I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado 1 ...

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I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado 1) Explicar os mecanismos das anemias carenciais, assim como o metabolismo do ferro e folato 1) Metabolismo do Ferro O ferro faz parte do grupo heme, que integra numerosas proteínas do organismo. É um metal pesado, praticamente insolúvel e bastante tóxico. o Pelo fato de ser insolúvel, circula no corpo sempre ligado a proteínas de transporte. a) Os depósitos de ferro A hemoglobina é a principal molécula que abriga o ferro no organismo. o Por isso a anemia é a principal manifestação clínica da deficiência dessa molécula. Além da hemoglobina, o organismo também armazena ferro nos tecidos na forma de ferritina e hemossiderina o Ferritina: proteína presente no citoplasma, composta por 24 subunidades. Eventualmente, pequena parte pode ser secretada e liberada no soro, podendo ser dosada por exames. o Hemossiderina: agregado heterogêneo de ferro, componentes do lisossomo e outros produtos da digestão intracelular. Representa apenas pequena parte do ferro estocado, que, todavia, pode estar dramaticamente aumentado na sobrecarga de ferro. A destruição de hemácias leva a reutilização do ferro dessas que, em conjunto com o ferro liberado dos depósitos (macrófagos), correspondem a necessidade diária de ferro para a eritropoese. A medula óssea também apresenta um depósito de ferro, através de grânulos citoplasmáticos nos eritroblastos (sideroblastos). Tais grânulos desaparecem na deficiência de ferro. b) Absorção do ferro Processo finamente regulado pela necessidade de ferro corpórea. o Em geral, é capaz de compensar as perdas. o O grau de absorção depende do depósito corporal de ferro, da hipóxia e do ritmo de eritropoese. Alimentos ricos em ferro: feijão, espinafre, fígado e carne. A facilidade com que o intestino absorve o ferro depende da forma como ele está presente no alimento o Ferro heme (carne e fígado): é o mais facilmente absorvível, através da proteína HCP1. o Ferro inorgânico (vegetais): é menos eficiente, dependendo de fatores como a produção de HCl estomacal. A absorção, ao contrário da excreção, é fisiologicamente regulada! o O ferro deve atravessar a membrana apical e a membrana basolateral para atingir o plasma da célula. § Membrana apical: proteína DcytB (férrico à ferroso) e DMT1 (transporte); sua expressão é influenciada pela deficiência de ferro. § Membrana basolateral: proteína ferroportina e hefastina

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I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado 1) Explicar os mecanismos das anemias carenciais, assim como o metabolismo do ferro e folato

1) Metabolismo do Ferro

• O ferro faz parte do grupo heme, que integra numerosas proteínas do organismo. É um metal pesado,

praticamente insolúvel e bastante tóxico.

o Pelo fato de ser insolúvel, circula no corpo sempre ligado a proteínas de transporte.

a) Os depósitos de ferro

• A hemoglobina é a principal molécula que abriga o ferro no organismo.

o Por isso a anemia é a principal manifestação clínica da deficiência dessa molécula.

• Além da hemoglobina, o organismo também armazena ferro nos tecidos na forma de ferritina e

hemossiderina

o Ferritina: proteína presente no citoplasma, composta por 24 subunidades. Eventualmente,

pequena parte pode ser secretada e liberada no soro, podendo ser dosada por exames.

o Hemossiderina: agregado heterogêneo de ferro, componentes do lisossomo e outros produtos da

digestão intracelular. Representa apenas pequena parte do ferro estocado, que, todavia, pode estar

dramaticamente aumentado na sobrecarga de ferro.

• A destruição de hemácias leva a reutilização do ferro dessas que, em conjunto com o ferro liberado dos

depósitos (macrófagos), correspondem a necessidade diária de ferro para a eritropoese.

• A medula óssea também apresenta um depósito de ferro, através de grânulos citoplasmáticos nos

eritroblastos (sideroblastos). Tais grânulos desaparecem na deficiência de ferro.

b) Absorção do ferro

• Processo finamente regulado pela necessidade de ferro corpórea.

o Em geral, é capaz de compensar as perdas.

o O grau de absorção depende do depósito corporal de ferro, da hipóxia e do ritmo de eritropoese.

• Alimentos ricos em ferro: feijão, espinafre, fígado e carne.

• A facilidade com que o intestino absorve o ferro depende da forma como ele está presente no alimento

o Ferro heme (carne e fígado): é o mais facilmente absorvível, através da proteína HCP1.

o Ferro inorgânico (vegetais): é menos eficiente, dependendo de fatores como a produção de HCl

estomacal.

• A absorção, ao contrário da excreção, é fisiologicamente regulada!

o O ferro deve atravessar a membrana apical e a membrana basolateral para atingir o plasma da

célula.

§ Membrana apical: proteína DcytB (férrico à ferroso) e DMT1 (transporte); sua

expressão é influenciada pela deficiência de ferro.

§ Membrana basolateral: proteína ferroportina e hefastina

Page 2: I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado 1 ...

I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado o Uma vez no citoplasma do enterócito, o ferro pode ser

armazenado como ferritina na própria célula ou atravessar a

membrana basolateral para chegar até o plasma. A capacidade

absortiva do enterócito é determinada pelo complexo proteico

HFE-TfR. Quando a dieta é rica em ferro, o complexo inibe

a capacidade absortiva de ferro do enterócito (bloqueio

mucoso).

o Quando reservado na forma de ferritina no interior do

enterócito, pode-se dizer que o ferro não foi efetivamente

absorvido, visto que ele será perdido quando a célula morrer e

for descamada.

• A absorção de ferro é modulada por 03 mecanismos principais:

o Bloqueio mucoso: já foi explicado. Pode ser superado quando a

ingestão de ferro (farmacologia ou intoxicação) é grande.

o Hepcidina: peptídeo excretado pelo fígado, regula o estoque de

ferro através do controle da expressão de ferroportina, de forma que uma sobrecarga de ingestão

reduz sua absorção, enquanto a carência promove maior absorção.

o Hematopoese: regula a absorção de acordo com as necessidades da eritropoese, visto que a

eritropoetina inibe a expressão de hepcidina.

c) Transporte do ferro

• O ferro é transportado pelo plasma através da transferrina, que recebe ferro dos enterócitos e dos

depósitos, e pode liberá-lo pala depósitos, eritroblastos, músculos ou para a síntese de mioglobina.

• No interior da célula, a proteína TfR1 liga-se a ferritina, desencadeando a invaginação da membrana

celular e a formação de endossomos, que irão liberar o ferro através do canal DMT1, o qual irá ser

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I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado combinado com a protoporfiria, e, consequentemente, será

utilizado para eritropoese, ou retido na forma de

ferritina/hemossiderida para estoque.

d) Excreção/perdas de ferro

• Inexiste um mecanismo fisiológico de excreção de ferro.

• O ferro é perdido através das fezes, descamação da pele, do

epitélio urinário, respiração, menstruação e lactação.

2) Metabolismo do folato/Vitamina B12

1) Função das moléculas

• Os folatos (assim como a vitamina B12) participam da reação de

síntese da timina, aminoácido essencial para a síntese de DNA.

o Enquanto o folato participa diretamente da reação,

transformando dUMP em dTMP, a B12 participa apenas como

uma coenzima (molécula não proteica cuja associação com uma

enzima é indispensável à sua atividade catalítica). Na ausência

de B12, o folato transforma-se em 5-metiltetraidrofolato, uma

forma de transporte inútil para a síntese de timina e do DNA.

• A vitamina B12 é necessária para o metabolismo dos ácidos nucleicos

(ciclo dos folatos – conversão de homocisteína em metionina), e na

conversão de propionilcoenzima A em succinil-CoA (ciclo de Krebs)

o Portanto, a deficiência de B12 leva ao aumento dos níveis

plasmáticos de homocisteína e de ácido metilmalônico.

• Resumindo, ambas as moléculas integram um sistema coenzimático

para a síntese de DNA, visto que a redução de ambas as moléculas leva a diminuição do metileno-

THF, interrompendo a reação que converte dUMP em dTMP.

• A síntese defeituosa do DNA leva a inúmeras alterações, que levam a formação de células

megaloblásticas em todas as células que se proliferam (hematopoese, TGI, cérvice, vagina e útero)

2) Metabolismo dos folatos

• Os folatos são absorvidos em sua forma livre, pelas células da mucosa intestinal do duodeno e jejuno,

onde sofrem hidrólise, redução e metilação, transformando-se em 5 metil-tetrahidrofolato.

Page 4: I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado 1 ...

I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado o Essa molécula é transportada para tecidos e fígado, onde são armazenados na forma de

poliglutamato, contudo, essas reservas são pequenas, sendo necessário a manutenção do estoque

constantemente.

• O folato presente nos alimentos está sob a forma de poliglutamato, devendo ser hidrolisado a

monoglutamato na borda em escova do enterócito antes

de ser transportado par ao interior da célula, onde sofre

metilação e redução, sendo liberado para o plasma

como metil-THF.

o Nas células, o metil-THF é transformado em

THF, molécula que pode ser utilizada para a

síntese das purinas e do timidilato.

• A inativação da enzima metionina-sintetase durante a

deficiência de cobalamina resulta em acúmulo de metil-

THF, que não pode sofrer poliglutamação, resultando em

uma deficiência intracelular de THF e redução das reações de metilação.

3) Metabolismo da B12

• A vitamina B12 (cianocobalamina) é adquirida pela digestão de proteínas de origem animal, sendo

então capturada pela haptocorrina, proteína produzida na saliva e estômago. O complexo é então

destruído pelo suco gástrico (tripsina), com consequente transferência da molécula de B12 para um fator

intrínseco gástrico, produzido pelas células parietais do estômago

• A vitamina B12, ligada ao FI é então absorvida pelas células epiteliais no ílio terminal, sendo que esse é

um processo demorado. O FI não é absorvido pelo intestino e é excretado nas fezes. Na circulação,

encontra-se ligada à transcobalamina II, onde irá através da circulação portal, ser distribuída para as

células do corpo

• Na ausência de fator intrínseco, a cobalamina é absorvida de forma precária, por difusão passiva

2) Estudar as causas, sintomas e tratamento da Anemia Ferropriva

1) Etiologia

• A deficiência de ferro é uma das deficiências nutricionais de maior prevalência, estando presente em

aproximadamente 20% dos seres humanos.

• A anemia ferropênica é associada a redução da capacidade de trabalho em adultos e ao desenvolvimento

mental e motor anormal na criança.

Vitamina B12 + haptocorrina(saliva e estômago)

Conjugação com o fator intrínseco, presente no suco

gástrico

Absorção de B12 no íleo e conjugação a transcobalamina II

Page 5: I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado 1 ...

I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado • A deficiência de ferro ocorre quando sua demanda é maior do que sua absorção pela dieta, como

durante a gravidez (perdas basais + necessidades do feto) e o crescimento acelerado na infância.

• Em adultos, a causa mais comum de anemia ferropênica em adultos é a perda de sangue (perdas de 3 a 4

ml/dia são suficientes para causar um balanço negativo de ferro).

• Nas mulheres em idade reprodutiva, a principal causa é a perda menstrual excessiva (geralmente são de

30 mL de sangue)

• Em corredores regulares, a deficiência de ferro pode estar presente devido a hemólise mecânica que pode

acompanhar o exercício extenuante, levando a hemoglobinúria e a perda sanguínea nas fezes.

• A redução na absorção também pode levar ao balanço negativo de ferro, através de condições como a

acloridria e gastrectomias, visto que a acidez gástrica facilita a bsorção do ferro não heme.

2) Quadro Clínico

• É uma anemia de instalação lenta, levando a adaptação do organismo a níveis baixos de hemoglobina,

o que leva a uma assintomatologia.

• Os sintomas mais comuns são aqueles relacionados a anemia:

o Fadiga

o Perda de capacidade de exercer as atividades habituais

§ Desempenho muscular e atividade de trabalho estão prejudicados

o Irritabilidade

Grupos de risco para desenvolver carência de ferro

- Crianças entre 6 meses e 2 a 3 anos

- Gestantes

- Doadores regulares de sangue

- Atletas em treinamento

- Comunidades com baixa ingestão de ferro heme

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I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado o Cefaleia

o Palpitações

o “Pica” – perversão do apetite

o Disfagia progressiva – síndrome de Plummer Vinson ou de Paterson Kelly

o Dispneia aos esforços

• A deficiência de ferro é sempre secundária, logo, torna-se essencial investigar a causa básica para

estabelecer o tto correto. Na anamnese, deve-se questionar:

o Detalhar os hábitos alimentares

§ Vegetarianos e pessoas com baixa ingestão de ferro heme

o Procurar perda menstrual exagerada (número de absorventes por dia, incapacidade de controlar o

fluxo, presença e tamanho de coágulos, intervalo entre

ciclos)

o Perdas Fecais

o Presença de hemorroidas

o Hábito intestinal

o Uso de medicamentos (AINES, antiagregantes e

anticoagulantes)

o Cirurgias gástricas

• O exame físico do paciente é pobre, geralmente encontra-se:

o Mucosas descoradas

o Quelite angular

o Alterações ungeais

3) Diagnóstico

• A anemia ferropênica é caracteristicamente hipocrômica e microcítica

• Há um número inapropriradamente baixo de reticulócitos para o grau de anemia encontrado, visto

que a carência de ferro impede a eritropoese adequada.

• A deficiência de ferro ocorre em vários estágios:

• Índices hematimétricos reduzidos: VCM, HCM e CHCM.

Mais comuns em anemias de longa

duração

Depleção dos estoques de ferro(Ferritina < 12 ng/mL)

Eritropoese deficiente em ferro(Aparecimento de microcitose -

aumento do RDW)

Anemia(Queda da concentração de Hb)

Page 7: I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado 1 ...

I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado o RDW aumenta gradativamente com o aparecimento de microcitose. É o parâmetro que se

altera mais precocemente nas anemias por deficiência de ferro.

• A concentração de ferritina sérica é o melhor exame

para comprovar deficiência de ferro

o ATENÇÃO! A ferritina normal ou elevada não

exclui o dx da doença visto que pode aumentar em

doenças inflamatórias, infecciosas, neoplásicas e

após a ingestão de bebidas alcoólicas.

• Em situações que coexistem diferentes doenças, é importante a confirmação da ferropenia pela

realização de mielograma, como coloração pelo azul da

Prússia.

• Após a verificação de anemia ferropênica, deve-se investigar

qual a fonte das perdas, iniciando-se pelas mais comuns

(ginecológicas e GI)

• O diagnóstico diferencial deve ser feito com outras causas de

microcitose.

o Talassemias (betatalassemia menor – ddx mais comum)

§ Eletroforese de Hb – níveis elevados de HbA2

o Anemia sideroblástica congênita

Page 8: I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado 1 ...

I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado § Doença rara que se caracteriza pela presença de sideroblastos em anel ao mielograma e

por níveis elevados de saturação da transferrina e ferritina sérica

o Envenenamento por chumbo

o Anemia das doenças crônicas

§ Geralmente encontrada em pacientes internados em hospitais gerais

4) Tratamento

• O tratamento visa a normalização da concentração de hemoglobina e a reposição dos estoques de ferro e,

dependendo da doença de base, dura em torno de 6 meses.

• O tratamento de escolha é a REPOSIÇÃO DE FERRO POR VO, sendo o composto mais utilizado o

sulfato ferroso.

o Sulfato ferroso: 120 a 180 mg de ferro elementar/dia, divididos em 2 a 3 tomadas, durante as

refeições

o Efeitos colaterais comuns: distensão abdominal, diarreia, obstipação intestinal

• Após a normalização dos níveis de hemoglobina e do VCM, deve-se continuar o tratamento por 3 a

6 meses para reposição dos estoques de ferro.

• Deve-se, sempre que possível, tratar a doença de base.

3) Discutir aspectos fisiológicos, fisiopatológicos e clínicos da anemia megaloblástica (perniciosa)

• As anemias megaloblásticas constituem um subgrupo das anemias macrocíticas caracterizadas por

anormalidades morfológicas típicas nas células precursoras das linhagens eritroide, granulocítica e

megacariocitária da medula óssea

o Os megaloblastos caracterizam-se por seu grande tamanho, associado a alterações típicas na

cromatina nuclear, que expressam a alteração bioquímica correspondente a síntese retardada

do DNA o que retarda o ciclo celular

o Apesar do retardo na divisão, a síntese do RNA permanece inalterada, o que leva a síntese

excessiva de proteínas como a hemoglobina, que se acumulam na célula.

• As principais causas de anemia megaloblástico são: deficiências de vitamina B12 ou de ácido

fólico/folato.

Principais pontos do tto

• Repor os estoques de ferro

• Identificar e tratar a causa de base (definida em 80 a 85% dos casos)

• Peculiaridades do tratamento com sulfato ferroso:

o A absorção é melhor com estômago vazio

o A intolerância gastrintestinal é maior com o estômago vazio

o A redução da absorção ao ingerir o medicamento durante as refeições é

compensada pelo aumento da adesão ao tratamento.

Page 9: I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado 1 ...

I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado o Vitamina B12: presente somente em bactérias e alimentos de origem animal, sendo a necessidade

diária estimada para um adulto de 2 a 4 mcg.

§ A causa mais comum de deficiência de vitamina B12 é a absorção inadequada da

cobalamina da dieta

§ Sua deficiência leva a anemia perniciosa.

o Folatos: moléculas sintetizadas por MO e plantas, sendo adquiridas na dieta principalmente por

vegetais, folhas verdes, frutas e proteína animal. A necessidade diária estimada é de 400 mcg

para adultos e 600 mcg para gestantes. O cozimento destrói a molécula (termolabilidade)

§ A deficiência pode ser decorrente do suprimento reduzido ou do aumento das

necessidades.

1) Deficiência de vitamina B12

• Quando se instala um balanço negativo de Vitamina B12, os estoques são progressivamente depletados.

Quando a absorção cessa bruscamente, como na gastrectomia total, são necessários vários anos para

ocorrer a depleção dos depósitos e o desenvolvimento de anemia megaloblástica.

• Apresenta como etiologia:

o Deficiencia nutricional: principalmente veganos,

que não ingerem nenhum produto de origem animal

o Má absorção de cobalamina: dissociação

inadequada da cobalamina da proteína dos

alimentos e absorção normal da cobalamina livre,

geralmente oriunda da perda de pepsina e da

secreção ácida necessária para ativar essa enzima ou

de pacientes com gastrite atrófica.

o Ausencia de secreção gástrica: leva a deficiência de FI associada à produção deficiente de HCl,

podendo ser fruto de gastrectomia, gastrite atrófica crônica ou destruição da mucosa gástrica.

o Anemia perniciosa: causada pela destruição autoimune e atrofia das células parietais da mucosa

gástrica, levando a falta de produção de fator intrínseco e de HCl, levando a má absorcção e

consequente deficiência de B12.

o Insuficiência pancreática: leva a deficiência de protease pancreática, o que resulta em dificuldade

para quebrar a ligação da cobalamina com a haptocorrina e sua consequente ligação com o FI.

o Hipersecreção gástrica (gastrinoma): pode inativar a protease pancreática, além de reduzir o pH

no íleo, o que impede a ligação da cobalamina ao fator intrínseco.

o Supercrescimento bacteriano no intestino delgado: as bactérias competem pela vitamina B12

livre antes de sua ligação com o FI.

Page 10: I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado 1 ...

I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado • Ainda não se sabe ao certo o mecanismo pelo qual a deficiência de vitamina B12 leva a manifestações

neurológicas.

o Má absorção induzida por drogas: medicamentos (metformina, cloreto de potássio, colchicina....)

podem levar a má absorção de vitamina B12. O NO inativa a cobalamina de forma irreversível

(exposição durante cirurgias)

a) Quadro Clínico

• A carência de vitamina B12 apresenta como principal peculiaridade a presença de sintomas

neurológicos, que podem, inclusive, acontecer na ausência de anomalidades hematológicas.

o Acomete principalmente a substância branca da medula espinal

o Ocorre um processo de desmielinização

• Os pacientes que apresentam deficiência de B12 em consequência de anemia perniciosa podem ter

outros distúrbios imunes associados (cerca de 10% desenvolvem doenças da tireoide, principalmente

hipotiroidismo)

o Além da associação com distúrbios imunes, a atrofia da mucosa gástrica pode levar a um quadro

de deficiência de ferro, devido a má absorção do ferro não heme.

Principais manifestações clínicas da carência de B12 Manifestações hematológicas

Manifestações neuro-psiquiátricas digestivas

Manifestações ginecológicas e

obstétricas

Outras manifestações

- Macrocitose - Polineurites (sensitiva, ataxia e babinsky)

- Atrofia da mucosa vaginal

- Glossite - Icterícia

Sintomas neurológicos da carência de B12

• Parestesias: começam na ponta dos dedos dos pés e evoluem para uma distribuição em bota e em luva

nos quatro membros

• Fraqueza muscular

• Ataxia

• Espasticidade

• Distúrbios de marcha

• Reflexo de Babinsky positivo

• Impotência

• Perda de controle vesical e fecal

• Alterações emocionais e cognitivas

• Alucinações

• Surtos de mania

• Estados esquizofrênicos e paranoides

Podem ser encontrados em casos

avançados

Alterações psiquiátricas

Page 11: I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado 1 ...

I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado - Hipersegmentação de neutrófilos - Anemia macrocítica e arregenerativa - Pancitopenia

- Esclerose combinada da medula espinal

- Infecções crônicas vaginais ou urinárias - Ainda são discutíveis/estão em estudo.

- Úlceras cutâneo-mucosas refratárias ou recidivantes

b) Tratamento

• A reposição de vitamina B12 pode ser feita por via oral ou parenteral

o Parenteral: 1000 mcg de Vitamina B12/semana, durante 4 semanas, por via intramuscular,

seguido de injeções mensais

§ É a opção mais prática/de escolha

o Via Oral: a dose varia de 500 a 2000 mcg/dia. É um tratamento de exceção.

• O tratamento é vitalício no caso da anemia perniciosa, em que não é possível remover a causa de base.

• O tratamento pode ser utilizado como ferramenta de investigação diagnóstica, visto que a resposta ótima

a doses terapêuticas de vitamina B12 confirmam o diagnóstico de deficiência.

o Diferentemente da anemia, a lesão neurológica nem sempre responde ao tratamento

o O tratamento com ácido fólico em pacientes com deficiência de vitamina B12 pode permitir o

aparecimento da lesão neurológica ou eventualmente até acelerá-lo.

§ Isso explica o porque de o folato NÃO ser utilizado com teste diagnóstico!

2) Deficiência de Folatos

• O estoque de folatos do organismo é suficiente para durar aproximadamente 04 meses

• Apresenta como principais causas:

o Carência nutricional: pode ser decorrente de dieta deficiente ou de aumento das necessidades.

o Aumento das necessidades: a gravidez e a lactação são estados em que ocorre aumento das

necessidades de folatos para o crescimento fetal e desenvolvimento dos tecidos maternos. A

deficiência de folatos pode causar anomalidades de desenvolvimento neural no feto.

o Abuso de álcool e medicamentos: o álcool interfere no metabolismo, utilização e estoques desse

nutriente, enquanto os medicamentos podem interferir na síntese do DNA (quimioterápicos),

reduzir a quebra de poliglutamatos (sulfassalazina) ou aumentar o seu catabolismo

(contraceptivos orais)

o Doença do intestino delgado: doença celíaca pode levar a má absorção por anomalidades geradas

na mucosa intestinal.

a) Tratamento

• É feito através da reposição de ácido fólico

• Geralmente é feita por via oral, 5mg, uma vez ao dia

Page 12: I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado 1 ...

I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado • A duração do tratamento depende da doença de base

• Em pacientes que não conseguem metabolizar o ácido fólico, deve ser utilizado o leucovorin (5-formil-

THF)

o Drogas que inibem a di-hidrofolato-redutase

o Erros inatos do metabolismo

3) Quadro Clínico

• O quadro clínico da deficiência de vitamina B12 e/ou folatos é extremamente semelhante.

• Os sintomas de apresentação geralmente são os de anemia crônica

o Sintomas cardiovasculares (hipervolemia)

o Palidez

o Hiperbilirrubinemia

o Falta de apetite

o Perda de peso

o Paciente com aspecto envelhecido

o Atrofia das papilas linguais (língua lisa e muito vermelha)

o Esplenomegalia: presente apenas em casos de anemia grave, devido a congestão e presença de

hematopoese extramedular.

4) Quadro Laboratorial

a) Sangue

• O hemograma demonstra alterações em número e morfologia nas três séries

• Anemia macrocítica

o A elevação de VCM precede o aparecimento da anemia

• Reticulócitos baixos

• Os leucócitos podem estar em número normal ou reduzido

o A leucopenia geralmente é resultado da redução de neutrófilos

• Hipersegmentação neutrofílica (principal achado no

sangue periférico – neutrófilos com 5 a 10 lobos)

• Macroovalócitos

o Eritrócitos macrocíticos com forma oval

• Pode ser encontrada plaquetopenia

o Plaquetas com formas bizarras e de grande

tamanho

Pele de cor amarelo-esverdeada

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I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado

b) Medula Óssea

• Geralmente hiperplásica, com predomínio dos precursores

eritroides.

• Presença de megaloblastos, que apresentam grande tamanho e

cromatina de aspecto delicado.

• A leucopoese é anormal, sendo possível a observação de

precursores granulocíticos muito grandes.

• ATENÇÃO! Deve-se ficar atento a condições associadas que

neutralizem a tendência de geração de células grandes, como a

deficiência de ferro ou a talassemia minor.

c) Perfil do ferro, bilirrubinas e DHL

• Concentração plasmática do ferro moderadamente elevada

• Redução da capacidade total de ligação de ferro plasmática

• Estoques de ferro na MO e sideroblastos elevados

• Aumento da BI

• Aumento de DHL

d) Dosagem de vitamina B12 e de folatos

• Determinação de níveis séricos de folato e B12

o Deficiência de B12: < 200pg/mL

§ Pacientes com alterações neurológicas podem apresentar apenas uma redução discreta.

§ A concentração pode estar falsamente reduzida nos seguintes casos:

• Deficiencia de folato

• Mieloma múltiplo

• Esclerose múltipla

• HIV

• Gravidez

• Uso de anticoncepcionais orais

• Deficiencia de transcobalamina II

• Uso de medicamentos com ação antifolato

o Dosagem de folato sérico: teste barato, contudo, oscila com a ingestão de uma única refeição rica

em folato

Fruto da eritropoese ineficiente

Page 14: I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado 1 ...

I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado o Dosagem de folato intraeritrocitário: indicador mais verdadeiro do folato tecidual, contudo, não é

útil para diferenciar a deficiência de folato da de B12, pois 63% dos pacientes com

deficiência de cobalamina apresentam folato eritrocitário baixo.

• Dosagem de metabólitos ácido metilmalônico e homocisteína.

o Ambos aumentam precocemente na deficiência de B12, contudo, são muito caros para uso

inicial.

o MMA: teste mais específico para a deficiência de cobalamina, aumenta no soro e na urina.

o Homocisteína: é inespecífico, aumentando tanto na deficiência de B12 quanto na de folato. É

melhor dosá-la no plasma do que no soro, devido a liberação dos níveis intraeritrocitários pela

hemólise.

§ É útil, pois apresenta baixo custo e, quando seus níveis estão normais, descarta as

deficiências nutricionais

e) Autoanticorpos

• Anticorpos séricos antifator intrínseco são encontrados em 50 a 70% dos pacientes com anemia

perniciosa.

• É um exame extremamente específico

f) Endoscopia digestiva com biópsia de mucosa gástrica

• Pode demosntrar uma mucosa atrófica

• A biópsia confirma o diagnóstico.

Principais achados laboratoriais na anemia perniciosa Hemograma Medula Óssea Bioquímica B12 e Folato Autoanticorpos Endoscopia e

biópsia de mucosa gástrica

- Hb: redução - VCM: aumento - Plaquetopenia - Neutrófilos segmentados - Macroovalócitos

- Hiperplasia - Megaloblastos

- Fe: elevado - BI: elevada - DHL: elevada

- B12: < 200 ng - Folato sérico: reduzido

- Possível presença de anticorpos séricos antifator intrínseco

- Mucosa atrófica

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I Módulo 601 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado 5) Diagnóstico

a) Diagnóstico da deficiência de vitamina B12 em adultos

b) Diagnóstico laboratorial da deficiência de vitamina B12

Confirmar o diagnóstico de deficiencia de vitamina B12Determinar a concentração sérica de vitamina B12

(+MMA e homocisteína total)

Excluir falta de ingestãoPesquisar características clínicas e biológicas de desnutrição

Excluir anemia perniciosaPesquisa de anticorpos antifator intrínseco

Pesquisa de anticorpos anticélulas parietais séricasPesquisa de hipergastrinemia e antecedentes de autoimunidade

Endoscopia com bióspia gástrica (exclui neoplasia e gastrite atrófica

Confirmar o diagnóstico de síndrome de não dissociação de cobalamina dos alimentosPesquisar fatores de risco

Realizar prova terapêutica com vitamina B12

Possível deficiencia de

B12

B12 < 150 pg/mL

Deficiencia de B12

B12 150 a 220 pg/mL

MMA e homocisteína

normais

Deficiencia de B12 excluida

MMA e homocisteina aumentados

Deficiencia de B12 confirmada

B12 > 220 pg/mL

Deficiencia de B12 improvável