ESTUDO NACIONAL DO SETOR FLORESTAL BRASILEIRO 05 … · CENÁRIO!DA!GESTÃO!FLORESTAL!NO ......

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Ministério do Meio Ambiente Secretaria de Biodiversidade e Florestas Departamento de Florestas Dezembro de 2011 Estudo Nacional do Setor Florestal Brasileiro

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Ministério do Meio Ambiente

Secretaria de Biodiversidade e Florestas

Departamento de Florestas

 

 

Dezembro  de  2011  

Estudo  Nacional  do  Setor  Florestal  Brasileiro    

       

 

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MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

SECRETARIA DE BIODIVERSIDADE E FLORESTAS

________________________

Estudo Nacional do Setor Florestal Brasileiro

_______________________________

Elaboração:

José Carlos Carvalho

Coordenação e Revisão:

Departamento de Florestas/SBF

Diretor – João de Deus Medeiros

Gerente – Tatiana Rehder

www.mma.gov.br

________________

Dezembro de 2011

 

   

       ITENS  ABORDADOS    

INTRODUÇÃO  

CENÁRIO  DA  GESTÃO  FLORESTAL  NO  CONE  SUL  

ESTRUTURAS,  MECANISMOS  E  ENTES  DE  COORDENAÇÃO  DO  SETOR  FLORESTAL  

MODELO  INSTITUCIONAL  

INTEGRAÇÃO  DO  SETOR  FLORESAL  AO  SISTEMA  NACIONAL  DE  MEIO  AMBIENTE  –  SISNAMA  E  AO  CONSELHO  NACIONAL  DE  MEIO  AMBIENTE  –  CONAMA  

O  CONSELHO  NACIONAL  DE  MEIO  AMBIENTE  –  CONAMA  

RETOMADA  DA  INSTITUCIONALIDADE  FLORESTAL  

O  PROGRAMA  NACIONAL  DE  FLORESTAS  E  A  CONAFLOR  

ESTRUTURAS  ORGANIZACIONAIS  DE  GOVERNANÇA  

A  LEI  DE  GESTÃO  DE  FLORESTAS  PÚBLICAS  

O  SERVIÇO  FLORESTAL  BRASILEIRO-­‐SFB  

FLORESTAS  NACIONAIS  E  OUTRAS  UNIDADES  DE  USO  SUSTENTÁVEL  

O  PAPEL  DOS  ESTADOS  E  A  GESTÃO  DESCENTRALIZADA  

RELAÇÃO  ENTRE  AS  ESTRUTURAS  DE  GESTÃO  E  AS  AUTORIDADES  

TEMAS,  ACORDOS  E  COMPROMISSOS  ASSUMIDOS  PELO  SETOR  

RELAÇÕES  INTERSETORIAIS  

SETORES  ECONOMICOS  E  SOCIAIS  MAIS  IMPORTANTES  

INSTITUCIONALIDADE  SUPRASETORIAL  DE  COORDENAÇÃO  

MECANISMOS  DE  IMPLEMENTAÇÃO  QUE  O  SETOR  ACIONA  E  CERTIFICAÇÃO  

INTERRELAÇÃO  DO  SETOR  FLORESTAL  COM  O  SETOR  FINANCEIRO  

Estudo  Nacional  do  Setor  Florestal  Brasileiro      

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Minuta  do  Sumário  Executivo  

ESTUDO  NACIONAL  DO  SETOR  FLORESTAL  BRASILEIRO  

Resumo  Introdutório  do  Sumário  Executivo    

  Durante  a  realização  do  XIII  Congresso  Florestal  Mundial,  realizado  em  Buenos  Aires,  

na  Argentina,   em  outubro  de  2009,   foram   iniciadas   tratativas   para   elaboração  de   estudos  

nacionais  dos  países   integrantes  do  Cone  Sul  do  Continente  americano,  com  o  objetivo  de  

compartilhar  experiências  e  sugestões  para  os  processos   institucionais  e  de  governança  na  

área   florestal,   a   partir   de   relatórios   nacionais,   com   termos   de   referencia   similares,   para  

permitir  maior  clareza  nos  estudos  comparados  e  aperfeiçoar  a  troca  de  experiência  entre  os  

países,   através   de   um   diálogo   regional   apoiado   em   conceitos,   conteúdos,   diagnósticos   e  

prognósticos  comuns,  respeitadas  as  peculiaridades  de  cada  País.  

  Ao  analisarem  os  assuntos  inerentes  à  proposta  de  um  diálogo  regional  no  Cone  Sul,  

os   Países  Membros   da   COFLAC   identificaram   as   questões   chaves   que   deverão   orientar   as  

discussões,   a   saber:   descentralização,   mesas   de   diálogo   florestal,   estratégias   de  

financiamento   e   investimento,   relações   intersetoriais   e   suporte   político   à   produção   em  

pequena  escala.  

  No  Plano  de  Trabalho  do  Grupo  Sub-­‐regional  Cone  Sul,  levando  em  conta  as  diretrizes  

oriundas   do   XIII   Congresso,   chanceladas   pela   COFLAC   e   considerando   especificamente   as  

“experiências   nas   relações   Intersetoriais”,   estabeleceu-­‐se   como   relevante   para   o   setor   na  

sub-­‐região   o   fortalecimento   institucional   em   cada   País,   destacando:   a)   identificação   dos  

atores   que   atuam  no   setor   florestal   e   outros   setores   relevantes   com   os   quais   interage;   b)  

identificação  de  conflitos  intra  e  Intersetoriais;  c)  estudo  de  casos  para  a  solução  de  conflitos  

Intersetoriais;  e  d)  intercâmbio  de  experiências  entre  países.  

  Deve   ser   enfatizado   que   os   Estudos   Nacionais,   elaborados   em   cada   país,   serão  

utilizados  para  a  discussão  regional  e  intercâmbio  de  experiências,  que  possam  assegurar  a  

mútua  cooperação  e  uma  visão  geopolítica  regional  solidária  no  trato  do  tema.  

  Tal   como   ocorre   em   quase   toda   a   América   Latina,   o   setor   florestal   tem   sofrido  

grandes   mudanças   nos   últimos   anos,   em   virtude   da   crescente   prioridade   política   que   os  

tomadores   de   decisão   têm   atribuído   às   demandas   de   conservação,   vis-­‐à-­‐vis   com   as  

demandas   da   produção.   Como   o   desenvolvimento   do   setor,   especialmente   a   produção  

Estudo  Nacional  do  Setor  Florestal  Brasileiro      

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madeireira   de   florestas   nativas   não   incorporou,   na   dimensão   necessária,   a   variável  

ambiental   sob   o   enfoque   da   sustentabilidade,   esta   realidade   enfraquece   politicamente   o  

setor.  

  Muito   embora   o   setor,   no   segmento   da   produção,   venha   fazendo   esforços   para  

melhorar   seu   desempenho,   a   imagem   que   se   tem   na   opinião   pública   lhe   é   desfavorável,  

pelas   dificuldades   de   viabilizar   economicamente   o   manejo   florestal   sustentável   das  

formações  nativas.  Diante  dos   elevados   custos  de  manejar   a   floresta   tropical,   inadequado  

aproveitamento  dos  recursos  múltiplos  da  floresta  e  da  falta  de  incentivos  financeiros,  acaba  

prevalecendo  a  exploração  predatória,  que  alimenta  a  reação  contrária  da  opinião  pública.  

  Esta  situação  é  agravada  pela  baixa  eficiência  da  exploração  e  da  transformação  da  

madeira,  contrastando  com  a  eficiência  e  competitividade  das  florestas  plantadas  em  todos  

os  países  da  região,  diante  do    avanço  das  tecnologias  de  cultivo  de  espécies  como  eucalipto,  

pinus,  teca  e  outras,  dando  às  florestas  plantadas,  em  razão  de  sua  elevada  produtividade,  

vantagens  comparativas  ao  manejo  florestal  em  remanescentes  naturais.  

  Esta   realidade,   como   se   verá   no   caso   brasileiro,   tem   provocado   mudanças  

institucionais   que,   com   raras   exceções   que   confirmam   a   regra,   contribuem   para   a  

segmentação  e  a   fragmentação  do  setor  no  Continente,  onde  a  silvicultura  vem  ganhando  

espaço  em  detrimento  do  manejo  sustentável  das  florestas  nativas.  De  igual  modo,  como  a  

biodiversidade   da   região   está   associada,   em   grande   parte,   aos   ecossistemas   florestais,   os  

aspectos  da  conservação  e  uso  sustentável  da  biodiversidade  ganham  mais  relevo,  criando  

novos   conceitos   e   paradigmas   para   o   manejo   florestal.   Procura-­‐se   adicionar   a   um   olhar    

plural  e  múltiplo,   indo  além  do  manejo  da  floresta   isoladamente,  com  viés  exclusivamente  

madeireiro,  sem  ignorar  que  a  madeira  continua  constituindo  bem  essencial,  empregado  em  

largar  escala  pela  sociedade  contemporânea.  

  Os   países   da   região   tem   se   beneficiado   com   os   Programas   Florestais   Nacionais,  

apoiados   pela   FAO,   através   do   mecanismo   facilitador   que   esta   organização   das   Nações  

Unidas   utiliza   para   apoiar   institucionalmente   os   órgãos   e   entidades   encarregados   da  

formulação   de   políticas   e   gestão   do   setor.   Assim,   os   PFNs   funcionam   como   âncoras   que  

mantém  a  gestão  florestal  à  tona,  permitindo  que  o  setor  permaneça  como  ator  envolvido  

no  processo  decisório  das  políticas  florestais  na  região.  

Estudo  Nacional  do  Setor  Florestal  Brasileiro      

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  Todavia,  o  setor  florestal  ainda  não  soube  se  apropriar  das  regras  e  das  vantagens  de  

um   mercado   comunitário,   que   se   destaca   pela   capacidade   de   coordenar   políticas  

macroeconômicas   e   setoriais,   para   tirar   vantagens   que   o   fortaleça   regionalmente.   Se,  

internamente,  no  âmbito  de  cada  País,  há  sérios  problemas  estruturais  de  coordenação  do  

setor,  por   falta  de  mecanismos  de  articulação  com  força  política  suficiente  para   integrá-­‐lo,  

no  plano  regional  este  instrumento  pode  ser  o  MERCOSUL,  como  espaço  importante  para  o  

desenvolvimento  econômico,  político  e  tecnológico  do  setor  florestal  regional.  

  A   criação   da   Secretaria   de   Biodiversidade   e   Florestas,   no   âmbito   do  Ministério   do  

Meio   Ambiente   –   MMA   e   seu   Departamento   de   Florestas,   além   da   Diretoria   de   Uso  

Sustentável  da  Biodiversidade  e  Florestas  do  IBAMA,  reinstitucionalizou  a  gestão  florestal  no  

Governo  Federal.  O   lançamento  do  Programa  Nacional  de  Florestas  do  Brasil,  por   sua  vez,  

definiu   o   marco   lógico   e   a   modelagem   programática   da   atuação   do   setor   no   plano  

governamental,   suprindo   o   elo   faltante   do   processo   político-­‐institucional   de   tomada   de  

decisão.    

  O  PNF  Brasil  não  é  um  programa  de  meio  ambiente  sensu  strictu,  mas  um  programa  

para  estimular  o  desenvolvimento  florestal  sustentável  do  País,  que  exige  a  participação  de  

outros   atores   governamentais   que  extrapolam  a   área   ambiental,  mas  que   com  ela  devem  

interagir,   quando   a   política   ambiental,   como   ocorre   no   Brasil,   é   concebida   sob   a   ótica   da  

sustentabilidade.  

  Como   a   política   florestal   não   se   restringe   às   políticas   públicas   de   natureza  

monotemáticas,  em  razão  do  pluralismo  de  suas  ações,  torna-­‐se  fundamental  que  haja  entes  

de   concertação   e   coordenação   capazes   de   promover   a   articulação   do   setor,   nas   esferas  

políticas  realmente  dotadas  de  poder  e  decisão,  diante  da  variada  gama  de   interesses  que  

gravitam   em   torno   das   atividades   florestais   e   que   exigem   o   arbítrio   do   Estado,   para  

harmonizar  interesses  contraditórios  com  potencial  de  conflitos  intra  e  intersetorial.  

  A   criação   do   Serviço   Florestal   Brasileiro   representou   uma   iniciativa   pioneira   para  

fortalecer   o   manejo   florestal   como   uma   alternativa   imprescindível   para   o   uso   múltiplo   e  

sustentável  das  florestas  brasileiras,  e  como  estratégia  para  se  contrapor  aos  outros  usos  da  

terra  que  provocam  invariavelmente  à  supressão  das  florestas  nativas  para  implantação  de  

atividades  com  maior  retorno  econômico,  notadamente  o  desmatamento  para  expansão  da  

fronteira  agropecuária,  num  processo  de  dilapidação  do  patrimônio  florestal.    

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  Em  razão  das  peculiaridades  fitogeográficas  do  Brasil,  detentor  da  maior  reserva  de  

floresta   tropical   do   mundo   e   o   segundo   maior   em   superfície   florestal   do   planeta,   a  

biodiversidade  e  o  patrimônio  genético  do  País  estão  associados   intimamente  às   florestas,  

razão   pela   qual   devem   ser   tratadas   com   o   protagonismo   que   a   própria   natureza   lhes  

conferiu.  

  Embora  as  entidades  de  classe  do  setor  florestal  brasileiro  representem  em  torno  de  

4%   (quatro   por   cento)   do   PIB,   7%   (sete   por   cento)   das   exportações   e   2   (dois)  milhões   de  

empregos   da   oitava   economia   do   mundo,   elas   não   conseguiram   construir   uma   agenda  

política   proporcional   à   sua   importância   econômica   e   social,   isto   é,   o   tamanho   político   do  

setor  é  relativamente  inexpressivo  quando  comparado  com  o  seu  tamanho  econômico.  

  Esta   situação   vem   se   alterando  progressivamente   nos   últimos   anos,   em   virtude   do  

aperfeiçoamento   dos   instrumentos   de   controle   e   fiscalização   por   parte   do   MMA,   com   a  

consequente  redução  do  desmatamento,  associado  à  redução  da  oferta  de  madeireira  ilegal  

e  predatória.  Concorre  ainda  para  melhorar  o  quadro  o  início  do  processo  de  concessões  de  

florestas  públicas  que  irá  criar  mecanismos  de  integração  floresta/indústria  mais  harmônicos  

e  eficazes,  além  do  processo  de  certificação  que  vem  avançando  e  ajudando  a  criar  um  setor  

florestal  produtivo,  baseado  em  manejo  florestal  economicamente  eficiente  e  competitivo.  

  Os   esforços   que   vêm   sendo   empregados   nos   últimos   anos   começam   a   criar   um  

ambiente  mais   favorável   para   estabelecer   uma   interlocução  mais   transparente   dentro   do  

setor   e   deste   com   os   demais   setores   da   economia,   principalmente   com   a   indústria  

consumidora  de  madeira.  

  A  construção  de  uma  imagem  positiva  do  setor  é  sempre  prejudicada  pela  exploração  

e  consumo  ilegais,  predatórios  e  insustentáveis  de  produtos  madeireiros  e  não  madeireiros,  

o  que  corrobora  de   forma  acentuada  para  debilitar  politicamente  o  setor  e   fragilizar  a  sua  

organização.  Faltam  pactuações  e  acordos  dentro  do  setor  para  definir  uma  agenda  política  

comum,   ousada   em   relação   à   sustentabilidade,   uma   agenda   sintonizada   com   o   futuro,  

deixando  claro  para  a  sociedade  e  o  governo  o  compromisso  de  transformação  baseada  no  

que  o  próprio  setor  já  faz  de  melhor.  

  Existem,   todavia,   iniciativas   recentes   e   outras   mais   antigas   que   estão   sendo  

repaginadas  e  que  indicam  que  o  próprio  setor  está  buscando  interagir  de  forma  mais  ativa  

com  o   setor   agropecuário,   ao  ampliar   ainda  que   timidamente   suas   atividades  de   fomento  

Estudo  Nacional  do  Setor  Florestal  Brasileiro      

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florestal,   integrando   os   agricultores   na   estrutura   econômica   de   produção,   com   grande  

alcance  social,  ao  aumentar  a  renda  para  os  pequenos  e  médios  agricultores,  promovendo  o  

aproveitamento  de  terras  subutilizadas  nas  propriedades  rurais.  Situação  análoga  acontece  

com  o  manejo  comunitário,  que  também  aumenta  a  renda  das  populações  tradicionais  que  

sempre  viveram  da  atividade  extrativa.  

  No  momento  em  que  o  setor   florestal  estreitar  suas  relações  com  os  agricultores  e  

produtores  rurais,   incorporando  ao  processo  de  produção  as  imensas  áreas  já  desmatadas,  

subutilizadas  e  abandonadas  em  todas  as   regiões  brasileiras,   inclusive  na  Amazônia,  numa  

perspectiva   plenamente   sustentável,   agregando   valor   econômico   e   ambiental   às   terras   de  

milhões   de   agricultores   que   se   encontram   submetidas   a   processos   erosivos   e   ao   forte  

intemperismo  tropical,  tornar-­‐se-­‐á  então  politicamente  mais  forte,  ao  incorporar  uma  base  

social  que  tonificará  o  seu  poder  na  mesa  de  negociação  com  o  governo,  com  a  sociedade  e  

com  outros  setores  da  economia.  

  Na  realidade  política  e  social  do  Brasil,   levando  em  conta  a  assimetria   federativa,  a  

diversidade   cultural,   fitogeográfica   e   biológica,   é   sempre   difícil   estabelecer   uma  

representação   nacional   com   capacidade   de   unificar   os   interesses   dos   diversos   setores   da  

economia,  embora  a  indústria,  a  agricultura,  o  comércio  e  os  transportes  tenham  constituído  

entidades   nacionais   de   representação   com   alto   grau   de   legitimidade,  mas   respeitando   as  

realidades  estaduais.    

  Ações   concertadas   com  outros   setores,   como  a   agropecuário,   fundiário,   financeiro,  

comercial  e  outros  são  fundamentais  para  o  setor  florestal,  não  como  decisões  monolíticas  

de   uma   determinada   esfera   da   administração,  mas   como  decisão   de   governo,   com  poder  

para  envolver  e  comprometer  todas  as  esferas  governamentais  que  tenham  interface  com  as  

atividades  florestais,  diante  do  pluralismo  que  configura  o  setor.  

  Este   é   o   principal   desafio   do   setor   florestal   brasileiro,   diante   da   dificuldade   que  

apresenta  de  estabelecer  mecanismos  de   concertação   interna  e  externamente   capazes  de  

potencializar   o   seu   desempenho.   Esta   situação   é   ainda   mais   perceptível   num   País   de  

dimensões   continentais   como  o  Brasil,   repleto  de  diferenças   fitogeográficas,  multicultural,  

biologicamente  megadiverso,   constituindo  uma  República   Federativa   que  pela   sua  própria  

natureza  é  composta  por  Unidades  Federadas  assimétricas,  cujas  particularidades  precisam  

ser  aquilatadas  na  formulação  e  implantação  das  políticas  públicas.  

Estudo  Nacional  do  Setor  Florestal  Brasileiro      

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  Ao  analisar   restrições  e  oportunidades  do  setor  no  Brasil,   todas  as  variáveis  devem  

ser  observadas,  para  registrar  as  lições  aprendidas  com  o  desempenho  do  próprio  setor,  com  

o  único  objetivo  de  criar  as  condições  para  seu  aperfeiçoamento,  visando  utilizar  todo  o  seu  

potencial  para  promover  o  desenvolvimento  nacional,  especialmente  das   regiões  de  nítida  

vocação  florestal,  nas  quais  o  uso  sustentável  dos  recursos  florestais  pode  contribuir  para  a  

geração   de   emprego   e   renda,   com   ocupações   permanentes,   sem   a   prática   do  modelo   do  

desmatamento   para   uso   alternativo   do   solo   que,   em   muitos   casos,   destrói   a   floresta,  

deixando   as   áreas   abandonadas   ou   sem   condições   de   produzir   qualquer   outro   tipo   de  

riqueza.  

  A   importância   econômica   e   socioambiental   do   setor,   sua   contribuição   atual   e  

potencial   ao   desenvolvimento   nacional,   a   travessia   para   uma   economia   verde,   de   baixo  

carbono,   preconizada   nos   eventos   preparatórios   da   Rio+20,   e   que   certamente   será  

consagrada   na   Conferencia   das   Nações   Unidas   em   2012,     dele   exige   a   adoção   de   uma  

estratégia  nacional  que  seja  capaz  de  impulsioná-­‐lo  a  dimensão  equivalente  ao  papel  que  ele  

pode  exercer   como   instrumento  dos  mais  eficazes  para  o  desenvolvimento   sustentável  do  

Brasil,  colaborando  para  colocar  o  País  na  liderança  da  nova  economia.  

 

1    

 

Sumário  Executivo  

INTRODUÇÃO  

  Durante  a  realização  do  XIII  Congresso  Florestal  Mundial,  realizado  em  Buenos  Aires,  

na   Argentina,   em   outubro   de   2009,   iniciou-­‐se   as   tratativas   para   elaboração   de   estudos  

nacionais  dos  países  integrantes  do  Cone  Sul,  com  o  objetivo  de  compartilhar  experiências  e  

sugestões   para   os   processos   institucionais   e   de   governança   na   área   florestal,   a   partir   de  

relatórios   nacionais,   com   termos   de   referencia   similares,   para   permitir   maior   clareza   nos  

estudos   comparados   e   aperfeiçoar   a   troca   de   experiência   entre   os   países,   através   de   um  

diálogo   regional   apoiado   em   conceitos,   conteúdos,   diagnósticos   e   prognósticos   comuns,  

respeitadas  as  peculiaridades  de  cada  País.  

  Os   temas   desse   diálogo,   após   serem   legitimados   pela   extraordinária   audiência   do  

Congresso  de  Buenos  Aires,  o  mais  concorrido  já  realizado,  foram  submetidos  ao  debate  da  

Vigésima  Sexta  Reunião  da  Comissão  Florestal  para  a  América  Latina  e  o  Caribe   -­‐  COFLAC,  

que  ocorreu  na  Guatemala,  de  24  a  28  de  maio  de  2010,  pelo  Mecanismo  dos  Programas  

Florestais  Nacionais.  Ao  analisarem  os  assuntos  inerentes  à  proposta  de  um  diálogo  regional  

no  Cone  Sul,  os  Países  Membros  da  COFLAC  identificaram  as  questões  chaves  que  deverão  

orientar  as  discussões,  a  saber:  descentralização,  mesas  de  diálogo  florestal,  estratégias  de  

financiamento   e   investimento,   relações   Intersetoriais   e   suporte   político   à   produção   em  

pequena  escala.  

  No  Plano  de  Trabalho  do  Grupo  Sub-­‐regional  Cone  Sul,  levando  em  conta  as  diretrizes  

oriundas   do   XIII   Congresso,   chanceladas   pela   COFLAC   e   considerando   especificamente   as  

“experiências  nas  relações  Intersetoriais”,  estabeleceu  como  relevante  para  o  setor  na  sub-­‐

região,  o  seu  fortalecimento  institucional  em  cada  País,  destacando:  

1  –  identificação  dos  atores  que  atuam  no  setor  florestal  e  outros  setores  relevantes  com  os  

quais  se  interage;  

2  –  Identificação  de  conflitos  intra  e  Intersetoriais;  

3  –  Estudo  de  casos  para  a  solução  de  conflitos  Intersetoriais;  e  

4  –  Intercâmbio  de  experiências  entre  Países.  

2    

 

  Deve  ser  enfatizado  que  os  Estudos  Nacionais,  elaborados  em  cada  País,  a  partir  do  

acompanhamento  das  metas  contidas  nos  PFN,  serão  utilizados  para  a  discussão  regional  e  o  

intercâmbio   de   experiências   que   possam   assegurar   a   mútua   cooperação   e   uma   visão  

geopolítica  regional  solidária  no  trato  do  tema.  

  Os  debates  a  serem  realizados  em  torno  desses  Estudos  e  as  informações  que  deles  

advirão,   em   âmbito   nacional   e   sub-­‐regional,   permitirão   o   desenvolvimento,   a   formulação,  

revisão  e  implementação  de  políticas  florestais  sintonizadas  com  a  realidade  de  cada  País  e  

facilitadoras  de  uma  cooperação  mais  estreita  entre  eles.  

  O   Sub-­‐grupo   Regional   do   Cone   Sul,   com   o   mandato   que   lhe   outorgou   a   COFLAC,    

deseja   estimular   a   reflexão   sobre   a   seguinte   questão,   colocada   como   diretriz   norteadora  

desse  Estudo:  “qual  tem  sido  a  dinâmica  e  quais  são  as  tendências  do  pensamento  sobre  os  

diversos  modelos  de  gestão  das  florestas  na  Sub-­‐Região  do  Cone  Sul,  como  eles  funcionam  e  

como  interagem  entre  si?”  

CENÁRIO  DA  GESTÃO  FLORESTAL  NO  CONE  SUL  

  O   cenário   caracterizado   pelas   atividades   florestais   no   Cone   Sul   do   Continente  

Americano   é   influenciado   pelas   peculiaridades   da   cobertura   florestal   e   pelas   novas  

tendências   de   governança,   que   vem  modificando   os   modelos   institucionais   de   gestão   do  

setor   em  várias   partes   do  mundo,   e   em  especial   na  América   Latina,   como  decorrência   do  

novo   pensamento   visão   da   sociedade   sobre   as   florestas,   e   do   papel   que   elas   devem  

desempenhar  na  atualidade.  

  Tal   como   ocorre   em   quase   toda   a   América   Latina,   o   setor   florestal   na   região   tem  

sofrido  grandes  mudanças  nos  últimos  anos,  em  virtude  da  crescente  prioridade  política  que  

os   tomadores   de   decisão   tem   atribuído   às   demandas   de   conservação,   vis-­‐à-­‐vis   com   as  

demandas   da   produção.   Como   o   desenvolvimento   do   setor,   especialmente   a   produção  

madeireira   de   florestas   nativas   não   incorporou,   na   dimensão   necessária,   a   variável  

ambiental,   sob   o   enfoque   da   sustentabilidade,   esta   realidade   enfraquece   politicamente   o  

setor.  

  Embora  o  setor,  no  segmento  da  produção  venha  fazendo  esforços,   regionalmente,  

para  melhorar  seu  desempenho,  a   imagem  que  tem  na  opinião  pública   lhe  é  desfavorável,  

3    

 

pelas   dificuldades   de   viabilizar   economicamente   o   manejo   florestal   sustentável   das  

formações   nativas.   Os   elevados   custos   de   manejar   a   floresta   tropical,   as   limitações   ao  

aproveitamento  dos  múltiplos  recursos  da  floresta,  e  a  falta  de  incentivos  financeiros,  acaba  

favorecendo  a  exploração  predatória,  o  que  alimenta  a  reação  da  opinião  pública  contra  este  

segmento.  

  Esta  situação  é  agravada  pela  baixa  eficiência  da  exploração  e  da  transformação  da  

madeira,  contrastando  com  e  eficiência  e  competitividade  das  florestas  plantadas  em  todos  

os  países  da  região,  diante  do  avanço  das  tecnologias  de  cultivo  de  espécies  como  eucalipto,  

pinus,  teca  e  outras,  dando  às  florestas  plantadas,  em  razão  de  sua  elevada  produtividade,  

vantagens  comparativas  que  o  manejo  florestal  não  tem.  

  Esta   realidade,   como   se   verá   no   caso   brasileiro,   tem   provocado   mudanças  

institucionais   que,   com   raras   exceções   que   confirmam   a   regra,   contribuem   para   a  

segmentação  e  a   fragmentação  do  setor  no  Continente,  onde  a  silvicultura  vem  ganhando  

espaço  em  detrimento  do  manejo  sustentável  das  florestas  nativas.  De  igual  modo,  como  a  

biodiversidade   da   região   está   associada,   em   grande   parte,   aos   ecossistemas   florestais,   os  

aspectos   da   conservação   ganham   mais   relevo,   assim   como   o   uso   sustentável   da  

biodiversidade,   da   qual   a   floresta   é   parte,   criando   novos   conceitos   e   paradigmas   para   o  

manejo   florestal,   que   se   torna   cada   vez   mais   o   manejo   dos   ecossistemas   florestais,   com  

olhar  plural  e  múltiplo,  do  que  o  manejo  da  floresta  isoladamente,  com  viés  exclusivamente  

madeireiro,  sem  ignorar  que  a  madeira  continua  constituindo  bem  essencial,  empregado  em  

largar  escala  pela  sociedade  contemporânea.  

  Os   países   da   região   tem   se   beneficiado   com   os   Programas   Florestais   Nacionais,  

apoiados   pela   FAO,   através   do   mecanismo   facilitador   que   esta   organização   das   Nações  

Unidas   utiliza   para   induzir   o   aprimoramento   institucional   dos   órgãos   e   entidades  

encarregados  da  formulação  de  políticas  e  gestão  do  setor.  Assim,  os  PFNs  funcionam  como  

âncoras  que  mantém  a  gestão  florestal  à  tona,  permitindo  que  o  setor  permaneça  como  ator  

envolvido   no   processo   decisório   das   políticas   florestais,   na   região   e   em   outras   partes   do  

planeta.  

  Todavia,  o  setor  ainda  não  soube,  até  agora,  se  apropriar  das  regras  e  das  vantagens  

de  um  mercado  comunitário,  pela  sua  capacidade  de  coordenar  políticas  macro-­‐econômicas  

4    

 

e   setoriais,   para   tirar   vantagens   que   o   fortaleçam   regionalmente.     Se,   internamente,   no  

âmbito  de  cada  País,  há  sérios  problemas  estruturais  de  coordenação  do  setor,  por  falta  de  

mecanismos  de  articulação   com   força  política   suficiente  para   integrá-­‐lo,  no  plano   regional  

este  instrumento  pode  ser  o  MERCOSUL,  como  espaço  importante  para  o  desenvolvimento  

econômico,  político  e  tecnológico  do  setor  florestal  regional.  

ESTRUTURAS,  MECANISMOS  E  ENTES  DE  COORDENAÇÃO  DO  SETOR  FLORESTAL  

MODELO  INSTITUCIONAL  

  Ao  longo  dos  últimos  20  anos,  o  setor  procura  uma  identidade  institucional  própria  na  esfera  

federal,  correspondente  a  magnitude  do    patrimônio  florestal  brasileiro  para  o  País  e  para  o  mundo,  

já   que   um   terço   das   florestas   tropicais   ainda   remanescentes   no   planeta   estão   localizadas   em  

território  brasileiro.  

  Após   a   instituição   do   Código   Florestal   brasileiro,   em   1965,   pela   Lei   Federal   nº   4.771,   foi  

criado   o   Instituto   Brasileiro   de   Desenvolvimento   Florestal   –   IBDF,   em   1967,   com   a   finalidade   de  

formular,   executar   e   fazer   executar   a   política   florestal   brasileira,   em   sentido   amplo,   incluindo   a  

preservação,  a  conservação,  o  fomento  e  o  uso  das  florestas,  bem  como  o  controle  e  a  fiscalização  

dos  recursos  florestais.  Era  a  ferramenta  institucional  arquitetada  para  colocar  em  operação  a  nova  

legislação   florestal   brasileira,   ainda   hoje   um   marco   divisor   da   proteção   dos   recursos   naturais   no  

Brasil.  

  A  ampla  gama  de  atribuições  do   Instituto  Brasileiro  de  Desenvolvimento  Florestal  –   IBDF,  e  

sua   limitada   capacidade   operacional,   o   impediram   de   agir   com   a   intensidade   e   abrangência  

requeridas   pela   política   florestal.   Contudo,   foi   a   forte   política   de   incentivos   fiscais   ao  

reflorestamento,   também  atribuída   ao   Instituto,   que  provocou  o   seu  enfraquecimento  político  e   a  

desestabilização   institucional   do   setor   àquela   época.   Com   investimentos   anuais   que   chegavam   a  

atingir  300  milhões  de  dólares,  o   IBDF  se  transformou  muito  mais  numa  agência  de  financiamento,  

em   detrimento   do   seu   papel   precípuo   de   órgão   florestal,   afastando-­‐o   progressivamente   de   suas  

competências   originais,   como   principal   órgão   encarregado   de   operacionalizar   o   Código   Florestal.    

Estas   circunstâncias   acarretaram   também   no   distanciamento   da   instituição   da   opinião   pública,   já  

naquele  tempo  preocupada  com  os  crescentes  índices  de  desmatamento  que  se  avolumavam.  

  Era  o   inicio  da  mudança  de  percepção  da  sociedade  sobre  o  papel  das  florestas,  quando  as  

preocupações   conservacionistas,   embrionárias   dos   atuais   movimentos   ambientalistas,   já   não  

admitiam  mais   o   velho  modelo   de   ocupação   territorial   baseado   na   supressão   pura   e   simples   das  

5    

 

florestas,  dando  à  conservação  um  peso  político  maior  do  que  ao  fomento,  embora  o  desmatamento  

para  expansão  da  fronteira  agrícola  fosse  o  mote  principal  da  reação  da  sociedade  contra  o  “status  

quo”  vigente,  como  continua  ocorrendo  na  atualidade.  

  Aqui,   há   uma   questão   central   a   ser   considerada,   porque   explica   em   grande   parte   as  

dificuldades  enfrentadas  pelo  manejo   florestal,  no  Brasil.  Ao   concentrar   todo   seu  esforço  e  aplicar  

toda  a  sua  capacidade   institucional  na  gestão  dos   incentivos   fiscais  para  o   reflorestamento,  o   IBDF  

teve   que   negligenciar   sua   atuação   em   relação   à   conservação   strictu   sensu,   alem   de   ignorar  

completamente  as  atividades  de  manejo  da  floresta  tropical  brasileira,  como  uma  das  alternativas  de  

produção  de  madeira.  

  No   final  dos  anos  80,  quando  o  governo  decidiu  pela  extinção  dos   incentivos   fiscais,   já  em  

face  da  longa  crise  fiscal  que  o  Brasil  iria  viver  até  o  advento  do  Plano  Real,  em  1995,  já  haviam  sido  

corroídos  os  alicerces  de  sua  sustentação.  Alem  do  exclusivismo  do  papel  da  Instituição  como  gestora  

dos   incentivos   fiscais,   também  as  distorções  dessa  política   e  os  desvios  de   finalidade  dos   recursos  

incentivados  contribuíram  para   inviabilizá-­‐lo   institucionalmente,  até  porque,  as  entidades  de  classe  

do   setor   produtivo,   principalmente   aquelas   ligadas   aos   incentivos,   que   eram   preponderantes   no  

arranjo  político-­‐institucional  daquele  período,  já  não  gozavam  de  credibilidade  para  representar  com  

a  força  política  necessária  os  interesses  legítimos  do  setor.  

  Foi   com  estes   antecedentes,   num  quadro   de   deterioração   institucional,   refletido   por   certa  

instabilidade  política,  decorrente  das  visões  imprecisas  e  contraditórias  de  como  o  tema  “florestas”  

vinha  sendo  compreendido  pela  sociedade  brasileira  e  a  consequente  indefinição  sobre  seus  rumos,  

que  o  setor   florestal  migrou  para  o   IBAMA  –   Instituto  Brasileiro  do  Meio  Ambiente  e  dos  Recursos  

Naturais   Renováveis.   Deve-­‐se   destacar,   entretanto,   que   os   incentivos   fiscais,   mesmo   diante   das  

distorções  acima  referidas,  foram  a  mola  propulsora  da  moderna  economia  florestal  brasileira,  tendo  

alavancado  segmentos   importantes  como  o  de  celulose  e  papel,  madeira  processada  e  a  siderurgia  

integrada  a  carvão  vegetal.    

  Estes  antecedentes  explicam,  pelo  menos  em  parte,  a  acanhada  participação  das  atividades  

de  manejo  florestal  na  economia.    Isto  ocorre  porque  até  a  criação  do  Serviço  Florestal  Brasileiro,  o  

manejo   sempre   teve   tratamento   marginal   na   política   florestal   brasileira,   sem   assistência   técnica,  

financiamento,   acesso   ao   crédito,   levando   em   conta   toda   a   cadeia   produtiva,   da   exploração   à  

elaboração  de  produtos  acabados,  passando  pela  transformação.  

  Já  na  era  do  IBAMA,  a  política  florestal,  pela  expansão  desordenada  da  fronteira  agrícola,  se  

resumiu,   basicamente,   a   uma   política   de   controle   e   fiscalização   do   desmatamento.   A   ênfase  

6    

 

econômica   dos   incentivos   fiscais   do   primeiro   período   foi   substituída   pela   ênfase   das   práticas   de  

comando  e  controle  do  período  subseqüente.  Assim,  todos  os  demais  fundamentos  de  uma  política  

florestal  lato  sensu  foram  esquecidos  ou  tratados  de  maneira  periférica  ao  longo  desse  tempo,  com  

exceção  dos  avanços  registrados  em  alguns  poucos  Estados  da  Federação.  

INTEGRAÇÃO   DO   SETOR   FLORESAL   AO   SISTEMA   NACIONAL   DE   MEIO   AMBIENTE   –  

SISNAMA  E  AO  CONSELHO  NACIONAL  DE  MEIO  AMBIENTE  –  CONAMA  

  Mesmo   antes   da   criação   do   IBAMA,   as   atividades   florestais   passaram   a   integrar   o  

conjunto  de  ações  governamentais  vinculadas  ao  Sistema  Nacional  e  Meio  Ambiente,  criado  

em  1981  pela  Lei  Federal  nº  6.938.    O  Instituto  Brasileiro  de  Desenvolvimento  Florestal  era  

categorizado  como  órgão  setorial  do  SISNAMA,  em  função  de  sua  competência  regulatória  

sobre  os  recursos  florestais,  a  fauna  e  as  áreas  protegidas,  incluindo  a  silvicultura  e  o  manejo  

florestal.  

  O  SISNAMA  é  hoje  integrado  pelo  Ministério  do  Meio  Ambiente,  como  órgão  central;  

o   Instituto   Brasileiro   do   Meio   Ambiente   e   dos   Recursos   Naturais   Renováveis,   o   Serviço  

Florestal   Brasileiro   e   o   Instituto   Chico   Mendes   de   Conservação   da   Biodiversidade,   como  

entidades   setoriais   federais,   vinculadas   ao   MMA;   os   órgãos   e   entidades   ambientais   dos  

Estados,  como  órgãos  seccionais  e  os  órgãos  e  entidades  ambientais  dos  Municípios,  como  

órgãos  locais.  

  A  implantação  do  Sistema  Nacional  de  Meio  Ambiente  significou,  àquela  época,  uma  

grande   inovação   na   estrutura   gerencial   do   Estado   brasileiro,   ao   introduzir,   ainda   que   de  

maneira   tênue,  o  princípio  norteador  de  gestão   integrada,  numa  época  em  que  o   formato  

organizacional  da  administração  pública  era  tradicionalmente  repartido  e  compartimentado.    

  O   fortalecimento   institucional   do   SISNAMA   depende   do   fortalecimento   dos   seus  

órgãos  e  entidades  nas  três  esferas  do  governo.  Há,  ainda,  muitos  Estados  da  Federação  em  

que  a  capacidade  operacional  das  instituições  ambientais,  levando  em  conta  todo  o  leque  de  

competências  que  lhes  são  atribuídas,  esta  aquém  das  demandas,  o  que  acarreta  ineficiência  

no   atendimento,   prejuízo   na   qualidade   dos   serviços   prestados,   alem   de   uma   demanda  

reprimida  que  fragiliza  o  conceito  da  gestão  ambiental.  

7    

 

  A   fragilidade  da   administração  pública   florestal   ainda   é   evidente   frente   ao   foco  do  

controle   da   poluição   dos   órgãos   e   entidades   ambientais,   mesmo   quando   se   analisa   o  

licenciamento   para   o   uso   dos   recursos   florestais   e   as   ações   de   controle   e   fiscalização   do  

desmatamento   e   das   práticas   florestais   predatórias,   dotadas   de   maior   identidade  

institucional   e   organizacional   com   os   órgãos   de   controle   da   degradação   ambiental,   no  

sentido  amplo,  e  da  utilização  dos  demais  recursos  naturais.  

  Esta   realidade  perdura  diante  da   ausência  de  políticas  de   capacitação   institucional,  

particularmente  na  área  florestal,  que  possam  dar  aos  Municípios  brasileiros  a  expertise  e  as  

condições   operacionais   necessárias   para   completar   o   esforço   de   gestão   integrada,   de  

natureza   sistêmica.   O   preenchimento   dessa   lacuna   é   fundamental   para   se   concluir   a  

arquitetura  desenhada  no  âmbito  de  um  sistema  nacional  de  gestão  florestal  compartilhada,  

e  para  promover  a  verdadeira  descentralização  da  gestão  publica  do  setor,  que  não  ocorrerá  

sem  o  engajamento  e  efetiva  participação  dos  Municípios.  

  É   preciso   estar   atento   para   que   a   municipalização   reproduza   o   modelo   de   gestão  

colegiada   e   participativa   que   já   vigora   na   esfera   federal   e   nos   Estados.   O   que   deve   ser  

estendido   aos   Municípios   como   forma   de   assegurar   a   participação   da   sociedade,   de  

estabelecer  mecanismos  de  controle  social,  dando  a  comunidade  local  instrumentos  para  se  

proteger  de  eventuais  abusos  do  poder  local,  principalmente  no  que  se  refere  à  expansão  e  

ocupação  do  solo  urbano.  

  No  Brasil,  a  inação  do  poder  local  sobrecarrega  os  órgãos  e  entidades  estaduais,  uma  

vez   que   na   omissão   dos   Municípios,   os   Estados   têm   obrigação   legal   de   atuarem  

supletivamente,  ampliando  enormemente  as   suas  demandas,   levando  em  muitos  casos  ao  

colapso  da  administração  florestal  e  ambiental  em  vários  Estados,  principalmente  naqueles  

com  intensa  atividade  florestal  e  onde  ocorrem  elevadas  taxas  de  desmatamento  para  uso  

alternativo  do  solo  e  para  outras  finalidades.  

  Os  municípios   brasileiros,   sem  prejuízo   do   papel   do   setor   privado,   podem   ter   uma  

atuação   protagonística   como   atores   do   processo   de   reflorestamento   com   finalidade  

múltipla,  em  articulação  com  os  Estados  e  a  União,  construindo  uma  grande  rede  de  viveiros,  

como   plataforma   para   o   desenvolvimento   da   silvicultura,   sem   a   qual   todas   as   ações  

requeridas   para   recuperação   das   Áreas   de   Preservação   Permanente   e   de   Reserva   Legal  

8    

 

previstas  no  Código  Florestal,  bem  como  o  reflorestamento  com  finalidade  econômica,  não  

se  desenvolverão,  com  a  magnitude  correspondente  ao  potencial  florestal  e  aos  desafios  de  

promover   a   recuperação   de   ecossistemas   florestais   degradados   ao   longo   da   ocupação   no  

território.  

O  CONSELHO  NACIONAL  DE  MEIO  AMBIENTE  –  CONAMA  

  Integra   o   Sistema   Nacional   de   Meio   Ambiente,   o   Conselho   Nacional   de   Meio  

Ambiente   –   CONAMA,   órgão   colegiado,   consultivo   e   deliberativo   do   Sistema,   dotado   de  

competência   para   deliberar   sobre   normas   e   padrões   de   qualidade   ambiental   e   uso   dos  

recursos  ambientais.      

  Na   ausência   de   um   Conselho   especifico   para   deliberar   sobre   a   política   florestal,   e  

diante  das  competências  que  foi  adquirindo  durante  sua  existência,  o  CONAMA  tornou-­‐se  a  

instância  deliberativa  das  normas  que  o  Brasil  vem  concebendo  e  aplicando  para  disciplinar  a  

conservação  das  florestas  e  o  uso  dos  recursos  florestais,  especialmente  no  que  concerne  a  

aplicação  dos  mecanismos  de  comando  e  controle  que  regulam  a  proteção  das  florestas.  

  Atualmente,   o   setor   florestal   brasileiro   é   praticamente   regulado   pelo   CONAMA,   já  

que  o  Conselho  Nacional  de  Florestas  –  CONAFLOR,  cujas  competências  serão  analisadas  à  

frente,   é   de   natureza   consultiva   e   com   escopo   que   não   inclui   as   normas   de   controle   e  

fiscalização   das   atividades   florestais.   Desta   forma,   as   regras   em   vigor   relacionadas   à  

conservação,   exploração   florestal,   sistema   de   informação   e   procedimentos   de   uso   dos  

recursos  florestais  são  deliberadas  no  âmbito  do  Conselho  Nacional  do  Meio  Ambiente.  

RETOMADA  DA  INSTITUCIONALIDADE  FLORESTAL  

  No  fim  dos  anos  90,  o  tema  foi  reincorporado  à  administração  federal,  na  mais  alta  

esfera   de   decisão,   através   da   criação   da   Secretaria   de   Biodiversidade   e   Florestas   do  

Ministério   de   Meio   Ambiente,   seguida,   posteriormente,   da   criação   de   uma   Diretoria  

especifica  de  Florestas  na  estrutura  do  IBAMA.  

  Estas  medidas   recuperaram  parcialmente  a   identidade  que  o   setor  havia  perdido  e  

recriaram   o   ambiente   de   debate   e   discussão   da   política   florestal   que   havia   sido  

completamente   interrompido,   por   uma   década,   ao   mesmo   tempo   em   que   aciona   novos  

9    

 

mecanismos   de   interlocução   do   setor   florestal   privado   com   o   governo.   À   Secretaria   de  

Biodiversidade   e   Florestas   e   o   seu   Departamento   de   Florestas   foram   atribuídas  

competências   no   nível   estratégico   e   tático,   de   formulação   das   políticas,   e   a   Diretoria   de  

Florestas  do  IBAMA  passava  a  atuar  no  nível  operacional,  de  execução  das  políticas  na  esfera  

federal,  em  articulação  com  os  Estados.  

  A   criação   da   Secretaria   de   Biodiversidade   e   Florestas,   com   seu   respectivo  

Departamento  de  Florestas  acompanhou  a  tendência  de  fragmentação  da  gestão  florestal  e  

a  diluição  de   suas  atividades  em  várias  esferas  de   coordenação  e  execução,  no  âmbito  da  

instancia  máxima  de  coordenação,  o  próprio  MMA.  Foi  o  caso  da  Secretaria  de  Extrativismo  

e  Desenvolvimento  Rural  Sustentável,  que  assimilou  atribuições  inerentes  às  ações  relativas  

a  produtos  florestais  não-­‐madeireiros,  em  decorrência  da  interface  desta  Secretaria  com  as  

atividades   socioeconômicas   das   populações   tradicionais   e   indígenas   que   vivem   nas   áreas  

florestais,   o   mesmo   ocorreu   na   Secretaria   Executiva,   que   assimilou   o   Departamento   de  

Políticas  para  o  Combate  ao  Desmatamento.    

  Do   mesmo   modo,   como   seria   inevitável,   os   novos   temas   da   gestão   florestal   que  

surgem   no   plano   internacional   com   desdobramentos   internos   importantes   para   a  

governança  do  setor,  tal  como  o  mercado  de  carbono,  destacando  o  MDL  e  o  REED+  que  são  

dirigidos  e  coordenados  pela  Secretaria  de  Mudança  Climática  e  Qualidade  Ambiental.  

O  PROGRAMA  NACIONAL  DE  FLORESTAS  E  O  CONAFLOR  

  A   partir   do   ano   2000,   surgem   decisões   que   buscam   estruturar   instrumentos   de  

concertação  e  de  orientação  programática  para  dar  um  mínimo  de  organicidade  à  atuação  

do  setor,  objetivando  sua  efetividade  institucional  e  a  eficácia  e  a  eficiência  operacional.  

  Uma  dessas   iniciativas  ocorreu   com  a   criação  do  Programa  Nacional  de   Florestas  –  

PNF,  elaborado  com  a  cooperação  da  FAO  e  lançado  através  do  Decreto  3.420,  em  abril  de  

2000.   No   momento   do   seu   lançamento,   o   PNF   tinha   como   objetivo   central   articular   as  

políticas   públicas   setoriais   para   promover   o   desenvolvimento   sustentável   do   setor,  

estimulando  o  uso  em  bases  sustentáveis  e  a  conservação  das  florestas  brasileiras.  

  Os  objetivos  específicos  do  Programa  Nacional  de  Florestas  demonstram  a   intenção  

de  se  estabelecer  um  programa  consentâneo  com  a  realidade  florestal  brasileira,  formulado  

10    

 

com   abrangência   necessária   para   cobrir   os   variados   temas   e   o   pluralismo   das   ações  

extremamente  diversificadas  requeridas  para  a  gestão  do  patrimônio  florestal  brasileiro  em  

patamar   adequado.   Atualmente   o   PNF   está   sob   a   administração   do   Departamento   de  

Florestas  do  Ministério  do  Meio  Ambiente.  

  O  conjunto  de  objetivos  e  ações  delineadas  no  Programa  Nacional  de  Florestas  está  

consubstanciado  nos  seguintes  postulados:  

• Estimular  o  uso  sustentável  das  florestas  nativas  e  plantadas;  

• Fomentar   as   atividades   de   reflorestamento,   notadamente   em   pequenas   e   médias  

propriedades  rurais;  

• Recuperar  florestas  de  preservação  permanente,  de  reserva  legal  e  áreas  alteradas;  

• Apoiar   as   iniciativas   econômicas   e   sociais   das   populações   que   vivem   nas   áreas  

florestais;  

• Prevenir   e   reprimir   desmatamentos   ilegais   e   a   extração   predatória   de   produtos   e  

subprodutos   florestais,   controlar   as   queimadas   e   prevenir   e   combater   incêndios  

florestais;  

• Promover   o   uso   sustentável   das   florestas   de   produção,   sejam  nacionais,   estaduais,  

distritais  ou  municipais;  

• Apoiar   o   desenvolvimento   das   indústrias   de   base   florestal,   em   articulação   com   os  

setores  da  política  industrial,  visando  à  sustentabilidade  da  cadeia  produtiva  do  setor  

florestal;  

• Ampliar  os  mercados  internos  e  externos  de  produtos  e  subprodutos  florestais;  

• Valorizar  os  aspectos  ambientais,  sociais  e  econômicos  dos  serviços  e  dos  benefícios  

proporcionados  pelas  florestas  públicas  e  privadas;  

• Estimular  a  proteção  da  biodiversidade  e  dos  ecossistemas  florestais.  

  Os   objetivos   do   PNF   indicam   claramente   que   o   Programa   permeia   toda   a   cadeia  

produtiva  do  setor  florestal,  não  se  restringindo  aos  aspectos  ambientais,  embora  submetido  

11    

 

à   coordenação   do   Ministério   de   Meio   Ambiente,   como   locus   mais   consentâneo   aos  

requerimentos  da  moderna  política  florestal,  tal  como  concebida  e  praticada  na  atualidade.  

Esta   realidade   impõe  a  necessidade  de  mecanismos  de  articulação  e   coordenação  entre  o  

MMA  e  outros  Ministérios,  para  que  a  abrangência  e  o  pluralismo  das  atividades  florestais  

possam   ser   contemplados  por   todas   as   esferas  de   governo   com  poder  para   viabilizá-­‐lo  na  

sua  integralidade.  

  O   PNF   deixou   o   Brasil   preparado   para   atender   de   forma   cabal   o   Capitulo   11   da  

Agenda   21,   que   trata   das   diretrizes   de   preservação,   conservação   e   uso   sustentável   das  

florestas  do  planeta,  incluindo  não  apenas  as  florestas  tropicais,  mas  igualmente  as  florestas  

temperadas   e   boreais.   Alem   desse   dispositivo,   o   PNF   coloca   o   Brasil   em   sintonia   com   as  

Convenções  da  Biodiversidade,  de  Mudanças  do  Clima,  do  Fórum  de  Florestas  das  Nações  

Unidas   e   da   FAO,   como   órgão   mandatário   da   ONU   para   o   uso   sustentável   dos   recursos  

florestais.  

  O  PNF  orienta  também  os  Poderes  da  República  para  cumprir  o  arcabouço  legal  sobre  

o   tema,   balizado   pelo   Código   Florestal   de   l965,   pela   Constituição   Federal   de   1988,   que  

estabeleceu  novo  mandamento  para  a  gestão  florestal  compartilhada  e  descentralizada  no  

âmbito  da  Federação,  pela  Lei  da  Política  Nacional  de  Meio  Ambiente  de  1981  (Lei  Federal  

6.938),   e  mais   recentemente   pela   Lei   Nacional   de   Florestas   Públicas   de   2006   (Lei   Federal  

11.284)  e  suas  subseqüentes  regulamentações,  ela  própria  fruto  das  diretrizes  do  PNF.    

  O  mandato  para  coordenar  o  PNF  recaiu  sobre  o  MMA,  como  locus  institucional  mais  

apropriado  para  a  gestão  das  florestas,  em  virtude  da  opção  da  sociedade  brasileira  que  não  

aceita  uma  visão  meramente  utilitarista  das   florestas  como  estoque  exclusivo  de  madeiras  

ou  como  reserva  de  terras  para  a  expansão  da  fronteira  agropecuária,  alem  das  tendências  

universais   da   moderna   política   florestal   que   brota   dos   principais   acordos   internacionais  

subscritos  pelo  Brasil.  Esta  visão  foi  expressa  pelo  Código  Florestal  de  1965,  quando  logo  em  

seu  primeiro   artigo   reconheceu   as   florestas   e   demais   formas  de   vegetação   como  bens   de  

interesse  comum  a  todos  os  habitantes  do  País,  exercendo-­‐se  o  direito  de  propriedade  com  

as  limitações  legais  impostas  por  aquela  e  demais  legislações  subseqüentes.   Por   esta  

razão,   o   Programa   Nacional   de   Florestas   não   é   um   programa   de   meio   ambiente   estrito  

senso,  mas   um   programa   para   estimular   o   desenvolvimento   florestal   sustentável   do   País,  

12    

 

que  exige  a  participação  de  outros  atores  governamentais  que  extrapolam  a  área  ambiental,  

mas   que   com   ela   devem   interagir,   quando   a   política   ambiental,   como   ocorre   no   Brasil,   é  

concebida  sob  a  ótica  da  sustentabilidade.  

  O  instrumento  para  promover  essa  indispensável  articulação  foi  criado  na  esfera  do  

próprio   PNF,   em   2003,   a   Comissão   Nacional   de   Florestas,   fórum   de   natureza   consultiva,  

composta   de   78   (setenta   e   oito)   membros,   entre   titulares   e   suplentes,   com   entidades  

representativas  do  governo  federal  e  dos  governos  estaduais,  da  indústria  de  base  florestal,  

de   empresários   da   cadeia   produtiva,   das   confederações   de   trabalhadores,   associação   de  

estudantes   de   engenharia   florestal,   instituições   de   ensino   superior   em   ciências   florestais,  

comunidades   extrativistas,   entidades   indígenas   e   organizações   ambientalistas   não  

governamentais  da  sociedade  civil,  com  as  seguintes  competências:  

• Propor   e   avaliar  medidas   pra   o   cumprimento   dos   princípios   e   diretrizes   da   política  

pública   do   setor   florestal   em   observância   à   legislação   pertinente,   estimulando   a  

descentralização  da  execução  das  ações  e  assegurando  a  participação  dos  segmentos  

interessados;  

• Recomendar  as  ações  que  devem  integrar  o  planejamento  do  PNF;  

• Sugerir   medidas   de   articulação   ente   projetos   e   atividades   de   implementação   os  

objetivos  do  PNF,  bem  como  promover  a  integração  das  políticas  setoriais;  

• Apoiar   e   acompanhar   a   execução   dos   objetivos   previstos   no   PNF,   identificando  

demandas  de  recursos  financeiros  e  fontes  de  financiamento;  

• Sugerir   critérios   gerais   de   seleção   de   projetos   no   âmbito   do   PNF,   relacionados   à  

proteção  e  ao  uso  sustentável  das  florestas;  

• Propor   o   desenvolvimento   de   projetos,   pesquisas   e   estudos   voltados   ao  manejo   e  

plantio   florestal,   bem   como   ações   de   capacitação   de   recursos   humanos,  

fortalecimento   institucional   e   sensibilização   pública   da   sociedade   para   os   temas  

florestais;  

• Acompanhar   o   processo   de   implementação   da   gestão   florestal   compartilhada   e  

descentralizada;  

13    

 

• Promover   permanente   processo   de   atualização   do   Programa,   visando   mantê-­‐lo  

sempre  em  sintonia  com  a  realidade  sócio-­‐econômica  e  ambiental  do  setor  e  com  as  

tendências  internacionais  que  influem  nas  políticas  nacionais.  

  A   Secretaria   de   Biodiversidade   e   Florestas,   no   âmbito   do   MMA   e   a   Diretoria   de  

Florestas   e   a   atual  Diretoria   de  Uso   Sustentável   da   Biodiversidade   e   Florestas,   do   IBAMA,  

reinstitucionalizaram  a  gestão  florestal  no  Governo  Federal.  O  lançamento  do  PNF,  por  sua  

vez,   definiu   o   marco   lógico   e   a   modelagem   programática   da   atuação   do   setor   no   plano  

governamental,   suprindo   o   elo   faltante   do   processo   político-­‐institucional   de   tomada   de  

decisão.    

  Como   a   política   florestal   não   se   restringe   às   políticas   públicas   de   natureza  

monotemáticas,  em  razão  do  pluralismo  de  suas  ações,  torna-­‐se  fundamental  que  haja  entes  

de   concertação   e   coordenação   capazes   de   promover   a   articulação   do   setor,   nas   esferas  

políticas  realmente  dotadas  de  poder  e  decisão,  diante  da  variada  gama  de   interesses  que  

gravitam   em   torno   das   atividades   florestais   e   que   exigem   o   arbítrio   do   Estado,   para  

harmonizar  interesses  contraditórios  com  potencial  de  conflitos  intra  e  intersetorial.  

  Nos  últimos  anos,  a  partir  de  2000,  outras   iniciativas  programáticas  e   institucionais  

surgiram  que  alteraram  ainda  mais  as  características  da  gestão   florestal  no  País.  Em  2002,  

como   resultado  das  articulações  conduzidas  no  âmbito  do  PNF  e  de   intensas   tratativas  do  

Ministério   do  Meio   Ambiente   com   o  Ministério   da   Fazenda   foram   criadas   duas   linhas   de  

crédito  para  financiar  atividades  florestais  de  menor  escala:  o  PRONAF  Florestal,  destinado  à  

agricultura  familiar,  em  pequenas  propriedades,  e  o  PROPFLORA,  orientado  para  a  produção  

de  mudas  e  reflorestamento  dos   imóveis  rurais  beneficiados  pelo  crédito  rural  direcionado  

ao  agronegócio.    

  Esta  foi  uma  grande  inovação,  já  que  desde  a  extinção  dos  incentivos  fiscais,  o  setor,  

com   exceção   dos   segmentos,   como   celulose   e   papel,   com   acesso   ao   financiamento  

empresarial   do   BNDES   –   Banco   Nacional   do   Desenvolvimento   Econômico   e   Social,   não  

contavam   com   nenhuma   linha   de   financiamento,   tendo   que   sobreviver   e   desenvolver-­‐se  

com   recursos   próprios,   o   que   reduziu   substancialmente   a   capacidade   de   investimento   do  

setor  florestal.    

14    

 

  Também  em  2002,   juntamente  com  a  aprovação  dessas   linhas  de  crédito,  o  CMN  –  

Conselho  Monetário  Nacional,  aprovou  medidas  idênticas  para  permitir  que  o  setor  pudesse  

ser   contemplado   pelos   Fundos   Constitucionais   do   Nordeste,   Centro   Oeste   e   Norte,  

tornando-­‐o  beneficiário  de  financiamentos  do  BNB  –  Banco  do  Nordeste  do  Brasil  e  do  BASA  

–   Banco   da   Amazônia,   com   prazo,   carência   e   juros   ajustados   às   peculiaridades   e  

sazonalidades   do   setor,   embora   persistam   dificuldades   relativas   às   garantias   dos  

empréstimos.  

ESTRUTURAS  ORGANIZACIONAIS  DE  GOVERNANÇA  

  Nos   últimos   anos,   a   tendência   à   especialização   do   setor   na   administração   federal   se  

acentuou,   demandando   ainda   mais   esforços   de   concertação   e   coordenação,   alem   da   abordagem  

sistêmica  que  o  pluralismo  da  gestão  das  florestas  reclama.  Ainda  que  a  pulverização  institucional  da  

administração  do  setor  possa  ser  questionada,  na  verdade  não  há  um  modelo  de  gestão  uniforme  e  

simétrico,  universalmente  recomendado,  como  padrão  único  para  gerir  a  ampla  gama  de  ações  que  a  

gestão  florestal  encerra.  

  Todavia,   quanto   maior   o   numero   de   instituições   constituídas   para   administrar   um  

determinado   setor,   num   modelo   de   “especialização   organizacional”   ou   de   organização   múltipla,  

como  ocorre  atualmente  no  Brasil,  maior  a  necessidade  de  se  estabelecer  mecanismos  institucionais  

de  coordenação,  em  nível  político  elevado,   com  capacidade  política   real  de  efetuar  as  articulações  

entre  as  diversas  esferas  gestoras,  sem  a  qual  o  modelo  de  múltipla  organização  tende  ao  fracasso,  

diante  da  ausência  de  sinergia,  já  que  o  resultado  alcançado  por  uma  Instituição  depende  das  ações  

de  outras.  

  Além  da  repartição  de  competências  dentro  da  mesma  estrutura  de  gestão  do  setor,  outras  

ações  relevantes  estão  atribuídas  a  Ministérios  distintos,  como  é  natural  nesses  casos,  por  envolver  a  

missão  institucional  de  outras  esferas  de  decisão,  como  pesquisa,  na  área  do  Ministério  de  Ciência  e  

Tecnologia;   orçamento   e   recursos   humanos,   na   área   do   Ministério   de   Planejamento   e   Gestão;  

financiamento,   nas   áreas   dos   Ministérios   da   Fazenda,   Desenvolvimento,   Indústria   e   Comércio,  

Agricultura,  Pecuária  e  Abastecimento  e  Desenvolvimento  Agrário;  ensino  superior  de   florestas,  na  

área  do  Ministério  da  Educação,  além  de  outras  interfaces  próprias  da  estrutura  governamental.  

  A   repartição   de   competências   em   três   instituições   na   administração   federal   pressupõe   a  

existência   de   uma   instância   única   de   formulação   e   coordenação,   no   caso,   exercida   pelo   MMA,  

através  de  uma  Secretaria  de  Estado  especifica  e,   fundamentalmente,  uma  estrutura  programática  

15    

 

comum  a  todas  as  instituições,  cuja  missão  deve  ser  exclusivamente  de  natureza  operacional,  sem  o  

que  a  articulação  institucional  se  torna  impossível,  isto  é,  como  as  instituições  exercem  parte  de  uma  

política  e  de  um  programa,  ou  de  programas  de  um  plano.  

  Não  deve  ser  admitida  a  hipótese  de  cada  Instituição  elaborar  seu  próprio  Programa  ou  Plano  

de   Ação,   desalinhados   da   estrutura   programática   da   política   definida   no   âmbito   do   Ministério  

supervisor.  Quando   isso  ocorre,  a  política  nacional  perde  a   sua  unidade  e   sua   identidade,   já  que  a  

soma  das  competências  e  das  ações  dos  órgãos  e  entidades  que  lhe  são  subordinados  ou  vinculados  

não  se  sintonizam  com  as  diretrizes  gerais  da  política  concebida  para  o  setor,  produzindo  resultados  

não   raro   antagônicos   e   contraditórios.   Enfim,   havendo   mais   de   uma   instituição,   como   no   caso  

brasileiro   atual,   é   imperioso   que   prevaleça   o   seguinte   comando   institucional:   vários  

órgãos/entidades,  mas  um  só  programa,  um  só  Ministério,  um  só  governo.  

  Atualmente,   o   conjunto   de   atividades   que   estabelecem   os   contornos   da   política   florestal  

brasileira,   especialmente   em   relação   ao   manejo   sustentável,   estão   distribuídas   nas   estruturas  

organizacionais   do   MMA,   como   instâncias   de   coordenação,   e   no   IBAMA,   ICMBio   e   SFB   como  

instituições  operacionais,  como  será  demonstrado  a  seguir.    

  Do   conjunto   de   atribuições   originalmente   atribuídas   ao   IBAMA,   após   a   extinção   do   IBDF,  

remanescem   na   sua   competência   todas   as   atividades   relativas   ao   comando   e   controle   da   gestão  

florestal,  incluindo  a  fiscalização  do  desmatamento  referente  ao  uso  alternativo  do  solo  e  aos  demais  

usos   dos   recursos   florestais,   incluindo   o   licenciamento   ambiental   dos   planos   de  manejo   em   casos  

específicos,  as  autorizações  para  exploração  e  transporte  de  madeiras  e  de  seus  subprodutos,  alem  

do  controle  da  reposição  florestal  das  indústrias  consumidoras  de  madeira  e  derivados,  que  pela  Lei  

brasileira  são  obrigadas  a  reflorestarem  e  manterem  estoques  de  florestas  plantadas  equivalentes  ao  

seu  consumo.    

  Isso   significa   que   os   mecanismos   de   comando   e   controle   das   atividades   florestais   foram  

completamente   apartadas   das   ações   de   pesquisa,   proteção,   fomento,   manejo   e   mercado   para  

estimular  o  uso  sustentável  dos  recursos  florestais,  madeireiros  e  não-­‐madeireiros.  Estas  ações,  por  

sua  vez,  também,  estão  sediadas  em  diferentes    locus  institucionais.  

  O  IBAMA  exerce  suas  atribuições  sobre  o  setor  florestal,  através  de  3  (três)  Diretorias  

e  dois  Centros  Especializados,  o  que  dá  a  dimensão  da  presença  da  entidade  na  gestão  da  

política   florestal   brasileira,   com   destaque   para   a   Diretoria   de   Uso   Sustentável   da  

16    

 

Biodiversidade   e   Florestas   e   o   Centro   Nacional   de   Prevenção   e     Combate   a   Incêndios  

Florestais.  

  A   Diretoria   de   Uso   Sustentável   da   Biodiversidades   e   Florestas   possui   mandado  

especifico  para  gerenciar  o  uso  da  biodiversidade  e  das  florestas,  compreendendo  um  rol  de  

ações   exclusivamente   voltadas   para   as   atividades   florestais,   cujas   atribuições,   gerenciadas  

pela   Coordenadoria   Geral   de   Uso   da   Flora   e   Florestas,   com   as   seguintes   unidades   de  

gerenciamento:   (i)   Coordenação   de   Uso   Sustentável   das   Florestas,   (ii)   Coordenação   de  

Monitoramento   e   Controle   Florestal,   e   (iii)   Coordenação   de   Proteção   e   Conservação  

Florestal.  

  Por   sua   vez,   a   fiscalização  do  desmatamento  é   exercida  pela  Diretoria  de  Proteção  

Ambiental,  responsável  pela  direção  e  coordenação  das  ações  de  fiscalização  das  atividades  

efetivas   e   potencialmente   poluidoras   e   utilizadores   de   recursos   naturais   que   provocam  

danos   ao   meio   ambiente,   incluindo   todo   o   leque   de   atividades   relacionadas   ao   uso   dos  

recursos  florestais  e  ao  desmatamento  para  outros  usos  da  terra.  

  O  licenciamento  ambiental  das  atividades  de  manejo  e  silvicultura  que,  na  legislação  

brasileira   dependem   de   licenciamento,   aquelas   de   grande   impacto   regional   e/ou   grande  

impacto   ambiental,   é   exercido   também   pelo   IBAMA,   através   da   sua   Diretoria   de  

Licenciamento   Ambiental,   quando   localizadas   em   unidades   de   conservação   federais   de  

domínio   da   União.   Nos   demais   casos,   o   licenciamento   é   realizado   pelos   Estados   da  

Federação,   fazendo   com   que   praticamente   todo   o   licenciamento   ambiental   dos  

empreendimentos   florestais   privados   esteja   a   cargo   dos   órgãos   e   entidades   públicas  

estaduais.  

  Além  dessas  competências,  há  dois  Centros  que  atuam  diretamente  com  o  setor:  o  

Centro  Nacional  de  Prevenção  e  Combate  a  Incêndios  Florestais,  que  gerencia  o  PREVFOGO  

e  o  Centro  de  Sensoriamento  Remoto,  encarregado  entre  outros  de  monitorar  via  satélite  o  

desmatamento   na   Amazônia,   na   Bacia   do   Rio   São   Francisco   e   nos   demais   Biomas.   Assim,  

está  a  cargo  do  Instituto  uma  das  principais  atividades  de  proteção  florestal  do  País,  que  é  a  

prevenção  e  o  combate  aos  incêndios  florestais.    

A  LEI  DE  GESTÃO  DE  FLORESTAS  PÚBLICAS  

17    

 

  Desde   o   Código   Florestal   de   1965,   esta   é   a   primeira   Lei   editada   no   Brasil   com   o  

propósito  de  ordenar  o  uso  sustentável  dos  recursos  florestais,  com  vistas  à  produção  e  não  

apenas  com  finalidade  de  controle  e  fiscalização,  estrito  senso.  Esta  norma  legal  (Lei  Federal  

11.284/2006)  trata  dos  mecanismos  de  concessão,  institui  o  Cadastro  de  Florestas  Públicas,  

o  Plano  Anual  de  Outorga  Florestal  e  o  Fundo  Nacional  de  Desenvolvimento  Florestal  e  cria  a  

Comissão  Nacional  de  Florestas  Públicas.  

  A  nova  legislação  consagra  os  seguintes  princípios  balizadores  do  uso  sustentável  das  

florestas  brasileiras:  

• A  proteção  dos  ecossistemas,  do  solo,  da  água,  da  biodiversidade  e  valores  culturais  

associados,  bem  como  do  patrimônio  público;  

• O  estabelecimento  de  atividades  que  promovam  o  uso  eficiente  e  racional  das  

florestas  e  que  contribuam  para  o  cumprimento  das  metas  do  desenvolvimento  

sustentável  local,  regional  e  de  todo  o  País;  

• O  respeito  ao  direito  da  população,  em  especial  das  comunidades  locais,  de  acesso  às  

florestas  públicas  e  aos  benefícios  decorrentes  de  seu  uso  e  conservação;  

• A  promoção  do  processamento  local  e  o  incentivo  ao  incremento  da  agregação  de  

valor  aos  produtos  e  serviços  da  floresta,  bem  como  à  diversificação  industrial,  ao  

desenvolvimento  tecnológico,  à  utilização  e  à  capacitação  de  empreendedores  locais  

e  da  mão-­‐de-­‐obra  regional;  

• O  acesso  livre  de  qualquer  indivíduo  às  informações  referentes  à  gestão  de  florestas  

públicas,  nos  termos  da  legislação  em  vigor;  

• A  promoção  e  difusão  da  pesquisa  florestal,  faunística  e  edáfica,  relacionada  à  

conservação,  à  recuperação  e  ao  uso  sustentável  das  florestas;  

• O  fomento  ao  conhecimento  e  a  promoção  da  conscientização  da  população  sobre  a  

importância  da  conservação,  da  recuperação  e  do  manejo  sustentável  dos  recursos  

florestais;  

• A  garantia  de  condições  estáveis  e  seguras  que  estimulem  investimentos  de  longo  

prazo  no  manejo,  na  conservação  e  na  recuperação  das  florestas  

18    

 

  Visando   a   orientar   de   forma   segura   os   parâmetros   para   manejo,   este   novo  

instrumento   legal   demarca   os   conceitos   a   serem   seguidos   pelo   Poder   Concedente   e   pelo  

Órgão   Gestor,   abaixo   listados,   reunindo   critérios   de   gestão   já   consagrados   como   novos  

paradigmas  da  sustentabilidade:  

• Florestas  públicas:   florestas,  naturais  ou  plantadas,   localizadas  nos  diversos  biomas  

brasileiros,  em  bens  sob  o  domínio  da  União,  dos  Estados,  dos  Municípios,  do  Distrito  

Federal  ou  das  entidades  da  administração  indireta;  

• Recursos   florestais:  elementos  ou  características  de  determinada   floresta,  potencial  

ou  efetivamente  geradores  de  produtos  ou  serviços  florestais;  

• Produtos   florestais:   produtos   madeireiros   e   não  madeireiros   gerados   pelo   manejo  

florestal  sustentável;  

• Serviços   florestais:   turismo   e   outras   ações   ou   benefícios   decorrentes   do  manejo   e  

conservação  da  floresta,  não  caracterizados  como  produtos  florestais;  

• Ciclo:  período  decorrido  entre  2  (dois)  momentos  de  colheita  de  produtos  florestais  

numa  mesma  área;  

• Manejo   florestal   sustentável:   administração   da   floresta   para   a   obtenção   de  

benefícios   econômicos,   sociais   e   ambientais,   respeitando-­‐se   os   mecanismos   de  

sustentação   do   ecossistema   objeto   do   manejo   e   considerando-­‐se,   cumulativa   ou  

alternativamente,   a   utilização   de   múltiplas   espécies   madeireiras,   de   múltiplos  

produtos   e   subprodutos  não  madeireiros,   bem   como  a  utilização  de  outros   bens   e  

serviços  de  natureza  florestal;  

• Concessão   florestal:  delegação  onerosa,   feita  pelo  poder   concedente,  do  direito  de  

praticar  manejo   florestal   sustentável  para  exploração  de  produtos  e   serviços  numa  

unidade  de  manejo,  mediante  licitação,  à  pessoa  jurídica,  em  consórcio  ou  não,  que  

atenda  às  exigências  do  respectivo  edital  de   licitação  e  demonstre  capacidade  para  

seu  desempenho,  por  sua  conta  e  risco  e  por  prazo  determinado;  

• Unidade  de  manejo:  perímetro  definido  a  partir  de  critérios  técnicos,  socioculturais,  

econômicos   e   ambientais,   localizado   em   florestas   públicas,   objeto   de   um  Plano   de  

Manejo  Florestal  Sustentável  -­‐  PMFS,  podendo  conter  áreas  degradadas  para  fins  de  

recuperação  por  meio  de  plantios  florestais;  

• Lote  de  concessão  florestal:  conjunto  de  unidades  de  manejo  a  serem  licitadas;  

19    

 

• Comunidades   locais:  populações  tradicionais  e  outros  grupos  humanos,  organizados  

por   gerações   sucessivas,   com   estilo   de   vida   relevante   à   conservação   e   à   utilização  

sustentável  da  diversidade  biológica;  

• Auditoria   florestal:   ato   de   avaliação   independente   e   qualificada   de   atividades  

florestais  e  obrigações  econômicas,  sociais  e  ambientais  assumidas  de  acordo  com  o  

PMFS  e  o  contrato  de  concessão  florestal,  executada  por  entidade  reconhecida  pelo  

órgão  gestor,  mediante  procedimento  administrativo  específico;  

• Inventário  amostral:  levantamento  de  informações  qualitativas  e  quantitativas  sobre  

determinada  floresta,  utilizando-­‐se  processo  de  amostragem;  

• Órgão   gestor:   órgão   ou   entidade   do   poder   concedente   com   a   competência   de  

disciplinar  e  conduzir  o  processo  de  outorga  da  concessão  florestal;  

• Órgão   consultivo:   órgão   com   representação   do   Poder   Público   e   da   sociedade   civil,  

com  a  finalidade  de  assessorar,  avaliar  e  propor  diretrizes  para  a  gestão  de  florestas  

públicas;  

• Poder  concedente:  União,  Estado,  Distrito  Federal  ou  Município.  

  Para   outorgar   a   concessão   de   manejo   em   terras   públicas   a   Lei   11.284/06   criou   o  

Plano  Anual  de  Outorga  Florestal  -­‐  PAOF,  que  deve  conter  a  descrição  de  todas  as  florestas  

públicas  a  serem  concedidas.  Nesse  sentido  o  PAOF  considerará  obrigatoriamente:  

• as  políticas  e  o  planejamento  para  o  setor  florestal,  a  reforma  agrária,  a  regularização  

fundiária,   a   agricultura,   o   meio   ambiente,   os   recursos   hídricos,   o   ordenamento  

territorial  e  o  desenvolvimento  regional;  

• o  Zoneamento  Ecológico-­‐Econômico  -­‐  ZEE  nacional  e  estadual  e  demais  instrumentos  

que  disciplinam  o  uso,  a  ocupação  e  a  exploração  dos  recursos  ambientais;  

• a   exclusão   das   unidades   de   conservação   de   proteção   integral,   das   reservas   de  

desenvolvimento  sustentável,  das  reservas  extrativistas,  das  reservas  de  fauna  e  das  

áreas   de   relevante   interesse   ecológico,   salvo   quanto   a   atividades   expressamente  

admitidas  no  plano  de  manejo  da  unidade  de  conservação;  

• a   exclusão   das   terras   indígenas,   das   áreas   ocupadas   por   comunidades   locais   e   das  

áreas  de  interesse  para  a  criação  de  unidades  de  conservação  de  proteção  integral;  

• as   áreas   de   convergência   com   as   concessões   de   outros   setores,   conforme  

regulamento;  

20    

 

• as  normas  e  as  diretrizes  governamentais  relativas  à  faixa  de  fronteira  e  outras  áreas  

consideradas  indispensáveis  para  a  defesa  do  território  nacional;  

• as  políticas  públicas  dos  Estados,  dos  Municípios  e  do  Distrito  Federal.    

O  SERVIÇO  FLORESTAL  BRASILEIRO-­‐SFB  

  Para   cumprir   as   suas   finalidades  o   Serviço   Florestal   Brasileiro   -­‐   SFB,   nos   termos  do  

Artigo  55  da  Lei  de  Gestão  das  Florestas  Públicas,  tem  a  seguinte  competência:  

• Exercer   função  de  órgão  gestor  prevista  no  art.   53  da  nova   Lei,   no  âmbito   federal,  

bem  como  de  órgão  gestor  do  FNDF  –  Fundo  Nacional  de  Desenvolvimento  Florestal;  

• Apoiar   a   criação   e   gestão   de   programas   de   treinamento,   capacitação,   pesquisa   e  

assistência  técnica  para  a  implementação  das  atividades  florestais,  incluindo  manejo  

florestal,  processamento  de  produtos  florestais  e  exploração  de  serviços  florestais;  

• Estimular  e   fomentar  a  prática  de  atividades   florestais  sustentáveis  madeireira,  não  

madeireira  e  de  serviços;  

• Promover  estudos  de  mercado  para  produtos  e  serviços  gerados  pelas  florestas;  

• Propor   planos   de   produção   florestal   sustentável   de   forma   compatível   com   as  

demandas  da  sociedade;  

• Criar   e  manter   o   Sistema  Nacional   de   Informações   Florestais   integrado   ao   Sistema  

Nacional  de  Informações  sobre  o  Meio  Ambiente;  

• Gerenciar  o  Cadastro  Nacional  de  Florestas  Públicas;  

• Apoiar  e  atuar  em  pareceria  com  os  seus  congêneres  estaduais  e  municipais.  

  A  administração  superior  do  Serviço  Florestal  Brasileiro  é  exercida  por  um  Conselho  

Diretor,  composto  por  um  Diretor  Geral  e  4  (quatro)  Diretores,  com  competência  de  tomar  

decisões   e   fazê-­‐las   executar.   Neste  modelo   de   gestão   colegiada   não   pode   haver   decisões  

unilaterais,  cabendo  ao  Conselho  Diretor,  por  maioria  de  votos,  decidir  as  matérias  que  lhe  

são  submetidas.  

  O  SFB  tem  sede  em  Brasília,  no  Distrito  Federal  e  4  (quatro)  unidades  regionais  que  

foram   instaladas   para   identificar   potencialidades   e   demandas   nas   diferentes   regiões,   em  

áreas  de   interesse  para  a  gestão  das   florestas  públicas  brasileiras,  a  saber:  duas  na  Região  

21    

 

Amazônica,  UR  Purus-­‐Madeira,  na  cidade  de  Porto  Velho,  Estado  de  Rondônia;  e  a  UR  BR  l63,  

sediada   em   Santarém,   no   Estado   do   Pará;   uma   no   Nordeste   Brasileiro,   UR   Nordeste,   na  

cidade  de  Natal,  Estado  do  Rio  Grande  do  Norte;  e  uma  no  Sul  do  Brasil,  a  UR  Sul,  localizada  

na   cidade   de   Colombo,   no   Estado   do   Paraná,   onde   a   EMBRAPA,   Empresa   Brasileira   de  

Pesquisas  Agropecuárias  –  mantém  o  seu  Centro  de  Pesquisas  Florestais.  

  O  formato  organizacional  do  SFB  claramente  reflete  a  missão  institucional  do  órgão.  

Além  da  Diretoria  Geral,  as  4  (quatro)  Diretorias  do  SFB  estão  assim  constituídas:  Diretoria  

de   Concessão   e   Monitoramento,   com   atribuições   nas   áreas   de   concessão   florestal,  

monitoramento   e   auditoria;   Diretoria   de   Pesquisa   e   Informações   Florestais,   com   atuação  

relacionada  ao  Cadastro  de  Floresta  Pública  e  Informações  Florestais;  Diretoria  de  Fomento  

e   Inclusão   Florestal,   responsável   pelas   atividades   de   Fomento,   Florestas   Comunitárias   e  

coordenação  do  Cenaflor  –  Centro  Nacional  de  Florestas  e  a  Diretoria  de  Ações  Estratégicas,  

encarregada   das   atividades   de   Planejamento,   Tecnologia   da   Informação   e   Cooperação  

Nacional  e  Internacional.  

  A  estratégia  de  atuação  do  SFB  está  orientada  por  três  eixos  temáticos  que  agrupam  

as   suas   competências  e  atribuições  e  que  explicitam  o   seu  papel  na  nova   configuração  da  

gestão  pública  florestal  federal,  após  sua  criação.  É  em  torno  desses  temas  que  o  órgão  vem  

se   estruturando   para   cumprir   suas   finalidades.   São   eles:   (i)   Gestão   das   Florestas   Públicas,  

compreendendo   o   Cadastro   das   Florestas   Públicas,   as   Concessões   Florestais,   Manejo  

Florestal   Comunitário   e   Monitoramento   das   Florestas   Públicas;   (ii)   Desenvolvimento  

Florestal  Sustentável,  integrado  pelo  Sistema  Nacional  de  Informações  Florestais,  Inventário  

Florestal  Nacional,  Pesquisa  e  Fomento  e  (iii)  Desenvolvimento  Institucional.  

  Não   há   duvidas   nos   meios   especializados   de   que   a   criação   do   Serviço   Florestal  

Brasileiro  representou  uma  iniciativa  pioneira  para  fortalecer  o  manejo  florestal  como  uma  

alternativa  imprescindível  para  o  uso  múltiplo  e  sustentável  das  florestas  brasileiras  e  como  

estratégia   para   se   contrapor   aos   outros   usos   da   terra,   que   provocam   invariavelmente   à  

supressão   das   florestas   nativas   para   implantação   de   atividades   com   maior   retorno  

econômico,  notadamente  o  desmatamento  para  expansão  da   fronteira  agropecuária,  num  

processo  de  dilapidação    do  patrimônio  florestal.    

22    

 

  É   indiscutível   a   necessidade   das   atividades   de   controle   e   fiscalização   do  

desmatamento   e   da   exploração   ilegal   dos   recursos   florestais   no   País,   em   face   de   nossa  

realidade  ambiental  e  sócio-­‐econômica,  mas  a  fiscalização  existe  para  punir  o  uso  predatório  

das   florestas,   sendo,   igualmente,   fundamental   e   inadiável   fortalecer   as   instituições   do  

Estado   encarregadas   de   promover   o   uso   sustentável.   Hoje,   o   Serviço   Florestal   Brasileiro,  

alinhado   com  as   diretrizes   do   Programa  Nacional   de   Florestas,   é   o   embrião   deste   esforço  

que  o  País  não  pode  mais  adiar.  

FLORESTAS  NACIONAIS  E  OUTRAS  UNIDADES  DE  USO  SUSTENTÁVEL  

  Após  a  criação  do  Serviço  Florestal  em  2006,  foi  criado  o  Instituto  Chico  Mendes  de  

Conservação   da   Biodiversidade   –   ICMBio,   no   ano   seguinte,   através   da   Lei   Federal  

11.516/2007,  entidade  de  natureza  autárquica,  com  autonomia  administrativa  e  financeira.  

Embora  o  nome  da  nova  Autarquia  refira-­‐se  expressamente  à  Biodiversidade,  a  Instituição,  

como   já  havia  ocorrido  com  a  criação  do  SFB,  não  se  dotou  de  um  mandato  amplo  para  a  

gestão   da   biodiversidade   brasileira,   dividindo   com   o   IBAMA   as   competências   nessa   área,  

restringindo   a   sua   atuação,   com   algumas   atribuições   a  mais.   Como   por   exemplo,   gerir   as  

Unidades   de   Conservação   Federais   do   Sistema   Nacional   de   Unidades   de   Conservação   da  

Natureza  –  SNUC,  instituído  pela  Lei  Federal  9.985/2000.  

  Na  legislação  brasileira,  o  Sistema  Nacional  de  Unidades  de  Conservação  da  Natureza,  

que  equivale  ao  Sistema  de  Áreas  Protegidas  de  outros  Países,  é  dividido  em  duas  grandes  

vertentes:  as  Unidades  de  Conservação  de  Proteção  Integral  e  as  Unidades  de  Conservação  

de  Uso  Sustentável.  Como  as  unidades  de  uso  sustentável,  incluindo  as  Florestas  Nacionais,  

são   destinadas   ao  manejo,   registra-­‐se  mais   uma   estreita   interface   entre   as   competências  

desta  Instituição  e  do  Serviço  Florestal,  a  merecer  especial  atenção.  

  Na   estrutura   organizacional   do   Instituto   Chico   Mendes   de   Conservação   da  

Biodiversidade,  destaca-­‐se  a  Diretoria  de  Ações  Socioambientais  e  Consolidação  Territorial  

em   Unidades   de   Conservação,   encarregada   de   realizar   o   gerenciamento   das   Florestas  

Nacionais  e  das  outras  Unidades  de  Conservação  destinadas  ao  uso  sustentável  dos  recursos  

florestais.   Incluem-­‐se  nesse  rol  as  Reservas  Extrativistas  e  as  Reservas  de  Desenvolvimento  

23    

 

Sustentável,  nas  quais  o  manejo  prioriza  as  populações  tradicionais  que  vivem  nas  florestas  e  

nos  seus  entornos.  

  Com  a  aprovação   recente  do  Protocolo  de  Nagoya,  no  âmbito  da  Convenção   sobre  

Diversidade  Biológica  -­‐  CDB,  o  papel  do  ICMBio  cresce  ainda  mais  em  importância,  diante  do  

elevado  interesse  do  Brasil,  assim  como  de  outros  Países  do  Continente,  em  regulamentar  o  

acesso   e   a   repartição   de   benefícios   provenientes   do   patrimônio   genético   oriundo   da  

biodiversidade,   especialmente   da   diversidade   biológica   dos   ecossistemas   florestais   da  

Amazônia  e  de  outros  biomas  que  compõem  o  nosso  diversificado  patrimônio  natural.  

O  PAPEL  DOS  ESTADOS  E  A  GESTÃO  DESCENTRALIZADA  

  O  advento  da  Lei  de  Gestão  das  Florestas  Públicas  reforçou  um  regime  especial  para  

o  uso   sustentável  dos   recursos   florestais  que,  embora  previsto  na  Constituição  Federal  de  

1988,   não   estava   previsto   no   ordenamento   legal   do   setor.   Além   de   fundar   o   marco  

regulatório   infraconstitucional   do   manejo   florestal   sustentável   e   criar   o   Serviço   Florestal  

Brasileiro,  a   Lei  11.284/06  alterou  o  a   redação  do  Artigo  19  do  Código  Florestal  brasileiro,  

transferindo   aos   Estados   a   responsabilidade   de   gestão   do   setor,   até   então   exercida   pelo  

IBAMA  na  maioria   dos   Estados,   principalmente   no  Norte   e  Nordeste   do   País,   incluindo  os  

Estados  da  Amazônia.  

  Logo,  desde  o  advento  da   Lei  de  Florestas  Públicas,  os  Estados  passaram  a  exercer  

uma  responsabilidade  para  a  qual  não  estavam  preparados  na  maioria  dos  casos,  gerando  

uma   fase   de   transição   ainda   inconclusa   diante   da   necessidade   de   criar   capacidades  

institucionais.    

  Todavia,   deve-­‐se   destacar   que   esta   iniciativa   está   em   sintonia   com   o   sistema  

federativo  de  organização  do   Estado  brasileiro,   na  medida   em  que   a   Constituição  de   l988  

atribuiu   aos   Estados   competência   para   legislar   concorrentemente   com   a   União   na   área  

ambiental   e   de   gestão   dos   recursos   naturais,   bem   como   estabeleceu   a   aplicação   da  

legislação  como  competência  comum  aos  3  (três)  entes  da  Federação:  a  União,  os  Estados,  o  

Distrito  Federal  e  os  Municípios.    

24    

 

  De   lá   pra   cá,   as   unidades   federadas   vem   realizando   esforços   de   capacitação  

institucional  e  se  preparando  para  assumir  suas  responsabilidades  como  gestores  florestais.  

Neste  caso,  como  quase  todos  os  Estados  não  tinham  instituições  florestais  organizadas,  as  

competências   de   gestão   do   setor   foram   enxertadas   nos   órgãos   e   entidades   ambientais   já  

existentes,   reproduzindo,   em   parte,   o   modelo   da   esfera   federal,   lembrando   a   criação   do  

Serviço  Florestal  como  um  órgão  florestal  específico  da  União,  e  a  existências  de  instituições  

genuinamente  florestais  em  alguns  Estados.  

  Por   parte   do  MMA   há   iniciativas   de   capacitação   institucional   dirigidas   aos   Estados  

para   assumirem   seu   novo   papel,   através   da   realização   de   seminários   e   outras   iniciativas  

promovidas   e   estudadas   pelo   CONAFLOR   e   pelo   Departamento   de   Florestas   do   próprio  

Ministério,   como   a   Deliberação   CONAMA   379/2006,   que   cria   o   Sistema   de   Dados   e  

Informações  sobre  a  Gestão  Florestal  no  âmbito  do  SISNAMA,  o  Portal  Nacional  da  Gestão  

Florestal  e  o  SISPROF  –  Sistema  de  Monitoramento  e  Controle  dos  Recursos  Florestais.  

  Em   alguns   Estados   da   Federação,   nos   quais   o   setor   florestal   sempre   teve   maior  

importância   econômica   e   social,   e   naqueles   onde   a   dimensão   ambiental   das   florestas  

ganhou   prioridade   política   nos   anos   recentes,   o   setor   florestal   dispõe   de   estrutura  

organizacional   própria,   equivalente   à   sua   importância,   alguns   com   instituições  

nacionalmente  reconhecidas    como  São  Paulo  e  Minas  Gerais,  cujas   instituições   já  existem  

há  mais  de  meio  século.  

  Em   relação   ao   setor   florestal,   a   federação   brasileira   pode,   grosso   modo,   ser  

subdividida  em  dois  grandes  ramos  de  atividades.  Um  no  centro-­‐sul  baseado  na  silvicultura  

de   florestas   plantadas   e   outro   no   Norte,   fundamentalmente   na   Amazônia,   baseado   no  

manejo  da  floresta  nativa.  Desta  forma,  a  organização  da  gestão  florestal  nos  Estados  sofre  a  

influencia  desta  realidade.  

  Na   Amazônia,   os   Estados   do   Acre,   Amazonas   e   Pará   contam   com   instituições  

florestais   específicas,   voltadas   ao   desenvolvimento   sustentável   do   setor.   No   Acre,   a  

administração  pública  setorial  adquiriu  o  status  de  Secretaria  de  Estado,  com  a  implantação  

da  Secretaria  Estadual  de  Florestas.  No  Estado  do  Amazonas,  funciona  a  Agencia  de  Florestas  

e   Negócios   Sustentáveis   e,   no   Estado   do   Para,   foi   criado   o   IDEFLOR   –   Instituto   de  

25    

 

Desenvolvimento   Florestal   do   Pará,   em   fase   de   implantação,   adotando   um   modelo  

institucional   que   busca   similaridade   com  o   Serviço   Florestal   Brasileiro,   em   face   da   grande  

extensão  de  florestas  públicas  de  domínio  do  Estado.  

  Os  quatro   Estados  do   Sudeste,   a   região  mais   rica   e  desenvolvida  do  País,   possuem  

outra  ênfase,  já  que  as  atividades  florestais  predominantes  estão  vinculadas  à  silvicultura  de  

florestas  plantadas.  Essa  região,  constituída  pelos  Estados  de  São  Paulo,  Minas  Gerais,  Rio  de  

Janeiro  e  Espírito  Santo,  concentra  quase  70%  (setenta  por  cento)  do  PIB  do  Brasil.  

  Na  região  sudeste  três  Estado  conta  com  instituições  florestais  especificas,  ainda  que  

com   formato   organizacional   diferenciado,   como   recomenda   as   peculiaridades   de   cada  

Estado,   incluindo   as   Unidades   Federadas   de   São   Paulo,   Minas   Gerais   e   Espírito   Santo.   O  

Estado   do   Rio   de   Janeiro   tinha   uma   instituição   de   florestas   recentemente   fundida   com  

outras   instituições   ambientais   para   criação   do   INEA   –   Instituto   Estadual   do   Ambiente,  

seguindo   o   modelo   que   os   Estados   vem   adotando   desde   a   extinção   do   IBDF,   de   adotar  

instituições  ambientais  generalistas,  dominadas  pelo  licenciamento  ambiental  e  pelas  ações  

de  controle  e  fiscalização.  

  Em  São  Paulo,  funciona  desde  fins  do  século  XIX,  o  Instituto  Florestal,  a  mais  antiga  

instituição  florestal  do  Brasil,  que  atua  conjuntamente  com  a  Fundação  Florestal,  constituída  

para  fortalecer  a  capacidade  operacional  do  Instituto,  que  administra  as  Florestas  Estaduais,  

as   Unidades   de   Conservação   de   Proteção   Integral   e   Uso   Sustentável,   além   de   outras  

atividades  próprias  de  um  serviço  florestal.  

  Em  Minas   Gerais,   a   institucionalidade   florestal   também   tem   uma   grande   tradição,  

sendo  o  Instituto  Estadual  de  Florestas  reconhecido  nacionalmente  como  referência  na  sua  

área  de  atuação,  em  virtude  de  sua  estrutura  descentralizada  e  de  sua  grande  capacidade  

operacional  na  gestão  das  Unidades  de  Conservação  e  nas  atividades  de   fomento   florestal  

com  finalidade  múltipla,  além  do  trabalho  realizado  juntamente  com  os  Centros  de  Ciências  

Florestais   do   Estado,   em   inventário   florestal   e   monitoramento   continuo   da   cobertura  

vegetal,  iniciativas  pioneiras  no  País,  de  âmbito  estadual.  

26    

 

  O   terceiro   Estado   do   Sudeste   a   dispor   de   uma   instituição   florestal   é   o   Estado   do  

Espírito  Santo,  mas  com  características  diferentes  dos  demais,  uma  vez  que  se  trata  do  único  

Estado   da   Federação   que   mantêm   a   gestão   de   suas   florestas,   como   parte   da   política  

agropecuária,  no  âmbito  da  Secretaria  de  Agricultura,  Pecuária  e  Pesca,   incluindo  as  ações  

de   controle   e   fiscalização   do   uso   dos   recursos   florestais   e   do   desmatamento.   Estas  

atividades   estão   atribuídas   ao   IDAF   –   Instituto   de   Defesa   Agropecuária   e   Florestal,  

misturando  as  atividades  de  sanidade  animal  e  vegetal  com  florestas.  

  Nos  demais  Estados  do  Sul,  do  Centro-­‐Oeste  e  do  Nordeste,  não  existem  instituições  

florestais  especificas,  estando  todas  as  ações  do  setor  incorporadas  aos  órgãos  e  entidades  

ambientais,  ou  com  algumas  ações  de  fomento  timidamente  exercidas  em  escala  piloto  em  

algumas   Secretarias   de   Agricultura   e   nas   entidades   de   extensão   rural,   mas   sem   suprir   a  

lacuna  deixada  na  área  ambiental.  

  A   ausência   de   uma   gestão   florestal  mais   robusta   nos   Estados   tem   suas   origens   na  

atuação   do   IDBF,   já   que   na   vigência   da   Constituição   anterior   à   Carta   de   1988,   a  

administração  pública  florestal  era  privativa  da  União,  o  que  desestimulava  os  Estados,  a  não  

serem  aqueles  onde  o  setor  tinha  importância  econômica  e  social,  a  se  organizarem  para  no  

fomento  e  manejo  das  florestas.  

  Embora   o   advento   da   Constituição   de   1988,   como   já   mencionado,   tenha   sido  

arquitetada   com   forte   espírito   descentralizador,   o   IBAMA   herdou   a   cultura   institucional  

centralizadora  praticada  pelo  IBDF  no  regime  constitucional  anterior,  mantendo  os  Estados  

afastados  da  gestão,  situação  que  só  foi   legalmente  revertida  com  a  Lei  Federal  de  Gestão  

das  Florestas  Públicas,  que  alterou  o  artigo  19  do  Código  Florestal  (  Lei  4.772/65),  que  atribui  

aos  Estados  as  competências  que  eram  até  então  exercidas  pelo  IBAMA.  

RELAÇÃO  ENTRE  AS  ESTRUTURAS  DE  GESTÃO  E  AS  AUTORIDADES  

  Os   itens  precedentes  deste   relatório   trataram  de  descrever  analítica  e  criticamente  

os   antecedentes  e  o   status  quo  do   setor   florestal  brasileiro  para  que   se  possa  entender  a  

realidade  da  gestão  florestal  no  País,  através  da  evolução  da  administração  pública  setorial,  

lembrando  que  a  organização  pública  não  se  estabelece  sem  a   influência  do  setor  privado.  

27    

 

Por  isso,  a  partir  deste  item  serão  abordados  os  temas  que  tratam  do  setor  considerando  as  

relações  do  Poder  Executivo  com  as  estruturas  que  constituem  a  gestão,  na  sua  dimensão  

econômica  e  social,  e  as  relações  privadas  dentro  do  setor  e  com  outros  setores.  

  No  Brasil,  graças  ao  avanço  do  processo  democrático  e  da  consolidação  do  Estado  de  

Direito,  o  País  tem  sido  capaz  de  honrar  os  contratos,  como  demonstra  a  credibilidade  que  

goza  no  plano  internacional  e  a  segurança  jurídica  que  tem  prevalecido  no  âmbito  interno,  

em  todos  os  setores  de  atividades.  

  Desta   forma,  as  autoridades   florestais,  públicas  e  privadas,  exercem  com  exação  as  

suas   responsabilidades,   cumprindo   estritamente   os   compromissos   assumidos,   salvo   nos  

casos   de   intervenção   do   Ministério   Publico   e   do   Poder   Judiciário,   que   pode   reverter  

determinadas  decisões  ou  compromissos  ou  torná-­‐los  sub-­‐júdice,  como  ocorre  em  algumas  

situações,  em  razão  da  competência  atribuída  ao  Ministério  Público  da  União  e  dos  Estados  

como  responsáveis  pela  tutela  do  meio  ambiente  e  do  patrimônio  florestal,  considerado  na  

Constituição   e   na   legislação   pertinente,   bem   de   interesse   comum   do   povo   e,   portanto,  

sujeito  à  tutela  do  Estado  Nacional.    

  Todavia,  não  há  no  País  uma  judicialização  generalizada  que  possa  ser  descrita  como  

um   problema,   embora   em   alguns   casos,   principalmente   em   relação   ao   licenciamento  

ambiental,   esta   situação   ocorra   com   mais   freqüência.   Ao   contrário   de   se   constituir   em  

problema,  o  ativo  papel  do  Ministério  Público  e  do  Poder  Judiciário  demonstra  o  vigor  das  

instituições  republicanas  e  a  solidez  do  Estado  Democrático  de  Direito,  particularmente  num  

tema  que  se  insere  no  rol  dos  direitos  difusos,  que  exigem  a  salvaguarda  do  Poder  Público.  

  Logo,   a   natureza   da   relação   das   estruturas   que   constituem   o   setor   com   as  

autoridades   públicas   deve   ser   analisada   em   razão   dos   atos   de   gestão   que   as   autoridades  

praticam  e  dos   compromissos   assumidos   e   que   se   expressam  em  dispositivos   normativos,  

autorizativos   e   contratuais   que   configuram   a   legalidade   das   atividades   florestais,   a  

formalidade  das  ações,  a  qualidade  da  governança  e  o  desempenho  do  setor  privado.  

  Como   a   estrutura   produtiva   do   setor   no   Brasil   está   organizada   em   torno   de   duas  

vertentes  bem  distintas,  manejo  florestal  e  floresta  plantada,  as  relações  das  estruturas  de  

28    

 

produção   com   as   autoridades   também   se   distinguem,   já   que   a   organização   econômica   e  

social   de   uma   e   outra   não   são   homogêneas,   pelas   naturais   especificidades   dos   diferentes  

sistemas  de  produção  dos  dois  segmentos.  

  A   estrutura  produtiva  do   setor   baseada  em   florestas   plantadas   é,   de   longe,   a  mais  

moderna  e  avançada  do  País,  com  empresas  de  alta  tecnologia,  gestão  corporativa  de  ponta  

e  responsabilidade  sócio-­‐ambiental.  As  atividades  florestais  dessas  empresas  giram  em  torno  

da  economia  de  celulose  e  papel,  de  madeira  processada  para  construção  civil  e  movelaria  e  

as   empresas   integradas   de   aço   a   carvão   vegetal,   além   de   um   pequeno   percentual   de  

empresas  ligadas  a  indústria  de  ferro-­‐gusa,  como  também  a  carvão  vegetal.  

  Coincidentemente,   este   segmento   está   fortemente   concentrado   nas   regiões   Sul   e  

Sudeste,   as  mais   prósperas   e  desenvolvidas  do  País,   cujas   empresas  usam   intensivamente  

madeira  de  eucalipto  e  pinus,  com  predominância  do  cultivo  de  eucalipto,  através  de  uma  

silvicultura   tecnologicamente  avançada,  de  alta  produtividade  e  eficiência  econômica.  Nos  

anos   mais   recentes,   a   atividade   reflorestadora   tem   se   expandido   rumo   ao   Nordeste   e   o  

Centro-­‐Oeste,  onde  a  terra  apresenta  custos  mais  baixos  e  a  indústria  de  base  florestal  vem  

se  instalando,  em  busca  de  novas  oportunidades  de  investimento.  

  Atualmente,   duas   grandes   entidades   de   classe   dominam   a   representação   política  

deste   segmento   no   Brasil:   a   Associação   Brasileira   de   Celulose   e   Papel   –   BRACELPA   e   a  

Associação   Brasileira   de   Florestas   Plantadas   –   ABRAF.   A   BRACELPA   representa  

exclusivamente  os  interesses  florestais  associados  à  indústria  de  celulose  e  papel,  enquanto  

a  ABRAF  tem  uma  representação  mais  ampla,  agasalhando  todos  os  ramos  de  atividade  da  

economia   florestal   assentadas   no   reflorestamento,   incluindo   celulose   e   papel,   madeira  

processada  e  carvão  vegetal.  

  Embora  as  entidades  de  classe  do  setor  florestal  brasileiro  representem  em  torno  de  

4%   (quatro   por   cento)   do   PIB,   7%   (sete   por   cento)   das   exportações   e   2   (dois)  milhões   de  

empregos  da  oitava  economia  do  mundo,  elas  não  conseguiram  ainda  hoje,  construir  uma  

agenda   política   proporcional   à   sua   importância   econômica   e   social,   isto   é,   o   tamanho  

político   do   setor   é   relativamente   inexpressivo   quando   comparado   com   o   seu   tamanho  

econômico.  Certamente,  uma  das  causas  para  esse  cenário  é  a  percepção  desfavorável  que  a  

29    

 

sociedade   tem   do   setor,   por   conta   de   suas   próprias   deficiências   e   da   sua   relutância,   no  

passado,  em  adotar  práticas  de  uso  sustentável  dos  recursos  florestais.  

  Este   quadro   tem   mudado   consideravelmente,   principalmente   nos   segmentos  

voltados  para  o  mercado  externo,  nos  quais  os  conceitos  e  as  práticas  sustentáveis  foram  e  

estão  sendo  internalizados  com  intensidade  pelas  empresas  e  reconhecidos  pela  sociedade,    

como  na  área  de  celulose  e  papel,  madeira  processada  de   floretas  plantadas  e  a   indústria  

integrada  de  aço  a  carvão  vegetal,  embora  ainda  persistam  atitudes  isoladas  e  pontuais  de  

conflitos  sociais  e  ambientais  em  relação  ao  cultivo  de  eucalipto.  

  A  realidade  política  e  socioeconômica  do  setor  florestal  se  inverte  quando  saímos  da  

silvicultura   de   florestas   plantadas   para   o   manejo   das   florestas   nativas,   sobretudo   na  

Amazônia,   em   razão   do   alto   grau   de   ineficiência   econômica   e   da   desorganização   da  

estrutura   produtiva   da   atividade  madeireira   usuária   de   florestas   nativas,   indicando   que   o  

manejo   florestal   diferentemente  das   florestas   plantadas   nunca   teve  o   apoio   e   o   incentivo  

financeiro   que   foi   prestado   ao   reflorestamento,   através   dos   incentivos   fiscais,   por   duas  

décadas  seguidas.  

  Dados   obtidos   em   diversas   fontes   e   confirmados   no   documento   “Manejo   Florestal  

Empresarial   na   Amazônia   Brasileira:   Restrições   e   Oportunidades”   (Sabogal   et   al.   2005)  

indicam  que  62%  (sessenta  e  dois  por  cento)  da  madeira  consumida  na  região  é  de  origem  

predatória,   isto   é,   sem   nenhuma   prática   de   manejo,   e   os   38%   (trinta   e   oito   por     cento)  

restante,   embora   oficialmente   oriundos   de   projetos   de   manejo   aprovados   pelo   governo,  

adotam   parcialmente   as   praticas   sustentáveis   exigidas   para   que   realmente   se   possa  

considerar  que  o  manejo  florestal  está  sendo  aplicado  de  forma  adequada,  com  exceção  dos  

projetos  certificados,  para  atender  as  demandas  de  um  mercado  cada  vez  mais  exigente  em  

relação  a  sustentabilidade.    

  O   manejo   florestal   na   Amazônia   é   dificultado   pelo   enfoque   quase   que  

exclusivamente   industrial   da   atividade   madeireira   e   pela   oferta   de   madeira   oriunda   dos  

desmatamentos  para  expansão  da  fronteira  agropecuária,  com  custos  obviamente  menores  

do   que   a   madeira   obtida   de   manejo,   além   da   oferta   crescente   de   madeira   de   florestas  

plantadas,  também  mais  competitivas.  

30    

 

  Como  o  mercado  legal  e  ilegal  oferece  madeira  para  abastecer  as  indústrias,  elas  não  

adotam,   na   maioria   dos   casos,   estratégias   de   suprimento   que   estimulem   a   integração  

florestal/industrial,   como  ocorre  com  a   indústria  de  base   florestal  que  usa  exclusivamente  

matéria  prima  de  florestas  plantadas.    

  O  modo  de  produção  do  setor  florestal  que  opera  com  manejo  florestal  e,  na  maioria  

dos   casos,   com   madeira   de   origem   predatória   faz   com   que   a   relação   das   estruturas   de  

gestão   e   produção   com   as   autoridades   sejam   precárias   ou   inexistentes,   o   que   torna   os  

compromissos  também  precários  e  tumultuados.  

  Esta   situação   vem   se   alterando  progressivamente   nos   últimos   anos,   em   virtude   do  

aperfeiçoamento   dos   instrumentos   de   controle   e   fiscalização   por   parte   do   MMA,   com   a  

consequente  redução  do  desmatamento,  associado  à  redução  da  oferta  de  madeireira  ilegal  

e   predatória.   No   intuito   de   melhorar   este   quadro,   temos   a   criação   do   Serviço   Florestal  

Brasileiro   e   o   início   do   processo   de   concessões   de   florestas   públicas   que   pretendem   criar  

mecanismos  de  integração  floresta/indústria  mais  harmônicos  e  eficazes,  além  do  processo  

de  certificação  que  vem  avançando  e  ajudando  a  criar  um  setor  florestal  produtivo  baseado  

em  manejo  florestal  economicamente  eficiente  e  competitivo.  

  Os   esforços   que   vêm   sendo   empregados   nos   últimos   anos   começam   a   criar   um  

ambiente  mais   favorável   para   estabelecer   uma   interlocução  mais   transparente   dentro   do  

setor   e   deste   com   os   demais   setores   da   economia,   principalmente   com   a   indústria  

consumidora   de   madeira.   Vale   dizer   que   o   setor   madeireiro   ganhará   em   organização   e  

legitimidade.  

TEMAS,  ACORDOS  E  COMPROMISSOS  ASSUMIDOS  PELO  SETOR  

  Diante   da   complexidade   da   cadeia   produtiva   florestal,   há   divergências   dentro   do  

próprio   setor  em   relação  às  estratégias  políticas  de   como   inseri-­‐lo  na   sociedade,  de   como  

pactuar  compromissos  e  demonstrar,  a  exemplo  dos  setores  mais  avançados  e  modernos,  a  

importância  ambiental  das  florestas  plantadas  para  o  País,  desfazendo  a  visão  distorcida  que  

muitos  formadores  de  opinião  têm  da  atividade,  herdada  dos  equívocos  cometidos  durante  

o  período  de  incentivos  fiscais,  aplicados  à  época  sem  nenhuma  estratégia  conservacionista  

31    

 

na  esmagadora  maioria  dos  casos,  estimulando  o  monocultivo  extensivo  e  a  concentração  da  

terra,  em  detrimento  da   incorporação  e   integração  dos  agricultores  e  produtores  rurais  ao  

esforço  de  reflorestamento  que  foi  realizado.  

  Todavia,   é   preciso   reconhecer   que   muitas   empresas   continuam   adotando   práticas  

ultrapassadas   de   uso   predatório   dos   recursos   florestais,   principalmente   no   segmento  

siderúrgico  a   carvão  vegetal   e  de  madeira  processada   supridos   com   florestas  nativas,   sem  

nenhum  tipo  de  manejo.  

  Esta   realidade   contribui   negativamente   para   o   conceito   do   setor   no   seio   da  

sociedade,   prejudicando   o   esforço   que   os   segmentos   mais   modernos   têm   realizado   para  

demonstrar  que  praticam   suas   atividades  de   forma  amigável   com  o  meio   ambiente  e  que  

exercem  sua  responsabilidade  social  corporativa,  como  de  fato  estão  fazendo.    

  Assim,   a   construção   de   uma   imagem   positiva   do   setor   fica   prejudicada   pela  

exploração   e   consumo   ilegais,   predatórios   e   insustentáveis,   o   que   corrobora   de   forma  

acentuada   para   debilitar   politicamente   o   setor   e   fragilizar   a   sua   organização   interna   e  

externamente.  Faltam  pactuação  e  acordos  dentro  do  setor  para  definir  uma  agenda  política  

comum,   ousada   em   relação   à   sustentabilidade,   uma   agenda   sintonizada   com   o   futuro,  

deixando  claro  para  a  sociedade  e  o  governo  o  compromisso  de  transformação  baseada  no  

que  o  próprio  setor  já  faz  de  melhor.  

  Uma  vez  definida  uma  agenda  política   comum,  com  capacidade  de   se  espalhar  por  

toda  a  cadeia  produtiva,  certamente  o  setor  reunirá  condições  para  pactuar  acordos  tácitos  

com   outros   setores   da   sociedade,   principalmente   com   os   movimentos   socioambientais,  

como   já   vem  ocorrendo   ainda   que   embrionariamente   com  o   setor   de   celulose   e   papel,   e  

algumas   empresas   processadoras   de   madeira   e   da   siderurgia   a   carvão   vegetal,   que   já  

operam  com  certificação  do  FSC  e  do  CERFLOR.  

  Nesse  sentido,  deve  ser  destacado  a  iniciativa  Diálogo  Florestal  que  reúne  empresas  

de  base  florestal  e  entidades  socioambientais,  como  o  primeiro,  grande  e   inédito  passo  de  

pactução   entre   o   setor   e   as   entidades   socioambientalistas   que   chegaram   a   uma   agenda  

32    

 

comum   em   torno   da   restauração   da  Mata   Atlântica,   considerando   as   áreas   de   vegetação  

nativa  que  as  empresas  vêm  conservando  juntamente  com  as  áreas  reflorestadas  

  Além   disso,   as   empresas   em   razão   de   suas   capacidades   técnica   e   operacional  

assumiram   compromissos   em   colaborar   na   restauração   da   vegetação   nativa   e   ampliar   a  

parceria   de   produção   com   os   agricultores   e   produtores   rurais   a   serem   incorporados   à  

estrutura   de   produção   de   madeira   das   empresas,   corrigindo   uma   das   deformações   da  

política   de   incentivo   fiscal   ao   reflorestamento   que,   à   época,   alijou   os   agricultores   e  

produtores  rurais  do  esforço  de  ampliar  as  áreas  reflorestadas.  

  O   Dialogo   Florestal   foi   construído   tendo   como   referência   a   criação   do   The   Forest  

Dialogue,   articulado   pelo   Conselho   Empresarial   Mundial   para   o   Desenvolvimento  

Sustentável   e   o  World   Resource   Institute,   como  mecanismo   internacional   de   diálogo   e   de  

interação  proativa  em  favor  da  sustentabilidade  florestal.  

  A   iniciativa   brasileira   já   deu   origem   a   5   (cinco)   Fóruns   Estaduais   e   Regionais   de  

Florestas,   englobando  os  Estados  de  Minas  Gerais,  Rio  de   Janeiro,   Paraná,   Santa  Catarina,  

Rio   Grande   do   Sul   e   Bahia,   todos   localizados   no   bioma   da   Mata   Atlântica.   Como  

desdobramento   do   Diálogo   Florestal,   estes   Fóruns   atuam   como   articuladores   estaduais   e  

regionais,  reunindo  as  empresas  e  as  entidades  da  sociedade  civil  que  concordam  em  aderir  

aos  princípios  norteadores  do  Diálogo.  

  Ação  dessa  natureza,   fazendo   convergir   segmentos   com  visão  diferenciada   sobre   a  

temática   florestal,   desde   que   seja   possível   construir   uma   agenda   comum,   contribui   par  

superar  falsos  dilemas  e  falsas  dicotomias  que  imobilizam  o  processo  negociador  formal  ou  

informal,   sem   o   qual   dificilmente   se   superam   os   obstáculos   que   emperram   o  

desenvolvimento  sustentável  do  setor.  

  Não   surpreende,   portanto,   que   o   Brasil   esteja   em   fase   final   de   modificar   sua   Lei  

Florestal  maior,   sem  maior  protagonismo  das  entidades  e  das   lideranças  do  setor   florestal  

brasileiro   que,   a   despeito  do   seu  poderio   econômico   e   social,   está   atuando   a   reboque  do  

setor  agropecuário,  já  que  as  modificações  que  desejam  introduzir  na  legislação  têm  muito  

mais  a  ver  com  o  uso  da  terra,  do  que  propriamente  com  as  florestas,  razão  pela  qual  a  CNA  

33    

 

–   Confederação   Nacional   da   Agricultura,   em   conjunto   com   as   suas   Federações   estaduais,  

assumiu   a   liderança   e   o   protagonismo   na   discussão   que   envolve   a   revisão   legislativa   do  

Código  Florestal  Brasileiro.  

  Este   fato,   por   si   mesmo,   demonstra   as   dificuldades   do   setor   de   se   articular  

internamente,   o   que   explica   sua   dificuldade   de   se   relacionar   com  outros   setores,   como  o  

setor  agropecuário,  cujas  entidades  de  representação  não  tomam  conhecimento  da  agenda  

do  setor  florestal,  seja  porque  o  modelo  de  reflorestamento  não  inclui  na  escala  desejável  os  

proprietários   rurais,   o   mesmo   ocorrendo   com   o   manejo,   já   que   para   o   agronegócio   as  

florestas   nativas   servem   como   estoque   de   terra   para   sua   expansão   e   não   como  

oportunidade   de   uso   sustentável   dos   recursos   florestais,   mesmo   considerando   que   a  

legislação  florestal  em  vigor  estabeleceu  o  regime  de  uso  sustentável  da  Reserva  Legal,  que  

na  Amazônia  corresponde  a  80%  (oitenta  por  cento)  da  propriedade  rural.  

  Esta  realidade  pode  deixar  de  existir,  na  medida  em  que  a  indústria  de  base  florestal,  

além  de  plantios  próprios  necessários  à  segurança  do  seu  suprimento,  amplie  os  plantios  na  

modalidade  de   fomento   florestal,   como  muitas  empresas   já   vêm   fazendo,  para   incorporar  

maciçamente   os   agricultores   e   produtores   rurais   na   estrutura   produtiva   do   setor,   criando  

uma   rede   de   agricultores   familiares,   produtores   rurais   e   arrendatários   com   interesses  

políticos,  econômicos  e  sociais  vinculados  ao  setor  florestal.    

  A  mesma  situação  deve  ser  estendida  também  ao  manejo   florestal  comunitário  e  a  

outras   formas   de   manejo   associativo,   como   fonte   adicional   de   renda   das   populações  

tradicionais,   no   modelo   em   que   a   indústria   florestal   funciona   como   empresa   âncora   do  

sistema  de  produção,  com  garantias  de  preços  mínimos,  assim  como  em  florestas  plantadas,  

para  evitar  o  dirigismo  dos  preços  que  tende  a  ocorrer  nos  mercados  oligopolizados.  

  De   fato,   embora   algumas   empresas   venham   ampliando   a   participação   dos  

agricultores  fomentados  no  suprimento  de  matéria  prima,  somente  15%  (quinze  por  cento)  

da   produção   é   atendida   pelos   agricultores   que   se   integram   aos   sistemas   de   produção  

madeireira,   prevalecendo,   ainda   que   em   menor   escala,   o   modelo   de   latifúndio   florestal  

construído  durante  o  período  dos  incentivos  fiscais  para  reflorestamento.  

34    

 

  Embora   com   estrutura   de   produção   e   com   relações   econômicas   e   sociais  

completamente   diferenciados,   situação   parecida   ocorre   com   as   atividades   florestais  

baseadas   em  manejo,   já   que   o   próprio   modelo,   até   recentemente   em   vigência,   obriga   a  

indústria  a  adquirir  extensas  áreas  de  florestas  privadas,  levando  igualmente  a  um  processo  

de   latifúndio   florestal,   que   tende   à   reversão   com   a   concessão   em   florestas   públicas   e   a  

efetivação  do  manejo  nas  Unidades  e  Conservação  de  Uso  Sustentável.    

RELAÇÕES  INTERSETORIAIS  

SETORES  ECONOMICOS  E  SOCIAIS  MAIS  IMPORTANTES  

  As   relações   do   setor   florestal   com   outros   setores,   mesmo   ostentando   condição  

socioeconômica  de  peso  na  economia  brasileira,  não  ocorre  com  a  intensidade  e  o  grau  de  

coordenação  desejáveis.  Isto  se  explica  porque  a  pujança  econômica  do  setor  está  assentada  

numa  base  social  estreita,  na  qual  o  item  mais  expressivo  é  o  número  de  empregos  gerados  

nas  atividades  industriais  e  florestais.  

  Em   razão   disso,   mesmo   com   o   setor   agropecuário   abarcando   o   setor   florestal,  

principalmente   de   florestas   plantadas,   essa   intersetorialidade   não   é   tão   próxima   como  

deveria  ser.  Como  o  suprimento  de  matéria-­‐prima  está  baseado  em  plantios  próprios,  num  

esquema   de   fornecimento   praticamente  monopolizado   que   representa   em   torno   de   90%  

(noventa  por  cento)  da  demanda,  a  cadeia  de  valor  do  setor  florestal  acaba  sendo  mais  curta  

do  que  se  imagina,  na  medida  em  que  ela  tem  baixíssimo  grau  de  capilaridade  na  ponta  que  

engloba   a   produção  de  madeira,   o   que  estreita   sua  base   social   e   enfraquece  o   seu  poder  

político.  

  No  momento  em  que  o  setor   florestal  estreitar  suas  relações  com  os  agricultores  e  

produtores  rurais,   incorporando  ao  processo  de  produção  as  imensas  áreas  já  desmatadas,  

subutilizadas  e  abandonadas  em  todas  as   regiões  brasileiras,   inclusive  na  Amazônia,  numa  

perspectiva   plenamente   sustentável,   agregando   valor   econômico   e   ambiental   às   terras   de  

milhões   de   agricultores   que   se   encontram   submetidas   a   processos   erosivos   e   ao   forte  

intemperismo   tropical,   sua   musculatura   política   será   outra   e   será   muito   mais   forte,   ao  

35    

 

incorporar   uma   base   social   que   tonificará   o   seu   poder   na   mesa   de   negociação   com   o  

governo,  com  a  sociedade  e  com  outros  setores  da  economia.  

  Mesmo  tendo  uma  área  superior  a  6  (seis)  milhões  de  hectares  de  florestas  plantadas  

em  todo  o  País  e  82  (oitenta  e  dois)  polos  de  produção  de  madeira  na  Amazônia,  reunindo  

mais  de  3.000  (três  mil)  empresas  de  variado  porte,  produzindo  mais  10  (dez)  milhões  de  m³  

de  madeira  em  toras,  por  ano,  o  Brasil  não  tem  a  categoria  de  silvicultor,  assim  consagrada  

em   todos   os   países   florestais   do   mundo,   como   tem   cafeicultor,   rizicultor,   bataticultor,  

horticultor,     pecuarista,   etc.,   por   falta   de   estratégia   para   consolidar   a   atividade   florestal  

como   uma   fonte   adicional   de   emprego   e   renda,   integrada   às   atividades   agropecuárias  

tradicionais.  

  O  setor  comparece  aos  processos  de  diálogo  ou  à  mesa  de  negociação  com  algumas  

dezenas   de   empresários,   cuja   contribuição   para   o   desenvolvimento   florestal   brasileiro   é  

inegável   e   reconhecidamente   importante,   mas   sem   o   apelo   político   que   lhe   seria  

acrescentado   se   pudesse   levar   ao   debate   para   defender   seus   interesses   legítimos,   como  

partes  interessadas,  centenas  de  milhares  de  produtores  de  madeira  espalhados  por  todo  o  

País,  com  condições  de  dar  ao  setor  a  capilaridade  e  a  base  social  que  ele  não  tem.    

  Existem,   todavia,   iniciativas   recentes   e   outras   mais   antigas   que   estão   sendo  

repaginadas  e  que  indicam  que  o  próprio  setor  está  buscando  interagir  de  forma  mais  ativa  

com  o   setor   agropecuário,   ao  ampliar   ainda  que   timidamente   suas   atividades  de   fomento  

florestal,   integrando   os   agricultores   na   estrutura   econômica   de   produção,   com   grande  

alcance  social,  ao  aumentar  a  renda  para  os  pequenos  e  médios  agricultores,  promovendo  o  

aproveitamento  de  terras  subutilizadas  nas  propriedades  rurais.  Situação  análoga  acontece  

com  o  manejo  comunitário  que  também  aumenta  a  renda  das  populações  tradicionais  que  

sempre  viveram  da  atividade  extrativa.  

  Ao  se  considerar  o  pluralismo  das  ações  e  atividades  que  constituem  o  setor  florestal  

e  a  sua  gestão,  o  seu  êxito  depende  da  sua  capacidade  de  interagir  com  outros  setores,  sem  

os  quais  o  desenvolvimento  setorial  esbarra  em  limitações  e  restrições  que  o   impedem  de  

atingir   a   plenitude   de   sua   capacidade   produtiva,   otimizando   as   vantagens   comparativas  

naturais  de  que  é  detentor.  

36    

 

  Desta  forma,  se  pode  avaliar  como  limitada  as  relações  do  setor  florestal  com  o  setor  

industrial,   levando  em  conta  que  o  consumo  industrial  é  a  mola  propulsora  que  estimula  a  

base   florestal,   tanto   no   que   diz   respeito   ao   manejo   da   floresta   nativa   como   às   florestas  

plantadas.   Como   ocorre   no   caso   do   setor   agropecuário,   as   atividades   florestais   não  

encontram   nas   entidades   de   classe   que   representam   o   setor   industrial,   com   exceções   de  

alguns  Estados,  como  Pará,  Rondônia  e  Mato  Grosso,  espaço  de  interlocução  que  possa  lhe  

abrir  espaço  no  debate  da  política  industrial  e  de  comércio.  

  A   expansão   e   modernização   tecnológica   do   parque   industrial   de   base   florestal  

dependem  de  articulações  com  o  setor   industrial  para  que  a  agenda  política  das  entidades  

que   representam   os   interesse   da   indústria   inclua,   na   sua   estratégia   de   mobilização   dos  

meios  e  recursos  para  o  desenvolvimento  industrial,  os  interesses  da  indústria  consumidora  

de  matéria  prima  florestal,  principalmente  em  relação  à  madeira  processada  e  à  siderurgia  

por  carvão  vegetal.  

  Os   segmentos   mais   organizados,   como   o   de   celulose   e   papel,   onde   a   integração  

floresta/indústria  constitui  praticamente  uma  única  unidade  de  produção,  mantém  estreita  

relação  com  o  setor   industrial  e  do  comércio,  com  capacidade  para   influir  nas  decisões  da  

política  industrial,  incluindo  o  comércio  exterior,  o  que  dá  a  BRACELPA  um  elevado  grau  de  

representatividade  política,  ao  lado  da  ABRAF.  

  Também   nos   Estados   do   Pará,   Rondônia   e  Mato   Grosso,   que   respondem   por   93%  

(noventa   e   três   por   cento)   da   produção   de  madeira   de   florestas   nativas   na   Amazônia,   há  

uma   forte   inter-­‐relação   do   setor   florestal   com   o   setor   industrial,   dado   que   o   enfoque   do  

desenvolvimento   florestal   está   concentrado   na   demanda   da   indústria   e   do   peso   que   a  

indústria   de   base   florestal   tem  para   a   economia   desses   Estados   da   Federação,   razão   pela  

qual  as  Federações  das  Indústrias  desses  Estados  tenham  assumido  papel  preponderante  na  

representação  dos  interesses  do  setor.  

  Por  outro  lado,  existem  relações  Intersetoriais  que  marcam  o  êxito  do  setor  florestal  

brasileiro,  como  a   integração  do  setor  com  as  universidades  e  com  os  centros  de  ciência  e  

tecnologia.   Este   processo   começou   na   década   de   70   com   o   apoio   da   FAO,   originando   o  

inesquecível   e   respeitável   acordo   PNUD/FAO/BRA-­‐45,   que   foi   sem   dúvida   o   embrião   da  

37    

 

moderna   silvicultura   brasileira.   Posteriormente,   este   processo   teve   prosseguimento   com  

acordos   e   compromissos   celebrados   entre  o   setor   e   as   universidades  de   ciências   agrárias,  

responsáveis  pelo  ensino  da  engenharia  florestal,  coincidentemente  surgidas  pouco  antes  de  

se  instalar  a  cooperação  com  a  FAO,  no  inicio  dos  anos  70.  

  Assim,  deve-­‐se  destacar  a  relação  positiva  e  eficiente  com  o  setor  educacional,  com  o  

qual  o  setor  florestal  interage  de  forma  pró-­‐ativa,  diante  do  elevado  conceito  da  engenharia  

florestal  e  do  ensino  da  ciência  florestal  nas  Universalidades  brasileiros,  tanto  na  graduação  

como   nas   pós-­‐graduação,   preparando   profissionais   de   reconhecida   competência,   inclusive  

para  vários  países  da  América  Latina  e  África,  onde  atuam  mestres  e  doutores  formados  no  

Brasil.  

  Esta  relação  intersetorial  do  setor  florestal  com  a  área  do  ensino  superior  e  com  os  

centros  de  ciência  e  tecnologia  deu  origem  a  entidades  especializadas  em  pesquisa  florestal  

de   ponta,   como   a   SIF   –   Sociedade   de   Investigação   Florestal,   ancorada   na   Universidade  

Federal   de   Viçosa,   localizada   em   Minas   Gerais,   o   IPEF   –   Instituto   de   Pesquisa   Florestal,  

ancorado   na   Universidade   de   São   Paulo,   campus   de   Piracicaba   e   a   FUPEF   –   Fundação   de  

Pesquisa  Florestal  da  Universidade  do  Paraná.  Graças  a  este  esforço  de   integração  o  Brasil  

domina,  hoje,  o  conhecimento  da  silvicultura  de  eucalipto,  ostentando  o  incremento  médio  

anual  mais  alto  no  mundo,  para  esta  espécie.  

  O  sucesso  da   integração  do  setor   florestal  com  os  centros  de  saber  e   informação  é  

um  exemplo  de   trabalho   compartilhado  entre   a   iniciativa  privada  e   a  Universidade,   tendo  

dado   ao   Brasil   uma   vantagem   competitiva   excepcional,   mesmo   quando   comparado  

internacionalmente.   Nos   últimos   quarenta   anos,   o   setor   florestal   de   florestas   plantadas,  

quadruplicou   a   produtividade   média,   estando   o   incremento   médio   anual   ao   redor   de   42  

m3/ha/ano  para  as  espécies  do  gênero  Eucaliptus.  

  Todavia,   deve   ser   registrado   que   o  mesmo   esforço   realizado   com   a   silvicultura   de  

eucalipto   e   pinus   não   ocorre   com  a   silvicultura   de   espécies   nativas,   incluindo   espécies   de  

alto   valor   comercial   que   podem   entrar   no   mercado   de   forma   competitiva,   incluindo   as  

espécies   listadas   no   CITES,   com   restrições   comerciais.   Do  mesmo  modo,   o   País   ainda   não  

avançou   suficientemente   em   P&D   voltado   para   manejo   florestal,   embora   deva   ser  

38    

 

reconhecido   o   trabalho   da   EMPRAPA   e   de   Instituto   Nacional   de   Pesquisas   da   Amazônia   -­‐  

INPA   nesse   campo,   além   de   esforços  mais   recentes   empreendidos   pelo   terceiro   setor   na  

Amazônia.    

  Também  permanecem  carentes  de  maiores  investimentos  em  ciência  e  tecnologia  os  

ecossistemas  florestais  do  cerrado  e  da  caatinga,  surpreendentemente  aqueles  que  possuem  

o   maior   poder   de   regeneração   natural   e   onde   pouco   se   cogita   de   manejo.   Enquanto   o  

manejo   sustentável   não   chega   a   esses   biomas,   como   alternativa   de   uso   dos   recursos  

florestais  existentes,  o  desmatamento  segue  célere,  diante  do  avanço  da  fronteira  agrícola  

nas  terras  férteis,  exatamente  aquelas  com  cobertura  florestal  mais  densa.  

  Dois   outros   setores   com   importante   interface   com   a   gestão   florestal   são  

representados   pelo   setor   financeiro   e   fundiário.   A   questão   fundiária   não   é   um   problema  

para  o  segmento  de  florestas  plantadas,  que  atua  em  regiões  onde  a  posse  e  a  propriedade  

da  terra  são  bem  definidas  e  consolidadas,  embora  haja  conflitos  localizados.  

  Em  situação  oposta  está  o  segmento  que  opera  com  manejo  florestal  na  Amazônia,  

principalmente   no   Pará,   o   principal   Estado  madeireiro   do   País,   onde   há   severos   conflitos  

pela  posse  da   terra,  disputas  violentas,  precariedade  da   titulação  e   títulos  de  propriedade  

obtidos  por  meios  fraudulentos.  Neste  quadro,  as  relações  intersetoriais  são  conturbadas  e  a  

insegurança  jurídica  da  propriedade  da  terra  extremamente  alta.  

  Os  conflitos  pelo  uso  da  terra  na  Amazônia,  em  relação  ao  setor  florestal,  tendem  a  

diminuir   na   mesma   medida   em   que   forem   criadas   e   implantadas,   de   fato,   Unidades   de  

Conservação  de  Uso  Sustentável  e  a  arrecadação  de  terras  devolutas  da  União  e  dos  Estados,  

com  cobertura  florestal  para  que  possa  ser  manejada,  como  começa  a  fazer  agora  o  Governo  

Federal,  através  do  Serviço  Florestal  Brasileiro  e  o  Governo  do  Pará,  através  do   IDEFLOR  –  

Instituto  de  Desenvolvimento  Florestal  e  o  Governo  do  Amazonas,  através  da  sua  Agência  de  

Florestas.  

  Com   relação   ao   setor   financeiro,   a   atuação   do   setor   florestal   está   aquém   da   sua  

capacidade   como  potencial   tomador  de  empréstimos,   diante  da  desconfiança   com  que  os  

39    

 

financiadores   encaram   determinados   segmentos   do   setor,   sem   organização   e   estrutura  

suficiente  para  tomar  empréstimos  e  honrar  compromissos.  

  O  mesmo  não  ocorre  com  empresas  da  área  de  celulose  e  papel,  e  algumas  outras  

pertencentes   ao   segmento  de  madeira   processada   e   siderurgia   a   carvão   vegetal,   que   tem  

acesso   a   financiamento,   principalmente   ao   BNDS   no   caos   de   grandes   empreendimentos,  

alem   de   uma   série   de   linhas   de   crédito   e   financiamento   previstos   no   sistema   financeiro  

nacional   e   destinados   ao   reflorestamento   e   ao  manejo   florestal,   desde   pequenos   aportes  

para  recuperação  e  enriquecimento  de  áreas  alteradas,  até  os  grandes  projetos  do  setor  de  

celulose  e  papel,  o  maior  demandador  de   financiamento  público  e  privado  nos  Pais,  como  

será  demonstrado  no  item  seguinte.  

INSTITUCIONALIDADE  SUPRASETORIAL  DE  COORDENAÇÃO  

  A   coordenação   das   diversas   atividades   que   integram   o   setor   florestal   estão,   hoje,  

espalhadas  em  4  (quatro)  instancias  de  coordenação  no  âmbito  do  Governo  Federal.  Para  as  

atividades   de   comando   e   controle   esta   coordenação   ocorre   no   CONAMA   –   Conselho  

Nacional   de   Meio   Ambiente,   locus   institucional   de   discussão   das   políticas   publicas   sobre  

florestas,  no  que  concerne  ao  marco  regulatório  que  disciplina  o  uso  dos  recursos  florestais,  

incluindo  os  parâmetros  de  preservação  dos  ecossistemas  florestais  .  

  Outro  espaço  institucional  de  coordenação  suprasetorial  é  o  CONAFLOR  –  Comissão  

Nacional   de   Florestas,   fórum   voltado   diretamente   para   os   interesses   do   setor,   mas   com  

baixo   perfil   na   estrutura   governamental,   sem   poder   deliberativo,   o   que   torna   as   suas  

decisões  meras  recomendações  sem  poder  vinculante  para  os  atores  públicos  e  privados  que  

a  integram  e  para  esferas  de  governo,  da  sociedade  e  do  mundo  empresarial.  

  Diante   da  movimentação   política   do   setor,   principalmente   da   ABRAF   –   Associação  

Brasileira  de  Florestas  Plantadas,  dois  outros  canais  de  interlocução  do  setor  foram  criados,  

produzindo  igual  numero  de  instancias  suprasetoriais,  isto  é,  além  do  CONAMA,  de  natureza  

normativa  em  relação  aos  mecanismos  de  comando  e  controle,  e  do  CONAFLOR,  de  natureza  

consultiva   em   relação   ao   Programa   Nacional   de   Florestas,   foram   criados   a   Câmara   de  

Silvicultura,   na   estrutura   do   Ministério   da   Agricultura,   Pecuária   e   Abastecimento   e,   mais  

40    

 

recentemente,   um   Grupo   de   Trabalho,   na   esfera   de   decisão   da   Secretaria   de   Assuntos  

Estratégicos  da  Presidência  da  República,  com  a  finalidade  de  traçar  estratégias  especificas  

para  o  segmento  de  florestas  plantadas.  

  Diferentemente  do  CONAMA  que   regula  o  uso  predatório,   o  CONAFLOR,  no  qual   a  

participação   do   setor   é   mais   ampla   e   ativa,   deveria   estimular   o   uso   sustentável   para  

construir   um  ponto   de   equilíbrio   nas   políticas   publicas   do   setor,   não   apenas   nas   florestas  

públicas,  mas  para  as  atividades  florestais  em  geral.  

  Todavia,  a  natureza  consultiva  do  Conselho,  sem  caráter  mandatório,  não  produz  os  

resultados  esperados  porque  não  prontamente  assimilado  pelas  demais  esferas  de  governo  

e   do   setor   privado,   já   que   não   vincula   as   suas   decisões   aos   atos   de   gestão   dos  

administradores.  

MECANISMOS  DE  IMPLEMENTAÇÃO  QUE  O  SETOR  ACIONA  E  CERTIFICAÇÃO  

  Na  realidade  política  e  social  do  Brasil,   levando  em  conta  a  assimetria   federativa,  a  

diversidade   cultural,   fitogeográfica   e   biológica,   é   sempre   difícil   estabelecer   uma  

representação   nacional   com   capacidade   de   unificar   os   interesses   dos   diversos   setores   da  

economia,  embora  a  indústria,  a  agricultura,  o  comércio  e  os  transportes  tenham  constituído  

entidades   nacionais   de   representação   com   alto   grau   de   legitimidade,  mas   respeitando   as  

realidades  estaduais.  O  mesmo  ocorre  com  a  representação  dos  trabalhadores  dos  diversos  

setores   da   economia,   que   contam   com   as   suas   entidades   nacionais,   sem   prejuízo   das  

representações  estaduais.  

  Ainda   assim,   o   setor   melhorou   muito   nos   últimos   anos   sua   representação,  

principalmente  o  segmento  de  florestas  plantadas,  que  se  representa  através  da  BRACELPA  e  

da   ABRAF,   entidades   que   estão   ampliando   a   capacidade   do   setor   de   cooperar   e   interagir  

com  os  demais  setores  cujas  interfaces  têm  influencia  direta  nas  atividades  florestais,  como  

o  setor  agropecuário,  o  setor  financeiro,  o  industrial  e  cientifico.  

    O   reconhecimento   nacional   e   internacional   dos   serviços   ambientais  

produzidos  pelos  ecossistemas  florestais  está  dando  nova  dimensão  às  políticas  públicas  de  

florestas,   para   além   da   visão   exclusivamente  madeireira   com   que   a   questão   florestal   era  

41    

 

tratada.  O  pagamento  por  serviços  ambientais  entra  na  pauta  do  setor  de  forma  definitiva,  

como   já   ocorre   em   vários   países   da   América   Latina   e   que   recentemente   começou   a   ser  

adotado   no   Brasil,   estabelecendo   novas   conexões   do   setor   com   as   políticas   sociais   de  

complementação  de  renda  dos  pequenos  agricultores.  

  Outro  mecanismo  a  ser  salientado,  no  caso  brasileiro,  é  a  inclusão  do  setor  florestal  

na  Política  Nacional  do  Clima,  aprovada  pelo  Congresso  Nacional,  que  estabelece  prioridades  

nacionais   para   redução   das   emissões   dos   gases   de   efeito   estufa,   incluindo   a   redução   do  

desmatamento  e  o  reflorestamento  de  5.5  milhões  de  hectares  de  novas  florestas,  sendo  2  

milhões  de  florestas  nativas  destinadas  à  recuperação  das  áreas  de  preservação  permanente  

e  da  reservas  legais,  previstas  no  Código  Florestal.  

  Um  dos  setores  da  economia  incluídos  na  Política  Nacional  do  Clima  é  o  siderúrgico,  

de  grande  peso  na  formação  do  PIB.  Como  a  siderurgia  brasileira  opera  com  carvão  mineral,  

em   grande   parte   importado,   e   carvão   vegetal,   a   proposta   objetiva   ampliar   a   produção  

siderúrgica  com  carvão  vegetal  de  florestas  plantadas,  para  assegurar  uma  fonte  de  energia  

totalmente  renovável.  

  Esta   iniciativa   visa,   ainda,   eliminar   a   pressão   antrópica   que   a   siderurgia   a   carvão  

vegetal   ainda   exerce   sobre   as   florestas   nativas,   e   reduzir   o   uso   de   carvão  mineral   e,   por  

conseguinte,   as   emissões.     Se   1/3   da   produção   siderúrgica   brasileira   for   a   carvão   vegetal,  

sem  provocar  desmatamentos,  o  País   terá  um  parque   siderúrgico  carboneutro,  na  medida  

em   que   as   emissões   provocadas   pelo   uso   do   carvão   mineral   serão   capturadas   e  

compensadas  pelas  florestas  plantadas.  

  Desde   1995,   a   certificação   florestal   entrou   na   agenda   do   setor,   como  mecanismo  

relevante   para   sua   inserção   no   mercado   internacional,   diante   das   crescentes   restrições  

impostas   aos   produtos   madeireiros   obtidos   de   forma   predatória.   Atualmente,   tanto   o  

segmento   de   florestas   plantadas,   como   o   de   manejo   florestal,   com   destaque   para   o  

primeiro,  que  vem  ampliando  suas  áreas  florestais  certificadas.  

  Todavia,   as   atividades   florestais   desenvolvidas   através   de  manejo   encontram  mais  

dificuldade   para   se   certificarem   do   que   os   empreendimentos   supridos   por   florestas  

42    

 

plantadas,  uma  vez  que  a  certificação  para  produtos  oriundos  do  manejo  da  floresta  incluem  

custos   que   o   setor   não   tem   como   assimilar,   já   que   os   preços   praticados   no  mercado   não  

remuneram  os  custos  adicionais  exigidos  pela  certificação,  notadamente  quando  se  trata  de  

manejo  comunitário  voltado  para  as  populações  tradicionais.  

  Eis  aí  um  grande  entrave  para  o  manejo  sustentável  no  Brasil  e  na  América  Latina,  em  

geral,  pois  diferentemente  do  manejo  da  floresta  temperada,  o  manejo  da  floresta  tropical  é  

muito  mais  complexo,  diante  do  grande  número  de  espécies,  o  que  acarreta  custos  maiores.  

Como   o   mercado   não   reconhece   estes   custos   adicionais,   eles   são   tratados   como  

externalidades   do   processo   de   produção,   o   que   estimula   o   empirismo   das   técnicas  

empregadas  e  a  ineficiência  da  exploração.  

  Ainda   assim,   várias   empresas   operam   na   Amazônia   brasileira   com   certificação,  

revelando  que  o   setor   vem   se   esforçando,   através   de   algumas   empresas   para   se   livrar   da  

exploração   predatória   dos   recursos   florestais,   mas   diante   do   incremento   de   custos   que  

acabam   não   sendo   precificados,   não   há   certezas   de   que   estes   empreendimentos  

mantenham   sua   viabilidade   econômica   no   longo   prazo,   ou   mesmo   durante   o   prazo   da  

exploração  manejada.  

  A   certificação   florestal   tornou-­‐se   prática   comum   nos   segmentos   do   setor   florestal  

que   operam   com   tecnologia   de   ponta,   principalmente   em   relação   às   florestas   plantadas,  

adotando   o   FSC   –   Forest   Stewardship   Council,   e   o   CERFLOR   –   Programa   Brasileiro   de  

Certificação   Florestal,   sendo   que   o   FSC   tem   merecido   a   preferência   das   empresas   que  

aderiram  à  certificação.  

  Atualmente,  o  FSC  atua  no  Brasil  através  do  Conselho  Brasileiro  de  Manejo  Florestal  

(CBMF),  em  funcionamento  desde  2001,  tendo  patrocinado  a  primeira  certificação  no  País.  O  

CERFLOR   é   um   certificado   submetido   ao   INMETRO   –   Instituto   Nacional   de   Metrologia,  

Normalização  e  Qualidade  Industrial.  O  certificado  brasileiro  adota  as  normas  NBR  14789  E  

NBR  15789,  e  é  reconhecido  pela  PEFC  –  Programme  for  Endorsement  of  Forest  Certification  

Schemes.  

43    

 

  A  posição  brasileira  diante  de  princípios,  critérios  e   indicadores  para  manejo  (PCI)  é  

de   neutralidade,   por   entender   que   se   trata   de   mecanismo   de   mercado   que   envolve   as  

relações   de   comércio,   embora   o   governo   estimule   a   certificação   nacional   através   do  

INMETRO,  órgão  da  administração  indireta  da  União.  

INTERRELAÇÃO  DO  SETOR  FLORESTAL  COM  O  SETOR  FINANCEIRO  

  As   relações   do   setor   florestal   brasileiro   com   o   sistema   financeiro   nacional   têm  

evoluído  positivamente  nos  últimos  anos,  diante  de  novas  alternativas  de  financiamento  que  

vem  se  abrindo  para  o   setor,  principalmente  em  virtude  do   reconhecimento  das  múltiplas  

funções  que  as  florestas  desempenham.  

  Com  o   fim   dos   incentivos   fiscais   para   o   reflorestamento,   o   setor   passou   um   longo  

período  sem  nenhum  tipo  de  apoio  financeiro,  até  2002,  quando  o  MMA  conseguiu  articular  

com   o   Ministério   da   Fazenda,   através   de   aprovação   do   Conselho   Monetário   Nacional   as  

primeiras   linhas  de   crédito  para   financiar   as   atividades   florestais,   como  o  PROPFLORA  e  o  

PRONAF   FLORESTAL,   além   da   inclusão   do   reflorestamento   e   do   manejo   florestal   como  

atividades   financiáveis   pelos   Fundos   Constitucionais   do  Norte   (Amazônia),   Centro-­‐Oeste   e  

Nordeste,  incluindo  a  região  semiárida  do  Estado  de  Minas  Gerais.  

  Mais  recentemente,  iniciativas  de  pagamento  por  serviços  ambientais  vêm  ganhando  

espaço,   como   opção   para   financiar   as   atividades   de   conservação   e   restauração   de  

ecossistemas   florestais   que   foram   drasticamente   afetados   pela   ação   antrópica.   Esta  

iniciativa  começou  pelos  Estados  da  Federação,  e  está   sendo  agora  adotada  pelo  Governo  

Federal,  como  estimulo  para  valorizar  economicamente  a  floresta  em  pé,  e  com  isso  frear  o  

desmatamento,  já  que  custo  oportunidade  de  manter  a  floresta  é  maior  do  que  desmatá-­‐la  

para  outros  usos  alternativos  do  solo.  

  Atualmente,   o   Sistema   Nacional   de   Crédito   Rural   disponibiliza   13   (treze)   linhas   de  

crédito  e  financiamento  para  o  desenvolvimento  do  setor  florestal,  através  da  rede  bancária  

oficial,   representada   pelos   Bancos   Estatais,   com   menor   participação   de   Bancos   privados.  

Destaca-­‐se  como  agentes   financiadores  o  BNDES,  em  razão  do  grande  aporte  de   recursos,  

incluindo  os  altos  investimentos  da  indústria  de  celulose  e  papel,  seguido  do  Banco  do  Brasil  

44    

 

e  dos  bancos  que  operam  como  agentes  financeiros  dos  Fundos  Constitucionais  criados    pela  

Constituição  Federal  de  1988,  com  o  objetivo  de  corrigir  os  desníveis  entre  as  regiões  mais  

prósperas  do  Centro-­‐Sul  e  as  regiões  com  menor  índice  de  desenvolvimento,  representadas  

pelo  Norte,  Nordeste  e  Centro-­‐Oeste  do  País.  

  As   fontes   de   financiamentos   hoje   disponíveis   tem   colaborado   para   ampliar   o  

dinamismo  do   setor,   criando  as   condições  necessárias  para  alavancar  o  manejo   florestal  e  

ampliar   as   áreas   de   reflorestamento,   principalmente   para   os   segmentos   industriais  

consumidores  de  madeira  e  seus  derivados  que  são  obrigados  por  Lei  à  reposição  florestal,  

isto  é,  aquelas  empresas  que  devem  ter  estoques  de  madeira  equivalente  ao  seu  consumo.  

  No   quadro   abaixo,   é   possível   visualizar   as   diversas   fontes   de   financiamento   da  

atividade  florestal  no  Brasil,  levando  em  conta  as  variadas  opções  que  são  oferecidas  para  o  

desenvolvimento  do  setor:  

QUADRO  I  –  LINHAS  DE  FINANCIAMENTO  PARA  O  SETOR  FLORESTAL.  

Linha  de  Crédito   Finalidade   Agente  Financeiro  

Pronaf  Floresta  Sistemas   agro-­‐florestais;   exploração  extrativista  sustentável;  recuperação  de  APP  e  RL  

BB,  BASA,  BNB  e  demais  órgãos  vinculados  ao  

SNCR  

Pronaf  ECO  

Silvicultura;   práticas   conservacionistas   e   de  correção   da   fertilidade   do   solo;   tecnologia  ambiental   e   energia   renovável;   cultura   do  dendê  

BB,  BASA,  BNB  e  demais  órgãos  vinculados  ao  

SNCR  

Propflora  

Florestas   para   uso   industrial   e   produção   de  carvão   vegetal;   APP   e   RL;   projetos   agro-­‐florestais;   manejo   florestal;   dendezeiros  para  biocombustível  

 BB  e  demais          instituições  financeiras  ligadas  ao  BNDS                                      

Produsa  Integração   lavoura-­‐percuária   e   silvicultura;  APP   e   RL;   sistemas   orgânicos   de   produção  agropecuária.  

Instituições  financeiras  ligadas  ao  BNDES  

BNDES  Florestal  Florestamento   e   reflorestamento   para   fins  energéticos,   além  de   recuperação  de  APP  e  RL;  manejo  florestal  em  áreas  nativas;    

BNDES  e  demais  instituições  financeiras  

ligadas  ao  BNDES  

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BNDES  Compensação  Florestal  

Aquisição   de   imóvel   rural   com   cobertura  nativa   excedente,   como   também   localizado  em   UC;   aquisição   do   direito   de   servidão  florestal  permanente.  

BNDES  e  demais  instituições  financeiras  

ligadas  ao  BNDES  

BNDES  –  Apoio  a  Investimentos  em  Meio  

Ambiente  

Eco-­‐eficiência;   conservação  de  ecossistemas  e   biodiversidade;   MDL;   planejamento   e  gestão  em  meio  ambiente.  

BNDES  e  demais  instituições  financeiras  

ligadas    ao  BNDES  

FCO  Pronatureza  

Manejo   florestal;   Florestamento,  reflorestamento   e   sistemas   agro-­‐florestais  para   recuperação   de   APP   e   RL;   viveiros  regionais;  certificação  de  projetos  florestais;  projetos  de  redução  de  emissão  de  gases  do  efeito   estufa;   culturas   oleaginosas   para   o  biodiesel.    

BB  

FNE  Verde  

Manejo   Florestal;   reflorestamento;   geração  de   energia   a   partir   de   fontes   renováveis;  melhorias   ambientais   em   processos  produtivos.  

BNB  

FNE  Pró-­‐Recuperação  Ambiental  

Projetos   produtivos   de   reflorestamento;  sistemas  agro-­‐florestais  e  demais  atividades  de  recuperação  de  APP  e  RL.  

BNB  

FNO  Biodiversidade  –  Apoio  às  Atividades  

Sustentáveis  

Manejo   florestal;   reflorestamento;   sistemas  silvipastoris   e   agro-­‐florestais;   cadeia  produtiva  florestal;  serviços  ambientais.  

BASA  

FNO  Biodiversidade  –  Apoio  às  Áreas  

Degradadas:  RL  e  APP  

Recuperação   de   APP   e   RL   via  reflorestamento,   sistemas   agro-­‐florestais   e  demais  atividades  sustentáveis.  

BASA  

FNO  Amazônia  Sustentável  

Atividades   do   segmento   industrial   de  transformação   de   produtos   florestais;  desenvolvimento   de   micro   e   pequenas  empresas.  

                                 BASA  

     

Fonte:  Serviço  Florestal  Brasileiro/MMA.  Guia  de  Financiamento  Florestal  –  2010.  Brasília.  2010.    

  Além   das   linhas   de   financiamento   disponibilizadas   no   País,   contemplando   uma  

variada   gama   de   atividades,   o   setor   recebe   apoio   técnico   e   financeiro   de   organismos  

46    

 

estrangeiros   e   internacionais,   destacando   a   FAO,   OIMT,   KfW,   GIZ.   A   FAO   apóia   o   setor  

florestal  brasileiro  desde  1973,  emprestando  ao  País,  além  de  ajuda  financeira,  cooperação  

técnica   e   institucional   que   transformaram   o   setor   florestal,   a   exemplo   do   Projeto  

PNUDA/FAO  BRA  45,  já  citado,  como  o  embrião  da  avançada  silvicultura  de  eucalipto  e  pinus  

que  o  País  pratica.  

  O   OIMT,   da   qual   o   Brasil   é   membro,   dá   importante   contribuição   pra   o  

desenvolvimento   florestal   brasileiro.   Do   mesmo   modo,   a   GIZ   e   o   KfW,   organismos   de  

cooperação   técnica   e   financeira   do   governo   Alemão,   emprestam   sua   colaboração   para  

modernizar  a  gestão  florestal  brasileira.  

 

CONSULTA  BIBLIOGRÁFICA  

VI.1  –  Serviço  Florestal  Brasileiro  –  Gestão  de  Florestas  Públicas  –  Relatório  2010.  Brasília:  MMA/SFB,  

2011.  

VI.2  –  Ministério  do  Meio  Ambiente  –  Secretaria  de  Biodiversidade  e  Florestas  –  Departamento  de  

Florestas.  Dados  do  Setor  Florestal  Brasileiro,  compilado  por  Hélio  Pereira,  Brasília,  2011.  

VI.3  –  ABRAF.  Anuário  Estatístico  da  ABRAF  2011,  Ano  base  2010.  Brasília,  2011.  

VI.4  –  BRACELPA  –  Relatório  Anual  da  BRACELPA  2009/2010.  São  Paulo,  2011.  

VI.5  –  Sabogal,  César.  Manejo  Florestal  Empresarial  na  Amazônia  Brasileira,  por  Cesar  Sabogal  et  al.  

Belém:  CIFOR,  2006.  

 

 

Contatos:  

Departamento  de  Florestas/SBF/MMA  

www.mma.gov.br  

61-­‐2028-­‐2132  /  fax-­‐  61-­‐  2028-­‐2130