Da Episteme Grega a Biotecnociencia Contemporanea_190-646-1-Pb

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  Ac er vo, Ri o de Ja nei ro , v. 17, nº 2, p. 71 -84, ju l/ de z 20 04 - pág .71 R V O  R V O H á um consenso geral de que a nossa contemporaneidade é dominada por uma “racionalidade instrumental” que se caracteriza por “um positivismo tecnológico como forma de cons- ciência”. 1  Essa consciência tecnificada confi- gura-se como a principal forma do homem atual em lidar com a sua realidade. O pensamento da tradição grega por sua vez concebia o homem por meio de duas propriedades: como animal que pensa e discorre (zôon logikón ) e como animal político ( zoo politikón  ). Para o aristotelismo, o homem como zôon  logikón se distingui dos outros seres da natureza em virtude de ser possuidor de Da Téchne   e Epistéme  Grega a Biotecnociência Contemporânea Rogério Luis da Rocha Seixas Rogério Luis da Rocha Seixas Rogério Luis da Rocha Seixas Rogério Luis da Rocha Seixas Rogério Luis da Rocha Seixas Mestre em Filosofia da Ciência pela UERJ. Pesquisador do Centro de Ética e Sociedade da UERJ. Este artigo é um estudo a respeito das mudanças filosóficas e históricas das noções de técnica e ciência, partindo da tradição da téchne e epistéme clássica grega – marcada pela atitude contemplativa de conhecimento –, e passando pelo advento da ciência moderna que expressa o ideal de intervenção na natureza, muito presente até a nossa atualidade, marcada pelo surgimento da biotecnociência. Palavras-chaves: téchne, epistéme, biotecnociência .  Th is pa pe r is a st ud y ab ou t th e philosophical and historic changes in the notions of technique and science, taking as starting point the tradition of  téchne  and epistéme   classical Greek, characterized by the contemplative attitude of  subjected, passing by the advent of modern science which expresses the ideal of  intervention in nature, very present until our  actuality, marke d by the appearance of  biotechnicscience. Keywords: téchne, epistéme, biotechnicscience .

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A EPISTEME GREGA A BIOTECNOCIENCIA CONTEMPORANEA

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  • Acervo, Rio de Janeiro, v. 17, n 2, p. 71-84, jul/dez 2004 - pg.71

    R V OR V O

    H um consenso geral de que anossa contemporaneidade dominada por uma racionalidadeinstrumental que se caracteriza por um

    positivismo tecnolgico como forma de cons-

    cincia.1 Essa conscincia tecnificada confi-

    gura-se como a principal forma do homem

    atual em lidar com a sua realidade.

    O pensamento da tradio grega por sua

    vez concebia o homem por meio de duas

    propriedades: como animal que pensa e

    discorre (zon logikn) e como animal

    po l t i co ( zoo po l i t ikn) . Pa ra o

    aristotel ismo, o homem como zon

    logikn se distingui dos outros seres da

    natureza em virtude de ser possuidor de

    Da Tchne e EpistmeGrega a Biotecnocincia

    Contempornea

    Rogrio Luis da Rocha SeixasRogrio Luis da Rocha SeixasRogrio Luis da Rocha SeixasRogrio Luis da Rocha SeixasRogrio Luis da Rocha SeixasMestre em Filosofia da Cincia pela UERJ.

    Pesquisador do Centro de tica e Sociedade da UERJ.

    Este artigo um estudo a respeito das

    mudanas filosficas e histricas das

    noes de tcnica e cincia, partindo da

    tradio da tchne e epistme clssica

    grega marcada pela atitude contemplativa de

    conhecimento , e passando pelo advento da

    cincia moderna que expressa o ideal de

    interveno na natureza, muito presente at a

    nossa atualidade, marcada pelo surgimento da

    biotecnocincia.

    Palavras-chaves: tchne, epistme,

    biotecnocincia.

    This paper is a study about the

    philosophical and historic changes in

    the notions of technique and science,

    taking as starting point the tradition of

    tchne and epistme classical Greek,

    characterized by the contemplative attitude of

    subjected, passing by the advent of modern

    science which expresses the ideal of

    intervention in nature, very present until our

    actuality, marked by the appearance of

    biotechnicscience.

    Keywords: tchne, epistme, biotechnicscience.

  • pg.72, jul/dez 2004

    A C E

    racionalidade, ou seja, um animal provi-

    do da capacidade de lgos e, por este

    motivo, capaz de reconhecer sua physis

    atravs deste lgos, podendo desta for-

    ma ultrapass-la, em parte, pelos costu-

    mes que cria para sobreviver.2 Sob essa

    condio, o homem pode adotar diferen-

    tes posturas perante o mundo, ou me-

    lhor, pode adotar duas formas importan-

    tes de se relacionar cognoscitivamente

    com a realidade, distinguindo-se dos ou-

    tros animais. A contemplao (theora),

    procurada em razo de si mesma e apre-

    sentando como fim o conhecimento ver-

    dade i ro das co isas , e a produo

    (poiesis), da qual resultam objetos artifi-

    ciais e cuja finalidade a pura utilidade

    ou mero prazer. Essas posturas eram

    representadas pela cincia (epistme) e

    tambm pela fabricao (tchne). Estas

    atividades expressam o finalismo racio-

    nal humano ou, em outros termos, so

    modos determinados de o homem ser.

    Destacaremos as principais caractersti-

    cas de cada uma dessas atividades.

    A ATITUDE CONTEMPLATIVA E AEPISTME GREGA

    Atheora ou contemplao, bus-cada em razo de si mesma,voltava-se para obter o conhe-cimento da verdade das coisas, melhor

    dizendo, para aquilo que, nas coisas, era

    imutvel, eterno, divino. Tanto o esprito

    contemplador como a realidade contem-

    plada emergem como realidades que tm

    fim em si mesmo. De acordo com a natu-

    reza das coisas contempladas, procedem

    desta atividade trs cincias tericas ou

    epistmicas: a fsica, a matemtica e a

    filosofia primeira. A atividade terica se

    constitui como a forma de saber que est

    livre de qualquer fim que esteja fora de

    si mesma, sendo realizada por este mo-

    tivo, no mais alto grau, a liberdade hu-

    mana, como a vida contemplativa que

    tem um princpio e um fim em si mesma.

    Ela no ordena qualquer tipo de ente a

    relacionar-se com algo estranho ao seu

    prprio ser, isto , no considera o ente

    como meio para a fabricao de objetos

    ou para realizao do prprio homem. A

    theora permite que a realidade seja o

    que ela e desta maneira possibilita a

    sua manifestao no ser do homem que

    a contempla. Essa forma de vida, funda-

    da na pura contemplao, liberta-se in-

    teiramente do julgar de alguma funcio-

    na l idade e possu i uma f ina l idade

    imanente a si.

    Ana l i sando esse sent ido de v ida

    contemplativa como realizadora da ple-

    na realidade no ser, Manfredo de Oli-

    veira afirma que a atitude terica, segun-

    do Aristteles, a principal dimenso do

    esprito subjetivo, na qual a verdade pos-

    sui todas as condies para emergir.3

    Devemos ressaltar que essa atitude te-

    rica busca atingir uma realidade fora do

    mbito da funcionalidade ou produtivida-

    de, deixando-a ser da forma como ela se

    apresenta, alm de manifest-la no seu

    ser. Nesse sentido, pode-se afirmar que

    a contemplao uma atitude de mani-

    festao e revelao da verdade. A reve-

  • Acervo, Rio de Janeiro, v. 17, n 2, p. 71-84, jul/dez 2004 - pg.73

    R V OR V O

    lao da verdade, da realidade em seu

    ser, a caracterstica que distingui o ho-

    mem dos outros entes. Assim, a felicida-

    de maior do homem, como ser racional,

    no poderia ser encontrada em qualquer

    outra coisa ou atitude que no fosse a

    razo, necessitando ele cultivar a atitu-

    de mais elevada: a contemplao.

    A contemplao se configurava como a

    tentativa de se compreender a totalida-

    de, ao tematiz-la visando atingir uma

    verdade no com o obje t ivo de

    transform-la ou produzi-la, mas sim de

    preserv-la em sua essncia. O homem

    pode buscar a meta de atingir a plenitu-

    de de seu prprio ser. Sendo assim, o

    saber terico realmente possua um

    status completamente diferente do que

    hoje. A teoria estava voltada para as

    coisas e para aquilo que nas coisas era a

    prpria realidade em si, em ltima anli-

    se, objetos cuja caracterstica fundamen-

    tal a imutabilidade, que caracteriza a

    prpria essncia do ser verdadeiro.

    Outra importante caracterstica da teo-

    ria para o pensamento grego era sua pre-

    tenso de articular um saber apodctico

    da ordem universal de todas as coisas;

    estas coisas eram apresentadas ou co-

    nhecidas em suas essncias, no se ca-

    rac te r i zando como obje tos de

    operacionalizao tcnica. Atravs des-

    te saber, e somente por ele, o homem

    poderia entrar em sintonia com a harmo-

    nia do cosmos, assemelhando-se ao ser

    divino, conseguindo atingir a reflexo por

    meio da contemplao pura. Essa atitu-

    de rene observao (theoro) e contem-

    plao (theora), que se apresentam

    como modos de desenvolver conhecimen-

    to ou investigar o cosmos (o que significa

    dizer a ordem, a harmonia, a consti-

    tuio elementar da physis) mediante um

    momento de sossego ou uma parada

    (extasis) no exame intelectual e racional

    dos fenmenos naturais. Determina-se a

    base da construo da epistme grega,

    em que agora o ponto de partida do filo-

    sofar no se apia em critrios precisos,

    mas na atitude terica.

    Os primeiros filsofos no aceitaram

    mais acriticamente as explicaes mticas

    e religiosas, passando a contest-las e

    iniciando, assim, o questionamento sobre

    as causas naturais dos fenmenos. Com

    essa atitude crtica e puramente racional,

    comearam a estabelecer teses e teori-

    as ousadas, que deram incio cincia

    grega. Como a teoria uma forma de li-

    dar com a realidade, exaltada como o

    saber puro e superior, o homem enquan-

    to dotado de lgos precisa demonstrar o

    conhecimento que consegue apreender

    atravs da contemplao, articulando

    para esse fim um discurso racional.

    Dessa forma, a epistme caracterizava-

    se por ser logoterica, isto , ignorava

    as matemticas e a experimentao, ou,

    em outras palavras, no se preocupava

    em desenvolver uma experincia ativa

    com o intuito de isolar os fenmenos e

    se relacionar com estes por meio de ins-

    trumentos, interferindo ou modificando

    suas essncias. A epistme logoteortica

  • pg.74, jul/dez 2004

    A C E

    marcada por apresentar uma linguagem

    natural, que corresponde especulao

    e reflexo sobre o real e sobre a con-

    dio do nosso ser inserido no mundo

    por meio da linguagem. Para Plato a

    epistme muito mais vlida do que a

    opinio (doxa), porque as opinies de-

    sertam da alma humana, de modo que

    no tero grande valor enquanto no se

    conseguir at-las com um raciocnio cau-

    sal. Era expressa pelo lgos, que se ir-

    radiava tanto no mbito do saber teri-

    co (theora), que contempla a physis e

    se eleva s realidades primeiras e divi-

    nas, quanto no da sabedoria prtica

    (phrnesis ) , que se const i tui como

    theora prtica e rege o agir do homem

    no mundo contingente da plis e do

    ethos.4

    Aristteles afirma que a epistme leva

    ao conhec imento apenas da pura

    factualidade de algo, ou seja, somente

    o seu qu e no o porque. Desse

    modo, este filsofo afirma o total des-

    conhecimento da cincia em sua dimen-

    so pragmtica. Para o estagirita a cin-

    cia (epistme) se refere ao que no pode

    ser diferente do que , ou seja, aos en-

    tes necessrios e, portanto, qualificados

    como eternos, isto , que nunca foram

    gerados e no podero se corromper,

    existindo por toda a eternidade.5 Esses

    entes so o movente imvel e os corpos

    celestes, compostos pelo ter, identifi-

    cado como o elemento eterno por natu-

    reza, ao contrrio dos corpos fsicos do

    mundo material, constitudos pelos qua-

    tro elementos corruptveis: ar, terra, fogo

    e gua. O ente que pode ser demonstra-

    do , o apode ik tn em te rmos

    aristotlicos, o tema de ocupao da

    cincia logoterica grega, em que o

    silogismo que parte do universal em di-

    reo ao particular e a induo que par-

    te do particular em direo ao universal

    so os procedimentos mais adequados

    para o seu exerccio.6

    preciso destacar a principal caracte-

    r s t i ca des ta c inc ia f i l os f i ca

    logoterica, em que se inseria uma pre-

    ocupao extremamente terica no pla-

    no cientfico. A sua viso cientfica cls-

    sica de lidar com a realidade do mundo

    e do prprio homem apresentava um

    sentido no operativo, ou seja, a ima-

    gem epistmica do existente no pode-

    ria possibilitar qualquer tipo de interven-

    o efetiva sobre o real que pudesse

    alterar o equilbrio ou a ordem das coi-

    sas. Para reforarmos essa afirmao,

    podemos observar que a tchne ocupa-

    va um espao importante, mas perifri-

    co na plis grega, quando comparada

    theora. Era um saber emprico, ligado

    prtica de transformar ou modificar o

    meio, no apresentando nada que pu-

    desse ser oferecido ao saber logoterico

    da epistme. A cincia terica se preo-

    cupa em tratar dos objetos cuja carac-

    terstica fundamental a imutabilidade

    das coisas, configurando-se como a pro-

    priedade que determina a essncia des-

    sas coisas, o que caracteriza o ser ver-

    dadeiro das coisas.

  • Acervo, Rio de Janeiro, v. 17, n 2, p. 71-84, jul/dez 2004 - pg.75

    R V OR V O

    A TCHNE GREGA

    Ofilsofo e historiador da cin-cia Gilbert Hottois ressalta queo par teoria/tcnica umadas grandes construes do pensamento

    ocidental. Como sempre acontece com

    qualquer tipo de par filosfico (esprito/

    matria, realidade/aparncia etc.), um

    dos termos tradicionalmente mais va-

    lorizado em desfavor do outro: inicial-

    mente o primado pertenceu teoria, fato

    totalmente diferente do que ocorre atu-

    almente, em que esta relao se inver-

    teu completamente.7

    O pensamento grego priorizava a vida

    contemplativa ou terica como a forma

    mais pura e importante para o homem

    alcanar o conhecimento. O conhecimen-

    to prtico ou tcnico tambm tinha o seu

    valor, porm muito mais insignificante e

    mesmo desprezvel, segundo Hottois,

    para a plena realizao humana no seio

    da plis.8 A origem do termo tchne

    advm do verbo tchton, que se refere

    habilidade de produo manual, arte,

    manipulao de metais. Em A teogonia,

    de Hesodo, uma passagem destaca que

    o deus Hefestos o sbio nas artes

    (deins) entre todos os descendentes do

    deus Uranos: Hera por raiva e por desa-

    fio a seu esposo, no unida em amor,

    gerou o nclito Hefestos nas artes, brilho

    parte de toda a raa do cu.9

    O trabalho da terra no estava relacio-

    nado com a produo por meio da tchne,

    mas se constitua na verdade como uma

    forma de esforo humano relacionado ao

    sagrado. Era por meio do esforo no tra-

    balho fatigante da colheita que o homem

    entrava em contato com as foras divi-

    nas, as foras da terra e da colheita. Mas

    Plato alerta, em Grgias, que aquele

    que no consegue explicar o sentido ver-

    dadeiro das coisas de que se ocupa e nem

  • pg.76, jul/dez 2004

    A C E

    indicar a causa de cada uma, no faz

    tchne.10 H, portanto, um fazer que

    alagon prgma (fazer onde o lgos no

    est adequadamente ordenado), que ig-

    nora a razo das coisas e sua natureza

    ltima, conhecendo apenas sua utilidade.

    Aristteles define que no plano prtico a

    tchne uma produo (poesis), isto ,

    ela o trazer existncia por parte do

    arteso algo que no existia na nature-

    za.11 Desse modo uma atividade prti-

    ca, intermediada pela razo, que busca

    encontrar o porque das coisas. Ento

    a tchne imita a physis, no no sentido

    ingnuo de acharmos que esta possa ser

    imitada, pois segundo os gregos este fato

    seria totalmente desprovido de sentido,

    pelo motivo de acreditarem que a physis

    no era esttica, mas sim uma fora di-

    nmica, criativa e produtiva presente tan-

    to no ser do homem quanto no mundo.

    Faz-se a referncia mmesis (imita-

    o) que imita a physis ao produzir uma

    unio entre uma forma (idos) e a ma-

    tria (hle), na qual se manifesta an-

    loga quela existente nos entes fsicos

    que na verdade so compostos de for-

    ma e matria.12 Este ponto muito im-

    portante para diferenciarmos o conhe-

    cimento contemplativo do produtivo. A

    epistme refere-se ao que no pode ser

    diferente do que , ou seja, aos entes

    necessrios e, portanto, eternos, imu-

    tveis, isto , aos entes que nunca fo-

    ram gerados e que nunca se corrom-

    pero, dado que exist iro por toda

    eternidade. S podem ser conhecidos

    atravs da atitude terica. A tchne,

    por outro lado, se ocupa daquilo que

    pode ser diferente do que , ou seja,

    da contingncia, ocupando-se do que

    pode ser produzido (poitetn). O prin-

    cpio de movimento e mudana de algo

    produzido no pode residir no prprio

    ente produzido, como no caso dos en-

    tes naturais, mas sim naquele que o

    produziu. A tchne definida como dis-

    posio (hxis) acompanhada de lgos

    que dirige o produzir.13

    Existia uma diferenciao hierrquica de

    conhecimentos, onde todos se estabele-

    cem como importantes para a formao

    do homem grego. A tchne no se ocu-

    pa do que necessrio e imutvel, mas

    somente do que pode ser criado. Tam-

  • Acervo, Rio de Janeiro, v. 17, n 2, p. 71-84, jul/dez 2004 - pg.77

    R V OR V O

    bm no pode se ocupar do que gera

    por si mesma e esta autogerao o que

    caracteriza a fora criadora da nature-

    za (physis) e a prpria essncia dos se-

    res naturais.14 Talvez por essa razo se

    apresentasse como um conhecimento

    mais perifrico na cultura grega. Mas o

    arteso para exercer sua arte segundo

    o lgos pratica sua virtude ao contribuir

    para o bem da plis e embora, hierar-

    quicamente, no esteja no mesmo nvel

    do conhecimento cientfico, sua praxis

    no desprezvel ou inferior, contribu-

    indo tambm para o conhecimento, at

    onde sua especialidade produtiva permi-

    ta alcanar.

    O SABER OPERATIVO E AS BASES DACINCIA MODERNA

    O historiador Pierre Vernant as-sinala o principal trao dedis t ino entre a razoargumentativa dos gregos e a razo que

    emerge com o advento dos tempos mo-

    dernos: enquanto a ltima se volta para a

    explorao do meio fsico, utilizando qua-

    dros interpretativos e bases experimen-

    tais slidas, com o intuito de dominar e

    intervir na natureza, a razo grega, como

    foi demonstrado, tinha apenas o objetivo

    do homem enquanto ser relacional com o

    meio e com outros homens.15

    Aristteles buscou demarcar bem o cam-

    po da demonstrao cientfica rigorosa e

    do clculo, situando-o em outro patamar

    diverso da argumentao. No primeiro h

    o emprego de raciocnios dialticos, fun-

    dados sobre opinies comumente com-

    partilhadas por muitos homens. O filso-

    fo deve buscar um nvel de preciso com-

    patvel com a natureza dos assuntos tra-

    tados, pois insensato aceitar racioc-

    nios apenas provveis da matemtica ou

    querer de um orador demonstraes ri-

    gorosas.16 Essa afirmao aristotlica

    retrata muito bem uma outra caracters-

    tica presente na epistme logoterica

    grega: ignorar as matemticas e a expe-

    r imentao, i s to , a exper inc ia

    provocada que isola os fenmenos e se

    relaciona com estes auxiliada por instru-

    mentos.

    O advento da cincia moderna, segundo

    Hottois, foi acompanhado por mudanas

    filosficas, culturais e propriamente cien-

    tficas, quando ento se processa uma

    alterao radical no paradigma do conhe-

    cimento humano, causada pelo estabe-

    lec imento da c inc ia exper imenta l

    galileiana, a partir do sculo XV e em-

    pregada no sculo XVII.17

    O historiador da cincia Alan Chalmers

    afirma que Galileu introduziu a tcnica

    de testes para se certificar da validade

    das leis cientficas sob condies artifici-

    ais de uma experimentao controlada.18

    Agora se podia justificar a ordem fsica

    por trs do mundo catico da natureza,

    atravs da experimentao e emprego de

    tcnicas. A eventual fabricao e utiliza-

    o do telescpio de Gali leu foram

    cruciais para a abertura de um campo

    novo de dados cientficos, tornando re-

    dundante os dados obtidos pela mera

  • pg.78, jul/dez 2004

    A C E

    especulao e contemplao.

    Esta mudana de paradigma tambm foi

    acompanhada por um novo projeto filo-

    sfico que se contraps ao pensar filos-

    fico pela argumentao demonstrativa. A

    proposta filosfica moderna tinha a pre-

    tenso de extrair concluses verdadeiras

    de premissas verdadeiras em todos os

    campos do conhecimento humano, recu-

    sando a mera especulao.

    O pensamento cartesiano faz uma pro-

    funda crtica filosofia especulativa e, ao

    mesmo tempo, valoriza o ideal de inter-

    veno atravs da tcnica: Em vez des-

    sa filosofia especulativa que se ensina

    nas escolas, pode encontrar-se a uma

    prtica, que conhecendo o poder e as

    aes do fogo, da gua, do ar, dos as-

    tros, dos cus e de todos os outros cor-

    pos que nos cercam, to distintamente

    como conhecemos os diversos misteres

    de nossos artesos, os pudssemos utili-

    zar igual forma em tudo aquilo para que

    sirvam, tornando-nos senhores e possui-

    dores da natureza.19 Descartes conside-

    ra que o verdadeiro conhecimento tem

    como suporte a clareza das relaes

    matemticas, as quais constituem regi-

    es de certezas tais que, mesmo sob o

    sono, seria impossvel e inconcebvel

    coloc-las em dvida.20 Assim como afir-

    mava o filsofo em suas Meditaes, es-

    tivesse ele dormindo, os nmeros 2 e 3

    somariam sempre 5 e um quadrado nun-

    ca poderia ser pensado enquanto figura

    formada por mais de quatro lados. Com-

    prometido, acima de tudo, com a busca

    do verdadeiro conhecimento, isento de

    dvidas, o cogito estabelece um mtodo

    ou instrumento como uma das principais

    caractersticas da cincia moderna: a

    matematizao.

    Francis Bacon, por sua vez, destaca

    que a postura correta seria como fa-

    zem as abelhas, que a recolher a ma-

    tria-prima das flores e dos jardins do

    campo, a transforma e digere, signifi-

    cando dizer que: sem os dados da rea-

    lidade observvel, o intelecto humano

    nada pode produzir de mais efetivo em

    relao ao saber. Deve-se propor, en-

    to, um novo mtodo cientfico que pre-

    cisa se libertar da esterilidade cientfi-

    ca da escolstica medieval, ainda con-

    taminada pelo p latonismo contem-

    p l a t i vo e pe l o f o rma l i smo l g i co

    aristotlico, que segundo o filsofo in-

    gls tornaram-se obstculos para a

    verdadeira destinao do conhecimen-

    to cientfico: tornar-se til vida da

    humanidade.21 Assim, sem a experin-

    cia, a razo pouco pode avanar em sua

    meta de conhecimento, de sorte que na

    viso baconiana, o mtodo investigativo

    mais adequado consiste em realizar

    uma progresso contnua, passando dos

    fatos particulares aos axiomas meno-

    res, destes aos mtodos e por fim aos

    de maior generalidade.

    O caminho do verdadeiro conhecimento

    aberto pela atividade experimental or-

    denada, permitindo a construo de uma

    srie de axiomas que originaro novos

    experimentos. Dessa maneira, evidencia-

  • Acervo, Rio de Janeiro, v. 17, n 2, p. 71-84, jul/dez 2004 - pg.79

    R V OR V O

    se a outra caracterstica da cincia mo-

    derna: a experimentao. Do ponto de

    vista filosfico, esta aproximao entre

    Bacon e Descartes, que se configura

    como impossvel em muitos pontos, coin-

    cide quanto avaliao da nova cincia,

    em que a tcnica no apenas valoriza-

    da como saber emprico, mas concede o

    poder ao homem de intervir e dominar a

    prpria natureza. Dessa forma, podemos

    ressaltar o deslocamento do fazer tcni-

    co para uma posio de saber que a

    tchne grega no possua.

    Bacon muito claro quanto nova ma-

    neira de encarar a tcnica: a finalidade

    da tcnica o domnio sobre as coisas,

    cada vez mais acrescido. Mas preciso

    agir com o objetivo de estender os limi-

    tes do imprio do homem sobre a natu-

    reza inteira e executar tudo que lhe

    possvel.22 A pura contemplao da na-

    tureza, valorizada pelos gregos, perde

    espao para a capacidade operatria da

    nova cincia. Esta comparao entre co-

    nhecimento terico e tcnico, que redun-

    da em vantagem para o tcnico, demons-

    tra a inverso do lugar da tchne no pen-

    samento cientfico da modernidade, em

    comparao ao logoteorismo grego.

    Desse modo, a cincia moderna, passou

    a apresentar uma dimenso racional e

    operacional, transformando no apenas

    a concepo de teoria, mas tambm da

    prtica e, conseqentemente, da relao

    teoria/prtica. A cincia moderna nasce,

    assim, do esgotamento da especulao

    e da contemplao, que ainda se conser-

    vava como herana da Antiguidade no

    pensamento medieval.

    DA TCHNE EMERGNCIA DABIOTECNOCINCIA

    Como destacamos anteriormente,ocorreu um deslocamentoepistmico com o surgimento dacincia moderna, em que a tchne grega

    deixa de se constituir como um saber

    emprico limitado plis, ausente de ca-

    pacidade transformadora e manipuladora

    da natureza, passando a se posicionar no

    eixo central traado pela linha que unifica

    theora e cosmos, atravs da mediao do

    discurso cientfico. Esse ponto do desloca-

    mento vital para entendermos a nova

    relao entre cincia e tcnica, porque o

    lgos teortico, distinto da praxis e da

    tchne, transformou-se em um lgos

    justificador e ordenador do moderno sa-

    ber tcnico. Esse deslocamento consagra

    definitivamente uma ruptura irreparvel

    entre o lgos contemplativo da cincia

    antiga e o lgos tcnico da cincia mo-

    derna. A posio central ocupada pela

    tchne como dimenso estrutural do lgos

    epistmico moderno alterou completa-

    mente a inteligibilidade do homem em

    relao ao real.

    O mundo das essncias inteligveis em si,

    a cuja ordem universal e eterna, o ho-

    mem grego estava submetido, configuran-

    do-se como objeto de contemplao, ce-

    deu lugar ao inteligvel construdo pela

    prpria cincia, sendo a sua verdade ago-

    ra verificvel, segundo os procedimentos

  • pg.80, jul/dez 2004

    A C E

    tcnicos e hipottico-dedutivos que cons-

    tituem a estrutura emprico-formal da

    nova cincia. O mais importante que a

    teoria cientfica, agora em primeiro pla-

    no, passa a se determinar como a condi-

    o de possibilidade de interveno tc-

    nica com eficincia. O mundo, unidade

    de natureza e histria, se transforma no

    mundo do homo faber, construdo por ele:

    tudo produto de sua interveno, me-

    diada pela racionalidade prpria da cin-

    cia moderna. Essa mutao impulsiona a

    construo do lado operativo do projeto

    cientfico, arrancando-o do empreendi-

    mento simplesmente logoterico da con-

    templao e da linguagem natural, pro-

    vocando uma ruptura do nosso prprio

    entendimento enquanto seres-naturais-

    no-mundo.

    Hilton Japiassu destaca que nes-ta nova re lao o te rmotecnocincia usado para ex-primir a unidade profunda da cincia e

    da tcnica ou para significar que a tc-

    nica passa a se constituir como uma

    manifestao visvel do fenmeno cien-

    tfico.23 Significa dizer que a distino

    clssica entre a tchne, definida como

    um mero saber emprico, em detrimen-

    to ao saber cientfico, visto como sa-

    ber sistemtico, racional e geral, pra-

    ticamente deixou de existir, pois nos

    dias atuais os plos cientfico e tcni-

    co so indissoluvelmente emaranha-

    dos. Com o advento das sociedades in-

    dustrializadas, a inverso entre a rela-

    o tcnica e cincia vai culminar na

    concepo do homem como ser para

    tcnica. A grande mudana causada

    pela ruptura tecnocientfica o seu tipo

    de mediao, que no se caracteriza

    mais por ser somente simblica, mas

    por ter se tornado, sim, extremamen-

    te operatria, visto que este mundo se

    t o r n o u u m c a m p o d e o p e r a o

    tecnocientfico. Ento, a capacidade do

    homem moderno em conhecer a natu-

    reza no ma is se f i xa ao s imp les

    theoreo, pois agora o conhecimento

    um modo de permitir a interveno na

    natureza para transform-la.

    No somente a cincia, mas todas as

    formas simblicas da cultura passam a

    serem concebidas como f i lhas da

    tecnocincia. Sua atividade no se res-

    tringe mais ao mundo dos objetos ma-

    teriais, se estendendo tambm s ativi-

    dades dos indivduos, aos fins e mode-

    los da sociedade e da cultura. A pr-

    pria noo de trabalho, por exemplo,

    sofre uma nova interpretao devido ao

    advento da tecnocincia. Na dialtica do

    senhor e do escravo, Hegel demonstra

    que o mestre termina por nada mais

    saber e por converter-se no escravo de

    seu escravo; enquanto o escravo desen-

    volveu modos de sobreviver na nature-

    za, trabalhando de forma dolorosa.

    Dessa forma o escravo descobre em seu

    trabalho, sua liberdade e se converte em

    mestre, pois ele conhece os mtodos

    tcnicos de transformar a natureza para

    tentar vencer a sua misria. Essa noo

    de trabalho, segundo Japiassu, equivale

  • Acervo, Rio de Janeiro, v. 17, n 2, p. 71-84, jul/dez 2004 - pg.81

    R V OR V O

    noo atual de tecnocincia.24

    O advento da tecnocincia radicaliza a

    mutao do projeto ocidental do saber e

    agir que est na origem da cincia mo-

    derna. Sua ruptura com a c incia

    logoterica antiga caracterizou o primado

    do operatrio matemtico e experimen-

    tal sobre o conhecimento especulativo e

    contemplativo. Ento, pode-se afirmar que

    a tchne antiga era, essencialmente, um

    conjunto de saber-fazer de ordem prti-

    ca, que possua um carter altamente ra-

    cional, porm desprovido de uma verda-

    deira justificao terica. O correlato do

    fazer tecnocientfico a plasticidade do

    objeto: o possvel a priori (terico) ilimi-

    tado se ope ao correlato logoterico da

    cincia ontolgica que era a essncia e o

    sentido do objeto dado.

    Distintamente dos gregos, a racionalidade

    tecnocientfica, presente no agir humano

    moderno, significar a eficincia na con-

    secuo dos meios necessrios satis-

    fao dos dese jos ; produz i r ou

    reestruturar, artificializar ou recriar

    tornam-se aes possveis de realizao

    por meio da competncia tecnocientfica.

    A felicidade, que agora consiste na satis-

    fao dos desejos, denota uma condio

    de posse da natureza, tornando-se as-

    s im cond io necessr ia para hu -

    manizao do homem.

    Afirma-se uma profunda mutao no co-

    nhecimento humano. Primeiro, a concep-

    o de uma teoria contemplativa do eter-

    no e do imutvel cedeu lugar teoria

    legitimadora da possibilidade do domnio

    sobre a natureza e as condies de

    reestrutur-la de acordo com o novo pro-

    jeto da ao humana. Em segundo lugar,

    a nossa era tecnocientfica assistiu a

    uma mutao qualitativa da natureza da

    ao humana.

    A d i f e rena en t re a na tu reza da

    tecnocincia moderna em comparao

    tchne grega pode ser assim resumida:

    a poca da tchne grega era determina-

    da pela imutabilidade da ordem csmi-

    ca que surge como pano de fundo origi-

    nrio da ao humana, a qual se quedava

    no interior dos muros da plis e pressu-

    punha uma correspondente permanncia

    e inalterabilidade da natureza. Isto ,

    no se justificava para o homem grego

    a tentativa de modificar acentuadamen-

    te a ordem da physis. O mais importan-

    te era a autoconstruo e realizao do

    homem atravs do exerccio da praxis

    tica no seio da plis. Por meio da sua

    capacidade de interveno, alterou pro-

    fundamente a ao humana, tecno-cien-

    tif icamente potencializada, podendo

    acarretar danos natureza e ao prprio

    ser humano.

    Esta nova situao reflete uma idia que

    Heidegger debatera na sua concepo da

    Gestell, que funcionaria como uma esp-

    cie de dispositivo envolvente da ao

    humana, desfazendo a antiga oposio

    entre sujeito ativo e objeto no-humano

    passivo e completamente submisso

    ao instrumental, de tal forma que am-

    bos acabam por se indiferenciar, imersos

    que se encontram numa igual disponibili-

  • pg.82, jul/dez 2004

    A C E

    dade.25 Essa anlise heideggeriana, apa-

    rentemente, qualifica o homem como um

    mero instrumento da tecnocincia, como

    se esta possusse uma vontade prpria

    que fosse exercida sobre ns. Contudo,

    discordando dessa afirmao, no pode-

    mos esquecer que como seres racionais

    e tambm dotados de vontade s nos

    tornamos passveis de instrumentalizao

    se assim for de nosso desejo, ao aten-

    dermos uma necessidade ou se formos

    alienados de nossa capacidade de exer-

    cer a liberdade.

    A tchne grega t ransformou-se em

    tecnocincia como meio do prprio agir

    humano. Entre o natural e o artificial no

    existe mais diferena: o natural ab-

    sorvido pela esfera do artificial. A as-

    sim denominada natureza e seus entes

    no humanos transformam-se em obje-

    tos de manipulao e interveno. Mas

    o novo projeto da praxis humana no se

    limitou ao extra-humano. O homem de-

    seja controlar o caminhar de sua pr-

    pria evoluo no s para preservar a

    integridade da espcie, mas tambm

    para modi f ic - la , com o intu i to de

    aperfeio-la. A tecnocincia ultrapassou

    o domnio do no-humano e alcanou a

    condio de ser do humano. Agora so

    os prprios mecanismos do fenmeno

    vital que precisam ser conhecidos, para

    se tornarem passveis de interveno.

    Nos ltimos tempos, certos progressos

    em biologia molecular e engenharia ge-

    ntica estabeleceram uma relao mais

    ntima com a praxis tecnocientfica. Des-

    sa l i gao mais n t ima emerg iu a

    biotecnocincia, como um novo saber-

    fazer que se constitui pela aliana entre

    o saber logoter ico e o saber

    biotcnico.26

    O bilogo Jean Bernard destaca que, na

    p r ime i r a me tade do scu lo XX ,

    deflagrou-se um rigoroso e acelerado

    dinamismo no campo da biologia. A

    biotecnocincia surgiu como uma nova

    forma especfica de saber-fazer huma-

    no constituda pelo estudo e a transfor-

    mao programada dos seres vivos, com

    o objetivo de satisfazer necessidades,

    projetos e anseios do homo faber. Essa

    nova competncia, nascida no perodo

    do desenvolvimento tecnocientfico da

    biologia, foi proporcionada pela alian-

    a entre a revoluo biolgica (cientfi-

    ca) e a teraputica (tcnica).

    A revoluo teraputica possuiu um ca-

    rter puramente tcnico e permitiu in-

    tervir nos processos de adoecimento,

    tornando a medicina curativa e no

    mais pal iat iva. Essa t ransformao

    acarretou a passagem da fase pr-ci-

    entfica dos cuidados ou da arte mdi-

    ca que tinha uma capacidade escassa

    de salvar e prolongar a vida. Desse

    modo, se constitui em uma nova efic-

    cia curativa que contribuiu para alte-

    r a r s u b s t a n c i a l m e n t e o p e r f i l

    epidemiolgico da populao humana,

    diminuindo a mortalidade infantil, au-

    mentando a esperana de vida e a ca-

    pacidade de enfrentar os processos

    mrbidos, subtraindo, assim, parcial-

  • Acervo, Rio de Janeiro, v. 17, n 2, p. 71-84, jul/dez 2004 - pg.83

    R V OR V O

    N O T A S

    1. Manfredo de Oliveira, A filosofia na crise da modernidade, So Paulo, Abril Cultural,1995, p. 74-75.

    2 . Aristteles, tica a Nicmaco, Livro X, 1.179 a 35, (Os pensadores), So Paulo, AbrilCultural, 1995, livro II, 1.103b, p. 26-28.

    3 . Manfredo de Oliveira, A tica na racionalidade moderna, So Paulo, Edies Loyola,1993, p. 96-98.

    4 . Aristteles, tica a Nicmaco, livro I, 3, 1.095 a 5-6, (Os pensadores), So Paulo, AbrilCultural, 1995, livro I, 1.095a, p. 5-6.

    5 . Plato, A Repblica, Lisboa, Calouste Gulbenkian, 1998, A64.

    6 . Aristteles, tica a Nicmaco, (Os pensadores), So Paulo, Abril Cultural, 1995, 1.139b,p. 27-31.

    7 . Aristteles, Metafsica, So Paulo, Edies Loyola, 2001.

    8 . Gilbert Hottois, O paradigma biotico, Lisboa, Salamandra, 1990, p. 11-12.

    9 . Hesodo, A teogonia, Niteri, EDUFF, 1996, p. 50-51.

    10. Gilbert Hottois, op. cit., p. 13.

    11. Plato, Grgias, Rio de Janeiro, Globo, 1955, p. 511c.

    12. Aristteles, Fsica, s.l., s.ed., s.d., p. 22-21.

    13. Aristteles, Metafsica, op. cit.

    14. Aristteles, tica a Nicmaco, op. cit.

    mente o ser humano ao acaso da mera

    seleo natural.27

    A revoluo biolgica, posterior tera-

    putica, foi de carter essencialmente

    cientfico. Ela ocorreu devido descober-

    ta da estrutura do cdigo gentico, isto

    , a informao que governa os proces-

    sos vitais.28 Os seres vivos, inclusive o

    homem, se transformaram em objeto de

    conhecimento, quando o desejo de conhe-

    cer os mecanismos do programa vital se

    tornou possvel.

  • pg.84, jul/dez 2004

    A C E

    15. Pierre Vernant, Mito e pensamento entre os gregos, So Paulo, Companhia das Letras,1996, p. 290.

    16. Aristteles, tica a Nicmaco, op. cit.

    17. Gilbert Hottois, op. cit., p. 5-6.

    18. Alan Chalmers, A fabricao da cincia, So Paulo, UNESP, 1994, p. 50-54.

    19. Ren Descartes, Discurso do mtodo, So Paulo, Martins Fontes, 1996, p. 67-68.

    20. Ren Descartes, Meditaes, (Os pensadores), So Paulo, Abril Cultural.

    21. Francis Bacon, Nova Atlntida, So Paulo, Nova Cultura, 1988.

    22. Francis Bacon, Novum Organum, So Paulo, Nova Cultura, 1988.

    23. Hilton Japiassu, Racionalidade tecnocientfica e cultura, Revista Kriterion, Belo Horizon-te, UFMG, v. 28, n. 77, jul.-dez. 1986, p. 77-105.

    24. ibidem, p. 100-105.

    25. Martim Heidegger, Ensaios e conferncias, a questo da tcnica, Petrpolis, Vozes, 2001,p. 11-39.

    26. Fermim R. Schramm, A terceira margem da sade, Braslia, UNB, 1996.

    27. Jean Bernard, Biotica, Lisboa, Publicaes EuropaAmrica, 1994, p. 11-33.

    28. ibidem, p. 34-45.