Fotoevents

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Video-Fotografar às 3 pancadas

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Bem-vindo, cidadão!

Chegou a este guia porque deseja servir melhor a sociedade ao fazer filmagens de grande gabarito quando participa em eventos sociais e revoluções avulsas. Pois bem, veio ao sítio certo!

Este guia usa links para exemplos disponíveis online. Uma ligação à Internet recomenda-se.

Em frente!

1.1. POSIÇÃO

O câmara é os olhos e ouvidos do mundo. Como tal, precisa de ter cuidado para que esteja sempre em condições de fazer o seu trabalho, tanto em nome da verdade como da segurança dos seus companheiros de protesto.

Isto significa que há duas coisas que o câmara deve ter sempre em mente:

“Qual a melhor posição para capturar o que se está a passar?”

“Em que posição é que o poderei fazer sem correr o risco de ser interrompido no meu trabalho?”

De seguida vamos ver os específicos.

1.2. DISTÂNCIA

Se estamos demasiado perto dos acontecimentos, encontramos todo o tipo de problemas. Empurrões que deixam as imagens tremidas, gente que se mete à frente da câmara, a oportunidade de levar uma marretada da polícia; estar demasiado perto dos eventos é perdermos o contexto e pormenores importantes do que se está a passar. Se precisarmos de alargar o enquadramento, não podemos, e por aí fora.

Demasiado longe, embora não tão grave como demasiado perto, também tem as suas desvantagens. Embora muito possa ser compensado com um bom zoom e uma mão firme (quanto mais distante for o zoom, mais se vai notar o tremer da mão), perde-se muito do dinamismo e energia de uma distância média.

O que é, então, uma distância média? Esta poderá variar entre algumas dezenas de metros até 3 ou 4 apenas. Tudo depende da situação em mão. Muita confusão e será inteligente da parte do câmara afastar-se para não ser arrastado no tumulto e perder a estabilidade necessária para boas imagens. Mas se tudo estiver tranquilo, não há crise nenhuma em aproximar um bocado para conseguir aquele detalhe mais pessoal.

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1.3. ELEVAÇÃO

Para não se perderem momentos cruciais, uma boa posição de vantagem vertical será muitas vezes essencial. Numa manifestação, ao nível do olho humano, existem centenas de obstáculos – todas as pessoas presentes são um deles, bloqueando a visão do que está para lá delas.

Há então que obter vantagem, subindo para cima de bancos, muros, árvores, estátuas, as costas de um companheiro ou simplesmente esticando bem o braço – o que quer que seja preciso para conseguir ver para lá da parede de pessoas.

Encontrar um posto elevado tem a vantagem adicional de nos isolar de muito do “movimento” da multidão, permitindo filmagens mais estáveis. Outro benefício é que nos dá perspectiva sobre os acontecimentos, o que ajuda a perceber onde estão ou irão deflagrar possíveis pontos de interesse. Aqui fala-se, claro, de manifestações de milhares de pessoas. Não há necessidade de trepar a postes para perceber o que se passa numa multidão de duas dúzias.

2.1. PREPARAÇÃO

Neste campo, falta de preparação é a morte do artista. As baterias estão carregadas? Os cartões de memória estão vazios? A máquina de filmar tem os settings certos selecionados? O equipamento está devidamente contabilizado, guardado e pronto a usar? É preciso não deixar nada ao acaso para evitar complicações desnecessárias no terreno. Uma boa máquina de filmar deve ser como uma espingarda a ir para combate: limpa, carregada e pronta a disparar.

2.2. PACIÊNCIA

Ao filmar manifestações, a maior parte do tempo não irá acontecer nada particularmente interessante. Quando acontece, é muitas vezes súbito e inesperado, pelo que há que manter sempre a vigilância ou correr o risco de perder aquele momento irrepetível em que o polícia bate na velhinha/jornalista/suíno.

Isto significa que a máquina deve sempre estar na mão, ligada em stand-by (para não gastar muita bateria), pronta para a acção. Os 5 segundos que leva a iniciar do modo OFF serão 5 segundos tarde demais.

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3.1. LUZ

Chegamos agora à parte mais técnica, igualmente importante. Escolher as opções correctas na máquina faz toda a diferença na qualidade final, especialmente ao nível da velocidade do obturador (shutter speed).

Uma velocidade mais lenta que 1/250s (um segundo a dividir por 250) muito provavelmente irá criar arrastamentos que destroem a leitura das imagens durante movimentos laterais e zooms bruscos.

No entanto 1/250s ou mais rápido (1/500s, 1/1000s, etc.) só é possível quando há boas condições de luz. Na maior parte das filmagens durante o dia em exterior, isto não será problemático. Mas quando chega a noite torna-se impossível sustentar estas velocidades rápidas do obturador.

É preciso então reduzir a velocidade, o que significa mais arrastamentos, o que significa que é preciso particular cuidado com movimentos de deslocamento lateral (pannings), movimentações com a câmara, viragens bruscas e zooms. Isto não significa que não se possam fazer, claro. Significa que precisam de ser feitos com mais calma para não ultrapassar o ponto em que os arrastamentos destroem qualquer capacidade do espectador de perceber o que se está a passar.

3.2. COMPOSIÇÃO

Um tópico vasto, mas para principiantes resume-se a alguns conselhos básicos. Primeiro, segurem a câmara (ou telemóvel) direita. Como seres humanos que são, gostam de ver as coisas paralelas ao chão. Por favor, estendam essa cortesia a quem tem de ver as vossas filmagens e não filmem tudo na diagonal. Sim, exige mais concentração no que se está a fazer, mas a qualidade final é completamente diferente. Ninguém gosta de ver imagens que parecem o afundamento do Titanic. E quem diz segurar a câmara direita, diz também ter cuidado ao andar, para que as nossas passadas não se sintam na filmagem.

E segundo: a câmara não é o vosso olhar. O olho humano funciona por movimentos de sacão. Está sempre a saltar de um lado para o outro à procura de formar uma imagem completa e a ser distraído por pormenores que lhe vão chamando a atenção. É preciso impedir que essa tendência natural contagie a câmara.

O resultado de filmagens indisciplinadas são saltos constantes (agora uma bandeira, agora um polícia, agora a multidão, agora um cão, agora os sapatos do vizinho porque me distraí e apontei a câmara para o chão, etc.) que são extremamente desgastantes para o espectador.

Ao invés disso, imaginem o rectângulo que a câmara está a filmar como uma tela. Nessa tela têm de colocar os elementos que melhor pintam o quadro do que estão a observar. Isso requer o olho perspicaz de um pintor com noção do todo mas também dos pormenores que valem a pena, com a capacidade de levar o espectador a cada um deles em devido tempo ao invés de ser guloso como uma criança numa loja de doces, incapaz de se focar e a jogar as mãos a tudo quanto lhe aparece à frente.

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3.3. PSICOLOGIA

Para lá dos aspectos mais técnicos das filmagens, existe também a mensagem implícita à forma como filmamos. Por exemplo, filmar atrás da linha da polícia, como fazem os jornalistas das televisões, leva a que o espectador se identifique com a polícia ao invés dos manifestantes.

Filmar as pessoas de um ângulo baixo (contra-picado) torna-as mais imponentes e vice-versa. As possíveis mensagens e formas de as transmitir são muitas e aprendê-las bem requer o estudo da cinematografia, algo para lá do âmbito deste guia.

No entanto, há perguntas que vos poderão ajudar a aperceberem-se activamente desta dimensão psicológica:

“O que estou a transmitir com este plano? Está de acordo com o que quero transmitir? Se não, qual seria a alternativa certa?”

4.1. EDIÇÃO

Editar é contar uma história. Uma história que começou a ser escrita quando estava a ser filmada, mas que agora toma corpo. Qual é o nosso princípio, meio e fim? Qual a mensagem que estamos a passar? Pensar nestas questões durante a edição (embora, idealmente, já devessem estar a ser pensadas durante as filmagens, embora isso seja difícil em acontecimentos espontâneos como manifestações) torna a obra final muito mais sólida.

Pensar em termos de narrativa também ajuda a clarificar outro ponto muito importante: o que entra? O que sai? Quanto tempo para cada plano? Etc.

Ainda a propósito da duração, devemos sempre dar prioridade à brevidade e clareza dos nossos filmes. A capacidade de atenção dos espectadores é pequena e a ficar cada vez menor. Se estamos na dúvida sobre se algo deve entrar ou não, provavelmente não deve. Que planos se arrastam tempo demais? Onde é que se podem cortar mais uns segundos sem perder a mensagem? Cada instante conta.

Quanto às ferramentas de edição e o seu uso, esse é um tópico demasiado vasto para este humilde guia. Deixo apenas a sugestão do Sony Vegas como programa de aprendizagem para os novatos, uma vez que possui uma intuitividade superior à média.

FIN

Com estas linhas directoras obrigatórias dicas, espero começar a ver uns filmes bestiais a circular na rede (não confundir com vídeos de bestialidade). Que mil cineastas desabrochem!

Permaneçam vigilantes, cidadãos.