Exegese de Lucas 24

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INSTITUTO JOÃO CALVINO UMA EXEGESE DE LUCAS 24:36-49 WELITON BORGES DE EÇA RECIFE 2015

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Uma proposta exegética com o método histórico-gramatical

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  • INSTITUTO JOO CALVINO

    UMA EXEGESE DE LUCAS 24:36-49

    WELITON BORGES DE EA

    RECIFE

    2015

  • 2

    Weliton Borges de Ea

    UMA EXEGESE DE LUCAS 24:36-49

    Trabalho de pesquisa exegtica em Lucas 24:36-49;

    apresentado disciplina de Exegese do Novo

    Testamento I, no Instituto Joo Calvino como

    requisito parcial a obteno do ttulo Bacharel em

    Divindade.

    Professor: Abram de Graaf.

    RECIFE

    2015

  • 3

    Sumrio Contexto Histrico Geral ................................................................................................ 4

    Gnero Literrio ....................................................................................................... 4

    Autor .......................................................................................................................... 5

    Destinatrios .............................................................................................................. 6

    Objetivo ..................................................................................................................... 6

    Limites da passagem ................................................................................................. 7

    Analise Literria ............................................................................................................. 9

    Texto Grego ............................................................................................................... 9

    Variantes Textuais. ................................................................................................. 10

    Estrutura do texto ................................................................................................... 11

    Estabelecimento do texto ........................................................................................ 14

    Analise Gramatical ....................................................................................................... 17

    Lucas 24:36 .............................................................................................................. 20

    Lucas 24:37 .............................................................................................................. 23

    Lucas 24:38 .............................................................................................................. 24

    Lucas 24:39-40 ........................................................................................................ 26

    Lucas 24:41-43 ........................................................................................................ 28

    Lucas 24:44 .............................................................................................................. 31

    Lucas 24:46-48 ........................................................................................................ 33

    Lucas 24:49 .............................................................................................................. 36

    Concluso ..................................................................................................................... 38

  • 4

    Exegese de Lucas 24: 36-49

    36Falavam ainda estas coisas quando Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: Paz seja

    convosco! 37 Eles, porm, surpresos e atemorizados, acreditavam estarem vendo um esprito.

    38Mas ele lhes disse: Por que estais perturbados? E por que sobem dvidas ao vosso corao?

    39Vede as minhas mos e os meus ps, que sou eu mesmo; apalpai-me e verificai, porque um

    esprito no tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho. 40Dizendo isto, mostrou-lhes as

    mos e os ps. 41E, por no acreditarem eles ainda, por causa da alegria, e estando admirados,

    Jesus lhes disse: Tendes aqui alguma coisa que comer? 42Ento, lhe apresentaram um pedao

    de peixe assado [e um favo de mel]. 43E ele comeu na presena deles.

    44A seguir, Jesus lhes disse: So estas as palavras que eu vos falei, estando ainda

    convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim est escrito na Lei de Moiss, nos Profetas

    e nos Salmos. 45Ento, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras; 46e lhes

    disse: Assim est escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro

    dia 47e que em seu nome se pregasse arrependimento para remisso de pecados a todas as

    naes, comeando de Jerusalm. 48Vs sois testemunhas destas coisas. 49Eis que envio sobre

    vs a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, at que do alto sejais revestidos de

    poder.1

    Contexto Histrico Geral

    Gnero Literrio

    Atualmente h vrias tentativas de definir bem o gnero literrio dos evangelhos,

    principalmente comparando estes escritos aos escritos do mundo antigo, dos dois primeiros

    sculos da igreja Crist. Alguns como K. L. Schimidt, um dos pais da crtica da forma, vo

    classificar os evangelhos como literatura popular e no como obra literria. J outros como C.

    H. Dodd disse que os evangelhos espelhavam o querigma cristo primitivo, sou seja, era uma

    expresso da pregao sobre Cristo. A proposta mais popular a de que os evangelhos so

    biografias, ao estilo grego antigo2.

    1 BBLIA. Portugus. Bblia Sagrada. Traduo de Joo Ferreira de Almeida. Barueri: Sociedade Bblica

    do Brasil, 1997. Revista e Atualizada. (Doravante RA) 2 CARSON. D. A.; DOUGLAS J. Moo; MORRIS, Leon. Introduo ao novo testamento. So Paulo: Vida

    Nova, 1997, p. 53-55

  • 5

    De acordo com Berkhof os evangelhos tm uma caracterstica literria nica; eles so

    sui generis. Por isso os evangelhos no podem ser considerados uma narrativa histrica, nem

    uma biografia antiga. Os quatro evangelhos so um nico retrato qudruplo do Salvador, uma

    representao qudrupla dos querigma apostlico3.

    Os evangelhos so uma coletnea de histrias reais de Cristo, porm no tem uma ordem

    cronolgica estabelecida, exceto aqueles do incio e fim da vida de Cristo. So obras dirigidas

    pregao e se destacam de tudo o mais no mundo antigo. Se faz necessrio, ento, reconhecer

    que no se pode forar os evangelhos a se enquadrarem em qualquer estilo literrio antigo ou

    moderno. Conforme Carson (1997) diz: A singularidade da Pessoa de que tratam levou os

    evangelistas a criarem uma forma literria sem um claro paralelo (p. 55).

    Autor

    No h muita discusso sobre a autoria deste evangelho (entre os conservadores), de

    acordo com At 1.1 ambos, Atos e Lucas, foram destinados a mesma pessoa. A expresso entre

    ns se realizaram do em Lc 1.1 demonstra que o autor presenciou a pregao da obra de Cristo

    por meio dos discpulos. Lc 1.2 mostra que o autor no apenas presenciou alguns

    acontecimentos, mas que a ele foi transmitido a informao pelos que desde de o inicio foram

    testemunhas oculares e "ministros da palavra".

    De acordo com Berkhof a tradio da Igreja sempre atribuiu a autoria do Evangelho e

    do livro Ato a Lucas, o mdico amado. Os pais da Igreja atribuem unanimente este evangelho

    a Lucas e tambm o uso do pronome "ns" que se encontra em Atos e que coloca o autor junto

    com o apstolo Paulo em Roma, bem como o estilo de linguagem de um mdico grego, apontam

    para Lucas como o autor.

    O mais antigo manuscrito de Lucas, o P75, que datado de 175-225 A.D., atribui o livro

    a Lucas. Alguns ainda ressaltam a linguagem de estilo mdica, porm essa teoria j foi

    questionada, pois os mdicos do mundo antigo escreviam com uma linguagem parecida com a

    de outras pessoas. De toda forma, como Carson (1997) afirma, mesmo que a linguagem mdica

    no seja uma prova forte da autoria de Lucas, pelo menos a ideia no inconsistente com esta

    hiptese4.

    3 BERKHOF, Louis. Introduo ao Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p.25-27. 4 CARSON. D. A.; DOUGLAS J. Moo; MORRIS, Leon. Introduo ao novo testamento. So Paulo: Vida

    Nova, 1997, p. 127-128

  • 6

    At o presente momento a aceitao da autoria Lucas tem se mantido firme. As

    oposies no convincentes e nem permanecem por muito tempo entre os prprios crticos. Os

    que questionam a autoria do evangelho no o fazem pelo menos no com tanta dedicao

    livro de Atos. Porm como afirma Berkhof tanto Lucas como Atos permanecem ou caem

    juntos5.

    Destinatrios

    O prefcio do Evangelho deixa claro quem era o destinatrio do livro: Tefilo. Porm

    no existe nenhuma outra informao sobre quem era Tefilo. Muitos sugerem que Tefilo

    um nome genrico para todos os cristos6. Porm a opinio mais comum atualmente que

    Tefilo era um indivduo e foi tratado por Lucas de forma parecida que Felix (At 23.26; 24.3)

    e Festo (At 26.25). A linguagem muito prxima ao grego clssico tambm indica que o leitor

    era de fala grega (e o autor tambm) e que o evangelho foi escrito para os gentios convertidos.

    Porm apensar de ser destinado inicialmente a um indivduo o Evangelho foi sempre

    reconhecido como um texto entregue a Igreja de Cristo de todos os tempos7.

    Objetivo

    O objetivo de Lucas ter escrito o evangelho claramente afirmado no prefacio para

    que tenha certeza das verdades em que fostes instrudos (1.4). Isso indica que o livro no foi

    apenas escrito para confirmar o ensino recebido por Tefilo e os gentios, mas tambm para

    fortalecer a f dele.

    Tambm foi objetivo de Lucas oferecer um escrito em ordem da vida de Jesus, depois

    de "acurada investigao. Esta ordem no entanto no deve ser entendida em sentido

    cronolgico, exceto os acontecimentos do incio e fim da vida de Jesus. Seu desejo apresentar

    a verdade sobre os acontecimentos da vida de Jesus. Isso pode ser conferido pela forma nica

    nos sinticos de como o autor relaciona os acontecimentos com a histria secular (2.1,2; 3.1,2),

    cita outras pessoas envolvidas no acontecimento que vai alm dos personagens principais (7.40;

    8.3) e tambm a reao das pessoas diante do ensinamento de Cristo8.

    5 BERKHOF, 2014, p. 81 6 Esta teoria se baseia na etimologia da palavra que formada pela juno de mais a palavra .

    Que pode dar uma ideia de aquele que ama a Deus. 7 BERKHOF, 2014, p. 82 8 BERKHOF, 2014, p. 81-83

  • 7

    "Lucas, ao escrever seu Evangelho, tinha em mente as necessidades dos gregos e

    retratou Cristo como o homem perfeito, o Salvador universal" (BERKHOF, 2014, p.

    26)

    Limites da passagem

    Hendriksen em seu comentrio sobre Lucas expe uma ideia que pode ajudar bastante

    a entender a relao dos evangelhos entre si. Para ele todos os evangelhos quatro evangelhos

    compartilham de um tema geral, a saber, A obra que lhe Deste a fazer9.

    Sem dvidas este tema principal das narrativas pode ser verificado, mesmo que haja

    objetivos mais especficos em cada um dos evangelhos como j exposto no caso de Lucas.

    Todos os quatro evangelhos expem a vida e obra da mesma pessoa, o Senhor Jesus.

    Porm um esboo em comum para essa narrativa pode ser traado apenas para os

    sinticos. As principais divises so:

    I. Seu Princpio ou Inaugurao;

    II. Seu Progresso ou Continuao;

    III. Seu Clmax ou Consumao10.

    Pode-se verificar que o Clmax ou Consumao da narrativa est entre os captulos

    19.2824.53, mas ainda pode-se fazer mais uma diviso como sugerido por Hendriksen, que

    a (a) semana da paixo e (b) ressurreio e ascenso. Esta diviso clara no apenas pela

    cronologia, em que a semana da paixo comea no domingo e segue at a sexta feira, mas

    porque pode-se perceber um contraste. Na semana da paixo Jesus chega a Jerusalm em uma

    entrada triunfal e exaltado por uma multido, porm esta sesso (a semana) termina com o

    silencio da morte de Cristo, que foi abandonado por todos; comea na demonstrao de f de

    uma multido e termina com Cristo abandonado. A segunda sesso comea com o sbado e a

    madrugada do domingo, o silncio do sbado e a descrena dos discpulos no domingo, mas

    termina com a exaltao de Cristo aos cus e a promessa do evangelho (e discpulos) a todas as

    naes.

    Mais especificamente, o texto que o objeto de anlise deste trabalho se encontra como

    uma subdiviso do Clmax ou Consumao desta obra que foi dada a Jesus que seja feita.

    9 HENDRIKSEN, William. Comentrio do Novo Testamento, Exposio do Evangelho de Lucas. So

    Paulo: Cultura Crist, 2003, v 1, p. 73-74 10 Ibdem

  • 8

    Osborne defende que deve-se iniciar o estudo de anlise do gnero, no caso de uma narrativa,

    obtendo uma ideia do enredo. Um bom auxilio o diagrama abaixo11:

    Inicialmente pode-se aplicar o modelo acima, de forma mais abrangente, a toda a

    narrativa da Consumao (19.2824.53), porm ser mais til ao trabalho aqui proposto

    aplicar este modelo apenas ao enredo do captulo 24 de Lucas. Assim o enredo se d assim:

    Incio da ao (versculos 1 a 3) Nestes versculos inicia o enredo da exaltao de

    Cristo, a partir destes versculos introdutrios se inicia os relatos do anuncio da ressurreio e

    a reao dos ouvintes. Por isso estes trs primeiros versos servem como a introduo ao enredo,

    ao iniciar com o ministrio a respeito do corpo de Cristo.

    Gerao do conflito (versculos 4 a 35) Este perodo do enredo tem a os anncios da

    ressureio de Jesus feito pelos anjos (v. 6) e pelo prprio Cristo, ao abrir o entendimento dos

    discpulos (v. 31). Pode-se verificar que tanto as mulheres como os discpulos do caminho de

    Emas creram quando foi-lhes revelado a ressurreio, mas ao anunciarem a outros, estes no

    creem. Aqui se inicia o conflito do enredo, pois mesmo tendo sido avisado por Jesus que ele

    ressuscitaria os discpulos no conseguem crer ao ouvir sobre o assunto12.

    Conflito mais intenso (versculos 36 a 43) Entendendo-se que o conflito a

    incredulidade na ressurreio, aqui o uma intensificao pois como relatado em Mc 16.13 os

    onze no haviam crido no que os discpulos do caminho de Emas disseram. A intensificao

    se ao diante da presena de Jesus ressurreto ainda assim pensaram estar vendo um esprito e

    no Jesus. Ainda assim no estavam crendo, mesmo depois de Jesus mostrar as mos e os ps.

    11 Dillard, Raymond B. e Longman III, Tremper, p. 32 12 O versculo 12 no deixa claro que Pedro creu que Jesus tinha ressuscitado, mas que se maravilhou de

    no encontrar o corpo de Jesus depois de ouvir o relato das mulheres. Porm o paralelo de Marcos deixa claro que

    depois que os discpulos de Emas retornaram e relataram aos onze apstolos, eles no deram crdito aos dois

    discpulos. Mesmo que argumente-se que Mc 16.12,13 no se refira aos discpulos do caminho de Emas, a

    exortao de Cristo quanto a incredulidade dos apstolos confirma a ideia que Pedro, no necessariamente creu na

    ressurreio no versculo 12.

    Conflito

    mais

    intenso

    Conflito

    comea a

    elucidar-se

    Fim da

    ao

    Incio

    da ao Gerao do

    conflito

    Conflito

    original

    solucionado

    Clmax

  • 9

    Conflito comea a se elucidar (versculos 44 a 49) A questo da incredulidade comea

    a se resolver quando Jesus passa a explicar a Lei e os Profetas e mostrar que era necessrio que

    ele morresse e recitasse ao terceiro dia. Esta soluo para a incredulidade foi a mesma para as

    mulheres e para os discpulos do caminho de Emas, revelando que o problema da

    incredulidade deles estava diretamente relacionado a falta de confiana nas escrituras e na

    palavra de Cristo.

    Conflito original solucionado (versculos 50 a 51) A beno que Cristo dispensa aos

    seus discpulos mostra que o problema da incredulidade e falta de compreenso bblica havia

    sido resolvido, por isso o Senhor se retirou deles.

    Fim da ao (versculos 52 a 53) O enredo se inicia com a tristeza dos discpulos com

    a morte de Cristo e a sua ausncia do tmulo, porm finalizado com o jbilo dos discpulos e

    a ausncia do corpo de Cristo da terra.

    A aplicao do modelo proposto acima no delimita necessariamente uma percope, mas

    com certeza contribui para uma melhor analise desta delimitao.

    Este trabalho se prope a analisar os versculos 36 a 49 e entenderemos que estes

    versculos esto divididos em dois pargrafos, apensar de tratarem do mesmo assunto. O

    primeiro pargrafo (36 a 43) trata da apario de Jesus aos discpulos e Ele prova forma

    emprica a sua ressurreio. O segundo pargrafo (44 a 49) mostra como Jesus argumenta a

    necessidade da sua morte e ressurreio a partir das escrituras. As verses gregas NA28 e UBS4

    dividem o texto da mesma forma. Nas tradues para o portugus h algumas diferenas, mas

    na RA, RC e BJ dividem tambm em dois pargrafos, enquanto na NVI e NTLH os dois

    pargrafos so tratados como um s.

    Analise Literria

    Texto Grego

    Este trabalho tomar por base para a anlise da forma e das variantes textuais a edio

    do texto grego UBS4.

    36 , .

    37 . 38 ,

    ; 39

    ,

    . 40 . 41

  • 10

    , ; 42

    43 .

    44 , ,

    .

    45 46

    , 47

    . 48

    . 49 []

    .13

    Variantes Textuais.

    Este trabalho se prope a analisar as principais variantes textuais de Lucas 24:36-49,

    visto que a intenso ser objetivo, no sero consideradas pequenas variantes que no implicam

    em mudana de significado ou nfase no texto. Conforme disse Fee somente aquelas

    [variantes] que representam mudana de sentido devero ser discutidas na sua monografia

    [ensaio] exegtica14.

    A tabela abaixo tem o objetivo de reunir as principais variantes do texto, porm elas

    sero discutidas mais abaixo, no estabelecimento do texto. Ainda sero listas uma seleo das

    variantes de acordo com NA2715, UBS4 e NMGT16 e listada tambm os testemunhos com os

    smbolos de acordo com NA27.

    Versculo UBS4 Variantes Testemunhos

    36

    (99,5%)

    W 1.13 33 M f (aur vg) syp.h bopt

    P75 B D L 1241 it sys.c sa bomss

    ,

    -- D ir , P75 A B L 1 13 rell , ,

    P (W, 579) 1241 pc aur c f vg

    syp.h bopt

    38 (99,7%)

    Ac L W 1.13 33 M aur f vg sy bo

    13 O Novo Testamento Grego, Quarta edio revisada. Editado por Barbara Aland, Kurt Aland, Johannes

    Karavidopoulos, Carlo M. Martini e Bruce M. Metzger. (Stuttgart, Alemanha: United Bible Society, 1993/2001).

    Edio e Diagramao: Sociedade Bblica do Brasil, 2009. (Doravante UBS4) 14 FEE, D. Gordeon; STUART, Douglas. Manual de Exegese Bblica: Antigo e Novo Testamentos. So

    Paulo: Vida Nova, 2008, p. 257 15 Aland, Barbara and Kurt. .Novum Testamentum Graece. 27th ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft,

    1993 (Doravante NA27) 16 PICKERING, Wilbur N. New Majority Greek Text. [No publicado] Disponvel em

    http://www.walkinhiscommandments.com/pickering2.htm acesso em 20/03/2015

  • 11

    P75 A*vid B D it sa

    40

    -- 40 D ita, b, e, ff2, l, r1 sirc, s

    P75 B L N 1 33 579 892 1241 l 844 al

    (85%)

    W 13 M

    42 P75 B D L W 579 pc e sys as bopt Cl

    1 M (Unciais e Minusculos) Lec itb, q, com*, pal bopt Justino,

    Anfilquio, Epifnio Cirilo

    E* 13 157 1243 l 253 itaur, (c), f, ff2, l r1 vg

    46

    P75 B C* D L pc it samss bo Irlat

    72 pc sys (99,05%)

    A C2vid W 1.13 33 M aur f q vg syp.h samss

    47

    (0,5%)

    P75 B syp co

    (99,5%)

    A C D L W 1.13 33 M latt sys.h; Cyp

    B C* L N 33 l 844. L 2211 pc

    P75 A C W 1.13 M syh 565 pc D c pc lat

    49 [] A B C 13 M f q syh

    1 2 3 W l pc

    ou P75 D L 33 579 597 lat sys.p

    co

    Estrutura do texto

    [1]

    ,

    [2].

  • 12

    .

    ,

    [3]

    ;

    ,

    .

    [4]

    .

    [4]

    ;

  • 13

    [5]

    .

    ,

    []

    6

    ,

    .

    [6]

    ,

    [7]

  • 14

    .

    [8]

    .

    .

    Estabelecimento do texto

    Analisar manuscritos e escolher as variantes textuais que possivelmente formam o texto

    original no um trabalho que se faa sem pressupostos, conforme afirmou Anglada17. Portanto

    entendendo que no existe tal coisa como neutralidade no estudo dos manuscritos, faz-se

    necessrio esclarecer os pressupostos e o mtodo para a avaliao das variantes textuais antes

    de expor os argumentos.

    Uma explicao mais detalhada dos pressupostos assumidos e mtodo est disponvel

    no livro de Anglada:

    ANGLADA, Paulo. Manuscritologia do Novo Testamento. Levilndia: Knox

    Publicaes, 2014, p. 121-142

    Principais Pressupostos

    - Pressupostos no so apenas inevitveis, mas so necessrios. Assumindo isso deve-

    se ter especial cuidado em assumir os pressupostos corretos para a anlise do texto sagrado.

    - Inspirao dos autgrafos. O Esprito Santo o principal autor das escrituras, por isso

    assumido a inspirao verbal dos autgrafos. No uma inspirao mecnica, como se o

    17 Para uma melhor explicao da inevitabilidade e necessidade de pressupostos na exegese conferir as

    seguintes obras de Anglada: ANGLADA, Paulo. Manuscritologia do Novo Testamento. Levilndia: Knox

    Publicaes, 2014. Tambm: ANGLADA, Paulo. Introduo Hermenutica Reformada. Levilndia: Knox

    Publicaes, 2006 e ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Levilndia: Knox Publicaes, 2013

  • 15

    Esprito Santo tivesse ditado o texto. Nem uma inspirao mecnica como se a produo

    textual no fosse tambm obra do Esprito Santo.

    - A preservao do texto inspirado. De uma maneira ou outra Deus tem preservado, no

    em uma verso especfica, mas na multido de manuscritos a sua palavra. Conforme declara a

    Confisso de F de Westminster:

    O Velho Testamento em Hebraico (lngua vulgar do antigo povo de Deus) e o Novo

    Testamento em Grego (a lngua mais geralmente conhecida entre as naes no tempo em que

    ele foi escrito), sendo inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e

    providncia conservados puros em todos os sculos, so por isso autnticos e assim em todas

    as controvrsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal;18

    Como mtodos sero aplicados os seguintes requisitos (a) Atiguidade ou Pluraridade;

    (b) consenso de testemunhas ou nmero; (c) variedade de evidencia ou catolicidade; (d)

    continuidade; (e) respeitabilidade das testemunhas ou qualidade; (f) evidencia da passagem

    inteira ou contexto; (g) consideraes internas ou razoabilidade.19

    Abaixo segue a defesa para a escolha de cada variante indicada na estrutura acima. Para

    localizar a defesa h um nmero entre colchetes no texto acima que faz referncia a explicao

    abaixo.

    [1] Os manuscritos mais antigos citados (P75 B) so dos sculos III e IV, estes

    sugerem a omisso de . O testemunho de que aparece no texto tem como

    manuscrito mais antigo o W, que do IV/V sculo. Porm o testemunho a favor de

    no texto tem um consenso de 99,5% dos manuscritos e uma grande diversidade (catolicidade),

    enquanto o testemunho contrrio apenas do Egito. A continuidade da tradio e a qualidade

    dos manuscritos tambm favorecem que est no texto. Por estes motivos, percebe-se

    que mais coerente o texto escolhido acima.

    [2] H uma variante no texto que insere , , Omanson afirma que

    com certeza essas palavras so um acrscimo posterior, tirado talvez de Jo 6.2020. Ao conferir

    o aparato crtico de UBS4 pode-se verificar que h muitas variantes entre os manuscritos que

    contm essas palavras, isso expressa falta de consenso. Acrescenta-se a isso, que um grande e

    firme testemunho dos manuscritos de vrios lugares (gregos, Constantinopla e Egito) esto a

    favor da leitura proposta. O contexto literrio mostra mais probabilidade de que Jesus no tenha

    feito essa exclamao, pois logo depois feita uma pergunta sobre o assunto.

    18 Confisso de F de Westminster, Cap I. VIII 19 Para uma descrio melhor de cada item do mtodo, conferir: ANGLADA, Manuscritologia do Novo

    Testamento, p. 137-138. 20 OMANSON, Roger L. Variantes textuais do Novo Testamento: Anlise e avaliao do aparato crtico

    de O Novo Testamento Grego. Barueri, SP: Sociedade Bblica do Brasil, 2010, p. 156-157

  • 16

    [3] Novamente h uma enorme quantidade de variantes apoiando o plural

    (99,7%). tambm muito forte o testemunho do consenso e da catolicidade, pois

    pode-se notar que inclusive Ac que so da regio egpcia e so de datao do IV e V sculo

    se somam a maioria dos outros manuscritos inserindo a palavra no plural. Porm, h de se

    reconhecer que a variante no singular ou no plural no tm muita implicao no sentido da

    frase, porm pelo auto padro do grego lucano, mais provvel que haja a concordncia em

    nmero com o pronome que segue.

    [4] Este verso no aparece em alguns manuscritos (40, D e alguns outros) porm so

    poucos e os que defendem que o texto deve ser omitido na leitura o fazer ao sugerir que este

    versculo seja uma interpolao de Jo 20, porm h evidencia textual disso21. A quantidade de

    testemunho em favor do versculo, sua catolicidade e todos os critrios a que podem ser

    aplicados mostram claramente que muito provvel que este verso estava no texto original.

    [5] Para os editores da UBS4 e NA27, justificados por Omanson a referncia a favos

    de mel no faz sentido pois no aparece em tantos dos melhores representantes dos tipos de

    texto mais antigos, porm a variante aparece em 94% dos manuscritos inclusive em Justino,

    que do segundo sculo. Outro argumento usado que a igreja antiga tinha a prtica de usar

    mel na ceia e batismo e isso justificaria uma possvel adio ao texto para justificar a prtica.

    Porm mais provvel que os hereges (principalmente do Egito) fizessem alteraes no texto

    do que a igreja da linha ortodoxa que aceitava a bblia como texto sagrado. Outra resposta

    justamente que mais coerente fazer uma adio em um texto sobre batismo ou ceia para se

    justificar a prtica e no em um texto que est falando da ressurreio. Por estes motivos mais

    provvel que o texto seja .

    [6] 99,5% dos manuscritos aparecem com a forma , inclusive

    manuscritos mais antigos da regio do Egito como o A e o C. Novamente os requisitos da antiguidade

    (IV e V sculos), mais a variedade e a catolicidade so mais fortes para a leitura proposta.

    [7] Esta a variante mais importante deste texto, a que mais pode representar algum

    significado mais relevante no entendimento do texto. De acordo com Omanson difcil definir

    com base em evidncia interna, pois Lucas as duas preposies ( e ) juntamente com

    , tanto no evangelho como em Atos. Porm de acordo com os critrios escolhidos

    para analisar estas variantes faz mais sentido ficar com a leitura , pois esta aparece em 99,4%

    21 Omanson e Metzger sugerem que se realmente tivesse alguma interpolao o copista teria deixado

    pistas, com por exemplo no lugar de . (OAMNSON, 2010, p.157)

  • 17

    dos manuscritos, h consenso entre estes manuscritos, catolicidade incluem por exemplo, A

    C D.

    [8] Apesar dos colchetes NA27 e UBS4 inserem , mesmo com a omisso em P75

    D. No se pode negar que a expresso mais longa seja mais apropriada para um momento solene

    como o escrito no versculo 49, alm disso 99,5% dos manuscritos apoiando uma leitura mais

    longa um testemunho bem expressivo.

    Ento o texto estabelecido em formado de pargrafo fica:

    36 ,

    . 37 . 38

    , ;

    39 ,

    . 40

    . 41

    , ; 42

    43 .

    44 , ,

    . 45 46

    ,

    , 47

    . 48 . 49

    Analise Gramatical

    Antes de iniciar a anlise de cada verso necessrio esclarecer pelo menos alguns

    pontos: (a) os pressupostos hermenuticos utilizados; (b) uma agenda dos eventos no dia da

    ressureio e onde os eventos do texto esto; (c) uma anlise do perodo da apario de Cristo

    nos versculos 44-49.

    a. Os pressupostos hermenuticos utilizados

  • 18

    Como explicado na introduo anlise das variantes textuais impossvel no utilizar

    pressupostos na interpretao bblica, porm no apenas impossvel como recomendvel. O

    principal pressuposto que orientar a analise deste texto da doutrina da Suficincia das

    Escrituas conforme exposto na Confisso Belga, Artigos 3-7, Catecismo de Heidelberg no DS

    7 (mais especificamente P&R 21) e Confisso de F de Westminster captulo I. Decorrncias

    necessrias deste pressuposto so a infalibilidade das escrituras (e sua inerrncia22), que por sua

    vez gera a consequncia de no existir contradio real entre os paralelos, mas objetivos

    diferentes com as narrativas e por isso so ressaltados aspectos distintos de acordo com a

    intenso do autor.

    b. Os eventos no dia da ressureio.

    Como j comentado anteriormente os evangelhos no tem a inteno de apresentar todos

    os eventos relatados em ordem cronolgica, porm o dia da ressurreio em Lucas tem uma

    ordem cronolgica como podemos ver pelo constante uso de e e genitivos temporais.

    Lucas, entretanto, no narra todos os eventos deste glorioso dia, ento necessrio conferir nos

    outros trs evangelhos para entender qual foi a ordem dos eventos no primeiro dos sbados

    cristo.

    Ao estudar cada um dos evangelhos e buscar uma harmonizao dos eventos, depara-se

    com algumas dificuldades de entender se os relatos so dos mesmos eventos ou se h mais

    eventos. Por exemplo, van Bruggen defende que os dois discpulos de Marcos 16.12,13 no so

    os mesmos de Lucas 24.13-3523; As principais verses bblicas, por sua vez indicam que seja a

    mesma apario.

    Ento ser necessrio para estabelecer uma ordem cronolgica destes eventos ter por

    base os prprios textos paralelos de Mateus 28, Marcos 16, Lucas 24 e Joo 20 e 21, adicionado

    a isso a tabela dos Aparecimentos de Jesus ressuscitato sugerida na Bblia de Genebra24 e a lista

    de eventos indicada por Blumberg25.

    Tmulo vazio. (Mt 28.6; Mc 16. 2,6; Lc 24.3; Jo 20.1)

    As mulheres vo levar especiarias que tinha preparado ainda de madrugada.

    (Mt 28.1; Mc 16.2,3; Lc 24.1; Jo 20.1)

    22 O que quero dizer com inerrncia no caso dos evangelhos que no erros histricos nas narrativas e

    nem mentiras nos discursos. Tudo o que foi escrito por Lucas foi divinamente inspirado e os acontecimentos foram

    fatos. No me refiro a questes gramaticais, mas aos fatos. 23 BRUGGEN, Jakob van. Cristo na Terra. So Paulo: Cultura Crist, 2005, p. 274. 24 BIBLIA, Portugus. Bblia de Estudo de Genebra. 2. Ed. Barueri: Sociedade Bblia do Brasil; So

    Paulo: Cultura Crist, 2009, p 1366. 25 BLUMBERG, Craig L. Jesus e os Evangelhos: Uma introduo ao estudo dos 4 evangelhos. So Paulo:

    Vida Nova, 2009, p. 463-462

  • 19

    o Maria Madalena chega primeiro e v o sepulcro com a pedra removida.

    (Mc 16.4, 9; Lc 24.2; Jo 20.1).

    o Os anjos e o prprio Jesus aparecem a Maria Madalena. (Jo 20.11-17)

    As outras mulheres (possivelmente incluindo Maria Madalena, que v

    novamente) veem os anjos que anunciam a ressurreio. (Mt 28.1-7; Mc 16.4-6;

    Lc 24.4-8)

    As mulheres anunciam o que viram aos discpulos (Mt 28.8; Mc 16.7,8; Lc

    24.9,10), sendo que Maria Madalena chega primeiro e anuncia a Pedro e a Joo.

    (Jo 20.2, 18).

    Os discpulos ouvem as mulheres porm no creem. (Lc 24.11);

    Pedro e Joo vo ao sepulcro. (Lc 24.12; Jo 20.2-4)

    Joo creu26. (Jo 20.8)

    Jesus aparece a Pedro. (Lc 24.34; 1Co 15.5)

    Jesus aparece a dois discpulos que iam para Emas. (Mc 16.12,13; Lc 24.13-

    35);

    Jesus aparece a dez dos apstolos e outros com eles. (Mc 16.14; Lc 24.36-43; Jo

    20.19,20).

    Depois do domingo da ressurreio Jesus ainda se encontra com seus discpulos algumas

    vezes (Mt 28.16-20) para instru-los a certa de toda a Escritura (Lc 24.44-49).

    c. Uma diviso temporal no texto Lc 24.36-49.

    Como mostrado acima menos complicado localizar o momento do evento descrito em

    Lc 24.36-43 do que o momento(s) relatados dos versculos 44 em diante. De acordo com

    Hendriksen as opinies esto fortemente divididas a respeito dos versos 44 a 49, de um lado

    alguns pensam que o ensino de Jesus aconteceu na tarde de domingo e veem 36-49 como uma

    mesma apario, por outro lado alguns pensam que 44-49 so ditos de Jesus que foram

    ensinados no perodo de 40 dias aps a ressureio27.

    26 Nem em Lucas nem em Joo diz que Pedro creu, porm relatado que Pedro encontrou Jesus,

    provavelmente no caminho de volta e por isso creu. 27 HENDRIKSEN, William. Comentrio do Novo Testamento, Exposio do Evangelho de Lucas. So

    Paulo: Cultura Crist, 2003, v 1, p. 711

  • 20

    Calvino acreditava que 44-49 relata o dia posterior a ressurreio28. A expresso grega

    consegue nos mostrar apenas que este pargrafo est conectado ao anterior, porm no se

    pode apenas por esta analise concluir se um acontecimento imediatamente posterior ou se

    no perodo (40 dias) posterior. O verso 49 com o imperativo permanecei, pois, na cidade, at

    que do alto sejais revestidos de poder e a referncia promessa do Pai muito similar a At.

    1.4, a probabilidade de ser um paralelo muito forte. Por isso complicado a defesa de que

    todo este pargrafo relata o ensino de Jesus no dia posterior a ressurreio. mais confivel e

    coerente com os paralelos que este seja um relato do perodo de 40 dias que Cristo passou com

    os discpulos. Porm isso no exclui que algo do que est no pargrafo tambm tenha sido dito

    no dia da ressurreio. Isso classificaria o pargrafo como dito de Jesus29.

    Ao compararmos com os paralelos podemos observar que os outros evangelhos tambm

    ligam a apario de Jesus Asceno.

    Lucas 24:36

    Texto:

    , .

    Enquanto falavam eles estas coisas, o prprio Jesus colou-se no meio deles e disse-lhe:

    paz a vs.

    Gramtica:

    Esse aqui consecutivo (ou conectiva) e no um adversativo, est ligando este

    evento com o evento anterior (33-35).

    Aqui tem-se uma orao no genitivo absoluto ( ). De

    acordo com Swetnam um genitivo absoluto pode expressar vrios significados em

    28 CALVIN, John. Commentary on a harmony of the evangelists, Matthew, Mark and Luke. Vl III. Grand

    Rapids: Baker, 1984, p.374 29 HENDRIKSEN, p. 712.

    Mt 28.16-20

    Jo 20.19,20

    Mc 16.14 Lc 24.36-43

    Jo 20.19,20

    Mc 16.14

    Lc 24.44-49

  • 21

    relao a orao principal que neste caso .30 Os

    possveis significados so: causalidade, oposio, tempo, condio, circunstncias

    gerais. Porm Wallace indica que em aproximadamente 90% das vezes indica um

    significado temporal31, que exatamente a ideia no contexto aqui.

    Vocabulrio:

    3 sg do segundo aoristo de quer dizer simplesmente pr, colocar,

    estabelecer32. Neste caso que ativo, colocar de p ou estar em p. A ideia

    reflexiva no portugus expressa a mesma ideia.

    Paz a vs. uma saudao comum, mas no contexto tem mais a

    ver com a ideia de declarao da paz aos discpulos aflitos33.

    Contexto literrio:

    Imediato

    O contexto imediato da apario de Jesus aos discpulos que estavam a caminho de

    Emas. Logo aps Jesus revelar quem era a estes dois discpulos eles decidem ir ao encontro

    dos onze34 e outros que estavam com eles. Jesus j havia aparecido s mulheres (Mt 28.9) aos

    dois discpulos (Lc 24.13-35) e a Pedro (Lc 24.34). Porem a incredulidades dos discpulos

    permanecia.

    possvel que o horrio que Jesus aparece aos discpulos no fim da tarde, pois deu

    tempo dos discpulos de Emas voltarem.

    Paralelos

    No paralelo de Joo (20.19,20) temos a informa de que as portas estavam fechadas. H

    tambm a informao de Jesus mostrou o lado (onde a lana o perfurou).

    Em Marcos (16.14) h uma nfase na repreenso dos discpulos quanto a incredulidade

    deles na boa-noticia que os outros que viram Jesus j haviam dado.

    30 SWETNAM, James. Gramtica do Grego do Novo Testamento. So Paulo: Paulus, 2002, p. 373. 31 WALLACE, Daniel B. Gramtica Grega: Uma sintaxe exegtica do Novo Testamento. So Paulo:

    Editora Batista Regular do Brasil, 2009, p. 654-655 32 RUSCONI, Carlo. Dicionrio do Grego do Novo Tesamento. So Paulo: Paulus, 2003. (Doravante

    DGNT) 33 HENDRIKSEN, 712 34 Estes onze no necessariamente uma referncia ao um nmero literal de pessoas, mas uma

    referncia geral aos apstolos. De acordo com Hendriksen um termo tcnico para designar o grupo.

    (HENDRIKSEN, p. 703).

  • 22

    Comentrio

    Este versculo o fim da narrativa do primeiro sbado cristo, a ltima apario de

    Cristo neste dia e agora ele aparece aos onze discpulos (e mais alguns). Estes discpulos j

    haviam ouvido a notcia da ressureio mais de uma vez (pelas mulheres e certamente por

    Pedro) e agora estavam ouvindo a mesma notcia de outros dois discpulos. Porm

    permaneceram incrdulos (Mc 16.13).

    De repente Jesus se coloca em p no meio deles, que estavam reunidos em uma casa

    com as portas fechadas (Jo 20.19). Isso sem dvidas algo espantoso. Porm alm de estarem

    vendo aquele que a poucas horas estava morto eles tambm ouvem a saudao Paz vs.

    Neste senrio pode-se notar pelo menos duas coisas importantes (1) Assim como sumiu

    de diante dos discpulos em Emas, aparece diante destes outros discpulos; (2) Um anuncio de

    paz em meio ao desespero e incredulidade.

    No h informao de como Jesus simplesmente apareceu no meio dos discpulos se as

    portas estavam fechadas. sem dvidas algo no-natural ao corpo humano, porm em 1 Co

    15.35-49 temos uma explicao da mudana que h no corpo aps a ressurreio. Assim

    podemos claramente deduzir que o corpo do homem-Divino recebeu a incorrupo e o poder e

    ser tornou corpo espiritual, no por no ser mais de carne, mas por ser carne ressuscitada.

    Como em todo o captulo Lucas quer mostrar que Jesus ressuscitou. Os discpulos no

    estavam vendo espritos ou tendo alucinaes, mas viam o Cristo que na sexta-feira estava cruz,

    agora em vida. Lucas enfatiza neste versculo que Cristo ressuscitou em carne.

    Cristo no ressuscitou no corao dos discpulos, pois a incredulidade deles no mudava

    a realidade de Jesus.

    Outro ponto que merece destaque no versculo a expresso Paz a vs. Hendriksen

    acertadamente diz que esta no uma mera saudao como como vocs esto? antes um

    anuncio de paz. Paz que Cristo conquistou na cruz.

    Aplicaes

    A ressurreio de Cristo uma realidade, no uma experincia do cristo.

    Cristo ressuscitou e esta realidade aconteceu no tempo e no espao. Aconteceu

    no domingo aps a sua morte, Ele andou durante este dia com os discpulos. A

    ressureio uma realidade, um fato, histria e no estria.

    A ressureio de Cristo consoladora, pois garante ao crente a paz. A

    ressureio a marca da vitria sobre a morte, do cumprimento do evangelho,

  • 23

    que antes era uma promessa (como antes da cruz), mas hoje uma notcia do

    que j aconteceu.

    Lucas 24:37

    Texto: .

    Porm amedrontados e assustaram-se pensando estar vendo um esprito.

    Gramtica:

    nom. pl. aor pass. de . Verbo que aparece somente na voz

    passiva no Novo Testamento (RUSCONI, 402), que quer dizer basicamente:

    espantar, atemorizar. Na voz passiva ser atemorizado.

    est imperfeito. O imperfeito instantneo ou imperfeito aoristo que

    indica uma ao pontilear no passado est restrito ao vebro conforme

    Wallace. Ento este no o caso neste versculo que pode ser melhor classificado

    como imperfeito progressivo (Eles pensaram)35.

    Vocabulrio:

    adj. m. pl tmido, medroso, apavorado. Porm quando aparece com o

    verbo , como o caso neste texto ( ) a traduo no

    sentido reflexivo: amedrontar-se, assustar-se (RUSCONI, 167).

    sopro, hlito, vento (Jo 3.8); pode tambm representar homens ou seres

    vivos depois da morte: esprito, almas (1Pd 3.19). No versculo aqui a ideia esta

    segunda, talvez por isso a variante em D.

    Contexto literrio:

    Lucas o nico que relata esta reao dos discpulos ao ver Jesus, antes do aparecimento

    de Jesus eles j tinha ouvido falar da ressurreio por 2 ou 3 vezes.

    Comentrio

    Pode-se questionar por que os discpulos se assustaram ao ver Jesus se os dois discpulos

    de Emas que tinham acabado de ver Jesus no tinha se assustado? E ainda os outros discpulos

    j tinham ouvido sobre a ressurreio. Por que se assustaram?

    35 HENDRIKSEN, p. 719

  • 24

    O carter do aparecimento de Jesus pode explicar isso. Com os discpulos a caminho de

    Emaus Jesus se aproximou () e comeou a falar, eles porm estavam com os olhos

    fechados para no conhecerem a Jesus. Algo parecido parece, inicialmente, acontecer com

    Maria Madalena (Jo 20.16). Com os discpulos no versculo 36 o aparecimento de Jesus

    repentino e de acordo com Joo os discpulos estavam reunidos a portas fechadas. Sem dvidas

    o aparecimento de Jesus no foi algo natural, e ao se olhar o versculo 37 percebe-se que o

    assombro se d por pensarem ver um esprito, no por verem um estranho, mas por pensarem

    ver algum que estava morto de repente aparecer. Para Hendriksen o susto como se os

    discpulos tivessem visto Jesus se materializar no ar diante deles. Isso com certeza explicaria o

    motivo do assombro.

    O assombro e o uso da palavra esprito podem indicar tambm que os discpulos

    reconheceram a fisionomia de Jesus e a incredulidade deles (Mc 16.14) os impediram de crer

    que era Jesus ressuscitado.

    A incredulidade dos discpulos os impediram de se deleitar na maravilhosa verdade da

    vitria de Jesus Cristo sobre a morte. No lugar de paz, tiveram medo.

    Lucas 24:38

    Texto: ,

    .

    E disse a eles, por que estais se perturbando e por causa de que sobem cogitaes ao

    vosso corao.

    Gramtica:

    O primeiro neste versculo liga aos versculos anteriores que coloca Jesus como

    o sujeito do verbo e introduz um discurso indireto.

    A pergunta de Jesus dupla e esto ligadas pelo .

    a proposio com o acusativo tem o sentido de por causa de

    (SCHALKWIJK , 147)

    Vocabulrio:

    2 aor m. pl. do verbo , acompanhado do perfeito

    particpio passivo de ; agitar, revolver, perturbar. Neste caso o particpio

  • 25

    regido pelo verbo que o torna um particpio adverbial, que significa dizer

    que o particpio no funciona apenas como adverbio, mas tambm como adjetivo

    verbal. Por isso a traduo: estais se perturbando.

    - pensamentos, raciocnios, consideraes (RUSCONI).

    Contexto literrio:

    Este versculo mostra com o autor detalhista e se deseja tambm relatar as reaes e

    emoes das pessoas diante dos eventos. O verso anterior mostra como os discpulos reagiram

    ao ver a Jesus, neste verso mostrado a contra-reao de Jesus ao temor dos discpulos.

    Nos paralelos no h informao sobre essa indagao. O que possivelmente pode ser

    uma referncia a esta interao de Jesus com os discpulos o texto de Mc 16.14, ao dizer que

    Jesus lanou no rosto dos discpulos a incredulidade.

    Comentrio

    O Senhor Jesus ressuscitado faz uma indagao que da perspectiva dos discpulos at o

    momento parece desnecessria, pois eles pensavam estar vendo um esprito, era obvio que

    estariam assustados. No entanto da perspectiva de Cristo como possvel estarem perturbados

    ao ver o cumprimento das escrituras, ao ver a realidade do que Jesus tantas vezes havia dito

    antes.

    Estes discpulos j tinham ouvido que Jesus tinha ressuscitado da parte das mulheres,

    de Cefas e dos discpulos no caminho de Emas, porm o espanto deles e as suas cogitaes

    confirmam o que Mc 16.12 diz, que eles ainda no creram.

    O questionamento de Jesus ao mesmo tempo uma demonstrao da incredulidade

    deles, como uma pergunta retrica que os consola36. consoladora, pois afirmar que eles

    deveriam se alegrar ao ver o Jesus vivo e no temer. tambm confrontadora, pois questiona a

    razo dos seus questionamentos e de chegarem a cogitar algo to absurdo, como estarem vendo

    um esprito.

    Aplicaes

    A incredulidade cega de tal forma que parece mais lgico pensar no que

    absurdo. Os discpulos preferem crer que era um esprito a confiarem nas

    escrituras e no que Jesus havia falado anteriormente e que foi anunciado pouco

    36 MORRIS, Leon L. Lucas: Introduo e comentrio. So Paulo: 1986, Vida Nova, p. 320

  • 26

    antes no dia. Muitos hoje preferem querer em uma conexo com o universo e a

    natureza do que crerem na ressurreio de Jesus. Preferem crer em invencionices

    da cincia do que crer na realidade da ressurreio. Muitos preferem crer em

    uma ressurreio de Cristo no corao do crente (alguma experincia mstica

    inexplicvel) do que crer na clara declarao das escrituras.

    Lucas 24:39-40

    Texto:

    , .

    .

    Vede as minhas mos e meus ps que sou eu mesmo. Tocai-me e vede que que esprito

    no tm corpo e osso como vejais que eu tenho. E tendo dito estas coisas, mostrou a eles as

    mos e os ps.

    Gramtica:

    Uma forma muito enftica de: sou eu; Sou eu realmente; ou

    certamente sou eu.37

    - um particpio de ; e uma

    conjuno comparativa e neste versculo est ligando a orao anterior prxima

    vedes que eu as tenho. Assim essa comparativa para mostrar a bvia diferena.

    Vocabulrio:

    - aor imperative de : tocar, apalpar (RUSCONI).

    osso.

    Contexto literrio:

    O verso anterior a indagao de Jesus sobre a o motivo do medo e conturbao dos

    discpulos, neste verso Jesus, como quem j sabia a razo, se dispe a provar que ele no era

    um esprito.

    37 HAUBECK, Wilfrid; SIEBENTHAL, von Heindrich. Nova Chave Lingustica do Novo Testamento

    Grego. So Paulo: Targumim, 2009; So Paulo: Hagnos, 2009, p. 564.

  • 27

    Quando Jesus se apresentou s mulheres elas o adoraram (Mt 28.9). Quando Jesus se

    revelou a Maria Madalena reconhece que era o Mestre (Jo 20.16,17). Quando Jesus se revela

    aos discpulos de Emas eles o reconhecem e rapidamente se levantam para contar a boa-

    notcia, assim como os exemplos citados anteriormente.

    Jo 20.20 tem um paralelo direto desde momento do encontro de Jesus com os discpulos.

    importante ressaltar que em Joo Jesus mostra as mos e o lado. A informao de que Jesus

    mostrou o lado parece ser importante para Joo que se propor a explicar como a incredulidade

    de Tom foi vencida. Porm em Lucas, demonstra a importncia de que os discpulos crescem

    na ressureio corprea de Cristo.

    Comentrio

    Neste verso fica claro que Jesus no apareceu no meio dos discpulos com o objetivo de

    assust-los. Tambm no os questionou apenas para confront-los. perceptvel o interesse de

    Jesus em mostrar (apresentar) que ele havia de fato ressuscitado. O interesse era sem dvidas

    que os discpulos pudessem gozar da alegria que os outros tiveram que tambm era para eles.

    A maravilhosa realidade da vitria de Jesus sobre a morte.

    Para que no houvessem dvidas Jesus mostra suas mos e os ps, evidentemente para

    comprovar que era o mesmo que havia sido crucificado, o que teve os ps e as mos perfuradas.

    Joo acrescenta ainda que foi mostrado o lado de Jesus (Jo 20.20).

    Porm a expresso mais importante destes dois versos Sou Eu Mesmo. De forma

    muito enftica Jesus diz quem . importante notar que Jesus no diz que o Cristo, ou que

    o Mestre, ou que o Jesus, mas apenas o usa o pronome pessoal. Apenas esta informao era

    suficiente. No era necessrio dizer o seu nome, a prpria fala de Cristo era necessria, mas ele

    ainda acrescenta (ao mesmo tempo) o ato de mostrar as mos e os ps.

    Assim como Deus procurou Ado no paraso para buscar a reconciliao, Jesus busca

    os discpulos para faz-los crer no que por muitas vezes j havia sido dito, que no terceiro dia

    ele seria ressuscitado. Jesus se empenha em mostrar-se, mas no apenas se mostrar, mas ordena

    aos discpulos que o toquem e vejam (ou provem) que ele no um esprito, mas que ressuscitou

    em carne.

    Aplicaes

    A ressurreio de Cristo no algo subjetivo, mas palpvel. Literalmente

    palpvel, pois foi ordenado aos discpulos que tocassem nele para compreender

  • 28

    que ele havia ressuscitado. Jesus ressuscitou em carne e mostra neste texto o seu

    claro interesse em provar que foi uma ressurreio em carne. No foi um espirito

    desencarnado, ou menos ainda uma ressurreio do querigma.

    Que grande consolo h para o cristo em saber que o nosso senhor venceu a

    morte com o seu corpo fsico. Morreu sim, na carne, mas na carne tambm

    ressuscitou. A natureza divina de Jesus no abandonou a sua natureza humana,

    mas a fez suportar o peso da ira de Deus em favor de seus discpulos

    conquistando e restituindo para eles a justia e a vida (DS 6. P&R17).

    O fato de Cristo ter sido ressuscitado em carne garante ao eleito que ele ser

    tambm ressuscitado em carne. Assim a totalidade do homem ser restaurada.

    No apenas a sua alma, ou espirito, mas o homem inteiro.

    Como representante federal do homem fundamental que Cristo tenha

    ressuscitado em carne, pois assim aniquilou pela sua morte e ressurreio a

    maldio do primeiro Ado.

    Lucas 24:41-43

    Texto: ,

    ;

    .

    Eles porm ainda no estavam crendo por causa da alegria e de estarem admirados.

    Disse a eles: Tens algo para comer aqui? Ento eles deram a ele um pedao de peixe assado e

    favos de mel de abelha. Ento na frente deles comeu.

    Gramtica:

    - particpio genitivo (genitivo

    absoluto) [ver nota sobre, em verso 36]. Neste caso o genitivo absoluto apresenta

    uma ideia de causa: no criam por causa da alegria e de estarem maravilhados.

    Assim a causa da incredulidade (orao principal) so (a) e (b) .

    - + genitivo tinha uma forma bsica de separao de, porm conforme

    Wallace, essa construo invadiu o domnio tico de , , e genitivo de

  • 29

    separao38. Por isso, pode-se dizer com certeza que possvel o uso para expressar

    causa (por causa dei), conforme traduzido.

    as duas oraes destes versculos (a)

    e (b) ; esto subordidas

    mesma preposio e ligadas a frase anterior, que a pergunta sobre algo para comer.

    Vocabulrio:

    part de : (intans.) pasmar, admirar-se; manifestar estupor,

    exprimir admirao (RUSCONI).

    Comestvel, para comer (RUSCONI).

    aor de : dar, entregar, distribuir, dar algo a algum.

    peixe.

    de abelha; favos de mel; favos de mel de

    abelha.39

    Contexto literrio:

    No paralelo de Jo 20.20 a alegria dos discpulos tambm exposta. A ideia em Joo

    uma alegria por ver o Senhor e no uma alegria que os impediam de crer. Possivelmente Joo

    no est relatando o mesmo momento especfico que Lucas relata neste verso. mais provvel

    que Joo esteja descrevendo a citao de forma mais genrica, enquanto Lucas esteja

    descrevendo como os discpulos chegaram a crer.

    Jo 21.9 Temos uma referncia a Jesus comendo peixe assado. Novamente Jesus pede

    o que comer, novamente Joo reconhece a Jesus antes de Pedro e neste momento Jesus quem

    providencia peixes assados.

    Comentrio

    Aps Jesus mostrar as marcas da crucificao e principalmente depois de dizer

    claramente quem era, os discpulos ainda permaneceram incrdulos. Porm nestes versos h a

    informao dos motivos da incredulidade, a saber, a alegria e o estarem admirados. Ento

    algumas perguntas surgem. Se estavam alegres, por que no creram? Qual o sentido desta

    admirao? Por que esse era o motivo de no crerem?

    38 WALLACE, p 268 39 Estas duas palavras so hpax legomena.

  • 30

    Certamente a apario de Jesus deixaram os discpulos assustados e atemorizado, porm

    muitos so os sentimentos que se misturam neste momento. Eles esto ouvindo desde a amanh

    deste dia que o Senhor deles que morreu numa cruz da sexta feira tinha ressuscitado; esto

    conversando e de repente aparece um homem no meio deles; este homem tem a aparecia de

    Jesus, a ponto de pensarem ser um esprito; Jesus mostra que no um esprito. Toda esta

    situao gerou, de acordo com Hendriksen a certeza Este realmente Jesus e ao mesmo

    tempo, isso bom demais para ser verdade. Essa a ideia do texto ao afirmar que o motivo

    da incredulidade deles era a alegria e a admirao. Viram a Jesus, tocaram nele, ento isso

    pareceu algo to impossvel que no creram.

    Estes discpulos passaram muito tempo com Cristo, os onze presenciaram os principais

    milagres de Jesus. Viram Jesus chamar Lazaro do tmulo pouco antes do prprio Cristo morrer.

    Porm se maravilharam de tal foram com milagre da ressurreio que no creram.

    Porm o Senhor Jesus paciente como sempre40 pede algo para comer, porque se ao

    tocar em Cristo e ver que ele tinha carne e osso, mas no creram, ento ao v-lo comer haver

    mais prova de que no era um esprito, mas Jesus ressurreto.

    Jesus mais uma vez se empenha em mostrar aos discpulos que ressuscitou em carne.

    Pediu comida e a comeu na frente dos discpulos. Deixou evidente que no era um fantasma.

    H de se notar que mais uma vez o reconhecimento de Jesus est envolvido com a mesa,

    pois em situao parecida Jesus foi reconhecido pelos discpulos de Emas.

    Aplicaes

    No menospreze a capacidade do homem de permanecer em sua incredulidade.

    Mesmo quando as evidencias so claras a respeito de algo, como foi o caso da

    ressureio, o homem com o corao endurecido, no aceita as coisas de Deus.

    Este texto mostra como o Senhor Jesus se dispe a dissipar nossas dvidas e

    angustias. A iniciativa dele, no fosse isso, a tendncia do homem , mesmo

    maravilhado com a beleza e grandiosidade da obra de Cristo, rejeitar o autor da

    vida.

    40 HENDRIKSEN, p. 713

  • 31

    Lucas 24:44

    Texto: ,

    ,

    .

    E disse para eles: Estas so as minhas palavras que falei para vs ainda estando

    convosco: que necessrio cumprir todas as coisas escritas sobre mim na lei de Moises e nos

    profetas e nos salmos. Ento abriu completamente a mente deles para entender as escrituras.

    Gramtica:

    Este verso tem uma forma um pouco mais complexa e merece certa ateno. A

    orao principal ... . Todo o

    resto do verso est explicando esta orao. Ligado preposio est a orao

    , como orao subordinada a esta est que por sua

    vez tem por subordinada . Assim o narrador indica o incio

    de um discurso indireto, o discurso por sua vez tambm um discurso indireto. O

    narrador cita Jesus (discurso indireto) que por sua vez est introduzindo uma outra

    citao dele mesmo (no passado). Isso mostra que o centro do versculo o citado

    a cima.

    aor. inf. pass. de , neste caso dependente do , por isso a

    traduo: necessrio cumprir (completar).

    perf. part. pass. de um termo tcnico para introduzir uma

    citao bblica (HAUBECK; SIEBENTHAL).

    Vocabulrio:

    aor. inf. pass. de [ver acima].

    abriu completamente.

    Contexto literrio:

    A necessidade de Jesus morrer e ressuscitar ao terceiro dia no era uma novidade para

    os discpulos, eles j tinham ouvido isso do prprio Jesus, inclusive pela exposio das

    escrituras (Lc 18.31).

    importante ver a importncia a que Lucas d ao que escrituras e o que prprio Cristo

    j haviam falado sobre a necessidade do Messias morrer e ressuscitar (Lc 9.22; Lc 18.31). Os

  • 32

    anjos relembram as palavras de Jesus para as mulheres e ento elas creem na ressureio (Lc

    24.6). Os discpulos de Emas foram tambm expostos ao que as escrituras ensinavam sobre a

    necessidade de morrer e ressuscitar ao terceiro dia (Lc 24.27,31).

    Uma ideia semelhante pode-se observar em At 16.14, onde o Esprito abriu o corao

    de Ldia.

    Comentrio

    Como j comentado anteriormente h discusses sobre os acontecimentos que Lucas

    est relatando a partir do versculo 44. O debate gira em torno de dizer que esta explicao de

    Jesus aconteceu no mesmo dia da ressurreio; ou que neste paragrafo a narrativa toma uma

    forma de ditos de Jesus que no est limitada a uma ideia de tempo ou lugar.

    Ao conferir os paralelos deste paragrafo e o teor do discurso de Jesus mostra que a

    segunda opo mais adequada41. Apesar de se considerar que no um assunto to consensual.

    Assim este ensino de Jesus nas escrituras parece comear no dia da ressurreio, mas no se

    restringe a esse dia apenas, mas a todo o perodo que Jesus permaneceu com os discpulos antes

    da sua ascenso. Essa ideia tambm fica mais evidente por Lucas, que se props a escreve todas

    as coisas em ordem, logo aps este paragrafo narra a ascenso.

    O Senhor Jesus depois de insistir em mostrar que ressuscitou em carne ao exibir as

    marcas da crucificao e comer diante deles, agora destoe de forma definitiva a incredulidade

    dos discpulos, ao expor as escrituras e abrir-lhes o entendimento.

    Vale ressaltar que Lucas especifica que Jesus exps completamente as escrituras, pela

    Lei de Moises (pentateuco), pelos Profetas (histricos e profetas) e tambm pelos Salmos

    (sabedoria). Isso mostra como em todas as escrituras h a informao da necessidade de que

    Jesus deveria morrer e ressuscitar.

    A justaposio das palavras Lei, Profetas e Salmos ligadas a escritas sobre mim, mostra

    que em cada parte das escrituras fala de Cristo, e tambm que o coletivo de toda a escritura fala

    de Cristo. Isso mostra o carter cristocntrico da revelao, a pessoa e obra de Cristo a chave

    hermenutica das escrituras.

    Como consequncia da exposio de Jesus a mente deles foi completamente aberta. Eis

    um fato de extrema importncia no evangelho de Lucas, que j foi citado no encontro dos anjos

    com as mulheres, a explicao das escrituras que foi o meio para se abrir o entendimento, no

    foi a leitura da palavra que fez isso, mas a exposio das escrituras.

    41 Conferir uma defesa mais detalhada na pgina 20.

  • 33

    A ligao deste texto de Lucas com a introduo do evangelho forte. Lucas diz que se

    prope escrever o evangelho para que tenhas plena certeza das verdades em que foste

    instrudo (1.4). Lucas enfatiza neste captulo a importncia das escrituras, mas d grande

    nfase, talvez mais, ao ensino (pregao) das escrituras como o meio pelo qual Cristo abre a

    mente para que creiam na obra da ressurreio (redeno).

    Aplicaes

    O homem natural pode ver Cristo e tocar nele, mas se sua mente no for aberta

    jamais poder crer. No h uma ideia de que natural ao homem poder crer, isso

    s possvel se lhes for aberto o entendimento.

    Que grande consolo ao crente saber que quem aplicou nele a f foi o prprio

    Deus que opera de forma miraculosa e permanente. Deus no aplica a f para

    retir-la, pois Ele no pode mentir. Se a f vem de Deus ela necessariamente

    uma f que ser preservada.

    No menospreze a pregao, veja a importncia da pregao neste texto e como

    necessrio que haja pregao para que creiam. Por isso tambm, Jesus envia

    os discpulos para serem testemunhas (aqueles que falam sobre).

    Fator fundamental na interpretao das escrituras a centralidade (ou orbitao)

    na obra e pessoa de Cristo. Assim as escrituras no uma histria da religio,

    apesar de cont-la, no o conto de conquista de um povo, mas cumprimento na

    histria da redeno.

    Lucas 24:46-48

    Texto: ,

    ,

    . .

    E disse a eles que assim foi escrito que foi necessrio ser submetido a sofrimento o

    Cristo e levantar dos mortos ao terceiro dia e ser pregado sobre o nome dele arrependimento e

    perdo de pecados para toda a gente tendo comeado a partir de Jerusalm, vs sereis

    testemunha destas coisas.

    Gramtica:

  • 34

    Para facilitar o entendimento da relao entre as oraes podemos repedir um diagrama

    da estrutura do texto aqui:

    ,

    .

    .

    Como mostra o diagrama toda a estrutura do texto explica o que est escrito. Pode-se

    observar que trs coisas esto escritas:

    1 Foi necessrio que o Cristo morresse e ressuscitasse.

    2 Fosse pregado no nome de Cristo, arrependimento e perdo.

    3 Que isso comeasse em Jerusalm e chegasse a todas as gentes.

    o sugeito nesta orao est oculto, ento est ligando aos versos

    anteriores. Mostra a continuidade do discurso de Jesus.

    necessidade divina, porm est no imperfeito, algo linear

    no passado.

    - um dativo de tempo, claramente indicado pela palavra dia, porm

    algo importante, visto que se traduz no terceiro dia, ou seja, em algum momento

    neste dia42.

    42 De acordo com Wallace, esse dativo de tempo s aparece em Mateus e Lucas, no aparece em Marcos.

  • 35

    Vocabulrio:

    remisso; perdo.

    todos os povos (HAUBECK; SIEBENTHAL)

    um acusativo absoluto; comeando/primeiro em.

    Contexto literrio:

    Os evangelhos mostram que Jesus j anunciava a necessidade de morrer e ressuscitar ao

    terceiro dia e quando encontra os discpulos de Emas faz a pergunta de forma retrica como

    se no precisasse de resposta Porventura, no convinha que o Cristo padecesse e entrasse na

    sua glria? (Lc 24.26). Depois da ascenso pregar essa necessidade e como isso aconteceu

    com Jesus se tornou essencial pregao apostlica (At 17.3).

    O Antigo Testamento tambm mostra a necessidade de morte e sofrimento de Cristo

    (p.e. Sl 22, Dn 9.24), mas tambm deixa clara a promessa de salvao a todos os povos,

    promessa feita claramente a Abrao (Gn 12.3, c.f. Is 49,22). Esta promessa foi confirmada no

    Novo Testamento, com uma clara promessa da vinda do Esprito Santo que capacitaria os

    discpulos a testemunharem de Cristo (Jo 15.27). Ainda na ltima vez que Cristo se encontra

    com os discpulos e diz estas palavras, agora com um claro mandamento de testemunharem no

    mundo todo (At 1.8).

    Comentrio

    Depois de informar que as mentes dos discpulos foram abertas Lucas mostra qual foi o

    ensinamento de Jesus. Mostra qual foi a explicao das escrituras que abriu o entendimento

    deles. Jesus mostra a necessidade de que o Cristo morresse e ressuscitasse.

    Por que era necessrio? Era necessrio para que houvesse perdo de pecados. Sem a

    obra de Cristo impossvel que houvesse pecado. Sem perdo de pecados impossvel que

    fosse pregado esse perdo e que fosse exigido o arrependimento. Sem a pregao no seria

    possvel que todos os povos ouvissem a mensagem de salvao.

    Como visto no contexto literrio acima, so muitos os textos que mostram que as

    escrituras j prometiam que a salvao chegaria ao todos os povos. Essa promessa feita a

    Abrao e anunciada pelo prprio Cristo.

    Jesus deixa claro com seu ensino uma grande unidade no Antigo Testamento que est

    ligado obra e pessoa de Cristo e o anuncio desta obra e pessoa (o Novo Testamento).

  • 36

    Esta exortao de Jesus foi a todos seus ouvintes que provavelmente inclua as mulheres

    e outros discpulos e no apenas aos doze. A instruo est no evangelho destinado aos gregos

    e reforada no livro de Atos. Evidentemente esta exortao de testemunhar a todos povos no

    estava restritos aos apstolos, mas uma ordem a todos os discpulos de Cristo.

    Testemunhas de destas coisas. Que coisas? De tudo o que est escrito e foi cumprido na

    vida, morte e ressureio de Cristo. Este o testemunho do cristo, no anunciar a sua prpria

    vida, nem falar da vida do ouvinte, mas anunciar a obra e pessoa de Jesus Cristo.

    O ensino de Jesus descrito nestes versos tambm no est restrito a um dia em especfico

    ou dia da ressurreio ou da ascenso mas diz respeito ao perodo, com j visto. Isto refora

    a ideia que a necessidade imperativa, um imperativo a todos os discpulos de Cristo e no

    apenas aos apstolos. Porm isso no significa que todo e qualquer cristo dever ser

    testemunha da mesma forma e no mesmo lugar. Alguns testemunharam em Jerusalm, outros

    foram chamados aos gentios. Alguns testemunham ao anunciar a pessoa e obra de Cristo aos

    seus conhecidos, outros tem um chamado especfico para pregar oficialmente este evangelho.

    Alguns discipulam, os porm so os que batizam os novo-convertidos.

    Aplicaes

    Cristo sofreu a culta do pecado para que se pregasse o perdo dos pecados. Cristo

    ressuscitou para que os estavam mortos pudessem nascer de novo. Viveu,

    morreu e ressuscitou, para que o evangelho fosse uma notcia em que crer, e no

    uma lei para obedecer. Cumpriu a lei para nele, em gratido o crente pudesse

    obedecer.

    importante observar que a necessidade de pregar arrependimento e perdo de

    pecado para todos os povos se transforma em um imperativo para a igreja. No

    uma questo de opo fazer misso.

    Lucas 24:49

    Texto:

    .

    E eis que eu envio a promessa do meu pai a respeito de vs. Vs porm permaneas na

    cidade at que sejam revestidos de poder do alto.

    Gramtica:

  • 37

    - orao temporal, geralmente uma resposta pergunta (por quanto

    tempo?); com subjuntivo a resposta at que. (HAUBECK; SIEBENTHAL, p.

    1459)

    Vocabulrio:

    a promessa; o que foi prometido.

    aor. subj. med., trajar-se, vertir-se. Em sentido figurado d a ideia de

    estar munido com algo (HAUBECK; SIEBENTHAL).

    a altura, neste caso o cu. (HAUBECK; SIEBENTHAL).

    Contexto literrio:

    At. 1.4 uma ordem muito parecida com a do verso 49, pois ordena ficar em Jerusalm

    at receberem poder e tambm fala da promessa de Deus a eles.

    Comentrio

    Ao olhar para Jo 14.16, 17, 26 e At 1.18 se v que a promessa o Esprito Santo. Esta

    promessa foi dada aos discpulos e cumprida no dia de pentecoste. marcante pois muda o

    fluxo da histria da redeno completamente, antes mais focada aos judeus, agora direcionando

    os discpulos para todas as naes.

    Este verso tem duas promessas (a) o envio da promessa; e o (b) recebimento de poder

    do alto. Ao comprar com os captulos 1 e 2 de Atos fica evidente que se tratam da mesma

    promessa: o recebimento do Esprito Santo. O Espirito Santo foi enviado por Cristo e capacitou

    os discpulos a proclamarem a todos os povos.

    Os cristos no tm capacidade para testemunharem sobre a morte e ressurreio de

    Cristo de forma que outras pessoas passem a crer, veja o exemplo das mulheres e dos discpulos

    de Emas. Por isso necessrio que as testemunhas sejam capacitadas pelo prprio Cristo, para

    atravs das escrituras (como o prprio Jesus) possam mostrar que o Cristo necessrio.

    Porm tem o imperativo de permanecer na cidade. Certamente para esperar a descida do

    Esprito Santo no dia de pentecostes, evento importante onde muito puderam ouvir o

    testemunho da obra de Cristo e foram convertidos.

    Este verso tambm a ligao ao livro de Atos, mostra que a obra dos apstolos na

    realidade a operao do Esprito Santo, que a promessa, e decorre de toda a obra e ensinamento

    de Jesus.

  • 38

    Aplicaes

    A salvao do homem no depende de suas prprias obras, mas da obra de Cristo

    que morreu e ressuscitou. Da mesma forma o testemunho dos cristos no pode

    ser eficiente por si mesmo, mas somente pela obra do Esprito Santo.

    um grande conforto para o cristo saber que vitria de Cristo alcanar todas

    os povos.

    Concluso

    O captulo 24 de Lucas o pice da narrativa do Evangelhos de Lucas. Este evangelho

    tem por objetivo auxiliar os gregos para que eles tenham plena certeza das verdades em que

    foste instrudo, essa certeza que inclui acreditar na ressurreio. Esta certeza conforme o

    captulo 24 no acontece por algum tipo de experincia emprica, pois mesmo aqueles que

    foram testemunhas oculares da obra de Cristo no creram na ressurreio. Esta f vem pela

    pregao da palavra. Isto um grande consolo a todos os gregos, pois at os judeus que

    testemunharam, no creram porque viram. um grande consolo a todos os crentes de todos os

    tempos, pois Lucas mostra com seus relatos que a f obra do Esprito Santo, que usa como

    meio a pregao fiel das Escrituras.