DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o...

36
1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DOCE Por Priscila Benjamim Abreu Orientador Prof. Francisco Carrera Rio de Janeiro 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

Transcript of DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o...

Page 1: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

1

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DOCE

Por Priscila Benjamim Abreu

Orientador

Prof. Francisco Carrera

Rio de Janeiro

2013

DOCU

MENTO

PRO

TEGID

O PEL

A LE

I DE D

IREIT

O AUTO

RAL

Page 2: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DOCE

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito para obtenção do grau de

especialista em Direito Ambiental

Page 3: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

3

RESUMO

Este trabalho contribui para uma maior reflexão sobre a importância da

Bacia Hidrográfica do rio Doce para o Brasil, iniciando com uma breve

descrição da bacia hidrográfica, analisando desde sua localização até os

conflitos existentes em toda sua extensão, passando pelo plano de seu

desenvolvimento, os aspectos jurídicos e políticos, assim como um capitulo

sobre outorga, pelo seu papel importante.

Page 4: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

4

METODOLOGIA

A metodologia utilizada foi de revisão bibliográfica acerca de bacias

hidrográficas e da preservação de recursos hídricos. Além disso, a pesquisa na

internet e nos dados oficiais do governo foram fundamentais para o

aprofundamento do assunto.

Page 5: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

5

INTRODUÇÃO

Ao longo do tempo o homem vem utilizando os recursos hídricos sem

preocupação com a sua conservação. A crescente demanda pelo uso dos

recursos naturais foi acompanhada nas últimas décadas, pela preocupação

com a quantidade e qualidade desses recursos. Neste sentido, cresceu

enormemente o valor da Bacia Hidrográfica como unidade de análise e

planejamento ambiental,

A história dos povos sempre esteve muito ligada às bacias

hidrográficas. Para citar alguns exemplos, podemos lembrar a importância da

bacia do Rio Nilo que foi o berço da civilização egípcia; os mesopotâmicos que

se abrigaram no vale dos Rios Tigre e Eufrates; os hebreus, na bacia do Rio

Jordão; os chineses que se desenvolveram as margens dos rios Yang – Tse e

Huang Ho; os hindus, na planície dos Rios Indo e Ganges.

Bacia hidrográfica pode ser entendida como uma área onde a

precipitação é coletada e conduzida para seu sistema de drenagem natural isto

é, uma área composta de um sistema de drenagem natural onde o movimento

de água superficial inclui todos os usos da água e do solo existentes na

localidade.

Os limites da área que compreende a bacia hidrográfica são definidos

topograficamente como os pontos que limitam as vertentes que convergem

para uma mesma bacia ou exutório.

Pela sua importância, a Bacia Hidrográfica do rio Doce foi considerada

prioritária pelo Ministério de Minas e Energia – MME, no âmbito do Convênio nº

013/2004, de 21 de dezembro de 2004, celebrado entre o Ministério e a

Empresa de Pesquisa Energética – EPE, para elaboração dos estudos de

Avaliação Ambiental Integrada.

Page 6: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

6

Para se ter uma ideia da sua importância econômica, a partir de dados

da Fundação João Pinheiro (2001), pode-se inferir que o PIB da bacia do rio

Doce representa em torno de 15% do PIB do Estado de Minas Gerais

(estimado em 122 bilhões em 2001), sendo que somente o município de

Ipatinga contribui com 5,4% daquele valor. Deve ser lembrado também que a

bacia abriga o maior complexo siderúrgico da América Latina. Três das cinco

maiores empresas de Minas Gerais no ano de 2000, a Companhia Siderúrgica

Belgo Mineira, a ACESITA e a USIMINAS, lá operam. Além disso, lá se

encontra a maior mineradora a céu aberto do mundo, a Companhia Vale do Rio

Doce. Tais empreendimentos industriais, que apresentam níveis de qualidade e

produtividade industrial que estão entre os maiores do mundo, desempenham

papel significativo nas exportações brasileiras de minério de ferro, aços e

celulose. Além deles, a bacia contribui na geração de divisas pelas exportações

de café (MG e ES) e polpa de frutas (ES).

Page 7: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

7

CAPÍTULO 1

DESENVOLVIMENTO DA BACIA DO RIO DOCE

1.1 - Histórico da ocupação

A bacia hidrográfica do rio Doce foi descoberta em 1501 pelos

navegadores portugueses, mas a ocupação só foi iniciada em fins do século

XVII, porque os bandeirantes, partindo de São Paulo, pelos sertões,

descobriram ouro nas cabeceiras dos rios Piracicaba e Carmo.

Ribeirão do Carmo e Vila Rica, hoje Mariana e Ouro Preto, foram a porta

de entrada para a ocupação da bacia. Mas, com o intuito de evitar os

"descaminhos do ouro", a Coroa Portuguesa proibiu a navegação no rio Doce.

Além da proibição, a mata fechada, a malária e os índios Botocudos,

conhecidos por sua hostilidade, fizeram da região uma das últimas a serem

ocupadas em Minas Gerais.

Page 8: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

8

A efetiva ocupação da região somente se deu a partir de construção da

Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM). Iniciada em 1903 em Vitória, em 1910

chegava ao então pequeno entreposto comercial de Porto de Figueiras, hoje

Governador Valadares.

Na década de 30, a EFVM chegou a Itabira, na bacia do rio Piracicaba,

de cujas minas seriam extraídas o minério de ferro a ser exportado via o Porto

de Vitória. Em 1937 foi instalada a primeira siderúrgica às margens do rio

Piracicaba, a Companhia Siderúrgica Belgo Mineira. Em 1942 foi criada a

Companhia Vale do Rio Doce, em Itabira.

A década de 30 marcou ainda a introdução do capim colonião na

região de Porto Figueiras, o que possibilitou a expansão da pecuária. A

introdução das pastagens e a forte demanda por carvão para as siderurgias e

madeira - tendo na Europa pós-guerra, Estados Unidos e Japão seus grandes

consumidores - fez surgir na bacia um importante processo de devastação.

No início da década de 50 foi inaugurada a rodovia Rio Bahia, que

passa por Governador Valadares, fazendo dali um corredor migratório para as

populações da região Nordeste. Além disso, como as terras após a derrubada

da mata não se prestavam a muito mais que a pecuária, a cidade de

Governador Valadares viveu um inchamento demográfico, chegando a uma

taxa de crescimento de 13,3% na década (IBGE).

Em 1953, também às margens do Piracicaba, foi inaugurada a

Companhia de Aços Especiais Itabira - ACESITA. Dez anos mais tarde, poucos

quilômetros a jusante, entra em operação a Usina Intendente Câmara -

USIMINAS.

A instalação das siderúrgicas propiciou o surgimento do Aglomerado

Urbano do Vale Aço, envolvendo as cidades de Ipatinga, Coronel Fabriciano e

Timóteo.

Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, como forma de

aliviar a pressão sobre as florestas naturais.

Page 9: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

9

Os maciços florestais de eucaliptos na região viabilizaram a instalação,

em 1975, da Companhia Nipo-Brasileira - CENIBRA, produtora de celulose,

localizada às margens do rio Doce, a jusante da foz do rio Piracicaba, no

município de Belo Oriente.

1.2 - Nascedouro da bacia

O rio Doce nasce no município de Ressaquinha, Serra da Mantiqueira

(MG), onde recebe o nome de rio Piranga. No município de Alto Rio Doce, ao

receber as águas do rio do Carmo, o rio Piranga passa a se chamar rio Doce.

Com um total de 853 km de percurso, o rio Doce tem sua foz no Oceano

Atlântico na localidade da Vila de Regência, pertencente ao município de

Linhares, no Espírito Santo.

1.3 - Os principais afluentes:

• Rio do Carmo

• Ribeirão Ipanema

• Rio Xopotó

• Rio Piracicaba

• Rio Casca

• Rio Santo Antônio

• Rio Manhuaçu

• Rio Resplendor

• Rio Guandu

• Rio Santa Maria do Doce

• Rio Pancas

• Rio São José

• Rio Caratinga

• Rio Suassui pequeno

• Rio Suassui grande

• Rio Brejaúba

Page 10: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

10

1.4 - Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce

A bacia hidrográfica do rio Doce, pertencente à região hidrográfica do

Atlântico Sudeste e a sua área é quase duas vezes o tamanho da área do

estado do Espírito Santo.

1.4.1 - Extensão e limites

A Bacia do Rio Doce pertencente à região hidrográfica do Atlântico

Sudeste. Sua área é de quase duas vezes o tamanho da área do estado do

Espírito Santo, exatos 83.400km2, sendo 86,4% no estado de Minas Gerais e

14% no Espírito Santo.

Confronta-se ao norte com a bacia dos rios Jequitinhonha e Mucuri, ao

sul com a bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, ao oeste com a bacia do rio

São Francisco, e, em pequena extensão, com a do rio Grande e, finalmente ao

noroeste com a bacia do rio São Mateus.

As nascentes dos formadores do rio Doce estão em altitudes

superiores a 1.000 m (Serra do Espinhaço e Mantiqueira), sendo que o rio

Doce segue em altitudes inferiores a 300 m;

Sua extensão é de 853 km desde a nascente até o oceano Atlântico,

no povoado de Regência-ES.

A bacia do Doce compreende 230 municípios, sendo 202 em Minas

Gerais e 28 no Espírito Santo.

1.4.2 Tipos Climáticos na Bacia

O clima que atua no interior da bacia é o tropical úmido, estando

caracterizado, entretanto, por uma não uniformidade climática. Esta diversidade

é explicada por um conjunto de fatores, sobretudo, pela posição geográfica,

Page 11: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

11

pelas características de relevo e do encontro de massas de ar que atuam no

interior da bacia, como é o caso das massas de ar influenciado pelo Sistema

Tropical Atlântico que predomina grande parte do ano, e também, do Sistema

Equatorial Continental, ocasionando Linhas de Instabilidade Tropical, sobretudo

no verão, provocando chuvas intensas, com cerca de 60% do total das chuvas

anuais. Normalmente, a estação chuvosa se inicia em novembro e se prolonga

até maio com uma distribuição heterogênea no interior da bacia, mas como

totais anuais superiores a 700 mm.

Três tipos climáticos podem ser observados na bacia:

• O clima tropical de altitude com chuvas de verão e verões frescos

presente nas vertentes das Serras da Mantiqueira e do Espinhaço e nas

nascentes do Rio Doce;

• O clima tropical de altitude com chuvas de verão e verões quentes,

presente nas nascentes dos seus afluentes,

• O clima quente com chuvas de verão, presente nos trechos médio e

baixo do rio Doce e de seus afluentes. (CPRM, 1999).

1.4.3 População da Bacia

É de cerca de 3.100.000 o número de habitantes que dependem da

Bacia, sendo que 68,7% residem na zona urbana e 93% dos municípios

possuem menos de 20.000 habitantes.

1.5 - Regiões hidrográficas da bacia do rio doce

1.5.1 Região Hidrográfica Doce 1

Rio Piranga com 25.000 Km2 abrange 69 municípios. CBH-Piranga -

Comitê da bacia hidrográfica do rio Piranga

Page 12: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

12

Os Problemas Hídricos e Ambientais desta região são a expansão

urbana desordenada, o desmatamento, a retirada da mata ciliar e topo de

morro, o lançamento de esgotos domésticos, a poluição das atividades

agrícolas (suinoculturas, alambiques, etc.) e a falta de política de educação

ambiental; a mineração de areias e de pedra sabão.

1.5.2 Região Hidrográfica Doce 2

Rio Piracicaba com 5.800 Km2, abrange 20 municípios. CBH-

PIRACICABA - Comitê da bacia hidrográfica do rio Piracicaba

Os principais problemas Hídricos e Ambientais são a falta de

tratamento de esgoto, o lançamento de poluentes industriais, os efluentes das

Mineradoras, a falta de proteção das nascentes, as erosões, a falta de

conscientização da população, a ausência matas de topo (recarga), o

desmatamento, a falta de proteção das matas ciliares, muitos problemas c/

agrotóxicos e com o garimpo.

1.5.3 Região Hidrográfica Doce 3

Rio Santo Antônio com 10.400 Km2, abrange 28 municípios .CBH-

SANTO ANTÔNIO - Comitê da bacia hidrográfica do rio Santo Antônio.

Os problemas Hídricos e Ambientais são a erosão, o assoreamento e o

desmatamento.

1.5.4 Região Hidrográfica Doce 4

Rio Suaçui Grande com 14.700 Km2 abrange 41 municípios. BH-

SUAÇUI GRANDE - Comitê da bacia hidrográfica do rio Suaçuí

Os principais problemas Hídricos e Ambientais são a falta de

tratamento de esgoto, as erosões, a ausência matas de topo (recarga), o

desmatamento, o assoreamento, a falta de saneamento básico, problemas de

Page 13: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

13

abastecimento urbano, enchentes, a falta de proteção das matas ciliares e a

diminuição do volume de água dos rios.

1.5.5 Região Hidrográfica Doce 5

Rio Caratinga com 6 000 Km2 abrange 26 municípios sendo 16 deles

da área de drenagem do Rio Caratinga e outros 10 localizados à margem

direita do Rio Doce. CBH- CARATINGA - Comitê da bacia hidrográfica do rio

Caratinga

Os principais problemas Hídricos e Ambientais são a falta de

tratamento de esgoto, a poluição, erosões, assoreamento, enchentes, a falta de

proteção das matas ciliares e a diminuição do volume de água dos rios.,

1.5.6 Região Hidrográfica Doce 6

Rio Manhuaçú: com 9370 Km2 abrange 26 municípios CBH-

MANHUAÇU - Comitê da bacia hidrográfica do rio Manhuaçú

Os principais problemas Hídricos e Ambientais são a falta de

tratamento de esgoto, poluição, erosões, assoreamento, a falta de proteção

das matas ciliares e a diminuição do volume de água dos rios.

1.5.7 Região Hidrográfica Doce 7

Com 11.900 Km2, é formada com os rios do Estado do Espírito Santo e

abrange 25 municípios.Diretorias dos CBH's bacia hidrográfica do Rio Doce –

ES.

1.6 - Principais atividades

Entre as atividades desenvolvidas em consequência da Bacia

Hidrográfica do Rio Doce encontramos a agropecuária, o reflorestamento,

Page 14: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

14

diversas culturas de café e cacau, a suinocultura e criação de gado leiteiro e de

corte.

A agroindústria e a indústria sucroalcooleira estão presentes e muito

representativas, especialmente para abastecer o setor de combustível, assim

como as siderurgias e a geração de energia elétrica.

A mineração de ferro, ouro, bauxita, manganês, pedras preciosas e

outros são características históricas da região.

A indústria de turismo, celulose e laticínios assim como o setor

terciário, o comércio, e os serviços de apoio aos complexos industriais são

expressivos na região.

Page 15: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

15

CAPÍTULO II

O PLANO DA BACIA HIDROGRÁFICA

2.1 - Abordagem jurídica e institucional

O Plano de Bacia Hidrográfica é um instrumento previsto nas Políticas

Nacional, Lei Nº 9.433/97 e na Estadual, Lei Nº 11.612/09, são planos

diretores, de natureza estratégica e operacional, que têm por finalidade

fundamentar e orientar a implementação da Política Estadual de Recursos

Hídricos, compatibilizando os aspectos quantitativos e qualitativos do uso das

águas, de modo a assegurar as metas e os usos neles previstos, na área da

bacia ou região hidrográfica considerada.

O Plano visa gerar elementos e meios que permitam aos comitês e aos

demais componentes do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos

Hídricos gerirem efetiva e sustentavelmente os recursos hídricos superficiais e

subterrâneos, de modo a garantir os usos múltiplos de forma racional e

sustentável.

2.2 - A realização do plano de bacia

Compõe-se de quatro fases importantes:

• Fase Preparatória: Levantamento de dados e formulação do

Plano de Trabalho.

• Fase Diagnóstica: Cenário Atual – Visão geral para detectar

problemas e potencialidades.

• Fase Prognóstica: Projeção de Cenários – Tendência de

evolução do quadro atual, projeção a partir do comportamento atual,

projeções de aumento da oferta de água e de redução da demanda.

Page 16: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

16

• Fase Metas, Programas e Ações: Estabelecimento das metas,

levantamento das intervenções desejadas e das fontes de recursos

necessários, identificação das metas prioritárias, hierarquização das

intervenções e esquema de implementação do plano Fase

Implementação, Monitoramento, Avaliação e Revisão do Plano.

2.3 - O plano integrado de recursos hídricos

O Plano integrado foi organizado em três etapas: Diagnóstico e

Prognóstico da Bacia do Rio Doce; Metas e Programas de Ação e Diretrizes

para a Gestão da Bacia do Rio Doce;

Na primeira etapa foi desenvolvido um trabalho de acompanhamento

permanente com reuniões mensais de trabalho, acrescidas de 30 (trinta)

reuniões públicas realizadas em diferentes localidades da bacia.

Nas duas primeiras etapas foram elaborados o Diagnóstico da Bacia e

o Prognóstico dos Recursos Hídricos no Horizonte do Plano, onde se

avaliaram, respectivamente, a condição atual da qualidade da água e das

disponibilidades hídricas, e a projeção destas condições, conforme distintos

cenários, até o ano de 2030.

A etapa final constituiu-se na definição das metas sugeridas para a

bacia, e na descrição dos programas, projetos e ações preconizadas, incluindo

seus objetivos, justificativas, procedimentos, atores envolvidos e diversos

outros elementos que os caracterizam, seguido da análise das condições e

perspectivas de atendimentos das metas, a partir da efetiva implantação dos

programas, incluindo a viabilidade financeira do Plano.

Nesta última etapa também foram desenvolvidos, entre outros, estudos

relacionados a um arranjo institucional viável para a gestão dos recursos

hídricos da bacia, bem como diretrizes para a aplicação dos instrumentos de

gestão definidos na Lei Nº 9.433/97, com destaque para o Enquadramento

sugerido no âmbito do Plano, como meta de qualidade a ser alcançada.

Page 17: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

17

2.4 - Leis do estado de minas gerais sobre o assunto

Para o estado de Minas Gerais temos normas infraconstitucionais

relativas às Águas e Recursos Hídricos princípio da recepção. Este Estado

acolhe leis e normas, consolidando-as e, simultaneamente, desencadeando a

edição de outras, ou mesmo o aprimoramento das então acolhidas.

São as seguintes as leis que regem o assunto no estado de Minas

Gerais, onde a Bacia hidrográfica do Rio Doce nasce:

• Lei Estadual nº 7.772, de 08/09/1980 – Proteção, conservação e

melhoria do meio ambiente.

• Lei Estadual nº 9.367, de 11/12/1986 – Águas residuais e resíduos

sólidos provenientes de indústrias de açúcar, álcool e aguardente.

• Lei Estadual nº 13.199/1999, que Institui a Política Estadual de

Recursos Hídricos e Cria o Sistema de Gerenciamento de Recursos

Hídricos deste Estado.

2.5 - Sistema estadual de gerenciamento de recursos hídricos

em minas gerais

Fazem parte do Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos do

Estado de Minas Gerais os seguintes Órgãos:

• A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento

Sustentável.

• O Conselho Estadual de Recursos Hídricos - CERH-MG.

A fim de atender ao princípio da participação do poder público, dos

usuários e das comunidades na gestão dos recursos hídricos o Conselho

Estadual de Recursos Hídricos (CERH-MG), órgão deliberativo e normativo

central do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos. É

Page 18: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

18

composto por representantes do poder público, de forma paritária entre o

Estado e os municípios e representantes dos usuários e de entidades da

sociedade civil ligadas aos recursos hídricos, de forma paritária com o poder

público.

• O Instituto Mineiro de Gestão das Águas - IGAM;

• Os comitês de bacia hidrográfica;

• Os órgãos e as entidades dos poderes estaduais e municipais

cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos;

• As agências de bacias hidrográficas.

2.6 - Leis do estado do espírito santo sobre o assunto

A Lei Estadual do Espírito Santo (LEES) nº 5.818, de 29 de dezembro

de 1998 estabelece as diretrizes para a implementação do Plano Estadual de

Recursos Hídricos (PERH), que é o documento programático do setor, com o

objetivo de fundamentar e orientar a execução da Política Estadual de

Recursos Hídricos.

Dispõe ainda sobre a elaboração do Plano da Bacia Hidrográfica e os

respectivos mecanismos de avaliação quanto à evolução e eficácia, sobre as

outorgas de direito de uso da água, da cobrança pelo uso dos recursos

hídricos, do sistema de informações sobre os recursos hídricos, entre outros.

Importante acrescentar que o estado do Espírito Santo estabeleceu

legislação específica e própria para alguns temas relacionados aos recursos

hídricos:

• Lei Estadual nº 6.295, de 26 de julho de 2000 que trata sobre as

águas subterrâneas do Estado.

• A Lei Estadual nº 8.960, sancionada em 18 de julho de 2008, que

trata do fundo Estadual de Recursos Hídricos (FUNDÁGUA).

Page 19: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

19

• Lei Complementar nº 152, de 16 de junho de 1999, que trata do

Fundo de Defesa e Desenvolvimento do Meio Ambiente – FUNDEMA,

• Lei Complementar nº 248, de 28 de junho de 2002, que trata do

Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – IEMA, que

é uma entidade autárquica.

2.7 - Sistema estadual de gerenciamento de recursos hídricos

no espírito santo

2.7.1 SEAMA - Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos

Hídricos

A atuação dessa Secretaria está direcionada à: Promoção de ações

que visem a preservação e a melhoria da qualidade de vida e ambiental; à

supervisão e apoio na elaboração de pesquisas, estudos científicos e projetos

relacionados à efluentes líquidos, resíduos sólidos, parâmetros atmosféricos,

recursos hídricos superficiais (interiores e costeiros) e solos; ao fomento a

ações que visem o desenvolvimento de atividades relacionadas com Política

Estadual de Educação Ambiental; à coordenação das ações do Conselho

Estadual de Meio Ambiente - CONSEMA, dos Conselhos Regionais de Meio

Ambiente - CONREMAS e do Conselho Estadual de Recursos Hídricos –

CERH.

2.7.2 CERH- Conselho Estadual de Recursos Hídricos

É um órgão colegiado central em nível de deliberação superior do

Sistema Integrado de Gerenciamento e Monitoramento dos Recursos Hídricos,

sendo integrante da estrutura organizacional da Secretaria de Estado de Meio

Ambiente e Recursos Hídricos – SEAMA, atuando através de reuniões

plenárias e de câmaras técnicas.

Page 20: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

20

2.7.3 Os Comitês de Bacia Hidrográfica no ES

Encontra-se dividido oficialmente em 12 Unidades Administrativas de

RH:

Itaúnas; São Mateus (Cricaré); Rio Doce (abrangendo Guandu, Santa

Maria do Doce e São José); Riacho; Reis Magos; Santa Maria da Vitória; Jucu

Guarapari;

Benevente; Rio Novo; Itapemirim e Itabapoana.

2.7.4 As Agências de Águas ou de Bacia Hidrográfica no ES

A Lei N° 5.818, de 29 de dezembro de 1998, dispõe sobre a Política

Estadual de Recursos Hídricos, institui o Sistema Integrado de Gerenciamento

e Monitoramento dos Recursos Hídricos, do Estado do Espírito Santo -

SIGERH/ES, entre outras abordagens.

Em seu Art. 10, aborda os tópicos a serem contemplados no Plano

Estadual dos Recursos Hídricos e as diretrizes para proteção das áreas

marginais dos corpos d'água a serem implementadas pelas Agências de Bacias

Hidrográficas (ABH).

Além de regulamentar o Sistema Integrado de Gerenciamento e

Monitoramento dos Recursos Hídricos do Estado do Espírito Santo

(SIGERH/ES).

Page 21: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

21

CAPITULO III

POLÍTICA URBANA

Com relação à política urbana aplicável aos municípios que integram a

bacia hidrográfica do rio Doce considera-se que, em um nível mais abrangente,

deva-se atender ao disposto nos artigos 182 e 183 da Constituição Federal de

1988, cumprindo as exigências regulamentares dessa política, como

estabelecida pela Lei Federal nº 10.257, de julho de 2001, a qual se dá

denominação usual de Estatuto da Cidade.

Como diretrizes gerais da política urbana, têm-se a garantia da Função

Social da Propriedade e da Cidade.

3.1 - O plano diretor municipal

Na bacia hidrográfica do rio Doce há 34 municípios com

obrigatoriedade de adoção de um Plano Diretor Urbano, por possuírem mais de

20.000 habitantes ou por pertencerem à região metropolitana. De acordo com

levantamento efetuado, todos os municípios listados já adotaram ou estão em

processo de adoção de seus Planos Diretores Municipais.

O Plano é obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes.

3.2 - Interfaces dos planos diretores municipais e suas

conexões com a política de recursos hídricos

Estas interfaces normalmente aparecem dentro de cada Plano Diretor

Municipal em diversos artigos independentes, dentre os quais se citam os que

mantêm direta relação com recursos hídricos: das diretrizes do uso e ocupação

do solo, das diretrizes do sistema viário, das diretrizes para implantação de

infraestrutura, do sistema de drenagem urbana e do saneamento ambiental.

Page 22: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

22

3.3 - Comitês

Os comitês de bacia hidrográfica foram criados para gerenciar o uso

dos recursos hídricos de forma integrada e descentralizada, com a participação

da sociedade.

Antes de sua criação, o gerenciamento da água era feito de forma

isolada por municípios e pelo Estado, o que dificultava o planejamento da

captação, distribuição e do tratamento da água.

O Comitê é a primeira e última instância decisória com debate

participativo, uma vez que a Lei das Águas permite que a organização recorra

ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos, caso os governos discordem de

alguma decisão. A qualquer assunto que venha a ser apreciado no âmbito do

Conselho Nacional dos Recursos Hídricos, é importante que tenha passado

primeiro no âmbito da bacia onde realmente a população e os interesses estão

representados, ou seja, os interesses da bacia estão representados.

Constituídos pela lei que estabeleceu a Política Estadual de Recursos

Hídricos, lei 3.239/98, são compostos por colegiados que, por sua vez, são

compostos por representantes do Poder Público, da sociedade civil e de

usuários de água. Essa formação tem como objetivo garantir a deliberação de

decisões que influenciem na melhoria da qualidade de vida da região e no

desenvolvimento sustentado da bacia. Por seu poder consultivo, normativo e

deliberativo, os comitês são considerados o "Parlamento das Águas".

O objetivo da criação dos comitês é possibilitar a harmonização de

conflitos e promover a multiplicidade dos usos, a conservação e a recuperação

da água, garantindo o uso racional e sustentável dos corpos hídricos.

Também é função dos colegiados articular a atuação de entidades

intervenientes, aprovar critérios de cobrança e o plano de bacia, inclusive

acompanhando sua execução.

Os Comitês têm como braço executivo as Agências de Bacia,

responsáveis pela atualização do balanço hídrico, da disponibilidade de água e

do cadastro de usuários, além da operacionalização da cobrança pelo uso dos

recursos hídricos, mediante delegação.

Page 23: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

23

3.4 - Aplicação dos recursos de cobrança pelos comitês

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce – CBH-DOCE - foi o

quarto comitê a implementar a cobrança pelo uso da água em rios de domínio

da União.

Por sua disponibilidade limitada, a cobrança pelo uso tem por objetivo

principal a racionalização da água.

A cobrança foi estabelecida após a consolidação de um grande pacto

entre os poderes públicos, os setores usuários e as organizações civis

representadas no âmbito do CBH-DOCE para a melhoria das condições

relativas à quantidade e à qualidade das águas da Bacia, obedecendo ao

seguinte critério:

A cobrança pela outorga de direito de uso é aplicada à captação direta,

ao consumo de água bruta e ao lançamento de efluentes nos corpos hídricos,

de acordo com o mecanismo previsto na Lei 4.247/03 e nas deliberações dos

Comitês de Bacia.

Os recursos arrecadados em domínio estadual são administrados pelo

Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FUNDRHI). Desse montante, 10%

devem ser aplicados no próprio órgão gestor representados pelo INEA. Os 90%

restantes, devem ser investidos na região hidrográfica onde foram captados,

com base nos programas previstos no Plano de Bacias aprovado pelo

respectivo Comitê que contém, entre outros itens, um programa de ações e

investimentos para recuperação e preservação dos recursos hídricos. Criado

Page 24: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

24

pelo Comitê, depende da aprovação do Conselho Estadual de Recursos

Hídricos (CERHI), instância estadual a que os colegiados estão vinculados.

Onde não há Comitê formado, o INEA aplica diretamente, também

mediante aprovação do CERHI, os recursos em intervenções e ações de

conservação.

3.5 - Agências

As agências de bacias hidrográficas são unidades executivas

descentralizadas de apoio aos seus respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica,

destinadas a prestar-lhes suporte administrativo, técnico e econômico.

Enquanto as agências de bacias não são criadas, a legislação estadual

permite que as associações ou consórcios intermunicipais de bacias

hidrográficas ou as associações regionais, locais ou multissetoriais de usuários

de recursos hídricos, legalmente constituídas, sejam a elas equiparadas para o

exercício de suas funções, competências e atribuições relacionadas no artigo

45 da Lei 13.199/ 99.

A equiparação de uma entidade à agência de bacia hidrográfica deve

ser solicitada ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos – CERH-MG através

de proposta fundamentada, apresentada por um ou mais comitês, e do

encaminhamento de relatório técnico e administrativo elaborado pelo IGAM que

comprove a capacidade financeira desse(s) comitê(s) para suportar as

despesas de implantação e de custeio para manutenção da entidade

equiparada e da rede de monitoramento da água, observado o limite legal de

7,5% de aplicação dos recursos arrecadados com a Cobrança pelo Uso.

Page 25: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

25

CAPÍTULO IV

OUTORGA

4.1 - Conceito

A outorga de direito de uso da água é uma autorização, mediante a

qual o Poder Público outorgante faculta ao outorgado o uso da água, por prazo

determinado, nos termos e condições expressas no respectivo ato, ou seja, é o

instrumento legal que assegura ao usuário o direito de utilizar os recursos

hídricos. Importante salientar que a outorga não dá ao usuário a propriedade

da água, mas sim o direito ao seu uso.

4.2 - A outorga da água– decreto 24.643 de 10 de julho de

1934

O instrumento da outorga já estava previsto no art. 43 do Código de

Águas sob a denominação de concessão ou de autorização administrativa, in

verbis:

“As águas públicas não podem ser derivadas para as

aplicações da agricultura, da indústria e da higiene, sem a

existência de concessão administrativa, no caso de

utilidade pública e, não se verificando esta, de autorização

administrativa, que será dispensada, todavia, na hipótese

de derivações insignificantes”.

O critério adotado foi a finalidade de uso, ou seja, usos para fins de

utilidade pública como agricultura, abastecimento público e indústria.

Page 26: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

26

4.3 - Natureza jurídica da outorga

A natureza jurídica da outorga de direito de uso da água é de ato

administrativo de autorização.

A discricionariedade da outorga é norteada pelas prioridades de seu

uso que são definidos no Plano de Bacia, aprovado pelo Comitê de Bacia, após

a participação dos usuários e da sociedade na tomada de decisões. A

precariedade também é uma característica do ato de outorga.

A outorga não é simples faculdade de utilização para o usuário, uma

vez que a ausência de uso por três anos consecutivos pode resultar na

suspensão definitiva ou por prazo determinado da outorga, art. 15, II da Lei

9.433/97.

4.4 - A outorga como instrumento de gestão da água

De acordo com o art. 12 da Lei 9.433/97, os usos da água sujeitos a

outorga pelo Poder Público são:

• Derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo

de água para consumo final, inclusive abastecimento público, ou

insumo de processo produtivo;

• Extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou

insumo de processo produtivo;

• Lançamento em corpo de água, de esgotos e demais resíduos

líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição,

transporte ou disposição final;

• Aproveitamento dos potencias hidrelétricos;

Page 27: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

27

• Outros usos que alterem o regime, quantidade ou a qualidade da

água.

4.5 - Independem de outorga

Com fulcro no art. 12,§1º da Lei 9.433/97, independem de outorga pelo

Poder Público, o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades

de pequenos núcleos populacionais, distribuídos no meio rural e as derivações,

captações, lançamentos e as acumulações de volumes de água considerados

insignificantes.

Mister ressaltar que os critérios específicos de vazões e acumulações

de volumes de água consideradas insignificantes devem ser estabelecidos nos

planos de recursos hídricos , devidamente aprovados pelos respectivos

Comitês de Bacia Hidrográfica ou, na inexistência destes, pelo órgão

outorgante.

4.6 - Concessão da outorga

De forma geral, a outorga é concedida após avaliações quanto à

compatibilidade entre demandas hídricas e a disponibilidade hídrica do corpo

de água, bem como pelas finalidades do uso e os impactos causados nos

recursos hídricos.

Nos rios de domínio da União, a ANA detém competência legal para

conceder outorga de direito de uso, nos rios de domínio dos Estados, os

órgãos gestores de recursos hídricos estaduais são competentes para outorgar

o uso de suas águas.

O prazo de vigência da outorga não pode exceder a 35 anos, renovável

mediante a solicitação do outorgado e a critério do poder outorgante.

Page 28: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

28

4.7 - Outorga preventiva de uso de recursos hídricos art. 6º da

lei 9.984/00

É aquela que declara a disponibilidade de água para os usos

requeridos, mas não confere direito de uso da água. Esta outorga destina-se a

reservar a vazão passível de utilização da água, com vistas a possibilitar aos

investidores planejamento aos empreendimentos que necessitem deste

recurso.

A referida outorga poderá ser convertida em outorga de direito de uso

da água por solicitação do outorgado, mas dependerá de análise técnica

complementar realizada pela ANA.

4.8 - Reserva de disponibilidade hídrica art. 7º da lei 9.984/00

Tem a finalidade de reservar vazão passível de ser outorgada, contudo,

aplica-se somente ao uso de potencial de energia hidráulica (geração de

energia elétrica). A declaração de reserva de disponibilidade hídrica concedida

pela ANA deve ser obtida anteriormente ao leilão de concessão do uso do bem

público (empreendimento hidrelétrico). Como não há um concessionário

(vencedor do certame licitatório) ainda determinado, quem obtém a reserva de

disponibilidade hídrica é a ANEEL.

4.9 - Cobrança do uso dos recursos hídricos na bacia do rio

doce

A cobrança pela utilização dos recursos hídricos é um dos instrumentos

estabelecidos na lei 9.433 de 1997 (institui a Política Nacional dos Recursos

Hídricos). Seu objetivo principal é que a água seja reconhecida como um bem

econômico, o que, consequentemente, vai incentivar o uso racional da mesma

Page 29: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

29

e gerar condições financeiras para investimentos na recuperação e

preservação dos recursos hídricos.

A cobrança não é um imposto, mas um preço público, fixado a partir de

um pacto entre usuários, sociedade civil e poder público no âmbito do

respectivo Comitê de Bacia, assemelhando-se a uma cobrança condominial.

No caso da Bacia Hidrográfica do Rio Doce, o seu respectivo comitê

estabeleceu os mecanismos e sugeriu os valores de Cobrança por meio da

Deliberação CBH-DOCE nº 26, de 31 de março de 2011. O Conselho Nacional

de Recursos Hídricos – CNRH – aprovou estes mecanismos e valores de

Cobrança propostos pelo comitê da Bacia do Rio Doce por meio da Resolução

CNRH nº 123, de 29 de junho de 2011.

Estão sujeitos à Cobrança os usos de recursos hídricos localizados em

rios de domínio da União na Bacia do Rio Doce, ou seja, nos rios Doce,

Xopotó, José Pedro e Piranga, no trecho entre a confluência com o rio Xopotó

até a confluência com o rio do Carmo.

Os recursos financeiros serão arrecadados pela Agência Nacional de

Água e posteriormente repassados à Bacia Hidrográfica do Rio Doce, onde

serão aplicados em ações de recuperação e preservação da mesma, com base

nos programas, projetos e obras previstos no Plano de Recursos Hídricos da

Bacia, aprovado pelo CBH-DOCE. O Plano apresenta um programa de

investimentos na recuperação e preservação dos recursos hídricos que foi

concebido a partir de consultas populares em todas as regiões da bacia e com

base em avaliações técnicas.

Page 30: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

30

CAPÍTULO V

CONFLITOS EXISTENTES NA BACIA

Uma análise dos processos de ocupação e crescimento econômico da

bacia do rio Doce, concentrados principalmente nos últimos 50 anos, mostra

que aconteceram de uma forma totalmente desordenada, sem levar em conta

os possíveis reflexos futuros.

Na zona rural encontram-se vastas áreas em estado avançado de

desertificação, lagoas eutrofizadas, nascentes desprotegidas e processos

erosivos. Da cobertura vegetal original, mais de 90% foi extinta. Do restante,

menos de 1% encontra-se em estágio primário (Mittermeier et alli, 1982;

Fonseca, 1985).

Nas cidades, praticamente todo o esgoto e lixo são lançados nos

cursos d'água ou em suas margens.

Concentrações pontuais de grandes indústrias - siderurgia e celulose,

no Vale do Aço, suinocultura e beneficiadoras de cana-de-açúcar, em Ponte

Nova, e mineração, em Itabira - podem comprometer tanto qualitativa quanto

quantitativamente os usos múltiplos dos recursos hídricos.

As captações superficiais de água no rio Piracicaba para algumas

indústrias estão operando, em algumas situações, em condições adversas.

A captação para consumo humano no Vale do Aço, realizada pela

COPASA via poços profundos situados às margens do rio Piracicaba, também

vive momentos preocupantes, em função das variações dos níveis

piezométricos.

Na bacia do rio Santo Antônio as barragens das hidrelétricas estão, em

alguns casos, com cerca de 60% da sua capacidade de armazenamento de

água, em vista dos significativos processos erosivos que ocorrem nessa bacia.

Page 31: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

31

5.1 - As consequências socioeconômicas

Das cabeceiras à foz, a bacia do rio Doce é um mosaico de problemas

hídricos e ambientais.

Na zona rural, por exemplo, dezenas de pequenos conflitos entre

produtores rurais, que, no intuito de solucionar seus problemas particulares,

acabam por interferir em todo o curso d'água a jusante.

Em decorrência disso, apenas a região do médio rio Doce (Tumiritinga

a Aimorés), que se encontra em estado avançado de desertificação, perdeu,

entre as décadas de 70 e 80, cerca de 40% de sua população (IBGE). Em

Minas Gerais, a bacia do rio Doce é caracterizada como a região que mais

perdeu população: 615.259 habitantes entre 1970 e 1991 (UFMG, IBGE).

No Estado de Espírito Santo, o rio Doce representa o maior manancial

de água doce. O rio, que flui ali com declividades menores, forma vastas áreas

assoreadas em seu leito. Junto à sua foz, suas águas são transpostas para o

abastecimento de outra indústria de celulose, a Aracruz Celulose. Os sólidos

suspensos e o lixo em suas águas têm causado sérios danos ambientais em

seu estuário, região de desova da tartaruga marinha, monitorada pelo projeto

Tamar.

Inundação, que tem sua origem natural agravada por ações antrópicas.

Desmatamento indiscriminado e o manejo inadequado do solo criaram

condições favoráveis à formação do processo erosivo, que somado aos

despejos inadequados advindos da mineração e de resíduos industriais e

domésticos, deram origem ao contínuo processo de assoreamento dos leitos

dos rios da bacia.

Algumas cidades ocuparam a planície de inundação dos rios, áreas

próximas ao leito principal que ocasionalmente são alagadas pelo

extravasamento das águas dos rios. De tempos em tempos, eventos chuvosos

mais severos provocam o alagamento de parte destas planícies.

Page 32: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

32

CONCLUSÃO

Face da grande importância do comitê de bacia hidrográfica para o

gerenciamento e gestão dos recursos hídricos, no sistema representado pela

bacia hidrográfica, este trabalho mostrou os principais elementos da Bacia

Hidrográfica do Rio Doce no Estado de Minas Gerais e Espírito Santo,

observando que o plano de bacia, estudo fundamental para o melhor

aproveitamento da bacia, social e economicamente e que justifica a política

urbana a ser praticada pelos diferentes Órgãos do governo, ainda não alcançou

seus objetivos , gerando muitos conflitos ao longo de toda a sua extensão.

Page 33: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

33

BIBLIOGRAFIA

OZ, Héctor R. Razões para um debate sobre as interfaces da gestão dos recursos hídricos no 122. OZ, Héctor R . Bacia Hidrográfica, contexto da Lei das Águas de 1997. Interfaces da Gestão de recursos hídricos: desafios da lei das águas de 1997. Brasília: Secretaria de Recursos Hídricos, 2 ed., p. 13 – 30.000. MMA. Ministério do Meio Ambiente Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano. Recursos Hídricos. Disponível em http://www.mma.gov.br. Acesso em 19/06/2007. LANNA, A. E. L. Gerenciamento de bacia hidrográfica: aspectos conceituais e metodológicos. Brasília: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. 1995. MILARÉ, EDIS, Direito do ambiente - 8ª edição.

Page 34: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

34

ÍNDICE

Folha de rosto......................................................................................02

Resumo................................................................................................03

Metodologia..........................................................................................04

Sumário................................................................................................05

Introdução.............................................................................................06

Capítulo I

Desenvolvimento da Bacia do Rio Doce............................................07

1.1 - Histórico da Ocupação..........................................................08

1.2 – Nascedouro da Bacia...........................................................12

1.3 – Principais Afluentes.............................................................12

1.4 – Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce........................11

1.4.1 – Extensão e Limites...............................................................11

1.4.2 – Tipos Climáticos da bacia....................................................11

1.4.3 – População da Bacia.............................................................12

1.5 – Regiões Hidrográficas da bacia do Rio Doce..................................12

1.5.1 –Região Hidrográfica Doce 1 .................................................12

1.5.2 – Região Hidrográfica Doce 2.................................................12

1.5.3 - Região Hidrográfica Doce 3..................................................12

1.5.4 - Região Hidrográfica Doce 4..................................................12

1.5.5 - Região Hidrográfica Doce 5..................................................13

1.5.6 - Região Hidrográfica Doce 6..................................................13

1.5.7 - Região Hidrográfica Doce 7..................................................14

1.6 – Principais atividades.......................................................................14

Capítulo II

Page 35: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

35

O Plano da Bacia Hidrográfica...................................................................15

2.1- Abordagem Jurídica e Institucional......................................................15

2.2 – A realização do Plano de Bacia..........................................................15

2.3 – O Plano Integrado de recursos hídricos..............................................16

2.4 – Leis do estado de Minas Gerais...........................................................16

2.5 – Sistema estadual de gerenciamento de recursos hídricos em minas

gerais........................................................................................................17

2.6 – Leis do estado do Espírito Santo..........................................................18

2.7 - Sistema estadual de gerenciamento de recursos Hídricos em ES..........19

2.7.1 – SEAMA – Secretaria de estado de Meio Ambiente e Recursos

Hídricos....................................................................................................19

2.7.2 – CERH – Conselho Estadual de Recursos Hídricos..................19

2.7.3 – Os comitês de Bacia Hidrográfica no ES..............................20

2.7.4 - As Agências de águas ou de bacia hidrográfica no ES.............20

Capítulo III

Política Urbana.............................................................................................21

3.1 – O Plano diretor municipal.....................................................................22

3.2 – Interfaces dos planos Diretores municipais e suas conexões com a

política de Recursos Hídricos.....................................................................21

3.3 – Comitês..................................................................................................22

3.4 – Aplicação dos Recursos de cobrança pelos Comitês...............................23

Page 36: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Na década de 40 foi introduzido na região o eucalipto, ... Dados sobre a bacia hidrográfica do rio doce ... ocasionando Linhas

36

Capítulo IV

Outorga...........................................................................................................25

4.1 – Conceito...................................................................................................25

4.2 – A Outorga da água – decreto 24.643 de 10 de julho de 1934..................25

4.3 – Natureza Jurídica da outorga....................................................................26

4.4 – A outorga como instrumento de gestão da água...................................26

4.5 – Independem de outorga...........................................................................27

4.6 – Concessão de outorga.............................................................................27

4.7 – Outorga preventiva de uso de recursos hídricos.....................................28

4.8 - Reserva de disponibilidade hídrica , art. 7º da Lei 9.984/00....................28

4.9 – Cobrança do uso dos recursos hídricos na bacia do rio Doce...............28

Capítulo V

Conflitos existentes na bacia......................................................................30

5.1 – As consequências socioeconômicas.......................................................31

Conclusão......................................................................................................32

Bibliografia.....................................................................................................32

Índice.............................................................................................................34