Hipóstase

23
HIPÓSTASE

description

Publicação que reúne a documentação de fotos e criticas das performances de Mayara Polizer, Fernanda Heitzman, Juliana Lepera, Regina Próspero e Luísa Mantoani. Usando a identidade como mote para suas ações, realizaram no ano de 2013 suas performances no Centro Universitário Belas Artes.

Transcript of Hipóstase

Page 1: Hipóstase

HIPÓSTASE

Page 2: Hipóstase

Foto detalhe

Vanu TG

Na verdade

Serie: Do Verbo Ser

Calcogravura com Chine- colli de Litogravura

Papel tamanho 33,2x23,5 cm Hahnemuhle300g

Estampa: 24,5x18cm

Page 3: Hipóstase

“Hipóstase / hypostasis - é um termo grego que pode se

referir à natureza de algo, ou a uma instância em particular

daquela natureza. O termo passou a ser um sinônimo da

palavra latina persona, o indivíduo de uma natureza

racional. A partir do século IV passou a ser contrastado

com o termo “ousia” como significando 'realidade

individual' nos contextos cristológicos e trinitários. O termo

ainda é utilizado em grego moderno com o significado de

"existência", juntamente com o termo ὕπαρξις (hýparxis) e

τρόπος ὑπάρξεως (tropos hypárxeos), este último

significando "existência individual". O termo é utilizado

para indicar a "a auto-manifestação de um indivíduo" que

pode ser expandida por meio de outras coisas. Por exemplo,

um pintor que inclui seu pincel em seu próprio prosopon.”

03

Disponível em http://www.catolicismoromano.com.br/content/view/1046/41/ Acesso MAR 2014

Page 4: Hipóstase

Índice

Mayara Polizer

ANAMNESE Para falar de identidade, ou falta dela, Mayara Polizer se coloca na condição de agente do tempo, apagando fotografias 3x4 com um químico fotográfico chamado Revelador.

08

Fernanda Heitzman

PROPOSON A artista se camufla em meio à multidão, utilizando uma máscara que tampa sua cabeça, um capuz feito de tela, fazendo com que consiga enxergar o que há à sua volta e permaneça incógnita. É um paradoxo, pois, ao mesmo tempo em que se camufla, faz-se perceber.

12

APRESENTAÇÃO................................... 07

Page 5: Hipóstase

Regina Prospero

TURVA Buscando criticar a obsessão constante por um corpo perfeito presentes nas alterações exibidas como padrão no mundo contemporâneo, Regina Prospero venda seus próprios olhos com carne, após limpar o espelho com a mesma, como se seu “ eu” ou alter ego fosse maleável de acordo com seu interesse.

Luísa Mantoani

MUNDUS MULIEBRIS Com várias identidades exageradas e transformadas, Luísa Mantoani joga para o público a reflexão dos parâmetros de ideal para a atual sociedade e seus impactos nos indivíduos. Transporta a ideia apresentada na série fotográfica para a ação de se maquiar enquanto caminha.

Juliana Sofia Lepera

EXCESSO A identidade feminina construída através da imposição de um comportamento quase teatral. Baseada em expressões que coletou de filme antigos, e que também são notáveis no mundo atual , Juliana Sofia Lepera as expõem e as critica em sua video-performance.

14

17

20

Page 6: Hipóstase

Fotos

Anamnese – Regina Próspero

Prosópon – Fernanda Heitzman

Excesso – Juliana Lepera

Turva – Claudia Geminiani Falkas

Mundus Muliebris – Carolina Vigna-Marú

06

Page 7: Hipóstase

A parte que nos caracteriza e nos apresenta: o rosto, exposto e vulnerável,

face do embrulho que guarda nosso intelecto, nossa memória, nosso

aprendizado, área que se estende da testa ao queixo, escolhido para a foto

de identidade como documento oficial do governo, mas também

concebido por nós como identidade. Marcado pelo tempo, e pela

experiência, modificado diariamente por todo o tipo de maquiagem ou

cirurgia, à mercê de uma incessante busca eterna pela beleza e juventude,

vítima diária do culto contemporâneo da boa aparência. Mas

principalmente protagonista de um paradoxo: dos mais pintados, aos nus,

somos todos incapazes de ver nossa própria face.

Hipóstase apresenta performances de diferentes artistas que expressam em

suas obras conceitos ligados à incapacidade da identificação do individuo,

onde o rosto se torna suporte para esta e outras questões. Anamnes de

Mayara Polizer consiste na ação que apaga fotos 3x4, dissipando a

memória dessas pessoas; Em Prosópon Fernanda Heitzman utiliza uma

máscara-capuz em que camufla o rosto, mas ao mesmo tempo observa a

multidão; Juliana Sofia Lepera pinta a própria face para realçar as

expressões da vídeo-performance Exagero; Regina Próspero envolve

pedaços de carne em sua cabeça, diante de um espelho em Turva; As

fotografias de Luisa Mantoani em Mundus Muliebris mostra a artista

maquiada de forma exagerada e caricata.

Texto de:

Mayara Polizer, Regina Prospero e Fernanda Heitzman

Edição Final, Juliana Sofia Lepera.

07

Page 8: Hipóstase

MAYARA

POLIZER Anamnese

Page 9: Hipóstase

Por Regina Prospero

A performance da artista Mayara Polizer consiste

na ação de apagamento de fotografias 3 por 4

dispostas na parede lado a lado, sem espaçamento

entre elas.Varias fotos de rostos, conhecidos e

desconhecidos, repetidos ou não, cobrem uma área

de aproximadamente 1m², e são apagados com o

auxílio de um pano umedecido com revelador

(químico fotográfico responsável pela aparição das

imagens no processo analógico de revelação de

fotografias). Essa ação faz com que o papel

fotográfico ressensibilize-se com a luz e escureça

cada foto.

As fotos 3 por 4 geralmente são usadas para

concepção de documentos de identidade, como:

RG, passaporte, carteira de motorista, etc. Esses

documentos são pessoais e que todos os cidadãos

precisam ter e carregar consigo para onde for. Ao

tirar o esses documentos deixamos registrados

diversas formas de identificação, como a

assinatura, foto, impressões digitais dos dez dedos

da mão e outras informações como endereço e

formas de localização. Através da carteira de

identidade podemos ser identificados quando

necessário. Identificação em caso de acidentes,

morte, participação em um crime, entre outras

situações os dados do documento poderão ser úteis

para as autoridades competentes.

Apagar um rosto de uma foto com o revelador

significa tirar a identidade da pessoa fotografada,

ela passa a ser uma mancha preta. São apagadas

suas características físicas e singulares, para

posteriormente fazer parte de um grande quadro

negro. A identidade pode ser definida como sendo

um conjunto de caracteres próprios e exclusivos de

8

uma determinada pessoa. Ela permite que o

indivíduo se perceba como sujeito único,

tomando posse da consciência de si mesmo.

Mayara Polizer retira a individualidade de

pessoas, ao final da performance não é possível

diferenciar o rosto, o sexo, a idade, a cor e tipo

físico dos indivíduos das fotos. Desde 2011 o

artista francês JR promove por diversas cidades

do mundo, como Nova York e Turquia, o projeto

intitulado Inside out Project. Ele e sua equipe

convidam as pessoas para tirar autorretratos em

uma cabine de fotos na rua.

09

Page 10: Hipóstase

10 Essas fotos são impressas em grande escala e coladas

lado a lado, formando um grande painel no chão e/ou

paredes. Desde 2011 o artista francês JR promove por

diversas cidades do mundo, como Nova York e

Turquia, o projeto intitulado Inside out Project. Ele e

sua equipe convidam as pessoas para tirar

autorretratos em uma cabine de fotos na rua. Essas

fotos são impressas em grande escala e coladas lado a

lado, formando um grande painel no chão e/ou

paredes. O conceito do projeto é dar a todos a

oportunidade de compartilhar seu retrato e afirmar o

que eles representam com o mundo. No Inside out

Project qualquer individuo pode participar e é

desafiado a usar retratos fotográficos para

compartilhar as histórias não contadas e fazer uma

união das imagens de pessoas de suas

comunidades. Há diferenças e semelhanças entre

as obras de Mayara Polizer e JR. Os fazem painéis

com retratos de desconhecidos, porem, enquanto o

artista francês procura expor as características

pessoais e sociais dessas comunidades, a

performer remove os aspectos individuais.

A pratica de colocar fotografias em caixas

de sapatos ou em gavetas é uma

necessidade não só de guardar, mas de

esquecer temporariamente, Esquecer

sabendo que esta lá, que pode ser

ressuscitada. Nessa Perspectiva, o cotidiano

é a relação de proximidade e distancia,

lembrança e esquecimento.

José de Souza Martins

A sociologia da Fotografia e da Imagem.

Page 11: Hipóstase

guardados na carteira que onde mesmo que

esquecido, permanece como indicio de afeto.

Percebi esse índice de afeto a partir da difícil coleta

dessas fotos para a realização de um trabalho

chamado Anamnese, composta pela coleta de

fotografia 3X4 , pesquisas e experimentações com os

processos analógicos de revelação fotográfica, e ao

final o apagamentos dessas fotos. No dia 12 de

novembro de 2013, retirei de uma caixa preta velada

uma placa com 200 fotografias, medindo no total 1

x80 , e iniciei o apagamento das fotografias usado um

químico fotográfico chamado revelador, interessante

pensar que após mil tentativas, o que iria funcionar

para fazer o serviço de apagar identidades seria

chamado Revelador, a minha ação durou uma hora,

mas a ação da luz ainda permaneceu por mais um

tempo, e retorna a cada vez que é exposta a obra com

o objetivo de coletar mais fotografias.

A imagem sempre em mudança nunca tem um

resultado final, fazendo referencia ao tempo fluxo

continuo real, mas também ao tempo fotográfico,

considerado por Barthes como o passado, Anamnese

consegue ser o oposto da fotografia tradicional não

temporalizada e idêntica a si próprias no tempo, ao

mesmo tempo ser como ela, que mortifica a imagem

através da subversão de procedimentos técnicos da

revelação fotográfica analógica , mas além de

despertar questões metalinguísticas, se propõem

também a falar de identidade, criando o paradoxo de

se apagar uma identidade com uma substancia

chamado revelador, tornando efêmeras as imagens

para falar da efemeridade das pessoas ali

representadas.

Por Mayara Polizer

Memorias das perdas, memorias desejadas e

indesejadas. Memorias do que opõe a sociedade

moderna à sociedade tradicional, memorias do

comunitário que não dura, que não permanece,

memoria de uma sociedade de ruptura, e não de

coesões e permanências. Memoria de uma sociedade

de perdas sociais continuas e constitutivas, de uma

sociedade que precisa ser recriada todos os dias, de

uma sociedade mais de estranhamentos do que de

afetos. ¹

O retrato seja no campo pictórico seja no campo da

fotografia, dadas as distinções sempre esteve a

serviço da representação estética, muito usado nas

academias que buscavam a mimese, ou para

burguesia que queria projeção, mais tarde nos cartões

de visita fotográficos do século XIX, ou ainda hoje

com as selfies, fotos de perfil, books, 3x4, uma

variedade de retratos que apresentam e nos

representam para o mundo. Mas de todas essas

citados, a única que sai do campo da vaidade é a foto

3x4. Esse tipo de foto, como todo artefato social,

carrega em si um conhecimento sobre sua gênese, e

diferente das outras modalidades de retratos, tem em

sua origem um objetivo burocrático. São fotografias

concebidas como oficiais de documentos de

identificação, tidos como pessoais, obrigatórios, e de

uso cotidiano, que também detém o poder de nos

tornar cidadãos, ou seja, ter um nome, e

principalmente numero diante do governo, portadores

de direito e deveres. Por outro lado, esta pequena

foto também subverte seu proposito para adotar um

muito mais subjetivo, se tornando pequenas relíquias,

tesouros, lembranças de um ente querido, de um

amor, irmão, alguém ausente, já falecido, que são

11

Page 12: Hipóstase

FERNANDA

HEITZMAN Prosópon

Por Sara Oliveira

No vídeo Prosopons, em grego, máscaras, a

performer caminha com a cabeça coberta por um

capuz (espécie de saco de batatas) que permite

que veja e seu rosto não seja visto. Percebemos

isso quando ela caminha naturalmente. Este fato

por si só já leva a crer que a artista deseja anular

sua identidade. Identidade, aliás, que está presente

em sua produção, que muitas vezes apresenta

figuras humanas sem revelar seus rostos, também

anulando a relação de tempo/espaço.

No entanto, sua ação a coloca em duas condições:

observadora e observada; entra num paradoxo. A

multidão em geral é tão homogênea que ao cobrir

o rosto em São Paulo, onde a multidão é que torna

os rostos invisíveis, atrai toda a atenção para si ao.

mesmo tempo em que sua presença demora a ser

percebida, na estação Sé do metrô, por exemplo É

um destaque por meio da anulação. A cobertura do

rosto evidencia o corpo, pois causa curiosidade e até

medo nos transeuntes. O medo, talvez por lembrar

os carrascos da Idade Média, ou pelo conceito que

temos de que rostos cobertos estejam ligados a más

intenções.

Por outro lado, os comentários e xingamentos são

inevitáveis e, portanto, a busca por uma maior

desenvoltura, por uma desinibição por meio de

esconder o rosto só evidencia seu medo sobre o que

as pessoas vão dizer sobre ela. Desta forma,

também trata dos sentimentos que por vezes temos

que esconder por baixo de uma máscara.

Por Fernanda Heitzman:

Prosópon

Soar através de...

A máscara não se trata

de um adereço, e sim de

um esconderijo de

identidade, proteger-se do

desconhecido, colaborando

para o distanciamento. É

metamorfose: ao esconder

um rosto, revela uma

outra personalidade.

Page 13: Hipóstase

Aparentemente, o aspecto físico da máscara

lembra as máscaras sensoriais de Lygia Clark, uma

vez que as de Clark, como o nome da obra sugere,

tem o propósito de gerar experiências sensoriais

para o auto conhecimento do corpo .Neste

sentido, Prosopons busca também um

autoconhecimento, mas não sensorial, e sim

psicológico, que tenta camuflar a timidez da

performer, lidando com os olhares voltados a ela.

A ação trata de questões particulares da artista,

como o medo de usar o corpo como meio de

expressão e a vergonha. Mas não fica restrita a ela,

por ser um tema de fácil identificação com outros

perfis dos possíveis espectadores. E para isso é

importante que ela também esteja desse outro lado

de “ causadora de constrangimentos". Também

tem certa relação com a performance Reflexos -

ensaio sobre o vazio, de Felipe Vasconcellos, que

produz uma roupa de espelhos e também caminha

pela cidade, no que diz respeito a presença de um

corpo estranho ao resto da multidão e que altera o

espaço onde se inserem. As pessoas fogem, desvi-

Acesse o vídeo em:

https://vimeo.com/87868092

13

am, mudam seu trajeto A relação obra/público nesses

dois trabalhos é bem marcante. O fato de terem

mudado a rotina das pessoas com o simples fato de

estarem presentes já é uma característica da arte

contemporânea. Apropriam-se do espaço público e o

modificam.

Pedro Salazar (câmera):

Acompanhamos a situação? Planejando ou

Improvisando? Acompanhando o fluxo dos elementos

visuais e posicionando uma figura? Central? Na

oposição das paisagens e dos passantes procuramos

expor uma representação contraditória em um corpo:

ele tenta se esconder e se expõe. Mas nada é fácil

nesse ambiente. A partir disso, então, como elaborar

questões em torno do espaço? Ver e ser visto;

contudo, o que se passa quando essa interlocução,

aparentemente silenciosa é transgredida? O que se faz

do sujeito que se vê observado, ao mesmo tempo pelo

olhar mascarado de um corpo irreconhecível e das

lentes de uma câmera, ora imperceptível, ora

intrusiva? Porém, há um terceiro elemento em

diálogo. O observador, o qual também configura este

recorte do espaço, ora se escondendo, por trás, ora se

expondo, estaria no mesmo nível? Surge, então, um

estranhamento a partir do qual torna-se preciso

colocar-se em mais de um lugar ao mesmo tempo.

Imag

ens

de

Ped

ro S

alaz

ar

Page 14: Hipóstase

JULIANA SOFIA LEPERA Excesso

Page 15: Hipóstase

Por Regina Prospero

A vídeo-performance Excesso da artista Juliana

Sofia Lepera é constituída por dois vídeos que

divide a imagem, as ações acontecem

simultaneamente para exaltar que não é um

ensaio. No vídeo a performer pinta o próprio

rosto com tinta branca, criando uma mascara, e

posteriormente tinta preta em lugares específicos

como sobrancelhas, olhos e bochechas. Durante a

ação a artista vai modificando suas expressões,

tornando-as exageradas. Ao termino da

performance ela borra toda a maquiagem com as

mãos e volta a ter o rosto sereno do inicio do

vídeo. A ação é diretamente relacionada com as

expressões exageradas de atrizes dos filmes

antigos, como Marilyn Monroe, que tinham que

passar uma imagem muito feminina, com muita

perfeição e sem erros.

Desse modo suas atitudes durante as cenas eram

teatrais e pouco naturais. Esses filmes promoviam

de certa forma, um padrão de beleza que não

admitia mulheres com rostos sofridos como

protagonistas.

Juliana Sofia Lepera também questiona em sua obra

como a maquiagem pode mudar completamente o

rosto de uma pessoa.

Há nos dias atuais uma hipervalorização dos

produtos de beleza, que prometem mudanças

rápidas e com bom resultado.

A maquiagem é uma mascara que pode esconder

defeitos estéticos, e consequentemente para muitos

defeitos internos, aumentando assim a autoestima.

Tanto nos filmes antigos quanto na indústria de

produtos de beleza há uma busca pela perfeição.

15

Page 16: Hipóstase

Os materiais usados e as poses exageradas

são artifícios para busca de um estereótipo, o

da mulher ideal. Como esse estereótipo não

existe e nunca existirá, na performance a

artista faz a ação num lugar escuro, uma

penumbra que passa a sensação de medo,

tanto pelo tamanho da projeção quanto pelas

expressões exageradas.

Acesso em:

http://vimeo.com/88287445

16

Por Juliana Lepera:

A obra Excesso é um resultado da minha pesquisa, sobre

personas imagens que refere-se à personalidade que o

sujeito apresenta aos demais como algo real. No entanto,

pode ser uma versão muito contrária à verdadeira. Mas

mais do que apenas apresentar, essa performance

procura, através do exagero, criticar essa máscara que a

sociedade utiliza na contemporaneidade como algo

corriqueiro e natural. Para a construção desta obra foi

necessário experimentar maquiagens que ressaltassem

diferentes expressões, reparei que em relação a câmera

em um estado performático no momento da filmagem,

perdia total controle sobre as expressões que surgiam,

em uma espécie de transe. Cada expressão vinha sem

qualquer programação, não havia por traz de um sorriso

um sentimento de felicidade ou por traz de olhos

arregalados medo, o que quero dizer aqui é que, ao

adotar personas o sujeito não necessariamente tem

controle sobre essa mascara de expressões como algo

reflexo se alguém fala algo engraçado você sorri, sem ao

menos ter achado divertido. A relação do sujeito com o

outro se coloca como distante ou superficial. Mas o

maior agravante é a falta de acesso com suas verdadeiras

emoções, e assim um distanciamento de sua própria

identidade.

Estu

do

s gr

áfic

os

ante

rio

res

ao v

ídeo

.

Acesse o video em: http://vimeo.com/88287445

Page 17: Hipóstase

REGINA

PRÓSPERO

Turva

Page 18: Hipóstase

Por Cau Falkas “Turva” é o nome da performance apresentada pela aluna Regina Prospero. Aconteceu no dia 5 de outubro às 8 horas, com duração aproximada de 30 minutos na sala de prátrica de performance no prédio 1 da Faculdade de Belas Artes de São Paulo. A artista sentou-se em uma cadeira em frente a uma mesa, colocada junto a uma parede. Sobre esta mesa esta um espelho na posição vertical, também apoiado à parede. Sentada à mesa, passa pedaços de carne em sua imagem no espelho e em seguida costura este pedaço de carne a outro, formando uma tira. Assim faz com os demais pedaços ao longo de sua apresentação. A ação termina quando todos os pedaços estão costurados uns aos outros e Regina coloca sobre sua cabeça e rosto esta peça que agora contém os pedaços de

carne unidos. Segundo Regina Próspero, o trabalho questiona a busca pelo corpo perfeito, fazendo referencia a cirurgias e demais intervenções para atingir um ideal de beleza

18

imposto pela sociedade vigente. Parte do principio de que o conceito de beleza da maioria das pessoas esta associado ao corpo físico, representado aqui pela carne bovina. A referencia artística foi a obra de Artur Barrio intitulada “Livro de Carne”. Mas podemos relacionar diversos outros artistas que utilizaram esta matéria efêmera para construir sua obra como, por exemplo, Adriana Varejão. A artista, ao passar a carne pelo espelho, tem a sensação de que sua vista esta turva, mas na verdade o espelho é que esta com resíduos que não permitem uma definição da imagem refletida. O que é visto ali não condiz com a realidade, como acontece com muitas pessoas portadoras de transtornos. “Turva” é uma ação instigante, pois trata da imagem da artista em contato com um material que algumas vezes causa estranhamento quando utilizado em obras de arte.

Page 19: Hipóstase

19 Neste caso a carne exerce também uma função de

agressiva simplesmente por ser um material que

apodrece, e representa o resíduo de algo que já teve

vida. Efêmera, esta carne cumpre o seu papel de

retirar a imagem perfeita do espelho, embaçando a

figura da artista, deformando sua imagem no

reflexo.

Ao final da ação a performer tapa seus olhos com

os retalhos de carne costurados uns aos outros

passando a impressão de que às vezes é melhor não

ver mesmo aquela imagem turva, deformada de

alguma forma, tão inaceitável e distante do que é

considerado belo, perfeito. Ao assistir a ação, a

princípio o espectador pode não se sentir convidado

diretamente a refletir sobre a vaidade humana, mas

de alguma forma percebe uma conexão com

imagem, pois é esta a principal associação quando

nos referimos a espelhos.

Já a questão da obsessão pode ou não vir a aparecer

ao longo da ação, já que não encontramos nenhuma

referencia direta a ela ao longo da performance.

Seria necessária uma interpretação mais profunda,

ou um conhecimento prévio da proposta por parte

do espectador. A exploração de quem observa e

isso pode ou não ser possível, pois temos muitos

fatores que precisam colaborar para isso como, por

exemplo, uma expressão facial, uma velocidade

maior nos movimentos e etc. “Turva”, traz questões

relacionadas a imagem, mas não encontramos na

ação a relação com a questão da obsessão que foi

uma das motivações da artista para realização da

obra e que estaria permeando toda a questão da

imagem durante o trabalho.

Por Regina Prospero

Minha performance procura discutir a obsessão constante por um corpo perfeito. Sobre como o corpo

pode criar um alter ego, uma personalidade diferente do “eu”, um espelho de si mesmo, disponível para

alteração maleável de acordo com o interesse individual. “A glória do momento é atribuída ao corpo não

natural, conjunto de órgãos anexados à pessoa, instância de conexão com o mundo, o corpo-descartável

em constante busca de manipulação de si e ansiedade de afirmação pessoal, já que o corpo sem

intervenção é desprestigiado, “encarna a parte ruim, o rascunho a ser corrigido” [...]É um corpo

reescrito, caracterizado por sua “subjetividade lixo”, diz Le Breton, que existe numa época em que a

pele, a carne, manifesta o que há de mais profundo no indivíduo, que exprime quem é o sujeito.”

(Bárbara Nascimento Duarte, 2010, “Corpo da modernidade: Lugar da condenação e da salvação do

indivíduo”)

Page 20: Hipóstase

LUISA

MANTOANI Mundus Muliebris Por Carolina Vigna

A artista Luísa Mantoani apresentou, no dia 29 de

outubro de 2013, no Centro Universitário Belas

Artes São Paulo, a performance Mundus Muliebris,

em duas partes: uma exposição fotográfica de uma

ação ocorrida anteriormente e, ao vivo.

As fotografias são portraits de Mantoani, em cores.

Cada imagem mostra a artista maquiada de forma

diferente, mas sempre de forma exagerada e

caricata. As obras foram expostas em uma única

linha, à altura dos olhos, fixadas diretamente sobre

uma parede branca.

A performance ao vivo aconteceu na Unidade I do

Centro Universitário Belas Artes São Paulo e durou

2 horas. Iniciou-se com Mantoani maquiando-se ao

caminhar, sem espelho ou qualquer auxílio. A

performer faz as seguintes paradas: toilette feminino

do primeiro andar; escadaria; e toilette feminino do

segundo andar. Nos 3 locais, permanece imóvel por

Page 21: Hipóstase

aproximadamente 15 minutos em cada. O trabalho

de Mantoani coloca em cheque a noção social do

embelezamento associado à mulher. Tanto a

questão dos exageros, quanto as questões de

gênero, identidade e sociedade.

Em diálogo direto com Olivier de Sagazan, a

artista se coloca também como uma tela a se

desfigurar. Esta sua transfiguração, ao contrário da

de Sagazan, permanece no limiar deste “real”

esperado pela sociedade. Mantoani se desfigura

mas não ao ponto de ser irreconhecível como

mulher, como uma mulher que se maquia. Sagazan

se transforma em outro ser, enquanto Mantoani

permanece em sua identidade e em seu gênero.

Devemos considerar também a relação com as

fotografias de Cindy Sherman. Assim como

Sherman, Mantoani também tem um

posicionamento feminista e questiona o uso de

maquiagem e adereços. Apesar de Sherman ser

consideravelmente mais irônica que Mantoani,

ambas artistas recorrem à caricatura.

O caricato está presente também no clown, de onde

podemos detectar a influência da artista Laura Lima,

com o trabalho Palhaço com Buzina Reta - Monte

de Irônicos.

Mantoani questiona o papel da mulher na sociedade,

tanto através do exagero irônico quanto da

delicadeza do clown, resultando em um trabalho

sensível e comovente. Há também um

posicionamento frente à maquiagem, exagerada ou

não. O exagero é apenas um recurso narrativo, ao

contrário da posição frente à cobertura do rosto e da

pele com produtos artificiais. Esta, por sua vez, é

claramente feminista ao se opor à imposição social

em relação à aparência feminina.

21

Page 22: Hipóstase

22

Por Luísa Mantoani

Esta performance traz a questão da maquiagem

e seus desdobramentos, como o papel na

sociedade, aspectos psicológicos e outras

naturezas. O intuito é jogar para o público o

questionamento do uso dessa técnica e trazer

reflexões pessoais a cada um que acesse a obra.

O trabalho se deu por meio de um estudo sobre

os exageros, criação de personagens e

identidades através do uso da maquiagem,

sendo então exibida uma série fotográfica com

diferentes rostos criados e com característica

particulares.

Minhas referências foram artistas que

provocavam o transtorno estético, utilizando-se

de caracterizações variadas, que deformavam,

escondiam, exageravam e camuflavam, mas

sempre trazendo a discussão da identidade

perante os outros, além da questão para o

próprio indivíduo.

Simultaneamente a essa exibição, me propus a

caminhar pelos espaços da faculdade me

maquiando ao mesmo tempo, sem olhar, sem

me preocupar com a estética, justamente

provocando junto com a série de fotografias, a

reflexão do caráter do “belo” presente no

imaginário da sociedade quando se trata dessa

vaidade e dessa forma de pensar quando se

pensa em apresentar-se ao outro.

Page 23: Hipóstase