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Diante de si

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Encontrei nos ponteiros uma brecha no tempo da minha existência

Coloquei-me como pensar nas palavras

Para viver eternamente como um conto, um verso.

Além da pequena fronteira da “vida...”.

Johnny Santos

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Diante de si

Índice:

1 A janela de Sophia

2 Pensamento

3 A ultima esquina

4 Biografia perdida

5 Uma noite em Paris

6 Diante de si

7 Mar sepulcro gelado

8 Seu lugar secreto

9 Por vir

10 Gira sol dourado

11 O contador de sonhos

12 Os sonhos, a onda, a bela e o mar.

13 Bohemia

14 A morte do homem invisível

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15 Um soneto pra cantar

16 Uma estranha em meu paraíso

17 Espera-me em teu cais

18 Esconderijo dos anjos

19 O lamento sobre o tempo

20 No caminho dos trilhos

21 O lírio do amanhecer

22 Outro amanhecer

23 O clamor do anjo urbano

24 A triste noite do homem boneco

25 Quando as luzes se acendem

26 Estrada para se existir

27 O conto de linhas escritas

28 Ainda tem sedes de mim?

29 Entre a janela e o fim

30 A trindade

31 Escape

32 Silêncio em cores

33 Outros nomes, outros abraços.

34 A estação e a saudade

35 Seu mundo e a verdade

36 As cinzas da quarta feira

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37 Éramos nós!

38 Maçã da vida

39 Não terá seu fim

40 Quando o dia me encontrar

41 Guerreiro e escudo

42 Programa vida

43 Um minuto para a saudade

44 xIIIIIIIIIU !

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ou

Pequenos cacos de vida

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A janela de Sophia

"Que minha solidão me sirva de companhia,

que eu tenha coragem de me enfrentar,

que eu saiba ficar com o nada,

e mesmo assim me sentir...

como se estivasse plena de tudo "

Clarisse Lispector

O seu dia começou de uma maneira diferente esta manhã e não estava

muito contente com isso ela não gostava muito de sair da sua rotina, e

que rotina, tinha tudo planejado tudo mesmo dia após dia o que iria

comer no almoço, no jantar, no café da manhã do mês seguinte e até o

que iria vestir no ano novo chinês, muitos médicos fixados na psicanálise

diriam que estaria em uma profunda síndrome obsessiva compulsiva ou

diria até que estaria num estado critico e que precisava de ajuda com

enorme urgência, mais ela não pensava assim, nem se quer ligava ou

ouvia o que as pessoas e que na maioria das vezes " pessoas " significava

sua mãe Alberta que vivia lhe importunando com suas preocupações,

deixa disso, para com aquilo, se alimenta melhor, e sempre, sempre, o

mesmo sermão repetitivo e demorado que lhe deixava profundamente

impaciente mais que ouvia com olhar tranquilo e apreensivo o discurso

chato, ela não pensava que todo aquele ritual de dia a dia lhe traria

algum problema ou que se tratara de alguma doença, comer a mesma

carne de soja, ouvir o mesmo disco na mesma hora do dia, fumar

sempre observando a rua movimentada da avenida pela sua janela do

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quarto que ficava no ultimo andar do edifício Vila Velha, nada lhe parecia

um problema, via e não se cansava de ver as prostitutas andando,

entrando e saindo dos apartamentos de luxo que os grandes homens

importantes da cidade alugavam apenas para se deleitarem nos seios

fartos e plásticos das moças mais caras da cidade, amava ficar ali com seu

cigarro, seu copo de vinho, seu silêncio, sua realidade alternativa e

segura, amava ser melhor amiga do seu egoísmo e nem se sentia culpada

por saber apreciar e entender a beleza de sabias palavras contidas nas

paginas amareladas cheias de contos que pareciam ser escrita na mais

verdadeira realidade contida nas esquinas, becos, nas longas e

tumultuadas avenidas da mente de um escritor.

Trabalhava em casa escrevia colunas para o jornal local, poemas, livros,

também vendia alguns quadros que pintava ali em seu próprio quarto, as

vezes saia caminhar a noite nas calçadas sujas, pegava um ônibus, viajava

entre um terminal e outro, fumava outro cigarro, encontrava alguns

amigos, trocava poucas palavras, sorria um pouco, beijava alguns garotos,

as vezes algumas garotas, se sentia bem, olhava distante para o nada azul

se rendendo as cores do entardecer, sentia o cheiro da tarde úmida pela

garoa fria de outono, pensava nos dias, nos grandes homens da

humanidade, admirava um pouco a arquitetura Antígua da cidade,

passeava entre os comerciais publicados nos prédios e shoppings

centers, bebia uma ou duas cervejas, e ia para a casa observar o resto da

tarde, e o cair da noite, as luzes que se acendiam com as estrelas, amava

as sextas feiras, se vestia bem com o frio usava um cachecol, saia a noite

dançava sem preocupação, deixava a noite a levar, se rendia aos encantos

noturnos, e depois voltava a sua realidade, seu apartamento, sua janela o

retrato mais belo que ela já tinha visto, era assim que se referia a sua

janela e muitos a observavam no seu mundo particular, criticavam,

invejavam, outros a admiravam, mais poucos sabiam compreende-la.

Recebia poucas visitas gostava de sua vida sem muitas pessoas e amava o

conhecimento passava horas e horas em estudos sobre a historia

humana, arte, o romantismo, sempre que tinha vontade procurava

Antoniel um professor universitário que conhecera uma noite, a qual

falaram por um longo tempo sobre muitas coisas, Antoniel a admirava

muito mais sabia que ela tinha seus limites por isso quase nunca a

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procurava, as vezes passava por frente se seu "ap" e ela estava lá em

frente a sua janela observando o mundo, e apenas acenava com um

tchau, e ela estava lá sentada com seu cigarro observando as prostitutas

irem e virem em seus programas casualmente marcados. Mais oque

Sophia via além daquela janela, ou de sua vida cheia de manias, ou nas

luzes, ou nos terminais urbanos, de uma cidade pacata, ou o que ela

aprendia nos livros empoeirados em sua estante, quem sabe o que ela

ouvia nos vinis cuidadosamente guardados na estante, com quem ela

compartilhava seus segredos, seus medos, se tinha muitos medos, quem

poderá dizer se tão pouco Sophia revelava sobre si, quanto mais haveria

em sua essência além de seus cabelos ruivos?

Sophia sabia em si que muito se sabia de alguém apenas observando suas

manias, trejeitos, caras e bocas, Sophia a observadora, não se deixava

magoar, ouvia tristes canções apenas pelo fato de se sentir bem com a

tristeza que elas passavam em suas melancólicas notas, Sophia sabia amar

entre dois corpos, Sophia sabia encantar com seu olhar, Sophia sabia

segredos que nem os grandes filósofos nunca entenderam, Sophia sabia e

sabendo muito continuava ali com suas manias, seus vinis, seus lençóis,

seus livros, com as horas num tic-tac compassado no relógio inerte na

parede, e alí enfrente sua janela com os seus segredos observando a vida

esperava a noite chegar para adormecer com o mundo.

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O pensamento

"Apareceu em algum momento, nem sei bem o qual, mais de repente como um

salto de surpresa,

fluiu como palavras e conquistou o cume do mais alto monte,

a minha própria existência"

Johnny Santos

Fui fraco, mais também fui forte,

Fui homem, porem fui mulher,

Fui a beleza da alma pura, fui a impunidade da alma perdida na loucura,

Fui os pensamentos do amor ao conhecimento, fui o próprio irracional do

homem,

Fui eu quem salvou o homem dos atos banais, fui eu o pesar do carrasco,

Eu dei asas aos que queriam voar, dei o medo aos que queiram se

entregar a morte,

Dei os versos aos poetas, a letra aos que compunham o amor,

Lembrei-me do primeiro beijo, fiz o amante voltar na memoria as noites

quentes em que compartilhava o corpo de sua amada,

Fiz o herói sentir nas lagrimas os seus dias em batalhas,

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Fiz a noiva chorar no coração o retrato de quem não voltou,

Dei aos anos razão para dar aos que viveram o passado a nostalgia da

juventude,

Dei a juventude o suspirar brotado do coração,

Fiz canções ao tempo, cantei as mais belas notas da paixão,

Dei a razão para a mais complexa emoção,

Criei a noite um desfecho, para nas manhãs sempre haver um novo

começo.

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A ultima esquina

"Muitos conheciam aquelas dores,

mais a hipocrisia é uma venda que...

cega o coração já perfurado pela espada de sua justiça "

Johnny Santos

La estava sentado à beira do caminho com os olhos distantes com as

mãos tremula e as roupas bem gastas,

Lá estava ele insolúvel a terra, mais morto as vidas que lhe cerca,

Estava ele inerte em repouso glorioso, estava ele incógnito na esquina

esquecida,

Lá está ele, imundo, calado, deixado e cansado, dos dias marcados, pesar

amargurado,

Ali esta ele, com chuva, com sol, com medo...

Onde esteve ele? No passado ou presente? Dos dias bons não ha o que se

lembre...

Pobre ninguém se perdeu certo dia, e dia após dia vai seguindo,

E quem sabe amanhã ainda acorde, ainda viva,

E lá esta está ele, na realidade destila quem sabe um sonho, ou apenas

sorria.

Ali estava ele quando o dia caia, esperava de alguém não apenas um pão,

talvez, quem sabe apenas um bom dia,

Ali estava ele, ontem o havia, agora não mais, não para ele, nada haveria.

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Biografia perdida

"O homem jamais será único em seu próprio ser, vive em constante batalha para

não se perder em sua própria confusão...”

Johnny.H. Santos

La esta ele sofrendo com suas dores.

E oque tu sabes de tais dores?

Conheço muito além do que tu mesmo,

Mais como saberia se é de mim o sentir, e seu o pensar,

Muito eu sei sobre tais múrmuros, aprendi das antigas paginas e linhas

bem escritas

Por aqueles que se entregaram a tal sentimento,

Mais não se pode aprender sem sentir, e eu sinto quando a vejo,

E como podes saber tanto só em contempla-la?

Bem sabes tu que um sentir assim não se tem apenas de observar mais

também de ouvir, tocar, beijar, e se entregar.

Sei que tudo oque falas é bem verdade, e ainda vai além de qualquer

compreensão ou versos, prosas, ou qualquer outra forma de explicação

criada por ti,

E é assim que acredito e nem preciso lhe explicar ou me importar com

suas murmuras,

Eu sinto a cada olhar mesmo distante, a cada suspiro que brota do mais

profundo do meu ser e que me deixa acelerado em carne viva,

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Tentando sair do meu abrigo, do que me deixa secreto soluçando nas

lagrimas das noites frias distantes... Distante do que acredito.

Aquieta-te ó coração pois daqui do alto ouço o teu pulsar acelerado e

frenético a cada palavra declarada que teima em querer sair como um

grito de socorro á sua salvação,

aquieta-te pois conheço os perigos do amor e sei quantas feridas que

jamais cicatrizarão mesmo com o passar dos anos,

Descansa pequeno coração já é noite e a chuva vem para cantar à você

suas notas mais tristes e te ninar em seus trovões.

Mais não ha porque me calar a tí razão tu sabes muito sobre muitas

coisas,

Sei que procura a luz na escuridão,

E até mesmo entendo sua luta contra eu mesmo,

Mais como a ti foi dado toda força do saber a mim e apenas a mim foi

dado o poder de sentir em cada veia que irriga todo corpo frágil mortal,

E desse mal apenas eu sinto o pesar no final de cada historia e se me

machuca o amor posso curar,

Mais me deixe amar, pois nasci pra sentir pois sentindo vou vivendo, e

vivendo vou morrendo, e morrendo vou seguindo de amor a amor.

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Uma noite em paris

" It's a new dawn

It's a new day

It's a new life

For me

And I'm feeling good"

Feeling good Nina Simone

Já era tardezinha, no pub enfrente a avenida mais movimentada da

cidade estava sentado fumando seu cigarro, bebendo seu copo de uísque,

a banda começava a ensaiar para a noite, pensava com ele viajando na

musicalidade suave do jazz, - Hum... Autumn leaves ... Amo essa musica,

agora sem nem perceber já era o inicio da noite, noite em "Paris" falava

pouco o francês apenas o básico para se virar bem, mais também quase

não se comunicava com as outras pessoas, gostava apenas de andar pelas

ruas, admirar as paisagens, beber um pouco, sentar em um banco na

praça, fumar outro cigarro, tirava seu violão de doze cordas, tocava um

pouco, Tom Waits, Tom Jobim, Lois Armstrong, Piaf, Frank, guardava o

violão se levantava andava mais um pouco e quase sempre terminava o

dia num barzinho de musica, sempre um diferente cada noite, beijava

algumas garotas, francesas, outras inglesas, norte americanas, uns dias

atrás até uma brasileira, morena olhos verdes, excelente gosto musical,

ligada em artes. Ele também era um artista, na musica, nos quadros, em

tudo oque fazia, nem era tão atraente fisicamente, mais sua capacidade

de inteligência atraiam muito mais na verdade.

Uma noite em um pub bem pequeno a comparar com os outros pelo qual

tinha passado, estava sentado de frente à banda que estava tocando mais

um pouco para traz das primeiras mesas, estava apenas observando as

pessoas que entravam ali, moças belas com belos acompanhantes,

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pensava como Paris sempre causava um efeito de romantismo as noites,

não apenas do romantismo de conto de fadas mais sim daquele em que

também ha brigas, sexo, bebidas, frio, cachecóis nos pescoços, e muitas

historias, naquela noite estava apenas fazendo essas conclusões quando

entrou uma moça, muito bela, de pele bem clara, olhos meio puxados

davam um pequeno ar de oriental, suas roupas mostrava classe,

intelectualidade, seriedade, e lábios avermelhados de batom dava maior

charme a sua beleza. Ela passou, me olhou, sorriu, fiquei meio

atordoado, mais apenas a olhei fixamente, o som do saxofone tocando no

fundo com a banda fazia tudo parecer um daqueles filmes policiais e cheio

de romance, mesmo o ar paresiando deixava tudo tão fictício.

Levantei fui até a mesa dela, ofereci um drink (- cognac s'il vous plaît. )

ela respondeu, perguntei se ela falava minha língua e ela sorriu, e disse

com um sotaque que me deixou totalmente estagnado (- oui, falo sim

)Conversamos por algum tempo tomamos uns drinks, eu já estava meio

atordoado por causa do álcool e ela parecia cem por cento intocável pela

bebida, tomei cuidado de beber o mesmo tanto que ela, e mesmo assim

ela parecia aguentar bem mais que eu, fiquei me perguntando enquanto

ela fala comigo, que mistérios aquela mulher tinha, e porque tal fato me

atraia tanto assim. No meio da conversa percebi que ainda não sabia o

nome dela, perguntei cuidadosamente,

-Me desculpa ainda não sei o seu nome. Ela respondeu

-Alinne. Respondi a ela tentando criar um ar mais charmoso

-O meu é Martin, conversamos durante mais um tempo e convidei para

irmos ao meu apartamento no centro da cidade, ela sorriu e

elegantemente recusou o convite, nossa conversa se estendeu por mais

umas horas ali sentados naquele banco do pequeno pub, quando os

músicos terminaram de tocar uns dos garçons pegou o microfone e

anunciou a atração central da noite.

-"Mesdames et Messieurs avec vous Alinne Gardo”t. Ela levantou me

sorriu foi até o palco os músicos começaram a tocar e com uma voz muito

sexy ela começou a cantar " Feeling good " numa versão muito sedutora,

fiquei maravilhado, me peguei a admirando atônito, quando ela olhou e

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sorriu pra mim de frente do palco, percebi que ela tinha se constrangido

com meu olhar que em momento algum desviava dela, me recompus, e

sorri a ela. Quando a musica acabou ela venho até mim, e me convidou

para ir dar uma volta, aceitei, caminhamos pela cidade, ruas quais eu

ainda não tinha passado, ruas belíssimas, noites bem iluminadas, pessoas

bonitas, o frio a noite, tudo parecia perfeito. Sei que parece até bem

clichê toda situação mais na verdade era a noite em que eu estive

procurando toda vida, se era clichê ou não, não me importava,

caminhamos mais um pouco, sentamos num banco numa pracinha

pequena mais muito adorável, ela me contou que era cantora

profissional, e estudava artes cênicas, e apesar de apenas 23 anos tinha

um ar bem maduro e sedutor, Alinne se tornara naquela noite um certeza

que eu nunca tinha experimentado antes em toda minha vida. Contei a

ela sobre minha vida, sobre minhas viagens, sobre meu amor pela cidade,

e cada sorriso, cada palavra que saia da boca dela me fazia perceber mais

ainda que eu tinha me apaixonado por ela. No meio da nossa

conversa os sinos de uma catedral soavam, jaz era meia noite, eu a olhei

segurei sua mão e lhe disse – Alinne, veux-tu m’épouser? Ela sorriu, e

sorrindo respondeu- Oui j'accepte.

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Diante de si

“Descobriu bem ao longe um caminho em seu olhar,

ou quem sabe era apenas o que refletia seu querer,

mais esteve perdido e tão bom e poder se encontrar "

Johnny Santos

Toda manhã levantava como se fosse o mesmo dia, a mesma vida,

Todos os dias, todas as horas exatas contando o tic-tac nos passos, na

mente,

Sempre levou o lixo para fora, sempre comprou o mesmo pão, na mesma

padaria,

Sempre assoviou a mesma canção no chuveiro.

Sempre parava em frente ao espelho fitava seus próprios olhos,

Procurava talvez alguém dentro de si mesmo, procurava um sinal vindo de

suas retinas,

Tocava o espelho, se perdia nos próprios dedos, queria entrar, queria

entender,

Como seria a rotina inversa do espelho, será que sorria quem sabe

chorava,

Ou andava com outros pés em outros caminhos, se abraçava com outros

braços, outros abraços.

Quem sabe o tempo voltasse como os ponteiros regridem as horas em

seu reflexo,

Que reflexo as horas teriam, que reflexo teria o tempo, e se refletisse,

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teria uma alma ?

E se tivesse uma alma será que lhe emprestaria?

Do outro lado, toda manhã levantava como se fosse o mesmo reflexo

diante de si, passava Nos mesmos lugares, observava os mesmos

ponteiros contrariarem as horas, o tempo.

Todas as vezes olhava o seu próprio eu diante de si, questionava suas

próprias duvidas, compunha suas próprias canções.

De quando em quando seus olhos choravam, sentia se só, abandonado, se

questionava, onde esta sua alma? Quem á roubará?

Não sabia, nem se lembrava, onde estão dos braços os abraços, onde

esconderam dos lábios os sorrisos?

Quem sabe estaria preso, ou talvez livre de mais, queria entender, queria

sair, queria gritar, ou apenas alguém pra lhe ouvir.

As manhãs sempre iriam chegar o sol sempre iria acordar o café alguém

sempre ira passar,

os sapatos sempre iram gastar, as canções sempre iram se cantar, o

próprio alguém, alguém sempre irá questionar.

As horas sempre iram passar, as dores sempre iram existir, as verdadeiras

faces, no olhar o espelho sempre irá refletir.

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Mar sepulcro gelado

"É doce morrer no mar, nas ondas verdes domar"

É doce morrer no mar Dorival Caimmy

Havia no mar o desejo de te encontrar, morena as ondas se rendem a ti,

Havia o cantar com o vento a soprar, morena as ondas se entregam a ti,

A brisa molhava seu rosto, tocava sua pele, beijava seus lábios, morena a

brisa deseja a ti,

Jogava-se no mar na imensidão fria das águas agitadas, se rendia, se

perdia morenas as águas fazem parte de ti,

Morena, morena, na areia da praia deixastes seus pés, sua jornada, sua

alma, morena sua calmaria faz parte mim,

Embora olhasse ao longe perdido no céu, sei que procura no fim um amor

igual ao teu, morena esperas por mim,

Espera sentada na areia gelada, na tarde caída teu sol já repousa ainda

esta ai, morena aguarda por mim,

Já se ouve o teu silêncio, agora com o sereno ainda estas ai, nem se quer

sabia mais esperas por mim, morena anseia por mim,

Morena as aguas na noite se agitam, cantam, cantam, contra as areias, na

praia adormecida, morena sei que estais ai,

Morena será na praia um sepulcro gelado, morena será o fim nas aguas os

prantos caiados, será como um manto nas ondas guardado, teu fim , teu

amado, um sonho afundado,

Ainda nos dias se lembra do amor, no mar sepultado, na areia gélida

esquecida, morena espera o amado.

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Seu lugar secreto

A espera angustiante jazia no peito um dia adormecida

Na memoria dos sonhos buscava em algum canto um sorriso, um olhar.

Estava lá em alguma faísca de saudade, num pequeno suspiro de emoção

Morava quieto pulsando no peito, sempre calado, por ter muito a falar.

As vesses se encontrava num verso ou outro, numa linha escrita numa

linha lida

Muito cantava, as vezes dormia, compunha suas notas, o samba mais

triste,

Dançava, ensaiava um sorriso, se calava de novo, mostrava outro sorriso,

o mais triste de seu repertorio

Ouvia o nada, gostava assim, delirava na febre do seu mundo, muito

buscava nele, pouco encontrava em suas respostas

Pensava mais, se perdia nas esquinas, nas paisagens, acordava navegando

em suas lagrimas

Caminhava no quarto, ainda lembra-se dos sorrisos, dos amores

congelados na porta retrato

Não sofre pelos dias bons que passaram, ou lamenta as noites quentes

Ira mais além das simples dores busca em si seu existir, busca nas

respostas um lugar para em fim sorrir.

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Por vir

Sorri! Formosa donzela teus dias estão tristonhos

Seria pelo amado, partiu na escuridão da noite

Deixou marcado na pele os beijos dos lábios

Sorri! Formosa donzela teus olhos se cansaram dos lamentos

por muitas manhãs esteve ao teu lado, por muitas noites se perdera em

teus braços

Sorri! Formosa donzela sua incensastes desfila no frio da noite

Em pratos molha teus lençóis, no desespero opressor

Perdeu-se na triste lamina que a separou de sua alegria

Foi um dia a mais feliz girava nos braços do amor, despreocupada nem se

quer desconfiava

Um dia formosa donzela sorria em seus braços, no outro chorava em meio

às flores

Nem se quer falou a deus, ou um ultimo beijo, se foi, sem avisar, deixou

a gélida solidão

A melancolia da saudade, o frio da mortandade, o fim do conto amante,

amado, esposo, namorado

Sorri! Formosa donzela seus seios ainda sentem o calor de seus lábios, seu

ventre deseja sua carne

Sorri! Formosa donzela ainda vive a memoria imortal as guerras da morte

Sempre ira existir, sempre ira sorrir, sempre ira chorar, sempre ira sonhar

E até nos dias de frio chamara seu nome, até o pesar em seu peito ficara

guardado, secreto

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Sorri! Formosa donzela, os dias também se vão e deixam apenas o que se

aprendeu.

Para que no dia do fim, com a calma das horas que se encerram, e o medo

do suspiro final

Se fechem os olhos cansados nas mãos frias do fim

Sorri! Formosa donzela, e espera, espera seu amado ainda esta por vir

mesmo distante ainda vive em ti.

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Gira sol dourado

O que fazia o poeta no jardim fechado, perdido entre as flores caminhava

Gritou as flores, amaldiçoou seus perfumes, as regou com suas lagrimas

Esta ele ali errando em seu destino, desfilava entre as rosas, roubava suas

pétalas

Nem percebera a noite caiu, a lua também, mais nem se importava nada

mais importava

Poeta de amores, de versos belíssimos, agora não sabia ele expressar sua

dor

Se tivesse amado em linhas teria eternizado sua paixão

Poeta calado, de peito amargurado

Deixastes sua dor no jardim sepultado

Poeta cansado declamou seu amor

A um gira sol dourado

Esta só? Não, esta com o gira sol, contando suas fabulas

Num pesar escancarado nos olhos encarnado

Poeta dos livros, poucos são como tu

Em um mundo exagerado muitos esqueceram o amor encantado

Até quem recebeu seu coração, trocou por lentilhas

Nem deu seu valor, ou ao menos o queria te amado

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Poeta calado, de peito amargurado

Deixastes sua dor no jardim sepultado

Poeta cansado, declamou seu amor

A um gira sol dourado

Poeta, poeta, minguem sofre como tu, ninguém canta suas dores como

são suas notas

Nem o gira sol dourado entendeu sua dor, se recolheu repousar quando a

escuridão surgiu

Ficaste com as estrelas, mas as estrelas não entendem seu soluçar entre

as lagrimas

As estrelas são muitas, e sua solidão apenas uma, uma solitária solidão

Mais ficou assim com suas flores, adormecido com o gira sol dourado

Agora poeta calado sepultou sua dor

Mesmo cansado, sonhou amargurado

No jardim do gira sol dourado

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O contador de sonhos

“Ninguém poderá dizer”... As circunstancias o fizeram assim,

A essência do homem sempre foi a mesma,

o mal ou o bem sempre fizeram parte do seu ser "

Johnny Santos

Nem bem anoiteceu o dia já acordou, na metropolitana cidade o sol

nunca se vai, nunca descansa realmente, nasci em uma cidade pequena

no sul do Paraná, passei minha infância toda lá, brincava, sorria, estudava,

ouvia musicas de cidade pequena de interior, e sonhava, e como sonhava,

com tudo, nos sonhos, nos pesadelos, quando acordado, de olhos

abertos, de olhos fechados, sonhava quando o vento batia no meu rosto,

quando a chuva caia, quando chorava, quando me frustrava, quando

amava, quando desamava, e acredite sonhava até quando me irritava. E

assim fui crescendo um sonhador, sonhava ainda moço, sonhava já

casado, sonhava no trabalho, sonhava distante, e confortável, nem quis

saber o porquê de tantos sonhos, ou de ser um sonhado sempre achei um

dom, uma dadiva, nem me preocupava com minha boa idade, sonhar me

fazia sentir jovem, com a barba grisalha, olhos já cansados, pele judiada

do calor do sol escaldante da cidade metrópole que terminei em acabar, e

acabar não significa o fim apenas o inicio de outra historia, no meu caso

de outro sonho.

Sonhei muito quando era menino, sonhei em ter o pão nas manhãs frias

de inverno, em ter o feijão nas noites quente de verão, sonhei em

estudar, sonhei sempre em melhorar não para mim mais para quem

sempre esteve ao meu lado, na verdade sonhei em nunca acordar dos

sonhos, e oque se pode achar de um homem feito que tanto sonha com

tantos sonhos...ha se eu estivesse escolhido outro caminho os dos

realistas talvez, não sei se tinha chegado até aqui, talvez nem tenha feito

grande coisa de minha vida aos olhos dos espectadores, dos que criticam

o jogo de minha vida, ou de nossa vida, a verdade é que mesmo sendo tão

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fria a vida com nossos sonhos, desejos, metas, ou caminhos que

decidimos trilhar em nossa longa jornada física, frigida, cansativa, ainda

sim erguemos a cabeça e batemos no peito e nos orgulhamos de cada

passo dado ao fim, digo ao fim porque a quem me olha vê que já não me

resta muito tempo mais, eu apenas me sento e sonho, sim continuo

sonhando mesmo com a decepção que me aperta o peito por não ter

conquistado nem um terço dos sonhos em que sonhei até aqui.

Sim é verdade que não conquistei muito em minha vida, não sou um

grande empresário, nem um grande artista, ou pra muitos nem um

grande homem, mais o que devo dizer inventar um monte de historias

dizendo que fui mais um que se sobressaiu na vida e querer que outros

como eu mesmo olhe e me usem como espelho ou fonte de inspiração...

Que nada, mesmo não terminado minha vida como um rico homem

pobre, ainda sim sirvo de exemplo para muitos, sem duvidas para aqueles

que viveram, meus filhos, netos, sei e falo isso sem a menor duvida da

verdade, sou um exemplo aos meus, por ter me dado a minha família,

trabalhado de sol a sol, de estrela a estrela, sempre com um sonho novo

para me fortalecer nos momentos difíceis, e olha só na verdade não teria

eu escrito roteiro melhor aos meus dias, nem Clarisse Lispector escreveria

uma drama tão bela e complexa como a drama escrita pelos meus dias

afins, homem de amores, e de amores tristes, e com tristezas sonhando, e

nos sonhos buscando um novo amanhecer, e no amanhecer um novo

sorriso, tímido, as vezes calado, as vezes cantando, buscando num túnel

uma luz, talvez não a luz que indica o final da escuridão apenas a luz que

que nos mostra o caminho certo pra continuar.

Um dia me vi no meio de uma grande tempestade e no meio de tanta

fúria que tinha aquela tempestade eu tive medo e como menino procurei

fugir do medo mais percebi que eu já não era mais menino aquela

tempestade me transformara num homem, por alguns segundos me vi

como homem percebi que eu estava numa grande bifurcação com dois

caminhos um oque me tornaria o mais escravo da vida, do trabalho, da

família, e do medo, o outro me daria uma vida nova, um oficio, uma

família, o a coragem para vencer aquela tempestade, a única coisa que o

segundo caminho tinha era o dom de sonhar, de ver as coisas de um

outro lado, escolhi o segundo caminho, acordei e vi que la fora tinha uma

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manhã linda para se continuar sonhando. Meus sonhos talvez nunca

focem para se realizarem mesmo, mais para muitos pequeninos e

grandes, homens, mulheres, sentados numa cadeira usada, com um café,

num final de tarde, muito ainda me emprestam seus ouvidos para

ouvirem longas historias dos sonhos, sonhados por um homem feito de

sonhos.

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Os sonhos, as ondas, a bela e o mar

Sonharei... Um dia ao teu lado poder descansar

Na leveza dos teus seios, de sua pele, ternura, plena formosura

Ó apático teu estar, faz perder-me em tuas incertezas

Faz-se incógnito seu coração, um labirinto sua emoção

Procuro lhe decifrar, no seu silêncio, no seu olhar

Distante mulher, menina incerta, de um mundo só seu

Quero também viver em suas indecisões em suas melancolias.

Me pego sonhando em seus beijos, no jardim de seu ventre

Entrego-me as curvas de seu existir, ao delírio de sua língua.

Vem comigo as areias que beiram o mar,

Vem! Não tardes em vir, quero encontrar seu corpo

Dourado pelo sol do entardecer

Quero me entregar em suas crenças, me desfazer em suas pernas

Girar-lhe nos braços, beber do seu saber, me entregar ao seu querer

Faz-me teu amante das noites, teu esposo das manhãs

Faz-me alguém em teus capítulos, me deixe existir em suas crônicas

Já sabes que chorei com teus prantos, e sorri com tuas alegrias

Agora te entrega a mim os teus contos, os teus medos, teus amores

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Vem comigo as areias que beijam o mar,

Vem! Não tardes em vir, o sol já esta se pondo

E o mar se faz revolto

Vem comigo, pois a noite beira no horizonte,

E as estrelas já despertam a escuridão à por vir

Vem! Não terdes em vir... Meus lábios ainda clamam por ti

Minha'lma queima tentando resistir

Meu peito sufoca a espera sem fim

O vento já sopra as ondas do azul

Logo chegarás e viverás em meus abraços

Vem! já tardia as horas e os faróis já iluminam teu chegar

Ainda vem, já percebo teu olhar...

Ou apenas seria o vento soprando o mar?

Vem comigo as areias já se banham no mar,

Vem! Mais não demoras em vir,

Meus olhos já estão cansados,

Inundados já iram derramar

Ainda olho o fim ao longe do meu mar

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Era a minha esperança o teu chamar

Batia em meu peito o teu pulsar

Sorria em meus lábios o teu amar

Sonhava em meus sonhos o nosso caminhar

Erguia um castelo de historias a contar...

E ergueu-se o desprezo com as ondas para matar

Nem as ruinas sobraram do amor, pois este deixei desabar

Vem comigo as areias se rendem ao mar...

Vem...? Deixastes de vir?...Não!..., estava aqui,... Acordei em seus

braços,... Acordei e sorri!

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Bohemia

Para ouvir ao som de " CHARLES AZNAVOUR " ( LA BOHEME )

"Eu quero ser exorcizado pela agua benta deste olhar

Em fundo, que bom é ser fotografado,

Mais pelas retinas dos teus olhos lindos "

Disritmia Martinho da Vila

Um dia percebi a beleza em seus olhos, tínhamos acabado de imergir da

escuridão,

Tínhamos despertado de um coma profundo, e ela estava lá ao meu lado,

Com um sorriso pequeno, tímido, com sono, um mundo ali entre os

lençóis, entre as pernas,

Entre os braços, entre as mãos que passeavam nos cabelos, o mundo não

girava, tudo era inerte,

As noticias na tv, a musica na estações, am, fm, não havia fome, não havia

medo, nem o que chorar,

Saudosa beleza da nostalgia, inda faz-me lembrar de um beijo até sentir o

calor de sua vida

Ainda me pego com minhas memorias, andando pelo quarto, vagando em

nossas noites de verão

Muito tenho a viver, muito tenho a amar, muito tenho a aprender, e

muito tenho a chorar,

Talvez não por te perder, acredito que foi como havia de ser, mais talvez

por ainda haver tantas horas nossas guardada no relógio.

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Acredito que um dia nossos passos se encontrem numa esquina qualquer,

num beco qualquer,

Num sonho qualquer, num olhar qualquer. Muito se vive em um dia de

chuva dentro de um quarto com quem se ama

Muito se vive sorrindo ao lado de quem te faz feliz, muito se vive nas

brigas com quem te faz reconciliar,

Aprendeu-se, se voltamos, horas e horas, dias e dias, noites e noites, aos

beijos de um amor

Quem poderá condenar o amado sentado num bar, com uma cerveja na

mão, cigarro na boca,

conversando com suas memorias, remoendo todos os dias passado lado a

lado, das cartas escritas, dos versos, dos sussurros ao pé do ouvido,

Tenho pensado caminhando sozinho pelas praças, ruas, estações,

calçadas, tenho pensado em seus olhos, no dia em que percebi a beleza

em seus olhos.

Não estou cansado mais o vinho já me rouba a direção, homem de

amores, talvez seja essa a minha sina,

Tenho medo de um dia me perder nos meus próprios sonhos, uma noite

não acordar da escuridão, invejo as estrelas, que mesmo só distantes,

brilham, brilham, invejo a melancolia da lua

Invejo a beleza oculta da noite, em sua tristeza, companheira de tantos

amantes, gostaria de ouvir todas as historias que a noite teria a contar,

Gostaria de ouvir cada historia de amor Bohemia de cada homem que

sofreu, que chorou, queria contar a minha historia, queria lhe conhecer,

mais é tarde hora de ir para casa, voltar a escuridão e me perder no

pântano dos meus sonhos.

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A morte do homem invisível

"Onde habitou uma vez o amor

Foi trancado para fora de sua casa,

Vagou em sua amargura,

Tentando retornar,

Mais foi como a vida,

Num um sopro se desfez!

Johnny Santos

O sol que brilhou na manhã, não é o mesmo sol que brilha esta noite

Ao longe a estrada se perde da menina de seu olhar

O medo envolve o corpo que sente o invisível imaginar

As aves pedem socorro de braços abertos a perambular

Nem se quer pulou a morte encontrada no ultimo andar

Não pudera, em meio ao caos não havia lugar.

Ouvi o barulho das pedras subindo a avenida sem lugar pra chegar

Não pode dormir o silêncio que só ele ouvia se quebrou com os ossos na

noite que caia

Estava ali, existiam mais muitos tentavam o omitir

A própria verdade que muitos fogem em si

No verde o farol, sinal pra seguir,

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Ninguém sabe pra onde, ou se esperam no fim

A pobre riqueza estampada, pronta para sair

Em paginas que cegam os cegos dali

É ele estava ali, muitos o viam, mais poucos o liam até o seu fim

Escancaravam no rosto o disfarce ideal

Mostravam os dentes, comiam o mal

Não se fala mais de amor, é um assunto banal

A corrupção da carne não é um abstrato é bem mais normal

A beleza se compra num bar,... Eu ha vi na " tv "

Lugar tão real, onde as arvores caem sem querer

Se prostram sem nem entender o porque

E ele... Ele estava ali sentado num banco sem lugar pra dormir

Perguntam-se, alguns tentam entender

Mais uma moeda não explica um viver

Muitos o temem, outros desejam sua morte

Poucos lhe oferecem o pão pra comer

Já lhe vi por ai num beco qualquer

Ou era apenas um louco, um bêbado buscava um bom final

Um ultimo minuto sequer

Um outro adeus, outra lagrima

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Em meio a tantas anônimas por ai

Mais se eu bem o conheço não choras assim

Não chora o fim, o devora voraz

O engole seco, amargo, e ruim

A raiva é o champanhe, que o ódio o faz cuspir

Não tinha um nome, seria fatal

Morreu ontem a noite “Fulano de Tal”

Não se sabe o porquê, ou quem o matou afinal

Mais sua morte por vez, vendeu mais jornal

Deixou muita saudade para os que nem sabem de ti

Nem se quer se importavam, mais estavam ali

Fúnebre status, é mesmo um bom plano

E agora! Quem será o próximo?

Quem sabe um ciclano...

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Um soneto p'ra cantar

Em meio ao dom de amar temia eu a desilusão

Não fiz uma carta nem um soneto pra ti

Deixei no vale das flores plantado os meus beijos

Deixei no retrato pintado meu peito

Vivi em meus muros as Lamentações de teus seios

Ergui de tijolos as paredes dos meus anseios

Não quis me entregar aos teus delírios

Não quis me envolver com teus martírios

Fiz minhas próprias indagações

Não dando ao meu ouro as tuas enganações

Pois bem tenho chorado e me perdido em meu pranto

Tenho marcado em meu corpo o teu encanto

Não tenho em palavras o teu nome

Nem em prosa o teu amor

Mais tenho um segredo

Bem lá no fundo guardo o teu amor

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Uma estranha em meu paraíso

"E como a vida é bela e doce e amável

Não presta o espinhal à sombra ao leito "

Shakespeare, Henrique VI, 3 ° P.

Havia uma porta fechada em minha frente, nem sei por que eu não quis

abrir aquela porta, talvez por não saber, ou nem fazer ideia do que estava

por trás de tanto segredo que eu mesmo criei em minha cabeça, mais

fiquei ali parado, como se estivesse em choque, ou paralisado, suando

frio, tremulo por inteiro o mundo pareceria fugir de minha existência, os

lábios caíram, o ar secou nos pulmões, e a vida caiu, caiu paralisado

como o gelo da morte que roubava minha ‘alma tão rápido que parecia

uma eternidade, a vida que me esperava viver para lhe abraçar, chorava,

os dias que se acumularam no passado se perdiam em minha memoria,

tanta memoria, o primeiro beijo, o primeiro amor, o ultimo emprego, a

ultima dor, que me faria parar ali em frente aquela porta, e porque

mesmo eu estava ali ?... Nem importa mais, de tão distante do que me

havia um dia de haver em meus medos, a morte nem era o maior dos

meus temores, era uma espera que me aguardava no final de minha

jornada, era o descanso que tinha reservado á mim mesmo no que eu

chamava de final feliz. Não foi tão feliz assim, nem poderia ser em algum

momento. Em momento algum esperamos este pesar, o gélido

sepultamento, a orfandade de nossos filhos, a nostalgia eternizada nas

fotografias bem amolduradas em cima dos moveis, a dor da saudade da

amada companheira que sinto não ter dado um ultimo beijo, pra quem

berra encima do meu corpo quase todo tomado pela frieza da ceifa vorás

que me cortara ao meio inesperadamente diante daquela porta, os

esforços inúteis já a minha morte, o cantar da ambulância que se tornara

agora minha sinfonia fúnebre, e as lagrimas que me banham no ultimo

olhar.

Nem se quer a conheço, uma moça, bonita, de longos cabelos

avermelhados, chegou nem sei da onde, me agarrou ferozmente, me

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trouxe contra seu peito, me apertou forte, sim eu senti, mais já distante

da vida que ela desejava existir em meu corpo, me senti culpado agora

por estar partindo diante da multidão em pé, uns choram sem nem saber

o porque, outros correm histericamente, já não ouço mais as sirenes

escandalosas, já não sinto mais o calor das lagrimas que escorrem em

meu rosto, já não vivo entre os que amam a vida. Mais meus olhos se

perdem nos cabelos avermelhados daquela moça, quem era, minha filha,

minha mulher, minha mãe, minha vida, minha morte, naquele momento

era tudo isso, e seria mais se por um instante a mais meus olhos

brilhassem, não sei, não vivi, a escuridão tomou os meus olhos, mais

ainda sinto pulsar desesperado do meu coração num ultimo esforço para

bombear a vida, não sei mais onde estou, quem era a moça ruiva, quem

eram as pessoas que me deram seu socorro, o que tinha atrás daquela

maldita porta, oque tinha nessa maldita hora, a hora do adeus, que

adeus...o ultimo suspiro, o ultimo olhar, o ultimo momento de vida já

inútil a qualquer outra vida, se foi...se foi....sem esperar, sem entender,

sem acordar, sem perceber.

Era o fim, e no fim outro começo, entre as vidas que estavam ali, uma se

esvaia entre os dedos da existência, deixava de respirar, não era mais um

na multidão, apenas outro que se vai como tantos se vão, e como um dia

eu irei também, seu olhar jamais saiu da minha mente, em que pensava,

porque me olhava, se sentia dor, se sentia medo, se, se lembrava de mim,

se, se lembraria de mim em sua outra vida, se haveria outra vida, como

havia um começo atrás daquela porta, que parou antes de fugir deste

mundo ali no chão, na frente do consultório medico de cardíacos no

pronto atendimento regional. Ainda me pergunto, por que tanta demora,

por que tanta espera, ele estava morrendo, estava me deixando, ali no

meu colo, em meio as minhas lagrimas, lagrimas de filha, de mãe, de irmã,

de esposa, de amiga, de tudo que eu representava a ele naquele

momento, em seu ultimo momento, e era eu quem estava ali, que estava

com ele, que morria com ele, nunca esqueci, e poucos saberão como é ter

uma vida nos braços, e de repente a vida se acabar, num ultimo olhar,

numa ultima lagrima que pedia socorro e ao mesmo tempo parecia sorrir

como se estivesse agradecendo por eu estar ali, e ali que eu deveria estar.

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Espera-me em teu cais

É assim, a vida, um dia de chuva que nos encanta, o silêncio que ouve o suspirar,

uma canção triste que nos leva a vazio dentro da alma, o medo do incompressível,

os ponteiros que desabam as horas, o sono que pesa as pálpebras, os olhos que

vem o interior sofrendo quando se fecham por segundos de melancolia, é assim,

os pés que querem caminhar pra lugar nenhum, a voz que engasga na garganta

querendo gritar, as dores que roubam a paz de um quarto vazio, o frio que toma a

pele com o vento deslizando seus dedos na derme, é assim mesmo o balbuciar na

imensidão do amor que sem fim foge dos meus olhos o distante remediar, o

alento cicatrizar, o infinito recomeçar, o indestrutível amenizar. É assim o

inconsciente soprar do vale a alma sem perambular, sabe o lugar certo aonde

quer chegar, seu coração, seu sorriso, seu abraço, seu aconchego e descansar,

nem procuro mais meu descanso é teu cais!

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Esconderijo dos anjos

“Porque se desfez as minhas retinas, submersas em minhas

dores, fugiu do meu peito o ar pedindo socorro,

no leito alvo um firmamento, o mais sublime,

tão alto habito num imenso esconderijo”

Johnny Santos

Queria ser como um anjo

Queria poder me encontrar

Queria na minha morte um novo começar

Queria na minha ira um novo naufragar

Embriagar-me em minhas lagrimas

Dissolver-me em minhas magoas

Queria poder voar p'ra um lugar seguro

Queria poder sonhar em meu esconderijo

Em meus braços poder ter a força dos deuses

Entre meus soluços o dom de vencer

Nas madrugadas poder descansar

E voltar, e voltar, e sonhar, e sonhar

No meu esconderijo, repousar

Almejar, e buscar alento

Fechar as janelas desta realidade

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E só por um momento, estar distante

Bem acima das nuvens, bem acima das dores

E voltar, voltar, e respirar, e respirar

Num simples sussurrar, me desfazer no infinito

E estar, nas alturas, o meu peito aliviar

Esquecer o medo deixa-lo para traz

Nem que esteja só, se a paz me procurar

Minh ‘alma anseia, um lugar pra descansar

O meu esconderijo, às vezes distante

Corro para chegar, e me lanço à minha dor

Espero o anoitecer, e em pedras descansar minha cabeça

Será outro dia, amanhã pra existir

Será outro sol pra me aquecer

Secar as dores que restam

No rosto corado, um novo alcançar

Reviver das ruinas, um dia, após outro dia.

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O lamento sobre o tempo

“Ele pensa que a vida ficou pra traz,

então finge que nem liga e tanto faz, ó não,

ó não à vida é muito mais...

que um sopro, que um vento, nada mais "

A verdade sobre o tempo Pato Fu

Tempo, tempo. Olhai por mim que sou sofredor desta uni existência

Velai por mim que descanso nas curvas do meu sofrimento

Rogai por mim que desfaleço nas rugas escritas em minha formosura

Não te apresa em vir a minha casa, espera o sol se por e a noite esconder

sua ira

Não me castigue por sua solidão, ainda espero no espelho a coragem do

meu contemplar.

Tempo se vieres agora não me encontrará segura, não estarei a tua

espera

Não suportarei a tua mão, nem o teu cansar pela longa jornada

Não entenderei a murmura, profunda, nos olhos de lamentação

Porque um dia a beleza me irradiava, e no outro a tristeza me espera

Tempo sei que nunca deixara de me perseguir, sei que um dia chegara

até mim

Mais me deixe aqui num momento de despedido, seus ventos batem em

minha porta

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Mais ainda não, eu clamo a ti, seus ponteiros estão desencontrados

O meus ainda precisam de mim, não roube minhas forças

Não me confronte em seu agir, ainda tenho muito a existir

Tempo, tempo, deixe-me a sós com minhas flores que tanto me iludem

Deixe enfrente ao meu ser que ainda me resta um pouco de ti

Tempo se soubesse a dor que deixou em mim

Levaria-me contigo em sua infinita vida sem fim

Mais passou sem como a chuva num dia de sol

E me deixou desolada numa cadeira embalada ao som das lembranças

Ao mar da saudade, em lagrimas amargas.

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No caminho dos trilhos

"E seus passos a conduziam ao seu destino,

escolheu tantos caminhos, nem todos eram os corretos,

mais todos a fizeram sorrir,

quando a felicidade lhe procurava,

e todos a fizeram chorar quando a dor lhe acompanhava "

Johnny Santos

Ema, contava os passos em seguida, andava pelos trilhos do trem que já

não passava mais por ali, ela tentava imaginar a onde esta aquela

maquina imponente que antes passara ali com seu canto glorioso, Ema

pensava nas pedras que também faziam parte da historia daquele trem,

das pequenas lascas de toras de madeira que formavam o caminho do

trem que já não passa mais ali, de certa forma aquele trilho esquecido em

meio aos matos que cresciam ali em meio a tanta lembrança, que

passavam na memoria dela, talvez na memoria das pessoas que viajaram

cidades dentro dos vagões daquele trem, tantas lembranças dos

maquinistas que carregavam aquele trem nas costas. Ema caminhava,

carregando em suas costas a mochila, além de estar só em seu caminho

não se sentia sozinha e contava passo após passo, menina bela, simples

também, difícil de conhecer seus pensamentos, difícil de penetras em

suas crises existencialistas, mais sentia se bem em seu mundo, seu mundo

quase não envolvia outras pessoas, falava com garotos quando queria,

quando encontrasse um que valesse a pena, sorria as amigas quando lhe

era conveniente, e não se sentia culpada por isso, ouvia suas musicas

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prediletas, cantarolava algumas canções, assoviava outras, era livre em

seu habitat natural a pura liberdade.

Ema, de pele alva e negros cabelos, Chanel liso, sorriso sincero, de

sentimentos cincerros, pensava no trem outra vez, outrora forte reinava

ali em seu caminho, caminho que agora se rendia aos passos dela, quem

era ela, se indagava outra questão, porque caminhava por aqueles trilhos,

velhos, abandonados, esquecidos,... Por isso mesmo pensava ela por

serem esquecidos por terem o privilégio de estarem sozinhos e mesmo

assim estarem tão fortes e firmes ainda ali mesmo depois de muitos

vagões carregados com o peso de suas cargas, e mesmo com o passar de

todo tempo que o castigavam, mesmo assim estão ali firmes em meio a

terra, permaneciam em seus caminhos, e pensava que queria ser assim,

tinha metas, sonhos, usava aqueles passos como um caminho forte diante

de si, sabia que seria ela a única responsável por si mesma, e seria assim

mesmo. Ema quase corria nos trilhos, pulava, quase caia, e sorria ali em

seus trilhos agora era o trem e corria com toda sua carga, Ema agora era

mulher e se via diante da vida correndo para alcançar a estação. Seu

mundo girava ao seu redor via as paisagens passar por ela como se

estivessem apressadas para chegar a lugar algum, Ema era quem queria

ser e gostava de ser a única a viajar naqueles trilhos, deixados para trás

com toda bagagem de uma historia, ou de muitas historias, jamais deixou

de pensar nas tantas horas que passam todos os dias levando com elas

segundos, minutos, horas e horas que se apagam na longa caminhada do

tempo, o tempo se dedica todos os dias a levar nossa juventude, nossas

forças, nossa sabedoria, em troca de suas marcas corrosivas a nossa alma

que é a única que permanece intacto ao longo caminho que trilhamos

todos os dias.

Ema nos trilhos do velho trem, do antigo gigante de aço e força, ela sim se

sentia como o seu gigante, o admirava mais sabia que também era como

ele, um dia não passaria mais por aqueles trilhos já velhos, não ao tempo

mais em sua existência, os trilhos embaixo dos seus pés pareciam olhar

para ela e toca-la bem ao fundo de sua alma como se entendessem suas

dores em seu peito via, e parecia sentir a alma dos trilhos por mais irreal

que foce sua alma ela sabia que sentia, sentia a saudade dos dias de

gloria, dos dias de vida, Ema era parte daquela estrada seus pés eram em

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aço puro e sentia o tremor e ouvia o clamor que subia por eles, e gritava,

gritava, pois um dia iria se calar e talvez não fosse mais aqueles trilhos

mais sabia que nunca iria esquecer do caminho que trilhou naquele dia,

Ema era triste em seus passos lentos e cansados e já sentia o frio da

tarde que chorava sua brisa gélida ao rosto dela, mais sabia que era assim

e assim seria talvez Ema um dia seria aço, seria um trilhos e alguém

acompanharia seu caminho e entenderia sua saudade, e choraria com

suas dores, e gritaria sua angustia, e enxugaria suas brisas.

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O lírio do amanhecer

Muito além daquelas ruinas

Muito distante dos muros derrubados

Ainda se mantinha em pé

Ainda encontrava forças

Ainda brilhava a luz fraca do dia

Ainda se aquecia ao sol resplandecente

Era a mais pura riqueza

O ultimo em campo dos muitos que ali havia

Era consolado em águas salgadas

Era banhado em pranto solitário

Estava em pé todos os dias

Não se via mais vida além das quais estavam ali

Morreu a ganância, a ignorância também

Se foi com o desespero levando consigo a esperança

Era fato consumado o fim mais esperado

Nem se esperava àquela hora

O clarão da maldade, o único grito da destruição

Levou o pai, e os filhos também

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Levou a mãe, matou os irmãos

Nem se sabe ao certo quem começou

Nem quanto durou

Mais o bastante para o armagedom

Em seu trovão feroz bradou é o fim

E do fim um lírio sobrou

E encontrou um irmão

Soldado ferido, cansado... triste

Encontrou por seu brilho em meio o mar cinza

Antes era o vale mais lindo

Seus lírios o vestiam

“... Nem Salomão em sua gloria se vestiu tão lindo...”.

Mais era o ultimo a guardar a esperança

E o cuidou com suas dores

Contou nas noites suas historias mais tristes

E viveu para lhe cuidar com suas lagrimas

Esteve ali ao seu lado até o ultimo suspirar

Deixou suas forças ao seu único perdão

Um ultimo sorriso o mais santo que a se viu

Quando uma manha floresceu o amor ...

Morreu em segredo a ultima dor

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Outro amanhecer

Das rosas que ali havia escolhi seus espinhos

Entre os dias escolhi muitas vezes as noites

Dos que me acompanham escolhi os que não procuram apenas me

agradar

De todos os meus medos escolhi os que mais me amedrontavam

Escolhi um dia ser muito mais que uma vida pacata

Não! Busquei minhas próprias mesmices

E andei pelas calçadas a deriva como os navios dos heróis do passado

E a deriva encontrei outros novos caminhos

E depois errei novamente ao destino

E saldoso destino que me levou por ai

Entregou-me seus deleites

Judiou-me a cada tropeço

Escolhi uma manhã não levantar de meu descanso

E quem sabe o que passou naquele destino

Escolhi as três de uma madrugada sair por ai

E quem sabe que destino o vento me trouxe assim

E haveria ainda outro renascer de homem

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Não do tipo em que se morre e de repente volta a viver

Do tipo em que voltamos ao ventre

Do tipo em que choramos uma primeira vez

Num esforço de tristeza

Acordar para o mundo

Acordar como um homem

Deixar para traz o menino e o entardecer preguiçoso

Estar outra vez cheio de medos, e vence-los outra vez

Morrer em trabalhos, reviver nos braços da morena

Re escolher novos espinhos, de outras rosas de um outro "Salvador Dali"

Adormecer nas noites, e amanhecer nos dias

Procurar minha criança e entender...

Ou melhor, depender... De outro dia, outro amanhecer

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O clamor do anjo urbano

Percebi no meio de tanta gente que estavam ali em meio ao calor

humano que tanto me incomodava e que muitos estavam apressados,

outros um tanto distantes daquele lugar mesmo estando ali de corpo

presente, não era a primeira vez que eu saia de manhã como muitas

pessoas fazem todos os dias para trabalhar, estudar, passear, e etc. Para

muitas pessoas parecia até algum tipo de prazer estar ali junto com tantas

outras pessoas desconhecidas que não fazem a menor questão de

dialogar ou ter algum tipo de comunicação com outros ali, inclusive eu,

gosto de ficar quieto no meu canto, apesar de saber ser simpático e

comunicativo quando presido ou quando me da vontade, mais ali

naquele ambiente cotidiano, matinal, do meio de transporte urbanizado

de uma cidade de interior prefiro me colocar como um ser invisível para

todos, ou um estado vegetal, prefiro sim, gosto de ficar em silêncio, gosto

de observar as velinhas, senhores cansados e arqueados correndo em

passos cansados e tortuosos para pegar um bom lugar no ônibus perto da

janela entre aberta, num banco mais agradável, gosto de ver como as

pessoas se apertam e se empurrar desesperadamente em busca do seu

descanso temporário. Geralmente fico perto das portas de saída para

poder facilitar na hora de sair daquela aglomeração infeliz. Olho as casas,

os prédios, os carros, as pessoas, e tudo oque vai ficando para tráz no

caminho, no asfalto, nas faixas de pedestres, e tudo mais, farmácias,

supermercados, e assim vai indo, se perdendo a minha visão e aos meus

pensamentos que se perdem conforme tudo vai ficando no inicio do

caminho que por sua vez quando eu voltar a tarde será o fim, será o

descanso de meus pés, das minhas mãos, dos meus olhos, das minhas

costas, das minhas asas.

Por que asas? Bem porque é assim que eu procuro pensar em toda carga

que se acumula em minhas costas, e que tanto pesa as vezes, e ali dentro

do ônibus as vezes se tornas grande e quase sem espaço, e novamente

fico ali inerte como se estivesse acorrentado aos apoios que tantas mão

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seguram tentando não cair nas curvas das esquinas, me sinto ali preso,

grudado ao caos do ser humano, percebo uma movimentação diferente

perto do cobrador uma moça loira, bem arrumada, com uma mala

marrom, ela se sentia mal acho que parecia algum problema de preção

baixa ou alta que a derribava aos pés dos despreparados socorristas, uns

correm abrir janelas outros pedem um pouco de espaço disputado por

tantos em meio ao passar mal da loira já deitada em dois bancos

acoplados, fiquei de uma certa distancia observando as pessoas

comentarem, umas tentando ajudar, outras erguendo seus pescoços

curiosos de avestruz, e eu ali na distância exata com minha mala de lado

também marrom.

Não pude deixar de notar uma senhora mal arrumada e de cabelos

armados como se não fizessem questão de serem arrumados, expressar

murmuras sobre o motorista diminuir a velocidade, ir com mais calma só

por causa de uma magrela ter um " chilique " no ônibus, fiquei meio

desconcertado pela atitude da velha despojada senhora, mais percebi o

aborrecimento de algumas outras pessoas, mais nem entendi mais, havia

tantos motivos para tantos aborrecimentos diferentes, o cobrador

atrasou o seu trabalho de receber as passagens dos novos passageiros

que entravam, o motorista agora apressava um pouco mais a velocidade

para chegar em seu ponto final mais rápido para que a moça loira fosse

socorrida mais rapidamente e com isso deixou de parar em alguns pontos

de desembarque ao meu ver era por uma causa, porém a essa altura eu

também já tinha pressa de tudo aquilo ali acabar de uma vez, não estava

muito agradável toda aquela situação, nem as pessoas, uns passageiros já

queriam descer de qualquer maneira e eu já estava inquieto ali mal me

segurava com mais força nas correntes que me prendiam ao ônibus, já

olhava pela janela com um pouco mais de anciosidade, euforia, e me

sentia mais leve que o próprio ar, me sentia no mais alto da lua sem

gravidade, sem estabilidade nos meus pés, e queria chegar, queria que

desesperadamente fugir dali. Fecho os olhos, respiro fundo, inspiro

lentamente, abro os olhos, reflito um pouco, sobre a viajem que naquela

manhã parecia muito mais longa do que o costume, desejei novamente

avistar o terminal central, o meu ponto final, descer dali, e antes do meu

socorro chegar com o abrir das portas,... Mais três pessoas passaram mal

ao meu lado dentro daquele ônibus, maldito ônibus.

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A triste noite do homem boneco

Ligou a tv diante dos olhos rubis encarnado em um tom de pura fadiga

depressiva e corro ente, sentou se na beira da cama apoiou o queixo com

as mãos construídas sobre os joelhos esticados encima dos pés, suspirou

tentando encontrar um pouco de oxigênio despoluído quase raro a suas

narinas, se acomodou diante a tela cheia de imagens e noticias do dia que

já se deitava descansar de suas obrigações de dia, com um copo de café

preto, amargo, forte, que levava lentamente a boca judiada pela geada

das frias manhãs de inverno, na verdade nem prestava a sua atenção

diante do que se passava na televisão, ou com a voz do jornalista, ou na

previsão do tempo, na verdade parecia mais hipnotizado pela sua própria

mente, como se fosse um boneco manipulado pelos seus pensamentos

ventríloquos, ele até podia sentir as cordas em seus braços, mãos, pernas,

boca, olhos, tudo nele era controlado por seu pensamento irracional,

daqueles que vem como um machado cortando o tronco forte que na

verdade nem é tão forte assim, se rende fácil a boas machadadas,

machadadas que derribam a tudo ao redor de seu corpo de boneco, nem

entende na verdade o que seu ventríloquo quer mesmo é tanta coisa,

tantos comandos, nem se quer faz questão de organizar tudo. Mais que

cabeça é essa pensa com o copo junto aos lábios ressecados, que

bagunça, que baderna, Gepeto se esqueceu de me dar instruções de uso

dos tais raciocínios que as vezes chegam até me amedrontar, pensa o

boneco, de madeira, de pinos, de imbuia.

A ele foi dado o dom de viver, mais esqueceram lhe ensinar a se entender

em meio a tantos ventos que sopram como uma tempestade em alto mar

sopra as velas de um grande veleiro o fazendo se entregar a deriva, as

vontades do furacão das aguas... E de repente se pega escravo novamente

de seus sonhos a luz fraca do quarto em frente a sua tv de dezessete

polegadas laranjada, e novamente vê seus braços num movimento

controlado pelo barbante ligado aos seus pensamentos descontrolados,

alguém precisa dar um jeito nisso murmura novamente com si próprio, e

se surpreende falando com sigo mesmo, quem dera a mentira ser o único

problema desse amadeirado boneco, maldito artesão de mão finas e

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pálidas que lhe dera o amor da vida racional, e volta ao seu copo de café

do Elvis Presley, agora já perdeu o calor do pó passado a água fervente no

coador de papel.

Os olhos agora já mais pesados quase desabam as imagens embaraçadas

a falta dos dois graus e meio de astigmatismo, miopia, talvez causada pela

pouca distancia das telas que costumava observar, quase se sente numa

epifania diante dos olhos caindo como se despencassem num desfiladeiro

rolando tortuosamente até encontrar seu fim, gruda seus lábios de

boneco a vernizado pelo frio, descansa o copo ainda com um pouco do

café, nem liga se a cafeína lhe causara insônia, talvez nem poderia seu

corpo era tão esfarrapado pelo oficio de operário a cimentado que nem

toda cafeína do mudo poderia lhe roubar o descanso noturno que tanto

agradecia aos seus lençóis que suportavam tanta coisa nas noites frias de

agosto, sonhos agitados, pesadelos tortuosos, o gemer de seus prazeres,

o suor dos corpos estendidos, amontoados, suportava tudo isso e como

um cumplice, amigo fiel, criado mudo, jamais lhe reclamaria sossego

pelo amor de deus. E se jogava no seu leito como se não pertencesse a

nem outro mundo a não ser aquele embaixo dos seus lençóis costurados,

nem se quer esquentou seu prato frio, nem se quer lavou seu pouco do

Elvis, só queria adormecer, só queria se desprender do seu ventríloquo

racional, pobre boneco de pau envergado nem desligou sua tv, lançou

seus fios ao chão rebeldemente se desprendeu dos dedos enrolados, caiu,

dormiu, e logo se acordou com o dia.

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Quando as luzes se acendem

A mim se concedeu o entardecer as minhas pupilas

Declamavam-se verso após verso

Num poema tardio de amores escondidos

Raio após raio de azul celeste misturado ao sol cansado

Se deitavam entre as palmeiras, paredes, aos montes, aos prédios

Deixavam escapar sua sublime riqueza

Mostravam os céus suas retinas

E como num piscar já era escuridão

E as luzes dos postes se acendiam

Os carros desfilavam seus faróis

A cidade toda brilhava acomodada...

No frio do inverno mais belo tudo se torna

No frio da noite mais versos se escondem em seus poetas

Mais tristes se tornam as esquinas,

Mais belo se torna o que não é escrito

Mais vivo se torna o imaculado

Na vila Margarida, mais puro se torna esquecido

Nas horas que se perdem num instante

Ainda me deixo levar entre as ruas

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Mesmo as que fogem do meu olhar

Vejo pessoas indo, e voltando

Vejo os bares se abrindo

Os mercados fechando

E me sinto real ao tudo desde o início ao final

Das varandas, das sacadas, quantos mais se debruçam

Ou embarcam nesta viajem sobrenatural ao olhar

Queria poder explicar, ou apenas dividir meu delírio

Minha embriaguez dos sentidos

Declarar aos postes de luz, aos carros e seus faróis

As palmeiras escondidas nas sombras

A tudo que vive sem viver

E vive sem se perceber

Em noites, num entardecer

Passam despercebidos, sem muitos os notar

Poucos são seus amantes

E os que possam apreciar

Mais para mim existem lindos em meu olhar

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Estrada para se existir

A musica começou lentamente e baixa quase sem força de vida, andava a

passos curtos e cansados ouvindo distante o som que se propagava, que

desfilava com o vento, aos ouvidos dele, era calma e com um violão bem

tocado parecia notas tristes, de uma melancolia perfeitamente notável, o

musico que tocava era de um talento muito lindo e preciso em todos os

acordes que ele entoava com grande amor como se estivesse compondo

uma canção de amor a sua amada. E seus passos tortuosos, quase sem

força e com uma aproximação daquela musica, havia um pesar em seu

rosto tanto quanto havia barba em sua cara, havia sujeira nas suas roupas

tanto quanto havia dores em seu corpo, havia cigarros em seu bolso tanto

quanto havia sossego em seu peito, havia cadarços em seus sapatos tanto

quanto havia feridas em seus pés, e seus passos lentos que arrastavam

sua carcaça, havia força em seu corpo tanto quanto havia dentes em seu

sorriso, havia em seu ventre alimento tanto quanto poderia ter amigos, e

seus passos desesperanço-os. Mais ouvia musica, lenta, bela, linda,

arrebatadora, pensava calado, inundado em sua amargura, mais pensava

em que mesmo? Desejava sorrir ainda que sem motivo, desejava

descansar ainda que eternamente, queria sentar mais continuava

caminhado, para onde, tenho mesmo que chegar. O frio ainda bate na

pele surrada pelo tempo, a musica ainda soa em seus ouvidos, havia força

em seu andar tanto quanto havia vida em seu andar, havia dinheiro no

paletó marrom tanto quanto havia outros para vestir, mais haveria em si

desejo de existir, mesmo que apenas para ele mesmo, sabia que não

sentiriam sua falta, ninguém sente falta de indigente pensava aos passos

lentos de sua trilha sonora.

A estrada mesmo foge de seus pés, o silêncio, a saudade, a solidão, a

dor da morte, o dom da vida, a vida que lhe esqueceu, o uísque que lhe

aquece, o medo, o medo, o medo, medo do que mesmo, medo do que se

ainda tem a perder, e a musica que lhe acompanha, cabisbaixo caminha

em seu ultimo ato de existência, ouvindo sua musica, será que alguém

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mais ouvia, ou lhe observava ao longe, de uma janela, de um automóvel,

das arvores, dos arbustos, dos céus, ele pensava distante até dos seus

pés, pensava, distante do seu paletó marrom, de sua barba, de sua cara

suja, de seu uísque barato, pensava além do que lhe julgaram, pensava

distante do que lhe era evadiu, pensava nas horas que se perdeu em sua

memoria, pensava com força ouvindo o violão ao longe agora mais perto

de sua fraca audição, pensava em que passo errou o caminho, em que

passo errou o destino, em que passo perdeu seu eu e se rendeu indigente,

nem mesmo sabia onde estava, onde, onde, onde, agora olhava ao céu

tentado procurar, ou achar alguém, ou algo, ou um caminho, uma saída,

uma vida, uma morte, que tudo se acabe, que tudo se renda, nem mesmo

pode gritar, ou desabafar, caminha sozinho, o cigarro quebrado não

acende, o álcool acabou, a força também, os pés se renderam, os joelhos

também, o corpo despencou, ainda sente, seu corpo, suas dores, mais dói

o peito, do que a escuridão que lhe toma de pouco em pouco, trilhado

atrás de seu fim.

Ao asfalto um corpo que ainda ouve a musica bela, que canta seu final,

que sola sua vida se acabando, como um tic-tac em seu coração, conta os

minutos que ainda pulsa em seus ouvidos, tudo se torna um, o pulsar, a

musica, o frio, o céu, o cigarro quebrado, a garrafa de uísque vazia, os

lábios que se contraem, a escuridão que lhe cega, o medo, o medo, o

medo, medo de que mesmo, medo de não se encontrar até o final, mais já

era o final, no chão com a mão ao peito escondida no paletó marrom, de

cara colada no chão, o cessar do coração, ainda parece ter vida em seu

olhar, ainda a brilho, ainda tenta resistir, a musica ainda toca, mais não

tocava mais, o então geme, o céu chora em dor, o frio esquenta o corpo

caído, jogado, como ninguém, chorou uma lagrima, fugiu na verdade,

rolou a garrafa, correu o cigarro, o vento o levou, e ainda brilha o olhar, a

musica ainda toca mais distante.

E distante se aproxima cheia de luzes, correndo trazendo vida, o socorro

mais preciso, na hora mais exata, era alguém, finalmente era um homem,

o homem caído de barba suja, e paletó marrom, desabou em silêncio,

jogado nos braços, encontrado no asfalto, ainda respira, ainda existe vida,

fraca em suas veias, mais o uísque havia acabado. A escuridão se foi, a

musica também, mais havia luzes em seu olhar tanto quanto havia vida

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em seu peito, havia roupas limpas tanto quanto havia um prato para

alimentá-lo, havia um leito tanto quanto havia seu lugar para descansar,

havia sim um rosto renascido, revivido, tato quanto havia barba sem

fazer, havia os pés descansados num sono profundo, havia um teto a sua

cabeça, havia um novo inicio para ser escolhido. La num prédio com

muitos como ele, também andam sozinhos, sorriem abandonados,

comem e dormem ouvindo o silêncio, e quando precisam também se

falam para que tudo se torne um, para poder resistir choram quando se

declaram, e se encontraram quando se renovam.

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Um momento na eternidade

Escolho um momento a uma eternidade

Eternidade é muito e cansativo

O momento é único e surreal

O momento é vivido sem medo de consequências

A eternidade é vivida com cautela

O momento é intenso entre dois corpos

O eterno é calmo em seus deleites

Escolho não ser de todo feliz

Felicidade de mais é falsidade

Escolho também ficar a sós comigo mesmo

Sempre estar repleto de pessoas por mais amáveis

Acaba se perdendo sua restrição

Escolho ler um bom livro ao sentar em frente a tv

O livro muito se ensina

A tv muito confunde

Escolho o silêncio dos meus lábios ao falar o que não tem importância

Escolho o silêncio dos meus ouvidos ao ouvir o que me aborrece

Palavras sabias são um tesouro para quem quer enriquecer sua

inteligência

Palavras vans cooperam para a tolice do homem

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Escolho a pureza do vinil

Ao invés da facilidade de outros

Escolho a poesia da verdade

Do que a falsidade da mentira

Escolho e re escolho aprender todos os dias

Com meus erros, e com minhas escolhas

Do que me perder em minhas loucuras

Escolho a loucura de me render ao amor

Do que a sanidade de não acreditar em quem me ama

Escolhi meus amigos em sua sinceridade

Não os que me sorriam a todo o momento

Escolhi me moldar em pequenos momentos

E não ser um único eu na eternidade

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O conto de linhas escritas

Era apenas um simples escritor, não um grande escritor apenas um

escritor normal desses que escrevem por prazer, por amar o que se faz,

um homem encontrado nas palavras, nas linhas, nos sentimentos de

escritor, de homem feito, de barba na cara, óculos nos olhos, roupas meio

gastas, e um livro a escrever, como muitos somos um só nos versos

poetizados, ou nas linhas percorridas com amor, com tudo oque se sente

em muitos momentos que se escreve, que se para enfrente ao Word no

computador, ou na folha de papel, ou na maquina Antígua de escrever, e

escrever suas fotografias, suas memorias, seus amores, suas dores, digitar

suas lagrimas, escrever a angustia no peito, o ar dentro de seus pulmões,

passar a quem queria conhecer suas sentimentalidades, tais verdadeiras

tanto quanto se imagina, o olhar de um homem em mulher, o andar

cansado, morno beijo dos lábios, o mesmo dia, o mesmo sol, a mesma

noite solitária, cheia de contos entre as sombras na sala de estar, seria

pecado se contar as horas deixadas nos cantos de cada cômodo

abandonado no coração, seria sim outra fabula cheia de temores, e

amores, mais seria outra hora no teclado em outra historia linda e cheia

de si próprio em cada letra gravada nas paginas, na vida de um simples

escritor, não como os grandes, Clarisse Lispector, Caio Fernando Abreu,

Paulo coelho, Byron, Shakespeare, não apenas um simples escritor, de

simples poemas, simples crônicas, contos, romances, apenas um simples

homem de poucas palavras, de poucas memorias, de pouco muito vivido.

E como eu me encontro em cada palavra digitada na pagina em branco,

cada pedaço de mim, de homem que anda de ônibus como se anda no dia

a dia, de homem que viaja nas horas perdidas, nas manhãs pregrisosas e

colossais, nas noites em claro, nas ruas que se vão ao longe dos meus

olhos vermelhos, da noite mal dormida, dos pés cansados da caminhada

que se tenta a cada dia vencer, em vão com certeza, mais me encontro

novamente em uma esquina, em um farol, parado olhando ao longe, o

céu azul e sua grandeza, sua solene beleza eternamente límpida, me

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encontro em cada olhar de homem triste, solitário em muitos momentos,

que se anda com as mãos nos bolsos, passo a passo num caminho a outro

dia trabalhado, outra manhã começada ou melhor arrancada do leito, de

meu pântano particular de sonhos e pesadelos, de novas historias, novas

crônicas e poemas de um simples escritor, não um grande escritor apenas

um escritor normal, desses em que ainda tenta aplaudir seus próprios

versos, mais em algum momento se encontra novamente, e mesmo assim

ainda se esquece de si mesmo.

Um homem só de muita solidão em meio a tanta confusão de vidas

agitadas e solitárias, continuo me fazendo em cada pagina escrita, e

escrita em baixo das águas que caem do chuveiro, dos momentos de café

ao fim da tarde cheio de lugares em minha memoria, em lagrimas

contidas a cada verso que se escrevem sozinhos numa tentativa de fugir

para algum lugar seja qual for ele, dor, angustia, medo, escuridão, o sol

das manhãs de outono, o reflexo das lentes do óculos pelo vidro da

janela, em tudo um pedaço de escritor, um pedaço de homem, um pouco

de cada conto registrados em cada texto, cada lugar contido uma nova

historia, nos livros empoeirados no criado mudo cheio de paginas

marcadas com marca livros da biblioteca, cada musica repleta de tristeza

e melancolia e confusão, tudo outra vez faz de um homem um escritor,

não um grande escritor, apenas um escritor desses comuns que apenas

quer escrever para ser lembrado por algo, ou admirado por alguém que

leia suas linhas escritas em sua pele.

Pele de homem ou mulher, ou criança, ou mentira, ou verdade, ou tudo

que se destila da vida que se aprende a viver desde o momento em que

percebe que é preciso viver, procurar um canto qualquer para se

esconder já não é mais o suficiente para recomeçar, um novo dia, e

mesmo assim acordar num momento e perceber que já é homem e der

repente se perder novamente em outro mundo, mundo de cores e

lugares, ruas, estradas para lugar algum, uma terra de ninguém onde

ninguém é o que realmente é, ou todos são aquilo que representam ser, o

que apenas quero dizer é que sinto a vida como um ato, um ato atrás do

outro em uma sequência que pode ser alterada, ou modificada conforme

mudas os personagens que aparecem a cada capitulo escrito, um ato após

outro. Como num final daqueles seriados americanos em que tudo se

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revela ou desaba com uma música triste tocando e a chuva caindo, um

seriado que muitas vezes acaba e recomeça no outro dia, no dia em que

outras linhas serão escritas na vida de um escritor que não é um grande

escritor apenas um escritor comum como muitos com seu valor, cada um

tem seu valor, nos romances, nos poemas, no ultrarromantismo, nas

crônicas, e em todo resto, muitos homens e mulheres de grandes dores,

grandes amores, grandes crises existenciais, grandes sonhos, e grandes

ideias, outro e após outro que vira que sonhara que sentara em frente a

pagina em branco e escrevera muitos contos e historias que encantaram

gerações por décadas e mais décadas, e eu, ou ele, ou nós, continuaremos

sendo apenas escritores mais não grandes escritores apenas escritores

que sonham, e fumam cigarros, e se embebedam, e continuam

escrevendo sem parar seu mundo particular e único, compartilhando seus

segredos e medos a quem buscar seus próprios caminhos nas linhas e

palavras, e poemas, escritos por simples escritores como eu.

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Ainda tem sedes de mim?

Sempre se sentava em frente a praia no cair da noite, olhava os navios

navegando silenciosos nas aguas escuras oceânicas de Navegantes, ficava

observando as águas inquietas banharem as areias frias, molhava os pés

um pouco, calçava as sapatilhas vermelhas, vestia a blusa de fio preta,

arrumava a saia de bolinhas, sentava num banco de concreto, e se perdia

num mundo que nem ao menos conhecia bem, mais se entregava por

inteira, se sentia segura, corria na areia, de braços abertos, sentia o vento

no rosto, e parava, parava, parava, se entregando, ela nem se quer

conhecia realmente, ou entendia realmente oque sentia ali, mais sabia

que sentia, talvez sentia se livre, ou presa a areia fria, congelada como um

iceberg ilhado e a sós, a sós, ou distante, talvez até se sentia parte de

tudo aquilo, da areia, das aguas beijando a praia, do vento que jogava

seus cabelos ruivos, sentia sim alguma coisa dentro de seu peito, mais

bem lá no fundo onde nem um homem jamais a tocou, ou algum amor

chegou, onde habitou seu vazio, se enchia, ou inflava, ou era tomado pelo

vento, furação devastador a jogava de um lado para outro, insana a

vontade do vento tropeçava em seus pés, ruía os joelhos, desabava,

sorria, se moldava na lama salgada, deixava suas marcas na maré que a

levava para longe, cada vez mais longe, carrega uma parte de seus pés, de

suas mãos, de seu sorriso, de seus cabelos, emprestava sua alva pele as

suas águas azuis, misturavam se tornando celeste, sempre contava suas

cores trocava o castanho do seu olhar pelo tom anil das aguas mais

distantes, lhe doava seus cabelos avermelhados entronca das cores do

alvorecer.

E se sentava na areia, molhava os pés na maré baixa fitava o sol

acordando devagar, não se deixava distrair um momento, observava

atônita cada raio dourado aquecendo seu corpo quebrando o frio

noturno, já via o farol se apagar, já se rende a luz clara do dia, e os navios

que desfilavam nas correntes traiçoeiras, mais não estavam a deriva,

estavam em seu caminho, buscavam seu trabalho, homens d'águas,

águas, ondas, ondas nos olhos, que veem, descansam do sol, viam e não

se casavam de ver o porto carregado dos pescadores e peixes, carregado

de alegria e de tristeza," onde habita o amor habita ao lado o pesar,

onde habita o sorrir esconde em si o chorar, onde vive a força guarda a

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sete chaves o ultimo suspiro " Suspiro solitário brota dos pulmões enche o

peito e foge, se perde como o soprar do vento na praia, voa, voa, foge

com sua bagagem dos temores, do silêncio, das águas do mar, do oceano,

e amanha será outra vez o vento que leva o sopro de vida, leva o grito do

desespero, leva o sorrir, o cantar, leva as horas que já não são mais as

mesmas, levam as águas que já não são mais as mesmas, levam Atenas,

dos deuses, a libertam na praia dos Navegantes, Atenas não pede socorro

se rende ao tempo, a brisa, ao mundo, desfila descalça, ou de sapatilhas

vermelhas, não mãos ou nos pés, distante, correndo, livre, ou liberta, de

saia de bolinha, blusa de fio preta, ainda se perde nos dias.

Mais quem é?... Dos cabelos rubros ao vento, passos lentos se sentem

mais perto de tudo que a preenche, quando as águas tocam seus

tornozelos, se sente fria, morta quem sabe, sente, e sente cair, ou rolar,

ou molhar, pede socorro, ao vento não leva, agora traz, traz a lembrança,

os beijos, os dedos na pele alva emprestam as águas do seu olhar ao mar,

mais não se pode chorar como o mar, Atenas, seus braços se abraçam

vazios, mais apertados, sentem a falta de outros abraços, socorro pede o

seu coração, diante do mar, diante das ondas, levam suas dores, suas

saudades, seus beijos, a quem não mais beijou, não mais existiu, partiu

como o mar que se vai e nunca mais voltou. Mais se sentava na areia de

saia de bolinha, de blusa de fio preta, sapatilha vermelha, e se senta

esperar, esperar as águas, esperar as ondas, esperar o seu vazio se

preencher, esperar a noite cair, o farol se acender, o silêncio nascer de

novo, e seus olhos adormecerem quietos.

E se perde, em sua ausência, sem socorro, nas pálpebras celadas, no vazio

do peito, deitada, Atenas, sobe ao Olimpo, se refaz deusa, sem vento,

coberta a maré, sem socorro das águas, nem sente o frio, nem o sal do

mar, ou os braços congelados, nem sol que já não mais aquece a alva

palidez, mais ainda tem sedes de mim ? a saudade, ou o mar, ou o

desejo, já não sente nada, nem o medo, mais encontrou seu lugar, já não

corre mais na areia, nem leva em sua memoria sonho algum, nem a dor

em seu peito, nem foge de seu corpo o suspirar. Mais se faz parte da

areia, das ondas, das marés, do vento, da saudade, Atenas dorme serena,

dorme em paz.

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Entre a janela e o seu fim

Na cadeira, de frente a janela, definhando, abandonado, ou esquecido, sei

lá, nem me lembro de como vim parar aqui, ou não quero me lembrar, ou

talvez esqueci mesmo, me acostumei a guardar para mim mesmo meu

mundo particular, e me perdoem, ou melhor que se danem os abertões,

escancarados, esguelhados que estão acostumados a abrir sua vida a todo

mundo, beberrões embriagados de voz escandalosamente alta e narizes

escorrendo sua sujeira misturada as lagrimas que lavam sua merda de

vida, e me desculpem por ser tão bruto, é que me acostumei tanto a

solidão dos aposentos cheirando a morte e a penicilina que não consigo

me expressar normalmente sem ser um tanto bruto em minhas palavras,

pra ser sincero quase me esqueci de como é falar que quando preciso

minha voz sai praticamente gritando. Mais pra ser sincero sempre

preferi a solidão do silêncio do que o caos da ignorância, das palavras

que saem destruidoras como uma metralhadora de sentenças erradas, e

palavras mal ditas, e justo eu que sempre fui um admirador fiel do bom

dialogo, sempre li muito, e muito aprendi nas paginas e linhas de Caio,

Clarisse, Paulo, Poe, Fausto, entre outros, e me surpreendia cada vez que

fazia alguma coisa em que lia em algum livro, uma vez até tomei uns

cogumelos por ler que causava algum efeito na mente e posso afirmar

que causa umas sensações bem alucinógenas,... Mais na verdade sempre

me encontrei em muitas letras. Mais na verdade eu mesmo sempre

preferi me trancar em minhas questões existencialistas até porque acho

que ninguém entenderia meu ser ou não ser, e minha questão.

Quem sabe seja em umas dessas crises de mim mesmo questionando a

própria existência do eu, tu, ele, nós, e assim por diante, em fim talvez foi

assim que vim parar aqui, no começo até parecia um bom lugar para se

decompor ao sol da janela em que estou sentado, aqui tem alguns

quadros parece da renascença, uns moveis antigos, umas belas

enfermeiras de uniforme justo, e também o ar anos 20 ou 40, por ai a

fora, um ar de antiquaria que eu encontrava apenas nas barbearias, mais

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não dos salões de cabelereiros, apenas nas barbearias mesmo e correndo

o risco de parecer machista apenas nas barbearias tem o ar homem de

ser, mais voltando a minha mesmice matadora sentado na frente da

janela quase podendo ouvir os vermes corroendo minha carne, parecia

ser um bom lugar para se entregar à Ades, mais com o passar do tempo

foi se tornando um verdadeiro pé no saco, e bem no meio onde

realmente dói, tudo igual, as rotinas costumeiras, acordar as 6 tomar os

calmantes, almoçar ao meio dia em ponto, começar os exercícios as uma

da tarde, tomar um pequeno café as três, e jantar as 7, e por fim dormir,

mais e se eu tivesse fome no intervalo do café ao almoço, ou quisesse

tirar um cochilo depois dos exercícios ou não fazer os exercícios ou não

tomar os calmantes, sei lá me da tédio só de pensar na mesmice, um dia

dei um tapa na bunda de uma enfermeira e quase me mandaram para a

terapia de choque, mais foi bom me deu um pouco de adrenalina, mais

tudo voltou ao normal depois de uns dias. A noite eu costumo cuspir os

remédios para o sono e fico acordado escutando os sons noturnos alguns

até metem medo, mais não para um velho arquejado mesmo quando se

deita.

Sei que sou um tanto chato ou completamente chato, outro dia uma

bendita voluntaria foi me servir o almoço e reclamei que a porcaria da

sopa estava fria e a gorda importuna me disse que eu era muito reclamam

e ranzinza e que eu deveria sorrir um pouco, sorri pra ela com o maior

sarcasmo debochado que alguém pode sorrir, e poderá um homem de

oitenta anos que parece ter cem, com a cara toda enrugada e pernas

fracas e esqueléticas braços cheios de veias roxas, olhos caídos e pele

flácida teria que andar sorrindo por ai ? á me perdoem novamente os

arreganhados que doam seu maior sorriso amarelado a todos que lhe

olham, pelo amor de deus me poupem de tais futilidades, fui trabalhador,

honrei minha família e fui belo na minha mocidade, mancebo formoso de

olhos castanhos profundos, agora me resta apenas o resto do que fui no

passado, e me perdoem se não sorrio nem me ando desfilando simpatia a

todos tenho o maior direito de me fechar e de reclamar e de me entregar

á espera árdua da dona foice da vida, mais procuro o fim dos meus dias

do que um novo amanhecer, todos os dias são iguais a muito tempo e

daqui em diante serão mais iguais ainda por isso espero a morte ao

menos não a conheço ainda, e ando mais irritado do que antes, antes

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ainda tinha minhas ervas finas para me acalmar agora nem isso, e penso

que não quero epitáfio em minha cova, nem cruz, apenas uma vala no

chão com 7 palmos, sou velho eu sei e não quero ninguém indo perturbar

meu descanso com lamentos de que deveriam ter ido me ver antes em

minha vida, nem quero dar esse desgosto aos meus ouvidos, por isso nem

me dei ao luxo de me esperar os poucos entes que ainda me restam,

apenas espero o amanha incerto depois de tanto tempo de vida já não a

muitas incertezas e minhas certezas não esperam muito do incerto, mais

se esta não for meu ultimo crepúsculo já sei que o nascer do sol será da

mesma maneira de como sempre foi desde que passei a existir.

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A trindade

Deslizava os dedos nas teclas do piano perfeitamente, o pianista cego

tocava Jobim na sala bem arrumada que não tinha televisão nem estante

apenas uns sofás todos pequenos daqueles de dois lugares, um tapete

que parece ser persa bem no centro da sala, uns quadros todos

ultrarrealistas, umas mascaras que pareciam de mitologia e o piano é

claro, no tapete estendida ao chão a estudante de óculos com um livro

nas mãos lia calmamente, sempre lia muito, gostava de ler ouvindo o

piano as notas agudas estimulavam sua imaginação e as graves a fazia

voltar a realidade, gostava de bossa nova mais preferia jazz pedia ao

pianista cego que tocasse Mile Daves ou Fitzgerald, ou Frank, mais a bossa

continuava, na janela uma mulher bela de belos cabelo Chanel preto liso

de batom vermelho bem maquiada fumava ao vento que entrava e

questionava a estudante viciada em leitura e explicava que Jobim era

muito bom e acalmava os seus nervos de fumante, e fumava abstrata na

janela, o pianista cego de dedos longos e finos que nem se quer titubeava

com o dialogo das duas na sala, não eram uma plateia muito agradável

nem sabiam fazer silêncio embora não tivesse muito efeito sobre o

pianista cego de dedos longos e finos, a estudante de óculos viciada em

leitura lia Poe e vibrava e se arrepiava e se assustava e até parecia fazer

parte dos contos sombrios do ultraromantista que tanto ela admirava

sempre lia e até tinha tatuada o corvo em Never More no ombro

esquerdo, a mulher bela que fumava também tinha algumas tatuagens

nos braços, belas mulheres pin-ups, filtro uma grande caravela, um farol,

e os desenhos a deixavam mais sedutora do que enquanto o pianista cego

finalizava as ultimas notas de desafinado, as duas fizeram silêncio

apreensivas o inicio da nova harmonia e sorriram quando o pianista cego

de dedos finos começou a nova harmonia, a mulher bela fumando na

janela interrompe o trago bruscamente e fala com a boca cheia de fumaça

essa é linda.

A estudante viciada em leitura ultraromantista arrumou os óculos e falou

intelectual- Hum... Muitas notas harmoniosamente bem colocadas, lindas

musicam mesmo, a mulher bela fumante entrou no assunto- Como é

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mesmo o nome da musica?- Hum... Mstr Bojangols, sim é isso mesmo. E

sua voz soava rouca e baixa entre a fumaça saindo dos lábios vermelhos a

fumaça se formava abstrata diante dos olhos profundos castanhos, o

pianista cego continua tocando com seus dedos compridos e finos, a

estudante viciada em leitura mal assombrada deixou o livro de lado

sentou no tapete persa e falou que tinha que ouvir mais o jazz vocal

porque a deixava tranquila e sempre foi uma grande fã das grandes

cantoras de jazz do passado, a mulher que fumava concordou com o fato

das grandes cantoras, acrescentou que no Brasil tinha varias como Elis,

Dalva, Nana, mais que amava Dolores Duran, - Dolores vivia a emoção de

cada musica que cantava em nem uma cantora da atualidade eu encontro

essa emoção tão pura em cada nota, e como ela cantava as canções da

Edit Piaf... O pianista cego interrompeu as notas bruscamente abaixou a

cabeça e falou que ele nunca havia conhecido o mundo da mesma forma

em que elas conheciam, ele apenas ouvia e ouvia emoção em cada tom da

voz de um homem de uma mulher, ele disse que uma mulher como Elena

tinha em sua voz algo que convencia as pessoas, seu tom baixo misturado

a uma rouquidão usada de uma forma correta, ( e ela usava) poderia

conseguir o mundo, mais as pessoas poderiam dizer oque sentem em sua

voz mesmo não querendo dizer nada do que sente, um senhor de muita

idade na maioria das vezes fala com um tom de tristeza, uma estudante

cheia de planos e ambições pode falar como um pássaro numa gaiola tem

muito a voar mais as vezes se prende em si mesma.

A mulher que fumava na janela de voz rouca sedutora olhava o pianista

sentado em frente o piano calado e viajava em seus pensamentos fitava-o

como se quisesse desvendar seus segredos, sua escuridão pensava... - tão

plena é a escuridão nos olhos de um cego, uma imensa escuridão não ha

limites na escuridão nem medos de mais nem distancias demais ou

lugares de mais ou de menos, e olhava os olhos sem vidas de pianista

cego, o silêncio da sala foi quebrado pela voz da estudante - Mais toca

mais eu estava num momento de tensão da " A queda da casa de Usher "

toca mais agora toca Melody Gardot, o pianista cego sorriu e voltou a

tocar, mais tocou Ornette Coleman, e enquanto a moça de Chanel liso e

preto, batom vermelho e lábios bem desenhados acendia outro cigarro,

ninguém falava contra o seu vicio, todos tinham vícios, a estudante era

viciada nos contos de terror de Poe, nos poemas de Alvares de Azevedo,

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em Byron, Casimiro de Abreu, o pianista era viciado nas teclas do seu

piano tão preto quanto seus olhos, sem contar que toda manhã e fina da

tarde degustava um copo de vinho tinto suave, degustava, e era assim

que o pianista via, e via sempre, com sua lingúa, com seus ouvidos, com

suas narinas, e se sentia bem assim, sempre lembrava de Homens como

Camões, borges e sua ironia " A vida que nem deu a palavra me deu

também a escuridão, e tocava seu piano com seus dedos longos e finos

claros, sempre nas tardes quando uma fumava cigarros, outra lia

constantemente com seus óculos arredondados, com suas teclas

amareladas, com seus cabelos chanéis pretos e lisos e com suas vidas de

fim de tarde e vinhos tintos.

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Escape

Era quase meio dia no banco de madeira gelada e rígida com as mãos

junta entre as pernas cabeça meio abaixada olhar fixo ao chão, distante

em seu mundo não falava a ninguém ou respondia a qualquer um que

chamasse nem se quer percebia os olhares desentediados, risos

preconceituosos, deboches, crenças, pessoas são estranhas julgam, se

surpreendem, se comovem, se entristecem, mais na maioria das vezes

não fazem nada a não ser olhar, seus sons dos lábios apenas balbucios,

vozes, apontam, riem de novo, malditos, malditos, gemer, gemer,

malditos, malditos, apontam, sorriem outra vez, as velhotas observam ao

longe assustadas, os fones são sua proteção com a musica calma, gemer,

gemer, quem são? Por que estão rindo? Por que apontam?

Malditossssssss... Gemer, gemer, os fones não são altos o suficientes,

mais onde estava, a mulher que lhe esqueceu ali, será que fugiu, havia

lagrimas em seu rosto, mais era menino, e gemia, assustado, o corpo

balançava freneticamente, carecas malditos, malditos, tiram os fones, o

chutaram, haaaaaaaaaaaaa, gemer, malditos, malditos, carecas,

empurram, puxam, cutucam, carecas malditos, menino assustado, grita,

chora, gemer, gemer, carecas zombadores, senhoras, senhores, alguém,

mulher com as lagrimas, mundo que gira, não abra os olhos, mulher,

mulher, lagrimas, fones caídos, coelho macio roubado voando longe,

carecas malditos, malditos, gemer, gemer, senhoras loucas, o corpo

balançando freneticamente, desespero, mundo gira, não abra os olhos, os

fones, seu escape, senhoras chorando ao longe, homem estranho mais

tem cabelos, empurrado, caiu, carecas malditos não chutem, não chutem,

não abra os olhos, os fones caíram, o coelho fugiu macio, a mulher fugiu

nas lagrimas, mulher, não mãe, não abra os olhos, balance o corpo

frenético, gemer, gemer, carecas malditos, homem caído, imóvel,

vermelhidão, senhoras gritando, balança o corpo, grita, grita, gemer,

gemer, fones ao chão, a mulher fugiu e os coelho chorou macio nas

lagrimas.

Senhores apontam carecas malditos os fones no chão não abram os olhos,

filho, filho, malditos, as mãos apertam, vermelhidão escorre, cabelo ao

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chão, coelho voando, lagrimas de abandono, dor no corpo caído, não abra

os olhos, não abra os olhos, não tire os fones, tome o coelho, o corpo

balança, balança freneticamente, senhoras chorando apontam também a

mulher não existia ali nem as lagrimas, nem os fones, ou os olhos abertos

inertes em vermelhidão, nos cabelos, na calçada, barulho cantando, os

fones no chão, os homens correndo, carecas malditos, malditos, gemer,

gemer, bater, morrer, morrer, chorar, correr, correr, acabou as forças os

joelhos sangram, os cotovelos também, a mulher correu sem lagrimas, em

lagrimas, fugiu sangrando, fugiu em prantos, o corpo caiu os fones

também, fugiu, não abra os olhos, canta, canta, seu desespero, menino

estranho, de amores estranhos, de olhos estranhos, de fones estranhos,

não fala a ninguém, abandonado sozinho, fugiu também, em sua mente,

em seu mundo, ainda existem fones, não joelhos sangrando, nem a

mulher foi embora, não grita, não chora, com calma, com alma, também

ama, ama a mulher chorona, mais não entende, por que se foi, por que

levou com ela apenas as lagrimas, desalento, solidão, abandono, joelhos

sangrando, os cotovelos também, o coração também, mais sentado

sozinho à noite, ninguém por perto, balança o corpo abandonado, sem

fones, sem coelho, sem mulher que chora, sem seu amor, que foge em

lagrimas, mais o deixa em lagrimas também, mais procura o caminho de

seu ser, em seu mundo um mundo só seu, seu, sem carecas, ou corpo

caído, joelhos sangrando, nem cotovelos ralados, mulher que não se foi,

não tem lagrimas, senhora, calma, de voz cansada, menino, menino, tem

frio? Fome? Medo? Eu te levo para casa, mais não, não, balança devagar,

não abra os olhos, prefere seu mundo, seu mundo. Seu mundo.

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Silêncio em Cores

“Isto já está com você, sempre esteve,

tem que aprender a apreciar e se encantar com o mundo,

a sentir não só sua tristeza a tristeza do mundo,

não só sua alegria a alegria do mundo"

Kamila Batista- O encontro das pedras

É o mundo, a vida, o tudo

O que se vê ao longe no final do horizonte

Os dias terminando num entardecer

O outono sereno derrubando sua beleza

O dia sorrindo celeste

O mar cantando apaixonado

Os passos lhe ditando a direção

Os olhos lhe contando a perfeição

O novo, o velho

O amar, o sofrer

O dom de conhecer no oculto o mais belo escondido

O andar flutuante em vias saldosas

O alvo sublime das plumas perdidas

O voo mestral da rapina liberdade

O soar do inconfundível coração

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O som que pulsa em outra canção

Será o hoje em que quero sonhar

Será o agora um novo acordar

Acordar em um novo sol

Outro abraço eterno

Mais um filme rodando em milímetros

O preto no branco

Nem uma palavra

E muito foi dito

Menino vadio

Pequeno Carlitos

Mais sobrevive

Amanhã em Caio

Manhã em cores

Perdida no tempo

Em um tempo perdido

Mais nunca esquecido

Em um mundo, uma vida, um tudo no nada.

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Outros nomes, outros abraços

Um complô pensava anestesiada

Um alguém me observa atônito

Ao longe um pedaço de mim

De perto um constante em fim

Mais sofreu, sofri, e quem pensava

E quem imaginava os lábios secaram

Ela era eu, eu era nele, ele seu único

Ela sonhava meu sonho

Eu vivia sua realidade

Ele andava em nossas almas

Amor dividido em historia santa

Dos amores o qual era segredo

O qual era o verdadeiro

Ela o via de olhos fechados

Eu o via de todo um só meu

Nós estávamos em sua canção preferida

Um todo entre corpos

Suados, beijados

De lábios macios, boca mordida

Suas mãos desfilavam nos corpos

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O meu e o dela

De quem era ele?

Nem meu, nem dela

Era apenas dele, era todo nosso

Usávamos, seus músculos, sua vitalidade

Era nosso guerreiro fiel

Eu era ela, ela era eu, ele era um

O meu, amante por inteiro

Dela homem, outro alento

Dele nosso, nossos peitos

Éramos três como um todo só

Éramos em fim o final concreto

O mais certo para o incerto

E o incerto deixa marcas tatuadas

Mais chega sem avisar

Mesmo sendo certo que chegará

Deixará o final mais completo

No colchão sentado com suas magoas

E será outro amante o amante menino

Será ele esquecido nos braços de alguém

Outro alguém, em que alguém

Ele será eu, eu serei ela, ela será em nós

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“Aos boêmios, aos loucos, as noites eternizadas, as esquinas

geladas, aos contadores e poetas, aos amigos e aos momentos

de insanidade mais plena de nossas sanidades alcoólicas...”.

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A estação e a saudade

Era assim, a estação e a saudade.

Nas paredes, outras pichadas

Nas saudades escritas em paginas

Numa vida a historia, nas historias outras marcadas

Entre nós, passamos ali

Cantamos ali, choramos ali

Dormimos ali, acordamos ali

Dos muitos poucos existiam em si

Existiam por assim não apenas existir

Existiam em dentro de si

Outros mais apenas estavam

Mais estavam por ali, sim!

Mais por ali apenas ficavam ali

Quebravam-se como caco

Caco de garrafa de vodca barata

Caco sem vida transparente

Caco quebrado, apenas quebrado

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Era em noites frias, molhadas

Éramos todos por ali

Em bebidas quentes existíamos

E passávamos por ali, noites

Iluminadas pela lua dos postes

Entre todos éramos loucos,

Insanos, os novos boêmios

A nova juventude transviada

Não a mesma de James Dean

Mais a nossa, com existencialistas

E como cacos de garrafa quebrados

E estamos na saudade da estação

E vivemos em estação da saudade

Cada um, um pedaço de vida na ultima estação

A ultima estação cheia de saudade

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Seu mundo e a verdade

A luz baixa parecia de velas, paredes sujas, o vinil tocando ao fundo,

cigarros nos lábios, uísque em cima da mesa, cinzas por todos os lados, e

o homem sentado no sofá vermelho com os pés erguidos de olhos

fechados parecia viajar as belas notas do saxofone, chapéu na cabeça,

paletó cinza, sapatos marrons, colete por baixo da camisa branca, homem

de uma época distante, as vezes passava horas ouvindo " Coltrane "

sentado em seu sofá aveludado, despreocupado sempre de olhos

fechados como uma espécie de transe, ou uma maneira de se desprender

de sua realidade, jogava pôquer, contava suas cartas sozinho, tinha

poucos amigos apenas o suficiente para lhe fazerem companhia quando

queria e para lhe deixarem a sós com ele mesmo quando se cansava, e se

cansava com muitas coisas, mesmices, poucos assuntos, as vezes se calava

em meio os colegas, as vezes se calva dentro dele próprio, se calar, se

distanciar, tinha seus motivos ou não, nem se importava, as vezes so

perambulava pelas esquinas lembrava de " Naima 1965 " mais nem era

tão velho assim aparentava uns vinti'seis, mais tinha uns vinti'um,

provavelmente era a barba sempre por fazer, o estilo que o inspirava uma

espécie de "SteamPunk " fumava cigarros caros, bebia bebidas baratas,

ouvia Amy, cantava Tom, deixava a roda de amigos sem se pronunciar, se

pegava sentado em seu sofá novamente de olhos fechados, dentro de si

em notas melancólicas, blues, jazz, se transportava para outras épocas,

vivia assim, sempre em outros tempos mesmo calado, trabalhava num

sebo onde passava a maior parte do tempo dentro de sua cabine

telefônica particular de viagem no tempo, livros, Nietzsche, Freud,

Platão, adorava os filósofos, amava os mundos que eles viviam absorvia o

mais utíl a sua vida dispensava os que não lhe eram conveniente, sua vida

talvez não servisse de exemplo para ninguém mais servia muito bem para

ele mesmo com certeza era assim sua vida, sua vida, vida, vida, soava

tremula e incerta ao seus ouvidos, chegava repetir varias veses, vida,

vida..., respirava fundo, se olhava no espelho, os dias se passam pensava

passando a mão sobre o rosto, e passavam de verdade, rápido, veloz, a

vida, vida, vida.

O que lhe cercava “O mundo” Por assim dizer, era na verdade... A vida,

vida que lhe diz o que fazer, que lhe obriga a sonhar o que lhe é imposta,

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vida que lhe diz até o que fazer de sua própria vida e quem sabe da que

um tempo lhe dirá até como morrer, e o mundo, bem o mundo era sua

utopia, apenas uma fantasia sei lá, um chapéu ou um colete não o faz

diferente dos outros apenas o faz ser notado mais talvez por não seguir a

tendência estuarias da semana o que o faz diferente é sua utopia, ou seu

mundo, ou sua vida, vida, vida, não se rende aos noticiários

sensacionalista, nem as revistas escandalosas, não se resume a tendência

imposta, busca nele o que outros nem se quer percebem dentro de si, da

ouvidos aos seus ouvidos, deixa suas opiniões se disserem, sua ira o tomar

para defender sua vida, sua utopia, muitos ja fizeram assim, e foram

grandes, foram notados...por ele, por gente como ele, não obrigados a

fazerem estudo em paginas como ele viu, mais foram notados por quem

também de certa forma buscam ser grande, ele sentado em seu sofá

aveludado vermelho de perna para o ar, de chapéu e colete busca sua

utopia ouvindo jazz, fumando seu cigarro, bebendo uísque barato, se

calando para ouvir melhor e quando for preciso soprar forte contra a casa

dos porcos desprevenidos por construírem suas casas fracas e pobres, e

não se sente culpado por devorar vorazmente os fracos que poderiam ter

também se preparado e construídos suas casas mais resistente mais

preferiram perder tempo com coisas fúteis.

Todos nascemos da mesma maneira nus, é bem verdade que nem todos

tem as mesma oportunidades, mais todos nascem em lagrimas e aos

berros, todos nós temos uma vida, vida, vida, ainda que soe tremula e

incerta, e todos aprendemos a lutar, não quero parecer presunçoso ou

medíocre, ou um canalha, ou um vadio, ou quero passar qualquer

aparência pejorativa, mais talvez seja isso mesmo e seja mais seja a utopia

cheia de cigarros, uísque, cinzas, sofás vermelhos de veludo, chapéus e

coletes, seja tudo um lobo que sobra uma torrente de filosofias decoradas

ou aprendidas e gravadas e reformuladas para lhe servirem de espada ou

de ventania, ou de politica, ou de conceito próprio para meditar

ouvindo Nina Simone, ou Melody Gardoth, e quem sabe ensinar alguma

coisa, ou formar outras utopias ou distanciar ainda mais a realidade da

utopia, ou quem sabe até unir mais a fantasia a verdade, os contos as

vidas cegas, mudas, e surdas. E ele... ele esta sentado em seu sofá de

veludo avermelhado com seu cigarro seu uisque barato de pernas para o

ar se perdendo em sua utopia jazzista como nunca se perdeu antes.

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As cinzas da quarta feira

Ultimo instante de fantasia entre ruas brilhantes mascaras tambores e

sardões e euforias e amores que se acabam em cinzas de quarta-feira de

ressacas, desamores, lagrimas entre soluços, vidas perdidas e encontradas

em outras vidas e quem dera talvez encontrar em alguma tragédia minha

comédia ou em alguma comédia uma tragédia que pudesse dar um ar

vivente em minha alegria porque me sinto distante do meu corpo ou

talvez sobrevoando meu corpo acima de todos os foliões embriagados em

alegria e álcool destilados de si mesmo como eu mesmo estou aqui

apenas vejo luzes e pessoas girando e girando algumas sorrindo outras

debruçadas afogando se em vômitos nojentos foliões que se perdem em

suas fantasias multicoloridas nem esperam as luzes se apagarem e os

tambores cessarem e seus sorrisos e alegrias também talvez seja esse o

motivo que desprende a mente sã do meu corpo cansado tirando o

inferno do meu paraíso acordando os olhos pintados caindo os tecidos do

corpo suado nem me lembro o porque acordei deste transe em plena

avenida e nem me lembro que avenida seria está que ao longe se mostra

inacabada mais sei que é apenas o alcance dos meus olhos e sei que nem

procuro buscar mais além do que meus olhos podem ver não agora, nem

amanha porque nem sei se o peso das têmporas permitirá o pescoço se

mover ou os olhos encararem a luz me lembro que sempre o amanhecer é

como o nascer do ventre um esforço para se vencer as luzes e de se

respirar a fome que preenche o estomago cheio de liquido grita por

alimentos que esfomeados, maldito efeito das manhãs cinzentas e

amargas, o enjoo me lembra que já é hora de cessar a noite mais uma

mão me puxa de minha epifania me rouba o espiritual e me joga com um

golpe direto na cara para a festa que parece interminável e os idiotas

que me empurram bêbados me tiram realmente do sério,- É com

certeza para mim já é hora de ir para casa.

É mais mesmo assim o caminho parece imenso e tortuoso diante dos

meus passos árduos e tropeçantes entre os meus pés seria facilmente

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confundido com um bêbado quando na verdade sou o cansado mais

exausto que me existo a noite, e novamente nem me lembro porque me

dispus a ir festejar sem motivo algum com um bando de gente que eu

quase não suporto e mais ainda com a maioria que nem se quer eu vi

alguma vez na vida, a noite as ruas se perdem mais longe do que o de

costume e ainda mais com os gatunos a espreita de homem atordoado

beberão ou drogado mais nem me preocupo com os ligeiros criminosos

galinheiros, as velinhas sim devem se preocupar com eles, eu posso me

virar bem mesmo cansado e também sou muito conhecido pelas

redondezas da avenida que eu nem me lembro o nome da tal. Mais

também nem me é de importância o nome nem de avenidas ou de ruas

ou de qualquer outra coisa quando estou é na verdade desesperado pra

chegar em casa de uma vez e descansar o meu descanso sem ser

importunado que me deixem como flor em um vaso esquecido e que me

esqueçam mesmo, a madrugada não me é agradável quando estou de mal

humor, e os foliões que me perdoem mais estar tantos dias da mesma

maneira com as mesmas musicas e as mesmas pessoas um tanto me

aborrece.

Mesmo sabendo que outro ano apenas será preciso para que novamente

tudo se repita eu bem entendo o amor de tantos pelo carnaval e as

fantasias e os amores doentios pelas suas amadas escolas sambistas e

respeito muito todo esse ritual mais eu na pelo menos busco outros

amores como o buraco da fechadura que parece menos do que a chave

que teima em não entrar e pelo amor de deus que fato incomoda que

sempre resolve me perturbar nos momentos em que eu mais preciso é de

menos incomodo. Deito-me nos lençóis me jogo e me afundo em lama

escura e funda do meu pântano mais particular, me sepulto em meus

delírios de homem, me deixem, me deixem cair em coma com sapatos e

roupas a fantasia de alegria o sorriso pintado já se perdeu no caminho de

volta para casa a ilusão já ficou na terça feira tudo virou em cinzas e os

foliões também já adormeceram e ja voltaram a viver com suas tristezas e

trabalhos monótonos as luzes dos postes a se apagaram e o sol acordou

para as estrelas da avenida sem nome dormirem, e descansarem e se

recomporem assim como eu em meu pântano perpetuo, perene, e que

seja a tragédia da realidade mórbida do dia-a-dia, que seja essa mesma,

esperaremos ansiosamente ano que vem com nossas mascaras de

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comédia e sorrisos destilados.

Agora me desfaço em pálpebras fechadas em cinzas de outra quarta feira.

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Éramos nós!

De que é feito o homem?

De sonhos e fantasias?

De medos ou de alegrias?

De que é feito a canção?

As notas da melancolia?

De que é feito o dia?

De que é feita a noite?

A lua no céu?

E as estrelas?

O soar da voz cansada?

De que é feita a tristeza?

De que é feita a dor?

De que é feito os olhos?

O cansaço das pálpebras?

De que é feita as tardes?

De que é feita a saudade?

O que vale a pena?

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O que te faz sorrir?

O que te faz chorar?

Mais se recompõem?

Serão nossos braços?

Serão apenas abraços?

Mais não seria, pois nem foi um dia?

E as lagrimas?

Fugiram?

Ou ficaram para contar as dores?

Seria quem somos nós?

Não será quem fomos um dia?

E se fosse os passos sozinhos?

Seria apenas meu o caminho?

E se fosse às calçadas?

Seriam nossos degraus?

Ou nossas ruas?

Talvez um suspiro?

Ou um beijo?

Mais não será defeitos?

Apenas segredos?

Não seriam as perguntas?

Seriam respostas?