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ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA ELIZÂNGELA GLÓRIA CARDOSO Formando Jovens Autônomos, Solidários e Competentes ROTEIRO DE ESTUDOS Nº 02 - 4º BIMESTRE/2020 3ª SÉRIE ÁREA DE CONHECIMENTO: LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS COMPONENTE CURRICULAR/DISCIPLINA: PORTUGUÊS PROFESSORES: Maria Adriana Andrade, Gleice Carvalho TURMA: 33.01 a 33.07 CRONOGRAMA Período de realização das atividades: 16/11 a 28/11 Término das atividades: 28/11 CARGA HORÁRIA DAS ATIVIDADES: 22 AULAS COMPETÊNCIA ESPECÍFICA DA ÁREA 4- Compreender as línguas como fenômeno (geo)político, histórico, social, variável,heterogêneo e sensível aos contextos de uso, reconhecendo-as e vivenciando-as como formas de expressões identitárias, pessoais e coletivas, bem como respeitando as variedades linguísticas e agindo no enfrentamento de preconceitos de qualquer natureza. HABILIDADES ESPECÍFICAS/OBJETIVOS DA ATIVIDADE (EM13LP45) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica.(EM13LP49) Analisar relações intertextuais e interdiscursivas entre obras de diferentes autores e gêneros literários de um mesmo momento histórico e de momentos históricos diversos, explorando os modos como a literatura e as artes em geral se constituem, dialogam e seretroalimentam. ESTUDO ORIENTADO 1- Organize na sua agenda semanal um tempo para estudar esse roteiro. 2- Leia atentamente as orientações/dicas do Roteiro de Estudo, dando ênfase nos assuntos que mais tem dificuldades. 3- Faça anotações que julgar pertinentes, a fim de consolidar a aprendizagem e para posterior consulta/estudo. 4- Crie um banco das palavras difíceis e desconhecidas que você encontrar no texto para posterior consulta; 5- Assista aos vídeos sugeridos quantas vezes forem necessárias, fazendo as anotações que achar importante. 6- Responda todas as atividades propostas. 7- Se tiver alguma dúvida, utilize o grupo de Whatsapp e fale com seu professor. Com certeza ele vai estar pronto para te ajudar. OBJETO DE CONHECIMENTO/CONTEÚDO (Conforme Guia de Aprendizagem 3º bimestre): Modernismo brasileiro: terceira fase com João Cabral de Melo Neto (Morte e vida Severina). Colocação pronominal. (Mesóclise) - (próclise) - (Ênclise) AVALIAÇÃO : o (a) estudante será avaliado(a) através da observação, por parte do professor, de sua participação no grupo de WhatsApp apresentando dúvidas ou contribuições. Também, por meio da resolução da atividade e envio das respostas via Google Forms, no decorrer de cada semana. Assim, prevalecerá a avaliação interdimensional, observando a prática do exercício do protagonismo e dos 4 (quatro) pilares da educação: Aprender a Ser, a Fazer, a Conhecer e a Conviver).

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ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA ELIZÂNGELA GLÓRIA CARDOSO

Formando Jovens Autônomos, Solidários e Competentes

ROTEIRO DE ESTUDOS Nº 02 - 4º BIMESTRE/2020

3ª SÉRIE

ÁREA DE CONHECIMENTO: LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS

COMPONENTE CURRICULAR/DISCIPLINA: PORTUGUÊS

PROFESSORES: Maria Adriana Andrade, Gleice Carvalho TURMA: 33.01 a 33.07

CRONOGRAMA

Período de realização das atividades: 16/11 a 28/11

Término das atividades: 28/11

CARGA HORÁRIA DAS ATIVIDADES: 22 AULAS

COMPETÊNCIA ESPECÍFICA DA ÁREA

4- Compreender as línguas como fenômeno (geo)político, histórico, social, variável,heterogêneo e

sensível aos contextos de uso, reconhecendo-as e vivenciando-as como formas de expressões

identitárias, pessoais e coletivas, bem como respeitando as variedades linguísticas e agindo no

enfrentamento de preconceitos de qualquer natureza.

HABILIDADES ESPECÍFICAS/OBJETIVOS DA ATIVIDADE

(EM13LP45) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo

diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos,

para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica.(EM13LP49) Analisar relações

intertextuais e interdiscursivas entre obras de diferentes autores e gêneros literários de um mesmo

momento histórico e de momentos históricos diversos, explorando os modos como a literatura e as

artes em geral se constituem, dialogam e seretroalimentam.

ESTUDO ORIENTADO

1- Organize na sua agenda semanal um tempo para estudar esse roteiro.

2- Leia atentamente as orientações/dicas do Roteiro de Estudo, dando ênfase nos assuntos que

mais tem dificuldades.

3- Faça anotações que julgar pertinentes, a fim de consolidar a aprendizagem e para posterior

consulta/estudo.

4- Crie um banco das palavras difíceis e desconhecidas que você encontrar no texto para posterior

consulta;

5- Assista aos vídeos sugeridos quantas vezes forem necessárias, fazendo as anotações que achar

importante.

6- Responda todas as atividades propostas.

7- Se tiver alguma dúvida, utilize o grupo de Whatsapp e fale com seu professor. Com certeza ele vai

estar pronto para te ajudar.

OBJETO DE CONHECIMENTO/CONTEÚDO (Conforme Guia de Aprendizagem 3º bimestre):

Modernismo brasileiro: terceira fase com João Cabral de Melo Neto (Morte e vida Severina). –

Colocação pronominal. (Mesóclise) - (próclise) - (Ênclise)

AVALIAÇÃO : o (a) estudante será avaliado(a) através da observação, por parte do professor, de sua

participação no grupo de WhatsApp apresentando dúvidas ou contribuições. Também, por meio da

resolução da atividade e envio das respostas via Google Forms, no decorrer de cada semana. Assim,

prevalecerá a avaliação interdimensional, observando a prática do exercício do protagonismo e dos 4

(quatro) pilares da educação: Aprender a Ser, a Fazer, a Conhecer e a Conviver).

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OBJETO DE CONHECIMENTO/CONTEÚDO: TERCEIRA GERAÇÃO MODERNISTA –

1ª SEMANA – 16 a 21/11/2020

Modernismo 3ª fase

Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto

Por Pedro Fernandes Morte e vida severina é, de toda a obra poética de João Cabral de Melo Neto, certamente, o seu texto mais conhecido. A afirmativa um tanto óbvia tem por objetivo, antes de ser a abertura de algumas notas (estas também um tanto óbvias sobre esta obra, mas fundamentais pelo compromisso de chamar à leitura do texto novos leitores), tenta seguir outro rumo, fora daquelas coordenadas que sempre hão de apontar outros mais ingênuos que eu, de que esta popularidade do poema se deu pela adaptação para a TV Globo em 1977, depois do sucesso obtido no teatro. Além disso, este texto teve importante inserção no contexto escolar, ao menos de quando foi estudante do ensino básico (quando conheci a obra) e, claro, trata de uma temática comum a pelo menos boa parte dos brasileiros: o êxodo do sertão nordestino em busca de melhores condições de vida nos grandes centros urbanos. O poema foi escrita entre os anos de 1954 e 1955 e tendo ficado conhecido apenas pelo título ora evocado, na época trazia um subtítulo que enunciava sua forma textual: "(Auto de Natal Pernambucano)". Maria Clara Machado, então à frente do Teatro Tablado pediu que o poeta escrevesse um auto de natal. Para alguém que desacreditava na ideia de inspiração, ao menos aquela sobre a qual se imagina o escritor sentado ante o papel em branco à espera que lhe venha a ideia (como faz parte da imaginação de alguns incautos), João Cabral certamente deve ter sentido no convite, a forma necessária para o nascimento do poema: uma incitação para a gênese da obra. Como um auto natalino, trata-se de um texto centro da narrativa deve ser a história mais famosa de todas: a da concepção e nascimento do menino Jesus. Mas, e aqui está a grandiosidade do texto, o pernambucano vê nesta oportunidade, a possibilidade de, ao invés de repetir de outra maneira a história conhecida de todos, refazê-la ao seu modo, operando um extenso jogo de inversões e subversões para falar sobre um tema igualmente sabido por todos e ignorado por ampla maioria: a vida desses nordestinos entregues à toada da própria sorte, enquanto quem poderia, de fato, resolver a situação produzida pelo descaso, davam a mínima para o caso ou sempre o tinham como uma reserva para alimentar sua própria riqueza. É aqui que se mostra o João Cabral mais engajado, muito embora, tenha negado desde sempre o exercício da obra de arte em serviço das questões sociais. Trata-se de uma narrativa contada não pela voz de um aedo, mas da próprio sertanejo imigrante, o que tem conhecimento de causa sobre o drama vivido que, numa espécie de périplo do herói clássico, narra o seu percurso de imigração tomando como rota, tal como fizeram os colonizadores que chegaram pelo litoral e conseguiram avançar até o sertão nordestino, seguindo o curso dos rios ou, quando água escasseia, o próprio leito seco. Todo o itinerário é assinalado pela presença da morte. E o poeta não se expõe para denunciar apenas o mal da seca no sertão, mas o drama vivido por toda gente das margens, ao ponto de o persistência da imagem do fim se tornar em obsessão do próprio retirante que, andado meio caminho, tem certeza de que a melhor sina seria dar fim à própria vida. Além das questões aqui assinaladas, outras tecem forte diálogo com a formação temática do texto: a fome, o fosso entre ricos e pobres, a mortalidade causada pela violência do homem contra o próprio homem, o latifundiarismo e ausência de políticas agrárias, a luta camponesa pela terra, do trabalhador pelo trabalho e pela dignidade. O texto só adquire a forma explícita do que enuncia (e da encomenda feita por Clara Machado) quando, nos instantes finais, a personagem já instalada na periferia da grande cidade, ainda renitente entre a vida e a morte, recebe a notícia sobre o nascimento do filho, assumindo Severino o lugar de pai de um desvalido numa metáfora ora de continuidade da miséria, ora de que não há que impeça a vida de realizar-se como vida. Mas, não é apenas a inserção da denúncia social que afasta, por assim dizer, ou texto da sacralidade esperada de um auto de Natal. Digo, afasta, mas é possível também fazer a leitura de uma cobrança crítica do poeta para com o discurso religioso, numa lembrança de que o menino Jesus nasceu também da mesma pobreza e no entanto foi tornado cria do capital e já tão distante dos pobres no discurso invocado pela religião. Por esse ângulo, João Cabral cobra pelo sentido original da data, que é a de tão somente celebração da vida.

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O que também fará do texto uma subversão à forma esperado do auto religioso é a inserção de uma série de elementos da cultura popular, absorvidos muito provavelmente dos folguedos ibéricos tornados parte da cultura nordestina; lembre o leitor na leitura de Morte e vida severina na inserção da figura das ciganas que predizem a sorte futura do recém-nascido. E lógico, a própria forma narrativa do auto dialoga com uma recuperação da estrutura do festejo popular, sempre alinhava com uma série de outras reminiscências da cultura universal, quais seja o teatro de Gil Vicente, de William Shakespeare, seja, como evocamos os textos clássicos da literatura grega. E, não faltará sublinhar o trabalho linguístico conduzido por João Cabral de Melo Neto: a criação de um feminino a partir do substantivo próprio Severino (severina) como significação sobre uma vida rude, minguada e periférica. Ou ainda a destituição do poder de individuação do nome próprio ao tornar, tal como o José de Carlos Drummond de Andrade, o Severino é figura comum, qualquer coisa. Um título como este, as subversões assinaladas na temática, e o exercício sutil com as palavras, fizeram Clara Machado ver o texto totalmente fora do padrão pensado para o que havia sido encomendado. Por isso, Morte e vida severina quarou certo tempo na gaveta. Só foi parar no teatro em 1965, no Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (e olhe quanta ironia!). Chico Buarque compôs a música a partir da obra de João Cabral que confessou anos mais tardes ter sido uma das maiores surpresas de sua carreira: avesso à música e à musicalidade do verso, jamais imaginou que alguém poderia compor alguma coisa a partir de uma obra sua. No ano seguinte, a peça foi premiada no Festival de Teatro da Universidade de Nancy e com turnê pela Europa. Quanto a musicalidade da poesia de João Cabral, bem, Morte e vida severina também foi adaptada para a ópera em Barcelona, provando os deslimites da obra.

Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto Morte e Vida Severina é um poema do escritor brasileiro João Cabral de Melo Neto.

A obra foi escrita entre 1954 e 1955 e conta a história de Severino, um retirante entre tantos outros.

Resumo

Nesta obra, João Cabral de Melo Neto apresenta o percurso de morte e vida do retirante Severino. Severino é um entre muitos outros, que tem o mesmo nome, a mesma cabeça grande e o mesmo destino trágico do sertão: morrer de emboscada antes dos vinte anos, de velhice antes dos trinta e de fome um pouco a cada dia. Severino percorre o sertão em busca de uma expectativa de vida melhor no litoral. O poema pode ser divido em duas partes: a primeira com o seu caminho até o Recife e a segunda a sua chegada e estadia na capital pernambucana.

O percurso de Severino em detalhes

O princípio da tragédia

A primeira parte da narrativa é marcada pela presença constante da morte, no meio da paisagem agreste e do chão duro de pedra. A morte também é dura e sempre tem relação com a pobreza e com o trabalho. Ou é morte matada em emboscada, por conta da dura terra trabalhada, ou é morte miserável, na qual não sobra nenhum pertence.

_ Dize que leva somente coisas de não: fome, sede, privação

Num lugar em que o trabalho leva à morte, a morte é o trabalho mais certo. No meio da miséria do sertão, Severino encontra uma senhora em uma casa mais arrumada e resolve perguntar por trabalho, mas não há trabalho para quem mexe com as coisas da terra.

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_ Como aqui a morte é tanta, só é possível trabalhar nessas profissões que fazem da morte ofício ou bazar.

Ilustração da versão em quadrinhos de Morte e Vida Severina mostra como o protagonista precisa se virar diante da adversidade do sertão.

A necessidade de partir em busca de novas oportunidades

Conforme Severino se aproxima do litoral, a terra começa a ficar mais mole, mas a morte não abranda. O solo se torna mais fértil e o canavial é grande, mas, mesmo em meio à abundância, a paisagem é vazia de pessoas. O retirante acredita que o motivo para o lugar estar tão vazio é que a terra é tão rica que não é preciso

trabalhar todo dia. Ele crê ter chegado em um lugar onde a morte abranda e a vida não é severina.

Decerto a gente daqui jamais envelhece aos trinta nem sabe da morte em vida, vida em morte, severina; e aquele cemitério ali, branco na verde colina decerto pouco funciona e poucas covas aninha

O que se segue é a narração do funeral de um trabalhador. Severino estava enganado pois o pequeno cemitério recebe muitos mortos. Ele só é pequeno porque as covas são rasa e estreitas. Severino escuta o que os trabalhadores dizem ao morto.

_ Essa cova em que estás, com palmo medida, é a conta menor que tiraste em vida.

(...)

_ Não é cova grande, é cova medida, é a terra que querias ver dividida.

O caráter social e político no trecho do poema é marcante. O funeral de um lavrador é um enterro de quem trabalhou a vida toda em terra alheia vivendo na miséria e sendo explorado. O trabalhador, que só queria um pedaço de terra seu para trabalhar, acaba morto. A única terra que ele tem é a pouca terra da sua cova.

A vida no Recife

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A chegada à capital do Pernambuco continua sendo marcada pela morte e pela miséria, mas o cenário é totalmente novo. Ao invés das terras secas de pedra, o lugar da pobreza e, consequentemente, da morte, é o mangue. As terras alagadas que são habitadas pelos retirantes. Fugindo da seca, da morte e da terra de pedra, os diversos Severinos chegam à Recife onde continuam marginalizados. Destinados a viver na miséria, ainda cercados pela morte, mas em solos diferentes, cheios de água.

O desespero

Os retirantes continuam a viver da terra, mas, em vez de ficarem cobertos de poeira de arar o solo seco, ficam cobertos de lama de caçar caranguejos no mangue. Diante do cenário sórdido, o suicídio parece uma boa opção, interromper a vida que também é morte severina.

A solução é apressar a morte a que se decida e pedir a este rio, que vem também lá de cima, que me faça aquele enterro que o coveiro descrevia: caixão macio de lama, mortalha macia e líquida

Neste momento o percurso e a narrativa parecem ter chegado ao fim. Severino correu o sertão onde só encontrou morte. Ao chegar no final do rosário, da sua penitência, esperava encontrar redenção, porém

voltou a encontrar a morte.

Desesperado, Severino pensa em dar cabo da própria vida.

No momento em que Severino está num cais pensando em tirar a própria vida, ele encontra José, um morador do mangue. O que se passa é um diálogo sobre a vida miserável que se experiencia no sertão e nos mangues de Recife. Na conversa se fala da morte que, por mais que seja anunciada, parece ser adiada para se viver mais dias de sofrimento.

A conversa é interrompida pelo anúncio do nascimento do filho de José, que é um momento de epifania no poema. O subtítulo do poema Auto de Natal e o nome do pai José são uma clara referência ao nascimento de Jesus.

O Auto de Natal

Primeiro chegam os vizinhos e duas ciganas. As pessoas trazem presentes para o menino, assim como os três reis magos. Porém os presentes são simples, lembranças de pessoas pobres. São dezesseis presentes, quase todos precedidos pela frase: "Minha pobreza é tal". Após a entrega dos presentes, as duas ciganas adivinham o futuro do menino. A primeira cigana faz uma previsão do trabalho do mangue, o mesmo trabalho duro em meio à lama. A segunda faz uma outra previsão, a do trabalhador industrial, coberto de graxa preta e não de lama. As duas previsões são prenúncios de um simples trabalhador, seja na miséria do mangue, seja numa fábrica menos miserável, mas do mesmo modo um trabalhador. Em seguida, os vizinhos descrevem o recém-nascido, uma criança pequena, ainda fraca, mas saudável. Severino e José retomam o diálogo, e a epifania é anunciada pela boca do novo pai.

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E não há melhor resposta que o espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio, que também chama vida, ver a fábrica que ela mesma, teimosamente, se fabrica, vê-la brotar como há pouco em nova vida explodida; mesmo quando é assim pequena

O Auto de Natal fica completo com o nascimento do menino. O percurso de Severino, mesmo sendo cercado pela morte, termina com a vida que insiste em florescer em meio à tanta miséria e morte.

Análise de Morte e Vida Severina

Apresentação e forma

Morte e Vida Severina é um poema trágico que nos apresenta um auto de natal pernambucano. O herói Severino é um retirante que foge da seca e da fome, porém, só encontra a morte em sua fuga. Até que ele presencia o nascimento de um filho de retirantes, severinos iguais a ele. O nascimento é apresentado em forma de presépio, com a chegada das pessoas para presentear o recém-nascido.

Morte e Vida Severina sublinha a solidão do protagonista. Um auto é um subgênero da literatura dramática, que surgiu na Espanha medieval. Em língua portuguesa o seu maior expoente foi Gil Vicente. Em Morte e Vida Severina observamos os mesmos recursos usados nos autos medievais. A obra está dividida em 18 partes. Antes de cada parte existe uma pequena apresentação do que acontecerá - o mesmo podemos encontrar nos autos medievais. O poema começa com a apresentação de Severino.

O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI

— O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria;

(...)

Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra

Severino se apresenta como um em muitos ("iguais em tudo na vida"). A sua individualidade é anulada e o seu nome se torna um adjetivo já no título da obra. À moda dos autos medievais, o personagem se torna uma alegoria, uma representação de algo que é muto maior que ele.

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Ilustração de Morte e Vida Severina ressalta a seca e a aridez do sertão. Os versos do poema são curtos e muito sonoros. A maioria conta com sete sílabas poéticas, também conhecido como redondilha menor, outra característica dos autos. A constante repetição de versos é uma ferramenta muito usada por João Cabral. Além de servir como reforço semântico para o tema, promove a homofonia e a repetição de sons, que dão uma maior musicalidade aos versos.

— A quem estais carregando, irmãos das almas, embrulhado nessa rede? dizei que eu saiba.

— A um defunto de nada, irmão das almas,

A sonoridade do poema é um elemento muito importante nesta obra. A sua leitura se torna quase cantada, uma ferramenta comum quando a escrita não era difundida. A sonoridade servia como um modo de facilitar a memorização da poesia. Esse formato também lembra as poesias de cordel. Sabe-se que João Cabral de Melo Neto costumava ler em voz alta para os funcionários da fazenda alguns cordéis.

Espaço e temática

O espaço e o tema estão intimamente ligados nesse poema. A obra aborda a viagem de um retirante do interior do Pernambuco até o Recife, onde ele se depara constantemente com a morte. O fio condutor do trajeto é o rio Capiberibe, que deve ser o percurso certo do interior ao litoral:

Pensei que seguindo o rio eu jamais me perderia: ele é o caminho mais certo, de todos o melhor guia.

Ao longo da jornada, Severino encontra diversas vezes a morte. Morte por fome, por emboscada ou por velhice antes do trinta. O sertão é o espaço e a morte é o tema, os dois andam juntos ao longo do rio. Até o próprio rio também morre.

Mas como segui-lo agora que interrompeu a descida? Vejo que o Capibaribe, como os rios lá de cima, é tão pobre que nem sempre pode cumprir sua sina

O percurso do rio pode ser comparado ao percurso da vida no sertão, que de tão frágil muitas vezes se interrompe.

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Severino se depara com a morte muitas vezes. Da primeira vez o defunto é carregado numa rede por outros homens. O falecido morreu de morte matada em uma emboscada provocada por alguém que queria ficar com as suas terras.

Morte e Vida Severina retrata as agruras do sertanejo. Depois, Severino se depara com um defunto sendo velado em uma modesta residência. Seguindo viagem, ao tentar conseguir trabalho em uma pequena vila, a morte aparece novamente, mas como única fonte de renda para quem quer viver lá. Mais perto do litoral, Severino se espanta com a terra mais macia, cheia de cana e acha que lá é um bom

lugar para trabalhar. Porém, assiste ao funeral de um lavrador.

— Desde que estou retirando só a morte vejo ativa, só a morte deparei e às vezes até festiva; só a morte tem encontrado quem pensava encontrar vida,

Adaptação da história para os quadrinhos

O cartunista Miguel Falcão resolveu adaptar a história narrada por João Cabral de Melo Neto para a linguagem da animação 3D em preto e branco. O belo resultado dessa empreitada pode ser conferido online:

Contexto da escrita de Morte e Vida Severina: a Geração de 45

João Cabral de Melo Neto fez parte da Geração de 45, a terceira fase modernista. Nessa geração, principalmente na poesia, é difícil encaixar os autores dentro de correntes literárias. Em um amplo espectro, é possível dizer que a poesia deixou de ser tão intimista passando para um maior formalismo.

João Cabral de Melo Neto fez parte da Geração de 45. A poesia de João Cabral é exemplar nesse aspecto. Engenheiro de formação, o poeta encaixava palavras como um construtor assenta tijolos. A sintaxe seca e os versos curtos são emblemáticos dos poemas de João Cabral. Se na poesia os temas são variados, na prosa parecem coexistir duas vertentes: uma intimista voltada para o fluxo de consciência, tendo Clarice Lispector como maior representante; e outra que aprofunda as questões da prosa regionalista dos anos 30, tendo Guimarães Rosa como seu maior expoente.

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O fim da ditadura de Getúlio Vargas promoveu uma abertura social. A Geração de 45 foi também engajada nos temas sociais e com grande envolvimento na política.

Outro poema de João Cabral de Melo Neto

Colocação Pronominal

Márcia Fernandes Professora licenciada em Letras

A colocação pronominal indica a posição dos pronomes átonos - me, nos, te, vos, se, o(s), a(s), lhe(s) - em relação ao verbo, do que resulta a próclise, a mesóclise e a ênclise.

Antes de entender como cada um dos casos deve ser usado, a primeira regra é: a colocação pronominal é feita com base em prioridades. O caso que tem mais prioridade é a próclise, e se nenhuma das situações satisfizer o seu uso, é utilizada a ênclise. Lembrando que a mesóclise somente é utilizada com verbos no futuro do presente e no futuro do pretérito

Próclise

Na próclise, o pronome é colocado antes do verbo. Isso acontece quando a oração contém palavras que atraem o pronome:

1. Palavras que expressam negação tais como “não, ninguém, nunca”: Não o quero aqui. Nunca o vi assim.

2. Pronomes relativos (que, quem, quando...), indefinidos (alguém, ninguém, tudo…) e demonstrativos (este, esse, isto…):

Foi ela que o fez. Alguns lhes deram maus conselhos. Isso me lembra algo.

3. Advérbios ou locuções adverbiais:

Ontem me disseram que havia greve hoje. Às vezes nos deixa falando sozinhos.

4. Palavras que expressam desejo e também orações exclamativas:

Oxalá me dês a boa notícia. Deus nos dê forças.

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5. Conjunções subordinativas:

Embora se sentisse melhor, saiu. Conforme lhe disse, hoje vou sair mais cedo.

6. Palavras interrogativas no início das orações:

Quando te deram a notícia? Quem te presenteou?

Para você entender melhor:

Quando usar a Próclise

Márcia Fernandes

Professora licenciada em Letras

Próclise é a colocação do pronome antes do verbo. Existem mais dois tipos de posição: Mesóclise (pronome no meio do verbo) e Ênclise (pronome depois do verbo). Exemplos:

Não me diga que não vem! (Próclise) Dizer-te-ia se fosse. (Mesóclise) Gostaria de dizer-te algo. (Ênclise)

Quando usar

Em orações negativas. Exemplo: Ninguém a vai visitar... Com pronomes relativos, indefinidos ou demonstrativos. Exemplo: Alguns funcionários o

mantém informado. Com verbos antecedidos por advérbios ou expressões adverbiais. Exemplo: Certamente nos

disseram a verdade. Em orações exclamativas e em orações que exprimam desejo. Exemplo: Era bom que nos

dissessem a verdade! Em orações com conjunções subordinativas. Exemplo: Para me contar é que conheciam os

fatos. Com verbo no gerúndio regido da preposição em. Exemplo: Em se aproximando, perguntou o

meu nome. Em orações interrogativas. Exemplo: Quem te disse?

Quando não usar Nas situações em que se requer a ênclise:

Verbo no imperativo afirmativo. Exemplo: Atenda-lhe os pedidos. Verbo no infinitivo impessoal. Exemplo: Quero salvar-te desse tormento. Verbo inicia a oração. Exemplo: Disse-te, mas não escutaste. Verbo no gerúndio. Exemplo: Adormeço contando-lhe as histórias dos piratas.

(https://www.todamateria.com.br/)

1ª SEMANA https://www.youtube.com/watch?v=WAR3OPsR-G4 (João Cabral de Melo Neto) https://www.youtube.com/watch?v=mJSb-O2_jg0 (João Cabral de Melo Neto – Morte e vida Severina) https://www.youtube.com/watch?v=jcdLXpxhHwU (João Cabral de Melo Neto – Morte e vida Severina, resumo) https://www.youtube.com/watch?v=clKnAG2Ygyw ( animação de morte e vida Severina)

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https://www.youtube.com/watch?v=U8CFRVZll2Q (Colocação pronominal – PRÓCLISE) https://www.youtube.com/watch?v=C99VP5WmULc (Colocação pronominal – PRÓCLISE) https://www.youtube.com/watch?v=l_WxqVvmyGo (Colocação pronominal)

OBJETO DE CONHECIMENTO/CONTEÚDO: TERCEIRA GERAÇÃO MODERNISTA

2ª SEMANA – 23 a 28/11/2020

A Literatura Portuguesa Contemporânea

“A Literatura Portuguesa Contemporânea”

( Por Rodrigo Augusto Fiedler do Prado )

Portugal, o berço de nossa língua e cultura, sempre, ao longo dos tempos (precisamente desde o século

XII, com o advento de nossa literatura – com os cancioneiros populares trovadorescos), nos presenteou

com grandes artistas das letras. Donos de uma literatura rica e sem par, os escritores portugueses se

fizeram, entre os falantes de línguas latinas, um marco único e singular.

Camões, Eça de Queiroz, Teófilo Braga, Bocage, Garret, Feliciano de Castilho, Herculano e Pessoa (e

seus heterônimos) nos tornam isso bastante claro. Mas não é só do passado que vive a Literatura Lusa.

Menos produtivo e menos divulgado, o século XX tem também seus ícones. Infelizmente escritores e

obras impressionantes foram sucumbidas ao regime ditatorial de Salazar, que além de afundar Portugal

numa crise econômica e social gravíssima, cerceou sua cultura a um espaço e a uma forma muito

intrínseca à própria regionalidade portuguesa. Diferente das naus lusitanas do século XVI, a literatura

lusa do século XX não desbravou cercanias do além mar.

Mas este espectro não foi perene. Nas últimas décadas do século passado, na fase pós ditadura, houve

um readvento cultural em Portugal. É fato que o intercâmbio cultural com o Brasil e com as outras ex-

colônias, principalmente as ilhas e Angola, enriqueceram o ambiente cultural luso, até então tão

atrasado. Autores como Jorge Amado, Érico Veríssimo e Drummond passaram a ser lidos com avidez,

músicos como Chico Buarque, Caetano Veloso e Djavan passaram a ser adorados naquele país. Artistas

angolanos do mesmo quilate passaram a fazer parte da cultura cotidiana portuguesa e, com isso,

Portugal se independeu definitivamente das marcas deixadas pelo Salazarismo, readquiriu personalidade

própria e conseguiu, pela primeira vez na história da humanidade, trazer um prêmio Nobel de Literatura

para um escritor de língua portuguesa: José Saramago.

Este feito, de certa forma, funcionou como uma “faca de dois gumes”. Gerou uma dicotomia interessante

no aspecto literário português: de um lado Saramago, ostentado, visionado e bem posicionado frente à

mídia, e de outro, uma gama tão interessante quanto de autores, que ficaram apagados pelo próprio

sucesso do autor de “Ensaio sobre a cegueira” e que não foram por sua vez, aclamados pela crítica

internacional.

Autores com estilos e formas incomparáveis, de literatura belíssima e riqueza gramatical; do mesmo

nível (ou até superiores) que o próprio Saramago e outros autores contemporâneos (como Salmman

Rushdie, Ernest Hemmingway, Paul Auster, Isabel Allende, Antonio Skármeta, Jorge Luiz Borges e

Garcia Marques), surgiram e estão até os tempos atuais em produção brilhante em Portugal; mas o

problema, é que a mídia, assim como cobriu este ícones todos, só o fez para Saramago.

Este quase preconceito ocorre talvez, pela literatura lusitana ser bem artística e às vezes complexa;

talvez pelo não formato de “Best-Seller” que possuem as obras; talvez e o que seria lamentável – pela

língua. É sabido nos anais editoriais, a dificuldade de transferir e traduzir a questão semântica luso-

brasileira para outras línguas, assim como a questão gramatical, restando ao espanhol – língua que

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muito se assemelha à nossa uma opção de divulgação evidente. Mas o “plus” do mercado editorial não é

em Madri, nem tampouco em Buenos Aires, quiçá na cidade do México. É obviamente em Nova Iorque,

Frankfurt e Paris.

Para que possamos tomar conhecimento da pluralidade literária portuguesa contemporânea, algumas

editoras (em especial a Editora Planeta do Brasil ), optou pela publicação de obras portuguesas recentes,

escolhendo autores de consagração local e de já algum impacto na Europa e nos EUA.

São eles, Inês Pedrosa, Filipa Melo, Rui Zink, Teolinda Gersão e Agustina Bessa-Luís, entre outros.

Sendo, a primeira e a terceira escritoras, respectivamente, as mais lidas atualmente naquele país, a

última (Agustina) a ganhadora do pr6emio Camões 2004 e Rui Zink um autor já com um público leitor

bem definido e professor universitário.

Os temas, ligeiramente abordando o fantástico e o impossível, flertam com o metafísico mas não fogem

do lugar-comum das banalidades do cotidiano, são textos que não têm nada de filosóficos e nos ensinam

uma nova maneira de ler. Uma leitura onde, passo-a-passo, vamos interiorizando o contexto do livro e

de repente, nos percebemos parte dele.

Em “Fazes-me falta” ( Pedrosa, Inês – Editora Planeta), por exemplo, o leitor se depara com um

dispositivo narrativo de extrema simplicidade: duas vozes apenas, que, ao longo de cinqüenta blocos

textuais, a que, pela sua episódica brevidade, não chegaremos a chamar capítulos, se cruzam numa

espécie de diálogo espectral. Uma dessas vozes é feminina, e é a ela que cabe a iniciativa de convocar

os temas. A outra voz, que viremos a saber que é mais velha, pertence a um homem. Poderíamos

pensar, segundo as convenções de leitura para que estamos preparados, que entre estas duas

personagens existe sobretudo uma relação passional. Mas aquilo que as une é de uma outra ordem - e

de certo modo o livro não faz mais do que ir à procura do nome exato para essa ordem, o nome

apropriado para esse tecido de palavras que une, enreda, compromete, envolve estas duas vozes. De

um modo esquemático, dir-se-ia, como a própria Inês sugere, que se trata de uma relação de amizade.

E de que o que Inês Pedrosa pretende é relançar a energia ficcional da amizade, habitualmente

relegada, no campo dos afetos romanescos, para um lugar secundário.

Inês Pedrosa é portuguesa, mas sua obra não – é universal, digamos inclusive, transcendental . Apesar

de apresentar personagens portugueses, envoltos na cultura lusa, Fazes-me falta é dos romances mais

originais dos últimos tempos. Amantes que mantém sua chama acesa após a morte da mulher e fatos da

vida apresentados aleatória e poeticamente. Impecável escrita, envolvimento certeiro. Leia ou te fará

falta.

Podemos, através do texto de Marcelo Pen, crítico literário da Folha de São Paulo, tornarmo-nos mais

esclarecidos quanto a ambientação literária portuguesa:

“...Nem Saramago nem Lobo Antunes. Os novos autores portugueses não estão interessados nas

questões coloniais ou pós-coloniais nem em pregar contra a globalização. Pelo menos a julgar pelo que

dizem os escritores Filipa Melo, 31, e Rui Zink, 42, que lançam seus livros pela nova coleção "Tanto

Mar", da editora Planeta, na Bienal do Livro de São Paulo.

Seus romances tratam de futebol, mídia, cultura pop e morte. Além disso, os dois querem mais do que

se filiar à literatura portuguesa. Eles querem o mundo.

A morte é o tema que une os dois romances. Em "Este É o Meu Corpo", de Filipa, o encontro de um

cadáver desfigurado de mulher é o ponto de partida para investigar o ser humano.

O livro tem longas cenas de dissecação, prática médica que exigiu da autora uma intensa pesquisa. "A

imagem de um corpo voltado pelo avesso", afirma, "relaciona-se com minha idéia de que a morte é um

momento de renascimento". Ela explica que, "quando alguém morre, começa uma nova vida, feita de

memória".

Em "O Reserva", de Zink, um locutor esportivo distraído atropela e mata um garoto de quatro anos. A

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tragédia permite ao autor, por meio de um punhado de personagens, examinar diversos setores da

sociedade portuguesa.

"A morte é um pretexto para falar da vida. Quero acompanhar a reação das personagens implicadas --o

atropelador, a mulher e a amante dele; o pai, a mãe e o avô da criança-- e também da sociedade e da

lei. O leitor vai reconhecer-se nalguma daquelas boas pessoas. Os grandes crimes são cometidos por

boas pessoas."

O livro de Zink, que é professor da Universidade Livre de Lisboa e doutorando em HQs, foi adaptado

para a edição brasileira. A começar pela troca do título lusitano, "O Suplente", que para nós parece ter

conotação política.

Melo e Zink citam sem pestanejar alguns nomes da literatura brasileira contemporânea, como Adriana

Lisboa, Bernardo Carvalho, Marilene Felinto. Também mostram admiração por Rubem Fonseca: "Pode-se

dizer que é um mestre que influenciou a escrita portuguesa", comenta Zink.

Mas não conhecem os autores da chamada Geração 90 (Marçal de Aquino e Nelson de Oliveira, para

citar dois). Do outro lado da balança, os brasileiros ignoram boa parte do que se passa no atual cenário

literário português. Como acabar com essa ignorância?

Filipa Melo tem uma resposta na ponta da língua: a responsabilidade cabe à imprensa especializada. "Em

Portugal se fala muito de uma irmandade com o Brasil; o que falta é existir essa irmandade. Os

jornalistas de cultura têm um papel crucial nas pontes que se estabelecem entre as propostas literárias

dos dois países."

Melo e Zink não gostam de ser etiquetados como "nova geração". Para Zink, "a cultura da novidade é

perigosa. As alianças entre autores criam-se pela estética; o que se dá independentemente de geração

ou nacionalidade".

Para Melo, "catalogar está fora de moda; é preciso tirar as etiquetas. É óbvio que meu romance é

português, mas pode se passar em qualquer outro local". Zink também almeja um alcance maior:

"Quero um leitor que viaje com o livro. As palavras são postas como pedrinhas escondidas sob a água,

por cima das quais ele deve caminhar nesse maravilhoso oceano que é a inteligência do mundo".

Mas, voltando à importância de o leitor brasileiro vir a interessar-se pela ficção da "terrinha", Zink

brinca: "Olha, nós temos o Deco (o jogador brasileiro Anderson Luís de Sousa), naturalizado português,

temos uma moeda forte, o euro. Acho que está mais do que na hora de os brasileiros começarem a

"amar" a nossa literatura!".

Para enriquecer ainda a gama de autores lusos contemporâneos, escritoras como Teolinda Gersão,

fazem a diferença no cenário.

Teolinda Gersão nasceu em Coimbra, estudou Germanística e Anglística nas Universidades de Coimbra,

Tuebingen e Berlim, foi Leitora de Português na Universidade Técnica de Berlim, docente na Faculdade

de Letras de Lisboa e posteriormente professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa, onde

ensinou Literatura Alemã e Literatura Comparada até 1995.A partir dessa data passou a dedicar-se

exclusivamente à literatura.

Além da permanência de três anos na Alemanha viveu dois anos em São Paulo, Brasil, (reflexos dessa

estada surgem em alguns textos de Os guarda-chuvas Cintilantes,1984), e conheceu Moçambique, cuja

capital, então Lourenço Marques, é o lugar onde decorre o romance de 1997 A Árvore das Palavras, mais

uma publicação Planeta aqui no Brasil.

Fica então claro, que a literatura portuguesa de hoje transcende Saramago, transcende os profundos

flertes com a filosofia e, mesmo gozando da despretensão de tratar do cotidiano, atinge o sublime

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através de “penas” menos ortodoxas das veias mais abertas da literatura – o retrato e a recriação do

próprio homem.

Atinge a qualidade e o belo do simples, através de entretenimento, qualidade e muita, mas muita arte.

Rodrigo Augusto Fiedler

José Saramago Por Warley Souza

José Saramago, escritor português, nasceu em 16 de novembro de 1922. Publicou seu primeiro livro, Terra do pecado, em 1947. Além de escritor, foi serralheiro mecânico e tradutor. Em 1998, Saramago ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Sua obra mais polêmica é O evangelho segundo Jesus Cristo (1991), que gerou muitas críticas ao autor na época de sua publicação. Mas a obra mais conhecida é Ensaio sobre a cegueira (1995), devido à sua bem-sucedida adaptação para o cinema.

As obras literárias de José Saramago são realistas, apresentam temática social, crítica política e religiosa, elementos do realismo fantástico e a defesa do protagonismo humano como solução para os problemas sociais. A principal característica do escritor é a intertextualidade, principalmente em relação a autores portugueses clássicos, como Camões. O autor, que morreu em 18 de junho de 2010, sabia da importância de sua obra, pois, como disse em uma entrevista: “Utilizo o romance como veículo para a reflexão”.

Biografia de José Saramago

José Saramago, autor português, nasceu em 16 de novembro de 1922, na província do Ribatejo. Ele tinha um ano de idade quando sua família se mudou para Lisboa. Filho de trabalhadores rurais, não pôde fazer faculdade, mas fez curso técnico em serralheria mecânica, que concluiu em 1940, ano em que conseguiu seu primeiro emprego na área. Trabalhava durante o dia e, à noite, dirigia-se a uma biblioteca municipal para ler.

Seu primeiro livro publicado foi o romance Terra do pecado, de 1947. Em 1955, começou a trabalhar como tradutor. Em 1969, filiou-se ao Partido Comunista Português. Além de tradutor, Saramago foi crítico literário na revista Seara Nova e, nos anos de 1972 e 1973, trabalhou no jornal Diário de Lisboa. Em 1974, depois da Revolução de 25 de Abril|1| (Revolução dos Cravos), organizou uma equipe do Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis (FAOJ), do Ministério da Educação.

José Saramago e sua esposa, Pilar del Río. [1]

Em 1975, atuou no Movimento Unitário de Trabalhadores Intelectuais para a Defesa da Revolução (MUTI). Nesse mesmo ano, foi diretor-adjunto do jornal Diário de Notícias. Além de todas

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essas atividades, fez parte da direção da Associação Portuguesa de Escritores e, de 1985 a 1994, foi presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores.

Em 1992, o governo português impediu a candidatura de O evangelho segundo Jesus Cristo ao Prêmio Literário Europeu. Esse romance, publicado pela primeira vez em 1991, causou bastante polêmica, pois mostra Jesus como um personagem mais humano e menos divino, com defeitos inclusive, além de manter um relacionamento amoroso com Maria de Magdala.

José Saramago filiou-se ao Parlamento Internacional de Escritores em 1993. No ano seguinte, foi nomeado como presidente honorário da Sociedade Portuguesa de Autores. Em 1998, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Em 2007, o autor, consagrado mundialmente, criou a Fundação José Saramago. Morreu três anos depois, em 8 de junho de 2010.

Características literárias de José Saramago

José Saramago faz parte da literatura contemporânea portuguesa. Esse período da literatura no Ocidente não é de fácil classificação, não só em Portugal, mas também no Brasil e em outros países. Isso porque há uma variedade de produções, com características particulares, que às vezes podem ser comuns entre alguns autores e autoras.

Assim, é preciso analisar individualmente cada escritor ou escritora em busca de características específicas, que podem, às vezes, coincidir com as de outros escritores. No caso de José Saramago, ao analisar a sua biografia, fica claro que o escritor esteve sempre envolvido com questões políticas de sua época, além do trabalho com a palavra, seja como romancista e poeta, seja como tradutor. Portanto, inevitavelmente, elementos sociais e políticos estão em suas obras.

De maneira geral, os estudos que vêm sendo feitos sobre a obra de Saramago apontam as seguintes características literárias:

Perspectiva realista; Construção de alegorias; Humanismo, antropocentrismo; Temática social e crítica política; Críticas religiosas, anticlericalismo; Valorização das características da oralidade; Questionamento, análise do passado histórico; Presença de elementos mágicos ou fantásticos; Diálogo com a tradição da literatura portuguesa, representada por figuras como Luís Vaz de

Camões (1524-1580), Pe. António Vieira (1608-1697) e Almeida Garrett (1799-1854), por exemplo; Trabalho incomum com a linguagem, como o uso de vírgulas em lugar de outros sinais de pontuação.

Isso pode ser visto neste trecho de O evangelho segundo Jesus Cristo:

Jesus recuou um pouco e chamou a mulher, Zelomi, ela ergueu a custo a cabeça, Que queres, perguntou, Leva -me à cova onde nasci, ou diz-me onde é, se não podes andar, Custa-me caminhar, sim, mas tu não a encontrarias se eu não te levasse lá, É longe, Não, há outras covas, parecem todas iguais, Vamos, Pois sim, vamos, disse a mulher.

E, por fim, a intertextualidade. Segundo Eduardo Calbucci|2|:

De todas as características da obra de José Saramago, a mais importante, por ser a mais renitente, é a intertextualidade, baseada no uso repetido da paródia. Vários nomes da literatura portuguesa desfilam entre as frases dos romances estudados, criando um discurso polifônico. Vale lembrar que o romancista, na maioria das vezes, não “avisa” ao leitor que está usando o recurso paródico, de maneira que identificar essas relações intertextuais torna-se uma tarefa difícil, pois é necessário perceber no meio daqueles longos parágrafos, de repente, um verso de Os Lusíadas ou um trecho de Mensagem.

Defesa reiterada por Lívia Braga Barreto|3|: “A intertextualidade é um forte traço da literatura do autor, comentado pela maior parte dos críticos de seu trabalho. Ele parafraseia, parodia, reescreve ou alude diretamente obras tão diversas quanto a Bíblia, discursos de reis e clássicos da Literatura, como Mensagem ou Os Lusíadas, além de reinterpretar ou desconstruir ditados, provérbios e adágios populares”.

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Obras de José Saramago

Capa do livro O evangelho segundo Jesus Cristo, livro que causou grande polêmica no meio literário. [2]

Os livros em prosa de José Saramago são:

Terra do pecado (1947): romance; Deste mundo e do outro (1971): crônicas; A bagagem do viajante (1973): crônicas; Os apontamentos (1976): crônicas; Manual de pintura e caligrafia (1977): romance; Objeto quase (1978): contos; Poética dos cinco sentidos — o ouvido (1979): crônicas; Levantado do chão (1980): romance; Viagem a Portugal (1981): literatura de viagem; Memorial do convento (1982): romance; O ano da morte de Ricardo Reis (1984): romance; A jangada de pedra (1986): romance; História do cerco de Lisboa (1989): romance; O evangelho segundo Jesus Cristo (1991): romance; Cadernos de Lanzarote I (1994): diário; Cadernos de Lanzarote II (1995): diário; Ensaio sobre a cegueira (1995): romance. Cadernos de Lanzarote III (1996): diário; Moby Dick em Lisboa (1996): crônicas; Todos os nomes (1997): romance; O conto da ilha desconhecida (1997): contos; Cadernos de Lanzarote IV (1998): diário; Cadernos de Lanzarote V (1998): diário; Folhas políticas (1976-1998): crônicas; A caverna (2000): romance; A maior flor do mundo (2001): infantojuvenil; O homem duplicado (2002): romance; Ensaio sobre a lucidez (2004): romance; As intermitências da morte (2005): romance; As pequenas memórias (2006): memórias; A viagem do elefante (2008): romance; O caderno (2009): diário; O caderno 2 (2009): diário; Caim (2009): romance; Claraboia (2011): romance; O silêncio da água (2011): infantojuvenil; Alabardas, alabardas, espingardas, espingardas (2014): romance; O lagarto (2016): infantojuvenil; Último caderno de Lanzarote (2018): diário.

Já os livros de poesia de Saramago são:

Os poemas possíveis (1966); Provavelmente alegria (1970);

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O ano de 1993 (1975).

Adaptações de obras de José Saramago para o cinema

Algumas obras de José Saramago foram adaptadas para o cinema, tais como:

A jangada de pedra (2002), longa-metragem de George Sluizer (1932-2014); A maior flor do mundo (2007), curta-metragem de animação de Juan Pablo Etcheverry; Ensaio sobre a cegueira (2008), longa-metragem de Fernando Meirelles; Embargo (2010), longa-metragem de António Ferreira;

O homem duplicado (2014), longa-metragem de Denis Villeneuve.

Principais prêmios de José Saramago

José Saramago, além de inúmeras distinções honrosas, recebeu também os seguintes prêmios literários:

Prêmio da Associação de Críticos Portugueses (1979); Prêmio Cidade de Lisboa (1981); Prêmio Pen Clube (1982 e 1985); Prêmio Literário do Município de Lisboa (1982); Prêmio da Crítica do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários (1984); Prêmio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários (1985); Prêmio Dom Dinis (1986); Prêmio Grinzane-Cavour (1987) — Itália; Grande Prêmio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (1991); Prêmio Internacional Ennio Flaiano (1992) — Itália; Prêmio Brancatti (1992) — Itália; Prêmio Literário Internacional Mondello (1992) — Itália; Prêmio The Independent Foreign Fiction (1993) — Reino Unido; Grande Prêmio de Teatro da Associação Portuguesa de Escritores (1993); Prêmio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (1993); Prêmio Camões (1995); Prêmio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores (1995); Prêmio Rosalía de Castro (1996) — Espanha; Prêmio Nobel de Literatura (1998) — Suécia; Prêmio Arcebispo Juan de San Clemente (1998) — Espanha; Prêmio Europeu de Comunicação Jordi Xifra Heras (1998) — Espanha; Prêmio Nacional de Narrativa Città di Pienne (1998) — Itália; Prêmio Scanno da Universidade Gabriele d’Annunzio (1998) — Itália; Prêmio Internacional de Narrativa Città di Penne-Mosca (1998) — Itália; Prêmio Canárias Internacional (2001) — Espanha; Prêmio Dolores Ibárruri (2006) — Espanha.

Frases de José Saramago

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O escritor José Saramago, em 2008. [1]

A seguir, vamos ler algumas frases de José Saramago, retiradas dos seguintes textos: conferência Diálogos de culturas, caminho da cooperação (DC), de 1988; entrevista à revista Margem Esquerda (ME), em 1992; livro Cadernos de Lanzarote (CL), de 1994; discurso da cerimônia do Prêmio Nobel de Literatura (PNL), em 1998; entrevista à revista Época (RE), em 2005; e conferência Mantegna: uma ética, uma estética (MEE), de 2006.

São elas:

“O diálogo, a cooperação, a paz são demasiado preciosos para continuarem entregues, quase exclusivamente, ao exercício político.” (DC)

“Nos tempos históricos, desde a Antiguidade, sempre a cultura viajou de país a país, quer nos fardos dos comerciantes quer nas pontas das lanças.” (DC)

“E eu suponho que tenho todos os direitos do mundo de escrever sobre tudo aquilo que eu entender.” (ME)

“Ninguém tem o direito de chegar ao pé de outra pessoa e dizer-lhe que o seu Deus é falso.” (ME)

“Todos somos homens e todos somos mulheres.” (ME)

“A Europa não passa de um conselho administrativo governado pelos países mais fortes.” (ME)

“Os homens [seres humanos] é que são terríveis e são magníficos.” (ME)

“É inevitável o sofrimento, o sangue, o genocídio, porque o homem não é bom, pronto!” (ME)

“Não são os colonizadores portugueses e espanhóis que dominam a América Latina hoje.” (ME)

“Eu creio que de todos os meus livros se pode fazer uma leitura política, ainda que não seja esse o objetivo de nenhum deles.” (ME)

“Não aceito nem os dez mandamentos da Igreja Católica nem os dez mandamentos, se os houvesse, que me viessem do Partido.” (ME)

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“E eu não tenho nem que provar a existência de Deus nem a sua inexistência.” (ME)

“Um imbecil é um imbecil, mesmo quando escreve livros.” (CL)

“Neste meio século não parece que os governos tenham feito pelos direitos humanos tudo aquilo a que moralmente estavam obrigados.” (PNL)

“Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante.” (PNL)

“Com a mesma veemência com que reivindicamos direitos, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres.” (PNL)

“Talvez o mundo possa tornar-se um pouco melhor.” (PNL)

“Utilizo o romance como veículo para a reflexão.” (RE)

“Citar-se a si próprio é um ato narcísico de que os autores sempre tentam desculpar-se.” (MEE)

“O homem, felizmente, inventou primeiro a fotografia, e só depois os bombardeamentos aéreos.” (MEE)

Gramática

Mesóclise

Na mesóclise, o pronome é colocado no meio do verbo. Isso acontece com verbos do futuro do presente ou do futuro do pretérito, a não ser que haja palavras que atraiam a próclise:

Orgulhar-me-ei dos meus alunos. (verbo orgulhar no futuro do presente: orgulharei) Orgulhar-me-ia dos meus alunos. (verbo orgulhar no futuro do pretérito: orgulharia)

Ênclise

Na ênclise, o pronome é colocado depois do verbo. Isso acontece quando a oração contém palavras que atraem esse tipo de colocação pronominal:

1. Verbos no imperativo afirmativo: Depois de terminar, chamem-nos. Para começar, joguem-lhes a bola!

2. Verbos no infinitivo impessoal:

Gostaria de pentear-te a minha maneira. O seu maior sonho é casar-se.

3. Verbos no início das orações:

Fiz-lhe a pessoa mais feliz do mundo. Surpreendi-me com o café da manhã.

Colocação pronominal nas locuções verbais Nos exemplos acima existe apenas um verbo atraindo o pronome.

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Agora, vejamos como ocorre a colocação do pronome nas locuções verbais. Lembrando que as regras citadas para os verbos na forma simples devem ser seguidas.

1. Usa-se a ênclise depois do verbo auxiliar ou depois do verbo principal nas locuções verbais em que o verbo principal esteja no infinitivo ou no gerúndio:

Devo-lhe explicar o que se passou. (ênclise depois do verbo auxiliar, “devo”) Devo explicar-te o que se passou. (ênclise depois do verbo principal, “explicar”)

2. Caso não haja palavra que atraia a próclise, usa-se a ênclise depois do verbo auxiliar em que o verbo principal esteja no particípio:

Foi-lhe explicado como deveria agir. (ênclise depois do verbo auxiliar, “foi”, uma vez que o verbo principal “explicar” está no particípio, “explicado”)

Tinha-lhe feito as vontades se não tivesse sido mal criado. (ênclise depois do verbo auxiliar, “tinha”, uma vez que o verbo principal “fazer” está no particípio, “feito”) Para você entender melhor:

Quando usar a Mesóclise

Márcia Fernandes

Professora licenciada em Letras

Mesóclise é a colocação do pronome no meio do verbo. Ela somente é possível de uma forma: com verbos no futuro do presente (esforçar-me-ei) ou no futuro do pretérito (esforçar-me-ia).

Existem mais dois tipos de posição: Próclise - pronome antes do verbo e Ênclise - pronome depois do verbo.

Exemplos:

Desenhar-te-ei nos meus sonhos. (Mesóclise) Espero que se entendam... (Próclise) Liguem-lhe! (Ênclise)

A Mesóclise é encontrada apenas em obras literárias ou quando se quer, propositalmente, dar um tom cerimonioso ao discurso.

A mesóclise deve ser usada em duas situações:

1. Orações em que o verbo esteja no futuro do presente. Exemplo: Ouvir-te-ei sempre que quiseres. 2. Orações em que o verbo esteja no futuro do pretérito. Exemplo: Pentear-te-ia com paciência.

Mesóclise ou Próclise?

A mesóclise somente pode ser usada com os verbos no futuro do presente ou no futuro do pretérito, porém, esses verbos podem ser usados também com a próclise. Isso acontece quando há alguma regra que justifique o uso da próclise. Existindo, a próclise terá preferência, por isso, é tão raro encontrarmos a mesóclise cotidianamente.

Compare

Mesóclise Próclise Uso da Próclise

Dir-lhe-ei isso! Nunca lhe direi isso! Em orações negativas.

Eu limpar-lhe-ia a casa se me tivesse pedido.

Quem lhe ajudaria naquele dia foi a nossa maior surpresa.

Com pronomes relativos.

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Mesóclise Próclise Uso da Próclise

Correr-te-ia para os seus braços de tanta saudade!

Mal lhes veria correria para os seus braços.

Com verbos antecedidos por advérbios.

Desmanchar-me-ia em lágrimas.

Tamanha seria a surpresa que me desmancharia em lágrimas.

Em orações com conjunções subordinativas.

Contar-te-ia a verdade…

Quem me contaria a verdade, afinal?

Em orações interrogativas.

Para você entender melhor:

Quando usar a Ênclise

Márcia Fernandes Professora licenciada em Letras

Ênclise é a colocação do pronome depois do verbo. Existem mais dois tipos de posição: Próclise (pronome antes do verbo) e Mesóclise (pronome no meio do verbo).

Exemplos:

Telefonei-lhe na hora combinada. (Ênclise) Ontem me disse que não viria. (Próclise) Convidar-te-ia se quisesse. (Mesóclise)

Lembrando que a Ênclise somente é usada quando o uso da Próclise ou da Mesóclise não são possíveis:

1. Quando o verbo inicia a oração. Exemplo: Fez-me um favor. Só isso! 2. Com verbo no imperativo afirmativo. Exemplo: Quando eu avisar, retirem-lhe da sala. 3. Com verbo no infinitivo impessoal. Exemplo: Prometo amar-te. 4. Com verbo no gerúndio. Exemplo: Vive castigando-lhe sem motivos aparentes.

Depois de vírgula

Quando os verbos são antecedidos por advérbios, usamos a próclise. Todavia, se há vírgula depois do advérbio, deve ser usada a ênclise, uma vez que nesse caso o advérbio deixa de atrair o pronome.

Exemplos:

Talvez me diga algo amanhã. Talvez, direi-te quando decidir.

Quando não usar Com verbos no Futuro do Presente ou no Futuro do Pretérito - pois nesses casos deve ser usada apenas a mesóclise ou a próclise. Exemplo: Chamar-te-ei assim que puder. Bem como nas situações em que se requer a próclise:

Em orações negativas. Exemplo: Não a vi... Com pronomes relativos, indefinidos ou demonstrativos. Exemplo: Aquilo lhe fez chorar de tanto rir. Em orações exclamativas e em orações que exprimam desejo. Exemplo: Oxalá me atendam! Em orações com conjunções subordinativas. Exemplo: Embora a conheça há anos, não falamos

muito. Com verbo no gerúndio regido da preposição em. Exemplo: Em me decidindo, telefono. Em orações interrogativas. Exemplo: Quem lhe responderá o inquérito?

Page 22: ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA ELIZÂNGELA ......1- Organize na sua agenda semanal um tempo para estudar esse roteiro. 2- Leia atentamente as orientações/dicas do Roteiro de Estudo,

Com verbos antecedidos por advérbios ou expressões adverbiais. Exemplo: Discretamente lhe disse que faltaria amanhã.

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SUGESTÃO DE VIDEO AULA:

2ª SEMANA

https://www.youtube.com/watch?v=dWmGwQCl32s ( literatura contemporânea) https://www.youtube.com/watch?v=sUa11ua9DEk ( escritores contemporâneo português) https://www.youtube.com/watch?v=ZRF4EVS00mU ( literatura contemporânea portuguesa)

https://www.youtube.com/watch?v=B7RCoj8bLpc&feature=youtu.be ( José Saramago)

https://www.youtube.com/watch?v=k6BHgmlsFmE (Colocação pronominal - MESÓCLISE)

https://www.youtube.com/watch?v=csUVjkOa6OM (Colocação pronominal – ÊNCLISE) https://www.youtube.com/watch?v=l_WxqVvmyGo (Colocação pronominal)

ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA ELIZÂNGELA GLÓRIA CARDOSO

Formando jovens, autônomos, solidários e competentes.

ROTEIRO DE ESTUDOS Nº 02 - 4º BIMESTRE/2020

ÁREA DE CONHECIMENTO: LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS

3ª SÉRIE

FOLHA DE ATIVIDADES/RESPOSTAS

Período de realização das atividades: 16 a 28/11

Entrega das atividades: 28/11

ESTUDANTE: TURMA:

DISCIPLINA: Português PROFESSOR (A): ( ) MARIA ADRIANA

( ) GLEICE FERNANDES

ATIVIDADES PARA A 1ª SEMANA/ de 16 a 21/11 https://forms.gle/WG7Hfre8PGp8bpKN8 ATIVIDADES PARA A 2ª SEMANA- de 23 a 28/11 https://forms.gle/1wJuh5oWnZNzGaPM9