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01-02-2014 Indisciplina/Insucesso Proposta de Ações para minimizarem este binómio no Agrupamento de Escolas do Cerco, Porto Carla Rêgo Pires

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01-02-2014

Indisciplina/Insucesso Proposta de Ações para minimizarem este

binómio no Agrupamento de Escolas do Cerco,

Porto

Carla Rêgo Pires

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I

Em conversa informal e no seguimento de preocupações inerentes às funções

que desempenhamos, foi-me solicitado um trabalho cooperativo no sentido de

ponderarmos estratégias inovadoras eficazes no combate à indisciplina.

Conscientes de que se trata de um terreno saibroso, optamos por fazer

inicialmente um estudo da realidade específica no nosso agrupamento.

Partindo da análise dos relatos de ocorrência, facultados via correio eletrónico a

todos os docentes, compreendemos que há arestas complicadas de se

contornar, uma vez que implicam contra argumentar decisões dos docentes que

as aplicam.

A preparação dos docentes para os aspetos relacionais em geral e,

particularmente, para os aspetos disciplinares é uma das nossas inquietações,

podendo a gestão da sala de aula no sentido da prevenção da indisciplina dar,

relativamente a estes últimos, um importante contributo. O impasse central da

indisciplina poderá ser consideravelmente reduzido se ajudarmos os professores

a tornarem-se organizadores mais eficazes da aula.

Na nossa perspetiva, a uniformização de atitudes de avaliação de atos

indisciplinares carece de equilíbrio ao mexer com o fator humano, variável

incontrolável sob o ponto de vista concreto.

Assim, no que respeita à gestão da sala de aula para prevenção da indisciplina,

distinguem-se, do ponto de vista temporal, estratégias específicas do início do

ano, mas também estratégias prévias à direção das atividades em sala de aula,

determinantes para o seu sucesso; estratégias para estruturar o início da aula;

estratégias de motivação e manutenção do interesse do grupo turma; estratégias

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para manter um ritmo adequado de aula; estratégias de vigilância e controlo dos

comportamentos; e estratégias conducentes a relações interpessoais positivas.

Há, fundamentalmente, três aspetos que parecem merecer maior importância: o

controlo dos comportamentos, como preocupação predominante, a patentear

que a desobediência é o maior problema com que os professores se confrontam

em sala de aula; as estratégias de início do ano, denunciadoras da relevância

da aprendizagem de comportamentos e procedimentos nesta fase e ainda de

que os primeiros encontros entre professores e alunos sejam determinantes para

o que vai acontecer ao longo do ano; e a motivação e manutenção do

interesse do grupo turma que, ao evitar o cansaço e aborrecimento dos alunos,

evita correr riscos de os alunos desmotivados se tornarem desviantes.

Todos estes aspetos acontecem em ambientes onde, como já observamos o

fator humano entra em ação. Gerir a aplicação de normas e uniformizar atitudes

perante a indisciplina é fundamental para que a união marque posição e os

discentes compreendam que as regras existem, tem razão de ser e a sua

aplicação é garantida.

A gestão do ambiente de ensino-aprendizagem, gestão da instrução e gestão

dos comportamentos é, assim, o ponto de partida para um projeto de intervenção

que se quer apaziguador e transformador de uma realidade já demarcada,

saturada e desmotivante.

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II

Passemos então à observação de algumas das estratégias identificadas,

principiando pelas que marcam todo o percurso de um ano letivo, as estratégias

do início do ano.

Estas mostram a necessidade de se transferir uma imagem de autoridade e

organização, unificada em atitudes de firmeza e segurança, dureza e intervenção

imediata face a comportamentos de indisciplina.

O afastamento dos alunos conseguido através de uma atitude mais séria e que

não admite galhofa; a determinação de regras que regularizem aspetos diversos

na aula, como levantarem-se, a comunicação paralela e a falta de material, entre

outras, são atitudes conhecidas por todos e que devem ser aplicadas desde logo.

Neste sentido, consideramos pertinente a preparação de todo o pessoal docente

no início do ano letivo numa ação formativa conjunta, garantindo o conhecimento

e a passagem de informação. A receção ao novo professor que acaba de chegar

ao agrupamento carece, também, desta contextualização e apresentação a uma

realidade escolar, à semelhança de tantas outras, circunscrita nesta área

geográfica.

Um outro aspeto a ponderar é a organização da planta da sala que deverá

facilitar a circunscrição dos alunos em função do seu comportamento e

possibilitar a utilização de atividades em que se trabalhe com toda a turma,

acabando por facilitar a aprendizagem de comportamentos e procedimentos

adequados e permitir maior controlo. Esta organização só será profícua se

acontecer atempadamente e for realizada por docentes que conheçam os alunos

que pertencem a cada turma.

Sendo a planificação e preparação de aulas uma estratégia de gestão individual

prévia à condução das atividades na aula, consideramos, no entanto,

fundamentais estes atos comuns em início de ano letivo:

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Aplicação de rotinas

Determinar ritmo para a aula começar

Entrada pacífica e pontual dos alunos

Supervisionar o trabalho discente

Dar vivacidade à aula

Todos sabemos que a execução de atos inflacionais ou de indisciplina não pode

resultar na utilização, por parte das autoridades escolares, de sanções que

obstruam o exercício do direito básico a educação por parte dos alunos culpados.

Estes deverão ser conduzidos, pelos órgãos competentes, a uma completa

apreciação sob os pontos de vista pedagógico e psicológico, de modo a ser

percetível as necessidades especiais que talvez apresentem, com o ulterior

encaminhamento aos programas de orientação, apoio, acompanhamento e

tratamento adequados à sua situação. Neste sentido, o trabalho desenvolvido

pelo SPO é muito importante, mas, por si só, insuficiente.

Entendemos que, tendo em vista a necessária inquietação em prevenir a

ocorrência de atos de indisciplina ou inflacionais, a direção da escola e os

professores deverão procurar, a todo momento, orientar os alunos acerca do

binómio direitos versus deveres, incutindo em todos, noções básicas de

cidadania.

Ora, aplicar e respeitar o Regulamento Interno, assim como algumas regras de

saber ser e saber estar básicas implica a certeza de que estas estão bem

divulgadas e interiorizadas. Neste sentido, consideramos que a afixação nas

salas e no Pavilhão Administrativo será um local onde deverá estar visível o

Regulamento Interno a todos quantos entram nesta organização educativa, com

particular enfoque nos encarregados de educação, a quem, deveria ser entregue

sempre que este seja chamado à escola por motivos de indisciplina do seu

educando, um desdobrável onde resumidamente de expõe os direitos e deveres

dos alunos e encarregados de educação. Não podemos esquecer que não basta

entregar este folheto, mas é necessário uma breve explicação por parte, neste

caso, do diretor de turma, certificando-nos de que houve perceção do mesmo.

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Muitas vezes as normas explícitas (Regulamento Interno) não são tão explícitas

quanto deveriam ser, ou seja, não chegam ao conhecimento de todos e seu

cumprimento não é realizado sequer por professores e funcionários, dando a

impressão de que tais normas não têm valor.

Entendemos, também, que deverá ser tornado público, resguardando a

identidade das partes, um gráfico mensal das ordens de saída de sala de aula.

Esta informação deverá ser interna, mas também, externa, isto é, exposta, tal

como o Regulamento Interno, no mesmo local, o Pavilhão Administrativo.

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III

Quanto à Motivação e Manutenção de comportamentos, é imprescindível saber

as instâncias psicológicas e os instrumentos de defesa que atuam no estudante

e levar o educador a compreender no ofendedor a motivação para tais

circunstâncias. Aumenta-se, desta forma, a empatia e melhora-se claramente a

relação professor-aluno.

Frequentemente, os alunos admitem serem vítimas de castigos injustos, fazendo

com que se sintam despeitados pelo professor, o que leva a mais desacato e

comportamento contraproducente. Este problema pode ser anulado se se

debaterem antecipadamente quais as medidas punidoras e compensações que

se vai dar. Ter uma clara perceção deste facto é particularmente importante. Não

devemos ameaçar ou fazer ultimatos. Devemos sim, reconhecer que o Aluno

escolhe seu próprio modo de atuar e certificarmo-nos de que tem consciência

das consequências de seu comportamento.

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IV

Medidas sancionatórias formativas:

A. Trabalho voluntário

O trabalho voluntário é uma notável forma de ensinar exemplos de vida e

competências importantes para alunos.

Bancos de alimentos, peditórios nacionais, apoio a lares de terceira idade, entre

outros, costumam contar com voluntários. Fazer trabalho voluntário e oferecer

um apoio pode ensinar aos alunos a relevância de trabalhar e de fazer um bom

trabalho.

Ora, este tipo de atividade exige muita planificação por parte do professor para

encontrar projetos que necessitem de voluntários. Estabelecer este tipo de

contatos pode ensinar aos alunos a importância de fazer algo altruisticamente e

perceberem outros valores, até então repudiados por eles enquanto cidadãos.

B. Trabalho em equipa

Trabalhar satisfatoriamente em equipa é uma capacidade que muitas pessoas

têm de aprender. Os alunos precisam de oportunidades para realizar esta

habilidade, para que possam aprender a tratar as pessoas com justiça e

consideração.

Tanto em sala de aula como em campo, algumas lições podem ser conhecidas

trabalhando em equipa. Os trabalhos em grupo continuam a ser uma ferramenta

relevante na edificação de confiança, cooperação e respeito. Trabalhar em

equipa para limpar a escola, acompanhar o primeiro ciclo em visitas de estudo,

tendo de salvaguardar a segurança deles ou resolver problemas em sala de aula,

podendo partilhar com o docente estratégias que, no ponto de vista do aluno,

poderão resolver as questões em análise, são exemplos de atividades

responsáveis, divertidas e educativas na construção de caráter.

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C. Estabelecimento de metas

Auxiliar um aluno a conseguir os seus objetivos pode ser muito satisfatório, e é

uma forma útil de construir o caráter.

Registar as metas pretendidas ajuda o aluno a ver o que já fez e o que ainda

necessita fazer. Esses objetivos podem ser esforçar-se para ter uma avaliação

melhor, desenvolver aptidões a nível do desporto escolar, ou aprender a tocar

um instrumento musical.

Fazer metas a curto prazo e evitar as metas a longo prazo ensina os alunos a

serem mais produtivos e a verem os resultados mais rapidamente. Metas muito

desafiadoras causam desmotivação. Enquanto delimitar pequenos objetivos

permite que os discentes aprendam depressa que é preciso ter obstinação e

persistência para obter os seus objetivos.

Esse estabelecimento de metas individuais deverá ser realizado por um docente

tutor, pelo diretor de turma, ou mesmo pelo docente de cada disciplina. Os alunos

focam muito a sua atuação no objetivo final de transitarem de ano letivo e

ignoram a necessidade de um trabalho contínuo.

D. Seleção do Diretor de Turma

Na nossa perspetiva, os critérios de seleção do diretor de turma deverão passar

pela consciência do seu papel de gestor pedagógico intermédio, mediador numa

relação cada vez mais simbiótica entre o meio escolar e a comunidade que o

engloba.

Este professor necessita de uma visão integradora de todos os meios da escola

e da comunidade educativa de forma a ser capaz de defrontar todos os desafios

inerentes ao cargo.

O nosso Diretor de Turma passou a ser um administrativo atulhado de trabalho

burocrático e deixou de ter tempo para exercer o seu papel formativo, controlador

e apaziguador.

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O Secretário deverá, nesta linha de pensamento, exercer funções de cooperação

que vão para além da mera realização das atas e do exercício de apoio

voluntário, baseado em relações laborais mais ou menos equilibradas.

Não podemos exigir aquilo que não damos. Ao não ser dado um espaço temporal

capaz de se trabalhar com os alunos a sua formação de caráter, sem prejudicar

o trabalho pedagógico, será necessário incrementar a parceria Diretor de Turma/

Secretário.

Há quem considere não ser necessária formação específica no exercício de

funções de direção de turma, a nós parece-nos fundamental haver uma formação

prévia e um estudo sistémico da realidade no início de cada ano letivo,

salientando que este ponto de vista ganha dimensão quando a direção de turma

é entregue a docentes que desconhecem o Agrupamento.

E. Delimitar hierarquias

Num agrupamento por si só integrado numa realidade sociocultural empobrecida

e socialmente danificada pelo confronto de ideias de vidas multiculturais, nem

sempre compreendidas, é pertinente que se repesquem as hierarquias de gestão

social e familiar, esquecidas pelos nossos alunos.

É percetível a ausência num bom número de alunos de respeito por hierarquias

parentais, policiais, sociais e até mesmo politicas. Não será de estranhar que

esta relação anárquica siga caminho e entre na Escola, nomeadamente na sala

de aula. O desrespeito à autoridade administrativa, operacional e docente é

notória, assim como a necessidade de se criarem linhas de separação claras e

intransponíveis.

É um pouco o regresso ao passado, às normas de conduta escolar que

facilitavam a vida aos professores de outros tempos e clarificavam os alunos

quanto ao papel de todos os agentes na Escola.

Criar um conforto aos docentes que se sentem negligenciados numa sociedade

que cada vez mais desvaloriza e desprestigia o trabalho que fazemos poderá

promover uma autoestima que se quer positiva e poderá encorajar os docentes

a apostarem e acreditarem na possibilidade de marcarem a diferença.

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O docente tem de ter os seus espaços na Escola perfeitamente delimitados e os

alunos tem de perceber esses limites intransponíveis, tal como nós os tivemos

num tempo em que se percebia a necessidade de respeito pelas estruturas

escolares.

Em suma, estas diretrizes apontadas são ideias de quem vive de perto todas

estas questões inerentes à indisciplina e, por sua vez, insucesso académico.

Poderão não resultar no nosso agrupamento, poderão não marcar qualquer

diferença, mas serão sempre um empenho reflexivo de procura de soluções

globais. Nunca descurando as variantes humanas, será sempre possível

estipular critérios uniformizadores e incuti-los nos docentes e discentes. Mais

uma vez, consideramos que se recebe mais quando damos mais.

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Anexo:

Proposta de 20 evidências para minimizar a indisciplina com

alunos:

1. Estabeleça Regras claras

2. Faça com que os seus alunos as compreendam

3. Determine uma sanção para a quebra das mesmas

4. Determine uma recompensa para seu cumprimento

5. Peça apoio aos seus colegas de equipa

6. Estabeleça estratégias em conjunto com a equipa; os alunos precisam

perceber a hegemonia das atitudes.

7. Respeite os seus alunos

8. Oiça-os

9. Responda ao que lhe for perguntado com educação e paciência

10. Elogie as boas condutas

11. Seja claro e objetivo nas suas intervenções

12. Deixe claro o que o errado é o comportamento, não o aluno

13. Seja coerente nas suas expectativas

14. Reconheça os sentimentos dos seus alunos e respeite-os

15. Não lhes diga o que fazer; permita que cheguem às suas próprias

conclusões

16. Não descarregue a sua mágoa em cima deles

17. Encoraje sempre

18. Acredite no potencial de cada um e no seu também

19. Trabalhe crenças negativas transformando-as em positivas

20. Seja afetuoso(a)

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Bibliografia:

http://www.educ.fc.ul.pt/recentes/mpfip/pdfs/brancasantos.pdf

Amado, J. S. & Freire, I. P. (2002) Indisciplina e violência na escola –

compreender para prevenir. Porto: Asa Editores

Estanqueiro, A. (2010) Boas práticas na educação – o papel dos professores.

Lisboa: Editorial Presença.

Lopes, J & Rutherford, R. (2001) Problemas de comportamento na sala de

aula. Porto: Porto Editora.