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7 ÍNDICE Eu ......................................................................................................................... 11 O meu futebol ................................................................................................. 14 Abelhinha ......................................................................................................... 18 Longe da ilha ................................................................................................... 25 17 anos, 8 meses e 2 dias ........................................................................... 32 Festival de Toulon ......................................................................................... 37 Number 7 .......................................................................................................... 41 Tragédia grega ................................................................................................ 49 Martunis ............................................................................................................ 55 O dia mais triste ............................................................................................. 58 A cilada .............................................................................................................. 61 «Give Ron one in the eye» .......................................................................... 65 Champanhe ...................................................................................................... 73 A grande temporada .................................................................................... 77 Bola de Ouro .................................................................................................... 82 Roma ................................................................................................................... 87 94 milhões de euros ..................................................................................... 91 80 mil no Bernabéu ...................................................................................... 99

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ÍNDICE

Eu ......................................................................................................................... 11

O meu futebol ................................................................................................. 14

Abelhinha ......................................................................................................... 18

Longe da ilha ................................................................................................... 25

17 anos, 8 meses e 2 dias ........................................................................... 32

Festival de Toulon ......................................................................................... 37

Number 7 .......................................................................................................... 41

Tragédia grega ................................................................................................ 49

Martunis ............................................................................................................ 55

O dia mais triste ............................................................................................. 58

A cilada .............................................................................................................. 61

«Give Ron one in the eye» .......................................................................... 65

Champanhe ...................................................................................................... 73

A grande temporada .................................................................................... 77

Bola de Ouro .................................................................................................... 82

Roma ................................................................................................................... 87

94 milhões de euros ..................................................................................... 91

80 mil no Bernabéu ...................................................................................... 99

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Sir Alex e Cristiano ....................................................................................... 110

Tombeur de femmes ....................................................................................... 115

Zero títulos ....................................................................................................... 123

Espanha ‑Portugal ......................................................................................... 136

Paternidade ..................................................................................................... 142

CR7 Collection ................................................................................................ 146

53 golos ............................................................................................................. 150

Cristiano e Leo Messi .................................................................................... 153

Cristiano e Mourinho ................................................................................... 165

Paixões e obsessões ...................................................................................... 174

O extraterrestre .............................................................................................. 179

Um líder completo ......................................................................................... 189

Cinco anos depois... ....................................................................................... 199

Uma carreira em números ......................................................................... 207

Agradecimentos .............................................................................................. 213

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CRISTIANO RONALDOA Perfeição É o Limite

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EU

«Adoro ser Cristiano Ronaldo.»

«Gosto do que faço, gosto da minha vida. Sou uma pessoa feliz.»

«Considero ‑me um ganhador. Ganho mais do que perco. Tento olhar sempre em frente. Sei que é muito difícil, mas nada na vida é fácil. Se o fosse, não nasceríamos a chorar.»

«Sou uma pessoa competitiva e nunca mudarei. É verdade que, com o correr dos anos, vou adquirindo maturidade, mas no funda‑mental mantenho as minhas convicções.»

«Confio nas minhas capacidades. Sempre fui assim.»

«Eu sou o que sou, o que mostro, o que as pessoas veem. Tenho só uma cara.»

«Nunca alterei a minha maneira de ser em função dos outros. Para quem goste de mim, tudo bem; quem não goste, que não fale comigo ou que não venha ver ‑me jogar.»

«Tenho a minha personalidade, o meu caráter, e só quem me co‑nhece sabe como sou na realidade.»

«Estou muito ligado à minha família. Foi assim com o meu pai, é assim com a minha mãe e os meus irmãos. Foram um pilar na minha vida. Sempre me deram muito apoio, sempre estiveram ao meu lado quando precisava deles. Ajudaram ‑me muito e eu tento retribuir ‑lhes tudo o que me deram.»

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«As pessoas que me conhecem bem adoram ‑me. Os que convivem comigo, que não são muitos, os que partilham comigo o dia a dia nos treinos, os que trabalham comigo, têm uma boa impressão minha por‑que sabem como eu sou. As pessoas de fora têm uma opinião diferente porque não me conhecem. Compreendo.»

«Sou uma pessoa que diz sempre o que pensa. Digo a verdade e isso pode não agradar a alguns.»

«Tive uma boa educação. A minha mãe e o meu pai ensinaram ‑me a ser verdadeiro, a não mudar o meu caráter para parecer bem aos ou‑tros. Se agrado, tudo bem. Se não agrado, paciência, é ‑me indiferente.»

«Se nem Deus agradou a toda a gente, como vou eu consegui ‑lo?»

«Não ligo ao que se diz de mim. Não leio os jornais, não leio as revistas. Cada qual tem a sua opinião.»

«Dizem muitas mentiras acerca de mim. É o preço da fama.»

«Penso que, por ser rico, giro e um grande jogador, as pessoas têm inveja de mim, não há outra explicação.»

«Sou uma pessoa com a qual é muito fácil conviver. E sinto ‑me com sorte porque, quando tenho de falar das minhas coisas, tenho amigos de toda a vida.»

«Sou uma pessoa normal e tenho sentimentos como todos os outros.»

«Sou uma pessoa que gosta dos desafios. Sempre fui assim, sem‑pre gostei disso. A minha vida tem por base novos desafios.»

«Estou sempre disposto a aprender, a ouvir uma opinião.»

«Para mim, a relação com as pessoas é mais importante do que o dinheiro.»

«O importante não é o dinheiro, mas ter qualidade de vida.»

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«Gosto de ver que as pessoas à minha volta são positivas, estão contentes e sorridentes.»

«Nesta vida não se ganha nada se não se passar por dificuldades como eu passei.»

«Chorava quase todos os dias quando era menino e estava em Lis‑boa. Hoje continuo a chorar, de felicidade ou de tristeza. E ainda me restam muitas lágrimas. É bom chorar. Chorar faz parte da vida.»

«Não suporto quem mente. Para mim, mentir é uma das piores coisas que há. Incomoda ‑me.»

«Falar constantemente não é a minha forma de estar na vida. Falar demasiado em público desgasta ‑nos a imagem.»

«Não gosto de falar da minha vida privada. Não me exibo nem me escondo. Quem quiser falar, que o faça. Quem quiser vender ou ter audiência, que o faça. A mim, isso não interessa.»

«Sou um rapaz esperto, mas ninguém é perfeito e eu não sou per‑feito.»

«Há dias em que não é fácil ser Cristiano, porque nos apetece fazer coisas normais e não podemos. Mas sei viver com isso e a verdade é que não me sinto incomodado com a minha vida.»

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O MEU FUTEBOL

«Quem gosta de futebol, certamente gosta de ver o Cristiano Ronaldo.»

«Faço o que mais gosto de fazer na vida: jogar futebol.»

«A minha vida é essencialmente o futebol, mas à margem do fute‑bol tento, na medida do possível, fazer uma vida normal com a minha família e com os meus amigos. Gosto de ir aos restaurantes e ao cine‑ma, mas vou poucas vezes porque acaba por ser difícil fazê ‑lo. Escolhi a vida que levo e assumo isso.»

«Já ganhei tudo mas nunca me cansarei de ganhar até que me reti‑re. É a minha maneira de ser. Acredito nas baixas de forma, mas não no declínio. A mentalidade é importantíssima para se conseguir atingir os objetivos. E a chave é ter sempre objetivos a alcançar.»

«O meu objetivo e a minha ambição é vir a ser o melhor. Se al‑cançar finalmente a possibilidade de ser o melhor, ótimo; se bem que o meu desejo seja entrar no clube dos melhores jogadores da história. Graças a Deus ganhei o troféu de melhor jogador do mun‑do, e espero ganhá ‑lo de novo. Sim, vou ganhar de novo a Bola de Ouro.»

«Tento melhorar o meu rendimento ano após ano porque sei que no dia em que ache que consegui tudo já não serei o melhor futebolis‑ta. A minha ideia é fazer algo de fantástico todas as temporadas, algo de novo que ainda não tenha sido feito ou conseguido antes, e a minha sorte é que tenho por trás uma equipa magnífica.»

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«Considero ‑me um futebolista completo, embora se possa sempre melhorar muitas coisas. Não estou a pensar em aspetos particulares, estou a generalizar e acho que se deve crescer globalmente. Não me fixo apenas no tiro ou na finta.»

«Driblar é a minha maneira de jogar. Jogo assim desde pequeno. Gosto de driblar, de fintar o adversário. Compreendo que as pessoas se irritem com os meus dribles, os meus ziguezagues, os meus pon‑tapés e passes de calcanhar, mas não quero com isso gozar com os adversários. É o meu estilo e, se não o mudei em Inglaterra, não o vou mudar em Espanha ou no Brasil.»

«O meu remate à baliza é um segredo que não vou revelar. Quando me preparo para atirar, digo sempre para mim mesmo: “Atira bem, Cristiano.” Olho para o guarda ‑redes, para os defesas... penso para que lado vou atirar e remato.»

«Tento sempre marcar golos, jogar bem e ajudar a equipa. Mas nunca penso: tenho de marcar sempre em cada jogo. Se pensarmos assim, acabamos por não marcar. Os golos chegam naturalmente, gra‑ças ao talento, às qualidades técnicas, à habilidade. Por isso não me preocupo se, num dia, não marco. Se a equipa e eu jogarmos bem, os golos chegam por si.»

«Não importa onde jogamos ou contra quem jogamos, em cada partida entro em campo para dar o máximo para ganhar.»

«Depois de perder um jogo, chego a casa e, por vezes, não falo se‑quer com a minha mãe. Na família já todos me conhecem e sabem qual é a minha reação. Passo mal e, por vezes, até já chorei depois de per‑der um jogo.»

«O meu ponto fraco? Não sei, em geral gosto de estar bem a todos os níveis, não só físico, mas também mental. Não há qualquer zona que trabalhe mais especificamente do que outras. Quero ser cada vez mais forte.»

«Nós, os futebolistas, somos pessoas e, naturalmente, o que se passa nas nossas vidas afeta ‑nos. O que acontece é que, quanto mais

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profissionais somos, mais fortes temos de ser para manter a regulari‑dade dentro do campo. Pagam ‑nos para isso.»

«Eu, em competição, faço uma vida muito tranquila, concentrado ao máximo no futebol. Há momentos para gozar e outros para traba‑lhar. Os meus amigos e eu divertimo ‑nos ao máximo durante as mi‑nhas férias. Quando trabalho, ninguém pode censurar ‑me nada sobre a minha atitude. Tento ser um profissional exemplar, e isso reflete ‑se em campo. Uma pessoa que sai todos os fins de semana não pode ren‑der o máximo em campo.»

«Gosto de cuidar do meu corpo, é uma parte importante da mi‑nha vida e da minha profissão. Mas não faço nada de especial: treino, simplesmente. Como de tudo, mas cuido ‑me. Não engordo, os meus genes são bons, mas tenho de trabalhar no duro para manter a forma física.»

«Quando entro no campo, para jogar ou para os treinos, estou feliz porque adoro jogar futebol, é a minha paixão e o meu prazer.»

«Considero os meus companheiros como meus amigos porque convivemos todos os dias. São a minha segunda família e, fora de casa, é com eles que estou mais tempo.»

«Quando a atmosfera no balneário é alegre e há um ambiente po‑sitivo e divertido, fico encantado.»

«Entro em campo sem medo. Não tenho problemas com os defesas adversários, cada qual defende ‑se com as armas que tem. Penso que nenhum jogador tem a intenção de nos lesionar. Noventa e nove por cento dos jogadores são honestos e fazem o melhor que podem pelas suas equipas. É verdade que alguns tentam travar ‑me em falta. Se não o fizessem, não me travariam. Mas não me preocupo demasiado.»

«Acho que o futebol deveria cuidar dos jogadores que tentam criar e divertir, tornar o espetáculo cada vez mais atraente para o especta‑dor, que é o mais importante. Sem os adeptos não haveria nada. O Ma‑drid, o Manchester, o Barcelona não seriam tão conhecidos em todo o mundo.»

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«Tento ignorar todas as provocações porque isso não é futebol. Quem faz essas coisas não é boa gente.»

«Tapo os ouvidos quando me dizem coisas más, só ouço os gritos de “esse português, que bom ele é!”. Não preciso dos insultos para me motivar.»

«Os primeiros a insultar ‑me são depois, quando me encontram na rua, os primeiros a pedir ‑me um autógrafo. Compreendo que me re‑ceiem, mas não que me insultem. Os meus companheiros dizem ‑me que não percebem como é possível que nos aeroportos as pessoas gostem tanto de mim e depois, nos estádios, me insultem daquela ma‑neira.»

«Não sou daqueles que ficam em casa toda a tarde a ver quatro ou cinco jogos de futebol. Não porque não goste de futebol, mas porque não gosto de o ver na televisão. Prefiro jogar. Vejo apenas os jogos do Madrid quando não estou em campo e os grandes jogos.»

«Se não fosse jogador, gostaria de continuar a estudar. Deixei de estudar aos 16 anos, quando treinava na primeira equipa do Sporting de Lisboa. Estudaria Marketing ou faria o curso de professor de Edu‑cação Física.»

«Sei que muitas crianças me admiram e é também por elas que tento jogar futebol o melhor possível. Eu, pessoalmente, não tenho es‑pecial admiração por um desportista em concreto, embora reconheça que há grandes exemplos de superioridade no futebol, no basquete‑bol, no atletismo, na Fórmula 1, no ténis... e sigo as atuações de todos eles e aprecio ‑os.»

«Gostaria que me recordassem como um exemplo, como um fute‑bolista que sempre deu o máximo pelo espetáculo e que ganhou abso‑lutamente tudo o que havia para ganhar.»

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ABELHINHA

«Tive uma infância feliz por um lado ediferente por outro porque deixei a minha família

aos 12 anos para ir para Lisboa.»

A casa onde nasceu na Quinta do Falcão (freguesia de Santo Antó‑nio, na ilha da Madeira) já não existe. A habitação de três assoalhadas, feita de blocos, madeiros e telhado de uralite, foi demolida em 2007 para evitar problemas com os ocupas. Há bastante tempo que a famí‑lia Aveiro já não vive ali. Maria Dolores, a mãe de Cristiano, vive agora num luxuoso chalé branco de dois pisos com vista para o Atlântico, no bairro de São Gonçalo, no outro extremo do Funchal. É uma moradia elegante que o filho lhe comprou, perto das dos seus irmãos Hugo e Kátia.

Atualmente, a Quinta do Falcão, o conglomerado de casas cons‑truído na encosta da montanha, já não é o bairro pobre que era. Nos últimos anos, graças às ajudas da União Europeia, transformou ‑se. Surgiram novos blocos de apartamentos e a zona tornou ‑se apetecível também para a classe média portuguesa, horrorizada com os preços das casas junto à costa. Hoje, no sítio onde era a casa do futebolista, no extremo de uma ruela pequena e estreita, está um casarão coberto de matagal, um campo de futebol de salão e um café. Alguns fãs, porém, vão até ali, informam ‑se, e os taxistas, por poucos euros, são capazes de organizar um passeio turístico para ver onde nasceu, onde cres‑ceu, onde foi à escola, onde começou a jogar à bola o futebolista que conseguiu ser mais mediático, no imaginário coletivo de Portugal, que tantos visitantes ilustres da ilha da Madeira, como Winston Churchill, a imperatriz Sissi, Carlos I da Áustria, Bernard Shaw, Rainer Maria Ri‑lke, Cristóvão Colombo e Napoleão Bonaparte.

A Madeira é um arquipélago no meio do oceano Atlântico, a 860 quilómetros de Lisboa. Tem duas ilhas habitadas, Madeira e Porto San‑

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to, e três ilhas mais pequenas não habitadas. A Madeira, o jardim do Atlântico, como dizem os guias turísticos, é uma rocha vulcânica com 57 quilómetros de comprimento e 22 de largura, formada por um ma‑ciço montanhoso que do Pico Ruivo (1862 metros) desce até ao mar. A cidade do Funchal, com 110 000 habitantes, é a capital. E foi ali, no Hospital Cruz de Carvalho, a 5 de fevereiro de 1985, uma terça ‑feira, às 10h20 da manhã, que nasceu Cristiano: quatro quilos de peso e 52 cen‑tímetros de comprimento. Era o quarto filho de Maria Dolores dos San‑tos e de José Dinis Aveiro, depois de Hugo, Elma e Kátia, fruto de uma gravidez imprevista que aconteceu nove anos depois do nascimento de Kátia. Era preciso encontrar um nome para o menino. «A minha irmã, que trabalhava num orfanato, disse ‑me que, se fosse um rapaz, podia chamar ‑se Cristiano. Pareceu ‑me uma boa ideia», conta a mãe. «Eu e o meu marido gostávamos de Ronaldo, como o presidente dos Estados Unidos [Ronald Reagan, ator e inqui lino da Casa Branca desde 1981 a 1989]. Então, a minha irmã escolheu Cristiano e nós Ronaldo.»

O batismo de Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro é celebrado na Igreja de Santo António. E, pelos acasos da vida, traz já a marca do fu‑tebol, uma vez que Dinis, o pai do bebé, nos seus tempos livres traba‑lha como roupeiro na equipa do bairro, o Clube de Futebol Andorinha, e, para padrinho do seu filho recém ‑nascido, escolhe Fernão Barros Sousa, o capitão da equipa. A cerimónia está marcada para as seis da tarde, mas às quatro há jogo. O Andorinha joga na Ribeira Brava, a uns dez quilómetros do Funchal. O padre António Rodrigues Rebola, que já tinha batizado os outros irmãos, está bastante nervoso: nem o pai, que acompanha sempre a equipa, nem o padrinho, que lidera o clube do bairro, aparecem. Maria Dolores, que está à espera com a criança nos braços, e a madrinha andam à volta do adro da igreja e tentam tranquilizar o sacerdote. Por fim, chegam o pai e o padrinho, com meia hora de atraso. Pode dar ‑se início à cerimónia. As primeiras fotogra‑fias do álbum de família mostram um bebé com grandes olhos atentos, vestido de branco e azul, com pulseiras de ouro nos dois pulsos, anel de ouro e, ao pescoço, um grande fio com crucifixo.

O papá Dinis é jardineiro da Câmara, a mamã Maria Dolores traba‑lha no duro, como cozinheira, para que os seus filhos tenham comida todos os dias. Aos 20 anos, como milhares e milhares de portugueses, Maria Dolores tinha emigrado para França. Esteve três meses em Pa‑ris, a limpar casas. O marido deveria juntar ‑se ‑lhe, mas não o fez, e Maria Dolores teve de regressar à Madeira porque já tinha dois filhos.

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A vida não era fácil para a família Aveiro, tal como não o era para os vizinhos da Quinta do Falcão. Aquela zona da cidade não tinha nada que ver com os luxuosos hotéis que se erguem junto à costa da ilha. A família cresce e a casa começa a ficar pequena para os quatro filhos. De cada vez que há tempestade, a água da chuva entra pelas fendas no telhado. A mãe de Ronaldo tem de pedir cimento e ladrilhos ao muni‑cípio para arranjar a casa. A família não tinha dinheiro para isso nem para nada, mas, se se perguntar hoje a Ronaldo como foi a sua infância, ele responderá que foi feliz, sobretudo porque nunca largava a bola.

«Num Natal ofereci ‑lhe um carrinho elétrico com comando, pen‑sando que ele ficaria contente, mas não, preferia uma bola», conta Fer‑não Sousa. «Dormia com a bola. Nunca a largava, andava sempre com ela debaixo do braço, de um lado para o outro.» Aos 6 anos, Cristiano entra na Escola Básica Gonçalves Zarco, mais conhecida por Escola dos Barreiros porque fica muito perto do Estádio dos Barreiros, onde joga o Marítimo. Cristiano não é grande estudante. Não é mau, mas também não é dos melhores alunos, limita ‑se a passar de ano e é tudo. Maria dos Santos, uma das suas professoras naquela época, recorda ‑o como um aluno «bem ‑educado, divertido e bom amigo dos seus com‑panheiros». Sobre a paixão do rapaz pelo futebol, disse: «Desde o pri‑meiro dia de escola, era o seu desporto preferido. Quando não havia uma bola por perto, ele e os amigos faziam uma de trapos e meias velhas. Arranjava sempre maneira de jogar futebol no recreio.»

Portanto, futebol na escola e no bairro. «Quando chegava a casa da escola», conta a mãe, «eu dizia ‑lhe: “Ronaldo, vai para o teu quarto fa‑zer os trabalhos de casa.” Ele respondia ‑me sempre que não tinha tra‑balhos para fazer. Logo que eu ia cozinhar, ele aproveitava a ocasião. Pegava num iogurte ou numa peça de fruta e corria com a bola debai‑xo do braço para jogar. Voltava às nove e meia da noite.» Isto quando não fazia gazeta e faltava às aulas. «Os professores dele diziam ‑me que tinha de o meter na ordem, mas eu não o castigava. Tinha de treinar muito para se tornar um grande jogador.»

«Estava sempre a jogar à bola com os meus amigos, era o que mais gostava de fazer, a minha maneira preferida de passar o tempo», reco‑nhece Cristiano Ronaldo anos depois. Joga na rua porque perto de sua casa não há nenhum campo. A Quinta do Falcão é um bairro inclinado, por onde circulam autocarros, automóveis e motorizadas. Era preciso tirar as pedras que faziam de baliza e esperar que o trânsito passasse para reatar o jogo. São partidas entre uma casa e outra, entre grupos

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de amigos, partidas de futebol intermináveis. O problema é quando a bola vai parar aos jardins dos vizinhos ou ao pátio do senhor Agos‑tinho, que ameaça sempre os miúdos de lhes ficar com a bola. A rua e o tempo que passa sozinho a chutar com a bola contra uma parede são as primeiras academias de futebol de Cristiano Ronaldo. É ali, jo‑gando com miúdos maiores do que ele, que aprende os truques e a técnica que o vão tornando grande e lhe forjam o caráter. «Andava todo o dia na rua com a bola nos pés e fazia autênticas diabruras com ela. Parecia que a levava colada aos pés», recorda Adelino Andrade, um vizinho da família Aveiro. «Tinha um dom para jogar futebol. Era bom, mas nunca pensámos que poderia chegar onde chegou», disse Elma, sua irmã.

É aos 6 anos que Cristiano Ronaldo inicia a sua aventura no mun‑do do futebol. Nuno, seu primo, joga no Andorinha. Cristiano, acom‑panhando o pai, foi muitas vezes ao campo. Os dois primos são inse‑paráveis. Nuno convida ‑o para o ver jogar e pergunta ‑lhe se gostaria de entrar para a equipa. Cristiano começa a treinar lá e decide ficar. Maria Dolores e Dinis ficam contentes com a decisão do filho pequeno. São ambos apaixonados pelo futebol. O Benfica é a equipa preferida do pai e de Hugo, o irmão mais velho de Cristiano Ronaldo. A mãe adora Luís Figo e o Sporting. Na época de 1994 ‑1995, com 9 anos, Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro obtém o seu primeiro cartão des‑portivo oficial da Associação de Futebol do Funchal, com o número 17 182. E enverga o equipamento azul ‑celeste do Clube de Futebol Andorinha, um clube com sede no bairro, fundado em 6 de maio de 1925, cujo nome deriva do remate certeiro de um certo futebolista que foi seguido pelo voo de uma andorinha.

Francisco Afonso, que foi professor do ensino básico de Kátia, irmã de Cristiano, é um homem que dedicou vinte e cinco anos da sua vida à categoria de infantis do futebol madeirense. Foi o primeiro treinador de Cristiano Ronaldo e não se esqueceu da primeira vez que viu o jo‑gador: «A bola era para Cristiano o pão nosso de cada dia. Já era muito rápido, tinha uma grande técnica, jogava tão bem com o pé esquerdo como com o direito. Era lingrinhas, mas um palmo mais alto do que os outros miúdos da sua idade. Era sem dúvida um sobredotado, tinha um talento natural que lhe vinha dos genes. Queria sempre a posse de bola, queria resolver as partidas sozinho. Era dotado de grande força de von‑tade, queria fazer sempre tudo bem em qualquer posição onde jogas‑se. E ficava desesperado quando não podia jogar ou perdia um jogo.»

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Rui Santos, o presidente do clube, recorda especialmente um jogo da época de 1993 ‑1994: o Andorinha contra o Camacha. Naquela épo‑ca, a equipa de Camacha era uma das mais fortes da ilha. O Andorinha, no final da primeira parte, estava a perder por 2 ‑0. «O Ronaldo estava tão desiludido que soluçava como um menino a quem tivessem tirado o brinquedo preferido. Na segunda parte entrou em campo com fúria e marcou dois golos, tendo a sua equipa vencido por 2‑3. Não, não gos‑tava mesmo nada de perder. Queria sempre ganhar e chorava quando perdia», conta Rui Santos. Por isso, como recorda a sua mãe, chegaram a chamar ‑lhe «menino chorão». Caíam ‑lhe as lágrimas e arreliava ‑se facilmente quando um companheiro não lhe passava a bola, quando alguém ou ele próprio falhava um golo, um passe ou quando a equipa não jogava como ele queria. Outra alcunha que lhe puseram foi a de Abelhinha, porque, como uma abelha, não parava um minuto e passa‑va o jogo a esvoaçar pelo campo. Anos depois, em Madrid, Cristiano Ronaldo poria este nome ao seu cão, um yorkshire.

«Um futebolista como Cristiano Ronaldo não aparece todos os dias. E depois, quando se olha para ele, damo ‑nos conta de que é diferente de todos os miúdos que vimos jogar», acrescenta Rui Santos. O clube Andorinha tinha uma das equipas mais fracas do campeo nato e Ronal‑do sabia ‑o. O jogador sabia que, quando jogassem contra o Marítimo, o Câmara de Lobos ou o Machico, a derrota seria certa e por grande diferença de golos. Era tão grande a obsessão de Cristiano Ronaldo em ganhar sempre que, quando tinha de defrontar estas equipas, não queria jogar porque não queria ser derrotado. O pai tinha de lhe dar ânimo e insistir para o convencer a jogar, com o argumento que mais efeito tinha sobre o seu caráter: «Só os fracos se dão por vencidos.» Uma lição que o pequeno Ronaldo nunca mais esquecerá.

Em muito pouco tempo, o seu nome começa a ser conhecido. O Nacio nal da Madeira e o Marítimo do Funchal, os dois grandes clu‑bes da ilha, começam a interessar ‑se pelo Abelhinha. Podia ter as‑sinado por qualquer dos dois, mas nesse momento Fernão Sousa, o padrinho, é o responsável pelos juvenis do Nacional. «Eu sabia que ele jogava futebol, claro, era meu afilhado, mas não sabia que era tão bom. Era muitíssimo melhor do que todos os outros. Tratava a bola de uma maneira fantástica. Depois percebi que o miúdo poderia ser a salvação da família.» E Fernão Sousa não hesita um instante que seja: decide que tem de o levar para o Nacional. «Falei com a mãe, disse ‑lhe que era o melhor para ele e chegámos a um acordo com o Andorinha.»

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Não foi tão simples como afirma Fernão Sousa, uma vez que Di‑nis, o pai, prefere que o filho vá para o Marítimo. A família vive perto do Campo Almirante Reis (o feudo histórico do Marítimo) e o rapaz tem alma verde e vermelha, o seu coração bate pelo Marítimo. Porém, não há acordo entre as partes, de maneira que Rui Santos, presidente do Andorinha, se vê obrigado a convocar os dois clubes pretendentes para ouvir as suas ofertas. O responsável pelos juvenis do Marítimo não comparece ao encontro e Cristiano Ronaldo vai para o Nacional da Madeira pelo módico preço de vinte bolas e dois equipamentos completos para os infantis do Andorinha. Nesse momento, não foi um grande contrato, mas, com o tempo, o Andorinha rentabilizou ‑o em fama e lenda: foi a primeira equipa onde o Abelhinha começou a dar os primeiros pontapés. Agora, o velho campo pelado foi substituído por um de relva artificial com iluminação.

Quando chega ao Nacional, Cristiano Ronaldo tem apenas 10 anos e a sua mãe preocupa ‑se. Maria Dolores dizia ao marido: «Vai jogar com rapazes maiores que o podem magoar, partir ‑lhe uma perna.» O pai Dinis tranquilizava ‑a: «Não te preocupes, eles não o apanham, ele é muito rápido.» O rapaz era muito magro e de aparência frágil, e isso saltava tanto à vista que os treinadores do Nacional sugerem aos pais que o alimentem um pouco melhor. Quanto ao valor do miúdo, não têm quaisquer dúvidas: «Vimos imediatamente que tinha grandes qualidades», disse António Mendonça, seu treinador nas duas épocas em que o jovem Cristiano vestiu o equipamento branco e negro. «As suas características já eram muito marcadas: rapidez na execução, ve‑locidade, drible e remate. O futebol de rua tinha ‑lhe ensinado a técni‑ca para evitar os golpes, para se esquivar dos adversários, para fazer frente a rapazes maiores do que ele. E também lhe tinha fortalecido o caráter. Tinha grande coragem.»

O trabalho de Mendonça e dos outros técnicos é então o de lhe en‑sinar que o futebol é um desporto coletivo. Porquê? Porque Cristiano Ronaldo era capaz de pegar na bola no seu meio ‑campo e ir para a ba‑liza adversária sem passar a bola a ninguém. Ignorava os companhei‑ros de equipa e, quanto aos adversários, pouco lhe interessavam. Não aceitava a derrota e queria ganhar sempre a todos. E também chora‑va de raiva e enfurecia ‑se com os companheiros se alguma coisa não corria bem. «Eles aguentavam isso porque ele marcava muitos golos. Ganhámos quase todos os jogos e por grande diferença», acrescenta Mendonça. O seu individualismo e o seu orgulho, porém, não agra‑

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dam. Sente ‑se superior aos outros e é difícil dar ‑lhe conselhos. Isso tem de ser feito em privado, nunca em frente do plantel. Na época de 1995 ‑1996, Cristiano Ronaldo ganha com o Nacional o seu primeiro título regional na categoria dos 10 ‑12 anos. O Porto e o Boavista, dois grandes clubes do Retângulo, como os madeirenses chamam a Portu‑gal continental, começam a interessar ‑se pelo rapaz.

Fernão Sousa percebe que é altura de o seu afilhado pensar em dar o primeiro grande salto e fala com a segunda das pessoas que irão mudar o destino do miúdo: João Marques de Freitas, assistente do procurador ‑geral da Madeira e presidente da Casa do Sporting no Funchal. Foi Marques de Freitas que se encarregou de transmitir ao clube do seu coração as maravilhas daquele rapaz orgulhoso e já espi‑gado nascido na encosta da Quinta do Falcão. O Sporting antecipou ‑se ao Porto e ao Boavista e mandou alguém ver Cristiano Ronaldo e falar com a sua família. Pouco depois, Ronaldo deixa para trás a sua infân‑cia, a sua família, os seus amigos e a sua ilha. A abelhinha voa para o continente.

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LONGE DA ILHA

«A nível desportivo, foi o momento mais complicado da minha vida.»

Nunca tinha entrado num avião. Nunca tinha saído da sua ilha. Nunca tinha enfrentado um desafio tão complicado. Está nervoso e não dormira bem na véspera da viagem. É Fernão Sousa, seu padri‑nho, quem o acompanha a Lisboa. São as férias da Semana Santa de 1997 e Cristiano Ronaldo, que acabara de fazer 12 anos, tem uma pro‑va marcada no Sporting Clube de Portugal. Cristiano teria gostado de ir para o Benfica, o clube do pai e do irmão, mas a mãe Maria Dolores é sportinguista desde sempre e o seu sonho é que o filho venha a ser um grande futebolista como o seu ídolo Luís Figo. Além disso, não se pode dizer que não a um dos grandes clubes da capital, que conta com a melhor escola de formação do país, a Academia. Foi de lá que saíram Futre, Figo, Simão e iriam sair Quaresma, Hugo Viana e Nani.

O rapaz está convencido de que é capaz de ultrapassar a prova. Sabe que é um bom jogador e conseguirá convencer os técnicos leoni‑nos. Porém, quando chega ao campo de treinos das categorias jovens do Sporting, a emoção e o nervosismo que sente são muito grandes. Paulo Cardoso e Osvaldo Silva são os treinadores que examinam o jogador. De início, depara ‑se ‑lhes um rapazinho magro e frágil, mas quando começa a sessão as coisas mudam. O miúdo da Quinta do Fal‑cão recebe a bola e desembaraça ‑se de um, de dois, de três adversá‑rios. Pouco depois, a cena repete ‑se: mais dribles, mais uma corrida, sozinho, com a bola nos pés.

«Olhei para o Osvaldo e disse ‑lhe: “Este miúdo é diferente, é um jogador fantástico.” E não era apenas uma impressão nossa. Todos os rapazes, no final do treino, se juntaram à volta dele. Sabiam que era o melhor», disse Cardoso. O teste convenceu os técnicos do Sporting, pelo que decidem vê ‑lo de novo no dia seguinte, desta vez acompa‑nhados por Aurélio Pereira, diretor da Academia. Aurélio Pereira foi

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claro desde o primeiro momento: «Não foi só o seu talento que me im‑pressionou. Via ‑se já que o rapaz era muito bom, que a bola era uma extensão do seu corpo, que jogava bem com os dois pés, que era muito rápido e que rematava bem de cabeça. Mas o que mais impressionava era a sua determinação, a sua personalidade e coragem em campo. Do ponto de vista psicológico, parecia indestrutível. Não tinha medo de nada, nem sequer dos jogadores mais velhos e maiores do que ele. Tinha uma capacidade de liderança que só os grandes possuem. De tal maneira que os seus companheiros, de regresso aos balneários, o procuravam e queriam tornar ‑se seus amigos. Numa palavra, estava já na posse de tudo, só podia melhorar.»

A 17 de abril de 1997, Paulo Cardoso e Osvaldo Silva escrevem na ficha de identificação de Cristiano Ronaldo: «Jogador com um talento fora de série e tecnicamente muito desenvolvido. Há que destacar a sua capacidade de drible em movimento e parado.» Os técnicos cata‑logam o futebolista como médio ‑centro ou segundo ponta de lan‑ça. É assim que, de início, definem a sua posição. Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro tinha superado a prova. Pode ser agora jogador do Sporting. Antes disso, porém, é necessário chegar a acordo com o Nacional da Madeira. Agora já não se trata de vinte bolas e uns equi‑pamentos.

Ronaldo, depois de ter passado uma semana em Lisboa, regressa à sua ilha e à sua vida. Compete aos diretores a assinatura do contra‑to. O Nacional, nesse momento, tem uma dívida para com o Sporting de 4 500 000 escudos (cerca de 22 500 euros) pelo pagamento adia‑do de Franco, um jovem futebolista que foi vendido pelo Sporting ao Nacional. Parece então que o acordo poderá ser resolvido saldando essa dívida, mas 22 500 euros por um rapaz de 12 anos é, para aquela época, uma soma astronómica. «O Sporting nunca pagara nada pare‑cido por um infantil», diz Simões Almeida, ex ‑administrador do clube.

Aurélio Pereira e os outros técnicos têm de convencer a adminis‑tração de que vale a pena gastar tanto dinheiro com o miúdo, apesar de tão novo. Aurélio Pereira prepara então, a 28 de junho de 1997, uma nova informação, onde no fim, pelo seu próprio punho, escreve: «Apesar de parecer exagerado o preço a pagar por um rapaz de ape‑nas 12 anos, ele tem um grande talento, mostrou as suas grandes qua‑lidades nas provas que prestou perante os nossos treinadores. Será um bom investimento para o futuro.» Estas quatro linhas conseguem convencer o diretor financeiro do clube. A contratação é feita.

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Na última semana de agosto, Cristiano Ronaldo sai da Madeira para integrar a escola de formação do Sporting. É um momento muito difícil para o rapaz. O jogador não esqueceu esse dia triste em que se despediu da família. «As minhas irmãs e a minha mãe choravam. Eu também. Quando já estava dentro do avião e este começou a descolar, comecei a chorar sozinho ao lembrar ‑me da minha família a chorar por mim.»

Cristiano Ronaldo vai viver para a residência que o Sporting cons‑truiu especialmente para os rapazes vindos de outros pontos do país. Esta residência situa ‑se dentro do próprio Estádio José Alvalade, mes‑mo ao lado dos três campos de treino. Sete quartos e uma sala comum para verem televisão. Ronaldo é o mais pequeno. Partilhará um quarto com Fábio Ferreira, José Semedo e Miguel Paixão. Convive com jovens que vêm de Moçambique, antiga colónia portuguesa, do Algarve e de Vila Real. O seu dia a dia está estritamente organizado: até às cinco da tarde na escola e, a partir dessa hora, treino.

O primeiro dia de escola é traumático para o menino da Quinta do Falcão. Chega tarde à aula, a professora já está a fazer a chamada. Ele é o número 5, levanta ‑se, diz o nome e ouve os companheiros a rirem ‑se e a troçarem dele ao fundo da sala. O seu português com sotaque ma‑deirense diverte ‑os. É muito diferente do português que se fala na ca‑pital, quase outra língua. Soa estranhamente. Soa a pobre. Soa a ilhéu. Não se percebe bem quando ele fala. Cristiano perde as estribeiras, explode e ameaça a professora com uma cadeira.

E transforma ‑se no bombo da festa da aula. Sente ‑se um palhaço. Poucos dias depois insulta um treinador que lhe pede para limpar o balneário. Responde com orgulho: «Sou um jogador do Sporting e não tenho que apanhar nada do chão.» Isso não lhe serve de nada: o cas‑tigo é exemplar, ou seja, deixam ‑no vários dias sem jogar. E ele chora, chora muito. Quase todos os dias. Tem saudades da família, da ilha, dos amigos.

«Foi muito duro. Foi o momento mais difícil e mais complicado da minha vida desportiva», lembra Cristiano. Parece ‑lhe impossível adaptar ‑se às pessoas, à vida na residência, às regras, ao stresse da grande cidade. Tudo é diferente, tudo é complicado. Para ele, Lisboa é outro mundo. Duas ou três vezes por semana telefona para casa. Compra um cartão de 50 unidades e vai a uma cabina telefónica. Ao ouvir a voz da mãe fica triste, chora, sente a falta da família. Maria Dolores, muitas vezes, tem de o animar, de lhe dizer que não faça caso

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das brincadeiras dos companheiros, tem de o consolar, de o conven‑cer de que a sua vida e o seu futuro estão ali, em Lisboa, na escola do Sporting. A certa altura tem de viajar até à capital para lhe dar forças porque Cristiano já não aguenta mais, quer largar tudo, abandonar o seu sonho e regressar à ilha, para junto da família.

Segundo Aurélio Pereira, «a sua mãe foi determinante para que Cristiano seja o que é hoje». «Em muitas ocasiões pôs ‑se do nosso lado e não do lado do filho, mas nunca deixou de ajudar Cristiano.» Também o padrinho tem de intervir para que o miúdo não abandone a Academia, sobretudo quando vai de férias a casa e já não quer vol‑tar para Lisboa. O primeiro ano de Cristiano Ronaldo em Lisboa foi um autêntico inferno. A pouco e pouco, contudo, começa a adaptar‑‑se: «Nos momentos difíceis aprendem ‑se coisas sobre nós mesmos e temos de ser fortes para saber o que queremos», explicará Cristiano Ronaldo anos depois.

«Tinha um sonho na vida: desejava ser alguém, desejava ser fute‑bolista profissional, e desejava ‑o com todas as suas forças», comenta Paulo Cardoso. Leonel Pontes, da Madeira, é o seu tutor durante aque‑les anos. Acompanha ‑o aos treinos e à escola. Pontes recorda que «Ro‑naldo era decidido em tudo o que fazia. Queria ser o melhor em tudo: pingue ‑pongue, ténis, bilhar, matraquilhos, setas, atletismo, no corpo a corpo ou na velocidade. A sua equipa devia ganhar sempre. E ele tinha de ganhar em qualquer desporto que praticasse. Penso que uma das coisas que o levaram ao lugar onde está é a forma como trabalha. Quer sempre mais e mais».

À uma da manhã encontram ‑no no ginásio a fazer pesos sem auto‑rização. No quarto faz abdominais e flexões, treina ‑se com pesos nos tornozelos para fortalecer e melhorar o remate. Quando os seus com‑panheiros vão para o duche depois do treino, ele fica no campo a trei‑nar os livres diretos contra uma barreira de pinos. Come dois pratos de sopa a cada refeição porque lhe disseram que joga bem mas é magro demais. Aos domingos é apanha ‑bolas do Sporting nos jogos em casa porque assim pode estar ao lado das grandes figuras do clube, sentir a emoção do relvado e, ainda por cima, ganhar cinco euritos. No final do jogo, ele e os companheiros juntam o dinheiro que ganharam e vão à pizaria, comem uma e compram mais duas para levar para casa.

O seu primeiro salário no Sporting é de 10 000 escudos, cerca de 50 euros. Gasta ‑os nos livros, nos cadernos, na mochila, na roupa e nos gastos do dia a dia. Um dia, porém, a mamã Maria Dolores recebe uma

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chamada a informá ‑la de que Cristiano não tinha aparecido no refei‑tório e gastara todo o seu dinheiro em chocolates. É uma histó ria que faz rir porque se trata de um miúdo ainda pequeno, mas também que tem de crescer rapidamente, tem de ser adulto muito depressa, a quem é imposta uma residência onde tem de ser autónomo em tudo, e até ser responsável por uma tarefa que, normalmente, os meninos não fazem: levar a roupa a lavar e passá ‑la a ferro. «Sinto a falta de não ter gozado a minha infância», comenta Ronaldo numa entrevista antes do Mundial da África do Sul.

A precoce saída de casa, a sua passagem pela Academia do Spor‑ting e também os problemas da sua família fazem com que amadureça depressa. Aos 14 anos, Cristiano Ronaldo vem a saber que o pai é um alcoólico crónico e que o seu irmão Hugo é viciado em drogas. É algo que o assusta e o entristece, mas não se deixa abater por isso. O irmão mais velho iria ser tratado numa clínica de Lisboa e, depois de várias recaídas, sairá do túnel. No entanto, o pai não.

Por sorte, na residência as coisas começam a melhorar. «Graças ao seu extraordinário talento e ao seu trabalho incansável, vai ‑se adaptando à nova vida e transforma ‑se na referência da equipa. Os outros jogadores passavam ‑lhe a bola porque sabiam que ele era o melhor», salienta Pontes. Em campo, Cristiano Ronaldo vai ‑se tornan‑do o líder, mas fora do campo também. Diz Pontes, no documentário Planeta Ronaldo, emitido pela SIC, que Cristiano Ronaldo e outros três companheiros de equipa foram atacados numa rua de Lisboa por um bando de ladrões. Ronaldo, o mais jovem dos três, foi o único que não desatou a correr e lutou para defender o pouco dinheiro que levava na carteira. Os ladrões foram ‑se embora sem lhe roubarem nada.

A Academia do Sporting controla as suas jovens promessas não só nos campos de treino. Destaca um tutor para que os vigie e ajude na escola, no Externato Novo Crisfal, onde o jogador vai às aulas. Ronaldo ama o futebol, mas, quanto às aulas, as coisas são diferentes. Gosta de tudo o que sejam ciências, mas odeia o inglês. Cumpre as suas obri‑gações, é um bom aluno, mas o futebol, os amigos e as concentrações com a seleção distraem ‑no dos estudos. Com o tempo, teve de esco‑lher entre a bola e os livros. Falou com a mãe, convenceu ‑a e desistiu das aulas quando a rigorosa Academia do Sporting lho permitiu.

O clube ajuda os jovens a ultrapassarem os problemas de adap‑tação mediante os conselhos de um psicólogo e impõe a todos uma disciplina férrea. Um exemplo disso é o episódio, quando jogava

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nos juniores, que Ronaldo não esqueceu. Fase final do campeonato: o Spor ting tem de defrontar o Marítimo, equipa do Funchal, cidade onde Cristiano nasceu e cresceu. Regressar à sua ilha, ao seu bairro, ao estádio onde jogou os seus primeiros jogos oficiais, ver toda a sua família e amigos nas bancadas, causou ‑lhe grande expectativa. Cristia‑no, porém, portara ‑se mal na escola e os diretores decidiram castigá‑‑lo com aquilo que mais lhe doía: não o convocaram para o jogo na Madeira. «Vi a lista e eu não constava. Reli ‑a quatro vezes e... nada. Comecei a chorar e, irritadíssimo, fui ao centro de treino pedir expli‑cações. Foi duro, mas reconheço que foi uma lição importante.»

A Academia dá diretrizes muito claras aos seus jogadores e uma equipa médica controla, passo a passo, o crescimento físico dos atle‑tas. Sobre Cristiano Ronaldo, por exemplo, foi feito um estudo sobre a sua densidade óssea, para ver qual seria a sua estatura quando atingis‑se a idade adulta. Tudo bem neste sentido, o rapaz iria ultrapassar os 185 centímetros. Aos 15 anos, porém, detetam ‑lhe um problema sério. «Avisaram ‑nos, do clube, que o coração dele batia demasiado depressa em situação de repouso», revelou a mãe ao diário The Sun. «Tive de as‑sinar um montão de papéis para que o internassem num hospital e lhe fizessem exames. Finalmente, decidiram operá ‑lo. Utilizaram um laser para reparar a zona danificada e, uns dias depois, Cristiano já estava em casa. Antes de saber com exatidão o que estava a acontecer, tive muito medo que ele tivesse de deixar de praticar futebol.»

Tratava ‑se de uma lesão congénita que lhe fazia subir as pulsações mais do que o normal, mas que não causaria qualquer problema à sua corrida no nível máximo. «Poucos dias depois da intervenção já estava a treinar com os seus companheiros e corria até mais depressa do que antes», recorda Maria Dolores. Ronaldo tem uma corrida muito rápida e passa os escalões com a mesma rapidez. Aos 16 anos já é, indubita‑velmente, um jogador de referência da Academia sportinguista. É o único jogador na história do clube que, na mesma época, joga nas ca‑tegorias sub 16, sub 17, sub 18, equipa B e primeira equipa. Em agos‑to de 2001, assina o seu primeiro contrato como profissional. Quatro anos, 2000 euros por mês e uma cláusula de rescisão de 20 milhões de euros. Deixa a residência e passa a viver numa residencial perto do Marquês de Pombal, no coração de Lisboa, até alugar um andar onde a família poderá visitá ‑lo mais amiúde. O rapaz cresce, torna ‑se inde‑pendente e muda de representante. Deixa Luís Veiga, o agente de Figo, e coloca a sua carreira nas mãos de Jorge Mendes.

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Chega à primeira equipa do Sporting, em agosto de 2001, um novo treinador: Lázló Bölöni, um romeno de origem húngara, gran‑de centro ‑campista do Steaua de Bucareste, equipa com que ganhou a Taça dos Campeões Europeus em 1986, ao Barcelona. Antes tinha treinado durante oito temporadas o Nancy francês e, depois de uma breve experiência como selecionador romeno, aceita a proposta do Sporting. No seu primeiro ano ganha a Liga e a Taça de Portugal e fixa ‑se em jovens como Cristiano Ronaldo, Ricardo Quaresma e Hugo Viana. Tem mesmo a intenção de elevar Cristiano Ronaldo à primeira equipa e, de facto, põe ‑no algumas vezes a treinar com os seniores. Po‑rém, de momento, as informações médicas desaconselham o salto do rapaz da Madeira para o escalão principal. No entanto, Ronaldo está a crescer, pouco falta para o dia da sua estreia.

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