EFEITOS DOS EXERCÍCIOS DE TAI CHI CHUAN NA DOENÇA … · do Questionário de Qualidade de Vida...

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Página - 48 REVISTAINSPIRAR • movimento & saúde Edição 41 - Volume 12 - Número 1 - JAN/FEV/MAR - 2017 EFEITOS DOS EXERCÍCIOS DE TAI CHI CHUAN NA DOENÇA PULMONAR CRÔNICA Effects of Tai Chi Chuan exercises in chronic lung disease RESUMO A atividade física de Tai Chi Chuan (TCC) é considerada um exercício físico de moderada intensidade e pode ser utilizada como uma alternativa para a reabilitação pulmonar. O objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia de um programa de exercício de TCC na melhora da função pulmonar, qualidade de vida e resposta ao exercício em pacientes com doença pulmonar crô- nica. Participaram do estudo duas mulheres, uma portadora de Asma com 67 anos e outra portadora de DPOC com 70 anos, as quais foram submetidas ao Teste de Caminhada de seis minutos (TC6), aos questionários de qualidade de vida, Versão Brasileira do Questionário de Qualidade de Vida (SF-36) e Questionário do Hospital Saint George na Doença Respiratória (SGRQ), espiro- metria e manovacuometria pré e pós 18 sessões de TCC. Após a intervenção houve aumento da distância percorrida pela paciente A no TC6 (360 vs 480 metros) e melhora em todos os domínios dos questionários SF-36 e SGRQ da paciente B. Com base nos resultados obtidos neste estudo, podemos concluir que a prática do TCC foi eficaz na melhora da qualidade de vida e resposta ao exercício em pacientes com doença pulmonar crônica. Palavras-chave: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC); Asma; Tai Chi Chuan; Terapia por exercício; Exer- cício. ABSTRACT Physical activity of Tai Chi Chuan (TCC) is considered an exercise of moderate intensity and can be used as an alternative for pulmonary rehabilitation. The objective of this study was to evaluate the effectiveness of a TCC exercise program in impro- ving lung function, quality of life and response to exercise in patients with chronic respiratory disease. These study included two women, one with asthma aged 67 and the other one with COPD aged 70. They were submitted to six-minute walking test (6MWT), health-related quality-of-life questionnaires (Brazilian Version of Quality life Questionnaire (SF-36) and the Saint George’s Respiratory Disease Questionnaire (SGRQ)), spirome- try, and manovacuometry pre and post 18 sessions of TCC. After intervention in the first patient there was an increase in walking distance at the 6MWT (360 vs 480 meters) and an improvement in all domains of the SF-36, on the second patient there was an improvement in SGRQ. Based on the results obtained in this study, we can conclude that the practice of TCC was effective in improve quality of life and response to exercise in patients with chronic lung disease. Keywords: Pulmonary Disease, Chronic Obstructive; Asthma; Tai Ji; Exercise therapy; Exercise. 1 - Faculdades Integradas de Bauru – FIB – Bauru - SP 2 - Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho Campus Marília – Marília – SP AUTOR CORRESPONDENTE: Roberta Munhoz Manzano Endereço: Rua José Santiago Q.15, Cidade: Bauru-S.P CEP: 17056-120 E-mail: [email protected] Wilian Ferreira da Silva 1 , Ana Paula de Toledo 1 , Camila Gimenes 1 , Alexandre Ricardo Pepe Ambrozin 2 , Roberta Munhoz Manzano 1

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EFEITOS DOS EXERCÍCIOS DE TAI CHI CHUAN NA DOENÇA PULMONAR CRÔNICA

Effects of Tai Chi Chuan exercises in chronic lung disease

RESUMOA atividade física de Tai Chi Chuan (TCC) é considerada

um exercício físico de moderada intensidade e pode ser utilizada como uma alternativa para a reabilitação pulmonar. O objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia de um programa de exercício de TCC na melhora da função pulmonar, qualidade de vida e resposta ao exercício em pacientes com doença pulmonar crô-nica. Participaram do estudo duas mulheres, uma portadora de Asma com 67 anos e outra portadora de DPOC com 70 anos, as quais foram submetidas ao Teste de Caminhada de seis minutos (TC6), aos questionários de qualidade de vida, Versão Brasileira do Questionário de Qualidade de Vida (SF-36) e Questionário do Hospital Saint George na Doença Respiratória (SGRQ), espiro-metria e manovacuometria pré e pós 18 sessões de TCC. Após a intervenção houve aumento da distância percorrida pela paciente A no TC6 (360 vs 480 metros) e melhora em todos os domínios dos questionários SF-36 e SGRQ da paciente B. Com base nos resultados obtidos neste estudo, podemos concluir que a prática do TCC foi eficaz na melhora da qualidade de vida e resposta ao exercício em pacientes com doença pulmonar crônica.

Palavras-chave: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC); Asma; Tai Chi Chuan; Terapia por exercício; Exer-cício.

ABSTRACTPhysical activity of Tai Chi Chuan (TCC) is considered an

exercise of moderate intensity and can be used as an alternative for pulmonary rehabilitation. The objective of this study was to evaluate the effectiveness of a TCC exercise program in impro-ving lung function, quality of life and response to exercise in patients with chronic respiratory disease. These study included two women, one with asthma aged 67 and the other one with COPD aged 70. They were submitted to six-minute walking test (6MWT), health-related quality-of-life questionnaires (Brazilian Version of Quality life Questionnaire (SF-36) and the Saint George’s Respiratory Disease Questionnaire (SGRQ)), spirome-try, and manovacuometry pre and post 18 sessions of TCC. After intervention in the first patient there was an increase in walking distance at the 6MWT (360 vs 480 meters) and an improvement in all domains of the SF-36, on the second patient there was an improvement in SGRQ. Based on the results obtained in this study, we can conclude that the practice of TCC was effective in improve quality of life and response to exercise in patients with chronic lung disease.

Keywords: Pulmonary Disease, Chronic Obstructive; Asthma; Tai Ji; Exercise therapy; Exercise.

1 - Faculdades Integradas de Bauru – FIB – Bauru - SP2 - Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho Campus Marília – Marília – SP

AUTOR CORRESPONDENTE:

Roberta Munhoz ManzanoEndereço: Rua José Santiago Q.15, Cidade: Bauru-S.P CEP: 17056-120E-mail: [email protected]

Wilian Ferreira da Silva1, Ana Paula de Toledo1, Camila Gimenes1, Alexandre Ricardo Pepe Ambrozin2, Roberta Munhoz Manzano1

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INTRODUÇÃO Pacientes com doenças respiratórias crônicas apresen-tam menor tolerância ao exercício físico devido à dificuldade respiratória, restrição às atividades ou falta de atividades físicas1. Entre as doenças pulmonares obstrutivas, destacam-se a asma, o enfisema pulmonar e a bronquite crônica, caracterizadas pelo aumento da resistência ao fluxo expiratório2. A fisioterapia respiratória busca interferir no ciclo de dispneia associada à inatividade, melhorando a capacidade funcional dos pacientes com doenças respiratórias crônicas e restituindo sua independência1. Dispneia, intolerância ao exercício e redução do es-tado geral de saúde foram inicialmente atribuídas à limitação ventilatória. Entretanto, a disfunção dos músculos esqueléticos periféricos, reconhecida como a principal manifestação extra pulmonar da DPOC, também limita a capacidade para realizar exercícios e está relacionada a sintomas, como fadiga e disp-neia. Nesse contexto, o exercício físico é recomendado como a principal intervenção dos programas de reabilitação pulmonar para pacientes com DPOC3. O quadro clínico e as repercussões no estado geral de saúde do paciente sofrem a influência das manifestações sistêmicas da DPOC e reforçam a necessidade de abordagem multidimensional que contemple todos os componentes da doença4. Asma é uma doença inflamatória crônica caracterizada por hiperresponsividade (HR) das vias aérea inferiores e por limitação variável ao fluxo aéreo, reversível espontaneamente ou com tratamento, manifestando-se clinicamente por episódios recorrentes de sibilância, dispneia, aperto no peito e tosse, particularmente à noite e pela manhã ao despertar. Anualmen-te ocorrem cerca de 350.000 internações por asma no Brasil, constituindo-se na quarta causa de hospitalização pelo SUS (2,3% do total) e sendo a terceira causa entre crianças e adultos jovens. Há registro de aumento desse número de internações entre 1993 e 1999 e indícios de que a prevalência da asma esteja aumentando em todo o mundo, inclusive no Brasil. Em 1996, os custos do SUS com internação por asma foram de 76 milhões de reais, 2,8% do gasto total anual e o terceiro maior valor gasto com uma doença5. Nos pacientes asmáticos, essas limitações levam ao descondicionamento do sistema cardiorrespiratório e diminuição da força muscular de membros superiores e inferiores. Quando não está bem controlada, a asma interfere na vida social e pro-fissional dos pacientes. Estudos têm observado altos índices de ansiedade e depressão em pacientes com doenças respiratórias crônicas. A inatividade associada aos sintomas psicológicos pode piorar a autopercepção das limitações impostas pela asma e assim piorar a qualidade de vida1. Ansiedade e depressão aparecem em percentuais que variam, respectivamente, de 21% a 96% e de 27% a 79% dos pacientes com DPOC, o que vem a prejudicar ainda mais a qualidade de vida dessas pessoas. Com a evolução da doença, os efeitos da DPOC são sentidos permanentemente. A progres-siva intensificação da dispneia faz com que o paciente necessite modificar seu estilo de vida, pois se sente incapaz de manter sua vida da mesma maneira que mantinha antes das primeiras manifestações da doença. O impacto da DPOC no indivíduo não se dá somente no âmbito da limitação física. Além das dificul-dades físicas observadas durante a realização das atividades de

vida diária, as limitações da doença são percebidas também nas relações afetivas, conjugais e sexuais, assim como nas atividades de lazer e profissionais6. Reduzir os sintomas, melhorar a qualidade de vida e aumentar a participação dos pacientes nas atividades da vida diária são os principais objetivos da reabilitação pulmonar em DPOC. Os programas de reabilitação pulmonar (PRPs) podem ser aplicados nos mais variados contextos, sendo que uma hete-rogeneidade de tratamentos pode ser encontrada na literatura7. De acordo com a diretrizes da American Toracic Society e European Respiratory Society publicadas em 2013 a Reabilitação Pulmonar é uma intervenção baseada em uma avaliação minuciosa do paciente seguida de terapias especificas para o paciente que incluem, mas não são limitados a, exercícios físicos, educação e mudança de comportamento, realizados com o objetivo de melhorar física e psicologicamente as condições de indivíduos com doença pulmonar crônica e promover a aderência a longo prazo de práticas saudáveis8. A maioria dos PRPs encontrados na literatura inicia--se com exercícios de aquecimento, tais como alongamento, calistênicos para MMSS e MMII, ou diagonais funcionais para ambos. São encontrados também exercícios de condicionamen-to aeróbio utilizando esteiras ergométricas e cicloergômetros além de exercícios de resistência e fortalecimento de MMSS e MMII7,8. No entanto existem outros tipos de exercícios utiliza-dos com sucesso na Reabilitação Pulmonar. Existem exercícios realizados em casa com supervisão a distância8,9,10, exercícios de Yoga11 e exercícios com a respiração do Método Pilates12 e todas essas modalidades de exercício se mostraram eficazes como forma de reabilitação pulmonar. Nos últimos anos, as atividades físicas baseadas na interação corpo-mente vêm aumentando sua popularidade no Ocidente. O Tai Chi Chuan (TCC) é um exemplo desse tipo de atividade. Essa modalidade é considerada uma prática hetero-gênea que integra múltiplos componentes (eficiência muscu-loesquelética, controle da respiração, concentração mental e interação psicossocial). Além disso, é um método alternativo de exercício físico aeróbio. Estudos prévios apontam que o TCC é caracterizado como uma atividade aeróbia de moderada intensidade (50-60% do consumo máximo de oxigênio – VO2 máx), de acordo com as diretrizes do Colégio Americano de Medicina do Esporte sobre prescrição de exercício físico para idosos13. TCC, também conhecido como Taijiquan, é um exer-cício de meditação suave que emprega esquemas detalhados de movimentos circulares e fluidos, equilíbrio e descarga de peso, técnicas de respiração e ferramentas cognitivas, tais como a visualização e o foco na consciência interna. Estudos têm investigado o TCC como uma intervenção para uma ampla variedade de problemas de saúde, incluindo doenças crônicas, cardiovasculares, aptidão cardiorrespiratória, estado funcional, equilíbrio e doenças músculo-esquelética14. TCC é frequentemente descrito como “meditação em movimento”. Há uma crescente evidência de que esta prática mente-corpo, que se originou na China como uma arte marcial, tem valor no tratamento e prevenção de diversos problemas de saúde15. A atividade física de TCC é estimada em cerca de 1.6 a 4.6 unidades de Equivalente Metabólico da Tarefa (MET) e 50-74% da frequência cardíaca máxima dependendo da idade

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do indivíduo e da intensidade da prática. Assim, o TCC pode ser uma opção de exercício adequado para pacientes com DPOC, uma vez que fornece leve a moderada atividade aeróbia e das extremidades inferiores. Ele também contém elementos de respiração e treinamento muscular respiratório além da gestão do stress que são aspectos importantes no tratamento da DPOC. Além disso, estudos sugerem que o TCC é seguro, acessível e agradável, e tem uma alta taxa de adesão14. A série de exercícios de TCC proposta no presente es-tudo contempla todas as variáveis apresentadas em outros PRPs dispensando a utilização de qualquer equipamento. Além disso, a série é contínua sem a necessidade de dividir a prática em alongamento, fortalecimento, resistência e exercícios aeróbios. O objetivo deste trabalho é avaliar a eficácia de um programa de exercício de Tai Chi Chuan na melhora da função pulmonar, qualidade de vida e resposta ao exercício em pacientes com doença pulmonar crônica.

METODOLOGIA Trata-se de um estudo prospectivo realizado na Clínica de Fisioterapia das Faculdades Integradas de Bauru. Todos os su-jeitos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o projeto foi aprovado com número de parecer 1.001.397 com data da Relatoria 12/03/2015. Foram estudados dois indivíduos portadores de Doença Pulmonar Crônica, com idade superior a 45 anos. Foram excluídos indivíduos que não eram portadores de Doença Pulmonar Crônica ou que apresentaram exacerbação da doença nos últimos três meses. Na avaliação inicial foi registrada idade, sexo, presença de comorbidades e o índice de massa corporal (IMC). O IMC foi obtido dividindo a massa (Kg) pela estatura ao quadrado (m2). A massa foi verificada em balança digital (FILIZOLA®) e estatura foi obtida em estadiômetro graduado em centímetros (cm). Também foram aferidos nas avaliações inicial e final o pulso e a saturação periférica de oxigênio (SpO2) por meio do oxímetro de pulso (MORIYA®- Modelo 1005), a frequência respiratória (FR) pela observação da expansão da caixa torácica durante 60 segundos, a pressão arterial (PA) com auxilio de esfigmomanômetro e de estetoscópio (marca Glicomed modelo Rappaportt Premium) e a dispneia, por meio da Escala de Borg Modificada. Para as variáveis analisadas, foram realizados a espirometria, manovacuometria, teste de caminhada de seis minutos (TC6), questionário de qualidade de vida SF-36, ques-tionário de St George para doentes pulmonares (SGRQ).Espirometria A espirometria foi realizada segundo os critérios da American Thoracic Society e as Diretrizes para Testes de Função Pulmonar (2002) em espirômetro (IQ TeQ Spirometer versão 4.981, África do Sul)16. Após repouso de cinco minutos foram realizadas três provas de capacidade vital forçada, reprodutivas e aceitáveis. As variáveis analisadas foram Capacidade Vital Forçada (CVF), Volume Expiratório Forçado no Primeiro Se-gundo (VEF1) e a relação VEF1/CVF. Manovacuometria Os pacientes foram submetidos a manovacuometria, para medida da força dos músculos respiratórios, utilizando um

manovacuometro aneróide portátil (comercial medica®). Para a verificação da pressão inspiratória máxima (Pimáx) o paciente realizou expiração completa até volume residual, seguida de inspiração forte e máxima, mantendo por dois segundos. Para a medida da pressão expiratória máxima (Pemáx) o paciente realizou inspiração profunda até a capacidade pulmonar total seguida de expiração forçada e máxima, também sustentada por dois segundos. Foram realizadas de três a cinco manobras aceitáveis, com repouso de um minuto entre elas, e o maior valor considerado para avaliação17.Teste de Caminhada de 6 minutos (TC6) Após avaliação inicial os indivíduos foram submetidos ao TC6 em corredor plano de 30 metros de extensão a sombra, demarcados a cada 3 metros e sinalizado no inicio e no final do trajeto com cones. Os indivíduos foram orientados a caminhar a maior distância durante 6 minutos, o mais rápido possível e caso julgassem necessário, poderiam parar ou diminuir a velocidade. O incentivo verbal padronizado foi realizado pelo avaliador a cada minuto e a distância total percorrida pelo sujeito considera-da o resultado do teste. O teste seria interrompido caso o sujeito relatasse dor torácica, dispneia intensa, fadiga ou exaustão. Foi calculada a distância prevista utilizando a equação proposta por Enright e Sherril (ATS, 2002)18. Versão Brasileira do Questionário de Qualidade de Vida (SF-36) O SF-36 é autoaplicativo, constituído de 36 questões e subdividido em oito domínios: capacidade funcional, dor corporal, vitalidade, saúde geral, função social, função física e emocional e saúde mental. Esses domínios podem ser agre-gados em dois grandes grupos: Physical Component Summary (PCS, Sumário do Componente Físico) e o Mental Component Summary (MCS, Sumário do Componente Mental). O valor varia de zero a 100, e números maiores representam uma melhor Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS)19.Questionário do Hospital Saint George na Doença Respi-ratória (SGRQ) O SGRQ aborda os aspectos relacionados a três domínios: sintomas, atividade e impactos psicossociais que a doença respiratória inflige ao paciente. Cada domínio tem uma pontuação máxima possível, os pontos de cada resposta são somados e o total é referido como um percentual deste máximo. Valores acima de 10% refletem uma qualidade de vida alterada naquele domínio. Alterações iguais ou maiores que 4% após uma intervenção, em qualquer domínio ou na soma total dos pontos, indicam uma mudança significativa na qualidade de vida dos pacientes20.Tai Chi Chuan A prática do TCC foi aplicada pelo aluno responsável pela pesquisa, sendo que, o mesmo possuí conhecimentos bási-cos de TCC tendo o domínio dos movimentos propostos neste estudo. Foram realizadas 18 sessões de TCC com duração de 60 minutos cada, duas vezes por semana, totalizando nove semanas de tratamento14. Foi utilizada na prática a série simplificada de 24 padrões (Figura 1). A quantidade de movimentos assim como a amplitude dos mesmos foi de acordo com a condição física e evolução de cada indivíduo.

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Figura 1: Série simplificada de 24 padrões de Tai Chi Chuan. Fonte: http://damadanoite2010.blogspot.com.br/2012/01/tai-chi-chuan.html

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RESULTADOS

Foram avaliadas duas pacientes com a caracterização das envolvidas apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1. Caracterização da amostra.

Nota: IMC: índice de massa corporal, F: feminino.

As variáveis avaliadas nos momentos pré e pós TCC são apresentadas nas Tabelas 2, 3 e 4.

Tabela 2: Função pulmonar, força muscular respiratória e tolerância ao exercício.

Tabela 3: Avaliação da qualidade de vida através do questionário SF-36.

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DISCUSSÃO

Tabela 4: Avaliação da Qualidade de Vida (SGRQ).

Com base nos resultados obtidos, o programa proposto se mostrou eficaz em diferentes variáveis analisadas. Após a intervenção, a paciente A apresentou importante melhora na resposta ao exercício verificada através do TC6. Este resulta-do pode ser atribuído às ações motoras específicas realizadas durante os exercícios de TCC, principalmente envolvendo os membros inferiores. A paciente B obteve melhores resultados nos questionários relacionados à qualidade de vida, tanto no SF-36 quanto no SGQR. Houve melhora em todos os domínios, dados que podem ser atribuídos à prática meditativa que envolve o TCC. No estudo realizado por Chan et al. (2013)21 com 206 pacientes portadores de DPOC, 158 pacientes concluíram o pro-grama sendo que 32 pacientes formaram um grupo controle, 46 seguiram um programa de exercícios respiratórios e caminhada e 50 seguiram um programa de TCC por três meses, três vezes por semana, uma hora por dia. No sexto mês após o início do estudo, os pacientes foram reavaliados para constatar se houve melhora e se esta se manteve após o término da prática. O grupo de TCC apresentou resultado significativamente positivo na qualidade de vida segundo o SGRQ em relação aos outros dois grupos. Yeh et al. (2010), recrutou 10 indivíduos portadores de DPOC divi-dido em dois grupos de cinco pacientes cada, sendo um grupo submetido a reabilitação pulmonar tradicional com exercícios aeróbios e resistidos e o outro grupo a prática do TCC por 12 semanas, duas vezes por semana, uma hora por dia14. Assim como no presente estudo, não houve alterações nos resultado da espirometria e diferente deste não houve melhora significativa no TC6. Na avaliação da qualidade de vida foi utilizada uma versão padronizada do Questionário para Doenças Respiratórias Crônicas (CRQ) que sugeriu uma melhora importante da qua-lidade de vida dos pacientes submetidos ao programa de TCC. Apesar da utilização de um questionário diferente do aplicado neste estudo para avaliação da qualidade de vida, os resultados obtidos no trabalho de Yeh et al. (2010)14, assim como os do estudo de Chan et al. (2013)21, se assemelham com os dados deste trabalho indicando uma melhora na qualidade de vida dos pacientes portadores de DPOC submetidos a prática de TCC. Jones (2013) realizou um trabalho com 42 pessoas com DPOC sendo que 20 formaram um grupo controle e 22 seguiram um protocolo de TCC estilo Sun por 12 semanas, uma hora por dia, duas vezes na semana. O estilo Sun apresenta bases mais altas e movimentos com menor amplitude do que o utilizado no presente estudo. Os pacientes foram também encorajados a praticarem pelo menos 30 minutos por dia em casa com auxílio de livros e DVDs. Um dos objetivos era avaliar a tolerância ao

exercício destes pacientes após a intervenção. Foi aplicado o Endurance Shuttle Walk Test (ESWT) que consiste em percor-rer várias vezes uma distância de 10 metros, a uma velocidade que o permita alcançar o outro lado da pista antes de um sinal sonoro. Durante o teste, os sinais sonoros vão se tornando mais próximos a cada minuto, levando ao voluntário a caminhar em uma velocidade cada vez maior. A velocidade inicial é de 0,5 m/s e aumenta em 0,17 m/s a cada minuto, com a duração máxima de 12 minutos. Ao final do estudo o grupo praticante do TCC estilo Sun apresentou resultados significativamente superiores aos do grupo controle22. Os resultados obtidos no estudo acima sugeriram melhora na resposta ao exercício convergindo com os resultados apresentados neste trabalho. Além da aplicação do TCC em doenças respiratórias, a literatura apresenta uma grande variedade de estudos sobre a aplicação do TCC em outras patologias como, Doença de Parkinson, Fibromialgia entre outras. Há também estudos sobre a utilização do TCC para melhora do condicionamento físico em idosos. No estudo realizado por Chao et al. (2012) em que 11 idosas sedentárias foram submetidas a 12 semanas de prática de TCC estilo Wu, três vezes por semana, por 50 minutos. Este estilo apresenta como principais características, movimentos de pequena amplitude com maior foco no combate. Para ava-liação da resistência aeróbia, foram aplicados o TC6 e o teste de marcha estacionária de dois minutos. Para este último foi obtido o ponto médio da distância entre a patela e a crista ilíaca dos avaliados, utilizando fita métrica. Essa era a altura mínima em que os joelhos deveriam ser elevados durante o teste. Para controlar a altura correta dos joelhos, foram colocadas duas cadeiras em posições opostas na distância de 76 cm entre elas e fixado com fita crepe um barbante na altura determinada. Os joelhos deveriam tocar o elástico durante o teste. Ao comando, o sujeito iniciava o movimento com o membro inferior direito, simulando a marcha. A contagem ocorria toda vez que o joelho direito alcançava ou ultrapassava a altura mínima estabelecida. Caso o avaliado entrasse em fadiga e não conseguisse mais elevar o joelho até a altura mínima, devia-se interromper a contagem13. Semelhante aos nossos resultados, neste trabalho houve aumento da distância percorrida no TC6 e também um importante aumento nas execuções realizadas no teste de marcha estacionária de dois. Wang et al. (2010) avaliaram através do SF-36 e do Questionário de Impacto na Fibromialgia (FIQ) 66 indivíduos portadores de fibromialgia, sendo que 33 praticaram TCC estilo Yang por 12 semanas, uma hora por dia, duas vezes na semana. O grupo do TCC apresentou melhora clinicamente importante nos dois questionários em relação ao grupo controle23.

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BIBLIOGRAFIA

Wu et al. (2014) realizaram uma revisão sistemática com meta-análise utilizando artigos publicados de janeiro de 1980 à março de 2014, envolvendo 824 indivíduos portadores de DPOC. Este estudo analisou os dados obtidos através do TC6 e dos questionários SF-36, SGRQ e CRQ. Os resultados demonstraram melhora significativa na qualidade de vida e na resposta ao exercício dos praticantes de TCC. Comparando os portadores de DPOC praticantes de TCC com praticantes de outras atividades físicas não houve diferença estatisticamente significante no TC6, mas uma melhora importante nos questio-nários sobre qualidade de vida24. Uma limitação do presente estudo foi à dificuldade em recrutar indivíduos para a intervenção. O projeto inicial previa pelo menos 10 pacientes com doença respiratória crônica, po-rém devido à escassez no encaminhamento dos mesmos, só foi possível realizar o trabalho com duas pacientes. Outra limitação foi cumprir a quantidade de sessões programadas. O objetivo era realizar 24 atendimentos, mas devido a necessidades particulares das pacientes só foi possível realizar 18 atendimentos. Apesar de o TCC ser muito citado na literatura inter-nacional como exercício alternativo na reabilitação de pacientes com doença pulmonar crônica, no Brasil não há ainda relatos sobre este tipo de aplicação. Com base neste e em estudos anteriores podemos ver o TCC como uma possível alternativa para a reabilitação pul-monar, pois tem se mostrado eficaz, de fácil aplicação, grande adesão por parte dos praticantes e de baixo custo já que não há necessidade de equipamentos específicos e o fato de que um único instrutor pode atender a um grupo grande de pessoas ao mesmo tempo. Devido à escassez da literatura nacional sobre o as-sunto sugerimos novos estudos com uma amostra maior e um maior número de atendimentos para que possa ser determinado um número mínimo de atendimentos necessários para alcançar melhoras significativas dos pacientes.

CONCLUSÃO Os resultados deste estudo sugerem que a prática de TCC foi capaz de promover melhora da resposta ao exercício e da qualidade de vida em indivíduos portadores de doença pul-monar crônica. No entanto ainda são necessários mais estudos para que essa técnica seja recomendada como uma alternativa de exercício na reabilitação pulmonar.

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Edição 41 - Volume 12 - Número 1 - JAN/FEV/MAR - 2017

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