Historia Da Arte e Do Design - Rogerio Lima

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DISCIPLINA HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN – PROF. ROGERIO LIMA 1 INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN 1 DIVISÃO DA PRÉ-HISTÓRIA Paleolítico" ou "Idade da Pedra Antiga (lascada)" é um termo criado no século XIX para definir o período mais antigo da História do Homem, anterior ao "Neolítico" ou "Idade da Pedra Nova (polida)". A duração deste período, o mais longo da História da Humanidade, é de cerca de 2,5 milhões de anos, desde o momento em que surgiram os primeiros seres humanos que fabricaram artefatos líticos até ao fim da última época glacial, que terminou há cerca de 10 000 anos.Durante o Paleolítico, o Homem vivia da exploração dos recursos silvestres. As atividades de subsistência resumiam-se à pesca, à caça e à coleta de vegetais. As analogias que se podem fazer com as sociedades de caçadores-coletores atuais permitem concluir que a unidade social básica devia ser o bando, isto é, um agrupamento de dimensão reduzida (vinte e cinco pessoas em média) formado pela união voluntária de um pequeno número de famílias. Estes grupos deslocavam-se regularmente, em função das variações na abundância dos recursos alimentares, no interior de um território delimitado. Era no quadro desta vida itinerante que tinham lugar, quando os grupos se reuniam para a realização de caçadas conjuntas ou a celebração de cerimônias religiosas, os acordos de acasalamento e a transmissão de idéias, de técnicas e de modas artísticas. O Paleolítico pode ser dividido em três fases distintas, que se definem em função dos tipos de utensílios de pedra sucessivamente utilizados: Inferior, Médio e Superior. A utilização deste critério de periodização deve-se ao fato de as peças fabricadas em pedra serem aquelas que melhor se preservam e, portanto, serem também as mais numerosas e fáceis de encontrar. PALEOLÍTICO INFERIOR É o período em que surgem os primeiros utensílios em pedra. Estes são de início pouco elaborados (por exemplo, simples seixos lascados) e encontram-se em África, associados, num primeiro momento, à mais antiga forma humana conhecida, o Homo habilis, que foi o antecessor do Homo erectus, o primeiro hominídeo a colonizar o continente eurasiático. Porque um dos sítios onde estes utensílios primeiro foram caracterizados se chama Olduvai, no Quénia, a indústria lítica desta época é conhecida sob a designação genérica de Olduvense. Progressivamente, os utensílios líticos adquiriram formas mais complexas. Os bifaces, peças que caracterizam o Acheulense, apareceram em África há mais de 1 milhão de anos. É deste período que data o primeiro povoamento humano da Europa. •aproximadamente 5.000.000 a 25.000 a.C.; •primeiros hominídios; •caça e coleta; •controle do fogo; e •instrumentos de pedra e pedra lascada, madeira, ossos: facas, machados. PALEOLÍTICO SUPERIOR Aproximadamente 30.000 anos a.C. e A principal característica dos desenhos da Idade da Pedra Lascada é o naturalismo. O homem primitivo representava os seres, um animal com uma função ritual. Atualmente, a explicação mais aceita é que essas manifestações eram realizadas por caçadores, e que faziam parte do processo de magia por meio do qual procurava-se interferir na captura de animais, ou seja, o pintor-caçador do Paleolítico supunha ter poder sobre o animal desde que possuísse a sua imagem. Acreditava que poderia matar o animal verdadeiro desde que o representasse ferido mortalmente num desenho. Utilizavam as pinturas rupestres, isto é, feitas em rochedos e paredes de cavernas. O homem deste período era nômade. O homem do Paleolítico Superior realizou também trabalhos em escultura. Mas, tanto na pintura quanto na escultura, nota-se a ausência de figuras masculinas. Predominam figuras femininas, com a cabeça surgindo como prolongamento do pescoço, seios volumosos, ventre proeminente e grandes nádegas. Vênus de Willendorf. •instrumentos de marfim, ossos, madeira e pedra: machado, arco e flecha, lançador de dardos, anzol e linha; e 1 Este texto foi extraído do material audiovisual apresentado durante as aulas tendo como base a Bibliografia indicada no Plano de Ensino.

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INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN1 DIVISÃO DA PRÉ-HISTÓRIA Paleolítico" ou "Idade da Pedra Antiga (lascada)" é um termo criado no século XIX para definir o período mais antigo da História do Homem, anterior ao "Neolítico" ou "Idade da Pedra Nova (polida)". A duração deste período, o mais longo da História da Humanidade, é de cerca de 2,5 milhões de anos, desde o momento em que surgiram os primeiros seres humanos que fabricaram artefatos líticos até ao fim da última época glacial, que terminou há cerca de 10 000 anos.Durante o Paleolítico, o Homem vivia da exploração dos recursos silvestres. As atividades de subsistência resumiam-se à pesca, à caça e à coleta de vegetais. As analogias que se podem fazer com as sociedades de caçadores-coletores atuais permitem concluir que a unidade social básica devia ser o bando, isto é, um agrupamento de dimensão reduzida (vinte e cinco pessoas em média) formado pela união voluntária de um pequeno número de famílias. Estes grupos deslocavam-se regularmente, em função das variações na abundância dos recursos alimentares, no interior de um território delimitado. Era no quadro desta vida itinerante que tinham lugar, quando os grupos se reuniam para a realização de caçadas conjuntas ou a celebração de cerimônias religiosas, os acordos de acasalamento e a transmissão de idéias, de técnicas e de modas artísticas. O Paleolítico pode ser dividido em três fases distintas, que se definem em função dos tipos de utensílios de pedra sucessivamente utilizados: Inferior, Médio e Superior. A utilização deste critério de periodização deve-se ao fato de as peças fabricadas em pedra serem aquelas que melhor se preservam e, portanto, serem também as mais numerosas e fáceis de encontrar. PALEOLÍTICO INFERIOR É o período em que surgem os primeiros utensílios em pedra. Estes são de início pouco elaborados (por exemplo, simples seixos lascados) e encontram-se em África, associados, num primeiro momento, à mais antiga forma humana conhecida, o Homo habilis, que foi o antecessor do Homo erectus, o primeiro hominídeo a colonizar o continente eurasiático. Porque um dos sítios onde estes utensílios primeiro foram caracterizados se chama Olduvai, no Quénia, a indústria lítica desta época é conhecida sob a designação genérica de Olduvense. Progressivamente, os utensílios líticos adquiriram formas mais complexas. Os bifaces, peças que caracterizam o Acheulense, apareceram em África há mais de 1 milhão de anos. É deste período que data o primeiro povoamento humano da Europa. •aproximadamente 5.000.000 a 25.000 a.C.; •primeiros hominídios; •caça e coleta; •controle do fogo; e •instrumentos de pedra e pedra lascada, madeira, ossos: facas, machados. PALEOLÍTICO SUPERIOR Aproximadamente 30.000 anos a.C. e A principal característica dos desenhos da Idade da Pedra Lascada é o naturalismo. O homem primitivo representava os seres, um animal com uma função ritual. Atualmente, a explicação mais aceita é que essas manifestações eram realizadas por caçadores, e que faziam parte do processo de magia por meio do qual procurava-se interferir na captura de animais, ou seja, o pintor-caçador do Paleolítico supunha ter poder sobre o animal desde que possuísse a sua imagem. Acreditava que poderia matar o animal verdadeiro desde que o representasse ferido mortalmente num desenho. Utilizavam as pinturas rupestres, isto é, feitas em rochedos e paredes de cavernas. O homem deste período era nômade. O homem do Paleolítico Superior realizou também trabalhos em escultura. Mas, tanto na pintura quanto na escultura, nota-se a ausência de figuras masculinas. Predominam figuras femininas, com a cabeça surgindo como prolongamento do pescoço, seios volumosos, ventre proeminente e grandes nádegas. Vênus de Willendorf. •instrumentos de marfim, ossos, madeira e pedra: machado, arco e flecha, lançador de dardos, anzol e linha; e

1 Este texto foi extraído do material audiovisual apresentado durante as aulas tendo como base a Bibliografia indicada no Plano de Ensino.

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desenvolvimento da pintura e da escultura Este período é marcado pelo desenvolvimento de pontas de projétil modeladas com matérias duras de origem animal (osso, marfim, corno de cervídeo), pela utilização de objetos de adorno pessoal (dentes de animais e conchas furados para serem usados como pendentes, por exemplo), e pela arte. Os utensílios em pedra passam a ser quase sempre fabricados sobre lâminas (lascas alongadas, de bordas paralelas, cujo comprimento é significativamente superior à largura), e contêm micrólitos. Estes últimos são pequenos objetos de pedra usados como barbelas que eram montadas, por encaixe ou fixação com resina, sobre pontas de zagaia feitas em madeira ou em matérias ósseas. Em certas épocas, no entanto, as pontas de zagaia eram também inteiramente em pedra, e a sua fabricação fazia-se através de técnicas muito sofisticadas (aquecimento prévio do sílex, retoque por pressão) que permitiam a obtenção de peças de grande beleza. A evolução destes utensílios permitiu uma subdivisão mais detalhada do Paleolítico superior, que, do mais antigo para o mais recente, compreende, no Sudoeste europeu, as seguintes fases (de que se dão os limites cronológicos aproximados): Aurignacense (de 40 mil a 28 mil anos antes do presente); Gravettense (de 28 mil a 21 mil anos antes do presente); Solutrense (de 21 mil a 17 mil anos antes do presente); e Magdalenense (de 17 mil a 10 mil anos antes do presente). Estas designações baseiam-se nos nomes de sítios arqueológicos franceses em que aqueles tipos de vestígios foram pela primeira vez identificados de forma clara. O tipo humano representado nas jazidas do Paleolítico superior é o Homem anatomicamente moderno, Homem de Crô-Magnon, ou Homo sapiens sapiens. Na Europa, o Paleolítico superior corresponde aproximadamente à época da última Idade do Gelo, durante a qual a Inglaterra e a Escandinávia estiveram cobertas por uma extensa calota glacial e o clima era significativamente mais frio e seco, mesmo nas regiões meridionais, do que na atualidade. Materiais Utilizados Óxidos minerais, ossos carbonizados, carvão, vegetais e sangue de animais. Os elementos sólidos eram triturados e dissolvidos em gordura animal. Ou seja, uma técnica rústica de têmpera à óleo. Como pincel, utilizavam os dedos, e pequenas varetas com penas ou pêlos. Outra técnica é a de mãos em negativo, pó colorido a partir de rochas trituradas, misturados à um elemento fixador, provável a gordura animal, é soprado por um canudo sobre a mão pousada sobre a parede da caverna, obtendo-se assim o contorno da mão no meio da mancha colorida. É interessante perceber a necessidade técnica para utilizar a tinta sem que ela escorresse pela pedra. É provável, que as mãos fossem utilizadas para treinar o artista na dosagem de tinta e sopro necessários na execução das pinturas, mais ou menos como um air-brush primitivo! Representações Naturalistas Perfeccionistas na reproduçãos dos animais, deixam transparecer traços mais vigorosos nos animais maiores ou ferozes, e traços mais leves nos animais delicados, como alces e cavalos. Nesse período também fazem esculturas, de formas femininas grávidas. São chamadas Vênus. Também, parecem inspiradas por uma força de reprodução e preservação da espécie. Nesse período não há representações da figura masculina. Mas temos provas de que haviam já escolas de artes para os mais jovens. Este período, o Paleolítico Superior também é conhecido como período da Pedra Lascada. Caverna de LASCAUX, França, suas pinturas foram descobertas em 1940, possuem aproximadamente 17.000 anos. A cor preta, por exemplo, contém carvão moído e dióxido de manganês. Caverna de ALTAMIRA, Espanha, quase uma centena de desenhos feitos há 14.000 anos, foram os primeiros desenhos descobertos, em 1879. Sua autenticidade, porém, só foi reconhecida em 1902. Caverna de CHAUVET, França, há ursos, panteras, cavalos, mamutes, hienas, dezenas de rinocerontes peludos e animais diversos, descoberta em 1994. NEOLÍTICO Cerca de 10.000 anos a C. A fixação do homem da Idade da Pedra Polida, garantida pelo cultivo da terra e pela manutenção de manadas, ocasionou um aumento rápido da população e o desenvolvimento das primeiras instituições, como família e a divisão do trabalho. Assim, o homem do Neolítico desenvolveu a técnica de tecer panos, de fabricar cerâmicas e construiu as primeiras moradias, constituindo-se os primeiros arquitetos do mundo. Conseguiu ainda, produzir o fogo através do atrito e deu início ao trabalho com metais.

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Todas essas conquistas técnicas tiveram um forte reflexo na arte. O homem, que se tornara um camponês, não precisava mais ter os sentidos apurados do caçador do Paleolítico, e o seu poder de observação foi substituído pela abstração e racionalização. Como conseqüência suas manifestações artísticas surgem simplificadas e geometrizadas.Os símbolos, signos, sinais e figuras mais sugerem do que reproduzem os seres com eles são na natureza. Os próprios temas da arte mudaram: começaram as representações da vida coletiva. Além de desenhos e pinturas, o homem do Neolítico produziu uma cerâmica que revela sua preocupação com a beleza e não apenas com a utilidade do objeto, também esculturas de metal. Desse período temos as construções denominadas dolmens. Consistem em duas ou mais pedras grandes fincadas verticalmente no solo, como se fossem paredes, e uma grande pedra era colocada horizontalmente sobre elas, parecendo um teto. E o menir que era monumento megalítico que consiste num único bloco de pedra fincado no solo em sentido vertical. O Santuário de Stonehenge, no sul da Inglaterra, pode ser considerado uma das primeiras obras da arquitetura que a História registra. Ele apresenta um enorme círculo de pedras erguidas a intervalos regulares, que sustentam traves horizontais rodeando outros dois círculos interiores. No centro do último está um bloco semelhante a um altar. O conjunto está orientado para o ponto do horizonte onde nasce o Sol no dia do solstício de verão, indício de que se destinava às práticas rituais de um culto solar. Lembrando que as pedras eram colocadas umas sobre as outras sem a união de nenhuma argamassa. NEOLÍTICO •instrumentos de pedra polida, enxada e tear; •início do cultivo dos campos; •artesanato: cerâmica e tecidos; •construção de pedra; •primeiros arquitetos do mundo Materiais Utilizados As pedras, agora, utilizadas como revestimento, são deslocadas, e constroem moradias. Deve datar daí a invenção das rodas, ou preferível, 'rolamento' de objetos pesados. O fogo, também, já é elemento comum e totalmente dominado, as primeiras lâminas metálicas é desse período. Há ainda o cozimento da argila, para a cerâmica. A reciclagem do material de colheitas, dá lugar as primeiras cestarias, o que por sua vez, insinua as primeiras técnicas de tecelagem. Representações Geométricas e Estilizadas A estilização é uma técnica, onde interferimos na forma representada, porém sem tirar-lhe as características principais. A geometrização dessa época, esboça a intenção da escrita alfa-numérica. Ela aparece na contagem de estações, na divisão do espaço, distinguindo o de animais do de pessoas. Em alguns grupos, a geometrização se refere à pele de alguns animais, considerados, em tese, protetores. Vale a pena pesquisar mais a respeito.

ARTE RUPESTRE BRASILEIRA De todos os capítulos da até hoje tão pouco conhecida Arqueologia Brasileira, um dos mais importantes e relativamente dos mais pesquisados é decerto o da chamada arte rupestre, a qual vinha despertando a curiosidade de bom número de amadores e de uns poucos profissionais nacionais ou estrangeiros desde pelo menos começos do Séc. XIX (embora a ela já se refiram autores antigos, como Ambrósio Fernandes Brandão e Barleus entre outros), mas cujo estudo científico só tomaria impulso na segunda metade do nosso próprio Séc. XX, depois que em 1950 Paulo Duarte fez vir ao Brasil a especialista francesa Annette Laming Emperaire. A partir principalmente da década de 1980, com o fim do regime militar, várias missões científicas francesas têm atuado no Brasil, chefiadas por pesquisadores como Anne Marie Pessis (1984, Piauí), Niède Guidon (1989, Piauí), Gabriela Martin (1989, Nordeste), Denis e Agueda Vilhena Vialou (1992, Mato Grosso) ou André Prous (1992, Minas Grais), os quais, após terem suplantado não poucas difiuldades, chegaram a significativos resultados quanto a um primeiro mapeamento das incisões e pinturas pré-históricas do país, com vistas ao futuro estabelecimento de um corpus da arte rupestre brasileira. Ressalte-se que a preocupação maior dos que têm estudado nossa arte rupestre volta-se muito mais para as pinturas que para os petroglifos. Como regra geral, somente uma cor era utilizada na elaboração de uma pintura rupestre, com o emprego de pigmentos minerais como o óxido de ferro para o vermelho (a cor mais difundida) ou vegetais -

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urucum, genipapo, carvão -, por vezes misturados a resinas também vegetais. Por outro lado a coexistência, por vezes numa única pintura, de formas abstratas geométricas e de formas figurativas de seres humanos e de animais poderia corresponder, segundo certos estudiosos, à antiquíssima divisão entre o trabalho feminino e o masculino: as mulheres, às quais sempre tocou o fabrico de cestos, têxteis e cerâmicas - atividades nas quais a forma e sobretudo a decoração são obtidas pela utilização de padrões repetitivos - podem ter sido as autoras de todos esses pontos e círculos, losangos, cruzes e lancetas que ocorrem nas pinturas rupestres brasileiras; já os homns, essencialmente caçadores e por isso mesmo obrigados a conhecer com precisão a aparência e a natureza de cada animal, terão sido os responsáveis pelas formas orgânicas e pelas representações naturalistas. Com exceção do litoral, pode-se afirmar que todas as regiões do imenso território brasileiro conservam ainda hoje inúmeros exemplos de arte rupestre, a despeito das depredações ocorridas nas últimas décadas, motivadas o mais das vezes por motivos econômicos. Existem no entanto regiões que hoje se nos apresentam como possuidoras de acervos rupestres mais ricos do que outras, o que talvez apenas signifique que nelas as pesquisas começaram mais cedo, ou com maiores recursos. Assim, entre os sítios particularmente notáveis pela abundância de sua arte rupestre devem ser destacados São Raimundo Nonato e Sete Cidades, no Piauí; o Vale do Seridó, no Rio Grande do Norte; a Pedra do Ingá, próximo a Campina Grande, na Paraíba, e a Pedra Furada, no município pernambucano de Venturosa; numerosas cavernas distribuídas pelos municípios de Lençois, Morro do Chapeu e Montalvânia, na Bahia; Serranópolis e Caiapônia, em Goiás; Lagoa Santa e Januária, em Minas Gerais, e Canhemborá e Pedra Grande, no Rio Grande do Sul.

Piauí. São Raimundo Nonato, com suas inúmeras tocas - do Paraguaio, do Boqueirão da Pedra Furada, do Baixão das Europas, da Chapada da Cruz etc.- foi o ponto de onde se irradiou o que os especialistas chamam de Tradição Nordeste, tematicamente caracterizada por abundantes cenas de caça a tatus, veados e onças, representadas com auxílio de pinceis vegetais ou com os dedos. Predomina o vermelho, ocorrendo em menor escala o amarelo, o preto, o branco e o cinza. As pinturas mais antigas - que são também as mais antigas já encontradas no Brasil - remontam a 17 mil anos, ancianidade essa comprovada pelo teste do Carbono 14. Na Toca do Baixão das Europas I descobriu-se curiosa representação, feita há uns 7 mil anos, de três figuras humanas cujas estaturas diversificadas sugerem uma canhestra perspectiva. Já nas pinturas rupestres achadas em Sete Cidades e de uma ancianidade estimada entre 6 mil e 4 mil anos, predominam os padrões geométricos, executados exclusivamente a tinta vermelha, se bem que ocorram raras figuras muito estilizadas e quase sem detalhamento anatômico de seres humanos e de animais.

Rio Grande do Norte. Ao longo do Vale do Seridó espraiou-se o chamado Estilo Seridó, cuja principal característica é a sugestão de movimento e a expressão que o artista prehistórico procurou imprimir às difereenetes figuras. Pintadas em branco, amarelo, laranja ou vermelho, tais figurinhas de 15 cm e menos de altura raras vezes ocorrem isoladas, mas antes em grupos - caçando, dançando, copulando, a dança sempre associada a árvores, ou a galhos e ramos. No sítio Xique-Xique I de Carnaúba dos Dantas, por exemplo, foram representadas com nitidez duas figuras que dançam em torno a um tronco de árvore.

Paraíba. Em sítios como a Pedra do Ingá, vasto paredão de 24 metros de extensão por três de alto, coberto de petroglifos realçados a vermelho, amarelo, preto e branco, predominam as formas geométricas e padrões simples, como pontos, círculos, cruzes ou lancetas. São raras as formas animais, e mais raras ainda as humanas, umas e outras tratadas num estilo linear abstratizante.

Pernambuco. Destacam-se entre os principais sítios rupestres o da Pedra das Figuras, com representações estilizadas de répteis e emas em vermelho, e o da Pedra Furada, onde ocorrem figuras humanas e de animais simplificadas quase até à abstração.

Bahia. Animais, aves principalmente, sempre muito estilizados, constituem a temática predominante na arte rupestre baiana. Particularmente importantes são os acervos rupestres localizados em Lençois e Montalvânia.

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Goiás. Calcula-se que 500 gerações humanas tenham-se sucedido na região hoje ocupada pelo Estado de Goiás, na qual se destacam os sítios de Serranópolis e Caiapônia. As pinturas são em número avultado, por vezes ocupando suportes de 80 metros de largo. Em Serranópolis foram localizadas pinturas de seres humanos e de animais alternando-se a figuras geométricas de elipses, círculos, triângulos etc., por vezes executadas sobre pinturas muito mais antigas, de até 11 mil anos atrás. Dessa mesma ancianiadade podem ser as pinturas rupestres "de gênero" encontradas em Caiapônia, mostrando figuras humanas em cenas de dança, executando piruetas, acompanhadas de crianças etc., invariavelmente feitas a vermelho ou preto. Motivo muito comum na arte rupestre achada no sudoeste de Goiás é o de uma ave de asas distendidas, como se prestes a alçar vôo, em primitiva mas convincente sugestão de movimento.

Minas Gerais. A partir de Lagoa Santa - estudada já na primeira metade do Séc. XIX pelo paleontologista dinamarquês Peter Wilhelm Lund (1801-1880) e onde recentemente foram identificados mais de 200 sítios com pinturas rupestres, algumas com 12 mil anos de idade -, descendo até ao Paraná, predomina a chamada Tradição Planalto, com representações de animais executados monocrômicamente e se alternando a raras figuras humanas e a ainda mais raros padrões geométricos. Ao contrário do que em geral ocorre na pintura rupestre, onde pinturas mais recentes encobrem as mais antigas a ponto de torná-las ilegíveis, aqui certas pinturas parecem ter sido deliberadamente preservadas, quando não reavivadas de tempos em tempos pelas gerações mais novas. Em Santana do Riacho, enorme paredão de 100 metros de comprido, recoberto de figuras sempre interrelacionadas de peixes e veados, surge com inusual frequência estranho animal compósito com cabeça de veado e pernas pisciformes. A Tradição Planalto é predominantemente figurativa; já a Tradição São Francisco, que se desenvolveu ao longo do grande rio, é ao contrário dominada pela geometrizaçãom, com mínima incidência de formas animais. Na Lapa dos Desenhos, em Januária, descobriu-se raríssima representação de uma plantação com pés de milho, palmeiras e uns poucos animais.

Rio Grande do Sul. Mostrando ainda resquícios da monocromia original, quase sempre em preto mas também em verde, branco, castanho ou lilás, as incisões de Canhemborá - pegadas de aves e mamíferos, representações sumárias de órgãos sexuais etc. - ligam-se à Tradição Humaitá (c. 1000 a. C.); já as da Pedra Grande, em São Pedro do Sul, datando as mais antigas de até 800 a. C., foram produzidas sucessivamente por grupos humanos procedentes de Canhemborá, por indígenas da Tradição Umbu e, bem mais recentemente, por Tupiguarani.

Santa Catarina A atividade humana na Ilha de Santa Catarina teve início por volta de 5000 anos atrás, com a chegada dos primeiros caçadores e coletores, grupos pré-ceramistas que construíram os Sambaquis. Depois dos caçadores e coletores, ocuparam também o território ilhéu os ceramistas Itararé, vindos do planalto e, finalmente, o Carijó, índio guarani que viria a ter o contato com o europeu colonizador. Os Sambaquis são montes cônicos de conchas que podem atingir até 30 metros de altura. A palavra tem origem guarani: Tambá - conchas e Qui - monte cônico. Os caçadores e coletores, primeiros grupos humanos a habitarem o litoral de Santa Catarina, consumiam os moluscos e amontoavam as cascas para morarem sobre elas, pois constituíam um local alto e seco. Ocupação após ocupação fez com que estes montes atingissem alturas fantásticas. O Estado de Santa Catarina possui os maiores sambaquis do mundo, espalhados por seu litoral, de norte a sul. Nos extratos arqueológicos de um sambaqui encontramos vários vestígios da ocupação humana, como sepultamentos, instrumentos líticos, fogueiras, restos de cozinha (como ossos de peixes, aves e mamíferos consumidos) e diversos tipos de adornos, como colares e enfeites labiais. Mesmo sendo os grupos pré-cerâmicos de caçadores e coletores os construtores dos sambaquis, muitos foram reocupados pelas culturas ceramistas Itararé e guarani. A partir daí, para estudar a região, contamos com dois hemisférios de análise arqueológica: a fase pré-cerâmica e a fase cerâmica. Era comum a escolha de dois ambientes sub aquáticos por estas populações para o estabelecimento de um assentamento: o mar e a água doce.

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No passado, havia a exploração dessas jazidas arqueológicas para a fabricação de cal. Esta atividade de exploração calcária destruiu grande parte dos sambaquis, não só em Santa Catarina, mas em diversas partes do Brasil. As oficinas líticas, também chamadas de estações líticas ou brunidores, são vestígios deixados pelos indivíduos pré-históricos que se utilizavam do diabásio (rocha basáltica) e mais raramente do granito para afiarem e polirem seus instrumentos de pedra. Os polidores: depressões circulares em forma de pratos, decorrente do polimento de instrumentos. Depois de adquirido o formato, acredita-se que poderiam ser utilizadas como moenda de grãos e outros. Os afiadores: marcas em forma de frisos deixadas pelo homem pré-histórico que se utilizava das pedras também para dar fio aos seus machados e lâminas EGITO A arte no antigo Egito divide-se em quatro grandes períodos: I – I à X dinastia – Antigo Império (pirâmides) II XI à XVII dinastia – Médio Império III XVIII à XXVI dinastia – Novo Império – ápice da arte egípcia XXVI á XXXI dinastia – Império Tardio A cultura egípcia desenvolveu-se no decorrer do IV milênio a. C. a partir de concepções e formas pré-históricas, e no início do III milênio havia atingido seu apogeu. A escrita (c. IV milênio) remonta sua origem na Mesopotâmia (Iraque) contribui para que a pré-história se tornasse história. A sociedade egípcia estava associada a um sistema politeísta que unia e ordenava todos os fenômenos cósmicos e terrenos. A relação entre os deuses e os homens era assegurada pela figura do faraó, que era ao mesmo tempo deus e homem. Cabia a ele, a sua família e a seu círculo mais íntimo de conselheiros e funcionários receber a vida eterna abrigados em preciosos túmulos; dessa forma o culto aos deuses, aos soberanos e aos mortos tornaram-se idênticos. O que sabemos do Egito e o que se conservou de sua cultura baseia-se, exceto por testemunhos escritos, quase exclusivamente nos templos e no conteúdo dos túmulos. Também sobre a vida do povo temos informações somente de oferendas colocadas junto aos mortos nos túmulos e representações em relevos e pinturas de túmulos nobresAo longo da bacia do Nilo surgiu em épocas remotas a civilização egípcia. Durante três milênios desenvolveram um aparato cultural e tecnológico cujas transformações repercutiram no decorrer da história da humanidade. Essencialmente religiosos toda sua arte e manifestações culturais estavam subordinadas ás suas crenças religiosas, baseadas no milagre renovado da fertilidade do rio Nilo e na possibilidade da existência de outras vidas além da morte. O legado egípcio é essencialmente voltado aos mortos, a posteridade a vida pós-morte. Desta maneira a concepção político-religiosa influiu no caráter expressivo de uma cultura em que as idéias de permanência e imutabilidade são princípios que a regem. A concentração em construções de templos e túmulos, únicas edificações em material não perecível, não permite reconhecer exatamente o aspecto das moradias dos faraós e de sua corte. Devem ter sido construídas com outros materiais que diferenciavam das construções do povo egípcio: o adobe e materiais vegetais.As pirâmides do deserto de Gizé são as obras arquitetônicas mais famosas e, foram construídas por importantes reis do Antigo Império: Quéops, Quéfren e Miquerinos. Junto a essas três pirâmides está a esfinge mais conhecida do Egito, que representa o faraó Quéfren, mas a ação erosiva do vento e das areias do deserto deram-lhe, ao longo dos séculos, um aspecto enigmático e misterioso. As características gerais da arquitetura egípcia são: solidez e durabilidade; sentimento de eternidade; aspecto misterioso e impenetrável. As pirâmides possuem base quadrangular eram feitas com pedras que pesavam cerca de vinte toneladas e mediam dez metros de largura, além de serem admiravelmente lapidadas. A entrada principal da pirâmide voltava-se para a estrela polar, a fim de que seu influxo se concentrasse sobre a múmia. O interior era um verdadeiro labirinto que ia dar na câmara funerária, local onde estava a múmia do faraó e seus pertences. Os templos mais significativos são: KarnaK e Luxor,

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ambos dedicados ao deus Amon. Os monumentos mais expressivos da arte egípcia são os túmulos e os templos. Divididos em três categorias: Pirâmide túmulo real, destinado ao faraó Mastaba - túmulo para a nobreza Hipogeu - túmulo destinado à gente do povo Os templos da pirâmide de Quefren em Gizé de c. 2600 a .C. da IV Dinastia do Antigo Império (Antigo Império: 2778-2200 a .C.) estão bem conservados que seu princípio de ordem se torna claro. De leste para oeste seguem-se o vestíbulo, um primeiro salão de colunas mais largo e um segundo estendido para baixo, em exata disposição áxil-simétrica. O templo do Vale, menor, encontra-se em um deslocamento do eixo, o que é normalmente evitado, e está ligado através de uma barreira murada de 450 m ao templo funerário maior diante da pirâmide coma mesma estrutura. A pirâmide de Quefren, situada entre a pirâmide de Miquerinos, menor e de construção posterior, e a pirâmide de Quéops, um pouco mais antiga e maior, possui uma altura de 143 m por um comprimento do lado de 215 m. É a única em cujo ápice ainda conservado restos do revestimento original de lajes polidas. Esfinge:Esta imensa estátua representando um leão deitado (força) com cabeça humana (sabedoria) era colocada na alameda de entrada do templo para afastar os maus espíritos. Esculpida na rocha ao pé das grandes pirâmides de Gizé, guarda a tumba do filho e sucessor de Queóps, o faraó Quéfren (c. 2520-2494 aC.) As pirâmides mais antigas, que datam da III dinastia, constituem em vários “degraus”. A câmara funerária ficava situada abaixo do nível do solo e o seu acesso era feito pelo norte, por um poço descendente. A pirâmide é rodeada, nas suas faces leste, norte e oeste, por galerias subterrâneas (armazéns) . A primeira de degraus, e provavelmente a única que foi terminada, fica em Saqqara e pertenceu a Netjerykhet Djoser. O Egito é um dos mais antigos núcleos de arquitetura onde predominam as linhas horizontais e os telhados sempre terminam em terraços. As tumbas reais, as dos altos funcionários e os templos solares ou divinos são ornados com seqüências de colunas com inspiração em troncos de palmeiras e feixes de papiro e junco, que junto com flores de lótus deram a forma a capitéis . O arquiteto Imhotep é o criador desse formato de colunas e capitéis com inspiração nos elementos da natureza. VALE DOS REIS Os faraós do Novo Império escolheram um vale na margem ocidental de Tebas para lugar do seu último repouso. Oficialmente, era conhecido como Ta Sejet Âat, "a Grande Pradaria", mas Chapollion, no século XIX, deu-lhe pela primeira vez o nome de Vale dos Reis. A escolha deste local não foi uma questão do acaso, mas sim para seguir o costume religioso de situar no horizonte ocidental o reino dos mortos. Este caráter funerário foi reforçado pela presença de uma montanha em forma de pirâmide, el-Qurn, que presidia o Vale dos Reis é um Wadi (leito seco de um rio), escavado entre as montanhas tebanas. O seu curso bifurca-se em dois ramais: o ocidental, o Vale dos Macacos, onde se encontraram quatro sepulturas, entre elas as de Ay e de Amenófis III, e o principal, que forma o Vaole dos Reis, onde foram escavadas mais 58 sepulturas. Este afastado vale proporcionava aos reis um repouso sossegado, garantido por meio da vigilância de um corpo especial da polícia, o medyai, e da proteção da deusa-cobra Meretseger. Esta divindade, também chamada "a que ama o silêncio", encarregava-se de zelar pela segurança das necrópoles tebanas. O primeiro faraó a utilizar este vale para construir o seu túmulo foi Amenófis I (1527-1506 a.C.). O conceito de complexo funerário existente até essa época mudou com ele: o túmulo foi separado do templo, este passou a ser construído próximo à margem do rio ou em outro vale. A estrutura dos túmulos mudou ao longo dos séculos. As plantas seguiam dois modelos: o da XVIII dinastia, em forma de ângulo reto, e o da XX dinastia, de tipo retilíneo. Em ambos os casos, o sarcófago era depositado na sala mais profunda, e as paredes cobertas de abundante decoração. Quando os europeus redescobriram o vale no século XVIII, começou a tarefa de desenterrar os segredos que faraós haviam levado para os túmulos. Esta investigação culminou em 1922, com a abertura, por Howard Carter, do único túmulo intacto do Vale: o hipogeu de Tutancâmon. Pintura Os enormes templos e extraordinários monumentos funerários do antigo Egito com profusão de hieróglifos são fonte de perplexidade para a concepção moderna, que não compreende facilmente

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sua utilidade ou significado. Entretanto esses monumentos conservam sua grandiosidade e deixam de ser tão perturbadores quando nós os entendemos como expressão dos conceitos que os egípcios tinham de seu universo e das soluções. Diversas imagens e relatos sagrados de todo o tipo, se somados em conjunto podem ajudar a compreender diversos fenômenos. O céu impenetrável é um oceano, um teto, uma vaca, um corpo de mulher. Toda imagem enraizada na tradição é pertinente, apesar de aspectos contraditórios, e ajuda-nos a compreender e estabelecer como divino. Pintura aristocrática ou ÁulicaA decoração colorida era um poderoso elemento de complementação das atitudes religiosas: Suas características gerais são: . ausência de três dimensões; . ignorância da profundidade . colorido a tinta lisa, sem claro-escuro e sem indicação do relevo. . Lei da frontalidade Representação da cabeça, pernas e braços de perfil. Olho e coração frontais . Arte Funerária . Arte zoomórfica Quanto a hierarquia na pintura: eram representadas maiores as pessoas com maior importância no reino, ou seja, nesta ordem de grandeza: o rei, a mulher do rei, o sacerdote, os soldados e o povo. As figuras femininas eram pintadas em ocre, enquanto que as masculinas pintadas de vermelho Desenvolveram três formas de escrita: Hieróglifos - considerados a escrita sagrada; Hierática - uma escrita mais simples, utilizada pela nobreza e pelos sacerdotes; Demótica - a escrita popular. Escultura Os escultores egípcios representavam os faraós e os deuses em posição serena, quase sempre de frente, sem demonstrar nenhuma emoção. Pretendiam com isso traduzir, na pedra, uma ilusão de imortalidade. Com esse objetivo ainda, exageravam freqüentemente as proporções do corpo humano, dando às figuras representadas uma impressão de força e de majestade. Os Usciabtis eram figuras funerárias em miniatura, geralmente esmaltadas de azul e verde, destinadas a substituir o faraó morto nos trabalhos mais ingratos no além, muitas vezes coberto de inscrições. Os baixos-relevos egípcios, que eram quase sempre pintados, foram também expressão da qualidade superior atingida pelos artistas em seu trabalho. Recobriam colunas e paredes, dando um encanto todo especial às construções. Os próprios hieróglifos eram transcritos, muitas vezes, em baixo-relevo. A mumificação é um método de preservar artificialmente os corpos das pessoas e animais mortos. A civilização do Antigo Egito não é a única no mundo a ter praticado este costume. O processo consiste das seguintes etapas: -Extração do cérebro -Remoção das vísceras através de incisão no flanco esquerdo; -Esterilização das cavidades do corpo e das vísceras; -Tratamento das vísceras: remoção do seu conteúdo, desidratação com natrão, secagem, unção e aplicação de resina derretida; -Enchimento do corpo com natrão e resinas perfumadas; -Cobertura do corpo com natrão, durante cerca de 40 dias; -Enchimento subcutâneo dos membros com areia ou argila; -Enchimento das cavidades do corpo com panos ensopados em resina e sacos com materiais perfumados, como mirra e canela, serradura, etc; -Unção do corpo com ungüentos; -Tratamentos das superfícies; -Enfaixamento e inclusão de amuletos, jóias, etc. GRÉCIA – DO SÉC.VII AO SÉC II A . C.

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GRÉCIA – PERIODIZAÇÃO Pré-HoméricoXX-XII a.C.Invasão dos indo-europeus e formação do homem grego HoméricoXII-VIII a.C.Época das comunidades gentílicas. ArcaicoVIII-VI a.C.Formação das polis(cidades-estados) ClássicoV-IV a.C.Guerras contra os persas; apogeu da Grécia; guerra entre os gregos HelenísticoIV-II a.C.Domínio macedônio sobre a Grécia e expansão de Alexandre para o Oriente. Cronologia da Grécia Antiga Pré-Homérico (2000a.C. - 1200a.C.)2000 a.C.- apogeu da civilização micênica (ou cretense)1900 a.C.- início da invasão dos aqueus1250 a.C.- aqueus derrotam Tróia1200 a.C.- Invasão dos Dórios destruindo a civilização micênica Homérico (1200a.C. - 800a.C.)1150 a.C.- uso de armas e instrumentos de ferro Arcaico (800a.C. - 600a.C.)750 a.C.- colônias gregas na Itália600 a.C.- uso da moeda se espalha pela Grécia Clássico (600a.C. - 400a.C.)490a.C.- os persas do rei Dario são derrotados pelos gregos (guerras Médicas)480a.C.- os persas do rei Xerxes são derrotados pelos gregos (guerras Médicas)462a.C.- Reformas de Péricles em Atenas431a.C.- Início da guerra do Peloponeso (Atenas & Esparta)404a.C.- Esparta derrota Atenas Helenístico (400a.C. - 146a.C.)371a.C.- Tebas derrota Esparta338a.C.- Felipe da Macedônia torna-se o rei de toda Grécia334a.C.- Alexandre Magno comandando os gregos, inicia suas conquistas323a.C.- Morte de Alexandre146a.C.- Grécia é dominada por Roma ASPECTOS CULTURAIS Religião: a religião dos antigos gregos era politeísta.Entre os vários deuses o mais importante era Zeus, símbolo da justiça, da razão e da autoridade. Habitava o monte Olimpo, juntamente com os outros deuses.Os deuses gregos foram criados a imagem e semelhança dos homens, além de se casarem entre si, os deuses gregos casavam-se também com seres mortais. Os filhos desses casamentos era chamado de herói e considerado semideuses.Sobre seus deuses e heróis, os gregos contavam muitas lendas que deram origem à rica mitologia grega. Filosofia: em grego quer dizer amor à sabedoria.O clima de liberdade e debates existentes nas cidades gregas que adotavam o regime democrático favoreceu o aparecimento de grandes filósofos, entre eles Sócrates, Platão e Aristóteles.Sócrates, que era um educador, preocupou-se mais em conhecer o indivíduo dos fenômenos naturais.Platão, assim como seu mestre Sócrates preocupou-se com a formação moral do indivíduo.Aristóteles, o principal discípulo de Platão, é considerado o filosofo grego que mais influenciou a civilização ocidental, um dos motivos era o de que ele dedicava-se aos mais diferentes tipos de conhecimento. Matemática: os dois mais importantes matemáticos gregos foram Tales de Mileto e Pitágoras. Tales formulou por exemplo, o teorema segundo o qual se duas linhas se cruzam, os ângulos opostos pelo vértice são iguais. Já Pitágoras construiu um teorema dos números, classificando-os em pares, impares, primos etc., e descobriu o teorema que, em homenagem a ele foi chamado de teorema de Pitágoras. Arquitetura: os gregos construíam templos harmoniosos sustentados por graciosas colunas. Observando essas colunas, conclui-se que os arquitetos gregos criaram três principais estilos de construção: o dórico, o jônico e o coríntio. Escultura: usando principalmente o mármore e o bronze, os escultores gregos produziram estátuas expressivas, singelas e ao mesmo tempo vigoras.Entre os mais geniais escultores gregos estão: Fídias, cujas principais obras foram às estátuas de Atena e de Zeus; Míron autor de Discóbolo; e Praxíteles, que se notabilizou representado divindades humanizadas. Teatro: os gregos produziam texto e espetáculos teatrais de excelente qualidade e foram os inventores da tragédia e da comédia. Esses gêneros teatrais nasceram nas grandes festas onde se misturavam danças, musicas e coros, em homenagem a Dionísio, o deus do vinho.Entre os dramaturgos gregos que produziam obras imortais, encontram-se Ésquilo, Sófoles, Eurípedes Aristófanes. História: a história também nasceu na Grécia Antiga. Um de seus historiadores mais famosos foi Heródoto, autor de Histórias, obra na qual narra as guerras Médicas, mas ele narrou essa história claramente a favor dos gregos.Coube ao ateniense Tucídides fundar a história como ciência, apresentando os fatos históricos de modo objetivo e preciso.

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Medicina: conhecido como o pai da medicina, o grego Hipócrates lançou bases a clínica médica. Sua maior contribuição foi afirmar que as doenças possuíam causas naturais e, portanto, não podem ser explicados pela força do destino ou pela vontade dos deuses. Ainda hoje, médicos recém-formados continuam prestando o juramento de Hipócrates, através do qual se comprometem a dar o máximo de si para defender a saúde dos enfermos. Jogos olímpicos: centenas de jovens gregos se reunião em Olímpia para disputar os jogos em honra aos deuses. A competição que reúne os melhores atletas da Grécia pretende estimular o maior aprimoramento técnico e intelectual dos jovens gregos. As olimpíadas eram realizadas de quatro em quatro anos no estádio de Olímpia. Cultura helenística: caracterizou-se por apresentar uma arte mais realista, exprimindo a violência e a dor, componentes constantes dos novos tempos. Na agricultura predominavam o luxo e grandiosidade, reflexo da imponência do Império Macedônia. Na escultura, turbulência e agitação eram traços significativos. Jogos olímpicos: centenas de jovens gregos se reunião em Olímpia para disputar os jogos em honra aos deuses. A competição que reúne os melhores atletas da Grécia pretende estimular o maior aprimoramento técnico e intelectual dos jovens gregos. As olimpíadas eram realizadas de quatro em quatro anos no estádio de Olímpia. Cultura helenística: caracterizou-se por apresentar uma arte mais realista, exprimindo a violência e a dor, componentes constantes dos novos tempos. Na agricultura predominavam o luxo e grandiosidade, reflexo da imponência do Império Macedônia. Na escultura, turbulência e agitação eram traços significativos. Período Arcaico (800a.C. - 600a.C.) Esparta – GUERRA (oligárquica–conservadora–militarista) Fundada pelos dórios, na Península do Peloponeso, cercada por montanhas de pequena altitude. A organização sociopolítica estava baseada na posse da terra, porém em Esparta a terra era propriedade do ESTADO, mas utilizada pelos esparciatas ou espartanos. Sendo os detentores da terra, eram também os detentores do poder. Os espartanos ou esparciatas dedicavam-se tão somente à vida militar e à política, eram soldados profissionais, sempre prontos a defender Esparta. Não podiam exercer atividades comercias, artesanais ou agrícolas. Sendo uma sociedade militarista, sua organização educacional, sob a responsabilidade do Estado, voltava-se para a preparação desde a infância, dos guerreiros espartanos. Os jovens eram treinados nas artes da guerra, estimulavam o laconismo e a xenofobia. Os periecos (os da periferia), camada intermediária da sociedade, viviam à margem do poder, sem qualquer direito político e realizavam as atividades que os aristocratas consideravam desprezíveis, entretanto, eram obrigados a servir o exército e a pagar os impostos. Os hilotas, maioria da população, formavam a base da sociedade espartana. Eram descendentes das populações dominadas e constituíam-se em propriedade do Estado. Por essa razão, alguns autores denominam o modelo espartano de "escravismo-público". Cultivavam a terra dos espartanos, pagavam os impostos em produtos e não possuíam qualquer direito político, sendo um foco constante de revoltas. Contrariamente aos escravos de outros Estados, os hilotas muitas vezes iam à guerra, como escolta, carregadores, criados. Kriptéia – matança indiscriminada de hilotas, periodicamente autorizada pelo Estado, como forma de conter possíveis revoltas. Os jovens espartanos em treinamento militar é quem praticavam a kriptéia. A mulher em Esparta recebia uma educação similar a do homem, tanto na parte física quanto na formação cívica, gozava de liberdade, possuía riqueza e podia praticar comércio, atividade vedada ao homem, entretanto não exercia qualquer direito político. Período Arcaico (800a.C. - 600a.C.) ATENAS– ARTE (Humanista–democrática–libertadora)Cidade fundada pelos jônios, na região da Ática, próxima ao litoral e cercada por montanhas, Atenas não sofreu com a invasão dos dórios e manteve sua prosperidade. Após a desagregação das comunidades clânicas, a população dividiu-se em três camadas: os eupátridas (donos das melhores e maiores terras), portanto os detentores do poder; os geomoros (pequenos proprietários rurais) e os demiurgos (camada formada por artesãos e comerciantes). Democracia- ao assumir o poder em 509 a.C., Clístenes implanta em Atenas o regime democrático. Ao assumir o governo, redividiu Atenas em 10 tribos, composta por cidadãos

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independentes de sua posição social: aristocratas, camponeses, artesãos, comerciantes, marinheiros, etc., reduzindo assim a influência dos eupátridas. De cada tribo eram escolhidos 50 homens para formar a Bulé que passou a ser o Conselho dos 500. Criou a Eclésia – Assembléia Popular, órgão supremo da política em Atenas, formada por todos o cidadão maior de 18 anos. Para evitar a usurpação do poder por parte dos tiranos, Clístenes estabeleceu o ostracismo – que consistia no exílio por um período de 10 anos, de todos aqueles que colocassem em perigo a democracia ateniense. Estátuas E Esculturas Os Kouros eram definidos pela existência de ombros largos e fortes, dado serem representações de jovens atletas ou heróis; os peitorais eram bem marcados; a cintura mostrava-se muito delgada; as ancas apresentavam-se estreitas; o ventre era liso; tinha os punhos cerrados; os braços encontravam-se colados ao corpo; existia uma grande preocupação no realce dos músculos e articulações; as pernas, eram portanto, muito fortes, verificando-se um adiantamento da perna esquerda em relação à direita; os olhos eram salientes e oblíquos, com a forma de amêndoa; notava-se um sorriso doce e o cabelo e a barba eram locais privilegiados de decoração e pormenor. As Korés tinham também características próprias: apresentavam vestes luminosas, vivas, cintilantes e repletas de encantos; os cabelos normalmente encontravam-se soltos ou entrançados; vestiam: túnicas com pregas que lhes caíam até ao nível dos tornozelos e xales de lã pesada e colorida, presos com alfinetes, o que lhes conferia uma gentileza e graciosidade. Cerâmica De todas as formas de Arte, a cerâmica pintada foi a que mais resistiu à ação do tempo. Restam-nos numerosos exemplos de todos os estilos e períodos artísticos.Inicialmente, somente os vasos utilizados como oferendas fúnebres eram pintados. Com o tempo os vasos de utilidade diária passaram a ser também cuidadosamente decorados em quase toda a superfície com motivos geométricos, figuras de animais, cenas mitológicas e do dia-a-dia.A forma e o tipo de vaso teve grande variação ao longo da História Grega, e de modo geral pode-se dizer que o uso ditava a forma. Os tipos mais importantes de vaso no apogeu da cerâmica grega (épocas arcaica e clássica) estão esquematizados na figura ao lado.A ânfora e a hídria eram recipientes de armazenagem (vinho, azeite, cereais); a cratera, a enócoa, o cálice e o skýphos eram utilizados em refeições festivas; o lécito, o alabastro e o aríbalo guardavam azeite ou perfume para higiene pessoal; o lutróforo era usado somente em certos rituais das cerimônias de casamento. A confecção dos vasos seguia em geral o seguinte procedimento: primeiro, a argila era preparada e o pote moldado, em partes separadas, em uma roda simples de oleiro, posta a girar pelo próprio ceramista ou um ajudante. Depois de secar algum tempo ao ar livre e serem novamente levadas à roda, para dar a forma final, as peças eram unidas com argila líquida, as alças eram colocadas e as superfícies alisadas. Depois disso vinha a pintura, efetuada com diversas técnicas e, finalmente, o vaso era levado ao fogo.O apogeu da pintura dos vasos pode ser situado no século -VI e nas primeiras décadas do século -V, época dos vasos de 'figuras negras' e de 'figuras vermelhas', dos quais os museus contém numerosos exemplos. Diversos artistas puderam ser identificados; outros são conhecidos apenas por apelidos mais ou menos sugestivos, em geral começando com a expressão "Pintor de" e mais o nome da cidade, do ceramista, de um vaso ou de uma cena famosa.Eis uma pequena lista dos mais importantes: Pintor de Amásis (séc. -VI); Exéquias (c. -550/-530); Epicteto (c. -520/-500); Eufrônio (c. -515/-480); Onésimo (c. -505/-485); Pintores de Berlim, de Brigos e de Cleofrades (c. -500/-480); Douris (c. -500/-470); Pintor de Pã (c. -480/-450); Pintor dos Nióbidas (c. -465/-450); Pintor de Pentesiléia (c. -465/-445); Pintor de Erétria (c. -430/-420); e o Pintor de Midias (c. -420/-400). Vasos De Figuras Negras A técnica "de figuras negras", inventada em Corinto por volta de -700, atingiu o auge mais de um século depois nas mãos dos ceramistas e pintores de Atenas. Algumas obras notáveis, no entanto, também foram produzidas em outras regiões. Vasos De Figuras Vermelhas A técnica "de figuras vermelhas", inventada em Atenas por volta de -530, em poucas décadas suplantou os vasos de figuras negras. Aqui foram reunidos alguns exemplos dos mais importantes pintores dos primeiros 50 anos da técnica. Período Clássico (600a.C. - 400a.C.)Com as reformas de Clístenes e a implantação do regime democrático, Atenas passou viver seu apogeu a ter a hegemonia do mundo grego a partir do governo de Péricles (461 a 431 a.C.). Este período passou a ser conhecido como o "Século de

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Ouro" ou "Século de Péricles". O governo de Péricles marcou o avanço da democracia ateniense com a ampliação das possibilidades de participação política das camadas populares, apesar dessa participação estar restrita aos homens que tivessem pais atenienses. Eram excluídos os escravos, os metecos e as mulheres.Enquanto Atenas fortalecia suas estruturas democráticas, os persas, já dominavam grandes extensões no Oriente e começavam a avançar sobre o mundo grego. O imperialismo persa chocava-se com o imperialismo ateniense na Ásia Menor e representava uma ameaça aos gregos em geral. A invasão dos persas em Mileto, deu início aos conflitos militares. Momento início na história da Grécia Antiga, a união das cidades-estados em uma confederação não sobreviveu ao final do conflito. O imperialismo ateniense ficou evidente principalmente quando Péricles se apoderou dos recursos da Liga de Delos para fortalecer Atenas. A hegemonia ateniense estimulou as rivalidades internas fazendo com que Esparta organizasse a Liga do Peloponeso. Toda a arquitetura clássica (produzida entre os anos 500 e 300 a.C.) caracteriza-se por um senso absoluto de organicidade e equilíbrio, subordinando-se suas proporções à ordem matemática. Nessa época, que se estende do término do templo dos Alcmeônidas, em Delfos, ao início do "século de Péricles", quando se empreendeu o embelezamento da acrópole de Atenas, os esforços dos arquitetos concentraram-se particularmente no aperfeiçoamento da ordem dórica. As cidades e ilhas jônicas caíram em poder dos persas, o que talvez explique a raridade dos templos jônicos na época. Em contraposição, os arquitetos esforçaram-se para harmonizar as relações entre os diversos elementos arquitetônicos e determinar módulos para a ordem dórica. A primeira grande construção dórica do período foi o templo de Zeus, em Olímpia, erguido segundo risco de Libão em 456 a.C. Quando Atenas foi reconstruída, no governo de Péricles, concentraram-se na colina da Acrópole vários templos dóricos, dos quais o mais importante -- que, na verdade, marcou o apogeu do estilo clássico -- é o Partenon, construído por Ictino e Calícrates e decorado com esculturas concebidas por Fídias. A partir de então, essa obra, com oito colunas de frente e 17 de cada lado, influenciou toda a arte e toda a arquitetura da Grécia, fornecendo-lhe um padrão em que se unem a concepção ideal da forma e das proporções humanas e um enfoque emocional sereno e despojado. Os templos jônicos do período clássico, se perderam em amplitude quando comparados aos da época arcaica, superaram-nos em graça e pureza. As ordens dórica e jônica lançavam mão de motivos abstratos ou semi-abstratos para simbolizar a vida orgânica. Os arquitetos do período clássico tardio, ao contrário, preferiram traduzi-la mais literalmente e para tal fizeram uso de ornamentos inspirados no acanto e outras plantas. Surgiu assim a última ordem da arquitetura grega, a coríntia, anunciada no templo de Apolo, em Bassas, e que se fez popular a partir de 334 a.C. Em seguida, o estilo coríntio combinou-se ao dórico em muitos edifícios: aquele reservado para o interior, este para a fachada (templos de Atena, em Tégea, por Escopas). O fim do período clássico presenciou uma revitalização do estilo jônico, por influência do arquiteto Píteas (túmulo de Mausolo, em Halicarnasso), que abandonou a busca do refinamento em troca da monumentalidade. Estátuas E EsculturasO período clássico representa o apogeu da escultura grega em todas as suas manifestações; as estátuas livres, especialmente, estão entre as obras mais notáveis que chegaram até nós. Os mais importantes escultores do período foram Policleto, Míron, Fídias, Lisipo, Praxíteles e Scopas. Fídias (498aC.-432aC.) Nascido em Atenas, estudou nesta cidade e em Argos. Considerado o maior escultor grego, ganhou fama não pelo seu trabalho em mármore, mas pelas criselefantinas, que são estátuas em marfim, com roupas em ouro. As três mais famosas são obras com cerca de 12 metros de altura: Atena de Lemnos, Atena do Paternão e o Zeus de Olimpo, considerado uma das sete maravilhas do mundo. Só fazia estátuas de deuses, imprimindo-lhes nobreza, austeridade e dignidade. Seu estilo deixou marcas permanentes na arte grega. Os principais mestres da escultura clássica grega são:

- Praxíteles, celebrado pela graça das suas esculturas, pela lânguida pose em “S” (Hermes com Dionísio menino), foi o primeiro artista que esculpiu o nu feminino;

- - Policleto, autor de Doríforo - condutor da lança, criou padrões de beleza e equilíbrio através do tamanho das estátuas que deveriam ter sete vezes e meia o tamanho da cabeça.

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- - Fídias, talvez o mais famoso de todos, autor de Zeus Olímpico, sua obra-prima, e Atenéia. Realizou toda a decoração em baixos-relevos do templo Partenon: as esculturas dos frontões, métopas e frisos

- - Lisipo, representava os homens “tal como se vêem” e “não como são” (verdadeiros retratos). Foi Lisipo que introduziu a proporção ideal do corpo humano com a medida de oito vezes a cabeças

- - Miron, autor do Discóbolo - homem arremessando o disco. Praxíteles Foi o maior escultor grego do século IV a.C. Trabalhou com mármore e distinguiu-se na arte de reproduzir fielmente a figura humana. Suas estátuas mostram jovens deuses cheios de graça, com alegria de viver e corpos descontraídos. As figuras apresentam o quadril flexionado em uma pose conhecida como "a curva do S de Praxíteles" e seus rostos têm uma expressão sonhadora. Várias de suas obras originais foram preservadas. Sua habilidade principal era o perfeito acabamento que dava a cada trabalho; parecia realmente carne, cabelo e verdadeiros panos. Sua obra mais famosa é a estátua de Hermes, com Dionísio no colo, que se encontra em Olímpia. ARQUITETURA GREGA: UMA INTRODUÇÃO A Antiguidade Clássica Grega, relativamente ao campo da arte, identifica-se em três épocas ou fases: a fase arcaica (pré-arcaico e arcaico), onde sobressai o esforço pelo inteligível; a fase clássica (clássico severo e clássico de ouro), na qual existe o sentido de superação da matéria, e, finalmente a fase helenística, caracterizada pelo poder de observação, do gosto pelo concreto, pelo individual e pelo singular.Na civilização clássica grega, podemos considerar dois aspectos relevantes que a constituem: a arquitetura e a escultura, os quais se apresentam como os dois elementos que mais se evidenciaram na constituição deste povo, e que o permitiram obter uma glória eterna. A Arquitetura grega mostra-se como um dos aspectos mais importantes da civilização grega, dado os seus colossais monumentos arquitetônicos provocarem grande admiração perante os olhos daqueles que os observam e mostrarem o grande controlo que os gregos exerciam sobre si mesmos, revelados nas suas obras através da perfeição, do equilíbrio e da harmonia. No período clássico a arquitetura inclina-se para a comunidade e revela-se uma verdadeira ciência na construção de templos e outros monumentos arquitetônicos. Realiza-se a construção da obra mais conhecida do tempo da Antiguidade Clássica, o Parténon e, também, da Acrópole de Atenas, outra das obras consagradas como os colossos da arte grega.Finalmente, no período helenístico identifica-se uma passagem da ordem dórica para a coríntia e os monumentos colossais revelam-se como os grandes empreendimentos arquitetônicos. As edificações que despertaram maior interesse são os templos. A característica mais evidente dos templos gregos é a simetria entre o pórtico de entrada e o dos fundos. O templo era construído sobre uma base de três degraus. O degrau mais elevado chamava-se estilóbata e sobre ele eram erguidas as colunas. As colunas sustentavam um entablamento horizontal formado por três partes: a arquitrave, o friso e a cornija. As colunas e entablamento eram construídos segundo os modelos da ordem dórica, jônica e coríntia. As Ordens A Ordem Dórica A ordem dórica, revelada como a mais antiga das existentes na arte grega, apresenta: formas geométricas, regras rígidas, uma elegância formal e um equilíbrio de proporções.Relativamente às colunas que a constituem: mostram grandes diâmetros; são compostas por arestas vivas; não possuem qualquer tipo de base, assentando directamente no estilóbato; têm um capitel de ordem muito simples, constituído por uma gola e um coxim; contém um friso dividido em métopas, normalmente esculpidas, e triglifos, Dado não conterem qualquer tipo de decoração, com excepção da encontrada nas métopas, à coluna da ordem dórica assemelha-se a definição de masculinidade, visto possuir uma imagem robusta e maciça.Como exemplo de monumentos característicos desta ordem temos: o templo de Poseidon.O templo, que media 31,39 m x 76,82 m, era um octácilo, isto é, tinha oito colunas dóricas na frente, e 17 delas nas laterais. Na cela do santuário, repousava a imensa estátua criselefantina de Atena partenos, esculpida em mármore , ouro e marfim por Fídias. No frontão e nos lados, espalhavam-se estatuas e métopas em alto relevo, representando vários

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episódios onde o humano enfrentava o animal, onde a razão superava a superstição, e a civilização vencia a barbárie.. Harmonia, simplicidade e beleza, isso define o Pártenon. Péricles indicou como supervisor das obras a serem iniciadas na acrópole em 447 a.C. o grande escultor Fídias, que também era seu amigo. Além dele, um como arquiteto e o outro construtor, atuaram Ictinus e Calicrates. O projeto do templo, concluído em 438 a.C., concretizou os ideais do iluminismo jônico: um prédio onde as formas geométricas (o retângulo, sustentado por colunas verticais, encimado pelo triângulo), excluíam qualquer artifício ornamental. Ele, ciente da sua majestosa simplicidade, dominando inteiramente a paisagem lá do alto da acrópole, representava a razão em seu estado puro, tendo a planície as seus pés. Era a materialização arquitetônica da relação que o nous de Anaxágoras, tinha com a hile, a matéria dócil (a cidade lá embaixo) subordinada à inteligência (o templo lá encima na acrópole). A Ordem Jônica A ordem jônica percorreu uma lenta evolução desde a sua criação (séc. VI a.C.) até à sua constituição final no período clássico.A ordem jônica é caracterizada pela existência de: uma base seguida ou não de um plinto (denominado como uma peça chata e quadrangular sobre a qual assenta uma coluna ou um pedestal); Tem igualmente um fuste delgado, na generalidade feito por uma só pedra, que possui mais caneluras, do que as existentes na ordem dórica; estas apresentam-se mais profundas e semicirculares, não possuem quaisquer arestas vivas e a sua ênfase mostra-se pouco notória; do mesmo modo apresenta um capitel muito característico com faces iguais duas a duas (normalmente são quatro volutas ou espirais unidas por linhas curvas); apresenta ainda um arquitrave composto por três faixas progressivamente salientes e um friso contínuo e decorado.O estilo jónico revela-se uma ligação entre o interior e o exterior do templo e entre as paredes e os suportes; nota-se igualmente a existência de colunas esbeltas, decorativas, conectadas com o símbolo feminino e apresentando-se menos rigorosas. Temos como exemplos de templos estritamente ligados com a ordem jónica: o Templo de Atena Níké, o Tesouro de Delfos e o Parténon.A Junção da ordem dórica e da ordem jónica originou o que designamos por propileus, ou seja, a entrada monumental dos antigos edifícios gregos.O Erecteion de Atenas, talvez o mais belo dos templos jônicos, levantando em honra de um lendário herói ateniense chamado Erecteu, terminou sua construção em 406 a.C., estando localizado sobre a Acrópole da cidade. No interior do templo, guardavam-se os mais sagrados objetos de arte. Na parte sul da construção há um pórtico, o das koré ou cariátides (donzelas, em grego), sustentado, não por colunas, mas por seis estátuas de moças com cestas à cabeça.O templo de Atenéia, "Nike Aptera", foi construído em 429 a.C. em homenagem a Atenéia vitoriosa. Dentro do templo de Atenéia, os atenienses colocaram a estátua da vitória alada, mas, por via das dúvidas, cortaram-lhe as asas, para que não saísse voando do templo. A Ordem Cariátide Ligada à ordem jônica temos o surgimento de uma nova ordem, a ordem cariátide, que, inicialmente foi pouco utilizada. Para desempenhar o papel de colunas nos templos que adoptaram esta ordem temos as esculturas de mármore das jovens de Cária (jovens que foram reduzidas à escravidão, dado o seu povo ter realizado um pacto com os Persas).Como exemplo deste caso temos a existência do Templo de Erectéion, que simboliza a representação da graciosidade e da serenidade. A Ordem Coríntia A ordem coríntia nasceu através do "enriquecimento decorativo" da ordem jónica.A ordem coríntia tem como características: a existência de uma base mais trabalhada do que as anteriores; de um fuste mais delgado do que o existente na ordem jónica; de um capitel representado na forma de sino invertido, constituído por duas filas de folhas de acanto (designada por uma planta herbácea, espinhosa, de folhas recortadas), que se encontram ainda muito estilizadas, com as pontas recurvadas para fora, encimadas por quatro pequenas volutas nos cantos; finalmente, a existência de um entablamento e de um frontão, os quais eram carregados de relíquias decorativas e precisão nos detalhes, de modo a simbolizar a ambição, a riqueza e o poder.Os monumentos que adaptaram esta ordem foram: o Monumento Corégico de Lisícrates e o Templo de Zeus.O templo

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de Olympeion de Atenas começou a ser construído em 170 a.C, e só terminou muito tempo depois. Dedicado a Zeus Olímpico, foi o maior edifício coríntio, restando apenas ruínas do templo. Esse estilo seria mais tarde retomado e modificado pelos romanos, que procuravam o luxo e a ostentação. Período Helenístico (400a.C. - 146a.C.) No final do século IV a.C., o decadente mundo grego foi conquistado e passou a fazer parte do Império Macedônico. Sob a liderança de Filipe II, tem início a formação de um grandioso império que alcançou seu apogeu sob o comando de Alexandre Magno. Alexandre foi o responsável pela integração cultural no seu império, que resultou na formação da cultura helenística, fusão da cultura helênica com a cultura oriental. Diferente da arte helênica, marcada pelo equilíbrio, pela leveza e pelo humanismo, a helenística caracterizou-se pelo realismo exagerado, com a grandiosidade e com o luxo. A Escultura Helenística Período Helenístico podemos observar o crescente naturalismo: os seres humanos não eram representados apenas de acordo com a idade e a personalidade, mas também segundo as emoções e o estado de espírito de um momento. O grande desafio e a grande conquista da escultura do período helenístico foi a representação não de uma figura apenas, mas de grupos de figuras que mantivessem a sugestão de mobilidade e fossem bonitos de todos os ângulos que pudessem ser observados. Além das tradicionais estátuas e relevos cultuais representando deuses, heróis e outras figuras mitológicas, tornaram-se comuns durante o período helenístico os retratos individualizados de estadistas, filósofos e literatos e as representações de pessoas comuns. ROMA do século VI a . C. ao século V d.C. No auge do esplendor, o Império Romano estendia-se da Inglaterra ao Egito e da Espanha ao sul da Rússia. Expostos aos costumes de terras estrangeiras, os romanos absorveram elementos de culturas mais antigas – notavelmente da Grécia – e transmitiram essa mistura cultural (grego-romana) a toda a Europa Ocidental e ao Norte da África. No primeiro momento, os deslumbramentos romanos foram voltados para a produção da arte grega. Diversos imperadores importaram galeões carregados e mármores e bronzes para adornar os fóruns romanos, somente Nero importou quinhentos bronzes de Delfos e, quando não restavam mais originais, os romanos começaram a fazer cópias. A arte romana sofreu duas fortes influências: a da arte etrusca popular e voltada para a expressão da realidade vivida, e a da greco-helenística, orientada para a expressão de um ideal de beleza. Um dos legados culturais mais importantes que os etruscos deixaram aos romanos foi o uso do arco e da abóbada nas construções. Arcos São elementos de construção em forma de curvas, obtidos com aduelas, destinado a cobrir um vão de abertura. E quanto a forma dividem-se em: ARCO FERRADURA; ARCO MONTANTE OU RAMPANTE arco cujas extremidades não se nivelam horizontalmente; ARCO ABATIDO OU REBAIXADO TRICÊNTRICO Cuja curva é inferior a do arco pleno; ARCO TRILOBADO ARCO PLENO, PLENICENTRICO OU SEMICIRCULAR Cuja secção corresponde à semicircunferência; ARCO AGUDO OU OGIVAL Formado por dois arcos que se cortam no vértice de um triangulo imaginário, cuja base é a do arco. Abóbadas Cobertura encurvada, obtida com pedras ou tijolos cortados em forma de cunha.No Brasil é feita geralmente com tábuas. A técnica de construção, dividi-se em: ABÓBADA DE BERÇO

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O prolongamento do arco apoiado sobre duas paralelas ou geratrizes; como o ARCO, pode ser abatida, ogival, alteada, plena ou cilíndrica. ABÓBADA DE BARRETE DE CLÉRIGOResultante da intersecção da abóbadas de berço, cujas geratrizes são paralelas aos lados do quadrado correspondente, produzindo arestas reentrantes no interior. ABÓBADA EM CÚPULAResultante de uma geriatriz ou muro, circular formando um espaço interno mais ou menos semi-esférico. ABÓBODA DE ARESTA formada pelo cruzamento de duas abóbadas de berço iguais, produzindo arestas salientes no interior do espaço aberto, ou seja, com as geratrizes perpendiculares aos lados do quadrado correspondente. Arquitetura As duas grandes bases da arquitetura romana são etrusca e grega, mas ao longo de sua história, Roma assimila várias culturas, as culturas dos povos que conquista, assim as bases da arquitetura romana, ou até da sua cultura, são diversas. No que se refere á arquitetura, os romanos seguiam fielmente alguns princípios de utilidade racionalidade e ordem. Marco Vitruvio Polion foi e é fonte constante de inspiração de arquitetos de todos os tempos. Com o começo do império, Roma precisou reformular totalmente sua política, que vive três séculos de esplendor, até encontrar seu fim, no ano 476 d.C. Porem, a arquitetura romana não seguiu à risca o mesmo caminho da política. De um ponto de vista mais restrito, a primeira parte era baseada nos etruscos, a segunda nos gregos e a terceira, uma arquitetura, digamos independentes. Nesse terceiro período, a os monumentos serviam como um veículo de romanização das terras que vai submetendo. Os arquitetos romanos usavam o material que tinham mais a mão em cada província (um exemplo é na Espanha, onde usavam paredes de barro prensado). Entre os elementos fundamentais da arquitetura romana, destacam - se as colunas, os arcos, as abóbadas e cúpulas. O caráter unificador do império romano faz que encontremos construções semelhantes em seus diversos recantos, da mesma forma como as cidades eram análogas quanto à vida quotidiana e à organização política e social de seus habitantes. As cidades cresceram, pois os pequenos proprietários que viviam no campo, perderam suas terras para os latifundiários (que naquela época eram muitos e privilegiados). Assim, o pequeno proprietário só tinha um lugar para ir, que era a cidade mais próxima. Assim o crescimento urbano se acelerou, surgindo desafios relativos a esse desenvolvimento. No entanto, os problemas de habitação, equipamentos, trânsito, etc., foram eficientemente ultrapassados pelos arquitetos romanos. Em termos de urbanização, foi adotado um sistema de ruas retas que se cruzam. As duas principais, uma em direção norte - sul (cardo maximus), outra em direção leste oeste (decumanus maximus) cruzam - se no foro, grande praça principal que era o centro político da cidade e em cujas proximidades se erguem os edifícios públicos mais importantes. As ruas restantes correm paralelamente a esses eixos. Em geral, eram ruas amplas, com pórticos, estátuas e monumentos, que desembocam em praças vazias. Tão importante quanto o foro era a praça do mercado ou macellum, onde se situavam as lojas. Esse tipo de organização se repetiu nas cidades medievais. Cada cidade se abastecia de grandes reservatórios de água, construídos em lugares próximos, de onde partiam canais ao ar livre que levavam a água vencendo os desníveis mediante arcos e sifões. Para os grandes desníveis, construíam - se aquedutos, formados geralmente pelas sobreposições de arcadas para suportar, na sua parte superior, um canal por onde corria a água. Na própria cidade, a necessidade manter reservas de água obrigava a construção de cisternas. Por último, construíram - se redes de esgotos para a eliminação das águas residuais. A princípio, as cidades romanas não tinham muralhas. Isso mudou a partir do século III, quando, em muitos lugares do império a ameaça de invasões obrigou a construí - las para a defesa dos cidadãos. A casa urbana (domus), na sua forma mais simples, consta de um vestíbulo ou saguão que dá para um pátio (atrium) com colunas ou pilares, criando uma galeria em volta da parte central descoberta para recolher as águas da chuva numa pequena cisterna sob o chão, da qual se

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abastecerá o poço. Aos lados do atrium encontram - se os quartos (cubícula) e ao fundo a sala de estar, que serve ao mesmo tempo de sala de jantar. Nas casas mais nobres, além de dois quartos, atrás da sala de estar há um pátio com colunas, com quartos nos lados e uma sala de jantar ao fundo. Atrás, um jardim ou pequena horta. Os quartos eram decorados com pinturas e o chão com mosaicos. Este modelo de casa dá lugar ao palácio, que o desenvolve em tamanho e complexidade. Nas proximidades das cidades, construíam - se numerosas vilas ou casas de campo, umas para moradia e outras para estadias. Nelas havia uma organização parecida com a da domus, mas dando grande importância aos jardins. Especialmente interessantes são o famoso complexo de Capri, construído por Tibério e a Vila Adriana de Tivoli. Para a vida social, tiveram grande importância as termas, que, com freqüência e, sobretudo em Roma, deram lugar a grandes construções. Nelas encontramos câmaras para banhos frios (frigidarium), mornos (tepidarium) e de água quente ou vapor (caldarium ou laconicum), além de dependências destinadas a massagens, a palestras etc. Junto às termas, deve-se mencionar os edifícios de caráter cultural, tais como bibliotecas e arquivos. O centro da vida política romana estava na cúria, edifício assim chamado devido ao nome da assembléia na qual o povo outorgava o poder a um magistrado. Igualmente importante era o pretório, ou residência da autoridade militar. Outras construções muito repetidas eram as chamadas basílicas. Arquitetura As características gerais da arquitetura romana são:

• busca do útil imediato, senso de realismo; • grandeza material, realçando a idéia de força; • energia e sentimento; • predomínio do caráter sobre a beleza; • originais: urbanismo, vias de comunicação, anfiteatro, termas.

As construção eram de SEIS espécies, de acordo com as funções: 1) Religião: Templos Os mais conhecidos são o templo de Júpiter Stater, o de Saturno, o da Concórdia e o de César. O Panteão, construído em Roma durante o reinado do Imperador Adriano foi planejado para reunir a grande variedade de deuses existentes em todo o Império, esse templo romano, com sua planta circular fechada por uma cúpula, cria um local isolado do exterior onde o povo se reunia para o culto. 2) Comércio e civismo: BasílicaA princípio destinada a operações comerciais e a atos judiciários, a basílica servia para reuniões da bolsa, para tribunal e leitura de editos. Mais tarde, já com o Cristianismo, passou a designar uma igreja com certos privilégios. A basílica apresenta uma característica inconfundível: a planta retangular, (de quatro a cinco mil metros) dividida em várias colunatas. Para citar uma, a basílica Julia, iniciada no governo de Júlio César, foi concluída no Império de Otávio Augusto. 3) Higiene: Termas Constituídas de ginásio, piscina, pórticos e jardins, as termas eram o centro social de Roma. As mais famosas são as termas de Caracala que, além de casas de banho, eram centro de reuniões sociais e esportes. 4) Divertimentos: a)Circo: extremamente a feito aos divertimentos, foi de Roma que se originou o circo. Dos jogos praticados temos: jogos circenses - corridas de carros; ginásios - incluídos neles o pugilato; jogos de Tróia - aquele em que havia torneios a cavalo; jogos de escravos - executados por cavaleiros conduzidos por escravos; Sob a influência grega, os verdadeiros jogos circenses romanos só surgiram pelo ano 264 a.C. Dos circos romanos, o mais célebre é o "Circus Maximus". b) Teatro: imitado do teatro grego. O principal teatro é o de Marcelus. Tinha cenários versáteis, giratórios e retiráveis. c)Anfiteatro: O povo romano apreciava muito as lutas dos gladiadores. Essas lutas compunham um espetáculo que podia ser apreciado de qualquer ângulo. Pois a palavra anfiteatro significa teatro de um e de outro lado. Assim era o Coliseu, certamente o mais belo dos anfiteatros romanos.

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Externamente o edifício era ornamentado por esculturas, que ficavam dentro dos arcos, e por três andares com as ordens de colunas gregas (de baixo para cima: ordem dórica, ordem jônica e ordem coríntia). Essas colunas, na verdade eram meias colunas, pois ficavam presas à estrutura das arcadas. Portanto, não tinham a função de sustentar a construção, mas apenas de ornamentá-la. Esse anfiteatro de enormes proporções chegava a acomodar 40.000 pessoas sentadas e mais de 5.000 em pé. 5) Monumentos decorativos Arco de Triunfo: pórtico monumental feito em homenagem aos imperadores e generais vitoriosos. O mais famoso deles é o arco de Tito, todo em mármore, construído no Fórum Romano para comemorar a tomada de Jerusalém. Este Arco de Triunfo situado em Roma, ao lado do Coliseo, foi construído pelo povo e pelo senado Romano para comemorar a vitória de Constantino sobre Majencio no ano de 313 d. C. O grande friso que coroa os arcos traz a inscrição que justifica sua construção: “ Ao Imperador e Cesar Constantino, o grande, o mais afortunado que por inspiração de Deus, grandeza de espírito e valor de seu exército livrou o Estado do Tirano e de seus partidários, o Senado e o Povo de Roma dedicam este Arco de Triunfo”.b) Coluna Triunfal: a mais famosa é a coluna de Trajano, com seu característico friso em espiral que possui a narrativa histórica dos feitos do Imperador em baixos-relevos no fuste. Foi erguida por ordem do Senado para comemorar a vitória de Trajano sobre os dácios e os partos. 6) Moradia: Casa Era construída ao redor de um pátio chamado Átrio. Pintura Poderemos sentir dificuldades em distinguir a pintura grega da romana. A maioria das pinturas de estilo helenístico foram realizadas na Itália. Os romanos admiravam a cultura e a pintura de cavalete dos gregos, que foram copiadas em muros e decoraram cidades e palácios. Famosas escolas continuaram o trabalho dos gregos. Na verdade, a pintura romana (não por inteiro) foi apenas à continuação da pintura grega. Este “não por inteiro”, se refere ao fato de que a pintura romana talvez tenha uma certa individualidade, mas, infelizmente, não temos muitas provas disso. A pintura de cavalete é muito escassa e isso beneficiou as pinturas murais. Nessa época as cenas heróicas e mitológicas deram lugar a paisagens, natureza morta e coisas do gênero, fugindo assim da “herança helenística”. Infelizmente, a desaparição de pinturas murais helenísticas priva-nos de ter uma referência básica no momento de analisarmos os afrescos romanos que foram conservados graças à erupção do Vesúvio, em 79 d.C., que cobriu algumas cidades e assim isolou-as do ar e suas impurezas. Pelo menos dois dos quatro estilos de afrescos romanos têm origens helenísticas e coincidindo já com as tendências helenísticas, coloca em prova a originalidade da pintura romana. O quarto e o segundo estilos, por exemplo, estão bem presentes nas decorações dos teatros. Podemos observar que o mais simples e antigo dos estilos, o de incrustações, foi usado desde o século II e início do século I a.C. no revestimento das paredes, imitando placas de mármore de cores incrustadas. Estilo arquitetônico, por sua vez, apareceu no início do século I a.C. e continuou pelo seguinte. Nele, uma moldura fingindo uma coluna recobre a parede e, nos requadros, são representadas cenas, paisagens ou naturezas mortas. Procurava-se produzir efeitos de profundidade, negando a evidência física da parede para ampliar ilusoriamente o espaço. As representações da Vila dos Mistérios, em Pompéia são exemplos de pinturas desse estilo. O terceiro estilo, o ornamental, desenvolveu se entre 15 a.C. e 60 d.C. Apresenta elementos arquitetônicos muito finos que sublinham a evidência do plano da parede, ao perderem consistência e sentido volumétrico, ficando reduzidos a simples elementos decorativos, como se pode ver nas pinturas da Casa dos Vétios de Pompéia. O quarto estilo, fantástico ou ilusionista, derivou-se do segundo e, a partir do ano 60 d.C., o gosto pela cenografia e pelos espaços fingidos encontrou de novo o caminho livre. A Damos Aurea, levanta por Nero após o incêndio de Roma do ano 64 oferece um dos primeiros e mais belos exemplos deste estilo. Outro gênero que convinha especialmente ao gosto dos romanos era o retrato, como mostra o desenvolvimento de sua escultura. As amostras que chegaram até nós são muito escassas,

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embora bastante ilustrativas. Alguns desses retratos, pintados enquanto os personagens eram vivos, estavam destinados a serem colocados sobre a sua urna a altura do rosto, como uma derivação das representações do antigo Egito. Eram realizados sobre madeira, e às vezes sobre tela. Um grupo de representações procedente de Pompéia os efigiados de meio corpo, olhando-nos de frente com os olhos fixos e fortemente caracterizados no seu individualismo. O retrato de Paquia Próculo e da sua esposa é a obra principal deste grupo, onde a melancolia e um ar de sonho predominavam. Este tipo de retrato foi encontrado bastante em Roma e no Egito, no oásis de Al Fayum realizado durante o domínio romano, entre os séculos I e IV. O Mosaico e o afresco foram muito utilizados na decoração dos muros e pisos da arquitetura em geral. A maior parte das pinturas romanas que conhecemos hoje provém das cidades de Pompéia e Herculano, que foram soterradas pela erupção do Vesúvio em 79 a.C. Os estudiosos da pintura existente em Pompéia classificam a decoração das paredes internas dos edifícios em quatro estilos: Primeiro estilo: recobrir as paredes de uma sala com uma camada de gesso pintado; que dava impressão de placas de mármore. Segundo estilo: Os artistas começaram então a pintar painéis que criavam a ilusão de janelas abertas por onde eram vistas paisagens com animais, aves e pessoas, formando um grande mural.Terceiro estilo: representações fiéis da realidade e valorizou a delicadeza dos pequenos detalhes. Quarto estilo: um painel de fundo vermelho, tendo ao centro uma pintura, geralmente cópia de obra grega, imitando um cenário teatral. Mosaicos É difícil saber onde termina a época helenística e começa a época romana dos mosaicos, pois a transição é praticamente imperceptível, tanto na capital, Roma, como na periferia do Império. Após o rico apogeu helenístico, que podemos observar em Pompéia, temos a época dos Flávios (século I). Nessa época, na África, o mosaico apresentava cores fortes e ao mesmo tempo, no Oriente, eles apresentavam tendências helenístico - romanas. E na etapa final dos séculos IV e V, com cenas mitológicas, alegóricas, cinegéticas, de estilo vivo e naturalista, mas com um reflexo de uma rigidez futura. Depois de Constantino, o mosaico romano começa a esquematizar - se e a ser dominado pelas alegorias, o que já denota o início da era paleo-cristã. Escultura No período de Augusto V, a escultura romana sofreu forte influência grega. É nesta época que a escultura grega (apesar de anteriormente já ter grandes artistas) se encontra plena e assumida. Respeitando os romanos, isto é, sem chegar a afirmações de que os romanos eram inferiores aos gregos, a influência neoática foi muito importante. Não foi totalmente uma cópia, pelo menos no campo da escultura. Podemos dar o exemplo de uma estátua de Augusto que está com o braço levantado, contrapondo-se ao resto do corpo. O braço levantado nesta posição foge às regras da escultura grega. Outro exemplo, na mesma estátua citada, é que as estátuas gregas, da época helenística, davam idéias de movimento e esta estátua não dá, pois a túnica oculta qualquer movimento proposto. Devemos nos lembrar, no entanto, que esta estátua é baseada nas obras de Policleto, escultor grego. Por outro lado, foi dada muita importância a detalhes como a “decoração” da couraça usada por Augusto, algo desprezado nas estátuas gregas. Octávio teve várias imagens, nas quais prevaleceu o realismo. Estas estátuas representavam o poder do imperador. Onde havia estátuas dele, ali era seu domínio, pois representavam o próprio imperador. Passava-se o tempo e mais estátuas eram refeitas. No caso de Augusto, as estátuas novas eram colocadas junto das antigas. Existiam três tipos de retratos, que eram divididos por traços fisionômicos: 1- Accio- provavelmente criado após sua vitória sobre Antonio em Accio (31 a.C.) - A estátua tinha os cabelos desarrumados. 2- Prima Porta - criado na concessão do título de Augusto (27 a.C.) - A estátua tinha formas mais sublimes. 3- Os cabelos se recolhem para um lado, predominando intemporabilidade, ou até um caráter imoral que implica numa certa ruptura com o realismo.

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Ruptura que, aliás, nunca foi total, pois, ao longo da evolução da escultura, os artistas sempre (ou quase sempre) conseguiam captar o ser da pessoa esculpida, que normalmente era o Augusto. Percebe-se isto também, nos retratos da família imperial, como por exemplo, à estátua de Lívia sentada (por volta do século I a.C., museu Arqueológico Nacional, Madri). Mas há ocasiões que ao realismo sobrepõe-se outras tendências, como o Retrato de Lívia, em basalto, no Louvre que tem um corte moderno. Repara-se que a fisionomia é algo sólido, não dando a impressão de ter sido modelado, como a maioria das esculturas romanas, mas sim, talhados, tal o aspecto de dureza e energia da massa. Dava um ar de monumento. Já na época da dinastia Júlio-claudiana, esse aspecto desaparece e a plasticidade predomina e enlaça as feições, eliminando o aspecto clássico conquistado no período de Augusto. No entanto, os retratos de Augusto não são a única manifestação da escultura monumental romana. O Foro de Augusto, do século dois a.C., foi à obra mais importante, porém, atualmente está em ruínas. Por sorte não é o caso de outra grande obra daquele período: o Ara Pacis, que é fundamental para a compreensão da arte - ou cultura romana - pois projeta sua influência na arte das províncias e nas futuras esculturas que não serão, no entanto, uma pura reprodução de seus relevos. Os membros da família Júlio-claudiana, que aparecem no Ara Pietatis (43 d.C. museu Arqueológico de Rávena) acentuam o realismo da época de Augusto, mesclando com mudanças que afetam as figuras e o conjunto em si. As figuras são mais espaçadas, o que acentua a individualidade de cada uma, praticamente sendo independente uma da outra. Assim, a visão se intensifica com as atividades de cada personagem, não se perdendo, no entanto, a visão do conjunto. Os gestos das estátuas são bastante enfatizados, denotando uma grande habilidade técnica dos escultores, bem como a influência grega que é evidente. Para podermos comparar uma obra monumental com o Ara Pacis devemos ir à época de Trajano onde encontramos três grandes monumentos, que enfocam as grandes conquistas romanas: Arco de Trajano, em Benevento (107-117 d.C.). Arco de Constantino, (106-117 d.C.). Coluna Trajana, (110-117 d.C.). Na época do imperador Adriano, os monumentos rendiam culto à beleza: Villa Adriana, (cerca de 130 d.C.). Estátua de Antínoo (130-138 d.C. Museu Arqueológico de Nápoles). Retrato de Adriano (Cerca de 117, Museu de Canea, Creta). No reinado de Adriano, bem como no de Antonino Pio, parece que os escultores expressam o Hedonismo, um dos ingredientes da cultura romana muitas vezes esquecido pela arte do Estado, mas nem por isso menos presente na vida do império. No período de Marco Aurélio a preocupação com a beleza dá lugar a outros interesses, mais próximos da arte romana tradicional, que enfoca as virtudes e os feitos dos imperadores, os ideais de seus governos bem como cenas de guerras: Estátua eqüestre de Marco Aurélio (cerca de 166 Roma). Arco de Marco Aurélio (173 Roma). Columna Aureliana (180- 192, Roma). A ÉPOCA IMPERIAL TARDIA Na época imperial tardia, havia ocasiões em que não dava tempo de fazer o retrato dos imperadores-soldados. Então, a cabeça de um substituía à do outro no mesmo corpo. Exemplos de imperadores da época imperial tardia, assim retratados: Maximiano, o Trácio; Puerpino; Balbino; Gordiano III; Filipo, o Árabe; Filipo, o Jovem; Valeriano; Aureliano, entre outros. Tal sucessão política expressa na arte dessa forma, debilitou profunda e irreversivelmente o império. Deste período histórico, data a importante obra conhecida como o Arco de Constantino. Nele, as cenas são apresentadas dentro de uma rígida hierarquia, onde o imperador é maior e está mais presente que os simples cidadãos, assinalando um poder e domínio que excedem o propriamente humano. Da estátua colossal de Constantino se conservam alguns restos, especialmente a Cabeça (cerca de 330, Palazzo do Conservatori, Roma).

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No entanto, neste mesmo período, o poder do império entrou em decadência e uma estátua, por colossal que fosse, não foi suficiente para mantê-lo. Escultura Os romanos eram grandes admiradores da arte grega, mas por temperamento, eram muito diferentes dos gregos. Por serem realistas e práticos, suas esculturas são uma representação fiel das pessoas e não a de um ideal de beleza humana, como fizeram os gregos. Retratavam os imperadores e os homens da sociedade. Mais realista que idealista, a estatuária romana teve seu maior êxito nos retratos. Com a invasão dos bárbaros as preocupações com as artes diminuíram e poucos monumentos foram realizados pelo Estado. Era o começo da decadência do Império Romano que, no séc. V - precisamente no ano de 476 - perde o domínio do seu vasto território do Ocidente para os invasores germânicos. IDADE MÉDIA A Idade Média compreende entre os séc. V e XV, aproximadamente desde a queda de Roma até o Renascimento. No período inicial, chamado de Idade das Trevas, depois da queda do Imperador Bizantino Justiniano, em 565, até o Reinado de Carlos Magno, em 800, os bárbaros destruíram o que se levara três mil anos para ser construído. Mas a Idade das trevas foi uma parte da Idade Média. Há muitos pontos de luz na arte e na arquitetura, desde o esplendor da corte bizantina, em Constantinopla, até a imponência das catedrais góticas. Três deslocamentos importantes tiveram ampla repercussão na civilização ocidental: 1.A liderança cultural se deslocou do norte do mediterrâneo para França, Alemanha e Ilhas Britânicas. 1.O Cristianismo triunfou sobre o paganismo e o barbarismo. 2.A ênfase se deslocou do aqui e agora para o além, e da concepção de corpo belo para a de corpo corrupto. Uma vez que o foco cristão se dirigia para a salvação e a vida eterna, desapareceu o interesse pela representação realista do mundo. Os nus foram proibidos e até as imagens de corpos vestidos revelavam a ignorância da anatomia. Os ideais greco-romanos de proporções harmoniosas equilíbrio entre corpo e mente desapareceram. O interesse nas manifestações de arte do período medieval residiam exclusivamente na busca pela essência, pela alma, e com o objetivo de iniciar os novos fiéis nos dogmas da igreja. A arte se tornou serva da igreja. Os teólogos acreditavam que os cristãos aprenderiam a apreciar a beleza divina através da beleza material, e o resultado foi uma profusão de mosaicos, pinturas e esculturas. Na arquitetura, essa orientação para o espiritual tomou a forma de construções mais arejadas, mais leves. A massa e o volume da arquitetura romana deram lugar a edificações que refletiam o ideal cristão: discretos no exterior, mas refulgentes com mosaicos, afrescos e vitrais espiritualmente simbólicos no interior. A arte medieval compõem-se de três estilos diferentes: o Bizantino, o românico e o Gótico. ARTE SACRA BIZANTINA Se o foco principal da arte bizantina foi originalmente Bizâncio ( Constantinopla), seu território compreende a Ásia Menor, a Síria, a Itália, a Grécia, os Bálcãs e a Rússia. A denominação “arte cristão do oriente” seria mais exata. Seu real desenvolvimento inicia-se com a conversão do imperador Constantino e a proclamação, em 325, do cristianismo como religião de Estado, seu pleno desenvolvimento estende-se do século VI ao século XV.Oriunda da Antigüidade helenística e romana, a arte sacra bizantina foi essencialmente religiosa. O espaço arquitetural era aproveitado em função do jogo de luz e sombra e, reluzindo de ouro, o mosaico destaca a arquitetura. Distinguem-se três períodos principais: •O período justiniano (527-565). Corresponde à fixação dos grandes traços dessa arte imperial. As plantas arquitetônicas diversificaram-se: planta retangular com armação, ou centrada, com número de naves variável e coberta com uma cúpula. Santa Sofia de Constantinopla, atribuída a Artêmios de Talles e Isidoro de Mileto, é o templo mais notável dessa época, ao lado das igrejas de Ravena e Santa Catarina do Sinai. A crise do iconoclasmo, caracterizado pela rejeição da representação do divino, favoreceu o aparecimento da escola capadociana.

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•A renascença macedônica ( 867-1057). A arte sacra imperial humanizou-se: os santuários passaram a ter proporções menos imponentes, mas a planta em cruz inscrita chegava à perfeição e tornava-se perceptível do exterior. Colocada sobre pingentes ou sobre trompas de ângulo (porção da abóbada que sustenta uma parte saliente do edifício), a cúpula é sustentada pelas abóbadas em berço ou abóbadas em aresta. Na Grécia, Dáfni, São Lucas na Fócida e os Santos Apóstolos de Atenas são exemplos desse tipo, assim como a igreja do Pantocrator, em Constantinopla. As artes menores são testemunhos de um luxo refinado. Foi sob o reinado dos Comnenos que foram erguidas as numerosas igrejas da Iugoslávia (Ohrid, Nerezi, etc.). •O período dos Paleólogos (1258-1460) . Realismo e decoração narrativa tenderam a generalizar-se. As cenas estão plenas de personagens (mosaico de São Salvador-in-Cora, hoje Kahriye camii, de Constantinopla); os afresco multiplicaram-se. Os grandes centros de arte sacra bizantina são Tessalônica, Trebizonda e Mistra. Apesar do desaparecimento do Império, a marca da arte bizantina manteve-se nas regiões mais diversas, como o monte Atos, a Iugoslávia, a Bulgária, a Romênia e a Rússia, a qual continuaria a produzir notáveis ícones. •A arte sagrada dos ícones •Oriente e Ocidente: iconógrafos e artistas •Enquanto o Ocidente expressa essa fé vivida mediante a experiência pessoal do artista, o Oriente atem-se aos cânones estabelecidos pela Igreja. O primeiro expressa sua própria experiência e os próprios sentimentos que experimenta sua fé, pintando com total e absoluta espontaneidade qualquer motivo religioso que lhe é sugerido, solicitado ou que, simplesmente, expresse o que ele sente ou experimenta. No Oriente, os iconógrafos, seguindo os ensinamentos do Mestre Dyonisios e, em geral, as determinações da Igreja, buscam reproduzir as mesmas passagens dos Evangelhos, omitindo qualquer experiência ou sentimento pessoal vivido, tratando, simplesmente, desde uma profunda vida de oração, expressar o conteúdo dos Evangelhos. Os iconógrafos, antes de a iconografia ter passado a ser objeto de ocupação de pessoas amantes das artes manuais eram sempre monges e a iconografia uma função conferida pela Igreja. A tarefa do iconógrafo sempre foi comparada ao do sacerdote. Primeiro porque ambos pregavam a Palavra de Deus, o primeiro com a pintura e as colores, o segundo mediante a palavra ou a escritura. •Desde o aparecimento dos ícones na história da Igreja, estes não eram considerados como uma mera obra artística. Os primeiros iconógrafos, tratavam de retratar com cores e pinturas o que os Evangelhos expressavam com palavras (Concílio de Nicéia II). Contudo, os ícones e, em geral, a cultura bizantina, é uma mescla de cultura, arte, historia, fé... que se faz viva no coração dos habitantes do Império. Desde os Imperadores até a pessoa mais humilde, viviam a experiência dos ícones como expressão da fé de um povo que experimentava diariamente a intervenção de Deus, da Theotokos e dos Santos na sua vida cotidiana, tal como viviam as primeiras comunidades cristãs de Jerusalém. Toda a cultura bizantina: arquitetura, escultura, pintura, bordados e manuscritos, entre outros, está iluminada por essa fé que impregna cada uma das atividades e da vida dos habitantes do Império. ArquiteturaA arquitetura das igrejas foi a que recebeu maior atenção da arte bizantina, elas eram planejadas sobre uma base circular, octogonal ou quadrada imensas cúpulas, criando-se prédios enormes e espaçosos totalmente decorados. A Igreja de Santa Sofia (Sofia = Sabedoria), na hoje Istambul, foi um dos maiores triunfos da nova técnica bizantina, projetada pelos arquitetos Antêmio de Talles e Isidoro de Mileto, ela possui uma cúpula de 55 metros apoiada em quatro arcos plenos.Tal método tornou a cúpula extremamente elevada, sugerindo, por associação à abóbada celeste, sentimentos de universalidade e poder absoluto. Apresenta pinturas nas paredes, colunas com capitel ricamente decorado com mosaicos e o chão de mármore polido. Mosaicos O mosaico é expressão máxima da arte bizantina e não se destinava apenas a enfeitar as paredes e abóbadas, mas instruir os fiéis mostrando-lhes cenas da vida de Cristo, dos profetas e dos vários imperadores.Plasticamente, o mosaico bizantino em nada se assemelha aos mosaicos romanos; são confeccionados com técnicas diferentes e seguem convenções que regem inclusive os afrescos. Neles, por exemplo, as pessoas são representadas de frente e verticalizadas para criar certa espiritualidade; a perspectiva e o volume são ignorados e o dourado é demasiadamente utilizado devido à associação com maior bem existente na terra: o ouro. Ícones Eram pequenos painéis em madeira com imagens pintadas, supostamente com poderes sobrenaturais. As imagens dos santos e seres sagrados são rígidas, em pose frontal, geralmente

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com halo e olhar fixo. Acreditava-se que os ícones tinham propriedades milagrosas, tão fortes se tornou a devoção e o culto aos ícones que eles foram proibidos, entre 726 e 843, por desobediência ao mandamento contra a idolatria. ARTE ROMÂNICA Arquitetura Com a instituição da fé católica romana, uma onda de construções de igrejas varreu a Europa feudal de 1050 a 1200. Os construtores tomaram emprestado elementos da arquitetura romana, como as colunas e arcos redondos, surgindo assim o termo “romana” para definir a arte e a arquitetura desse período. Como os prédios romanos tinham os tetos em madeira, suscetíveis a incêndios, os artesãos medievais passaram a fazer os tetos da igrejas em abóbadas de pedra. Com esse sistema, abóbadas cilíndricas ou com arestas apoiadas em pilastras proviam grandes espaços, livres de colunas e obstáculos. Outra características destas construções está ligada a sua grandiosidade, pois nesse período as peregrinações aconteciam em grande escala e era necessário criar templos para abrigar essas pessoas. A planta dessas construções é Cruciforme, com uma longa nave atravessada por um transcepto mais curto, simbolizando o corpo de Cristo crucificado. Distinguem-se dois períodos na arte românica: a primeira arte românica (fim séc X ao segundo terço do séc. XI) representa a sua gênese, a segunda arte românica, a maturidade. O que distingue as construções românicas das demais é o seu tamanho. Elas são sempre grandes e sólidas. Daí serem chamadas: fortalezas de Deus. A explicação mais aceita para as formas volumosas, estilizadas e rígidas dessas igrejas é o fato da arte românica não ser fruto do gosto refinado da nobreza nem das idéias desenvolvidas nos centros urbanos, é um estilo essencialmente clerical. A arte desse período passa, assim a ser encarada como uma extensão do serviço divino e uma oferenda à divindade. A mais famosa é a Catedral de Pisa sendo o edifício mais conhecido do seu conjunto o campanário que começou a ser construído em 1.174. Trata-se da Torre de Pisa que se inclinou porque, com o passar do tempo, o terreno cedeu. Na Itália, diferente do resto da Europa, não apresenta formas pesadas, rígidas e primitivas. As características mais significativas da arquitetura românica são: * abóbadas em substituição ao telhado das basílicas; * pilares maciços que sustentavam e das paredes espessas; * aberturas raras e estreitas usadas como janelas; * torres, que aparecem no cruzamento das naves ou na fachada; e * arcos que são formados por 180 graus. Pintura E Escultura No período Românico poucas pessoas sabiam ler, a Igreja recorria à pintura e à escultura para narrar histórias bíblicas ou comunicar valores religiosos aos fiéis. Não podemos estudá-las desassociadas da arquitetura. A arte tinha uma função catequizadora. A pintura românica desenvolveu-se sobretudo nas grandes decorações murais, através da técnica do afresco, que originalmente era uma técnica de pintar sobre a parede úmida. Os motivos usados pelos pintores eram de natureza religiosa. As características essenciais da pintura românica foram a deformação e o colorismo. A deformação, na verdade, traduz os sentimentos religiosos e a interpretação mística que os artistas faziam da realidade. A figura de Cristo, por exemplo, é sempre maior do que as outras que o cercam. O colorismo realizou-se no emprego de cores chapadas, sem preocupação com meios tons ou jogos de luz e sombra, pois não havia a menor intenção de imitar a natureza. Na porta, a área mais ocupada pelas esculturas era o tímpano, nome que recebe a parede semicircular que fica logo abaixo dos arcos que arrematam o vão superior da porta. Imitação de formas rudes, curtas ou alongadas, ausência de movimentos naturais. DAS TREVAS A LUZ: NASCE O GÓTICO

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O auge do desenvolvimento artístico na Idade Média, rivalizando com as maravilhas da Grécia e de Roma da antiguidade, foi a Catedral Gótica. Essas imensas catedrais superam até mesmo a arquitetura clássica em termos de ousadia tecnológica. Entre 1200 e 1500, os construtores medievais ergueram essas estruturas elaboradíssimas, com seus interiores atingindo uma altura sem precedentes na história da arquitetura. O que tornou possível a catedral gótica foram dois desenvolvimentos da engenharia: a abóbada com traves e suportes externos chamados arcobotantes, ou contrafortes. A aplicação desses pontos de apoio nos locais necessários permitiu trocar paredes grossas com janelas estreitas por paredes estreitas com janelas enormes e com vitrais inundando de luz o seu interior. As catedrais góticas não conheceram a Idade das trevas. Sua evolução foi uma contínua expansão de luz, até que as paredes se tornaram tão perfuradas que ficaram verdadeiros pinázios emoldurando os imensos campos de vitrais coloridos que contam histórias religiosas.

Arquitetura

A primeira diferença que notamos entre a igreja gótica e a românica é a fachada. Enquanto, de modo geral, a igreja românica apresenta um único portal, a igreja gótica tem três portais que dão acesso à três naves do interior da igreja: a nave central e as duas naves laterais. A rosácea é um elemento arquitetônico muito característico do estilo gótico e está presente em quase todas as igrejas construídas entre os séculos XII e XIV. Outros elementos característicos da arquitetura gótica são os arcos góticos ou ogivais e os vitrais coloridíssimos que filtram a luminosidade para o interior da igreja. As catedrais góticas mais conhecidas são: Catedral de Notre Dame de Paris e a Catedral de Notre Dame de Chartres.

Iluminuras Iluminura é a ilustração sobre o pergaminho de livros manuscritos (a gravura não fora ainda inventada, ou então é um privilégio da quase mítica China) Durante o século XII e até o século XV, a arte ganhou forma de expressão também nos objetos preciosos e nos ricos manuscritos ilustrados. Os copistas dedicavam-se à transcrição dos textos sobre as páginas. Ao realizar essa tarefa, deixavam espaços para que os artistas fizessem as ilustrações, os cabeçalhos, os títulos ou as letras maiúsculas com que se iniciava um texto.. Da observação dos manuscritos ilustrados podemos tirar duas conclusões: a primeira é a compreensão do caráter individualista que a arte da ilustração ganhava, pois destinava-se aos poucos possuidores das obras copiadas, a segunda é que os artistas ilustradores ao períodos gótico tornaram-se tão habilidosos na representação do espaço tridimensional e na compreensão analítica de uma cena, que seus trabalhos acabaram influenciando outros pintores. Pintura A pintura gótica desenvolveu-se nos séculos XII, XIV e no início do século XV, quando começou a ganhar novas características que prenunciam o Renascimento. Sua principal particularidade foi a procura o realismo na representação dos seres que compunham as obras pintadas. Os principais artistas na pintura gótica são os verdadeiros precursores da pintura do Renascimento (Duocento): * Giotto - a característica principal do seu trabalho foi a identificação da figura dos santos com seres humanos de aparência bem comum. E esses santos com ar de homem comum eram o ser mais importante das cenas que pintava, ocupando sempre posição de destaque na pintura. Assim, a pintura de Giotto vem ao encontro de uma visão humanista do mundo, que vai cada vez mais se firmando até ganhar plenitude no Renascimento. Obras destacadas: Afrescos da Igreja de São Francisco de Assis (Itália) e Retiro de São Joaquim entre os Pastores. * Jan Van Eyck - procurava registrar nas suas pinturas os aspectos da vida urbana e da sociedade de sua época. Nota-se em suas pinturas um cuidado com a perspectiva, procurando mostrar os detalhes e as paisagens. Obras destacadas: O Casal Arnolfini e Nossa Senhora do Chanceler Rolin.

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RENASCENÇA 1400 – 1600 A RENASCENÇA: O COMEÇO DA PINTURA MODERNA Durante os séculos XV e XVI intensificou-se, na Europa, a produção artística e científica. Esse período ficou conhecido como Renascimento ou Renascença. As características principais deste período são as seguintes : - Valorização da cultura greco-romana. Para os artistas da época renascentista, os gregos e romanos possuíam uma visão completa e humana da natureza, ao contrário dos homens medievais; - As qualidades mais valorizadas no ser humano passam a ser a inteligência, o conhecimento e o dom artístico; - Enquanto na Idade Média a vida do homem devia estar centrada em Deus (teocentrismo), nos séculos XV e XVI o homem passa a ser o principal personagem (antropocentrismo). -A razão e a natureza passam a ser valorizados com grande intensidade. O homem renascentista, principalmente os cientistas, passam a utilizar métodos experimentais e de observação da natureza e universo. Principais representantes do Renascimento Italiano e suas principais obras: - Michelângelo Buonarroti (1475-1564)- destacou-se em arquitetura, pintura e escultura. Obras principais: Davi, Pietá, Moisés, pinturas da Capela Sistina. - Rafael Sanzio (1483-1520) - pintou várias madonas (representações da Virgem Maria com o menino Jesus). - Leonardo da Vinci (1452-1519)- pintor, escultor, cientista, engenheiro, físico, escritor, etc obras principais :Mona Lisa, Última Ceia. Os pintores e escultores renascentistas investigaram novas soluções para problemas visuais formais e muitos deles realizaram experiências científicas. Neste contexto, surgiu a perspectiva linear na qual as linhas paralelas eram representadas em ponto de fuga. Os pintores passaram a ser mais exigentes com o tratamento da paisagem, dedicando maior atenção à representação de árvores, flores, plantas, distância entre montanhas e os céus com suas nuvens. O efeito da luz natural e o modo como o olho percebe os diversos elementos da natureza, tornaram-se novas preocupações. Assim nasceu a perspectiva aérea, na qual os objetos perdem os contornos, a cor e o sentido de distância à medida que se afastam do campo de visão. Os pintores do norte de Europa, especialmente os flamengos, revelaram-se mais avançados que os italianos na representação das paisagens e introduziram o óleo como nova técnica pictórica, contribuindo para o desenvolvimento desta arte em todo o continente.Embora o retrato se consolidasse como gênero específico em meados do século XV, os pintores do Renascimento alcançaram o auge com a pintura histórica ou narrativa. Em uma paisagem ou moldura de fundo, figuras relatavam passagens da mitologia clássica ou da tradição judaico-cristã. Dentro de um contexto, o pintor representava homens, mulheres e crianças em poses reveladoras de emoções e estados de espírito. O renascimento das artes coincidiu com o desenvolvimento do Humanismo que estudava e traduzia textos filosóficos. O latim clássico foi revalorizado. A par desta renovação de idéias, ocorreu o período de descobrimentos de novas terras. As embarcações se lançaram em busca de novos caminhos marítimos, colhendo, como resultado, diferentes rotas para a Ásia e a imensidão das Américas. Pintores, escultores, arquitetos e navegadores sentiam o mesmo anseio de aventura, o desejo de ampliar conhecimentos e obter novas soluções. Assim, tanto Leonardo da

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Vinci e Michelangelo, como Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral descobriram mundos novos e surpreendentes. O Renascimento na Itália O berço do Renascimento foi a Itália, extraordinário depósito de ruínas clássicas. Encontram-se vestígios do Império Romano em quase todas as cidades italianas. Os sarcófagos de mármore, decorados com relevos, são o exemplo mais comum. O idioma, uma corruptela do latim falado pelos antigos romanos, foi sistematizado no século XIV por Dante Alighieri, Francesco Petrarca e Giovanni Boccaccio. As primeiras manifestações do Renascimento italiano ocorreram em Florença. Três ourives e escultores, Brunelleschi, Ghiberti e Donatello, realizaram inovações que romperam com as convenções da arte gótica. Donatello, que também trabalhou em Veneza, Pádua, Nápoles e Roma veiculou, por toda a Itália, as novas formas estéticas. Na pintura, Masaccio introduziu um conceito naturalista e expressivo, assim como a perspectiva linear e aérea. O introdutor, em Veneza, do ideário renascentista foi Bellini. Mais tarde, Veneza disputou com Florença o privilégio de ser o centro do movimento que modificou o pensamento humano. Após esta extraordinária explosão criativa, foi pouco significativa a produção artística italiana no começo do século XV. Mas logo surgiram os nomes mais destacados do Renascimento e que influenciaram toda a obra ocidental posterior: Leonardo da Vinci (1452-1519) e Michelangelo (1475-1564). Pintor, escultor, arquiteto, engenheiro e cientista, Leonardo da Vinci foi importante, principalmente, na pintura onde introduziu o conceito de perspectiva atmosférica. Michelangelo, pintor, escultor, arquiteto e poeta, transformou-se em um dos maiores criadores que o mundo já conheceu. Entre os artistas quatrocentistas, destacam-se Filippo Brunelleschi, Lorenzo Ghiberti, Donatello, Masaccio, Paolo Uccello, Fra Angelico, Pisanello, Jacopo Bellini, Gentile Bellini, Giovanni Bellini, Andrea Mantegna, Piero della Francesca, Leon Battista Alberti, Antonio del Pollaiuolo, Andrea del Verrocchio, Sebastiano del Piombo, Giorgione, Tiziano e Sandro Botticelli. Entre os artistas quinhentistas, destacam-se Leonardo da Vinci, Donato Bramante, Rafael, Michelangelo, Giorgione, Tiziano e Correggio. No norte europeu, as manifestações artísticas do gótico tardio foram contemporâneas dos descobrimentos marítimos e das mudanças de visão de mundo produzidas na Itália. Países como Alemanha, Holanda e Inglaterra foram menos receptivos ao incipiente Renascimento. O Renascimento na Holanda Uma das obras-primas da miniatura cortesã, Riquíssimas horas do duque de Berry(c. 1416), realizada pelos irmãos Limbourg, contém iluminuras que prenunciam van Eyck e revelam uma atenção pelo detalhe naturalista até então desconhecido. O pintor flamengo Jan van Eyck foi o criador da pintura renascentista em Flandres e na Holanda. Van Eyck combina, com talento e habilidade, um estilo que é o contraponto da arte que Masaccio realizava, nesta mesma época, na Itália. Sua obra Retábulo de Gent, concluída em 1432, é uma das mais extraordinárias do Renascimento. Apesar da ousadia de van Eyck, as inovações no uso da luz surgem com outro pintor, Robert Campin, conhecido como o Mestre de Flémalle. Destacam-se também Rogier van der Weyden, Dirk Bouts, Hugo van der Goes, Hans Memling e Jerônimo Bosch. O Renascimento na França Leonardo da Vinci viajou para a França em 1516 a pedido do próprio rei, mas, devido a sua idade avançada, morreu antes de realizar trabalhos de importância. Os franceses foram resistentes em aceitar as inovações artísticas oriundas da Itália. Apenas no século XVI, conseqüência da presença de muitos artistas italianos na corte de Francisco I, a França começou a adotá-las. A obra do Château de Fontainebleau é o ponto central da arte renascentista francesa. O Renascimento na Alemanha Entre os mais destacados estão Konrad Witz, Albrecht Dürer e Matthias Grünewald. O Renascimento na Espanha Na Espanha, os pintores renascentistas nunca chegaram a alcançar o nível artístico da Itália e dos países do norte da Europa, embora se ligassem às duas tradições. Os mecenas espanhóis confiaram a pintores e escultores estrangeiros as obras mais importantes. A confirmação deste fato é Tiziano, sem residência fixa no país, ter sido o pintor da corte espanhola no século XVI. Na arquitetura, edifícios no estilo renascentista remontam ao final do século XVI. Um exemplo é El Escorial, complexo arquitetônico próximo de Madri, construído por Felipe II. Artistas destacados dessa época são Diego de Siloé, Alonso Berruguete, Juan de Juni e Pedro Berruguete.

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O Renascimento em Portugal Apesar da esmagadora vigência do estilo manuelino como ideologia estética, o Renascimento revelou-se, em Portugal, através de gravuras de livros impressos com tarjas decorativas, iluminuras, bronzes, tapeçarias, pinturas e jóias. A arte que refletiu, em primeiro lugar, o novo movimento foi a pintura já que, nos quadros manuelinos, quase sempre as figuras são do gótico-tardio, de origem flamenga, enquanto os espaços em que elas se situam são renascentistas. Na arquitetura, a nova estética italiana constituiu um obstáculo ao mestres-pedreiros habituados aos sistemas construtivos góticos. A escultura compreendeu a renovação formal e criou um novo universo plástico que se reflete na Igreja Matriz de Caminha, cuja capela e o fronteiro portal lateral são obras claramente protorenascentistas. Leonardo da Vinci Leonardo da Vinci nasceu em 15/04/1452. Existem dúvidas sobre o lugar de seu nascimento: para alguns historiadores, seu berço foi uma casa de Anchiano, uma localidade de Vinci, enquanto para outros, foi o próprio lugar de Vinci, situado na margem direita do rio Arno, perto dos montes Albanos, entre Florença e Pisa. Foi um dos mais notáveis pintores do Renascimento e possivelmente seu maior gênio, por ser também anatomista, engenheiro, matemático músico, naturalista, arquiteto e escultor. Suas idéias científicas quase sempre ficaram escondidas em cadernos de anotações, e foi como artista que obteve reconhecimento de seus contemporâneos. Estagiou no estúdio de Verrochio (importante artista da época), em Florença. Mudou-se para Milão em 1481, onde trabalhou para a corte de Ludovico Sforza. Até 1506 Leonardo trabalhou principalmente em Florença e tudo indica que nesta época tenha pintado a Mona Lisa, sua obra mais famosa. Entre 1506 e 1516, viveu entre Milão e Roma. Convidado por Francisco I , viajou para a França em 1516, onde faleceu no ano de 1519. Rafael (Raffaello Sanzio, pintor, arquiteto) (1483- 1520) Rafael é um dos únicos pintores que mereceram a honra de serem sepultados no Vaticano. Considerado por antonomásia um dos artistas clássicos de sua época, esse pintor oriundo de Urbino soube combinar em sua obra as linhas puras de Michelangelo e o sfumato poético de Leonardo. Aos 30 anos já era considerado por muitos o grande mestre do cinquecento. Depois da morte do pai, Rafael se mudou para Perugia, com a finalidade de se formar sob a tutela do pintor Perugino, cuja influência foi fundamental para suas obras posteriores. Em seus primeiros quadros descobrem-se o lirismo e a arte do mestre, tanto na delicadeza das figuras quanto no tratamento da perspectiva na paisagem. Suas primeiras obras são encargos da nobreza florentina. Nelas, graças ao estudo das obras de Da Vinci e Michelangelo, seu estilo tão característico começa a se firmar paulatinamente. São dessa época os numerosos afrescos da Sagrada Família. No ano de 1508, com a morte de Bramante, Rafael é nomeado arquiteto oficial do Vaticano. Deve então se mudar para Roma. Aí tomaram forma seus afrescos mais importantes: as residências de veraneio dos papas Júlio II e Leão X. Também desenhou os motivos dos tapetes e dos afrescos das abóbadas. Em pouco tempo, devido ao volume do trabalho, teve de deixar muitos deles nas mãos de ajudantes. As reformas arquitetônicas lhe tomam mais tempo do que imaginava. Deve-se a Rafael a acertada mudança da planta central da catedral de São Pedro de cruz grega para latina. Em suas obras nas casas de veraneio do Vaticano - A Disputa, A Escola de Atenas e Heliodoro - Rafael introduz as linhas fundamentais da nova corrente maneirista: arquitetura desmedida, agrupamentos geométricos de figuras em intensa superposição de planos e modelagem exagerada da anatomia, com estudadas e complicadas torsões musculares. Sandro Botticelli , Florença, (1445? - idem, 1510) Pintor italiano. Tem estudos literários e forma-se como discípulo de Fra Filippo Lippi. A partir de 1470 tem a sua própria oficina, começa a trabalhar para os Médicis e recebe numerosas encomendas. Em 1478 já alcança a maturidade que representa um quadro maravilhoso, A Primavera. Em 1480 leva a cabo notáveis pinturas murais na Igreja de Todos os Santos de Florença, sua cidade natal. Uma ano mais tarde está em Roma, onde faz parte da equipa encarregada das composições murais para a Capela Sistina. Em 1482 já está de regresso a Florença, onde tem numerosas encomendas: mártires, crucificados, virgens, a Pietà... Cerca de

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1485 pinta as quatro tábuas da História de Nastagio degli Onesti (três delas conservam-se no Museu do Prado de Madrid). Cerca de 1490 começa uma série referente à Divina Comédia de Dante. Os seus últimos anos vêem-se ensombrados pelas dificuldades económicas. Botticelli é o pintor mais notável da segunda metade do século xv. É um homem culto e de temperamento artístico apaixonado. Vive com o coração a aparição do humanismo na corte de Lorenzo de Médicis. No final da sua vida, influenciado pelas prédicas de Savonarola, reformador religioso que propugna a austeridade, deixa de tratar temas mitológicos e profanos e renuncia aos achados da perspectiva, voltando assim a uma pintura medieval (A Natividade Mística). Como Gozzoli e Ghirlandaio, Sandro Botticelli desenvolve uma pintura narrativa. Trata com nova amplitude temas não só profanos, mas inclusive de mitologia pagã. Os seus personagens são sensuais, delicados, melancólicos. Botticelli é um grande pintor da Virgem. Em contraposição às Virgens de Fra Angélico, que expressam a beatitude e a contemplação de Deus, as de Botticelli apresentam um olhar de sonho e uma expressão melancólica, quase triste. É também pintor de Epifanias. No domínio do profano tem obras de inspiração literária, como as cenas da Historia de Nastagio degli Onesti, do Decameron. Entre as obras de temas pagãos, a mais notória é O Nascimento de Vénus. Uma Vénus carregada de simbolismo, pois no ambiente neoplatónico dos Médicis, ao qual Botticelli pertence, Vénus representa o humanismo, a harmonia, a beleza ideal. A Primavera é uma composição alegórica povoada por figuras principalmente femininas: Vénus, Flora, Natura, Primavera, as Graças, Cupido, Céfiro... Os nus de mulher são belíssimos. Os corpos, cobertos por véus transparentes, estão enfeitados por cabeleiras doiradas. Cabe também citar A Calúnia e Vénus e Marte. Ticiano (c. 1487-1576) Pintor italiano, activo em Veneza. É considerado um dos maiores artistas do renascimento pleno. Em 1533, foi nomeado por Carlos V pintor da corte, tendo Filipe II, que lhe sucedeu, sido patrono de Ticiano. O trabalho do pintor revela um rico colorido e esquemas compositivos muito inventivos. Executou inúmeros retratos, pintura de temática religiosa e mitológica em que se incluem Baco e Ariadne (1520-1523), hoje na National Gallery (Londres), Vénus e Adónis (1554), no Museu do Prado (Madrid) e a Pietà (c. 1575), na Accademia (Veneza). Ticiano foi provavelmente discípulo de Giovanni Bellini, mas também aprendeu muito pelo contacto com Giorgione, pensando-se que tenha acabado algumas das obras deixadas incompletas por este pintor, como Vénus Adormecida (c. 1510), na Gemäldegalerie (Dresda). A sua primeira obra de vulto foi a Assunção da Virgem (1518), na igreja dos Frari (Veneza). O brilhante uso da cor é visível nas três grandes telas com cenas mitológicas que executou nos anos seguintes para a família d’Estes, de Ferrara, com numerosas figuras influenciadas pelos cânones da escultura clássica. Por volta de 1530, a reputação de Ticiano estava já firmada. A sua Vénus de Urbino (1538), hoje Galeria dos Uffizi (Florença), com a sua subtileza de gradações foi também um significativo passo no estudo do nu. Ticiano provocou, com a sua pintura, (crescentemente liberta e com uma paleta mais sombria ao longo dos anos) um grande impacto, quer na pintura veneziana, quer na arte européia. Michelangelo [MICHELANGELO DI LODOVICO BUONARROTTI SIMONI] Escultor, pintor, arquiteto e poeta italiano (Caprese, 6-III-1475 - Roma, 18-II-1564). Muito moço começou a estudar pintura com Domenico Ghirlandaio, em Florença. A partir de 1489 voltou-se para a escultura, que estudou com Bertoldo. Falecendo Lourenço o Magnífico, seu protetor, transladou-se para Veneza, onde trabalhou no sarcófago de são Domingos. Pouco depois regressou a Florença, ali realizando um de seus mais famosos trabalhos no campo da escultura - o David. Com essa obra adquiriu grande nomeada, e graças a ela foi chamado em seguida a decorar (juntamente com Leonardo da Vinci) a sala do Grande Conselho, em Florença. De tal incumbência não se desobrigou jamais, embora executasse diversos desenhos preparatórios para afrescos. Em 1505, foi chamado a Roma para executar na abside de São Pedro , o túmulo de Júlio II, projeto que logo abandonou. Entre 1508 e 1512 pintou, no teto da capela Sistina, os gigantescos afrescos hoje tidos como sua obra-prima em pintura - e dos quais o mais notável é A Criação de Adão. Júlio II faleceu em 1513, e Michelangelo novamente trabalhou em seu túmulo. Concluídas as estátuas de Moisés, da Vida Ativa e da Vida contemplativa - a primeira é uma de suas criações mais altas - abandonou definitivamente esse trabalho.

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Deixando Roma em 1527, para se instalar em Florença, logo depois foi chamado a decorar a parede da retaguarda da capela Sistina, vinte e quatro anos após a execução dos afrescos do teto. Pintou, então, O Juízo Final, cuja elaboração durou cinco anos, e que se alinha entre as obras-primas da arte universal. Em 1542, enceta a realização de dois afrescos na capela Paolina, no Vaticano, concluindo-os nove anos depois. Essa será a última obra de Michelangelo no campo da pintura, e no conjunto de suas criações ocupará lugar apenas discreto. A partir de 1550, Michelangelo - que aparentemente não tinha maiores predileções pela pintura, e sim pela arquitetura, e principalmente pela escultura - será somente escultor e arquiteto. Cultivará ainda a poesia, sendo autor de uma coletânea de Rimas. Sobre a pintura de Michelangelo influíram a arte de Massacio e a de Luca Signorelli. Os afrescos executados pelo primeiro na capela Brancacci foram objeto de minuciosos estudos, de parte de autor do Juízo final. Mas à grandiosidade de Masaccio alia Michelangelo maior liberdade de gestos e atitudes, enquanto de seus personagens titânicos se irradia uma sensação de movimento virtualmente oposta à estática masacciana, graças à arrojada disposição espacial que lhes emprestou o artista, e que repercutiria intensamente sobre a arte dos séculos futuros. Michelangelo foi, como seu grande rival, Leonardo da Vinci, um gênio criador e um talento universal, ocupando lugar de primeiríssimo plano entre os mais ilustres representantes da Renascença italiana. Espírito inquieto, temperamento irascível, num tempo que era costume identificar gênio e loucura. Michelangelo viveu intensamente o drama moral e religioso de sua época, tendo sido na mocidade adepto de Savonarola, e mais tarde do evangelismo anti-reformista do papa Paulo III.

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GLOSSÁRIO

ACADEMIA. Pintura ou desenho do nu - masculino, de início, feminino depois - executado não como um fim em si mesmo, porém como parte de uma aprendizagem levada a cabo numa oficina ou academia de arte. No Brasil, coube ao pintor Manuel Dias de Oliveira - o Brasiliense ou o Romano - introduzir a prática da academia, em sua Aula Pública de Desenho e Figura criada no Rio de Janeiro em fins de 1800. As aulas de nu eram efetuadas à noite, posando como modelo um indivíduo já maduro, "descarnado, mesmo malfeito" - como escreveu, no Spectador Brasileiro de 12 de agosto de 1826, anônimo missivista que se assina "O Carioca Constitucional B.F.G.".

ACRÍLICA, Pintura. Pintura que utiliza como medium uma resina acrílica em emulsão. Tem merecido as preferências de diversos artistas, sobretudo porque seca mais rapidamente que a pintura a óleo. No Brasil, onde vem sendo empregada desde a década de 1960, destacam-se entre os seus cultores Aldemir Martins Benjamim Silva e Antonio Maia, entre outros

AFRESCO. Técnica de pintura mural que consiste em aplicar os pigmentos, diluídos num veículo aquoso, ao reboco ainda fresco de uma parede. Os pigmentos entranham no reboco, combinando-se quimicamente com ele, o que evita que a pintura se desprenda. Essa técnica, denominada igualmente buon fresco, tem sido pouquíssimo praticada no Brasil, destacando-se, entre seus cultores, Emeric Marcier, Fulvio Pennacchi, Antonio Gomide, Samson Flexor e poucos mais.

AQUARELA. Técnica de pintura (ou, mais adequadamente, de desenho) que consiste em aplicar, sobre um suporte de papel, cores dissolvidas em água e aglutinadas com goma arábica, mel, açúcar ou outra substância similar. Conhecida já no Egito do Séc. II d. C., e utilizada em tempos medievais para iluminar manuscritos ou colorir xilografias, a aquarela alçou-se ao nível de grande arte com Albrecht Dürer, mas só com os paisagistas ingleses de fins do Séc. XVIII e começos do Séc. XIX atingiria seu ponto máximo de desenvolvimento.

ARTE BRUTA. O equivalente em Português ao Francês Art Brut, expressão criada pelo pintor Jean Dubuffet para designar um tipo de criação artística produzido por crianças, psicóticos etc. no qual a matéria artística manifesta-se como que em estado bruto - caso, por exemplo, da produção de Arthur Bispo do Rosário, entre outros artistas brasileiros.

ARTE COMPUTADOR. O equivalente em Português ao Inglês Computer Art; designando a arte produzida com utilização de computadores. Os primeiros exemplos de arte computador surgidos no Brasil deveram-se a Waldemar Cordeiro, trabalhando com Giorgio Moscati em 1968. ARTE FRACTAL. Aquela produzida em conformidade com os postulados da estética fractal, por sua vez nascida em decorrência da descoberta em 1975, pelo matemático Mandelbrot e pelos estudiosos da Teoria do Caos, de uma nova geometria à qual foi dado o nome de fractal. Agindo intuitivamente, os artistas fractalistas não pretendem ilustrar com suas obras a teoria científica fractal, e por outro lado diferenciam seu trabalho do dos que operam com imagens simplesmente obtidas por meio de programas especiais de computação. No Brasil, pioneiros da Arte Fractal já desde fins dos anos 60 foram Frans Krajcberg, Domenico Calabrone e Maria Bonomi os quais, com vários outros artistas, arquitetos, fotógrafos, músicos e poetas brasileiros e de outras nacionalidades integram o IFAG - International Fractal Art Group, surgido em São Paulo nos anos iniciais da década de 1990. ARTE POSTAL Também chamada Arte Correio, Arte por Correspondência, Arte a Domicílio. Forma de expressão anti-artística, anti-comercial e anti-sistêmica na qual são utilizados desenhos, colagens, textos, xerox, propostas, carimbos, inscrições etc., executados sobre envelopes depois remetidos por via postal a um ou mais receptores. O pioneiro da Arte Postal teria sido Marcel Duchamp em 1916, mas o novo meio surgiria de fato apenas em 1960, nos Estados Unidos, com Ken Friedman e outros componentes do Grupo Flexus. Na década de 1970 inúmeras foram as exposições de Arte Postal realizadas em vários países, inclusive no Brasil, onde em 1975 Paulo Bruscky e Ypiranga Filho realizaram a 1ª Exposição Internacional de Arte Postal. A 27 de agosto de 1976, no auge da repressão militar, abriu-se a II Exposição Internacional de Arte Postal, no saguão do edifício-sede dos Correios em Recife, com a participação de 3.000 trabalhos de artistas de 21 países: fechada pela Polícia minutos depois de inaugurada, seus organizadores Paulo Bruscky e Daniel Santiago foram detidos por três dias, e os trabalhos só liberados 30 dias depois. ARTEÔNICA. Qualquer tipo de produto artístico realizado mediante o uso de recursos eletrônicos de comunicação. O vocábulo aparece no título de uma exposição realizada em São Paulo em março de 1971 na Fundação Armando Álvares Penteado - "Arteônica: o uso criativo de meios eletrônicos nas artes" - apresentada por Waldemar Cordeiro. ASSINATURA. Marca ou sinal pessoal, representado pelo nome do artista, suas iniciais ou mesmo um arabesco ou rubrica, aposto a uma pintura, de modo a lhe particularizar a autoria. O hábito de assinar pinturas aparece tardiamente, no Brasil: com as raríssimas exceções de sempre, irá tornar-se comum somente a partir de fins do Séc. XVIII. Não que os artistas de épocas anteriores não tivessem consciência de sua individualidade, mas porque não os seduzia a posteridade; mesmo porque ou eram religiosos, ou leigos trabalhando para a glória de Deus e dos seus santos, preferindo modestamente o anonimato. A assinatura do grande pintor colonial do Rio de Janeiro Frei Ricardo do Pilar não aparece por exemplo em nenhuma de suas pinturas, mas - uma única vez - em sua Profissão de Fé que é de 1695.

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ATRIBUÍDA. Pintura não assinada que, por motivos ponderáveis de natureza estilística ou histórica, pode ser imputada a determinado pintor. O historiador Valentín Calderon, após demoradas comparações estilísticas, foi levado a atribuir a uma só mão as várias pinturas antigas que ornam ainda hoje a capela-mor da Catedral de Salvador; e como tais pinturas datam do terço final do Séc. XVII, época em que apenas um pintor - o jesuíta Domingos Rodrigues - trabalhou naquele templo, concluiu pela autoria de Domingos Rodrigues para todas aquelas pinturas. AUTO-RETRATO. Uma pintura na qual o artista ele próprio se representou, parcialmente ou de corpo inteiro, isoladamente ou em grupo. Entre os pintores brasileiros que mais produziram auto-retratos é lícito destacar Eliseu d'Angelo Visconti, José Pancetti e Emeric Marcier.

AZULEJARIA. O vocábulo Azulejo, que deriva do árabe al-zullavcha, pedra cintilante, e nada tem a ver, por conseguinte, com azul, designa uma pequena placa de barro cozido, de forma regular, geralmente quadrada, tendo uma das faces esmaltada, com motivos decorativos geométricos ou figurativos, e servindo para o revestimento arquitetônico, em padrões repetitivos ou em painéis representando grandes composições figuradas.

O verdadeiro azulejo, de origem árabe ou bérbere, foi introduzido na Europa através da Península Ibérica e da Itália Meridional ao tempo das grandes invasões islâmicas, encontrando na Espanha, em Portugal, na Itália e posteriormente na Holanda solo propício onde se desenvolver. Em Portugal, os mais antigos azulejos recuam ao Séc. XVI. Monocrômicos, formam arranjos enxaquetados ou enxadrezados. Sucedem-se, a esses azulejos chamados de caixilho, os azulejos de lacaria e rosas, tricrômicos e com ornamentação abstrata. Só do Séc. XVII em diante ocorrem azulejos em azul e branco, que terminariam por se impor quantitativamente.

O criador do azulejo artístico português figurado foi Antonio de Oliveira Bernardes, ativo entre 1690 e 1720, e que criou uma verdadeira escola de azulejaria. À medida que o Séc. XVIII avança, nota-se a crescente influência da azulejaria holandesa de Delft. Por volta de 1740, diminui a utilização dos grandes painéis figurados, verificando-se a retomada de uma azulejaria mais singela. No fim do Setecentos aparecem os azulejos de grinalda e os de rosácea, que sobreviveriam até começos do Séc. XIX. No Oitocentos, finalmente, o azulejo passa a ser produto semi-industrial, estampilhado, com predomínio da ornamentação floral e da coloração policrômica ou azul e branca.

O azulejo português, transplantado para o Brasil, aqui se desenvolveu substancialmente, tendo sido certamente a maior contribuição brasileira à arte do azulejo o revestimento de fachadas e muros externos, porquanto em Portugal os azulejos eram empregados exclusivamente no revestimento interno (Santos Simões). Não admira que a imensa maioria dos azulejos encontrados no Brasil - notadamente na Bahia, em Pernambuco, no Maranhão e no Rio de Janeiro - sejam de origem portuguesa, muito embora Santos Simões tenha encontrado azulejos holandeses figurados no Convento e Igreja de Santo Antonio, em Recife.

Após a Independência começa a importação de azulejos franceses, alemães e belgas, sem que cesse de todo a utilização de peças portuguesas. Por volta de 1861, Survillo & Cia. fabricam, em Niterói (RJ), os primeiros azulejos brasileiros, que gradativamente começam a substituir os estrangeiros na aceitação geral.

Entre os mais belos espécimes de azulejaria conservados no Brasil destacam-se os conjuntos do claustro do Convento de São Francisco em Salvador e da Matriz do Rosário em Cachoeira (BA), os da Capela Dourada e da já citada Igreja de Santo Antonio, em Recife, e da Igreja da Misericórdia, em Olinda (PE); os do Convento de Santo Antonio (PA), e da Igreja da Glória do Outeiro (RJ).

Por longos anos caído em desuso, o azulejo conheceu uma fase de admirável revitalização quando arquitetos como Lúcio Costa, em começos da década de 1940, tentaram restabelecer o uso da azulejaria no revestimento arquitetônico, momento em que Portinari desenhou e Rossi Osir executou os painéis de azulejos para o edifício-sede do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro (OSIRARTE).

CARNAÇÃO. Numa imagem religiosa, a camada de pintura que reveste as partes não-cobertas da anatomia, simulando a cor e a textura da carne humana. A carnação era feita geralmente a óleo, depois polido, por pintores ou por artesãos especializados, os encarnadores. Durante o período colonial, muitos pintores, inclusive dos mais importantes, incumbiram-se, ao lado de obras maiores, de pintura de painéis ou de tetos, de trabalhos de encarnação ou de douramento. Assim, Manoel da Costa Ataíde encarnou em 1805 as imagens de São Roque, Santo Ivo, São Francisco, do Pontífice, de São Luís e de dois Cardeais para a Igreja de São Francisco de Ouro Preto.

CATALOGUE RAISONNÉ. Expressão francesa utilizada internacionalmente para designar o catálogo completo da produção de determinado artista, com indicações como origem, medidas, técnica, natureza do suporte, detalhes de assinatura e datação, bibliografia e ainda outros dados que caracterizem perfeitamente cada obra, da qual é também fornecida uma ilustração fotográfica. No Brasil foram raros até hoje os pintores que mereceram os cuidados de um catalogue raisonné, entre eles Tarsila do Amaral (Aracy A. Amaral) e Pancetti (José Roberto Teixeira Leite).

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COLAGEM. O equivalente em português ao francês collage, termo que designa um recurso fartamente empregado por dadaístas e surrealistas, e que consiste na utilização em pinturas de pedaços de papel ou jornal, bilhetes de metrô, fotografias, cartões postais, cromos e materiais análogos. A força expressiva de uma colagem reside na justaposição inesperada e não raro chocante de imagens ou fragmentos de imagens despojados de seus significados originais, e que por isso mesmo causam, no espectador, um impacto psicológico capaz de, no dizer dos surrealistas, "liberar as fantasias mais recônditas do subconsciente".

CONSERVAÇÃO e Restauração de Pinturas. Chama-se conservação ao conjunto de técnicas e processos destinados a preservar uma pintura contra os fatores que lhe afetam a integridade, abreviam-lhe a duração e terminam por destruí-la; restauração é uma verdadeira cirurgia estética, aplicada na medida do necessário a pinturas já afetadas. O correto tratamento de uma pintura consistirá, por conseguinte, em tentar prolongar ao máximo sua existência física (conservação), mediante um mínimo de intervenção recuperadora (restauração). Esse tratamento é antes de mais nada uma operação de natureza técnica, mas implica também em considerações de ordem estética.

A conservação adequada de uma pintura requer medidas como o controle da temperatura ambiente, da umidade e da exposição à luz, fácil sendo concluir que, no Brasil, onde raríssimos museus dispõem dos recursos necessários para esse tipo de controle, ainda se está muito longe das condições ideais de preservação, só encontráveis em países de avançada tecnologia, como Estados Unidos, Japão, Alemanha, Países Baixos, Bélgica, Itália, Reino Unido e Canadá, entre poucos mais. Quanto às operações de restauro mais comuns citem-se a simples limpeza, a remoção dos vernizes, o retoque, a parquetagem ou consolidação do suporte, a transposição, etc.

A história da conservação e da restauração, no Brasil, abrange um período empírico, que vai do séc. XIX até a criação, em 1947, do Laboratório Técnico do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - confiado a Edson Motta, que concluíra dois anos de estágio na Universidade de Harvard, como aluno de George Stout, R. Gettens e Richard Buck -, e um período a que chamaríamos científico ou técnico, daquela criação até nossos dias. Edson Motta também foi o responsável pela formação de uma nova geração de restauradores, lecionando desde 1951 na então Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro Teoria, Conservação e Restauração de Pintura. Uma lista de profissionais que se destacaram no campo da restauração de pinturas, entre nós, certamente abrangeria, além do próprio Edson Motta, Luís Carlos Palmeira, Fernando Barreto, Marilka Mendes, Carlota Santos, João José Rescala, Jordão de Oliveira, Ado Malagoli, Claudio Valério Teixeira, Sergio Lima, Jair Afonso Inácio, Renzo Gori, Sartori, Thomas Christian Brixa e Marino Cardini.

CONTRAFAÇÃO. É a cópia de uma pintura, apresentada como se fosse a pintura original. A principal característica da contrafação é a utilização de um modelo, imitado em seus mínimos detalhes de técnica, cromatismo, envelhecimento e desgaste, com apelo a suportes e materiais apropriados

CÓPIA. Pintura cuja finalidade é reproduzir servilmente outra, original; quando feita pelo próprio autor da original, chama-se réplica.

Existem diferentes tipos de copistas, desde o aluno que tenta aprimorar-se reproduzindo o original de um mestre, até ao criminoso interessado em impingir como original uma imitação ou cópia. Por outro lado, bons pintores realizaram cópias de célebres originais alheios - caso, por exemplo, de Oscar Pereira da Silva, que copiou o Descanso do Modelo, de Almeida Júnior. Do mesmo modo, antes do advento e da generalização da Fotografia, o único jeito de se obter a duplicação de uma pintura era fazê-la copiar por um pintor, expediente esse que explica o avultado número de retratos de Dom Pedro I, de Dom Pedro II e de outras personalidades imperiais, ainda hoje existentes em óleos não-assinados.

Finalmente, em leilões e antiquários, coleções particulares e até em museus não é incomum encontrarem-se velhas cópias de originais menos conhecidos de famosos mestres europeus, apresentadas como se fossem os originais eles próprios.

COR INEXISTENTE. Efeito tecnicamente controlável de percepção visual de cores em contraste, verificável em função da distância em que se posta o espectador, dos tons de cor primária e da forma que esses assumem em dada pintura. O domínio da cor inexistente deveu-se ao pintor Israel Pedrosa em 1967, após cerca de 15 anos de experimentações com a cor, a partir de 1951. O próprio Israel Pedrosa assim explicou o porquê da denominação:

- A descoberta a que chamei domínio da cor inexistente é o controle prático do fenômeno produzido por uma cor-pigmento em várias gamas, levada ao paroxismo, resultando na produção de uma cor complementar que poderemos chamar de inexistente, se analisada do ângulo da cor-pigmento, pois tal complementar, não tendo sido pintada, não existe como cor-pigmento. Daí sua denominação de cor inexistente em sua utilização estética.

A descoberta da cor inexistente valeu a seu autor o Prêmio Thomas Mann, instituído pela Embaixada da então República Federal da Alemanha, com o qual Israel Pedrosa viajou por esse país, dando palestras e demonstrações práticas.

CURADOR. Neologismo originado do Inglês Curator e de uso corrente em anos recentes no Brasil para designar o profissional, crítico de arte ou teórico, a quem compete a curadoria, ou seja, a concepção, conceitualização, concretização e supervisão geral de uma exposição de arte em seus menores detalhes, incluindo seleção de obras, contato com autores

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ou proprietários, seguro, embalagem, transporte, montagem, divulgação etc., feitos pessoalmente ou o mais das vezes por meio de agentes e pessoal especializado, além do preparo do respectivo catálogo, contendo um estudo crítico introdutório, relação descritiva e reprodução fotográfica de obras expostas, além de outros dados técnicos julgados necessários.

DECORATIVA, Pintura. 1. Diz-se de uma pintura que complementa a arquitetura de uma igreja, de um palácio e assim por diante. Nesse sentido, pode-se falar na pintura decorativa de um José Soares de Araújo, em Minas Gerais, durante o Séc. XVIII. 2. Representação pictórica que se realiza por ocasião de uma grande festividade pública, como um casamento real, uma coroação, uma entrada triunfal, etc. Assim, Jean-Baptiste Debret organizou, em 6 de fevereiro de 1818, a pintura decorativa e mais serviços de ornamentação do Rio de Janeiro, quando da Aclamação de Dom João VI como Rei de Portugal, Brasil e Algarve. 3. Num terceiro significado, esse de natureza depreciativa, diz-se de uma pintura na qual o elemento ornamental, decorativo, supera o expressivo ou o emocional.

DOURAMENTO. Revestimento em ouro de imagens, retábulos, tocheiros, peanhas etc., do qual se ocupavam comumente, durante o período colonial, os pintores artísticos. A 22 de maio de 1823, Manoel da Costa Ataide ajustou pela soma de 1:300$000 a pintura e douramento da Capela da Senhora do Rosário dos Pretos e do altar-mor da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Mariana, trabalho esse concluído a 23 de janeiro de 1826, e que consistiu, no que respeita ao douramento, em raspagem e limpeza da madeira, aplicação de gesso, cola de pelica, nova camada de gesso, pintura à base de tinta fosca, lixamento, aplicação do bolo armênio (argila vermelha), assentamento de lâminas ou pães de ouro e brunidura final

ENCÁUSTICA. Técnica de pintura já praticada no Egito e na Grécia, e que consiste em misturar os pigmentos em cera aquecida (de onde seu nome, do Grego Encaustikos, preparado com fogo), assim aplicando-os ao suporte. Entre suas propriedades acham-se a durabilidade e sobretudo a possibilidade de traduzir maravilhosamente a aparência das formas e cores naturais, de vez que, sendo a cera translúcida, a superfície da pintura assemelha-se quase a uma epiderme humana - o que explica a estranha sensação de vida que ainda hoje se evola dos retratos de múmias achados em Fayyum, no Egito, os quais recuam aos séculos iniciais da Era Cristã. Por outro lado, a pintura a encáustica não se adultera, jamais amarelecendo ou escurecendo, e também não é afetada por craquelures, ou rachaduras.

A fórmula da encáustica perdeu-se durante a Idade Média e foi desconhecida dos pintores renascentistas e barrocos, tendo cabido a Caylus refazê-la, em 1752. Mesmo assim, o processo jamais se tornaria popular, raríssimos tendo sido os pintores que dele fizeram uso - entre eles devendo ser mencionado, no Brasil Eugenio de Proença Sigaud (1899-1979).

ESTOFAMENTO. Numa imagem religiosa, a camada de pintura aplicada para simular a indumentária, opondo-se assim a carnação, que é a pintura em simulação da carne, isto é, das partes desnudas da figura. Era comum, durante todo o período colonial, que os pintores se ocupassem, indiscriminadamente, tanto da pintura propriamente artística, em painéis e tetos, obras de cavalete, etc., quanto de trabalhos de menor importância, dourando retábulos, encarnando ou estofando imagens. O pintor baiano Domingos Duarte de Almeida, por exemplo, que trabalhou entre 1781 e 1819 no Convento do Desterro, em Salvador, ainda nesse último ano recebeu 82$000 pela encarnação, estofamento e douradura de dois anjos tocheiros da capela-mor.

ESTUDO. A primeira versão, geralmente apenas esboçada e em dimensões menores, de uma obra de pintura a que posteriormente o autor dará acabamento. Por sua própria contingência, reveste-se de uma espontaneidade e de uma frescura de execução que nem sempre o original concluído conservará. Os estudos foram muito comuns entre os pintores brasileiros do Séc. XIX e começos do Séc. XX, tombando a seguir em desuso. O Descanso do Modelo, de Almeida Júnior, cuja versão definitiva se acha no Museu Nacional de Belas Artes, foi precedido, por exemplo, por vários estudos, de pequeno formato e não-assinado.

EXPERTISE. Palavra francesa de uso internacional para designar um documento, geralmente escrito à mão no dorso de uma foto em preto e branco, no qual um especialista - perito ou expert - opina sobre a autenticidade de determinada pintura. Tal documento transforma-se assim numa espécie de certidão oficial da obra a que se refere, servindo-lhe de aval, tanto mais válido quanto maior a reputação daquele que o assina.

Uma expertise evitará fazer menção a preços e a contingências de mercado, limitando-se a considerações objetivas sobre a obra em estudo no que se refere a técnica, tema, dimensões, suporte, estado de conservação, características de assinatura e todas as demais que se fizerem necessárias, bem como esclarecerá sobre se tal pintura foi examinada pessoalmente ou através de fotografia, com auxílio de aparelhos e técnicas especiais etc. Freqüentemente, as expertises são fornecidas por historiadores e críticos de arte, professores ou pesquisadores especialmente capacitados a falarem com autoridade sobre determinado pintor, ou determinado período ou escola de pintura, sendo menos confiáveis aquelas expedidas por comerciantes, que se pressupõem interessados.

Obrigatórias em vendas públicas em diversos países, como a França por exemplo, as expertises são ainda facultativas no Brasil, funcionando como garantia de vendas, em casos de avaliações para fins de seguro, partilha etc. Paradoxalmente, já o Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, que organizou a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional e se acha em pleno vigor, fala especificamente na obrigatoriedade das expertises em vendas de obras de arte de qualquer natureza, manuscritos e livros raros ou antigos, estipulando em seu art. 28 e respectivo parágrafo único:

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- Nenhum objeto de natureza idêntica à dos referidos no art. 26 desta Lei poderá ser posto à venda pelos comerciantes ou agentes de leilões, sem que tenha sido previamente autenticado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ou por perito em que o mesmo se louvar, sob pena de multa de 50% sobre o valor atribuído ao objeto. A autenticação do mencionado objeto será feita mediante o pagamento de uma taxa de peritagem de 50% sobre o valor da coisa, se este for inferior ou equivalente a um conto de réis, e de mais cinco mil réis por conto de réis ou fração que exceder.

EX-VOTO. Pintura oferecida por alguém beneficiado por uma intervenção sobrenatural de Cristo, da Virgem Maria ou dos Santos, em memória da graça obtida, e exposta em igrejas ou capelas para edificação dos fiéis.

FAISCADO. Pintura que imita a textura e a aparência do mármore, também chamada mármore fingido. Tais pinturas que fingiam mármore ou pedra foram comuns no período colonial. O baiano José de Souza Aguiar, falecido em 1757, obrigou-se, em setembro de 1749, a executar diversas obras de pintura no cemitério e na Igreja da Ordem Terceira do Carmo, em Salvador, inclusive a pintura das tábuas das bocas das sepulturas com "fingimento de pedra".

FALSIFICAÇÃO. Denominação genérica para qualquer pintura que, mediante meios fraudulentos, tenha sido executada para enganar outras pessoas, passando como obra original. A falsificação compreende diversos gêneros, como a truquage, a contrafação, o pasticho e a chamada falsificação integral, na qual o falsário imagina o tema e o desenvolve, adaptando sua técnica à do pintor que, com finalidade dolosa, deseja imitar.

Tudo quanto possui valor já foi falsificado, pois a falsificação é conseqüência direta da valorização financeira da obra de arte; no entanto, as falsificações pictóricas são de longe as mais numerosas, mesmo porque foi imensa, em todo o Séc. XX, a valorização financeira experimentada pelas pinturas.

Quase sempre, o falsário lança mão de um original, que modifica (truquage) ou copia (contrafação); os falsificadores mais requintados, porém, combinam as diferentes partes de diversos originais (pasticho), enquanto os de gênio, como Dossena, Bastianini ou Van Meegeren, a tal ponto assimilaram o estilo do artista e da época que o viu trabalhar, que quase chegam a criar, como se agissem mediunicamente.

É mais fácil falsificar pinturas modernas - posteriormente a 1900 por exemplo - do que antigas, pois o falsário utiliza, nas modernas, materiais e técnicas que lhe são familiares. Para as pinturas tanto modernas quanto antigas existem porém numerosos testes físico-químicos capazes de desmascarar o engodo, a começar pelo exame dos pigmentos utilizados - que proporcionam já um método de datação adequado -, pelo aspecto das rachaduras da camada pictórica e pelo teor de oxidação das tintas, chegando à análise à luz infravermelha ou ultravioleta, à radiografia etc.

No Brasil são numerosíssimas as falsificações de pinturas, e já Olavo Bilac, numa crônica de 1904, afirmava a existência de bom número de falsos Castagnetos, a quatro anos de distância do falecimento do célebre marinhista. Uma lista de pintores brasileiros que se têm revelado os favoritos dos falsários incluiria decerto, além do já citado Castagneto, nomes como os de Pancetti, Guignard, Di Cavalcanti, Bonadei, Djanira, Volpi, Portinari e - entre os mais antigos - Visconti, Batista da Costa e Parreiras.

FANTÁSTICA, Pintura. Segundo o velho Dicionário Técnico e Histórico de Assis Rodrigues, publicado em Lisboa em 1875 e ainda hoje digno de consulta, por Fantasia deve-se entender, em Belas Artes, "uma composição fantástica, nascida da imaginação caprichosa dos artistas, sempre mais ou menos fundada nos objetos da natureza. Daqui as produções singulares do gênio, como os ornamentos de capricho, as caricaturas, os grotescos, etc., por onde é costume dizer-se que tal artista é pintor de fantasias". De onde se conclui que fantástico deriva de fantasia, palavra que vem do Grego phantozomaí, facilidade de imaginação. É portanto pela imaginação que o pintor, partindo da realidade, atinge o fantástico, que outra coisa não é senão a ruptura da ordem natural, a subversão da lógica e do racional.

FOTO-PINTURA. Uma fotografia ampliada que, retocada a óleo, guache ou pastel e colada sobre tela, dá a nítida impressão de uma pintura. Foi processo grandemente usado no Brasil, nos primórdios da arte fotográfica entre nós. Assim, num anúncio de janeiro de 1858, estampado no Correio Mercantil do Rio de Janeiro, Joaquim Insley Pacheco, fotógrafo e pintor, a ele se refere neste termos:

- O ilustrado público pode visitar no nosso estabelecimento de ambrótipo um retrato sobre vidro por esse método, o qual reúne todas as vantagens da fotografia às da pintura a óleo, de tal perfeição que nem a máquina de Daguerre por si só, nem o pintor só com o pincel, pode conseguir tal semelhança, tanta finura de contornos nem tanta beleza. A isto acresce que se pode obter um retrato perfeito, igual ao do mais excelente pintor por um preço bastante módico.

Novo anúncio publicado em 1862 num periódico do Rio de Janeiro, esse da Chaix Photographia, referia-se a "retratos fotográficos sobre tela de pintor, coloridos a óleo de tamanho natural". Nessa oficina, aliás, trabalhou, entre 1866 e 1870, o pintor José dos Reis Carvalho, que fora aluno de Debret e se notabilizara como autor de naturezas-mortas e flores.

Vários outros pintores se dedicaram a colorir fotografias, entre eles Ernst Papf e Henri Langerock, Auguste Moreau e Steffen. Tratava-se na maior parte dos casos de realçar cores em retratos, muito embora também ocorressem foto-pinturas

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decorativas, como as obtidas por Carlos Hoenen em São Paulo, com a ajuda do pintor vienense F. Piereck, conforme se lê no número de 30 de abril de 1878 de A Província de São Paulo:

- Chama-se a atenção dos Srs. amadores das Belas Artes para um quadro feito neste estabelecimento, o qual é destinado para embelezar o teto da sala de jantar do novo e grande hotel do Sr. Glete, da rua de S. Bento. É obra própria para decorar as salas de luxo dos Srs. proprietários de palacetes.

A voga das foto-pinturas foi tão grande, que em 1866 o próprio Vítor Meireles, analisando a II Exposição Nacional, sentiu-se na obrigação de se pronunciar sobre as mesmas, fazendo-o nesses termos:

- Trata-se da arte de fazer um retrato a óleo de dimensão natural, sem grande incômodo para a pessoa que deseja ser retratada, sendo bastante o tempo indispensável de alguns minutos, a fim de obter-se unicamente um retrato nas dimensões de um cartão de visita, que depois serve para reprodução em grande, sobre papel ou diretamente sobre a tela. Este primeiro trabalho obtido é entregue ao pintor que, considerando-o já como um esboço, encarrega-se de colorir. Esta arte de retratar, que está hoje tão em moda, tem desgraçadamente de contribuir para o regresso da verdadeira arte, a qual só deveria ser exercida segundo os seus indeclináveis preceitos. Por este novo meio conhecido pelo nome de foto-pintura foram executados todos os retratos, que ali vimos expostos entre a fotografia, e que, se algum merecimento podem ter é certamente devido ao pintor, e não ao fotógrafo.

FUNK ART ("Arte fétida"). Expressão inglesa de uso no jargão artístico internacional e a princípio aplicada para designar um tipo de arte produzido nos meados dos anos 50 por Bruce Connor e outros artistas norte-americanos ativos na área de San Francisco; tem sido em época mais recente utilizada, no Brasil inclusive, para caracterizar trabalhos híbridos de pintura e escultura que combinem ou empreguem materiais insólitos ou bizarros, enfocando não raro temas repulsivos, escatológicos ou francamente pornográficos.

GRAFFITI. Inscrições, desenhos ou pinturas feitas em muros e paredes, geralmente de logradouros públicos. Os primeiros graffiti surgiram nos últimos anos da década de 1960, nos Estados Unidos da América, de onde se propagaram para as principais metrópoles do mundo ocidental - do Brasil inclusive. Primo pobre da arte muralista, dificilmente enquadráveis - como ela - na categoria de grande arte, os graffiti caracterizam-se pela liberdade bem-humorada de leitura e pelo apelo ao onírico e ao fantástico, atingindo não raro aquela co-Realidade a que se refere o critico Olívio Tavares de Araújo:

- Também na mesma linha estão alguns dos grafiteiros que, numa vigorosa floração, invadem nos últimos anos os muros das grandes capitais. Mas mesmo entre os grafiteiros, pode-se notar uma alta incidência poética de fantasia, humor e evasão. E parece-me que, mais do que reivindicar ou protestar, a tendência dominante hoje, no país, entre os artistas que procuram sair do cavalete e ampliar seu circuito de audiência, é a de intervir no espaço urbano com a intenção de nele instalar uma co-Realidade.

Afastados do circuito tradicional da arte, voltando as costas ao mercado e à crítica, os grafiteiros são guerrilheiros estéticos que se recusam a atuar nos estreitos limites da galeria ou do museu, necessitando do espaço urbano para realizarem seu trabalho. Do mesmo modo, dispensam o connaisseur, o colecionador ou o aficionado, para se dirigirem diretamente ao cidadão comum, por isso utilizando imagens do quotidiano - aparelhos eletrodomésticos por exemplo - e lançando mão de uma estética popular urbana. Autênticos marginais da pintura, dispensam até mesmo o patrocínio de empresas particulares ou de organismos oficiais - ao contrário, por exemplo, dos muralistas urbanos -, preferindo manter sua independência a todo custo.

No Brasil, foi compreensivelmente São Paulo a cidade onde os grafiteiros mais se sentiram à vontade, e ali também foi que surgiram, desde fins da década de 1970, os principais representantes do gênero, inclusive o mais típico deles - Alex Vallauri, o qual, chegando ao Brasil em 1965, daria início em 1978 a uma série de pichações a spray de silhuetas de cupidos, acrobatas e bruxas, ao lado de intrigantes botas pretas de cano longo e salto pontiagudo, televisão, guitarras elétricas ou telefones, imagens - diz Maurício Villaça - "de símbolos que estão no inconsciente coletivo". A participação de Vallauri na 18º Bienal de São Paulo, em 1985, com sua divertida manifestação ambiental Festa na Casa da Rainha do Frango Assado, seguida pouco depois pelo precoce desaparecimento do artista, em 1987, tiveram o dom de congregar uma legião de novos grafiteiros, exercitando-se sob os viadutos e à margem dos muros em comoventes homenagens à memória de seu paladino. O sucesso do personagem criado por Alex Vallauri foi tamanho, que a Rainha do Frango Assado deixou sua condição visual de representação bidimensional ou plástica para se transformar em bem sucedida personagem teatral.

GUACHE. Técnica de pintura similar à da aquarela, mas na qual as cores são opacas e mais encorpadas. Também ao contrário da aquarela, na qual as pequenas partículas de pigmento diluídas em água penetram nas fibras do papel, o guache forma uma camada sobre o suporte, já que a densidade dos pigmentos impede a penetração por entre as fibras. Os brancos e de modo geral as colorações cremosas são obtidos com o emprego de pigmentos brancos, em geral branco de zinco. Não é incomum, por outro lado, que o artista utilize, num mesmo trabalho, o guache, a aquarela e o pastel.

HAPPENING. Vocábulo inglês de uso recente no jargão artístico internacional, para designar um acontecimento (happening) que sintetize teatro e artes visuais numa ação em parte planejada, em parte improvisada, e com participação

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ativa dos espectadores. Os happenings surgiram em Nova Iorque, por volta de 1957, e eram a principio a extensão, no tempo e no espaço, da improvisação reinante no Expressionismo Abstrato, tendo também desempenhado papel primordial na evolução da Pop Art. O compositor John Cage, com suas teorias sobre o acaso, foi uma das grandes influências que determinaram o aparecimento do gênero - que se diferencia do teatro pela ausência completa de narrativa. No Brasil, o primeiro happening passa por ter sido o organizado em 1963 por Wesley Duke Lee no João Sebastião Bar, de São Paulo, com o título "Atração da Ambigüidade".

INDÍGENA, Pintura. Muito embora seja com alguma freqüência executada sobre couros, esteiras, abanos e outras superfícies, a pintura dos indígenas brasileiros utiliza como suporte predileto o próprio corpo humano, que assim se vê embelezado pela aplicação de padrões decorativos de infinita variedade, com predomínio absoluto das estilizações geométricas.

Arte eminentemente feminina, a pintura corporal chegou a ter seus expoentes, cuja memória é reverenciada pela tribo. Darcy Ribeiro menciona uma famosa pintora Kadiweu, Anoã, a quem conheceu sexagenária, cercada do respeito da comunidade. No passado, a pintura corporal era também praticada pelos kudina - homens que assumiam a condição de mulheres, chegando a se casar com outros homens -, e persistem padrões decorativos que seriam típicos dos kudina.

Os melhores pintores índios são certamente os Kadiweu, cuja arte impressionou todos os antigos naturalistas de passagem pelo Brasil, e que aparece já em 1560 reproduzida numa xilogravura de Ulrich Schmmidel. Mas várias outras tribos - como os Karaja, os Kayabi, os Timbira - destacaram-se também nessa atividade.

As cores empregadas reduzem-se a umas poucas tonalidades: vermelho, à base de urucum, negro, obtido do sumo do jenipapo, e branco, de tabatinga, são as mais utilizadas. O sumo do jenipapo, por entranhar-se fundamente na epiderme, empresta-lhe uma tonalidade negra que não empalidece senão ao cabo de semanas.

As pinturas são feitas individualmente sobre a pele, embora certas tribos possuam rolos ou carimbos com os quais produzem os padrões.

KITSCH. Palavra alemã de uso relativamente recente no vocabulário das artes visuais. Deriva do verbo verkitschen, vender abaixo do preço, e é empregada em contextos tão divergentes, que se torna problemática sua exata conceituação. De acordo com o The Thames and Hudson Dictionary of art Terms (Londres, 1984), é o produto artístico massificado, que macaqueie os padrões estéticos da cultura superior. Nesse sentido, as novelas de televisão, Esther Williams em Escola de Sereias e certas telas de fins do Séc. XIX podem ser consideradas corno típicos produtos Kitsch. Ao Kitsch - que surge com o Romantismo, na aurora das sociedades de consumo e altamente civilizadas da Europa -, acham-se indelevelmente relacionados conceitos como o de mau gosto (Eco), sentimentalismo, felicidade burguesa (Moles), irrealidade e inautenticidade ou imitação barata. Alguns exemplos de Kitsch na pintura brasileira incluiriam possivelmente o imenso pano-de-boca do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, obra de Eliseu d'Angelo Visconti, ou o célebre tríptico da Faiseuse d'Anges, de Pedro Weingãrtner, na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Por outro lado, alguns pintores contemporâneos brasileiros utilizaram criticamente o kitsch - caso, por exemplo, de Rubens Gerchman, em obras da década de 1960, como Um Amor Impossível - A Bela Lindonéia de 18 anos morreu instantaneamente, O Rei do Mau Gosto etc.

Em 1984, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, o crítico de arte Olney Krüse organizou a I Exposição Nacional do Kitsch, reunindo objetos de sua própria coleção.

MONOTIPIA. Processo artístico a meio caminho entre a gravura e a pintura e participando da natureza de ambas. Consiste em pintar a óleo ou por outro qualquer meio sobre uma superfície lisa, geralmente uma placa de vidro. Colocando-se uma folha de papel sobre a pintura assim produzida, e calcando-a úmida ainda contra a matriz, obter-se-á uma única imagem, invertida, na folha (daí o nome monotipia). Inúmeros pintores brasileiros utilizaram com felicidade a monotipia, entre eles Portinari e Graciano.

MOSAICO. Composição pictórica formada por diminutas pedras multicoloridas de aspecto brilhoso (tesserae), que se incrustam numa parede. É técnica antiquíssima, que já existia na Mesopotâmia em 3.500 a.C., foi muitíssimo praticada em Grécia e Roma e conheceu sua fase de maior esplendor na Itália e em Bizâncio, depois que Constantino concedeu aos cristãos liberdade de culto. São admiráveis os conjuntos musivos ainda hoje conservados em Ravena e Istambul (Sécs. V e VI), Monreale, Palermo e Veneza (Séc. XII).

Considerada autêntica pintura para a eternidade, em face da durabilidade dos seus materiais, o mosaico seria progressivamente abandonado à medida que, principalmente na Itália, os artistas iam desenvolvendo as novas técnicas do buon fresco e do fresco; por volta da segunda metade do Séc. XV o gênero praticamente deixara de ser cultivado.

Tentativas de revitalização do mosaico ocorreram em pleno Séc. XX, graças a pintores como o italiano Gino Severini, autor, a partir de 1922, de uma série de trabalhos musivos em igrejas de França e da Itália. Foi justamente com Severini que uns poucos artistas brasileiros - como Antonio Carelli, Luís Carlos Palmeira e Plínio Lopes Cipriano - aprenderam a técnica do mosaico em começos da década de 1950, em Paris. Foram porém nulas todas as suas tentativas no sentido de

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popularizarem entre nós a arte musiva, permanecendo essa técnica como simples recurso de ateliê, sem maiores conseqüências no revestimento decorativo. Mesmo assim, existem alguns raros exemplos de utilização moderna de mosaicos em edifícios brasileiros, tendo sido executada nessa técnica a avantajada decoração mural de Di Cavalcanti na fachada principal do Teatro Cultura Artística, em São Paulo.

MURAL, PINTURA. Uma das grandes subdivisões da pintura, opondo-se, nesse sentido, à pintura de cavalete. A pintura mural é eminentemente arquitetônica e de caráter social, integrando-se à superfície de uma parede com finalidade decorativa, ilustrativa ou didática. Quando aplicada diretamente à parede, a pintura mural requer o emprego de técnicas que vão desde o mosaico ao secco, ao fresco, ao silicato de etila (que aderindo ao concreto possibilita a execução de murais externos), ao duco, ao acrílico, à piroxilina, etc.; se, contudo, a pintura deva antes ser executada sobre um suporte de madeira ou tela depois afixado a um muro, as técnicas usuais da pintura de cavalete - óleo, têmpera, etc. - podem ser utilizadas.

MURALISMO URBANO. Expressão que, na ausência de outra mais precisa, designa certas pinturas executadas nas superfícies externas de edifícios - seja por um artista, seja por vários, ou mesmo por indivíduos sem treinamento profissional -, para lhes disfarçar ou atenuar a aridez ou feiúra ou para dissimular sua verdadeira função. Esses murais urbanos costumam ocorrer nos mesmos locais preferidos pelos grafiteiros - geralmente paredes de velhos prédios, ou de edifícios mesmo novos que se caracterizem por sua indistinção, situados em pontos amorfos da cidade, que assim avivam por seu colorido, pelo inesperado de sua presença e de sua figuração. Os murais urbanos, que necessitam de vastos recursos financeiros para sua concretização, não dispensando portanto o patrocínio, destacam-se tematicamente por certa tendência ao insólito e tecnicamente pelo emprego de cores chapadas de vivos matizes, para fácil visualização.

OBRA DE ESTÚDIO. Também dita de ateliê, ou de oficina, é uma pintura, de qualidade inferior, feita no estúdio de determinado pintor, sob sua direção e a partir de seus esboços originais, por um ou mais ajudantes. Vários painéis de Cândido Portinari foram realizados com emprego de ajudantes, entre os quais devem ser mencionados pintores de fôlego como Graciano, Mário Gruber, Enrico Bianco e Otávio Araújo, sendo por conseguinte obras de estúdio. Também Di Cavalcanti utilizou ajudantes até na execução de muitas pinturas de cavalete, assinando-as mais tarde como obra exclusiva.

PALHETA. Utensílio portátil, geralmente de madeira e podendo assumir variados formatos (predominando o retangular e o cordiforme do tipo "Diaz"), sobre o qual o pintor distribui e mistura suas cores; por extensão, chama-se de palheta de determinado pintor as cores de que usualmente se utiliza, o que se pode verificar pelo exame dos seus quadros.

PASTEL. Técnica de desenho que consiste em utilizar giz artificial colorido sobre suporte de papel, papelão ou cartão, com a obtenção de efeitos tanto gráficos quanto "pictóricos". Os desenhos produzidos a pastel devem ser fixados, sob pena de se desintegrar ao mínimo toque ou impacto.

PASTICHO ou PASTICHE. Uma pintura cujo autor selecionou na obra de outros pintores os elementos com que plasmar seu próprio trabalho, que assim se revela amaneirado e sem originalidade. Uma imitação ou arremedo do estilo de outro pintor, evidentemente sem grande expressão nem qualidade. Uma falsificação que combina elementos tirados de várias pinturas autênticas de um dado pintor.

PICTÓRICO. Termo posto em circulação pelo célebre historiador de arte alemão Heinrich Wöllflin, em seu livro de 1915 Princípios de História da Arte: o pictórico opõe- se ao linear, e descreve a tradução das massas em termos de cor, tom, luz e sombreado.

Também poder-se-ia fazer uma distinção entre pictórico e pitoresco: pictórico é o que é próprio à pintura, o que só em linguagem de pintura pode ser externado, ao passo que pitoresco seria, como o definiu Aurélio Buarque de Holanda, o "graciosamente original". O vocábulo pitoresco, aliás, no seu sentido original equivalia ao atual pictórico, e assim o utilizou por exemplo Cyrillo Volckmar, ao escrever:

- No seu primeiro estilo, menos acabado e mais pinturesco, são feitos os dois painéis que estão em São Roque.

Do mesmo modo, tanto Debret quanto Rugendas utilizaram o vocábulo - pittoresque, Malerische - na sua acepção de pictórico, no título de suas Viagens pitorescas ao Brasil publicadas em começos do Séc. XIX.

PLÁGIO. A utilização não-assimilada de motivos ou elementos derivados de uma pintura alheia. Na história da pintura brasileira, as acusações de plágio têm sido mais ou menos comuns, quer no passado como no presente, e assim é que no Séc. XIX tanto a Primeira Missa no Brasil, de Vítor Meireles, quanto a Batalha do Avaí, de Pedro Américo, não escaparam a essa pecha, dizendo seus detratores que não passariam de plágios respectivamente de Une Messe en Kabilie, de Horace Vernet, e da Bataille de Montebello, de Gustave Doré. Essa acusação a Pedro Américo, feita em 1879, parece ter calado fundo na alma do artista, que só um ano depois publicaria em francês o Discurso sobre o plágio na literatura e na arte, a pretexto de comentar a imputação de plagiário havia pouco lançada em Paris ao dramaturgo Victorien Sardou.

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Já no Séc. XX, sucederam-se os casos de alegado plágio, tendo o mais trágico deles ocorrido com o jovem pintor Gaspar Puga Garcia, contemplado com o prêmio de viagem ao estrangeiro no Salão de 1911 com uma pintura, Pastor da Arcádia, que não seria senão um plágio de um original de Amoedo. Vítima de terrível campanha, Puga Garcia terminaria por suicidar-se, enforcando-se em seu ateliê. Muitos anos mais tarde, em seu livro autobiográfico Viagem da minha Vida, Di Cavalcanti, que era um menino quando o conheceu, assim se referiria ao rumoroso caso:

- Sempre desconfiei da acusação que lhe fizeram: talvez fosse injusta. Aliás, no Brasil, é coisa comum, entre pintores, plagiar, e há legítimas glórias nacionais que são os melhores plagiários do mundo.

Mas mesmo Di Cavalcanti, Portinari e outros pintores contemporâneos foram vez por outra acusados de plagiários. Assim, numa entrevista concedida em 1984 Roberto Burle-Marx não hesitou em insinuar:

- Eu vi uma exposição aqui, onde tinha vários Picasso, o que me deixou muito impressionado. Foi logo depois da Guerra e trouxe uma repercussão muito grande. Eu me lembro que Portinari levou um Picasso para casa e depois começaram a aparecer uma série de quadros com as mesmas poses e cores...

PLEIN AIR. Expressão francesa de uso internacional para designar uma pintura (e sobretudo uma paisagem) executada ao ar livre e não no interior de um ateliê. O pleinairisme surgiu em começos do Séc. XIX com os paisagistas ingleses Constable e Bonington, e a partir de Jongkind, Boudin e dos impressionistas tornou-se procedimento usual entre os paisagistas.

REGRAXO. Processo ou técnica de pintura pelo qual se aplica, a uma camada prévia dourada ou prateada, uma segunda camada de tinta, de tal forma que o dourado ou o prateado se destaquem do fundo. A técnica do regraxo foi muito empregada até o séc. XIX na pintura de imagens.

RÉPLICA. É a repetição ou a duplicação de uma pintura feita pelo próprio autor. Difere por isso da mera cópia, que é a duplicação de original alheio. As réplicas, mesmo as mais fiéis, revelam menor liberdade de fatura e sinceridade de expressão que os originais que reproduzem. Há, todavia, réplicas que se afastam deliberadamente em certos detalhes dos originais: são as chamadas réplicas com variações, ou variantes. Exemplo de pintura da qual existem réplicas é o Descanso do Modelo, de Almeida Júnior.

RETRATO. Representação pictórica de um indivíduo ou mais (retrato individual, retrato coletivo ou de grupo). Quase sempre limita-se a enfocar o ser humano no que tem de mais expressivo e particularizável - o rosto, observado de perfil, de face ou, combinadas uma e outra visões, voltado a três quartos; mas ocorrem também retratos de corpo inteiro, da cintura ou dos ombros para cima, eqüestres, etc. Quando reproduz a própria imagem do autor, chama-se auto-retrato; se é imaginário se busca recriar idealmente os traços fisionômicos de personagens dos quais somente restaram descrições literárias (por exemplo: um retrato imaginário do Aleijadinho). Gênero antiquíssimo - os retratos naturalistas das múmias de Fayum recuam ao primeiro século da Era Cristã -, na Idade Moderna continuou desempenhando sua função de resguardar a aparência das pessoas notáveis, de modo a lhes garantir a sobrevivência post-mortem; por isso os primeiros retratos representavam reis e príncipes, militares e conquistadores, lideres políticos e legisladores, chefes religiosos, etc., quase sempre em atitudes, envergando trajes ou ostentando símbolos e atributos capazes de lhes caracterizar nitidamente a elevada posição social. Nos retratos que se limitavam a reproduzir o rosto, buscou-se de início a imagem de perfil, delineando-se cuidadosamente o contorno da cabeça, com a obtenção de efígies do tipo das que ainda hoje só ocorrem em moedas ou medalhas. Assim, muitos dos melhores retratos renascentistas são perfis de homens e de mulheres ilustres, traçados com vigor e sensibilidade inexcedíveis. Passou-se mais tarde à representação frontal, que possibilitou maior minúcia no detalhamento dos traços do rosto e uma expressividade mais refinada. Finalmente tentou-se incutir animação e volumetria à imagem, conjugando-se perfil e visão frontal, tudo realçado pela perspectiva recém-desenvolvida, que possibilitava ao retrato habitar um espaço ou cenário particular. Por todo o Séc. XV a regra foi o retrato que somente enfocava cabeça ou rosto do retratado; no Séc. XVI, porém, começaram a surgir os retratos de corpo inteiro, ou então, como símbolos de autoridade e liderança, insuperáveis retratos eqüestres, alguns em tamanho próximo ao do natural. Pela mesma época manifesta-se a tendência oposta: o retrato miniaturizado, criado por Holbein a partir da antiga arte da miniatura, e no qual tanto iriam destacar-se os ingleses. No Séc. XVII, notadamente nos Países Baixos, o retrato deixará de ser privilégio dos nobres para realçar os êxitos da burguesia enriquecida no comércio. Ao mesmo tempo, e como tradicionalmente muitos retratos eram produzidos aos pares - rei e rainha, marido e mulher – e de tal modo que o segundo plano de cada pintura parecia prosseguir no da outra, formando assim um cenário continuado, despontam os retratos coletivos - famílias, militares, corporações, etc. -, dos quais o exemplo mais notável é decerto a assim chamada Ronda Noturna, de Rembrandt. Foge evidentemente aos limites do presente verbete o estudo da evolução do retrato na pintura ocidental. No que respeita ao Brasil, os mais antigos retratos recuam ao Séc. XVII. O gênero, como escreveu Hannah Levy, constitui "ao lado da pintura religiosa decorativa, a parte mais numerosa do patrimônio artístico brasileiro do período colonial". As Santas Casas de Misericórdia, conventos e irmandades de Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo conservam um acervo respeitável desses anônimos retratos coloniais, a maior parte representando fundadores, benfeitores, provedores, grandes beneméritos e outros personagens grados além de prelados, letrados, etc. Raríssimos são os retratos familiares como o de Teodoro Gonçalves da Silva e sua mulher, da Santa Casa da Misericórdia de Salvador; quanto a retratos de mulheres e crianças só iriam ocorrer Séc. XIX, talvez porque na sociedade colonial brasileira, como observou Gilberto Freyre, "esposas e filhos se achavam quase ao mesmo nível dos escravos". Além dos mencionados retratos de irmãos de confrarias e de ordens terceiras, devem ser citados os retratos de vultos destacados da administração civil e religiosa, constituindo uma classe à parte os retratos da família real portuguesa. Como norma, os retratados aparecem de

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pé, figurados de corpo inteiro em dimensões pouco aquém das naturais, em atitudes estáticas, rígidas e convencionais, não demonstrando qualquer sinal de emoção ou vida subjetiva, sendo essa apatia ou severidade mais acentuada pelo colorido sombrio e terroso. Quanto à composição é sempre muito simples, ocupando o retratado o exato centro do espaço pictórico, no primeiro plano, enquanto o segundo é valorizado por um detalhe de interior - cortinado ou móvel -, quando não por uma abertura de janela, através da qual vê-se ao longe algum detalhe paisagístico. Categoria bem distinta de retrato colonial é o chamado retrato de erudito, no qual o retratado é representado apenas em busto, quando não sentado, visto a três quartos. Esses retratos são quase todos de religiosos, que aparecem lendo ou escrevendo, em meio a livros e utensílios de escrita, tendo a fisionomia grave e concentrada e freqüentemente, perto de si, sobre a mesa ou carteira, a borla de doutor. São exemplos de retratos de eruditos o do Padre Antonio Vieira, no Colégio São Luís de São Paulo, e o do Bispo D. José Caetano da Silva Coutinho da Igreja de São Francisco de Paula no Rio de Janeiro, esse atribuído a José Leandro de Carvalho. Comparados a tais retratos por assim dizer burgueses ou plebeus, os retratos da família real, dos membros da nobreza e da alta administração possuem maior majestade ou dignidade, prendendo-se, como ressaltou a já mencionada Hannah Levy, ao "estilo internacional barroco e grandiloqüente do retrato, tão de gosto dos príncipes absolutistas". Destacam-se, nesse tipo de retrato por assim dizer oficial, a atitude nobre do modelo, seu vestuário opulento, o altivo olhar, etc. etc.

Do ponto de vista do estilo, os retratos coloniais brasileiros - sejam os de nobres, sejam os de plebeus - continuam, em pleno Séc. XVIII, a tradição seiscentista lusitana, calcada, por sua vez, em anteriores modelos italianos, franceses ou flamengos. A partir do Séc. XIX, contudo, o gênero irá conhecer novos rumos sob o influxo das concepções estéticas introduzidas em 1816 no país pela Missão Artística Francesa. Assim, a uma plêiade de retratistas coloniais que inclui José de Oliveira Rosa, Manuel da Cunha, Leandro Joaquim, José Leandro de Carvalho e Francisco Pedro do Amaral, sucedem-se os artistas franceses da Missão de 1816 e seus discípulos e continuadores, alguns dos quais - como os próprios Nicolas-Antoine Taunay e Jean-Baptiste Debret, e ainda Simplício de Sá, Souza Lobo e Manuel de Araujo Porto-alegre - iriam alcançar notoriedade, além de iniciar no gênero artistas das gerações mais novas, como Augusto Müller, José Correia de Lima ou Joaquim Lopes Cabral Teive.Também a partir de começos de Oitocentos diversos foram os retratistas europeus que atraídos pelo Brasil fixaram-se no Rio de Janeiro, onde chegaram a construir carreira e fortuna. Alguns dos mais conhecidos retratistas europeus do tipo foram os franceses Barandier, Jules Le Chevrel e Auguste Petit, os alemães Krumholz e Ernst Papf e o italiano Cicarelli.

No período que vai da Regência até a Proclamação da República, disse Araújo Viana, bastaria, para estudar a evolução da pintura no Brasil, "tomar como elemento inicial ou fundamental a efígie do imperador menino, adolescente, imberbe, com pouca barba, completamente barbado, e encanecido; o imperador, em to- dos os tempos, com todas as idades". Na verdade, aí estão ainda hoje os numerosíssimos retratos de Dom Pedro II a atestarem a predominância de um gênero e a predileção por um modelo! Foi ao longo desse período que trabalharam muitos dos melhores retratistas brasileiros, embora raros fossem aqueles que se entregassem ao retrato como especialidade ou com exclusividade. Ao contrário: para muitos pintores de história ou paisagistas o retratismo funcionava, ao lado do magistério, como uma espécie de derradeiro recurso ou ganha-pão com que enfrentar o descaso de uma sociedade culturalmente tacanha, que no que respeitava às Belas Artes somente tinha olhos para apreciar a própria imagem reproduzida com fidelidade em óleos "tirados do natural"! Por isso é que são tão numerosos os retratos de um Vítor Meireles ou de um Almeida Júnior por exemplo: porque lhes propiciavam recursos materiais, no longo intervalo entre as encomendas oficiais, quando as havia, ou quando o permitiam as intermináveis aulas na Academia ou no ateliê. O retrato experimentaria nas duas últimas décadas do Séc. XIX novo surto de prestígio, chegando a se tornar um dos gêneros favoritos da Belle Époque. Nesse momento, ver-se representado em tela por um dos numerosos mestres em voga tornou-se a aspiração maior de todo comerciante bem-sucedido. É que possuir seu retrato na sala de visitas, para negociantes de prosperidade recente, dava-lhes uma confortável sensação de segurança, como se nele vissem não a própria imagem, mas a de algum ilustre antepassado. Carentes de tradição, inauguravam sua própria dinastia; e se não dispunham de brasões, sobravam-lhes em contrapartida os cifrões. Os homens, de preferência em interiores sombrios, rodeados de bens materiais, símbolos do seu status, e as mulheres, ataviadas em bizarras vestimentas e ostentando extravagantes chapéus, proporcionavam aos pintores alambicados retratos, nos quais uma técnica às vezes brilhante mal disfarçava a superficialidade do sentimento. Não que faltasse talento aos pintores: é que aos retratados o que importava era unicamente a semelhança, o parecido, capaz de os tornar imediatamente individualizáveis, numa época de feroz individualismo. A isso, força é dizê-lo, prestavam-se docilmente os artistas - mediante, é claro, vultosos pagamentos, que a alguns deles possibilitaria ingressar com o passar dos anos, naqueles fechados círculos sociais a que coniventemente serviam com os pincéis. Tais retratos compõem, como um todo, o retrato maior de uma sociedade fútil, cujo maior interesse cultural resumia-se a, em dias de Salão, comparar face a face retrato e retratado, tudo sob o olhar complacente e cúmplice dos artistas.

Os retratistas europeus da Belle Époque - Bonnat e Carolus Duran, Boldini e Sargent, La Gandara e Clairin, entre tantos outros - criaram um tipo de retrato mundano que os pintores de outros países, do Brasil inclusive, imitariam. Nossos críticos da Belle Époque referem-se com freqüência a "retratos de cold-cream e veloutine", a "adoráveis cabeças penteadas com chic" ou a retratos "temperados com chocolate", como que a sublinhar o artificialismo que os dominava. Citemos, entre os principais retratistas do período, os nomes de Eliseu Visconti, Latour, Décio Vilares, Rodolfo Chambelland e Lucílio de Albuquerque.

A partir da irrupção do Modernismo restringiu-se gradativamente a prática do retrato, que sem embargo ainda teria cultores extraordinários em pintores como Lasar Segall, Guignard, Cândido Portinari, Pancetti e Emeric Marcier, entre outros.

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DISCIPLINA HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN – PROF. ROGERIO LIMA 40

SANGUÍNEA. Técnica de desenho que consiste em utilizar, sobre um suporte de papel, giz ou lápis à base de óxido vermelho de ferro, com a conseqüente formação de traços encorpados de grande maciez e característica coloração rubra. Também são denominadas sangüíneas os desenhos assim produzidos.

TACHISMO. Neologismo derivado do francês tachisme (de tache, mancha) que designa, de modo aliás incompleto, um tipo de pintura não-figurativa surgido na década de 1950 em França, nos Estados Unidos e em outros países ocidentais, muito sob a influência da caligrafia japonesa. O tachismo procura criar tensões dinâmicas através da manipulação inconsciente de manchas de cor, que por sua vez produzem no espectador um impacto emocional. Por seu aspecto dinâmico a tendência recebeu, nos Estados Unidos, o nome de action painting, mesmo porque, para o pintor tachista, o gesto é mais importante até do que a técnica, o virtuosismo de desenho e de pintura. Situando-se no avesso do não-figurativismo geométrico, o tachismo é uma das grandes vertentes da chamada arte informal. Seus representantes mais típicos foram, na Europa e nos Estados Unidos, Wols, Hartung, Pollock, Sam Francis, Alan Davie, Mathieu, Tapies, Cuixart, Feito, etc.; no Brasil praticaram-no com constância e proficiência variáveis Manabu Mabe, Fukushima, Sheila Brannigan, Laszlo Meitner e vários outros.

TAPEÇARIA. Trabalho de agulha destinado a adornar, forrar ou revestir uma parede - nisso, aliás, distinguindo-se do tapete, para o chão -, cuja decoração naturalista, estilizada ou abstrata nasce dos próprios fios que se entrecruzam, sem utilização adicional de bordados. Verdadeira pintura têxtil, emprega como matéria-prima a lã, o algodão, a juta e outros materiais, em suas tonalidades naturais ou tintados com pigmentos de origem animal, vegetal, mineral e, mais recentemente, sintética (anilinas). Pode ser feita à mão ou à máquina, e se desenvolve a partir de um risco, tirado a seu turno de um desenho ou cartão original. A urdidura de uma tapeçaria pode ser disposta horizontalmente (baixo liço) ou suspensa da vertical (alto liço), e a trama é desenvolvida com ajuda de bobinas, uma para cada cor, o que possibilita o emprego de uma variedade praticamente infinita de matizes (mais de 14.000, ao que se diz, em certos exemplares fabricados na Manufatura dos Gobelins.

TÊMPERA. Técnica de pintura já conhecida no Egito e na Grécia, e que antes da adoção da pintura a óleo no Séc. XV era de uso generalizado entre os pintores europeus. Consiste em diluir os pigmentos numa emulsão, estabilizando-os em seguida por meio de um agente que pode ser o ovo, por exemplo, ou a caseína. A têmpera comum, a ovo, muito diluída em água, assemelha-se às cores da aquarela; se adensada com pigmento branco aparenta-se ao guache ou ao pastel; se se lhe acrescenta óleo, o resultado é a têmpera a óleo, insolúvel em água e que ao secar adquire uma tonalidade fosca.

TOPOGRÁFICA, PINTURA. Gênero de pintura descritiva que consiste em reproduzir em seus menores detalhes geográficos, descendo a minúcias de localização, particularidades de terreno, ocorrência de prédios e outras construções, determinado cenário natural ou urbano. Originou-se no Séc. XV em xilografias que ilustravam relatos e crônicas, para nos Sécs. XVII e XVIII desfrutar de popularidade em vários países da Europa.

VERNISSAGE. Vocábulo francês significando envernizamento, em alusão ao antigo costume de os pintores, um dia antes da inauguração oficial de uma exposição, se reunirem para aplicar verniz em seus quadros. O vernissage, intimamente ligado aos Salons e ao academicismo do Séc. XIX, tombou em desuso, permanecendo hoje a palavra para simplesmente designar o dia de inauguração de uma exposição.

VITRAL. Composição ornamental formada por pedaços de vidro colorido de diferentes formatos e dimensões, interligados por nervuras metálicas. A técnica surgiu possivelmente no Oriente Médio, por volta do Séc. IX, mas já no Séc. X era Veneza o centro principal de produção.

Usualmente relacionado com as catedrais dos Sécs. XI a XV, o vitral continuaria sendo praticado durante os Sécs. XVI, XVII e XVIII, e no Séc. XIX Burne-Jones e outros criariam o vitral romântico, como se pode verificar na Catedral de Salisbury. Já no Séc. XX inúmeros seriam os que tentariam revitalizar o gênero, entre eles os alemães Heinersdorff, Thorn-Prikker e Schmidt-Rotluff, o inglês Hogan e o norueguês Haavardsbon.