E da i do f a r (1791-1813) - nch.pt · segunda parte deste trabalho são analisadas as estruturas...

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Neste artigo pretendemos contribuir para o conhecimento da demografia da ilha do Faial relativamente à evo- lução global dos efectivos, composi- ção étnica e estruturas etárias na vira- gem para o século XIX, um período de fortes mudanças na sociedade aço- riana. A análise demográfica incidirá, também, sobre as fontes utilizadas, em especial as de 1799 e 1809, até agora inéditas. ESTRUTURAS DEMOGRÁFICAS DA ILHA DO FAIAL EM FINAIS DO ANTIGO REGIME (1791-1813) PAULO LOPES MATOS Matos, P. L. (2009), Estruturas demográficas da ilha do Faial em finais do Antigo Regime (1791-1813). Boletim do Núcleo Cultural da Horta, 18: 291-311. Sumário: Este artigo visa contribuir para um melhor conhecimento das fontes demográficas açorianas de finais de Antigo Regime, em particular os mapas de 1799 e 1808-09. Numa segunda parte deste trabalho são analisadas as estruturas demográficas da ilha do Faial, em especial os ritmos de crescimento, composição étnica e estruturas etárias. Matos, P. L. (2009), Faial Island demographic structures in the Late Modern Period (1791-1813). Boletim do Núcleo Cultural da Horta, 18: 291-311. Summary: This article intends to contribute for a better understanding of the Azorean demographic sources in the Late Modern Period, in particular the 1799 and 1808-09 statistics. The second part of the paper comprises an analysis of Faial Island demographic structures, namely the rate of growth, ethnic groups and age structures. Paulo Lopes Matos – Universidade Católica Portuguesa e Centro de História de Além-Mar (U.N.L. - U.A.). Palavras-chave: Demografia histórica, estruturas demográficas, fontes de demografia histó- rica, Faial, século XIX. Key-words: Historical demography, demographic structures, historical demographic sources, Faial, 19 th Century. INTRODUÇÃO

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Neste artigo pretendemos contribuir para o conhecimento da demografia da ilha do Faial relativamente à evo-lução global dos efectivos, composi- ção étnica e estruturas etárias na vira- gem para o século XIX, um período

de fortes mudanças na sociedade aço-riana. A análise demográfica incidirá, também, sobre as fontes utilizadas, em especial as de 1799 e 1809, até agora inéditas.

Estruturas dEmográficas da ilHa do faial

Em fiNais do aNtigo rEgimE (1791-1813)

paulo lopEs matos

Matos, P. L. (2009), Estruturas demográficas da ilha do Faial em finais do Antigo Regime (1791-1813). Boletim do Núcleo Cultural da Horta, 18: 291-311.

Sumário: Este artigo visa contribuir para um melhor conhecimento das fontes demográficas açorianas de finais de Antigo Regime, em particular os mapas de 1799 e 1808-09. Numa segunda parte deste trabalho são analisadas as estruturas demográficas da ilha do Faial, em especial os ritmos de crescimento, composição étnica e estruturas etárias.

Matos, P. L. (2009), Faial Island demographic structures in the Late Modern Period (1791-1813). Boletim do Núcleo Cultural da Horta, 18: 291-311.

Summary: This article intends to contribute for a better understanding of the Azorean demographic sources in the Late Modern Period, in particular the 1799 and 1808-09 statistics. The second part of the paper comprises an analysis of Faial Island demographic structures, namely the rate of growth, ethnic groups and age structures.

Paulo Lopes Matos – Universidade Católica Portuguesa e Centro de História de Além-Mar (U.N.L. - U.A.).

Palavras-chave: Demografia histórica, estruturas demográficas, fontes de demografia histó-rica, Faial, século XIX.

Key-words: Historical demography, demographic structures, historical demographic sources, Faial, 19th Century.

iNtrodução

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O âmbito cronológico tratado – cerca de 20 anos – é assaz limitado e, por isso, insuficiente para uma análise circunstanciada da evolução demo-gráfica, designadamente dos compor-tamentos. É que estes exigem uma abordagem centrada na média e longa duração. Contudo, tal opção relacio-na-se com o enfoque que se pretende conferir às fontes utilizadas: os mapas estatísticos de 1799 e 1808-09 ambos com informação ao nível da freguesia.

Numa primeira parte pretende-se for- necer uma nota sobre a informação demográfica disponível, suas caracte- rísticas, modo de produção e organi-zação interna. Tendo presente que as fontes aqui utilizadas são, em grande medida, extensivas a todo o arqui-pélago, procuraremos aprofundar a qualidade dos dados, essencial para delimitar o impacto das principais conclusões. É nesta medida que a primeira parte se apresenta como um work in progress sempre passível de revisões, quer em função do restante conjunto documental ainda a estudar, quer por novos modelos de análise que porventura possam surgir.

Numa segunda fase, necessariamente articulada com a anterior, será dada atenção às taxas de crescimento anual, grupos étnicos e repartição sexual e etária dos efectivos. Não se irá incidir sobre os comportamen-tos demográficos na medida em que escasseiam os elementos para uma in-vestigação rigorosa da sua evolução. Além disso a análise dos comporta-mentos demográficos dos Açores foi já alvo de um estudo onde se poderão buscar as principais linhas de evolu-ção da natalidade, mortalidade e fenó- menos migratórios 1. No entanto a partir das estruturas etárias iremos estimar a idade média ao casamento e o celibato definitivo.A abordagem demográfica irá incidir fundamentalmente ao nível da ilha na medida em que se trata de um universo estatístico de muito pequena dimen-são e de um curto espaço temporal. No entanto, procurar-se-á evidenciar quais as freguesias mais sujeitas a al-terações no seu volume de efectivos, assim como as principais diferenças entre os espaços urbanos e rurais no que toca ao celibato definitivo e idade média ao casamento.

1 Cf. Paulo Lopes Matos e Paulo Silveira e Sousa, ‘População e movimentos migrató-rios. A atracção pelo Brasil (1766-1835) in História dos Açores, dir. de A. Teodoro

de Matos, Avelino de Freitas de Meneses e José Guilherme Reis Leite, vol. I, Angra do Heroísmo, Instituto Açoriano de Cultura, 2008, pp. 535-576.

Paulo Lopes Matos 293

Os mapas estatísticos aqui utilizados reportam ao período de 1791-1813 embora, pela sua riqueza, seja nossa intenção explorar mais detalhada-mente as fontes disponíveis para 1799 e 1808-09 2. Como iremos ver se- guidamente, durante o curto período em apreço as autoridades açorianas ensaiaram novos modelos de pro-dução estatística, alguns deles de grande sofisticação para a época e, ao que julgamos, sem paralelo com a realidade do Reino.A partir de 1766, com a criação da Capitania-geral dos Açores, é possí-vel acompanhar, com rigor variável, a evolução do número de habitantes ao nível de cada freguesia, assim como os comportamentos relativos à nata-lidade e mortalidade. Com efeito, as instruções de 2.8.1766 obrigavam ao capitão-general o envio anual de mapas estatísticos da população para a Secretaria de Estado da Marinha e

do Ultramar. Apesar destas diligên-cias só em 1776 passamos a dispor de um conjunto informativo sequencial e extensivo a todo arquipélago. A cir-cular de 21.05.1776 exigia o envio de um mapa anual para todas as fregue-sias com o número de homens (repar-tidos etariamente em 0-7, 7-15, 15-60 e 60+), e de mulheres (0-7, 7-14, 14--40 e 40+), ao que se deviam agregar os dados acerca da totalidade dos nas-cimentos e óbitos. Estas estatísticas, já estudadas para os Açores quanto à sua natureza, modo de produção e fiabilidade por Artur Madeira, eram, pela mesma circular, extensíveis a todo o Ultramar português com varia-ções pontuais derivadas da composi-ção étnico-religiosa da população de cada espaço 3.Na viragem para o século XIX, con-cretamente em 1799-1801, surge um novo padrão na organização das esta- tísticas da população. Em traços

2 Para um estudo mais detalhado acerca da demografia açoriana neste período con- sulte-se a obra de referência de Artur Madeira, População e Emigração nos Açores (1766--1820), Patrimonia, Cascais, 2002. Norberta Amorim e Maria Hermínia Mesquita analisaram, também, a população do arquipélago no século XVIII tomando como base os mapas estatísticos e os registos paroquiais. Cf. ‘Uma perspectiva da popu-lação açoriana no século XVIII’ in O Faial e a Periferia Açoriana nos Sécs. XV a XX.

Actas do Colóquio realizado nas ilhas do Faial e S. Jorge de 12 a 15 de Maio de 1997, Núcleo Cultural da Horta, 1998, pp. 353-375. Para uma síntese consulte-se o nosso trabalho, no qual também se faz uso das fontes de 1801 e 1808 numa perspec-tiva comparativa. Cf. Paulo Lopes Matos e Paulo Silveira e Sousa, ‘População e movimentos migratórios...’, pp. 535-576.

3 É o caso, por exemplo, de Goa onde até 1797 a população se repartia em ‘brancos’, ‘cris- tãos naturais da terra’ e ‘gentios’ (hindus), ou

1. as foNtEs

294 Boletim do Núcleo Cultural da Horta

genéricos, e conferindo atenção à documentação mais conhecida, os efectivos passam a ser agrupados em idades decenais, o mesmo sucedendo com o número total de casamentos e óbitos. Simultaneamente, passam a existir informações sobre o número de ‘pardos’ e ‘pretos’, sendo frequen-te a enunciação do efectivo do clero, tanto secular como regular. Uma outra novidade relaciona-se com a intro-dução de informações acerca do es-tado civil. Assim, nos mapas de 1800 existe um campo para se anotar o nú-mero de efectivos casados em cada grupo etário (sexos reunidos), pas-sando a informação a desagregar-se por género nos mapas existentes em 1801-1804 e 1808-1809 4.As inovações introduzidas nestas esta- tísticas revelam uma forte mutação na forma como se descrevem os habi-tantes e enquadram-se num novo período da estatística da população, obedecendo a critérios mais racionais e objectivos. Com efeito, é abando-nada a anterior divisão etária que cor-respondia a uma amálgama entre as visões e necessidades do Estado e da

Igreja. Assim, os menores de 7 anos correspondiam à franja populacional não sujeita aos preceitos de confissão e comunhão, enquanto a divisão de homens entre os 15 e os 64 anos se justificava para a obtenção do núme-ro de efectivos capazes de pegar em armas. Finalmente, a existência de um escalão para as mulheres (14-40) relacionava-se com a necessidade de se conhecer o número daquelas que eram susceptíveis de reprodução num dado momento.Esta alteração não foi, contudo, parti-cular do arquipélago. Na viragem para o século XIX ocorre, no Conti-nente, a realização do censo de 1801, onde subjaz o intuito de se conhecer o número de súbditos por estado civil e a estrutura etária com grupos de idade mais regulares. No entanto, neste particular, assinale-se que o censo de 1801 apesar basear-se em bole-tins de recolha nominativa agrupava os efectivos em grupos irregulares 5. É nesta linha que somos levados a afirmar que as estatísticas açorianas de inícios do século XIX – em espe-cial as de 1807/08 – parecem traduzir um esforço institucional continuado

do Brasil onde se discriminava por vezes os ‘pretos’ e ‘indígenas’. Sobre o diploma de 21.5.1776 veja-se Artur Madeira, Popu-lação..., pp. 46-49 e Elisa Lopes da Costa, Novos destinos para as gentes açorianas em finais de Setecentos: terras de Além-Tejo um espaço a povoar?’ in O Faial e a Periferia..., Núcleo Cultural da Horta, 1998, p. 407.

4 Cf. Artur Madeira, População..., pp. 125--128.

5 Os grupos etários eram os seguintes: 0-7, 7-25, 25-40, 40-60, 80-100 e 100+. Cf. Fer- nando de Sousa, História da Estatística em Portugal, Lisboa, Instituto Nacional de Estatística, 1995, p. 120.

Paulo Lopes Matos 295

no sentido de se apurar com maior rigor as gentes e seus comportamen-tos. Aliás, como comenta José Damião Rodrigues ‘o quadro político e insti-tucional transformou-se a partir de 1807. A figura do capitão-general tor-nou-se mais presente e actuante numa conjuntura em que as ilhas açorianas foram novamente a desempenhar um papel central’ 6.Relativamente aos mapas de 1800 e 1801 é necessário esclarecer que estes se subdividem em três docu-mentos distintos, todos elaborados em formulário impresso e ao nível da ilha 7. O primeiro respeitava aos ‘Mapa dos habitantes que existem na ilha [...] em o anno de 1800’ corres- pondendo ao estado da população, ao que se adicionava também o total de ‘mulatos’ e ‘pretos’. O movimento dos efectivos (nascimentos, casamen- tos e mortes) era enunciado pelo ‘Mapa dos casamentos annuaes, nas-cimentos, e mortes na ilha [...] no anno de 1800’. A informação destas estatísticas desagregava-se por sexo e grupo etário 8, indicando-se também o número de nascimentos de gémeos e nados-vivos. Finalmente, o mapa das

‘Occupações dos habitantes da ilha do [...] em o anno de 1800’ enqua-drava os efectivos em doze classes profissionais, não se discriminando, contudo, o sexo. Esta informação era acompanhada pelo preço dos jornais auferidos diariamente relativamente às ocupações manuais.Para 1800 e 1801 as fontes enume-radas cobrem a maioria das ilhas en-contrando-se depositadas no Arquivo Histórico Ultramarino. No entanto, é fundamental alertar-se para a dis-persão dos fundos arquivísticos e, nalguns casos, para a sua deficiente organização. Na realidade, o facto de existirem estatísticas disponíveis para a ilha de São Miguel em 1804 faz supor que esta operação censitária se repetiria anualmente, sendo admis-sível que os restantes governadores das ilhas produzissem estes documen-tos. A este respeito, e para um período anterior, saliente-se que vários mapas estatísticos da população se encon-tram na Torre do Tombo, fundo do Ministério do Reino, concretamente os levantamentos de 1768, 1779 e 1794, este último utilizado e reprodu-zido neste estudo 9.

6 Cf. São Miguel no Século XVIII. Casa, elites e poder, vol. II, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 2003, p. 839.

7 Cf. Artur Madeira, População e emigração nos Açores (1766-1820). Apêndice documen- tal, Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 1997, pp. 132-137 (policopiado).

8 14-20, 20-30, 30-40,... no caso dos casa-mentos e 0-1, 1-5, 5-10, 10-20, 20-30,... para os óbitos.

9 ANTT, Ministério do Reino, maços 611 (anos de 1768 e 1769) e 614 (1779 e 1794).

296 Boletim do Núcleo Cultural da Horta

É neste contexto que adquire parti-cular importância a documentação existente na Biblioteca Pública e Ar-quivo Regional de Angra do Heroís-mo, núcleo da Capitania-geral. Aqui encontramos uma série de estatísticas da população cuja tradição documen-tal se reporta, em vários casos, às fon-tes primárias, ou seja, aos documen-tos originais enviados pelos párocos ao Capitão-general e destinados à ela-boração de um mapa geral. Assim, as fontes localizadas para 1799, 1808-09 e 1813 assumem grande importância na medida em que até ao momento se desconhecem os respectivos mapas gerais por ilha 10.Sem nos queremos alongar dema-siado, até por termos já tratado desta questão em trabalhos anteriores, sa-liente-se, em primeiro lugar, as fontes respeitantes a 1799. Estas, disponí-veis para todas as freguesias da ilha do Faial, diferenciam a população ‘branca’, ‘mulata’ e ‘preta’ por ida-des exactas, ou seja, idade a idade 11.

Relativamente aos movimentos da população a informação também é disponibilizada por idades exactas e para ambos os sexos havendo, ainda, anotação do número nados-mortos, nascimentos de gémeos e quantitativo do clero. Embora se conheça a por-taria que originou estes mapas, aliás existentes para várias ilhas, é inegável que a informação disponível corres-ponde já à estrutura dos mapas glo-bais que nos surgem em 1800-1801.Para 1808-1809 há a assinalar um conjunto de mapas elaborados ao nível da ilha e com desagregação ao nível da freguesia. Tratam-se dos «Mapas da população da ilha […] no 1º de Janeiro de [...] e do que occor-reo na dita população em todo o anno antecedente», elaborados pelos juízes de fora e enviados ao Capitão-general dos Açores. Em geral o conjunto informativo não regista grandes alte-rações face a 1800-1801. Se por um lado passamos a ter uma desagrega-ção ao nível da freguesia e efectivos

10 BPARAH, Capitania-geral, População, maço 5 (documentos não classificados).

11 Os mapas apresentam a seguinte estrutura: 1.ª classe – homens brancos solteiros, 2.ª – homens brancos casados, 3.ª – homens brancos viúvos, 4.ª – mulheres brancas solteiras, 5.ª – mulheres brancas casadas, 6.ª – mulheres brancas viúvas, 7.ª – homens brancos que casaram neste ano, 8.ª – mulheres brancas que casaram neste ano, 9.ª – homens brancos que morreram neste

ano, 10.ª – mulheres brancas que morreram neste ano, 11.ª – crianças que nasceram vivas, mortas e gémeos, 12.ª – número de clérigos. Não existem classes próprias para as minorias étnicas, decerto graças ao seu peso diminuto. No entanto, os vigários anotavam sistematicamente quando exis-tiam efectivos, representando-as de forma análoga à população branca. No caso de ausência esta era sempre anotada, p.e. ‘não há pretos nem mulatos’.

Paulo Lopes Matos 297

residentes em conventos, relativa-mente aos movimentos apenas se discrimina o número total de nasci-mentos, casamentos e óbitos quando, em 1800-1801, existia informação ao nível das idades. Finalmente, para 1813 foram localizados mapas respei-tantes a algumas freguesias da ilha do Faial sendo a sua estrutura idêntica à de 1809.Debrucemo-nos, agora, em torno da qualidade das estatísticas recolhidas. Antes de mais é conveniente ressaltar que as mesmas eram produzidas pelos párocos locais. Estes socorriam-se dos róis de confissão para o cômputo dos efectivos e dos registos paroquiais para a quantificação dos movimentos. O rigor era, pois, variável consoante o redactor existindo, por vezes, algu-ma sub-avaliação dos menores de 7 anos, exactamente por não possuírem a idade para receberem os sacramen-

tos de confissão e comunhão. Con-tudo, é importante assinalar que na década de 1790 a produção de estatís-ticas demográficas estava já relativa-mente burocratizada sendo, em prin-cípio, menores os erros de recolha.Nos mapas de 1791-1796 nota-se que a distribuição dos efectivos assume um padrão muito regular entre os 5 numeramentos, indiciando uma qua-lidade bastante aceitável (quadro 1). Ao nível da natalidade e mortalidade os respectivos totais mostram que a primeira manteve valores mais cons-tantes, enquanto a mortalidade esteve sujeita a maiores flutuações. Esta rea-lidade é perfeitamente compatível com os regimes demográficos pré-indus-triais, onde a mortalidade regista maiores flutuações face à fecundi-dade devido à precariedade das con-dições médico-sanitárias.

quadro 1 – pErcENtagEm dos grupos Etários da ilHa do faial sEguNdo os mapas Estatísticos dE 1791-1796

Anos/Gruposetários

H 0-7 H 7-15 H 15-60 H 60+ H 90+ F 0-7 F 7-14 F 14-40 F 40-90 F 90+

1791 9.3 10.2 21.5 7.6 0.0 8.5 8.4 21.7 12.8 0.0

1793 8.1 11.8 22.1 8.3 0.0 8.0 9.9 20.6 11.0 0.0

1794 8.0 12.4 22.7 6.6 0.0 7.5 10.4 21.5 10.7 0.0

1795 8.4 10.9 22.9 8.2 0.0 7.1 9.7 19.9 12.9 0.0

1796 8.3 10.9 22.9 8.2 0.0 7.5 10.7 19.4 12.1 0.0

Não é tarefa fácil aquilatar a quali-dade das fontes existentes para 1799. Através do exame comparado do total

de efectivos, distribuição por género e estado civil com a série de nume-ramentos (1799-1813) denota-se uma

298 Boletim do Núcleo Cultural da Horta

qualidade bastante aceitável. Ao nível dos movimentos o rigor parece-nos semelhante aos restantes mapas exis-tindo, porém, uma eventual sub-ava-liação ou declaração errónea de idade na mortalidade infantil e juvenil. Na verdade, o conceito de ‘zero anos’ era, ainda, pouco usado pelos páro-cos, sendo frequente contabilizar-se os efectivos desta idade como tendo um ano. Das 12 freguesias em apenas 4 – Angústias, Conceição, Castelo Branco e Pedro Miguel – se anotam os neófitos falecidos com menos de 1 ano 12.A principal deficiência das fontes de 1799 relaciona-se com a incorrecta distribuição das idades. Como é sabi-do, neste âmbito cronológico a noção de aniversário e, consequentemente, de anos completos, era vaga. Aliás, nos registos paroquiais de óbito do século XIX quase sempre se usa a expressão ‘pouco mais ou menos’ na enunciação das idades. É conve-niente recordar que estamos perante 12 mapas distintos, cada um deles elaborado pelo respectivo vigário. Por outro lado, mesmo ao nível da unidade ilha, tratamos de um universo estatístico muito limitado (c. 16 mil efectivos). Ora, quando se desce ao

nível da freguesia é necessária cui-dada ponderação no uso de métodos para avaliação e correcção dos dados imperfeitos. Estes ganham eficácia nos grandes universos e nas popula-ções estáveis, isto é sem grandes per-turbações derivadas dos fenómenos migratórios.O Índice de Whipple, destinado a medir o grau de exactidão da decla-ração de idades do Faial em 1799 cifrou-se em 165 (158 para os homens e 166 para as mulheres) correspon-dendo a ‘dados grosseiros’ 13. Con-tudo, ao nível da freguesia os valores registados são muito díspares, haven-do que assinalar a excelente qualidade da recolha na Feteira, Castelo Branco e Matriz e, no extremo oposto, as paróquias de Ribeirinha, Flamengos e Pedro Miguel com dados bastante grosseiros. Para idêntica cronologia o Índice de Whipple em Coruche (Alentejo) era de 265 e 232 para homens e mulheres, respectivamente, o que nos leva a supor que a atracção pelas idades nas fontes aqui tratadas se enquadram perfeitamente nos parâ-metros normais para a época.

12 Todos os párocos à excepção do de Castelo Branco anotaram, inclusivamente, os dias e meses das crianças falecidas com 0 anos.

13 Cf. J. Manuel Nazareth e Fernando de Sousa, A Demografia portuguesa em finais do antigo regime. Aspectos sociodemográ-ficos de Coruche, Cadernos da Revista de História Económica e Social n.º 4, Lisboa, Sá da Costa, 1983, p. 16.

Paulo Lopes Matos 299

quadro 2

íNdicEs dE WHipplE Na ilHa do faial Em 1799

Freguesia Índice Freguesia Índice

Matriz 107 Feiteira 101

Conceição 129 Pedro Miguel 239

Angústias 180 Praia do Alexandre 78

Capela 156 Ribeira dos Flamengos 180

Castelo Branco 106 Ribeirinha 176

Cedros 182 Salão 103

2. as Estruturas Etárias

gráfico 1

Evolução dos EfEctivos da ilHa do faial (1791-1813) 14

14 Os dados respeitantes a 1791-1796 foram retirados de Artur Madeira, População... Apêndice documental, enquanto os de 1811 foram colhidos em Arquivo dos Açores,

vol. XI, Universidade dos Açores, 1983, pp. 147-149. Todos os restantes nume-ramentos provém de fontes inéditas, já citadas.

Durante o período em observação (1791-1811) a ilha do Faial regis-tou um aumento na ordem dos 2136 efectivos ao que correspondeu uma

taxa de crescimento anual (T.C.A.) de 0,56%. Pela análise do gráfico 1 constata-se, porém, uma evolução claramente dissemelhante, com uma

300 Boletim do Núcleo Cultural da Horta

De um modo geral a ilha do Faial registava, desde 1768, ritmos de cres-cimento em grande medida dissonan-tes da realidade insular. Ressalvando--se a descontinuidade na evolução em cada uma das ilhas, até pela pequenez do universo em estudo, o Faial aver-bava entre 1768 e 1776 um cresci-mento abaixo da média. No período seguinte – 1776-1791 – onde uma série crise demográfica ocorreu em todas as ilhas (T.C.A. de -0.61%) a unidade em estudo destaca-se do con-junto como a única em que tal evo-

lução fora positiva (0.44%). Porém, após esta fase de contínua expansão a ilha entrara em claro declínio de-mográfico já quando o arquipélago recuperava efectivos. De facto, entre 1791 e 1800 a ilha registara uma TCA de -0.86 o que se poderá relacionar, como veremos de seguida, com as su-cessivas levas de casais para o Brasil em finais de Setecentos.Durante as duas primeiras décadas do século XIX o Faial crescera a um ritmo muito significativo, praticamen-te idêntico entre 1800-1807 e 1807--1819 (TCA de 2.3%). Esta evolução não encontra paralelo no arquipélago onde o incremento, apesar de intenso,

retracção entre 1791-1800 (T.C.A. de –0.86%) seguindo-se um período de franca expansão atestado por uma T.C.A. de 1,8% (1800-1811).A análise da evolução dos efectivos para o Faial e para as restantes ilhas revela que apesar do forte cresci-

mento ocorrido nos Açores nos últi-mos anos de Setecentos se detectam fortes dissemelhanças. Num âmbito cronológico mais vasto (1768-1819) é possível enquadrar de modo mais concreto as fases de crescimento.

15 Cf. Paulo Lopes Matos e Paulo Silveira e Sousa, ob. cit., p. 555.

quadro 3

taxas dE crEscimENto aNual médio Nas ilHas dos açorEs (1768-1819) 15

Período

Sant

a M

aria

São

Mig

uel

Terc

eira

Gra

cios

a

São

Jorg

e

Pico

Faia

l

Flor

es

Cor

vo

Aço

res

1768-1776 0.58 0.51 0.73 1.35 1.85 1.62 0.75 1.86 0.75 0.92

1776-1791 -1.66 -1.11 -045 -0.43 -0.52 -0.29 0.44 -0.34 -0.21 -0.61

1791-1800 0.78 1.18 -034 -0.80 -027 0.87 -0.86 1.69 0.63 0.44

1800-1807 -0.50 -0.01 0.47 1.38 0.81 0.22 2.32 -0.21 0.44 0.47

1807-1819 -0.25 0.41 1.52 1.80 1.27 -056 2.39 0.91 1.22 0.88

Paulo Lopes Matos 301

registou uma TCA de 0.47% e 0.88%, respectivamente.Numa perspectiva de longa duração – essencial para o melhor enquadra-mento dos fenómenos demográficos – a evolução dos nascimentos faia-lenses ao longo do século XVIII de-nota uma grande quebra, sobretudo em meados da centúria. Segundo Norberta Amorim e Maria Hermínia Mesquita ‘a ilha que apresenta uma situação mais depressiva é a do Faial, com abaixamento nítido das curvas de baptizados em meados do século’ 16. É admissível que após uma fase de longa recessão a ilha tenha gradual-mente recuperado o seu crescimento demográfico, mesmo numa época em que o arquipélago assistia a crises de subsistência, emigração para o Brasil e sucessivos recrutamentos militares.A evolução volumétrica do número de habitantes do Faial surge, pois, algo dissemelhante do conjunto arquipelá-gico nos alvores do século XIX. No presente estádio da investigação não nos é possível buscar explicações concludentes a este respeito. Sabe-se que a ilha, tal como a generalidade do arquipélago, vivera sobre o espectro

da fome durante a década de 1780. Assim, em 1789, a câmara da Horta alegava ter-se experimentado a cares-tia nos anos de 1785 e 1786. As crises frumentárias seriam cíclicas a avaliar por outros testemunhos, como foi o caso, em 1805, da representação efectuada pelo juiz de fora da Horta ao monarca. Por esta se alegava viver o povo, desde 1800, ‘debacho do fla-gelo da fome’, sendo necessária a im-portação de cereais para a debelar 17.Apesar das sucessivas crises alimen-tares, a historiografia açoriana tem-se debatido sobre a suposta pressão de-mográfica do arquipélago derivada de um crescimento natural incom-patível com os recursos disponíveis. É aqui que ganha expressão o com-plexo processo de deslocalização de casais açorianos com vista ao povoa-mento da ilha de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, entre 1747 e 1820 18. Apesar do esforço da Coroa esmore-cer no último quartel de Setecentos a realidade é que no período em estudo viriam a ocorrer várias levas de casais para o Brasil. Infelizmente ainda está por fazer o confronto entre as listas de potenciais interessados e os indi-

16 Cf. Maria Norberta Amorim e Maria Hermínia Mesquita, ‘Uma perspectiva...’, pp. 353-355.

17 Cf. Ricardo Madruga da Costa, Os Açores em finais do regime de Capitania-Geral. 1800-1820, vol. I, p. 495 (doc. 12 – AHU, Açores, cx. 47, doc. 56 de 23.10.1805).

18 Sobre este assunto consulte-se Paulo Lopes Matos e Paulo Silveira e Sousa, ‘A Popu-lação...’, pp. 535-577 (maxime 542-548); Artur Madeira, População e emigração..., pp. 206-220; Ricardo Madruga da Costa, Os Açores..., pp. 204-222.

302 Boletim do Núcleo Cultural da Horta

víduos efectivamente embarcados, assim como uma análise mais deta-lhada ao nível da participação de cada ilha.No caso concreto da ilha do Faial sabe-se que após um interregno de décadas, em 1798 e 1789, seriam retomados os esforços para anga-riar pequenos contingentes de casais destinados ao povoamento do Brasil. Os avisos régios de 7.5.1799 e 2.8.1799 determinaram que o gover-nador militar do Faial e Pico levasse a cabo dois alistamentos de 20 casais. Em Junho de 1799 partiriam logo 106 pessoas. Um outro diploma de 15 de Outubro de 1799 convidaria 60 casais para se estabelecerem na Baia. Segundo Silveira Macedo esta emigração era paga pelo governo, e um grupo efectivamente embarcou a partir do Faial 19. Na viragem para o século XIX continuariam os embar-ques, apontando Madruga da Costa para uma saída na qual, entre 1800 e 1814, teriam partido em direcção ao Brasil 226 casais 20.Para além da emigração para a coló-nia americana importa salientar os movimentos migratórios em direcção ao Alentejo. Embora a sua expressão

não tenha sido prolongada no tempo, Elisa Lopes da Costa refere a saída de 313 efectivos faialenses em Junho de 1787, seguindo-se outra leva em Outubro do mesmo ano constituída por 436 pessoas. Os transportes foram solicitados por Diogo de Pina Mani-que em articulação com o Capitão- -general e juiz de fora. Estas saídas corresponderam a cerca de 4.4% do efectivo faialense em 1787 mas, por serem organizadas por famílias, não deixariam grandes marcas ao nível da estruturação dos efectivos quer por sexos, quer por idades. O mesmo sucedia relativamente às saídas para o Brasil 21.A análise das informações acerca das crises de subsistência e fenómenos migratórios mostra-nos que, apesar da sua intensidade, não seriam suficien-tes para travar o crescimento demo- gráfico no Faial. Resta, também, saber até que ponto estas seriam um factor de bloqueio ou, pelo contrário, geradoras de um crescimento demo-gráfico mais acentuado nos anos subsequentes. É que nas sociedades de Antigo Regime o crescimento era regulado pela mortalidade ou emigra-ção, sendo os períodos de retracção

19 Cf. Paulo Lopes Matos e Paulo Silveira e Sousa, ‘A População...’, pp. 541-542.

20 Idem, ib., p. 220 (quadro 33).21 Ao contrário dos vários recrutamentos mili-

tares efectuados nos Açores e no Faial, em particular em finais de Setecentos e nas pri-

meiras décadas do século XIX, Madruga da Costa aponta a existência de várias saídas de efectivos masculinos, muito embora seja difícil aquilatar a sua verdadeira expressão. Cf. Os Açores..., pp. 200-201 (quadro 32).

Paulo Lopes Matos 303

demográfica sucedidos por fases de expansão até que a intervenção destas variáveis actuasse.Está ainda por esclarecer se a pres-são sobre a terra era, efectivamente, uma realidade bem sentida ou se, pelo contrário, esta era alegada pelas autoridades no intuito de legitimar internamente o movimento de trans-porte de gentes para o Brasil. No caso concreto da ilha do Faial a documen-tação coeva parece ser contraditória. Assim, em 1808 o juiz de fora argu-mentava o ‘excedente populacional’ da ilha e a consequente necessidade

de se fomentar a emigração. Contu-do, o próprio capitão-general refutava esta leitura invocando a falta de bra-ços para a agricultura 22.A evolução dos habitantes ao nível das freguesias indica que entre 1791 e 1809 se verificou o crescimento generalizado das paróquias, excepção feita ao Salão e Cedros, com uma TCA de -1.0 e -1.2, respectivamente. Tal deve-se à significativa redução do volume destas unidades entre 1791 e 1799, sendo as que mais cresceram no período subsequente (1.1%). A vila da Horta, constituída pelas paróquias

22 Ricardo Madruga da Costa, Os Açores..., pp. 210-211.

quadro 4

população do faial por frEguEsias E taxas dE crEscimENto aNual (1791-1813)

Freguesias/Anos

1791

1793

1794

1798

1799

1801

1809

1812

1813

1791

-179

9

1799

-180

9

1791

-180

9

Matriz 2990 2721 2701 2839 3048 -0.6 0.7 0.1

Conceição 1431 1587 1504 1862 1783 1741 3.3 -0.4 1.2

Angústias 1013 999 1371 1085 954 1454 1429 -0.7 4.3 2.0

Feteira 1645 1690 1688 1780 1883 1920 1.0 0.6 0.8

Ribeirinha 835 788 746 866 905 1004 0.5 0.4 0.4

Praia do Almoxarife 544 579 589 619 595 685 1.1 1.4 1.3

Castelo Branco 1120 977 1027 1344 1498 2.3 1.1 1.6

Saião 1104 1155 1166 996 784 919 -4.2 1.6 -1.0

Cedros 2808 2844 2859 1924 2261 2406 -4.6 1.6 -1.2

Pedro Miguel 994 1248 1170 1105 1223 1.3 1.0 1.2

Capelo 1106 1232 1184 1266 1343 1.7 0.6 1.1

Ribeira dos Flamengos 1705 1588 1613 1547 1774 2087 -1.2 1.4 0.2

Total 17295 17408 17618 16866 16504 18776 19431 -03 1.1 0.5

304 Boletim do Núcleo Cultural da Horta

da Matriz, Conceição e Angústias, via reforçado o seu peso demográ-fico em todos os períodos. Assim, a urbe averbou um crescimento anual

de 0.8% entre 1791 e 1809, sendo que as freguesias rurais acusaram um incremento de 0.3% em idêntico período.

quadro 5

EfEctivos ‘prEtos’ E ‘mulatos’ Na ilHa do faial (1799-1811)

Grupos 1799 1800 1801 1809 1811

Homens pretos 79

Mulheres pretas 29

Total 108 60 60 — —

Homens mulatos 20

Mulheres mulatas 31

Total 51 51 71 — —

Total Geral 159 111 131 138 149

As informações sobre a composi-ção étnica da ilha do Faial relativa a pretos e mulatos (estes também designados por pardos), revelam uma expressão diminuta que, em qualquer dos anos, não ultrapassou 1% dos efectivos. O universo não nos permite retirar conclusões seguras sendo incompreensível a razão pela qual os pretos acusaram um significativo decréscimo de 1799 para 1800-1801. No primeiro caso verifica-se uma percentagem substancialmente maior de efectivos do sexo masculino, reali- dade oposta para os mulatos. Partin- do-se do princípio pelo qual os pretos poderiam equivaler a escravos, en-quanto os mulatos seriam indivíduos libertos, compreendia-se o maior re-curso aos escravos masculinos como mão-de-obra, enquanto os mulatos já

estariam bem mais integrados na so-ciedade açoriana.Em 1799 o confronto entre o espaço urbano e rural permite concluir que esta minoria se concentrava essen-cialmente na vila, reforçando o seu uso doméstico. Assim, 102 pretos e 26 mulatos (94% e 51%, respectiva-mente) concentravam-se na vila ates-tando a utilização dos primeiros nas ocupações domésticas e uma maior integração dos segundos, porque mais disseminados pela ilha.A evolução das relações de masculi-nidade (RM) no Faial indica uma si-tuação de quase equilíbrio entre 1794 e 1796 quando o indicador do arqui-pélago se situava na ordem dos 86%. Porém, esta situação é rapidamente alterada em 1799 quando a ilha passa a ter uma RM na ordem dos 84-86%

Paulo Lopes Matos 305

até ao final da observação. Causa estranheza a súbita redução das RM sobretudo em tão curto espaço de tempo e quando a ilha se encontra em franco crescimento demográfico. É verosímil que estes valores reflic-tam as levas de casais para o Brasil de que já se deu conta e que estas tenham sido protagonizadas maioritariamente por homens (v. quadro 7).Dando-se, agora, atenção às estru-turas etárias em cada um dos anos em observação, saliente-se, em 1799, a base alargada da pirâmide, traduzindo o fraco controle da fecundidade e uma mortalidade infantil e juvenil significativa. No entanto, como já foi salientado, a atracção pelas idades perturba a interpretação desta pirâmi-de. Isto levou-nos a corrigir os dados segundo o método das médias móveis de 3 anos, obtendo-se uma pirâmide bastante mais aproximada à reali-

dade da ilha neste ano. Deve notar-se, porém, o significativo distanciamento entre os efectivos com as idades de 0 e 1 ano. Com efeito, entendemos por bem introduzir nesta pirâmide os indivíduos nascidos em 1799, mas este quantitativo encontra-se sobres-timado na medida em que não se des-contou a mortalidade infantil 23.Para efeitos comparativos entendeu- -se construir uma pirâmide para 1799 em grupos quinquenais, também, para esbater as oscilações entre as idades. É que mesmo com as correcções intro-duzidas detectam-se falhas significati-vas, em especial para o sexo feminino.

quadro 6

rElaçõEs dE masculiNidadE gloBais Na ilHa do faial (1791-1811)

Anos R.M.1791 94.71793 101.61794 99.11795 101.71796 101.21799 87.01800 84.81801 85.31809 84.61811 86.3

23 Para apurarmos este indicador esperamos, num futuro breve, cotejar as informações dos mapas de 1799, 1800, 1801 e 1809 com os registos paroquiais. Os dados disponí-veis nos mapas são insuficientes para que se possa estimar a taxa de mortalidade infantil com segurança.

306 Boletim do Núcleo Cultural da Horta

figura 2 – Pirâmide etária da ilha do Faial em 1799 (valores corrigidos).

figura 1 – Pirâmide etária da ilha do Faial em 1799 (valores originais).

Paulo Lopes Matos 307

figura 3 – Pirâmide etária da ilha do Faial (grupos quinquenais).

figura 4 – Pirâmide etária da ilha do Faial em 1809.

308 Boletim do Núcleo Cultural da Horta

A pirâmide evidencia claras irregu-laridades em certos escalões etários, designadamente as classes ‘ocas’ nas mulheres situadas nos grupos de 15--19, 35-39 e 45-49 anos e nos homens compreendidos entre os 20-24, 45-49 e 55-59 anos. Cremos que os valores das mulheres entre 15 e 19 anos estão claramente desfasados da realidade, podendo derivar do grande empola-mento dos efectivos com 15 anos de idade.Em 1809, onde a estrutura etária pouco teria mudado, denota-se um maior peso dos grupos 10-14 e 15-19 anos para ambos os sexos. No entan-to, nos grupos masculinos de 20-24 e 25-29 existe uma significativa retracção a qual revela a intensidade dos fenómenos migratórios e, even-tualmente, algum peso dos recruta-mentos militares.Em termos globais a população faia-lense era, na viragem para o século XIX, predominantemente jovem com um peso que atingia os 40% e 44% em 1799 e 1809, respectivamente. Simultaneamente o peso dos idosos registara uma ligeira redução, po-dendo afirmar-se que a sociedade assistira a um ligeiro processo de re-juvenescimento. De qualquer modo, o Índice de Dependência Total, desti-

nado a medir a relação entre os não--activos e activos, sofre um agrava-mento em virtude do aumento per-centual dos jovens (v. quadro 7).Por recurso à estrutura etária propor-cionada pelos mapas estatísticos é possível o cálculo das idades médias ao casamento e celibato definitivo 24. Ressaltando-se o perigo de lidarmos com universos muito limitados, agra-vados por possíveis erros de recolha, observa-se que a idade média ao casamento dos homens faialenses era de 28 anos no primeiro quartel do século. Este valor estava perfeita-mente enquadrado no conjunto insu-lar onde os valores oscilavam entre os 26.2 anos (S. Miguel) e os 30.4 (S. Jorge). Porém, o acesso ao casa-mento feminino – 25,5 anos – era relativamente mais precoce, apenas superado na ilha de S. Miguel onde as mulheres contraiam matrimónio aos 25 anos 25.Os dados do celibato definitivo do arquipélago revelam um acesso ao casamento muito diferenciado con-soante o género para o arquipélago. Assim, cerca de 15.6% dos homens permaneciam no estado celibatário, percentagem que quase duplicava para o sexo oposto. Também aqui a ilha do Faial registava valores próxi-

24 Cf. John Hajnal, «European Marriage Patterns in Perspective, in Population in History. Essays in Historical Demography, ed. by D. V .Glass & D. E. C. Eversley,

London. Edward Arnold Publishers, 1969, pp. 101-143.

25 Cf. Paulo Lopes Matos e Paulo S. Sousa, ob. cit., p. 570

Paulo Lopes Matos 309

quadro 7

Estruturas populacioNais da ilHa do faial Em 1799-1813)

Relação de masculinidade

Grupos etários 1799 1800 1801 1809 1812

0-10 102.0 107.7 101.9 107.4. —

10-20 100.7 101.4 100.0 97.0 —

20-30 77.7 78.8 81.9 67.9 —

30-40 73.5 73.2 72.3 68.5 66.3

40-50 74.7 74.2 76.2 74.2 77.3

50-60 73.5 70.9 72.6 79.8 76.3

60-70 95.3 70.8 72.8 80.2 84.7

70-80 94.3 61.2 67.6 73.3 93.2

80-90 148.6 53.8 87.0 108.9 203.2

90-100 100.0 — — — —

Grupos funcionais

Jovens (< 20 anos) 40.4 39.7 41.1 43.7 —

Activos (20-60) 50.4 51.2 49.4 47.3 —

Idosos (60 +) 9.3 9.1 9.5 9.0 —

Índice de Dep. Total 98.5 95.4 102.4 111.4 —

26 Cf. Paulo Lopes Matos e Paulo Silveira e Sousa, ob. cit., pp. 561 e 570 (quadros 5 e 11).

quadro 8

idadEs médias ao primEiro casamENto (1799-1827)E cEliBato dEfiNitivo Nos açorEs (1807-1809) 26

Período

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Idade m. cas. H 27.7 26.2 27.3 28.0 30.4 — 28.0 — — —

Idade m. cas. M 28.7 25.0 26.5 28.5 29.7 — 25.5 — — —

C.D. H 25.9 17.6 19.9 11.1 15.9 10.9 12.0 5.9 10.0 15.6

C.D. M 27.0 28.3 31.6 28.4 27.3 21.4 28.9 16.9 14.3 27.2

310 Boletim do Núcleo Cultural da Horta

mos da média com uma percentagem ligeiramente inferior para os homens (12), mas superior para as mulheres (28.9).A um nível geográfico inferior a realidade entre o espaço urbano e rural variava significativamente. Aplican-do-se o mesmo método às fontes dis-poníveis para 1799 e 1809 resulta, para a vila da Horta, uma idade média

ao casamento de 25.8 e 24.0 anos para homens e mulheres, respectivamente. No espaço rural estes valores são claramente mais elevados com 28.7 e 29 anos. Mas as clivagens eram, também, evidentes quanto ao acesso ao casamento. Assim, o celibato defi-nitivo atingia, na vila, 25.6% e 49%, enquanto nas freguesias urbanas se situava apenas nos 12.7% e 18%.

coNclusõEs

A análise das fontes demográficas respeitantes a 1799 e 1809 permitiu evidenciar significativas mutações na forma como as autoridades açorianas passaram a descrever os habitantes na viragem para o século XIX. O côm-puto dos efectivos passou a ter uma matriz mais racional e, em certa me-dida secular, ao mesmo tempo que aumentaram as informações recolhi-das. O confronto destas estatísticas com outras séries de dados e, também, por recurso a métodos de avaliação de qualidade, permitiu-nos concluir estarmos perante informações com um rigor bastante aceitável para a época em estudo.Entre 1791 e 1813 a ilha do Faial crescera significativamente acusando ciclos diferenciados face ao arqui-pélago. No entanto esse incremento datava de inícios do século XIX, sendo a ilha que mais habitantes incorporou entre 1800 e 1809. Para-

doxalmente, este acréscimo ocorreu num período marcado por crises frumentárias, levas de casais para o Brasil e de recrutamentos militares cujo impacto, entretanto, não pode-mos medir neste estádio de inves-tigação. Ficou claro, todavia, uma redução do equilíbrio entre os sexos, certamente como reflexo de uma emi-gração mais diferenciada. Contudo, esta parece não ter afectado significa-tivamente a capacidade reprodutiva da população.Entre 1791 e 1809 a estrutura etária da ilha era predominante jovem ocor-rendo, até, um ligeiro processo de rejuvenescimento. De acordo com as sociedades pré-industriais o controle da fecundidade efectuava-se através do retardamento ao casamento mas, igualmente, por recurso ao celibato definitivo. Este registava, porém, significativas diferenças entre o espa-ço urbano e rural.

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Morrerão

Até 7 anos

De 7 a 15

De 15 a 60

De 60 a 90

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Até 7 anos

De 7 a 14

De 14 a 40

De 40 a 90

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1 142 0 0 141 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 40 42 0 — — 143 141 284 2 247 0 0 220 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 16 20 0 — — 247 221 468 3 227 0 0 255 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 12 12 0 — — 229 255 484 4 154 0 0 226 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 9 3 0 — — 154 226 380 5 176 0 0 178 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 11 3 0 — — 176 178 354 6 206 0 0 148 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 3 5 0 — — 206 149 355 7 220 0 0 177 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 4 5 0 — — 220 178 398 8 199 0 0 185 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 3 2 0 — — 201 186 387 9 149 0 0 142 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 — — 150 142 29210 197 0 0 176 0 0 13 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 — — 210 176 38611 119 0 0 122 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 — — 119 122 24112 128 0 0 125 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 2 1 0 — — 130 126 25613 122 0 0 253 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 — — 123 254 37714 127 0 0 130 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 2 0 0 — — 127 131 25815 133 0 0 122 1 0 0 0 0 2 0 0 2 0 0 0 0 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— 21 17 3876 0 3 6 0 6 5 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 3 0 — — 9 12 2177 0 8 1 8 4 5 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 — — 9 17 2678 5 10 5 2 5 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 5 3 0 — — 20 10 3079 1 3 2 1 0 9 13 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 — — 19 10 2980 1 10 7 6 4 6 0 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 4 7 0 — — 19 18 3781 0 0 2 0 0 3 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 — — 4 3 782 1 1 3 3 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 — — 5 4 983 0 1 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 — — 3 0 384 2 2 4 0 0 4 5 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 — — 13 4 1785 0 2 2 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 — — 4 2 686 0 2 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 — — 2 2 487 0 2 0 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 — — 3 3 688 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 — — 0 0 089 0 0 2 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 — — 2 1 390 0 1 2 1 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 1 0 — — 3 3 691 0 0 2 1 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 — — 2 3 592 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 — — 1 0 193 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 — — 1 0 194 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 — — 1 0 195 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 — — 0 0 096 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 — — 0 1 197 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 — — 0 0 098 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 — — 0 0 099 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 — — 0 1 1

1000 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 — — 0 0 0Totais 4460 2727 256 5326 2659 577 76 3 0 27 2 0 18 2 0 29 2 0 155 152 225 228 560 6 73 7542 8622 16164

Fonte: BPARAH, Capitania-geral, População, maço 5 (documentos avulsos).

Anexo 2

Mapa dos habitantes da ilha do Faial em 1799 (valores globais não corrigidos)

Anexo 3

Mapa da população da ilha do Faial no 1.º de Janeiro de 1809 e do que ocorreu na dita população em todo o ano antecedente

Freguesias estados

Homens Mulheres

Tota

l

Cle

ro

Frad

es

Frei

ras

Pret

os e

par

dos

Pret

as e

par

das

Nas

cim

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Tota

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Tota

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Tota

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al

até

10

10 a

20

20 a

30

30 a

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40 a

50

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60

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70

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80

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90

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100

até

10

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20

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30

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40

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50

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60

60 a

70

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80

80 a

90

90 a

100

Matriz

Casados 3 26 70 75 52 30 11 3 2 51 95 65 47 23 9 3 565

Solteiros 263 230 140 50 28 17 8 6 2 215 243 191 176 114 79 49 26 6 1843 26 129 312 25 47 144 13 13 1037 1472 2509

Viúvos 5 4 8 6 1 6 10 0 13 19 25 4 101

Conceição

Casados 35 96 80 43 34 8 1 72 94 61 37 9 4 0 574

Solteiros 247 127 45 18 8 5 2 0 2 221 167 92 60 39 23 10 8 1 1075 7 5 6 57 8 39 784 986 1770

Viúvos 3 9 11 6 4 0 17 22 23 10 15 1 121

Angústias

Casados 1 15 68 47 42 22 8 1 31 72 48 44 10 6 415

Solteiros 198 115 45 20 16 16 6 1 187 131 83 44 31 15 14 0 922 3 11 21 52 9 8 633 786 1419

Viúvos 1 2 3 3 4 1 6 7 13 19 16 7 82

Praia

Casados 2 12 30 24 17 8 5 2 3 10 33 32 13 6 5 202

Solteiros 99 76 25 11 3 0 0 0 109 69 24 16 12 6 0 1 451 3 1 2 29 13 13 318 361 679

Viúvos 0 0 1 3 0 0 1 9 3 9 26

Pedro Miguel

Casados 15 59 58 41 21 6 4 2 29 57 60 33 13 3 3 404

Solteiros 151 121 43 14 8 4 2 0 147 111 61 26 19 15 3 1 1 727 3 2 1 56 8 41 573 644 1217

Viúvos 1 4 8 5 6 2 3 5 5 17 14 10 6 86

Ribeirinha

Casados 14 37 37 36 12 12 3 2 17 28 46 29 13 7 293

Solteiros 112 76 44 17 4 2 2 1 1 103 99 44 25 19 7 5 0 561 2 31 7 12 430 473 903

Viúvos 1 1 2 2 5 4 5 0 2 3 5 11 6 2 49

Salão

Casados 18 30 50 42 18 10 2 1 30 53 34 30 14 5 2 339

Solteiros 103 107 33 13 8 1 0 0 0 108 81 45 21 8 5 4 2 539 2 39 2 8 453 464 917

Viúvos 2 2 2 6 2 4 0 0 2 6 6 2 5 39

Cedros

Casados 39 80 96 77 56 22 5 2 54 83 101 78 46 8 747

Solteiros 277 252 95 17 20 15 6 3 1 281 218 115 44 20 23 14 4 2 1407 4 63 17 46 1096 1163 2259

Viúvos 2 4 14 7 8 0 4 6 12 23 19 6 105

Capelo

Casados 14 58 59 64 23 9 5 1 22 67 61 45 22 6 3 459

Solteiros 168 127 56 24 5 0 2 0 1 149 131 66 35 21 9 5 2 2 803 2 42 11 24 638 703 1341

Viúvos 2 1 2 7 6 5 0 2 3 14 21 12 4 79

Castelo Branco

Casados 27 54 67 45 30 8 8 3 52 59 77 30 16 10 3 489

Solteiros 219 143 38 11 5 8 3 2 1 221 126 51 35 21 12 13 6 4 919 2 3 1 48 3 19 694 798 1492

Viúvos 3 1 1 4 11 5 1 2 7 12 21 12 4 84

Feteiras

Casados 35 68 79 59 38 11 5 2 58 70 68 57 25 4 2 581

Solteiros 250 183 71 15 12 9 5 1 0 204 197 100 61 39 25 17 3 1 1193 5 5 4 67 9 85 876 993 1869

Viúvos 3 2 11 6 8 5 0 6 11 11 24 6 2 95

Flamengos

Casados 20 62 67 56 33 7 1 31 66 81 48 18 2 0 492

Solteiros 192 177 85 42 12 4 6 1 0 177 201 120 57 51 23 6 4 1 1159 3 3 3 42 13 45 795 970 1765

Viúvos 1 3 12 7 4 3 2 2 17 22 29 8 4 114

Total global

Casados 0 6 270 712 739 574 325 117 39 0 0 19 457 777 734 491 215 69 16 0 5560 0

Solteiros 2279 1734 720 252 129 81 42 15 8 0 2122 1774 992 600 394 242 140 57 18 0 11599 129

Viúvos 0 0 2 17 31 55 78 63 39 0 0 1 13 56 84 157 200 140 45 0 981 0

Total 2279 1740 992 981 899 710 445 195 86 0 2122 1794 1462 1433 1212 890 555 266 79 0 18140 62 115 328 55 83 624 99 353 8327 9813 18140

Fonte: BPARAH, Capitania-geral, População, maço 5.