Estilística - Universidade de...

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Estilística Prof. Luciano Taveira de Azevedo 2 a edição | Nead - UPE 2013

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EstilísticaProf. Luciano Taveira de Azevedo

2a edição | Nead - UPE 2013

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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)Núcleo de Educação à Distância - Universidade de Pernambuco - Recife

Azevedo, Luciano Taveira de

Letras: Estilística/ Luciano Taveira de Azevedo - Recife: UPE/NEAD, 2012.

44 p.

Xxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxx Xxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxx. xxxxxxxxxxxx Universidade de Pernambuco, Núcleo de Educação à Distância II. Título

XXX – xxx. – xxx.xxx Xxxxxxxxxxxxx Xxxx – XXX/xxxxx xxxxxxxxxxxx

XXXX

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Reitor

Vice-Reitor

Pró-Reitor Administrativo

Pró-Reitor de Planejamento

Pró-Reitor de Graduação

Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa

Pró-Reitor de Extensão e Cultura

Pró-Reitor de Integração e Fortalecimento da Interiorização

Prof. Carlos Fernando de Araújo Calado

Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque

Prof. Rosângela

Prof. Béda Barkokébas Jr.

Profa. Izabel Christina de Avelar Silva

Profa. Viviane Colares S. de Andrade Amorim

Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque

Prof. Pedro Henrique de Barros Falcão

UNIVERsIDADE DE PERNAmbUCo - UPE

NEAD - NÚCLEo DE EDUCAÇÃo A DIsTÂNCIA

Coordenador Geral

Coordenador Adjunto

Assessora da Coordenação Geral

Coordenação de Curso

Coordenação Pedagógica

Coordenação de Revisão Gramatical

Gerente de Projetos

Administração do Ambiente

Coordenação de Design e Produção

Equipe de design

Coordenação de suporte

EDIÇÃo 2013

Prof. Renato Medeiros de Moraes

Prof. Walmir Soares da Silva Júnior

Profa. Waldete Arantes

Profa. Francisca Núbia Bezerra e Silva

Profa. Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima

Profa. Angela Maria Borges CavalcantiProfa. Eveline Mendes Costa LopesProfa. Geruza Viana da Silva.

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José Alexandro Viana FonsecaProf. José Lopes Ferreira JúniorValquíria de Oliveira Leal

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Afonso BioneWilma Sali

Impresso no Brasil - Tiragem 150 exemplaresAv. Agamenon Magalhães, s/n - Santo AmaroRecife - Pernambuco - CEP: 50103-010Fone: (81) 3183.3691 - Fax: (81) 3183.3664

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Estilística

Prof. Luciano Taveira de AzevedoCarga Horária | 60 horas

EmEnta

Componentes estilísticos da Língua Portuguesa: fonético, lexical, morfológico e sintático; linguagem figurada; o vocabulário Português; figuras de linguagem; fraseologia; clichê; artigos, nomes e outras classes gramaticais na perspectiva estilística.

ObjEtivO GEral

Contribuir com a formação do aluno de Letras no que diz respeito à reflexão acerca dos processos que envolvem a expressão estética da palavra

aprEsEntaçãO da disciplina

Estimado estudante,

É com muita alegria que elaboramos mais um livro que procura atender às ne-cessidades do curso de Letras na modalidade a distância. Desta vez, a disciplina sobre a qual este livro discorrerá é a Estilística. Como veremos ao longo destas páginas, a Estilística volta-se para aquilo que, no nível da forma e do conteúdo, constitui um uso individual da língua. É o estilo individual de cada produtor de textos que permite reconhecermos a produção literária, por exemplo, de um determinado escritor. Em Aristóteles (384-322 a.C.), já encontramos as primeiras reflexões acerca do estilo quando discorre sobre retórica, de maneira que o in-teresse pelo estudo, acerca da expressividade, não é recente. Em nosso material, decidimos apresentar, por um lado, os conceitos gerais e tradicionais dos casos compreendidos no âmbito da Estilística e, por outro, desenvolver uma discussão acerca da relação entre texto, expressividade e discurso. Valendo-se de teorias que advêm do estudo sobre texto e discurso, proporemos uma reflexão que não se restrinja apenas à palavra e/ou à frase, mas assuma também o texto em seus aspectos enunciativos e discursivos. É com esse objetivo em mente que damos início à escritura deste livro. Bons estudos.

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7Capítulo 1 77Capítulo 1

ObjEtivOs EspEcíficOs

• ApresentaraoalunoosfundamentoshistóricosdaEstilística;

• RefletiracercadosrecursosestilísticosdisponíveisnaLínguaPortuguesa;

• Possibilitaroconhecimentodosdiversosrecursosexpressivosagenciadosna produção de sentido.

intrOduçãO

Caríssimo estudante,

Neste capítulo, traçaremos o percurso histórico e teórico da Estilística. Nessa direção, apresentaremos os diferentes conceitos que foram sendo agregados ao campo da Estilística de acordo com a orientação teórica na qual figurava. Para en-tendermos o conceito de Estilística, palavra que aparece pela primeira vez em lín-gua portuguesa no ano de 1899, faz-se necessário remontarmos ao antigo estudo deRetóricaePoética,umavezqueoseuconceitomodernodeveaessesconceitosseu caráter vinculado à expressão do pensamento e do sentimento. Em seguida, passearemos pelos diferentes entendimentos do termo estilística na história das Ciências da Linguagem e, por fim, apresentaremos suas duas grandes correntes: a estilística descritiva e idealista. Vamos começar nossa viagem? Bons estudos!Prof. Luciano Azevedo

1. para iníciO dE cOnvErsa...

Afinal de contas, o que é estilo? É com essa pergunta que damos início à nos-sa jornada rumo ao conhecimento dos processos que singularizam as práticas

Estilística:brEvE ExcursO tEóricO

E HistóricO

Prof. Luciano Taveira de AzevedoCarga Horária | 15 horas

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8 Capítulo 1

de escrita. Assim, começaremos trazendo algumas definições tradicionais, ou melhor, de estilo, para depois apresentarmos a que mais se aproxima da abordagem que daremos às questões relacionadas à estilística. Assim,

Estilo vem do latim stilus e, em seu sentido originário, signi-fica qualquer objeto em forma de haste pontiaguda, ponta de ferro que serve para escrever sobre tabuinhas enceradas.

Com o decorrer do tempo, de objeto utilizado para escrever, o termo estilo passou a significar a pró-pria escrita e depois aquilo que essa escrita tem de característico. Atualmente, entende-se por estilo

Tudo aquilo que individualiza obra criada pelo homem, como resultado de um esforço mental, de uma elaboração do espírito, traduzido em ideias, imagens ou formas con-cretas (Garcia, 2010:123).

É importante salientar que o que individualiza a escrita do produtor de textos não é o desvio, mas a escolha que esse produtor faz das palavras que comporão o arranjo textual. Nessa direção, Gui-raud (1978:140) afirma ser o estilo “o aspecto do enunciado que resulta da escolha dos meios de expressão determinada pela natureza e intenções do indivíduo que fala ou escreve.” Essa escolha lin-guística, da qual fala o autor, até pode vir por meio de um desvio, mas não é este que define o estilo de um texto. Numa definição um pouco mais recente que a do professor Othon M. Garcia,

Estilo é o modo pelo qual um indivíduo usa os recursos fonológicos, morfológicos, sintáticos, lexicais, semânticos, discursivos da língua para expressar, oralmente ou por es-crito, pensamentos, sentimentos, opiniões etc. (Henriques,

2011:27).

A definição de Henriques (2011), por ser mais abrangente – uma vez que não se restringe aos as-pectos meramente linguísticos, mas alcança os as-pectos semânticos e discursivos – ganha prioridade neste trabalho, de maneira que abordaremos os fe-nômenos estilísticos em seus aspectos linguísticos, mas desdobraremos nossa abordagem, de modo a considerarmos os aspectos do discurso que deter-minam o estilo de uma produção linguística, seja oral, seja escrita.

Acreditamos com Beaugrande apud Marcuschi (2008:80) que “é essencial tomar o texto como um evento comunicativo no qual convergem ações lin-guísticas, cognitivas e sociais” e, além do que “o

texto é um sistema atualizado de escolhas extraído de sistemas virtuais entre os quais a língua é o sis-tema mais importante” (Beaugrande apud Marcus-chi, 2008:79). Dessa maneira, o texto é resultado das escolhas linguísticas que fazemos ao longo da produção textual, mas elas não resultam de um ato abstraído da situação de produção. Toda produção se dá na perspectiva da situação social em que é realizada, de modo que o estilo é também determi-nado pelos parâmetros e atividades dessa situação. 1.1 a rEtórica

VOCÊ SABIA?

Estilo

O estilo, definido pelo período clássico como

“um não sei quê”, constitui a marca da in-

dividualidade do sujeito na fala: noção fun-

damental, fortemente ideológica, que cabe à

estilística depurar para torná-la operatória e

fazê-la passar da intuição ao saber. [...]

A linguística saussuriana, em sua primeira

manifestação, não perturba profundamente

essa concepção. O estilo pertence à fala, ele

é a “escolha feita pelos usuários em todos os

comportamentos da língua” (Cressot). Seja

esta escolha “consciente e deliberada”, ou

um simples desvio, o estilo reside na distin-

ção entre língua e fala individual.

A teoria da informação, a análise mais avan-

çada das funções da linguagem, os desen-

volvimentos do estruturalismo aprofundam a

noção. Existe uma função estilística que su-

blinha os traços significativos da mensagem

e que põe em relevo as estruturas represen-

tantes das outras funções. “A língua exprime,

o estilo sublinha” (Riffaterre). Os efeitos em

que se manifestam essa função formam uma

estrutura particular: o estilo.

(Dubois et alii, 2006:237-238; 243)

SAIBA MAIS!

Para saber mais sobre a definição de estilísti-

ca e estilo, recomendo a leitura do capítulo 3

do livro Estilística e Discurso de Claudio Cezar

Henriques.

HENRIQUES, C. C. Estilística e Discurso: estu-

dos produtivos sobre texto e expressividade.

Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moder-

na. 27ª ed. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2010.

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9Capítulo 1

É pelo discurso que persuadimos, sempre que demonstramos a verdade ou o que parece

ser verdade, de acordo com o que sobre cada assunto é suscetível de persuadir.

Aristóteles

Para traçarmos a história da Estilística, faz-se ne-cessário entendermos como o homem, num dado momento histórico, começou a preocupar-se com a maneira de dizer o que diz; ou seja, como esse homem voltou-se para o seu discurso a fim de entendê-lo e organizá-lo para atingir fins específi-cos. É dessa necessidade, parece-nos, que nasce o queseconvencionouchamardeRetórica,palavraoriginada do latim rethorica, cujas raízes vêm do grego, rhetor, significando orador. Assim, Rhetor deriva de rhema, cujo significado é “palavra”, ou seja, “aquilo que se diz”. Seu primeiro registro no Português data do século XIV.

Em Atenas, a democracia serviu-se da retórica como instrumento de reivindicação, uma vez que sua organização política e social possibilitava a contendajudicial.Assim,aRetóricaassumiuumpapel importante, já que implicava a arte de fa-lar bem para envolver e convencer o outro. Em seus primeirosmomentos, a Retórica tinha umobjetivo preciso: convencer o outro da justeza de uma causa. Para isso, seria necessário ter um co-nhecimento amplo das propriedades do discurso que se decompunha em quatro partes: inventio, dispositio, elocutio, pronuntiatio. Cada uma dessas partes representa uma etapa que não deve ser re-ligiosamente cumprida. Essas etapas podem sem assim explicitadas:

a. Invenção: a busca de todos os argumentos e de outros meios de persuasão relativos ao tema do seu discurso;

b. Disposição: a ordenação, organização desses argumentos, seu planejamento;

c. Elocução: a escolha e disposição das palavras na frase;

d. Enunciação: a proferição efetiva do discurso.

Segundo Aristóteles, o orador deve adequar o es-tilo às diferentes situações, evitando, sempre que possível, o estilo afetado. Ainda para Aristóteles, o que produz o discurso deve buscar a melhor es-

tratégia para apresentar um argumento a determi-nado público. Nessa época, havia três gêneros do discurso:

1. deliberativo (cuja finalidade é aconselhar o público acerca de algo que se pretende fazer);

2. judicial (que apresenta uma acusação ou defe-sa em relação às ações consideradas justas ou injustas);

3. epidíctico ou demonstrativo (que procura louvar ou reprovar atos ou temas de conheci-mento geral).

De acordo com o exposto, vê-se que a retórica ti-nha uma estrutura a ser seguida, de maneira que o discurso deveria ser estrategicamente organizado.

Desse modo, ao organizar o discurso, recomenda--se seguir a seguinte subdivisão:

a. exórdio - introdução do discurso, cujo objeti-vo é preparar o auditório de maneira a deixá-lo atento ao que será proferido pelo orador;

b. a narração - exposição dos fatos relacionados ao tema do discurso;

c. a confirmação - apresentação dos argumentos;

d. a digressão - inserção de uma ilustração no processo discursivo com a intenção de distrair o auditório;

e. a peroração - conclusão do discurso. Esta últi-ma pode subdividir-se em: amplificação, cuja finalidade é rever os argumentos; paixão, pro-vocar comoção no auditório e a recapitulação, sintetizar a argumentação.

Diante do exposto, chegamos à conclusão de que o exercício da retórica era voltado à preocupação em produzir determinados efeitos estilísticos a fim de convencer o público (hoje temos a figura do lei-tor que substitui a de público ou plateia) de uma verdade ou daquilo em que se acreditava ser uma verdade.Assim,aRetóricavisaàconstruçãodeumestilo que percorre o texto e produz um efeito de verdade com fins de convencimento.

1.2 a pOética

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10 Capítulo 1

A poesia é a arte que se manifesta pela palavra. (Janilto Andrade)

Póetica vem do latim poeticus que, por sua vez, tem origem no grego poiétikos, cujo significado é que tem a virtude de fazer. O primeiro uso escrito dessa pala-vra no Português data de 1697.

Desde Aristóteles (384-322 a.C.), o termo Poética vem recebendo diferentes definições, formuladas conforme o lugar teórico de sua configuração. As-sim, recebe uma definição quando pensado por formalistas russos, outra quando aparece em tex-tos sobre a Antiguidade clássica ou em manuais de literatura.SegundoRobertoAcízelodeSouzaapud Henriques (2011:37), há pelo menos três acepções

a considerar quando nos referimos à Poética:

1. Disciplina antiga dedicada aos estudos de lite-ratura e por esse motivo chamada de poética clássica;

2. Disciplina contemporânea dedicada ao estudo sistemático da literatura;

3. Abreviação do sintagma “arte poética”, equiva-lente ao termo metapoema, usado para rotular composições em que se expõe explicitamente uma concepção de poesia.

Para Henriques (2011:37), se optarmos pela segun-da definição,

eremos que, na tradição de estudos literários, a Poética en-globa a designação de toda a teoria interna da literatura; a escolha feita por um autor entre todas as possibilidades literárias; e o conjunto de regras práticas construídas por uma escola literária.

A essas definições, acrescenta-se a consideração de Tadié (1992) afirmando a distinção de três poéti-cas assim denominadas: poética da prosa, poética da poesia e poética da leitura. De acordo com o autor, a poética da prosa daria conta dos proces-sos de construção do romance, enquanto a poética da poesia se encarregaria dos elementos e dos ins-trumentos necessários à compreensão da poesia. Entre a poética da prosa e a poética da poesia, te-mos a poética da leitura, incumbida dos processos relacionados à estética da recepção e de como o leitor interpreta um texto literário, levando-se em consideração os fatores externos que determinam essa leitura, como o momento histórico no qual se encontra inserido.

Mais próximo dessa poética da leitura, a definição de Andrade (2002:33-34) diz que

uma poética é um conjunto de razões que delimitam uma concepção do artístico. Por conseguinte, dizendo respeito à investigação da obra literária, uma poética será entendida como um corpo de razões que dão conta de uma forma de pensar sobre a literatura. Trata-se de uma espécie de fio condutor da interpretação dos textos poéticos. No en-tanto, tendo em vista que a obra literária recusa qualquer leitura doutrinária que se queira fazer a partir de critérios a priori, deve-se ter na poética uma construção de intenções teóricas a que o leitor-intérprete recorre para lastrear os caminhos da sua leitura.

Seja um corpo teórico que permite a análise sis-

SAIBA MAIS!

DUBOIS et alii. Retórica Geral. São Paulo:

Cultrix e EdUSP, 1974.

TRIGALI, D. Introdução à Retórica: a retórica

como crítica literária. São Paulo: Duas Cida-

des, 1988.

HALLIDAY, T. L. O Que é Retórica? São Pau-

lo: Brasiliense, nº 232 da Coleção Primeiros

Passos, 1990.

Reboul, O. Introdução à Retórica. São Paulo:

Martins Fontes, 1998.

ARISTÓTELES. Retórica. Lisboa: Imprensa

Nacional/Casa da Moeda. Bibliotecas de

Autores Clássicos, 2005.

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11Capítulo 1

temática das formas poéticas, seja uma chave que abre para a reflexão acerca dos processos relaciona-dos à interpretação do texto literário, a Poética se configura como um campo de estudos preocupado com os elementos implicados com a construção do texto literário. Assim procedendo, a Poética desbrava caminhos e sugere temas que, mais tar-de, interessarão à Estilística, uma vez que antecipa reflexões e problemáticas referentes ao estilo e ao modo de escrever.1.3 a Estilística

(1865-1947), fala da Estilística como disciplina que permite identificar, na fala, traços afetivos que se deixam refletir na língua considerada como ex-pressão do pensamento. Vale lembrar que Char-les Bally foi discípulo do linguista genebrino Fer-dinand de Saussure (1857-1913), e suas reflexões partem desse lugar inaugurado por Saussure, qual seja, a linguística estrutural.

Enquanto Bally voltava-se para a expressão de ele-mentos afetivos que se deixam marcar na fala, Vos-sler (1872-1947) e Spitzer (1887-1960) decidiram estudar as relações entre expressão e indivíduo. So-bre o pensamento de Bally, Henriques (2011:53) afirma que “inspirado pelos ensinamentos de Saus-sure, Bally cunhou o termo Estilística, cuja teoria se baseia num conceito-chave que serve de suporte para todas as estilísticas posteriores: a linguagem não se presta apenas para expressar ideias, mas também sentimentos.” Numa outra direção, cami-nham Vossler e Spitizer, pois esses privilegiam o componente literário. Na perspectiva desses teóri-cos, tudo o que é determinado pela fantasia só se manifesta genuinamente na literatura.

Desses dois lugares teóricos que dizem sobre a es-tilística, surgem dois segmentos dos estudos esti-lísticos: um mais próximo da gramática descritiva (influenciado pelo pensamento de Bally), e o ou-tro caminhando em direção aos estudos literários (Vossler e Sitzer). Desses encaminhamentos, temos as duas grandes vertentes da Estilística denomina-das descritiva e idealista.

1.3.1 Estilística DEscritiva (linguística)

A Estilística Descritiva ocupa-se dos aspectos afe-tivos da língua que se encontram à disposição do homem de maneira espontânea. A tarefa dessa ver-tente dos estudos estilísticos é a sistematização e/ou descrição das possibilidades que a língua ofe-rece para expressarmos os elementos afetivos que se encontram na cadeia do enunciado. Dito isso, os elementos afetivos disponíveis na língua encon-tram-se sujeitos à descrição, uma vez que partici-pam de um sistema expressivo.Conforme Henriques (2011:56) afirma,

a Estilística Linguística, obviamente, procura parceria com todos os componentes linguísticos do texto, desde os fo-nemas, que constroem os morfemas e as palavras, até os períodos e parágrafos, que constroem a totalidade do texto, sempre levando em conta os valores semânticos, pragmáti-

SAIBA MAIS!

Para conhecer mais a história da Poética, re-

comendo:

SPINA, S. Introdução à Poética Clássica. São

Paulo: Martins Fontes, 1967.

SUHAMY, H. A Poética. Rio de Janeiro: Jorge

Zahar, nº 10 da coleção Cultura Contempo-

rânea, 1988.

ANDRADE, J. Procurando o Poético. 3ª ed.

Ed. Ideia: 2002.

SOUZA, R. A. Império da eloquência: estudos

de retórica e poética no Brasil oitocentista. Rio

de Janeiro e Niterói: EdUERJ e EdUFF, 1999.

A Estilística teve seu primeiro registro escrito em português no ano de 1899 e, aqueles que traba-lham, nesse campo de estudo, ocupam-se do texto, ou seja, dos fenômenos relacionados às caracterís-ticas – em qualquer nível da língua – individuais que singularizam os textos. O termo Estilística sur-giunoâmbitodoRomantismo,viatradiçãodare-tórica, e se consagrou na França, dando ao campo outro direcionamento que não mais aquele recla-madopelaRetórica.

Afirmamos, de saída, que o objeto principal do qual se ocupa a Estilística é a linguagem poética que implica a “manifestação estética, expressiva e/ou apelativa praticada em texto com literariedade” (Henriques, 2011:52). Mas é importante salientar que, embora a estilística priorize os textos literá-rios, não se ocupará apenas deles.

Segundo Karl Bühler (1950), a Estilística é a dis-ciplina que estuda a língua nas suas funções ex-pressiva e apelativa. O seu criador, Charles Bally

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12 Capítulo 1

cos e discursivos.

Nesse sentido, Mattoso Câmara Jr (1978) acrescenta ser ela, a Estilística Linguística, um ramo de estudos que pretende organizar e interpretar dados expres-sivos que se integram nos traços da língua e fazem da linguagem esse conjunto complexo e amplo. Vejamos um exemplo:

1. Hoje eu tenho apenas uma/pedra no meu peito/Exijo respeito, não sou mais um sonhador/Chego a mudar de calçada/Quando aparece uma flor/E dou risada do grande amor/Mentira (Samba do grande amor - Chico Buarque)

2. A pedra lhe caiu sobre o peito e esmagou a caixa torácica.

Não obstante a proximidade de sentido entre o enunciado 2 e o início do 1, apenas o 1 carrega uma bagagem expressiva e emocionada quando Chico Buarque se utiliza de uma metáfora para falar da dor causada pela a ausência da mulher

amada. Desse modo, a Estilística Descritiva dará atenção a esses recursos linguísticos que expressam as emoções do usuário da língua.

1.3.2 Estilística iDEalista

A Estilística Idealista, de cunho psicológico, pro-cura refletir acerca dos desvios da linguagem em relação ao uso comum. Essa vertente afirma que qualquer desvio identificado no uso comum da linguagem corresponde a uma alteração no estado psíquico do escritor. Baseada nesses pressupos-tos, a Estilística Idealista entende o estilo como a expressão pessoal do escritor conforme reflexo do seu universo interior e experiência de vida. A produção literária ganhará centralidade no progra-ma de estudos desse campo de investigação, a qual “considera que toda obra encerra um mistério cuja compreensão depende basicamente da intuição de quem se investe do desejo de desvendar ‘os mis-térios de criação de uma obra e dos efeitos dessa obra sobre os leitores’ (N.S. Martins, 2008:26) (Henriques, 2011:65).” Vejamos este exemplo:

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13Capítulo 1

Esse texto de Chico Buarque de Holanda foi pu-blicado num caderno, suplemento do jornal O Globo em 08 de outubro de 1966. Nesse artigo de opinião, Chico fala acerca da Bossa Nova, do sam-ba, enfim, daquilo que se convencionou chamar Música Popular Brasileira. No decorrer do texto, Chico expressa seu reconhecimento à contribuição dada pela Bossa Nova à música popular e faz consi-derações sobre o samba dizendo que já não é mais aquele samba de letras fáceis e representante da va-riedade popular da língua. Antes, diz que o nosso bom samba aparece, agora, vestido de novo rico e metido a falar difícil. Logo em seguida, diz que a situação atual do samba é promover um resgate das características originárias, ou seja, a simplicidade das letras e elaboração calcada no cotidiano e na fala coloquial dos brasileiros. Essa abordagem con-siderando os aspectos linguísticos, componente temático e elaboração formal é ilustrativa de uma abordagem dentro dos parâmetros da Estilística

Idealista. Outro trecho que exemplifica essa abor-dagem se encontra no fim do texto quando Chico se volta para sua própria produção musical e diz queseuRefrãoéorefrãourbano,domolequeedopedreiro, da janela e do baião, em outras palavras, é a música que canta os detalhes da vida do povo brasileiro sem adornos e requintes.

SAIBA MAIS!

Para aprofundamento na história da Esti-

lística e sua aplicação, recomendo a leitu-

ra do artigo:

PARENTE, M. C. M. O domínio da Estilís-

tica: num convite a pesquisas e criações

autônomas. Caderno Discente do Instituto

Superior de Educação. Ano 2. nº 2. Apare-

cida de Goiânia, 2008.

VOCÊ SABIA?

Estilística

Charles Bally definiu a estilística deste modo: “Estudos dos fatos de expressão da linguagem

organizada do ponto de vista de seu conteúdo afetivo, isto é, expressão dos fatos da sensi-

bilidade pela linguagem sobre a sensibilidade.” “A estilística, ramo da linguística, consiste,

portanto, num inventário das potencialidades estilísticas da língua, ‘efeitos de estilo’ no sentido

saussuriano, e não no estudo do estilo de tal autor, que é um “emprego voluntário e consis-

tente desses valores”. Essa definição vincula o estilo à sensibilidade, que é definida assim: “O

sentimento é uma deformação cuja natureza é causada pelo nosso eu”; desse modo, a metá-

fora existe porque podemos tornar o espírito “vítima” da associação de duas representações.

A estilística é, mais amiúde, o estado científico do estilo das obras literárias, tendo como jus-

tificativa primeira esta tomada de posição de Roman Jakobson: “Se existem ainda críticas que

põem em dúvida a competência da linguística em matéria de poesia, penso por mim que elas

devem prender-se à incompetência de alguns linguistas limitados por uma incapacidade fun-

damental em relação à própria ciência da linguística... Um linguista surdo à função poética,

como um especialista em literatura, indiferente aos problemas e ignorante dos métodos da

linguística constituem, daqui por diante, ambos, um anacronismo flagrante.”

2. línGua, tExtO E discursO

Os fatos estilísticos podem ser observados, descri-tos e analisados no texto, já que é no texto que eles ganham vida e se realizam. Para entendermos os fenômenos estilísticos devemos nos apropriar de uma concepção de língua e texto mais ampla que a apreendida durante os anos escolares e que nos foi legada pelos gramáticos e professores de língua materna e estrangeira. A noção de discurso, que muito tem contribuído com os estudos linguísti-

cos e do texto, pode nos fazer entender os fatos estilísticos como os que são determinados por fa-tores mais amplos que não apenas linguísticos e/ou gramaticais. Assim, nossa intenção é abordar esses fatos nos próximos capítulos à luz das teorias do discurso, de maneira que julgamos necessário discorrer brevemente acerca da noção de língua, texto e discurso norteando a apresentação e abor-dagem das manifestações estilísticas apresentadas neste livro.

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14 Capítulo 1

2.1 a línGua

Na história dos estudos linguísticos, a língua, objeto de sistematização e de especulações científicas de cunho positivista, sofre um des-locamento naquilo que diz respeito à sua con-cepção como “produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções neces-sárias, adotadas pelo corpo social para permi-tir o exercício dessa faculdade nos indivíduos” (SAUSSURE, 2004:17), e passa a figurar emcontextos epistemológicos que a veem “como uma forma de atividade entre dois protagonis-tas” (POSSENTI, 1988:48).

Esse deslocamento aparece nos trabalhos de Benve-niste (1989; 1991), Ducrot (1988) e Austin (1990) que, embasados no viés específico postulado por cada teórico, trazem para os estudos linguísticos elementos que haviam sido deixados de fora de uma análise linguística de cunho estruturalista. Assim, esses trabalhos ampliam as perspectivas de abordagem que, agora, não mais se atêm tão somente à forma linguística, mas se ocupam dos usos feitos pelos falantes, ou seja, da enunciação em situações efetivas de comunicação.

Não obstante os estudos pragmáticos tenham oferecido uma contribuição bastante significati-va à inclusão do sujeito e da situação de fala às reflexões desenvolvidas sobre os processos enun-ciativos, o alcance das suas pesquisas iniciais não ia além da situação empírica de interação ver-bal entre interlocutores e o contexto imediato. Nessa direção, a Análise do Discurso de linha francesa (doravante, AD) “produziu estudos concretos que fizeram avançar a questão do su-jeito, arrancando-o a uma visão psicologizante, por um lado, e à empiricidade imediata das situ-ações de comunicação, por outro” (GUILHAU-MOU;MALDIDIER,1989:62).Assimsendo,aabordagem da enunciação na perspectiva da te-oria do discurso, tem seus horizontes alargados, posto que a análise dos processos de produção de sentido, nessa perspectiva, não recai apenas sobre o contexto imediato em que o enunciado é produzido, mas implica as condições amplas de sua produção. A AD desloca a análise das con-dições de enunciação de um contexto restrito à situação de fala e a situa em outro lugar ou em outro plano, por assim dizer, o dos processos sócio-históricos de produção de sentidos.

2.2 O tExtO

Hoje, há praticamente um consenso entre os estu-diosos da linguagem de que o enunciado é produ-zido em uma condição sócio-histórica dada. Desse modo, os processos enunciativos se inscrevem em um contexto imediato, que é aquele da situação efe-tiva em que ocorre a enunciação e em um contexto mediato, ou seja, o arranjo sócio-histórico mais am-plo com suas regras, crenças, costumes etc. Temos, então, isso: a linguagem é produzida e os sentidos são construídos dentro de um processo que impli-ca um jogo de relações dos sujeitos enunciadores com as condições de produção do enunciado.

Numa perspectiva enunciativo-discursiva, o texto desloca-se de uma concepção centrada na estrutura e passa a ser visto como o lugar por excelência, em que se dá a interação entre sujeitos. Mediada pela linguagem, essa interação se configura em textos, formulados numa dada instância sócio-histórica, e passam a circular socialmente. Esse aspecto inte-racional do texto que constitui sua textualidade é possível porque “todo texto tem um sujeito, um autor” (BAKHTIN, 2006:308) que se inscreve nas malhas textuais e com o qual o sujeito leitor ne-cessariamente interage quando da produção da lei-tura. É nessa relação intersubjetiva que o diálogo se estabelece e abre para a possibilidade de uma resposta que, por sua vez, cria as condições para que novos textos se constituam. Acerca do autor e do leitor, Bakhtin (2006:311) diz que “o acon-tecimento da vida do texto, isto é, sua verdadeira essência, sempre se desenvolve na fronteira de duas consciências, de dois sujeitos.”

Em seus aspectos estruturais, organizadores do cor-po textual, apresenta coerência, coesão, não con-tradição, progressão etc. Na perspectiva dos primei-ros trabalhos elaborados no campo da Linguística Textual, esses aspectos, dentre outros, asseguram a textualidade de um texto. Embora concordemos que um texto se caracteriza também por seus aspec-tos estruturais e linguísticos, acreditamos em que não se define apenas por eles mesmos nem como objeto fechado. Conceber o texto como um artefa-to construído com base na realização de regras de boa formação textual é reduzi-lo ao nível linguísti-co sem remetê-lo às condições de produção. Desse modo, não conceituamos o texto nos seus aspectos estritamente linguísticos, mas procuramos “redefi-nir a noção de texto como materialidade do dis-curso, isto é, da materialidade linguístico-históri-

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15Capítulo 1

ca”(ORLANDI,2001:74).Assim,osprocessosdetextualização, vistos por um viés discursivo, não se reduzem aos aspectos meramente formais, mas são definidos em relação ao discurso, ou seja, aos interlocutores em interação discursiva, à situação pragmática, ao contexto sócio-histórico etc..

2.3 O discursO

Em Orlandi (1999), lemos que o discurso é palavra em movimento, prática de linguagem. De acordo com a autora, o discurso se caracteriza como pro-cesso histórico de produção de sentidos em que a língua intervém como pressuposto. Pensado como um complexo processo de constituição dos sujeitos em interação pela linguagem e dos sentidos histo-ricamente situados, o discurso é entendido como um objeto sócio-histórico que tem sua regularida-de, seu funcionamento.

Essa relação constitutiva dos processos de signifi-cação permeia todo e qualquer enunciado – desde o mais simples, como um aviso para não fumar colocado na parede de um hospital, aos mais com-plexos, como um romance. De um a outro enun-ciado, temos determinantes sócio-históricos que atravessam a cadeia do dizer e fazem se dizer de uma determinada forma e não de outra.

que toda atividade comunicativa que se organiza em torno do texto verbal ou não verbal se insere em uma categoria genérica determinada por fato-res linguísticos e extralinguísticos.

Além disso, os gêneros discursivos medeiam o processo de interação verbal entre interlocutores de tal modo que podemos afirmar com Marcus-chi (2005:22) “que é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum gênero (...)”. O processo comunicativo só é bem sucedido porque há regularidades na forma dos gêneros que são de-terminadas por fatores sociocomunicativos e fun-cionais, de modo que, se a língua não elaborasse “seus tipos relativamente estáveis de enunciados” (BAKHTIN, 2006) a comunicação, certamente, ficaria comprometida, uma vez que o falante se uti-lizaria de formas diferentes a cada acontecimento comunicativo. A estrutura relativamente estável do gênero discursivo permite que o falante recorra à forma mais apropriada para realizar com compe-tência seu projeto de dizer.

atividadE |Leia o texto abaixo:

VOCÊ SABIA?

“[...] a estrutura ou regularidade de uma lín-

gua surge do discurso e é configurada pelo

discurso, mas o discurso também é configu-

rado pela estrutura ou regularidade da lín-

gua. Não há de se entender então a gramá-

tica como um pré-requisito do discurso, um

bem anterior que se atribui de forma idênti-

ca tanto ao falante quanto ao seu interlocu-

tor. As formas linguísticas que estruturam os

discursos não são padrões fixos, são compo-

nentes negociáveis na interação emissor/re-

ceptor com base em escolhas que refletem as

experiências vividas pelos falantes com essas

formas linguísticas.” (Henriques, 2011:4)

3. GênErOs discursivOs

As práticas comunicativas dos sujeitos interactan-tes nunca se dão desvinculadas de um gênero dis-cursivo que configura, igualmente, um modo de enunciar. Maingueneau (2005) afirma que todo texto pertence a um gênero do discurso, de modo

Font

e:

1. Agora identifique o gênero discursivo no qual o texto se realiza.

2. Para processar e entender o anúncio, o lei-tor levanta hipóteses acerca de alguns conheci-mentos que se encontram no nível do discurso, como possíveis enunciadores, lugar e tempo de enunciação. Mobilize hipóteses e diga quem são os enunciadores, o lugar de enunciação e o mo-mento histórico de produção do texto acima.

3. Como o anunciante explora a polissemia implicada na palavra “burro”?

4. Uma vez que o estilo não se manifesta ape-nas na obra literária, reflita sobre a relação en-tre elementos extralinguísticos e construção do estilo nesse anúncio publicitário.

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16 Capítulo 1

rEfErências

ANDRADE, J. Procurando o poético. 3. ed. João Pessoa: Ideia, 2002.

AUSTIN, J. L. Quando dizer é fazer – palavras e ações. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

BENVENISTE, E. Problemas de Linguística Geral I. 3ª ed. São Paulo: Pontes, 1991.

________. Problemas de Linguística Geral II. 3ª ed. São Paulo: Pontes, 1989.

BÜHLER, K. Teoría Del Lenguaje. Madrid: Revis-ta de Ocidente, 1950.

CÂMARA JR. J. M. Contribuição à Estilística Portuguesa. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1978.

DUBOIS, J. et alii. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 2006.

DUCROT, O. O Dizer e o Dito. Campinas, Pon-tes, 1988.

GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moder-na. 27ª ed. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2010.

GUIRAUD, P. A Estilística. São Paulo: Mestre Jou, 1978.

GUILHAUMOU, J.; MALDIDIER, D. Da enuncia-ção ao acontecimento discursivo em Análise do Discurso. In: GUIMARÃES, E. História e sentido na linguagem. Campinas: Pontes, 1989.

HENRIQUES, C. C. Estilística e discurso: estu-dos produtivos sobre texto e expressividade. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

JORNAL O GLOBO. Meu refrão. Caderno Su-plemento, 1966. Disponível em: http://www.jobim.org/chico/handle/2010.2/656

MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comu-nicação. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de

gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

______. Gêneros textuais: definição e funcio-nalidade. In: DIONÍSIO A. P.; MACHADO, A. R. BEZERRA M. A (Orgs). Gêneros textuais e ensino. 4ª ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

ORLANDI, E. Discurso e texto: formulação e cir-culação dos sentidos. São Paulo: Pontes, 2001.

______. Análise de Discurso: princípios e proce-dimentos. São Paulo: Pontes, 1999.

POSSENTI, Sírio. Discurso, estilo e subjetivida-de. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. 26. ed. São Paulo: Cultrix, 2004.

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17Capítulo 2Capítulo 2Capítulo 2

ObjEtivOs EspEcíficOs

• ApresentaraoalunoosfundamentoshistóricosdaEstilística;

• Refletiracercadosrecursosestilísticosdisponíveisnalínguaportuguesa;

• Possibilitaroconhecimentodosdiversosrecursosexpressivosagenciadosnaprodução de sentido.

intrOduçãO

Caríssimo estudante,

Após traçar o percurso histórico e apresentar a base teórica dos fatos estilísticos que irão figurar neste curso, delinearemos os níveis de análise estilística, de ma-neira que vamos abordar, neste capítulo, a Estilística Fônica, Lexical, Sintática e da Enunciação. Sobre Estilística Fônica, entendemos aquela que se volta para os fenômenos estilísticos que se dão no nível do fonema; a Estilística Lexical, por sua vez, se debruça sobre os fenômenos no nível do léxico; a Estilística Sintática repousa seus interesses nos efeitos estilísticos que se dão nas relações entre as palavras; a Estilística da Enunciação privilegiará o enunciado, ou seja, os textos efetivamente realizados em situação de enunciação. Na Estilística da Enuncia-ção, o estilo é referido aos processos de constituição do texto de maneira que elementos extralinguísticos, como os interlocutores e o lugar da enunciação, são considerados na abordagem dos fatos estilísticos. Bom estudo!Prof. Luciano Azevedo

1. Estilística fônica

O estilo não é um fenômeno reservado apenas aos enunciados ou às palavras. Ele se manifesta também nas unidades mínimas da língua que são chamadas de fone-ma. Pensando nisso, Henriques afirma que “os valores estilísticos podem ter uma natureza sonora e se expressam tanto no âmbito da palavra como no dos enuncia-dos” (Henriques, 2011:95). Além do elemento fonético, ele acrescenta o ritmo,

nívEis dE análisE Estilística

Prof. Luciano Taveira de AzevedoCarga Horária | 15 horas

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18 Capítulo 2

SAIBA MAIS!

Há outros processos envolvidos na articula-

ção dos sons da fala, como o timbre, a altura

e a quantidade.

Timbre: efeito acústico resultante da maior

ou menor abertura da boca. Essa produção

é máxima na produção das vogais abertas

(a, é, ó), mínima na emissão das vogais fe-

chadas (ê, ô, i, u) e média na formação das

reduzidas.

Altura: impressão auditiva relacionada à in-

tensidade do som.

Quantidade: diz respeito à duração da emis-

são de um som.

As definições acima foram retiradas de CE-

GALLA, D. P. Novíssima Gramática da Língua

Portuguesa. São Paulo: Companhia Editorial

Nacional, 2005.

a intensidade e a entonação como elementos que devem ser considerados quando se analisa o estilo produzido no nível do som, qual seja, o fonema. Assim, ele define ritmo, intensidade, entonação e prosódia, esta última tratada pelo autor como fe-nômeno pertencente a outro nível, mas ambien-tada no campo da sonoridade. Por ritmo, o autor entende ser a distribuição de sons num enunciado, considerando de que modo eles se organizam ou se repetem a intervalos regulares, ou espaços sen-síveis quanto à duração e à acentuação. Já no que diz respeito à intensidade, o autor declara que se trata do maior grau de força expiratória com que o som da fala é proferido, força que se manifesta acusticamente na maior ou menor amplitude de vibrações. É nesse momento que o linguista traz aquela clássica definição de sílaba átona e tônica. Por sílaba átona, entende-se aquela proferida com menor intensidade, característica que a difere da tônica, uma vez que esta se refere à sílaba sobre a qual recai a intensidade. Trocando em miúdos, a sílaba ou vogal tônica é aquela acentuada e a vogal

Por fim, englobando todos os fenômenos acima descritos, temos a Prosódia. Por Prosódia entende-se

ou sílaba átona é aquela não acentuada. Na zona de articulação da palavra, ainda temos outro fenômeno que implica a variação de tom, qual seja, variações de altura na cadeia vocabular as quais resultam da velocidade e vibração das cor-das vocais.

São oxítonas

São paroxítonas

São proparoxítonas

cateter aziago década

condor gratuito lêvedo

hangar fortuito égide

cister rubrica aerólito

a área da fonética preocupada com a exata acentu-ação tônica das palavras.Para entender a estilística fônica, temos que nos ocu-par dos fenômenos que se dão no nível do fonema e relacionar essa produção fônica à construção de

Font

e: h

ttp://

nath

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um determinado efeito estilístico. É isso que tenta-remos mostrar nos textos abaixo:O anúncio publicitário acima foi elaborado por ocasião do Dia dos Namorados, que é comemo-rado no Brasil no dia 12 de junho. A intenção do enunciador é, por meio do anúncio, divulgar uma promoção realizada pelo Shopping Tacaruna, que consiste em premiar, com um carro Gol, zero quilômetro, aqueles consumidores que realizarem compras acima de 200 reais. Vale salientar que, até correr o sorteio, todos os consumidores que apre-sentam compras acima de 200 reais são possíveis ganhadores da promoção.

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19Capítulo 2

No anúncio, o enunciador joga com o nome do carro – Gol – e o grito extenso e demorado da pa-lavra Gol quando pronunciada por ocasião de um jogo de futebol, por exemplo, quando a bola atra-vessa a linha que fica embaixo da baliza. O contex-to de produção do anúncio foi o ano da Copa do Mundo e o enunciador, ao construir o anúncio, deixa implícito o sentido de que, ao fazer compras no valor determinado pelo regimento da promo-ção, conta-se com a possibilidade de ganhar o carro Gol, de maneira que sair vencedor da promoção é equivalente à alegria produzida quando pronuncia-mos euforicamente Gooooooooooooooooooolllllllllllll!! Assim, ganhar o Gol (carro) é como ganhar a Copa do Mundo ou gritar Gooooollll!! quando a Seleção Brasileira de Futebol faz “aquele” gol contra o time adversário.

O efeito estilístico produzido pela intensidade e quantidade da palavra Goooooollllll!!! produz no leitor a impressão de vitória que se encontra am-plamente associada às ideias de consumo, concor-rência e premiação implicados na promoção.

Vejamos agora um excerto deste poema de Eugé-nio de Castro:

um sonho

Na messe, que enlourece, estremece a quermesse…O Sol, o celestial girassol, esmorece…E as cantilenas de serenos sons amenosFogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos…As estrelas em seus halosBrilham com brilhos sinistros…Cornamusas e crotalos,Cítolas , cítaras, sistros,Sons suaves, sonolentosSonolentos e suavesEm suavesSuaves, lentos lamentosDe acentosGraves,Suaves...

Esse poema de Eugénio de Castro, poeta portu-guês e introdutor do Simbolismo em Portugal, apresenta vários elementos que produzem no texto um efeito estilístico no nível do som. Os recursos sonoros disponíveis na língua e utilizados pelo poeta na construção do poema dão ao texto uma musicalidade que nos faz recitá-lo como se estivés-semos cantando uma delicada música de Djavan, cantor brasileiro. Que recursos sonoros são esses?

Só para citar alguns, temos a presença dos versos regulares, das rimas ricas, perfeitas e raras, o uso dasfricativas[s],[f],[v]e[R]edefigurasdelinguagem, como a aliteração e a paranomásia.

No início do poema, encontramos o uso da pa-ranomásia, que consiste no emprego de palavras parônimas (que têm sons parecidos). O uso dessas palavras pode produzir ambiguidades dentro do texto, dar um tom engraçado ou criar uma sonori-dade diferente. No poema de Eugénio de Castro, a presença da paranomásia tem a finalidade de criar certa musicalidade, como podemos constatar no primeiro verso:

a. Na messe, que enlourece, estremece a quer-messe

A aliteração aparece como recurso estilístico utili-zado para reforçar a sonoridade impressa ao poe-ma e pode ser identificado nos versos: b. Sons suaves, sonolentos Sonolentos e suaves Em suaves Suaves lentos, lamentos (...)

Outro recurso ligado à sonoridade é o uso das fri-cativas já mencionadas acima e que aparecem nos versos:

c. O sol, celestial girassol, esmorece E as cantilenas de serenos sons amenos Fogem fluidas, fluindo a fina flor dos fenos

O poeta Eugénio de Castro foi quem melhor traba-lhou em seus versos a rima, o ritmo e o vocabulário e, com base nos recursos estilísticos que se dão ao nível do som, construiu efeitos estéticos surreais.

2. Estilística lExical

Na estilística lexical, explora-se a carga expressiva das palavras que compõem os textos. Vamos anali-sar este poema de Carlos Drummond de Andrade sob essa perspectiva:

o homEm; as viagEns

O homem, bicho da terra tão pequenoChateia-se na terraLugar de muita miséria e pouca diversão,

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20 Capítulo 2

Faz um foguete, uma cápsula, um móduloToca para a luaDesce cauteloso na luaPisa na luaPlanta bandeirola na luaExperimenta a luaColoniza a luaCiviliza a luaHumaniza a lua.Lua humanizada: tão igual à terra.O homem chateia-se na lua.Vamos para marte - ordena a suas máquinas.Elas obedecem, o homem desce em martePisa em marteExperimentaColonizaCivilizaHumaniza marte com engenho e arte.Marte humanizado, que lugar quadrado.Vamos a outra parte?Claro - diz o engenhoSofisticado e dócil.Vamos a vênus.O homem põe o pé em vênus,Vê o visto - é isto?IdemIdemIdem.O homem funde a cuca se não for a júpiterProclamar justiça junto com injustiçaRepetir a fossaRepetir o inquietoRepetitório.Outros planetas restam para outras colônias.O espaço todo vira terra a terra.O homem chega ao sol ou dá uma voltaSó para tever?Não-vê que ele inventaRoupa insiderável de viver no sol.Põe o pé e:Mas que chato é o sol, falso touroEspanhol domado.Restam outros sistemas foraDo solar a col-Onizar.Ao acabarem todosSó resta ao homem(estará equipado?)A dificílima dangerosíssima viagemDe si a si mesmo:Pôr o pé no chãoDo seu coraçãoExperimentarColonizarCivilizarHumanizarO homemDescobrindo em suas próprias inexploradas entranhas

A perene, insuspeitada alegriaDe con-viver.

O poema de Drummond tem como referência dois momentos históricos que devem ser mobilizados quando da interpretação do texto, quais sejam, a viagem do homem à Lua em 1969, e o movimento ecológico que teve início em 1968, com base nos protestos que explodiram em vários países. Vale lembrar que, anos depois, em 1972, é realizada a Conferência Mundial do Meio Ambiente Humano.

A princípio, o poema não apresenta grandes difi-culdades de interpretação. Ao longo dos versos, Drummond fala das viagens, descobertas e con-quistas humanas que saturam, mas produz, tam-bém, no homem uma sensação de vazio. À decep-ção que acompanha cada descoberta, segue-se a necessidade de redescobrir-se para, ressignificando--se, ressignificar o mundo.

Nos últimos versos do poema, Drummond cria neologismos para falar dessa nova condição do homem e da tentativa de promover arranjos exis-tenciais que permitam a sobrevivência baseada no conhecimento de si mesmo. Após sucessivas decep-ções durante sua viagem espacial, resta ao homem somente o conhecimento de si mesmo. Findo o espanto provocado pelo conhecimento inusitado, sobra-lhe o espetáculo banalizado da televisão que é expresso no verso O homem chega ao sol ou dá uma volta/Só para tever?

A mudança de verbos no tempo presente (experi-menta, coloniza, civiliza, humaniza) – que confi-guram rimas de som mais leve – para verbos no futuro do indicativo e infinitivo (pôr, experimen-tar, civilizar, colonizar, humanizar) produz uma alteração no ritmo do poema que também apon-ta para a necessidade desse homem em explorar o universo interior. A esse projeto estético, que leva a refletir acerca das perplexidades produzidas pelo mundo moderno e propõe a instauração de uma nova perspectiva que valorize a busca interior, somam-se os efeitos expressivos e impressivos, pro-duzidos por palavras como co-lonizar e con-viver, a adjetivação presente em a dificílima dangerosíssima viagem, em suas próprias inexploradas entranhas e a perene, insuspeitada alegria. Assim, além de figuras, imagens e rimas, Drummond explora o léxico da língua portuguesa para construir com expressivida-de uma obra prima da sua antologia e conduzir o leitor à reflexão acerca da voracidade dos tempos modernos que ameaça o desenvolvimento de so-

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21Capítulo 2

ciedades mais fraternas, solidárias e socioambien-talmente mais justas.

3. Estilística sintática

A sintaxe é o campo que estuda as combinações ocor-ridas entre elementos da língua que vão, em senti-do lato, da derivação das palavras pela combinação de afixos e, em sentido estrito, à palavra, de manei-ra que por sintaxe entende-se, tradicionalmente, “o estudo das regras que presidem à combinação de palavras para constituir frases” (LUFT, 2002:27).

A análise de uma comunicação completa abrange cinco elementos que podem ser assim dispostos:

1. texto (oral ou escrito); 2. frase;3. sintagma; 4. palavra; 5. morfema.

são postos em relação para formar frases. Neste nosso estudo, vale fazer uma distinção entre frase, oração e período. Por frase, entendemos a pro-dução de um enunciado com sentido completo, de maneira que se constitui como a menor unidade autônoma de comunicação. Luft (2002) vai dizer que a frase possui uma dupla autonomia: uma que se dá no plano do significado, pois possui uma intenção comunicativa definida e outra no pla-no significante, uma vez que apresenta uma linha completa de entoação. Quando a frase apresenta apenas um verbo, temos uma oração e, logo, um único período. Vale salientar que todo período é uma frase, mas nem toda frase é um período, pois há frases sem verbos e, por conseguinte, não cons-tituem período.

COMUNICAÇÃO

CLASSES ELEMENTOS

texto frase(s)

frase sintagma(s)

sintagma palavra(s)

palavra morfema(s)

morfema

Cada um desses elementos constitui unidades que vão do elemento superior ao inferior, sendo o mor-fema uma unidade que não é desmembrável. Dentre essas unidades, são objeto da Sintaxe, em

SAIBA MAIS!

BRANDÃO, C. Sintaxe clássica portuguesa.

Belo Horizonte: Ed. do Autor, 1963.

MEIER, H. Sintaxe gramatical, sintaxe fun-

cional, estilística. In: Boletim de Filologia.

Lisboa, 8 (2):120-144, 1946.

THOMAS, E. W. The syntax of spoken Bra-

zilian Portuguese. Nashville, Vanderbilt,

1969.

sentido estrito, a frase e o sintagma. Assim, interes-sa ao campo entender como as palavras se combi-nam para formar sintagmas e como os sintagmas

SAIBA MAIS!

Sintagma é qualquer constituinte imediato da

oração, exercendo função de sujeito, complemen-

to, predicativo, adjunto adverbial. Tanto pode ser

uma palavra só como mais de uma palavra:

O aluno está lendo a história com muita atenção.

Ele lê aquilo atentamente

SS SV SS SP/Adv

*Nomenclatura:

SS: sintagma substantivo

SV: sintagma verbal

SS: sintagma substantivo

SP/Adv: sintagma preposicional e sintagma ad-

verbial

Acerca da oração, afirmamos que se trata de uma unidade marcada por verbo. Geralmente, a oração apresenta um substantivo a que se refere e com o qual concorda o verbo, formando a estrutura biná-ria (Sujeito + Predicado).

Qual o lugar, porém, da estilística nisso tudo?

A única coisa que está relacionada com a estilís-tica é a extensão da frase e sua organização. De-pendendo do tema, do tópico frasal e dos focos dados, teremos uma determinada “arrumação” da frase. Sobre isso, Henriques (2011:105) diz que “os tópicos e os focos dados no interior das frases resultam em efeitos na ordem das palavras, na combinação dos sintagmas, na disposição dos termos e nas escolhas morfossintáticas.” Assim, o

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22 Capítulo 2

produtor de textos tem diante de si uma infinida-de de possibilidades combinatórias que permitem a escolha entre um período simples ou composto, uma forma sintética ou analítica, uma voz ativa ou passiva, concordância verbal ou nominal, regência verbal ou nominal etc. Essas escolhas, dentro de uma proposta de construção do texto e do sentido, favorecem a expressividade dos textos de maneira a caracterizar o estilo subjacente à produção textual. Vejamos um exemplo:

BEija Eu

(Marisa Monte)

Seja eu, seja eu,Deixa que eu seja euE aceita o que seja seuEntão deita e aceita eu

Molha eu, seca euDeixa que eu seja o céuE receba o que seja seuAnoiteça, amanheça eu

Beija eu, beija eu, beija euMe beijaDeixa o que seja seuEntão beba e recebaMeu corpo, no seu corpoEu no meu corpoDeixa, eu me deixoAnoiteça, amanheça

Seja eu, seja eu,Deixa que eu seja euE aceita o que seja seuEntão deita e aceita eu

Molha eu, seca euDeixa que eu seja o céuE receba o que seja seuAnoiteça , amanheça eu.

A autora da letra, Marisa Monte, resolveu trans-gredir algumas normas do padrão culto da língua portuguesa a fim de produzir determinados efeitos expressivos. Assim, ela começa promovendo essa transgressão já no título da letra que apresenta um pronome do caso reto eu (1ª pessoa do singular) como complemento do verbo beijar quando, de acordo com a norma culta, deveria utilizar o pro-nome oblíquo átono me. Além disso, nas orações imperativas afirmativas, os pronomes oblíquos áto-nos devem estar em ênclise (isto é, após o verbo) e o pronome pessoal do caso reto eu só pode ser empregado na função sintática de sujeito.

Ao empregar o pronome reto eu, na função sintá-tica de complemento do verbo beijar, no lugar do pronome oblíquo me, a autora intenciona desta-car os desejos do eu lírico e dar maior destaque à subjetividade que se revela por meio de um desejo de atenção que esse eu lírico evoca. Esse uso insis-tente do imperativo seguido de pronome pessoal remete à criança que ainda não consegue formular sentenças linguísticas normativas e diz: - Levanta eu, mamãe. Ainda sobre esse aspecto do uso do pro-nome oblíquo, vale destacar o verso Me beija que inicia oração com uma próclise quando, de acordo com a norma padrão da língua, a autora deveria utilizar uma ênclise. Se assim o fizesse, certamen-te não atingiria os efeitos estilísticos que é indicar uma “conversa” informal entre dois amantes a qual se caracteriza pelo desenvolvimento de uma série de ordens que são colocadas numa sequência.

Queremos chamar a atenção para a construção Seja eu no início do poema. Essa construção, num primeiro momento, deixa-nos a impressão de que o verbo ser se encontra no imperativo. Com base em uma análise mais aprofundada e atenta, con-cluímos que o verbo, ora mencionado, encontra-se no modo subjuntivo e é como se o eu lírico estives-se, ao utilizar o sujeito posposto ao verbo, dizendo:

É necessário que [“seja eu”] aceita por você.

Passando essa sentença para a ordem direta, terí-amos: É necessário que eu seja aceita por você. Esse emprego do verbo no modo subjuntivo no verso Seja eu é reforçado numa outra estrofe quando o eu lírico expressa: Deixa que eu seja eu. Nesse verso, o verbo está posto no subjuntivo de maneira clara. Todas essas estratégias linguísticas utilizadas pela compositora apontam para o forte poder apelati-vo do poema e a carga expressiva construída desde o jogo estabelecido entre as palavras. Por meio de um jogo expressivo, o eu lírico externa seu desejo de atenção e centralidade.

4. Estilística da EnunciaçãO

O estilo de um enunciado é também resultante das determinações extralinguísticas, ou seja, dis-cursivas, que incidem sobre esse enunciado. Henri-ques (2011:116) afirma que “não se pode dissociar a relação que existe entre o estilo e o enunciado, entre o estilo e os domínios (ou gêneros) do dis-

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23Capítulo 2

curso.” O enunciado é o produto de um processo de enunciação, de maneira que os elementos que participam desse processo (enunciadores, gênero discursivo, momento e lugar de enunciação, con-dições sócio-históricas etc) afetam o enunciado e sua construção. É nesse sentido que Henriques (2011:118) postula um objetivo para a Estilística da Enunciação ao dizer que “para a estilística da enunciação, interessa, sobretudo, estudar o siste-ma expressivo inteiro em seu funcionamento.” Ao falar desse sistema expressivo inteiro, Henriques (2011) refere-se aos aspectos de ordem fonológica e morfossintática, mas também discursiva, que de-vem ser considerados na análise de um enunciado. A expressividade de um texto é, por um lado, de-

Inácio Lula da Silva nas eleições 2002. No topo da capa, temos o enunciado O PRIMEIRO PRESI-DENTE DE ORIGEM POPULAR em amarelo e, logo abaixo, a logomarca Veja em azul (que sofre uma gradação do mais escuro para o mais claro), torneada por um filete branco e, sobre a letra “v” e “e”, passa uma tarja em amarelo que anuncia RE-PORTAGEM ESPECIAL em preto. Acima da le-tra “a”, consta a editora, a edição, preço e data de publicação e, abaixo, o site da revista (www.veja.com.br). No centro, a foto de Lula que, sorrindo, segura a bandeira do Brasil. Do lado esquerdo, o enunciado: Seu desafio: retomar o crescimento e corrigir as injustiças sociais sem colocar em risco as conquistas da era FHC. Sobre a bandeira, na par-

te inferior, e centralizado, aparece o enunciado em maiúscula e destaca-do: TRIUNFO HISTÓRICO. No canto direito, inferior, encontramos a logomarca da Editora Abril e, do mesmo lado, sobre a bandeira, iden-tificamos Luís Inácio Lula da Silva, 57 anos. O código de barras apare-ce no lado esquerdo da capa. Todos esses elementos são colocados sobre um fundo azul que aparece em um movimento gradativo de tonalidade que vai do mais claro, partindo do centro da capa para o mais escuro.

As cores usadas pelo enunciador, na construção da capa, conferem uma impressão de misticismo que dá à cena um aspecto bastante pe-culiar de aparição miraculosa. Essa capa traz cores amenas e alegres as quais convergem para a construção de uma cena que vai ao encontro do leitor/eleitor no sentido de come-morar com ele a vitória nas urnas do seu candidato. É uma capa festiva que traduz vitória mediante uma ati-tude contumaz e uma força de von-tade inabalável.

No enunciado O PRIMEIRO PRESIDENTE DE ORIGEM POPULAR, o enunciador remete à origem de Lula e ativa na memória do leitor essa história do presidente que é pontilhada de neces-sidades não atendidas e condições limitadas. Nes-se primeiro enunciado, temos os primeiros tijolos discursivos que participarão da construção de uma representação de Lula, que é identificado com o

Font

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veja

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terminada por seus aspectos linguísticos de nature-za fonológica e morfossintática e, por outro lado, por aspectos discursivos que constituem a teia do dizer. Vamos ver como isso acontece, analisando a capa da revista Veja:A capa acima é uma edição especial de Veja e traz di-versas reportagens sobre a vida e a história política de Lula e do PT. A razão para esse dossiê publicado em uma edição especial de Veja é a vitória de Luís

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24 Capítulo 2

menino pobre e cercado de déficits que acompa-nharão sua trajetória. Na reportagem que a revista traz, lemos que meninos pobres como Lula não nascem no Brasil para serem presidentes e vemos uma foto que traz como legenda Lula aos 3 anos. Sandálias emprestadas pelo fotógrafo. Nessa capa, está delineada a construção de um sujeito íntegro e vencedor por ter superado todo tipo de precon-ceito e limitação para chegar ao posto máximo da atividade política. Nessa mesma reportagem, Lula é comparado a Machado de Assis que, não obs-tante às limitações físicas e sociais pesando sobre ele, tornou-se o maior escritor brasileiro. Dos fios discursivos que se lançam na cena de enunciação, faz-se um herói.

A cena se amplia e o olhar do leitor se depara com a imagem sorridente de Lula, que, de pale-tó, gravata e cabelos e barbas feitos, segura, num gesto triunfal, a bandeira do Brasil. Na bandeira que se abre, as palavras ORDEM E PROGRESSO são encobertas pelo enunciado TRIUNFO HIS-TÓRICO que se sobrepõe. As mãos que seguram a bandeira não são aquelas que, durante os anos da Ditadura Militar, traduziam uma intransigên-cia que precisava ser contida e combatida, porque vinda de um agitador que, durante as paralisações do ABC, distribuía caninha 51 aos grevistas. Nes-sa nova cena política, Lula representa o triunfo de uma ideia e, por conseguinte, a imagem do herói que luta contra todas as mazelas e injustiças é refor-çada pelos efeitos estilísticos produzidos na cons-trução do enunciado.

Nessa atmosfera discursiva, em que cores, imagens, perspectivas e palavras participam da construção de um discurso sobre a vitória de Lula nas eleições 2001, temos um enunciado um pouco mais lon-go que diz: Seu desafio: retomar o crescimento e corrigir as injustiças sociais sem colocar em risco as conquistas da era FHC. Como todo bom he-rói, Lula terá desafios a enfrentar e o maior deles é retomar o crescimento, ou seja, dar continuidade ao que vinha sendo desenvolvido no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC). Isso significa que Lula não terá de fazer muita coisa nem preci-sa inovar, pois muito já foi feito e ele só tem que retomar de onde FHC parou e dar continuidade. Assim, na materialidade linguística, é possível ler sentidos que deslizam e desembocam em outros e, ao lermos retomar o crescimento e sem colocar em risco as conquistas da era FHC, interpretamos que esse discurso favorece e coloca como central os

triunfos do governo anterior que Lula não poderá colocar em risco sob pena de ser punido pelos elei-tores que lhe deram um voto de confiança. Desse modo, o discurso de Veja constrói uma identidade de Lula para desqualificá-la e favorecer o suposto desenvolvimento trazido pela direita. Nessa capa da revista Veja, podemos ler – no senti-do pleno da palavra – a construção da identidade do presidente Lula. Desse modo, através de estra-

tégias discursivas que produzem determinados efeitos expressivos, Veja constrói uma determi-nada imagem do ex-presidente Lula e, assim, manipula a opinião pública produzindo senti-dos e sujeitos que circulam socialmente e mo-delam o imaginário dos leitores. atividadE |Faça uma análise do poema de Manuel Ban-deira (1886-1968), Neologismo, com base nos pressupostos da Estilística Lexical.

nEologismo

SAIBA MAIS!

GREGOLIN, Maria do Rosário. Formação

discursiva, redes de memória e trajetos so-

ciais de sentido: mídia e produção de iden-

tidades. Disponível em: http://www.uems.

br/padadi/rosario.html . Acesso em 07 de

nov. de 2007.

_______. Discurso, história e a produção

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http://www.geocities.com/gt_ad/maria-

dorosariogregolin.doc Acesso em 14 de

maio de 2008.

HERNANDES, Nilton. A revista Veja e o

discurso do emprego na globalização:

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trado em Lingüística) – Universidade de

São Paulo, São Paulo, 2001.

MAGALHÃES, L. Veja, IstoÉ, Leia: produ-

ção e disputas de sentido na mídia. Teresi-

na: Ed. da UFPI, 2003.

_______. Discurso e texto: formulação e cir-

culação dos sentidos. São Paulo: Pontes,

2001.

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25Capítulo 2

Beijo pouco, falo menos ainda.Mas invento palavrasQue traduzem a ternura mais fundaE mais cotidiana.Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.Intransitivo:Teadoro, Teodora.

rEfErências

CEGALLA, D. P. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia Editorial Nacional, 2005.

HENRIQUES, C. C. Estilística e discurso: estu-dos produtivos sobre texto e expressividade. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

CASTRO, E. Um sonho. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/eug01.html

ANDRADE, C. D. O homem; as viagens. Dis-ponível em: http://letras.terra.com.br/carlos--drummond-de-andrade/807510/

LUFT, C. P. Moderna Gramática Brasileira. São Paulo: Ed. Globo, 2002.

MONTE, M. Beija eu. Disponível em: http://le-tras.terra.com.br/marisa-monte/6644/

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27Capítulo 3Capítulo 3

ObjEtivOs EspEcíficOs

• ApresentaraoalunoosfundamentoshistóricosdaEstilística;

• Refletiracercadosrecursosestilísticosdisponíveisnalínguaportuguesa;

• Possibilitaroconhecimentodosdiversosrecursosexpressivosagenciadosnaprodução de sentido.

intrOduçãO

Caríssimo estudante,

Neste capítulo, abordaremos alguns fatos da língua numa perspectiva estilística e discursiva. Assim, tentaremos refletir acerca de conteúdos expostos na gramá-tica normativa com base na análise estilística e, sempre que possível, traremos esses conteúdos para a discussão dos aspectos do discurso que determinam a construção do estilo. Na esteira do que pretendemos desenvolver neste capítulo, encontram-se o Processo de Formação das Palavras e o Processo de Criação da Palavra, os quais têm uma estreita relação com as possibilidades de expressão do falante em textos escritos.Bom estudo!Prof. Luciano Azevedo

1. Estrutura das palavras

Começamos este capítulo com uma sucinta apresentação da estrutura mórfica da palavra. Mas antes de dissecarmos as palavras, daremos uma pequena definição. Afinal de contas, o que é palavra?

Por palavra, entendemos tratar-se de uma unidade linguística de som e significado que compõe os enunciados da língua.

Estrutura E fOrmaçãO das palavras

Prof. Luciano Taveira de AzevedoCarga Horária | 15 horas

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28 Capítulo 3

Assim sendo, a palavra serve a dois tipos de análise que não se excluem, mas que são complementares: aquela estritamente linguística e a discursiva e/ou enunciativa. Quando nos debruçamos sobre as menores partes que compõem o esqueleto de uma palavra a fim de analisar seus elementos mórficos, por meio de um processo de segmentação, esta-mos fazendo uma análise tão somente linguística, uma vez que nossa preocupação não se volta para os usos que são feitos dessa palavra em diferentes situações de enunciação. Por outro lado, quando nossa análise se volta para o uso e as determina-ções sociais que afetam a estrutura e/ou sentido da palavra, então, fincamos o pé no campo da enun-ciação. Inicialmente, faremos uma análise propria-mente linguística e, quando julgarmos necessário e possível, acrescentaremos uma análise discursiva, uma vez que a formação e a estrutura das palavras não se restringem ao âmbito da língua apenas, mas envolve processos enunciativos que estão relacio-nados com interlocutores, situação de enunciação e gêneros textuais.

1.1 Os ElEmEntOs mórficOs

Os falantes, ao longo de sua vida, usam um núme-ro enorme de palavras que compõem aquilo que

costumamos chamar de léxico, ou seja, o repertório total de palavras que esse falante se apropriou em contato com a sua língua materna em diferentes situações de letramento. Há palavras que vão es-tar presentes no repertório linguístico de todos os falantes como pai, mãe, comida etc. Já outras se encontram presentes no repertório de algumas pes-soas apenas, pois se referem a objetos e conceitos que não estão presentes na vida de todos, a saber: sintagma, epistemologia, agravante etc.

As palavras podem ser divididas em partes meno-res dotadas de significação chamadas morfemas. Embora os clipes de Madonna não causem o mes-mo impacto e polêmicas que causaram em décadas passadas, ainda há uma expectativa em torno do tema e a maneira de apresentá-lo ao público em cli-pes inéditos. Like a prayer e Erótica parecem ape-nas sombras diante das surpresas que ela ainda é capaz de produzir. Transgressão continua sendo o carro-chefe do seu trabalho e os clipes provocam a discussão sempre necessária acerca das identidades de gênero, instituições e tolerância.

Morfemas são unidades mínimas de significação.

Observe estes exemplos:

Radical O que contém o sentido básico do vocábulo. Aquilo que per-manece intacto, quando a palavra é modificada.Obs: Em se tratando de verbos, descobre-se o radical, reti-rando a terminação AR, ER ou IR.

Ex.: falar, comer, dormir, casa, carro.

Vogal Temática

Nos verbos, são as vogais A, E e I, presentes à terminação verbal. Elas indicam a que conjugação o verbo pertence:• 1ª conjugação = Verbos terminados em AR.• 2ª conjugação = Verbos terminados em ER.• 3ª conjugação = Verbos terminados em IR.

Obs.: O verbo pôr pertence à 2ª conjugação, já que proveio do antigo verbo poer.

Nos substantivos e adjetivos, são as vogais A, E, I, O e U no final da palavra, evitando que ela termine em consoante, como acontece em meia, pente, táxi, couro, urubu.Cuidado para não confundir vogal temática de substantivo e adjetivo com desinência nominal de gênero.

Ex.: Vogal temática –aam-a-ram-a-vaam-a-rãoam-á-ssemos

Tema É a junção do radical com a vogal temática. Se não existir a vogal temática, o tema e o radical serão o mesmo elemento; a mesma coisa acontecerá quando o radical for terminado em vogal. Por exemplo, em se tratando de verbo, o tema sempre será a soma do radical com a vogal temática - estu-da, come, parte; em se tratando de substantivos e adjetivos, nem sempre isso acontecerá. Vejamos alguns exemplos: no substantivo pasta, past é o radical, a, a vogal temática, e pasta o tema; já na palavra leal, o radical e o tema são o mesmo elemento: leal, pois não há vogal temática; e na palavra tatu também, mas, agora, porque o radical é termi-nado pela vogal temática.

Ex.: fala-r/fala-vacome-r/come-rári-r/ri-a

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29Capítulo 3

DesinênciasÉ a terminação das palavras, flexiona-das ou variáveis, posposta ao radi-cal, com o intuito de modificá-las. Modi-ficamos os verbos, con jugando - os ; modificamos os substantivos e os adjetivos em gêne-ro e número. Exis-tem dois tipos de desinências:

Nominaisde gênero: indica o gênero da palavra. Esta terá desinência nominal de gênero, quando houver a oposição masculino x feminino. Por exemplo: cabeleireiro - cabeleireira. A vogal a será desinência nominal de gênero sempre que indicar o feminino de uma palavra, mesmo que o masculino não ter-mine em o. Por exemplo: crua, ela, traidora. de número: indica o plural da palavra. É a letra s, somente quando indicar o plural da palavra. Por exemplo, cadeiras, pedras, águas.

VerbaisModo-temporais = indicam o tempo e o modo. São quatro as desinências modo-temporais:-va- e -ia-, para o Pretérito Imperfeito do Indicativo = estu-dava, vendia, partia.-ra-, para o Pretérito Mais-que-perfeito do Indicativo = es-tudara, vendera, partira.-ria-, para o Futuro do Pretérito do Indicativo = estudaria, venderia, partiria.-sse-, para o Pretérito Imperfeito do Subjuntivo = estudasse, vendesse, partisse.

Número-pessoais = indicam a pessoa e o número. São três os grupos das desinências número/pessoais.

Grupo I: i, ste, u, mos, stes, ram, para o Pretérito Perfeito do Indicativo = eu cantei, tu cantaste, ele cantou, nós canta-mos, vós cantastes, eles cantaram.

Grupo II: -, es, -, mos, des, em, para o Infinitivo Pessoal e para o Futuro do Subjuntivo = Era para eu cantar, tu canta-res, ele cantar, nós cantarmos, vós cantardes, eles cantarem. Quando eu puser, tu puseres, ele puser, nós pusermos, vós puserdes, eles puserem.

Grupo III: -, s, -, mos, is, m, para todos os outros tempos = eu canto, tu cantas, ele canta, nós cantamos, cantamos, vós cantais, eles cantam.

AfixosSão elementos que se juntam a radicais para formar novas palavras. São eles: prefixo e sufixo.

PrefixoÉ o afixo que aparece antes do radical.

Ex.: destampar, in-capaz, amoral.

SufixoÉ o afixo que aparece depois do radical, do tema ou do infi-nitivo. Por exemplo: pensamento, acusação, felizmente.

Ex.: pensamento, acusação, felizmente.

Vogais e consoantes de ligação

São vogais e consoantes que surgem entre dois morfemas, para tornar mais fácil e agradável a pronúncia de certas palavras.

Ex.: flores, bam-buzal, gasômetro, canais.

VOCÊ SABIA?

Os morfemas são classificados em lexicais e gramaticais.

Os morfemas lexicais fazem referência a seres ou conceitos da realidade objetiva ou subjetiva (Paulo,

dia, ar), ou seja, possuem referentes extralinguísticos.

Os morfemas gramaticais têm uma significação interna ao sistema linguístico, porque atuam para es-

tabelecer relações entre palavras ou para marcar categorias como gênero, número, modo, pessoa etc.

Afixos são os morfemas que, somados aos radicais, formam novas palavras. Quando acrescentados

antes ao radical são chamados de prefixos e, adicionados após o radical, de sufixos.

As desinências são os sufixos que indicam as flexões das palavras variáveis.

A vogal temática é um morfema vocálico que se acrescenta a determinados radicais antes das desi-

nências. O conjunto formado por radical + vogal temática recebe o nome de tema. Os temas podem

ser nominais e verbais.

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30 Capítulo 3

atividadE |1. Indique o radical das séries de palavras abaixo:a. gordinho, gordos, engordar, gordura;b. pobreza, pobretão, empobrecer, pobrezinho;c. florescer, florido, florada, reflorir; d. realizar, irreal, realmente, realidade.

2. Destaque o prefixo de cada palavra:a. desfazer; b. incompetente;c. ilegal;d. reflorir;e. deselegante;f. reler;g. incapaz; h. reproduzir.

2. prOcEssO dE criaçãO das palavras

2.1 nEOlOGismO

A palavra neologismo é formada pelos radicais gregos néos, que significa “novo” ou “moderno”, e “lógos”, palavra, tratado. Assim, significa palavra nova. Todas as línguas, sem exceção, usam esse re-curso para atender às necessidades de expressão e criação dos falantes em determinados contextos de uso. O conhecimento intuitivo dos elementos mórficos que compõem as palavras é acionado no falante quando da criação do neologismo. Vale ain-da dizer que “os neologismos surgem da necessida-de de nomear uma nova realidade tanto no campo

da ciência quanto no da arte, enfim em todos os campos do conhecimento e mesmo com base na linguagem comum e na influência de uma língua estrangeira” (Weg; Antunes de Jesus, 2011:23). As

SAIBA MAIS!

Cintra, L. & Cunha, C. (1984). Nova Gramá-

tica do Português Contemporâneo. Lisboa: Sá

da Costa.

Bechara, E. (1999). Moderna Gramática Por-

tuguesa (37ª ed. revista e ampliada). Rio de

Janeiro: Lucerna.

Mateus, M. H. et alli. (2003). Gramática da

Língua Portuguesa. Lisboa: Caminho.

Ali, M. Said (1969). Gramática Secundária da

Língua Portuguesa (8ª edição revista e comen-

tada por Evanildo Bechara). S. Paulo: Ed. Me-

lhoramentos.

autoras ainda dão os seguintes exemplos acerca de alguns neologismos atuais:2.1.1 ProcEssos DE Formação Dos nEologismos

A formação de neologismos envolve processos variados que vão da comparação com termos já usados até outros processos que implicam o uso de prefixos, sufixos e empréstimos de termos de

Amanhã é meu níver. Amanhã é meu aniversário.

Adoro refri. Adoro refrigerante.

Ele é animal. Ele é muito bom!

Ela gosta de causar! Ela gosta de impressionar/criar confusão.

Estamos só ficando. Estamos só nos relacionando sem compromisso.

Ele me azarou na festa.

Ele me paquerou na festa.

super-herói herói muito capacitado

não policial civil

enxugamento conjunto de medidas

jeans estrangeirismo

besteirol conjunto cômico de bobagens

outras línguas. Sobre esses processos, Weg e Jesus (2011:24) citam os seguintes exemplos:Agora observe o efeito estilístico que o poeta Ma-nuel Bandeira constrói, valendo-se do uso do neolo-gismo no poema que recebeu o título de Neologismo.

nEologismo

Beijo pouco, falo menos ainda. Mas invento palavrasque traduzem a ternura mais fundaE mais cotidiana.inventei, por exemplo, o verbo teadorar.IntransitivoTeadoro, Teodora.

2.2 EstranGEirismO

Quando necessitamos nomear uma nova realida-de, criamos conceitos que são expressos em pala-vras. A esse processo de criação de palavras para abranger uma realidade que se descortina a nossa frente, damos o nome de neologismo. Diferente-

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31Capítulo 3

mente, mas não oposto a esse processo, temos o es-trangeirismo que implica o processo pelo qual uma língua se apropria de termos e expressões oriundos de outras línguas. Dessa maneira,

Estrangeirismo é o uso de termos ou expressões tomadas por empréstimo de outras línguas.

Esse processo resulta do contato entre culturas. Tal contato produz efeitos no vocabulário das línguas, de modo que novas palavras são criadas valendo-se de termos de outras línguas, ou simplesmente fa-zendo-se uso do termo como se encontra na língua de origem. O estrangeirismo advém de processos vários e origens distintas:

a. anglicanismo (ou anglicismo): proveniente do inglês (shopping/show/stress);

b. arabismo: oriundo do árabe (beirute/bazar);

c. galicismo (ou francesismo): proveniente do francês (toalete/abajur);

d. castelhanismo: oriundo do espanhol (casta-nholas/ quixotesco);

e. italianismo: proveniente do italiano (pizza/muçarela);

f. germanismo: oriundo do alemão (chope);

g. grecismo: oriundo do grego (antífona);

• skatista(queusaskate);• jeans(tecido/calças);• backup(cópiadesegurançadeumarquivo);• closet(pequenoaposentosemjanelaondese

guardam roupas e outros materiais;• doping (utilização ilegal de substâncias

químicas;• feedback(realimentação,estímuloqueprovo-

ca outro estímulo);• upload(enviodearquivodeummicrocompu-

tador a outro para computador remoto.

Mas ocorrem, em alguns casos, adaptações de algu-mas palavras que entraram na língua portuguesa via empréstimo:

• xampu (produto de higiene que é grafadoshampoo na sua forma original);

• piquenique (escrita picnic em sua forma

VOCÊ SABIA?

As palavras de origem estrangeira geral-

mente passam por um processo de aportu-

guesamento fonológico e gráfico, de manei-

ra que, às vezes, nem chegamos a perceber

que estamos usando um estrangeirismo.

Quem nunca usou alguns desses termos de

maneira tão natural como se fossem pala-

vras da língua portuguesa?

linkar/blogueiro/clicar/site/twittar etc.

h. latinismo: proveniente do latim (minuto/currículo).

Às vezes, o termo ou expressão oriundo de outra língua é usado da mesma maneira como na língua original, por exemplo:

VOCÊ SABIA?

Linchar: derivado do nome próprio inglês

Lynch, e da expressão Lynch´s law (lei de

Lynch). Entre os séculos XV e XIX, vários juí-

zes com o mesmo nome, na Irlanda e nos Es-

tados Unidos, condenaram criminosos sem

processo legal. “Linchar” significa “executar

sumariamente, segundo a lei chamada de

Lynch; aplicação da lei de Lynch; execução

sumária por uma população.”

(extraído do livro “A língua como expressão

e criação”, de Rosana Morais Weg e Virgínia

Antunes de Jesus.)

original);• abajur(abat-jour:quebra-luz).Atente para o efeito estético e expressivo que a palavra equalizar (oriunda do inglês, equalize) pro-duz no interior desta canção, da compositora e cantora Pitty.

EqualizE

Às vezes, se eu me distraioSe eu não me vigio um instanteMe transporto pra perto de vocêJá vi que não posso ficar tão soltaMe vem logo aquele cheiroQue passa de você pra mimNum fluxo perfeito

Enquanto você conversa e me beija

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32 Capítulo 3

Ao mesmo tempo eu vejoAs suas cores no seu olho, tão de pertoMe balanço devagarComo quando você me embalaO ritmo rola fácilParece que foi ensaiado

E eu acho que eu gosto mesmo de vocêBem do jeito que você éEu vou equalizar vocêNuma frequência que só a gente sabeEu te transformei nessa cançãoPra poder te gravar em mim. (...)

(PITTY; Souza, Peu. “Equalize”. Admirável chip novo. CD. Deckdisc, 2003)

2.3 arcaísmO

O arcaísmo é uma palavra ou expressão que deixou de ser usada nas interações verbais dos falantes, fa-ladas ou escritas. Isso acontece porque a língua é um código que se encontra sujeito às mudanças socioculturais e temporais. Desse modo, quando certas expressões caem em desuso, temos o arca-ísmo. Se o neologismo representa o acréscimo de novas palavras ao léxico de uma língua dada, o ar-caísmo representa o processo contrário, ou seja, a supressão e/ou desaparecimento de uma palavra, expressão e/ou construção frasal.

São exemplos de arcaísmo ocorridos na língua portuguesa:

• ceroula(cueca)• vosmicê(você)• alcaide(prefeito)• outrossim(também)• magote(grandequantidade)

Essas palavras foram consideradas inadequadas e antiquadas no decorrer do tempo. O arcaísmo é resultado de um processo inerente às línguas que não são estáticas nem imutáveis, mas produto das interações sociais, do uso cotidiano e da passagem do tempo. Há de se considerar que o arcaísmo é determinado também pelo contexto ou lugar onde é usado. Por exemplo, em Portugal, algumas pala-

vras usadas atualmente são consideradas arcaicas no Brasil. Na música abaixo, atente para as palavras em negri-to que não são mais usadas nas interações atuais, mas foram muito exploradas pelos compositores do movimento musical que ficou conhecido como Jovem Guarda.

FEsta DE arromBa (Erasmo Carlos)

Vejam só que Festa de Arromba!(Bapára!)No outro dia, eu fui parar...(Bapára!)Presentes no local,o rádio e a televisão;(Bapára!)Cinema, mil jornais,muita gente, confusão...

Quase não consigoNa entrada chegar,pois a multidãoestava de amargar!

Em Portugal (hoje) No Brasil (hoje)

Quero uma chávena de chá.

Quero uma xícara de chá.

O púcaro de açúcar está cheio.

O pote de açúcar está cheio.

SAIBA MAIS!

ROCHA LIMA, C. H. da. Gramática Normati-

va da Língua Portuguesa. 43 ed. São Paulo:

José Olympio/Record, 2002.

AZEREDO, J. C. de. Gramática Houaiss da

língua portuguesa. 45. ed. São Paulo, Sarai-

va, 2005.

ALMEIDA, N. M. de. Gramática Metódica da

Língua Portuguesa. 45. ed. São Paulo: Publi-

folha, 2009.

Hey! Hey! (Hey! Hey!)Que onda!Que festa de arromba!...

3. nívEis da linGuaGEm

Há, grosso modo, dois níveis que marcam o uso da língua. São eles: o nível formal e o coloquial. A opção por um ou outro dependerá da situação de enunciação que envolve os interlocutores, o lugar da interação e o gênero textual no qual a produção

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33Capítulo 3

verbal é realizada. De acordo com isso, temos o se-guinte quadro:

Uma conferência numa universidade, por ter um caráter informativo e didático, exige que o falante lance mão de uma linguagem mais formal. Já uma conversa entre amigos, num barzinho da cidade,

requer uma linguagem menos formal e mais ínti-ma. Desse modo, a linguagem ajusta-se à situação de produção. 3.1 O jarGãO

Em Morais Weg e Antunes de Jesus (2011:35), le-mos que “o jargão é um código linguístico bastante particular. É um conjunto de termos ou expressões comuns a um grupo restrito: termos especializados de direito, marketing, jornalismo, artes plásticas, música etc.” Depreendemos, assim, que o jargão é uma variedade linguística que identifica determi-nados grupos sociais cujas características são muito específicas.

Weg e Antunes de Jesus (2011:37) ainda disponibi-

Linguagem coloquialNesse nível de linguagem, o fa-lante faz uso de uma variedade mais informal, familiar, íntima, espontânea e popular da língua.

Carta pessoalBilheteE-mailConversa

Linguagem formalÉ caracterizada por assumir for-ma, na escrita e na fala, mais erudita, menos íntima e menos espontânea.

AulaConferênciaDocumentoComunicado

Esportes Feminino: Brasil começa busca vaga para o mundial de 2010. – A seleção feminina de vôlei estreia hoje no torneio classificatório para o Campeonato Mundial feminino de 2010. Favoritas, as campeãs olímpicas enfrentam a Venezuela, às 19h, em Contagem (MG). (Folha de São Paulo. Esportes. 22 de jul. 2009, p.5).

Informática “Falta de padronização em hardware e software irrita consumidor; confira esforços de unificação e galeria de adaptadores”. (Folha de São Paulo. Informática. 22 jul. 2009, p. 5)

Literatura “Histórica e essencialmente matriz da novela e do romance, o conto apresenta estrutura própria, diversa da que preside aquelas e demais formas narrativas (apólogo, crônica, poema em prosa, etc.).” (MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo. Cultrix: 1995. P. 100

Saúde “Uma meta-análise da Cochrane (organização internacional que avalia pesquisas mé-dicas) mostra que um terço dos cânceres de mama diagnosticados em países com ras-treamento estabelecido não causaria sintomas ou não levaria as pacientes à morte, mesmo que não fossem tratados. (Folha de São Paulo. Saúde. 22 de jul. 2009. p. C9.)

lizam um quadro com jargões específicos a deter-minadas áreas que reproduziremos em parte:

De acordo com o quadro acima, há termos e ex-pressões que são específicos de determinada área do conhecimento e/ou social, de maneira que eles tendem a ser usados reiteradamente no discurso desses grupos.

Uma vez que o jargão é recorrente dentro da esfera de um determinado grupo social, faz-se necessário contextualizar os textos produzidos por esses gru-pos a fim de que a compreensão seja eficaz. O co-nhecimento do código – e das especificidades ine-rentes a esse código – utilizado pelos interlocutores dentro do processo da atividade comunicativa é imprescindível quando intentamos compreender os textos em toda sua inteireza.

Assim, devemos usar o jargão quando os interlocu-tores pertencem ao mesmo campo de atuação ou

quando esses têm interesses comuns. Além disso, o jargão não afetaria a compreensão dos leitores quando o texto produzido numa situação específi-ca se trata de um texto especializado, ou seja, quan-do o texto, escrito ou oral, for divulgado numa de-terminada área.

3.2 O clicHê

O clichê se caracteriza pelo uso de vocábulos, ex-pressões ou frases que, por força da repetição, pas-sam a perder em força expressiva e inventividade. Poderíamos citar como clichês frases do tipo:

a. Minha vida é um livro aberto.b. Quem acredita sempre alcança.

Essas expressões tornam-se desgastadas ao longo do tempo e passam a figurar naquele grupo de ex-pressões que se configuram como lugar-comum. Como tipos de clichês, podemos citar:

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34 Capítulo 3

atividadE |Leia o texto abaixo e identifique as expressões que podem ser considerados clichês e depois comente o uso desse recurso neste gênero tex-tual específico e seu uso nessa situação especí-fica de comunicação:

“Venho, por estas mal traçadas linhas, dizer-lhe, do fun-do do meu coração, que estou cego de amor por você, minha musa e mulher exemplar. Sei que as aparências enganam e que quem vê cara não vê coração, mas também sei que os olhos são o espelho da alma. Assim, dentro da minha infinita humildade, ouso revelar-lhe que percebo que meus anseios não são corres-pondidos, o que parte meu coração. No entanto, como a esperança é a última que morre e devagar se vai ao longe, não vou fugir da raia.” (...) (Extraído de Weg; Antunes de Jesus, 2011:42)

rEfErências

ALMEIDA, N. M. de. Gramática Metódica da Língua Portuguesa. 45ª ed. São Paulo: Publifo-lha, 2009.

ALI, M. SAID (1969). Gramática Secundária da Língua Portuguesa (8ª edição revista e comen-tada por Evanildo Bechara). S. Paulo: Ed. Me-lhoramentos.

AZEREDO, J. C. de. Gramática Houaiss da lín-gua portuguesa. 45ª ed. São Paulo, Saraiva, 2005.

BECHARA, E. (1999). Moderna Gramática Por-tuguesa (37ª ed. revista e ampliada). Rio de Ja-neiro: Lucerna.

CINTRA, L. & CUNHA, C. (1984). Nova Gra-mática do Português Contemporâneo. Lisboa: Sá da Costa.

MATEUS, M. H. et alli. (2003). Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: Caminho.

ROCHA LIMA, C. H. da. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 43 ed. São Paulo: José Olympio/Record, 2002.

WEG; ANTUNES DE JESUS. A língua como ex-pressão e criação. v. 2. São Paulo: Contexto, 2011.

1. Provérbios e ditos populares geralmente caem no rol de expressões que chamamos de clichê, uma vez que seu uso repetitivo aponta para a falta de criatividade do falante. Só para citar alguns:

a) Deus escreve certo por linhas tortas.b) Filho de peixe, peixinho é.c) Quem vê cara não vê coração.

2. Outro tipo de clichê pode ser exemplificado pelas frases alheias que são usadas pelo falante sem identificação do autor, distorcidas ou, pior, atribuem a frase a um autor que não a proferiu.

a) “Só sei que nada sei.” (Sócrates)b) “Tudo vale a pena se a alma não é pequena.” (Fernando Pessoa, Mar Português)c) “Ser ou não ser, eis a questão.” (Shakeaspe-are, Hamlet)d) “Penso, logo existo.” (Descartes, Discurso do Método)

3. Existem também os clichês de época que apa-recem em determinados momentos históricos e duram o tempo da situação a qual se referem. Esses clichês circulam geralmente nas mídias impressa e televisiva.

a) Durante uma epidemia, aparecem os seguin-tes clichês: grupo de risco, a doença se alastra rapidamente etc. b) Quando um novo governo assume a gestão de um estado, país etc.: vamos colocar a casa em ordem.

4. Há também clichês diversos que podem não ser tão problemáticos se utilizados em situa-ções adequadas de comunicação. São eles:

a) fechar a sete chavesb) ter calorosa recepçãoc) errar é humanod) comer o pão que o diabo amassoue) jogar tudo para o altof) voltar à estaca zero.

Assim como o jargão, o clichê deve ser usado levan-do em consideração o lugar e os interlocutores im-plicados no processo de comunicação. Não serão problemáticos nem representarão falta de inventi-vidade no manuseio da língua, se utilizados para produzir efeitos estéticos específicos em gêneros textuais que permitem seu uso.

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35Capítulo 4Capítulo 4

ObjEtivOs EspEcíficOs

• ApresentaraoalunoosfundamentoshistóricosdaEstilística;

• Refletiracercadosrecursosestilísticosdisponíveisnalínguaportuguesa;

• Possibilitaroconhecimentodosdiversosrecursosexpressivosagenciadosnaprodução de sentido.

intrOduçãO

Caríssimo estudante,Dando continuidade ao capítulo anterior, abordaremos, neste, outros fatos da língua que se encontram na esteira do que se configuram como recursos expressi-vos. Tal como no anterior, apresentaremos esses fatos da língua numa perspectiva estilística e discursiva. Assim, tentaremos refletir acerca de conteúdos expostos na gramática normativa com base na análise estilística e, sempre que possível, traremos para a discussão aspectos do discurso que determinam a construção do estilo. Na exposição do que pretendemos desenvolver aqui, encontram-se concei-tos como conotação e denotação e as figuras de linguagem. Bom estudo!Profº Luciano Azevedo

1. a linGuaGEm fiGurada

Figuras de linguagem ou figuras de estilo são recursos dos quais o falante lança mão, a fim de falar ou escrever de maneira mais expressiva e bela. São divididas em quatro grupos: figuras de som, figuras de pensamento, figuras de sintaxe e figuras de palavras. Começaremos falando das figuras de linguagem baseados no conceito de denotação e conotação.

1.1 dEnOtaçãO E cOnOtaçãO

As palavras podem ser usadas em sentido denotativo e/ou conotativo. Quando são empregadas em sentido literal, temos a denotação. Sentido literal é aquele atribuído pelo dicionário. Essas palavras são usadas geralmente para indicar no mundo um referencial preciso e de forma objetiva. Temos como exemplo:

a

Prof. Luciano Taveira de AzevedoCarga Horária | 15 horas

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36 Capítulo 4

1. A televisão está ligada. “televisão s. f. 1. sistema de transmissão de

sons e imagens à distância [...]”

2. A laranja está na despensa. “despensa s. f. compartimento para guardar

alimentos.”

A definição de televisão e despensa pode ser encon-trada no Miniaurélio, Dicionário da Língua Portu-guesa. Veja que as informações apresentadas pelo dicionarista acerca das palavras televisão e despensa não têm a finalidade de emocionar nem expressar beleza e, por isso, foram usadas em seu sentido lite-ral nos enunciados 1 e 2.

Esse sentido denotativo das palavras pode sofrer deslocamentos e desembocar em novos sentidos que são determinados por fatores como

a. experiência pessoal do locutor;

b. intenção do locutor que pode ser a de emocionar;

c. intenção do locutor em produzir novos senti-dos para uma mesma palavra.

A esses novos sentidos atribuídos à palavra num processo criativo e inventivo, dá-se o nome de co-notação. Vejamos um exemplo:

Das utoPias

(Mário Quintana)

Se as coisas são inatingíveis... ora!não é motivo para não querê-las...Que tristes os caminhos, se não foraa mágica presença das estrelas!

(Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/quinta1.html#dasutopias)

Observe que, nesse poema de Quintana, a pala-vra estrelas tem o seu significado alargado, reve-lando, assim, o aspecto opaco da palavra. Nesse contexto construído pelo poema, estrelas signi-fica coisas difíceis de serem atingidas, sonhos distantes, abismos intransponíveis. Nesse caso, a palavra foi usada em seu sentido conotativo ou figurado.

1.2 fiGuras dE linGuaGEm

Uma das maneiras de atribuir sentido conotati-vo às palavras e, consequentemente, aos textos, chama-se figuras de linguagem ou figuras de estilo. Por meio desse recurso, criamos imagens que ex-pressam a maneira como percebemos a realidade. Vamos ao exemplo:

1. Foram nublados esses dias, de frio nos ossos do pensamento e dores nas artérias das horas. Do ventre beberam-se partos demorados, umedeci-dos de desamor, e tragos duma chuva de nava-lha. Mas hoje, nesse sol que não virá, há de se buscar passos de magma onde o frio imprimira silêncio e mágoas; desses, brotar outra estrada e, quem sabe, prosseguir na leve trilha que ou-trora o sol deixara.

(Carlos Tenreiro, poeta e professor da rede pública do Estado de São Paulo. O texto foi publicado na página pessoal do autor na plataforma Facebook)

O texto apresenta várias palavras e expressões em sentido figurado, das quais apenas destacaremos o primeiro período: Foram nublados esses dias, de frio nos ossos do pensamento e dores nas artérias das horas. De acordo com nosso conhecimento de mundo, temos por certo que pensamentos não têm ossos nem horas, artérias. Contudo, por uma associação de ideias, criamos uma figura (ou imagem) que nos faz imaginar pensamentos com ossos e horas repletas de artérias. Isso é um efeito estético dado pela aproximação de palavras que têm alguma se-melhança de sentido. Quando assim procedemos, utilizamos a palavra em sentido conotativo e cons-truímos figuras.

1.2.1 Figuras DE som

As figuras de som podem ser percebidas e identifi-cadas quando as pronunciamos em voz alta, uma vez que sua finalidade é a produção de determina-dos efeitos sonoros. São elas:

alitEração

Essa figura de linguagem consiste na repetição de consoantes. Encontramos esse recurso estilístico em trava-línguas, músicas e poemas quando se in-tenciona produzir uma forte sonoridade dentro do texto poético.

“Ah! Menina tonta,toda suja de tinta

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37Capítulo 4

mal o céu desponta!(Sentou-se na ponte,muito desatenta…E agora se espanta:Quem é que a ponte pintacom tanta tinta?…)A ponte apontae se desaponta.A tontinha tentalimpar tinta,ponto por pontoe pinta por pinta…Ah! a menina tonta!Não viu a tinta da ponte!(Tanta Tinta – Cecília Meireles)

Nesse poema, Cecília Meireles constrói o efeito sonoro por meio da repetição da consoante linguo-dental /t/ e da bilabial /p/. Temos, na repetição dessas consoantes, a produção da aliteração. A po-etisa utilizou-se desse recurso para dar mais ritmo e musicalidade ao poema.

assonância

Diferentemente da aliteração, a assonância é uma figura de som que consiste na repetição de vogais. A assonância é também bastante utilizada na pro-dução de composições musicais, trava-línguas e poemas. Nesse último, é comum a utilização da assonância na construção das rimas.

atrás Da Porta

(Chico Buarque)

Quando olhaste bem nos olhos meusE o teu olhar era de adeusJuro que não acreditei, eu te estranheiMe debrucei sobre teu corpo e duvideiE me arrastei e te arranheiE me agarrei nos teus cabelosNo teu peito, teu pijamaNos teus pés ao pé da camaSem carinho, sem cobertaNo tapete atrás da portaReclamei baixinhoDei pra maldizer o nosso larPra sujar teu nome, te humilharE me vingar a qualquer preçoTe adorando pelo avessoPra mostrar que ainda sou tua

(Disponível em: http://letras.terra.com.br/chico--buarque/45113/)

Essa primorosa composição de Chico Buarque de Holanda retrata o momento e as emoções que acompanham a separação de um casal. O eu-lírico é feminino e o título “Atrás da porta” já aponta para o desenrolar dramático das ações que com-põem a narrativa. Como recurso estilístico, o com-positor abusa da aliteração e assonância. O uso da assonância fica evidente em

Juro que não acreditei, eu te estranhei/Me debrucei so-bre teu corpo e duvidei/E me arrastei e te arranhei

A repetição das vogais e e i na terminação dos ver-bos acreditei, estranhei, debrucei, duvidei, arrastei e arranhei produz um efeito sonoro que enfatiza o tempo verbal, nesse caso, o pretérito perfeito. Essa ênfase dada ao passado das formas verbais, dentro desse cenário de separação, aprofunda ainda mais a dramaticidade da cena.

Paranomásia

A paranomásia refere-se ao uso repetitivo de pala-vras que têm sons parecidos, ou seja, parônimas. Esse recurso pode produzir diferentes efeitos que vão da ambiguidade à impressão de um tom engra-çado que é dado ao texto.

“Berro pelo aterro pelo desterro / berro por seu berro pelo seu erro / quero que você ganhe que você me apanhe / sou o seu bezerro gritando mamãe.” (Caetano Veloso)

Esse trecho da música Qualquer Coisa, de Caetano Veloso, apresenta uma sequência de palavras que têm sons parecidos, mas significados diferentes. Esse efeito pode ser observado entre as palavras berro/aterro/desterro/erro/bezerro e ganhe/apanhe. A essa repetição de palavras que apresentam sons semelhantes, mas significados diferentes, damos o nome de paronomásia.

onomatoPEia

A onomatopeia é um recurso sonoro e estilístico que consiste na criação de palavras que represen-tam os sons da realidade. O uso da onomatopeia é frequente em histórias em quadrinhos e tem a finalidade de reproduzir sons de ruídos, quedas, gritos, socos etc.

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38 Capítulo 4

Nessa pequena história em quadrinhos, encontra-mos algumas onomatopeias, como CHUAC, VUP, POF. Essas palavras foram criadas para represen-tar os sons de um beijo, do lançamento de um bumerangue e de um soco. Atente para o efeito estilístico que a onomatopeia produz dentro do texto ao representar graficamente os mais variados sons, com os quais nos deparamos em contextos diversos.

Ao criarmos uma figura sonora, construímos de-terminados efeitos estilísticos, mas não só, uma vez que novos sentidos são atribuídos ao texto que

produzimos. atividadE |Leia o texto abaixo:

PoDEroso Português

Pedro Paulo Pereira Pinto, pequeno pintor por-tuguês, pintava portas, paredes, portais. Porém, pediu para parar porque preferiu pintar panfletos.Partindo para Piracicaba, pintou prateleiras para poder progredir.

Posteriormente, partiu para Pirapora. Pernoitan-do, prosseguiu para Paranavaí, pois pretendia pra-

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39Capítulo 4

ticar pinturas para pessoas pobres. Porém, pouco praticou, porque Padre Paulo pediu para pintar panelas, porém posteriormente pintou pratos para poder pagar promessas.

Pálido, porém personalizado, preferiu partir para Portugal para pedir permissão para papai para permanecer praticando pinturas, preferindo, por-tanto, Paris.

Partindo para Paris, passou pelos Pirineus, pois pretendia pintá-los.

Pareciam plácidos, porém, pesaroso, percebeu penhascos pedregosos, preferindo pintá-los par-cialmente, pois perigosas pedras pareciam precipi-tar-se principalmente pelo Pico, porque pastores passavam pelas picadas para pedirem pousada, provocando provavelmente pequenas perfurações, pois, pelo passo percorriam, permanentemente, possantes potrancas.

Pisando Paris, pediu permissão para pintar pa-lácios pomposos, procurando pontos pitorescos, pois, para pintar pobreza, precisaria percorrer pontos perigosos, pestilentos, perniciosos, prefe-rindo Pedro Paulo precaver-se.

Profundas privações passou Pedro Paulo. Pensava poder prosseguir pintando, porém, pretas previ-sões passavam pelo pensamento, provocando pro-fundo pesar, principalmente por pretender partir prontamente para Portugal.

Povo previdente! Pensava Pedro Paulo… Preciso partir para Portugal porque pedem para prestigiar patrícios, pintando principais portos portugueses. Passando pela principal praça parisiense, partin-do para Portugal, pediu para pintar pequenos pás-saros pretos.

Pintou, prostrou perante políticos, populares, po-bres, pedintes.

-Paris! Paris! Proferiu Pedro Paulo.-Parto, porém penso pintá-la permanentemente, pois pretendo progredir.

Pisando Portugal, Pedro Paulo procurou pelos pais, porém, Papai Procópio partira para Província.

Pedindo provisões, partiu prontamente, pois pre-cisava pedir permissão para Papai Procópio para prosseguir praticando pinturas. Profundamente pálido, perfez percurso percorrido pelo pai. Pe-dindo permissão, penetrou pelo portão principal. Porém, Papai Procópio puxando-o pelo pescoço proferiu:

-Pediste permissão para praticar pintura, porém, praticando, pintas pior.

Primo Pinduca pintou perfeitamente prima Petú-nia. Porque pintas porcarias?-Papai, proferiu Pedro Paulo, pinto porque permi-tiste, porém preferindo, poderei procurar profis-são própria para poder provar perseverança, pois pretendo permanecer por Portugal.

Pegando Pedro Paulo pelo pulso, penetrou pelo patamar, procurando pelos pertences, partiu prontamente, pois pretendia pôr Pedro Paulo para praticar profissão perfeita: pedreiro! Passan-do pela ponte precisaram pescar para poderem prosseguir peregrinando. Primeiro, pegaram peixes pequenos, porém, passando pouco prazo, pegaram pacus, piaparas, pirarucus. Partindo pela picada próxima, pois pretendiam pernoitar perti-nho, para procurar primo Péricles primeiro.

Pisando por pedras pontudas, Papai Procópio procurou Péricles, primo próximo, pedreiro pro-fissional perfeito. Poucas palavras proferiram, po-rém prometeu pagar pequena parcela para Péricles profissionalizar Pedro Paulo.

Primeiramente Pedro Paulo pegava pedras, po-rém, Péricles pediu-lhe para pintar prédios, pois precisava pagar pintores práticos. Particularmente Pedro Paulo preferia pintar prédios. Pereceu pin-tando prédios para Péricles, pois precipitou-se pe-las paredes pintadas. Pobre Pedro Paulo, pereceu pintando…”

Permita-me, pois, pedir perdão pela paciência, pois pretendo parar para pensar…

(Texto disponível em: http://www.palpitedigital.com.br/wp/2007/08/01/texto-inteiro-so-com-a--letra-p/)

a) Com base no texto acima, produza outro texto de no mínimo cinco frases, cujas palavras comecem por consoante escolhida por você. Aventure-se e produza textos com estilo.

b) Agora conclua: que figura de linguagem foi utilizada em ambos os textos?

1.2.2 Figuras DE PEnsamEnto

As figuras de pensamento constituem processos que se dão no nível ou na esfera do pensamento e podem ser definidas pela associação de ideias que

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40 Capítulo 4

o locutor deseja expressar. antítEsE

Consiste na aproximação de palavras ou expressões de sentido oposto. A antítese configura-se como um recurso de estilo bastante eficaz. Veja o exemplo:

cErtas coisas

Não existiria som se nãoHouvesse o silêncioNão haveria luz se nãoFosse a escuridãoA vida é mesmo assimDia e noite, não e sim

Em Certas coisas, Lulu Santos e Nelson Motta usam à exaustão esse recurso estilístico. Ocorre antítese entre os termos som/silêncio, luz/escuridão, dia/noite e não/sim. Essas palavras, embora apre-sentem sentidos contrários, são aproximadas pelos compositores e apontam para a ideia de que a vida é composta de realidades opostas de maneira que, necessariamente, uma coisa não existiria se não houvesse o seu contrário.

ParaDoxo

No paradoxo, temos uma espécie de antítese em que ideias opostas não se encontram apenas justa-postas, mas entram em contradição. O paradoxo, também chamado de oximoro, representa a produ-ção intencional de um contrassenso.

Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer.

Nessa estrofe do mais famoso poema de Luís Vaz de Camões, temos várias ocorrências de paradoxos que se distribuem pelos versos, mas destacamos apenas o segundo, por ser mais representativo do fenômeno estilístico que estamos estudando. Nes-se verso, Camões fala de uma ferida que dói e não se sente e, ao assim fazê-lo, produz uma contradição (dói x não se sente).

EuFEmismo

Essa figura de pensamento consiste em suavizar uma ideia desagradável, triste, por meio da substi-tuição do termo contundente por palavras amenas.

a. José foi desta para melhor. (=morreu)b. Sua nota na prova não foi das melhores. (= foi

péssima)

hiPérBolE

A hipérbole é usada quando queremos enfatizar uma ideia. Isso acontece por meio de termos que dão ideia de exagero. No exemplo, temos:

a. Arrancou todos os cabelos ao saber a notícia. (=desesperou-se)

b. Chorou rios de lágrimas. (=chorou copiosamente)

ironia

A ironia é a figura de pensamento pela qual di-zemos o contrário daquilo que pensamos. Geral-mente empregamos esse recurso quando queremos expressar sarcasmo.

a. Ele é rápido como um bicho preguiça. (= lento)b. Você fez um excelente serviço. (= péssimo)

graDação

Na gradação, as ideias são apresentadas em pro-gressão ascendente (clímax) ou descendente (anti-clímax). Ou seja, há uma apresentação gradativa das ideias em que clímax e anticlímax representam o ponto de chegada da gradação.

“Um coração chegando de desejosLatejando, batendo, restrugindo...” (Vicente de Carvalho)

“Ó não guardes, que a madura idadete converta essa flor, essa beleza,em terra, em cinzas, em pó, em sombra, em nada.” (Gregório de Matos)

ProsoPoPEia ou PErsoniFicação

Consiste em atribuir ações ou qualidades de seres animados a seres inanimados, ou características humanas a seres não humanos. Veja os exemplos:

a. A floresta gesticulava nervosamente diante do fogo que a devorava.

b. O ipê acenava-lhe brandamente, chamando-o

para casa.

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41Capítulo 4

atividadE |1. IdentIfIque que fIguras de pensamento fo-ram empregadas nos textos a seguIr:

a) tIre o seu sorrIso do camInho, que eu que-ro passar com a mInha dor. (nélson cavaquI-nho e guIlherme de BrIto)

B) você foI a mentIra sIncera / BrIncadeIra maIs sérIa / que já me aconteceu. (Isolda)

c) Ó morte, vem depressa / acorda, vem de-pressa, / acorde-me depressa, / vem-me enxu-gar o suor, / que o estertor começa. (camI-

lo pessanha)

1.2.3 Figuras DE sintaxE

As figuras de sintaxe aparecem quando queremos dar maior expressividade ao sentido, de maneira que a lógica da frase é usada para construir um efei-to estilístico que realce determinado significado.

EliPsE

Consiste na omissão de um ou mais termos numa oração que podem ser facilmente identificados, tanto por elementos gramaticais presentes na pró-pria oração quanto pelo contexto. Veja o exemplo:

a. Veio sem pinturas, em vestido leve, sandálias coloridas.(RubemBraga)

Nesse exemplo, ocorre elipse do pronome ela (Ela veio) e da preposição de (de sandálias). Atente para a pontuação usada no período. Geralmente a vírgula marca a supressão do termo dentro do período.

zEugma

Consiste na supressão de um termo que foi usado anteriormente, de maneira que ele fica subenten-dido na oração. A zeugma é uma forma de elipse. Segue o exemplo:

a. Foi saqueada a vida, e assassinados os partidá-rios dos Felipes. (Camilo Castelo Branco)

A zeugma ocorre na supressão do verbo: e foram assassinados...

silEPsE

A silepse é a concordância que se faz com o termo que não está expresso no texto, e sim com a ideia que ele representa. É uma concordância ideológi-ca, latente, porque se faz com um termo oculto, facilmente subentendido. Há três tipos de silepse: de gênero, número e pessoa.

a. Silepse de gênero

Ocorre a silepse de gênero quando a concordância acontece com a ideia que o termo comporta e não necessariamente com o gênero (masculino/femini-no) da palavra a qual se refere. Veja este exemplo:

São Paulo é movimentada.

São Paulo é um nome próprio, cujo gênero é mas-culino. Nesse caso, a concordância do adjetivo mo-vimentada é feita com a ideia de cidade que fica subentendida e não com o gênero da palavra.

b. Silepse de número

A silepse de número acontece quando o verbo não concorda com o número (singular/plural) expres-so pelo sujeito da oração, mas com a ideia contida nele.

Esta gente está furiosa e com medo; por conse-quência, capazes de tudo. (Almeida Garrett)

Nesse exemplo, o adjetivo capazes concorda com a ideia de plural contida no substantivo feminino gente e não com o número dessa palavra que, gra-maticalmente, é singular.

c. Silepse de pessoa

A silepse de pessoa ocorre quando há um desvio de concordância. O verbo, mais uma vez, não concor-da com o sujeito da oração, mas com a pessoa que está inscrita no sujeito. Analisemos esta oração:

Os brasileiros choramos a derrota da seleção.

Nessa oração, há uma discordância entre a pessoa verbal e o sujeito expresso. Ao colocar o verbo na 1ª pessoa do plural, o falante inclui-se na ideia ex-pressa pelo sujeito e subverte, assim, a estrutura padrão que seria um verbo na 3ª pessoa do plural

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42 Capítulo 4

concordando com o sujeito. assínDEto

Consiste na coordenação de termos ou orações sem utilização de conectivos (conjunções). Esse re-curso imprime lentidão ao ritmo narrativo. Segue um exemplo:

a. A tua raça quer partir, guerrear, sofrer, vencer, voltar. (Cecília Meireles)

Observe que, nesse exemplo, a autora preferiu omitir o conectivo e que poderia ter sido usado entre os verbos vencer e voltar. Ao se utilizar desse recurso, Cecília dá maior lentidão à leitura do tex-to, de maneira que podemos ler as palavras com certa pausa e saboreá-las lentamente.

PolissínDEto

Ao contrário do assíndeto, o recurso expressivo denominado polissíndeto consiste na repetição do conectivo na coordenação de termos ou orações. Se o assíndeto desacelera o ritmo da narrativa, o polissíndeto confere mais movimento ao texto no qual é empregado.

a. Se era noivo, se era virgem, Se era alegre, se era bom, Não sei. É tarde para saber. (Carlos Drummond de Andrade)

O que foi dito acima pode ser comprovado nesses versos do poeta Drummond que repete a conjun-ção se e imprime um ritmo mais acelerado à leitura do poema.

hiPérBato

O hipérbato é uma inversão que acontece quando mudamos a sequência padrão dos termos da ora-ção ou da frase, de maneira que o termo deslocado de sua posição normal recebe forte ênfase.

a. Aberta em par estava a porta. (Almeida Garret)

A ordem normal da oração acima seria A porta estava aberta em par. Esse recurso pode ser usado quando intencionamos pôr em destaque um ter-mo específico da oração.

anacoluto

É uma ruptura na estrutura lógica da frase ou oração. Esse recurso é bastante utilizado na cons-trução dos diálogos que procuram reproduzir na escrita a língua falada. Veja o exemplo:

a. A velha hipocrisia, recordo-me dela com vergo-nha. (Camilo Castelo Branco)

Observe que, nesse discurso, há uma ruptura na disposição dos termos, de maneira que a referida ruptura promove um efeito estilístico cuja finali-dade é enfatizar um determinado elemento do diálogo. Vale ressaltar que o anacoluto desse ser é usado apenas para efeitos estilísticos e em casos específicos. Em geral, deve-se evitá-lo.

PlEonasmo

Consiste na repetição de um termo ou ideia, utili-zando-se das mesmas palavras ou não. A finalidade do pleonasmo é realçar a ideia, torná-la mais ex-pressiva. Veja este exemplo:

a. Chovia uma triste chuva de resignação. (Ma-nuel Bandeira)

O pleonasmo identificado na repetição dos termos chovia/chuva é considerado um pleonasmo estilísti-co e foi utilizado pelo autor para enfatizar a ideia de resignação que assume grande vulto. Assim como o anacoluto, o pleonasmo deve ser usado em casos muito especiais e com finalidades estilísticas.

atividadE |1. Nos textos abaixo, identifique o recurso da estilística sintática que foi usado:

a. Amou daquela vez como se fosse a última (...) / Amou daquela vez como se fosse o últi-mo (...) / Amou daquela vez como fosse máqui-na (...). (Chico Buarque)

b. E a menina, para não passar a noite só, era melhor que fosse dormir na casa de uns vizi-nhos.(RacheldeQueiroz)

c) Fez o caminho inverso: / não foi da coisa ao sonho, / ao nome, à sombra; / foi do vapor de água / à gota em que se condensa; / foi da pa-lavra à coisa: / árdua que seja, / ou demorada

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a coisa; / seja áspera ou arisca, / em sua coisa, a coisa, / seja doída, pesada, / seja enfim coisa a coisa. (João Cabral de Melo Neto, “Fábula de RafaelAlberti”)

1.2.4 Figuras DE Palavra

A figura de palavra consiste na substituição de uma palavra por outra, a fim de explorar os signifi-cados dessas palavras, seja por associação, similari-dade ou comparação. A exploração do significado das palavras de maneira expressiva ocorre quando criamos a metáfora, a metonímia, a antítese, o eu-femismo, a hipérbole, a ironia, a gradação, entre outros.

mEtáFora

A metáfora ocorre quando uma palavra passa a designar alguma coisa com a qual não mantém ne-nhuma relação objetiva. Na base de toda metáfora, encontra-se um processo comparativo.

a. Seus olhos são como luzes brilhantes.

Nesse exemplo, ocorre uma aproximação de senti-do entre olhos e luzes brilhantes dentro de um pro-cesso comparativo. Assim, os olhos descritos são tão vivos como as luzes ou tão bonitos que se asse-melham às luzes que brilham.

mEtonímia

Ocorre metonímia quando uma palavra é usada para designar alguma coisa com a qual mantém uma relação de proximidade ou posse. Veja o exemplo:

a. Moro no campo e como do meu trabalho.

Nesse exemplo, utilizou-se uma metonímia uma vez que a causa (trabalho) é usada no lugar do efei-to (alimento produzido). Se quiséssemos desfazer a metonímia, deveríamos escrever: Moro no campo e como o alimento que produzo.

catacrEsE

A catacrese consiste numa metáfora que, por causa de seu uso frequente, acabou por se cristalizar. É comum ocorrer a catacrese quando, por falta de um termo adequado para designar um determina-do conceito, toma-se outro por empréstimo. Essas

palavras passam a ser empregadas fora do seu senti-do original. Como exemplo, temos:a. asa da xícara;b. maçã do rosto;c. braço da cadeira.

Atente para o fato de que asa, maçã e braço tive-ram seu sentido deslocado ou “emprestado” a fim de dar conta de um conceito para o qual não se tem uma palavra adequada.

sinEstEsia

A sinestesia consiste em mesclar, numa mesma expressão, sensações percebidas por diferentes ór-gãos do sentido. Como na metáfora, trata-se de re-lacionar elementos de universos diferentes. Como exemplo, temos:

a. A sua voz áspera intimidava a plateia.

Nesse exemplo, voz remete a uma experiência au-ditiva, ao passo que áspera reclama outro sentido, qual seja, o tato.

PEríFrasE

A perífrase ocorre quando uma palavra ou expres-são designa um ser por um(a) dos seus atributos ou características.

a. A Dama do Suspense escreveu livros ótimos. (Dama do Suspense = Agatha Christie)

símilE

O símile ocorre quando a comparação é feita por associação, ou seja, quando a relação entre duas partes aproxima dois campos conceituais a prin-cípio independentes e usa a conjunção como ou suas formas equivalentes: tal qual, assim como, do mesmo modo que. Veja o exemplo:

a. Caía a tarde feito um viaduto, e um bêbado tra-jando luto me lembrou Carlitos / A lua, tal qual a dona do bordel, / pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel.

(João Bosco e Aldir Blanc)

EPonímia

Ocorre eponímia quando um substantivo próprio passa a substantivo comum por estabelecer com

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este último uma relação de equivalência semânti-ca, a exemplo de:a. Washington Olivetto, para muitos o Pelé da

Propaganda, afirmou em entrevista ao Spor-TV que Pelé é o pelé dos Pelés.

atividadE |1. Leia o texto abaixo:

Aqui no prédio há um casal que prestigia o nosso grupo de teatro e que só perde um ensaio quando não encontram uma pessoa que possa tomar conta de sua filha pequena.

a) Nesse texto, indique onde ocorre silepse.

b) Agora responda: por que o locutor preferiu

usar a silepse em vez de empregar a concordância lógica?

rEfErências

ALMEIDA, N. M. de. Gramática Metódica da Língua Portuguesa. 45ª ed. São Paulo: Publifo-lha, 2009.

ALI, M. SAID (1969). Gramática Secundária da Língua Portuguesa (8ª edição revista e comen-tada por Evanildo Bechara). S. Paulo: Ed. Me-lhoramentos.

AZEREDO, J. C. de. Gramática Houaiss da lín-gua portuguesa. 45ª ed. São Paulo, Saraiva, 2005.

BECHARA, E. (1999). Moderna Gramática Por-tuguesa (37ª ed. revista e ampliada). Rio de Ja-neiro: Lucerna.

CINTRA, L. & CUNHA, C. (1984). Nova Gra-mática do Português Contemporâneo. Lisboa: Sá da Costa.

MATEUS, M. H. et alli. (2003). Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: Caminho.

ROCHA LIMA, C. H. da. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 43ª ed. São Paulo: José Olympio/Record, 2002.

WEG; ANTUNES DE JESUS. A língua como ex-pressão e criação. v. 2. São Paulo: Contexto, 2011.

SAIBA MAIS!

Para saber mais sobre estilística e recursos

estilísticos, consulte:

ALI, M. Said (1951). Meios de expressão e al-

terações semânticas. Rio, Ed. Organizações

Simões.

GALVÃO, Jesus Belo (1967) Língua e expres-

são artística. Subconsciência e afetividade na

língua portuguesa. Rio de Janeiro, Civiliza-

ção Brasileira.

HALLIDAY, M. A. K. (1990) Estrutura e função

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de Geraldo Cintra e outros. São Paulo, cul-

trix/Edusp.

LAPA, Manuel Rodrigues (1975) Estilística da

Língua Portuguesa. Coimbra Ed.

MARTINS, Nilce Sant’Anna (1989) Introdu-

ção à estilística. São Paulo, Edusp.

MATTOSO CÂMARA JR., Joaquim (1977)

Contribuição à estilística portuguesa. Rio de

Janeiro, Ao Livro Técnico.

MURRY, Middleton G. (1968) O problema do

estilo. Trad. de Aurélio Gomes de Oliveira.

Rio de Janeiro, Livraria Acadêmica.