Exemplo de Fichamento

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FICHAMENTO 1 Cidade e Etnografia Laís Guerra Cerqueira Turma 71 Eng. Civil DE PERTO E DE DENTRO: notas para uma etnografia urbana REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: MAGNANI, J.G.C. “De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana”. Revista brasileira de Ciências Sociais. São Paulo Junho 2002 LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. São Paulo, Editora 34, 2009. Resumo Magnani pretende expor neste artigo duas linhas de reflexão, uma sobre a cidade e a outra sobre a etnografia. O propósito é explorar as possibilidades que esta última, como método de trabalho característico da antropologia, abre para a compreensão do fenômeno urbano, mais especificamente para a pesquisa da dinâmica cultural e das formas de sociabilidade nas grandes cidades contemporâneas. Em primeiro lugar o autor expõe, de forma sumarizada, alguns dos enfoques mais correntes sobre a questão da cidade e, em contraste com estas abordagens, que classifico

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FICHAMENTO 1Cidade e Etnografia Las Guerra Cerqueira Turma 71 Eng. Civil DE PERTO E DE DENTRO: notas para uma etnografia urbana

REFERNCIA BIBLIOGRFICA: MAGNANI, J.G.C. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista brasileira de Cincias Sociais. So Paulo Junho 2002LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. So Paulo, Editora 34, 2009.

ResumoMagnani pretende expor neste artigo duas linhas de reflexo, uma sobre a cidade e a outra sobre a etnografia. O propsito explorar as possibilidades que esta ltima, como mtodo de trabalho caracterstico da antropologia, abre para a compreenso do fenmeno urbano, mais especificamente para a pesquisa da dinmica cultural e das formas de sociabilidade nas grandes cidades contemporneas. Em primeiro lugar o autor expe, de forma sumarizada, alguns dos enfoques mais correntes sobre a questo da cidade e, em contraste com estas abordagens, que classifico como um olhar de fora e de longe, apresento outra de cunho etnogrfico, a que denomino de olhar de perto e de dentroO autor prope com essas reflexes contribuir para delimitar no amplo e vago campo da chamada antropologia das sociedades complexas, um recorte mais especfico, voltado para o estudo de temas prpria e especificamente urbanos.Nas abordagens sobre as cidades ele cita que existem inmeros casos sobre os rumos e as consequncias do processo de urbanizao. Ele divide essas abordagens em dois blocos: o primeiro deles rene aquelas anlises e respectivos diagnsticos que enfatizam os aspectos desagregadores do processo tais como o colapso do sistema de transporte, as deficincias do saneamento bsico, a falta de moradia, a concentrao e desigual distribuio dos equipamentos, o aumento dos ndices de poluio, da violncia. No primeiro caso, apresenta-se uma linha de continuidade onde fatores desordenados de crescimento acabam por produzir inevitavelmente o caos urbano; no segundo, enfatiza-se a ruptura, consequncia de saltos tecnolgicos que tornam obsoletas no s as estruturas urbanas anteriores como as formas de comunicao e sociabilidade a elas correspondentes; o caos, aqui, semiolgico.Todas essas cidades, num certo plano, assemelham-se no apenas pelas funes que exercem, mas pelos equipamentos e instituies que possibilitam seu exerccio Assim, supe-se que uma cidade global seja servida por uma rede de hotelaria de padro internacional, um sistema de transporte seletivo, sofisticadas agncias de servios especializados, sistemas e empresas de informao de ponta.Magnani ainda aborda O olha etnogrfico: de perto e de dentro. Primeiramente ele observa a ausncia de atores sociais , a criao das cidades a parte dos seus moradores. Pensada como fora econmica ou poltica. O que se prope inicialmente com o mtodo etnogrfico sobre a cidade e sua dinmica resgatar um olhar de perto e de dentro capaz de identificar, descrever e refletir sobre aspectos excludos da perspectiva daqueles enfoques que, para efeito de contraste, qualifiquei como de fora e de longe.Este artigo enfoca que a antropologia tem uma contribuio especfica para as questes urbanas contemporneas, diferenciando-se, atravs do enfoque etnogrfico, das abordagens de outras perspectivas e disciplinas.Para identificar essas prticas Magnani props a estratgia de perto e de dentro, em contraste com as vises de fora e de longe. A partir dos enfoques realizados pelos prprios atores sociais dentro do seu contexto de utilizao do espao urbano. Esse olhar de perto vai alm da fragmentao das grandes cidades. Identificar esse tipo de prtica indica que as aes fazem sentido tanto para os prprios atores quanto para os analistas. O autor ainda desenvolveu algumas categorias que descreve como podem se apresentar alguns desses recortes na paisagem urbana pedao, mancha, trajeto, circuito procurando mostrar as possibilidades que abrem para identificar diferentes situaes da dinmica cultural e da sociabilidade na metrpole: a noo de pedao evoca laos de pertencimento e estabelecimentos de fronteiras, mas pode estar inserida em alguma mancha, de maior consolidao e visibilidade na paisagem; esta, por sua vez, comporta vrios trajetos como resultado das escolhas que propicia a seus freqentadores. J circuito, que aparece como uma categoria capaz de dar conta de um regime de trocas e encontros no contexto mais amplo e diversificado da cidade (e at para fora dela), pode englobar pedaos e trajetos particularizados.Essas categorias constituem uma gramtica que permite classificar e descrever a multiplicidade das escolhas e os ritmos da dinmica urbana no centrado nas escolhas de indivduos, mas em arranjos mais formais em cujo interior se do essas escolhas.Por fim, Magnani conclu que a meta seguir em busca de uma lgica mais geral. Do olhar de perto e de dentro, prprio da etnografia, para um olhar distanciado, em direo, a sim, a uma antropologia da cidade, procurando desvelar a presena de princpios mais abrangentes e estruturas de mais longa durao. somente por referncia a planos e modelos mais amplos que se pode transcender, incorporando-o, o domnio em que se movem os atores sociais, imersos em seus prprios arranjos, ainda que coletivos.

Resumo de cada Pargrafo De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana FichamentoO propsito explorar as possibilidades que esta ltima, como mtodo de trabalho caracterstico da antropologia, abre para a compreenso do fenmeno urbano, mais especificamente para a pesquisa da dinmica cultural e das formas de sociabilidade nas grandes cidades contemporneas. Em primeiro lugar exponho, de forma sumarizada, alguns dos enfoques mais correntes sobre a questo da cidade e, em contraste com estas abordagens, que classifico como um olhar de fora e de longe, apresento outra de cunho etnogrfico, a que denomino de olhar de perto e de dentro. (pg. 11);No se trata, contudo, neste caso, de qualquer etnografia: procuro distinguir a proposta que desenvolvo de outros experimentos que tambm se apresentam como etnogrficos. (pg. 11);Pretendo, com estas reflexes, contribuir para delimitar, no amplo e vago campo da chamada antropologia das sociedades complexas, um recorte mais especfico, voltado para o estudo de temas prpria e especificamente urbanos (pg. 12);Com o propsito de estabelecer um pano de fundo para melhor destacar a proposta que pretendo desenvolver, inicialmente agrupei tais abordagens, conforme propus em outro texto (Magnani, 1998), em dois blocos: o primeiro deles rene aquelas anlises e respectivos diagnsticos que enfatizam os aspectos desagregadores do processo tais como o colapso do sistema de transporte, as deficincias do saneamento bsico, a falta de moradia, a concentrao e desigual distribuio dos equipamentos, o aumento dos ndices de poluio, da violncia (pg 12);No primeiro caso, apresenta-se uma linha de continuidade onde fatores desordenados de crescimento acabam por produzir inevitavelmente o caos urbano; no segundo, enfatiza-se a ruptura, conseqncia de saltos tecnolgicos que tornam obsoletas no s as estruturas urbanas anteriores como as formas de comunicao e sociabilidade a elas correspondentes; o caos, aqui, semiolgico. Um, fruto do capitalismo selvagem; a outra, mais identificada com o capitalismo tardio. (pg. 12);(...) ao papel que tais cidades ocupam numa economia altamente interdependente: sedes de conglomerados multinacionais, plos de instituies financeiras, produtoras e/ou distribuidoras de determinados servios, informaes e imagens, elas constituem os ns da ampla rede que tambm j conhecida, num mundo globalizado, como sistema mundial (pg.12);(...) todas essas cidades, num certo plano, assemelham-se no apenas pelas funes que exercem, mas pelos equipamentos e instituies que possibilitam seu exerccio Assim, supe-se que uma cidade global seja servida por uma rede de hotelaria de padro internacional, um sistema de transporte seletivo, sofisticadas agncias de servios especializados, sistemas e empresas de informao de ponta. (pg 13)Tais propostas so identificadas, por alguns, como parte da tendncia ps-moderna no urbanismo e na arquitetura; h, entretanto, quem retire do termo ps-modernidade qualquer determinao positiva, por consider-lo vazio, incapaz de introduzir uma ruptura com relao sua antecessora, ou seja, a modernidade: tanto uma como outra no seriam alternativas (pg. 13); O texto de Ermnia Maricato, mais militante, critica o uso de termos como cidade global, cidade mundial e planejamento estratgico, os quais qualifica como modismos; em contrapartida, tem um apreciao mais positiva a respeito do planejamento de inspirao modernista, justamente por seu carter holstico, como afirma, contraposto fragmentao da viso ps-moderna. (pg. 14)O olha etnogrfico: de perto e de dentro Em primeiro lugar, observa-se a ausncia dos atores sociais. Tem-se a cidade como uma entidade parte de seus moradores: pensada como resultado de foras econmicas transnacionais, das elites locais, de lobbies polticos, variveis demogrficas, interesse imobilirio e outros fatores de ordem macro; (pg. 14);A bem da verdade, no propriamente a ausncia de atores sociais que chama a ateno, mas a ausncia de certo tipo de ator social e o papel determinante de outros. (pg. 14); Neste caso, quando aparecem atores sociais, so os representantes do capital e das foras do mercado: financistas, agentes do setor imobilirio, investidores privados. (pg 15)J os moradores propriamente ditos, que, em suas mltiplas redes, formas de sociabilidade, estilos de vida, deslocamentos, conflitos etc., constituem o elemento que em definitivo d vida metrpole, no aparecem, e quando o fazem, na qualidade da parte passiva (os excludos, os espoliados) de todo o intrincado processo urbano. (pg. 15);Pois os atuais grandes centros urbanos no podem ser considerados simplesmente como cidades que cresceram demais da suas mazelas e distores. A prpria escala de uma megacidade impe uma modificao na distribuio e na forma de seus espaos pblicos, nas suas relaes com o espao privado, no papel dos espaos coletivos e nas diferentes maneiras por meio das quais os agentes (pg. 15)certamente haveria que se perguntar se o exerccio da cidadania, das prticas urbanas e dos rituais da vida pblica no teriam, no contexto das grandes cidades contemporneas, outros cenrios: para tanto, necessrio procur-los com uma estratgia adequada. o que se prope com a antropologia, por meio do mtodo etnogrfico. As grandes cidades (...) certamente so importantes para anlise e reflexo, no apenas porque integram o chamado sistema mundial e so decisivas no fluxo globalizado e na destinao dos capitais, mas tambm porque concentram servios, oferecem oportunidades de trabalho, produzem comportamentos, determinam estilos de vida e no apenas aqueles compatveis com o circuito dos usurios solventes, do grande capital, freqentadores da rede hoteleira, de gastronomia e de lazer que seguem padres internacionais. (pg 15); bem verdade que esta disciplina, como se sabe, elaborou seus mtodos de investigao a partir principalmente do estudo de sociedades dedicadas coleta, caa, agricultura de subsistncia e cujo modo de vida tem como base outras formas de assentamento que no a cidade; por conseguinte, as estratgias da pesquisa etnogrfica, primeira vista, no a credenciariam para deslindar as complexidades da cidade contempornea, imersa no sistema globalizado. (pg. 16);Num nvel mais geral essa experincia tem como condio o pressuposto de que ambos, pesquisador e nativo, participam de um mesmo plano: o dos fenmenos fundamentais da vida do esprito (pg. 17);Por ltimo cabe assinalar que o mtodo etnogrfico no se confunde nem se reduz a uma tcnica; pode usar ou servir-se de vrias, conforme as circunstncias de cada pesquisa; ele antes um modo de acercamento e apreenso do que um conjunto de procedimentos. (pg. 17);a natureza da explicao pela via etnogrfica tem como base um insight que permite reorganizar dados percebidos como fragmentrios, informaes ainda dispersas, indcios soltos, num novo arranjo que no mais o arranjo nativo (mas que parte dele, leva-o em conta, foi suscitado por ele) nem aquele com o qual o pesquisador iniciou a pesquisa. (pg. 17);Assim, o que se prope inicialmente com o mtodo etnogrfico sobre a cidade e sua dinmica resgatar um olhar de perto e de dentro capaz de identificar, descrever e refletir sobre aspectos excludos da perspectiva daqueles enfoques que, para efeito de contraste, qualifiquei como de fora e de longe. (pg. 17)A mudana de foco que a perspectiva antropolgica possibilita, principalmente em funo do mtodo etnogrfico, tem a vantagem de evitar aquela dicotomia que ope, no cenrio das grandes metrpoles contemporneas, o indivduo e as megaestruturas urbanas. (pg. 17)Se a perspectiva que classifico de perto e de dentro est associada etnografia, no toda proposta de pesquisa com base na antropologia ou referida ao mtodo etnogrfico que busca esse tipo de conhecimento. Existe, por exemplo, uma modalidade que caracterizo como de passagem: ela consiste em percorrer a cidade e seus meandros observando espaos, equipamentos e personagens tpicos com seus hbitos, conflitos e expedientes, deixando-se imbuir pela fragmentao que a sucesso de imagens e situaes produz. (pg. 18)Em todo caso, em vez de um olhar de passagem, cujo fio condutor so as escolhas e o trajeto do prprio pesquisador, o que se prope um olhar de perto e de dentro, mas a partir dos arranjos dos prprios atores sociais, ou seja, das formas por meio das quais eles se avm para transitar pela cidade, usufruir seus servios, utilizar seus equipamentos, estabelecer encontros e trocas nas mais diferentes esferas religiosidade, trabalho, lazer, cultura, participao poltica ou associativa etc. (pg. 18)H, entretanto, uma questo prvia: qual seria, na estratgia proposta, a unidade de anlise? A cidade em seu conjunto ou cada prtica cultural em particular? Ou, nos termos de uma dicotomia mais conhecida, trata-se de antropologia da cidade ou na cidade? Para introduzir essa questo, convm retomar um ponto comum s abordagens at aqui apresentadas: a maioria dos estudos que classifico como olhar de fora e de longe d pouca relevncia queles atores sociais responsveis pela trama que sustenta a dinmica urbana; (pg. 18)Uma primeira representao de totalidade, como pressuposto da etnografia, aquela fornecida pela clssica viso de uma comunidade em que os membros se conhecem, mantm relaes face-a-face, esto ligados por padres de troca interpessoais etc (pg. 19)Uma segunda caracterstica da totalidade como pressuposto da etnografia diz respeito dupla face que apresenta: de um lado, a forma como vivida pelos atores sociais e, de outro, como percebida e descrita pelo investigador. (pg. 19)Assim, uma totalidade consistente em termos da etnografia aquela que, experimentada e reconhecida pelos atores sociais, identificada pelo investigador, podendo ser descrita em seus aspectos categoriais: para os primeiros, o contexto da experincia, para o segundo, chave de inteligibilidade e princpio explicativo. (pg. 20)Essas totalidades so identificadas e descritas por categorias que apresentam, conforme j afirmado, um duplo estatuto: surgem a partir do reconhecimento de sua presena emprica, na forma de arranjos concretos e efetivos por parte dos atores sociais, e podem tambm ser descritas num plano mais abstrato. (pg. 20);Esta, alis, a primeira de uma srie de categorias que terminaram conformando uma famlia terminolgica pedao, trajeto, mancha, prtico, circuito (pg. 20)Quando o espao ou um segmento dele assim demarcado torna-se ponto de referncia para distinguir determinado grupo de frequentadores como pertencentes a uma rede de relaes, recebia o nome de pedao (pg. 21);A mancha, ao contrrio, sempre aglutinada em torno de um ou mais estabelecimentos, apresenta uma implantao mais estvel tanto na paisagem como no imaginrio. As atividades que oferece e as prticas que propicia so o resultado de uma multiplicidade de relaes entre seus equipamentos, edificaes e vias de acesso, o que garante uma maior continuidade, transformando-a, assim, em ponto de referncia fsico, visvel e pblico para um nmero mais amplo de usurios. Diferentemente do que ocorre no pedao, para onde o indivduo se dirige em busca dos iguais, que compartilham os mesmos cdigos, a mancha cede lugar para cruzamentos no previstos, para encontros at certo ponto inesperados, para combinatrias mais variadas. (pg. 23);O termo trajeto surgiu da necessidade de se categorizar uma forma de uso do espao que se diferencia, em primeiro lugar, daquele descrito pela categoria pedao. (pg. 23);Assim, a idia de trajeto permite pensar tanto uma possibilidade de escolhas no interior das manchas como a abertura dessas manchas e pedaos em direo a outros pontos no espao urbano e, por conseqncia, a outras lgicas. Sem essa abertura corre-se o risco de cair numa perspectiva reificadora, restrita e demasiadamente comunitria da idia de pedao com seus cdigos de reconhecimento, laos de reciprocidade, relaes face-a-face. (pg. 23)H, por fim, a noo de circuito. Trata-se de uma categoria que descreve o exerccio de uma prtica ou a oferta de determinado servio por meio de estabelecimentos, equipamentos e espaos que no mantm entre si uma relao de contiguidade espacial, sendo reconhecido em seu conjunto pelos usurios habituais. (pg. 23)A noo de circuito tambm designa um uso do espao e de equipamentos urbanos possibilitando, por conseguinte, o exerccio da sociabilidade por meio de encontros, comunicao, manejo de cdigos , porm de forma mais independente com relao ao espao, sem se ater contigidade, como ocorre na mancha ou no pedao. (pg. 24);Como se v, essas categorias no se excluem e so justamente as passagens e articulaes entre seus domnios que permitem levar em conta, no recorte da pesquisa, as escalas das cidades e os diferentes planos da anlise. Elas constituem uma gramtica que permite classificar e descrever a multiplicidade das escolhas e os ritmos da dinmica urbana no centrados na escolhas de indivduos, mas em arranjos mais formais em cujo interior se do essas escolhas. (pg. 26)No entanto, cabe reafirmar, por fim, que a meta seguir em busca de uma lgica mais geral. Do olhar de perto e de dentro, prprio da etnografia, para um olhar distanciado, em direo, a sim a uma antropologia da cidade, procurando desvelar a presena de princpios mais abrangentes e estruturas de mais longa durao. somente por referncia a planos e modelos mais amplos que se pode transcender, incorporando-o, o domnio em que se movem os atores sociais, imersos em seus prprios arranjos, ainda que coletivos. (pg. 26).

FICHAMENTO 2Preconceito lingusticoLas Guerra Cerqueira Turma 71 Eng. Civil PRECONCEITO LINGUSITICO: O que , como se faz

REFERNCIA BIBLIOGRFICA:BAGNO, Marcos.Preconceito lingustico: o que , como se faz. 54ed. So Paulo: Edies Loyola, 2011..

ResumoNo livro"Preconceito Lingustico"o autor Marcos Bagno, defende com vigor a lngua viva e verdadeiramente falada no Brasil.O livro contm 183 pginas e publicado pelas Edies Loyola (11 edio, 2002). Est dividido em quatro partes e um anexo: I A mitologia do preconceito lingstico; II O crculo vicioso do preconceito lingstico; III A desconstruo do preconceito lingustico; e IV O preconceito contra a lingstica e os lingistas. O anexo refere-se carta enviada pelo autor revista Veja.Para o autor"tratar da lngua tratar de um tema poltico", j que tambm tratar de seres humanos."O preconceito lingustico est ligado, em boa medida, confuso que foi criada, no curso da histria, entre a lngua e gramtica normativa"Marcos Bagno diz que a lngua como um rio que se renova, enquanto a gramtica normativa como a gua do igap, que envelhece, no gera vida nova a no ser que venham as inundaes.O preconceito lingstico, vem sendo alimentado diariamente pelos meios de comunicao, que pretendem ensinar o que "certo" e o que "errado", sem falar, claro nos instrumentos tradicionais de ensino da lngua, ou seja a gramtica normativa e os livros didticos.Para superar os preconceitos lingsticos, o autor comea por lembrar, catalogar e dissecar alguns mitos consagrados:"A lngua portuguesa apresenta uma unidade surpreendente"- o maior e mais srio dentre os outros mitos, por ser prejudicial educao e no reconhecer que o portugus falado no Brasil bem diversificado, mesmo a escola tentando impor a norma lingstica como se ela fosse de fato comum a todos os brasileiros. As diferenas de status social em nosso pas, explicam a existncia do verdadeiro abismo lingstico entre os falantes das variedades no-padro do portugus brasileiro que compe a maior parte da populao e os falantes da suposta variedade culta, em geral no muito bem definida, que a lngua ensinada na escola."Brasileiro no sabe portugus / S em Portugal se fala bem portugus"- de acordo com o autor, essas duas opinies refletem o complexo de inferioridade de sermos at hoje uma colnia dependente de uma pas mais antigo e mais "civilizado". O brasileiro sabe portugus sim. O que acontece que o nosso portugus diferente do portugus falado em Portugal. A lngua falada no Brasil , do ponto de vista lingstico j tem regras de funcionamento, que cada vez mais se diferencia da gramtica da lngua falada em Portugal. Na lngua falada, as diferenas entre o portugus de Portugal e o portugus falado Brasil so to grandes que muitas vezes surgem dificuldades de compreenso. O nico nvel que ainda possvel uma compreenso quase total entre brasileiros e portugueses o da lngua escrita formal, porque a ortografia praticamente a mesma, com poucas diferenas. Conclu-se que nenhum dos dois mais certo ou mais errado, mais bonito ou mais feio: so apenas diferentes um do outro e atendem s necessidades lingsticas das comunidades que os usam, necessidades lingsticas que tambm so diferentes."Portugus muito difcil" para o autor essa afirmao consiste na obrigao de termos de decorar conceitos e fixar regras que no significam nada para ns. No dia em que nossa lngua se concentrar no uso real, vivo e verdadeiro da lngua portuguesa do Brasil, bem provvel que ningum continue a repetir essa bobagens. Todo falante nativo de um lngua sabe essa lngua, pois saber a lngua, no sentido cientfico do verbo saber, significa conhecer intuitivamente e empregar com naturalidade as regras bsicas de funcionamento dela. A regncia verbal caso tpico de como o ensino tradicional da lngua no Brasil no leva em conta o uso brasileiro do portugus. Por mais que o aluno escreva o verbo assistir de forma transitiva indireta, na hora de se expressar passar para a forma transitiva direta: "ainda no assisti o filme do Zorro!"Tudo isso por causa da cobrana indevida, por parte do ensino tradicional, de uma norma gramatical que no corresponde realidade da lngua falada no Brasil."As pessoas sem instruo falam tudo errado" Isso se deve simplesmente a um questo que no lingustica, mas social e poltica as pessoas que dizem Crudia, Praca, Pranta pertencem a uma classe social desprestigiada, marginalizada, que no tem acesso educao forma e aos bens culturais da elite, e por isso a lingua que elas falam sobre o mesmopreconceitoque pesa sobre elas mesmas, ou seja, sua lngua considerada "feia", "pobre", "carente", quando na verdade apenas diferente da lngua ensinada na escola. Assim, o problema no est naquilo que se fala, mas em quem fala o qu. Neste caso, o preconceito lingstico decorrncia de um preconceito social."O lugar onde melhor se fala portugus no Brasil o Maranho" O que acontece com o portugus do Maranho em relao ao portugus do resto do pas o mesmo que acontece com o portugus de Portugal em relao ao portugus do Brasil: no existe nenhuma variedade nacional, regional ou local que seja intrinsecamente "melhor", "mais pura", "mais bonita", "mais correta" que outra. Toda variedade lingstica atende s necessidades da comunidade de seres humanos que a empregam. Quando deixar de atender, a ela inevitavelmente sofrer transformaes para se adequar novas necessidades."O certo falar assim porque se escreve assim" o que acontece que em toda lngua mundo existe um fenmeno chamado variao, isto , nenhuma lngua falada do mesmo jeito em todos os lugares, assim como nem todas as pessoas falam a prpria lngua de modo idntico. A ortografia oficial necessria, mas no se pode ensin-la tentando criar uma lngua falada "artificial" e reprovando como "erradas" as pronncias que so resultado natual das foras internas que governam o idiomas." preciso saber gramtica para falar e escrever bem" Segundo Mrio Perini em Sofrendo a gramtica (p.50), "no existe um gro de evidncia em favor disso; toda a evidncia disponvel em contrrio". Afinal, se fosse assim, todos os gramticos seriam grandes escritores, e os bons escritores seriam especialistas em gramtica.A gramtica normativa decorrncia da lngua, subordinada a ela, dependente dela. Como a gramtica, porm, passou a ser um instrumento de poder e de controle. A lngua passou a ser subordinada e dependente da gramtica."O domnio da norma culta um instrumento de ascenso social" esse mito como o primeiro so aparentados porque ambos tocam em srias questes sociais. A transformao da sociedade como um todo est em jogo, pois enquanto vivermos numa estrutura social cuja existncia mesma exigedesigualdades sociaisprofundas, toda tentativa de promover a "ascenso" social dos marginalizados , seno hipcrita e cnica pelo menos de uma boa inteno paternalista e ingnua.O autor do livro descreve a existncia de um crculo vicioso de preconceito lingstico composto de trs elementos: o ensino tradicional, a gramtica tradicional e os livros didticos. Na viso de Bagno, isso no funciona assim, "a gramtica tradicional inspira a prtica de ensino, que por sua vez provoca o surgimento da indstria do livro didtico, cujos autores, fechando o crculo, recorrem gramtica tradicional como de fonte de concepes e teorias sobre a lngua".A maneira como o ensino administrado tem sido estudada pelo Ministrio da Educao e nosParmetros curriculares nacionais" reconhece que h "muito preconceito decorrente do valor atribudo s variedades padro e ao estigma associado s variedades no-padro, consideradas inferiores ou erradas pela gramtica. Essas diferenas no so imediatamente reconhecidas e, quando so, so objeto de avaliao negativa. Bagno cita o quarto elemento como sendo os comandos paragramaticais, ou seja todo esse arsenal de livros, manuais de redao de empresas jornalsticas, programadas de rdio e de televiso, colunas de jornal e de revista, CD-ROMS, "consultrios gramaticais" por telefone e por a afora, que a "saudvel epidemia" citada por Arnaldo Niskier.De acordo com Bagno, o formidvel poder de influncia dos meios de comunicao e dos recursos da informtica poderia ser de grande utilidade se fosse usado precisamente na direo oposta: na destruio dos velhos mitos, na elevao da auto-estima lingstica dos brasileiros, na divulgao do que h de realmente fascinante no estudo da lngua.

Bagno cita o professor Napoleo Mendes de AlmeidaFalecido em 1998, como o mais respeitado e renomado propagador do preconceito lingstico por meio de comandos paragramaticais no Brasil durante muito tempo. Ele nunca escondeu sua intolerncia e seu autoritarismo em suas colunas de jornal, como tambm o seu profundo preconceito social registrado no seu Dicionrio de questes vernculas. Para Napoleo, a literatura brasileira morreu com Machado de Assis, tudo que veio com o Modernismo e a modernidade desprezvel. Carlos Drummond de Andrade, nem pensar. Napoleo o condenou aos infernos s porque trocou o verbo haver pelo ter no verso " No meio do caminho tinha uma pedra".Alm de Napoleo, Marcos Bagno cita tambm Luiz Antnio Sacconi que escreveu o livro No erre mais! Um festival de besteiras que consumido com todo o tipo de expresses preconceituosas.Mas segundo Bagno, o problema se estende imprensa. Ele destacou uma coluna da Professora Dad Squarisi, que escreve no Correio Brasiliense as Dicas de Portugus, e analisou. preciso reconhecer a capacidade da Professora Dad e a utilidade dela no resultado.Bagno faz uma avaliao rigorosa a uma coluna publicada no Correio Brasiliense em 26.06.1996 e republicada no Dirio de Pernambuco no dia 15.11.1998, com o ttulo Portugus ou Caipirs?, a que se referia viagem do presidente Fernando Henrique Cardoso Portugal, quando acusou os brasileiros de serem todos caipiras.O texto de Bagno aponta todos os preconceitos praticados pela autora da coluna contra o povo brasileiro, sem esquecer da questo gramatical.Dad afirma que o brasileiro, caipira, jeca-tatu, capial, matuto, "sem nenhum compromisso com a gramtica portuguesa, no faz concordncia em frases como vende-se carros". Segundo Bagno "a questo da partcula se em enunciados do tipo acima vem sendo investigada h muito tempo nos estudos gramaticais e lingsticos brasileiros. O que todos os estudiosos concluem que, na lngua falada no Brasil, no portugus brasileiro, ocorreu uma reanlise sinttica nesse tipo de enunciado, isto , o falante brasileiro no considera mais esses enunciados como oraes passivas sintticas. O que a gramtica normativa insiste em classificar como sujeito a gramtica intuitiva do brasileiro interpreta como objeto direto.Mas Bagno informa ainda que os lingistas Manoel Said Ali, Antenor Nascentes e Joaquim Mattoso Cmara Jr., reconhecem o fenmeno e que em todas as classes sociais o brasileiro escreve o verbo no singular e pe o substantivo no plural. Ele mostra tambm que em Portugal expe este mesmo "defeito" gramatical. Bagno quer dizer com esse exemplo que as normas cultas so vrias e mudam de acordo com o uso da lngua. A Rigidez na defesa de certos dogmas pode no apenas reforar preconceitos como expor os especialista a uma situao indesejvel.No podemos deixar de reconhecer a existncia de uma crise no ensino da Lngua Portuguesa, nascida na recusa dos defensores da gramtica tradicional em acompanhar os avanos da cincia da linguagem. Para se mudar esse quadro necessrio uma mudana de atitude, perder essa idia de "certo" e "errado" e refletir a respeito dessasdez cises propostas por Bagno para um ensino mais consciente e menos preconceituoso:1) Conscientizar-se de que todo falante nativo de uma lngua um usurio competente dessa lngua, por isso ele SABE essa lngua. Com mais ou menos quatro anos de idade, uma criana j domina integralmente a gramtica de sua lngua. Sendo assim,2) No existe erro de portugus. Existem diferentes gramticas para as diferentes variedades de portugus, gramticas que do conta dos usos que diferem da alternativa nica proposta pela Gramtica Normativa.3) No confundir erro de portugus (que, afinal, no existe) com simples erro de ortografia. A ortografia artificial, ao contrrio da lngua, que natural. A ortografia uma deciso poltica, por isso ela pode mudar de uma poca para outra. Lnguas que no tm sistema escrito nem por isso deixam de ter sua gramtica.4) Tudo o que os gramticos conservadores chamam de erro na verdade um fenmeno que tem uma explicao cientfica perfeitamente demonstrvel. Nada por acaso.5) Toda lngua muda e varia. O que hoje visto como certo j foi erro no passado. O que hoje visto como erro pode vir a ser perfeitamente aceito como certo no futuro da lngua.6) A lngua portuguesa no vai nem bem, nem mal. Ela simplesmente VAI, isto , segue seu caminho, transformando-se segundo suas prprias tendncias internas.7) Respeitar a variedade lingstica de uma pessoa respeitar a integridade fsica e espiritual dessa pessoa como ser humano digno de todo respeito, porque8) A lngua permeia tudo, ela nos constitui enquanto seres humanos. Ns somos a lngua que falamos. Enxergamos o mundo atravs da lngua. Assim,9) O professor de portugus professor de TUDO. Por isso talvez devesse ter um salrio igual soma dos salrios de todos os demais professores.10) Ensinar bem ensinar para o bem. valorizar o saber intuitivo do aluno e no querer suprimir autoritariamente sua lngua materna, acusando-a de ser "feia" e "corrompida". O ensino da norma culta tem de ser feito como um acrscimo bagagem lingstica da pessoa e no como uma substituio de uma lngua "errada" por uma "certa".Na quarta parte do livro o autor trata do preconceito contra a lingstica e os lingistas. De acordo com Bagno, os termos e conceitos da Gramtica Tradicional estabelecidos h mais de 2.300 anos, continuam a ser repassados praticamente intactos de uma gerao de alunos para outra, como se desde aquela poca remota no tivesse acontecido nada na cincia da Linguagem.Com referncia a lingstica ele diz que como toda a cincia, o lugar das surpresas, das descobertas, do novo, da substituio de paradigmas, da reformulao crtica das teorias. Mesmo com todas essas inovaes , a gramatical tradicional ainda encontra apoio e defesa quase que irracional.A atividade dos lingistas brasileiros, segundo Marcos Bagno, vem sofrendo ataques contra qualquer tentativa de democratizao do saber e da sociedade. Os atuais detratores da cincia lingstica acusam os estudiosos da linguagem de defenderem o no-ensino das formas padronizadas do portugus, numa tentativa detalhada e sofisticada em duas ou trs afirmaes toscas e propositadamente deturpadas.Bagno cita em seu livro um caso de preconceito contra os lingistas, por absolutas desconsiderao e omisso. Refere-se ao projeto de lei (de 1999) do deputado Aldo Rebelo (PcdoB/SP) sobre "a promoo, a proteo, a defesa e o uso da lngua portuguesa, que embora tratando de assuntos que dizem respeito ao campo de investigao da lingstica terica e aplicada, em nenhum momento faz referncia aos cientistas da linguagem, s pessoas que se dedicam profissionalmente ao estudo da lngua.Alm de Aldo Rebelo, Bagno cita nomes como Napoleo que lanava seu ataques contra o lingista e as concepes obscurantistas sobre a cincia da linguagem de Pasquale Cipro Neto.Por fim o Professor Marcos Bagno em uma carta enviada Revista Veja, diz que nossos meios de comunicao de massa se encontram na contramo da Histria quando o assunto lngua. Pois a mdia continua a dar as costas investigao cientfica da linguagem, preferindo consagrar-se a divulgao dos "mitos" em nossa lngua, deixando espao para alguns oportunistas com atitudes anticientficas dogmticas e at obscurantistas a respeito da lngua e seu ensino. E solicita ento que seja concedido um espao aos verdadeiros especialistas, s pessoas que dedicam toda a sua energia, vida e inteligncia ao estudo dos fenmenos da linguagem humana e proposio de novos mtodos de ensino, capazes de dar voz aos que, por fora de tantas estruturas sociais injustas, sempre foram mantidos em silncio.