Hegel

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A FENOMENOLOGIA DO ESPÍRITO Hegel é um filósofo IDEALISTA: Para ele, tudo é, afinal de contas, ESPÍRITO, MENTE. Por isso devemos começar esclarecendo a noção hegeliana de ESPÍRITO ou MENTE (Geist). Para Hegel, Geist é algo como A CONSCIÊNCIA CÓSMICA, ou ainda, A MENTE UNIVERSAL, ou, de forma mais clara: A MENTE COLETIVA DOS SERES PENSANTES. O espírito-mente (Geist) hegeliano parece ser mais do que o conjunto das mentes individuais, mas, ao mesmo tempo, não alude a nenhum Deus pessoal nem de um Deus transcendente, pois, como veremos, para Hegel, o ESPÍRITO ABSOLUTO, Deus, é também a TOTALIDADE (panteísmo), assim: DEUS CONTÉM O MUNDO EM SI MESMO, INCLUINDO NÓS MESMOS. Para Hegel, palavras como SER, IDEIA ABSOLUTA, ESPÍRITO ABSOLUTO, DEUS, TOTALIDADE, UNIVERSO, INFINITO possuem sentidos aproximados. Uma tese fundamental em Hegel é a de que o universo, ou a totalidade, seguem um processo DIALÉTICO de desenvolvimento. Para fundar o processo dialético, Hegel entende que os conceitos são fluidos, contendo suas NEGAÇÕES: quando pensamos o conceito de finito, por exemplo, somos levados ao conceito de infinito. Em complemento, a realidade designada por um conceito (tese), seja ela natural ou mental, engendra em si mesma a sua negação (antítese). Dessa negação e oposição, por força da contradição aí encerrada, inadequações se evidenciam, forçando a sua ultrapassagem por outra entidade mais complexa (expressa na síntese) que as supera e contém, e assim por diante. Esse processo fica mais plausível quando consideramos o desenvolvimento da mente ou consciência coletiva, revelada na história da civilização e cultura humanas. Compreendido isso, podemos agora esclarecer o objetivo de Hegel em seu trabalho: A ideia extremamente original que norteia a Fenomenologia do Espírito foi a de traçar os sucessivos estágios do desenvolvimento do ESPÍRITO ou MENTE ou CONSCIÊNCIA HUMANA COLETIVA, refletido no desenvolvimento das consciências

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A FENOMENOLOGIA DO ESPÍRITO

Hegel é um filósofo IDEALISTA: Para ele, tudo é, afinal de contas, ESPÍRITO, MENTE.

Por isso devemos começar esclarecendo a noção hegeliana de ESPÍRITO ou MENTE (Geist). Para Hegel,

Geist é algo como A CONSCIÊNCIA CÓSMICA, ou ainda, A MENTE UNIVERSAL, ou, de forma mais

clara: A MENTE COLETIVA DOS SERES PENSANTES.

O espírito-mente (Geist) hegeliano parece ser mais do que o conjunto das mentes individuais, mas, ao

mesmo tempo, não alude a nenhum Deus pessoal nem de um Deus transcendente, pois, como veremos,

para Hegel, o ESPÍRITO ABSOLUTO, Deus, é também a TOTALIDADE (panteísmo), assim: DEUS

CONTÉM O MUNDO EM SI MESMO, INCLUINDO NÓS MESMOS.

Para Hegel, palavras como SER, IDEIA ABSOLUTA, ESPÍRITO ABSOLUTO, DEUS, TOTALIDADE,

UNIVERSO, INFINITO possuem sentidos aproximados.

Uma tese fundamental em Hegel é a de que o universo, ou a totalidade, seguem um processo DIALÉTICO

de desenvolvimento. Para fundar o processo dialético, Hegel entende que os conceitos são fluidos,

contendo suas NEGAÇÕES: quando pensamos o conceito de finito, por exemplo, somos levados ao

conceito de infinito. Em complemento, a realidade designada por um conceito (tese), seja ela natural ou

mental, engendra em si mesma a sua negação (antítese). Dessa negação e oposição, por força da

contradição aí encerrada, inadequações se evidenciam, forçando a sua ultrapassagem por outra entidade

mais complexa (expressa na síntese) que as supera e contém, e assim por diante.

Esse processo fica mais plausível quando consideramos o desenvolvimento da mente ou consciência

coletiva, revelada na história da civilização e cultura humanas.

Compreendido isso, podemos agora esclarecer o objetivo de Hegel em seu trabalho:

A ideia extremamente original que norteia a Fenomenologia do Espírito foi a de traçar os sucessivos

estágios do desenvolvimento do ESPÍRITO ou MENTE ou CONSCIÊNCIA HUMANA COLETIVA, refletido

no desenvolvimento das consciências inidividuais e, especialmente, na história da humanidade. Isso desde

o estágio mais inferior, da consciência ingênua não-científica, até a sua culminação no que Hegel chama

de CONHECIMENTO ABSOLUTO, que é a forma de conhecimento que conhece a realidade pelo que ela

realmente é.

Mas o que é a CONSCIÊNCIA? Para Hegel ela é a MENTE em sua relação ESSENCIAL com seus

OBJETOS, externos ou interno. Para Hegel, cada forma de consciência produz dialeticamente negações

determinadas, disso resultando uma forma superior de consciência, que ultrapassa as anterioress, posto

que ciente das inadequações de suas formas prévias.

Hegel não rejeita realmente o princípio aristotélico da não-contradição, que afirma que uma coisa não

pode ser e não ser ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Pelo contrário, é a contradição que força a

mente a ultrapassar as fases anteriores. Para Hegel, o processo dialétivo é o motor de toda a realidade,

produzindo oposições que só se resolvem na forma de síntese cada vez mais complexas.

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O modo como funciona a dialética é bem mostrado na LÓGICA de Hegel, que é como a investigação da

mente infinita de Deus antes da criação do mundo! Mais corretamente (já que para Hegel a criação é um

mito), a lógica consiste na investigação das categorias constituitivas da TOTALIDADE em sua ESSÊNCIA

ou, se quisermos, o estudo da ESTRUTURA DA MENTE DIVINA, que é PENSAMENTO PURO abstraído

de sua atualização nas formas da NATUREZA e do ESPÍRITO. Essa estrutura é dinâmica, consistindo em

um desdobramento dialético de conceitos fundamentais, de CATEGORIAS, desde a categoria primeira,

que é a do SER, que contém implicitamente todas as subsequentes, até a categorias última, que é a da

IDEIA ABSOLUTA, que contém explicitamente todas as anteriores.

Para exemplificar, considere a primeira das categorias, a do SER. Essa é a noção mais geral que

podemos conceber: tudo é. mas, quando tentamos pensar o SER sem qualquer determinação, o que vem

à mente é a noção de NADA. A noção de SER produz, portanto, dialeticamente, a sua antítese, a noção

do NÃO-SER, do NADA. Mas essa passagem do SER ao NADA (e vice-versa), produz uma terceira

noção, a síntese do SER E DO NÃO SER, que é a noção do VIR-A-SER, do TORNAR-SE.

O VIR-A-SER, por sua vez, precisa ter uma QUALIDADE, produzindo assim uma nova categorias

antitética, que por sua vez precisa ter uma QUANTIDADE, o que gera como síntese a categoria de

MEDIDA...

Cada uma dessas categorias deve conter todas as demais até chegarmos, após um longo e obscuro

processo de pensamento, que passa pela lógica a essência, à noção final de IDEIA ABSOLUTA, que é a

do pensamento que se pensa a si mesmo: o AUTOPENSAR DO PENSAMENTO.

Enquanto para Kant as categorias eram conceitos fundamentais do entendimento, no idealismo hegeliano

as categorias são também constituintes estruturais máximos da própria realidade, o que torna sua logica

uma metafísica. A IDEIA ABSOLUTA, a última das cateorias, se atualiza primeiro sob a forma externa de

NATUREZA EXTERNA, o que é como Schelling havia dito, espírito adormecido. A natureza também se

desenvolve e evolui dialeticamente até a produção de animais capazes de vida interior, de consciência, de

seres humanos possuidores de ESPÍRITO. É a partir desse ponto que começa a FENOMENOLOGIA DO

ESPÍRITO. Nessa obra, Hegel quer investigar a evolução dialética da mente, da consciência humana

enquanto tal.

A Fenomenologia divide-se em três fases principais:

a) CONSCIÊNCIA (BEWUSSTSEIN): do OBJETIVO como COISA SENSÍVEL que está diante do

SUJEITO.

b) AUTOCONSCIÊNCIA (SLEBSTBEWUSSTSEIN): é a CONSCIÊNCIA DE SI, intrisecamente

dependendo da CONSCIÊNCIA SOCIAL.

c) RAZÃO (VERNUNFT): Representada como SÍNTESE ou UNIDADE das fases precedentes em um

NÍVEL SUPERIOR.

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Essas três fases podem ser vistas como tese, antítese e síntese de um momento dialético, que no final

une o momento da objetividade com o momento da subjetividade em uma grandiosa síntese final relativa

ao conhecimento absoluto.

Cada uma dessas divisões tem naturalmente subdividões em tríades dialéticas, sendo a mente sempre

compelida a passar de um nível para o próximo, superior e mais adequado...

Como Hegel rejeita a incognoscível coisa em si kantiana como uma hipótese infundada, para ele a

questão epistemológica da relação entre o sujeito mental e o mundo material externo desaparece, de

modo que desde o início a questão do conhecimento deve ser vista de dentro, como desenvolvimento do

espírito no conhecimento do mundo e, em última análise, de si mesmo. pretender um outro procedimento -

que seria o de conhecer o conhecimento antes de conhecer seu objeto - é para Hegel como querer

aprender a nadar sem nunca ter entrado na água.

A) CONSCIÊNCIA

A forma mais simples de consciência é a chamada CERTEZA SENSÍVEL. Ela se caracteriza pelo

ATENTAR PARA O QUE ESTÁ DIANTE DE NÓS EM UM DADO MOMENTO. Ela é chamada de

CERTEZA SENSÍVEL porque a apreensão sensível dos objetos particulares parece ao SENSO COMUM a

forma MAIS CERTA (porque parece ser o conhecimento direto de como as coisas são) e também a MAIS

RICA (devido a variedade e multiplicidade do mundo sensível) de CONSCIÊNCIA. Mas Hegel nega que

isso seja verdade!

Em sua análise, Hegel mostra que a certeza sensível é uma forma PARTICULARMENTE VAZIA E

INCOERENTE DE CONHECIMENTO. Pois o que a consciência sensível faz é apenas REGISTRAR os

DADOS SENSÍVEIS EM UM DADO MOMENTO COMO INFORMAÇÃO CRUA, sem sequer poder

classificar ou dizer do que ela é.

Falando assim, aparentemente estariamos tratando do ISSO AQUI E AGORA, porém não é bem assim!

Tentemos, por exemplo, apreender um OBJETO com recurso do ISSO AQUI E AGORA acompanhado

talvez de um GESTO DE OSTENSÃO.

Suponha que "isso > ROSA". Ora, outra pessoa poderá aplicar a palavra "isso" para se referir a qualquer

outro objeto, por exemplo, "isso > casa".

Vemos que à palavra "ISSO" é impossivel dar um significado particular. O seu signigicado é sempre o de

um CONCEITO UNIVERSAL.

Quanto à palavra "agora", Hegel nota que se à noite eu disser "Agora é noite", e escrever isso, mas

amanhã de dia eu for ler, verei que se tornou insípido. Ou seja: a frase torna-se falsa, pois se trata de um

OUTRO AGORA. Agora é, pois, um universal.

O mesmo dizendo para "AQUI", que tem um sentido UNIVERSAL.

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Note-se que Hegel não está tentando mostrar que o conhecimento do particular não existe. O que ele quer

mostrar é que até mesmo pela APREENSÃO SENSÍVEL nós SÓ CONHECEMOS O PARTICULAR

ATRAVÉS DO UNIVERSAL.

Ou seja: para se tornar exprimível pela linguagem para se tornar genuíno, o CONHECIMENTO SENSÍVEL

precisa inevitavelmente valer-se de CONCEITOS UNIVERSAIS, que subsumem o dado sob uma classe

de entidades.

Mas quando isso acontece, o conhecimento sensível deixa de ser conhecimento sensível para se tornar

CONHECIMENTO PERCEPTUAL, posto que

PERCEPÇÃO = SENSAÇÃO + CONCEITO

Assim, parece que a certeza sensível isolada é na verdade uma abstração, pois quando tentamos exprimir

o particular que ela deve ter como objeto, o que temos é conhecimento perceptual. Aqui poderia ser

objetado que talvez haja um conhecimento sensível CRU que seja SEM PALAVRAS, INDIZÍVEL.

Mas Hegel não admite essa possibilidade, pois tal conhecimento indizível seria OPINIÃO SUBJETIVA,

CRENÇA IRRACIONAL PESSOAL, CONHECIMENTO INADEQUADO.

O que acontece ao nível da PERCEPÇÃO? Aqui a consciência CLASSIFICA CONCEPTUALMENTE OS

OBJETOS DE ACORDO COM PROPRIEDADES UNIVERSAIS.

Mas o conhecimento perceptual também é falho, pois não explica adequadamente a conexão entre o

UNIVERSAL e o INDIVIDUAL.

Considere um exemplo:

Um cubo de sal (objeto)

é branco e também cúbico

e também salino

Mas o OBJETO INDIVIDUAL, o que é? Ora, nem os predicados branco, cubico, salino nem o também que

são UNIVERSAIS, nem um SUBSTRATO INDIZÍVEL

Com isso, Hegel pretende ter demonstrado insuficiente também o conhecimento perceptual! Demonstrado

insuficiente o conhecimmento perceptual, ele precisa ser superado pelo CONHECIMENTO CIENTÍFICO

que invoca entidades não-fenomenais, as FORÇAS, seguidas de construções abstratas, as LEIS

NATURAIS, para explicar os fenomenos.

Aqui a imagem manifesta do mundo provida pelo senso comum, tendo se demonstrado insuficiente, é

substituída pela imagem científica... Já aqui passamos do nível da percepção para o nível do

ENTENDIMENTO, que para Hegel (como para Kant) impõe suas leis à realidade.

Contudo, também o apelo às forças e leis naturais é insuficiente, pois elas são um MEIO ÚTIL DE

ORDENAR E DESCREVER OS FENÔMENOS, mas (segundo Hegel) SÃO MAIS DESCRITIVAS DO QUE

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EXPLICATIVAS... Em vista de tais limitações a mente percebe que todo o reino do abstrato que ela

invocou para explicar os fenômenos sensíveis é produto de seus próprio entendimento. E como

consequência, ela começa a TOMAR-SE A SI MESMA COMO OBJETO, a voltar-se sobre si mesma em

busca de compreensão, começando a entender o mundo como a sua própria criação. Chegada a esse

ponto a mente alcança já uma FORMA LATENTE de AUTOCONSCIENCIA, pois já é capaz de REFLETIR

SOBRE SI MESMA... Com isso termina a primeira grande fase do desenvolvimento da consciência.

B) AUTOCONSCIÊNCIA

O estágio mais primitivo do desenvolvimento da mente ou espírito como AUTOCONSCIENCIA é o daquilo

que Hegel chama de DESEJO.

Pelo DESEJO o EU quer preservar sua individualidade pela NEGAÇÃO do MUNDO ao seu redor.

Ele quer SUBORDINAR, APROPRIAR-SE, DESTRUIR O OBJETO EXTERNO. Essa atitude concerne

também a OBJETOS do desejo que são eles próprios outros SERES VIVOS.

O problema com o desejo é que, destruindo o objeto, ele precisa de outro objeto para exercer controle e

demonstrar sua individualidade e assim por diante, em uma tarefa sem fim e sem descanso.

Mas quando o EU é CONFRONTADO com um OUTRO EU essa atitude precisa se transformar, pois para

Hegel A ALTERIDADE É ESSENCIAL AO DESENVOLVIMENTO DA AUTOCONSCIÊNCIA.

Hegel percebe que a AUTOCONSCIÊNCIA NÃO PODE EXISTIR EM ISOLAMENTO, mas sempre pela

intermediação de OUTRAS AUTOCONSCIÊNCIAS.

Uma autoconsciência precisa de:

1) RECONHECIMENTO por parte de outras consciências

2) Esse reconhecimento precisa ser RECÍPROCO: ela só reconhece a si mesmo se ela SE

RECONHECER A SI MESMA EM OUTRAS CONSCIÊNCIAS....

É como se para nos vermos a nós mesmos precisassemos de um ESPELHO, no caso, de uma outra

AUTOCONSCIÊNCIA.

Um sujeito precisa INTERAGIR com outras AUTOCONSCIÊNCIAS para se conhecer a si mesmo como

possuidor de autoconsciência.

A intuição de Hegel pode ser algo esclarecida pelo caso do menino Lobo que desde o inicio de sua

infância vivia na floresta, andando agachado e comendo insetos. Ele podia perceber o mundo, mas

certamente não era capaz de autoconsciência...

Ou seja: o que a constituição da AUTOCONSCIÊNCIA demanda é a formação de uma CONSCIÊNCIA-

NÓS, ou seja, de uma CONSCIÊNCIA SOCIAL, de sujeitos capazes de reconhecer a identidade que os

une em suas diferenças...

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Contudo, o desenvolvimento da autoconsciência coletiva não se faz de modo imediato Ele é um processo

que passa por diferentes estágios....

1) A primeira e mais espontanea reação de uma consciência diante de outra é a de AFIRMAÇÃO DE SUA

PRÓPRIA EXISTÊNCIA. Ela se daria ao homem natural. Nesse estágio o DESEJO que uma

CONSCIÊNCIA possui é o de ANIQUILAR a outra CONSCIÊNCIA como forma de AFIRMAÇÃO

TRIUNFANTE DE SI MESMA pois ela vê na outra autoconsciência como uma AMEAÇA. Disso resulta

uma "LUTA DE VIDA OU MORTE".

Povos selvagens frequentemente viviam em luta uns contra os outros. Com isso eles mantinham e

revigoravam a sua IDENTIDADE.

Hegel tem uma explicação imaginosa para isso:

Cada autoconsciência almeja se tornar PURA desatada de qualquer coisa MATERIAL...

Mas ela é duplamente atada ao material:

1) ao próprio CORPO vivo

2) ao CORPO vivo da outra pessoa da qual requer reconhecimento.

A maneira de provar que ela não está atada nem ao seu corpo nem ao do outro é através de uma luta de

vida ou morte com a outra pessoa: Ao tentar matar o outro a pessoa mostra que não é dependente do

corpo de outra pessoa, e ao arriscar sua própria vida ela mostra que não é atada nem ao próprio corpo.

Mas a morte de um dos oponentes não serve a ninguém. Pois como a afirmação do próprio EU depende

do seu RECONHECIMENTO POR UM OUTRO EU, o vencedor perde a fonte de reconhecimento que ele

precisa para se tornar autoconsciente. Assim, o vitorioso percebe que é essencial para ele que poupe a

vida do perdedor, assim ele o transforma em escravo ----> daí surge o relacionamento SENHOR-

ESCRAVO.

O SENHOR é aquele que consegue obter RECONHECIMENTO DO OUTRO NO SENTIDO DE IMPOR-SE

COMO O VALOR DO OUTRO. O ESCRAVO É AQUELE QUE VÊ SEU PRÓPRIO EU VERDADEIRO NO

OUTRO...

Uma vez que essa situação se consolida parece que o senhor possui tudo: ele põe o escravo para

trabalhar e põe-se a descansar.

Paradoxalmente, porém, a essa situação é instável e fadada a se modificar devido a uma contradição que

ela oculta:

A oposição senhor-escravo não é propícia para o desenvolvimento da AUTOCONSCIENCIA. Pois para o

desenvolvimento da autoconsciencia o senhor precisa de RECONHECIMENTO.

Mas essa é uma situação de extrema DESIGUALDADE: o escravo, tendo sido transformado em uma

COISA, um OBJETO, não pode dar ao senhor o reconhecimento adequado. Por não ser capaz de

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reconhecer o escravo como uma pessoa real, o senhor priva-se, pois, de um reconhecimento necessário

ao desenvolvimento de uma própria AUTOCONSCIENCIA, pois tudo o que o escravo lhe pode dar é um

conhecimento UNILATERAL E DESIGUAL.

Há nesse processo um outro elemento importante:

Paradoxalmente é o escravo que com o tempo é transformado em uma CONSCIENCIA INDEPENDENTE.

- Porque pela experiencia do MEDO ele se torna diretamente CÔNSCIO da transitoriedade da existencia

humana

- Pelo trabalho escravo é forçado a CONTROLAR seus próprios DESEJOS (instintos)

- Ele TRABALHA no mundo, aprendendo a deixar nele uma MARCA DURADOURA, SUA ESSENCIA

OBJETIFICADA.

Pela conjunção desses fatores, o escravo ganha CONSCIÊNCIA, descobrindo que possui uma MENTE

PRÓPRIA.

É preciso que a oposição entre senhor e escravo seja superada, mas serão necessárias várias e longas

transições dialéticas até que isso ocorra...

1) A primeira tentativa de anulação da diferença é tentada na figura do ESTOICISMO, uma escola

filosofica famosa entre os romanos. Ele é, aliás, próprio de um tempo de medo e de servidão universal. A

constradição do relacionamento senhor-escravo é superada no pensamento estoico apenas no sentido de

que tanto o MESTRE (MARCO AURÉLIO) quanto o ESCRAVO (EPITETO) REFUGIAM-SE NA

INTERIORIDADE, exaltando a ideia de que a VERDADEIRA LIBERDADE É INTERIOR, e de que os

sujeitos possuem AUTOCONSCIENCIA INTERNA, embora os relacionamentos externos permaneçam

inalterados.

Há um progresso no estoicismo, ele não é só uma ideologia do escravo, pois ele descobre que a RAZÃO,

o pensamento, governa o mundo, o que começa uma nova atitude:

"No pensar eu sou livre, pois não estou em outro"

Mas a consciência cética contém o germe de sua contradição, pois as suas ideias edificantes logo se

tornam tediosas uma vez que elas não possuem nenhum conteúdo determinado pelo mundo externo.

A figura do ESTOICO logo dá lugar a figura do CÉTICO para o qual só o EU existe e tudo o mais é

negado. Ele nega a existencia do mundo externo, onde persistem as diferenças entre o senhor e o

escravo. É uma forma desesperada de anti-racionalismo.

Através dela a consciência cética se convence de que a satisfação racional é impossível para nós.

Mas também a consciência cética contém uma contradição implícita, posto que é impossivel ao cetico

deixar de pensar e agir como se o mundo externo existisse.

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A superação da figura do cético acaba por produzir, já no inicio do cristianismo e durante a Idade Média, o

que Hegel chama de CONSCIENCIA INFELIZ, que é uma espécie de INTERIORIZAÇÃO DA RELAÇÃO

SENHOR-ESCRAVO; trata-se da consciencia de uma alma alienada, DIVIDIDA, onde a oposição

SENHOR-ESCRAVO OCORRE DENTRO DE UM MESMO EU. De um lado a consciência aspira tornar-se

independente do mundo material, assemelhar-se a Deus, o SENHOR, um ser puramente espiritual. De

outro, a consciencia se reconhece na condição de ESCRAVO CORROMPIDA E PRISIONEIRA DO

MUNDO MATERIAL. Ela procura DEUS pelas preces, mas ainda não o encontrou, apenas devota-se a

buscá-la...

Esse crente de consciencia infeliz busca primeira Deus através do TRABALHO e então através da AUTO-

RENUNCIA. Mas tal consciencia é contraditória, porque sua humildade e renuncia são FALSAS. Em seu

esforço para purificar-se, a consciência infeliz volta-se contra o próprio corpo, mas quanto mais ela tenta

sobrepujar suas naturezas física, mais ela se sente atraída por ela. Finalmente, ela põe-se nas mãos de

um mediador entre ela e Deus: o padre. O que a consciencia infeliz não percebe é que AS QUALIDADES

DO DEUS QUE ELA SERVE SÃO AS SUAS PRÓPRIAS QUALIDADES.

Por isso a consciencia infeliz é ALIENADA DE SI MESMA, pois ela põe as suas qualidades essenciais

PARA ALÉM DO QUE ELA PRÓPRIA EM SI MESMA É, vendo-se a si por isso miserável e insignificante.

Até onde chegamos a AUTOCONSCIENCIA possuia a forma de uma consciencia UNILATERAL de si

mesma. Essas contradições serão superadas na terceira parte da Fenomenologia do Espirito.

C) RAZÃO

O SUJEITO FINITO SE ELEVA À AUTOCONSCIÊNCIA UNIVERSAL.

Essa autoconsciência universal, porém, só pode ser obtida se a mente TRABALHAR NO MUNDO, se ela

transformar o mundo e a sociedade de modo que as condições para isso possam ser dadas.

Só pela TRANSFORMAÇÃO DO MUNDO OPERADA PELO ESPÍRITO será possível reunir as

CONDIÇÕES para que a mente se torne plenamente AUTOCONSCIENTE, adquirindo CONHECIMENTO

ADEQUADO.

Além disso, só pela transformação do mundo operada pelo trabalho do espírito se tornará possível que a

sua LIBERDADE SUBJETIVA - do PENSAMENTO - se realize como LIBERDADE OBJETIVA.

Isso só será historicamente possível com o luteranismo, a Reforma e a Revolução Francesa.

Na filosofia do espírito, escrita após a Fenomenologia, Hegel distinguiu em detalhes o ESPÍRITO

SUBJETIVO do ESPÍRITO OBJETIVO.

O espírito objetivo é a OBJETUALIZAÇÃO do espírito, principalmente em instituições. Essas objetivações

constituem uma tríade dialética constituída por:

1) A FAMÍLIA: em que o espírito se objetifica sob a forma do AMOR (Hegel supõe a família ideal).

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2) A SOCIEDADE CIVIL: em que o espírito se objetifica sob a forma de classes sociais e especializações,

demandando leis que a sustentem.

3) O ESTADO: que é a forma suprema de objetivação do espírito. E o melhor estado é para Hegel aquele

que permite que as liberdades individuais sejam elevadas ao máximo.

Em sua investigação da razão, Hegel considera, entre outras coisas, o desenvolvimento da

CONSCIÊNCIA MORAL, observando que também aqui há três fases:

1) Primeiro há a MORAL IRREFLEXIVA DO COSTUME. Este é o momento do espírito irreflexivo da Grécia

Antiga, antes do tempo dos sofistas.

2) Depois existem as sociedades onde o indivíduo da MORAL IRREFLEXIVA é ESTRANHADO, havendo

julgamento sobre as tradições. Este é o caso do terror jacobino que anulava as pessoas reais em nome de

uma liberdade abstrata.

3) Finalmente há o desenvolvimento de uma consciência moral na qual a VONTADE RACIONAL GERAL é

um laço comum às pessoas livres. Nesse momento o espírito torna-se eticamente seguro de si mesmo.

Ele toma a forma de uma comunidade de pessoas livres incorporando a vontade geral e vivendo em

comunidade.

Também vale notar que em sua filosofia madura, Hegel distinguiu mais claramente três formas

dialeticamente subsequentes pelas quais a mente humana tem acesso ao ABSOLUTO, que são:

1) Pela ARTE, em que o acesso é feito através da BELEZA, "A ARTE É A APARÊNCIA SENSÍVEL DA

IDEIA" - "A arte apresenta a ideia em sua forma sensível e o seu valor depende do grau de harmonia

interna e unidade de interpretação do conteúdo ideal com a forma sensível"

2) Pela RELIGIÃO, pelo que se tem acesso FIGURATIVO VERDADEIRO ao absoluto. Aqui o acesso ao

absoluto já é dado pela verdade e não mais pela beleza.

3) Pela FILOSOFIA temos acesso CONCEITUAL ao absoluto. Nesse ponto o ESPÍRITO ABSOLUTO TEM

CONHECIMENTO DO ABSOLUTO, DE SI MESMO, DENTRO E ATRAVÉS DA MENTE HUMANA.

Na Fenomenologia, Hegel se concentra no acesso ao absoluto pela religião e pela filosofia.

Em sua posterior filosofia do espírito, Hegel apresenta 3 tipos fundamentais de arte de acordo com a

interpretação entre os elementos ideal e sensível:

1) Tipo de arte em que o ELEMENTO SENSÍVEL predomina: essa era a arte SIMBÓLICA egipcia em que

o elemento ideal era sugerido mais que expresso. Por exemplo, a Esfinge, um 'mistério objetivo', pois o

espírito não foi ainda concebido...

2) A arte CLÁSSICA na qual os elementos espiritual e material estão fundidos em uma UNIDADE

HARMONIOSA. Aqui o espírito é concebido em sua forma concreta como o espírito individual

autoconsciente, cuja incorporação sensível é o corpo humano, como as esculturas dos deuses gregos.

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3) Arte ROMÂNTICA em que o espírito sentido como INFINITO tende a SE SOBREPOR AO SEU

INCORPORAMENTO SENSÍVEL. Para Hegel, a arte romãntica concerne à VIDA DO ESPÍRITO,

MOVIMENTO, AÇÃO, CONFLITO. O espírito precisa morrer ou viver. Ir além de si mesmo, no que ele não

é, e então retornar a si e tornar-se ele próprio, como no auto-sacrifício e ressureição de Cristo...

A arte romântica é para ele a forma mais elevada porque aqui o espírito infinito tende a romper o véu dos

sentidos, o que fica particularmente claro na poesia.

A arte romântica provê o PONTO DE TRANSIÇÃO para a RELIGIÃO porque a mente percebe que

NENHUMA INCORPORAÇÃO MATERIAL É ADEQUADA PARA A EXPRESSÃO DO ESPÍRITO!

Na seção CC da Fenomenologia, Hegel faz um estudo do desenvolvimento da consciência religiosa. Para

Hegel, o que a moralidade deve passar dialeticamente à religião na qual somos explicitamente

reconhecidos como unidos em Deus.

Com efeito, a consciência religiosa é uma unidade viva, na qual cada demanda da comunidade é para o

outros um eu livre que demanda reconhecimento explícito, o que demanda que cada um seja capaz de

assumir a identidade na diferença, que é a unidade de uma vida que está presente em todos como um

laço interno de unidade que nem por isso aniquila as suas diferenças.

Em outras palavras, a religião requer o reconhecimento explícito de um universal que une os particulares

entre si mesmo sem aniquilá-los enquanto tais - da unidade na diversidade.

Por isso mesmo, pelo fato de que na religião as mentes individuais se tornam verdadeiramente

conscientes, elas deixam de agir segundo desejos egoistas e caprichosos.

Elas passam a reconhecer uma às outras como possuindo a mesma natureza da razão, o que lhes permite

pensar e agir em harmonia, ou seja, em conformidade com a absoluticidade do espírito (ou, caso queiram,

da mente humana coletiva). Por isso também a tentativa do iluminismo francês de prescindir da religião se

revelou desastrosa. Contudo, também a religião possui uma HISTÓRIA, e também ela se desenvolveu sob

a forma de tríades dialéticas...

A tríade fundamental apresentada na Fenomenologia é a seguinte:

1) Começa-se com a RELIGIÃO NATURAL. Essa é a mais imediata forma de religião.

Nela não há ainda separação entre o homem e a natureza, e o divino é visto na forma de objetos

perceptuais.

Aqui temos primeiro a religião divinizadora da LUZ tomada como força criativa, depois a religião das

PLANTAS e ANIMAIS.

Mas na medida em que a sociedade evolui de tribos guerreiras privilegiando diferentes animais-deuses

para os impérios da antiguidade, a religião natural se torna instável, demandando sua substituição.

2) Como efeito da entrada em ação do artífice passa-se á RELIGIÃO DA ARTE OU BELEZA.

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Ela é encontrada entre os gregos, onde o divino toma a forma humana e passa a ser relacionado à

comunidade humana.

Essas deidades antropomórficas são representadas por estátuas, como a de Zeus ou Atenas, e a

comunidade deve criar hinos para cultuá-las.

Mas essa religião feliz dos deuses acaba por encontrar seus limites: os deuses reinam acima e além dos

indivíduos, que através de seus culto não se tornam capazes de desenvolver plenamente sua

autoconsciência. Essa separação entre a lei divina e as leis e condições humanas é bem expressa pela

tragédia, na qual o destino e a arbitrariedade dos deuses decidem contra a razão dos herois trágicos. Esse

conflito termina por trazer ao homem a descrença nessas divindades, que chegam a ser ridicularizadas na

comédias de Aristófanes.

3) Finalmente chega-se à RELIGIÃO ABSOLUTA.

Hegel faz então a transição da consciência grega feliz para a consciência romana infeliz do estoicismo e

do ceticismo, quando o espírito ganha a certeza de si pela destruição de deuses e homens.

Para Hegel é somente pelo cristianismo, pela religião revelada, que encontra Deus na forma do SER

HUMANO, que pode a consciência religiosa recobrar-se.

Isso acontece com a doutrina da ENCARNAÇÃO: se Deus é encarnado no homem então ele divide a sua

natureza conosco!

Mais além, a RESSURREIÇÃO demonstra à comunidade religiosa que ela é constituída por mais do que

apenas indivíduos objetivos...

No cristianismo o espírito absoluto é reconhecido como ESPÍRITO: a natureza é vista como criação divina

e expressão da palavra, enquanto o Espírito Santo é visto como IMANENTE aos eus individuais, UNINDO-

OS.

Mas a CONSCIÊNCIA RELIGIOSA tem uma característica que a coloca um degrau abaixo da filosofia: ela

se exprime na forma de um PENSAMENTO PICTORIAL ou ILUSTRATIVO. Por exemplo: ela fala de Deus

como o pai, de Deus criando o mundo, da queda, da expansão do paraíso... Para Hegel não há como se

entender essas doutrinas em termos LITERAIS. Sua verdadeira significação só pode ser entendida

filosoficamente: Considerando a criação, Hegel nota: "Esse criar são as palavras pictoriais para a noção

em si própria em seu movimento absoluto". Em suma: a forma religiosa de expressão é intrisecamente

mistificadora!

Vemos, pois, como o 'mistisches Dunkel' dos escritos de Hegel esconde um pensamento revolucionário:

"Essas formas de expressão como 'queda' e 'filho'", escreve ele, "pertencem ao pensamento pictorial e não

ao do conceito, ou degradando o momento da noção ao nível do pensamento pictorial ou demandando

que o pensamento pictorial se eleve ao reino do pensamento"

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Para Hegel o cristianismo deve tornar-se uma religião na qual o divino é visto como vivento dentro da

comunidade espiritual, sendo assim destituido de qualquer elemento transcendente.

E o saber absoluto que a religião alcança pela FÉ só será perfeitamente expresso quando for substituído

pelo conhecimento absoluto da filosofia, que é alcançado pelo CONHECIMENTO OU CIÊNCIA.

Podemos aqui descrever essa passagem da religião para a filosofia

R: na religião temos:

a) a ideia PICTÓRICA da DEIDADE TRANSCENDENTAL que SALVA O HOMEM pela encarnação única e

o poder da graça.

Enquanto na filosofia temos:

b) O CONCEITO DO ESPÍRITO ABSOLUTO, O INFINITO PENSAMENTO QUE SE AUTOPENSA, que SE

CONHECE A SI MESMO NA NATUREZA (como objetificação e como condição de sua própria

atualização) e RECONHECE, nas formas e níveis da HISTÓRIA DA CULTURA HUMANA, a sua própria

Odisseia!

SABER ABSOLUTO

A verdade figurativamente obtida pela religião se torna na filosofia conhecimento absoluto. Mas o que é,

afinal, o conhecimento absoluto?

R: É o conhecimento do mundo da maneira pela qual ele realmente é - não como algo alheio à

consciência, mas como algo que em sua realidade última nunca deixou de ser tão mental ou espiritual

quanto ela mesma.

Ao chegarmos ao saber absoluto compreendemos que o IDEALISMO é a doutrina filosófica correta, pois

desde o estágio da consciência sensível toda tentativa de se conhecer uma realidade independente do

mental falhou.

Assim, se recapitularmos compreendemos que:

(1) os dados crus dos sentidos, na certeza sensível, eram sem significado, a menos que fossem

conceptualizados pela consciência;

(2) os objetos materiais se demonstraram constructos da consciência perceptual;

(3) as leis da ciência se demonstraram resultados do próprio escrutínio da mente humana;

(4) e a partir daí a consciência passou então a moldar e estruturar o mundo segundo seus propósitos e a

modelar um mundo social racional...

Toda essa sequência de estágios nos força a concluir que a RAZÃO é a soberana de tudo, que tudo o que

existe de FINITO é apenas MOMENTO NA VIDA DO ABSOLUTO, que é de ordem mental, ou seja,

ESPÍRITO ABSOLUTO.

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O conhecimento absoluto é alcançado quando o espírito absoluto, instanciado na mente do próprio Hegel,

tendo passado por todos os estágios da Fenomenologia, entende a natureza mental de toda a realidade.

Quando ele ou nós mesmos, tendo passado por esses estágios, entendemos a natureza mental da

totalidade do universo nós ganhamos conhecimento absoluto, pois vemo-nos como partes do espírito

absoluto quando ele se reconhece a si mesmo como espírito.

Uma vez que a mente descobre que forma uma unidade com o mundo, ela JÁ NÃO PRECISA IR ALÉM.

Ela alcançou o conhecimento absoluto por compreender que tudo aquilo que ela quer conhecer é a si

mesma.

Para Hegel o conhecimento absoluto é O ESPÍRITO CONHECENDO SE A SI MESMO COMO ESPÍRITO.

O ABSOLUTO, a TOTALIDADE INFINITA, vem a conhecer-se a si mesma EM e ATRAVÉS do ESPÍRITO

HUMANO FINITO, na medida em que o ESPÍRITO ELEVA-SE ALÉM DE SUA FINITUDE E SE

IDENTIFICA COM PURO PENSAMENTO.

Pois como Hegel irá sugerir mais tarde inspirado no conceito aristotélico de Deus como pensamento que

se pensa a si mesmo: O ESPÍRITO ABSOLUTO É AUTOPENSAR DO PENSAMENTO.

Em outras palavras: SABER ABSOLUTO é o nível de conhecimento no qual o SUJEITO FINITO

PARTICIPA NA VIDA do PENSAMENTO AUTOPENSANTE - do ABSOLUTO.

Ou ainda em outras palavras: O CONHECIMENTO ABSOLUTO É O NÍVEL no qual O ABSOLUTO, A

TOTALIDADE PENSA-SE A SI MESMA COMO IDENTIDADE NA DIFERENÇA dentro e através da

MENTE FINITA do filósofo. Como escreveu alguém: "Somos a consciência do universo que se pensa em

nós"

Note-se que O SER, O ABSOLUTO, O ESPÍRITO ABSOLUTO, A INFINITUDE, O UNIVERSO, A

TOTALIDADE, DEUS (nomes de uma mesma coisa com conotações diversas) embora não podendo ser

igualado ao homem em sua finitude, mas vem a conhecer-se a si mesmo somente dentro e através do

espírito humano.

Contudo, o ESPÍRITO OU MENTE ABSOLUTA precisa ser UM ÚNICO, pois se cada mente humana fosse

um espírito existiram muitos mundos, um correspondente a cada mente. E elas desconheceriam umas às

outras.

Para Hegel, o Espírito Absoluto é Deus, mas não é um Deus fora do mundo e sim um Deus que contém o

mundo dentro de si mesmo e que só é mais do que o mundo no sentido de que o todo é mais do que a

soma das partes...

O conhecimento absoluto é também para Hegel inseparável da liberdade genuína. Isso é assim porque

SER LIVRE é para Hegel antes de tudo TER UMA MENTE LIVRE. Trata-se aqui da LIBERDADE DA

RAZÃO, da liberdade de fazer escolhas racionais, e essa liberdade só é possível quando o espírito

alcança o estágio do conhecimento absoluto.

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A razão é essencialmente universal, e se ela é um medium da mente, então a mente é também universal.

As mentes dos homens particulares são ligadas porque eles compartilham de uma mesma razão universal.

Somos aspectos de uma única mente universal e nossa liberdade consiste na compreensão disso. Só

quando temos saber absoluto, ou seja, quando nos tornamos conscientes da natureza RACIONAL de

nosso intelecto é que nos tornamos realmente LIVRES...