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1 ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA ELIZÂNGELA GLÓRIA CARDOSO Formando Jovens Autônomos, Solidários e Competentes ROTEIRO DE ESTUDOS Nº 03 - 3º BIMESTRE/2020 3ª SÉRIE ÁREA DE CONHECIMENTO: Ciências Humanas e Sociais Aplicadas COMPONENTE CURRICULAR/DISCIPLINA: História PROFESSOR: Sergio Bernardes TURMA: 33.01 a 33.07 CRONOGRAMA Período de realização das atividades: 06 a 17/10/2020. Entrega das atividades: PARTE 1 10/10 PARTE 2 17/10 CARGA HORÁRIA DAS ATIVIDADES: 06 aulas COMPETÊNCIA ESPECÍFICA DA ÁREA Analisar a formação de territórios e fronteiras em diferentes tempos e espaços, mediante a compreensão das relações de poder que determinam as territorialidades e o papel geopolítico dos Estados-nações. HABILIDADE/OBJETIVO DA ATIVIDADE (EM13CHS204) Comparar e avaliar os processos de ocupação do espaço e a formação de territórios, territorialidades e fronteiras, identificando o papel de diferentes agentes (como grupos sociais e culturais, impérios, Estados Nacionais e organismos internacionais) e considerando os conflitos populacionais (internos e externos), a diversidade étnico-cultural e as característicassocioeconômicas, políticas e tecnológicas. ESTUDO ORIENTADO O(a) estudante deve fazer a leitura cuidadosa dos textos deste roteiro deestudos. Realizadas as leituras, deve-se proceder à resolução das atividadesavaliativas. Tendo dificuldades, orienta-se buscar solução para as dúvidas através do grupo de WhatsApp de Ciências Humanas no dia apropriado(quinta-feira). Após sanadas as dúvidas, deve o(a) estudante encaminhar as atividades respondidas ao professor através do formulário Google Forms, disponibilizado no roteiro dasemana. Os formulários do Google Forms serão desativados para recebimento de respostas assim que o prazo para envio estiverencerrado. A nota do terceiro bimestre será fechada através da análise que o professor fará sobreo desempenho do(a) estudante no que diz respeito aos itens elencados nestas orientações de estudo. OBJETO DE CONHECIMENTO/CONTEÚDO (Conforme Guia de Aprendizagem 3º bimestre): PRIMEIRA PARTE 06 a 10/10 Movimentos de Resistência na África Resistência ao Neocolonialismo em Madagáscar Os movimentos de maio de 1968 e as lutas pelos direitos civis SEGUNDA PARTE 13 a 17/10 O Pan-africanismo Conflitos internos na África

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ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA ELIZÂNGELA GLÓRIA CARDOSO Formando Jovens Autônomos, Solidários e Competentes

ROTEIRO DE ESTUDOS Nº 03 - 3º BIMESTRE/2020

3ª SÉRIE

ÁREA DE CONHECIMENTO: Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

COMPONENTE CURRICULAR/DISCIPLINA: História

PROFESSOR: Sergio Bernardes TURMA: 33.01 a 33.07

CRONOGRAMA

Período de realização das atividades: 06 a 17/10/2020.

Entrega das atividades:

PARTE 1 – 10/10 PARTE 2 – 17/10

CARGA HORÁRIA DAS ATIVIDADES: 06 aulas

COMPETÊNCIA ESPECÍFICA DA ÁREA

Analisar a formação de territórios e fronteiras em diferentes tempos e espaços, mediante a

compreensão das relações de poder que determinam as territorialidades e o papel geopolítico dos

Estados-nações.

HABILIDADE/OBJETIVO DA ATIVIDADE

(EM13CHS204) Comparar e avaliar os processos de ocupação do espaço e a formação de territórios,

territorialidades e fronteiras, identificando o papel de diferentes agentes (como grupos sociais e

culturais, impérios, Estados Nacionais e organismos internacionais) e considerando os conflitos

populacionais (internos e externos), a diversidade étnico-cultural e as característicassocioeconômicas,

políticas e tecnológicas.

ESTUDO ORIENTADO

● O(a) estudante deve fazer a leitura cuidadosa dos textos deste roteiro deestudos.

● Realizadas as leituras, deve-se proceder à resolução das atividadesavaliativas.

● Tendo dificuldades, orienta-se buscar solução para as dúvidas através do grupo de WhatsApp de

Ciências Humanas no dia apropriado(quinta-feira).

● Após sanadas as dúvidas, deve o(a) estudante encaminhar as atividades respondidas ao professor

através do formulário Google Forms, disponibilizado no roteiro dasemana.

● Os formulários do Google Forms serão desativados para recebimento de respostas assim que o

prazo para envio estiverencerrado.

● A nota do terceiro bimestre será fechada através da análise que o professor fará sobreo

desempenho do(a) estudante no que diz respeito aos itens elencados nestas orientações de

estudo.

OBJETO DE CONHECIMENTO/CONTEÚDO (Conforme Guia de Aprendizagem 3º bimestre): PRIMEIRA PARTE – 06 a 10/10

Movimentos de Resistência na África

Resistência ao Neocolonialismo em Madagáscar

Os movimentos de maio de 1968 e as lutas pelos direitos civis

SEGUNDA PARTE – 13 a 17/10

O Pan-africanismo

Conflitos internos na África

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AVALIAÇÃO

O(a) estudante será avaliado(a) através da observação, por parte do professor, de sua participação no

grupo de WhatsApp apresentando dúvidas ou contribuições. Também, por meio da resolução da

atividade e envio das respostas via Google Forms, no decorrer de cada semana. Assim, prevalecerá a

avaliação interdimensional, observando a prática do exercício do protagonismo e dos 4(quatro) pilares

da educação: Aprender a Ser, a Fazer, a Conhecer e a Conviver).

BONS ESTUDOS!

PRIMEIRA PARTE – 06 a 10/10

MOVIMENTOS DE RESISTÊNCIA NA ÁFRICA

Com o processo de neocolonialismo que se iniciou na segunda metade do século XIX, surgiram na

África inúmeros movimentos de resistência contra os invasores europeus.

Durante a segunda metade do século XIX, iniciou-se o processo de neocolonialismo que resultou na ocupação

do continente africano pelas potências industrializadas da Europa. A ocupação da África veio acompanhada de

movimentos de resistência, os quais surgiram em praticamente todas as partes desse continente.

Neocolonialismo

Na segunda metade do século XIX, a Europa passava por intensas transformações tecnológicas que

resultaram em inúmeros avanços no consumo de energia, na produção industrial etc. Esses avanços

contribuíram para o desenvolvimento do capitalismo e levaram as nações europeias a novas demandas por

fontes de matérias-primas e novos mercados consumidores.

Essa demanda fez com que as nações europeias gradativamente promovessem a ocupação do

continente africano com o intuito de explorá-lo economicamente. Essa ocupação visando à exploração da África

foi justificada como uma missão civilizatória que tinha como objetivo levar, juntamente com o cristianismo, os

benefícios da civilização aos povos “atrasados”.

A missão civilizatória defendida pelos europeus baseava-se em ideais racistas da época, as quais

afirmavam que o homem branco era naturalmente “superior” ao homem negro. No entanto, esses argumentos

eram utilizados para esconder o real e único interesse dos europeus: a imposição de exploração econômica

intensa sobre a África.

A ocupação do continente africano foi, por fim, organizada e estabelecida pelos países europeus a partir

da Conferência de Berlim, realizada pelo primeiro-ministro alemão, Otto von Bismarck. Os dois únicos países

que não foram ocupados pelos europeus nesse período foram Etiópia e Libéria.

Resistência africana

A ocupação do continente africano não aconteceu de maneira pacífica. Houve tentativas de resistência

organizada por diferentes povos em todas as partes da África. A resistência buscava expulsar os invasores

europeus ou, ao menos, tentar diminuir a influência dos europeus quando não fosse possível expulsá-los.

No entanto, em todos os casos, a vitória dos europeus ocorreu, principalmente, por causa da superioridade dos

seus armamentos em relação aos africanos. Veja a seguir alguns exemplos de movimentos de resistência que

aconteceram no continente africano.

Líbia

A Líbia, localizada no norte da África, foi invadida pelos italianos em outubro de 1911. Os invasores

atacaram quatro grandes cidades líbias, Trípoli, Benghazi, Homs e Tobruk, e conquistaram-nas dos turcos

otomanos, que até então dominavam o país. No entanto, a ação italiana provocou um grande levante de líbios

que buscava a expulsão dos invasores.

A resistência líbia foi, a princípio, vitoriosa em impedir a expansão dos italianos, que ficaram reclusos a

essas quatro cidades. No entanto, após a Primeira Guerra Mundial, os italianos deram início a uma ofensiva que

gradativamente resultou na conquista da Líbia em definitivo.

Costa do Ouro

A região chamada de Costa do Ouro (atualmente Gana) era habitada pelo povo ashanti. Os ashanti

organizaram um dos maiores movimentos de resistência enfrentados pelos britânicos no continente africano. Os

primeiros conflitos entre britânicos e ashantis remontam ao século XVIII. A conquista parcial da região

aconteceu em 1874, após uma grande ofensiva britânica na região, mas o controle definitivo sobre a Costa do

Ouro só ocorreu oficialmente em 1896. Nessa época, os líderes ashanti haviam concordado em encerrar a

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disputa com o Reino Unido. Para consolidar seu poder na região, os britânicos prenderam e mandaram esses

líderes para as ilhas Seychelles, localizadas no meio do Oceano Índico.

Madagáscar

Na década de 1880, o Reino de Madagáscar era independente e liderado pelo primeiro-

ministro Rainilaiarivony. Nessa época, estava sendo instituído em Madagáscar um programa de modernização

para que o país pudesse desenvolver-se e, assim, evitar o domínio das potências europeias.

No entanto, politicamente pressionados por uma classe colonialista francesa e temendo o crescimento

da influência britânica em Madagáscar, os franceses iniciaram o ataque ao país. A chegada dos franceses

provocou o início das duas guerras dos malgaxes (habitantes de Madagáscar) contra esses invasores.

Com a derrota e a consequente destituição do governo malgaxe, o domínio dos franceses em

Madagáscar foi consolidado e só chegaria ao fim em 1960. Disponível em: https://www.preparaenem.com/historia/movimentos-resistencia-na-africa.htm

Acesso em: 17/09/2020

RESISTÊNCIA AO NEOCOLONIALISMO EM MADAGÁSCAR

O processo modernizador de Madagáscar no século XIX foi interrompido pela ação da França, que

impôs o neocolonialismo no país, apesar de ter enfrentado a resistência malgaxe.

Madagáscar é uma ilha, localizada na costa sudeste do continente africano que, ao longo do século

XIX, teve sua soberania violada pelos franceses durante o processo de neocolonialismo. A pressão da França

impôs a colonização ao país e destituiu o governo, que resistiu contra os franceses em duas guerras. Em

Madagáscar, houve também movimentos de resistência popular contra esse projeto colonizador realizado pelo

país europeu.

Interesses franceses em Madagáscar

Durante o século XIX, Madagáscar era um país independente que possuía sua soberania reconhecida

internacionalmente pela principal potência da época – a Inglaterra – desde a assinatura do Tratado Anglo-

Merina, de 1820. Os franceses, contudo, somente reconheceram a autonomia de Madagáscar mais de quatro

décadas depois, em 1863.

Na mesma época em que o neocolonialismo estava em expansão, Madagáscar estava implantando um

projeto modernizador sob a liderança do primeiro-ministro Rainilaiarivony e da rainha Ranavalona II. A

intenção do governo malgaxe era modernizar o exército e a administração do país para garantir sua soberania e

afastar definitivamente o risco de invasões estrangeiras.

A França, por sua vez, intensificou suas intenções em relação à aquisição de novas colônias e,

principalmente a partir da década de 1880, agiu de maneira direta para ocupar Madagáscar. Para estimular os

interesses com a ilha africana, os franceses apresentaram-na como um local rico, cheio de recursos e

possibilidades econômicas.

O renovado interesse francês em Madagáscar era ação principalmente do lobby colonialista, realizado

por parlamentares da ilha de Reunião (localizada no Oceano Índico, próximo a Madagáscar). Esses

parlamentares viram na colonização da ilha vizinha uma oportunidade de ter acesso aos recursos do país e,

também, de enviar o excesso populacional de Reunião para Madagáscar.

O lobby colonialista sobre Madagáscar também era apoiado pela direita católica, interessada em

combater o crescimento do protestantismo levado à região por missionários britânicos. O historiador malgaxe

ManasséEsoavelomandroso afirma que até mesmo líderes políticos franceses como Léon Gambetta defendiam

a postura colonialista da França.

O interesse desse país europeu por Madagáscar levou à formação de um discurso para justificar uma

possível anexação pelos franceses. A respeito dessa propaganda colonialista, Esoavelomandroso comenta:

“A propaganda colonial apelava para o chauvinismo, bem como para a missão human itária e civilizadora

da França. A fim de preparar a opinião pública para a conquista, apresentava-se o “Reino de Madagáscar”, com

evidente má-fé, como um “Estado bárbaro”, dirigido por uma “tribo estrangeira”, que erigira a “tirania em sistema

de governo” e continuava a praticar o tráfico de escravos”.O projeto modernizador desenvolvido em

Madagáscar naquele momento, e que visava transformar o país em uma “nação civilizada” aos moldes

europeus, não era interessante para os colonialistas franceses, então, a ilha passou a sofrer com ações diretas

da França cujo objetivo era desestabilizar o país para, em seguida, anexá-lo.

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Anexação de Madagáscar

As ações da França contra Madagáscar levaram a uma série de atritos e desacordos por questões

econômicas que envolviam os franceses já instalados no país. Esses atritos com a França levou Madagáscar a

arcar com pesadas indenizações. Isso demonstrava a real intenção francesa de passar por cima do acordo

assinado na década de 1860 que ratificava a soberania do país.

Com as relações tensas entre os dois países, o primeiro-ministro malgaxe promoveu duas ações:

1. Iniciou a compra de armamentos e munições para fortalecer o exército malgaxe e garantir a defesa do

país em caso de invasão.

2. Enviou missões diplomáticas pelo mundo para obter apoio internacional contra os franceses.

A primeira ação forçou o governo malgaxe a aumentar impostos para arcar com esses custos, e isso

refletiu na queda da popularidade de Rainilaiarivony. A segunda ação foi um fracasso, pois nenhuma potência

queria comprometer-se com Madagáscar contra a França. Com o isolamento internacional, o país foi, então,

atacado pelos franceses.

O ataque francês aconteceu em Majunga, na costa noroeste de Madagáscar, em maio de 1883, e deu

início à Primeira Guerra Franco-Merina. Esse conflito estendeu-se até dezembro de 1885, quando um cessar-

fogo foi assinado entre os dois países. A interrupção desse conflito obrigou os malgaxes a pagarem uma

indenização de 10 milhões de francos aos franceses.

Essa indenização de guerra destruiu a economia local, provocando uma crise que causou distúrbios,

como os surtos de banditismo, os quais afetaram até mesmo a capital do país, Antananarivo. A conquista

francesa sobre o país foi garantida na Segunda Guerra Franco-Merina, que aconteceu em 1894 e 1895.

A vitória francesa no segundo conflito levou à anexação de Madagáscar pela França e iniciou um

movimento de resistência popular que ficou conhecido como Menalamba. Os menalamba receberam esse

nome em referência à cor de suas roupas sujas de terra (usavam a terra como camuflagem).

A rebelião menalamba lutava principalmente pela expulsão dos invasores franceses, mas também

enfrentava a oligarquia local e defendia o resgate das tradições religiosas antigas a partir do culto dos

antepassados, conhecido como sampy. Essa resistência foi desarticulada por volta de 1897, pela ação da

repressão francesa e pela pouca organização dos rebelados. Outros movimentos populares de resistência

aconteceram em Madagáscar ao longo do século XX, porém o país somente obteve sua independência dos

franceses em 1960. Disponível em: https://www.preparaenem.com/historia/resistencia-ao-neocolonialismo-madagascar.htm

Acesso em 17/09/2020

Maio de 1968

Maio de 1968 ficou mundialmente conhecido por ter sido o mês no qual manifestações – primeiro

estudantis e depois de trabalhadores – espalharam-se pela França. Esses protestos foram iniciados por

insatisfação dos estudantes com o sistema educacional francês e logo ganharam uma proporção que chegou a

abalar a estabilidade da Quinta República Francesa. Maio de 1968 tornou-se um ícone do fervor revolucionário

em todo o mundo.

Antecedentes

As agitações estudantis iniciadas na França em maio de 1968 estão inseridas em um contexto de

efervescência de ideias. Acontecimentos daquele período são extremamente relevantes para entender as

inspirações desse movimento. Maio de 1968 foi fruto de um período em que ideais revolucionários e

movimentos de contracultura popularizaram-se.

Dentro do contexto histórico da década de 1960, pode ser destacado inicialmente um dos grandes

acontecimentos daquele período: a Guerra do Vietnã. Esse conflito foi travado entre americanos e norte-

vietnamitas entre 1959 e 1975 e foi extremamente impopular em todo o planeta por causa das violências

cometidas nesse conflito.

Um ponto relevante a se destacar é que exatamente em 1968 foi iniciada no Vietnã a Ofensiva do Tet,

um dos momentos mais importantes da guerra. A Ofensiva do Tet foi organizada pelas tropas norte-vietnamitas

com o objetivo de forçar a retirada das tropas americanas do país, mas foi um verdadeiro fracasso. Essa fase

da guerra gerou repercussão extra porque imagens do conflito foram internacionalmente transmitidas e

registraram atos de violência cometidos por soldados americanos.

Isso gerou protestos nos Estados Unidos com parte da população exigindo a retirada das tropas

americanas do Vietnã. Além disso, o movimento que lutava pelos direitos civis dos negros repercutia tanto nos

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Estados Unidos quanto em outras partes do mundo, sobretudo porque, em abril de 1968, Martin Luther King –

um dos grandes nomes do movimento – foi assassinado.

Os protestos e a defesa por ideais e valores democráticos também tiveram repercussão no bloco

socialista. O ano de 1968 foi muito importante na Checoslováquia. Desde janeiro espalharam-se pelo país

protestos, que foram impulsionados pelo presidente no país. Este promovia uma tentativa de reforma no sentido

de pôr fim ao autoritarismo imposto pelos soviéticos. Isso ficou conhecido como Primavera de Praga.

Por fim, existia ainda a influência dos movimentos de luta armada, compostos por grupos guerrilheiros

em diferentes partes da América Latina e que lutavam contra os regimes militares instalados nesses países.

Além disso, havia também grupos armados que lutavam no continente africano durante o processo

de descolonização.

Todos esses acontecimentos repercutiram de uma forma ou outra nos movimentos estudantis franceses

que se baseavam no marxismo trotskista e maoista e também em ideais anarquistas. A revolta dos

estudantes, no entanto, foi motivada por questões internas relacionadas com o próprio sistema estudantil

francês.

Maio de 1968

Os protestos estudantis de maio de 1968 iniciaram-se com a mobilização dos estudantes da

Universidade de Paris, em Nanterre, localizada na região metropolitana de Paris. O crescimento do movimento

estudantil na França relacionou-se diretamente com o aumento do ingresso de jovens no Ensino Superior. Isso

aconteceu por causa do aumento da disponibilidade de vagas, que aconteceu pelo desenvolvimento do sistema

educacional francês no pós-guerra.

Apesar da turbulência de acontecimentos em um contexto internacional, internamente a França vivia um

momento de relativa tranquilidade. Essa calmaria era relativa, pois a França havia acabado de passar por

turbulências durante os anos da guerra com a Argélia. As tensões que estavam surgindo na sociedade francesa

relacionavam-se com outras questões.

Os grandes entraves da França estavam relacionados com as questões de trabalho e educação. No

aspecto educacional, existia uma grande insatisfação por causa das dúvidas relacionadas com o mundo do

trabalho, uma vez que as possibilidades de estabilidade profissional eram incertas. Na questão trabalhista, o

aumento do desemprego no país causava preocupação.

O maio de 1968 iniciou-se nas universidades francesas. Desde pelo menos 1966 o movimento estudantil

repercutia na França. No caso de Nanterre, local onde tudo se iniciou, a agitação estudantil acontecia desde

março de 1968, quando os estudantes haviam ocupado a administração da Universidade.

Dessa manifestação em Nanterre surgiu o Mouvementdu 22 mars (Movimento 22 de março), que tinha

uma orientação ideológica alinhada com o anarquismo e era liderado por Daniel Cohn-Bendit, um dos grandes

nomes dos protestos desse mês na França. Os protestos em Nanterre continuaram ocorrendo e, em 2 de maio,

confrontos dos estudantes com autoridades policiais aconteceram.

Os estudantes envolvidos nos protestos em Nanterre foram ameaçados de expulsão pela administração

da Universidade de Paris. Isso mobilizou mais estudantes de outras unidades, como a Sorbonne (a principal

unidade da Universidade de Paris). Os estudantes organizaram uma manifestação nas proximidades de

Sorbonne no dia 3 de maio. Os relatos narram a violência dos policiais que tentaram reprimir o protesto

estudantil.

A partir disso, a ação dos estudantes passou a ser mais organizada contra a violência policial, que

causava mais feridos e prendia mais manifestantes. Os estudantes começaram a organizar barricadas nas ruas

de Paris para barrar o avanço das tropas de choque da polícia parisiense.

No auge dos protestos estudantis, o ímpeto das manifestações espalhou-se para os trabalhadores, que

começaram a exigir melhores condições de trabalho. Os trabalhadores franceses invadiram e ocuparam seus

locais de trabalho e convocaram uma greve, a qual mobilizou dez milhões de trabalhadores franceses.

As manifestações estudantis que exigiam a renúncia do presidente francês Charles De Gaulle e a

grande mobilização dos trabalhadores ameaçaram a estabilidade do governo francês. De Gaulle balançou, mas

não caiu. Quando ele promoveu um aumento salarial de 35%, os trabalhadores francês retornaram ao trabalho.

Em junho de 1968, eleições convocadas por De Gaulle contaram com a vitória de seu partido.

No sentido de mobilizar mudanças políticas práticas na França, o maio de 1968 fracassou. A respeito

disso, o historiador britânico Eric Hobsbawm explica: “O motivo pelo qual 1968 (com seu prolongamento em

1969 e 1970) não foi a revolução, e jamais pareceu que seria ou poderia ser, era que apenas os estudantes, por

mais numerosos e mobilizáveis que fossem, não podiam fazê-la sozinhos. A efetividade política deles estava

em sua capacidade de agir como sinais e detonadores para grupos maiores mas que se inflamavam com

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menos facilidade. A partir da década de 1960, tiveram alguns êxitos nessa atuação. Provocaram enormes

ondas de greves operárias na França e Itália em 1968, mas, após vinte anos de melhoria sem paralelos para os

assalariados em economias de pleno emprego, revolução era a última coisa em que as massas proletárias

pensavam”. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/maio-1968.htm

Acesso em: 17/09/2020.

O Maio de 1968 e a luta dos direitos civis nos Estados Unidos

Paris foi o epicentro de um terremoto político em 1968, mas a sua abrangência foi global: de Beijing a

São Paulo; de Paris a Dakar; de Praga à Cidade do México; e de Córdoba a Berlim os protestos envolveram

distintas motivações que partilhavam um fundo comum: a crise de um modo de vida.

O mundo padronizado de produção fordista e consumo em massa parecia prometer uma sociedade

afluente mesmo para os países da periferia. As desigualdades de classe pareciam amenizadas, mas e as outras

opressões? Os jovens não tinham vivenciado as privações da guerra como seus pais, professores e

governantes e os desafiaram.

Embora Paris tenha concentrado a atenção mundial por causa de uma crise política e da maior greve

operária da História, foi nos Estados Unidos que vieram a lume os movimentos que moldariam a passagem da

sociedade autoconfiante dos trinta anos gloriosos para uma nova era de incertezas.

Rumo ao Vietnã

Em setembro de 1968 centenas de mulheres queimaram seus sutiãs em Atlantic City, durante o

concurso de Miss América. No dia 28 de junho de 1969, no bar Stonewall, em Nova York, aconteceu o que

deveria ser uma costumeira batida policial para prender gays. Mas daquela vez eles resistiram e

desencadearam tumultos que marcaram o início do gay liberation movement.

O movimento pela libertação sexual se combinou imediatamente aos protestos contra a guerra de

agressão dos Estados Unidos contra o Vietnã. A Ofensiva do Tet no primeiro dia do ano no calendário lunar do

Vietnã, a 30 de janeiro de 1968, tinha sido frustrante em termos militares, mas uma vitória junto à opinião

pública dos Estados Unidos.

Como revelaram os papéis secretos do Pentágono, encomendados em 1967 pelo secretário de defesa

Robert McNamara e publicados quatro anos depois, a manipulação da opinião pública era crucial. O repúdio à

guerra foi o estopim da revolta nas Cidades Universitárias. E o surgimento dos Panteras Negras, o seu efeito

mais significativo.

Todo poder ao povo

1968 também foi o ano em que Martin Luther King, ícone da vertente pacifista do movimento negro, foi

morto. Na época o diretor do FBI Edgard Hoover o considerava um radical e o mantinha sob vigilância.

Foi depois daquele assassinato que o Black Panther Party se fortaleceu. A organização atuou entre

1966 e 1982, inspirada nas variantes terceiro-mundistas do marxismo. Incorporou a causa gay e feminista.

Elaine Brown se tornou presidente entre 1974 e 1977 depois que Huey Newton teve que ir a Cuba, devido às

acusações de assassinato que pesavam contra ele.

O partido foi uma ameaça permanente ao governo. Não porque pudesse em algum momento conquistar

o poder, mas porque danificava a imagem de uma democracia apoiada em séculos de escravidão e numa

legislação abertamente racista.

Para combatê-lo as agências de segurança do governo prenderam seus líderes e difundiram drogas

baratas nos seus bairros. Diante de uma perseguição implacável e de um sistema eleitoral impenetrável, os

Panteras Negras consideravam que sua política não podia ser implementada com uma cédula (ballot), somente

com uma bala (bullet), na forte expressão de Kathleen Cleaver, uma das líderes do partido. No entanto, eles

estiveram longe de uma luta armada e solicitavam principalmente o direito constitucional de portarem armas e

serem julgados por iguais, isto é: negros.

Hannah Arendt, uma defensora dos direitos civis, constatou que a violência só entrou em cena com o

Black Power nos campi, mas liderada por estudantes negros “aceitos sem as qualificações necessárias” e com

o “interesse em diminuir os padrões acadêmicos”, ao contrário das “reivindicações morais desinteressadas de

alto nível dos rebeldes brancos” (On Violence, 1969).

Em Zabriskie Point (1970), de Antonioni, o fenômeno foi percebido por outro ângulo, o dos próprios

negros, quando Kathleen Cleaver aparece nas cenas semidocumentais do filme numa assembleia estudantil.

O fato é que o discurso dos estudantes brancos não tinha apoio fora da universidade, enquanto os

negros em Oakland ou qualquer outro lugar perfaziam uma luta comunitária que colocava em xeque o sistema

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como um todo, muito mais do que a performance dos situacionistas franceses ou a contracultura hippie da

Califórnia.

Foi neste Estado que um juiz decretou a prisão de Angela Davis, liderança negra e professora no

Departamento de Filosofia da Universidade da Califórnia, Los Angeles. Em outubro do ano seguinte agentes do

FBI a prenderam e o próprio presidente Nixon os congratulou pela captura de uma “perigosa terrorista”.

Além de 200 comitês locais pela libertação de Angela nos Estados Unidos, houve outros 67 no exterior.

Um fazendeiro branco pagou sua fiança e vários músicos a homenagearam em canções, como os Rolling

Stones, Bob Dylan, John Lennon e Yoko Ono. Não fazia sentido para aquela geração separar cultura e política.

Enfim, ela foi inocentada.

50 anos depois

O romancista negro James Baldwin deixou um manuscrito inacabado sobre os assassinatos de três

líderes da luta pelos direitos civis: Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King. O cineasta Raoul Peck usou

o manuscrito como roteiro de seu filme Eu não sou o seu negro.

É provável que Baldwin não se surpreendesse que ainda em 2014 haveria motins como o black lives

matter, mas dificilmente pensaria que seu manuscrito originasse um documentário indicado ao Oscar em 2016.

No mesmo ano, Moonlight, uma película com elenco só de negros, conquistou o prêmio de melhor filme. Obra

de uma beleza rara como se fosse um Bildungsroman, ela revela o crescimento de um ser humano e sua difícil

aceitação social como negro e gay. O próprio Baldwin vivenciou essa condição e retratou o tema em seu livro O

quarto de Giovanni, rejeitado pelas editoras em 1954.

Se a ampliação da cultura de tolerância, da literatura negra e de filmes reconhecidos pelo establishment

são um atestado das mudanças que 1968 despertou nas mentalidades, as regressões políticas estão sempre à

espreita. A história é tudo, menos uma caminhada idílica rumo à felicidade. Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/o-maio-de-1968-a-luta-dos-direitos-civis-nos-estados-unidos/

Acesso em: 17/09/2020.

ATIVIDADE AVALIATIVA

Primeira parte – 06 a 10/10

1. (Ufsm 2011) "A primeira coisa, portanto, é dizer-vos a vós mesmos: Não aceitarei mais o papel de escravo.

Não obedecerei às ordens como tais, mas desobedecerei quando estiverem em conflito com a minha

consciência. O assim chamado patrão poderá sussurrar-vos e tentar forçar-vos a servi-lo. Direis: Não, não vos

servirei por vosso dinheiro ou sob ameaça. Isso poderá implicar sofrimentos. Vossa prontidão em sofrer

acenderá a tocha da liberdade que não pode jamais ser apagada." (Mahatma Gandhi) In: MOTA, Myriam; BRAICK, Patrícia. História das cavernas ao Terceiro Milênio.

São Paulo: Moderna, 2005. p.119.

"Acenderá a tocha da liberdade que não pode jamais ser apagada" são palavras de Mahatma Gandhi (1869-

1948) que, no contexto da Guerra Fria, inspiraram movimentos como

a) o acirramento da disputa por armamentos nucleares entre os EUA e a URSS, objetivando a utilização do

arsenal nuclear como instrumento de dissuasão e amenização das disputas.

b) a reação dos países colonialistas europeus visando a diminuir o poder da Assembleia Geral da ONU e

reforçar o poder do Secretário Geral e do Conselho de Segurança.

c) as concessões unilaterais de independência às colônias que concordassem em formar alianças econômicas,

políticas e estratégicas com suas antigas metrópoles, como a Comunidade Britânica de Nações e a União

Francófona.

d) o reforço do regime de "apartheid" na África do Sul que, após prender o líder Nelson Mandela e condená-lo à

prisão perpétua, procurou expandir a segregação racial para os países vizinhos, como a Rodésia e a Namíbia.

e) o não alinhamento político, econômico e militar aos EUA ou à URSS, decisão tomada pelos países do

Terceiro Mundo reunidos na Conferência de Bandung, na Indonésia.

2. (ENEM 2012) Nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar

que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque

que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça. KING Jr., M. L. Eu tenho um sonho, 28 ago. 1963. Disponível em: www.palmares.gov.br.

Acesso em: 30 nov. 2011 (adaptado).

Page 8: ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA ELIZÂNGELA GLÓRIA …

8

O cenário vivenciado pela população negra, no sul dos Estados Unidos nos anos 1950, conduziu à mobilização

social. Nessa época, surgiram reivindicações que tinham como expoente Martin Luther King e objetivavam

a) a conquista de direitos civis para a população negra.

b) o apoio aos atos violentos patrocinados pelos negros em espaço urbano.

c) a supremacia das instituições religiosas em meio à comunidade negra sulista.

d) a incorporação dos negros no mercado de trabalho.

e) a aceitação da cultura negra como representante do modo de vida americano.

3. (PUC-SP 2017) “Pobreza, discriminação, segregação, linchamento e violência policial – tudo isso

caracterizava a vida dos negros dos Estados Unidos nos anos 50. Aproveitando as mensagens de liberdade e

prosperidade do discurso oficial e apoiados por seus aliados brancos, negros de todo o país, tanto dos estados

outrora escravistas do sul quanto dos do norte, construíram o mais importante movimento da história dos

Estados Unidos, o 'Movimento por Direitos Civis'. Conferindo à palavra 'liberdade' um novo sentido de igualdade

e reconhecimento de direitos e oportunidades, conseguiram mudar as relações raciais, políticas e sociais nos

Estados Unidos, inspirando outros americanos a lutar pelos seus direitos.” Sean Purdy. “O outro sonho americano”. In: História Viva, nº 54, abril de 2008.

Entre as vertentes que compuseram o movimento citado no texto, é correto citar

a) a mobilização pacifista contra a Guerra do Vietnã e a luta de Malcolm X pela conversão dos negros ao

catolicismo.

b) o princípio da resistência não violenta de Martin Luther King e a proposta de ação direta de autodefesa de

Malcolm X.

c) a defesa da plena harmonia entre brancos e negros dos Panteras Negras e o projeto de evangelização dos

negros de Martin Luther King.

d) o esforço de prestar assistência às comunidades que os Panteras Negras oprimiam e a rejeição das políticas

segregacionistas pela Ku Klux Klan.

e) o princípio da resistência não violenta de Malcom X e a proposta de ação direta de autodefesa de Martin

Luther King.

4. (UERJ 2013) O ônibus da história

Em 1º de dezembro de 1955, a costureira Rosa Parks recusou-se a ceder seu assento a um homem branco em

um ônibus municipal de Montgomery, no Alabama, conforme determinavam as leis do estado. Informada pelo

motorista que acabaria presa, a mulher preferiu ser levada para a cadeia - e, posteriormente, a julgamento. Sua

condenação pelo júri levou à formação daMontgomery ImprovementAssociation. A presidência da entidade foi

entregue ao pastor Martin Luther King. No dia da condenação de Rosa Parks, King discursou para uma multidão

reunida diante da Igreja Batista da Rua Holt: “Quero assegurar a todos que trabalharemos para fazer prevalecer

a justiça nos ônibus da cidade. Se estivermos errados, a Suprema Corte desta nação está errada. Se

estivermos errados, a Constituição dos Estados Unidos está errada. Se estivermos errados, Deus Todo-

Poderoso está errado”. Adaptado de vejaabril.com.br.

Assassinado em 1968, Martin Luther King iniciou suas atividades políticas em 1956, a partir do episódio relatado

na reportagem.

O principal resultado das propostas de Martin Luther King para a sociedade norte-americana está diretamente

relacionado com:

a) unificação das leis estaduais

b) expansão da igualdade social

c) regulação de causas trabalhistas

d) universalização dos direitos civis

e) implantação da sociedade comunista

5. (ENEM 2009) O ano de 1968 ficou conhecido pela efervescência social, tal como se pode comprovar pelo

seguinte trecho, retirado de texto sobre propostas preliminares para uma revolução cultural: “É preciso discutir

em todos os lugares e com todos. O dever de ser responsável e pensar politicamente diz respeito a todos, não é

Page 9: ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA ELIZÂNGELA GLÓRIA …

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privilégio de uma minoria de iniciados. Não devemos nos surpreender com o caos das ideias, pois essa é a

condição para a emergência de novas ideias. Os pais do regime devem compreender que autonomia não é uma

palavra vã; ela supõe a partilha do poder, ou seja, a mudança de sua natureza. Que ninguém tente rotular o

movimento atual; ele não tem etiquetas e não precisa delas”. Os movimentos sociais, que marcaram o ano de

1968,

a) foram manifestações desprovidas de conotação política, que tinham o objetivo de questionar a rigidez dos

padrões de comportamento social fundados em valores tradicionais da moral religiosa.

b) restringiram-se às sociedades de países desenvolvidos, onde a industrialização avançada, a penetração dos

meios de comunicação de massa e a alienação cultural que deles resultava eram mais evidentes.

c) resultaram no fortalecimento do conservadorismo político, social e religioso que prevaleceu nos países

ocidentais durante as décadas de 70 e 80.

d) tiveram baixa repercussão no plano político, apesar de seus fortes desdobramentos nos planos social e

cultural, expressos na mudança de costumes e na contracultura.

e) inspiraram futuras mobilizações, como o pacifismo, o ambientalismo, a promoção da equidade de gêneros e

a defesa dos direitos das minorias.

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Link para envio das respostas:

https://forms.gle/Deoppr3fmgKb9Smz9

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SEGUNDA PARTE – 13 a 17/10

Pan-africanismo: o conceito que mudou a história do negro no mundo contemporâneo

A ideologia Pan-africanista surgiu de um sentimento de solidariedade e consciência de uma origem

comum entre os negros do Caribe e dos Estados Unidos. Ambos estavam envolvidos numa luta semelhante

contra a violenta segregação racial. Essa solidariedade que marcou a segunda metade do séc. 19 propôs a

união de todos os povos da África como forma de potencializar a voz do continente no contexto internacional.

O termo Pan-africanismo foi cunhado pela primeira vez por Sylvester Willians, advogado negro de

Trinidad, por ocasião de uma conferência de intelectuais negros realizada em Londres, em 1900. Willians

levantava sua voz contra a expropriação das terras dos negros sul-africanos pelos europeus e conclamava o

direito dos negros à sua própria personalidade.

Essa reivindicação propiciou o surgimento de uma consciência africana que começou a se expressar a

partir do I Congresso Pan-africano, organizado em Paris, em 1919, sob a liderança de Du Bois. Naquela época,

Du Bois profetizou que o racismo seria um problema central no século 20 e reivindicou um Código Internacional

que garantisse, na África tropical, o direito dos nativos, bem como um plano gradual que conduzisse à

emancipação final das colônias.

Repercussão

Após o primeiro, foram realizados outros quatro congressos pan-africanos. No último, foi tratado de

aclamar a necessidade da formação de movimentos nacionalistas de massas para obterem a independência da

África o mais rápido possível. No Brasil, o Congresso de Cultura Negra realizado a partir da década de 1970 foi

o principal reflexo do movimento.

O ativista Abdias Nascimento foi o difusor da importância do Pan-africanismo no país. Considerado um

dos maiores defensores da cultura e igualdade para as populações afrodescendentes, ele conseguiu resultados

positivos a partir de suas iniciativas na defesa e na inclusão dos direitos dos negros.

A partir das lutas marcadas pelo pan-africanismo, na contemporaneidade o Governo Brasileiro trabalha

alternativas políticas e ações afirmativas que garantam a melhoria da qualidade de vida da população

afrodescendente. O principal objetivo é o alcance da democracia. O maior desafio continua a ser o racismo.

Porém, com um olhar mais sensível, o Estado passa superar os obstáculos do desenvolvimento democrático. Disponível em: http://www.palmares.gov.br/?p=26286

Acesso em 17/09/2020

O pan-africanismo

O pan-africanismo é uma ideologia que propõe a união de todos os povos da África como forma de

potencializar a voz do continente no contexto internacional. Relativamente popular entre as elites africanas ao

longo das lutas pela independência da segunda metade do século XX, em parte responsável pelo surgimento

da Organização de Unidade Africana, o pan-africanismo tem sido mais defendido fora de África, entre os

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descendentes dos africanos escravizados que foram levados para a América até o meio do século XIX e das

pessoas de descendência africana subsaariana emigradas do continente africano após a Década de 1960.

Eles propunham a unidade política de toda a África e o reagrupamento das diferentes etnias, divididas

pelas imposições dos colonizadores. Valorizavam a realização de cultos aos ancestrais e defendiam a

ampliação do uso das línguas e dialetos africanos, proibidos ou limitados pelos colonizadores.

Em outras palavras, o pan-africanismo é um movimento político, filosófico e social que promove a defesa dos

direitos do povo africano e da unidade do continente africano no âmbito de um único Estado soberano, para

todos os africanos, tanto na África como em diáspora.

A teoria pan-africanista foi desenvolvida principalmente pelos indivíduos na diáspora americana

descendentes de africanos escravizados e pessoas nascidas na África a partir de meados do final do século XIX

como William Edward Burghardt Du Bois e Marcus MosiahGarvey, entre outros, e posteriormente levados para

a arena política por africanos como KwameNkrumah. No Brasil foi divulgada amplamente por Abdias

Nascimento.

Normalmente se consideram Henry Sylvester-Williams e o Dr. William Edward Burghardt Du Bois como

os pais da pan-africanismo. No entanto, este movimento social, com várias vertentes, que têm uma história que

remonta ao início do século XIX. O pan-africanismo tem influenciado a África a ponto de alterar radicalmente a

sua paisagem política e ser decisiva para a independência dos países africanos. Ainda assim, o movimento tem

conseguido dois dos seus principais objetivos, a unidade espiritual e política da África, sob o pretexto de um

Estado único, e pela capacidade de criar condições de prosperidade para todos os africanos.

Pan-africanismo vem do grego, pan (toda) e africanismo (referindo-se a elementos africanos). A origem

do termo é inserido na corrente filosófica-política historicista do século XIX sobre o destino dos povos. E a

necessidade de a unidade de grandes conjuntos culturais ou “nações naturais” a partir do expansionismo

imperialista ocidental. É discutido se a autoria da expressão pertence a William Edward Burghardt Du Bois ou

Henry Sylvester Williams.

Em meados do século XX o Pan-africanismo foi explicado como a doutrina política defendida pela

irmandade africana, libertação do continente africano de seus colonizadores e ao estabelecimento de um

Estado que buscasse a unificação de todo o continente sob um governo africano. Alguns teóricos como George

Padmore acrescentaram a partir da Segunda Guerra Mundial, que o governo pan-africano deveria ser gerido

segundo as premissas do socialismo cientifico. Outros teóricos postularam o caminho

do rastafarianismo político, que defende um governo imperial.

Originalmente, o pan-africanismo centrava-se mais sobre a questão racial que na geográfica. Ainda hoje

há muitos que defendam o caminho radicalista, visto os problemas de integração do norte da África, que conta

com uma historia de etnia árabe, em uma unidade cultural coerente com a África Subsaariana, de população

negra. Os objetivos do pan-africanismo atual, ainda que sejam semelhantes aos originais, mudaram.

No início do século XIX, a escravatura ainda estava em vigor no sul dos Estados Unidos, mas não no

norte, graças um decreto de 1787, que estabelecia o limite legal no Rio Ohio. Uma minoria de negros no norte

tinha atingido uma posição socioeconômica próspera e alguns dos representantes desta classe começaram a

desenvolver um sentimento de fraternidade racial que resultou no movimento "de volta para a África". Entre eles

Paul Cuffe, um negro nascido livre, de pai africano e mãe ameríndia, que promoveu em 1815 uma tímida

experiência de repatriamento para a África, antecessora da Sociedade Americana de Colonização fundadora

da Libéria, mas os custos da empreitada dissuadiram-no.

No substrato intelectual que propiciou os movimentos abolicionistas, surgiram desde o início duas

tendências na América do Norte: por um lado, os que acreditavam que a escravatura iria acabar, de uma forma

ou de outra, e que era necessário encontrar uma casa para ex-escravos na África, a sua terra de origem. Os

britânicos tinham estabelecido uma colônia na Serra Leoa entre 1787 e 1808, que se destinava às pessoas

libertas dos barcos escravistas que capturavam.

O outro ponto de vista era dos que afirmavam que os descendentes dos escravos deviam permanecer

na América e que inclusive tinham que ser capazes de uma subsistência independente. Mas, entre os mais

acirrados abolicionista, não se acreditava que a raça negra e a raça branca podiam viver no mesmo espaço e

prosperar sem um perpétuo conflito. Foi levado em consideração e pensado pelas próprias pessoas negras que,

de uma forma ou de outra, seriam exploradas pelo sistema do homem branco, enquanto não tivessem a sua

própria pátria. O elevado custo de envio de tantas pessoas para a África, fez com que a a segunda opção

prevalecesse. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pan-

africanismo#:~:text=Em%20meados%20do%20s%C3%A9culo%20XX,continente%20sob%20um%20governo%20africano.

Acesso em: 17/09/2020.

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O PANAFRICANISMO NA FIGURA DE AGOSTINHO NETO

O Panafricanismo africano tem as suas origens no combate iniciado pelos negros americanos e

antilhanos contra a dominação por parte da pessoas de raça branca. Este movimento começou no século XIX,

mas rapidamente os afro-americanos compreenderam que a mesma opressão era vivida pelos seus ancestrais

no continente africano e, a exportação do idealismo da igualdade foi expandido para África.

O panafricanismo no continente Americano apresentou várias facetas, alguns precursores, como William

Edward Burghardt Du Bois preconizava uma igualdade de direitos entre brancos e negros sem qualquer

discriminação de raça, origem social ou credo religioso. Mas outros, como o Jamaicano, Marcus Garvei, eram

mais radicais e defendiam o retorno de todos os afro-americanos para o continente da sua origem

(YacoubaZerbo 2005:20). Até ao finais do Sec. XIX, o panafricanismo aparece como protesto, reclamação de

inclusão e um certo saudosismo de terra que já não existia: África unida, com os seus reinos autónomos e

tradicionais, com as suas politicas e organização própria.

Embora, Henry Sylvester Wllliam, tenha sido o primeiro a reclamar a extensão dos direitos de igualdade

para lá do Atlântico, quando na conferência de Londres, em 1900, fez as seguintes reivindicais:

– Assegurar os direitos civis e políticos dos africanos em todo o mundo;

– Melhorar as condições dos africanos em qualquer lugar onde se encontrem;

– Promover esforços para assegurar uma legislação efectiva e encorajar os povos africanos nas

empresas educativas, industriais e comerciais e;

– Incrementar a cooperação entre os três Estados negros: Haiti, Abissínia e Libéria, através do envio de

um memorando aos Chefe de Estado dos três Estados, sublinhando a necessidade urgente de

consolidarem os seus interesses e combinarem os esforços no plano diplomático (Michel Kounou

2007:107).

Na conferência de Londres há uma espécie de desejo de integração e igualdade entre todas as raças e

não independência, autonomia e separação dos povos africanos em relação a dominação Ocidental branca.

Portanto, a autodeterminação, a independência ainda está na forja, até porque os protagonistas são

descendentes de escravos africanos negros, mas não nasceram em África e tinham pouco contacto com o

continente ou com pessoas esclarecidas saídas do continente.

Embora esta lacuna não impediu o sentimento de pertença, o contacto esporádico com estudantes das

colónias nas metrópoles (Londres, Paris e Nova York ou Washington).

Dubois foi o primeiro a transpor o panafricanismo para uma dimensão transatlântica com contornos

autonomistas. Na conferência de Paris de 1919, Dubois reclama, conforme os princípios proclamados pelo

Presidente Woudrow Wilson, “o direito dos povos disporem de si próprios”.

Procurando assegurar o direito dos negros na América e alterar o estado de alienação cultural reinante

na época. A reivindicação de melhores condições para os negros é rapidamente estendida para os povos

africanos, facto que se concretiza no Congresso de Manchester, Inglaterra, onde aparece KwameNkrumah

como participante activo, com as seguintes reivindicações:

A) Reconhecimento do direito sindical em África;

B) O direito de associação e;

C) A independência da Algéria, Tunizia e do Reino do Marrocos (Decraene 1961:120-128).

Neste momento começa a transposição das reivindicações para uma autonomia em África e, começa

também o verdadeiro nacionalismo africano com os contornos que derem origem a actual configuração do

continente, este novo conceito é consumado no mote de Nkruma “povos colonizados e subjugados do mundo,

uni-vos”. A partir daqui nasce o panafricanismo com o envolvimento de nacionalistas africanos ou nascidos em

África.

O panafricanismo em África tem contornos revisionistas, ou seja, a maior parte dos precursores não

reclama uma igualdade de direitos de cidadania, mas a emancipação dos povos africanos, a autodeterminação,

enfim, a independência dos povos e dos territórios do continente. Portanto, o panafricanismo em África

transformou-se em luta anti-colonial ao contrário do que acontecia com os afro-americanos que reclamavam

inclusão e igualdade de tratamento.

Há uma evolução política/ideológica na passagem do panafricanismo dos afro-americanos para o

continente africano propriamente dito. No continente africano, numa primeira fase, existiram pretensões

federalistas, tais como o movimento panafricanista de NamdiAzikiwe que criou “o Concelho Nacional da Nigéria

e dos Camarões” (NCNC), podemos também citar o modelo do “Convention People Party” dirigida por Nkrumah,

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que embora esteve limitado ao Gana, se inscreveu com o status de uma realização imperiosa para “criação de

uma federação do Oeste africano”, a primeira etapa da via para o panafricanismo (Zerbo 2004:16). Mas

podemos acrescentar ainda Movimento panafricano para a Libertação da África do Leste e Central

(PanafricanFreedomMovement for Eastand Central África – PAFMECA).

A euforia apoderou-se dos intelectuais africanos que fizeram do panafricanismo um movimento de

vanguarda: SékouTouré (Guiné); JomoKenyatta (Kennya); ModiboKeita (Mali) e; GamelAbd El Nasser (Egipto)

impulsionaram o movimento e reivindicaram a independência de todos os territórios africanos, perspectivando

uma unidade federal do continente. Neste sentido, foi realizada a conferência de Accra de 15 a 22 de Abril e de

6 a 13 de Dezembro de 1958, onde se preconizou uma federação multinacional dos Povos com base na

igualdade e nas solidariedade panafricanista: o Congresso Constitutivo do PRA (Parti duRegroupementafrican),

reunidos em Cotonou, de 25 a 27 de Julho, forja o método e a base para a unidade africana. As bases principais

passavam pelo protesto contra a dominação política, jurídica, intelectual e moral da Europa. As principais

reivindicações eram a conquista da independência, o direito ao desenvolvimento e ao não-alinhamento. Isso

pode ser constado nas conclusões da Conferência de Bandung de 1955:

· Respeito pelos direitos fundamentais do homem;

· Respeito pela soberania e integridade territorial e todas as nações;

· Reconhecimento de igualdade entre todas as raças e todas as nações, grandes ou pequenas;

· Não ingerência dos assuntos interno dos outros estados;

· Abstenção do recurso de mecanismo de defesa coletiva com vista servir os interesses particulares de

nenhuma das grandes potências;

· Abstenção, por parte de todos os estados, de exercer pressão outros Estados e;

· Regularização de todas as disputas por meios pacíficos.

A globalidade da dimensão politica é eleva ao nacionalismo africano quando Cheikh Anta Diop declara

que: “Seule l’ existance d ÈtatindépendentspermettraauxAfricains de s épanouirpleinement”. A partir desta

altura, por toda a África, nascem momentos nacionalistas a reclamar a independência dos seus territórios com

base nas fronteiras traçadas pela Conferência de Berlim em 1854/1855.

A partir da década de 50 começam a nascer os movimentos de libertação dos PALOP (Países Africanos

de Língua Oficial Portuguesa) que se enquadraram no espírito panafricanista de libertação do continente contra

o jugo colonial. O MPLA foi um desses momentos liderado pelo nosso homenageado, o saudoso Dr. António

Agostinho Neto, que pode ser apontado como um dos panafricanistas mais convictos que via a luta de

libertação nacional como condição indispensável para cria do bem-estar do cidadão angolano.

A nível interno, no MPLA e na maioria dos Movimentos de Libertação Nacional em África, houve sempre

algumas controvérsias sobre a forma como a luta de libertação dos povos africanos deveria decorrer. Alguns

defendiam uma luta autóctone própria e discriminatória, apenas os descendente de negros africanos deviam

estar nas primeiras fileiras para o combate ao colonialismo. Mas, António Agostinho Neto era um panafricanista

moderado, nunca foi de extremos e preconizava uma luta integrada por todos os que idealizavam uma Angola

independente, sem descriminação de raça, credo religioso ou status social.

Apesar de ter sido várias vezes preso, sempre defendeu que a relação entre os povos deveria continuar

e nunca confundiu o sistema colonial português com o povo português que, segundo ele, também sofria as

amarguras da ditadura. Isso permitiu a emergência de uma relação de solidariedade por parte de uma franja da

sociedade portuguesa que apoiou a luta de libertação de Angola. Este facto é visível na ajuda que o Presidente

Neto teve para fugir de Portugal em 1962.

Depois do alcance da Independência de Angola em 1975, o Presidente Neto declarou sempre a

solidariedade do governo e do povo angolano para com os povos de África e, fê-lo na prática.

Neto dizia: “Não podemos considerar o nosso país verdadeiramente livre se outros povos do continente

se encontram ainda sob o jugo colonial”. Esta convicção levou Angola a ter um papel chave na luta para o fim

do regime racista do Apartheid na África do Sul e para as Independências do Zimbabué e da Namíbia.

O discurso do Presidente Neto era conciliador, entendia o bem-estar como um direito dos povos

africanos, a aquisição da cidadania e o desenvolvimento equitativo de todos os cidadãos do continente. Neste

sentido Agostinho Neto declarou: “Angola é e será, por vontade própria trincheira firme da revolução em África”.

O sonho de ver uma Africa livre e integrada fez de Neto um frequente participante das reuniões da OUA

e também comungava da criação de uma federação africana para melhor resolver os problemas que assolavam

e continuam a assolar o continente. Portanto, a figura de Neto ultrapassa o simples nacionalismo angolano.

Neto tinha uma visão abrangente à todos os povos oprimidos do mundo. Como homem, Médico de profissão,

proeminente poeta e político com qualidades indiscutíveis, o Presidente António Agostinho Neto é um filho de

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África e um cidadão do mundo, por isso, esta homenagem a que temos a mais elevada honra de participar e

verdadeiramente justa e merecida.

O pensamento de Neto, a sua poesia e os projectos que os panafricanista sonharam para África serão

concretizados se os actos de reconhecimento como este forem realizados com maior frequência. Cabe aos

homens de hoje, a juventude e as instituições, como a Fundação Harris MemelFotê, fazer a promoção do saber

e perpetuação do pensamento e da história africana, enquanto património mundial. O Presidente Dr. António

Agostinho Neto é uma das figuras que em vida deu o seu contributo, os resultados são visíveis até aos nossos

dias, portanto bem-haja a esta homenagem que nos reúne aqui nesta acolhedora cidade de Abidjan, capital da

Cote D´Ivoire. Disponível em: https://www.geledes.org.br/o-panafricanismo-na-figura-de-agostinho-neto/

Acesso em 17/09/2020.

Conflitos internos na África

Os conflitos internos na África são causados, principalmente, pelo modelo de colonização implantado

nesse continente.

Embora tenha sido o palco do desenvolvimento de grandes e ricas civilizações, a África possui

atualmente os piores indicadores sociais do mundo. Grande parte de sua população enfrenta problemas sociais

graves, como a fome, a subnutrição e a proliferação de doenças, que causam uma grande mortalidade da

população na maioria dos países africanos. Entre as várias razões para essa situação tão crítica, que já começa

a apresentar sinais de melhora, destacam-se, em virtude de sua relevância, os conflitos internos que

causaram a morte de milhares de pessoas e atrasaram o desenvolvimento econômico e social da maioria dos

países africanos.

A origem desses conflitos está relacionada com o modelo de colonização implantado no continente

durante o século XIX. Com o desenvolvimento industrial da maioria das grandes potências da Europa e a

independência de suas colônias americanas, os países europeus aceleraram a exploração do continente

africano para garantir o abastecimento de matérias-primas em suas indústrias.

A divisão do continente africano foi definida pela Conferência de Berlim (1884-1885) e baseou-se

exclusivamente nos interesses das potências europeias, não considerando as diferenças culturais dos povos

que viviam no território africano. Com o enfraquecimento das potências europeias após a Segunda Guerra

Mundial, vários países africanos conquistaram a sua independência. Apesar de terem se tornado

independentes, a maior parte dos Estados africanos desenvolveu-se sem uma identidade nacional ou condições

básicas de sobrevivência.

Como a colonização do continente africano baseou-se na exploração dos recursos naturais do

continente e na produção de produtos agropecuários nas plantations, os Estados africanos não possuíam uma

estrutura que favorecesse o desenvolvimento econômico e social para garantir a sua soberania nacional. Além

disso, a maioria dos países da África não foi formada a partir de uma nação ou da convivência natural de várias

nações, mas, sim, por um conjunto de etnias, com características culturais muito diferentes, que muitas vezes

foram obrigadas pelos colonizadores a conviver em um mesmo espaço e continuaram a fazer parte do mesmo

território após a independência.

Sem o auxílio das antigas potências, que antes reprimiam qualquer conflito em território africano com

extrema violência, surgiram vários conflitos internos na maioria dos países africanos. Os conflitos mais violentos

aconteceram em Ruanda, Mali, Senegal, Burundi, Libéria, Congo, Somália, Serra Leoa, Etiópia, Argélia, Sudão

e África do Sul e foram motivados por diversas razões, a saber:

As diferenças culturais da população: Com a definição arbitrária das fronteiras, de acordo com os

interesses dos colonizadores, várias etnias foram obrigadas a conviver em um mesmo território nacional.

Após a independência, essas etnias entraram em conflito para definir qual delas governaria o país. Um

exemplo disso foi o conflito interno em Ruanda que foi motivado por uma disputa entre a maioria hutus e

a minoria tutsi pelo poder no país, ocasionando o genocídio de mais de 800 mil pessoas. O conflito só

teve fim com a assinatura de um acordo de paz em 1994.

Disputas territoriais: Após a independência, alguns países entraram em conflito para redefinir suas

fronteiras, o que causou muitas mortes. Um exemplo disso foi a disputa territorial entre a Somália e a

Etiópia para definir a quem pertenceria o deserto de Ogaden na década de 1970. O conflito teve fim em

1988 e provocou uma intensa crise econômica nos dois países, principalmente na Somália, o que

motivou o surgimento de diversos grupos políticos que disputavam o poder do país ou reivindicavam a

sua independência, como no caso da região da Eritreia, que pertencia à Etiópia.

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Subdesenvolvimento: Como grande parte dos países africanos não possui condições sociais e

econômicas que garantam a sobrevivência de sua população, é muito comum a ocorrência de revoltas

ocasionadas pela insatisfação popular em razão da falta de alimento, trabalho, moradia etc.

Causas ambientais: Vários conflitos territoriais foram motivados pelo controle de recursos naturais,

escassez de água etc. Disponível em: https://www.preparaenem.com/geografia/conflitos-internos-na-africa.htm

Acesso em: 17/09/2020.

ATIVIDADE AVALIATIVA

Segunda parte – 13 a 17/10

1. (ENEM 2015) Ó negro da África, negros de todo o mundo

Voz do sangue

Palpitam-me

os sons do batuque

e os ritmos melancólicos do blue.

Ó negro esfarrapado

do Harlem

ó dançarino de Chicago

ó negro servidor do South

Ó negro da África

negros de todo o mundo

Eu junto

ao vosso magnifico canto

a minha pobre voz

os meus humildes ritmos.

Eu vos acompanho

pelas emaranhadas Áfricas

do nosso Rumo.

Eu vos sinto

negros de todo o mundo

eu vivo a nossa história

meus irmãos. Disponível em: www.agostinhoneto.org. Acesso em: 30 jun. 2015.

Nesse poema, o líder angolano Agostinho Neto, na década de 40, evoca o pan-africanismo com o objetivo de

a) incitar a luta por políticas de ações afirmativas na América e na África.

b) reconhecer as desigualdades sociais entre os negros de Angola e dos Estados Unidos.

c) descrever o quadro de pobreza após os processos de independência no continente africano.

d) solicitar o engajamento dos negros estadunidenses na luta armada pela independência em Angola.

e) conclamar as populações negras de diferentes países a apoiar as lutas por igualdade e independência.

2. (Upf 2012) Aponte a assertiva correta com base na história do processo de independência das colônias

africanas.

a) A descolonização foi uma iniciativa dos colonizadores, que, conscientes da importância do princípio de

autodeterminação dos povos, afastam-se para deixar que cada nação africana ainda regida por europeus seja

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independente.

b) Muitas lideranças africanas implementaram ditaduras pautadas na força quando da sua independência em

relação aos europeus.

c) A luta anticolonial foi estimulada pela Segunda Guerra Mundial, quando soldados das colônias foram

incorporados aos exércitos nas batalhas da Europa e obtiveram direitos políticos para suas nações em função

de sua participação na derrocada do nazifascismo.

d) Apesar de alguns líderes africanos terem se destacado na luta pela independência, o processo foi

solucionado de forma pacífica, evidenciando a conscientização de todos os envolvidos.

e) O Pan-Africanismo visava congregar as nações independentes em entidades desportivas que auxiliassem na

sua afirmação identitária nacional, fazendo uso da Copa da África, Copa do Mundo e Olimpíadas para reforçar a

união de suas populações.

3. (Acafe 2014) Durante o período da Guerra Fria as ideias do pan-africanismo e o pan-arabismo foram

relevantes na afirmação de diversos movimentos de libertação e de independência na África e Oriente Médio.

Acerca desses movimentos e de suas proposições e correlações é correto afirmar, exceto:

a) No Oriente Médio, o pan-arabismo teve no presidente egípcio Gamal Abdel Nasser uma de suas principais

lideranças. Nasser defendia a união dos povos árabes contra a forte presença dos EUA e de Israel.

b) Das potências europeias coloniais, França e Reino Unido apoiaram a agenda dos dois movimentos, já que

viam os mesmos como forma de impedir a expansão dos interesses soviéticos na África e no Oriente Médio.

c) O pan-africanismo inspirou vários movimentos de libertação nesse continente. A intenção de criar “uma

identidade africana” era instrumento ideológico de aproximação dos povos na luta contra as metrópoles.

d) Outro alvo do movimento pan-africanista era o racista regime sul-africano que se perpetuou no poder através

do Apartheid, por décadas.

e) Foram movimentos que lutavam pelo direito de autodeterminação dos povos africanos e asiáticos.

4. (Fuvest 2011) “África vive (...) prisioneira de um passado inventado por outros.” Mia Couto, Um retrato sem moldura, In: HERNANDEZ, Leila,

A África na sala de aula. São Paulo: Selo Negro, p.11, 2005.

A frase acima se justifica porque

a) os movimentos de independência na África foram patrocinados pelos países imperialistas, com o objetivo de

garantir a exploração econômica do continente.

b) os distintos povos da África preferem negar suas origens étnicas e culturais, pois não há espaço, no mundo

de hoje, para a defesa da identidade cultural africana.

c) a colonização britânica do litoral atlântico da África provocou a definitiva associação do continente à

escravidão e sua submissão aos projetos de hegemonia europeia no Ocidente.

d) os atuais conflitos dentro do continente são comandados por potências estrangeiras, interessadas em dividir

a África para explorar mais facilmente suas riquezas.

e) a maioria das divisões políticas da África definidas pelos colonizadores se manteve, em linhas gerais, mesmo

após os movimentos de independência.

5. (Fgvrj 2012)

Até que a filosofia que sustenta uma raça

Superior e outra inferior

Seja finalmente e permanentemente desacreditada e abandonada,

Haverá guerra, eu digo, guerra.

(...)

Até que os regimes ignóbeis e infelizes,

Que aprisionam nossos irmãos em Angola, em Moçambique,

África do Sul, em condições subumanas,

Sejam derrubados e inteiramente destruídos, haverá

Guerra, eu disse, guerra.

(...)

Até esse dia, o continente africano

Page 16: ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA ELIZÂNGELA GLÓRIA …

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Não conhecerá a paz, nós, africanos, lutaremos,

Se necessário, e sabemos que vamos vencer,

Porque estamos confiantes na vitória

Do bem sobre o mal,

Do bem sobre o mal... War. Bob Marley, 1976.

A canção War foi composta por Bob Marley, a partir do discurso pronunciado pelo imperador da Etiópia, Hailé

Selassié (1892-1975) em 1936, na Liga das Nações. As ideias do discurso, presentes na letra da canção acima,

estão associadas:

a) Ao darwinismo social, que propunha a superioridade africana sobre as demais raças humanas.

b) Ao futurismo, que consagrava a ideia da guerra como a higiene e renovação do mundo.

c) Ao pan-africanismo, que defendia a existência de uma identidade comum aos negros africanos e a seus

descendentes.

d) Ao sionismo, que defendia que o imperador Selassié era descendente do rei Salomão e da rainha de Sabá e

deveria assumir o governo de Israel.

e) Ao apartheid, que defendia a superioridade branca e a política de segregação racial na África do Sul.

6. Autoavaliação da aprendizagem:

Como você avalia a sua aprendizagem acerca do Objeto de Conhecimento (Conteúdos) deste Roteiro de

Estudos?

( ) Estudei e entendi todo o conteúdo;

( ) Estudei e entendi parcialmente o conteúdo;

( ) Estudei e não compreendi o conteúdo;

( ) Não estudei o conteúdo, apenas respondi as atividades.

Justifique sua resposta evidenciando suas dificuldades.

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Link para envio das respostas:

https://forms.gle/Q8M8NRShMdiMHYcx7

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ATIVIDADES COMPLEMENTARES

Para quem dispõe de recursos tecnológicos e

acesso à internet.

Assistir aos vídeos nos links abaixo:

Entenda o que é o pan- africanismo:

https://www.youtube.com/watch?v=UGVCPAqboxs

União Africana: 50 anos do sonho pan-

africano

https://www.youtube.com/watch?v=Ymp7UZEb83Q

⮚ Pan-africanismo e sua origem

https://www.youtube.com/watch?v=0TqHZLJXJNI

Colonialismo em África: modelos de

resistência

https://www.youtube.com/watch?v=HeYKPwmwkzQ