Fichamento Weber a Objetividade CSO

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CFH – Centro de Filosofia e Ciências Humanas Dpto de Sociologia Política Prof. Carlos Eduardo Sell Teoria Sociológica II Nome: Ivan Tadeu Gomes de Olivreira Fichamento – A “objetividade” do conhecimento na Ciência Social e na Ciência Política – 1904 1 – Que princípios diferenciam as Ciências Sociais das Ciências Naturais? “Por mais que, na ciência social, sejam necessárias explicações 'de princípios' sobre problemas práticos, isto é, a referência a juízos de valor que se introduzem de maneira não-refletida, com referência ao conteúdo das ideias, e por mais que a nossa revista se proponha dedicar-se de maneira particular a tais explicações, certamente não poderá ser sua tarefa - e, de maneira geral, de nenhuma ciência empírica - determinar um denominador comum prático para os nossos problemas na forma de ideias últimas e universalmente válidas; uma tal determinação não apenas seria praticamente impossível, como também não teria nenhum sentido. Por mais que fosse possível interpretar o fundamento e o modo de obrigatoriedade dos imperativos éticos, é certo que, a partir destes imperativos, enquanto normas para a ação dos indivíduos condicionadas concretamente, é impossível é de deduzi, de maneira unívoca, conteúdos culturais que sejam obrigatórios, e tanto menos quanto mais forem abrangentes os conteúdos em questão. Somente as religiões positivas 0 ou, para sr mais preciso, as seitas ligadas por um dogma – podem conferir ao conteúdo de valores culturais a dignidade de um mandamento ético incondicionalmente válido” pag. 112/113 “Enquanto que, no campo da Astronomia, os aspectos celestes apenas despertam o nosso interesse pelas suas quantitativas, suscetíveis de medições exatas, no setor das ciências sociais, pelo contrário, o que nos interessa é o aspecto qualitativo dos fatos. Devemos ainda acrescentar que, nas ciências sociais, se trata da intervenção de fenômenos espirituais, cuja 'compreensão' por 'revivência' constitui uma tarefa especificamente diferente da que poderiam, ou quereriam resolver as fórmulas do conhecimento exato da natureza. Apesar de tudo isso, tais diferenças não são categóricas, como nos poderia parecer à primeira vista. Exceto o caso da mecânica pura, nenhuma ciência da natureza pode prescindir da noção de qualidade. Além diso, deparemo-nos em nosso próprio campo, com a opinião – errônea – de que o fenômeno, fundamental para a nossa cultura, do comércio financeiro, é suscetível de quantificação e, portanto, cognoscível, mediante 'leis'. Por fim, dependeria da definição mais ou menos lata do conceito de 'lei' que nele se pudesse incluir, as regularidades não suscetíveis de uma expressão numérica, devido ao fato de não serem quantificáveis. No que diz respeito especialmente à intervenção de motivos 'espirituais', es, de modo algum, exclui o estabelecimento de regras para uma atuação racional” pag. 126 “Todavia, e, tanto num caso como no outro, tornar-se-ia impossível chegar algum dia a deduzir a realidade da vida a partir destas 'leis' e 'fatores'” pag. 126/127

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CFH – Centro de Filosofia e Ciências HumanasDpto de Sociologia PolíticaProf. Carlos Eduardo Sell

Teoria Sociológica II

Nome: Ivan Tadeu Gomes de Olivreira

Fichamento – A “objetividade” do conhecimento na Ciência Social e na Ciência Política – 1904

1 – Que princípios diferenciam as Ciências Sociais das Ciências Naturais?

“Por mais que, na ciência social, sejam necessárias explicações 'de princípios' sobre problemas práticos, isto é, a referência a juízos de valor que se introduzem de maneira não-refletida, com referência ao conteúdo das ideias, e por mais que a nossa revista se proponha dedicar-se de maneira particular a tais explicações, certamente não poderá ser sua tarefa - e, de maneira geral, de nenhuma ciência empírica - determinar um denominador comum prático para os nossos problemas na forma de ideias últimas e universalmente válidas; uma tal determinação não apenas seria praticamente impossível, como também não teria nenhum sentido. Por mais que fosse possível interpretar o fundamento e o modo de obrigatoriedade dos imperativos éticos, é certo que, a partir destes imperativos, enquanto normas para a ação dos indivíduos condicionadas concretamente, é impossível é de deduzi, de maneira unívoca, conteúdos culturais que sejam obrigatórios, e tanto menos quanto mais forem abrangentes os conteúdos em questão. Somente as religiões positivas 0 ou, para sr mais preciso, as seitas ligadas por um dogma – podem conferir ao conteúdo de valores culturais a dignidade de um mandamento ético incondicionalmente válido” pag. 112/113

“Enquanto que, no campo da Astronomia, os aspectos celestes apenas despertam o nosso interesse pelas suas quantitativas, suscetíveis de medições exatas, no setor das ciências sociais, pelo contrário, o que nos interessa é o aspecto qualitativo dos fatos. Devemos ainda acrescentar que, nas ciências sociais, se trata da intervenção de fenômenos espirituais, cuja 'compreensão' por 'revivência' constitui uma tarefa especificamente diferente da que poderiam, ou quereriam resolver as fórmulas do conhecimento exato da natureza. Apesar de tudo isso, tais diferenças não são categóricas, como nos poderia parecer à primeira vista. Exceto o caso da mecânica pura, nenhuma ciência da natureza pode prescindir da noção de qualidade. Além diso, deparemo-nos em nosso próprio campo, com a opinião – errônea – de que o fenômeno, fundamental para a nossa cultura, do comércio financeiro, é suscetível de quantificação e, portanto, cognoscível, mediante 'leis'. Por fim, dependeria da definição mais ou menos lata do conceito de 'lei' que nele se pudesse incluir, as regularidades não suscetíveis de uma expressão numérica, devido ao fato de não serem quantificáveis. No que diz respeito especialmente à intervenção de motivos 'espirituais', es, de modo algum, exclui o estabelecimento de regras para uma atuação racional” pag. 126

“Todavia, e, tanto num caso como no outro, tornar-se-ia impossível chegar algum dia a deduzir a realidade da vida a partir destas 'leis' e 'fatores'” pag. 126/127

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2 – Por que, apesar da referência à valores, a Ciências Social é um saber objetivo?

“Não existe nenhuma análise científica totalmente 'objetivada' da vida cultural, ou […] dos 'fenômenos sociais', que seja independente de determinadas perspectivas especiais e parciais, graças Às quais estas manifestações possam ser, explicita ou implicitamente, consciente ou inconsciente, selecionadas, analisadas e organizadas na exposição, enquanto objeto da pesquisa.” pag. 124

“[...] em as ideias de valor do investigador, não existiria nenhum princípio de seleção, nem o conhecimento sensato do real singular, da mesma forma como sem a crença do pesquisador na significação de um conteúdo cultural qualquer, resultaria completamente desprovido de sentido todo o estudo do conhecimento da realidade individual, pois também a orientação da sua convicção pessoal e a difração de calores no espelho da sua alma conferem ao seu trabalho uma direção.” pag. 132

“[...] apenas as ideias de valor que dominam o investigador e uma época podem determinar o objeto do estudo e os limites deste estudo” pag. 133

“No que concerne ao método da investigação, o 'como' é o ponto de vista dominante que determina a formação dos conceitos auxiliares de que se utiliza. E quanto ao método de utilizá-los, o investigador encontra-se evidentemente ligado às normas de nosso pensamento. Porque só é uma verdade científica aquilo que pretende ser válido para os os que querem a verdade.” pag. 133

“A validade objetiva de todo o saber empírico baeia-se única e exclusivamente na ordenação da realidade dada segundo categorias que ssão subjetivas, no sentido específico de representarem o pressuposto de nosso conhecimento e de associarem, ao pressuposto de que é valiosa, aquela verdade que só o conhecimento empírico nos pode proporcionar. Com os meios da nossa ciência, nada poderemos oferecer Àquele que considere que essa verdade não tem valor, visto que a crença no valor da verdade científica é produto de determinadas culturas, e não um dado da natureza.” pag. 152

“A 'objetividade' do conhecimento no campo das ciências sociais depende antes do fato de o empiricamente dado estar constantemente orientado por ideias de valor, que são as únicas a conferir-lhe valor de conhecimento; e ainda que a significação desta objetividade apenas se compreenda a partir de ideias de valor, não se trata de converter isso no pedestal de uma prova empiricamente impossível de sua validade.” pag. 153

“É preciso não darmos a tudo isso uma falsa interpretação no sentido de considerarmos que a autêntica tarefa das ciências sociais consiste numa perpétua caça a novos pontos de vista e construções conceituais. Pelo contrário, convém insistir mais do que nunca no seguinte: servir o conhecimento da significação cultural de complexos históricos e concretos constitui no fim ultimo e exclusivo ao qual, juntamente com os outros meios, é dedicado também ao trabalho da construção e crítico de conceitos. Utilizando o termos de Friederich Theodor Vischer, concluiremos que, em nossa disciplina, também existem cientistas que 'cultivam a matéria' e outros que 'cultivam o espírito'.” pag. 153

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3 – O que é e qual o papel dos tipos ideais?

“No que diz respeito à investigação, o conceito de tpo ideal propõe-se a formar o juízo de atribuição. Não é uma 'hipótese', mas pretende apontar o caminho para a formação de hipóteses. Embora não constitua uma exposição da realidade, pretende conferir a ela meios expressivos unívocos.” pag. 137

“Qual é a s significação desses conceitos de tipo ideal para uma ciência empírica, tá como nós pretendemos praticá-la? Queremos sublinhas desde lodo a necessidade de que os quadros de pensamento que aqui abordamos 'ideais' em sentido puramente lógico, sejam rigorosamente separados da noção do dever de ser, do 'exemplar'. Trata-se da construção de relações que parecem suficientemente motivadas para a nossa imaginação e, consequentemente, 'objetivamente possíveis', e que parecem adequadas ao nosso saber nomológico.” pag. 138/139

“Portanto, a construção de tipos ideais abstratos não interessa como fim, mas única e exclusivamente como meio de conhecimento.” pag. 139

“Se quisermos tentar uma definição genética do conteúdo do conceito, restar-nos-á apenas a forma de pensamento, não da realidade história, e muito menos da realidade 'autêntica'; não serve de esquema em que se possa incluir a realidade à maneira de exemplar. Tem, antes, significado de um conceito limite, puramente ideal, em relação ao qual se mede a realidade a fim de esclarecer o conteúdo empírico de alguns dos seus elementos importantes, e com o qual esta é comparada. Rais conceitos são configurações nas quais construímos reações, por meio da utilização da categoriais de possibilidade objetiva, que a nossa imaginação, formada e orientada segundo a realidade, julga adequadas.” pag. 140

“Conceitos genéricos, tipo ideal, conceitos genéricos de estrutura típico-ideais, ideias no sentido de combinações de pensamento que influem empiricamente nos homens históricos, tipos ideais dessas ideias, ideais que dominam os homens, tipos ideais desses ideais, ideais a que historiados refere a História, construções teóricas com a utilização ilustrativa do empírico, investigação histórica com a utilização de conceitos retóricos como casos imite ideais, enfim, as mais diversas complicações possíveis, que apenas pudemos aqui assinalar – tudo são construções ideais cuja relação com a realidade empírica do imediatamente dado é, em casa caso particular, problemática.” pag. 147

“Na essência de sua tarefa está o caráter transitório de todas as construções típico-ideais, mas também o fato de serem inevitáveis construções típico-ideais sempre novas” pag. 148

Bibliografia

WEBER, Max. Metodologia das Ciências Sociais, parte 1; tradução de Augustin Wernet; introdução à edição brasileira de Maurício Tragtenberg. - São Paulo: Cortez; Campinas, SP: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1992.