Dr. Joel Fuhrman ACABAR DE VEZ COM A DIABETES

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Dr. Joel Fuhrman ACABAR DE VEZ COM A DIABETES O plano para a prevenção e reversão da diabetes The End of Diabetes The Eat to Live Plan to Prevent and Reverse Diabetes Traduzido do inglês por Ana Pedroso de Lima

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Dr. Joel Fuhrman

ACABAR DE VEZ COM A DIABETES

O plano para a prevenção e reversão da diabetes

The End of DiabetesThe Eat to Live Plan to Prevent

and Reverse Diabetes

Traduzido do inglês por

Ana Pedroso de Lima

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ADVERTÊNCIA AO LEITOR

Se está a tomar medicamentos, não faça alterações na alimentação sem infor-mar o seu médico, uma vez que será necessário retificar a medicação para evitar que os níveis de açúcar no sangue baixem demasiado (hipoglicemia). A hipoglicemia causada pelo excesso de medicação pode ser perigosa.Sendo este plano para reverter a diabetes tão eficaz, é muito importante que haja um acompanhamento de um médico especialista, que saiba reduzir a medicação em função de alterações alimentares drásticas. Não subestime a eficácia deste plano – se não houver uma diminuição da medicação, pode-rá ocorrer um episódio grave de hipoglicémia.Os médicos, não se apercebendo da eficácia desta dieta, poderão hesitar em diminuir a medicação aos poucos. Chame a atenção do seu médico para isso e faça uma vigilância mais cuidada dos valores da glicemia nas primeiras semanas da dieta. Se também toma medicamentos para a pressão arterial, verifique-a regularmente e informe o seu médico se houver alterações, já que existe o risco de a pressão arterial baixar demasiado.Neste livro, trato pormenorizadamente do assunto da medicação e dou orien-tações para a redução gradual da mesma. No entanto, deve ter sempre pre-sente que o livro não substitui o seu médico, que já conhece o seu quadro clínico. É da sua responsabilidade manter o seu médico informado no sentido de ambos poderem garantir que não há oscilações bruscas dos valores da glicemia e da pressão arterial.

Nota: os casos apresentados neste livro são verídicos, mas os nomes foram alterados para salvaguardar a sua privacidade.

Em memória de Daniel Boller, um jovem fantástico, a quem as consequências cruéis da diabetes roubaram a vida.

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CONTEÚDOS

Introdução: Uma carta de esperança 15

1 :: Primeiro passo: compreender a diabetes 21

2 :: Não medique, erradique 39

3 :: Dieta padrão dos norte -americanos vs. dieta nutrientarista 57

4 :: Para reverter a diabetes é preciso compreender a fome 71

5 :: Contra -ataque às dietas das proteínas 85

6 :: A fibra fantástica das leguminosas 109

7 :: A verdade sobre a gordura 127

8 :: Dieta nutrientarista em ação 143

9 :: Seis passos para uma saúde de ferro 175

10 :: Para médicos e doentes 191

11 :: Perguntas frequentes 211

12 :: Menus e receitas 227

Índice de receitas 275

A partir de agora é consigo 277

Agradecimentos 278

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INTRODUÇÃO

UMA CARTA DE ESPERANÇA

Queridos amigos,Parabéns. Acabam de dar o primeiro passo para se libertarem de

uma doença que ameaça a vossa vida: a diabetes.Hoje em dia, cerca de 26 milhões de norte-americanos (11,3 por

cento da população adulta) sofre de diabetes segundo as estimativas dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças relativamente à dia-betes diagnosticada e não diagnosticada. Estima -se que cerca de 80 milhões de pessoas (35 por cento da população adulta) sejam pré--diabéticas. Se a tendência continuar, um em cada três norte-ameri-canos adultos poderá vir a sofrer de diabetes em 2050.

Por todo o mundo, a diabetes passou a ser uma realidade e, por isso, temos de a enfrentar ativamente, se quisermos ter uma saúde melhor.Este livro destina -se àqueles que querem acabar de vez com a diabe-tes, lutar contra o excesso de peso, a hipertensão e as doenças cardía-cas. A sua saúde depende de si. É possível melhorar. Juntos, podemos começar já.

Este programa foi testado por milhares de pessoas e os extraordi- nários resultados estão documentados em estudos médicos. É possí- vel prevenir e recuperar completamente da diabetes tipo 2 (início na idade adulta).

Se é diabético, provavelmente está habituado a controlar os níveis de glicemia, medindo a hemoglobina glicada (HbA1c) e indo regularmen-te ao médico para acertar a medicação. O hábito de controlar os níveis de açúcar é encarado como essencial para a saúde. Mas não é bem assim. Essa rotina tem apenas como objectivo controlar o açúcar no sangue e não acabar de vez com a diabetes. Mesmo que tenha os níveis de glicemia controlados, se continuar diabético, a doença vai provocar

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um envelhecimento precoce, diminuindo a sua esperança de vida. Para além disso, se se concentrar nos valores em vez de tentar eliminar as causas da diabetes, a longo prazo pode agravar a doença.

A maior parte da medicação para controlar os níveis de açúcar no sangue afeta o pâncreas, que provavelmente já não funcionava como devia ser. A probabilidade de agravar a diabetes recorrendo aos cuida-dos médicos convencionais é enorme, uma vez que os medicamentos utilizados para regular o açúcar no sangue, como as sulfonilureias e a insulina, provocam aumento de peso. A combinação perigosa entre o esforço do pâncreas a produzir insulina e o aumento de peso devido à medicação só o vai obrigar a tomar mais e mais medicamentos à medi-da que a sua diabetes se agrava. Este tratamento tão comum, e contu-do ineficaz, diminui a esperança de vida e aumenta o risco de enfarte.

O número de pessoas com diabetes tipo 2 está a aumentar rapida-mente, e nos Estados Unidos triplicou nos últimos trinta anos. A razão para tal está inteiramente identificada: o aumento da largura da cin-tura. Ainda assim, médicos, dietistas, e até a Associação Americana da Diabetes (ADA) puseram de lado a ideia de que perder peso é a melhor maneira de tratar a diabetes. A medicação é o tratamento mais utilizado, embora, muitas vezes, seja a própria medicação a provocar o aumento de peso, agravando assim os sintomas e fazendo com que o doente se torne ainda mais diabético. É um círculo vicioso: o doente necessita de mais medicamentos; as dosagens aumentam; e a doença agrava-se. É portanto uma forma de tratamento errada. A maior parte dos diabéticos estaria bem melhor se estes medicamentos nunca tives-sem sido inventados porque talvez tivessem sido obrigados a alterar o estilo de vida e os hábitos alimentares. Prevenir e fazer regredir a dia-betes, a nível nacional ou a nível individual, não exige receita médica. Exige, sim, a alteração dos hábitos alimentares.

A comunidade médica deixou de insistir na perda de peso como meio de ajudar os diabéticos principalmente porque as dietas conven-cionais não resultam. Se também no seu caso as dietas falharam, por favor não desista. O plano alimentar apresentado nestas páginas resul-ta mesmo. Verificará melhorias significativas na sua saúde. Você é senhor e dono do seu corpo. Com a informação disponível neste livro,

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acredite que pode reverter a diabetes e até eliminá-la por completo. O plano nutricional que tenho usado ao longo de mais de vinte anos, e que aconselhei a mais de dez mil doentes, baseia-se numa ideia fundamental:

Futuro da Sua Saúde (S) = Nutrientes (N)/Calorias (C)

O meu método é totalmente diferente dos habituais e está provado que resulta. Vou mostrar-lhe como o seu corpo se pode curar a si próprio se lhe der o que ele precisa. A verdade é que o corpo foi con-cebido para ser saudável. Se lhe proporcionar o ambiente bioquímico adequado para se curar, tornar-se-á uma máquina miraculosa de auto-cura. O método que criei baseia-se numa fórmula científica que deter-mina a esperança de vida e a saúde. Esta equação, conhecida como S=N/C, significa que a sua saúde é determinada pela densidade de nutrientes por caloria da sua alimentação. Se comer mais alimentos com elevada densidade de nutrientes e menos alimentos com baixa densidade de nutrientes, a sua saúde irá melhorar radicalmente, e a diabetes acabará por desaparecer.

Ao fazer uma alimentação com elevado teor de nutrientes, o pro-cesso de envelhecimento torna-se mais lento e o corpo consegue pre-venir e reverter muitas das doenças mais comuns. A capacidade de autocura e de autorregeneração que se encontra adormecida no seu corpo desperta e assume o controlo e a doença desaparece. Refeições ricas em nutrientes, com legumes, frutos vermelhos, leguminosas, cogumelos, cebolas, sementes, e outros alimentos naturais é o segre-do para um peso e uma saúde ideais.

Ao contrário do que se pensa, as doenças que atormentam muitas pessoas, e põem a sua vida em risco, não são uma consequência ine-vitável do envelhecimento. Não somos vítimas de uma má genética. Não temos de tomar comprimidos o resto da vida. Hoje em dia ten-demos a achar que o excesso de gordura é uma coisa normal, aceitá-vel e muito difícil de combater. Os fármacos não são a solução para se perder peso, nem para a diabetes nem para nenhum dos problemas que parecem surgir com a idade.

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O conhecimento leva ao poder. Saber de que modo os alimentos que consumimos afetam a nossa saúde e bem-estar permite-nos ser saudáveis e viver mais e melhor a cada dia. As pessoas que seguem o meu plano ficam espantadas com os resultados. Se os micronu-trientes e as fibras fizerem parte da sua alimentação, verá que conse-gue acabar com os ataques de fome. Aos poucos, vai sentir menos necessidade de ingerir calorias e naturalmente deixará de comer em excesso. Se tem peso a mais, com este plano vai conseguir perder peso rapidamente, até o seu corpo atingir o equilíbrio natural e sau-dável. Para a maior parte das pessoas, o peso que se perde com esta dieta é comparável ao peso que se perde com a cirurgia do bypass gástrico, mas com a vantagem de não ter riscos.

Sei que deve estar a pensar qualquer coisa do género: Com esta dieta, de certeza que vou andar sempre cheio de fome. Será que a comida é boa? Mas saiba que a comida saudável deve ser, e pode ser, deliciosa e fácil de preparar. Tenho viajado pelo mundo e trabalhado com chefs famo-sos no sentido de criarmos receitas e planos de refeições que são absolutamente deliciosos, saudáveis e que nos deixam saciados. Não é preciso ser-se um ás na cozinha; as receitas são acessíveis a toda a gente. À medida que se for habituando a este tipo de alimentação, garanto-lhe que não a vai querer trocar por outra. Os meus doentes que começaram a Comer para Viver mudaram para sempre a forma como comiam. A comida sabe-lhes bem e sentem-se bem. Quando as pessoas compreendem os benefícios de uma alimentação saudável, a verdade é que não voltam aos hábitos antigos. Este método não tem preço, porque salva vidas.

A sua Saúde Depende da Quantidade de Nutrientes da sua Dieta.

Chamei dieta nutrientarista a uma alimentação rica em micronu-trientes. Ou seja, quanto mais densa em nutrientes for a sua alimen-tação, mais saudável se torna. Parece muito simples e é. Se fizer uma alimentação rica em alimentos saudáveis e naturais, dará ao corpo

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os nutrientes de que necessita para se curar e proteger. A diabetes é uma doença causada pelo tipo de alimentação e, assim sendo, as esco-lhas alimentares certas podem libertá -lo desta doença que lhe encur-ta a vida e está associada a outros problemas de saúde.

De entre os mais de dez mil doentes que segui, muitos dos quais chegaram até mim com problemas graves de saúde e obesidade, mui-tos encontraram a solução que há muito procuravam. Recuperaram e voltaram a ser saudáveis sem fármacos. A recomendação mais importante que faço a todos os meus doentes, independentemente do seu estado, é a reformulação da sua alimentação. Já ajudei milha-res de pessoas com a diabetes tipo 2 a reduzir e acabar com a doença através de uma alimentação rica em nutrientes. Uma grande maioria deixou de ser diabética. Os resultados deste método estão documen-tados. Na verdade, acredito que a minha dieta nutrientarista, muitas vezes chamada Comer para Viver, é o programa mais eficaz para o tratamento da diabetes alguma vez estudado, e continuará a sê -lo à medida que for cada vez mais implementado e melhorado através de novos estudos.

Num estudo publicado no Open Journal of Preventive Medicine, 90 por cento dos participantes conseguiram eliminar ou reduzir a medi-cação em 75 por cento, e a média dos valores de hemoglobina A1C desceu de 8,2 para 5,81. A hemoglobina A1C mede a concentração média dos níveis de glicose num período de três meses. Um valor abaixo de 6 é considerado não diabético ou normal, e acima de 8 é considerado mal vigiado. A tensão arterial sistólica dos participantes desceu também de uma média de 148 para 121 quando os medica-mentos foram retirados. Estes resultados tão positivos abrem caminho para novos estudos mais abrangentes.

Claro que nenhum tratamento terá sucesso se não se considerarem outros fatores de risco, sendo os principais: o estilo de vida sedentá-rio, o tabagismo e a falta de sono. O caminho para o bem -estar pres-supõe o compromisso com um estilo de vida saudável. O exercício é também determinante. As boas notícias são: quanto mais saudável for a sua alimentação, melhor se sentirá, mais vontade terá de fazer exercício e de manter o corpo na melhor forma possível.

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Sim, a diabetes é uma doença grave. Pode originar uma série de outros problemas no coração, nos rins, perda de visão, problemas de saúde que podem diminuir a sua esperança de vida e tirar qualidade aos anos que lhe restam. Mas não tem de ser assim. A solução é sim-ples: siga a dieta nutrientarista e faça exercício diariamente. Nem sempre será fácil, mas o esforço traz -lhe resultados que lhe salvarão a vida.

Encorajo -o a aceitar o desafio e a seguir cuidadosamente este plano. Sei, em primeira mão, que pode mudar o curso da sua saúde e da sua vida para sempre. Junte -se a nós e vire a página do seu historial de saúde. Vamos criar uma nova história que fale de saúde, vitalidade e de uma vida longa. Está na altura de assumir um compromisso sério, de alcançar a melhor forma de toda a sua vida. Milhares de pessoas já abraçaram esta mensagem e estão a fazer uma revolução na saúde. Temos o maior prazer em que nos acompanhe nesta viagem entusias-mante de mudança.

Joel Fuhrman, M.D.

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1. PRIMEIRO PASSO: COMPREENDER A DIABETES

Jane Gillian era obesa e tinha cinquenta e seis anos quando ficou

gravemente doente e foi hospitalizada. Sofreu um AVC embólico, que

lhe paralisou o lado esquerdo e, enquanto ainda estava no hospital,

descobriram também que tinha diabetes em estado avançado.

Os pais tinham também excesso de peso e eram diabéticos. O quadro

clínico incluía tensão arterial alta, colesterol alto, e dois stents nas

artérias coronárias. Quando deu entrada no hospital com HbA1C

a 9.6 e a tensão arterial a 200/100, além de outros medicamentos,

tomava dois para a tensão arterial. Começaram a administrar -lhe

insulina e ficou quase um mês hospitalizada. Por fim, deram -lhe alta,

confinada a uma cadeira de rodas e com a prescrição de duas injeções

de insulina por dia, num total de 60 unidades, e mais oito

medicamentos, três deles para baixar a tensão arterial.

Uma amiga recomendou -lhe que lesse o livro Comer para Viver e,

um mês depois, a Jane começou a fazer a dieta nutrientarista.

A necessidade de insulina desceu rapidamente e acabou por ser

dispensável. Os resultados que obteve com a dieta rica em nutrientes

foram entusiasmantes. Três anos depois, a Jane tinha menos 53 quilos

– pesava 112 quilos e passou para os 59. Os níveis de hemoglobina

glicada e glicose encontram -se agora dentro dos parâmetros dos não

diabéticos. Deixou de ser diabética. O colesterol desceu de 219 para

152, os triglicerídeos de 174 para 66. A tensão arterial, que costumava

ser 160/80 com os dois medicamentos que tomava para a tensão,

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A diabetes mellitus é uma doença crónica que provoca problemas de saúde graves como a insuficiência renal, doenças cardíacas, AVC e cegueira. Tal como já foi dito, tem -se verificado o aumento desta doen-ça grave no número de americanos que por ela são afetados. Os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças publicaram um relatório, em 2011, onde se afirma que mais de 25 milhões de norte -americanos sofrem atualmente da diabetes. Trata -se de um aumento de 15 por cento, o que corresponde a três milhões de pessoas, em apenas dois anos, e mais de 700 por cento nos últimos cinquenta anos. Mais de 40 por cento dos norte -americanos com vinte anos ou mais são diabéticos, ou pré--diabéticos, segundo a revisão de dados do National Health and Nutri-tion Examination Survey de 2005 -2006. Cerca de 30 por cento dos adultos acima dos sessenta anos foram diagnosticados com diabetes, e o predomínio é igual para homens e mulheres.

Há muitas pessoas que não têm consciência de que sofrem de dia- betes ou que se encontram num estado pré-diabético, que acabará por conduzir à diabetes passado uns anos. A dieta padrão dos norte--americanos leva a que os indivíduos propensos desenvolvam a doença. Infelizmente, nos Estados Unidos, e no Ocidente em geral, a maior parte das pessoas cava uma sepultura prematura com a alimentação. A alimentação está no centro dos problemas de saúde e os diabéticos têm de enfrentar ainda mais complicações:

> Doenças do coração – a morte por enfarte e risco de AVC é três vezes maior nos diabéticos;

passou para valores de 125/75 sem medicação. A melhor notícia de

todas é o facto de a Jane já não andar de cadeira de rodas e de

conseguir andar numa passadeira durante mais de quinze minutos

com uma inclinação de quinze graus.

1. PRIMEIRO PASSO: COMPREENDER A DIABETES

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> Hipertensão – 75 por cento dos diabéticos sofre de hipertensão (130/180 ou mais alta);

> Cegueira – a diabetes é a causa principal de novos casos de cegueira entre os adultos;

> Doenças renais – a diabetes é a causa principal de insuficiência renal;

> Doenças do sistema nervoso – a maior parte dos diabéticos desenvolve insuficiências do sistema nervoso, tais como a redução da sensibilidade nos pés, problemas de digestão e disfunção erétil;

> Amputações – a diabetes é a causa principal de amputação de membros;

> Cancro – a diabetes aumenta o risco de cancro, incluindo o aumento de 30 por cento dos casos de cancro colorretal. 1

A diabetes está também a tornar -se um grave problema financeiro nos Estados Unidos. Os hábitos alimentares não saudáveis poderão acabar por levar a nação à bancarrota. Um diabético tipo 2 gasta, em média, 6649 dólares em despesas de saúde diretamente imputáveis, por ano 2. Mais de metade dos norte -americanos terá diabetes ou será pré -diabético em 2020, representando um custo de 3,35 biliões de dólares para o sistema de saúde norte -americano se a tendência não se alterar, segundo a análise de um relatório publicado pelo United Health Group. A diabetes e pré -diabetes irão representar a maior percentagem da despesa de saúde pública no fim desta década, com um custo anual de quase 500 mil milhões de dólares – aumentando dos 194 mil milhões estimados em 2010, segundo o relatório The United States of Diabetes: Challenges and Opportunities in the Decade Ahead. 3

Para evitar que isso aconteça, é necessário mudar a forma como se trata a diabetes e há que dar ênfase à prevenção. Segundo os edi-tores da Lancet, uma revista de medicina, é uma “humilhação para a saúde pública” o facto de a diabetes ter atingido proporções epidé-micas, uma vez que é uma doença que pode ser prevenida. Fazendo referência ao encontro nacional da Associação Americana da

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Diabetes a revista alegou que “… há uma ausência notória: não se faz investigação às alterações do estilo de vida de modo a prevenir ou reverter a diabetes. Neste âmbito, a medicina poderia estar a ven-cer a batalha do controlo da glicose, mas está a perder a guerra con-tra a diabetes”. 4

Estes autores têm razão – trata -se de uma humilhação para a saúde pública, pois a diabetes tipo 2 não só pode ser evitada como é rever-sível. A dieta padrão dos norte -americanos, que consiste em cereais refinados, óleos, açúcares e produtos de origem animal, está na ori-gem desta crise. O uso de fármacos para controlar a glicose por parte de indivíduos que continuam a fazer este tipo de alimentação não previne as complicações da diabetes. A cura para a diabetes tipo 2 é já conhecida – eliminar a causa pode reverter a doença.

Compreender a Causa

As células do corpo humano precisam de energia para funcionar. A fonte principal de energia do organismo é a glicose, um açúcar simples que resulta da digestão de alimentos que contêm hidratos de carbono (açúcares e amidos). A glicose proveniente dos alimentos digeridos circula no sangue, servindo de fonte de energia para as nossas células.

A insulina é uma hormona produzida pelas células beta do pân-creas, um órgão situado atrás do estômago. A insulina liga -se a um recetor no exterior das células e funciona como uma chave que abre a porta de entrada na célula, por onde a glicose pode entrar.

Quando não há produção suficiente de insulina, ou quando a tal chave não funciona naquela porta, a glicose permanece no sangue em vez de chegar às células. Assim, a diabetes é o aumento da gli-cose na corrente sanguínea devido à falta de insulina que permite a transferência da glicose do sangue para os tecidos ou células. Normalmente, quando comemos e a glicose aumenta na corrente sanguínea, as células que produzem insulina no pâncreas pressen-tem o aumento da glicose na corrente sanguínea. Depois, fazem a

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secreção da quantidade apropriada de insulina para levar a glicose aos tecidos, reduzindo os níveis na corrente sanguínea aos valores normais.

Açúcar no sangue acima dos 125 = diabético

Açúcar no sangue entre 110 e 125 = pré -diabético

Açúcar no sangue entre 95 e 110 = não ideal

Quando uma pessoa tem diabetes tipo 2, a quantidade de insulina produzida é insuficiente para fazer baixar a glicose a níveis normais; o nível de glicose na corrente sanguínea permanece muito alto. Na diabetes tipo 1, ou juvenil, as células beta do pâncreas foram destruí-das e, por isso, o organismo não produz qualquer quantidade de insu-lina. Na diabetes tipo 1, de idade adulta, por norma o organismo não responde adequadamente à quantidade de insulina que é produzida. A gordura reveste as membranas celulares e impede o metabolismo da insulina. Em resposta, o pâncreas produz cada vez mais insulina, mas ao longo do tempo, à medida que o pâncreas se esforça com o excesso de trabalho, acaba por perder a batalha e por não conseguir dar resposta as exigências antinaturais ao seu funcionamento. Quan-do a produção de insulina começa a falhar perante o aumento da exi-gência, a glicose da corrente sanguínea começa a aumentar. Em ambos os casos, diabetes tipo 1 e tipo 2, a falta de insulina ou a resis-tência à insulina faz com que a glicose aumente na corrente sanguí-nea. Quando atinge níveis muito elevados, espalha -se na urina. Os sintomas iniciais da diabetes incluem urinar com frequência, letargia, sede excessiva e fome.

O organismo tenta diluir os perigosíssimos níveis elevados de glicose no sangue (a chamada hiperglicemia), retirando água das células e levando-a à corrente sanguínea, num esforço por diluir o açúcar e o expelir pela urina. Não é de estranhar que quem não sabe que têm diabetes ande sempre com sede, beba muita água e urine com muita frequência, já que o organismo está a tentar livrar -se da glicose em excesso. Isso dá origem a níveis elevados de glicose na urina.

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Salvar a Vida aos Diabéticos Tipo 1

Apenas dez por cento dos diabéticos sofre da diabetes tipo 1, também chamada juvenil porque surge, por norma, na infância. A diabetes tipo 1 é uma doença em que as células beta do pâncreas que produ-zem insulina são destruídas pelo sistema imunitário, por norma no início da vida. Quando o sistema imunitário do nosso corpo se vira contra as nossas próprias células e não contra substâncias estranhas, dá -se aquilo a que se chama uma reação autoimune. A causa é com-plicada e surge parcialmente como resultado de uma reação anticor-pos, contra uma proteína viral que ataca por engano as células beta no pâncreas.

Com isto, o organismo praticamente não produz insulina. Carac-teriza -se por um início súbito e ocorre mais frequentemente em popu-lações com ascendência de países norte -europeus, por comparação aos sul -europeus, o Médio Oriente ou a Ásia. A diabetes tipo 1 é também chamada Insulinodependente, pois as pessoas que desenvolvem este tipo de diabetes precisam de injeções de insulina diariamente.

Cerca de 80 por cento da nossa energia em repouso é utilizada pelo cérebro. Em circunstâncias normais, o cérebro só funciona com glicose. No entanto, quando a insulina é insuficiente, o cérebro e outros tecidos não são capazes de utilizar a glicose da corrente san-guínea. Quando o organismo não consegue utilizar as reservas de glicose normalmente, dá -se o aumento dos ácidos gordos livres na corrente sanguínea. O organismo pode transformar essas gorduras em cetonas e, assim, o cérebro e o coração podem utilizar essas cetonas como um combustível de emergência quando se veem pri-vados da quantidade suficiente de glicose. A glicose e as cetonas podem desenvolver -se no sangue com graves consequências. Por exemplo, os diabéticos tipo 1 têm mais tendência a desenvolver cetoacidose, que pode ser fatal se não for tratada, levando ao coma e à morte. As cetonas são moderadamente elevadas no sangue e na urina em jejum ou quando existe uma restrição significativa de hidratos de carbono, mas podem atingir níveis muito perigosos na diabetes tipo 1 descompensadas ou que não são tratadas. A cetose

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(cetonas elevadas no sangue) e a cetoacidose nalguns casos podem ocorrer nos diabéticos tipo 2. É a combinação de níveis elevados de glicose no sangue e do nível elevado de cetonas que pode originar a acidose e a desidratação.

A diabetes tipo 1 não tem origem por excesso de peso ou obesidade, e quem sofre da diabetes tipo 1 vai precisar sempre de insulina para prevenir problemas mais sérios devido ao nível elevado de açúcar no sangue (hiperglicemia) e outras doenças que podem ser fatais. Ainda assim, é necessária uma alimentação muito rica em nutrientes para que um diabético tipo 1 tenha saúde e longevidade, e embora o exces-so de gordura corporal seja perigoso para toda a gente, apresenta mais riscos para um diabético tipo 1.

Perguntam -me muitas vezes: “O seu plano é adequado a diabéticos tipo 1? A insulina é necessária para sempre?” A resposta a ambas as perguntas é sim. Ao contrário de um diabético tipo 2, se é tipo 1 não poderá deixar de tomar insulina por completo. No entanto, depois de adotar este plano alimentar rico em nutrientes, precisará de muito menos insulina, na maior parte dos casos metade do que necessita-va antes, fazendo a dieta padrão dos norte -americanos. A necessida-de de menos insulina não é a principal razão pela qual os diabéticos tipo 1 devem seguir esta dieta. A razão principal é o facto de poder salvar um diabético tipo 1 de complicações muito mais graves mais tarde.

Já ajudei muitos doentes com a diabetes tipo 1 a recuperar total-mente da doença inundando -os com micronutrientes, fortalecendo o seu sistema imunitário e dando descanso ao seu pâncreas. Contu-do, esta oportunidade só existe logo ao início da doença, por norma para adolescentes ou jovens adultos. Esta é a exceção, não a regra. Infelizmente, a maior parte dos diabéticos tipo 1 tem de viver com a doença para o resto da vida.

Mas eis as novidades de importância: com tratamentos convencio-nais, as perspetivas a longo prazo para um diabético tipo 1 são desa-nimadoras. Mais de um terço dos diabéticos tipo 1 morre antes dos 50 anos. Não tem de ser assim. Os diabéticos tipo 1 não têm de se sentir condenados a uma vida cheia de problemas de saúde e uma

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morte prematura. Os diabéticos tipo 1 podem fazer uma vida normal, e ter uma esperança de vida bem melhor do que a média. É verdade que são mais sensíveis aos efeitos nocivos da dieta padrão dos norte--americanos, mas se fizerem uma alimentação à base de vegetais, com muitas leguminosas, frutos secos e sementes, deixam de correr o risco de ter doenças cardiovasculares.

Os estudos científicos revelam que a morte devido a doença cardía-ca prematura nos diabéticos tipo 1 tem que ver com a resistência à insulina. Isso significa que o aumento de peso, as más escolhas ali-mentares e, portanto, a necessidade de quantidades excessivas de insulina, são perigosos para um diabético tipo 1. Mas se seguirem os meus conselhos nutricionais, passam a precisar substancialmente menos de insulina e a tomá -la em doses fisiológicas – a quantidade de insulina não será excessiva e não lhes fará mal.

Os diabéticos tipo 1 podem ter uma vida normal e longa. As tra-gédias que normalmente se dão com os diabéticos tipo 1 são o resul-tado da combinação explosiva de uma má alimentação e o excesso de uso da insulina, um incêndio ateado pelos médicos e dietistas cujos conselhos nutricionais infelizmente se encontram ainda na Idade Média.

Ao adotar esta abordagem rica em nutrientes, os diabéticos tipo 1 reduzem a necessidade de insulina e deixam de ter oscilações entre níveis altos e baixos. Os níveis de glicemia e dos lípidos ficam con-trolados com pouca insulina. O objetivo é necessitar de menos insu-lina ao mesmo tempo que os níveis de glicemia se encontram com leituras excelentes. A verdade tão simples é que a razão pela qual a diabetes tipo 1 origina enfartes e outros problemas que ameaçam a vida é o excesso de insulina exigido por uma alimentação baixa em nutrientes, e não a diabetes em si.

Não é a diabetes tipo 1 que tem consequências tão negativas para a saúde. É antes a combinação da diabetes e dos “conselhos” nutricio-nais típicos que se dão aos doentes – que os levam a tomar grandes quantidades de insulina não fisiológica para manter os valores da glicemia. A insulina, por si só, origina o desenvolvimento de placa arteriosclerótica, a base das doenças cardíacas e enfartes. A insulina

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aumenta o apetite e incentiva o armazenamento de gorduras e o aumento de peso, levando, por isso, a mais resistência à insulina. Isto é particularmente agravado pela carga glicémica elevada e calorias em excesso da alimentação convencional.

Sigo o seu plano há dois anos e estou muito satisfeito com os

resultados. Estou com o peso ideal e com cerca de 10 por cento de

gordura corporal. Há dois anos, pesava 86 quilos e tinha o colesterol

alto. Administrava 30 unidades de insulina Lantus e Humalog em

doses variáveis, mas muitas vezes 6 unidades por refeição. Depois

de começar a seguir o seu plano, passei a pesar 77 quilos, o meu

colesterol está ótimo, e a minha tensão arterial e os perfis lipídicos

fantásticos! Agora, as doses de insulina Lantus são de 10

unidades, e passei a tomar duas ou três unidades de Novolog

por refeição.

Quando me diagnosticaram a diabetes na adolescência, o meu

médico disse que havia duas maneiras de olhar para o diagnóstico:

1. O fim da minha saúde, ou

2. A oportunidade de começar a conhecer o meu corpo e de saber

como funciona para poder ser mais saudável que nunca.

Optei pela segunda hipótese e, agora, aos trinta e quatro anos,

penso que comecei finalmente a aperceber -me do seu potencial.

O que escreve, é a arma de que sempre precisei para esta luta de

há anos.

–Tony Gerardo

Há inúmeros estudos que ilustram os perigos de administrar insu-lina ao adulto diabético. Num deles, em que se administrou insulina a um grupo de doentes e Metformina (Glucophage) a outro, o risco de morte por enfarte triplicou nos primeiros 5. Os efeitos negativos da insulina estão relacionados quer com as anomalias metabólicas resultantes do excesso de insulina, quer com os efeitos proaterogéni-cos no revestimento endotelial dos vasos sanguíneos que contribuem

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para a aterosclerose 6. Quanto mais insulina for necessária, mais se forma a placa perigosa, principalmente quando a quantidade de insu-lina é elevada. A insulina a mais e os níveis elevados de açúcar no sangue fazem também aumentar o colesterol, levam ao depósito de gorduras e prejudicam o organismo. Tendo isto em conta, deverá ficar claro que a dieta padrão dos norte -americanos, que se tem espalhado por muitos países industrializados, é perigosa para todos, e particu-larmente fatal para os diabéticos. A diabetes não é uma sentença de morte, mas não se pode continuar a seguir a medicina convencional e os conselhos dos dietistas, nem o excesso de insulina ou de outros medicamentos que prescrevem.

Os aspetos negativos do excesso de insulina prescrita não se limitam ao aumento de peso nem às doenças cardíacas. Pensa -se que a relação entre diabetes e cancro se deve, pelo menos em parte, ao tratamento com insulina. Uma revisão recente, que analisou dados de vários estu-dos, verificou que os doentes diabéticos têm mais 30 por cento de pro-babilidades de desenvolver cancro colorretal, mais 20 por cento de probabilidades de desenvolver cancro da mama e mais 82 por cento de desenvolver cancro do pâncreas 7. Estou certo de que se se administrar insulina em pequenas doses fisiológicas a doentes diabéticos tipo 1, cujas necessidades de insulina seriam baixas seguindo a minha dieta nutrientarista, os aspetos negativos de metabolismo e o aumento do risco de cancro devido à insulina não se fariam notar. Estes aspetos negativos resultam do uso excessivo de insulina exigido quando se faz a dieta padrão dos norte -americanos ou a dieta típica dos diabéticos.

Quando um diabético do tipo 2 segue as indicações do livro Comer para Viver, consegue evitar muitas das complicações associadas à doença. Como já referi, é possível fazer uma vida normal e ter uma esperança de vida maior. Os diabéticos do tipo 1 não podem dispen-sar a insulina, mas as doses podem diminuir consideravelmente. Além disso, só terão de tomar as mesmas quantidades de insulina que o pâncreas produz em condições normais (ou seja as de uma pessoa com uma alimentação saudável e que não sofre de diabetes). Portanto, não sofrem os efeitos prejudiciais já que não precisam de tomar quantidades anormalmente elevadas de insulina.

1. PRIMEIRO PASSO: COMPREENDER A DIABETES

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Se a diabetes tipo 1 for bem controlada, haverá muitos benefícios. Especificamente:

> Não haverá variações, altas ou baixas, do açúcar no sangue;> Menos unidades de insulina – por norma a dose diminui para

metade;> Peso corporal normal e estável;> Esperança de vida normal, sem as complicações da diabetes.

A equação que importa reter é que os níveis favoráveis de glicose + uma nutrição de excelência = uma vida longa e saudável. Se o leitor ou alguém que lhe é querido tem diabetes, por favor leia este livro. Asseguro -lhe que pode salvar vidas. Já o confirmei.

Aumento Drástico da Diabetes Tipo 2: Um Fenómeno Trágico

A diabetes tipo 2 afeta aproximadamente três a cinco por cento dos norte -americanos com menos de cinquenta anos, e entre 10 a 15 por cento com mais de cinquenta. Mais de 90 por cento dos dia bé-ticos nos Estados Unidos são do tipo 2. Por vezes chamada diabe-tes da idade adulta, este tipo afeta maioritariamente pessoas com excesso de peso e que não praticam exercício físico suficiente. A explosão da diabetes nos últimos vinte e cinco anos, nos Estados Unidos, equipara -se à eplosão do número de pessoas com excesso de peso.

A diabetes tipo 2 quase nunca aparece em pessoas que fazem uma alimentação saudável, praticam exercício regularmente e têm uma percentagem de gordura corporal baixa. A doença praticamente não existia no passado, quando a comida não era tão abundante e quan-do não havia alimentos com elevado teor de calorias e baixo em nutrientes. É também mais frequente em pessoas de descendência indígeno -americana, hispânica, indiana e afro -americana, apesar de nenhuma origem ser imune aos efeitos de uma alimentação que

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leva à diabetes. A diabetes está a expandir -se por todo o mundo, uma vez que as populações de todos os cantos do globo estão a ser expos-tas a alimentos processados pela primeira vez na história da huma-nidade. O desenvolvimento e abundância dos alimentos processados na cadeia alimentar mundial, juntamente com empregos cada vez mais sedentários, levou à explosão da obesidade, diabetes e doenças cardíacas. A maior parte dos países tem tentado resolver este problema com medicamentos para a diabetes, hipertensão e coles-terol. Os métodos invasivos e as cirurgias são duros e não se tradu-zem no aumento da esperança de vida, nem em benefícios para a sociedade.

Nos Estados Unidos, a regra é ter excesso de peso, e quase todos os adultos acabam por tomar medicamentos para o coração, diabetes, colesterol ou hipertensão. Na verdade, 51 por cento das pessoas com mais de 65 anos tomou cinco ou mais medicamentos por dia! O núme-ro de norte -americanos obesos é mais elevado do que o número de fumadores, drogados ou que sofrem de qualquer outro tipo de doen-ça física. A obesidade é um dos principais fatores de risco associado a doenças muito sérias de prevalência, como as doenças de coração, cancro e diabetes. É o que comemos que leva a estas doenças e poten-cia os custos médicos descontrolados. Bastam dois quilos a mais na estrutura corporal normal para originar a diabetes.

A investigação demonstra que o excesso de gordura corporal é a causa principal da diabetes tipo 2. No meu trabalho com milhares de doentes observei, consistentemente, que a diminuição de gordura corporal juntamente com os níveis elevados de micronutrientes nos tecidos corporais, reduz a necessidade de tomar medicamentos e, na maior parte dos casos, faz reverter a diabetes tipo 2 para sempre. Tal como veremos em pormenor ao longo deste livro, os estudos cientí-ficos demonstram que não é apenas a perda de peso, mas também a exposição das células a um ambiente de micronutrientes favorável que permite a recuperação. Muitos dos meus doentes recuperam da diabetes antes de perderem grande parte do seu peso. As células dão mais resposta à insulina quando o corpo não está sobrecarregado com excesso de gordura, e o elevado nível de micronutrientes nos

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tecidos permite que as células beta, que se libertaram da luta para produzir níveis elevados de insulina a mais durante anos, reclamem as suas funções perdidas.

TENDÊNCIAS DA OBESIDADE EM ADULTOS NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

Dados inexistentes <10% 10 -14% 15 -19% 20 -24% 25 -29%

1990

2005

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Porque o seu início é lento e porque pode por norma ser controlada com a alimentação, a diabetes tipo 2 é considerada menos agressiva porque, por vezes, se desenvolve ao longo de vários anos. No entanto, as consequências da diabetes tipo 2 descontrolada e sem tratamento são tão graves como as da diabetes tipo 1. Existe a possibilidade de enfartes, infeções, amputações, cegueira e AVC, mas ao contrário da tipo 1, os diabéticos tipo 2 conseguem quase todos deixar a insulina e outros medicamentos se perderem o excesso de peso.

PREVALÊNCIA DA DIABETES EM TODO O MUNDO

1985 1999 20251994

350

300

250

200

150

100

50

0

Milh

ões

A diabetes não consiste apenas em níveis elevados de açúcar no sangue – que apresentam ameaças imediatas como visão turva, sono-lência, dificuldade de raciocínio e vómitos – mas também em todos os outros problemas que cria a longo prazo. Pode assumir grandes proporções na saúde de um diabético – aumentando não só o risco de enfarte e AVC, mas também de depressão e cancro. 8

1. PRIMEIRO PASSO: COMPREENDER A DIABETES

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Que Pode Esperar Um Diabético Tipo 2

Se a diabetes tipo 2 for bem tratada, praticando exercício físico e com uma nutrição de excelência, há vários benefícios. Especificamente:

> Ausência de subidas e descidas dos níveis de açúcar;> Redução de medicamentos, em média 50 por cento, na primeira

semana, mais ainda ao fim do primeiro mês e, por norma, cem por cento no espaço de seis meses;

> Deixa de haver necessidade de insulina, normalmente na primeira semana;

> Peso corporal normal, magro e estável;> Esperança de vida normal, sem complicações;> Reversão da diabetes e prevenção de complicações associadas

à diabetes.

O objetivo é fazer regredir a diabetes ao ponto de não voltar a ser diabético, o que significa que os seus níveis de glicemia têm de estar abaixo dos cem, sem medicamentos. Tenha em atenção, no entanto, que uma vez diabético, se voltar a ganhar peso ou deixar de comer de forma saudável, há fortes probabilidades de a diabetes reaparecer. Este novo regime alimentar e estilo de vida é para sempre.

Com este tipo de alimentação e estilo de vida, pode estar certo de que o açúcar no sangue vai descer. Tal como já referi antes, poderá também reduzir a medicação. Tenha cuidado se diminuir a medica-ção. Deverá consultar o seu médico e ter cuidado com os ajustes da medicação, para evitar a ocorrência de episódios hipoglicémicos.

Se os níveis de glicemia têm estado elevados, já há algum tempo, mesmo que o açúcar no sangue se aproxime dos valores normais poder--se -á sentir adoentado à medida que o organismo se vai habituando aos níveis normais de glicose no sangue. No entanto, se tomar medi-camentos para a diabetes (para baixar os níveis de glicemia), princi-palmente insulina e sulfonilureias – Amaryl (glimepirida), Diabenese (clorpropamida), Glucotrol (glipizida), Diabeta, Glynase (glibenclamida), Atos (pioglitazona), Avandia (rosiglitazona) – é importante que vigie

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os níveis de açúcar no sangue frequentemente durante a primeira semana, para se certificar de que não está com uma sobredosagem de medicamentos. O Glucophage (metformina) é um medicamento oral muito comum para a diabetes: não permite que a glicose no sangue desça demasiado e que aumente de peso, por isso, caso necessite de continuar a tomar medicamentos, este é o mais indicado.

Não deve fazer snacks para evitar as reações hipoglicémicas causa-das pela sobredosagem de medicação. As dosagens devem ir sendo reduzidas ao longo do tempo para que isso não ocorra. Costumo dizer aos doentes que começam este plano que, se os níveis de açúcar no sangue estiverem abaixo de 120, está na altura de passarem à próxi-ma redução nos medicamentos. É preferível fazer uma medicação mais baixa, evitando assim situações de hipoglicemia, do que estar a tomar medicamentos a mais. Se o doente diabético sofrer episódios de hipoglicemia e precisar de snacks para aumentar os níveis de gli-cemia, então é porque o médico prescreveu uma sobredosagem e não está a desempenhar corretamente o seu trabalho.

A ADA utiliza uma lista de troca de alimentos para ajudar os diabé-ticos a fazer o que eles chamam refeições equilibradas. Essa lista divi-de os alimentos em grupos por semelhança de conteúdo de nutrientes e inclui amidos, fruta, leite, vegetais, carne, gorduras, doces e outros hidratos de carbono. Procura fazer refeições que parecem assentar na noção preconcebida de que equilibrando uma quantidade igual de gorduras, hidratos de carbono e proteína em cada refeição é favorável. Depois, permite trocar os alimentos com base na quantidade de calo-rias desse macronutriente. Por exemplo, no grupo dos amidos, uma fatia de pão torrado pode ser substituída por meia chávena de aveia.

Uma vez que os alimentos com que esta dieta foi concebida são inerentemente pobres em fibra, micronutrientes e amido resistente, surge a obsessão pela comida porque quem faz dieta nunca está satis-feito. Esta luta constante com a dieta e a tentativa de manter pequenas porções de alimentos que biologicamente não satisfazem, raramente funciona. Mesmos nos estudos dietéticos controlados, em que as calo-rias são cuidadosamente vigiadas, os resultados são relativamente pobres porque a dieta padrão dos norte -americanos é tão pobre e a