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Disciplina de História - Turma 9ºD Departamento de Ciências Humanas e Sociais

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Disciplina de História - Turma 9ºD

Departamento de Ciências Humanas e Sociais

Nos últimos anos, têm sido constantes as notícias so-

bre refugiados. Entra-nos pela casa dentro, através da

internet, dos jornais, da rádio ou da televisão, imagens

e relatos que espelham a tragédia de pessoas obriga-

das a abandonar tudo o que tinham. Partem apenas

com parcos haveres, sujeitos a todo o tipo de priva-

ções, abusos e explorações. Muitas vezes, o seu desti-

no é a morte a que tanto queriam fugir.

A A.C.N.U.R. (Alto Comissariado das Nações Unidas

para Refugiados), criado pela Assembleia Geral da

ONU a 14 de dezembro de 1950 e, recentemente diri-

gida por António Guterres, estima que existam em

todo o mundo mais de 60 milhões de pessoas desloca-

das, sendo que, 52% são jovens e crianças com menos

de 18 anos de idade. As causas são conhecidas: catás-

trofes naturais, problemas climáticos, perseguições,

racismo, intolerância religiosa e guerras. A História

mostra-nos que o problema sempre existiu mas, na

Época Contemporânea, ganhou uma dimensão inaudi-

ta. Desde o ano 2000 foi instituído o Dia Mundial do

Refugiado que se celebra a 20 de Junho.

Apresentação

Migrações Forçadas

Os alunos do 9ºD, sempre muito curiosos e atentos à

actualidade, frequentemente comentavam o que vi-

am, escandalizavam-se com a falta de respostas dadas

pelos países ricos e queriam saber mais. Sobretudo

nas alturas em que aconteciam episódios dramáticos

ou em que se abordavam temas do séc. XX em que

ocorreram acontecimentos semelhantes, queriam

saber as causas, os conflitos, as perseguições, o racis-

mo , questionando a resposta dada por quem poderia

ajudar. Foi este interesse que esteve na origem desta

revista. Por isso aqui está ela. De entre as múltiplas

migrações forçadas que ocorreram na época contem-

porânea, seleccionamos alguns exemplos, uns mais

próximos e outros mais distantes de nós. Não foi es-

quecida a situação de Portugal que recebeu meio mi-

lhão de portugueses, os chamados “retornados” entre

o Verão de 1974 e o Verão de 1975. Para transmitir

uma imagem mais vivida, foi feita uma entrevista a

um familiar de duas alunas. Os alunos estão de para-

béns e foi um prazer conviver com eles durante estes

três anos.

Prof. Carlos HP Ribeiro

americanos e esperavam benefícios dessa aliança. Po-rém, a guerra foi ganha pelo bloco dos Estados Unidos (13 estados), apoiado pela França, Espanha e a Holan-da como co-beligerantes.

Entre 1866 e 1867, ocorreu um conflito entre os Sioux e os Americanos denominado Red Cloud’s War (Guerra da Nuvem Vermelha) provocado pelo rompimento de um tratado firmado em Black Hill pelos colonizadores e os índios. Aqueles, estavam interessados no ouro que havia nessas terras, razão pela qual desrespeitaram o tratado. A eliminação dos índios também foi defendida por dificultarem o trabalho dos empreiteiros e empre-sários que queriam construir caminhos de ferro, ou por criadores de gado que precisavam de grandes ex-tensões de território para pastagem.

Depois terem sido várias vezes atacados, os índios jun-taram-se a outras tribos, como por exemplo cheyen-nes e shoshones, e organizaram ataques contra os americanos. No dia 25 de junho de 1876, chefiados por Sitting Bull arrasaram o Sétimo Regimento de Cavalaria na batalha de Little Big Horn, no Wyoming. Neste com-bate, morreu o general Custer, responsável pelo mas-sacre dos Cheyennes, anos antes deste conflito. Mas, em Wounded Knee, no final do ano de 1890, foi mar-cado o fim da resistência dos Sioux, quando foram surpreendidos pelas tropas americanas, que mataram cerca de 200 índios.

Os Índios norte americanos

O massacre dos povos indígenas nos EUA, disfarçado de uma guerra justa, foi o mais violento e sistemático da América. Os índios viviam no oeste americano quando sofreram o ataque dos colonizadores europeus. Como estavam muito menos desenvolvidos em comparação aos restantes povos atacados, os apaches não consegui-ram fazer frente ao domínio das suas terras pelos povos estrangeiros.

Território Indígena

A conquista do território onde os índios habitavam con-tribuiu para o alargamento do território americano. Al-gumas terras já tinham sido afetadas quando, em 1763, a Coroa Britânica indicou para colonização as terras a leste dos montes Apalaches. Após a Independência dos Estados Unidos em 1776, apenas restavam as terras a Oeste do rio Mississippi para que os indígenas vivessem.

Guerras e atrocidades contra os índios

Depois da Guerra da Secessão, os Estados Unidos só conseguiram progredir em vários setores, especialmente no económico, devido à intitulada “conquista do Oeste”. Alguns anos depois, durante a Guerra da Independência Americana (1775-1783), os índios Sioux preferiram aliar-se à Inglaterra porque sofriam abusos dos colonos

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Os Índios norte americanos Genocídio na Arménia

Pouco a pouco, a partir dos primeiros anos do século XIX, os presidentes americanos foram empurrando as tribos do sul e do sudeste do país para zonas isoladas, áridas e inférteis através da Lei de 1830 (“Indian Remo-val Act”). Para além dos índios, também as habitavam muitos brancos e escravos fugidos. Depois da Guerra Civil Americana (Guerra da Secessão 1861-1865) e da Batalha de Doaksville, o território indígena ficou reduzi-do ao atual estado do Oklahoma.

Hoje, os nativos têm uma relação estabilizada com os EUA e, aos índios que não eram cidadãos norte-americanos, foi concedida a cidadania em 1924 pelo Congresso dos Estados Unidos.

Calcula-se que, no início do século XVI, os grupos indíge-nas que habitavam a área que hoje é ocupada pelos EUA somavam mais de 12 milhões de pessoas. Segundo um censo realizado em 2010, existem hoje em dia, cerca de 2 932 248 índios nos Estados Unidos.

Jerónimo foi feito prisioneiro juntamente com outros guerreiros na Flórida. No fim da sua vida, Jerónimo tinha se tornado uma celebridade. Em 1909, Jerónimo morreu de pneumonia em Fort Sill, sendo depois enterrado co-mo prisioneiro de guerra.

Jerónimo, um símbolo de resistência

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Situação Atual

O exemplo da Arménia

O século XX ficou marcado como sendo um século de ca-tástrofes e morticínios. As duas guerras mundiais levaram cidades inteiras à destruição e milhões de pessoas à mor-te. Nesse intervalo, alguns regimes de governo que ti-nham orientações políticas ideológicas nacionalistas, eu-genistas e racistas levaram a cabo o projeto de extermínio sistemático de povos que julgavam ser inferiores ou que divergiam de seu projeto de expansão territorial, entre outras razões. Os motivos eram inúmeros. O caso do holo-causto dos judeus (genocídio dos judeus) pelos nazis, é um exemplo. O “holodomor”, (genocídio de ucranianos) pelos soviéticos, é outro.

O genocídio arménio foi o primeiro Ocorreu entre 1915 e 1923 totalizando cerca de um milhão e meio de arménios mortos por ordem do governo otomano. Antes da 1ª Guerra Mundial, o Império Turco-Otomano controlava uma vasta região, que ia do Cáucaso, passando pelos Balcãs, Anatólia, Península Arábica e por grande parte do Médio Oriente. Do império fazia também parte a Armé-nia.

Durante a Primeira Guerra Mundial, que teve início em 1914, muitos dos povos que os turcos dominavam e que se queriam libertar, aproveitaram para favorecer as potências inimigas da Turquia. Alguns combatentes arménios aliaram-se aos russos (inimigos históricos do Império Turco-Otomano). As autoridades turcas alegaram essa razão co-mo sendo alta traição e usaram-na para instituir uma polí-tica sistemática de morte contra a população da Arménia.

O programa de genocídio foi autorizado pelo Sultão Abdul-Hamid II e foi posta em prática uma estratégia para o reali-zar. Os arménios saudáveis do sexo masculino foram

No ataque, morreu quase toda a sua família. Acredita-se que foi nessa época que Jerónimo ganhou o seu apelido, referente a São Jerónimo, por ter morto à facada vários soldados numa batalha.

Entre 1858 e 1886, Jerónimo atacou diversas tropas ame-ricanas e escapou de várias capturas. O seu bando tinha sido uma das forças índias que recusaram os acordos com dos EUA. A rendição e captura de Jerónimo a 4 de setem-bro de 1886 pelas tropas do General Nelson A. Miles, no Arizona pôs um fim às Guerras Apaches.

Educado com a tradição Apache, este homem destacou-se por liderar a luta pela liberdade do seu povo.

No dia 5 de março de 1851, uma companhia de soldados mexicanos da região de Sonora, liderada pelo Coronel José Maria Carrasco, atacou o acampamento em que vivia.

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convocados para a guerra e isso levou-os a deixar as ci-dades e vilas desprotegidas.

Chegados à frente de batalha, os arménios apenas servi-am para cavar trincheiras, sendo depois exterminados pelos soldados turcos. O resto da população arménia

Autoridades do governo otomano admitiam roubos, assassinatos de arménios e muitas vezes, participa-vam eles próprios, neste tipo de maus tratos.

Sem os seus bens e sem condições, milhares de armé-nios morreram durante a marcha. Poucos eram aque-les que tinham um teto para se abrigar das rigorosas condições climatéricas. Esta população, sobretudo constituída por mulheres, velhos e crianças, que ia em direção aos campos no deserto, morria pelo caminho devido ao cansaço, à fome, à sede, à falta de higiene e às doenças. Foram também submetidos a roubos e massacres periódicos. As mulheres sofriam de abusos sexuais e eram vendidas como escravas. Esse tipo de crueldade tornou-se cada vez maior entre 1915 e 1918.

Depois da 1ª Guerra Mundial e a derrota do império turco-otomano, a Arménia foi anexada pela URSS. Com o fim da URSS, no final do século XX, a Arménia tornou-se um país independente. Localizado no sudo-este da Ásia, tem como capital e principal cidade Erevan. O país tem fronteiras com Azerbaijão, Turquia, Irão e Geórgia. Hoje em dia, existem comu-nidades arménias espalhadas por todo o mundo co-mo um resultado direto do genocídio.

Atualmente, cerca de vinte países, entre os quais a França e a Rússia, reconheceram oficialmente o ge-nocídio arménio, termo que a Turquia não aceita, limitando-se a comentar as “deportações” realizadas pelo Império Otomano e “mortes” sofridas pelo povo arménio.

O Genocídio na Arménia

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foi retirada das cidades, provocando enormes ondas mi-gratórias em direção a campos de concentração no deser-to de Deir al-Zor (Síria) com a justificação da ofensiva das tropas da Tríplice Entente. Mais tarde, veio a saber-se que o governo otomano não forneceu quaisquer tipo de ali-mentos e de bens necessários para sustentar este povo durante as deportações, nem quando chegaram ao seu destino. Nas estradas eram encontrados cadáveres de pessoas que pertenciam ao povo arménio e as que ainda permaneciam vivas, estavam condenadas à morte certa. Tudo isto era visto como um plano que servia para exter-minar o povo arménio.

“Nicht fur Juden”

"Holocausto" é uma palavra de origem grega que signi-fica "sacrifício pelo fogo". O significado moderno do Holocausto é o da perseguição e extermínio sistemáti-co, apoiado pelo governo nazi, de cerca de seis milhões de judeus, homossexuais, deficientes físicos e mentais, opositores políticos e religiosos do regime nazi alemão.

O Holocausto nazi

como “ porcos “ ou “ criaturas “ e física como irem bus-car raparigas judias a casa e obrigarem-nas a irem es-fregar as ruas ou escolherem homens ao acaso para os espancavam à frente de todos os os alemães que se limitavam a assistir tudo isto por pura diversão.

Os judeus que tinham possibilidades, tomavam as devi-das precauções para conseguir sair dos pais. A maioria não o conseguiu e teve que se sujeitar ao domínio de Hitler. Em 1935 são publicadas as leis raciais de Nurem-berga que pretendiam proteger a pureza da raça ale-mã. Os judeus deixam de ser cidadãos alemães. Foram-lhes retiradas as lojas e os negócios, os médicos foram proibidos de exercer a sua profissão, e nenhum judeu podia ser funcionário público ou ter um cargo politico. Os judeus foram proibidos de frequentar as escolas alemãs e não podiam namorar ou casar com alemães. Era também proibido às famílias judias terem emprega-das alemãs com menos de 40 anos de idade.

Na noite de 9 de novembro de 1938, em diversos locais da Alemanha e da Áustria sob o domínio nazi, deu-se a “Noite dos Cristais” (“Kristallnacht”). Tratou-se da des-truição de sinagogas, lojas, habitações e de agressões contra as pessoas identificadas como judias. Numa úni-ca noite, 91 judeus foram mortos e milhares foram pre-sos e levados para campos de concentração. 7500 lojas judaicas e 267 sinagogas foram reduzidas a escombros. O nome Kristallnacht deriva das vitrinas das lojas, vi-trais das sinagogas partidas, resultantes deste episódio de violência racista.

A partir de 1939, com a invasão da Polónia e o início da 2ª Guerra Mundial começou a deportação. Os judeus começam a ser metidos em comboios e expulsos da Alemanha. Eram enviados para os países que iam sen-do conquistados a leste.

Desde a Antiguidade até a criação do Estado de Israel, depois da 2ª Guerra Mundial, os judeus sempre percorre-ram e ocuparam diferentes regiões pelo mundo. Por onde passavam e se fixavam, acabavam por exercer importan-tes atividades intelectuais, comerciais e sofreram perse-guições.

Em 1933, com a subida de Adolf Hitler ao poder, foi ins-taurada na Alemanha uma ditadura totalitária que defen-dia a ideia de voltar a fazer a Alemanha grande e podero-sa. A Alemanha havia perdido a primeira guerra mundial e foi submetida a humilhações e pesadas indemnizações por parte dos países vencedores no Tratado de Versalhes. Hitler dizia que essa era principal causa da crise económi-ca e da contestação social que o país estava a atravessar, aumentando assim o ressentimento nos alemães em rela-ção aos outros países. A outra causa que apontava era a traição de que tinha sido vítima por políticos e judeus. Estes foram rapidamente transformados nos grandes responsáveis pela derrota e pela forma como a paz tinha sido imposta. Por isso, a discriminação contra os judeus começou imediatamente após a tomada do poder. Logo a 1 de abril de 1933, foi declarado um boicote nacional contra empresas de judeus. A violência e a pressão eco-nómica foram usadas pelo regime para encorajar os ju-deus a abandonar voluntariamente o país. Os cidadãos eram perseguidos e sujeitos a ataques violentos. Começa-ram por ser obrigados a registrem-se e a usar uma braça-deira com a estrela de David amarela no braço para não se confundirem com os restantes alemães e serem facil-mente identificados. Pelas ruas alemãs viam-se frases contra os judeus como “Nicht fur Juden” (“interdito a judeus“), nas montras das lojas “porcos judeus“. Em mui-tas cidades colocavam placas a dizer “Proibida a entrada a judeus”. Nas ruas, a violência era verbal, com insultos

Aí foram construídos os primeiros guetos que eram zonas urbanas, em geral cercadas por um muro, onde os ale-mães concentravam a população judaica local e de outras regiões. Forçavam-nos a viver isolados do resto da cidade sob condições miseráveis, não lhes dando alimentação nem alojamento.

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outros, com apenas um balde para fazerem as necessi-dades e sem alimentos. Muitos chegavam aos campos de concentração mortos ou com doenças causadas pela falta de higiene a que eram submetidos.

Chegados aos campos de concentração, eram observa-dos por médicos que os separavam consoante o seu sexo, idade e condição física. Os que se encontravam em boas condições físicas para trabalhar eram usados como escravos para diversos trabalhos. Era-lhes rapada a cabeça para evitar epidemias de piolhos, era-lhes dada uma farda listrada de azul e branco e uma boina. Para se distinguirem uns dos outros eram marcados no antebraço esquerdo com uma serie de números. Algu-mas mulheres eram levadas para outra secção dos campos onde separavam e retiravam os bens preciosos que os judeus traziam consigo aproveitando os alimen-tos que encontravam. Estas sofriam muitas vezes de abusos sexuais por parte das tropas que as vigiavam. As crianças eram retiradas aos pais e os idosos, deficientes e doentes eram levados para balneários onde se despi-am e lhes era dito que iam tomar banho mas, na reali-dade, eram mortos em camaras de gás. A exposição ao gás durava de dez a trinta minutos, dependendo das técnicas usadas. Depois, eram levados por outros ju-deus sobreviventes, para crematórios onde eram quei-mados.

Os médicos dos campos de concentração também fize-ram experiências com os judeus. O mais famoso de todos foi Josef Menguele, conhecido como o “Anjo da Morte”. Praticamente todas as experiências de Menge-le careciam de valor científico, mas foram financiadas pelo governo nazi. Incluíam, por exemplo, tentativas de mudar a cor dos olhos mediante injeções de substân-cias químicas nos olhos de crianças, amputações e ou-tras cirurgias, tal como, uma tentativa de criar gémeos siameses artificialmente. Os gémeos interessavam-no muito porque podia ver como reagiam dois organismos semelhantes a uma determinada experiência. As víti-mas que sobrevivessem eram quase sempre

Os alemães estabeleceram pelo menos 1.000 guetos na Polónia e na União Soviética onde morreram 600 000 judeus devido a fome e as doenças. As autoridades ale-mãs de ocupação estabeleceram o primeiro gueto na Polónia em Piotrków Trybunalski, no mês de outubro de 1939.

Ao mesmo tempo, os judeus foram mortos em diversos lugares e de diversas formas. Inicialmente usaram-se unidades de extermínio móveis, chamadas "Einsatzgruppen". Esses grupos eram divisões das SS que, ao entrar numa cidade ou vila, reuniam os líderes das comunidades judaicas e instruíam-nos para reunir todas os judeus. Forçavam-nas a trazer todos os seus objetos de valor e, em locais isolados, a tirar a roupa. Aí tinham que ajoelhar-se no chão, e os soldados fuzilavam-nos. Em muitos casos, as pessoas tinham que cavar suas próprias sepulturas antes de serem mortas.

Mais tarde, procuraram-se meios mais eficientes para assassinar os judeus uma vez que se considerava que as balas eram muito caras: os "Einsatzgruppen" emprega-ram camionetes como câmaras de gás, a fim de os matar de forma mais económica. Os judeus eram levados nes-sas camionetes, aproximadamente 15 de cada vez, e to-dos os ocupantes morriam, uma vez que o escape do veículo era canalizado para dentro da carroçaria fechada hermeticamente.

A 31 de Julho de 1941, tudo se acelerou. Hitler deu início à “Solução Final”. O objetivo passou a ser o genocídio de toda a raça judaica no Reich. Em janeiro de 1942, os nazis iniciaram a deportação sistemática dos judeus de todas as áreas da Europa por eles ocupadas. Era-lhes dito que iam ser realojados nos países do leste mas, na realidade, eram levados para campos de concentração. O plano de extermínio estava rigorosamente elaborado para ser o mais eficaz e económico possível. Primeiro retiravam os judeus de suas casas levando-os de seguida para comboi-os onde iam em vagões de gado. Nesses vagões faziam longas viagens sujeitos a míseras condições. Viajavam em vagões com pouca luminosidade, apertados uns contra os Gló

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Bordéus, reuniam-se em frente dos consulados de Por-tugal e de Espanha, em busca de vistos para escapar a uma morte certa. Espanha negou os vistos aos refugia-dos judeus e a única esperança residia no consulado português. A 16 de Junho de 1940, o cônsul português em Bordéus, Aristides de Sousa Mendes, encontrou-se com o rabino Kruger que escapara da Polónia ocupada pelos alemães. Prometeu-lhe fazer tudo o que estives-se ao seu alcance para persuadir o governo de Lisboa, liderado por Salazar. Nessa noite, acolheu o rabino Kruger na sua casa.

Na manhã do dia 17 de junho de 1940, Lisboa negou os vistos aos refugiados judeus, mas de forma inespera-da, Aristides de Sousa Mendes informou o rabino que iria emitir os vistos, pois sabia que os refugiados esta-vam condenados a morrer nos terríveis campos de concentração nazis.

Pelo seu ato de desafio, Sousa Mendes foi severamen-te punido por Salazar, demitindo-o da sua posição di-plomática e proibindo-o de ganhar a vida. Aristides de Sousa Mendes teve quinze filhos, que ficaram na lista negra e impedidos de frequentar a universidade ou

encontrar um trabalho significativo. A casa da família – Casa do Passal, situada em Cabanas de Viriato, Viseu – foi devolvida ao banco e vendida como forma de saldar dívidas. A Associação Judaica de Lisboa foi a única a ajudar a família Sousa Mendes, providenciando ali-mentação e assistência médica. Aristides de Sousa Mendes morreu no dia 3 de abril de 1954. Ao todo, Sousa Mendes emitiu cerca de 30.000 vistos, incluindo cerca de 10.000 a judeus, durante o período de alguns dias. Muitos deles ficaram em Portugal outros ruma-ram para os EUA ou para a América do Sul. Esta faça-nha foi caracterizada pelo historiador do Holocausto, Yehuda Bauer, como "a maior ação de resgate por um único indivíduo durante o Holocausto." O primeiro reconhecimento pela coragem de Aristides de Sousa Mendes veio em 1966 de Israel, que o declarou "Justo entre as Nações". Em 1986, o Congresso dos Estados Unidos emitiu uma proclamação a honrar seu ato he-roico. Em Portugal, somente em 1994 foi finalmente reconhecido, quando o presidente Mário Soares pediu desculpas à família Sousa Mendes e o Parlamento Por-tuguês o promoveu-postumamente ao posto de em-baixador.

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assassinadas depois para dissecação. Em cooperação com outros médicos, Mengele tentou também encontrar um método de esterilização em massa. Muitas das vítimas foram mulheres a quem injetava diversas substâncias, tendo sucumbido muitas delas. Os judeus viviam por toda a Europa há mais de 2000 anos. Em 1933, o Anuário Judai-co Norte-Americano estimava que a população israelita europeia era de aproximadamente 9,5 milhões de pesso-as. Este número representava mais de 60% da população judaica mundial, estimada em 15.3 milhões. A maioria dos judeus europeus vivia nos países de leste. A Europa tinha uma cultura judaica dinâmica e altamente desenvolvida. Em apenas pouco mais de uma década, a maior parte da Europa seria conquistada, ocupada ou anexada pela Ale-manha nazi e a maioria dos judeus, dois em cada três, estaria morta.

Um Herói português

Aristides de Sousa Mendes, cônsul de Portugal em Bor-déus foi um dos exemplos de grande coragem ao salvar milhares de judeus que fugiam do avanço das tropas ale-mãs durante a ocupação da França pela Alemanha. Duran-te a guerra, Portugal era oficialmente neutro mas, Salazar, emitiu uma diretiva – a "Circular 14" - a todos os seus di-plomatas para que negassem o acolhimento de refugiados que quisessem fugir para Portugal, incluindo explicitamen-te judeus, russos e apátridas. De 16 a 23 de Junho de 1940, Aristides de Sousa Mendes desobedeceu às ordens impostas pelo ditador Salazar, guiando-se pela sua consci-ência. "Eu preferiria estar com Deus contra o homem do que com o homem contra Deus", declarou ele.

À medida que a perseguição de milhares de Judeus por toda a Europa se intensificava, assumindo contornos cada vez mais assustadores, milhares de refugiados judeus, em

As deportações de Estaline Os alemães expulsos

Antes, durante e depois da 2ª Guerra Mundial, Estaline

decidiu deportar cerca de 3,3 milhões de pessoas de vários

grupos étnicos da URSS. Estes foram transportadas para

regiões como Sibéria ou repúblicas asiáticas.

A partir de 1928, a população encontrava-se indignada e

descontente com as leis e reformas económicas postas em

prática por Estaline quendo decidiu nacionalizar e coletivi-

zar a economia e começar com os Planos Quinquenais. O

fim da propriedade privada levou camponeses, pequenos

e médios comerciantes, ou pequenos empresários a resis-

tir ou sabotar as intenções de Estaline. Então, este resol-

veu expulsar os camponeses e opositores. Mais tarde, en-

tre 1934 e 1938 deram-se a grandes “purgas” pois se al-

guém fosse suspeito de tentar prejudicar o Estado era logo

julgado com tratamentos duros, assassinato ou deporta-

ção. Estaline via conspirações contra ele em toda a parte.

O principal instrumento de perseguição foi a NKVD

(antepassado da KGB). De acordo com Alan Bullock, o uso

de espancamentos e tortura era comum. Entre as vítimas

de Estaline incluem-se 13 generais de exército, o mais co-

nhecido era Mikhail Tukhachevsky. Este foi acusado de

tentar sabotar o Estado e de ser agente secreto alemão.

Acabou por ser executado e com isto o exército russo foi

cada vez fican-

do mais fraco

porque Estaline

acreditou nas

informações

dadas pelo

chefe de servi-

ço das SS.

Certos grupos étnicos ou nacionais foram também perse-

guidos: arménios, lituanos, mongóis, judeus, ucranianos,

polacos, alemães, etc… foram levados em vagões de gado

em condições horríveis e falta de higiene para campos de

concentração (Gulags). Tal como aconteceu na Alemanha

nazi, muitos morriam antes de chegar ao destino e os que

chegavam em boas condições eram forçados a fazer traba-

lho escravo.

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Depois da derrota da Alemanha na 2ª Guerra Mundial

deu-se uma grande migração forçada de alemães do

leste da Europa que foram obrigados a abandonar as

casas e as cidades em que viviam e tiveram que cami-

nhar com os poucos haveres que conseguiam transpor-

tar para ocidente. Eram os alemães expulsos dos terri-

tórios que conquistaram durante a guerra (Polónia,

Checoslováquia, Hungria, Roménia, norte da Jugoslávia

e outros Estados da Europa Central e Oriental) mas

também do próprio território alemão. Depois da 2ª

Guerra Mundial, as fronteiras foram alteradas no leste

da Europa. A URSS ocupou a Estónia, Letónia e Lituânia

e ficou com uma parte da Polónia. Por sua vez a Polónia

ficou com uma parte do território alemão que se tor-

nou mais pequeno e os alemães tiveram que o abando-

nar rapidamente. Por outro lado, para se vingarem da-

quilo que a Alemanha tinha feito na União Soviética

durante a invasão em 1941, muitos civis alemães foram

enviados para os Gulags (campos de concentração de

trabalho forçado). Muitos morreram devido à fome,

doenças e agressões. e também houve violações de

crianças e mulheres. Os russos não perdoaram as atro-

cidades que os alemães tinham feito com eles quando

estes invadi-

ram a URSS. As

estimativas

dizem que

morreram en-

tre 500 mil a 2

milhões de

alemães

O movimento dos alemães a seguir à guerra, envolveu

um total de pelo menos 12 milhões de pessoas, com

algumas fontes a colocar o valor em 14 milhões de pes-

soas e foi a maior movimentação ou transferência de

um grupo populacional na História contemporânea.

Atualmente estima-se que na Europa Oriental haja uma

média de 700 000 a 2,7 milhões de descendentes de

alemães.

O Sudão é um país africano localizado na região nor-deste de África. É limitado a norte pelo Egito, a leste pelo Mar Vermelho, a sul pelo Sudão do Sul e a oeste pela República Centro-Africana, Chade e Líbia. O Rio Nilo divide o país em duas metades: a oriental e a oci-dental. O idioma oficial é o árabe e a religião principal é o islamismo.

A Guerra no Sudão

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De facto, em 15 de dezembro de 2013, começou uma guerra civil no novo país Sudão do sul) quando o Presi-dente Salva Kiir acusou o seu antigo vice-presidente, Riek Machar, de planear um golpe de Estado. Esta guerra civil é o conflito militar atualmente em curso no Sudão do Sul, entre as forças do governo e as da oposi-ção. Desde o início da guerra, quatro milhões de pesso-as deixaram de ter acesso a alimentos. O ex-coordenador humanitário das Nações Unidas no Sudão do Sul, Toby Lanzer, denunciou antes de ser expulso do país pelas autoridades, que cerca de 250 mil crianças “correm risco de morrer de fome”. Milhares de pesso-as encontram-se em campos de refugiados das Nações Unidas por todo o país, mas as necessidades básicas de muitos destes cidadãos continuam a não ser satisfeitas. Nestes campos há vários problemas relacionados com as condições em que vivem estes refugiados uma vez que o seu número é muito maior do que a que os cam-pos estão preparados para receber. Informações reve-laram que o conflito provocou mais de 2,2 milhões de deslocados, entre pessoas que tiveram de sair das suas casas para se instalarem noutras partes do país e as que fugiram para países vizinhos.

O problema mais grave é o da fome e da falta de prote-ção. Deste modo as pessoas vivem apenas daquilo que as organizações humanitárias podem trazer. Quando as pessoas têm de fugir para os pântanos ou florestas, ficam praticamente sem nada. Muitos morrerão de fome, sobretudo as crianças, que já estão desnutridas.

Os dois Sudões

As primeiras tentativas de separação do sul do Sudão com o norte do país foram em 1955 quando ocorreu a Primeira Guerra Civil Sudanesa. Essa guerra, que causou meio milhão de mortes, durou cerca de 17 anos e termi-nou em 1972 com o tratado de paz de Adis Abeba. Neste tratado foi garantida autonomia ao Sudão do Sul.

Seguiu-se uma década de relativa paz. Porém, em 1983, o acordo de paz foi rompido pelo ex-presidente do Su-dão, Gaafar Nimeiry, quando este impôs a Charia (conjunto de leis islâmicas que são tidas como ordenadas diretamente por Alá) a todo o território do país, inclusi-vamente no território sul onde a maioria da população era cristã e animista. Assim, começou em 1983, a Segun-da Guerra Civil Sudanesa. O conflito foi uma das guerras mais longas e mais mortíferas do final do século XX que provocou aproximadamente dois milhões de mortos e três milhões de refugiados. O número de mortes de civis é um dos mais altos do que qualquer guerra desde a Se-gunda Guerra Mundial. Os rebeldes do sul na luta contra o governo de Cartum eram liderados por John Garang, que se tornou o primeiro vice-presidente do Sudão após a assinatura do acordo de paz. Depois de três anos de negociações, no dia 9 de janeiro de 2005 foi assinado em Nairóbi no Quênia, o tratado de Naivasha o qual dava autonomia à região sul do Sudão e acabava com um con-flito de 21 anos com a região norte do Sudão. Esse trata-do possibilitou que John Garang exercesse a função de vice-presidente do Sudão e presidente da região sul do país de 9 de janeiro de 2005 até a data de sua morte em 30 de julho do mesmo ano. Depois, a região passou a ser administrada por Salva Kiir Mayardit. Porém, como o Sudão do Norte é menos fértil que o Sudão do sul e é neste segundo país que estão os campos de petróleo, tem havido acusações de que o governo sudanês do nor-te tem vindo a financiar rebeliões, para desestabilizar o Sudão do Sul e provocar o desejo de reunificação num só país.

Outro grave problema é o abuso das mulheres e a violên-cia contra elas. Para além de tudo isto, há crianças que são usadas como soldados na guerra civil do Sudão do Sul. Mais de 15 comandantes e oficiais, tanto do Governo como da fação liderada pelo ex-vice-presidente, recru-tam crianças para combater no conflito. A UNICEF estima que um total de 15 a 16 mil crianças tenha sido recrutado para combater, desde o início da guerra.

O Sudão do Sul separou-se do Sudão para se tornar um país independente em 2011. Porém, estes dois países continuam em guerra destruindo cidades e matando mui-tos cidadãos.

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Portugal e a descolonização

Guerra colonial ou guerra do Ultramar corresponde ao período de confrontos entre as forças armadas portu-guesas e as forças lideradas pelos movimentos de li-bertação das ex-colónias portuguesas. Deu-se entre 1961 e 1975.

Após a sua criação, em 1945, a ONU reconheceu o di-reito dos povos à independência e à auto-determinação.

Deste modo, diversos países europeus, como a Ingla-terra, França e Bélgica foram concedendo a indepen-dência às suas colónias como, por exemplo, a Índia, a Indonésia, o Sudão, Chade República Democrática do Congo, etc.

Com Salazar, a situação foi diferente: este acreditava que as ex-colónias faziam parte de Portugal que era uno e indivisível.

Porém, Goa, Damão e Diu que constituíam a Índia por-tuguesa, foram as primeiras colónias perdidas por Por-tugal, quando a União Indiana as tomou em 1961.

Deparando-se com esta política inflexível de Salazar, as colónias africanas iniciaram a criação de movimentos independentistas como a FRELIMO (frente de liberta-ção de Moçambique), em Moçambique; o MPLA (movimento popular de libertação de Angola), a FNLA (frente nacional de libertação de Angola) e a UNITA (união nacional para a independência total de Angola), em Angola; o PAIGC (partido africano para a indepen-dência da Guiné e Cabo Verde), na Guiné., dando-se, posteriormente, as primeiras revoltas em Angola (1961), na Guiné (1963) e em Moçambique(1964).

Guerra Colonial

Também na Guerra Colonial houve apoios, no âmbito da guerra fria, dados pelos EUA, URSS, China, que pre-paravam a maioria dos seus militares e os abastecia com armamento.

Em resultado de tudo isto, entre 1961 e 1974, 900 000 portugueses de Portugal, juntamente com as tropas recrutadas no local, combateram no continente africa-no.

A revolução do 25 de Abril de 1974, feita pelas forças armadas teve como objectivos implantar a democracia em Portugal e acabar com as guerras coloniais, dando a independência às antigas colónias. Os militares consi-deravam-na uma guerra injusta que prejudicava portu-gueses e africanos e isolava Portugal a nível internacio-nal porque a ONU, desde a sua criação, era favorável à independência das colónias da Europa. Por isso, depois

do 25 de abril de 1974, começou-se a sentir uma pressão internacional para que Portugal libertasse as suas possessões ultramarinas.

Este período a seguir ao 25 de Abril foi de grande ins-tabilidade e confusão política. Portugal estava fragili-zado e os militares recusavam-se a combater pelo que

Portugal e a descolonização

Os “retornados”

aumentou a violência e insegurança, iniciando-se uma guerra civil nas colónias.

Neste clima de insegurança, cerca de 500 000 portu-gueses que viviam nas colónias abandonaram as suas terras e partiram para Portugal ou para a África do Sul, deixando grande parte ou a totalidade dos seus bens. Foi organizada uma “ponte aérea” com um grande número de aviões para os trazer para Portugal.

Os portos das ex-colónias ficaram cheios de grandes

caixotes de madeira com os bens que cada família tentava fazer chegar de barco para Portugal. Regres-savam tristes e desanimados por verem que a maio-ria das coisas que conseguiram com muito esforço tinham ficado para trás.

Em 1974, iniciou-se um ciclo de reuniões entre os novos líderes portugueses e os líderes dos movimen-tos de libertação. Já em julho de 1974, foi reconheci-da a lei que concedia o direito das colónias à inde-pendência. Nasceram cinco países independentes: Guiné-Bissau em 23 de agosto de 1974, Moçambique em 26 de junho de 1975, Cabo Verde em 5 de julho de 1975, São Tomé e Príncipe em 12 de julho de 1975 e, por fim, Angola em 11 de novembro de 1975.

Apesar das diferenças de mentalidades (Portugal era mais fechado e as pessoas mais conservadoras e retrógradas) e de muitos portugueses não os terem recebido bem, uma vez que os chamavam de “ladrões” por acharem que tinham explorado os negros em África e agora vinham roubar os seus pos-tos de trabalho, com o apoio de algumas medidas do Estado e uma grande capacidade de iniciativa e adaptação, os “retornados” foram-se integrando e recomeçaram as suas vidas.

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Em busca de uma vida melhor, muitos portugueses parti-ram para as colónias: foi o caso dos meus tios.

Escolheram Moçambique, mais propriamente a região da Beira.

Durante vinte cinco anos, viveram uma vida boa, sem me-do, descontraída devido ao clima agradável e à estabilida-de monetária. Os seus tempos livres eram aproveitados para praticar desporto, mas sobretudo, para ir à praia onde as pessoas socializavam e relaxavam e a conviver nos restaurantes à beira mar.

O meu tio Jorge trabalhou como maquinista de guindas-tes, no porto da Beira, onde efetuava as trocas de merca-dorias dos navios lá ancorados.

A minha tia, apesar de gostar de trabalhar, não sentia essa necessidade. Por isso, durante o dia, dedicava-se aos fi-lhos, às compras para a casa, enquanto os empregados domésticos se ocupavam das lides da casa.

Os portugueses já construíam as suas moradias com insta-lações anexas onde os empregados domésticos viviam com a sua família. O salário era pago no final do mês.

Os primeiros sinais de que uma guerra poderia eclodir surgiram muito cedo: era o movimento de libertação que agia sobretudo no interior. Logo, nas grandes cidades vi-via-se à vontade, apesar de se começar a saber que um ou outro português era morto numa povoação. Tanto se vivia sem medo, que pouco tempo antes de os meus tios se irem embora construíram lá três moradias pois os portu-gueses tinham a perceção que o conflito se resolveria mantendo o status quo.

À medida que o tempo ia passando, o movimento de li-bertação fazia cada vez mais pressão e as tropas portu-guesas começaram a perceber que não era possível asse-gurar o domínio das cidades alertando o governo para libertar Moçambique.

A 25 de abril de 1974, Moçambique tornou-se indepen-dente e o regime passou a ser controlado por moçambica-nos. A partir daí intensificou-se uma rivalidade entre ne-gros e brancos.

Porém, já a 4 de fevereiro de 1974 tinha ocorrido a nacio-nalização: todos os bens em território moçambicano pas-sam a pertencer a Moçambique. Os portugueses não pu-deram manter em seu nome as suas propriedades e em-presas, somente os bens móveis. No porto da Beira só se viam contentores com motas, fogões, mobílias, carros desde que não fossem novos porque, deste modo, seriam confiscados pelos militantes da FRELIMO, Frente de Liber-tação de Moçambique.

Os meus tios tinam três casas, duas das quais alugadas. Após a nacionalização a renda passou a ser paga direta-mente ao Estado de Moçambique.

Por causa da nacionalização começou-se a gerar uma confusão: iam-se embora algumas pessoas, alguns amigos

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Muitos portugueses não gostaram da vinda dos Re-tornados porque diziam que iriam tirar postos de trabalho quando na realidade isso não aconteceu visto que tentaram replicar modelos que tinham sido bem-sucedidos nas ex-colónias.

Quando lhes perguntámos se voltariam, responde-ram que não uma vez que já estavam habituados a Portugal, «já não iam para novos», eram necessárias muitas mudanças e Moçambique já não era aquilo que conheciam e gostavam, estava diferente.

Defendem que o governo português deveria ter feito uma transição: algum tempo para os portugueses e moçambicanos se entendessem e coexistissem paci-ficamente no mesmo território.

Uma experiência de vida: ser “retornado”

e uns iam atrás dos outros.

Por estes motivos, os meus tios já não se sentiam bem lá e voltaram para as suas origens: Retornados. As viagens eram pagas pelo Estado português e quan-do chegavam a Lisboa os Retornados recebiam 5000 escudos porque muita gente não tinha família nem dinheiro em Portugal. Os meus tios foram para Gou-veia porque estavam lá os pais do meu tio. Estiveram em duas casas velhas antes de se fixarem numa com melhores condições.

Quando chegaram a Portugal, notaram algumas dife-renças em relação a Moçambique: a Beira tinha bons acessos, e tudo o que era necessário para viver o cli-ma e o ambiente eram diferentes.

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Os atentados terroristas em Paris e na Bélgica são da sua responsabilidade.

A destruição e a violência são inacreditáveis! Milhares de pessoas foram mortas, ficaram sem casa nem em-prego; milhares de crianças ficaram órfãs e sem quais-quer familiares que possam tomar conta delas, passam fome e estão perturbadas com a destruição que as rodeia. Edifícios desmoronaram e as estradas estão intransitáveis. A capital ficou completamente destruí-da.

A guerra na Síria começou em 2011. Em março de 2011, numa cidade Síria chamada Deraa, a população saiu à rua, de forma pacífica, a fim de se manifestar contra a detenção injusta de vários alunos de uma escola local. Estes alunos fizeram um “Graffiti” em que defendiam a queda do regime ditatorial vivido na Síria, opondo-se a Bashar-Al-Assad (um ditador que comanda o país desde o ano 2000 e que recebeu o cargo do seu pai, que esteve no poder durante mais de 30 anos). Durante o protesto os manifestantes além de exigirem a libertação destes prisioneiros políticos, pretendiam também, um regime democrático, com mais direitos e liberdades para a popu-lação. Isto não agradou a Al-Assad que mandou as autori-dades disparar contra os manifestantes. Ao contrário do esperado, a repressão por parte do governo não conven-ceu a população. Por isso, os protestos alastraram a ou-tras cidades e subiram de tom: a população que saiu para as ruas em protesto já não queria apenas políticas mais democráticas, exigia a demissão de Bashar al-Assad, elei-ções e um novo governo.

Começou, então, uma guerra civil que não tem ainda fim à vista e que teve um forte impacto sobre a vida dos sí-rios.

As forças em combate são as do exército do governo Sírio de Assad contra um conjunto bastante vasto de forças da oposição que receberam apoio dos Estados Unidos e de outros países que queriam derrubar a ditadura de Assad. Este grupo é muito variado: existem forças moderadas que querem democratizar a Síria, mas também os funda-mentalistas do Estado Islâmico, responsável por todo o tipo de barbaridades e crimes inimagináveis que querem restaurar um califado que já existiu na Idade Média e que vinha até à Península Ibérica.

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Os refugiados no país, na fronteira ou noutro lugar próximo vivem em campos de refugiados. Constroem, com os materiais que têm à disposição, (paus, sacos de plástico, lama, pedras…) abrigos precários, com condições sanitárias mínimas. Nos casos mais afurtonados, as agências de ajuda humanitária fornecem comida, água potável e assistência médica, ainda que rudimentar.