicas, tais como um único gene de

resistência e um local de recombinação de elemento base 59 (59-be ou attC). Este local de

recombinação vai ser reconhecido pelo local de recombinação attI presente no 5’CS, o que vai

permitir a mobilização dos genes cassette na região variável (Bennett 2004;Fluit e Schmitz

1999).

35

Figura 9. A figura representa o mecanismo de integração dos genes cassette na região variável de um integrão.

5.5.3.6 - Classificação dos Integrões

Os primeiros integrões descritos foram classificados como integrões de resistência, uma vez

que na sua maioria transportam genes que conferem resistência às diferentes classes de

antibióticos. Estes integrões foram divididos em três classes, as quais normalmente se

encontram associadas a plasmídeos, transposões e sequências de inserção, e apresentam um

número reduzido de genes cassette integrados na RV (Gillings 2008). Mais tarde, uma quarta

classe de integrões de resistência foi descrita, a qual foi designada como super-integrões, uma

vez que apresentam uma RV constituída por inúmeros genes cassette (Collis 2002; Ceccarelli

2007).

Actualmente estão descritas nove classes de integrões, e a sua classificação baseia-se nas

diferenças das sequências nucleotídicas dos genes que codificam a enzima integrase (Sabaté

2002).

36

5.5.3.6.1 - Integrões de Classe 1

Esta classe de integrões é uma das mais comuns entre os isolados clínicos de bactérias de

Gram-negativo, mas a sua presença em bactérias de Gram-positivo já foi descrita em

trabalhos anteriores (Collis 2002; Xu 2011). Estes integrões de resistência normalmente

apresentam um ou mais genes cassette integrados na RV, os quais conferem resistência a

diferentes classes de antibióticos, nomeadamente antibióticos β-lactâmicos, aminoglicosídeos,

cloranfenicol, rifampicina, trimetoprim/sulfametoxazol, quinolonas, entre outras (Sabaté

2002; Partridge 2002). Mais de 100 genes cassette já foram identificados em integrões de

classe 1, sendo os mais conhecidos e melhor caracterizados, associados a bactérias de Gram-

negativo multirresistentes, nomeadamente Escherichia coli, Citrobacter spp., Klebsiella spp.,

Enterobacter spp., Proteus spp., Acinetobacter spp. e Pseudomonas spp. (Peng 2007; Stokes

2006).

Tal como descrito anteriormente e representado na Figura 9, este tipo de integrões

caracterizam-se pela presença de dois segmentos conservados, o 5’CS e o 3’CS, e uma RV

(Sabaté 2002; Partridge 2002; Lévesque 1995).

Actualmente está descrito que este tipo de integrões pode estar associado a transposões

derivados do transposão Tn402, uma vez que na ausência do 3’CS, os genes a montante da

RV constituem a estrutura tni completa, formada pelos genes tniC, tniB e tniA (Sabaté 2002;

Partridge 2002; Lévesque 1995).

5.5.3.6.2 - Outras Classes de Integrões

Os integrões de classe 2 apresentam um número reduzido de genes cassette integrados na

região variável, e dois segmentos conservados (5’CS e 3’CS) (Hall e Collis 1998). Uma

diferença observada neste caso, reside na sequência nucleotídica do gene que codifica a

enzima integrase classe 2 (intI2), na qual ocorreu uma mutação no codão 179, e daí existir

uma homologia de apenas 40% com a enzima integrase classe 1 (Cambray 2010; Sabaté 2002;

Hall e Collis 1998).

Diferentes trabalhos até agora realizados, mostraram que a região variável encontrada com

maior frequência é constituída por três genes cassette (dfrA1 – sat2 – aadA1), e que este tipo

37

de integrões normalmente se encontra associado ao transposão Tn7 (Bennett 2004; Cambray

2010; Sabaté 2002).

Em relação aos integrões de classe 3, a enzima integrase (intI3) apresenta 61% de homologia

com a sequência de aminoácidos do gene intI1, e tem igualmente a capacidade de integrar

genes de resistência, mas de uma forma menos frequente (Fluit 2004; Carattoli 2001).

No caso dos integrões de classe 4, também designados como super-integrões, uma vez que

apresentam múltiplos genes cassette integrados na região RV. Collis et al. (2002) descreve a

presença de um super-integrão em estirpes de Vibrio cholerae, o qual está associado ao

cromossoma bacteriano mais pequeno. Esse integrão apresenta uma RV constituída por 179

genes cassette, mas apenas alguns conferem resistência aos antibióticos (Collis 2002;

Ceccarelli 2007).

Além destas classes de integrões, foram descritas outras classes, as quais não se encontram

muito ligadas a genes de resistência aos antibióticos, e talvez por isso raramente têm sido

encontradas em isolados clínicos. As enzimas integrases destas classes de integrões

apresentam uma homologia com o gene intI1 que varia entre 45 e 50% (Sabaté 2002).

38

Objectivo

Uma das preocupações dentro do ambiente hospitalar é o controlo e a monitorização de surtos

e de infecções bacterianas. Entre estas, as infecções causadas por bactérias de Gram-negativo

que apresentam elevada resistência aos antibióticos são particularmente preocupantes.

Assim, constituiu objectivo do presente estudo avaliar a presença de genes de resistência aos

antibióticos, associados a integrões de classe 1, em bactérias de Gram-negativo

multirresistentes no ambiente hospitalar, nomeadamente no Serviço de Medicina Intensiva e

no Serviço de Medicina II a pesquisar.

39

MATERIAL E MÉTODOS

40

7 - Material e Métodos

7.1 - Identificação dos locais de recolhas dos Isolados

As amostras bacterianas foram recolhidas em diferentes superfícies e equipamentos

hospitalares do Serviço de Medicina II e do Serviço de Medicina Intensiva, do Hospital

Infante D. Pedro em Aveiro.

No Serviço de Medicina II são internados homens e mulheres principalmente de idade

avançada e com algumas complicações. Nesta secção, os isolados bacterianos foram

recolhidos a partir das grades das camas dos pacientes. Esta recolha foi realizada em 2008,

com o intuito de comparar os resultados finais com os resultados obtidos num trabalho

idêntico realizado em 2005.

Em relação ao Serviço de Medicina Intensiva, este recebe pacientes em estado crítico e

normalmente imunodeprimidas, estando por isso mais expostas a infecções bacterianas. Este

serviço é amplo, e composto apenas por seis camas e um quarto de isolamento. Em 2010,

foram recolhidas amostras bacterianas a partir de várias superfícies hospitalares,

nomeadamente do carrinho de emergência, da maçaneta da porta de entrada, do chão antes e

depois da limpeza, das torneiras e do suporte de sabão líquido, das grelhas do ar

condicionado, da bancada de prescrição médica, da secretária e do telefone, dos teclados,

ratos e monitores de computadores e das camas. Além desta recolha, em simultâneo foi

realizada uma outra recolha a partir de diferentes equipamentos hospitalares tais como

estetoscópios, ventiladores mecânicos, monitores cardíacos, bombas de infusão e bombas de

seringas.

7.2– Recolha, Selecção e Conservação dos Isolados bacterianos

As amostras bacterianas foram recolhidas a partir das superfícies referidas anteriormente com

a ajuda de uma zaragatoa estéril humedecida em água destilada esterilizada. Após a passagem

da zaragatoa pela superfície, esta foi inoculado em 1 ml de meio líquido nutritivo de caldo de

triptona de soja (TSB) (Sigma-Aldrich, Portugal), e incubada a 37ºC durante

aproximadamente 18h. Posteriormente, e após se ter registado crescimento bacteriano, as

alíquotas foram conservadas a -80 ºC após adição de glicerol a 45%.

41

Durante o tempo de estudo, cada amostra foi descongelada, diluída (10-1

, 10-3

, 10-5

) e semeada

em meio selectivo para bactérias de Gram-negativo, designado Mackonkey agar (McK)

(OXOID, Portugal). Todas as placas foram incubadas a 37°C durante aproximadamente 18h.

Após o tempo de incubação, verificou-se que algumas placas de McK apresentavam

crescimento e outras não. No caso das placas com crescimento bacteriano, todas as colónias

isoladas foram repicadas para placas de tryptone soya agar (TSA) (Merck, Portrugal), e

incubadas nas mesmas condições anteriores. No caso das placas de McK em que não se

observou qualquer crescimento bacteriano, as diluições originais foram inoculadas em meio

em meio TSA, e incubadas nas mesmas condições, de modo a verificar se as amostras

conservadas em glicerol estariam viáveis.

7.3– Extracção de DNA

Durante o estudo, para alguns isolados, foi necessário proceder à extracção de DNA total

bacteriano. Para este fim foi utilizado o kit Genomic DNA Purification (Fermentas), e

seguidas as indicações do fabricante:

1. Inocular os colónias isoladas em TSB a 37ºC durante 24h.

2. Centrifugar (5’/1000rpm) 2 ml da suspensão bacteriana e desprezar o sobrenadante.

3. Ressuspender bem todo o pellet em 200µl de tampão TE.

4. Adicionar 400µl da solução de lise fornecida no kit, e incubar em banho seco

(5’/65ºC).

5. Adicionar 600µl de clorofórmio e centrifugar (2’/10000rpm).

6. Adicionar 800µl da solução de precipitação aquosa fornecida no kit e centrifugar

novamente (2’/10000rpm).

7. Dissolver bem o pellet em 100µl de NaCl.

8. Adicionar 300µl de etanol (EtOH) absoluto frio e deixar precipitar 10’-1h a -20ºC.

9. Descartar o EtOH, ressuspender o DNA em 100µl de água destilada estéril e conservar

a -20°C.

42

7.4 Caracterização Fenotípica

7.4.1- Avaliação da Clonalidade dos Isolados

Com o intuito de reduzir o número de isolados bacterianos, é necessário seleccionar diferentes

grupos clonais. Para este fim, utiliza-se a técnica molecular BOX-PCR, na qual é utilizado o

primer BOXA1R que permite a amplificação de regiões cromossomais específicas. Os

isolados foram seleccionados com base nos géis realizados pelo BOX PCR, tendo em conta 3

ou mais bandas diferentes. Nesta reacção foram utilizados os reagentes presentes na Tabela 3,

assim como o programa de amplificação representado na mesma tabela.

Tabela 2 – Reagentes e respectivo primer e programa de amplificação utilizados na distinção de

diferentes grupos clonais.

Primer Sequência Referência

BOXA1R 5’-CTACGGCAAGGCGACGCTGACG-3’ Versalovic 1994

Reagente Volume

25 mM MgCl2 1,5 μl Fases do PCR Programa

Buffer (5x) 2,5 μl Desnaturação inicial 95°C 7’

10 mM dNTP’s 0,25 μl Desnaturação 94°C 1’

DMSO 0,63 μl Hibridação dos primers 53°C 1’

dH2O 6,8 μl Síntese das cadeias 65°C 8’

Primer BOXA1R 0,38 μl Ciclos 35 vezes

Taq polymerase (5U/ μl) 0,06 μl Síntese final 65°C 16’

Vf = 12,5 μl Após final da reacção 15°C ∞

DNA total / suspensão 1 μl

No final desta reacção, os produtos amplificados foram separados num gel de agarose a 1%,

tal como está descrito na secção 7.4.4, o que permitiu observar diferentes perfis bacterianos e

distinguir diferentes grupos clonais.

43

7.4.2 – Amplificação dos Ácidos Nucleicos por PCR ( Polymerase Chain Reaction)

Tendo em conta o ponto anterior, de cada grupo clonal foi seleccionado um isolado

bacteriano, reduzindo desta forma o número de isolados em estudo. Todos os isolados

seleccionados foram utilizados no prosseguimento deste estudo. Sendo assim, e recorrendo à

técnica de PCR, inicialmente foi realizado um “screening” para detectar a presença da enzima

integrase de classe 1 (intI1), utilizando os primers e as condições de amplificação resumidas

na Tabela 3 e na Tabela 4, respectivamente. Posteriormente, em todos os isolados positivos

para o gene intI1, foi caracterizada a respectiva região variável (RV), utilizando os primers e

as respectivas condições de amplificação descritas nas Tabela 3 e 4. Nestes isolados foi

também testada a presença do gene tniC, como resultado da delecção do 3’CS. Neste caso foi

igualmente utilizado o primer e as condições resumidas nas Tabelas 3 e 4.

Em alguns isolados em particular, foi também testada a presença do elemento ISCR1

localizado a montante da RV do integrão de classe 1. Sendo assim, e caso a sua presença se

verificasse, uma segunda RV pode ser amplificada constituindo assim um integrão complexo

de classe 1. Neste caso foi igualmente utilizado o primer e as condições resumidas nas

Tabelas 3 e 4.

Para confirmar a eficácia da reacção de amplificação em todos os casos anteriores, foi

utilizado um controlo positivo. Sendo assim, neste caso foi utilizado um isolado de K.

pneumoniae, o qual apresenta um integrão complexo de classe 1 (Santos, 2010a).

44

Tabela 3 – Primers utilizados na amplificação do gene integrase de classe 1, e na caracterização da

respectiva região variável.

Primer Sequência Gene Referência

HS 464 5’-ACATGCGTGTAAATCATCGTCG-3’ Int1 Stokes 2006

HS 463a 5’-CTGGATTTCGATCACGGCACG-3’ Int1

RB 317 5’-GAACCTTGACCGAACGCAG-3’ Zv Barlow 2004

RB 320 5’-AGCTTAGTAAAGCCCTCGCTAG-3’ Zv

tniCF 5’-CGATCTCTGCGAAGAACTCG-3’ tniC Toleman 2007

Tabela 4 – Reagentes e respectivos programas utilizados na amplificação do gene intI1 e na

caracterização da respectiva região variável.

Reagente Volume

25 mM MgCl2 1,5 μl

Buffer (5x) 2,5 μl

10 mM dNTP’s 0,25 μl

DMSO 0,63 μl

dH2O 6,8 μl

Primer BOXA1R 0,38 μl

Taq polymerase (5U/ μl) 0,06 μl

Vf = 12,5 μl

DNA total / suspensão 1 μl

45

Fases do PCR Programa intI1 Programa ZV e tniC

Desnaturação inicial 94°C 4’ 94°C 4’

Desnaturação 94°C 30’’ 94°C 30’’

Hibridação dos primers 65°C 30’’ 59°C 30’’

Síntese das cadeias 72°C 45’’ 72°C 3’30’’

Ciclos 30 vezes 30 vezes

Síntese final 72°C 5’ 72°C 10’

Após final da reacção 15°C ∞ 15°C ∞

No final de cada reacção, os produtos amplificados foram separados num gel de agarose a 1%,

tal como está descrito na secção 7.4.4., o que permitiu verificar a presença / ausência dos

respectivos genes, assim como estimar o seu tamanho, de acordo com o marcador de peso

molecular utilizado.

7.4.3 – Detecção de Genes que codificam enzimas β-Lactamases

Nos isolados seleccionados, foi igualmente estudada a presença de algumas enzimas β-

lactamases, nomeadamente ESBLs e MBLs. Sendo assim, e recorrendo à técnica de PCR,

alguns dos genes que codificam enzimas β-lactamases foram amplificados utilizando os

primers descritos na Tabela 5, e as condições de amplificação resumidas na Tabela 6. Os

reagentes utilizados nesta reacção, foram exactamente os utilizados anteriormente (Tabela 4).

46

Tabela 5: Primers utilizados na pesquisa de alguns genes que codificam para enzimas β-lactamases.

Designação do

Primer

Sequência Gene a

amplificar

Tamanho do

fragmento

Referências

CTX Rv 5’-CGCAATATCATTGGTGGTGCC-

3’

CTX 538bp

Henriques et al 2006

CTX Fw 5’-

GTGCAGTACCAGTAAAGTTATGG

-3’

CTX 538bp

SHV Rv 5’-GATTGGCGGCGCTGTTATCGC-

3’

SHV 304bp

SHV Fw 5’-GCGAAAGCCAGCTGTCGGGC-

3’

SHV 304bp

OXA Rv 5’-AGTGTGTTTAGAATGGTGATC-

3’

OXA 814bp

OXA Fw 5’-

ACACAATACATATCAACTTCGC -

3’

OXA 814bp

TEM Rv 5’-TTTGGTATGGCTTCATTC-3’ TEM 425bp

TEM Fw 5’-AAAGATGCTGAAGATCA-3’ TEM 425bp

IMP Rv 5’-GTTTTAAYAAAACAACCACC-3’ IMP 232bp

IMP Fw 5’-GAATAGAGTGGATTAATTCTC-

3’

IMP 232bp

VIM Rv 5’-GCCACGTTCCCCGCAGACG-3’ VIM 475bp

VIM Fw 5’-

GATGGTGTTTGGTCGCATATCG-3’

VIM 475bp

KPC Rv 5’-CGTTGACGCCCAATCC-3’ KPC 800bp Fontana et al 2010

KPC Fw 5’-TGTCACTGTATCGCCGTC-3’ KPC 800bp

47

Tabela 6: Condições de amplificação dos diferentes genes que codificam enzimas β-lactamases.

Fases do PCR Programa

CTX SHV

Desnaturação inicial 94°C 4’ 94°C 4’

Desnaturação 94°C 30’’ 94°C 30’’

Hibridação dos primers 55°C * 30’’ 62°C * 30’’

Síntese das cadeias 72°C 45’’ 72°C 45’’

Ciclos 30 vezes 30 vezes

Síntese final 72°C 5’ 72°C 5’

Após final da reacção 15°C ∞ 15°C ∞

*As temperaturas de emparelhamento dos primers variam consoante o gene que se está a pesquisar:

OXA–53ºC; TEM–44ºC; MOX–54,5ºC; FOX–57,5ºC; CMY–58,5ºC; DHA–61ºC; ACC–60ºC; IMP–

55ºC; VIM–58ºC; KPC–48,5ºC.

No fim de cada reacção, os produtos amplificados foram separados num gel de agarose a 1%,

tal como está descrito na secção 7.4.4., o que permitiu verificar a presença / ausência dos

respectivos genes, assim como estimar o seu tamanho, de acordo com o marcador de peso

molecular utilizado.

7.4.4 – Visualização dos Produtos Amplificados

Para confirmar a presença ou ausência dos genes amplificados por PCR, é necessário recorrer

à técnica de eletroforese em gel de agarose. Sendo assim, o gel foi preparado a 1% com buffer

TAE 1X (0,04M tris-acetato, 0,001M EDTA), e corado com brometo de etídeo (EtBr). A

migração dos fragmentos ocorre de acordo com o seu peso molecular, sendo necessária a

aplicação de uma voltagem, normalmente entre 80-120 Volts, durante um determinado

período de tempo, de acordo com os fragmentos a separar. Posteriormente, é possível

visualizar os fragmentos de DNA num transiluminador de luz UV (BIOINSTRUMENT

ATTA), devido à presença do EtBr no gel de agarose. Sendo assim, a imagem é digitalizada e

a presença / ausência e o tamanho aproximado dos fragmentos amplificados (bp) é analisada,

por comparação com um marcador de DNA de peso molecular conhecido (DNA Ladder Mix).

48

7.4.5 – Digestão da Região Variável

Uma vez que vários isolados bacterianos apresentavam tamanhos muito semelhantes da RV,

uma das formas rápidas de compreender se estamos perante ou não de uma RV com a mesma

constituição, é através da digestão desta região.

Para isso, foi utilizado 1µl da enzima Taq1, 2µl do tampão da mesma e 5µl do produto

amplificado por PCR. A digestão ocorreu durante uma hora a 65ºC. Posteriormente, os

produtos digeridos foram separados por electroforese em gel de agarose, e a obtenção de um

perfil idêntico, significa que as RV apresentam a mesma constituição.

7.4.6 – Purificação dos Produtos de PCR

Os produtos amplificados por PCR foram purificados de acordo com as instruções do

fabricante do kit de purificação QlAquick (QIAGEN, Alemanha). Em alguns casos é

necessário recorrer a esta purificação antes da sequenciação, uma vez que o fragmento que se

pretende sequenciar não se encontrava puro.

7.4.7 – Determinação da Sequência Nucleotídica

Os produtos purificados foram enviados para a empresa StabVida (Oeiras Portugal) para

posterior sequenciação. A sequenciação foi efectuada num sequenciador automático ABI

3700 (Apllied Biosytems, Perkin-Elmer, Foster City, C.A).

As sequências nucleotídicas e as respectivas sequências de aminoácidos foram analisadas

recorrendo ao programa informático Blast e ClustalW (BioEdit), e comparadas com as

sequências depositadas no GenBank.

49

RESULTADOS E DISCUSSÃO

50

8 - Resultados e Discussão

8.1 - Serviço de Medicina II (SMII)

8.1.1 Tipagem Molecular

No SMII foram recolhidas e isoladas bactérias de Gram-negativo das grades das camas dos

pacientes que lá se encontravam internados. Uma vez que a população bacteriana isolada foi

numerosa, foi necessário recorrer a técnicas moleculares de tipagem genética, nomeadamente

o BOX-PCR. Portanto, a análise dos diferentes perfis genéticos permitiu identificar diferentes

grupos clonais, e por isso reduzir o número de isolados bacterianos em estudo. Deste modo,

foi apenas seleccionado um isolado bacteriano de cada grupo clonal, e de um total de 174

isolados bacterianos, 47 (27%) pertenciam a diferentes grupos clonais, os quais vão ser

utilizados no desenrolar desta primeira parte do trabalho, com o intuito de se conhecer melhor

o seu perfil de resistência aos antibióticos.

8.1.2 Caracterização da Região Variável

Numa primeira abordagem, e recorrendo à técnica molecular PCR, em todos os 47 isolados

bacterianos foi realizado um screening para detectar a presença do gene que codifica a enzima

integrase classe 1 (intI1). Foi possível verificar que dos 47 isolados apenas 11 (23%)

apresentam o respectivo gene. Assim, nos isolados positivos, onde foi posteriormente

amplificada, sequenciada e analisada a respectiva região variável (RV), tal como mostra a

Tabela 7.

De acordo com os resultados obtidos, o tamanho das RVs amplificadas varia entre 1000 e

6000 bp, e o número de genes cassette que constitui cada região varia entre 1 e 6, o que vem

comprovar o baixo número de genes cassette encontrados em integrões de classe 1.

É de realçar alguns casos, em que o mesmo arranjo de genes cassette foi encontrado em

espécies diferentes, o que pode mostrar que estes integrões de classe 1 provavelmente estão

associados a plasmídeos conjugativos e por isso podemos estar perante uma transferência

horizontal de genes de resistência aos antibióticos.

51

Tabela 7. Genes cassette encontrados nas superfícies das grades das camas.

Tamanho dos fragmentos (bp)

Genes Cassette 16S DNA

1000bp aadB Stenotrophomonas

maltophilia

1800bp dfrA15 - aadA1 Klebsiella oxytoca

2500bp dfrA12 - ORFF - aadA2 Escherichia coli

3000bp aacC1- ORFX- ORFQ- aadA1 Klebsiella pneumoniae

3500bp aac(6')-Ib-cr - oxa-30 - catB3 - arr3 (In37) Klebsiella pneumoniae

4000bp dfr12-ORFF-aadA2

aac(6')-Ib-cr - oxa-30 - catB3 - arr3 (In37)

Enterobacter cloacae

6000bp aac(6’)- llc- ereA2-tnpA-aac3-arr -ereA2 Enterobacter cloacae

Neste serviço, tal como mostra a Tabela 7, foram encontradas diferentes espécies de bactérias

de Gram-negativo, nomeadamente espécies de Klebsiella oxytoca, Escherichia coli,

Klebsiella pneumoniae, Enterobacter cloacae e Stenotrophomonas maltophilia. Uma vez que

estes isolados foram recolhidos no ambiente hospitalar, podem constituir uma provável

ameaça para os pacientes internados, pois, tal como descrito em trabalhos realizados

anteriormente, a família Enterobacteriaceae é responsável por uma grande variedade de

infecções nosocomiais (Pitout 2008; Arpin 2003).

Em relação à espécie de Klebsiella oxytoca, existem poucos trabalhos que mostram a sua

importância na infecção de pacientes imunodeprimidos. Porém foi encontrado um isolado

clínico, num hospital em Portugal em 2005, que apresenta um integrão de classe 1 com uma

RV composta por quatro genes cassette, sendo o primeiro gene uma variante blaVIM-2 que

codifica uma enzima MBL, e os seguintes que codificam a enzima 6’N-aminoglicosideo-

acetiltransferase (aacA4), e aminoglicosídeo adeniltransferase (aadA1) (Conceição 2005).

Apesar desta reduzida informação, esta espécie foi isolada das superfícies hospitalares, e

apresenta resistência aos aminoglicosídeos e ao trimetoprim, conferida provavelmente pela

presença do integrão de classe 1 (Tabela 7), assim como resistência às penicilinas conferida

provavelmente pela presença da variante AmpR. Sendo assim, facilmente esta estirpe pode

adquirir resistência e evoluir de modo a tornar-se resistente.

52

No caso da espécie E. cloacae, tem sido descrita uma situação diferente mas preocupante,

uma vez que na maior parte das vezes, esta bactéria para além de expressar o gene blaESBL,

também pode expressar uma enzima β-lactamase do tipo AmpC indutíveis e/ou adquiridas, o

que dificulta a detecção da produção de ESBLs e o controle de disseminação (Jacoby 2009).

Neste trabalho, foi também descrito pela primeira vez em todo o Mundo, numa estirpe de

Enterobacter cloacae, o integrão de classe 1 In37. No entanto, este arranjo já foi descrito

anteriormente na Argentina e na China, respectivamente em espécies bacterianas como K.

pneumoniae e E.coli. Nestes isolados, o integrão In37 surge associado a uma sequência de

inserção, o elemento ISCR1, que estabelece a ligação entre este arranjo e o conjunto de genes

de resistência presentes a montante, neste caso o gene qnrB6, constituindo assim um integrão

complexo. Este trabalho também mostrou que o In37 se encontra associado a um plasmídeo

(Quiroga, 2007; Rodríguez-Matínez 2007).

Tendo por base outros trabalhos , e no seguimento do presente trabalho, foi igualmente

pesquisada a presença do elemento ISCR1, o qual tem uma importante função na mobilização

de genes de resistência por um mecanismo designado “rolling cycle transposition” (Toleman

2006). Assim, após a amplificação do respectivo gene ISCR1, verificou-se a sua presença, e

por isso estamos igualmente perante um integrão complexo, uma vez que a montante surge

uma segunda RV, neste caso composta pelo gene qnrS1 (Toleman 2006).

Estudos realizados por Wu e seus colaboradores (Wu 2007), descreveram igualmente um

integrão complexo In37 na China, numa estirpe de E. coli, onde estava presente pela primeira

vez ambos os genes qnrA e qnrB no mesmo plasmídeo, tal como a variante blaDHA-1, uma

AmpC β-lactamase que confere resistência a cefamicina e cefalosporina de amplo espectro

(Wu 2007;Kim 2009; Pitout 2008). O gene qnr tem sido encontrado em plasmídeos de

tamanhos que variam de 54 a 180kb, aproximadamente. No contexto genético do

determinante qnrA é caracterizado pela presença de uma estrutura inicialmente descrita por

Hall e Strokes (1990), conhecida com “ integrão complexo do tipo sul1” (Hall e Stokes 1990).

A frequência dos isolados produtores de ESBL varia muito de região para região, sendo mais

alta na América Latina. Como exemplo podemos citar que a estirpe K. pneumoniae produtora

de ESBL nos Estados Unidos não ultrapassa 5%, na Europa varia entre 20-25% e na América

Latina é de 35-40%. O SENTRY (programa de monitoramento de patógenos e resistência em

53

infecções hospitalares e adquiridas na comunidade) mostra que na América do Sul a E.coli e

K. pneumoniae são os agentes mais prevalentes das Enterobacteriaceas nos isolados de 2002

seguidos pelo Enterobacter (Fedler 2006).

As estirpes de Enterobacter são consideradas como patógenos emergentes nas infecções

hospitalares, ocupando o terceiro lugar em todo o Mundo, sendo mais prevalentes nas

infecções do tracto urinário, tecidos moles e septicemias (Fedler 2006).

Estudos anteriores realizados em diferentes países sobre integrões classe 1 provenientes de

E.coli, mostraram a presença de RV com diferentes arranjos de genes cassette, nomeadamente

genes que conferem resistência aos aminoglicosídeos (aadA1, aadA2, aadA5, aadB, aaC4),

cloranfenicol (cmla, catB8), trimetoprim (dfrA1, dfrA5, dfrA7, dfrA12, dfrA17), lincosamida

(linf) e alguns genes desconhecidos (orfD, OrfF). O tipo mais comum de gene cassette

presente em E. coli é o gene aadAseguido pelo gene dfrA ( eputien 2010; Chang 2006, Lee

2001).

8.1.3 Presença de enzimas β-lactamases no SMII

Nos últimos 20 anos, inúmeros antibióticos β-lactâmicos têm sido desenvolvidos com o

propósito principal de combater a acção hidrolítica das enzimas β-lactamases. A utilização

indiscriminada e inadequada dos antibióticos também tem favorecido a selecção e evolução

de bactérias produtoras de ESBLs e de MBLs, nomeadamente bactérias da família

Enterobacteriaceae. Uma vez que estas enzimas normalmente surgem associadas a

plasmídeos, as bactérias produtoras destas enzimas são as grandes responsáveis pela

ocorrência e disseminação mundial de resistência aos antibióticos β-lactâmicos,

principalmente no ambiente hospitalar, dentro do qual cada vez mais têm surgido novas

variantes destas enzimas (Peña 1998; Coque, 2008).

Após a realização do screening para estudar a presença de diferentes genes que codificam

enzimas β-lactamases nos 11 isolados positivos para o gene intI1, destaca-se a prevalência das

enzimas β-lactamases do tipo TEM 29% (n=4) e OXA 26% (n=4), seguidos do tipo SHV 21%

(n=3), CTX-M 14% (n=2) e VIM 7% (n=1) (Figura 11). Neste trabalho a variante IMP não foi

encontrada em nenhum dos isolados. Estes resultados vem uma vez mais mostrar que as

enzimas ESBL são cada vez mais prevalentes na família Enterobacteriacea, provavelmente

54

devido à sua localização plasmídica, tendo sido inicialmente derivadas da variante TEM-1,

TEM-2 ou SHV-1 (Arpin 2003).

Figura 11: Percentagem de enzimas β-lactamases presentes nos isolados que apresentavam integrão classe 1.

Estudos realizados anteriormente em Portugal demonstraram a prevalência das enzimas CTX-

M-15, TEM-1 e OXA-30 em isolados da E.coli (Machado 2006; Mendonça 2006). Neste

trabalho, e após a sequenciação dos respectivos genes, foi possível detectar igualmente a

presença da variante TEM-1 e CTX-M-15 em estirpes de E. coli, mas o mesmo não aconteceu

com a variante OXA-30, a qual surgir apenas associada ao integrão In37, em estirpes de K.

pneumoniae e E. cloacae.

A emergência de enzimas β-lactamases torna-se preocupante, uma vez que se trata de

bactérias comensais (E. coli, K. pneumoniae e E. cloacae), que, principalmente devido à

localização plasmídica destas enzimas, rapidamente se tornam resistentes e muitas vezes

patogénicas, podendo estar na origem de surtos hospitalares.

Verificou-se que a associação dos genes que codificam a enzima blaOXA-30 com o gene

aac(6’)-Ib-cr, que codifica uma enzima capaz de inactivar a acção de duas classes de

antibióticos em simultâneo, os aminoglicosídeos e as fluoquinolonas, tendo demonstrado que

aqueles genes eram disseminados num plasmídeo comum (Machado 2006; Mendonça 2006).

29%

21% 14%

29%

7%

TEM

SHV

CTX-M

OXA

VIM

55

As usuais formas de transmissão que incluem a disseminação clonal de estirpes produtoras de

ESBL, ou a disseminação através de genes produtores de ESBLs carregados por plasmídeos e

que são transmitidos entre diferentes géneros de Enterobactérias (Rice 1993).

Enzimas como SHV, TEM e CTX-M são apontadas como responsáveis pelo aumento da

resistência às penicilinas e cefalosporinas de espectro alargado, pois conferem resistência a

praticamente todos os antibióticos β-lactâmicos, excepto carbapenemos e cefamicinas, que

são inibidos por outras β-lactamases (Coque 2008).

O género Klebsiella é um dos que prevalece no ambiente clínico, e é uma espécie muito

virulenta entre os isolados clínicos, e frequentemente responsáveis por graves infecções

hospitalares e surtos. Sabe-se porém que esta espécie produz uma variedade de enzimas β-

lactamases plasmídicas, o que permite uma rápida disseminação destas enzimas. O

internamento prolongado no ambiente hospitalar pode levar a aquisição de graves infecções

por estirpes de K. pneumoniae portadoras de ESBL (Mulvey 2009;Livermore 1995).

Um outro estudo realizado em 1996 num hospital na Holanda em enfermarias de neurologia e

neurocirurgia, mostrou a incidência de multiresistência a vários antibióticos em

Enterobacteriacea, em que 28% dos pacientes foram infectados ou colonizados por Klebsiella

oxytoca, estirpes resistentes a pelo menos três classes de antibióticos incluindo o trimetoprim-

sulfamethoxazol, mostrando o papel importante dos integrões classe 1 no transporte de genes

de resistência (Leverstein-van Hall 2002).

8.2 - Serviço de Medicina Intensiva (SMI)

8.2.1 Tipagem Molecular

Inicialmente, o objectivo principal deste trabalho era detectar a presença da espécie

Acinetobacter baumannii nas superfícies e equipamentos hospitalares do SMI, devido às

graves infecções causadas por esta espécie. Para além de tentar detectar o foco de infecção

desta espécie, este serviço foi escolhido por ser um dos mais críticos, uma vez que é composto

por pacientes imunodeprimidos, e bastante expostos à aquisição de possíveis infecções

nosocomiais. Assim, para além do estado de saúde debilitado e de um tempo de internamento

maior, estes pacientes estão constantemente sujeitos a procedimentos invasivos, tais como

cateteres intravenoso, sondas vesicais e ventilação mecânica, e por isso estão na presença de

56

uma elevada pressão selectiva de antibióticos, o que os expõe ainda mais às bactérias que

colonizam esses equipamentos.

Os isolados do SMI, foram recolhidos num total de 34 superfícies e equipamentos

hospitalares: 20 superfícies (59%) não apresentavam crescimento de colónias bacterianas em

meio selectivo para bactérias de Gram-negativo (MacConkey agar), e por isso, apenas 14

superfícies (41%) apresentavam crescimento bacteriano neste mesmo meio. Perante este

resultado, podemos inferir que uma parte das superfícies e equipamentos hospitalares deste

serviço não estavam colonizadas por bactérias de Gram-negativo, mas sim por outro tipo de

microrganismo, uma vez que em meio TSB ocorreu crescimento.

Na continuação deste trabalho, apenas foram consideradas as superfícies e equipamentos

hospitalares colonizados por bactérias de Gram-negativo, sendo as restantes descartadas. Uma

vez que foram analisadas várias superfícies, foi obtida uma população bacteriana bastante

numerosa, pelo que é necessário recorrer a técnicas moleculares de tipagem genética, de modo

a reduzir a população em estudo. Neste caso, e após a análise de todos os perfis genéticos, foi

possível concluir que estávamos perante uma espécie bacteriana, pois o grau de similaridade

entre os diferentes perfis era muito elevado. Sendo assim, e após a sequenciação do gene 16S

rDNA, concluiu-se ser a espécie E coli. Sendo este um microrganismo comensal, colonizador

da flora intestinal, pode facilmente desenvolver / adquirir resistência e factores de virulência,

devido ao ambiente selectivo em que se encontra, podendo tornar-se uma espécie igualmente

preocupante (Branger 2005).

Com tudo isto, é possível concluir que entre os isolados bacterianos de Gram-negativo

recolhidos no ambiente hospitalar deste serviço, não foi encontrada a espécie A.baumannii.

A elevada prevalência de resistência entre isolados clínicos da E.coli encontradas num estudo

de 1995 e 2001 parece ser um sinal alarmante de que os antibióticos necessitam ser utilizados

de forma adequada, especialmente em infecções do trato urinário e intra-abdominal, onde

mostra um aumento na taxa de bacteremia por E.coli. Peña e seus colaboradores (1995),

referem que era pouco comum a resistência a fluoroquinolonas em E. coli, mas que com o uso

frequente da ciprofloxacina e norfloxacina para tratamento de pacientes com neutropenia e

cirrose, houve um aumento da resistência nestas estirpes (Peña 1995; Cheong 2001).

57

Dentre as enterobactérias, a E.coli tem sido a espécie mais prevalente em infecções

hospitalares em todo o mundo ocupando o segundo lugar depois da S.aureus. Contudo, na

América Latina, a E.coli ocupa o primeiro lugar na lista dos patógenos mais frequentes em

infecções hospitalares principalmente associada à infecções do tracto urinário (Fedler 2006).

Geralmente os pacientes internados nos cuidados intensivos estão mais expostos a factores de

risco, nomeadamente a bactérias patogénicas multiresistentes, tais como Acinetobacter spp.,

E.coli, Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus (Lópencoz-Pueyo 2010).

Podem ser citados alguns estudos que mostraram a elevada incidência de infecções graves e

surtos no SMI, causados por bactérias de Gram-positivo, sendo a maioria desencadeadas por

S. epidermidis e S. aureus, que fazem parte da flora normal da pele. Essas bactérias cada vez

mais tornam se resistente à linezolida, devido o aumento do uso abusivo da linezolida e

posterior disseminação clonal (Kelly 2008; López-Pueyo 2010). Um outro estudo no SMI no

Brasil mostra a elevada prevalência de pneumonias nosocomiais associadas com ventilação

mecânica, sendo que grande parte destas pneumonias são desencadeadas por P.aeruginosa

(52,0%) resistente a imipenemo, e (65,4%) por S.aureus resistente à oxacilina (Rocha 2008).

Mulvey et al (2009) relata ainda que actualmente a taxa de surtos causados por

Staphylococcus aureus resistente a meticilina (MRSA) são cada vez maiores em todo o

mundo. MRSA é considerado um dos patogénios responsáveis por graves infecções

principalmente em tracto respiratório e corrente sanguínea e afectam principalmente pacientes

com internamento prolongado (Mulvey 2009).

Ainda demonstrando que infecções e surtos causados por bactérias de Gram-positivos estão

cada vez mais presentes nos cuidados intensivos, um outro estudo realizado em Espanha

(García et al. 2010) relata um surto causado por Staphylococcus aureus resistentes a

linezolida (LRSA). A linezolida é um dos antibióticos de amplo espectro utilizado para

tratamento de várias infecções nos serviços intensivos bem como para as infecções causadas

MRSA. Porém devido a pressão selectiva exercida sobre á linezolida, as estirpes estão mais

resistente e a opção terapêutica para essas infecções está cada vez mais difícil e limitada. O

autor relata que o surto causado pelo gene cfr pode ser encontrado em algumas espécies como

o E.aureus e E. epidermidis. Sugere ainda que esse gene possui algumas vantagens de

sobrevivência, não somente pelo uso inadequado da linezolida, mas também a transferência

58

por plasmídeo a partir de um microrganismo como Staphylococcus coagulase-negativa.

(Sánchez García 2010).

8.2.2 Caracterização da Região Variável

Tal como descrito no ponto anterior, neste serviço, apenas foram encontrados isolados da

espécie E. coli, os quais foram o objecto de estudo desta segunda parte do trabalho.

Inicialmente for realizado o screening para estudar a presença do gene intI1, e nos isolados

positivos para este gene foi caracterizada a respectiva RV, a qual apresentava

aproximadamente com o mesmo tamanho (cerca de 2000 bp) em todos os isolados. Sendo

assim, e de uma forma rápida, foi realizada a digestão destes fragmentos com a enzima TaqI,

a qual revelou um perfil de digestão igual em todos os fragmentos, mostrando que estamos

perante a mesma RV. Assim, apenas um destes fragmentos foi sequenciado, e tal como

resume a Tabela 8, a RV destes isolados é constituída por dois genes cassette, um que confere

resistência ao trimetoprim (dfrA17), e um outro que confere resistência aos aminoglicosídeos

(aadA5).

Tabela 8. Genes cassette encontrados nas superfícies hospitalares do serviço de medicina intensiva.

Tamanho dos fragmentos (bp)

Genes Cassettes 16S DNA

2000 bp dfrA17 – aadA5 Escherichia coli

Este arranjo genético tem sido descrito por todo o mundo em várias espécies de bactérias de

Gram-negativo, tais como Shigella spp., K. pneumoniae, e P. aeruginosa, mas é na espécie de

E.coli que se verifica uma elevada prevalência deste integrão de classe 1 (Lee 2001; Chang

2007).

Espécies bacterianas resistentes ao trimetoprim e aos aminoglicosídeos, têm sido as mais

encontradas em todo o mundo, uma vez que estes antibióticos foram e continuam a ser uma

das opções muito utilizadas, e a presença destes genes em integrões, normalmente associados

a plasmídeos favorece a disseminação horizontal destes genes ( eputien 2010).

59

Chang et al (2007) demonstra em seu estudo comparativo um aumento da prevalência do

integrão classe 1 em E.coli tanto em Taiwan como em outros países na Europa. Em Taiwan

devido a pressão selectiva exercida sobre uso de antibióticos na veterinária, se tornou alta a

taxa de genes que confere resistência aos antibióticos como ampicilina, gentamicina,

cefalotina e sulfametaxasol/ trimetoprim nos isolados clínicos. Neste estudo mostra a

estabilidade e as mudanças do integrão classe 1 num período de 10 anos. A presença do gene

confere resistência aos aminoglicosídeos (aadA5) e trimetoprim (dfrA17) no integrão de

classe 1 na E.coli é muito comum, tanto em humanos como em animais. Porém acreditava-se

que com a diminuição do uso clínico do aminoglicosídeo e trimetoprim, a presença desses

genes diminuiriam gradualmente. A pesquisa revela que a disseminação pode estar associada

aos plasmídeos em humanos ou animais em diferentes áreas, sendo o papel do integrão

essencial para essa disseminação (Chang 2007).

Ainda um estudo na Coreia investigou o gene dfr e sua elevada prevalência no integrão de

classe 1 em E.coli nos isolados urinários resistentes ao trimetoprim. A pressão selectiva e os

elementos genéticos móveis como as plasmídeos, transposões e integrões contribuíram para

uma geração de mutantes DHFR (inibidores da diidrofolato redutase) menos sensíveis ao

trimetoprim. Na investigação a taxa de resistência do trimetoprim nos isolados de E. coli nas

infecções urinárias foi de 63.1%. Essa elevada taxa de resistência ao trimetoprim e outros

antibióticos se tornou um grande problema devido ao uso indiscriminado do antibiótico. A

prevalência maior foi dos genes dfrA17 e dfrA12, e os demais dfrA1, dfrA2 e dfrA5 também

foram detectados, sendo que a transferência é feita por plasmídeos. Na investigação mostra

que os genes dfrA1,dfrA12 e dfrA17 foram transferidos 31 dos 72 isolados em E.coli

resistentes ao trimetoprim, sendo os elementos genéticos móveis um mecanismo importante

na propagação dos genes. Em outros países, o gene dfrA1e dfrA14 são os mais prevalentes

nos isolados de infecção urinária. O estudo ainda sugere que o gene dfr inseridos no integrão

pode ter implicações importantes na divulgação adicional da resistência ao trimetoprim (Lee

2001).

Tenover (2006) relata ainda que E.coli pode causar graves infecções, resistente a diversos

antibióticos entre os quais os aminopenicilinas como amoxicilinas, ampicilinas e

cefalosporinas de baixo espectro. Onde essa resistência pode ser adquirida por plasmídeos e

codificada por enzimas β-lactamases do tipo TEM-1, TEM-2, ou SHV que hidrolisam e

60

inactivam esses antibióticos. Ainda algumas estirpes de E.coli podem desenvolver resistência

às cefalosporinas de 3ª geração e aos monobactâmicos (aztreonam), como resultado das

mutações de enzimas tipo TEM, SHV e CTX-M.

A elevada taxa de resistência aos antibióticos, associadas a diversos factores de virulência,

converte a família Enterobacteriacea, nomeadamente isolados de E. coli e de K. pneumoniae,

num problema muito relevante no ambiente hospitalar, uma vez que é responsável por uma

grande variedade de infecções nosocomiais desde infecções urinárias, gastrointestinais,

pneumonias e septicemias (Coque 2008).

61

CONCLUSÃO

62

9. Conclusão

Perante os resultados obtidos nos dois serviços hospitalares, é possível concluir que:

- o ambiente hospitalar está colonizado por vários microrganismos, entre os quais

bactérias de Gram-negativo, comensais e oportunistas, capazes de desenvolver e adquirir

resistência aos antibióticos e por isso capazes de causar infecções nosocomiais em pacientes

imunodeprimidos.

- nos isolados recolhidos foram encontrados diferentes genes de resistência, tais como

genes que conferem resistência aos aminoglicosídeos, trimetoprim, cloranfenicol, rifampicina

e eritromicina associados a integrões de classe 1, mas também foram amplificados genes que

conferem resistência aos antibióticos β-lactâmicos, tais como enzimas β-lactamases, as quais

estão normalmente associadas a plasmídeos e por vezes associadas a integrões de classe 1.

- dos integrões de classe 1 encontrados, a maioria já se encontra descrita contudo, o

integrão de classe 1 In37 foi descrito no presente trabalho, pela primeira vez, numa espécie de

Enterobacter cloacae.

- foram encontrados os mesmos arranjos genéticos em espécies diferentes, o que pode

ser o resultado da transmissão horizontal de genes, uma vez que os integrões normalmente

estão associados a elementos genéticos móveis, principalmente plasmídeos conjugativos.

Perante estes resultados constata-se que é preocupante a sobrevivência e a disseminação

bacteriana em superfícies e equipamentos hospitalares. Estes isolados podem adquirir genes

de resistência a antibióticos e tornar-se multiresistentes, não só devido à possível ocorrência

de transferência horizontal de genes, mas também devido à elevada pressão selectiva

antibiótica presente no ambiente hospitalar.

Assim, o ambiente hospitalar pode ser definido como um reservatório de bactérias comensais

e oportunistas, na maior parte das vezes multirresistentes e até patogénicas, e como um meio

de disseminação horizontal de genes de resistência. Torna-se por isso necessário controlar e

monitorizar o ambiente hospitalar, com o intuito de impedir a disseminação de bactérias para

os pacientes, bem como travar a evolução do perfil de resistência bacteriana aos antibióticos,

o que por sua vez irá reduzir a taxa de mortalidade causada por diversas infecções

nosocomiais.

63

10. Referências Bibliográficas

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