FILOSOFalando nº 1

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O1 revista portuguesa de filosofia aplicada A filosofia na cidade 23 Abril 2012 | Revista Gratuita O lugar da Filosofia não é apenas nas escolas. Ela pode desempenhar um papel decisivo na cidade dos homens, se assumir essa função.

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Se considerarem que cabe dentro das v/ funções, solicito que procedam à sua divulgação junto dos membros dessa entidade. Também se considerarem que faz sentido colaborarem nas suas páginas, desde já o meu agradecimento. Estou certo de que o âmbito em que a revista se coloca é do maior interesse, tanto para a revista como para a Filosofia em Portugal, como para a própria sociedade portuguesa. Muito obrigado pela vossa atenção. Alves Jana

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O1revista portuguesa de f i losof ia apl icada

A filosofia na cidade23 Abril 2012 | Revista Gratuita

O lugar da Filosofia não é apenas nas escolas. Ela pode desempenhar um papel decisivo na cidade dos homens, se assumir essa função.

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Ficha Técnica

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Redacção R. 5 de Outubro, 423 2200-371 ABRANTES

Periodicidade Trimestral

Registo na E.R.C. 126186

O1revista portuguesa de f i losof ia apl icada

nº01ESTaTUTO EdiTOrial

FilOSOFalando é a Revista Portuguesa de Filosofia Aplicada, dedi-cada à presença da Filosofia na cidade dos homens. Por isso, o seu trabalho pode ser resumido como falar da vida a partir da Filosofia e falar da Filosofia a partir da vida.A FilOSOFalando é uma iniciativa pessoal, mas aberta à plurali-dade das presenças da Filosofia na sociedade, em especial as “no-vas práticas filosóficas” ou NPFs. Não está alinhada com nenhuma filosofia ou organização filosófica em particular. Não é também uma revista académica nem destinada à Academia, excepto quando também ela cuidar de estar presente fora dela mesma.A FilOSOFalando é uma revista que quer ser ponto de encontro de pessoas e projectos, de problemas e de reflexões, de análises e de produtos que dêem corpo à presença da Filosofia na cidade e do seu cuidado pelas dores e esperanças dos homens e mulheres con-cretos que constroem e reconstroem a cidade que todos habitamos.A FilOSOFalando é uma revista aberta à colaboração de quem se identificar com o seu projecto. Aceita (mas não devolve) materiais para eventual publicação, mas a sua publicação encontra-se sujeita a critérios de qualidade, diversidade, acessibilidade, rigor e tolerân-cia. Os materiais assinados apenas comprometem os seus autores.A FilOSOFalando é um projecto de presença filosófica na cidade dos homens e rege-se por alguns valores essenciais, como a digni-dade radical da pessoa humana, a democracia como organização social e política, portanto a pluralidade também radical da mesma sociedade e a natural conflitualidade de pessoas, ideias e projectos. A FilOSOFalando é um órgão de comunicação e, por isso, recon-hece-se sujeita às leis e à deontologia a que se encontram obriga-dos os demais órgãos de comunicação social.A FilOSOFalando é uma revista trimestral, gratuita, em edição dig-ital (enviada por e-mail) e disponibilizada a todos os falantes da língua portuguesa que a queiram receber ou divulgar. Apesar de gratuita, os textos e fotos ou desenhos que se encontram assinados não perdem os direitos de autor.

Estatuto EditorialJosé GilPara uma nova gramática do pensarA Filosofia deve voltar à praçaA Filosofia na cidadeManifesto, do Sexto EmpíricoConsultório de FilosofiaO sentido da vidaA palavra dos jovens: Olhar o futuroNotícias

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ÍNDICE

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JOSÉGIL

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“CONtRIbuIR PARA quE

PASSE O vENtO

DE uM PENSAMENtO

DIFERENtE”Recebeu-nos a 5 de MaRço, data eM que foi “diRectoR poR uM dia” do joRnal público. Convidaram-me”, diz. O que denota um reconhecimento pouco comum a filósofos em Portugal. Por isso mesmo quisemos ouvir José Gil, não sobre o seu pensamento filosófico, mas justamente sobre a presença e ausência da Filosofia na sociedade global, em particular no espaço público português. José Gil é, ao mesmo tempo, um filósofo de carreira académica sólida e uma presença filosófica na sociedade civil.

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Algumas das suas obras são sobre estética, por exemplo Movimento Total – O Corpo e a Dança (2001) e Sem Título – Escritos sobre Arte e Artistas (2005) e tiveram um papel importante entre os artistas e os que pensam a Arte. Mas foi com a publicação do seu livro Portugal, Hoje: O Medo de Existir (2004) e o destaque dado pelo Le Nouvel Observateur, no final desse ano, que saltou para o espaço público português e passou a ser reconhecido e escutado. Concorda com esta leitura?salto para o espaço público, não. fazem-me saltar.

É arrastado.sim. o espaço público é, em portugal, sobretudo ocupado pelos media, quase se confunde com o espaço da mediatização. e isso é de lamentar.

Qual o papel que pensa, a esta distância, que teve o seu livro Portugal, Hoje: O Medo de Existir?não sei, absolutamente não sei. não escrevi o livro para mudar o que quer que seja, mentalidades, pessoas… mas teve um impacto tal que me ultrapassou completamente, que não esperava de maneira nenhuma, e o meu editor também não. É verdade que pensei ‘isto mudará alguma coisa?’ Mas nunca com a esperança de que um livro – que eu sei que é limitadíssimo - possa mudar as estruturas e os estratos tão bem sedimentados, e cimentados, como os que provocam esse medo. agora, passados, já nem sei, cinco anos? [quase oito], acontece um fenómeno que eu não sei verdadeiramente pensar. por um lado, o livro continua a vender-se, ao ponto de o editor estar a pensar fazer uma nova edição; por outro, se houve mudanças, elas são imperceptíveis, não se vêem, são subterrâneas. o livro possivelmente deu um pequeníssimo safanão em mentalidades individuais, não foi muito mais longe do que isso. Mas nunca se sabe bem o efeito de um livro. por um lado, aquilo é um ensaio. porque continua a vender-se? por outro, não vejo nenhum efeito tangível do que escrevi. Mas também não é possível ver efeitos. contudo, se pensarmos em termos colectivos, o efeito é nulo.

Uma das suas presenças é a continuada participação na revista Visão. Se “palavras são

acções”, que sentido procura dar a esse seu agir através da revista? Que faz ou quer fazer com o que escreve na Visão? E que ecos recolhe do seu trabalho filosófico?ecos, nenhuns. os ecos que eu tenho são raríssimos. É uma das lacunas enormes que marcam a ausência de um espaço público. de vez em quando, encontro um desconhecido que me diz que gosta muito de ler os meus artigos na Visão e é tudo o que tenho como feedback.

E o que pretende “fazer” com os seus textos?aquilo que certamente pretende fazer a maior parte dos que escrevem crónicas. fazer passar um pensamento que não está preso a qualquer compromisso. quando qualquer coisa não vai bem, eu posso intervir, porque é o momento. Mas eu só faço um artigo por mês, o que não é nada, pois durante um mês passaram-se múltiplos acontecimentos que mereceriam uma intervenção. o que é que eu pretendo? não pretendo nada senão

“o tipo de interrogação que pede uma resposta filosófica é, em Portugal, ocupado pela religião”

mostrar que se pode pensar de uma maneira talvez diferente do que habitualmente se lê nos jornais. Mas isso é o que todos querem. contribuir para que passe o vento de um pensamento diferente. e digo “diferente” porque mo dizem. e realmente eu não quereria pensar segundo a doxa que reina em portugal.

Não é muito comum a presença de filósofos na comunicação social. José Gil, Eduardo Lourenço (talvez num outro registo), Viriato Soromenho Marques, Anselmo Borges (também padre), e pouco mais. Porquê esta quase ausência da Filosofia no espaço público, em Portugal?essa é uma pergunta que exige uma resposta extremamente complexa. a minha resposta, aqui,

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só poderá ser simplificadora. isso tem a ver com a própria história da filosofia em portugal e das relações da filosofia com a sociedade. e isso é complexíssimo. primeiro, não vamos fazer essa história, mas a filosofia em portugal não tinha uma tradição, quer dizer um fio que a ligasse e que trouxesse um alimento para as gerações sucessivas que se interessavam pela filosofia. Houve cortes, depois apareciam uns pensadores que se interessavam sobretudo pelo pensamento estrangeiro… foi sempre um pensamento de elite. e não era exigida pela comunidade portuguesa. ao contrário, por exemplo de frança, onde eu vivi: pelo menos desde o séc. XViii, com os iluministas, começou a haver mesmo uma exigência da palavra pública dos intelectuais. coisa que não existia em portugal.

E no Brasil, onde também trabalhou, o lugar dos filósofos é mais próximo do que se passa em Portugal ou em França?não posso falar do brasil. está em transformação tão acentuada e tão rápida que o brasil de há dez anos, que eu conheci, já não é o brasil de hoje. o brasil tem uma fome devoradora de cultura e de filosofia, e de pensamento estrangeiro, europeu e americano. o que se faz hoje no brasil, o que se produz no domínio do pensamento, não tem comparação em quantidade, com o que se produzia há dez anos. portanto, não posso falar no brasil. É uma sociedade com uma tal dinâmica que é incomparável com portugal.

Parafraseando, pode dizer-se “Filosofia em Portugal – o medo de existir”?não, eu acho que não é propriamente por medo que não se faz filosofia em portugal.Há razões que fazem com que o ensino da filosofia não chegue a um nível tal que comece a ser um alimento necessário. Razões que fazem com que nas universidades a filosofia não seja, como se dizia em frança em todo o século XX, “um vírus que se pega”. um estudante de filosofia era como que possuído – possuído! – por uma espécie de convicção de que as problemáticas que estava a estudar eram alimentadas pelos autores da História da filosofia e também por autores presentes, vivos. eu vivi a época

em que coexistiam em paris, [jean paul] sartre, Gabriel Marcel, Merleau-ponty, depois a geração de [Michel] foucault, [jacques] derrida, [Gilles] deleuze, etc., etc., etc. coexistiam na mesma cidade, aquilo era um viveiro, um extraordinário estímulo para os estudantes, que saltavam de uma aula de foucault para uma aula de althusser, para outra aula… era assim. não vemos nada disso em portugal. e não vemos porque o tipo de interrogação que pede uma resposta filosófica é, em portugal, ocupado pela religião. Há aqui, portanto, uma história complexa de opinião comum que se satisfaz a ela própria e que, quando se inquieta, vai buscar respostas à religião e não na filosofia.

Religião que é, entre nós, muito pouco reflexiva, pouco interrogativa.É claro, já estão as respostas dadas.

A Filosofia é obrigatória para todos no ensino secundário durante dois anos e foi-o para muitos obrigatória durante três anos. Podemos dizer que a sociedade portuguesa sofre de iliteracia filosófica ou, ao contrário, que os portugueses, em virtude desse banho escolar, são relativamente cultos filosoficamente?falar em termos de país… É que há dois países.

“o que é isto de viver num planeta e estar a assistir ao fim do sistema ecológico planetário, à sua destruição permanente, e não me sentir comprometido com uma iniciativa qualquer em sentido contrário?”

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o do povo, que, para empregar a sua expressão, sofre de iliteracia filosófica, porque não precisa da filosofia pelas razões que acabámos de evocar. e há, nas cidades, uma elite muito culta, mas muito restrita, que tem muitos bons profissionais, mas que, no entanto, não se impôs suficientemente na cultura porque vive, de alguma maneira, separada daquela massa colectiva que sofre de iliteracia e que não precisa da filosofia. aquilo que se chamava de “alta cultura”, com aspas, a cultura de elite, que nós temos na literatura, na poesia, etc., sofre certamente uma influência da filosofia, precisa da filosofia, mas não acho que a filosofia seja um alimento fulcral. aparece apenas tal pessoa que precisa da filosofia.

Falta-nos uma classe média filosófica…falta. imenso. não é bem uma classe média filosófica, mas uma classe média que faria a mediação entre a “alta cultura” ou cultura de elite, e não só filosófica, e o povo. essa classe média existe na inglaterra, na frança, na alemanha e quem a compõe é muita gente. em frança, uma das componentes são professores do secundário e do primário, pessoas de muita cultura, que vão a espectáculos, que discutem, para quem ir ao teatro e descobrir um novo autor, um novo artista, conta na sua vida, pode mudar muita coisa na sua vida. quer dizer, a vida [das pessoas] desta classe média é tecida também e de maneira consciente pela prática voluntária e espontânea da “alta cultura”. isto é muito importante. porque se um autor difícil, como o beckett, por exemplo, pode passar, sei lá, para um empregado de limpeza, é porque há uma classe média – um primo, uma tia, a mãe – que conhece o beckett. o que falta em portugal é precisamente isso, que a importância da cultura e da filosofia (eu já nem exijo que seja da filosofia) faça parte da vida e não apareça como um hobby, um luxo, qualquer coisa de separado.[o que se passa entre nós é que] temos a nossa vida privada, os nossos lazeres, as nossas dificuldades de vida, os nossos filhos, os nossos hábitos de trabalho, de sair, etc., etc., por um lado; depois, há a cultura, “e se fôssemos àquele espectáculo?” e o espectáculo é, em geral, de variedades, de entretenimento…

Na nossa comunicação social já há muitas vozes,

sobretudo vindas da Economia, mas também da Psicologia, da Psicanálise, do Direito, da Literatura… O que pode trazer de novo a voz da Filosofia? Em que pode ser importante?Mas isso parece-me evidente! É trazer um nível de análise, de produção do sentido de um acontecimento, do sentido das coisas, do sentido da sua situação no mundo. por exemplo, se eu, como português, não me ponho problemas vitais sobre o que se está a passar na síria, interessa-me, mas ‘não tenho nada a ver com isso’… a filosofia, pelo seu alcance, pela universalidade da sua interrogação, obriga-nos a saber, a tomar o peso, a avaliar a nossa situação. por exemplo… mas o que é isto de viver num planeta e estar a assistir ao fim do sistema ecológico planetário, à sua destruição permanente, e não me sentir comprometido com uma iniciativa qualquer em sentido contrário?

Um estudante no final do secundário pensa seguir Filosofia, ou um outro está já a cursar Filosofia no ensino superior. Os lugares no ensino estão já ocupados. Que futuros profissionais na Filosofia o esperam? Que pode vir a fazer como profissional de Filosofia?eu tive, nos últimos anos, constantemente a consciência de que havia ali uma espécie de equívoco. eu via as turmas encherem-se, as pessoas entrarem para filosofia e o panorama do desemprego dos jovens licenciados era desolador. e verifiquei que eles ignoravam, não queriam ver que seria difícil arranjar um lugar e viver da filosofia. achei isso muito estranho. por outro lado, ao nível dos mestrados e doutoramentos havia muitas inscrições. É um fenómeno que me espanta. são também inscrições de alunos que fizeram a licenciatura em filosofia, mas são em grande parte, não sei qual a percentagem, de alunos que vêm de outros domínios, de Musicologia, de artes Visuais, de dança, coreógrafos e bailarinos.Talvez pela sua presença, que tem dedicado às artes, nomeadamente à Dança, uma importante reflexão.não só, isto é geral. Há muitos anos, não se via um coreógrafo, um bailarino, entrar num curso de filosofia. Hoje há muitos. eles vão buscar à filosofia qualquer coisa que eles julgam poder encontrar, que é uma fonte de vida, uma fonte daquilo que se

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chamava antigamente, e é uma bela palavra perdida, inspiração. inspiração no sentido de que querem compreender o que estão a fazer e julgam que os instrumentos conceptuais filosóficos vão ajudá-los a isso. o resultado é que alguns jovens coreógrafos já fazem coreografias directamente inspiradas de filósofos. podia citar vários exemplos, e portugueses. É um fenómeno mais ou menos geral.

Assistimos a novas formas da presença da Filosofia na sociedade. Os cafés filosóficos, o aconselhamento filosófico, as universidades populares, a Filosofia para crianças ou com crianças e, por outro lado, o mundo digital com os blogues, as páginas de filósofos, as redes sociais… Como é que vê todo este fervilhar? Vai alterar o estatuto da relação da Filosofia com a sociedade?sim, já está a alterar. e em várias direcções, que não são necessariamente convergentes. assiste-se a um fenómeno paradoxal. por um lado, há um interesse cada vez maior pela filosofia, mesmo a um nível de divulgação, que por vezes não é muito bom, mas tem nome, há livros que são best sellers, tanto no mundo anglo-saxónico como na europa latina. sim, há um interesse cada vez maior, e eu acho que tem a ver com a ideia, muito antiga, de que a filosofia vai ajudar a obter o sentido da vida, quando precisamente esse sentido está a explodir, a estilhaçar-se, a dissolver-se, a caotizar-se cada vez mais. não é por acaso que se fala tanto, por exemplo em frança, num ethical turning. quer dizer que se passou da filosofia teórica – teoria do conhecimento, filosofia analítica… – para um interesse cada vez maior pela Ética. e isto tem a ver com essa tal caotização do mundo, e com o facto tradicional de que a filosofia é, supostamente, dar a resposta ao problema do sentido da vida, o que é que eu estou a fazer aqui.Aliás, uma das causas que se apontam para o caos actual, não só no mundo da finança como na teia social mais alargada, é a perda do sentido ético da responsabilidade perante si e perante os outros.sim, estou de acordo, se bem que teríamos que fazer distinções finas entre o que se passa em portugal e o que se passa na outra europa. eu acho que ainda há

muita estabilidade ética em portugal, relativamente ao que se passa por exemplo em frança.

E isso é positivo ou negativo?nem positivo nem negativo. não vejo as coisas assim. Vejo-as sob uma perspectiva histórica. parece-me que essa estabilidade ética vem duma imobilidade, que protege mas não nos faz avançar no pensamento. a imobilidade está condenada, historicamente condenada. não é bom ficar imobilizado num neo-arcaismo qualquer.

Podemos saber qual é o trabalho filosófico que tem agora entre mãos?estou, entre outros projectos, a fazer um livro que me interessa muito, uma espécie de sistematização de muita coisa que está espalhada por aqui e ali em comunicações e a que quero dar uma consistência maior.//

Momentos da última aula de José Gil, a 10 de Março de 2010:http://www.tsf.pt/paginainicial/Vida/interior.aspx?content_id=1516053

O estado do país em análise por José Gil, filósofo (30.12.2010)http://videos.sapo.pt/R4rznm5notZliii0qurf

“ainda há muita estabilidade ética em Portugal”

Nasceu em Moçambique, em 1939. Começou por estudar matemática em Lisboa, mas acabou por licenciar-se em Paris, em 1968, em Filosofia. Nesta área onde exerceu como professor universitário na mesma cidade de Paris, em São Paulo (Brasil) e desde 1976 em Lisboa, na Universidade Nova, onde leccionou, como professor catedrático, Estética e Filosofia. A 10 de Maio de 2011 proferiu aí a sua “última aula”. Mas continua activo.Para lá da sua actividade docente e das obras que desde 1983 vem publicando, muitas e bem diversificadas têm sido as suas formas de intervir na vida colectiva portuguesa.Em 2004, publicou Portugal, Hoje: O Medo de Existir, que o trouxe para o espaço público e no final do mesmo ano o Le Nouvel Observateur escolhia-o como representante de Portugal num conjunto de “25 grandes pensadores do mundo” que “são a consciência do nosso tempo e os precursores do mundo de amanhã”.

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“Os nossos modos de educa-ção, de ensino e de transmissão correspondem a uma geração passada. A de hoje é curiosa, tem espírito aberto, sabe adap-tar-se, mas tem necessidade de ser cativada, porque é uma ge-ração do écran, da rapidez. Não há recusa de aprender, mas in-adequação total face aos meios de transmissão utilizados.”

Caroline Fourest

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Há cerca de 2.500 anos, platão ensinou-nos que o homem não é este animal de carne e osso que se nos apresente de modo visível. o homem é uma alma, ou seja, um espírito racional, imaterial e eterno, e que por isso não pertence à realidade corpórea deste mundo. contudo, está amarrado a um corpo material, perecível, que continuamente o engana apresentando-lhe como verdadeira a sua falsa versão do mundo e da realidade. e porque é falsa, o homem deve libertar-se dela, para se guiar pela Verdade intemporal e imutável. ou seja, o homem deve libertar-se da opinião, para se guiar pelo verdadeiro saber, deve libertar-se da ilusão para chegar à ciência. em síntese, o homem deve deixar de dar importância à sua corporeidade material e ao mundo material e sensível que lhe corresponde e dedicar-se àquilo que é a sua natureza, o espírito, o conhecimento racional e intemporal, dedicar-se à Verdade e à ciência eterna e imutável. o homem não é deste mundo, o seu mundo é outro. e a lição foi bem aprendida. e teve, a ensiná-la, dois grandes mestres, primeiro a igreja católica e depois descartes e os cartesianos.entretanto, já outro grego nos tinha dado uma lição igualmente duradoura. demócrito tinha-nos ensinado a pensar o mundo das coisas em termos atomistas.

de modo muito simples, pode dizer-se assim: se dividirmos um objecto em partes sucessivamente mais pequenas, chegamos ao átomo indivisível, que é o elemento de que todas as coisas são compostas. e o inverso também é verdadeiro: se juntarmos os átomos elementares, temos as infinidade de coisas do mundo. ou seja, em termos de gramática do pensar: o todo é igual à soma das suas partes. e também já antes de platão parménides nos tinha ensinado, também de forma decisiva, que o que é… é, não pode não ser. e aqui se inaugura uma lógica disjuntiva que nos diz que “ser ou não ser é a questão”. e foi assim, entre outras contribuições, que aprendemos a pensar o mundo, as coisas e nós próprios. a História dá muitas voltas, mas o essencial manteve-se durante dois milénios e meio. ainda hoje pensamos muito assim.entretanto, muita coisa aconteceu. Gödel ensinou-nos que a lógica e a Matemática são, por natureza, incompletas e incapazes de um sistema sustentado de modo absoluto. na física, por um lado, Heisenberg ensinou-nos o princípio da incerteza, ou seja, não temos acesso a uma verdade independente do observador, e, por outro, a física quântica veio ensinar-nos que não há um átomo independente do campo e que campo e átomo são uma só realidade. darwin veio escandalizar-nos mostrando que somos parte inteira de todo o mundo vivo e não uma realidade com uma dignidade em si mesma transcendente e garantida por uma origem à parte. não, somos parte do mundo vivo e este é parte do mundo físico. e a biologia veio mostrar-nos que, no essencial, todas as formas vivas, desde o organismo unicelular até às grandes sociedades humanas se regem por algumas mesmas leis universais do mundo vivo. Hubble veio ensinar-nos a ver o universo em expansão a partir do big bang, o princípio de tudo e razão para termos de perceber que tudo tem de ser entendido não como aquilo que é, mas o que está sendo a um ritmo ou um tempo próprio da dimensão a que pertence. o tempo cósmico, o tempo geológico, o tempo humano ou o tempo de

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Alves JAnA

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um insecto têm unidades de medida e ritmos de existência completamente diversos. Mas o tempo não é apenas a medida do acontecer, é o próprio ritmo do acontecer, fora do qual nada é no universo. edward lorenz ensinou-nos a ver que as coisas no mundo não se regem pelo determinismo clássico, pois o universo é um imenso caos, isto é, um oceano de ordem caótica no interior do qual se encontram ilhas de ordem determinista que há muito tínhamos aprendido a ver porque os gregos nos tinham ensinado a procurá-las. e Mandelbrot mostrou-nos que o universo não se rege pela geometria euclideana, mas por uma geometria fractal em que há, mais uma vez, uma solidariedade intrínseca entre o elemento e o todo. antónio damásio mostra-nos que não há uma oposição entre emoção e razão, em última análise, entre matéria biológica do humano e vida humana superior. e as mulheres, que muitos séculos foram menosprezadas por serem tão emotivas, talvez até sejam mais inteligentes. e as artes, afinal, podem ser um modo de investigar e conhecer complementar às ciências. o corpo não é apenas um outro que se opõe ao homem, que seria uma alma racional e imaterial. o corpo é a própria raiz do humano e ser homem é ser “um corpo que diz eu”, na linguagem da laín entralgo. portanto, o homem não é uma alma que tem um corpo, mas um corpo… bem, não podemos dizer que o homem é um corpo, pois não há corpo humano sem o campo no qual ele é corpo, sem um ecossistema que lhe permite ser um corpo vivo, e não há corpo humano sem um campo social, portanto cultural, que lhe permita ser humano. o mais decisivo do humano do homem não se reduz aos genes, mas também não lhes é independente. a interdependência, o ser simbiótico, o ser em rede são formas de ser de tudo o que existe. nada é verdadeiramente, tudo está sendo em interacção e reciprocidade. em última análise, nada é ser, tudo é acontecer.partícula independente do campo ou campo independente da partícula que o constitui são conceitos que não fazem sentido na física. são, portanto, conceitos metafísicos. Mas tão presentes no comentário que todos os dias vimos, ouvimos e lemos. sim, estamos já numa outra lógica. não a do ser

ou não ser, a do terceiro excluído, a lógica linear, solidária com uma física determinista e atomista. estamos, sim, numa lógica do terceiro incluído, da relação circular e mesmo caótica, duma solidariedade constituinte entre o todo as partes – o todo é mais que a soma das suas partes – o todo faz as partes que fazem o todo – num processo continuado em que não temos acesso à Verdade, mas em que podemos progredir de paradigma em paradigma de modo o irmos compreendendo cada vez mais e melhor o nosso universo ao mesmo tempo que descobrimos que o conhecemos cada vez menos, pois o que se nos vai abrindo em pergunta é muito mais do que ganha em respostas.a própria filosofia tem acompanhado este processo. se com os gregos ela era solidária da matemática pitagórica e da geometria euclideana, e com os modernos ela pensava a partir da física de Galileu e newton e da matemática de leibniz, por exemplo, nos últimos séculos ela não pode deixar de sentir-se interpelada por uma evolução científica que explodiu em todas as direcções, de que aqui demos apenas alguns passos vistos à distância. desde Hegel, pelo menos, que a reflexão filosófica ensaia uma nova dança em que procura pensar com o conhecimento científico que todos os dias a desafia e seduz.

“aprendemos a pensar pela velha lógica e segundo a velha física mas o mundo não é assim”a verdade, porém, é que a nossa cultura é – ainda, e em muito – regida pela matriz da filosofia clássica. aprendemos a pensar pela velha lógica e segundo a velha física e assim pensámos durante mais de dois milénios. está-nos na alma, corre-nos no sangue, forma-nos os olhos, alimenta-nos a esperança. Mas porque o mundo, já o sabemos, não é assim, o chão foge-nos debaixo dos pés. Vale a pena, por isso,

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reaprendermos a ver e a desejar, a fazer e a esperar.na escola, continua a vigorar, em muito, um paradigma cartesiano. os meninos e as meninas são chamados a deixar o corpo lá fora e tornarem-se apenas e só atenção e raciocínio. quietos e calados, a ouvir o professor, para ficarem a saber. e, se tudo correr bem, a Verdade do manual, que é a mesma que a do professor, reflecte-se na folha do teste… e todos vivem felizes para sempre. apesar de damásio e outros nos terem ensinado que o saber depende de estruturas cerebrais amadurecidas e a funcionar, que a razão não existe independente da emoção, que as estruturas nervosas são re-construídas pela acção.na política, continuamos a penar e agir como se estivesse garantido que depois desta vida temos uma outra em que as injustiças desta serão reparadas para sempre. Mas uma sociedade sobretudo agnóstica parece esquecer que temos apenas garantida uma vida para viver e que muitos dos nossos cidadãos têm esta vida destruída para sempre. e comemos e bebemos como se nada disto fosse importante.na gestão da coisa pública como da privada, continuamos a pensar como aprendemos de platão, que a boa ordem se faz de cima para baixo, quando toda a natureza nos diz que qualquer ordem, boa ou má, se faz de baixo para cima, sem esquecer que há uma informação que de cima para baixo por re-ordenar o estado das coisas.o escândalo de que “as agências da rating são a causa do lixo que anunciam” resulta de que continuamos a pensar de modo linear quando as coisas se passam de modo circular. pode discutir-

se a justeza da classificação de cada uma das agências e dos interesses que nelas se jogam, mas não podemos esquecer que estamos perante uma realidade em si mesma circular e que, por isso, o estado das coisas se projecta na classificação das agências e a classificação das agências altera o modo como os agentes financeiros vão tomar as suas decisões, numa circularidade continuada.continuamos, pelo menos nalguns países, a esperar a solução dos problemas da acção do Governo, quando sabemos que uma sociedade é um sistema caótico em que o estado do sistema se decide em cada um dos pontos do sistema. por isso mesmo, quando a gestão da coisa pública foi deixada aos políticos, e os cidadãos se desinteressaram da política, foi-se formando uma outra ordem em que ninguém, passe o exagero, se interessa pelo que se passa e apenas espera que o evoluir das coisas lhe seja favorável. e porque haveria de ser? de facto, cada cidadão é um agente político e o todo é solidário com o que as partes são, embora também seja verdade que o todo faz as partes, ou seja, o modo como a vida de um país vai sendo também influencia o modo como os cidadãos se comportam nessa vida. os níveis de racismo, de xenofobia, de homofobia, ou de solidariedade social, ou de interesse pelas artes, ou de participação política têm um carácter circular: os cidadãos fazem a vida colectiva que faz os cidadãos. sim, a realidade é circular. como se quebra o círculo? por exemplo o círculo da pobreza, da iliteracia, da desqualificação relativa das pessoas, da falta de participação política, da corrupção, da desertificação do interior, do desemprego, da indisciplina na escola e assim sucessivamente. esse é o problema. e não pode ser resolvido através de um raciocínio linear, pois a realidade é ou funciona de modo circular.“não sejas teimoso”, diz ele, esquecendo o que o povo sabe, talvez por não ter estudado lógica aristotélica. que “um teimoso nunca teima sozinho”. a teimosia é da ordem da interactividade, tal como o comum das acções humanas.a gestão de uma empresa não é um processo que possa ser entendido em si mesmo. como as bonecas russas, ela depende da política municipal, que depende da política nacional, que depende da

“a realidade social não se rege por causalidades lineares de tipo causa-efeito, embora continuemos a pensar assim”

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política regional, que depende da política global, a qual depende também das políticas nacionais, que dependem das políticas municipais, que dependem da forma como as empresas gerem os seus negócios e respondem ao tempo e aos desafios que estão a viver. “Mas isso é a irresponsabilização geral”, respondem. primeiro: é ou não assim que as coisas se passam? segundo: é a irresponsabilização geral ou a responsabilização de todos e cada um ao seu nível? É verdade que ninguém parece ter poder decisivo sobre o estado de coisas. Mas há alguém que o tenha? e há alguém que não tenha algum poder? a realidade social não se rege por causalidades lineares de tipo causa-efeito, embora continuemos tantas vezes, sem grande proveito, a pensar assim. a sociedade é mais uma estrutura de Mandelbrot, de geometria fractal, em que ninguém é totalmente responsável, mas também ninguém é inocente.o sucesso educativo decide-se onde? nas bancadas dos grupos parlamentares? no gabinete do ministro da educação? na gestão das escolas? nas várias salas de aula? na reunião de câmara? na forma de vida de cada família? em todos estes lugares de acção e decisão, e em muitos outros mais. por exemplo, no jornalismo que se pratica, na publicidade que se faz, na programação da comunicação social (sobretudo a televisão), no desempenho económico das empresa e na economia familiar daí resultante, na vida nocturna que se pratica num determinado lugar, etc., etc., etc. querer reduzir, como tantas vezes se faz, o estado da educação a uma única causa, logo a reolvê-lo com uma solução linear, é, antes de mais, uma postura de estupidez lógica.sim, porque estamos habituados a reflectir sobre a inteligência humana, mas também está muito activa, e a fazer grandes estragos, a estupidez humana. porque estamos habituados a pensar, com platão, que a inteligência, ou a racionalidade, é o modo natural do ser humano. Mas não é verdade. o ser humano é, antes de mais um ser animal, logo irracional. É necessário dizê-lo com vigor: o homem não é um ser racional, ao contrário do que “sempre” se tem dito. o homem é um ser irracional – que pode chegar a ser racional. Mas também pode chegar a não ser, pode não conseguir sê-lo. e pode

inclusivamente ser e não ser racional, pois o que caracteriza o coração humano não é a simplicidade mas a complexidade contraditória.

“Desde os nossos pais gregos que aprendemos que o ser é, é e permanece. Logo, o bom estado das coisas é aquele que permanece.”desde os nossos pais gregos que aprendemos que o ser é, é e permanece. logo, o bom estado das coisas é aquele que permanece. a estabilidade é que é. a mudança é um perigo, a crise é uma desgraça. Mas a realidade é em si mesma dinâmica, a mudança é inevitável. pelo contrário, sobretudo num mundo em que tudo muda a um ritmo acelerado e em que

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a inovação é um factor estratégico, a mesmice é a entropia, a morte a véspera do nada. quantas empresas já morreram assim? quantos países ficaram para trás? quantos criadores enquistaram? Há, portanto, que olhar a mudança e a crise com outros olhos. sem a divinizar e sem a diabolizar. Vendo-a como ela é, percebendo-a no que ela encerra de promessa e de ameaça, porque uma crise tem sempre os dois lados.uma alma puro espírito racional chega à verdade por necessidade lógica. e o erro é só e apenas um mau uso do raciocínio. descartes dixit. e se não for assim. e se o erro for uma das principais formas de chegar à verdade e ao bem? É urgente estudar o estatuto epistemológico do erro. do seu lugar na escola, na empresa, na política… porque nas ciências e nas disciplinas criativas há muito que se sabe que o erro é essencial. “se não estás a cometer erros é porque não estás a dar tudo quanto podes.” Mas não vemos as coisas a irem por esse caminho, pois não? “foi deus que criou o homem ou darwin é que tem razão?” Mas se darwin tem razão, então a religião, que é um universal humano, não deve ser entendida como um processo que teve e tem o seu lugar na história evolutiva e dá ao homem uma vantagem competitiva na luta pela sobrevivência? então, talvez a pergunta seja outra. se darwin tem razão, qual é a verdade do relato religioso da criação do mundo e do homem? não estamos já na ordem disjuntiva, ou / ou, mas na ordem conjuntiva … e … e não é na ordem do discurso em publicação da especialidade que estas questões são pertinentes. são-no, sobretudo, no interior dos processos que, no mundo, tecem a vida de todos os dias. a vida dos homens e das mulheres, e das organizações, e também do reino da natureza tão maltratada pela espécie humana. não será que esses maus tratos são resultado de um atomismo em que o homem se pensa como independente do campo ou do ecossistema em que é homem? afinal, o desprezo votado ao meio ambiente é da mesma espécie que o desprezo votado à coisa pública. e não é por acaso. É porque o modo como vivemos depende, em muito, da gramática por que pensamos.a filosofia mais importante não é a que está escrita nos livros dos grandes filósofos, mas a que está inscrita nos genes, perdão, nos memes do funcionamento da sociedade.//

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A FelicidAde como umA FilosoFiA de vidAcom Alves Jana

A procura da felicidade é universal. Mas que é preciso para ser feliz?A Filosofia tem, sem dúvida, uma palavra a dizer sobre o problema da Felicidade.Este não é o único tema da Filosofia, talvez nem sequer o mais importante. Mas não há dúvida de que se tornou um tema importante no mundo actual. O melhor, então, é pensarmos com rigor e método sobre isso.

cosmologiAscom Alves Jana

Foi Deus que criou o mundo ou tudo começou com o Big Bang? Quem tem razão, a Bíblia ou Darwin?As questões sobre as origens continuam na ordem do dia. E há várias respostas, inconciliáveis entre si. Vamos pensar com rigor e método desde a Bíblia até ao que sabemos hoje sobre o Universo.

O1revista portuguesa de f i losof ia apl icada

sobre...

Contactos:Alves Jana [email protected] ou 96 720 40 89 | Pousada: [email protected] ou 241 379 210

19 maio9h30 – 18h30

Pousada da Juventude de Abrantes

16 Junho9h30 – 18h30

Pousada da Juventude de Abrantes

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nelson Carvalho

quando sócrates inventou a sua arte da definição de conceitos fez dela um poderoso instrumento de clarificação do pensamento dos seus concidadãos fez dela por isso uma actividade de rua, para a praça pública, fez dela uma actividade da / na pólis. por isso manteve-a nos limites de uma conversa, literalmente, com as pessoas. nunca escreveu uma palavra, trocou palavras, argumentos, elucidações, olhos nos olhos com os seus contemporâneos, os seus vizinhos, os que ele encontrava, os que ele procurava, os que o procuravam a ele.

platão passou-a para o registo da escrita e a disciplina do diálogo escrito.aristóteles inventou a lógica, a arte da articulação de conceitos, e levou-a para o liceu, fez dela uma disciplina, institucionalizou-a, escolarizou-a. tornou-a ensinável e objecto de ensino. arrancou-a da rua e da praça pública.

Mas notem: platão foi claro. esta novíssima arte da elucidação /

clarificação conceptual a que os gregos chamaram filosofia, conduzindo o seu praticante à visão dos conceitos com que se podia ler a linguagem do mundo não ficaria completa sem um retorno, um regresso: o regresso à situação original de partida dessa demanda, a vida concreta dos homens de que ela e a quem ela deveria ser e dar a luz, a claridade para uma vida reflectida, uma vida organizada com o sentido de uma racionalidade procurada, uma vida feliz …

quer dizer: a escrita, a escola, a academia, o liceu, processo de análise / descoberta / definição / invenção dos conceitos (deleuze disse há um par de décadas que a filosofia era a invenção de conceitos) que nos dariam a visão correcta do mundo e da vida era apenas o primeiro momento da démarche filosófica que ele nos conta na narrativa fundadora da filosofia (o mito da caverna) como a ascenção da caverna à luz do sol. o segundo movimento era a exigência de que o filósofo, munido dos conceitos a que acedera,

descesse / regressasse à vida real e concreta dos reais e concretos homens para ajudar a ver claro o caminho da vida justa e feliz.

e, recordemos e assumamos: o importante não é o que o filósofo pensa ! o importante é o que o(s) seu(s) interlocutor(es) pensa(m) ! a missão do filósofo é ajudá-los a pensar melhor, ajudá-los a ver bem, ajudá-los a tomar as decisões acertadas e a fazer o seu próprio caminho.

É isto que hoje se exige à filosofia. saír da escola, desinstitucionalizar-se, descer à rua, participar no espaço público, ajudar a uma melhor visão dos problemas, nas instituições sociais, nas empresas, nos escritórios, nas famílias, nos partidos, com os indivíduos.

a “constatação” da “morte da filosofia” e do seu acantonamento nas torres de marfim das academias é um sinal: o lugar da filosofia é na vida, na rua, na praça, nas instituições, com os homens e para os homens: ajudar a ver melhor, a ver bem, a inventar caminhos, a tomar melhores decisões. a filosofia deve voltar à “praça”. quer dizer: deve voltar a ser uma coisa da vida e para a vida.//

A FILOSOFIA DEVE VOLTAR À PRAÇA…

“É IStO quE hOJE SE ExIGE à FILOSOFIA - DESCER à RuA, PARtICIPAR NO ESPAçO PúbLICO, AJuDAR A uMA MELhOR vISãO DOS PRObLEMAS”

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Alves JAnA

“perguntem ao vento que passa, notícias da filosofia no meu país, e o vento cala a desgraça, e o vento nada vos diz”. nada vos diz do que, apesar de tudo, está à vista. que a filosofia só serve para dar aulas e que tem vindo a cair a pique o número lugares de filosofia, sobretudo no ensino secundário, mas já também no superior.e é necessário dizer que tem sido a própria filosofia a trabalhar para este resultado. antes de mais, afirmando alto e bom som que a filosofia se caracteriza pela sua “inutilidade” e é precisamente aí que está o seu valor. esta afirmação, apesar de redondamente falsa, pode ter algum sentido e alguma dignidade para o interior da comunidade de filósofos. Mas, para o exterior, só vem confirmar a velha máxima de que “a filosofia é a ciência com a qual e sem a qual se fica tal e qual”. deste modo, desafia qualquer corajoso a lançá-la no caixote do lixo da História e do progresso. depois, para ajudar, a própria filosofia - por sua iniciativa - tornou-se irrelevante e desnecessária no 12º ano. caminhou pelo seu pé para a sua quase extinção, até tornar lógico o golpe de misericórdia. por fim... bem, calo-me, porque não é este o caminho que desejo seguir aqui.se é evidente que este diagnóstico deve ser feito com cuidado para suster este suicídio colectivo,

também é claro que não é este o lugar para fazê-lo. É preferível afirmar com clareza que não é esse o caminho e que tem de haver uma alternativa. e é indispensável começar pela proclamação inequívoca de que a filosofia tem um lugar insubstituível na cidade dos homens. Mas é ainda urgente confirmar essa afirmação por uma dupla via: por um lado, pela renovação da filosofia na universidade e do trabalho

filosófico nas escolas do ensino secundário, sem esquecer o papel também decisivo que tem a exercer a filosofia no ensino básico; por outro lado, pela presença clara, visível, mas sobretudo produtiva, e por isso reconhecida, da filosofia no próprio tecido da cidade dos homens.É sobre isto que me proponho falar aqui. e por isso chamei a esta intervenção “a filosofia na cidade”. Mais precisamente venho falar-vos de uma empresa de filosofia que existe numa cidade do interior, mais concretamente na cidade de abrantes, que fica no centro do país, junto ao tejo. ouviram bem, uma empresa de filosofia. a empresa de filosofia de abrantes.o projecto é, como seria previsível, de um grupo de professores de filosofia. não é fácil explicar aqui como a coisa nasceu. digamos apenas que havia alguma insatisfação com o que se estava a passar na escola, havia alguns pedidos e desafios da sociedade civil a uma intervenção dos filósofos na cidade, e houve o estímulo dado pela apaef de que é possível e desejável e necessário haver outras saídas profissionais para os filósofos. nós, os filósofos de abrantes, sempre fomos um pouco atrevidos, a ponto de nos chamarem de filósofos experimentais, título que não recusamos. e vai daí, juntando tudo isto e sem dúvida muito mais, que as causas ou factores são sempre mais e mais complexos do que podemos ver, avançámos para este projecto. fundámos uma

empresa e entrámos no mercado. e é dela, da empresa de filosofia de abrantes, que venho falar-vos.

porém, antes de passar ao concreto, deixem-me dizer algumas evidências

banais.primeira. ninguém está interessado nos nossos interesses ou, sequer, no nosso amor pela sabedoria. Muito menos está disponível para arcar com os custos, ou seja, pagar só para satisfazer a nossa paixão filosófica. as pessoas estão interessadas naquilo que lhes interessa – é pleonástico, mas é verdadeiro. e é por aquilo que lhes interessa que

A FILOSOFIA nA CIDADE

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estão dispostas a correr. e a pagar, se for caso disso.segunda evidência banal. cada um só está disposto a pagar por uma coisa o valor que lhe reconhece. posso eu dizer que vale muito aquilo que tenho à venda, mas abrirei falência se os potenciais compradores não considerarem – eles – que aquilo que eu quero vender vale – do ponto de vista deles – aquilo que eu lhes peço para pagarem.terceira evidência. num mercado aberto e de concorrência, só tem futuro aquilo que tem qualidade superior. deixem-me dizer de outro modo: cada vez mais qualquer um faz aquilo que toda a gente é capaz de fazer, mas muito poucos são capazes de fazer melhor do que aquilo que os outros fazem. por isso, o desafio está em ser capaz de fazer melhor que o melhor.quarta evidência banal. o sucesso de uma empresa depende, em última análise, dos compradores. a evolução do mercado fez deslocar o poder dos produtores (ou dos vendedores) para os consumidores. já lá vai o tempo em que o grande Henri ford, o democratizador do automóvel, se podia dar ao luxo de proclamar: «todo o americano pode ter o automóvel da cor que quiser – desde que queira preto». de facto, o famoso ford t apenas se produzia em preto. Hoje, porém, com o mercado inundado de produtos vários, o consumidor tem o poder de decidir o que e se quer comprar. o poder está do lado do cliente.quinta evidência. o mercado está de tal modo inundado de produtos e oportunidades que o consumidor está permanentemente a ser solicitado por vários vendedores e por múltiplos produtos. ou seja, não basta colocar um produto no mercado. É necessário levá-lo até aos potenciais clientes. É necessário procurar os clientes em vez de, à velha maneira, abrir a loja e esperar que os clientes venham comprar.Repito: são algumas evidências elementares para quem anda no mundo dos negócios. Mas há sempre o risco de que não o sejam para quem está apaixonado pela sofia. e recordemos que a tradição filosófica tem-se alimentado de um “direito quase divino” que lhe confere uma “superioridade metafísica” que a dispensa de prestar atenção ao mundo e às suas... particularidades acidentais. talvez isso possa fazer muito sentido quando se trata de um

discurso de filósofos para filósofos, mas é um suicídio quando os filósofos se lançam no mercado. Mais concretamente no mercado do sector dos serviços.e, agora sim, quero falar-vos da empresa de filosofia de abrantes.a nossa actividade tem três grandes eixos: serviços pessoais, serviços colectivos e marketing ou divulgação. diga-se, desde já, que, sempre que possível, procuramos incluir, além do filósofo, um outro especialista, num esforço de interdisciplinaridade que traz uma dificuldade acrescida, até pela diferença de linguagens, mas também uma riqueza que não é habitual.nos serviços pessoais, compreendemos tanto os serviços individuais como os que são feitos em grupo, tanto os que são feitos a pessoas como a empresas. neste eixo, entre outros, temos os seguintes produtos:- aconselhamento filosófico (não falarei aqui dele, porque a apaef tem dele falado o suficiente);- aconselhamento ético a empresas (sobretudo na elaboração do código de Ética da empresa);- cursos, oficinas ou workshops;- visitas de estudos.nos cursos ou oficinas, temo-los feito de vário tipo:- História do pensamento social e político (feito a meias com um advogado);- História da família e da Moral familiar (a meias com um professor de História);- “o sucesso é ser feliz”, sobre a felicidade;- “a arte de bem beber... vinho”;- “sexo é vida”, esta para jovens.além destes, temos outros menos filosóficos, mas onde sempre incluímos uma dimensão filosófica explícita:- “chefia e liderança”;- “como dirigir uma reunião”;- “como falar em público”, etc.um dos workshops que estamos a lançar agora, assenta num trabalho de equipa entre um conselheiro filosófico e um psicólogo e é sobre o “projecto de Vida”. tem a particularidade de articular o trabalho em grupo e o acompanhamento individual. trata-se de ajudar um grupo, relativamente pequeno de pessoas, jovens ou adultos, a desenharem ou redesenharem o seu projecto de vida. nas sessões em grupo, tratam-se dos assuntos numa perspectiva

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mais teórica e teórico-prática e vai-se desenvolvendo a interacção entre os participantes. nas sessões individuais, discute-se o desenho que a pessoa faz do seu projecto de vida. aqui, bebemos muito do método project, que jorge dias, presidente da apaef, apresentou no seu livro “pensar bem, viver melhor: a filosofia aplicada à vida”.entre as visitas de estudo já realizadas, podemos referir as seguintes:- “o corpo e a cidade”, feita com um arquitecto, onde olhámos para as dimensões das praças e dos edifícios, para as formas das estátuas, para as dificuldades dos deficientes nos acessos; mas também explorámos os cheiros da cidade, e fizemos um percurso de olhos vendados, quer para nos aproximarmos dos invisuais, quer para melhor ouvirmos a cidade; bebemos água na fonte, experimentámos vários tipos de bancos para descansar e explorámos vários miradouros;- “o desenvolvimento local”, constituída por visita a vários projectos de desenvolvimento local em meio rural, continuada por um colóquio aberto sobre o mesmo tema;- “a vida e a morte”, feita a lisboa, de manhã com uma passagem pela Maternidade alfredo da costa, um serviço de vida, de tarde com uma visita ao instituto de Medicina legal, um serviço de morte (embora também ao serviço da vida), e à noite, uma ida ao teatro para ver “À espera de Godot”;- “os cidadãos da cidade”, feita com um sociólogo e um antropólogo, que consistiu em ler a cidade de modo a detectar marcas explícitas dos vários tipos de cidadãos: ricos e pobres, novos e velhos, deficientes e não deficientes; trabalhadores e desempregados; homens e mulheres... e tudo o que isso implica.“a liberdade” foi o tema de uma série composta: visitas a uma prisão (Vale de judeus), a um hospital psiquiátrico (s. joão de deus) e ao nosso centro de Recuperação infantil; um encontro com uma turma de “currículos alternativos”, outro com jovens empresários e ainda outro com jovens artistas; colóquios sobre “liberdade e determinismo”, “liberdade e responsabilidade”, “liberdade e justiça social”; e ainda duas acções de intervenção, uma tarde de serviço em centros de dia e lares da terceira idade e uma operação de limpeza de um espaço público.

temos ainda uma outra forma de estar na cidade, embora de certo modo de forma indirecta. nas nossas instalações têm lugar cursos ou workshops promovidos por outras entidades, por vezes em cooperação connosco. É assim que albergamos um grupo de yoga e já acolhemos um workshop de “leitura de jornais”. nestes casos, exigimos que os cursos tenham alguma coisa a ver com o que fazemos, ou seja, com espírito da casa e, além disso, negociamos o possível para que os cursos tenham, no seu conteúdo, algo que ver explicitamente com o que fazemos, quer isso seja resultado de uma colaboração nossa no curso, quer seja feito pelos próprios promotores.como seria de esperar, temos uma newsletter, digital, com que mantemos contacto permanente com o nosso público. aí, não só vamos dando notícia desenvolvida do que vamos fazer, como chamamos a atenção para iniciativas de outros das proximidades que se situam na mesma área de trabalho. além disso, damos alguma informação sobre o que vai acontecendo em portugal e no mundo na nossa área de actuação.no eixo dos serviços colectivos, há várias linhas de trabalho. a principal consiste na animação de bibliotecas públicas, em regime de avença com as respectivas câmaras municipais. nessa animação, desenvolvemos vários tipos de actividade:- apresentação e debate de livros acabados de sair, livros que tenham uma dimensão filosófica, mas que tanto podem ser de ensaio como de ficção, por exemplo;- apresentação, enquadramento e exploração, de tempos a tempos, de um clássico;- debate de um tema de actualidade, o último foi sobre o aborto, mas em que não convidámos um pró e um contra o aborto, mas antes encomendámos a duas pessoas uma exposição serena dos argumentos a favor e outra dos argumentos contra o aborto, abrindo-se depois o diálogo entre os presentes;- debate sobre um tema (não de actualidade) a partir dos livros disponíveis na biblioteca;- celebração de dias específicos: do ambiente, da mulher, etc.;- sessões de poesia à volta de um tema, feitas em colaboração com professores de literatura (da poesia passa-se à conversa e da conversa volta-se à poesia,

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e assim sucessivamente);- participação ocasional em iniciativas da própria biblioteca, como uma exposição de pintura, de fotografia ou de artesanato, em que somos chamados a ajudar à leitura do que se encontra exposto.Hoje à noite, se tudo correr bem, a assinalar o dia da filosofia, está previsto um serão sobre o tema “Guerra e paz”, com três tipos de intervenção: o coro do orfeão de abrantes cantará peças seleccionadas do seu repertório, um grupo de actores do grupo de teatro de abrantes dirá poesias e pequenos trechos em prosa e um pequeno grupo de dançarinos da escola de dança actuará com uma coreografia desenhada para o local e o efeito.um outro tipo de serviço colectivo é a intervenção pública no espaço da própria cidade. todos recordamos o caso de diógenes, o cínico, que, em pleno dia, percorria a praça da cidade com uma lanterna acesa, explicando que andava “à procura de um homem”. terá sido a primeira performance filosófica da História. Resumo aqui duas intervenções que fizemos recentemente. numa delas, procurámos resultados do que poderíamos chamar “vandalismo urbano”, ainda que não de elevado grau (um sinal de trânsito arrancado, uma placa toponímica partida, um banco de jardim arrancado, uma parede pichada num monumento classificado, um contentor do lixo queimado, etc.) e colocámos em cada um uma placa com uma pergunta que dizia “quanto custa limpar esta nódoa?” enquanto distribuíamos às pessoas e à comunicação social um “manifesto sobre os custos da desurbanidade”. na outra intervenção, no dia Mundial do idoso, em colaboração com as duas universidades da terceira idade, a de abrantes e a do tramagal, fizemos uma acção de rua com o objectivo de chamar a atenção para a perda de qualidade de vida de muitos idosos pelo abandono e baixa estimulação a que se encontram sujeitos. para isso, na manhã desse dia, um número significativo de pessoas da terceira idade colocou-se em locais estratégicos – em bancos de repouso, no muro da praça, em cadeiras das esplanadas do centro histórico, e algumas delas em cadeiras colocadas em ruas e largos da cidade. e aquelas pessoas apenas estavam ali sentadas, imóveis, inexpressivas. em várias montras da cidade, um televisor passava

uma imagem de uma pessoa idosa imóvel, viva mas imóvel. a comunicação social tinha sido alertada e as rádios colaboraram chamando a atenção para o que se passava, mas sem dar a solução do enigma. ao fim da manhã, um grupo de crianças vieram buscar pela mão cada um dos idosos. À noite, um colóquio transmitido em directo pelas duas rádios amplificou o gesto e obrigou um público muito mais vasto a confrontar-se com o tema. na edição seguinte dos jornais locais e regionais, o tema voltou a ser abordado.ainda no domínio dos serviços colectivos, importa referir um blogue, muito acompanhado, em que vamos comentando a vida local e regional no sentido do que é o nosso trabalho e onde vamos abrindo vários temas de reflexão e anunciando as nossas actividades.uma terceira área de actuação é a de divulgação e marketing. tudo o que já foi referido até ao momento pode e deve aqui ser incluído, em especial a intervenção no espaço público já acima referida. contudo, classificamos neste campo um noutro tipo de actividades: acções nas escolas, uma crónica semanal num dos semanários locais, um programa mensal de rádio numa das emissoras locais, a colaboração com outras entidades nas suas organizações, como vai ser o caso de comunicações nossas na semana social de abrantes e na semana da educação. neste campo, pretendemos sobretudo dar-nos a conhecer e chegar a outro tipo de destinatários que nunca poderíamos alcançar com a nossa actividade que podemos chamar de comercial.até aqui falei de iniciativas nossas que classifiquei por exemplo pelo tipo de público destinatário ou pela modalidade da acção. Gostaria agora de falar de um outro pequeno conjunto de iniciativas, mas classificadas por uma categoria filosófica. um dos nossos filósofos faz um investimento particular na estética. isso deu origem a um conjunto específico de actividades (que, é evidente, poderiam ser classificadas pelos critério usado até aqui). Vejamos.em colaboração com o centro de formação contínua de professores, foi levado a cabo, por proposta nossa e orientação no nosso filósofo, um curso de estética para professores de filosofia, artes Visuais e literatura; um curso sobre estética e História da arte para alunos das duas escolas de pintura (ensino não

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oficial); um curso de teoria e estética da fotografia, organizado em parceria com o núcleo de fotografia da associação palha de abrantes; um curso de História e estética do cinema, em parceria com o espalhafitas, o cineclube da mesma associação palha de abrantes. colaboramos no serviço de educação do Museu e da Galeria Municipal de arte na organização de visitas comentadas a exposições e assinamos um “comentário crítico” às exposições na página do município na internet. além disso, organizámos um seminário sob o lema wittgensteiniano “Ética e estética são o mesmo” e um outro de política educativa sobre “educação estética e escola”. finalmente, sob proposta nossa e com coordenação do município, somos co-organizadores da i semana da arte e dos artistas no concelho que vai ter lugar muito brevemente. não temos qualquer dúvida de que, sob nossa responsabilidade e por impulso nosso, abrantes tem um razoável nível de reflexão estética para uma pequena cidade do interior.

podia desenvolver mais a minha exposição do que temos vindo a fazer e do que são os nossos próximos desafios. Mas nunca se deve abusar da paciência dos ouvintes. por isso, tenho de terminar.e vou fazê-lo com três afirmações de encerramento.primeira. a empresa de filosofia de abrantes não existe.segunda. não existe, mas podia muito bem existir.terceira. podia existir, porque muitas destas coisas, e muitas outras, foram já, de facto, feitas ou propostas ou apenas pensadas em abrantes. tal como em muitos outros lugares por esse portugal e por esse mundo fora. estas e muitas outras de que aqui não foi possível falar. ou seja, o que fiz aqui foi um exercício de reflexão-ficção, mas muito apoiado na realidade. uma realidade que nega à evidência que a filosofia só serve para “dar aulas”.as potencialidades são múltiplas, as práticas são já diversas. o que falta mesmo é a empresa. Mas isso... é só mais um passo.//

coimbra, 16.11.2006

Esta comunicação foi apresentada no Dia daFilosofia, numa jornada promovida pela APAEF.

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“É inútil gastar demasiada energia em discussões te-ológicas. Entre os sábios ou monges ou religiosos que eu encontrei, o que importava era, acima de tudo, a qualidade do amor que emanava deles.”

ArnAud desjArdins

(1925-2011)

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da PrimavEra FilOSóFica

sexto empírico,DAviD sAntos, Guilherme cAstAnheirA, luís menDes.

É a emergência que não permite que o núcleo de estudantes de filosofia, sexto empírico, desarme as suas potencialidades e o seu sentido. no fundo, sexto empírico é sinónimo de impertinência. não é que a justificação de sua perseverança esteja fundada numa certa negação de todos os valores e acontecimentos que nos foram sendo legados. ao invés, para nós, enquanto membros do sexto empírico, o amanhã não é mais que um adereço do quotidiano. estamos, portanto, atentos às presentes mobilizações da juventude, sentimos a angústia da precariedade, de uma espécie de futuro que nos querem dar como abortado, uma história que não tem mais a realizar, um presente que nada mais nos tem a oferecer. temos um sonho! não nos pensamos condenados à efemeridade nem a um certo fatalismo português. o ruído de fundo que vivemos é condição da nossa contemporaneidade, a informação é abundante e está disponível para todos, não obstante, estamos aprisionados numa frenética espiral que teima em nos toldar os passos.se a filosofia de ontem não precisa de justificações a filosofia de hoje justifica-se a si mesma, porque, assim o cremos, só esta nos permitirá encetarmos um mundo melhor, no qual não nos arrependeremos de por ele termos transitado. por isso, garantimos, a geração à rasca precisa de mais filosofia, de uma filosofia rejuvenescida que lhe permita integrar toda uma nova forma de relacionamento com o mundo; não o mundo abstrato, o mundo metafísico dos grandes pensadores, outrossim, o mundo natureza, com os seus soberbos recursos, mas limitados. Ética, hoje, não pode ser um

conceito gasto, antes, ela é uma emergência, face à usurpação e violência dirigidas contra todas as formas de vida, humanas e não humanas.então não somos nós a geração mais qualificada de sempre e precisamos, ainda assim, que outros decidam por nós? não temos nós hoje, mais que nunca, uma capacidade de mobilização inaudita, e, porém, ao entardecer não baixamos nós a nossa bandeira, manchada ainda de indignação? não nos fechamos de novo nas nossas redomas, no final dessas flash mobs, sem que tenhamos de facto mudado alguma coisa? não sabemos hoje que as aparências nos enganam e ainda assim nos deixamos seduzir pelos novíssimos profetas da contemporaneidade – políticos, economistas, empresários, professores e outras marionetas de um pensamento obsoleto e pretensioso? elites impregnadas de um vocabulário esotérico e de uma semântica da negação, isto é, da negação das nossas potencialidades e forças. por que razão afinal nos calamos enquantotemos, no nosso íntimo, consciência de tudo isto? será o masoquismo a mais saliente virtude contemporânea? não foi a internet concebida para se solidificarem as relações dos povos uns com os outros, dos cidadãos uns com os outros, com as suas diferenças e semelhanças? não é a internet a possibilidade concreta de aproximarmos as nossas alteridades? não é esta a tal “pedra basilar” para a intervenção directa no nosso destino colectivo, no governo de nossas vidas? não é a proximidade que mais caracteriza as sociedades actuais, as polis actuais? a ser isto verdade, porque ao invés de nos encontrarmos, sistematicamente nos desencontramos? não é o planeta terra um património comum, que não deveria estar sujeito aos mais diversos vilipêndios e extorsões de toda a ordem? assim sendo, porque é que uns se asfixiam em bens sobre os quais já perderam a sua medida, enquanto outros, morrem todos os dias

MAnIFESTO

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porque estes mesmos bens lhes foram negados por uma apropriação criminosa e imoral? porque é a austeridade para todos, quando a maioria não percebe a sua causa nem se sente responsável? ao fim, e ao cabo, todos nós sabemos larachar e estrebuchar com veemência no café central, todos nós temos as nossas politiquices, mas, afinal, que práticas concretas nos comprometem? É verdade, em frente à televisão somos, acima de tudo, passivos. porém, no derradeiro cá fora, esperamos, com a mesma passividade, o dom sebastião que irá finalmente nos redimir das nossas aporias.como vêem a filosofia não é o mutismo da obscuridade, pelo contrário, ela é o grito da evidência. todos os seus representantes (da filosofia) devem fazer aquilo para que foram preparados; estimular individualidades, para as quais o futuro surge como sendo sua propriedade. apelamos ao esforço, a um esforço acrescido, para que se consiga sustentar uma consciência menos embrutecida nas gerações vindouras. o papel fundamental dos funcionários da coisa em si é, deste sucinto modo, nada mais que preparar e fortalecer o que de melhor o homem, em ligação umbilical com a natureza, possui. a filosofia é mais que um plano de estudos e uma pauta reduzida a uma parelha de dígitos. agora façam e leccionem o que bem entenderem, desde tales a chomsky, comprometam-se, porém, a não esquecer as vossas responsabilidades ancestrais, que animam o mais nobre ofício da filosofia.//

Nota de Apresentação “O Sexto Empírico é o núcleo de Filosofia da Universidade da Beira Interior. Com ele, para além de planearmos e delinearmos um plano de objectivos, é-nos permitido ter um espaço de puro diálogo e comunicação entre alunos da UBI e de todas as outras faculdades, bem como de todos os interessados na temática. Este espaço centra-se agora, mais que nunca, no nosso reconhecido Blog (http://sexto-empirico.blogspot.pt/), bem como no grupo Sextus Empiricus no facebook. O Sextus fomenta a reflexão, a actualidade e a pertinência dos discursos. É importante que, ainda mais nos dias que correm, a Filosofia tenha um discurso que possa dar o seu contributo à actualidade. E é por isto mesmo que um critério base do nosso espaço de diálogo, a par com partilha de saberes, é a pertinência. Na reflexão e para a reflexão. De uma potência que seja ou possa ser passada a acto.”//

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Foi com Diniz Lobato que o Aconselhamento Filosófico desceu à rua e teve projecção mediática em Portugal. Ele conta-nos o…

PERCURSO DE UM PROJECTO

acedendo a um convite para “falar” da minha experiência, o que desde já agradeço, procurarei, de forma sucinta, abarcar o meu percurso de mais de trinta anos desde o seu início até aos dias de hoje.após um percurso académico repartido entre inglaterra (college of england) e portugal (universidade católica e universidade nova de lisboa), cedo ansiei por uma aplicação efectiva (e eficaz) da filosofia como algo vivo e dinâmico, insatisfeito com o aspecto historicista e guardião de pensamentos, ao invés do exercício de pensar. assim, rompi com a via académica que “almejaria”e procurei outras vias possíveis.partindo do pressuposto que:a. a filosofia antiga propôs um modo de vida, uma arte de viver, o que contrasta com a filosofia Moderna, que surge, sobretudo como uma construção de gíria técnica reservada a especialistas.b. na antiguidade, a filosofia era um exercício constante que nos convidava a concentrar em cada instante da vida, a atentar no infinito valor de cada momento presente quando enquadrado na perspectiva do cosmos, pois o exercício filosófico enquanto “sabor” e experiência implica uma dimensão cósmica.c. essa dimensão pressupõe uma cosmologia que determina não só uma imagem do mundo, mas também o sentido das nossas acções. assim, o modo como interpretamos o cosmos filtra o nível e o significado das nossas acções – conforme lemos o universo, assim agimos nele – pois uma cosmologia define não só o universo físico exterior a nós, mas também define o nosso lugar nele.

Consultório de Filosofia

Diniz lobAto

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devido à minha ligação à sabedoria chinesa, a qual tem um cariz eminentemente prático, mais se reforçou a minha vontade em prosseguir essa via de tornar o processo filosófico como algo mais do que uma via de ensino ou percurso académico.tinha já conhecimento de correntes como a “logoterapia”de Viktor frankl ou “análise existencial, ou ”daisentherapy” de influência Heideggeriana e as linhas terapêuticas da corrente fenomenologia.Graças também ao convívio com o prof. agostinho da silva, com o qual tive o privilégio de privar durante longos anos, fui dando corpo a essa ideia explorando temáticas que viabilizassem a eficácia do projecto.o passo seguinte prendeu-se com a divulgação através de palestras proferidas na faculdade de psicologia em lisboa e cuja temática versava a possibilidade da filosofia surgir como uma “terapia alternativa”.criei então o “consultório de filosofia” em 1989, o qual podia ser interpretado como um renascimento da antiga noção Grega de “logos” – o que relaciona harmoniosamente o “mesmo” e “outro”, virar-se para “outro” – não para dominar, classificar ou apropriar, mas antes para testemunhar e envolver-se no mistério dessa relação, (interior/exterior). um tipo de logos que manifesta o sagrado na vida quotidiana.a implicação dessa prática traduz uma visão do mundo que o ressacraliza, sem necessidade de doutrinas, “eus” ou dimensões múltiplas. desde essa data fui estabelecendo um modus operandi fluido, que se adaptava à pessoa consoante a sua formação, caso específico, e motivos que suscitavam a procura de apoio.o desmontar de processos mentais, interpretações da realidade/situações, os processos de pensamento, etc., possibilitavam a resolução do conflito interno, por via da compreensão ou de acções que o desbloqueavam/resolviam.nos anos noventa, o “consultório de filosofia” teve uma certa projecção nos media por via da novidade e curiosidade que suscitou, pois terá sido a primeira vez que se encarou a filosofia como uma alternativa de aconselhamento para ultrapassar problemas pessoais. essa exposição valeu-me vários “recados” de psicólogos, psicanalistas e outros profissionais de saúde, quanto ao risco que estaria a pisar – o que

não impediu de vir a ter alguns como clientes.tem sido um percurso fascinante, com resultados muito positivos da parte dos “clientes”, pois como sempre disse, “trabalho para o desemprego”, ou seja, o intuito não é manter as pessoas durante anos, antes libertá-las de forma a aplicarem o que de essencial e significativo possam ter adquirido, não descurando a possibilidade de se fazer um trabalho mais aprofundado, por via a ir mais além do que a razão inicial que motivou a procura. após nove anos na baixa lisboeta, em 2002 desloquei o “consultório” para a Rua do salitre, onde me mantive durante um ano, findo o qual me desloquei para azeitão onde apliquei os mesmos princípios num colégio particular, dando apoio a alunos e pais, bem como leccionei “filosofia para crianças” aos alunos entre os sete e os onze anos - sem qualquer relação com a linha de lipman.Voltei da margem sul para cascais, onde retomei as consultas, entre os anos 2004/2006. desde 2006, resido em oeiras, onde mantenho o consultório aberto e me disponibilizo para consultas ao domicílio.//

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“Apesar de nunca sa-bermos com certeza o que os outros entendem por “azul”, podemos, contudo, olhar o céu em conjunto e com prazer.”

Hervé Le TeLLier

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O SENtIdO dA vIdAos dados do desemprego juvenil são preocupantes, porque são crescentes de 2008 para 2011. em dois dos países atinge em 2011 valores da ordem dos 50% e em sete outros os valores estão acima dos 25%. a pergunta que se pode e deve colocar é simples: qual o sentido da vida que temos para propor a estes jovens? qual o sentido da História que lhes anunciamos?a juventude é o tempo em que se põe em causa os valores e princípios herdados por “osmose” educativa da infância e se reconstrói o conjunto e o sistema de valores e princípios que vão presidir à vida pessoal e à inserção no colectivos de que se faz parte. e essa reconstrução é feita quer por experiência própria, com base no modo como o jovem se sente e sente o mundo, quer por diálogo com aqueles que o circundam. e é isto que se está a passar com os nossos jovens e com os de toda a união europeia. faz sentido, por isso, perguntarmo-nos o que temos a dizer sobre o sentido da vida.

Um prOblEmA

Alves JAnA

Portugal 20,2 30,8EU-27 16 22,1Zona Eeuro 15,8 21,3Bélgica 18 20,7Bulgária 12,7 26,8Rep Checa 9,9 19,5Dinamarca 7,6 14,7Alemanha 10,6 7,8Estónia 12 21,8Irlanda 13,3 29Grécia 22,1 47,2Espanha 24,3 48,7França 19,3 30,8Itália 21,3 31Chipre 8,8 25,8Letónia 13 30Lituânia 13,4 31Luxemburgo 17,3 15,2Hungria 19,9 26,7Malta 11,8 14,2Holanda 6,3 8,6Áustria 8 8,2Polónia 17,3 27,7Roménia 18,6 23,4Eslovénia 10,4 15,2Eslováquia 19 35,6Finlândia 16,5 19,9Suécia 20,2 22,9Reino Unido 15 22,3

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talvez seja oportuno irmos espreitar o que nos dizem os livros. por exemplo, Viver para quê?: Ensaio sobre o sentido da vida, de desidério Murcho (org.), dinalivro, 2009. ou então, O sentido da vida: E por que razão é importante, de susan Wolf, bizâncio, 2011.podemos confrontar esta perspectiva mais filosófica com outras. por exemplo, Como viver em tempo de crise?, de edgar Morin e patrick Viveret, incM, 2011, ou Falidos!, dum anónimo, porto editora, 2011. Mas vale talvez a pena lermos tudo isto sob uma análise de fundo. por exemplo, a próxima década: Onde estamos… e para onde nos dirigimos, de George friedman, d. quixote, 2012. e deste autor podemos ir um pouco mais atrás, O mundo é plano: Uma história breve do século XXI, actual, 2005.são apenas alguns exemplo, entre muitos outros, quer quanto a obras e autores, quer quanto a perspectivas de análise e leitura.o que não parece responsável é desconhecermos que estamos a dar passos e a empurrar os nossos jovens… para onde? e esse “para onde” não é independente dos passos que estamos a dar fazendo História. para onde quer que vás, já lá estás.//

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lUgAr AOS NOvOS

temos dezasseis anos e quando refletimos sobre o futuro deparamo-nos com a nossa incapacidade de o olhar com clareza. tão rapidamente possuímos uma visão segura e sustentada acerca do mundo, da vida, dos outros, como logo a seguir nos encontramos completamente perdidos e em luta connosco próprios. talvez seja a nossa imaturidade e até ignorância quanto à Vida, que acaba por nos bloquear o pensamento, e despertar em nós inúmeras dúvidas e complexos até, em relação à nossa inaptidão para perceber o que nos rodeia. fazemos perguntas… apesar de tudo, desejamos o futuro, fantasiamos sobre ele, sonhamos com ele, mesmo sabendo-o uma incógnita… uma tarefa que se irá fazendo e desfazendo. por vezes, acabamos por pensar que o futuro é apenas um breve agora, um já… um tempo imediato que se mistura com um enigmático presente! Mas se o presente é para nós tão complexo e até obscuro quanto o não será o futuro? insistimos nas perguntas…

talvez o facto de o Homem manter-se como enigma, não se conhecendo a si mesmo, procurando-se constantemente, seja aquilo que compromete o encontro de uma pretensa verdade, quanto à vida e ao que esta lhe reserva. contudo, é lá… é no futuro, que habitam todas as expectativas, projetos, sentidos… por eles, cada um, independentemente da sua idade, género, raça, condição social e económica… fazem o homem lutar e comprometer-se com uma espécie de missão: a partir da sua incompletude, encher-se de mundo, realizando-se, procurando ser feliz e defendendo o que considera seu por direito. ao perguntarmos, reconhecemo-nos nos outros…acreditamos, sobretudo, que o presente (o agora… o já… o aqui) não seria feito de todos os futuros se o passado não tivesse sido seu arquiteto! temos 16 anos e quando refletimos profundamente sobre o futuro… bem, percebemos que temos apenas 16 anos... //

OlhAr O fUtUrO…beAtriz velez e bárbArA mArques(alunas do 11º ano na escola secundária dr. Manuel fernandes - abrantes)

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Aqui TAmBém há lugAR PARA OS mAiS NOvOS.POR iSSO, Aqui FiCA um TEmA COmO dESAFiO à PARTiCiPAçãO

dOS AluNOS dO ENSiNO SECuNdáRiO: A vIOLêNCIA NO NAMORO.

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NOtícIAS

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prÉmIO UbI “JOvEm fIlÓSOfO”3ª Edição

Até 30 de julho de 2012, estão abertas as can-didaturas ao Prémio UBI “Jovem Filósofo”, subordinado ao tema: “A importância da Filosofia em tempo de crise”. Para alunos que frequentam o Ensino Secundário e tem como propósito reconhecer um trabalho de excelência sobre um tema ou problema filosófico considerado relevante.

o prémio para esta edição será constituído pela publicação do ensaio vencedor, pela apresentação do trabalho na aula da área científica correspondente à questão que vai a concurso, por um fim de semana para duas pessoas num estabelecimento da rede “pousadas da juventude” e pela atribuição de um certificado. está ainda prevista a atribuição de menções honrosas.

Regulamento em http://sexto-empirico.blogspot.pt/

ÉtIcA E fIlOSOfIA prátIcA

a apefp – associação portuguesa de Ética e filosofia prática lançou o seu primeiro livro com o título: Temas de Hoje, Temas de Sempre- educação,ética e filosofia prática. “É uma obra que reúne um conjunto de artigos e que constituem bons recursos pedagógicos para as áreas da educação, da ética e da filosofia e, muitos deles, como importantes textos reflexivos sobre temas de hoje mas ao mesmo tempo temas de sempre.” as questões abordadas no livro “constituem problemáticas que estiveram e continuam hoje em debate como por exemplo a eutanásia; as relações entre o poder e o sexo; a ética e a política; a ética animal; o papel e a identidade dos professores e a emergência da filosofia prática.”

autores/ colaboradores: josé Rui costa pinto, eugénio oliveira, josé barrientos Rastrojo, joana sousa, amadeu Gonçalves, Miguel coimbra, carlos teixeira, anselmo freitas, antónio pereira da costa.

apresentações: agendar através do mail: [email protected]

mAStEr dE cOmUNIcAçãO EmprESArIAl FaculdadE dE FilosoFia dE Braga2012/2013

a faculdade de filosofia de braga da universidade católica lançou, em parceria com a aiMinho e a aep, o Mce - Master em comunicação empresarial. as pré-inscrições já estão abertas e as candidaturas encerram a 05 de abril. o arranque está previsto para 20 de abril.

a candidatura deve ser formalizada na secretaria da faculdade de filosofia de braga da universidade católica e ser acompanhada do curriculum vitae, certificado de habilitações, fotografia, cópia do bilhete de identidade ou cartão de cidadão e do cartão de contribuinte. a seleção e a seriação dos candidatos baseiam-se na apreciação curricular.

Coordenadora do Programa MCE:Doutora Luísa Magalhães Faculdade de Filosofia, Largo da Faculdade,14710-297 Bragawww.braga.ucp.pt

www.comunicacaoempresarial-ucp.com

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fIlOSOfalando

É UmA rEvIStA grAtUItA.

AgrAdEcE A SUA dIvUlgAçãO.

pOr fAvOr, pASSE A OUtrO,

pArA qUE pASSE A OUtrO.