DA DE CONCILlAÇAo, INSTRUÇÁO E JULGAMENTO … · sos de cognição completa e que não...

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DA DE CONCILlAÇAo, INSTRUÇÁO E JULGAMENTO PERANTE OS JUIZADOS DE PEQUENAS CAUSAS Athos Gusmão Carneiro Dmambargado r do TJRGS Prof. de DIreito Processua l Civil na Faculdade de DIreito da UFRGS I - Ao tra ta rmos do processo das pequenas causas, um te ma in i ci al é de ser proposto : convém a existência, no direito positivo de cada pa /s, de um processa, ou, melhor dito, de um procedimen to esp c(fico para os processos de pequenas causas? Jur ista s brasi leiros os ma is eminentes m cr it icado a ad ão de um rito sumário para o tratamento das causas de peq ueno val or . Surge logo o ar gumen - to d e q ue os lim ites entr e 'pequeno valor', ' va lor mediano ' e 'grande valor' 5ão ri go ro sa mente arbitrários, e principalmente de que uma de manda pe la lei con- si de rada co mo de 'pequen o valor' pode representar, para o litigante pobre, a to - tali dade de seu patrimônio, e para e le valer muito mais do que , para o litigante abastado , uma demanda de valor muito super ior. Seria po ss (v el também argu- mentar que inexistem direitos subjetivos ' de pri meira classe', d igno s de um pro - cedimento solene, e direitos subjetivos 'de segunda cl asse ', que possam se r t ra- tados sem as garant ias iner entes ao pro cedimen to-padrão; deveria, assim, o le- gislador buscar um 'ponto de equ ili' brio' e ntre os interesses da celeridade e os da efi ciência instrumental, só cogitando de pro cedimentos diversos do proce- d imento-padrão q ua nd o a nat ureza do di reito mat er ia l exija o acrésc im o de a to s processua is , ou sua supre ss ão ou inversões na ordem pro cedimental. ImpoS ve l desconhec er que, em te se, o ide al se ria, para to d os os proces- sos de cognição completa e que não necessitassem ritos especiais, a adoção de um procedimento ordinário padron izado , o que pressupõe possa o legislador Ajuris, v. 14, n. 40, jul., 1987.

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I

I

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DA AUDI~NCIA DE CONCILlAÇAo, INSTRUÇÁO E JULGAMENTO

PERANTE OS JUIZADOS DE PEQUENAS CAUSAS

Athos Gusmão Carneiro Dmambargador do TJRGS

Prof. de DIreito Processua l Civil na Faculdade de DIreito da UFRGS

I - Ao tra tarmos do processo das pequenas causas, um tema in icia l é de ser proposto : convém a existência, no direito positivo de cada pa /s, de um processa, ou, melhor dito, de um procedimen to esp c(fico para os processos de pequenas causas?

Jur istas brasi leiros os mais eminentes tê m crit icado a adoção de um rito sumário para o tratamento das causas de pequeno valor . Surge logo o argumen­to de q ue os lim ites entre 'peq ueno valor', 'va lor mediano ' e 'grande valor' 5ão rigo rosamente arbitrários, e principa lmente de q ue uma demanda pela lei con­side rada como de 'pequeno valor' pode representar , para o litigante pobre, a to ­talidade de seu patrimônio, e para ele valer mui to mais do que , para o litigante abastado , uma demanda de valor m uito superior. Seria poss (vel também argu­mentar que inexistem d ire itos subjet ivos 'de pri me ira classe' , d igno s de um pro­cedimen to so lene , e d ireitos subjetivos 'de segunda classe ', q ue possam se r t ra­t ados sem as garant ias inerentes ao procedimento -padrão; deveria, assim, o le­gislador buscar um 'po nto de eq uili'br io ' entre os int eresses da celeridade e os da efi ciência instru mental, só cogitando de procedimentos diversos do proce­d imento-padrão q uando a natureza do di reito materia l exija o acrésc imo de atos processuais, o u sua supressão ou inversões na ordem procedimental.

ImpoSSível desconhecer q ue, em tese , o ideal seria, para todos os proces­sos de cogn ição completa e que não necessitassem ritos especiais, a adoção de um proced imento ordinário padron izado , o que pressupõe possa o legislador

encontrar o justo p( ideais de eficiência e

Entretanto, vis lado a busca e o enc Justiça cercada de pl

cessos de conheclmel meno que persiste n( d ireito lusitano das (J. J. Calmon de Pas! -se em todas as lati tL reito codificado da f

Itália , v. g. , o CPC pl

causas de menor vale e segs.).

Em Portugal, não excede r à alçadé será sumaríssi mo ­so Des. Paulo Boed vi r na Inglaterra, sob o u pequeno valor são Court , reservadas à f Common Law - Set 30). As pequenas cau bém estudadas por J

AJU RIS, To mo 27, p. Aliás, de um pa

valor traduzem confli, como nas 'quaestione: julgados sem necessid prine/pios da oralidadt

Impende ponder ricanos, d ificHmente c de verbas suf,icientes ~

nicos de forma a pern vém 'separar' as peque soas de condições ma procedimento ordinári rosos para a solução de

Ajuris, v. 14, n. 40, jul., 1987.

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. um tema inicial é e cada pa/s, de um ) para os processos

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da celeridade e os diversos do proce­ija o aCl'éscimo de lcedimental. ~ ra todos os proces­

leciais, a adoção de

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!

Da audiência de conciliação, instrução e julgamento/ 15

encontrar o justo ponto de equilíbrio, nas cond ições de cada país , entre os

ideais de eficiência e os de celeridade da Justiça. Entretanto, vistas as coisas sob um ângulo prático, ta'o dif(cil se tem reve­

lado a busca e o encontro desse ponto de equ/llbrio entre a Justiça célere e a

Justiça cercada de plenas garantias. Que a pXlstência de ritos sumários em pro­cessos de conhecimento com cognição pleno , para determinadas causas, é fenô­

meno que persiste no tempo , velho do direito romanO , do direito canônico, do

direito lusitano das Ordenações, do Regulamento brasileiro n. 737 , de 1850 (J_ j. Calmon de Passos, Coments. ao CPC, Forense, vol. 111, n_ 111. e mantém­

-se em todas as latitudes e em sistemas jurídicos de diferentes matrizes, do di·

reito codificado da fam r'lia romano-germânica ciássica ao da common law. Na Itália, v. g. , o CPC prevê a competência dos Co nciliadores e dos Pretores para

causas de menor va lor (arts. 7.8) sob o rito sumário o u sumaríssimo larts. 3" e segs, ),

Em Portugal , emprega-se o procedimen to sumário se o valor da causa não exceder à alçada da Relaç ão , e em determi nados casos o proced imento será sumaríssi mo - art , 462 do CPC. Em in teressantíssimo e nsa io , o saudo­so Des. Pau lo Boeckel Vel loso, do TJ AGS, discorreu sobre o processo ci­vi l na Inglaterra, sob o regime da common law, lendo-se q ue as ca usas de médio

o u pequeno valor são de regra propostas em ação sumária perante uma County Court, reservadas à High Court as causas de ma ior valor (O Processo Civil na

Common Law - Sete Séculos de Experi ência, pub licado na AJU RIS, Tomo 30). As peque nas causas no d ire ito inglês, perante as County Courts, são tam· bém estudadas por José Ra im undo Gomes da Cruz, em est udo publicado na AJ URIS, Tomo 27, p . 24.

Al iás, de um ponto de vista pragmát ico , geralmente as causas de pequeno valor traduzem conflitos de interesses mais singelos, quer nos aspectos de fate como nas 'quaestiones juris', e, portanto, posst'veis de serem apreciados e bem julgados sem necessidade de maiores formalidades e com predominância dos prindpios da oralidade e da concentração.

Impende ponderar, outrossim, que, em países pobres como os latino-ame­ricanos, dificilmente o Poder Judiciário poderá, a curto ou médio prazo, dispor

de verbas suficientes para aparelhar seus Tribunais com pessoal e recursos téc­

nicos de forma a permitir julgamento rápido para todas as causas; assim, con­vém 'separar' as pequenas causas - nas quais, via de regra, são interessadas pes­

soas de condições mais humildes , sem cond ições para esperar as delongas do procedimento ordiná rio - p rop iciando-lhes meios mais expeditos e menos o ne­

rosos pa ra a solução de seus litíg.ios e para lutar por seus dire itos. l

II

r

i

16/Da audiência de conciliação, instrução e julgamento

É claro, como bem advertiu a Profa. Ada Pellegrini Grinover, tratando da

proposta para a criação dos 'Juizad os Especiais de Pequenas Causas', que a

'adoção de fórmulas e de esquemas renovados, capazes de tornar a Justiça mais

ági ll e mais acessive l, não significa o abandono de prindpios que representaram

e ainda represe n tam impo rt antlssi m as conqu istas adq u iridas pa r'a se mpre pela

ciência processual: o Jui z natural, o di reito de d efesa , o contraditório, entre

outros, configuram valores indeclináveis'. Sal i nta a emérita jurista a a lt a conve­

niência em que as peq uenas dema nda s - atualme nte resolvidas por 'equivalen­

tes jurisdicionais' , freq üentemente arbitrário s e vio lentos - encontrem sol ução

pronta e rápida, pois a mera existência de uma J ustiça cél ere e ef icaz 'i mpede,

de per si, a proliferação de condutas con trar ias ao dir ito' , e chama a atenção

de que uma das razões de pouco êx ito d o procedimen to dito 'sumaríssimo'

(rectius, suméÍrio), instituido no CPC bras rl ei ro de 19 73, terá s ido a atribui ção

da competência para julgá-lo aos mesmos Ju izes q ue jul gam os processos sob ri­

to ordinár.io.

II - A maioria dos habitantes de nossos paises é de condições econômi­

cas modestas, e os 'bens da vida' disputados pelos pobres são geralm ente, em

termos pecuniários, de pequeno valor, embora possam representar muito, em

termos materiais e até mesmo de satisfação do humano senso de justiça, aos

interessados. Todavia , a quase -totalidade dessas lides , no campo do dire ito ci­

vil comum (não das lides trabalhistas), não chega ao conhecimento do Poder

Judic iário: a necessidade de se socorrer de advogado, a fama de lent idão da Jus­

tiça comum, o temor pelas despesas do processo, a dificuldade de o assalariado

afastar-se de seu local de trabalho, tudo contribui, apesar do instituto da 'assis­

tência jud iciária' (Lei n. 1.060, de 5 .2.50), para que os menos afortunados bus­

quem so luções extrajudiciais. Na zona rural, ainda é comum a queixa ao chefe

politico, ao Prefeito, ao lider religioso; nas cidades, o apelo à autoridade poli­

ciai , a associações comunitárias ou, em certos casos, a reclamação pel a impren ­

sa. Isso quando os litigantes não resolvem o caso pelo desforço pessoal , ou sim­

plesmente renunciam, a cont ragosto, à busca de seus alegados dire itos.

A Associação dos Juizes do Rio G rande do Sul - AJU R IS patrocinou

pioneira iniciativa no Brasil, visando a trazer justiça às grandes massas populares,

sob os auspicios do próprio Poder Judiciário, enquanto se aguardava a tramita ­

ção, no Congresso Nacional, do projeto de lei que instituiu os Jui zados Espe­

ciais de Peq uenas Causas.

A iniciativa consistiu na criação de 'Conselhos de Conciliação e Arbitra­

mento', que logo se popularizaram sob a denominacão de 'Tribunai s de Peque­ , .~

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dos direitos,

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~des massas populares,

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uiu os Juizados Espe­

:onciliação e Arbitra­

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o 'ot-, «

Da audiência de conciliação, instrução e julgamento / 17

nas Causas'. O primeiro surgiu na cidade de Rio Grande, o porto maritimo do

Estado do Rio Grande Sul. Logo após, o localizado junto ao Foro Regional

de Sarandi (bairro periférico de Porto Alegre). Posteriormente, no Rio Grande

do Sul, tanto na capital como e m várias comarcas do interior, com pleno êxito,

passaram a funcionar tais conselhos, e assim também no Estado do Paraná, em

Cur itiba e em mu it as comarca s, no Rio de Janeiro e em outros Estados.

Destas in iciativas oficiosas disse Ga leno Lacerda, Desembargador do

TJRGS e processualista de alto renome, que os Conselhos de Conciliação e Ar­

b itramento da AJURIS 'nada ofendem à ordem legal, pois atuam sobre direitos

disponiveis com o concurso da vontade das partes'. E prossegue: 'A instituição,

na verdade, não é nova, antes muito antiga, muito anterior à própria criação do

Pode r Judiciár io, haurida nas fontes milenares do JUIzo arbitral dos 'Conselhos

de homens bons'. Quando as coisas institu(das falham, por culpa de fatores

estranhos à nossa vontade , convém ab rir os olhos às lições do passado para veri­

ficar se, acaso, com mais humildade , dentro de nossas forças e limites , não po­

dem elas nos ensinar a vencer desafios do presente. Do passado longinquo. en­

tão, se ressuscitam e rec ri am , com novas roupagens, adaptadas ao tempo novo,

inst itu ições sepu Itas, capazes de reflo rescer com su rpreendente v ita I idade e

eficiência' (discurso proferido em 7 .2 .83).

A influência conjugada do bom funcionamento dos Juizados informais,

mais os esforços desenvolvidos no plano do utrinário por uma plêiade de pro­

cessualistas, entre os quais é de justiça salientar a Profa. Ada Pellegrini Gri­

nover, bem como a pertinác ia do Prof. João Geraldo Piquet Carneiro, então

dirigindo o Programa Nacional de Desburocratização do Ministério da Justiça,

resultaram, ao final, na sanção e promulgação da Lei n . 7.244, de 7.11.84, que

'dispõe sobre a criacão e o funcionamento do Juizado Especial de Pequenas

Causas '.

O Estado do Rio G ra nde do Sul foi o prime iro a editar lei receptiva, a

Lei estadual n. 8 .124 , de 10.1.86, que 'cria o Sistema Estadual de Juizados de

Pequenas Causas'. A segu ir, o Estado de São Paulo, pela Lei estadua In. 5.143,

de 28 de maio do mesmo ano, editou sua lei receptiva . Encontram-se já em efe­

tivo funcionamento, na cidade de Porto Alegre, integrados no Poder Judiciá­

rio, dois Juizados de Pequenas Causas, um junto ao Foro Central, outro junto

ao Foro Regional do Bairro Sarandi , bem como a respectiva Câmara Recursal

de Pequenas Causas .

II I - Vale sa li entar alguns aspectos do procedimento nesses Juizados:

ne le s não há ' processo', ou, melhor, não há 'autos', no sentido comum do

.

18/0a audiência de conciliação, instrução e Julgamento

te rmo. As pretensões dos reclamantes, apresentadas verbalmente ou por escrito, são sucintame nte anotadas em fi cha ou fo rmulário próprio, e de imediato é designada data para a audiência . Os reclamados ~o citados, por via postal, pa­ra comparecer; não comparecendo, segue-se a revelia, com suas legais conse­qüências. Comparecendo as partes, um árbitro (sempre um advogado, que serve gratuitamente) tenta conciliá-Ias. Obtida conciliação, lavra-se o respectivo ter­mo, no ver so da mesma ficha , assinado pe los acordantes, e homologado pelo Juiz, valendo, destarte, como trtulo execut ivo judicial. Caso não logrado acor· do , as partes são convidadas a aceitar a solução da lide, mediante arbitra­mento.

Não obtido acordo , nem ace itando os litigantes o ju(zo arbitral, procede­-se de logo à instrução, já, agora , peran te o magistrado . Em Porto Alegre, os Jui­.lados de Pequenas Causas têm sessões à noite, duas vezes por semana Não são cobradas custas de espéCie algu ma. Um magist rado de carreira, Ju iz de 4!l entrância, preside cada Juizado, orienta os conciliadores qu ando necessá­rio, e realiza a instrução dos fe itos não concil iados.

Ainda anteriormente à inst ituição d os Juizados oficiais, tivemos ocas ião de escrever o seguinte : 'Numerosos advogados e professores, os ma is emi nen­tes, têm manifestado preocupações com tai s pro postas. Temem, de inic io, que o valor 'justiça' seja asf ixiado pelas sol icitações de rapidez e simp li cidade. Re­ceiam, paradoxalmente, pela perda dos d ireitos das pessoas mai s desval idas. Preocupam-se, e muito, com o aumento dos poderes conferidos ao magistrado, pois a simplicidade procedimental implicaria, f reqüentemente, o controle mais limitado dos litigantes sobre a orientação adotada pelo Juiz no cu rso do pro­cesso. E há quem afirme tratar-se de uma justiça 'contra os pobres' , por faci­litar a cobrança de pequenas dív idas.

' Em primeiro lugar , no plano do d ireito comparado, existe, em numero· sos países, tal tipo de Juizados, onde se dá prevalênc ia às possibilidades de con­ci liação e de arbitramento; basta lembrar as Sma// Claims Courts, da cidade de Nova Iorque. Os Juizados Especiais visam, em princípio, a defender os direitos (rectius, as pretensões) dos menos favorecidos, tanto que somente pessoas f í­sicas (não as pessoas jurídicas) poderão optar por serem autores perante tais Juizados. Busquem-se as estatísticas: quem propõe demandas atualmente no Brasil, cobrando dívidas? Na quase-tota lidade, pessoas jurídicas.

'Outro aspecto do tema: a busca do 'ótimo' sói impedir a concretização do 'razoável' e do 'bom' . Somente um rito simplif icado permitirá o breve jul ­gamento do imenso número de pequenos I it ígios (hoje geralmente 'resolvi ­dos' pela polícia, pelo desforço pessoal, ou pela desalentada renúncia ... ),

sem co ngest ionar grandes conglomE requer funta méd entre o proced irr de grande i nteres nado a co mpor li< 26, di tor ial , partE

Devo t razer ver: ' Parece intul t de Pequenas Caus po rque r icos e pc turas experim enta mutatis mutandis rando sua tra nsfor

O processua apresentado à O;' digmático e exacI nentemente conse nomicamente ma l capaz de resistir a de pouqu íssimos­

de Direit·o da UFf

tuto se reúnem 'r jurisdicional prorr cos' (Ovídio A. Bi Ed itora Ltda., p. 2

IV - A Le oralidade e concel ma única audiêncii

2. facultati~

ju ízo comum; 3. gratuidaa 4. acesso s,

jur ídicas apenas n;

5. assistênci grau de jurisdição;,

6. conci/iaç,

te ou por I}Scr ito.

e de imediato é por via postal. pa­

suas legais canse·

vogado, que serve

o respect ivo ter­

homologado pelo

não logra do acor­med ian te arbitra­

arbitral, procede­rto Alegre, os Jui­por semana , Não

carreira, J uiz de

quando necessá­

" tivemos ocasião , os ma is eminen·

em, de in ic io , q ue

simplicidade . Re­

s mais desval idas.

los ao magistrado,

e, o contr ole mais no curso do pro­

pObres ', por faci ­

xiste, em numero­,ibilidades de con­

lurts, da cidade de

~fender os direitos

lmente pessoas f í­Hores pera nte ta is

,Ias atualmente no

as. lir a concretização

mitirá o breve jul­

nalmente 'resolvi­

Ida renúncia ... ),

Da aud iência de conciliação. instrução e julgamento/ 19

sem congestionar ainda ma is as pautas de audiência s das Varas Cíveis dos

gra ndes conglomerados u rbanos. Assim com o para a cura do resf r iado não se requer junta méd ica, igua lm ente impende. num p lano operacional, disti ngu ir

entre o proced imento destinado à reso lução das causas mai s comp lexas, ou

de gra nde in te resse soc ial (como as de estado , v. g.), do procedimento desti­

nado a co mpo r lides singe las entre pessoas maiores e capazes' (AJURIS, Tomo

26, editoria l, parte final).

Devo trazer à colação, aqui, advertê ncia da Profa . Ada Pellegrini Grino­

ver : 'Parece intLlit ivo, final m ente , qu e não se trata de instituir, com o Juizado

de Pequenas Causas, uma 'Ju stiça dos r icos e uma Justiça dos pobres'; não só

porque r icos e pobres terão ac esso a essa Justiça , mas ainda porque as estru­

tura s experimentais do Ju izad o de Pequenas Ca.usas poderão ser estendidas,

mutatis mutandis , a outros tipos de procedimentos, simplificando-os e ope­

rando sua transformação '.

O processuali sta sul-rio-grandense Ov idio Baptista da Silva, em parecer

apresentado à OAB, refere q ue 'não é segredo para ninguém que nosso para­

digmático e exacerbantemente lerdo processo ordinário é uma técnica emi­

nentemente conservadora, na medida em que privilegia, em geral, a parte eco­

nomicamente mais forte (Cappelletti , Proceso, ideologias, sociedad, p . 276), capaz de resistir anos a f io a uma discussão sábia , sem dúvida, e instrutiva, mas

de pouqu íssimo t resultad os soc iais vis íveis'. O ilustre professor da Faculdade

de Direito d a UF RGS sustenta que o s p ropósitos fundamentais do novo insti ­

tuto se reúnem 'neste excl usivo objeti vo : ampliação da base efetiva da tutela jurisdicional promet ida e Jamais outorgada pelos sistemas processuais clássi­

cos' (Ovidio A_ Bapti5"ta d a S il va , J u izad o de Pequenas Causas, Letra s Jurídicas Editora Ltda., p. 21).

IV - A Lei n. 7.244, de 7.1 1.84, baseia-se nos seguintes princípios: 1. oralidade e concentração , com todos os atos processua is desenvolvendo-se nu­ma única audiência, com reg.i stro escrito apenas dos atos essenciais;

2. facultatividade de acesso, podendo o autor (não o réu) optar pelo

juízo comum;

3. gratuidade, em primeiro grau de jurisdição;

4. acesso somente a pessoas f/sicas capazes, comparecendo as pessoas

jurídicas apenas na qualidade de rés;

5. assistência por advogado, em caráter apenas facultativo, no primeiro

grau de jurisdição; e m caráter o br igatório. no caso de recurso ;

6. conciliação , como o bjeti vo prima cial a ser perseguido;

l

i

20IDa audiéncia de conciliação , instrucão e julgamento

7 . não -admissão da intervenção de terceiros e substituição da prova

pericial pela inquirição de técnico no assunto;

8 . alargamento dos poderes do Juiz, que dirige o processo , com a mpl a

libp.rd ade para determinar as provas a serem produz idas, para apreciá-Ias e para

dar especial valor às regra s de experiência comum ou técnica, adotando, em

cada caso, a decisão q ue reputar m éli justa e equânime;

9. possibilidade de funcionamento em horário noturno; 10. colaboração de advogados co mo conciliadores e árbitros ;

11 . limitação do pedido a d ir eitos patrimonia is disponíveis , de va lor

não excedente a vinte vezes o valor do salário m/n imo; não se ap lica a Lei n .

7.244 às causas de natureza falimentar, alimentar, fiscal e de interesse da Fa ·

zenda, nem às relativas a acidentes do trabalho e ao estado e capac idad e d as

pessoas;

12. recurso para um Colegiado composto por três Ju ízes de Direito, em

exercício na p r imeira instância, e julgamento na própria sede do juizado.

v _. A audiência, perante os Juizados de Pequenas Causas, desenvolve·se

em duas etapas: a sessão de conciliação e a audiência de instrução e julgamento propriamente dita.

Buscamos resumir, seguindo o rotei ro da lei, a seqüência de atos proces·

suais:

1 . Apregoadas as pa rtes, o não-compa reci mento pessoal do demandado

implica a declaração de sua revelia, reputando'se verdadeiros os fatos alegado s

no pedido inicial, salvo se o contrário resultar da convicção do Juiz. A eventual

presença de advogado constituído pelo réu não lhe supre a ausência, podendo

apenas autorizar, nos casos de comprovado impedimento ao comparecimento

do demandado, o adiamento da audiência. A atividade conciliatória, fundamen­

tai no procedimento especial das pequena s causas, supõe a presença pessoal dos litigantes, pois, inclusive, deve o Ju iz, previamente, esclarecê -los sobre as vanta­

gens da conciliação, mostrando-lhes o s riscos e as conseqüências do litígio (arts.

99,21e22).

2 . Se ausente o autor, sem prévia e fundada justificação, ext ingue -se o

processo sem julgamento do mérito (art . 50, I).

3 . Presentes pessoalmente as partes, e após a exortação inicial - que po­

derá ser feita tanto coletivamente , como caso a caso, ao in íc io da sessão _. o

Juiz, ou conciliador sob sua orientação (art . 23), buscará a conciliação, a auto­

composição do conflito de interesses . O s litigantes serão 'exortados a fixar eles

próprios a solução para a pendência, independentemente daquela que, a rigor,

seria a solução j

solução propriar

e vis a à atuaçãc

lução concordad

preestabelecida s

to na autonomié

da jurisdição, ne

Dinamarco, Mant

4 . Se obtic

gar próprio da f

único) . Homolog

de sentença de r

t/tulo executivo, futura execução,

tação, quer de pé

fazer (art. 39, I e

5. Vale CO I

tência do autor à

de mérito; ou co

caso de autocomr

6 . Tambérr

como conteúdo a

pelo pedido fom

possa abranger m

te o disposto no

Lauria Tucci, Ma

p. 1671168). Aliá

extrajudicialment

em ju ízo, 'valendc

VI - Caso

dadas à composi\ de imediato, ind,

pelas partes . Nos

estadual n . 8.124

simultâneo exerc

O árbitro, que po

fins de homologi

:ituicão da prova

cesso , com ampla apreciá-Ias e para ca, adotando , em

tros; loníveis, de valor se aplica a Lei n. e interesse da Fa­e capacidade das

'zes de Direito, em do juizado.

Jsas, desenvolve-se ução e julgamento

~ ia de atos proces­

~al do demandado , os fatos alegados

'o Juiz. A eventual ~ usencia , podendo b comparecimento iatória, fundamen­'esença pessoal dos -los sobre as vanta­:ias do litígio (arts.

lção, extingue-se o

io inicial - que po­ício da sessão .. o

:onciliação, a auto­ortados a fixar eles aquela que, a rigor,

Da audiência de conciliação, instrução e julgamento/21

seria a solução jurídica, desde logo cabível; e essa é a grande diferença entre a solução propriamente jurisdicional, em sede contenciosa, onde o Juiz declara e visa à atuação prática de normas gerais e abstratas preexistentes, e a so­lução concordada entre as partes, que, possivelmente , se afastam de normas

preestabelecidas e auto-regulamentam seus próprios interesses, com fundamen­to na autonomia da vontade. A autocomposição constitui val'ioso sucedâneo da jurisdição, nesse seu objetivo social de pacificação de litígios' (Cândido H. Dinamarco, Manual das Pequenas Causas, RT, 1986, n. 66) .

4. Se obtida a conciliação, serão seus termos reduzidos a escrito, em lu­gar próprio da ficha ou formulário impresso (a rt. 15, § 39 ; art. 23, parágrafo único) . Homologando, a seguir, o acordo das partes, dar-Ihe-á o Jui z a eficácia de sentença de mérito, com coisa julgada material, e , inclusive, a eficácia de titulo executivo, se o acordo incluir cláusula condenatória , que possa exigir futura execu cão , em caso de resistência do devedor ao cumpr imento da pres­tacão, quer de pagar , como de dar coisa certa móvel ou cumprir obrigação de fazer (art . 39, I e 11) .

5 . Vale consignar que a conciliação também poderá fazer-se com a desis­tência do autor à demanda, resultando a extinção do processo sem julgamento de mérito ; ou com a própria renúncia do autor à pretensão do direito material, caso de autocomposição com solucão de mérito.

6 . Também não será demasia anotar que, de ordinário, 'a conciliação tem como conteúdo a lide submetida à apreciação judicial, nos termos delimitados pelo pedido formulado pelo autor'. Todavia, nada impede que a conciliação possa abranger matéria que venha a 'extravasar da limitação do lit ígio, consoan­te o disposto no § 2() do art. 3(), e também no art. 22 da lei anotada' (Rogério Lauria Tucci, Manual do Juizado Especial de Pequenas Causas, Saraiva, 1985, p. 167/168). Aliás , a Lei n. 7_244 é expressa em que até osacordosavençados extrajudicialmente, de qualquer natureza ou valor, possam ser homologados em juízo, 'valendo a sentença como título executivo judicial' (art . 55).

VI - Caso não venha a ser obtida a conciliação, as partes serão convi­dadas à composição da lide, mediante juizo arbitral, que pode ser instaurado de imediato, independentemente de compromisso, com a escolha de árbitro pelas partes. Nos termos da lei receptiva do Estado do Rio Grande do Sul (Lei estadual n . 8.124/86) , o exercício do encargo de árbitro é compatível com o simultâneo exercício do encargo de Conciliador, 'salvo no mesmo processo'. O árbitro, que poderá decidir por eqüidade, apresentará o laudo ao Juiz, para fins de homologação , sendo irrecorr ível a sentença homologatória (arts. 25,

22/Da audiência de conciliação, instrução e julgamento

26 e 27). A experiência dos dois Juizados de Pequenas Causas em funciona·

mento na cidade de Porto Alegre indica grande freqüência na obtenção de

conciliações, mas muito poucas opções pelo arbitramento.

VII - Inocorrente conciliação, recusando os litigantes o juízo arbitral,

'proceder-se-á imediatamente à audiência de instrução e julgamento, desde que

não resulte prejuízo para a defesa' . A regra é o imediato início da instrução perante o Juiz, que, todavia, poderá adiar a audiência em casos, v. g., de não­

-comparecimento de testemunha reputada imprescmd ível e cuja intimação

houvesse sido requerida , ou da necessidade de o Juiz convocar técnico de sua

confiança, etc . (arts. 35 e parágrafos, e 36) . Na audiência de instrução e julgamento 'serão ouvidas as partes, colhida

a prova e, em seguida, proferida a sentença ' (art 29) . Tendo em vista que o

processo, perante o Jui'zado Especial de Pequenas Causas, se rege pelos crité­

rios da oralidade , simplicidade, informalidade, economia processual e celeri­

dade (art 29), a instrução segue os seguintes princípios: a) Os depoimentos tomados em instrução não serão reduzidos a escrito,

mas gravados em fita magnética ou equivalente. Em caso de recurso, as partes

poderão requerer a transcrição da aludida gravação. Ficarão anotados na ficha

apenas os nomes e qualificação das partes, das testemunhas e do técnico que

hajam prestado declarações (arts. 13, § 30 , 37 e 44).

b) Serão decididos de plano todos os incidentes que possam interferir

no regular prosseguimento da audiência (como, v. g. , contradita a testemunhas,

indeferimento ou determinação de provas), não havendo recurso contra as de­

cisões interlocutórias. Assim sendo, também não ocorrerá a preclusão, sem ne­

cessidade de protesto algum 'antipreclusivo' . Outras questões, mesmo de ordem

processual, ficam para decisão na sentença, que, normalmente, será prolatada

ao final da audiência: 'Uma alegação de carência de ação, que o Juiz não esteja

convencido a acolher de plano; uma preliminar de incompetência que ainda de­

penda de prova para perfeito julgamento, por exemplo - são desses pontos a

serem resolvidos na sentença e não no curso do processo' (Cândido R. Dina­

marco, ob. cit., n. 90) (art . 29, § 19) .

c) A contestação será, geralmente, feita com o depoimento do deman­

dado ou através as alegações escritas que este trouxer . Embora a lei, expressa­

mente, inadmita a reconvenção nos termos previstos no CPC, todavia, é lícito

ao réu, 'na contestação, formular pedido em seu favor , nos limites do art. 39

desta lei, desde que fundado nos mesmos fatos que constituem objeto da con­

trovérsia'. Em última análise, a reconvenção é realmente admitida, sem maio ­

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Da audiência de conciliação , instrução e julgamento/23

res formalidades e desde que não amplie o conjunto de fatos a serem discuti­

dos; ainda assim, é facultado ao demandante, ante o 'pedido' do réu, requerer

a designação de nova data para o prosseguimento da audiência, data 'que será

desde logo fixada, cientes todos os presentes' (art. 32 e parágrafo único).

d) A argüição de suspeição ou de impedimento do Juiz ' se processará

na forma da legislação em vigor' (art. 31, in fine), isto é, do CPC. Manifestada

a exceção, por qualquer das partes, será a petição , ou o termo, autuado em

apartado , com suspensão do processo (CPC, arts. 304 a 306; 312 a 314). Não

reconhecendo o Juiz o impedimento ou a suspeiç~o, o expediente é remetido

'ao Tribunal', no caso ao Colegiado recursal previ sto no art. 41, § 19, da Lei

n . 7.244 (Rogério Lauria Tucci, ob . cit., p. 206/ 209) .

e) Os depoimentos das partes e das testemunhas são prestados na forma

habitual, mas de maneira informal, isto é, podendo o Juiz, como em conversa

num grupo de pessoas, interromper a declaração de uma testemunha para, so­

bre determinado ponto, ouvir o litigante ou outra testemunha; não permitirá

o julgador, todavia, que os interrogatórios degenerem em discussão ou acerbo

bate·boca. Assim preconiza Dinamarco : 'As testemunhas são ouvidas informal·

mente, em diálogo, sem o rigor de perguntas, reperguntas e respostas. Não há

termo de audiência, nem assentada de testemunhas' (ob. cit., n. 72).

f) No alusivo às provas, são admitidas todas as moralmente legítimas,

'ainda que não requeridas previamente, podendo o Juiz limitar ou excluir as

que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias' (arts. 33 e 34). As testemunhas, até o máximo de três para cada parte, comparecerão ou inde­

pendentemente de intimação ou após intimadas, devendo o requerimento para

intimação ser apresentado até cinco dias antes da audiência. Não comparecen­

do a testemunha intimada, poderá o Juiz determinar sua condução a ju ízo, sob

Vara (art. 35 e parágrafos).

g) A celeridade e a oralidade do procedimento perante o Juizado de Pe­

quenas Causas excluem a prova pericial, substitu ída, se necessário, quer pela

apresentação pelas partes de parecer técnico ou de documentos hábeis (em aci­

dente de trânsito, v. g., fotografias, croquis do local, orçamentos relativos aos

danos); quer pela ouvida, a critér io do Juiz, de técnico de sua confiança; co­

mo, também, pela própria inspeção judicial sobre as coisas (ida, por exemplo,

ao local do acidente) ou sobre pessoas (o juiz, pessoalmente, verifica a defi·

ciência física decorrente do acidente, se ostensiva, ou convoca médico para

que, incontinenti, o faça) (art. 36 e parágrafo único' .

Anota o Des . Cândid o R. Dinamarco ser de esperar que os Juizados me­

lhor estruturado s 'disponham de serviços de orientação e triagem prévias, que

24/Da audiência de conciliação, instrução e julgamento

saibam adequadamente evitar a propositura , por essa via especialíssima, de de­

mandas para as quais já se antevê a estrita necessidade de prova per-icial' (ob.

cit., n. 78).

h) A prova documental pode ser pelos litigantes produzida, quer quando

do pedido ou da contestação, como em qualquer momento antes da sentença,

mandando o Juiz que sobre o documento seja ouvida a outra parte, sem inter­

rupção da audiência (art. 29, § 29). Tal prova documental, no alusivo ao autor,

poderá, também, ser um título executivo extrajudicial; fica , assim, claro que,

no processo do Juizado de Pequenas Causas, o credor por título executivo não

judicia l poderá ter interesse no processo de conhecimento e na consecução, por

intermédio deste, de um título executivo judicial. A vantagem ao dito credor é

dupla: em primeiro lugar, pela possibilidade, tão comum, de que sEja logrado

um acordo e uma fórmula para breve pagamento pelo devedor em mora; em

segundo lugar, pela obtenção da sentença, título executivo judicial, contra a qual se apresenta angusto o âmbito dos embargos, como referido no art. 741

do CPC. i) Encerrada a instrução, e sem que estejam previstos debates ora is - in­

clusive pela facultatividade da representação das partes por advogado na pri ­

meira instância - segue-se, de imediato, a prolação da sentença. A lei permite seja omitido o relatório, mencionando-se, apenas, 'os ele­

mentos de convicção do Juiz, com breve resumo dos fatos relevantes ocorri­

dos em audiência'. Como a prova oral não foi reduzida a escrito (apenas gra­

vada), o julgador irá referir, no essencial, os informes mais relevantes trazidos

nos depoimentos (para o que poderá ter rascunhado, sucintamente, o essen­

cial das declarações, como boa ajuda à memória).

É defesa a sentença condenatória il iquida, a inda que haja sido genérico

o pedido, evitando-se, assim, as liquidações de sentença, sempre demoradas e

fonte de problemas processuais (art. 38 e parágrafo único). A condenação não

deve exceder à alçada estabelecida em lei (quer na lei federal, como na lei esta­

duall receptiva, que poderá estabelecer alçada inferior), sob a sanção de ser con­

siderada ineficaz na parte em excesso (art. 39).

j) Da sentença pOderá ser oposto recurso, no prazo de dez dias. São, to­

davia, irrecorr íveis as sentenças homologatórias de conciliação ou de laudo ar­

bitrai (art. 41) .

A Lei n . 7.244 prevê que, para o recurso, devam as partes ser, obr igator ia­

mente, representadas por advogado, valendo-se o litigante, que não o possa con­

tratar, do serviço de assistência judiciária, necessariamente implantado junto ao

Juizado (art. 54) . Se o recorrido não se quiser valer de advogado constituído

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Da audiência de conciliação. instrução e julgamento/25

ou de assistente judiciário, não poderá apresentar resposta. O efeito normal

do apelo é apenas o devolutivo, podendo o Juiz 'dar-lhe efeito suspensivo, para

evitar dano irreparável para a parte ' (art. 43) . I) O sistema de Juizados de Pequenas Causas dispõe de Colegiado recur­

sal próprio, const ituído por três Juízes em exercício em primeiro grau de ju­

risdição, 'reunidos na sede do Juizado ' . Como ressaltou Kazuo Watanabe, os

integrantes do Colegiado dirigem -se à sede do Juizado, na data fixada, 'inver­

tendo-se o sistema atual, que é de envio do processo ao Tribunal, e somente

nessa inovação. como é de intuitiva percepção, há uma economia enorme de

atos processuais, de tempo e de custo operacional' (Juizado Especial de Peque­

nas Causas, RT, 1985, Kazuo Watanabe e outros, p. 4) (1)

(1) - No Estado do Rio Grande do Sul, a lei estadual recept(cia criou as 'Câmaras Recursais de Pequenas Causas'. e a Câmara correspondente aos três Juizados de Porto Ale­gre já realizou, creio que em caráter pioneiro no Brasil, a primeira sessão de julgamento nos 10 e 20 Juizados. aos 8 de julho do corrente ano de 1987 (Diário da Justiça, 15.7.87), apreciando onze recursos, resultando dez desprovidos e um provido por maioria de votos.

AVA