Estudos para uma história da psicologia educacional e escolar no ...
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UUNNIIVVEERRSSIIDDAADDEE DDEE SSOO PPAAUULLOO
IINNSSTTIITTUUTTOO DDEE PPSSIICCOOLLOOGGIIAA
DDBBOORRAAHH RROOSSRRIIAA BBAARRBBOOSSAA
EEssttuuddooss ppaarraa uummaa hhiissttrriiaa ddaa PPssiiccoollooggiiaa EEdduuccaacciioonnaall ee EEssccoollaarr nnoo BBrraassiill
SSOO PPAAUULLOO
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Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutora em Psicologia. Programa de Ps-Graduao em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano. Orientadora: Profa. Dra. Marilene Proena Rebello de Souza
SSOO PPAAUULLOO
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Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Catalogao na publicao Biblioteca Dante Moreira Leite
Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo
Barbosa, Dborah Rosria. Estudos para uma histria da Psicologia Educacional e Escolar
no Brasil / Deborah Rosria Barbosa; orientadora Marilene Proena Rebello de Souza. -- So Paulo, 2011.
674 f. Tese (Doutorado Programa de Ps-Graduao em Psicologia. rea de Concentrao: Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano) Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo.
1. Psicologia escolar 2. Psicologia educacional 3. Histria da Psicologia I. Ttulo.
LB1051
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EEssttuuddooss ppaarraa uummaa hhiissttrriiaa ddaa PPssiiccoollooggiiaa EEdduuccaacciioonnaall ee EEssccoollaarr nnoo BBrraassiill
Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutora em Psicologia, Programa de Ps-Graduao em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano.
Aprovada em: 18 de abril de 2011.
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Marilene Proena Rebello de Souza
Instituio: Universidade de So Paulo (USP-SP)
Julgamento: ___________________ Assinatura: _____________________________
Profa. Dra. Maria do Carmo Guedes
Instituio: Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP)
Julgamento: ___________________ Assinatura: _____________________________
Profa. Dra. Mitsuko Aparecida Makino Antunes
Instituio: Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP)
Julgamento: ___________________ Assinatura: _____________________________
Profa. Dra. Silvia Maria Cintra da Silva
Instituio: Universidade Federal de Uberlndia (UFU-MG)
Julgamento: ___________________ Assinatura: _____________________________
Profa. Dra.: Elizabeth Gelli Yazzle
Instituio: Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (UNESP- Assis)
Julgamento: ___________________ Assinatura: _____________________________
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Se o estudo do passado imprescindvel compreenso do presente e se esta compreenso, por sua vez, no pode ser recusada se quisermos de algum modo intervir na construo do futuro, escreve-se histria no para perfilar cronologicamente, a partir de uma concepo naturalista-evolutiva de histria, nomes, fatos e datas, tendo em vista celebrar grandes homens ou a grande cincia que a ajudaram a construir, mas para entender o presente e refletir sobre o futuro, no marco do inevitvel engajamento da cincia, de seu compromisso tico.
Maria Helena Souza Patto (2000)
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Dedicatria
DDEEDDIICCAATTRRIIAA
Dedico este trabalho a duas mulheres, to diferentes ao mesmo tempo to
parecidas e iguais em importncia na minha vida:
Minha me, Amlia, que amo tanto, e que nunca pde frequentar uma escola, mas,
mesmo assim, lutou e batalhou muitos anos, enfrentando inclusive a falta de suprimento de
suas necessidades bsicas para poder me ajudar a estudar. Uma mulher guerreira, que
com oito horas de estudos no formais aprendeu a ler e escrever e que, at por isto, sempre
acreditou na Educao e na escola, pois estas poderiam me transformar em algum na
vida.
Minha orientadora, amiga e querida Marilene, que amo tanto, que no mediu
esforos em me ajudar e apoiar em vrios momentos desde que nos conhecemos. Uma
mulher tambm guerreira, que luta e batalha sempre, enfrentando muitos obstculos, por
acreditar que a escola e a Educao podem transformar muitas pessoas e, tambm, a vida.
Esta tese, assim, por extenso, oferecida a todos aqueles que acreditam na
Educao e na escola como forma de transformao humana e, por conseguinte, de
mudana social.
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Agradecimentos
AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS
Ensinamento Minha me achava estudo a coisa mais fina do mundo. No . A coisa mais fina do mundo o sentimento. Aquele dia de noite, o pai fazendo sero, ela falou comigo: Coitado, at essa hora no servio pesado. Arrumou po e caf, deixou tacho no fogo com gua quente, No me falou em amor. Essa palavra de luxo.
Adlia Prado
Nos agradecimentos que fiz na minha dissertao de mestrado, falei o quanto
aprendi e desenvolvi-me com cada uma das pessoas ali nomeadas. Aqui tambm falo de aprendizagem, desenvolvimento, mas quero falar, sobretudo, de amor. Amor que se traduziu em horas de desprendimento que outros me doaram, ouvindo minhas dores e delcias neste processo. Amor que tolerou minhas ausncias e que me fortaleceu e no me deixou fraquejar. Sabe-se que o processo de escrita de uma tese muitas vezes solitrio, mas posso dizer que esta foi redigida com muitas mos. Mos que me fizeram um caf ou comida gostosa, que varreram minha casa, que realizaram apontamentos, deram sugestes, mos de pessoas que tiveram uma palavra amiga incentivando-me a todo momento. Alm destas, tambm tiveram as mos dos depoentes, que compuseram comigo grande parte desta histria, assim como as mos de Marilene, que de modo atento e cuidadoso contribuiu para que esta escrita se concretizasse. E so todos esses carinhos, frutos de amor, de tantas pessoas, que gostaria de agradecer, embora saiba que nem sempre as palavras traduzem to bem nosso obrigado e que o melhor talvez seja seguir agradecendo em gestos de amor.
Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores.
Cora Coralina Este trabalho se iniciou num momento difcil de minha vida, quando eu estava
reconstruindo uma histria pessoal e contei com pessoas maravilhosas que ajudaram-me a superar os obstculos e conceb-lo inicialmente. Assim agradeo: Armando Vieira Barbosa, Silvia Maria Cintra da Silva, Maria Jos Ribeiro, Maria Lcia C. Romera, Luiz Avelino, eternos professores. Ao Armando, em especfico, agradeo pelo apoio incondicional e amor que me fortaleceu em momentos em que eu julgava no ter mais foras. Maria Jos Ribeiro obrigada por me inspirar a ser psicloga escolar e ter aceito o convite para compor a banca de defesa deste trabalho, como suplente. Maria Lcia, obrigada por sua doce presena, minha eterna madrinha. Slvia Maria especialmente, quero agradecer no s este incentivo no primeiro momento, mas toda nossa histria em conjunto que como eu disse na tese... meu encontro com voc minha querida amiga, me tornou no s uma profissional melhor, mas uma pessoa melhor, mais sensvel e, sinto-me honrada, de t-la em minha vida e tambm em mais este dia de aprendizagem que ser esta defesa de doutorado.
De Uberlndia quero agradecer a muitas pessoas, por todas as vezes em que pude contar com elas: Flvio Borges da Silva, Cludia R. Santos, Ana Paula Gomide, Moiss Fernandes, Marineide e Waltinho, Ana Paula de Freitas, Denise De Carlos, Grace Kely Barbosa, Fernanda Nocam, Weverton Vieira, Larissa Schucht, Fbio, aos amigos do Caps Oeste, Caps AD, da Ulbra, Unipac e da UFU. Agradeo aos meus ex-pacientes e ex-alunos de Itumbiara, Uberlndia, Divinpolis, So Paulo, Ribeiro Preto e do Rio de Janeiro. Em especial, meu obrigado aos que hoje so meus colegas de profisso e amigos que amo tanto: Anyellem P. Rosa e Moacir J. da Silva Jnior. Obrigada Luziano Macedo, meu amigo historiador, que me ajudou inmeras vezes com minhas dvidas sobre Histria, indicou referncias, deu sugestes, incentivou durante todo o processo, inclusive estando presente em alguns bons momentos em So Paulo.
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Agradecimentos
Em Belo Horizonte, onde fui acolhida e reaprendi a andar subindo morros e ladeiras, agradeo a todos do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG), e s equipes de todos os estados do Centro de Referncia Tcnica em Psicologia e Polticas Pblicas (CREPOP). Obrigada amigos e colegas de trabalho do CRP-MG: Robson, Marli, Maria ngela, Eliane (Lili), Walkiria, Renata, Margarida, Mnica, Luciana Franco, Tlio, Leonardo, Silvrio, Izabella, Ana Amlia, Tiago, Maicon, Ktia, Georgina, Juliane, Guedes, Elaine, Anselmo, Nathalia, Gustavo, Adriano, Graziela, Aparecida Rosngela, Neila, Kenya, Sr. Niazzi, Lcia Bernardes, Humberto, Adilson, Arizanete e Rogrio. Tambm um agradecimento a Roges, Mercedes e Lo do Sindicato dos Psiclogos (SINPSI), Elton, Gleiber, Paula e Ricardo (Ciclo Ceap), Artur, Caixeta e galera de Divinpolis. Um abrao para vio Gianni do CREPOP-Cear/Piau/Maranho e Slvia do CREPOP-Rio Grande do Sul. Agradeo ainda a Dona Filhinha e a Danielle Capistrano por toda a ajuda no incio do doutorado, alm da amizade preciosa que quero sempre preservar, meus anjos da guarda...
Em So Paulo tenho muitos agradecimentos. Agradeo primeiramente a esta cidade, que me acolheu e me oferece possibilidades imensas de cultura, lazer e Arte que alimenta minha alma. Aos amigos do Conselho Regional de Psicologia de So Paulo (CRP-SP), do Grupo Interinstitucional Queixa Escolar (GIQE), do Ncleo de Estudos em Histria da Psicologia - PUC-SP (NEHPSI), do Grupo Cinema Paradiso e da USP.
No CRP-SP obrigada colegas do GT Histria e Memria da Psicologia em So Paulo: Ftima Nassif, Elizabeth Gelli e Adolfo, e as companheiras tambm do NEHPSI: Carmem Taverna, Fernanda Waeny, Mnica Azevedo. Carmem, agradeo suas interlocues constantes e o aceite ao convite para participar da banca de defesa, como suplente. Um abrao de agradecimento para: Carla Biancha Angelucci, Beatriz Belluzzo, Fbio Souza, Sandra Sposito, Micael, Sandra, Waltair e Pepe. A toda galera do GIQE, e um agradecimento especial a: Alecxandra, Fernanda Gonalves, Selene, Fernanda Alves, Lus Fernando e Beatriz de Paula Souza. Bia, obrigada por me acolher no seu curso e na sua vida, e saiba que muito do que est aqui tem relao com nossas discusses e debates que me possibilitou muita aprendizagem, alm de seu carinho e afeto.
Um agradecimento caloroso aos amantes da Histria como eu, os companheiros do NEHPSI. Obrigada: Maria do Carmo Guedes, Marisa, Bruno, Maria Flor, Alekssey, Marcos S, Alessandro, Andrea, Clia, Catarina, Cia, Tiago Lopes e todos. Muitos trabalhos de autoria deste grupo fazem parte desta tese, obrigada por isto tambm. Maria do Carmo, obrigada por me receber no NEHPSI, ensinar-me muito neste processo de elaborao da tese e por aceitar o convite para a banca de defesa, que julgo ser mais um momento de aprendizagem para mim. Sua generosidade e jeito meigo de conduzir nossos trabalhos e nos incentivar pelo universo da historiografia inspirador. Aos amigos queridos do Grupo Cinema Paradiso peo desculpas pelas faltas e agradeo por contriburem para ampliao do meu olhar sobre esta grande Arte que o cinema. Um beijo para todos, em especial, Cludia Mogadouro e Ronilson.
Na USP agradeo aos professores e colegas e s interlocues que tive nos grupos de pesquisa Atuao do psiclogo na rede pblica de Educao e A formao do psiclogo escolar e as Diretrizes Curriculares..., aos colegas do Laboratrio Interinstitucional de Estudos e Pesquisas em Psicologia Escolar (LIEPPE). Um abrao imenso de agradecimento para: Eda Marconi Custdio, Maria Luiza S. Schmidt, Maria Isabel Leme, Marie Claire Sekkel, Adriana Marcondes Machado e Paulo Albertini. Adriana, obrigada por tudo. Paulo Albertini agradeo a gentileza de ter aceitado o convite para compor a banca de defesa deste trabalho, como suplente e o envio de material orientador sobre o trmino de um doutorado. Obrigada ainda aos professores Maurilane Biccas (Faculdade de Educao) e Guilhermo Beatn (Cuba). Um salve geral para os amigos queridos: Daniela Rosados, Flvia Asbahr e Joo, Renato Luz, Ktia Yamamoto, Cristina Cavalcante, Ana Karina, Vanderlei, Elisa Matozinho, Marcelo Roman, Anabela, Jane Cotrin, Aline Arajo, Lgia e Samir, Celso Tondin, Tnia Brasileiro, Gisele, Zaira, Laura, Jacqueline Kalmus, Lineu, Alacir Cruces e Mrio. Agradeo tambm ao apoio institucional da USP, e ao pessoal do Programa de Ps-Graduao em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano, Olvia, Sandra e Alexandre. Na Biblioteca e Centro de Memria do Instituto de
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Agradecimentos
Psicologia da USP (IPUSP) obrigada Aparecida Anglica, Maria Imaculada e ao professor Csar Addes. Agradeo ao CNPq pela bolsa de estudos e aos contribuintes que pagam impostos que permitem aos rgos de fomento o incentivo pesquisa no pas.
Muitssimo obrigada aos depoentes da tese: Samuel Pfromm Netto, Geraldina Witter, Arrigo Angelini, Raquel Guzzo e Maria Helena Souza Patto. Este trabalho s foi possvel pela generosidade, carinho e comprometimento de vocs. O material fornecido riqussimo e superou e muito minhas expectativas, assim como os objetivos do trabalho. Com certeza a participao de vocs na histria da Psicologia Educacional e Escolar, assim como a contribuio que deixam por meio deste relato de suma importncia para as futuras geraes. Agradeo tambm ao Digenes do Centro de Memria da Educao Mrio Covas, a Debora P. dos Santos do Centro de Memria da Faculdade de Educao da USP, a Ana Lcia e Jos Luiz V. Fernandes do Instituto Norberto de Souza Pinto, a Maria Angela Moretzsohn da Diviso de Documentao e Pesquisa em Histria da Psicanlise da SBPSP e Regina Helena de Freitas Campos do Centro de Documentao e Pesquisa Helena Antipoff. A Regina Helena agradeo o aceite ao convite para compor a banca de defesa deste trabalho como suplente, e obrigada tambm pela imensa produo sobre histria da Psicologia com a qual voc tem nos brindado ao longo dos anos, que me inspirou enormemente.
Amigo casa Amigo feito casa que se faz aos poucos e com pacincia pra durar pra sempre...
Capiba e Hermnio Bello de Carvalho
Minha famlia composta de dois grupos, a famlia que tenho por laos de sangue
e a famlia que pude compor por laos de amizade. A esta grande famlia peo desculpas pelas horas de afastamento e agradeo muito todo o incentivo em vrios momentos. A minha me Amlia e meu padrinho Oscar que, alm de afeto e carinho, tm uma fora de luta que me inspira todos os dias. A minha irm Adelita, meu cunhado Misac e meu sobrinho Misac Jnior. Vocs so muito importantes e em tudo que fao vocs esto sempre no meu pensamento, obrigada por tudo, pelo amor, incentivo e por suportar minhas ausncias. Ao meu pai Osmano, meus irmos Adriene, Adenilson, a Dona Maria e meus sobrinhos lindos, que mesmo distantes, sei que torcem por mim e desejam minha felicidade. Obrigada meus ces: Nino e Olga por seu amor incondicional e companhia sempre... so da famlia... Tambm um beijo imenso para: Waltinho, Elza e filhos, Ronaldo Lacerda, Kika, Lu, Ednia, Mrcia e famlia, Fatinha, Dona Terezinha, Sueli, Guy, Edna, Eliane e Sinderlei, Erclio, Jos Marcolino, Margarida, Juliana, Me Dina, Luanda, Xeroso, Tia Dora. Mrcia, que saudade imensa de sua comida... beijos...
Fabrcio E. dos Santos Figueiredo obrigada por me ouvir sempre, por me acolher, me dar afeto, carinho e amor. Voc mais que um irmo para mim, os agradecimentos que voc merece irei faz-los com amor eterno. Luiz Roberto Paiva de Faria, voc tem sempre um lugar no meu corao e agradeo-lhe as inmeras ajudas e os muitos mimos nestes anos todos. Obrigada ainda pela colaborao com os contedos marxistas. Mrcia Del Campo, muitssimo obrigada por seu amor, pela acolhida em So Paulo e pelo ombro amigo que sei que posso contar. Seu senso de humor, Mrcia, sua sensibilidade e at o seu gosto estranho por filmes de terror fazem de voc uma pessoa inesquecvel e da qual ficamos contentes de ter por perto. Agradeo ao Luiz Carlos por ser sempre este amigo de todas as horas, com o corao e a casa aberta para todos, regada a boa comida e muito afeto. A Cristina Pedrosa, querida amiga, obrigada por entender minhas ausncias e me ofertar tanto carinho, voc e suas filhas lindas Sofia e Vitria. Obrigada Sanyo Drummond, pelo compartilhar de sonhos, msicas, poesias, piadas e os prazeres da carne (picanhas) e do cinema. Obrigada Patrcia e Jefferson por seu apoio e companhia em vrios momentos e um beijo em Matheus. Thanks for Marcelo Barbosa, meu querido amigo, que mesmo distante, me apoia, torce por mim e me ajudou vezes sem conta. Agradeo a Angela M. Dias, minha querida prima, obrigada pelo seu amor, por incentivar-me e pelos sobrinhos lindos. Obrigada Ricardo Gomides pelo apoio constante, pelo ombro, ouvido e palavras amigas, em vrios
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Agradecimentos
momentos desta minha histria. Obrigada tambm por proporcionar-me o encontro com esta pessoa doce e suave que a Yandara. Um grande abrao a Jlio Csar Monte pela amizade, carinho e afeto. Tales V. Santeiro e Fabola, agradeo por serem amigos de todo sempre, com quem posso ter trocas afetivas e profissionais riqussimas. Ao Tales, agradeo as sugestes e apoio nestes ltimos momentos da tese e a oportunidade de realizar projetos futuros. Obrigada Dbora Domingues e Paula Saretta, com quem pude partilhar sonhos, esperanas e projetos. Dbora agradeo ainda a fora que me passa e o apoio dado sempre em vrias ocasies. Paula, obrigada por ajudar neste final da tese, seu trabalho tambm foi inspirador. Obrigada ainda Antnio Euzbios pela ajuda neste fim de tese e: Kak, Edmilson, Dani, Beto, Paulo, Larissa Guaitoli, Marlene, Rosalvo, Gustavo, Henrique, Rodrigo. Um beijo especial para: Renata, Martha Sirlene, Leon, Vanessa, Dante, Len Ribeiro e famlia. E um abrao queles que estiveram distantes mas, ao mesmo tempo, to perto: Paulo de Tarso, Mrcia Agapito, Deusimaura, Marciana, Marcos Moiss e Fabiana Batistucci.
Christiane J. M. Ramos obrigada por todos os momentos de incentivo, apoio e escuta de minhas lamrias e tambm alegrias compartilhadas. Quero sempre t-la bem perto, pois sua presena suave e doce imprescindvel em minha vida. Um beijo especial nas amigas Crita, Vnia e Roseli, que compartilharam vrias das angstias deste momento de escrita de um trabalho cientfico, vocs foram muito importantes. Walter M. de Faria Silva Neto, irmo urso, obrigada por tudo... voc sempre acreditou em mim e aquele irmo do corao mesmo, com quem posso contar sempre que eu precisar e isto no tem preo, te amo demais. Isabela Tanns Grama, agradeo sua suave e bem humorada palavra amiga, incentivo, ajuda, compreenso e, sobretudo, amizade que para mim ser eterna. Sou grata tambm por nos dar o Joo grando para mimar. Mrcia Teixeira, irm fiel de todos os momentos bons e ruins, sua fora inspiradora e seu renascimento nos fez acreditar mais em ns, obrigada por tudo irm, beijo no Igor e Diana. Gracias a Adriana Chaves, voc est a longe, mas est aqui, sempre perto, pois sei o quanto posso contar com voc e vice-e-versa, ti amo ragazza. Obrigada Flvia Nasciutti por ser esta mulher que canta sempre este estribilho... te adoro. Tatiana Paula Rios, sei que ficamos distantes, mas sei do seu amor e do quanto torce por mim e recproco, obrigada. Agradeo ainda a: Dona Serafina, Mariana e Luisa Proena, Mnica e Mateus, Dona Consulo e Sr. Walter (in memoriam)... saudades...
Elenita Tanamachi, obrigada por toda a sua generosidade de compartilhar o imenso saber que tem, agradeo a possibilidade de troca e seu aceite para compor a banca de defesa como suplente, voc parte desta histria. Obrigada Mitsuko Antunes por toda ajuda no exame de qualificao e saiba que grande parte deste trabalho foi feito sob inspirao de vrias de suas contribuies. Elizabeth Gelli, agradeo pela cuidadosa leitura na qualificao e por me tornar sua herdeira, fico honrada com a confiana. Sei que na defesa, irei aprender mais e mais com vocs.
Marilene Proena, obrigada por ser mais que uma orientadora, e ser essa pessoa maravilhosa com quem pude compartilhar momentos importantes desta trajetria e com quem muito aprendi e continuo aprendendo sempre. Voc uma das mulheres importantssimas da minha vida tambm, voc inspira-me por sua garra, fora, temperana, serenidade e sobretudo, seu comprometimento com a Psicologia Educacional e Escolar. Te admiro, quero-lhe sempre por perto, te amo.
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Resumo
RREESSUUMMOO
BARBOSA, D. R. Estudos para uma histria da Psicologia Educacional e Escolar no Brasil. 2011. 674 f. Tese (Doutorado) Programa de Ps-Graduao em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano Instituto de Psicologia, Universidade de So Paulo,So Paulo, 2011.
Embora a histria da Psicologia atualmente seja um frtil campo de produo, ainda so poucos os trabalhos com registros de personagens que viveram esta histria e que podem, a partir de seus testemunhos, contribuir para a escrita da mesma. Neste sentido, esta investigao, conduzida com base nos pressupostos da nova histria, teve como objetivo contribuir para a reconstruo da histria da constituio e consolidao do campo de estudo e atuao em Psicologia Educacional e Escolar no Brasil, por meio de depoimentos orais e outras fontes historiogrficas. Investigou-se como este campo de conhecimento e prtica foi se construindo em nosso solo, especialmente a partir dos anos 1930. Como objetivos especficos, procurou-se identificar as transformaes do papel do psiclogo no campo educativo e compreender como ocorreu a insero deste profissional nos contextos educacionais. Para tanto, a pesquisa construiu um corpus documental composto por fontes historiogrficas sobre o tema e depoimentos orais. Foram depoentes cinco personagens pioneiros ou protagonistas da rea de Psicologia Educacional e Escolar no Brasil. Definiu-se como pioneiros os primeiros a contribuir para um determinado campo de atuao e como protagonistas, aqueles que colaboraram como personagens ativos num determinado momento histrico da rea. Os depoentes tambm foram escolhidos por terem: a) realizado publicaes expressivas na rea; b) atuado na rea; c) sido docentes; e/ou d) participado de rgos/instituies da rea. Os depoentes foram: Samuel Pfromm Netto, Geraldina Porto Witter, Arrigo Leonardo Angelini, Raquel Souza Lobo Guzzo e Maria Helena Souza Patto. O mtodo investigativo utilizou-se da perspectiva da historiografia pluralista e histria oral. A anlise do corpus documental foi constituda por meio de anlise documental (fontes no orais) e construo de indicadores e ncleos de significao dos registros orais. A partir das anlises, comps-se um panorama da histria da Psicologia Educacional e Escolar brasileira. No escopo do trabalho, so descritos os passos da pesquisa historiogrfica, os depoimentos e suas respectivas anlises. Cada depoimento foi analisado em separado e, em conjunto, inter-relacionando ao restante do corpus documental. Os resultados incluem discusses sobre as transformaes no papel, objeto de interesse e de interveno do psiclogo neste mbito, as finalidades da Psicologia Educacional e Escolar e a relao entre teoria e prtica. ento sugerida uma proposta de periodizao da histria da Psicologia Educacional e Escolar no Brasil, construda a partir de marcos histricos na rea, compreendendo as etapas: 1) Colonizao, saberes psicolgicos e Educao (1500-1906); 2) A Psicologia em outros campos de conhecimento (1906-1930); 3) Desenvolvimentismo a Escola Nova e os psicologistas na Educao (1930-1962); 4) A Psicologia Educacional e a Psicologia do Escolar (1962-1981); 5) O perodo da crtica (1981-1990); 6) A Psicologia Educacional e Escolar e a reconstruo (1990-2000); 7) A virada do sculo: novos rumos? (2000- ). Pode-se afirmar que a Psicologia Educacional e Escolar se fez e se refez em diferentes momentos ao longo do tempo, a partir da sua relao com a Educao e com a conjuntura poltica, histrica e social. Sua histria marcada por continuidades, descontinuidades, rupturas, reconstrues e uma discusso permanente de seu papel como uma rea a servio de interesses conservadores ou emancipatrios.
Palavras-chave: Psicologia escolar; Psicologia educacional; histria da Psicologia.
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Abstract
AABBSSTTRRAACCTT
BARBOSA, D. R. Studies for a history of Educational and School Psychology in Brazil. 2011. 674 f. Tese (Doutorado) Programa de Ps-Graduao em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano Instituto de Psicologia, Universidade de So Paulo,So Paulo, 2011. Although the history of psychology today is a fertile field of production, there are still few records of characters who lived this history and that may, from their testimonies, had contributed to its record. In this sense, this research, conducted based on the assumptions of New History, aims to contribute to establish and reconstruct the history field of Educational and School Psychology in Brazil, through oral testimony and other historiographical sources. It has been investigated how this field of knowledge and practice has been built on our soil, especially since the 1930s. As a specific objective we sought to identify changes in the role of psychologists in the education area and understand how their insertion occurred in education professional contexts. In this proposal, this research has collected testimonies and built a corpus of documents comprising historiographical sources on the subject. Five interviewees were pioneers characters or actors of Educational and School Psychology in Brazil, defined as the firsts to contribute to a particular field, acting as leaders, who collaborated as active characters in a particular historical moment. The interviewees were also chosen because they: a) published significant work in the area, b) worked in the area, c) have been teachers and / or c) members of organs / institutions of the area. The interviewees were: Samuel Pfromm Netto, Geraldina Porto Witter, Arrigo Leonardo Angelini, Raquel Souza Lobo Guzzo and Maria Helena Souza Patto. The investigative method was used from the perspective of pluralist historiography and oral history.The documentary corpus analysis consisted of a study on documents (non-oral sources) and construction of core indicators and significant oral records. From this analysis a picture of the Educational and School Psychology history in Brazil was composed. The scope of this work, was to describe steps of historical research, by interviews and their analysis. Each deposition was analyzed separately and together, interrelating the rest of documentary corpus. The results includes discussions about the transformations in the role, object of interest and intervention of psychologists in this context, the aims of Educational and School Psychology and the relationship between theory and practice. It then suggested a proposed timeline of Educational and School Psychology in Brazil constructed from landmarks in the area, comprising the following steps: 1) Colonization, psychological knowledge and education (1500-1906), 2) Psychology in other fields of knowledge (1906-1930), 3) Desenvolvimentismo - the New School and the psychologists in Education (1930-1962), 4) Educational Psychology and Schoolars Psychology (1962-1981), 5) The period of review (1981-1990), and 6) Educational and School Psychology reconstruction (1990-2000); 7) The turn of the century: new directions? (2000 - ). It can be stated that the Educational and School Psychology has been made and remade over time and at different times, from its relationship with Education and the political, historical and social circumstances. Its history is marked by continuities, discontinuities, ruptures, reconstructions and an ongoing discussion of its role as an area at the service of conservative or emancipatory interests. Keywords: School psychology, educational psychology, psychology history. .
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Resumen
RREESSUUMMEENN
BARBOSA, D. R. Estudios para una historia de la Psicologa de la Educacin en Brasil. 2011. 674 f. Tese (Doutorado) Programa de Ps-Graduao em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano Instituto de Psicologia, Universidade de So Paulo,So Paulo, 2011. Actualmente la historia de la Psicologa es un campo frtil de produccin, pero todava son pocos los trabajos registrados de los personajes que forman parte de esta historia y que pueden, a partir de sus testimonios, contribuir en la construccin de la misma. Esta investigacin, basada en los presupuestos de la Nueva Historia, tuvo como objetivo contribuir a la reconstruccin histrica del campo del estudio y prctica de la Psicologa Educacional y Escolar en Brasil, a travs de fuentes historiograficas y narrativas orales. Esta tesis examina como el conocimiento y prctica en esta rea han sido construidos en nuestro pas, especialmente desde la dcada de 1930. Los objetivos especficos trataron de identificar las transformaciones en el rol del psiclogo en mbito educativo, y comprender como fue la integracin en estos contextos. La investigacin ha construido un corpus documental compuesto de fuentes historiogrficas del tema e narrativas orales. Los narradores fueron cinco personajes pioneros o protagonistas de la historia de la Psicologa Educacional y Escolar en Brasil. Hemos definido como pioneros aquellos que fueron los primeros en contribuir para un determinado campo y protagonistas aquellos que han colaborado activamente en esta rea, en un determinado momento histrico. Los sujetos fueron seleccionados en base a: a) que hayan realizado publicaciones el rea, b) trabajado en el rea, c) enseado Psicologa, d) y/o que hayan participado en instituciones del rea. Los narradores fueron: Samuel Pfromm Netto, Geraldina Porto Witter, Arrigo Leonardo Angelini, Raquel Souza Lobo Guzzo y Maria Helena Souza Patto. O mtodo de investigacin se utiliz la perspectiva historiogrfica pluralista y la Historia Oral. El anlisis fue realizado a travs del estudio de los documentos, y la construccin de indicadores y ncleos del significado de los registros orales. A partir del anlisis, se presenta un panorama de la historia de la Psicologa Educacional y Escolar. Se describe el trabajo emprico, los testimonios y sus respectivos anlisis. Cada narracin fue analizada por separado y en conjunto, interrelacionndola con el resto del corpus documental. Los resultados incluyen discusiones sobre las transformaciones en el rol, objeto de inters, e intervencin de los psiclogos en este mbito, as como la relacin entre teora y prctica. Finalmente se sugiere una propuesta de periodizacin de la historia de la area, a partir de puntos de referencia y las siguientes etapas: 1) La colonizacin: ideas sobre Psicologa y Educacin (1500 a 1906), 2) Psicologa en otros campos del conocimiento (1906-1930), 3) Desenvolvimentismo: movimiento de la Escuela Nueva y los psicologistas en la Educacin (1930-1962), 4) Psicologa Educacional y Psicologa del alumno (1962-1981), 5) El perodo de la crtica (1981-1990), 6) Psicologa Educacional y su reconstruccin (1990-2000); 7) El cambio de siglo: nuevas direcciones? (2000 - ). Se puede afirmar que la Psicologa Educacional y Escolar con el tiempo fue construida y reconstruida a partir de su relacin con la educacin y con la situacin socio-poltico-histrica. Su historia est marcada por continuidades, discontinuidades, rupturas, reconstrucciones y un debate permanente sobre su papel como un rea al servicio de los intereses conservadores o emancipadores.
Palabras clave: La prctica de la Psicologa Escolar, Psicologa Educacional, Historia de la Psicologia.
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Listas
LLIISSTTAA DDEE TTAABBEELLAASS PPGG..
Tabela 1 Sobre os depoimentos................................................................................. 111166 Tabela 2 Sntese dos indicadores e ncleos de significao das fontes orais................................................................................................................................
228844
LLIISSTTAASS DDEE SSIIGGLLAASS
ABHO Associao Brasileira de Histria Oral
ABRAPEE Associao Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional
ADUFU Associao dos Docentes da Universidade Federal de Uberlndia
BVS-PSI Biblioteca Virtual de Sade e Psicologia
CDPHA Centro de Documentao e Pesquisa Helena Antipoff
COJ Centro de Orientao Juvenil
CONPE Congresso Nacional de Psicologia Escolar e Educacional
CPDOC/FGV Centro de Pesquisa e Documentao de Histria Contempornea da Fundao Getlio Vargas
CRE-MC Centro de Memria da Educao Mrio Covas
CRPE Centro Regional de Pesquisas Educacionais
CRP-SP Conselho Regional de Psicologia de So Paulo
EHESS Escola Prtica de Estudos Avanados/ Escola para Estudos Avanados em Cincias Sociais
EUA Estados Unidos da Amrica
FENPB Frum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira
FFLCH/USP Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidade de So Paulo
FHA Fundao Helena Antipoff
GDA Grupo de Desenvolvimento e Aprendizagem
GT Grupo de Trabalho
HSP Histria e Sistemas em Psicologia
IBE Bureau Internacional de Educao
ILES/ULBRA Instituto Luterano de Ensino Superior/ Universidade Luterana do Brasil
IPT Instituto de Pedagogia Teraputica
IPUSP Instituto de Psicologia da USP
ISOP Instituto de Seleo e Orientao Profissional
LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional
LILACS Literatura Latinoamericana en Ciencias de la Salud
MASP Museu de Arte de So Paulo
MIS Museu da Imagem e do Som
NEHPSI/PUC-SP Ncleo de Estudos em Histria da Psicologia da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo
PEPA Psicologia Escolar e Problemas de Aprendizagem
PT Partido dos Trabalhadores
PUC Campinas Pontifcia Universidade Catlica de Campinas
SBPSP Sociedade Brasileira de Psicanlise de So Paulo
SciELO Scientific Eletronic Library Online
SOREX Socialismo realmente existente
UFU Universidade Federal de Uberlndia
UNESCO United Nations Educational, Scientifica and Cultural Organization (Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura)
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
URSS Unio das Repblicas Socialistas Soviticas
-
Sumrio
SSUUMMRRIIOO
PPGG
DDEEDDIICCAATTRRIIAA............................................................................................................... 0066
AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS..................................................................................................... 0077
RREESSUUMMOO........................................................................................................................ 1111
AABBSSTTRRAACCTT.................................................................................................................... 1122
RREESSUUMMEENN...................................................................................................................... 1133
LLIISSTTAASS......................................................................................................................... 1144
AAPPRREESSEENNTTAAOO UUMMAA VVIIAAGGEEMM...... .......................................................................... 1177
CCAAPPTTUULLOO II EEUU,, VVIIAAJJAANNTTEE,, CCOONNVVIIDDOO:: VVAAMMOOSS JJUUNNTTOOSS,, DDEE MMOOSS
DDAADDAASS??.........................................................................................................................
2200 I.1 A ps-graduao e o objeto de investigao desta tese........................................... 2299
CCAAPPTTUULLOO IIII AARRRRUUMMAANNDDOO AASS MMAALLAASS...... CCOONNFFIIGGUURRAANNDDOO UUMM CCAAMMPPOO DDEE
IINNVVEESSTTIIGGAAOO SSOOBBRREE HHIISSTTRRIIAASS.......................................................................
3344 II.1 Sobre as histrias: os diferentes modos de se olhar as paisagens da janela.......... 3355 II.2 Histria(s) tradicional (is).......................................................................................... 3388 II.3 Nova(s) histria(s): o movimento dos Annales......................................................... 5544 II.3.1 A concepo de Histria em Marx e Engels......................................................... 6622
CCAAPPTTUULLOO IIIIII IINNIICCIIAANNDDOO AA VVIIAAGGEEMM DDIIRRIIOOSS DDEE BBOORRDDOO,, EESSCCOOLLHHAA DDEE
CCAAMMIINNHHOOSS...... ...............................................................................................................
7788 III.1 Como escrever o dirio de bordo desta viagem? O ofcio do historiador: alguns elementos de um texto historiogrfico............................................................................
7788 III.2 Objetivos traados e retraados.............................................................................. 8899 III.3 Escolhendo caminhos: a histria oral como diferencial e a histria plural.............. 9922
CCAAPPTTUULLOO IIVV IITTIINNEERRRRIIOOSS,, PPEERRCCUURRSSOOSS,, GGUUIIAASS DDEE VVIIAAGGEEMM:: OOSS
AASSPPEECCTTOOSS TTEERRIICCOOSS EE MMEETTOODDOOLLGGIICCOOSS...........................................................
110077 IV.1 Fontes historiogrficas no orais............................................................................ 110088 IV.2 Visitas realizadas.................................................................................................... 110099 IV.3 Fontes orais............................................................................................................ 111100 IV.4 A construo dos depoimentos............................................................................... 111133 IV.5 Anlises dos elementos investigados..................................................................... 111188
CCAAPPTTUULLOO VV AALLGGUUNNSS CCAAMMIINNHHOOSS CCOONNHHEECCIIDDOOSS,, OOUUTTRROOSS NNEEMM TTAANNTTOO...... ..... 112211 V.1 Alguns elementos da histria da Psicologia no mundo.......................................... 112244
V.1.1 A Psicologia cientfica.................................................................................. 112266 V.1.2 Psicologia Aplicada: Funcionalismo e Psicometria...................................... 113322 V.1.3 Psicologia Aplicada: Behaviorismo e Psicologia Clnica............................. 114422 V.1.4 A contribuio do Instituto Jean-Jacques Rousseau para as teorias e prticas em Psicologia e Educao......................................................................
115500 V.2 Alguns elementos da histria da Psicologia no Brasil............................................. 115544 V.3 Alguns elementos da histria da relao Psicologia e Educao no mundo........... 116666 V.4 A historiografia da relao entre Psicologia e Educao no Brasil.......................... 117766
CCAAPPTTUULLOO VVII AALLGGUUMMAASS PPAARRAAGGEENNSS EE CCOOMMPPAANNHHEEIIRROOSS DDEE PPEERRCCUURRSSOO........ 118877 VI.1 Lugares visitados, horizontes descobertos as impresses da viagem................ 118888
VI.1.1 E vejo Belos Horizontes............................................................................ 118899 VI.1.2 Caminhando nas Campinas..................................................................... 119944 VI.1.3 Alguma coisa acontece no meu corao.................................................. 119966
-
Sumrio
PPGG VI.2 Pessoas que encontrei, histrias que ouvi..................................................... 220011 VI.2.1 Samuel Pfromm Netto.......................................................................... 220011
VI.2.1.1 Anlise do depoimento de Samuel Pfromm Netto........................... 220066 VI.2.2 Geraldina Porto Witter.......................................................................... 221177
VI.2.2.1 Anlise do depoimento de Geraldina Porto Witter........................... 222211 VI.2.3 Arrigo Leonardo Angelini...................................................................... 223344
VI.2.3.1 Anlise do depoimento de Arrigo Leonardo Angelini....................... 223399 VI.2.4 Raquel Souza Lobo Guzzo.......................................................................... 224466
VI.2.4.1 Anlise do depoimento de Raquel Souza Lobo Guzzo................... 225522 VI.2.5 Maria Helena Souza Patto........................................................................... 226677
VI.2.5.1 Anlise do depoimento de Maria Helena Souza Patto.................... 227722 VI.3. Sntese da anlise dos depoimentos............................................................. 228844
CCAAPPTTUULLOO VVIIII PPAARRAA UUMMAA HHIISSTTRRIIAA DDAA PPSSIICCOOLLOOGGIIAA EEDDUUCCAACCIIOONNAALL EE
EESSCCOOLLAARR NNOO BBRRAASSIILL..................................................................................................
229911 VII.1 Psicologia educacional ou escolar: uma questo de nomenclatura?.................... 229933
VII.1.1. A Psicologia Educacional e Escolar no Brasil em obras do sculo XX........................................................................................................ VII.1. 2. A Psicologia Educacional e Escolar na atualidade ..................................
VII.2 Arriscando um caminho: uma proposta de periodizao da histria da relao entre Psicologia e Educao no Brasil............................................................................
330011
333377
334411 VII.2.1 Primeiro perodo Colonizao, saberes psicolgicos e Educao educando meninos rudes (1500-1906) ................................................................
334444 VII.2.2 Segundo perodo Psicologia em outros campos de conhecimento (1906-1930) ..........................................................................................................
335555 VII.2.3 Terceiro perodo Desenvolvimentismo a Escola Nova e os psicologistas na Educao (1930-1962) ..............................................................
336633 VII.2.4 Quarto perodo A Psicologia Educacional e a Psicologia do escolar (1962-1981) ..........................................................................................................
338811 VII.2.5 Quinto perodo O perodo da crtica (1981-1990)................................... 339944 VII.2.6 Sexto perodo A Psicologia Educacional e Escolar e a reconstruo (1990-2000)...........................................................................................................
440044 VII.2.7 Stimo perodo A virada do sculo: novos rumos? (2000- ) ................ 441100
CCAAPPTTUULLOO VVIIIIII VVOOLLTTAANNDDOO PPAARRAA CCAASSAA CCOONNSSIIDDEERRAANNDDOOSS.......................................................... 441122
RREEFFEERRNNCCIIAASS EE FFOONNTTEESS............................................................................................ 442211
AANNEEXXOOSS......................................................................................................................... 444466 Anexo 1 Quadro de ttulos das primeiras teses com o tema Psicologia defendidas no Brasil..........................................................................................................................
444466 Anexo 2 Artigos de Angelini e Pfromm Netto defendendo a existncia de um Instituto de Psicologia na Universidade de So Paulo...................................................
444477 Anexo 3 Trmite do projeto de Lei N. 2151/1991........................................................ 445511
AAPPNNDDIICCEESS.................................................................................................................... 445544 A - Carta Convite aos Depoentes................................................................................... 445544 B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.......................................................... 445555 C - Instrues para Depoentes...................................................................................... 445566 D - Termo de Autorizao Livre e Esclarecido para uso do depoimento....................... 445577 E - Exemplo de dirio de campo.................................................................................... 445588 F - Depoimento de Samuel Pfromm Netto..................................................................... 445599 G - Depoimento de Geraldina Porto Witter.................................................................... 551188 H - Depoimento de Arrigo Leonardo Angelini................................................................. 556600 I - Depoimento de Raquel Souza Lobo Guzzo............................................................... 660000 J - Depoimento de Maria Helena de Souza Patto.......................................................... 664433 K Linha do Tempo....................................................................................................... 666600
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Apresentao Uma viagem...
17
AAPPRREESSEENNTTAAOO UUMMAA VVIIAAGGEEMM......
Disparada Prepare o seu corao Prs coisas que eu vou contar Eu venho l do serto E posso no lhe agradar...
Geraldo Vandr e Theo de Barros (1965) Para no dizer que no falei das flores [...] Caminhando e cantando e seguindo e cano Somos todos iguais, braos dados ou no...
Geraldo Vandr (1968)
Esta tese tem como objeto de estudo trs campos de interesse: a Psicologia, a
Psicologia em sua relao com a educao e a histria. Ela foi concebida como uma viagem
por estes mbitos, de modo que o texto faz um convite aos possveis leitores para que, junto
comigo, a narradora desta histria, passemos pelos diferentes caminhos que me ajudaram a
constru-la. Neste sentido, faz-se mister esclarecer aqui quais eram as inquietaes iniciais
que levaram a este trabalho, seus objetivos, os recursos que empreendi para cumprir seus
propsitos e a forma como organizei esta investigao.
O desejo de estudar a histria da Psicologia Educacional e Escolar no Brasil surgiu
inicialmente do pouco conhecimento que eu tinha deste histrico, bem como,
posteriormente, da necessidade de ouvir pessoas que participaram ativamente da mesma. A
histria da Psicologia um amplo campo de estudos e pesquisas, no s no exterior como
tambm no Brasil, entretanto, quando pude ter mais compreenso acerca destas produes,
senti falta de um trabalho que pudesse dar voz queles que de alguma forma contriburam
como protagonistas para a construo desta histria. Com este desejo inicial entrei no
doutorado no Programa de Ps-Graduao em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento
Humano do Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo com o intuito de realizar
um estudo com histrias orais da Psicologia Escolar no Brasil. Na medida em que o trabalho
era desenvolvido, ele se ampliou e se constituiu no que agora apresentado aqui.
Esta investigao tem como objetivo principal contribuir para a constituio da
historiografia do campo de estudo e atuao em Psicologia Educacional e Escolar no Brasil,
por meio de fontes historiogrficas e depoimentos orais. Alm disto, objetivou-se
compreender as mudanas no papel e nas prticas desenvolvidas ao longo do tempo, a
partir das anlises dos elementos historiogrficos desta histria. O trabalho contou com a
contribuio de cinco depoentes considerados pioneiros e/ou protagonistas na rea de
Psicologia Educacional e Escolar. Foram depoentes os professores de Psicologia na sua
interface com a Educao: Samuel Pfromm Netto, Geraldina Porto Witter, Arrigo Leonardo
Angelini, Raquel Souza Lobo Guzzo e Maria Helena Souza Patto. No que se refere a outras
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Apresentao Uma viagem...
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fontes historiogrficas, foram utilizadas muitas referncias que tratam do tema (Ver nas
Referncias, ao final do trabalho, a listagem das Fontes).
Neste sentido, o trabalho foi organizado em trs partes distribudas entre oito
captulos. A primeira parte constitui-se dos captulos iniciais (Captulos I, II e III), nos quais
aborda-se a constituio e a configurao deste campo de estudo e atuao.
O captulo inicial apresenta o percurso pessoal desta pesquisadora na construo
do objeto de interesse da tese bem como as principais inquietaes que motivaram a
realizao do estudo. O captulo II aborda as diferentes construes existentes no campo da
Histria e historiografia, especialmente as diferenas entre histria tradicional e nova
histria. Alm disso, h um subtpico que aborda a concepo de Histria para Marx e
Engels. O terceiro captulo esclarece sobre os elementos de um texto historiogrfico e ainda
apresenta os objetivos e a opo pela historiografia pluralista e pela histria oral como
diferencial.
A segunda parte da tese compreende os captulos IV, V e VI e se refere s
elaboraes do trabalho de campo. Inicialmente, descrito o modo de construo do corpus
documental da tese, com as fontes historiogrficas orais, no orais e os aspectos tericos e
metodolgicos (Captulo IV). O captulo V expe parte do corpus documental organizado
(fontes no orais) em forma narrativa sobre os elementos da histria da Psicologia no
mundo, no Brasil e a historiografia da relao Psicologia e Educao no Brasil. Este captulo
buscou realizar uma explanao sobre como os historiadores brasileiros da Psicologia tm
contado a histria desta cincia e profisso. O captulo seguinte (VI) aborda a outra parte do
corpus documental, referente aos depoimentos orais construdos. Cada depoimento foi
descrito e analisado, assim como foi realizada uma sntese analtica do conjunto dos
mesmos.
A terceira parte composta pelos captulos VII e VIII e refere-se construo do
que foi possvel empreender a partir da juno entre o material construdo com os
depoimentos e fontes historiogrficas como um todo (orais e no orais). O captulo VII
discute o objeto de interesse, os objetivos e as finalidades da Psicologia Educacional e
Escolar, procurando responder ao questionamento Psicologia Educacional ou Escolar: uma
questo de nomenclatura?. Em seguida, construda uma narrativa deste histrico da rea
a partir da sugesto de uma periodizao. O captulo VIII envolve algumas consideraes
finais do trabalho a ttulo de discusso sobre todo este percurso e proposituras para futuras
pesquisas. Alm disso, ao final so expostas as Referncias e Fontes, os Anexos, com
alguns documentos importantes recolhidos para a composio da tese. Por ltimo, os
Apndices, que trazem na ntegra os depoimentos construdos por meio do trabalho de
campo.
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Apresentao Uma viagem...
19
Como dito, a construo deste trabalho foi feita com inspirao na metfora de uma
viagem. E, assim, conclamo: vem comigo nesta viagem? um convite para, em certos
momentos, adentrarmos no tnel do tempo e percorrermos lugares e tempos talvez j
conhecidos e outros itinerrios ainda no trilhados. Vamos? Vem... vamos embora que
esperar no saber...
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Captulo I Eu, viajante, convido: vamos juntos, de mos dadas?
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CAPTULO I - EU, VIAJANTE, CONVIDO: VAMOS JUNTOS, DE MOS DADAS?
Mos dadas No serei o poeta de um mundo caduco. Tambm no cantarei o mundo futuro. Estou preso vida e olho meus companheiros. Esto taciturnos mas nutrem grandes esperanas. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente to grande, no nos afastemos. No nos afastemos muito, vamos de mos dadas. No serei o cantor de uma mulher, de uma histria. No direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela. No distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida. No fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo a minha matria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
Carlos Drummond de Andrade (2001)
Assim como defendo, nesta tese, a ideia de que a Histria construda pelos
homens e mulheres que fazem esta Histria e tambm que a escrita histrica guarda a
marca de quem a escreveu, neste captulo eu me coloco, contando um pouco de minha
histria, com objetivo de apresentar de que lugar eu falo e por que escolhi contar esta
histria do jeito que resolvi cont-la. A histria aqui contada tem muito do modo como eu a
concebi, pois se trata da verso que pude construir a partir dos elementos que fui
costurando ao longo do trabalho. Deste modo, sabendo da inexistncia de neutralidade na
cincia e coadunada com os pressupostos de uma pesquisa qualitativa, acredito que
apresentar um pouco de como me constitu como psicloga, professora e pesquisadora ir
elucidar algumas escolhas que fiz e tambm trazer luz alguns aspectos subjetivos que
contriburam para a elaborao deste trabalho. Ento vamos juntos?
Sempre gostei de ouvir estrias e histrias. Meu pai me contava estrias de onas,
macacos, bichos-foiaradas1, de personagens da roa em que morou e de uma cidade
imaginria que tinha torneiras de leite, gua e caf nas ruas, que ele chamava de
Papagaios. Na escola, um lugar que me fascinava era a biblioteca. Foi l que, como algum
que v uma mgica, escutei, encantada, a professora nos contar e mostrar no projetor de
slides a estria de Cachinhos de Ouro (MACHADO, 1980). Fiquei impactada vrios dias
lembrando da projeo na parede e voltei biblioteca muitas vezes para olhar o livro e
reviver aquela experincia inovadora. Para uma criana que h pouco tinha conhecido o
1 Recentemente encontrei um livro com as estrias que meu pai contava e que eu julgava que ele quem
tinha inventado. So estrias do folclore brasileiro: FRANA, M. O bicho folharada e outros espertinhos: um passeio pelo folclore. So Paulo: Global, 2006. Devo dizer, entretanto, que as estrias de meu pai eram mais interessantes e cheias de vrios outros episdios alm dos relatados pelo livro, episdios que ele naturalmente inventava.
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Captulo I Eu, viajante, convido: vamos juntos, de mos dadas?
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gosto de ter chinelos e usar um banheiro que no era latrina, que no tinha TV em casa2, o
projetor de slides foi uma maravilha! E a escola, com suas mltiplas atividades, era
fascinante.
Lembro do primeiro dia de aula. Minha me quis guardar uma lembrana daquele
dia e me levou ao retratista para fazer uma foto. Adorei vestir as meias at quase os joelhos
e levar uma lancheira com desenhos. Naquele tempo, com seis anos de idade, enlouquecia
minha me para ir escola e j escrevia meu nome nas paredes da casa. No primeiro dia
de aula conheci uma menina de nome Brenda e quem me conhece no ir estranhar o
que vem a seguir logo disparei a falar com ela, o que me rendeu apenas ouvir minha
primeira aula, pois a professora me colocou de costas para a turma e de p olhando para a
parede. Na primeira aula, na pr-escola, fiquei de castigo por conversar (!). Era o ano de
1980, na cidade de Patos de Minas, Minas Gerais.
Quando hoje olho aquela foto do retratista, lembro-me de sapos e prncipes... Muito
mais tarde fui ler um texto no livro Introduo Psicologia Escolar (CAGLIARI, 1981/1997)
que dizia que a escola transformava os prncipes em sapos. Meu primeiro dia de aula foi o
primeiro dia de castigo por conversar e, por isso, tambm meu primeiro dia de sapo. Penso
no quanto Cagliari foi feliz em seu texto, pois escreve sobre a importncia da fala da criana
para seu processo de alfabetizao, e afirma:
[...] certamente, uma me pobre se sente orgulhosa quando v seu filho ir escola pela primeira vez, mas talvez no se d conta de que l seu principezinho pode receber um beijo fatdico que, perante a sociedade, o transformar num sapo, ou melhor, num burro (p. 223).
Minha me estava mesmo orgulhosa de me ver ir escola, coisa que ela no teve a
oportunidade de fazer. E eu... Eu recebi vrios beijos fatdicos... Mas segui falando... E isto
talvez explique este meu interesse por ouvir histrias...
Na primeira srie fui para a escola de lata. Era um prdio em que as paredes
eram feitas de lata, e no vero esquentava muito. Foi l que vi o projetor de slides na
biblioteca. Durante todo o primeiro ano, mesmo que em alguns momentos eu fosse para o
castigo (ajoelhar no milho), pelo mesmo motivo de conversa, lembro com carinho desses
tempos. A professora, Dona Nilta, nos contou a histria dos Trs Porquinhos, com a qual
nos alfabetizou. Ela dizia para que ficssemos atentos ao cu e vssemos quando passasse
um avio que piscasse uma luz vermelha. O sinal vermelho significaria a chegada de um
dos porquinhos da histria; e demorou um ano para conhecermos todos os trs
2 Por influncia do meu pai, que locutor e msico (ele tem mais de onze discos gravados em parceria
com meu tio), mesmo no tendo TV em casa, cada membro da famlia tinha seu prprio rdio. Conto isso para esclarecer que a msica tambm algo que sempre esteve presente, de um modo ou de outro em minha vida.
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Captulo I Eu, viajante, convido: vamos juntos, de mos dadas?
22
porquinhos... At ali, vivemos olhando para os cus, procura de avies, e aprendendo com
isso a ler e a escrever...
Nesse mesmo ano, tive uma experincia que acho importante relatar. Tinha uma
colega, de nome Mrcia, que era minha amiga de brincadeiras. Quando entramos nesta
escola havia um exame para saber quem iria para qual primeira srie A, B ou C. Mrcia e eu
fazamos vrios planos de estudar juntas na mesma sala. Ento fizemos o exame. Como eu
sabia ler e escrever fui para a classe A e ela foi para outra classe, ficando inclusive em outro
prdio, anexo, de modo que, logo de incio, nos separaram e passamos a nos encontrar
apenas no recreio. Depois de um tempo, eu achava estranho ela ainda continuar em classes
ditas piores que a minha, pois nos deveres de casa ela sempre me ajudava. E devo
confessar que como eu no sabia desenhar muito bem e ela era mais habilidosa nesta
atividade, todas as lies de casa que envolviam desenhos era Mrcia quem fazia para mim,
enquanto eu a ajudava em outras atividades.
Na terceira srie, em 1983, li meu primeiro livro. Cheguei em casa com esta tarefa e
me tranquei no quarto. S sa de l quando terminei a ltima palavra. Fiquei to
entusiasmada com a ideia de ler um livro inteiro que minha me batia na porta pedindo para
eu ir lanchar, jantar, e nada... L fiquei at terminar meu primeiro livro, da primeira ltima
linha. Era a histria de Polyanna (PORTER, 1983), a menina do jogo do contente, que
depois muito me ajudou a superar os obstculos, os beijos fatdicos e as barreiras que
pareciam intransponveis. E peguei gosto pela leitura, especialmente pela Literatura e seus
contos, que me en-cantam at hoje. Com as histrias, pude andar por matas com Iracema,
conheci Grandes Sertes e Veredas, chorei de soluar com a Dama das Camlias, fiquei em
dvida, como Bentinho, sobre Capitu, e conheci Vidas Secas, Angstia, Cortios,
Desassossegos, Admirveis Mundos Novos e Cidades Sitiadas3.
Mudamos de Patos de Minas para Uberlndia, tambm em Minas Gerais, pois
minha me queria que fizssemos faculdade, e esta era a nica cidade da regio em que
havia uma universidade. Na stima srie em 1987 em Uberlndia, numa escola estadual, a
professora da disciplina de histria, Dona Ilka, nos falou sobre os regimes polticos, e tenho
lembrana de me apaixonar por saber da existncia dos russos, de Cuba, da Revoluo
Era estranho saber que tnhamos passado por uma ditadura, e espantei-me com o fato de
que ainda no tnhamos um presidente eleito pelo voto popular. Teve incio ali meu interesse
pela histria e pela Poltica.
Eu, que desde a primeira srie fazia parte do colegiado da escola e sempre estive
frente como representante de classe, comecei a aliar meu gosto pela leitura com o gosto
3Iracema (ALENCAR, 1991); Grande Serto Veredas (ROSA, 1956/2005); A Dama das Camlias (DUMAS
FILHO, 1848/1965); Dom Casmurro (ASSIS, 1899/2003); Vidas Secas (RAMOS, 1938/2006); Angstia (RAMOS, 1936/2003); O Cortio (AZEVEDO, 1890/2009); O livro do Desassossego (PESSOA, 1999); Admirvel Mundo Novo (HUXLEY, 2001); e A Cidade Sitiada (LISPECTOR, 1998).
-
Captulo I Eu, viajante, convido: vamos juntos, de mos dadas?
23
pela poltica e militncia. No incio, participar do colegiado era s um jeito que arrumei para
ficar mais tempo na escola (porque adorava), mas depois foi se transformando em uma
constante, pois percebi que podia ajudar a tornar realidade uma ideia ou uma reivindicao.
Com 14 anos de idade, junto com outros colegas, liderei um movimento pela pavimentao
da quadra de esportes da escola e conseguimos, com vrias aes, uma visita ao gabinete
do prefeito da cidade, que recebeu de nossas mos um pedido por escrito e que,
posteriormente, veio a realizar no s a pavimentao, como a cobertura da quadra.
No ensino mdio, que naquele tempo era chamado de colegial, devo dizer de duas
experincias que me marcaram. A primeira foi o meu ingresso no mercado de trabalho. Meu
primeiro trabalho, inclusive com carteira assinada, foi como secretria de uma escola, com
15 anos de idade. Era um colgio que oferecia cursos pr-vestibulares e que, quando eu
estava no segundo colegial, abriu o ensino mdio, e onde estudei os dois ltimos anos antes
de ingressar na universidade. A escola pregava um diferencial em relao a outros cursos
por manter sempre 40 alunos por sala, algo que, naquela poca, nas escolas particulares do
ensino mdio, em Uberlndia, era inovao. Os cursos sempre tinham salas lotadas, com
mais de 100 alunos e professores com microfones em palcos.
O segundo e o terceiro colegiais (nos anos de 1990 e 1991) eu fiz nesta escola,
embora eu no pagasse a mensalidade, por trabalhar nela. Era uma rotina rdua: estudava
de manh e s tardes e noites trabalhava no mesmo local. Outra experincia digna de nota
foi a de ter contato com vrios professores marcantes, que tinham uma viso bem
diferenciada sobre Educao e ensino. Destes, aqueles relacionados s Cincias Humanas
foram os mais significativos: Luis Bustamante (ministrava Geografia Geral), Winston
(Geografia do Brasil), Antnio Sacco (Histria Geral), Yasbeck (Histria do Brasil), Csar
(Literatura), entre outros. Estes professores, junto com outros colegas, montaram em 1991,
ano que antecedeu minha entrada na universidade, um cursinho preparatrio para o
vestibular denominado Prxis. E foi neste curso que pude ter contato pela primeira vez com
tericos como Marx, Engels, Adorno, Foucault e, inclusive, Freud, Melanie Klein e Piaget. O
Prxis tinha o intuito de oferecer um ensino aprofundado; era mais que um curso
preparatrio para o vestibular, pois todos os professores relacionavam suas matrias a
determinada temtica, como, por exemplo, o tema Trabalho, que fazia parte inclusive da
disciplina de Matemtica, em que aprendemos a realizar clculos de mais-valia. A ideia
inovadora era preparar o aluno no apenas para passar no vestibular, mas para
compreender o mundo e as coisas de modo crtico. Devo dizer que, a esta poca, a
disciplina de histria era a minha preferida, assim como Literatura e Portugus.
Em 1992, ingressei na Universidade Federal de Uberlndia (UFU), no curso de
Direito. Nesse ano, houve uma tentativa do governo Collor de no empossar o reitor da
UFU. O reitor, Nestor Barbosa, tinha sido eleito pelo voto popular da comunidade
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Captulo I Eu, viajante, convido: vamos juntos, de mos dadas?
24
universitria, mas foi impedido de tomar posse4 pelo fato de ser ligado ao Partido dos
Trabalhadores (PT). Para emposs-lo foi realizada uma greve e a ocupao do prdio da
reitoria durante 11 meses. Era o meu primeiro ano na universidade e, assim como outros
alunos, participei do movimento grevista.
Ainda neste 1992, ocorreu o impeachment do presidente Collor e, como tantos, fui
uma das caras pintadas gritando Fora Collor!, objetivando a mudana nos rumos que o
pas tomava. Deste modo, em meio a outros acontecimentos, iniciei minhas militncias no
movimento estudantil universitrio e no campo poltico partidrio5.
Cursei a graduao em Direito durante um ano, fiquei insatisfeita e resolvi sair e
prestar vestibular para Psicologia, tambm na UFU. Ao abandonar o Direito para cursar
Psicologia, tive como principal motivo o fato de que acreditava que essa disciplina poderia
me ajudar a mudar o mundo. Jovem e sonhadora, percebi que o Direito iria me amarrar em
burocratismos e legalismos reacionrios. Alm disso, imaginava que a Psicologia poderia,
ao contrrio, me ajudar a transformar um pouco a realidade. Diferentemente dos meus
colegas de classe, nunca concebi a Psicologia apenas como um estudo para ajudar o
indivduo e sempre me interessei pelas disciplinas que tratavam dos fenmenos grupais.
Na Psicologia, durante os cinco anos de graduao, paralelamente aos estudos,
militei no movimento estudantil no Diretrio Acadmico, fato que relato por julgar de suma
importncia para compreenso dos rumos tericos e metodolgicos que fui tomando para
minha construo como profissional6.
Logo no incio da graduao, gostei muito da disciplina Psicologia Diferencial, na
qual a professora Waldiva, behaviorista, nos ensinava o trabalho com crianas com
Sndrome de Down e outras sndromes. Aos poucos, fui me aproximando mais dos
contedos das disciplinas de Psicologia Social, Psicologia Comunitria e, especialmente, da
Psicologia Educacional e Escolar.
A criticidade dos professores que lecionavam matrias relacionadas rea
educacional e suas interfaces, alguns dos quais de outros departamentos da universidade
(Educao, Histria, Cincias Sociais), aliou-se ao meu desejo de conhecer tericos que
manifestavam o desejo de transformao e mudana social. Nos primeiro e segundo anos,
4 Sobre este acontecimento ver: Prieto, E. C. Universidade Federal de Uberlndia: recortes de uma
histria. Uberlndia: ADUFU, 2009. 5 Filiei-me ao PT em 1992 e fui da corrente Trabalho e depois militei como Independente na Juventude
Petista de Uberlndia MG. A partir de 1995, me afastei da militncia partidria, para estar no movimento estudantil universitrio, e depois outro espao de militncia foi atuar como colaboradora no Conselho Regional de Psicologia MG (CRP-MG). Atualmente, colaboro com o Grupo de Trabalho (G.T.) Memria da Psicologia no Conselho Regional de Psicologia de So Paulo (CRP-SP). 6 Cito uma pesquisa que relata como o movimento estudantil contribui para a constituio do psiclogo, de:
MORTADA, S. P. Formao do Psiclogo: experincias de militantes estudantis. Psicologia, Cincia e Profisso, Braslia, v. 1, n. 25, p. 414-433, set. 2005. Fico feliz ao dizer que o autor desse artigo foi militante estudantil no mesmo perodo que eu, ele na Universidade de So Paulo e eu na UFU, e que nos encontramos em alguns eventos dessa poca.
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Captulo I Eu, viajante, convido: vamos juntos, de mos dadas?
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fui monitora da disciplina Sociologia, e a professora Mnica Abdala gostou tanto do meu
trabalho na Psicologia que me levou para ser sua monitora tambm no curso de Cincias
Sociais. Para mim, era um privilgio poder colaborar com ela nesta disciplina nas Cincias
Sociais, alm de ser uma primeira experincia de ensino, mesmo que de monitoria, para os
alunos do curso superior.
Nas disciplinas relacionadas rea educacional, via quo reverberavam em mim
certos textos que apontavam para a importncia da escola na construo psquica e no
desenvolvimento das pessoas, e de um novo modo de organizao social. Um dos textos
falava do quanto a escola faz diferena na vida da criana, outro dizia da importncia de se
resgatar a alegria na escola, e muitos apontavam a necessidade de mudana e
transformao social defendendo uma educao que contribuiria para as pessoas e para o
pas7.
Um livro indicado na disciplina Histria da Educao despertou-me curiosidade e
interesse. O livro era Educao e Mudana (1979), de Paulo Freire (1921-1997). Logo que
iniciei a leitura percebi que o mesmo era traduzido para o portugus. Isso me intrigou a
entender por que um autor brasileiro teve um livro traduzido para o portugus; ele no
escrevia em portugus? No prefcio, Moacir Gadotti conta que o autor escreveu no exlio
essa obra, que coincide com a volta de Freire ao Brasil. Fui ento buscar conhecer a vida de
Paulo Freire e compreender por que ele foi exilado, o que havia escrito...
Na disciplina Mtodos e Tcnicas de Pesquisa I, na qual tnhamos que elaborar um
projeto de pesquisa, lembro-me que elaborei um projeto para conhecer a pedagogia de
Paulo Freire. Este interesse pelo autor continuou por anos a fio, e meus primeiros trabalhos
apresentados em eventos, ainda na UFU, foram sobre este tema. Na ocasio, pedi a uma
professora da rea de Psicologia Educacional e Escolar que me orientasse, como iniciao
cientfica, neste projeto de pesquisa que havia elaborado sobre o autor e sua obra. E, para
minha surpresa, ela disse que aquilo no era Psicologia, e sim Pedagogia. Frustrada,
procurei orientao com outro docente, e o professor Ccero, que era do Departamento de
Cincias Sociais, me supervisionou na leitura e escrita de algo que se transformou numa
monografia para concluso da disciplina de Mtodos e Tcnicas de Pesquisa II.
O que me encantou em Educao e Mudana foi que a obra preconizava a ideia
da transformao da realidade por meio de uma ao dos homens sobre a mesma. O
captulo O papel do trabalhador social no processo de mudana, posso dizer que, junto
com vrios outros textos que li, com essa mesma temtica, mudaram meu modo de ver o
mundo. O autor nos fala do que fica esttico e do que se modifica e nos relata de
7 Foram muitos textos, mas escolhi citar aqui duas destas referncias: SNYDERS, G. A alegria na escola.
Traduo de Bertha H. Guzovitz e Maria C. Caponero. So Paulo: Manole, 1988; e SILVA, R. N. et. al. O descompromisso das polticas pblicas com a qualidade do ensino. Cadernos de Pesquisa, n. 84, p. 5-16, fev. 1993.
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Captulo I Eu, viajante, convido: vamos juntos, de mos dadas?
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profissionais que optam pela antimudana e daqueles que optam pela transformao. Alm
disso, enfatiza que as transformaes ocorrem por meio da tomada de conscincia, e da
percepo da alienao atravs da Educao. E tudo isso fez com que eu percebesse qual
era o meu caminho. Paulo Freire (1979) falava, sobretudo, em mudana de percepo, em
conscincia8; e no eram estes tambm objetos de estudo da Psicologia? No acreditei na
professora que me disse que aquilo era Pedagogia e no Psicologia, como se as coisas
fossem assim separadas e dicotomizadas. Assim, fui aos poucos me interessando pela
relao da Psicologia com a Educao.
Nas disciplinas de Psicologia Escolar e Problemas de Aprendizagem (PEPA I e II),
os textos referentes rea educacional chamaram-me a ateno para os desafios e a
contribuio da prtica do psiclogo neste contexto. As professoras Maria Jos Ribeiro e
Slvia Maria Cintra da Silva nos apresentaram os autores crticos da rea. Recordo-me
quando li pela primeira vez um texto de Maria Helena Souza Patto. Tratava-se da introduo
do livro Psicologia e Ideologia: uma introduo crtica Psicologia Escolar (PATTO,
1981/1984)9. O trecho que reproduzo abaixo me chamou a ateno e, na poca em que li,
sublinhei-o, escrevendo ao lado esta expresso de espanto: triste!
Em suma, tal anlise poder fornecer dados que permitam verificar as hipteses de que os psiclogos escolares, tal como os professores primrios, mas num nvel de sofisticao cientificista maior, tm sido veculos da ideologia dominante, estando, portanto, engajados num processo de colaborao com a manuteno do sistema social onde se inserem (p. 14).
Foi um susto: eu, sonhadora, achando que a Educao era o caminho, de repente
descobri, por meio da pesquisa realizada por Patto, que os psiclogos escolares estavam do
outro lado, contribuindo para a alienao, e no para a transformao! Devo dizer que,
nesse tempo, eu havia lido autores das Cincias Sociais, da Filosofia e da Educao e
outros da Psicologia que tinham uma viso crtica sobre a realidade. O olhar marxista j
fazia parte de minha trajetria desde quando cursei o colegial, pois, como eu disse, foi
nessa poca que fui apresentada aos principais escritos de Marx e Engels e de outros
tericos contemporneos. Ao ler a indignao de Patto quanto prtica exercida pelos
psiclogos escolares investigados por ela, suas crticas a estas prticas e tambm os
apontamentos que a autora fazia para mudana na Psicologia Escolar, recordo-me de ter
tido sentimentos ambguos. Por um lado, fiquei chocada com o que era denunciado pela
autora e, por outro, senti-me mais acolhida em minhas ideias de transformao.
8 Devo dizer que depois aprendi as diferenas entre os conceitos de conscincia em Paulo Freire e em
alguns autores clssicos da Psicologia, da Filosofia e tambm em Marx, mas, neste contexto, no necessrio adentrar nessas especificidades. 9 Recentemente achei esse texto, em xerox amarelecido e com minhas anotaes datadas do ano de
1995.
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Mais tarde, lendo Psicologia e Ideologia: uma introduo crtica Psicologia
Escolar (PATTO, 1981/1984) de modo aprofundado, lembro de pensar que era muito bom
saber que algum na Psicologia, especialmente na Psicologia Educacional e Escolar,
tambm pensava em transformao. Foi quando tive contato com a discusso da autora
referida sobre a produo do fracasso escolar, sobre o papel do psiclogo no contexto
educacional e sobre a existncia de alguns modos de se pensar a Psicologia e, tambm,
sua interface com a Educao. Nesse momento iniciei a compreenso sobre as diferenas
entre as concepes atualmente denominadas crticas e as no crticas10. Rememoro com
carinho as aulas de Maria Jos Ribeiro sobre estes temas. Seu entusiasmo com a
Psicologia Educacional e Escolar e seu modo de apresentar PEPA era instigante. No sei
dizer ao certo como foi, mas me lembro de pensar na ocasio: um dia eu quero ser igual a
esta professora! Quero ser igual a ela quando eu me formar. Inclusive, eu disse isso a ela
vrias vezes, pois sua paixo em ensinar Psicologia Educacional e Escolar e seu modo de
nos fazer ficar apaixonados por esta foram algumas das coisas que me trouxeram at aqui.
No oitavo perodo do curso de Psicologia realizei um estgio profissionalizante
intitulado Grupo de Desenvolvimento e Aprendizagem (GDA), com as professoras Slvia
Maria Cintra da Silva, Maria Jos Ribeiro e Eleonora Estela Toffoli Ribeiro, que muito
ampliou minha viso sobre a prtica do psiclogo escolar. O estgio tinha como objetivo
atender crianas com histrico de fracasso escolar. O propsito era realizar um atendimento
em Psicologia Escolar que contribusse com estas crianas, suas famlias e tambm a
escola. A principal tarefa era rever os processos institucionais que levaram estas crianas
ao no aprender na escola, com intuito de superao. O GDA atuava com as crianas,
seus familiares e com a escola, buscando realizar uma interveno no trip produtor
daquele fracasso mas tambm potencial produtor de um sucesso escolar. Nesse perodo,
as leituras de textos de Paulo Freire, Maria Helena Souza Patto, Bourdieu, Passeron,
Baudelot, Establet, Moacir Gadotti, Demerval Saviani e outros abriram possibilidades
imensas de se pensar a relao entre escola e sociedade, a Educao, e a Psicologia
Educacional e Escolar com novas formas de atuao11.
10
Deste perodo destaco as leituras de: PATTO, M. H. S. Introduo a Psicologia Escolar. 3. ed. So Paulo: T.A. Queiroz, 1997. [1. ed. 1981]; PATTO, M. H. S. O fracasso escolar como objeto de estudo. Cadernos de Pesquisa. So Paulo: n. 65, p. 72-77, mai. 1988; PATTO, M. H. S. A famlia pobre e a escola pblica: anotaes sobre um desencontro. Psicologia USP, v.3, n. 1, p. 107-121, 1992; PINTO, F. C. E GRINSPUN, M. P. S. Os especialistas em educao: subsdios para uma anlise do fracasso escolar. Frum Educacional, vol. 9, n. 3, p. 71-81, jul.set. 1985; SILVA, M. A. S. A melhoria da qualidade de ensino: do discurso ao. Cadernos de Pesquisa, n. 84, p. 83-86, fev. 1993; SOARES, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. 11. ed. So Paulo: tica, 1986. 11
Esses tericos foram estudados tambm nas disciplinas Histria da Educao e Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1 e 2 graus e em textos de outros autores ou dos prprios. De um modo geral, essas referncias representam parte da Sociologia francesa crtica, assim como da Pedagogia libertria ou libertadora, algo bastante difundido a partir dos anos 1980 no Brasil.
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Destaco desta fase de minha trajetria a leitura de dois textos que muito me
impactaram. Trata-se das publicaes: A questo do rendimento escolar: mitos e
preconceitos, de Marilene Proena Rebello de Souza e colaboradores (1989); e A histria
no contada dos distrbios de aprendizagem, de Ceclia Azevedo Lima Collares e Maria
Aparecida Afonso Moyss (1992). O primeiro trazia um histrico de como foram construdas
algumas teorias sobre o fracasso escolar, em grande parte justificadas pela questo
ideolgica e de manuteno do sistema, e tambm pela individualizao das questes
escolares. As autoras apontavam que era necessrio um olhar para o que ocorre nas
escolas, em vez do que geralmente era abordado pelos psiclogos, uma ateno somente
para aquele que no aprende na escola. O outro texto explicava como, ao longo do tempo,
as teorias sobre as chamadas dificuldades de aprendizagem foram justificadas pelo campo
mdico, biologizando os fenmenos escolares, de modo a culpabilizar o indivduo,
retificando o saber mdico como forma de soluo.
No conjunto, estas duas referncias representaram para mim um tapa na cara dos
prprios psiclogos que tinham como foco explicaes individualistas sobre o que ocorre
com aquelas crianas que, supostamente, no aprendem na escola, objeto de estudo
principal da Psicologia em sua interface com a Educao. Os autores apresentavam uma
viso crtica que no aceitava as explicaes comuns que se davam at ento para o
fenmeno do no aprender e apontavam a necessidade de uma reviso no modo de
pensar sobre este tema que muito me chamou a ateno. Acredito, inclusive, que ainda hoje
estes autores tm contribudo imensamente com seus estudos e publicaes, por se
dedicarem a apontar como tambm os psiclogos e outros profissionais tm construdo com
suas teorias explicaes falhas sobre o no aprender na escola, em muitos casos
colaborando para a construo do fracasso escolar.
No estgio do GDA, a orientao e superviso de Slvia Maria Cintra da Silva, em
especial, foi um marco em minha formao de psicloga. Essa professora, alm de nos
apresentar s referncias crticas (algumas aqui citadas), tambm trazia um especial
interesse pelas Artes e pelo modo como este campo de conhecimento poderia ampliar a
forma de atuao do psiclogo escolar. Com sua influncia, entendi que meu interesse
pelos contos, pela msica, Literatura e histria, algo que julgava alijado do que poderia fazer
como psicloga, poderia se basilar como instrumental na minha atuao. Slvia incentivava a
mim e aos outros estagirios a conhecer o mundo das Artes e, a partir deste conhecimento,
buscar ali-lo ao nosso fazer na Psicologia e na Psicologia Educacional e Escolar12.
12
Slvia Maria Cintra da Silva, posteriormente, escreveu sobre a contribuio da arte na formao de estagirios de Psicologia e psiclogos escolares na tese: SILVA, S. M. C. Arte e educao na confluncia das reas, a formao do psiclogo escolar. 2002. Tese (Doutorado), Universidade Estadual
de Campinas, 2002.
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Uma lembrana desse perodo foi a viagem que fiz de oito horas de nibus de
Uberlndia cidade de So Paulo s para ver a minha primeira exposio de arte no Museu
de Arte de So Paulo (MASP): nada menos do que a exposio de Monet (1840-1926)!
Depois dessa primeira experincia de atuao em Psicologia Educacional e Escolar com
Arte, pude ir aos poucos entendendo que meus conhecimentos em Psicologia e Educao
poderiam ser ampliados. Compreendi que o meu olhar sobre os seres humanos e o mundo
poderia sofrer mudanas a partir deste encontro com as Artes e outras reas do
conhecimento como a histria. Vejo hoje como tudo isso me constitui como pessoa e
profissional e como este encontro com Slvia me tornou no s uma psicloga melhor como
uma pessoa melhor, por ampliar meus sentidos, minha compreenso do humano e,
sobretudo, minha sensibilidade. As histrias de bichos-foiarada que ouvia do meu pai, bem
como as msicas e os poemas que eu tanto adorava, agora podiam adentrar minha prtica
como psicloga, ampliando meu modo de atuao.
Devo destacar ainda que, na graduao, a participao ativa no movimento
estudantil universitrio e o fato de ter cursado disciplinas em outros cursos, como histria e
Cincias Sociais, contriburam para estabelecer meu interesse por leitura e discusso de
tericos crticos, assim como pela pesquisa, o que me levou ps-graduao.
II.. 11 AA ppss--ggrraadduuaaoo ee oo oobbjjeettoo ddee iinnvveessttiiggaaoo ddeessttaa tteessee
Ao terminar a graduao, prestei o processo seletivo do mestrado na Universidade
de So Paulo (USP), na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e na Pontifcia
Universidade Catlica de Campinas (PUC-Campinas). Ingressei no mestrado em Psicologia,
na rea de concentrao em Psicologia Escolar da PUC-Campinas e, ainda que o objeto de
estudo da minha dissertao tenha sido a formao do docente do ensino fundamental, as
leituras sobre histria da Educao e sobre a histria da Psicologia no campo da Educao
se constituram fonte de inspirao para a formulao que, posteriormente, tornou-se objeto
de anlise desta tese.
Outro incentivo para a constituio deste objeto foi ter conhecido pessoalmente
alguns autores da Psicologia Educacional e Escolar brasileira, como Samuel Pfromm Netto,
Geraldina Porto Witter, Raquel Souza Lobo Guzzo e Solange Muglia Weschler, o que me
levou a ter interesse em saber um pouco mais sobre a histria deles e de como a Psicologia
Educacional e Escolar foi se constituindo em campo de atuao dos mesmos. Um fato de
que me lembro dessa poca foi da professora Raquel Guzzo mostrar a mim e aos outros
alunos da ps-graduao a sala da Associao Brasileira de Psicologia Escolar e
Educacional (ABRAPEE), que ficava no campus Swift da PUCCAMP, em que estudvamos.
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Guzzo perguntou se queramos nos filiar e explicou os objetivos da Associao; depois,
levou os folhetos de filiao e todos ns os preenchemos para nos afiliarmos. Conheci ento
a Revista da ABRAPEE e tambm o Congresso Nacional de Psicologia Escolar e
Educacional (CONPE). Aos poucos fui sabendo mais sobre como estava constituda a rea
em nosso pas. Recordo-me tambm do professor Pfromm Netto contando sobre como
havia sido a sua participao na comisso de avaliao para diplomar os primeiros
psiclogos brasileiros. Ele dizia que muitos requeriam o ttulo, e nos contou os bastidores
desse processo.
E, aliando meu gosto por contar histrias, pela Literatura, Poltica, Arte, Psicologia,
Educao e histria foi que este trabalho foi sendo gestado, antes apenas como uma
inquietao sem muita configurao, at chegar ao que agora se apresenta aqui como tese.
A aproximao com a historiografia se deu, especificamente, na escrita da dissertao de
mestrado.
Na minha dissertao, cujo tema foi Formao docente: um estudo com
professores do ensino fundamental e estudantes de Pedagogia13 (BARBOSA, 2001), sob
orientao de Samuel Pfromm Netto, escrevi alguns captulos que, no seu bojo, traziam
alguns elementos histricos. No primeiro captulo, intitulado Histria da Educao no Brasil
e implicaes na formao docente, tentei configurar como ao longo do tempo a formao
dos docentes foi articulada no pas. Para isso, busquei elementos do histrico da formao
de professores no Brasil, desde os professores de primeiras letras, passando pelas Escolas
Normais, cursos de Magistrio, at o ano de 2000.
No captulo Perfil do professor e sua formao hoje, tratei de escrever como
estava a situao dos professores naquele momento de transio legislativa, em plena
implementao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDBEN). No ltimo
captulo, Formao permanente: um caminho escrevi um subtpico intitulado A Psicologia
na formao docente, no qual esbocei um caminho histrico que a Psicologia havia
percorrido no que tange formao de professores.
Tudo isso, pode-se dizer, despertou mais e mais o meu interesse por compreender
melhor como a Psicologia Educacional e Escolar se constituiu no Brasil. Nessa ocasio,
iniciei o processo de buscar referncias existentes sobre a histria da interface entre
Psicologia e Educao e constatei que seria interessante desenvolver uma pesquisa com
este foco.
Ao terminar o mestrado, fui professora no Instituto Luterano de Ensino Superior da
Universidade Luterana do Brasil (ILES/ULBRA-Itumbiara-GO), durante os anos de 2001 a
2005. Tambm fui professora da UFU, como substituta, nos anos de 2003 e 2004. Na
13
Essa dissertao contou com o apoio de bolsa de mestrado do CNPq durante os anos de 1999 a 2001.
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ULBRA, ministrei as disciplinas: Psicologia Geral, Psicologia da Educao (em trs
perodos: Psicologia da Educao I, II e III) no curso de Pedagogia, e Sistemas e Teorias da
Psicologia na graduao em Psicologia. Na UFU, fui responsvel pela docncia de:
Psicologia Escolar e Problemas de Aprendizagem (PEPA) e Histria e Sistemas em
Psicologia (HSP), o que fez aumentar minha vontade de adentrar no estudo da histria da
Psicologia e da rea de Psicologia Educacional e Escolar.
Tambm digno de nota que, durante meu pero