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Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do Ministério Público da União no DF Filiado à CUT/FENAJUFE Ano XVIII - nº 70 Novembro de 2010

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Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciárioe do Ministério Público da União no DF

Filiado à CUT/FENAJUFE

Ano XVIII - nº 70Novembro de 2010

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Em Buenos Aires para cumprir a agenda de lançamento dos Pontos de Culturada capital, fomos surpreendidos pela morte de Néstor Kirchner e mantivemos oscontatos com a sociedade (já previstos) acentuados pela dor e a solidariedadeno impacto dessa perda. Os Pontos de Cultura, parte do Programa Cultura Vivado Ministério da Cultura, crescem como conceito em toda América Latina(principalmente Uruguai, Argentina, Colômbia, Peru, Equador e Bolívia).Sem fórmulas definidas, a não ser o conceito básico de que o Estado não fazcultura, mas potencializa e respeita o que já pulsa na sociedade, cada país defi-ne o seu formato e em qual escala deseja aplicar alguns elementos do Progra-ma. Esses países já aplicam políticas culturais com ênfase no protagonismo ecom forte envolvimento social. Os Pontos são um impulso orgânico. Transferidoo lançamento (para 26 de novembro), os grupos culturais se juntaram àsmanifestações comoventes de respeito e carinho pelo presidente Néstor e,principalmente, enviavam mensagens de força para a continuidade de Cristinaem suas recentes lutas contra empresas de comunicação, ruralistas e políticosde oposição (alguns, até, de outras linhas peronistas). O que mais se percebiaera a realidade de uma nova conjuntura latinoamericana e uma força civil es-pontânea (não alinhada a organizações políticas) nas ruas. Há uma crescenteconsciência de que a cultura pode ser a grande mediadora solidária na Américado Sul quando barreiras econômicas e de mercado falham.TT CATALÃO

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ARTE EM BRASÍLIA

Edição:Usha Velasco (DRT-DF 954/99)

Reportagem:Deniza GurgelFabíola GóisHylda CavalcantiThais AssunçãoValéria de Velasco

Colaboradores:TT CatalãoJosé Geraldo de Sousa JuniorYuri Matsumoto MacedoAndré Luis Macedo

Revisão: Ana Paula Barbosa CusinatoProjeto gráfico e arte: Usha VelascoTiragem: 15.000 exemplares

Contato comercial: Julliane DouradoFones: (61) 8485-9959 - (61) 3037-9761

Coordenadores-GeraisAna Paula Barbosa CusinatoBerilo José Leão NetoRoberto Policarpo

Coordenadores deAdministração e FinançasCledo de Oliveira VieiraJailton Mangueira AssisRaimundo Nonato da Silva

Coordenadores de AssuntosJurídicos e TrabalhistasJosé Oliveira Silva

Marília Guedes de AlbuquerqueNewton José Cunha Brum

Coordenadores de Formaçãoe Relações SindicaisJosé Joventino Pereira de SousaAntônio José Oliveira SilvaEliane do Socorro Alves da Silva

Coordenadores deComunicação, Cultura e LazerSheila Tinoco Oliveira FonsecaMaria Angélica PortelaValdir Nunes Ferreira

Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do MPU no DFSDS, Ed. Venâncio V, s. 108 a 114, Brasília-DF, 70393-900 • (61) 3212-2613

www.sindjusdf.org.br

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JOSÉ ROSA

Especialista em pinhole – fotografia sem lentes, com uma lata ou caixa no lugar de câmera –, José Rosa desenvolvehá dez anos o projeto Fotolata: Arte & Ciência. Num trailler que funciona como sala de aula e laboratório

fotográfico, ele oferece aulas a interessados em geral, a alunos da rede pública e a comunidades carentes no DF eno interior do país. O projeto tem cunho social e visa desmitificar a complexidade da arte fotográfica, promover a

construção do conhecimento e a inclusão social, utilizando a fotografia pinhole como atrativo.

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4 Revista do Sindjus • Novembro de 2010

esde Sócrates, passando por Platão, Maquiavel,Erasmo de Roterdã, e até D. Pedro II, com suas

exortações paternais dirigidas à filha regente, a lite-ratura organiza uma série de predicações que for-mam um impressionante legado de conselhos aosgovernantes.

D. Pedro II, por exemplo, numa de suas cartas aIsabel, aludia ao sentimento inteligente do dever comoo melhor guia, mas chamava a atenção para que aprincesa observasse que o sistema político do Brasilfunda-se na opinião nacional, que, muitas vezes, nãoé manifestada pela opinião que se apregoa como pú-blica e, pode-se dizer, muito menos a que é cotidiana-mente publicada.

Se, em Maquiavel, as notas são para indicar ascoisas pelas quais os homens, e mormente os prínci-pes, são louvados ou censurados, os conselhos vãodesde a prodigalidade e a parcimônia à crueldade e àclemência, ou seja, sobre saber se é melhor ser ama-do ou temido.

Até mesmo nos grandes sistemas religiosos, doconfucionismo ao judaísmo, passando pelo cristianis-mo, pelo islamismo e pelo budismo, é possível extrairum guia moral-prático tendo como centro ético o con-selho de que o dever do governante é proteger o seupovo, contribuir para despertar a sua consciência efazê-lo na condição de que a melhor maneira para umgovernante administrar o seu país é, antes de tudo,governar-se a si próprio.

O Brasil hoje amadureceu uma experiênciademocrática que já é a mais longeva em sua históriarepublicana. E nela, a partir das mobilizações que le-varam à Constituinte de 1988, o princípio de cidada-nia demarca as relações entre povo e governantes, numprocesso de participação ativa que sobrepõe o poderpopular a todos os poderes constituídos.

Nenhum governante se legitimará, mesmo sufra-gado eleitoralmente, se não preservar esse princípio.Veja-se, no último período eleitoral, a força da inicia-tiva popular em fazer valer a exigência de honestida-de com a adoção imediata do critério de “ficha lim-pa” para homologar candidaturas, vencendo as hesi-tações mais renitentes do Legislativo, do Judiciário e

José Geraldode Sousa Junior

Reitor da Universidade deBrasília, professor da Faculdade

de Direito e coordenador doprojeto O Direito Achado na Rua

É a educação quepermite substituir o

favor pelo direito.Com ela, pode-se

realizar plenamente acondição republicanapela mediação da de-

mocracia e o exercí-cio da cidadania

contra práticas políti-cas que se sustentam

nos extremos dopersonalismo e nasrelações de família

O pró-labore de José Geraldopara este artigo é doado

mensalmente à campanha devoluntariado Eu Doo Talento

(veja em www.sindjusdf.org.br)

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de grandes veículos de comunicação.Abrir-se, pois, à opinião sensata e à divergência,

proporcionada por um povo educado, é uma condiçãopara a boa governança – para lembrar o conselho doestadista indiano Kautilya, que viveu 1.800 anos an-tes de Maquiavel.

Lembrando Maquiavel, é sempre bom guar-dar seu conselho o perigo de coligações com quemseja mais poderoso, porque na vitória corre-se o riscode dependência aos seus caprichos.

Daí a importância da educação, se não para asse-gurar o melhor preparo para o exercício da função di-rigente, ao menos para livrá-la de outro perigo nefas-to que é a adulação. Cercar-se de gente bem-educada,com capacidade crítica, é afastar, propõe Erasmo, asartimanhas do fingimento ou da mentira cujo fim der-radeiro é assegurar favores.

O próprio Erasmo, interpretando Diógenes, ima-gina que o que este tinha em mente (quando replicouà pergunta “Qual o animal mais perigoso de todos?”com a resposta“Se te referes a animais selvagens, o ti-rano; se falas de animais domesticados, o adulador”)era revelar, nesse protótipo de depravação da política, asua expressão venenosa que se manifesta como praga.

É a educação que permite substituir o favor pelodireito. Com ela, pode-se realizar plenamente a con-dição republicana pela mediação da democracia ou,como na interpretação pertinente de Antonio Cândi-do, em prefácio a uma das edições de Raízes do Bra-sil, de Sérgio Buarque de Holanda, o exercício da ci-dadania contra práticas políticas que se sustentamnos extremos do personalismo e nas relações de fa-mília ou de simpatia.

Com a educação, de simples votantes, que per-mitem a continuidade da política tradicional, os mem-bros ativos da comunidade passam a ser protagonis-tas permanentes da administração pública. Além decontribuir para o aprofundamento do exercício da de-mocracia na relação entre os cidadãos e o poder pú-blico, significa uma possibilidade ampliada para que obom governante saiba ordenar prioridades de desen-volvimento sustentável e promover justiça social.

OPINIÃO

Conselhos aogovernante

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“O que está emjogo é a autoridadedo Poder Judiciário,que não pode sersubmissa aosinteresses doLegislativo e doExecutivo. Sendoassim, é necessárioque a cobrança doacordo parta dopresidente do STF”

AO LEITOR

Roberto PolicarpoCoordenador-geraldo Sindjus

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Questão de autoridadeA pressão realizada pelos ser-vidores referente à aprovaçãodo PL 6613/09 teve como re-sultado um acordo firmado en-tre os presidentes Lula e Pelu-so, no sentido de que o projetoseria votado logo após o pro-cesso eleitoral. Findo o períododas eleições, o Congresso vol-tou a funcionar normalmente;no entanto, o acordo ainda nãofoi cumprido. Pior, notícias di-vulgadas por integrantes dogoverno fazem colocar em xe-que tal compromisso.

O que está em jogo é a au-toridade do Poder Judiciário,

que não pode ser submissa aos interesses do Legislativoe do Executivo. Sendo assim, é necessário que a cobran-ça do acordo em questão parta do presidente do STF,autoridade máxima do Poder Judiciário. Afinal, foi umacordo assumido entre dois presidentes. Um acordo quevisa não só equiparar o salário dos servidores do Poder

Judiciário ao de carreiras análogas, mas evitar que a ins-tituição em questão sofra um colapso gerado pela eva-são em massa de concursados.

É, no mínimo, injusto que o Plano de Cargos, Carreirae Remuneração dos servidores do Poder Judiciário seja oúnico que para ser aprovado precise passar pelo crivo dostrês poderes. A autonomia financeira do Judiciário estácontemplada no artigo 99 da Constituição Federal e refe-rendada pela Emenda Constitucional 45. No entanto, paraefetivar projetos referentes à sua ampliação e aperfeiçoa-mento de sua estrutura física e quadro de pessoal, porexemplo, o Poder Judiciário precisa colocar o pires na mãoe depender da boa vontade dos outros poderes.

Para que a isonomia entre os poderes deixe de serapenas um texto constitucional, o Executivo e o Legis-lativo precisam respeitar e valorizar as demandas doJudiciário. Não é justo que servidores que desenvol-vem funções semelhantes a outras carreiras públicasganhem 80% menos. É preciso que o presidente doSTF coloque “os pingos nos is” e faça justiça em rela-ção àqueles que compõem o quadro do Judiciário. Éisso que esperamos de Peluso ou de qualquer outroministro que ocupe esse cargo.

GERVÁSIO BAPTISTA/STF

STF e Palácio doPlanalto (ao fun-do): isonomiaentre os poderesnão pode serapenas um textoconstitucional

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epercutiu em toda a imprensa, nasegunda semana de novembro, a

defesa do reajuste dos servidores feitapela diretor-geral do Supremo TribunalFederal, Alcides Diniz. Ele rebateu pu-blicamente a crítica do ministro do Pla-nejamento, Paulo Bernardo, à propostade reajuste de 56% aos servidores doJudiciário, que tramita no CongressoNacional. Reportagem de Débora San-tos, do G1, informa que o diretor-geral“afirmou que o objetivo é evitar a eva-são de profissionais para outras carrei-ras com melhores salários”.

Diniz reagiu a uma declaração doministro, que chamou de “delirante”o reajuste pretendido. O diretor lem-brou também que “a proposta de rea-juste de 56% não equipara os venci-mentos do Judiciário aos de outros po-deres, apenas corrige a defasagem”.Uma defasagem extremamente preju-dicial, como ele destacou: “Na medi-da em que você perde valores, nãoatrai novos profissionais e perde qua-lidade. Com isso, você afeta a presta-ção jurisdicional. O Judiciário vai en-trar em colapso.”

O que o diretor-geral do Supremoafirmou chamou a atenção, mas não éuma novidade. “No final de 2009 oministro Gilmar Mendes, que na épo-

ca era o presidente do STF, tambémcantou essa pedra”, recorda o coor-denador-geral do Sindjus, Roberto Po-licarpo, “e reclamou do fato de que oPoder Judiciário estava perdendo seusmelhores quadros para as carreiras doExecutivo e do Legislativo, que paga-vam melhor”, completa.

Para Policarpo, o segundo pontomais grave em todo esse longo e pe-noso esforço do governo para retar-dar a aprovação do novo plano de car-reira dos servidores do Judiciário e doMinistério Público – além da demorae de suas óbvias consequências paraos servidores e seus familiares – é acrise institucional que se desenha noplano de fundo do Estado, no que dizrespeito à independência e à autono-mia dos três Poderes da República.

“Quando suspendemos a greve demais de quarenta dias pela aprovaçãodos PLs 6613 e 6697, foi pela confi-ança no acordo feito entre o presidentedo STF e o presidente Lula”, lembraPolicarpo. “Agora é hora de Pelusocobrar o cumprimento desse acordo.Caso contrário, teremos à vista umacrise grave. Não é apenas uma ques-tão de evitar a evasão de servidores eassegurar o funcionamento da Justi-ça, mas também de resguardar a pró-

afirmaçãoMomento de

Aprovação do reajustenão é apenas uma questãode evitar a evasão deservidores, mas tambémde resguardar a autoridadedo Poder Judiciário

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Servidoresem greveem dezembrode 2009:pressãopelos PLs

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pria autoridade do Poder Judiciário, quenão pode se colocar numa posição de sub-missão”, analisa o coordenador.

O analista político Antônio CarlosQueiroz concorda: “Quando o Poder Exe-cutivo se recusa a cumprir a determina-ção dos órgãos de outros Poderes, que têmautonomia administrativa e financeira, en-tão se estabelece um conflito de compe-tências, de quebra de prerrogativas. Issoé extremamente sério”, alerta ele. E com-pleta: “Há dois compromissos a cumpriraí: a Constituição, que determina a auto-nomia administrativa, orçamentária e fi-nanceira dos Poderes, e a palavra do pre-sidente da República de que precisaría-mos apenas esperar as eleições.”

Não se faz uma reformulação decarreira da noite para o dia. O Sindjusvem mobilizando todos os setores dacategoria desde o início do processo deformulação do PCCR, há quase doisanos e meio. “Começou com as discus-sões setoriais promovidas nos órgãosdo Judiciário e no Ministério Público”,relembra Policarpo.

“Foi uma consulta ampla, seguidapelos trabalhos de elaboração dos doisanteprojetos de lei. Depois disso pas-samos pela fase seguinte, uma fase di-fícil, a de pressionar para que os PLsfossem encaminhados ao CongressoNacional a tempo de implementar o re-ajuste dos servidores ainda em 2010”,continua o coordenador.

Esse trabalho político, de pressãoe de convencimento, foi feito junto aopresidente do STF, que na época era o

MEMÓRIA

Um longo processoministro Gilmar Mendes, e ao procura-dor-geral da República, Roberto Gur-gel. “Infelizmente os PLs não foram en-caminhados. Tivemos que fazer umalonga greve, os servidores e o sindica-to tiveram que pressionar muito paraque os projetos fossem mandados àCâmara. E isso já em dezembro de2009”, recorda Policarpo.

Com muita negociação e muita con-versa, o Sindjus conseguiu que os diri-gentes do Judiciário se comprometes-sem a aprovar o PCCR em 2010. E co-brou esse compromisso de todas as for-mas. “A questão agora é lembrar que,além de fazer justiça aos servidores ereajustar salários defasados há tantotempo, também está na hora de o Judi-ciário se afirmar. Chega de ficar de pi-res na mão diante dos outros Poderes”,finaliza o coordenador.

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ALIENAÇÃO PARENTALA

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Especialistas recomendam atenção acondutas que atingem o outro genitor erepresentam risco de alienação parental:

Não passar recados e telefonemas dele (ou dela)para o filho criança ou adolescente.

Não falar nunca sobre ele (ou ela), ignorando sua existência. Desqualificar opiniões, atitudes e presentes dados por ele. Esconder ou destruir presentes dados por ele ao filho. Não comunicar fatos importantes na vida do filho, comocomemorações, questões escolares ou de saúde, afetivas, etc.

Tomar decisões importantes sobre o filhosem consultar o outro genitor.

Controlar com rigor excessivo os horários de visita. Não permitir que a criança veja o pai (ou a mãe)fora dos horários previamente estabelecidos.

Queixar-se do outro genitor ou criticá-lo frequentemente. Obrigar a criança ou adolescente a tomarpartido em conflitos entre a mãe e o pai.

Fazer o filho espionar a vida do ex-cônjuge. Fazer falsas acusações sobre o outro genitor.

SINAIS DE ALERTA

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Alvo de nova lei,manipulação da criançaou do adolescente para

afastá-los de um parentevira desafio para a Justiça

emocionalViolência

Valéria de Velasco

uem mais sofria (coitada!)/era a bo-neca. Já tinha/toda a roupa estra-

çalhada/e amarrotada a carinha./Tantopuxaram por ela,/que a pobre rasgou-se ao meio,/perdendo a estopa amare-la/que lhe formava o recheio...”

Quando escreveu o inocente poemacontando a disputa de duas crianças poruma boneca, o “príncipe dos poetas bra-sileiros”, Olavo Bilac, jamais suspeitariaque, 92 anos após sua morte, os versosinfantis pudessem ilustrar o drama de cri-anças e adolescentes submetidos a umaagressão que acaba de sair do âmbito res-trito dos consultórios de psicologia e psi-quiatria para ganhar os tribunais: a cha-mada Síndrome de Alienação Parental.

É exatamente assim – rasgando-seao meio – que vivem os pequenos re-féns do abuso emocional a que são sub-metidos quando o pai, a mãe ou outrapessoa que detenha a guarda se empe-nha em destruir a ligação da criança como outro genitor ou parente próximo,como os avós, para afastá-lo do conví-vio a que tem direito.

Quem mais sofre é a vítima indefesada manipulação emocional, batizada deAlienação Parental no início da décadade 80 pelo psiquiatra, escritor e profes-sor norte-americano Richard Alan Gard-ner. Ele a definiu como uma “perturba-ção” que surge principalmente no âmbi-to das disputas pela guarda e custódiadas crianças, e cuja primeira manifesta-ção é uma campanha de difamação con-tra um dos pais. O problema, analisou,

decorre da “combinação do ensinamen-to sistemático por parte de um dos pais edas próprias intervenções da criança diri-gidas ao aviltamento do progenitor”.

Denegrir a imagem, desqualificar aconduta ou dificultar a autoridade pa-terna ou materna estão entre os atosclassificados como alienação parental naLei 12.318/10, aprovada pelo Congres-so quase três décadas após a discussãoaberta por Gardner.

Ocorre alienação parental, de acordo

com a lei (leia na p. 22), quando um dosresponsáveis pela criança ou adolescen-te interfere na sua formação psicológica,fazendo com que repudie um parente eprejudicando o vínculo entre eles. Isso feredireitos fundamentais da criança e doadolescente, constitui abuso moral e re-presenta descumprimento dos deveres detutela ou guarda. E mais: desestabiliza oequilíbrio emocional da criança, interfe-rindo negativamente e de forma imensu-rável em seu desenvolvimento.

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“Não sei mais em quem acreditar.Ninguém gosta de mim coisa nenhu-ma”, reclamava o brasiliense Renato (*),11 anos. A queixa veio após a respostada mãe, a servidora pública Míriam*, àsua pergunta: “Por que você nunca falada época em que ficou doente?” Ner-voso, o menino não se contentou ao ou-vir que ela não via razão para ficar fa-lando no assunto, já que estava bem.“Se você não fala eu tenho de ficar coma versão do meu pai”, insistia a criança.“O que ele disse não aconteceu”, repe-tia a mãe, sem sucesso.

“Isso tudo é uma farsa. Como eu vousaber o que é verdade?”, gritava Renato.A versão do pai, o professor César*, quevê o menino regularmente por acordo deseparação, era a de que Míriam havia ten-tado se matar com uma faca. “Não é ver-dade. E se fosse, nunca seria assunto paracontar a uma criança”, contesta a mãe.

Angustiado, Renato começou a seculpar. “Fico achando que tenho algum

problema”, dizia. Dividido, demonstravaa insegurança que corroía sua autoesti-ma. “Se não confia nos pais e não sabeem quem acreditar, ele não consegue terconfiança nele mesmo”, avalia Míriam,que três anos antes havia sido alertadapela psicóloga para ficar atenta aos in-dícios de alienação parental.

O problema já a fazia sofrer duranteo casamento, mas ela ainda não tinhainformações para identificá-lo. As tenta-tivas de desqualificação se acirraramapós a separação e se estenderam a todaa sua família, numa ostensiva declara-ção de ruptura. “Pelos comentários e per-guntas que meu filho faz, percebo clara-mente que ele (o ex) tenta incutir a ideiade que não tenho equilíbrio, não douconta de resolver os problemas”, contaMíriam. “Sei o quanto as tentativas deme depreciar abalam o menino. Ele vol-ta muito alterado, agressivo, nervoso. Issoé preocupante, porque não é uma ca-racterística dele.”

Insegurança e agressividade

(*) Em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente, os nomes verdadeiros não são citados.

PuniçãoAs penas para os atos de alienaçãoparental variam entre advertência,

multa, ampliação do regime deconvivência familiar em favor do

genitor alienado, determinação deacompanhamento psicológico e/ou

biopsicossocial, alteração ou inversãoda guarda para guarda compartilhada,

fixação cautelar do domicílio dacriança ou adolescente e suspensão

da autoridade parental.

O que diz a Lei 12.318Conhecida com a Lei SAP (iniciais

de Síndrome de Alienação Parental),a Lei 12.318 tipifica como ilegais

condutas que coloquem em risco osvínculos e as relações afetivas entreas crianças e adolescentes e os seusparentes. Ocorre alienação parentalquando um dos responsáveis interfe-

re na formação psicológica dacriança ou adolescente, fazendo com

que repudie o outro genitor ouintegrante do grupo familiar,

prejudicando o vínculo entre eles.

MedidasNo artigo 4º, a lei determina que oprocesso tem tramitação prioritária

e o juiz pode optar pela aplicação demedidas provisórias para preservar aintegridade psicológica da criança ouadolescente envolvido e assegurar suaconvivência com o genitor. Assegura a

visitação assistida, “ressalvados oscasos de iminente risco à integridade

física ou psicológica da criança”,desde que comprovado por

profissional designado pela Justiça.

PeríciaConstatado indício da prática

de ato de alienação parental, o juizpoderá, se necessário, determinar

perícia psicológica ou biopsicossocial.A lei define os critérios para as

perícias e dá prazo de 90 dias paraa apresentação dos laudos.

DIREITOS EM JOGO

ALIENAÇÃO PARENTAL

Autor da Lei 12.318, o deputado fe-deral Régis de Oliveira explica que, porser uma violência emocional, a aliena-ção parental pode causar distúrbios parao resto da vida: depressão crônica, trans-

tornos de identidade, sentimento incon-trolável de culpa e de isolamento, com-portamento hostil e dupla personalida-de. As consequências se manifestam emgraus variáveis. Podem surgir sob a for-ma de problemas escolares e evoluir atéo uso de drogas. “A síndrome traz riscosde depressão e pode levar até ao suicí-dio”, alerta a psicóloga Marília LohmannCouri, lembrando que a ruptura afetatodo o complexo sistema familiar.

Especialista em terapia familiar e háseis anos na direção de psicologia daONG brasiliense ParticiPais, Marília apon-ta a desqualificação sistemática do ou-tro genitor entre os principais sinais doprocesso de alienação, e recomendaatenção. “A repetição das críticas e osmotivos fúteis para discriminar estão pre-sentes em frases típicas, como ‘seu painão serve para nada’, ou em atos comomandar a criança chamar o padrasto oumadrasta de pai ou mãe”, exemplifica.Marília: síndrome traz riscos até de suicídio

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Consequências graves

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De acordo com a nova lei,são atos de alienação parental quejustificam a abertura de processo:

Mudar-se para local distante, sem justificativa,para dificultar a convivência com o genitor,

familiares deste ou com avós.

Apresentar falsa denúncia contra genitor,familiares deste ou avós, visando obstruir a

convivência deles com a criança ou adolescente.

Omitir informações pessoais relevantes, inclusiveescolares, médicas e alterações de endereço.

Desqualificar a conduta ou dificultar a autoridadeparental do outro genitor; impedir o contato dele

(ou dela) com a criança ou adolescente.

Apesar de não haver pesquisas numéricas sobre alienaçãoparental no país, Marília Lohmann avalia, com base nos mais devinte anos de experiência em psicoterapia individual e familiar,que situações como a de Míriam representam minoria. “Em no-venta por cento dos casos a alienação é feita pela mãe. Mas hojeem dia existem até avós cometendo esse ato”, revela.

O presidente da Associação de Pais e Mães Separados (Apa-se), Analdino Rodrigues Paulino, engrossa o lado mais numerosodessa estatística informal. “Sou pai separado e sofri com esseproblema durante oito anos e meio”, afirma. O esforço para ga-rantir o direito de participar da vida das filhas Amanda e Gemina,na época com 2 e 8 anos de idade, respectivamente, envolveu 22processos judiciais. Além da penosa batalha jurídica ele enfrenta-va o obstáculo imposto pelos 936 quilômetros que separavamsua casa, em São Paulo, do novo domicílio das duas meninas,levadas para Goiânia pela ex-mulher. Em nenhum momento, noentanto, cogitou desistir das filhas.

“Fui o primeiro caso de guarda compartilhada em estados se-parados concedida pela Justiça”, contou Analdino, por telefone,de Boa Vista, em Roraima, aonde foi divulgar a Lei 12.318, a con-vite do Tribunal de Justiça do estado. “A lei tramitou rapidamentee pegou antes mesmo de ser aprovada. Caiu no gosto do Judiciá-rio e da mídia”, comemora. Não era para menos. A Apase, organi-zação não-governamental com sede em São Paulo e mais de dezmil associados, investiu na tese de que a união faz a força. Prepa-rou o anteprojeto da lei que tipifica as manobras contra a saúdedas relações parentais e procurou o deputado paulista Régis deOliveira, que cuidou de elaborar o projeto e apresentá-lo na Câ-mara dos Deputados.

A luta pela rápida aprovação ficou por conta da combativa redede organizações de pais e mães separados impedidos de participar

A luta de Analdino

Analdinocom Lulae a filhaAmanda:desistir,nunca

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da vida dos filhos. Todos tinham pres-sa. Afinal, filhos não precisam de auto-rização judicial para crescer. E o temponão espera. Analdino, que percorria ostribunais enquanto as duas filhas fazi-am a passagem da infância para a ado-lescência longe dele, sabe de cor o ca-minho dos corredores entre as salas poronde circulam os parlamentares que de-

cidem as leis dopaís nas duas ca-sas do Congres-so Nacional.

“Fiquei emBrasília por 45dias, fazendo lo-bby. No Brasil háo lance da leique não pega enós não podía-mos permitir quese isso aconte-cesse”, explica.“Nós”, na conta

de Analdino, são os responsáveis pe-los vinte milhões de crianças e ado-lescentes filhos de pais separados nopaís. “Uma pesquisa DataFolha, de2007, mostra que um terço dos 60milhões de brasileiros na faixa de zeroa 17 anos encontra-se nessa situação.E desse total, podemos afirmar que 80por cento, ou seja, 16 milhões, sofremalgum tipo de alienação parental”,estima o presidente da Apase.

Os números amparam o trabalhoda associação, que no site usa o slo-gan “Não enfrente seus problemassozinho”. Inspiram também a criação,país afora, de outras organizações dedefesa da igualdade parental e do di-reito dos pequenos ao equilíbrio queela pode proporcionar (veja na pági-na ao lado). “Não podemos cruzar osbraços. O homem vem sendo discrimi-nado há décadas nas varas de família.Temos um Judiciário conservador”, jus-tifica Analdino, editor de livros jurídi-

EPIDEMIA

de crianças e adolescentessão filhos de pais separados.Desse total, estima-se que

80%sofrem alienação parental,

ou seja, essa violência chega aatingir 16 milhões de jovens

Pesquisa DataFolha aponta que

20 milhões

cos que se especializou em mediaçãode conflitos familiares.

O esforço coletivo rendeu outrosavanços. A Lei 11.698, que regula aguarda compartilhada, de autoria dodeputado federal Tilde Santiago, do PTmineiro, também nasceu de um ante-projeto da Apase. E, em 2009, a Lei12.013, que manda as escolas presta-rem informações sobre os alunos aosdois genitores, estendeu a todo o paísos benefícios de medida semelhanteadotada no DF, em 2006, com a Lei3.849, apresentada pelo ex-deputadoAugusto Carvalho (PPS) a pedido daONG ParticiPais. Só criar leis, no en-tanto, não basta. “É preciso divulgar,senão vai continuar tudo do mesmojeito”, teme a diretora do ParticiPaisMarília Lohmann. Ela acredita que, sedivulgada, a lei da alienação parentalvai ajudar muito, “para que as pesso-as pensem: ‘vou com calma, senão pos-so perder a guarda do meu filho’...”

Assessora jurídica do Programade Proteção às Vítimas de Violência,da Secretaria de Justiça, DireitosHumanos e Cidadania do DF, a advo-gada Iara Lobo de Figueiredo concor-da que a lei impõe um caráter educa-tivo ao tipificar a conduta abusiva,mas levanta uma dúvida: “Será quetodos os tribunais de Justiça do paísterão técnicos da área psicossocialcapacitados para assessorar os ma-gistrados nas delicadas questões queenvolvem a alienação parental?”

A advogada ilustra a preocupa-ção com o caso de uma pequenavítima de apenas quatro anos deidade, submetida a uma duplo pro-cesso de alienação. Os diplomas decurso superior obtidos em universida-de de renome que os dois genitoresostentam não conseguem detê-los naprática de atos que a nova lei penali-za: de um lado, a mãe, que tem a

guarda, acumula denúncias de maus-tratos e adota atitudes como inventardoenças no período de férias paraque a menina não viaje com o pai,mudar-se constantemente de casapara não ser encontrada e outrostipos de sabotagens. O pai, por suavez, ensina a criança a espionar amãe e grava a menina em vídeosinduzindo-a a fazer denúncias.

O drama, segundo Iara, dá adimensão das dificuldades que aJustiça vai enfrentar se não recebero suporte necessário. “De nada adi-anta aprovar uma lei sem dar subsí-dios e instrumentos para que elaseja aplicada. É preciso assegurar apresença de psicólogos capacitadospara as demandas que envolvem odesenvolvimento psíquico das crian-ças e adolescentes, que são sempreo lado mais frágil nas disputas pa-rentais”, avalia.

ALIENAÇÃO PARENTAL

Justiça precisa de bons profissionais

Iara: “Denada adiantauma lei sem

subsídiospara sua

aplicação”

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Para que o lado mais frágil não serompa, como no poema de Bilac, é pre-ciso capacitar o olhar sobre a criança eo adolescente, pondera a psicóloga So-raya Kátia Rodrigues Pereira. “A aliena-ção provoca uma cisão e às vezes a gentenão consegue costurar. É uma cisão emque a criança tem de saber como se por-ta com a mãe, como ela é e se portacom o pai, e como ela é e se porta coma sociedade. São três formas de agir parapoder se estruturar. E se essas três for-mas não combinam entre si, é desestru-turante, é enlouquecedor, a criança nãoconsegue sair. Cai num processo depres-sivo, de uma tristeza crônica. É uma dorcrônica, porque é reflexo de uma violên-cia”, descreve Soraya. E o pior, aponta,“é tendência a se isolar, a descrença e afrieza emocional que ela usa para se pro-teger, para não sofrer”.

Especialista em psicologia infantil epresidente do Aconchego, organizaçãonão-governamental de apoio à adoçãoe ao apadrinhamento afetivo, Sorayaconsidera a nova lei positiva, por permi-tir identificar o problema. “Antes sequerse dava o direito à criança de se fazerouvir, achava-se que os adultos não se-riam capazes de fazer o que relatavam.

Mas sabemos que a violência do adultoé muito grande e que as crianças repro-duzem o modelo”, afirma. Ela defendeque as crianças sejam cuidadas com “umolhar de direito”, “um olhar de compai-xão, que significa enxergar quem é essapessoa” e que a justiça seja muito fir-me. Para isso, alega, “é importante queos magistrados, por lidarem com emo-ções muito fortes, se instrumentalizeme tenham a assessoria técnica de profis-sionais da área psicossocial”.

Mais positivo ainda, na avaliação dapsicóloga, é a participação dos pais nosmovimentos que estão provocando aaprovação de leis que possibilitam aigualdade parental e abrindo espaçopara transformar a tradicional cultura deposse em uma cultura de “cuidador” dosfilhos. “Os pais estão assumindo a lutapela igualdade parental com muita pre-cisão e provando que são capazes”,acredita Soraya. “Eles estão lutando porseus direitos com um olhar de cuidador,e não de vingança. Fico muito orgulho-sa desse movimento de brigar pelo es-paço a que eles e os filhos têm direito.”

Foi o olhar de cuidador que devol-veu a paz a Analdino. A distância físicanão separa mais pai e filhas. Eles se fa-

lam todos os dias e usam a internet atépara a ajuda nos deveres de casa. Aman-da, hoje com 13 anos, acompanhou opai no lobby pela aprovação da igual-dade parental no Congresso e sempreque as aulas permitem segue com elenas viagens de divulgação da nova lei enos trabalhos de mediação de conflitosfamiliares. De quebra, a menina medioua saia justa entre os pais, que voltarama se falar amigavelmente nove anos e22 processos judiciais depois. “Cada umtem de fazer as concessões possíveispara atingir o ponto de equilíbrio. Nãoprecisamos carregar a vida inteira as do-res do passado”, ensina Analdino.

Um olhar de cuidador, não de vingança

Soraya: “Fico muitoorgulhosa desse movi-mento de brigar peloespaço a que pais efilhos têm direito”

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Em busca de igualdade

Conheça a rede de organizações que atuamna defesa dos direitos dos pais e filhos:

www.apase.org.brwww.paisparasemprebrasil.orgwww.pailegal.netwww.movimentopaisporjustica.blogspot.comwww.amasep.org.brwww.projetoaconchego.org.br

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SAÚDE

Neste espaço, os psiquiatras YuriMatsumoto Macedo e André LuisMacedo publicam mensalmente artigossobre saúde mental. Para saber mais,acesse www.animaconsultorio.site.med.br

André Luis Macedo, especialistaem Psiquiatria, formou-se em Medi-cina pela UnB e fez residência emPsiquiatria no Hospital de Base doDF. É psiquiatra do TJDFT, membroda Associação Brasileira de Psiquia-tria (ABP) e da Associação Psiquiá-trica de Brasília (APB).

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Yuri Matsumoto Macedoformou-se em Medicina pelaUniversidade Federal do Pará, pós-graduou-se em Medicina doTrabalho pela UniversidadeEstadual do Pará e fez residênciaem Psiquiatria no Hospital de Basedo DF. Publicou o livro Louco équem me diz (2005), com casosverídicos de pacientes psiquiátricos.Também é membro da ABP e APBr.

igurinha fácil hoje em dia, o pânico temsido considerado um dos males da vida mo-

derna. Apesar disso, é apenas um dos transtor-nos da ansiedade, tão antigos quanto a própriahumanidade. Até mesmo animais podem terreações ansiosas exageradas. O nome “pâni-co” se deve à antiga crença grega de que odeus Pã, guardião dos bosques e florestas, pa-ralisava a quem o encarasse por sua feiúra.

A característica principal desse transtornoé o ataque de pânico, uma combinação de sin-tomas físicos e pensamentos desagradáveis,que ocorrem sem que haja uma doença físicagrave o suficiente para causá-los. Essas sen-sações são tão intensas que frequentementeas pessoas acham que estão tendo um infartoou derrame, e muitas procuram a emergênciade um hospital geral. Seus sintomas são:

Taquicardia (coração “acelerado”),palpitações (sentir o coração batendodescompassado no peito),dor naregião do coração.Sensação de falta de ar.Tremores, formigamentos.Suor excessivo, palidez.Enjoo ou dor abdominal.Sensação de morte iminente e outrassensações como estar fora de si,estar enlouquecendo, estar estranho.

Muitas pessoas terão ao longo de suas vi-das pelo menos um desses episódios diantede uma situação estressante. Porém, outros3,5% da população os terão repetidamente esem motivo algum, levando ao medo extremode que essas ocorrências retornem, além desérias alterações de comportamento. Nessescasos chamamos o distúrbio de Transtorno doPânico ou Síndrome do Pânico.

O pico dos ataques de pânico pode durarapenas de um a dez minutos. Porém, os porta-dores do transtorno permanecem com a cons-tante preocupação com a próxima crise, já queelas são imprevisíveis e repetidas. A partir dis-so, o portador pode começar a evitar situações

semelhantes as do último ataque (por exemplo,se estava no ponto de ônibus, passa a não irmais ao ponto; se estava dirigindo, passa a nãodirigir). Ou pode querer sair somente acompa-nhado, por medo de não ser socorrido. Em ca-sos mais graves, pode até mesmo deixar de sairde casa para trabalhar ou estudar.

A boa notícia é de que o tratamento exis-te e costuma ser eficaz tanto nas crises quan-to na prevenção. Após peregrinar em pronto-socorros, passar por médicos clínicos e reali-zar exames de toda sorte, grande parte dosportadores melhora rapidamente ao ser es-clarecido e adequadamente tratado com me-dicamentos e psicoterapia.

pânico?Está todo mundo em

DEPOIMENTOS

Medo de ter medo

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“Antes de ter minha primeira crise eutratava o pânico como frescura de pessoasque tinham medo de tudo e de qualquercoisa. Sempre fui muito ansioso. Semprequis viver o amanhã ontem. O depois ago-ra. Não conseguia curtir nenhum momentose houvesse qualquer pendência. Acho quetudo isso foi se acumulando, até que meucorpo entrou em colapso.

Na crise de pânico a angústia é absur-da. O corpo liga o alerta e o instinto de so-brevivência é acionado. Mas qual é a ame-aça? Não há ameaça grave. Essa é a ques-tão. O corpo reage como se houvesse umrisco enorme em estar num engarrafamen-to, num elevador, numa festa em que hajamuitas pessoas. E essa sensação piora quan-do o temor passa a ser o medo de ter medo.

Exemplificando: se eu tenho uma criseno cinema, passo a evitar o cinema poisposso ter uma crise lá novamente (acon-teceu comigo). Na verdade, a sensação queo pânico provoca é a de que você mesmo

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Lidando comos monstros

Quando omundo desaba

é seu pior inimigo. O seu corpo querlhe pregar peças.

Sempre fui bastante racional e con-trolado. Imaginei que o pânico seria ou-tra coisa que eu podia controlar. Mas nãoconsegui. Eu me convenci de que o pâ-nico, assim como a gripe, é uma doençaqualquer que deve ser tratada e que vocêsimplesmente não controla.

Então me despi dos preconceitosem relação aos remédios e passei a metratar. Hoje estou controlado e me sin-to capaz de dar esse depoimento paraauxiliar aqueles que se identifiquemcom os sintomas, assim como ler sobreo assunto me ajudou.

E ainda dou o recado: há total espe-rança para você! Imagino, sinceramen-te, que hoje sejam muitas, milhares, mi-lhões de pessoas que convivam comtranstornos de ansiedade. Mas tem tra-tamento. Tem controle. Não precisamosser reféns. Não precisamos ter medodesse medo. Do contrário, paramos deviver. E não viver é começar a morrer.”

J. Bonifácio Silva, 24 anos, advogado

“Um dia as coisas ficaramdiferentes. Meu corpo simples-mente se voltou contra mim.Meu coração acelerou, minhasmãos e pés suavam frio, minharespiração ficou curta e falha. Asensação era de estar perdidaem mim mesma. Dormir, meconcentrar, pensar em coisaspositivas era impossível, poistoda a minha atenção era parao meu corpo e as minhas sen-sações. Ao procurar ajuda, pudeperceber minhas fragilidades,comuns a todos os seres huma-nos, e aceitá-las. Faço tratamen-to com medicamentos e psico-terapia e estou aprendendo alidar com meus “monstros” – eprincipalmente com minha an-siedade, que faz parte de mim eme torna quem sou.”

Bia, 33 anos, psicóloga

“Em outubro de 2008 tive a minhaprimeira crise de pânico. Os sintomasforam muita falta de ar e uma sensa-ção de dormência pela face. No primei-ro ano tive algumas recaídas, mas vique estava enfrentando os problemasque me levaram ao pânico e era nor-mal isso acontecer. Levei a vida sem-pre no limite, fazendo muito esforço emtudo o que fazia. Sempre procurei fa-zer tudo corretamente, sem admitir fa-lhas ou erros. Quando acontecia o mun-do desabava na minha cabeça, faziauma tortura em mim mesma. Não medava a oportunidade de falhar e reco-meçar novamente. Melhorei com aju-da de um psiquiatra e de um psicólo-go, e isso foi realmente fundamental.Hoje não estou 100%, mas vejo umagrande melhora a cada dia. Tenho umavida com mais pé no chão, com umabase mais sólida.”

Carolina, 38 anos, promoter

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Deniza Gurgel

ma loucura”: é assim que CristinaDel’Isola, 52 anos, define sua rotina.

Há cinco anos ela se divide entre ser mãe,esposa, psicopedagoga, dona-de-casa e res-ponsável pelo Movimento Maria CláudiaPela Paz. E em outubro deste ano lançouseu primeiro livro, O conto e o encanto deuma estrela, que terá a renda dedicada às

ações do movimento.Cristina é mãe de

Maria Cláudia, assas-sinada aos 19 anospelo caseiro da famí-lia, em 2004. “Quan-do tudo aconteceu,recebi manifestaçõesde solidariedade dasmais diversas formas,não só de vizinhos,

amigos e familiares, mas também de des-conhecidos da grande maioria dos esta-dos brasileiros, até de outros países”, re-corda. Foi como um agradecimento a essecarinho que Cristina criou, em 2005, o Mo-vimento Maria Cláudia Pela Paz, para aju-dar de diversas formas aos que precisam.

“É a forma que eu encontro, hoje, deagir por mim e por ela. Isso me fortalecemuito, mas não concordo com quem dizque é necessário passar por uma tragédia

para agir”, diz Cristina. “Muito pelo con-trário. O Movimento Maria Cláudia é umaentre inúmeras ações que mostram que,quando a gente quer fazer o bem, a gentepode. O que nós não podemos é perma-necer com um discurso vazio de que nãoconseguimos ou não podemos. Se for paraser assim é melhor ficar a distância, vendoas coisas acontecerem”, completa.

É com essa certeza que Cristina vemtocando o Movimento, hoje com quase 600voluntários. O trabalho não se limita à aju-da material: passa também pela evangeli-zação e pela realização de sonhos. Umexemplo foi o casamento de Cilma Paulae Francisco da Conceição Carvalho, em ju-lho deste ano. A noiva sofreu, em janeiro,um grave acidente e precisou de mais de40 bolsas de sangue. Com a ajuda doMovimento, o casal conseguiu autorizaçãopara se casar no Hemocentro de Brasília,como um agradecimento aos serviços pres-tados. E, de quebra, ajudou a conscienti-zar a população sobre a importância dedoar sangue. Como presente de casamen-to, os noivos pediram aos convidados do-ações para salvar mais vidas.

Uma das ações do Movimento é o Na-tal Solidário. Todos os anos várias ativi-dades são realizadas para arrecadar fun-dos. Uma equipe fica responsável por re-ceber as demandas e decidir que grupos

serão atendidos. Em dezembro, Marco An-tônio Del’ Isola, marido de Cristina, vesteroupa vermelha e barba branca, levandoo Papai Noel a crianças carentes.

“Já fizemos um Natal Solidário paraduas mil crianças no Sesc Ceilândia. Fize-mos outros em hospitais. Cada ano a gen-te procura levar um pouquinho de luz àscomunidades que necessitam. E querendoou não, o maridão tem a missão de se vestirde Papai Noel”, brinca Cristina.

A responsável pelo Movimento expli-ca que, apesar de não existir um público-alvo específico, as crianças acabam sendomais assistidas. “Elas são a grande espe-

BRASÍLIA DO BEM

Cristina fez “das trevas luz” ao superaruma tragédia e chegar ao comando de quase 600voluntários dedicados a ajudar pessoas carentes

vidaEm prol da

PARTICIPE

Para ser voluntário doMovimento Maria CláudiaPela Paz basta se cadastrarno site www.mariaclaudiapelapaz.org. Lá pode-se

acessar informações sobreos projetos realizados

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17Revista do Sindjus • Novembro de 2010

rança. Ttemos que zelar para que de fatocresçam de forma saudável, não só no quese refere à saúde orgânica, mas principal-mente à saúde mental. É preciso que se-jam bem educadas”, avalia.

Talvez por isso, hoje um dos grandesatendidos pelo Movimento Maria CláudiaPela Paz é o Instituto Nossa Senhora daPiedade, na QI 5 do Lago Sul. O local éadministrado por freiras e atende meninascarentes. No ano passado o casarão teveo telhado condenado, e os voluntários doMovimento realizaram bingos, desfiles ebazares para bancar a obra, de R$ 35 mil.

O livro O conto e o encanto de uma

estrela também é um reflexo do xodó deCristina pelas crianças. Ela nunca pensouem ser escritora, mas sentiu necessidade depassar aos pequenos uma mensagem posi-tiva, para combater todo o medo e a des-crença que se percebe hoje no ser humano.

Há também outro trabalho com um lu-gar especial no coração dessa mulher, queencontrou na ajuda ao próximo um apoiopara superar seu próprio sofrimento. Todosos domingos, das 9h às 11h, o grupo reali-za uma evangelização com os idosos do LarSão Francisco de Assis, em Santo Antoniodo Descoberto. “Fazemos um momento deoração, de reflexão. Conversamos com eles

sobre vários assuntos e tentamos mostrarque podemos nos envolver para ter um Bra-sil melhor”, diz Cristina.

Ela acredita que o maior incentivo é avontade de ver um país solidário e com-prometido com a vida. “Tentamos mostrarde forma simples a possibilidade de fazerdas trevas luz, do luto uma luta. Nuncavivenciamos um período tão conturbadoem relação aos valores essenciais para vi-ver bem em sociedade, de forma civiliza-da. Por isso procuramos refletir sobre cadaproblema para não apenas encontrar so-luções, mas também aprender com as difi-culdades”, reflete.

Cristina Del’Isola: “Quandoa gente quer fazer o bem, agente pode. O que nãopodemos é permanecercom um discurso vazio”

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TT CATALÃO

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20 Revista do Sindjus • Novembro de 2010

LAGO PARANOÁ

Privilégiode poucos Falta de infraestrutura e de informação faz com

que brasilienses aproveitem pouco as águas

20 Revista do Sindjus • Novembro de 2010

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21Revista do Sindjus • Novembro de 2010

OFabíola Góis

lago Paranoá é tema de músicae poesia, testemunha de juras de

amor, cenário do mais bonito por-do-sol da cidade. Serve para amenizar oclima seco da capital do país, para oesporte e o lazer. É também fonte dealimentação para centenas de famí-

lias, que pescam para variar o cardá-pio. Mas esse lugar cheio de mistéri-os e lendas é pouco aproveitado pelobrasiliense. Ou melhor: é mais apro-veitado pelo brasiliense abastado, quetem lancha, jet sky e mora nos terre-nos chamados de ponta-de-picolé –no final da rua e na beira da água.Mesmo assim, cada vez mais morado-

res da capital enfrentamas barreiras de acesso efrequentam as águas doParanoá.

É o que faz todos osdias, às 8h, a produtorade tevê Lia Tavares, 30anos. Assim que soubeque ia morar em umachácara no Setor deMansões do Lago Nor-te (MI), há dois anos,bem próximo a uma dasmargens do Lago Para-noá, ela logo mandoufazer um caiaque eaprendeu a remar. Amotivação não era aprática esportiva, massim o interesse em usaras águas como transpor-te para ir ao trabalho. Éisso mesmo. Ela só pre-cisa atravessar poucomais de um quilômetroentre uma margem e ou-tra para chegar até asede da União Planetá-ria, na QL 13 do LagoNorte. Faz o trajeto em15 minutos. Para ir decarro, teria que dar umavolta de 22 quilômetros.

Para carregar o caia-que até a margem elaprecisa da ajuda do ma-rido, que a leva de carroaté o Piscinão do LagoNorte, na altura da MI 5.E na volta, ele tambémo espera, às 14h. “Nãopego trânsito, não ficoestressada, não poluo o

meio ambiente e ainda pratico esporte.Foi a saída perfeita que encontrei parachegar ao trabalho. Sem falar que me-dito enquanto deslizo nas águas do Pa-ranoá”, conta Lia. A produtora leva umamochila com roupas e sapato para tro-car assim que chega ao trabalho.

Os colegas de trabalho já estãoacostumados com o espírito aventu-reiro da produtora. Por conta da insis-tência deles, comprou um colete sal-va-vidas. Como sabe nadar, Lia acha-va o equipamento desnecessário. Con-tudo, é preciso contar com imprevis-tos, como câimbras ou uma ondula-ção muito grande nas águas. “É quena época de chuva o lago fica bastan-te ‘mexido’”, explica Lia. Quando che-ga ao trabalho ela geralmente tem umcolega esperan-do na beira dolago, para ajudá-la a carregar ocaiaque.

Quando cho-ve fino, Lia usauma capa. Mas,quando a chuvaestá muito forte,ela prefere nãoarriscar. A produ-tora conta que jápassou susto edemorou 25 mi-nutos para atravessar por causa daágua “mexida”. E já encontrou capi-varas, patos e peixes. “O que me dei-xa triste é encontrar sacos plásticos egarrafas boiando. E já vi cacos de vi-dro nas margens”, afirma.

Lia é tão apaixonada pelo Lago quenem mesmo a gravidez de sua segun-da filha a impediu de navegar no cai-aque. Ela remou até os sete meses degestação e teve apoio da obstetra.

Antes de usar o caiaque, ela ia debicicleta para o trabalho. O espíritoaventureiro a acompanha desde a épo-ca de estudante, quando tinha o hábi-to de se locomover pela cidade em duasrodas. Era uma forma de economizartempo e dinheiro com as passagens.

CA

RLOS A

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SEM APOIO

embarcações registradas, oque nos garante a posição de

3ªmaior frota náutica do país.

Entretanto, não há no lago umsó píer ou marina públicos.

O Distrito Federal tem mais de

11 mil

Lia vai para otrabalho decaiaque: quinzeminutos reman-do ao invés deencarar umtrajeto que, sefeito de carro,seria de 22quilômetros

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22 Revista do Sindjus • Novembro de 2010

O sol não apareceu completamente nocéu de Brasília, mas o servidor público fe-deral Ângelo dos Santos, de 34 anos, já estápronto para remar nas águas do lago Para-noá. São exatamente 6h15 da manhã deuma terça-feira e começa mais uma sema-na de treinamento para Ângelo, que nãofalta às aulas de remo. De terça a sábado, ohorário de treinar é sagrado. “Ele é muitodedicado”, comenta o professor de Remodo Clube Naval, Cláudio Pinheiro.

São muitos alunos que têm uma roti-na semelhante à de Ângelo: remam e de-pois vão trabalhar. Mas ele se destaca pelaforça e vontade de vencer. Em 1994, quan-do tinha apenas 18 anos, teve que ampu-tar a perna direta devido a um tumor. Mas

isso não foi empecilho para que procuras-se um esporte que o ajudasse a manter aforma e também a relaxar.

Em 2006, quando chegou a Brasília vin-do do Paraná, Ângelo procurava um espor-te que aliasse diversão, lazer e cuidados coma saúde. A perna esquerda não suportaria opeso caso ele engordasse. Então, por reco-mendação médica, ele tem que praticar exer-cícios físicos. “Como não tenho a perna di-reita, outro tipo de esporte seria mais difí-cil. Então optei pelo remo, justamente pelafacilidade de utilizar os braços e não tantoa perna, ou pelo menos não necessariamen-te as duas pernas”, explica.

Ele relembra: “Eu comecei a vir, gosteimuito e estou aqui até hoje. O exercício é

muito relaxante e estar no lago é maravi-lhoso. Saio daqui pronto para trabalhar,bem disposto, e consigo manter a forma.”Ângelo explica que o Paranoá já faz parteda sua história: “Acredito que o lago con-ta um pouco da minha história em Brasí-lia, e é uma história muito bonita.”

Ângelo já participou de diversas com-petições na cidade, mas lamenta o fato dacapital federal não oferecer o remo paraos atletas com deficiência. Ele tem quecompetir com pessoas sem deficiência, os“duas pernas”, como ele os apelida. Masisso não o distanciou das competições –ele já se classificou até em terceiro lugar.Foi na competição Troféu Brasil de Remo,no Rio de Janeiro. “Foi muito emocionan-

Saúde, paz e contato com a natureza

FOTOS: CARLOS ALVES

LAGO PARANOÁ

Ângelo: “Saio pronto paratrabalhar, bem disposto, econsigo manter a forma”

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23Revista do Sindjus • Novembro de 2010

te estar em outra cidade e ter a oportuni-dade de participar de uma competição na-cional. Eu só tinha competido em Brasí-lia”, conta o atleta.

Segundo o professor de Ângelo, Claú-dio Pinheiro, ele só chegou em terceiro lu-gar porque os dois primeiros tinham asduas pernas. “Ele ficou em desvantagem”,considera. Mas o servidor não se abala.Sorridente, Ângelo se despede de mais umdia de treinamento e sai carregando o bar-co, com o auxílio de duas muletas.

Outra praticante de remo no Lago, Dil-ma Bett diz que não pretende parar tãocedo. “Faz apenas um ano e oito meses queeu pratico esse esporte. Em novembro de2008 tive um problema de saúde, desen-volvi um tumor maligno na tireóide. Entãoo oncologista disse que eu deveria emagre-cer, fazer exercício e manter uma vida sau-

dável. Foi aí que procurei o remo”, conta.De terça a sexta, Dilma chega ao Clu-

be Naval às 6h10 para as aulas e treinos.“Eu acho maravilhoso o contato com olago e com a natureza. Se existe vida sau-

dável é esta: convivo com as garças, bi-guás e tartarugas. Na semana passadamesmo eu decidi ficar à deriva porque ti-nha uma tartaruga perto do meu remo”,recorda ela.

Diversidade de espécies

O lago foi construído com aságuas represadas do rio Paranoá, ain-da no governo de JK, para aumentara umidade do ar na capital. Tem 48quilômetros quadrados de extensão,80 quilômetros de perímetro e pro-fundidade máxima de 38 metros.

Uma das aves mais comuns quehabitam o lago é o biguá. São tam-bém encontrados garças, águias-pes-cadoras, matracas, marrecas-pé-ver-melho e marrecas-irerê.

Entre os mamíferos há lontras,capivaras, cuícas-d’água, ratos-

d’água, micos-estrela, gambás-de-orelha-branca e ratos-do-campo. Hátambém o jacaretinga, uma espécienativa que prefere as águas mais ra-sas e com mais vegetação.

Desde o ano 2000, após a des-poluição do lago, a pesca é permiti-da e incentivada. A maioria dos pei-xes são tilápias, espécie não nativa,assim como o tucunaré e a carpa,esta última introduzida especialmen-te para a limpeza das águas contraas algas. As espécies nativas são cará,lambari e traíra.

Dilma: “Se existe vida saudá-vel é essa: convivo com asgarças, biguás e tartarugas”

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24 Revista do Sindjus • Novembro de 2010

Passeio de barco:proposta é estimulara consciênciaambiental e preservara memória da cidade

Uma iniciativa pioneira tem desper-tado a atenção daqueles que não têmrecursos financeiros para comprar bar-cos, caiaques ou lanchas. Trata-se docatamarã Mar de Brasília. Os registros

do diário de bor-do mostram queum total de3.063 pessoasnavegaram nobarco desde queele começou afuncionar, no dia1º de junho des-te ano. Metadedelas é de crian-ças. Em média,são 610 pessoaspor mês.

A proposta édemocratizar oacesso ao lago,

despertar a consciência ecológica nascrianças e adolescentes, preservar amemória de Brasília, por meio da his-tória da criação do lago Paranoá, e ofe-recer à população e aos turistas a ex-periência de ver a capital da Repúbli-ca por um ângulo novo.

A busca pelo serviço no site decompras Peixe Urbano em 30 de se-tembro passado demonstrou o inte-resse dos brasilienses e turistas emaproveitar o lago Paranoá. Em ape-nas um dia a Mar de Brasília vendeu1.768 ingressos, válidos para os pró-ximos meses. Os bilhetes custam R$25 por pessoa. “Temos um patrimô-nio natural inestimável em nossa ci-dade e precisamos nos aproximardele”, comentou um dos diretores daempresa, Marcos Vinicius.

Darse Lima Júnior, sócio da Mar deBrasília e irmão de Marcos, conta quea ideia surgiu quando a família, quetem um veleiro, pensou em quantaspessoas não tinham aquela oportuni-dade. “Começamos a imaginar umaforma de democratizar isso. E vimosque é importante a conscientizaçãoambiental para se preservar o meioambiente”, afirma.

A Mar de Brasília é uma empresaque aposta também na responsabili-dade social. O programa prevê a in-clusão de passeios com custos mais emconta para crianças de rede pública eidosos atendidos em asilos do Distrito

Federal. Eles recebem informações so-bre a fauna e flora do lago e noçõessobre preservação ambiental. As cri-anças recebem uma carteirinha de De-fensor do Lago.

Há também o viés cívico. Os pas-seios turísticos saem no Royal TulipBrasília Alvorada (antigo Blue Tree) eseguem para a Ermida Dom Bosco, oPalácio da Alvorada, residência oficialdo Presidente da República, e a PonteJK. O passeio dura em média uma horae quinze minutos. Enquanto isso, ospassageiros são informados sobrecada monumento. Fotos do início dacapital e do início da criação do lagosão projetadas na TV de plasma, aosom de uma trilha musical.

Um pouco da história da cidade érevelada aos turistas e moradores. Mar-cos Vinícius, no meio do passeio, con-ta curiosidades do lago. Entre elas, quehá vestígios de uma vila submersa noParanoá, a Vila Amaury, onde mora-vam antigos operários da época daconstrução de Brasília, de 1959. Amau-ry é o nome de um dos engenheirosenvolvidos na aventura da construçãoda nova capital.

Turismo com viés cívico e ambiental

MALTRATO

de lixo do lago Paranoá,quantidade equivalente a

4 milhõesde latinhas de refrigerante.

Se fossem empilhadas, fariamuma torre com a altura de

Em 2009 foram retiradas

55t

600km

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LAGO PARANOÁ

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25Revista do Sindjus • Novembro de 2010

Mas o vilarejo era provisório. Osmoradores foram avisados pelos en-genheiros que a vila acabaria – seriainundada quando fosse formado olago. A represa no rio Paranoá seriainaugurada em breve. E a água che-garia com o tempo. Dizem até que al-guns resistentes moradores só saíramdo da vila quando a água já estavana cintura.

O barco passa embaixo da PonteJK e faz uma pequena parada. O guiarepassa informações sobre o monu-mento, data da construção, prêmio deponte mais bonita do mundo, valor doinvestimento e, em seguida, volta a

atenção para o próprio lago. Ele falado processo de assoreamento, explicaque a balneabilidade do espelhod’água é de 95% e pede o engajamen-to da criançada na preservação domeio ambiente. “Não podemos deixarninguém jogar lixo na rua, porque asujeira pode terminar despejada naágua”, ensina Marcus Vinícius.

Só em 2009, foram retiradas 55toneladas de lixo do lago, o equiva-lente a 4 milhões de latinhas vaziasde refrigerante. Se todas essas lati-nhas fossem empilhadas uma emcima da outra, formariam uma torrede 600 mil metros, uma montanha do

tamanho de 2,6 mil torres de TV umaem cima da outra. Em 2008, a quan-tidade de lixo retirada do lago che-gou a 62 toneladas.

O Distrito Federal possui mais deonze mil embarcações registradas,sendo a terceira maior frota náuticado país. Entretanto, não há em todaa orla do lago um só píer ou marinapúblicos. E muito menos incentivo dosgovernos para que a população fre-quente o lago.

Por isso, a servidora pública do Tri-bunal Regional Federal Carla de Araú-jo, 41 anos, recorreu à Mar de Brasíliapara passear no lago pela primeira vez.Ela critica as poucas opções da cidadepara que a população acesse o lago evalorize mais a natureza. Durante opasseio, os tripulantes assistem ao pôr-do-sol, considerado um dos mais be-los do Brasil, com a Ponte JK ao fun-do, e escutam o Bolero de Ravel.

Também servidora do TRF CléaMacedo, 43 anos, amiga de Carla, con-ta que nunca passeou no lago. Ela sou-be do barco pela internet e gostou deter recebido informações que nem ima-ginava existir, como a construção daTorre Digital, um projeto do arquitetoOscar Niemeyer. “O lago é muito bo-nito. Parece que estamos em outra ci-dade. É um lazer criativo”, comenta.

A advogada Roberta Lia Marques,32 anos, ficou encantada em ver a ci-dade sob outro ângulo. “Gostei muitode ver os monumentos a partir da pers-pectiva do lago. A cidade fica mais bo-nita e maior. Os governos têm investirmais para que aqueles que têm me-nos recursos possam aproveitar essamaravilha”, afirma.

Quem frequenta o lago está preo-cupado com o assoreamento das mar-gens, alvo da ação humana. Constru-ções irregulares que ferem a legisla-ção ambiental insistem em aparecer.A ocupação desordenada na Bacia doParanoá é uma das causas do seu as-soreamento. Para se ter uma ideia doproblema, a profundidade em algunspontos do lago não passa de 70cm.

FOTO

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Cléa Macedo:“Parece queestamos emoutra cidade”

Roberta LiaMarques: “Osgovernos têmque investir”

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26 Revista do Sindjus • Novembro de 2010

LAGO PARANOÁ

Lazer na regiãoda Ermida DomBosco: lugarbonito e muitofrequentado, masinfraestrutura nãotem conservação

26 Revista do Sindjus • Novembro de 2010

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27Revista do Sindjus • Novembro de 2010

Os aventureiros das águas abertasPara o nadador e professor de nata-

ção Tiago Sato, 28 anos, o Paranoá re-presenta uma fonte de renda, além dediversão e lazer. “Para a maioria da pes-soas o lago é apenas um cartão postal.Eu consigo tirar proveito dele financei-ramente também, porque dou aulas etreino para competições”, explica. Tiagoensina natação e treina atletas pratica-mente todos os dias semana.

Os treinos no lago renderam aonadador um título inédito: ele foi oprimeiro brasiliense a atravessar o Ca-nal da Mancha, em setembro desteano. São 32 quilometros em linha reta.“Treinei no lago. Fiz o percurso emnove horas e 51 minutos. Foi um de-safio, mas eu estava preparado”, rela-ta o atleta.

Tiago nada em vários pontos doParanoá, mas um dos preferidos é o quefica ao lado do hospital Sarah Kubtis-chek, batizado como “Ecoquebra da13”, porque fica no final da QL 11 einício da QL 13 do Lago Norte. É umterreno baldio onde ele, amigos e alu-nos praticam natação. Segundo ele, esseé o melhor ponto para a prática de na-tação em águas abertas de Brasília.

De segunda a sexta-feira vê-sepouca gente por lá: um ou outro na-dador, uma pessoa pescando, às ve-zes casais ou pequenos grupos embai-xo das árvores que chegam até a mar-gem. Mas nos finais de semana o lu-gar fica cheio. Tiago Sato e os amigostentam conscientizar os frequentado-res para que não piorem as condiçõesdo local, que é como um terreno aban-donado. Isso ajuda para que muitagente deixe lixo espalhado.

Uma das iniciativas de um colegado nadador, Guilherme Goulart, foi ins-talar lixeiras caseiras, para que pelomenos ele e os amigos possam retiraro lixo com mais facilidade. Outro desa-fio é conseguir uma estrutura aquáticapara demarcar essa área, porque é umlocal perigoso para a natação, caso onadador não conte com algum apoio

(um acompanhante num caiaque oubote). O problema são as lanchas e jetskys: o piloto pode não enxergar o na-dador e provocar um acidente.

Os treinos de Tiago e dos alunosnão são apenas no lago. Lá eles prefe-rem ir nos finais de semana. “A nata-ção não surgiu nas piscinas e sim emáguas abertas. O contato com a natu-reza é recompensador para qualquerum”, diz o nadador. “Frequento o lagohá mais de dez anos. Já vi uma lontra

ou ariranha, não sei bem dizer qual,mas foi há muito tempo. Jacaré eununca vi, mas não tenho dúvidas deque há, porque um professor de Bio-logia fez seu mestrado sobre os jaca-rés do Paranoá”, completa. “O Brasiltem uma enorme sorte de ter o climaque tem, pois em quase 365 dias doano podemos praticar esporte ao arlivre. Estive há pouco tempo na Euro-pa e vi como isso seria difícil por lá.Somos felizes e poucos sabem disso.”

Excelente para o banho

Segundo a Caesb, a qualidade das águas do Paranoá é controladasemanalmente para detectar possíveis poluentes. O lago passa poruma vistoria completa a cada dois meses, com coleta de amostras em34 pontos. O resultado pode ser conferido no site da companhia, quemantém um mapa da qualidade da água sempre atualizado.

Na última vistoria, feita entre 18 e 25 de outubro, quase toda aárea do lago foi classificada como “excelente” para o banho. Peque-nos trechos receberam a classificação “muito boa” e “satisfatória”.A água foi considerada “imprópria” apenas na área próxima à esta-ção de tratamento de esgoto da Asa Sul, perto da Ponte das Garças.

Tiago Satotreina no lagocom os alunos:“Somos felizes”

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28 Revista do Sindjus • Novembro de 2010

ENQUETE

FOTOS: JOSÉ ROSA

“Eu sou surfista do lagoParanoá”, diz o refrão dabanda Natiruts. Pareceestranho, mas em Brasíliahá quem treine braçadasem pranchas de surf. Emuitos praticam outrosesportes no nosso “mar”artificial: natação, remo,windsurf, stand up,caiaque... Há também quemprefira ficar na margem ecurtir a vista, namorar,passear com as crianças. Evocê, aproveita o lago?

Eu pratico um esporteà vela no lago, chamado

kitesurf, há mais ou menostrês anos. Infelizmente

só dá para velejar quandoo vento está favorável.

Temos uma boa temporadade setembro até meados

de outubro. Faço esseesporte por higiene mental,

para me sentir bem.

André Sampaioda Silva, técnicojudiciário do TRF

Gosto de ir ao Pontãono final da tarde e de

assistir competições denatação. No Clube Navaldá para nadar no lago,

é muito gostoso.Uma vez fiz um passeio de

barco e adorei. Minhamãe mora no Lago Norte,perto da margem, e nóstambém aproveitamos

para pescar.

Ludmila Richter Teixeira,técnica judiciária do TRT

Moro perto do Lake Sidee vou todas as tardesao lago. Eu nado e

também mergulho comminha filha, na barragem.

Já pratiquei windsurf etive um barquinho, mas

com os ventos fortesdos últimos meses ele

quebrou o casco e acabeideixando-o de lado.

Carlos José FiuzaVillas Bôas, analista

judiciário do TRT

Pratico windsurf nolago há dezesseis anos.

Quando tem muito vento,ele fica até com jeito de

mar. Sempre vou aoParanoá para nadar, andar

de caiaque e tambémnaquelas pranchas stand up,

para remar em pé.Inclusive quero compraruma dessas para mim.

Rodrigo Azevedode Carvalho, técnico

judiciário do TRT

águaNa margem

ou na

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29Revista do Sindjus • Novembro de 2010

Na QL 12 tem umlugar especial onde eu

nado e aproveitobastante o lago. Mas eu

considero que a orladeveria ser mais

explorada pelos usuárioscomuns e para provas de

natação, por exemplo.Hoje quem aproveita mais

é quem veleja, fazcaiaque ou tem barco.

Noel Batista Júnior,técnico da PRR1

Tenho um lugar especialpara passear com os meus

filhos, na beira do lago,perto da Ermida Dom

Bosco. Ali eles nadam, aárea é mais reservada emais limpa, dá para ficarbem à vontade. Tento ir

sempre com as crianças paraque elas se acostumem a

aproveitar o lago.

Ueslei Pereira de Lima,técnico judiciário

do STJ

Todos os dias faço deoito a dez quilômetros de

corrida e caminhada eaproveito a vista do lago,que é linda. Começo em

frente ao clube da Assejus,passo perto da ponte JK,retorno pela via interna

do Setor de Clubes. O GDF está fazendo

calçamento, jardinageme iluminação por ali.

Cleber Segurado PimentelLotti, técnico da PRR1

Eu mergulho no lago hádez anos. Já fui a mais de

40 metros de profundidadena barragem do Paranoá,

onde é mais fundo e a águaé mais clara. Procuro

mergulhar pelo menos umavez por mês para não perder

a prática. A sensação émuito agradável e relaxante,

você está flutuando, nãopensa em nada.

Afrânio Luiz Alves,técnico judiciário do TRF

Fiz remo no lago durante um ano e meio, masparei por uma lesão

muscular. Não vejo a horade poder voltar. O remoacabou fazendo parteda minha vida, é uma

delícia. Eu saio das aulasrenovada. Praticar esporte

no lago lava a alma dequalquer pessoa.

Marta Patrícia Mainiere,analista de saúde

da PRR1

Eu ando de lancha e dejet ski; são atividades

que me deixam muito bem.Frequento sempre a orla

nos finais de semana, paraver a vista e jogar futebol.

Sou de Minas Gerais e moroaqui sozinho, então

aproveito as oportunidadesde rever meus amigos e

frequentar os clubes.

Walber Rondon RibeiroFilho, técnico judiciário

do STJ

Eu adoro a vista do LagoParanoá, é linda. Fui umafrequentadora assídua do

lago, mas agora estou semtempo. Mesmo assim vou

cerca de três vezes por mêscurtir as águas. As criançasaproveitam muito, minhafilha anda de jet ski. Masacho que a orla é pouco

explorada, deveria ter maisinfraestrutura.

Sorama Freitas Santiago,técnica judiciária do TRF

Eu frequento o lagoParanoá pelo menos três

vezes por mês. Gosto de irao clube Asbac paracontemplar a vista, apaisagem das águas.

Eu me sinto muito bem.Levo meus filhos, a

família adora.Acho que olago é sempre um

ótimo passeio.

Francisco das Chagas,técnico judiciário

do STJ

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30 Revista do Sindjus • Novembro de 2010

COMPORTAMENTO

Cada vez mais pessoasentre 40 e 50 anos

procuram intercâmbio emoutros países em busca de

reciclagem profissional erealização pessoal

Hylda Cavalcanti

dolescência tardia? Que nada. Oscursos de intercâmbio em outros

países – sejam de longa ou curta du-ração – passaram, nos últimos anos, aser cada vez mais desmitificados. An-tes tidos como programas exclusivospara jovens estudantes, agora são pro-curados por gente com idade entre 40

e 50 anos, quevê a experiên-cia como umaoportunidadede aprimorarum idioma, re-ciclar-se profis-sionalmente eaté revisar aprópria vida.Sobretudo naforma de morar– já que as op-ções de acomo-dação passampor hospeda-

gens em casas de famílias, alojamen-tos universitários e apartamentos co-letivos para grupos de sete a quize alu-nos. É uma forma divertida que os qua-rentões mais animados encontrarampara conhecer outro país e, de que-bra, incrementar o currículo.

O perfil é diferente dos jovens quese aventuram mundo afora para estu-dar e conhecer culturas diversas. Os

objetivos também, uma vez que aspessoas na faixa de 40 anos ou maisque procuram esse tipo de viagem, aocontrário dos jovens, já possuem pro-fissão definida – alguns têm inclusiveestabilidade no emprego, como os ser-vidores públicos. Embora muitos sejamsolteiros e divorciados, também é gran-de o número de pessoas casadas e comfilhos. São brasileiros que costumamter condições de reunir recursos sufi-cientes para a viagem, por meio deuma reserva financeira feita com an-tecedência. E que conseguem libera-ção das chefias nos locais onde traba-lham, com licença sem vencimento, li-cença remunerada ou férias, depen-dendo da situação.

O número de pessoas na casa dos40 anos que procuram o intercâmbioaumentou em 48% de 2008 até hoje.Foi o que constatou uma pesquisa re-alizada no início do ano por um grupode agências de viagens, que tomoucomo base alunos de instituições vol-tadas para o ensino de inglês e espa-nhol nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Entre os interessados na faixados 50 anos a procura foi ampliadaem 25%, enquanto o número de alu-nos na casa dos 30 cresceu menos:12% no mesmo período.

Com a mudança de faixa etária,mudou também o perfil dos cursosprocurados. Os mais frequentados sãoos de imersão em idiomas como in-

ANIMADOS

48%

O número de pessoas nacasa dos 40 anos que procuram

o intercâmbio aumentou em

nos últimos dois anos.É um crescimento quatro vezesmaior que na faixa dos 30 anos,

onde a procura aumentou só

12%

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mundo...e os coroas

ganharam

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31Revista do Sindjus • Novembro de 2010

glês, espanhol e francês, assim comoos de pós-graduação e os MBAs (Mas-ter in Business Administration), comu-mente procurados em países comoCanadá, Estados Unidos, Inglaterra,Austrália, Espanha, França e Nova Ze-lândia. Há ainda cursos voltados es-pecificamente para executivos ou pes-soas que possuem cargos de gestãoem seus locais de trabalho, com du-ração entre vinte dias e seis meses.Mas há também as mais variadasopções, como estudos holísticos, gas-tronomia, dança e filosofia.

Uma pausa na “vida certinha”Uma situação peculiar foi vivida

pela analista judiciária do Tribunal Su-perior do Trabalho Shirlei Amorim, queviajou em 2008 para a Espanha, parafazer um curso de 35 dias de espanholna universidade de Salamanca. Shirleificou instalada num apartamento alu-gado para sete pessoas, todas estu-dantes como ela, da mesma faixa etá-ria. “Tudo foi inusitado. Estávamosacostumados com nossas vidas certi-nhas e, de um momento para outro,

passamos a conviver com outras pes-soas, a dividir desde a cozinha à seca-dora de roupa”, conta.

“A troca de cultura é enorme numprograma assim, o que ajuda qual-quer ser humano a se socializar. Em-bora em Salamanca exista um grupogrande de brasileiros, fiz amizade compessoas de diversos países. O resul-tado foi tão positivo que, quando vol-tei, pulei dois níveis do curso de es-panhol”, revela a servidora.

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“A vida de quem faz intercâmbiopode não ser fácil, mas é muito diver-tida”, brinca a técnica administrativado Ministério Público de São Paulo(MPSP) Rosana Siqueira, recém-chega-da de uma viagem à França. De acor-do com ela, hoje as pessoas procuramum estilo mais bem-humorado de via-jar, muitas vezes em busca de resga-tar um programa que não fizeramquando eram mais jovens, “seja porfalta de opção ou por não terem tidocondições financeiras”, avalia. Rosa-na aperfeiçoou seu francês durante operíodo de 40 dias que ficou em Paris

Estudos e turismo na dose certa– numa viagem de 60 dias. No restan-te do tempo viajou pelo país, com umgrupo de amigos. No período de reali-zação do curso propriamente dito, fi-cou hospedada no apartamento de umcasal de franceses. Depois, em hotéise albergues. “Fiz a viagem da minhavida e ainda me aprimorei profissio-nalmente”, disse.

“Hoje muitas pessoas conjugamestudos com turismo e lazer, em fériasou em programações mais longas nospaíses que visitam. A economia mun-dial mudou e as opções de mercadotambém”, afirma Severo Portela, que

COMPORTAMENTO

coordena programas de intercâmbiohá quase dois anos no CWA ExecutiveCenter, empresa paulista voltada paraa organização de cursos de idiomaspara executivos. “Enquanto em déca-das passadas a pessoa com mais de40 anos pensava em reduzir as ativi-dades profissionais a partir dessa ida-de, agora estão em plena ascensão nacarreira. Então elas procuram, ao con-trário, reciclar-se cada vez mais, embusca de desafios profissionais ou porsimples prazer pessoal”, completa.

Foi a reunião de todos esses bene-fícios o que chamou a atenção da ad-

Benéti passou quatromeses na Espanha:“Passamos a ver ascoisas com um olhardiferenciado”

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Experiência semelhante à de Perpétua foi vivenciada pelojornalista Ebenézer Nascimento, da assessoria de comunicaçãosocial do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ao fazer 50 anos,em 2005, Ebenézer – conhecido como Benéti – ganhou umabolsa da Unesco para um curso de pós-graduação na Espanha,voltado para estudos para a paz, resolução de conflitos e desen-volvimento humano. Selecionado para a vaga em meio a várioscolegas, ele ficou alojado na universidade de Castellon de LaPlana, próxima à cidade de Valência, durante quatro meses.

“Na época, eu era o único brasileiro no meio de pessoas devários lugares”, conta ele. “Além do curso propriamente dito,que foi muito enriquecedor, eu também ganhei de várias formas,porque ao morar num outro país você passa a se familiarizarcom o idioma”, comenta, ao acentuar que, apesar das váriascontribuições para seu desenvolvimento profissional, a decisãode viajar teve que ser muito bem pensada – já que ele deixouex-mulher e filhos no Brasil. “Numa viagem assim, a vida mudacompletamente. Melhoramos como profissionais e, principalmen-te, como seres humanos, porque passamos a ver as coisas comum olhar diferenciado”, destaca.

Segundo a pesquisadora, pedagoga e arte-educadora AnaLúcia Ribeiro, os relatos de pessoas mais maduras que passampor viagens desse tipo são sempre intensos, porque, como sãoindivíduos que já passaram por diferentes fases na vida e seconsideram realizados em vários aspectos, eles estão mais dis-postos a conciliar expectativas profissionais com hobbies e visi-tas a lugares que anseiam ver (ou rever) em outros países. “Tudoisso conduz a um bom rendimento nos cursos procurados pelosalunos, que são pessoas muito bem resolvidas”, afirmou.

A mudança na faixa etáriade quem faz intercâmbiotransformou também o interes-se e os hábitos das famíliasnorte-americanas e europeiasacostumadas a hospedar estu-dantes. Tanto que, hoje, algu-mas famílias têm se preparadopara receber exatamente pes-soas com idade maior, em vezde adolescentes.

“É um segmento diferenci-ado, formado por donos decasa sexagenários, com netos,que vivem sozinhos e preferemo contato com pessoas cujaidade oscila entre 40 e 50anos. E isso não quer dizer quesejam, necessariamente, anfi-triões que não gostam de di-versão ou de sair de casa, pelocontrário”, explica a agente deviagens Isis Ferreira.

Algumas dessas famílias –sobretudo em países como Ca-nadá, Austrália e Nova Zelândia– têm inclusive se cadastradojunto a agências de viagens euniversidades e procurado fazertreinamentos para convivermelhor com esse novo segmen-to de estudantes.

A prática tem se reveladotão bem-sucedida, de ambosos lados, que já faz várias pes-soas pensarem em repetir adose. “Neste tipo de viagem,aprendemos a reconhecer asdiferenças”, avalia Isis. Dife-renças que posteriormenteajudam na identificação e so-lução de problemas e que le-vam a mais igualdade, maiorespírito de equipe e maiorpreparo para viver a vida.

vogada pernambucana Perpétua Sou-za, técnica judiciária do Tribunal deJustiça de Pernambuco (TJPE), quepassou oito meses em Nova Iorque em2007, quando tinha 45 anos. Divor-ciada, ela conseguiu uma licença semvencimento, reuniu coragem para dei-xar a filha, então com quatro anos,com a mãe e se mudou para a casade um casal americano sexagenárioque morava com uma neta adolescen-te. No período de oito meses em quemorou nos Estados Unidos, Perpétuafez aulas de inglês pela manhã e dedança à tarde. Disse que voltou para oBrasil se sentindo “renovada”.

“De início estranhei. Mas depois

me adaptei à cultura e aos meus com-panheiros de moradia. Ao longo des-se período, vivi coisas que nem dápara explicar direito”, conta Perpétua.“Conheci pessoas de vários lugarese aperfeiçoei meu inglês num nívelque jamais conseguiria se ficasse aquinum cursinho”, avalia ela. “Além dis-so, fui muito bem orientada e tiveacesso a determinadas atividades cul-turais que não teria se tivesse opta-do por ficar hospedada num hotel...E, ainda por cima, saí de lá com asensação de que os que me acolhe-ram serão, daqui por diante, comonovos integrantes da minha família”,acrescentou a advogada.

Maduros e bem resolvidos

Preparo paraviver a vida

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Do alto dos seus 91 anos,o poeta Manoel de Barrosensina que o ser humano

é incompleto, e que isso nãoé defeito; é qualidade.Assim como ele, muitas outras

pessoas precisam ser Outras.E são. Esta coluna publicarámensalmente histórias de gente

que concilia o serviço públicocom as mais diversasatividades. São atletas, chefes

de cozinha, professores,pintores, mágicos, mecânicos,músicos... A lista não tem fim.

OUTROS EUS

A maior riqueza do homemé a sua incompletude.Nesse ponto sou abastado.Palavras que me aceitam comosou – eu não aceito.Não aguento ser apenas umsujeito que abreportas, que puxa válvulas,que olha o relógio, quecompra pão às 6 horas da tarde,que vai lá fora,que aponta lápis,que vê a uva etc. etc.PerdoaiMas eu preciso ser Outros.Eu penso renovar o homemusando borboletas.

Manoel de Barros

famíliaUma vocação

em

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gou a se apresentar em festivais pro-movidos pelo tribunal – “mas nadaprofissional”, ressalva.

Da dificuldade dos amigos parapronunciar o sobrenome Duhz (todosfalavam Duch) surgiu uma ideia: por-que não adotar o “apelido” como umnome artístico? Assim foi feito: hoje ocantor se chama Duch, com ch.

Ele conta que teve uma grata sur-presa em sua própria casa. Desde pe-quena sua filha Derize cantarolava pe-los cantos, e o pai, atento, percebeu avocação da garota. Aos doze anos ela

já cantava nas festas familiares, equando completou vinte resolveutransformar a brincadeira de criançaem coisa séria. Pai e filha formaramuma dupla: Duch e Derize.

“Começamos a cantar com serie-dade para fazer apresentações. Parti-cipamos de vários shows e depois re-solvemos gravar o nosso primeiro CD.Em seguida começamos a nos apre-sentar no programa Brasil Caipira, daTV Record. Já faz dez anos que canta-mos profissionalmente”, explica Duch.

Apesar de nunca ter feito aula decanto ou de violão, Duch está total-mente à vontade na nova carreira.“Aprendi a tocar observando as pes-soas. O canto eu acho que vem daalma, do coração mesmo”, explica.

Ele quer gravar o segundo CD dadupla num futuro próximo, mas lamen-ta que a parceira estaja com poucotempo disponível – ela está se dividin-do entre o trabalho e a faculdade. Po-rém, como pai compreensivo, ele en-tende a fase pela qual Derize está pas-sando e acredita que logo voltarão àrotina dos palcos e ensaios: “Mesmoassim nós ensaiamos sempre, não dei-xamos a música de lado. Há cincomeses fizemos nosso último show.Agora estou aguardando a vida delase estabilizar para voltarmos à ativa.”

Duch celebra a aposentadoria por-que agora tem mais tempo para sededicar à música, mas sempre volta aoTSE para matar a saudade dos cole-gas e fazer apresentações nos even-tos culturais do tribunal.

O primeiro CD da dupla Duch eDerize foi lançado há três anos e écomposto por 14 faixas no estilo ser-tanejo. Duch revela gostar de algumasfaixas em especial, como a músicaCapa de Revista, mas conta que “cadauma delas me faz lembrar de fases di-ferentes da minha vida”. E completa:“a música para mim é uma coisa mui-to forte. Todos os dias ligo o rádio demadrugada, às 3h da manhã”, contaele, que dorme muito cedo, “com asgalinhas”, e já acorda cantando.

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Thais Assunção

u nasci no interior do Espírito San-to e desde pequeno escutava mú-

sica sertaneja. Mas só cantava embai-xo do chuveiro”, recorda o servidoraposentado do TSE José Duhz. Aos 18anos ele começou a trabalhar no TSE,na nova sede em Brasília. Com o pas-sar dos anos, sem esquecer as cançõesque embalaram sua infância e adoles-cência, o servidor foi compartilhandoseu gosto musical com os colegas detrabalho. Formou várias duplas e che-

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