Individualização das Fibras da Madeira do Eucalipto para a ...

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Julho 2009 Celso Foelkel www.celso-foelkel.com.br www.eucalyptus.com.br www.abtcp.org.br Individualizaªo das Fibras da Madeira do Eucalipto para a Produªo de Celulose Kraft

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  • Julho 2009

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    Individualizao das Fibras da Madeira do Eucalipto

    para a Produo de Celulose Kraft

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    Individualizao das Fibras da Madeira do Eucalipto

    para a Produo de Celulose Kraft

    Celso Foelkel

    CONTEDO FALANDO UM POUCO SOBRE O PROCESSO KRAFT

    ASPECTOS FSICO-ANATMICOS DAS MADEIRAS DOS EUCALIPTOS

    ASPECTOS QUMICO-ANATMICOS DAS MADEIRAS E POLPAS DOS EUCALIPTOS

    TOPOQUMICA DOS CONSTITUINTES DA MADEIRA

    TOPOQUMICA DA LIGNINA E CARBOIDRATOS NA PAREDE CELULAR DA FIBRA

    COMPOSIO QUMICA DA MADEIRA DO EUCALIPTO E SUA RELAO COM A POLPAO KRAFT

    O MECANISMO DE INDIVIDUALIZAO DOS CONSTITUINTES ANATMICOS DA MADEIRA DO EUCALIPTO PELA POLPAO KRAFT

    DESCORTINANDO O QUE OCORRE COM A MADEIRA DO EUCALIPTO E COM O LICOR DE COZIMENTO DENTRO DO DIGESTOR KRAFT

    OTIMIZANDO A SELETIVIDADE DO PROCESSO KRAFT DE POLPAO DOS EUCALIPTOS

    CONSIDERAES FINAIS

    REFERNCIAS DA LITERATURA E SUGESTES PARA LEITURA

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    Individualizao das Fibras da Madeira do Eucalipto

    para a Produo de Celulose Kraft

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    FALANDO UM POUCO SOBRE O PROCESSO KRAFT

    Caminhos (lmens) e barreiras (tiloses) na anatomia do xilema dos eucaliptos

    Uma constante no dia-a-dia da polpao kraft...

    Foto: Gomide, 2003c

    Processo kraft e madeira de eucalipto tm sido duas coisas que se

    aliaram muito bem, tanto na adequao tecnolgica, como na utilidade

    prtica e nos fins comerciais.

    O processo kraft o meio dominante de produo de celulose

    qumica. Desde sua descoberta acidental em 1879, e posterior patente de

    Carl Dahl em 1884, esse processo tem sido imbatvel em termos de

    promover a separao das fibras de inmeras matrias-primas para a

    fabricao de polpas celulsicas orientadas manufatura de variados tipos

    de papis, derivados de celulose, etc.

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  • 5

    Por outro lado, as fibras dos eucaliptos despontam cada vez mais

    como sendo as grandes vencedoras na disputa dos mercados papeleiros,

    crescendo vertiginosamente em importncia no todo desse segmento

    industrial, em quaisquer dos pases grandes produtores de papis. Isso se

    deve s altas produtividades das florestas plantadas de eucalipto e

    perfeita adaptao da qualidade de sua madeira para produo tanto de

    celuloses como de papis. A indstria de celulose kraft de eucalipto para

    abastecer os mercados papeleiros tem sido referenciada como uma das mais

    promissoras e com amplo potencial de crescimento. Esse crescimento tem

    acontecido em pases como Brasil, Chile, Uruguai, frica do Sul, Portugal,

    China, Espanha, etc. Fbricas kraft estado-da-arte operam nesses pases

    usando as madeiras dos eucaliptos para produzir fibras celulsicas para

    abastecer tanto as fbricas locais de papel, como para serem vendidas nos

    mercados globais via exportao. importante ficar muito claro que a

    grande maioria da celulose de eucalipto tem sido produzida pelo processo

    kraft e em especial para a fabricao de polpas branqueadas. Em geral, as

    fibras curtas no branqueadas dos eucaliptos tm poucas destinaes

    papeleiras. Entretanto, as branqueadas, pelo contrrio, entram na

    composio de uma enorme variedade de papis, tais como: imprimir e

    escrever, sanitrios, revestidos, cartes multi-camadas, papis especiais,

    etc., etc.

    Frente a essas importncias a nvel mundial e tambm para a

    indstria brasileira, temos buscado com intensidade mostrar mais

    conhecimentos sobre o processo kraft de produo de celulose com foco nos

    eucaliptos. Atravs de nosso Eucalyptus Online Book queremos alcanar e

    divulgar novidades para essa sociedade internacional que sempre tem

    interesse em conhecer mais sobre essas fantsticas matrias-primas

    fibrosas. Comeamos a falar sobre a produo de celulose kraft a partir dos

    eucaliptos em nosso captulo anterior, quando escrevemos sobre a

    impregnao dos cavacos pelo licor kraft de cozimento. Na introduo

    daquele captulo lhes trouxemos algumas informaes bsicas sobre o

    processo kraft, suas vantagens, razes de sucesso, etc. Tambm lhes

    descrevemos com detalhes a impregnao dos cavacos, uma fase vital para

    a polpao kraft.

    No presente captulo, tenho por objetivo lhes apresentar o processo

    de separao e individualizao das fibras e a converso da madeira em

    celulose kraft no branqueada. A meta desse captulo no a de ser um

    tratado cientfico repleto de grandes conhecimentos tericos e de frmulas.

    Pelo contrrio, queremos lhes oferecer algo prtico e vital, para ser lido por

    qualquer interessado em conhecer mais sobre como a madeira de eucalipto

    se transforma em polpa celulsica. Tambm no descreveremos mquinas e

    nem processos comerciais que foram patenteados por fornecedores de

    equipamentos, tais como os conhecidos processos Lo-Solids, RDH, Compact

    Cooking, etc., etc. Todos se apoiam nas fundamentaes tericas e

    conceituais da qumica do processo kraft, nas reaes que ocorrem com os

  • 6

    componentes qumicos das madeiras para que as fibras sejam liberadas e

    possam adquirir o status de polpa, pasta ou massa celulsica, ou

    simplesmente, celulose.

    No captulo anterior, vimos que esse processo todo ocorre em

    equipamentos denominados digestores, que so grandes vasos de presso

    onde os cavacos de madeira reagem com o licor de cozimento em condies

    adequadas de temperatura e de presso. A otimizao dessas condies de

    cozimento a meta dos fabricantes de equipamentos e dos produtores de

    celulose. Todos querem a mxima eficincia nas operaes, os melhores

    rendimentos possveis na converso e o atingimento das especificaes de

    qualidade nos produtos. Todos ainda objetivam mnimo impacto ambiental,

    mnimo custo de produo e mximos resultados para as empresas e para as

    partes interessadas. Tudo nas conformidades do desenvolvimento

    sustentvel. o que esperamos que faam, com mximo esforo.

    O grande vantagem do processo kraft consiste em sua capacidade de

    ter mnimas perdas qumicas e mxima eficincia energtica. Cerca de 96 a

    97% dos reagentes qumicos utilizados na polpao so recuperados. Alm

    disso, hoje uma fbrica de celulose kraft no branqueada pode ser

    considerada como capaz de gerar sua prpria energia a partir da frao da

    madeira dissolvida no licor residual de cozimento (licor preto). Como cerca

    de metade do peso da madeira dissolvida nesse processo de separao das

    fibras, essa madeira dissolvida e na forma lquida se converte em um bio-

    combustvel nas fbricas de celulose kraft. Pela concentrao desse licor

    preto residual a altos nveis de slidos secos (60 a 80%) em evaporadores

    de mltiplos efeitos e concentradores, esse licor ganha caractersticas ideais

    para queima. A seguir, esse combustvel rico em matria orgnica e em

    elementos minerais (sdio, sulfetos, carbonatos, hidrxidos, etc.)

    queimado em uma caldeira especial (caldeira de recuperao) gerando

    energia trmica e eltrica e permitindo a recuperao dos reagentes

    qumicos minerais para novo ciclo de cozimento. Um ciclo muito fechado e de

    grande sucesso tecnolgico.

    A madeira do eucalipto se adaptou muito bem ao processo kraft. Isso

    se deve a algumas caractersticas vitais que ela apresenta e que interagem

    muito bem com a fsico-qumica e cintica da tecnologia kraft. A madeira do

    eucalipto facilmente penetrada pelo licor de cozimento, sua lignina de

    relativamente fcil remoo e o rendimento na converso em celulose de

    satisfatrio a muito bom, dentro das realidades da polpao kraft. Como

    resultado, possvel se produzir celulose kraft de eucalipto com consumos

    especficos de madeira por tonelada de celulose muito mais baixos do que

    com madeiras de conferas. Somando-se a isso os preos mais baixos das

    madeiras obtidas das produtivas rvores de eucalipto, criou-se a receita ideal

    de sucesso que todos esperavam: qualidade, eficincia, custos de produo,

    adequao ao uso, satisfao do consumidor e capacitao tecnolgica.

    Apenas a ttulo de conhecimento para vocs, observem na tabela que

    estamos lhes oferecendo a seguir, como fantstica e vantajosa a produo

  • 7

    de celulose kraft a partir do eucalipto em relao s madeiras de fibras

    longas das conferas. So por todas essas razes que as fibras curtas dos

    eucaliptos esto gradualmente substituindo as fibras longas na fabricao do

    papel. Como as polpas de mercado dos eucaliptos podem ter preos menores

    pelos menores custos de fabricao, isso repassado como uma agregao

    de valor para os clientes papeleiros e para os clientes finais (consumidores

    do papel na cadeia produtiva). Isso muito atrativo para os fabricantes de

    papel no integrados, que fazem de tudo para incrementar a participao

    dos eucaliptos em suas receitas mgicas de fibras e com isso, reduzir seus

    custos e ao mesmo tempo, encantar seus clientes.

    Madeira E.globulus E.urograndis Pinus taeda NHSW Northern Hemisphere

    Softwood

    Densidade

    bsica da

    madeira,

    g/cm

    0,6

    0,5

    0,38

    0,45

    Teor Lignina

    Klason total,

    % base

    madeira seca

    23

    28

    32

    30

    Nmero kappa

    na polpa

    digestor

    14 - 15

    16 - 17

    23 - 25

    23 - 25

    Rendimento

    cozimento

    kraft,

    %

    56 - 58

    51 - 54

    43 - 45

    44 - 46

    Fator H

    300 - 400

    400 - 600

    1000 -

    1500

    1000 - 1500

    Carga de lcali

    Efetivo,

    % como NaOH

    15 - 16

    17 - 20

    23 - 24

    22 - 25

    Consumo

    especfico

    madeira,

    m/odt polpa

    (polpa no branqueada

    absolutamente

    seca)

    ~3

    ~3,7 3.8

    ~6

    ~5,0 5,5

  • 8

    Todos os papeleiros tm conscincia de que as fibras longas e as

    fibras curtas possuem caractersticas e performances diferentes na mquina

    de papel. Entretanto, a possibilidade de misturar polpas para compor receitas

    e as tecnologias de mquinas cada vez mais adequadas para as fibras dos

    eucaliptos tm levado a um aumento significativo na participao das fibras

    curtas na produo mundial de papel. Dentre as fibras curtas, as que mais

    crescem nos mercados so justamente as fibras dos eucaliptos. Bom para os

    papeleiros, que produzem papis de qualidade a custos mais baixos. Bom

    para os plantadores de rvores de eucaliptos, que podem orientar suas

    madeiras com maiores qualidades para a fabricao de celulose kraft e com

    isso melhoram os resultados econmicos de suas plantaes.

    =============================================

    ASPECTOS FSICO-ANATMICOS DAS MADEIRAS DOS

    EUCALIPTOS

    Vista radial da madeira do eucalipto

    Observar os canais formados pelos vasos (axiais) e os raios medulares (radiais) A performance do processo kraft no a mesma para as diferentes

    matrias-primas que alimentam os digestores. Inclusive, entre os eucaliptos,

    existem diferenas importantes. Por exemplo, so reconhecidos a maior

  • 9

    facilidade nos digestores para individualizao das fibras e os melhores

    rendimentos em celulose base madeira seca para as madeiras de Eucalyptus

    globulus em comparao a outras espcies como E.grandis, E.saligna,

    E.urograndis (hbrido), E.nitens. Isso se deve s diferenas anatmicas,

    fsicas e qumicas dessas madeiras.

    Na presente seo desse captulo apresentaremos a vocs alguns

    aspectos relevantes e importantes caractersticas das madeiras comerciais

    dos eucaliptos frente ao seu potencial para produo de celulose kraft. J

    vimos isso com bastante nfase no captulo 14 de nosso Eucalyptus Online

    Book (http://www.eucalyptus.com.br/eucaliptos/PT14_PropPapeleiras.pdf ),

    quando lhes mostrei quais considero serem as mais vitais caractersticas das

    rvores e das madeiras dos eucaliptos para a fabricao de polpas kraft. Por

    essa razo, complementaremos nessa seo tentando lhes explicar de que

    forma algumas dessas propriedades da madeira interferem na polpao e

    porque elas so vitais nesse processamento. A anatomia, a fsica e a

    qumica da madeira exercem fortes papis nisso tudo. Por essa razo,

    procuraremos lhes mostrar um pouco de cada em nossos considerandos que

    se seguiro. Com isso, vocs adquiriro uma base terica que permitir bem

    entender as sees que se seguiro, especialmente aquela ligada

    topoqumica da polpao.

    Uma madeira, para ser de boa qualidade para o processamento kraft,

    deve mostrar boa acessibilidade ao licor de cozimento. Por acessibilidade,

    vamos entender a facilidade que os cavacos vo oferecer para a penetrao,

    difuso e reaes do licor de cozimento no interior da madeira. Sem a

    entrada do licor para dentro dos cavacos de madeira, no ocorrero as

    reaes qumicas necessrias para a dissoluo dos constituintes da madeira

    que unem as fibras umas s outras. Sem que ocorram essas reaes em sua

    plenitude e nas doses corretas, sobraro muitas regies da madeira que no

    tero suas fibras individualizadas. Essas regies se convertero em

    problemas para a fabricao, pois se tornaro em impurezas de diferentes

    tipos e tamanhos. As mais conhecidas so os ns ou rejeitos do digestor (as

    maiores em dimenses) ou os palitos ou shives(as menores). Todas

    representam ineficincias e necessidades de remoo, depurao,

    recuperao, reciclagem ou disposio como resduos slidos.

  • 10

    Fibras e clulas de parnquimas juntas a um pequeno shive ou palito regio

    com polpao inacabada

    A acessibilidade da madeira funo de sua porosidade livre. No

    basta apenas que a madeira possua boa quantidade de poros (espaos

    vazios dos lmens). Essa porosidade deve estar livre e desobstruda para ser

    perfeitamente penetrada pelo licor. Por poros ou macro-poros, nesse caso,

    vamos entender toda abertura anatmica capaz de ser penetrada pelo licor,

    sendo isso vlido para os elementos de vaso, clulas de parnquima e fibras

    libriformes.

    Porosidade natural da madeira (Foto: Gomide, 2003c)

  • 11

    Poros obstrudos por tiloses

    Caso a porosidade seja adequada e bem interligada e distribuda, o

    licor de cozimento tem facilidades para entrar na madeira e levar consigo os

    reagentes qumicos para dissolver os constituintes da madeira que precisam

    ser dissolvidos para individualizar as fibras.

    Alm dessa macro-porosidade, existe ainda a micro-porosidade, que

    so as chamadas fraturas, fissuras e vazios na parede celular das clulas.

    Elas tambm permitem o espalhamento melhor do licor dentro da estrutura

    da madeira, enchendo-a assim de ons ativos. Uma parte dessas fraturas

    ocorrem pelo prprio processo de picar as toras em cavacos.

    Individualizar os constituintes anatmicos da madeira a base de todos os

    processos de polpao

  • 12

    Esses diferentes canais formados dentro da estrutura da madeira, sua

    boa distribuio espacial e a ausncia de obstrues srias (tiloses e

    deposies de cristais) ajudam em muito o cozimento kraft das madeiras.

    Densidades bsicas diferentes das madeiras afetam a porosidade

    natural das mesmas

    (quantidade e distribuio dos poros e elementos de vasos)

    Os eucaliptos, nas idades em que so consumidos para fabricao de

    celulose kraft, possuem madeiras bastante porosas. Isso porque so

    madeiras com relativamente baixos teores de extrativos e medianas

    densidades bsicas. Densidades bsicas elevadas reduzem a porosidade da

    madeira e dificultam a entrada e a quantidade de licor nos cavacos. Quando

    se cozinham madeiras muito densas (maior que 0,7 g/cm de densidade

    bsica), h que produzir cavacos de pequenas dimenses, especialmente na

    espessura (2 a 4 mm) e no comprimento (1,5 a 2 cm).

    Por outro lado, os constituintes anatmicos das madeiras dos

    eucaliptos se arranjam de maneira bastante apropriada para o cozimento

    kraft. Os eucaliptos possuem vasos bem distribudos e dispersos na seo

    transversal da madeira. So em geral vasos simples ou agrupados em no

    mximo 3. Ao redor dos elementos de vaso temos um parnquima axial

    muito bem comunicado aos elementos de vasos com uma enormidade de

    quantidade de pontuaes (pequenas aberturas nas paredes que inter-

    comunicam as clulas vegetais).

  • 13

    Comunicaes entre clulas da madeira (Foto: Klock - Acesso em 2009)

    Elemento de vaso ricamente pontuado

    Outra vantagem que as madeiras de eucaliptos oferecem so seus

    inmeros e bem distribudos parnquimas radiais ou raios medulares. Esses

    se alinham no sentido do raio do tronco da rvore e so em geral

    numerosos, mono ou bisseriados. Eles ajudam a que o licor penetre na

    madeira no sentido radial, espalhando-se pelo corpo dos cavacos.

  • 14

    Vasos e parnquimas radiais

    Sinnimos de boa acessibilidade para a polpao kraft

    Observem amigos, essa engenharia notvel que a Natureza criou para

    os eucaliptos perfeitamente favorvel permeabilidade do licor kraft, o

    qual vai trafegar sem grandes problemas nessas madeiras, levando seus

    constituintes qumicos ativos de deslignificao. Ao mesmo tempo, na fase

    lquida do licor dentro dos cavacos, os ons ativos no tm dificuldades para

    se movimentarem por difuso. Tambm os componentes da madeira que

    foram dissolvidos podem tambm migrar para fora dessa estrutura,

    igualmente por difuso. Uma beleza isso tudo, no mesmo?

    No nosso captulo sobre impregnao dos cavacos, vimos que existem

    dois mecanismos principais para a entrada dos ons ativos do licor de

    cozimento para dentro da madeira: penetrao e difuso. S recordando: a

    penetrao consiste na entrada pura e simples do licor para dentro da

    madeira, atravs de toda essa porosidade que vimos at agora. Vejam as

    fotos apresentadas e imaginem o que estar acontecendo com nossos

  • 15

    cavacos no digestor. Nossos sonhos de imaginao no vo terminar s com

    essa primeira viagem, aguardem um pouco mais.

    Conforme o licor penetra na madeira, ele leva seus princpios ativos

    que vo reagindo com os constituintes qumicos da madeira. Ao mesmo

    tempo, novas quantidades de ons ativos vo repondo aqueles consumidos,

    atravs da difuso das zonas de maior concentrao para as de menores

    (onde est ocorrendo o consumo). Essas zonas de menor concentrao so

    exatamente onde esto acontecendo mais intensamente as reaes de

    cozimento entre o licor e a madeira. Com essas reaes de dissoluo e de

    neutralizao, h intenso consumo dos ons ativos do licor e sua

    concentrao baixa. Para que o licor readquira a fora necessria, novos

    ons ativos precisam entrar no cavaco, das zonas mais concentradas

    (externas aos cavacos) para as menos concentradas (internas).

    A difuso o fenmeno mais importante para a reincorporao de

    ons ativos para o interior dos cavacos. A quantidade de ons que penetra

    fisicamente por penetrao para dentro dos cavacos bem menor do que

    aquela difundida. Vamos lhes mostrar agora isso de forma numrica,

    voltando quele nosso exemplo de um cavaquinho de madeira de eucalipto

    com uma grama seca de peso.

    Exemplo de um cavaquinho isolado de madeira de eucalipto:

    Um pequeno cavaco de madeira de eucalipto tem umidade de 35% e

    densidade bsica de 0,5 g/cm. Ele alimentado para um vaso de pr-

    vaporizao e pela condensao da gua do vapor sua umidade interna

    aumenta para 42% e seu volume se expande em 4%. Dessa umidade que o

    cavaco passa a ter, vamos admitir que 8% da gua seja de gua superficial

    livre, sem estar na estrutura do cavaco, apenas molhando-o por fora. Nesse

    momento, o licor de cozimento encontra esse cavaquinho e dever iniciar a

    penetrao para o interior do mesmo, via porosidade da madeira.

    Esse cavaquinho tem as seguintes caractersticas, em mdia e

    aproximadamente:

    Peso seco = 1 grama

    Volume inicial de madeira = (1 g seca) : (0,5 g/cm) = 2 cm

    Volume expandido de madeira = 2 cm x 1,04 = 2,08 cm

    Volume de substncia madeira = 1 g seca : 1,53 g/cm = 0,654 cm

    Densidade da substncia madeira = 1,53 g/cm

    Umidade = 0,42 (42%)

    Consistncia = 0,58 (58%)

    Peso mido = 1 g / 0,58 = 1,724 gramas midas

    Peso de gua = 0,724 gramas

    gua superficial livre no cavaquinho = 0,724 x 0,08 = 0,058 gramas

  • 16

    gua interna na estrutura do cavaco = 0,724 0,058 = 0,666 g ou cm

    O volume que sobra com ar e para ser penetrado pelo licor de cozimento

    ser ento:

    V = 2,08 - 0,666 0,654 = 0,76 cm

    Essa seria a porosidade ainda livre (0,76 cm), que vamos admitir possa ser

    enchida de licor de cozimento, aps as usuais dificuldades para expulsar o ar

    interno, etc.

    Em geral, a concentrao do licor de cozimento colocado de incio no

    cozimento varia entre 40 a 50 gramas de NaOH efetivo por litro de licor, ou

    mesmos valores numricos em mg NaOH efetivo / ml de licor de cozimento.

    Para simplificaes de clculos, vamos considerar nesse nosso exemplo que

    seja de 50 mg/ml. Com isso, a quantidade de lcali efetivo que penetra

    inicialmente no cavaco seria de:

    0,76 cm (mililitros) x 50 mg/ml = 38 mg de lcali efetivo

    Desses 38 mg de lcali efetivo, para condies usuais do processo kraft para

    eucaliptos, cerca de 35% seria de Na2S e 65% de NaOH, ambos expressos

    como NaOH.

    Teremos ento 38 mg de NaOH efetivo que entraram no cavaco atravs do

    licor atravs do mecanismo de penetrao. Isso corresponde a 3,8% de lcali

    efetivo base madeira seca. Ora, sabemos que em geral aplicamos cargas de

    lcali efetivo que variam entre 16 a 20% base madeira seca de eucalipto.

    Desse total aplicado, os cavacos consomem cerca de 65 a 80% e o restante

    sobre como residual, o que extremamente necessrio para manter o pH

    final da polpao ainda elevado. Caso contrrio, teremos re-precipitaes

    terrveis de lignina no processamento kraft. Vamos admitir que no caso de

    nosso cavaquinho exemplo, que uma carga de lcali efetivo de 20% tenha

    sido aplicada e que o consumo tenha sido de 70%. Isso significa um

    consumo de 14% de lcali efetivo base madeira seca. Ora meus amigos,

    desses 14%, uma parte entrou via penetrao do licor (3,8%) e o restante

    certamente por difuso ( 14 3,8 = 10,2% base madeira).

    Torna-se assim mais do que claro que o processo de difuso do licor

    muito importante e a maior fonte de lcali efetivo/ativo para a polpao

    kraft. Quanto mais mida a madeira que entrar no digestor, mais

    fundamental e vital se torna o processo de difuso como forma de veiculao

    dos ons ativos para o interior dos cavacos. Ficou fcil de entender isso?

  • 17

    Portanto, aqueles que acreditam que cavacos bem secos so mais

    indicados para o processamento kraft porque vo receber mais licor por

    penetrao e vo deslignificar mais rpido esto enganados por acreditarem

    que muito lcali vai penetrar nos cavacos e muito menos ser difundido. As

    diferenas sero mnimas e a difuso continuar sendo o processo mais

    importante para suprir ons ativos para deslignificao da madeira do

    eucalipto. Cavacos muito secos so ricos em ar interno e ocluso na estrutura

    dos cavacos. No captulo sobre impregnao dos cavacos vimos que

    definitivamente o ar a maior barreira para o sucesso da entrada do licor por

    penetrao nos cavacos.

    Eucalipto uma madeira maravilhosa e muito til para a Sociedade Humana

    ===============================================

  • 18

    ASPECTOS QUMICO-ANATMICOS DAS MADEIRAS E POLPAS

    DOS EUCALIPTOS

    At o momento, temos falado muito sobre a fsica e sobre a anatomia

    das madeiras dos eucaliptos. Entretanto, logo aps o licor penetrar na

    madeira, as reaes qumicas passam a ser dominantes. Sabemos que o

    cozimento kraft de madeiras de eucalipto conduzem a rendimentos que

    variam entre 48 a 57% dependendo do tipo de madeira, nmero kappa

    desejado e otimizaes nas variveis de processo. Isso significa que entre

    cerca de 43 a 52% da madeira ser dissolvida e solubilizada, passando para

    a fase lquida. Essa frao deixa de ser transformada em peso de polpa final

    produzida para virar material orgnico no licor preto residual. Seu destino

    ser arder na caldeira de recuperao, gerando energia ao processo. Essa

    parte que no vira polpa vendvel absolutamente enorme. Afinal, a cada

    100 gramas secas de madeira que entra no digestor, somente cerca de 50

    gramas viraro polpa seca e o restante, entrar para a fase orgnica do licor

    residual, como o nome mesmo diz, ser residual.

    Quais seriam esses constituintes da madeira que so mais facilmente

    degradados? Porque eles se perdem nessa intensidade? Onde estariam

    localizados na madeira? Como minimizar essas perdas enormes? Ser

    possvel isso para se ganhar em rendimento na polpao?

    Todas essas questes so angustiantes para os pesquisadores, j que

    inmeros esforos tm sido alocados em investigaes desse tipo:

    entretanto, sem grandes e notveis ganhos no rendimento final da polpao.

    Como romper as barreiras do baixo rendimento do processo kraft? Essa tem

    sido a maior das dvidas e inquietudes dos pesquisadores e fabricantes de

    tecnologias de polpao kraft.

    O objetivo do processo kraft a deslignificao da madeira, ou seja

    a hipottica remoo seletiva da lignina. Para polpas branqueveis, a meta

    se ter uma polpa branca final praticamente isenta de lignina e de fragmentos

    de lignina. Entretanto, nem toda lignina deve ser removida pela polpao

    kraft. Esse processo de baixa seletividade e se quisermos remover

  • 19

    intensamente a lignina, vamos degradar muito mais os carboidratos da

    madeira (celulose e hemiceluloses = holocelulose).

    Cabe ao produtor de celulose e antes dele, aos desenvolvedores de

    tecnologias de polpao, optar pelo melhor nvel de lignina a deixar na polpa

    no momento de encerrar o cozimento kraft. Para os eucaliptos, encerra-se o

    cozimento kraft quando se tem um teor de lignina residual de cerca de 2 a

    3,5% de lignina base polpa no branqueada seca. Isso eqivale a cerca de 1

    a 2% base madeira original. Percebe-se ento que o termo deslignificao

    inadequadamente atribudo ao processo de polpao kraft j nem toda a

    lignina removida (remoo de 90 a 95%) e nem s lignina se dissolve da

    madeira. H enormes remoes de extrativos, hemiceluloses, amidos,

    pectinas, sais minerais e cadeias celulsicas degradadas.

    Considerando que o teor de lignina na madeira do eucalipto varia

    entre 20 a 30% de seu peso seco, quando temos rendimentos de polpao

    base madeira seca de 50 a 55%, fica claro que tiramos muito mais do que

    apenas a lignina. Praticamente, e dependendo das condies de matria-

    prima e do processo, as quantidades de outros materiais que removemos da

    madeira so praticamente do mesmo nvel da quantidade de lignina extrada.

    Vejam esses pequenos e singelos exemplos na tabela que se segue:

    Tipo de eucalipto E.globulus E.urograndis

    Propriedades

    ...............................

    ...........................

    Teor de lignina base madeira

    seca, %

    22 28

    Rendimento da polpao kraft,

    %

    56 51

    Remoo da lignina presente 95 95

    Remoo lignina base madeira,

    %

    20,9 26,6

    Remoo de outros

    constituintes da madeira, %

    base madeira

    23,1

    22,4

    Relao entre remoo de

    lignina e outros constituintes da

    madeira, base seca

    1 Lignina: 1,10

    Outros

    1 Lignina : 0,85

    Outros

    Ou seja, para cada uma unidade em peso seco de lignina que se

    remove pelo processo kraft da madeira do eucalipto, estaremos removendo

    entre 0,8 a 1,2 unidades em peso de outros importantes constituintes da

  • 20

    parede celular dessa madeira. Isso porque no cozimento, destrumos grande

    parte da lamela mdia, da parede primria e parte da parede secundria dos

    elementos anatmicos da madeira. Acabamos fazendo alguns buracos e

    canais microscpicos na parede celular. Com isso, a parede fica como um

    micro-queijo suo, com nova micro-porosidade adicionada. Aumenta assim

    a sua capacidade de absorver e de reter lquidos e de se hidratar mais.

    Entretanto, a parede celular se enfraquece, perde rigidez e resistncia,

    ficando mais vulnervel ao colapso, deformaes e at mesmo quebra e

    dobramento.

    Fibras residuais do processo kraft

    segundo muito bem se refere nosso estimado amigo Dr. Panu Tikka

    Nas condies do trmino do cozimento kraft, com as fibras muito

    quentes, com paredes inchadas e muito alcalinas, elas ficam extremamente

    vulnerveis s aes mecnicas, perdendo muito de sua resistncia pelos

    esforos brutais que realizam ou sofrem pelas remoes de constituintes,

    hidrataes, bombeamentos, misturas dinmicas, desfibramentos,

    prensagens, etc. Nesse momento, as microfibrilas esto completamente

    afrouxadas na parede celular, em uma situao completamente nova para

    elas. Afinal, cada fibra teve seu peso seco reduzido em quase 50% do peso

    inicial. Dela foram extradas substncias importantes que compunham sua

    matriz estrutural e que lhe davam resistncia e rigidez. A lignina foi bastante

  • 21

    removida, quer da lamela mdia, parede primria e parede secundria, onde

    muito abundante tambm. As hemiceluloses so extradas de todas as

    camadas que formam a parede celular, em especial das paredes primria e

    secundria. Em resumo, cada fibra perde peso e resistncia individual.

    Ganham entretanto, capacidade de hidratao, flexibilidade, capacidade de

    se ligar melhor e colapsabilidade.

    Quando o cozimento kraft encerrado, os cavacos ainda mantm

    suas fibras semi-unidas, encharcadas pelo licor de cozimento. A forma dos

    cavacos inclusive mantida, apesar das fibras poderem ser individualizadas

    com o mnimo esforo mecnico. Quando ns passamos agora a tentar

    desestruturar essa massa, transformado-a em polpa pelo desfibramento

    final, tambm afetamos a rede de microfibrilas das paredes celulares. Efeitos

    como deformaes, desarranjo de fibrilas, desfibrilamento e afrouxamento

    da parede celular passam a ser criados e significativamente. A parede S2 que

    estava em sua mxima organizao na madeira, vai-se sentir de um

    momento para outro desorganizada, degradada e afrouxada. Ela est muito

    sensibilizada e vulnervel. Pior que vai encontrando coisas completamente

    novas para ela, tais como: bombas, misturadores dinmicos, prensas,

    vlvulas de controle, manifolds, caixas de vcuo, etc. Ao final, ainda

    sofrero outros danos mecnicos e fsicos com a secagem, histerese,

    hornificao, etc., etc.

    As aes sofridas no cozimento acabam se somando a outras

    importantes que vo ocorrer nos estgios do branqueamento e demais fases

    da fabricao da celulose e depois do papel. Temos portanto um continuado

    e sucessivo conjunto de aes e de reaes sobre os elementos anatmicos

    das polpas, que antes e um dia formavam a madeira de eucalipto.

    Como muito bem disse uma vez nosso estimado amigo Dr. Panu Tikka:

    Instead of talking about residual lignin in the kraft cooking, it would be

    better start thinking about the residual fibers.

    Ao invs de se falar acerca da lignina residual ao trmino da polpao kraft,

    melhor se comear a pensar acerca das fibras residuais

    ===============================================

  • 22

    TOPOQUMICA DOS CONSTITUINTES DA MADEIRA

    Corte transversal de madeira de eucalipto mostrando

    paredes celulares contguas

    Temos procurado dar nesse captulo no uma viso de cintica

    qumica ou de complexas reaes que venham a estar acontecendo durante

    o processo de polpao kraft. Isso ser tema de um outro captulo posterior.

    Meu propsito aqui bem outro. No a viso de um qumico que quero

    lhes transmitir: quero apenas lhes contar como as coisas acontecem na

    realidade dos fatos de como a madeira vira celulose kraft, passando pela

    etapa de polpao. Como sero seus constituintes qumicos afetados, onde e

    porqu? Para que isso possa ser entendido, necessrio lhes contar algo que

    poucos livros procuram contar, que a realidade topoqumica da madeira e

    da polpao. Ou seja, onde os constituintes qumicos esto na madeira e

    como eles vo sendo dissolvidos ou preservados nas paredes dos elementos

    anatmicos dessa madeira.

    Portanto, conhecendo como a madeira est montada e como seus

    diversos constituintes se distribuem nas clulas, poderemos ter uma viso

    privilegiada do processo kraft. Bem diferente do que enxergar apenas

    cavacos, licores e indicadores como o nmero kappa e a viscosidade das

    polpas, no mesmo?

    Bom, comearei por lhes trazer algumas figuras clssicas e

    consagradas da literatura de anatomia da madeira, daquelas que aparecem

    em todos os bons livros textos para identificar as diversas camadas que se

    estruturam na parede celular das fibras. Essa parede constituda de uma

    matriz onde se organizam as microfibrilas de celulose de forma muito

    organizada e tpica. Essas microfibrilas esto encapsuladas e argamassadas

    por uma massa de hemiceluloses e lignina, cujas propores relativas variam

  • 23

    conforme a espcie vegetal e a camada da parede que estivermos

    analisando.

    ------------------

    Fonte: Klock - Acesso em 2009

    O

    O

    O

    O

    CH2OH

    CH2OH

    CH2OH

    CH2OH

    OO

    O OO

    OH

    OH

    OH

    OHOH

    OH

    OH

    OH

  • 24

    Lignina e hemiceluloses esto, na opinio de muitos autores, como

    que soldadas ou enxertadas em suas molculas, atradas e unidas fsica e

    quimicamente. Isso acaba por conferir resistncia e rigidez madeira. Muitos

    autores se referem a esse fato como se as microfibrilas de celulose

    constitussem a ferragem e a lignina e as hemiceluloses, o cimento,

    comparando a madeira com uma estrutura construtiva de concreto feita pelo

    homem. Construdas as clulas vegetais (fibras, parnquimas, elementos de

    vaso, etc.), cabe a misso agora do vegetal manter as mesmas fortemente

    unidas umas s outras. Essa a funo da Lamela Mdia (M), uma camada

    cimentante muito rica em lignina muito condensada que cola um elemento

    anatmico ao outro.

    As microfibrilas so consideradas como grupos de longas cadeias de

    molculas de celulose compactadas e organizadas em forma de fios ou fitas.

    A face lateral das microfibrilas achatada e no arredondada. Com isso, a

    ligao e adeso entre elas ainda maior.

    As microfibrilas possuem orientao definida conforme elas vo sendo

    formadas e colocadas nas camadas da parede celular. A funo das

    microfibrilas dar resistncia a essa parede e a clula vegetal sabe muito

    bem fazer isso. Ao invs de colocar uma camada nica e uniforme de

    microfibrilas, as clulas vo colocando essas microfibrilas de forma ordenada

    e diversa, mais ou menos como estivessem fazendo uma trana na espiral

    em relao ao eixo da fibra. Conforme a orientao dada s microfibrilas,

    essas camadas vo-se distinguindo e diferenciando a nvel de ultraestrutura

    da parede celular.

    Ultraestrutura da parede celular da fibra do xilema das rvores mostrando as

    camadas tpicas que compem a mesma

    Fonte: Tiikkaja, 2007

  • 25

    As duas principais camadas da parede celular so a parede primria

    (P) e a parede secundria (S). A parede primria formada pelo cmbio

    ainda na fase de diviso celular e nas primeiras etapas da vida dessa clula

    que vai acabar se diferenciando em principalmente fibras no xilema dos

    eucaliptos. As microfibrilas na parede primria esto distribudas ao acaso,

    no h um modelo bem definido como nas outras camadas da parede

    secundria. A parede primria muito fina e tem uma estrutura frouxa e

    flexvel quando jovem. Isso importante para ela, pois a clula conforme se

    diferencia, cresce em comprimento e largura e essa parede tem que

    acompanhar e no restringir esse crescimento. At certo ponto, esse

    processo de crescimento celular explica o porque da distribuio ao acaso e

    irregular das microfibrilas.

    A parede primria to fina que ela se confunde com a lamela mdia.

    Por essa razo, essas duas camadas so olhadas de forma conjunta pela

    maioria dos autores de anatomia da madeira. Eles denominam essa camada

    dupla de Lamela Mdia (M) e Parede Primria (P) de Lamela Mdia Composta

    (M+P).

    A parede secundria (S) bastante distinta da parede primria,

    porque suas microfibrilas esto alinhadas e paralelas umas s outras. A

    parede secundria espessa, pouco flexvel, resistente e pouco extensvel.

    Significa que sua formao se d quando a fibra j tomou seu tamanho final,

    aquele sugerido pelo seu cdigo gentico e pelas facilidades ou dificuldades

    encontradas no ambiente de crescimento vegetal.

    Como existem sub-camadas de diferentes espessuras e nveis de

    alinhamento em relao ao eixo longitudinal da fibra, as sub-camadas so

    identificadas pelos ngulos e pela forma de disposio das microfibrilas.

    Essa trana microfibrilar dividida em trs zonas ou sub-camadas: S1 , S2 e

    S3.

    S1 Camada secundria externa

    S2 Camada secundria intermediria

    S3 Camada secundria interna

    Essas camadas so construdas pelo citoplasma vivo da clula vegetal

    e nessa ordem. Quando o citoplasma morre pela intensa lignificao da

    clula, ele se resseca e seus constituintes se pegam sobre a camada mais

    interna (S3). Por essa razo, essa camada mais interna tem alguns vestgios

    do citoplasma em sua face interna, na forma de pequenas verrugas, o que

    lhe d tambm o nome de camada verrugosa.

    As microfibrilas da camada S1 formam um ngulo fibrilar aberto em

    relao ao eixo da fibra (entre 50 a 70). tambm uma camada bem fina.

    A camada S2 a mais espessa da parede da fibra e seu ngulo fibrilar

    bastante fechado, estando as microfibrilas dispostas quase verticalmente

    (ngulos de 10 a 25 para os eucaliptos). Esse ngulo fibrilar varia com a

    espcie de Eucalyptus, idade da rvore, condies de crescimento, tipo de

    madeira formada e condies ambientais onde vegeta a rvore. Esse ngulo

  • 26

    determina diferenciaes no inchamento e contraes da madeira, das fibras

    e por extenso, do papel formado com essas fibras.

    Pelo fato da camada S2 corresponder a praticamente 80% ou mais da

    espessura da parede celular, ser ela que vai determinar a resistncia da

    fibra individual e tambm outras caractersticas importantes das polpas

    (coarseness, frao parede, etc.).

    As microfibrilas da parede S3 se dispem de forma similar de S1, em

    ngulos bem abertos.

    As madeiras dos eucaliptos no possuem apenas fibras em sua

    constituio anatmica. As fibras representam cerca de 65 a 75% do volume

    da madeira, sendo o restante complementado pelos elementos de vaso e

    pelas clulas dos parnquimas axial e radial.

    No processo de diferenciao celular, as clulas precursoras de fibras,

    vasos e parnquimas se comportam diferentemente. Enquanto as que vo

    gerar fibras sofrem uma forte elongao em seu comprimento, os vasos se

    diferenciam pelo crescimento lateral e transversal (na sua largura). J as

    clulas de parnquima mantm suas dimenses reduzidas e so muito ricas

    em pontuaes ou pontoaes.

    Corte transversal de fibras mostrando lmens, paredes e pontuaes aureoladas

    As dimenses mais usuais para as diferentes camadas das fibras de

    eucaliptos so as seguintes:

    M+P - menor que 0,5 m

    S1 aproximadamente 0,5 m

    S2 entre 3 a 6 m

    S3 cerca de 0,3 m

    Do exposto, pode-se notar que a parede celular das fibras dos

    eucaliptos est estruturada de maneira muito bem orquestrada pela

    Natureza. Essa organizao complexa se repete para as fibras e para suas

  • 27

    camadas. Uma beleza essa engenharia toda que nossa me Natureza nos

    brinda.

    Tambm nos elementos de vaso e nas clulas de parnquima a

    parede celular organizada em camadas, somente que de maneira um

    pouco mais desorganizada. Alm disso, as paredes das clulas de

    parnquima e dos vasos so muitssimo ricas em pontuaes. A cada

    pontuao, as microfibrilas so ordenadas de forma a se desviarem das

    aberturas da mesma, mas sem se interromper. Apenas, os fios e fitas

    microfibrilares se desviam e passam ao lado da abertura, que fica assim com

    seus bordos reforados. Os elementos anatmicos no podem ser frgeis: os

    eucaliptos sabem muito bem disso na construo de suas clulas de xilema.

    Toda essa estrutura microfibrilar argamassada por lignina e

    hemiceluloses possui ainda regies cristalinas (parte cristalina da celulose) e

    partes amorfas (regies amorfas da celulose e da lignina e hemiceluloses).

    Enquanto a celulose constituda basicamente de unidades repetitivas

    de anidro glucose (muitas vezes referidas como glucanas), as hemiceluloses

    so camadas ramificadas de diversos tipos de polissacardeos em forma de

    polmeros (unidades repetitivas de anidro xilose, anidro arabinose, anidro

    galactose, etc.). J a lignina um composto aromtico complexo, constituda

    de unidades monomricas distintas de fenil propano.

    A grande dificuldade dos fisiologistas vegetais entender como ocorre

    a biosntese desses compostos e de que maneira o vegetal se organiza para

    formar os diferentes tecidos da madeira com essa orquestrao notvel.

    Sabe-se tambm pouco sobre a lignificao e sobre a constituio da

    molcula de lignina dos eucaliptos. Veremos sobre isso em futuro captulo

    desse livro virtual.

    Teremos um captulo especial em nosso Eucalyptus Online Book

    para tratar do processo de Formao da Madeira do Eucalipto, bem como

    outros sobre Anatomia da Madeira e Qumica das Constituintes da

    Madeira. Aguardem. Por enquanto, e para as finalidades desse atual

    captulo, fundamental que vocs conheam os conceitos que estamos

    tentando lhes trazer sobre a ultraestrutura da madeira e a topoqumica dos

    constituintes celulares.

  • 28

    Paredes contguas mostrando (M+P) com muito detalhe

    De qualquer forma, quando nos referirmos madeira do

    eucalipto, estamos falando sobre uma estrutura de seus constituintes

    qumicos (celulose, lignina, hemiceluloses, extrativos e cinzas minerais)

    organizados na forma de paredes como (M+P), S1, S2 e S3 e em incluses

    nos lmens e vacolos ressecados depositados na camada verrugosa.

    Os extrativos so compostos formados pelas rvores com diferentes

    finalidades, sendo as principais: conferir hidrofilicidade e patogenicidade para

    preveno ao ataque de predadores. Os extrativos das madeiras dos

    eucaliptos possuem polifenis polimerizados, cidos elgico e glico, lcoois,

    taninos, carboidratos solveis, ceras, cidos graxos, etc.

    Em geral, os extrativos se localizam em vacolos que se depositam

    sobre a camada S3 na parte interior da clula ou obstruindo os vasos (na

    forma de tiloses). Entretanto, tem-se detectado como importante a presena

    de extrativos tipo sitosterol impregnados nas paredes das clulas dos raios

    medulares.

    Uma parte dos extrativos so insolveis em gua fria e quente,

    somente podendo ser extrados por solventes orgnicos (acetona, tolueno,

    benzeno, lcool e ter etlicos, diclorometano, etc.). A maioria dos extrativos

    so dissolvidos pelo licor kraft de cozimento, que os saponifica ou destroi as

    molculas. Outros resistem a essa degradao e se transformam em sabes

    de clcio, por exemplo, problemticos ao processo industrial e qualidade da

    celulose (pitch).

    ===============================================

  • 29

    TOPOQUMICA DA LIGNINA E CARBOIDRATOS NA PAREDE

    CELULAR DA FIBRA

    Muitos tcnicos acreditam que a grande maioria da lignina da madeira

    do eucalipto encontra-se situada na lamela mdia. Sua crena se baseia em

    conceitos aprendidos empiricamente por sempre terem ouvido falar da

    necessidade de se remover a cola das paredes que unem as fibras para

    individualiz-las. Acabaram com isso criando uma associao entre lignina e

    lamela mdia. Veremos a seguir que essa crena (ou mito) infundada.

    A lignina um composto orgnico natural e muito plstico. Ela uma

    molcula to complexa que muitos autores sugerem a existncia de apenas

    uma enorme molcula de lignina na planta, que vai-se ramificando sem se

    criar uma separao entre uma molcula e outra. A lignina possui carbono,

    hidrognio e oxignio em sua composio, sendo muito mais rica em carbono

    em sua composio do que os carboidratos (60% para a lignina e 48% para

    a holocelulose). Isso porque nas holoceluloses a percentagem de oxignio

    (um tomo mais pesado que o carbono) maior (47% de oxignio na

    holocelulose e 33% na lignina). por essa razo que as madeiras densas e

    ricas em lignina so as ideais como lenha ou biomassa, pois geram mais

    calor em sua queima. O poder calorfico da lignina de 5.700 a 6.000

    kcal/kg, enquanto para a madeira como uma mdia de 4.500 kcal/kg seco.

    A lignina um polmero amorfo e complexo, ramificado e constitudo

    de unidades de fenil propano, que vo-se agrupando de forma mais ou

    menos organizada. Na verdade, a lignina tem sua frmula variando em

    estrutura entre plantas e mesmo entre diferentes regies da mesma planta.

    Unidades de fenil propano: hidroxi-fenil; guaiacil e siringil

  • 30

    Lignina de eucalipto (Pil-Veloso et al., 1993)

    A densidade da macro-molcula de lignina no alta em funo dessa

    estrutura frouxa e pelo fato de seu maior constituinte, o carbono, ter baixo

    peso atmico (12). Ela tem sido relatada por diversos autores como variando

    entre 1,34 a 1,45 g/cm.

    Outra grande dificuldade que a extrao da lignina da madeira, por

    qualquer que seja o mtodo empregado, acaba afetando a sua estrutura j

    complexa.

    A lignina intimamente ligada por covalncia e ligaes benzil-ter s

    hemiceluloses (principalmente s xilanas) naquela argamassa que se molda

    e agrega as microfibrilas de celulose. Portanto, j vemos aqui que h lignina

    em todas as paredes celulares, inclusive e principalmente em S. Por essa

    razo, em toda extrao analtica de lignina, acabam-se extraindo alguns

    fragmentos de carboidratos conjuntamente. Veremos e demonstraremos um

    pouco mais adiante que a maior parte da lignina da madeira est na verdade

    na parede secundria do xilema e no na lamela mdia composta (M+P).

  • 31

    Como a molcula de lignina bastante heterognea em funo de seu

    mecanismo de biosntese e tambm pelo fato das hemiceluloses terem

    ramificaes em sua cadeia principal (backbone), essa argamassa

    lignina+hemiceluloses tambm complexa em sua organizao e estrutura.

    A distribuio da lignina na parede celular tem sido facilitada hoje pela

    tcnica da microscopia eletrnica de varredura associada com espectroscopia

    ultravioleta (scanning UV spectroscopy). Atravs dela, fazem-se cortes de

    tecidos de cerca de um micromtro de espessura e se conseguem medir os

    valores de absorbncia (em especial a 280 nm) nos locais da parede celular

    onde esto os constituintes da madeira que se quer medir.

    Microscopia de varredura da parede celular das fibras no ultravioleta

    Fonte: Pereira, 2009

    Atravs de diferentes tipos de metodologias, possvel se observar

    que os diferentes constituintes qumicos da parede celular no esto

    uniformemente distribudos nessa parede. Isso altamente compreensvel,

    j que a organizao da ultraestrutura da parede nos leva a entender muito

    bem as razes dessa desuniformidade na distribuio de seus constituintes

    qumicos.

    Apesar das diferentes madeiras possurem uma composio qumica

    elementar parecida, ocorre ampla variao na distribuio desses

    constituintes nas diferentes camadas e paredes, entre plantas e na mesma

    planta.

    Sabe-se que os feixes de celulose e os componentes amorfos das

    hemiceluloses so formados em primeiro lugar pela clula em diferenciao.

    A lignina primeiramente depositada na lamela mdia e depois, conforme se

    forma a parede celular secundria, ela depositada ali tambm. Ao mesmo

    tempo que se deposita a lignina, novas molculas de hemiceluloses tambm

  • 32

    so formadas e depositadas, da a razo dessa intimidade entre lignina e

    hemiceluloses na parede celular.

    A anlise dos constituintes das diversas camadas da parede celular

    era muito difcil de ser realizada, mas agora as metodologias mais modernas

    permitem essa determinao de forma mais fcil. Os resultados para anlises

    de diferentes madeiras apontam o seguinte para a lamela mdia composta

    (M+P):

    50 a 70% de concentrao de lignina;

    25 a 40% de concentrao de carboidratos sendo a maior parte pentoses;

    2 - 5% de concentrao de cinzas minerais

    Embora a lamela mdia pura (M) no possua celulose em sua

    constituio, a lamela mdia composta (M+P) j a possui, embora em

    pequena percentagem. Em (M+P) se encontram ainda: protenas, pectinas,

    xilanas, glucanas, mananas, galactanas, etc. A presena de cinzas minerais

    tambm expressiva na lamela mdia composta.

    A composio percentual (teores) varia em (M+P) conforme a idade

    fisiolgica da clula, tanto maior a concentrao de lignina, quanto mais

    velho e lignificado for o material. Na verdade, a lignina depositada pelo

    citoplasma vivo e sua deposio vai enrijecendo a clula, tornando-a mais

    hidrfoba. Chega um momento em que a clula morre, no se sabe se por

    programao fisiolgica ou porque a lignificao acabou por tirar as

    condies vitais da mesma. H os que acreditam que a clula vegetal do

    lenho acaba se suicidando ou pratica lento suicdio quando faz sua

    lignificao. A clula morta se converte em um material apenas de

    resistncia e sustentao.

    A lignina presente na parede das fibras comea a ser inicialmente

    depositada na lamela mdia, especificamente nos cantos das fibras, no local

    onde os anatomistas de madeira denominam de (M+P)corner. nessa regio

    que a lignina atinge mxima concentrao na madeira, podendo atingir entre

    85 a 100% de concentrao. Em (M+P)corner se encontra a lignina mais pura

    da madeira. J se notou que essa lignina tem maior proporo de unidades

    de siringil do que de guaiacil, sendo por isso de mais fcil remoo do que o

    restante da lignina da lamela mdia (M). A lignina de M mais condensada,

    mais hidrfoba e com menor relao S/G. A partir da lamela mdia composta

    a lignina comea a ser formada para toda a parede celular.

    A regio conhecida como (M+P)corner consiste na mais pura expresso

    da verdadeira lamela mdia, praticamente isenta de carboidratos. Os poucos

    carboidratos que existem so de pentoses. Porm, em (M+P)corner existem

    ainda pectinas, protenas, cinzas e algumas hexoses.

  • 33

    A concentrao absoluta de lignina diminui de (M+P) em direo a S3,

    enquanto a de holocelulose cresce no mesmo sentido.

    Fonte: Klock - Acesso em 2009

    A maioria da celulose est presente na camada S2, exatamente por

    ela ser mais espessa e com maior teor de microfibrilas. A parede S2

    corresponde a cerca de 65 a 80% do volume slido da fibra, fcil verificar

    ento porque a maior parte da celulose e das hemiceluloses est presente

    nela. Alm disso, nessa camada S2, a concentrao de celulose varia de 55 a

    65% de seu peso seco.

    J as camadas S1 e S3 so muito mais ricas em xilanas,

    especialmente a camada S3 que a mais rica em concentrao de

    hemiceluloses (concentrao em hemiceluloses de 50 a 70%). As

    hemiceluloses ocorrem portanto em todas as camadas da parede celular,

    crescendo sua concentrao de cerca de 20% em P para cerca de 70% na

    S3.

    Hetero-Xilana (Fonte: Sixta, 2009)

    (M+P)corner (M+P)

    O

    OO

    O OH O

    O

    O C H 3

    O H

    O

    OO

    O

    OO

    OO

    OO

    O

    O

    H OO

    O H O

    C7 4 2

    O

    O

    H OO H

    H 3 C O

    H O O C

    2

    R ha m no -

    ar a bin og ala c tan - -D - G a lp 1

    C O

    H3 C2 4

    O C H3

    O

    H OO H

    H 3 C O

    HO O C

    G luc an -D - G lcp 1

    CH 3 C

    OO

    H 3 C

    6

    CH 3 C

    O

    1 5

    1

    O

    H O

    OH 3 C

    [ -L -R ha

    H O

    [ -D -

    O

    H O13

    O H

    OH O

  • 34

    Tem-se ainda notado que as clulas de parnquima e os elementos de

    vaso possuem mais lignina em suas paredes e que essa lignina mais

    hidrfoba e condensada, sendo tambm mais baixa a relao S/G.

    Os extrativos, como j mencionado, localizam-se preferencialmente

    nas clulas de parnquima, canais de goma e nas tiloses que obstruem os

    vasos.

    As cinzas ou elementos minerais esto presentes nos elementos de

    vaso, clulas de parnquima (com diminutos cristais) e na lamela mdia.

    O teor de lignina na madeira do eucalipto varia entre 22 a 30%

    determinada como Lignina Klason total (fraes solvel e insolvel em cido

    sulfrico a 72%). A maior concentrao est na lamela mdia na forma de

    uma fina lmina compacta e envolvente clula. Ela muito difcil de ser

    separada sozinha do restante da clula, pela sua fina espessura. Por essa

    razo, a maioria dos estudos sobre a composio e dimenso da lamela

    mdia se faz na lamela mdia composta (M+P).

    Como a lignina o composto mais importante a ser separado no

    processo kraft de deslignificao, muito importante se conhecer sobre sua

    topoqumica, onde ela est na parede celular. Como estaria a lignina

    distribuda na parede celular das fibras do eucalipto? Seria uma camada to

    fina como (M+P) capaz de abrigar a maior parte da lignina da sua madeira,

    como acreditam muitos?

    Um dos grandes problemas para se avaliar muito bem a topoqumica

    da lignina so as dificuldades de medio. A molcula de lignina irregular

    em sua estrutura e composio, variando a mesma conforme a regio da

    madeira. Alm disso, as unidades de siringil e guaiacil absorvem luz violeta

    de forma diferente e se comportam por isso diferentemente nas varreduras

    UV. Outra dificuldade, j mencionada, a dificuldade de se remover

    seletivamente a lignina, sem que venham juntos contaminaes de

    carboidratos. Como extrair e testar a lignina, sem que venham juntos

    carboidratos tambm? Como individualizar muito bem cada um deles sem

    estragar sua frmula qumica natural? Muitos pesquisadores tm atacado

    esse problema e por isso que ficar mais fcil lhes apresentar algo mais

    sobre a topoqumica da lignina nessa seo.

    O que sabemos hoje que (M+P) representa entre 7 a 15% do

    volume slido da nossa fibra, variando para mais ou para menos dependendo

    da espessura total da parede celular. Quando a parede secundria muito

    espessa, diminui a proporo relativa de (M+P). De qualquer forma, a

    lamela mdia composta uma parede fina, apesar de ser a de maior largura

    e comprimento de todas as camadas da clula. O restante do volume slido

    da fibra parede secundria (S1 + S2 + S3). Isso corresponde a 85 a 93%

    de parede secundria na fibra, enorme a sua contribuio, portanto.

  • 35

    Um exemplo numrico para a topoqumica da lignina na parede

    celular

    Vamos considerar em nosso exemplo hipottico que a lamela mdia

    composta representasse em mdia 12% do volume slido da fibra de uma

    madeira de um eucalipto. Essa lamela mdia composta possui uma

    concentrao de lignina que pode variar entre 55 a 70%, sendo o restante

    carboidratos (cerca de 25 a 40%) e cinzas (cerca de 5%).

    Para esse nosso exemplo, vamos admitir que estejamos falando de

    uma madeira do hbrido Eucalyptus urograndis de densidade bsica de

    madeira de 0,5 g/cm, densidade da substncia madeira de 1,53 g/cm e

    densidade da molcula de lignina de 1,4 g/cm. O teor de lignina total dessa

    madeira foi estabelecido como sendo de 26%, incluindo tanto a frao

    solvel como insolvel em cido da lignina Klason.

    Isso posto, significa que 100 gramas secas dessa madeira contm 26

    gramas de lignina total e um volume de madeira como tal de 200 cm. Por

    outro lado, essas 100 gramas secas de madeira seca possuem um volume de

    substncia madeira de 100g : 1,53 g/cm = 65,4 cm.

    Desconsiderando as diferenas entre vasos, parnquimas e fibras,

    vamos admitir que 12% desse volume slido seja (M+P), algo perfeitamente

    aceitvel em nosso exemplo. Portanto, teremos 7,85 cm de (M+P) e 88%

    ou 57,55 cm de parede secundria (S1 + S2 + S3).

    Em geral, a proporo de S3 baixa, entre 5 a 10%, mas isso

    muito importante para o processo kraft porque ela muito afetada e atacada

    pelo licor de cozimento. Sua rica constituio em xilanas, pectinas e

    protenas (das verrugas do citoplasma morto) muito sensvel s drsticas

    condies alcalinas da polpao kraft.

    Voltando lamela mdia composta de nosso exemplo, ela representa

    7,85 cm. Vamos admitir que a concentrao de lignina seja nela de 65%. O

    restante seriam distribudos entre carboidratos (33%) e cinzas (2%).

    Podemos montar um sistema simples de algumas poucas equaes para esse

    caso de (M+P), somente nos referindo aos elementos maiores e

    desconsiderando as cinzas minerais pelo fato de ocuparem pouco espao e

    peso:

    (1 - Volumes) Vlignina + Vcarboidratos = 7,85 cm

    (2 Pesos) Plignina + Pcarboidratos = P(M+P)

    (3 Concentraes) (Plignina) : (Plignina + Pcarboidratos) = 0,65

  • 36

    Resolvendo a equao 3 temos:

    (Plignina) = 0,65 x (Plignina + Pcarboidratos)

    (4 - Isolando Pcarboidratos) Pcarboidratos = 0,35 (Plignina) : 0,65

    Admitindo que a densidade da substncia lignina seja de 1,4 g/cm

    e que a da frao restante (carboidratos) seja de 1,6 g/cm, poderemos

    desenvolver a equao 1 em:

    (Plignina) : 1,4 + (Pcarboidratos) : 1,6 = 7,85

    ou

    1,6 (Plignina) + 1,4 (Pcarboidratos) = 17,58

    Substituindo o valor de (Pcarboidratos) encontrado na equao 4:

    1,6 (Plignina) + 1,4 [ 0,35:0,65 (Plignina)]

    cuja resoluo conduz a

    (Plignina) = 7,47 gramas de lignina em (M+P)

    Ou seja, do total de 26 gramas de lignina que temos nessas 100

    gramas de madeira, apenas 7,47 gramas podem estar fisicamente abrigadas

    em (M+P). Isso corresponde a cerca de 28,7% da lignina total da madeira.

    Os demais 71,3% devem estar necessariamente abrigados na parede

    secundria, distribudos em (S1 + S2 + S3). Apesar de termos desprezado os

    valores de cinzas nesses clculos, para fins de simplificao, os resultados

    sero praticamente do mesmo nvel, caso eles fossem considerados.

    Essa concluso matemtica de extrema simplicidade muito

    importante e refora o que muitos autores definem hoje para a topoqumica

    da lignina. Eles relatam que entre 25 a 35% da lignina total da madeira deve

    estar na lamela mdia composta e o restante na parede secundria (S1 + S2

    + S3).

    Por outro lado, os pesos proporcionais de (M+P) e de S3 no peso total

    da madeira so tambm bastante importantes. Isso porque essas duas

    camadas so as mais visadas pelo licor de cozimento. Queremos destruir

    (M+P), mas para fazer isso degradamos muito S3 e tambm S1 e S2. O que

  • 37

    no removermos na polpao, acabamos concluindo no branqueamento. So

    as camadas mais expostas por fora e por dentro das fibras.

    Qual poderia ser o peso de (M+P) em nosso exemplo, j que seu volume

    de 7,85 cm?

    Vamos desenvolver para isso a equao 2:

    (2 Pesos) Plignina + Pcarboidratos = P(M+P)

    lembrando que a equao 4 nos d a relao entre Pcarboidratos e (Plignina).

    (4 Relacionando pesos) Pcarboidratos = 0,35 (Plignina) : 0,65

    A resoluo desse sistema de equaes nos conduz a

    Pcarboidratos = 4,02 gramas

    e

    Plignina + Pcarboidratos = P(M+P)

    P(M+P) = 7,47 + 4,02 = 11,49 gramas

    Resumindo, das 100 gramas secas de madeira, teremos cerca de 11,5

    gramas localizadas na lamela mdia composta, ou seja, 11,5% do peso total

    dessa madeira.

    J para a camada S3 da parede celular de nosso exemplo, vamos

    consider-la como representando 7,5% do volume slido da fibra (e por

    extenso simplificada, da nossa madeira exemplo). Esse valor bastante

    razovel para os eucaliptos. Como ela rica em carboidratos e pobre em

    lignina, podemos considerar que a densidade da substncia S3 possa ser de

    1,55 g/cm.

    Como o volume slido total de nossa madeira exemplo como

    substncia era de 65,4 cm, a parede S3 com seus 7,5% representa 4,9

    cm. J que admitimos que a densidade da substncia dessa parede de

    1,55 g/cm, teremos nela um peso de madeira de 1,55 g/cm x 4,9 cm =

    7,60 gramas secas.

    Portanto, do peso total de 100 gramas secas nessa madeira exemplo

    de Eucalyptus urograndis, teremos a seguinte distribuio de pesos por

    paredes:

  • 38

    Peso total de madeira seca = 100 gramas

    Peso total de lignina = 26 gramas

    Peso de lignina na lamela mdia composta = 7,47 gramas

    Peso total da lamela mdia composta = 11,49 gramas

    Peso da camada S3 = 7,60 gramas

    Peso de lignina na camada S3 = 1,52 gramas (admitida como sendo 20% do

    peso de S3)

    Peso de lignina em S1 + S2 = 17,01 gramas

    Se ao longo do cozimento kraft as camadas (M+P) e S3 forem

    drasticamente removidas, uma parte importante da perda de rendimento

    ser devida s essas extraes. Vamos admitir que em nosso cozimento

    exemplo dessa madeira, que 90% do peso de (M+P) e S3 juntas seja

    extrado e dissolvido pelo processo de cozimento kraft.

    Dessa maneira, a remoo de 90% de (M+P) e S3 representa uma

    perda de peso de:

    (11,49 + 7,60) x 0,9 = 17,2 gramas extradas

    Ou seja, pela polpao kraft, somente a dissoluo dos constituintes

    da lamela mdia composta e de S3 representam uma perda de peso de

    17,2% da madeira do nosso eucalipto-exemplo. Essa enorme perda de

    rendimento se deve basicamente necessidade de se ter que extrair (M+P)

    e se degradar tambm outras paredes, como o caso de S3. So perdas

    inexorveis de rendimento da polpao, frente s peculiaridades desse

    processamento.

    Como se perderiam ento os demais constituintes, j que o

    rendimento da polpao base seca varia entre valores usuais de 48 a 54%

    para o Eucalyptus urograndis?

    Tem-se que ser extrada ainda a maior parte da lignina. Apenas cerca

    de 25 a 30% da lignina total removida de (M+P) e S3. Essa grande

    quantidade de lignina est distribuda entre S1 e S2. Por outro lado,

    lembram-se, essa lignina est intimamente unida s hemiceluloses, naquela

    argamassa que consolida as microfibrilas de celulose. Por essa razo, para se

    remover essa lignina, vamos sem querer, atacar e muito as hemiceluloses

    dessas camadas e tambm a celulose.

    Nesse nosso exemplo hipottico com a madeira-exemplo, faltariam

    ainda serem extradas de lignina:

    26 gramas (7,47 x 0,9) de (M+P) (1,52 x 0,9) de S3 = 17,9 gramas

  • 39

    Entretanto, ao final do cozimento kraft ainda teremos um residual de

    cerca de 1,5% de lignina base madeira seca original. Isso porque temos que

    encerrar o cozimento na fase de deslignificao residual ainda no

    completada para evitar srios danos s fibras e ao rendimento.

    Portanto, faltam ainda para serem extradas e dissolvidas:

    17,9 1,5 = 16,4 gramas de lignina

    Dessas 1,5 gramas que estariam sobrando ao final do cozimento,

    teremos uma parte em (M+P) e outra pequena parte em S3. A maior parte

    estaria em (M+P) e pelos nossos clculos hipotticos no nosso exemplo

    corresponderiam a 7,47 x 0,1 = 0,75 gramas. Em S3 ainda restariam 1,52 x

    0,1 = 0,15 gramas.

    Portanto, a quantidade de lignina residual em S1 + S2 seria de:

    (1,5 0,75 0,15 ) = 0,6 gramas secas

    Todos esses valores esto relatados base madeira original. Como

    temos um valor original de madeira de 100 gramas secas, esses valores

    representam tambm os percentuais.

    A quantidade de lignina que ser removida de S1 + S2 pode ser

    tambm calculada. Tnhamos em S1 + S2 a quantidade de 17,01 gramas de

    lignina, lembram-se disso? Sobram 0,6 gramas, ento a maior parte da

    lignina da madeira removida de S1 + S2 e isso corresponde a 17,01 0,6

    = 16,41 gramas.

    Portando, um percentual de cerca de 16,4% do peso da madeira

    retirado como lignina apenas das camadas S1 + S2. Impressionante, no

    mesmo? Somado-se essas 16,41 gramas de lignina removida de S1 + S2

    com as quantidades removidas em (M+P) de 6,72 gramas e em S3 de 1,37

    gramas teremos a remoo total de 24,5 gramas. Sobram ento os 1,5% ou

    1,5 gramas de lignina residual base madeira na polpa saindo do digestor.

    Simples tudo isso, quando olhado do ponto de vista da topoqumica,

    concordam?

    Paralelamente a essa enorme remoo de 24,5% do peso da madeira

    original s em lignina, teremos remoes de extrativos, celulose e

    hemiceluloses tambm.

    Admitamos por exemplo que os extrativos nessa nossa madeira

    hipottica fossem 2,5% do peso inicial da madeira e que eles tenham sido

  • 40

    removidos em 95% na polpao kraft de nosso exemplo. Isso significa uma

    remoo de 2,38 gramas de extrativos e do peso original da madeira.

    Se considerarmos que nesse nosso exemplo o rendimento seja de

    50% base madeira original podemos com alguma segurana analisar o que

    aconteceu com a madeira e seus constituintes, de uma forma numrica

    aproximada. Como em nosso exemplo partimos de 100 gramas secas de

    madeira, todos os valores removidos ou remanescentes em gramas j

    eqivalem tambm a percentuais, como j mencionamos antes.

    Remoes de constituintes da madeira para 50% de rendimento na polpao

    kraft dessa madeira hipottica exemplo:

    2,38% correspondem a extrativos removidos;

    6,72% correspondem a lignina de (M+P);

    1,37% correspondem a lignina de S3;

    16,41% correspondem a lignina de S1 + S2;

    3,62% correspondem a constituintes holocelulsicos e minerais de (M+P);

    5,47% correspondem a constituintes holocelulsicos e minerais de S3;

    14,03% corresponde a constituintes holocelulsicos e minerais de S1 + S2.

    0,3% est sendo estimado como sendo a remoo somada dos minerais extrados das diferentes paredes e clulas (includos nos

    valores anteriores).

    As quantidades totais removidas base madeira original foram ento:

    Lignina = 24,5% (94,2% da lignina total presente na madeira em sua constituio bruta);

    Extrativos = 2,38% (95% dos extrativos totais da madeira);

    Minerais = 0,3%

    Holocelulose total = 22,82% (cerca de 32% do total de carboidratos holocelulsicos presentes nessa madeira)

  • 41

    A relao de remoo entre lignina e carboidratos, calculada com base

    nesse nosso exemplo de polpao kraft seria:

    1 grama de lignina para 0,93 gramas de holocelulose

    exatamente dentro dos conformes da teoria e da prtica industrial

    Acredito que fica claro para vocs a enorme importncia do teor de

    lignina da madeira. A cada 1% a menos de lignina na constituio qumica da

    madeira, cresce praticamente nessa proporo o teor de holocelulose e maior

    ser o teor remanescente de carboidratos na polpa. Evidentemente, as

    condies drsticas da polpao kraft no permitem estabelecer uma relao

    direta nos ganhos de rendimento, mas nossa experincia diz o seguinte:

    Para uma mesma espcie de madeira de eucalipto, a cada 1,2 a 1,5% de reduo no teor de lignina, ganha-se cerca de 1% no rendimento da

    polpao.

    Alm disso, consegue-se reduzir a carga de lcali ativo expresso como NaOH em 0,2 a 0,3% base madeira para essas redues entre 1,2 a

    1,5% de lignina.

    =============================================

    COMPOSIO QUMICA DA MADEIRA DO EUCALIPTO E SUA

    RELAO COM A POLPAO KRAFT

    Essa seo no tem o objetivo de ser uma aula sobre a qumica da

    madeira dos eucaliptos. Teremos mais adiante captulos especficos para esse

    tema. Entretanto, muito importante que vocs se fundamentem com

    alguns embasamentos acerca dos constituintes dessas madeiras para bem

    entender o processo kraft de polpao. Durante a individualizao das fibras

    h grandes e importantes modificaes qumicas na madeira, como recm

    vimos na seo anterior. Gostaria que vocs pudessem acompanhar ao nvel

    anatmico e qumico quais so exatamente as alteraes que as madeiras

    sofrem em seu caminho para virarem polpas celulsicas kraft.

    Diversos e renomados pesquisadores no Brasil, Portugal, ustria e

    Austrlia tm estudado as madeiras dos eucaliptos com o foco na qumica da

    madeira e na cintica qumica da polpao kraft. Posso com tranqilidade

    homenagear alguns deles, como meus amigos professores Jos Lvio Gomide

  • 42

    e Jorge Colodette, na Universidade Federal de Viosa; meu estimado Herbert

    Sixta na Lenzing ustria e na UTH - Helsinki; Carlos Pascoal Neto em

    Aveiro, Maria Graa Carvalho na Universidade de Coimbra e Jos Graa no

    ISA Portugal; e meus caros amigos Bob Evans e Paul Kibblewhite - na

    Austrlia. Alm disso, temos mais uma enormidade de muitos bons trabalhos

    na literatura virtual. Naveguem em alguns disponibilizados para vocs na

    seo de referncias da literatura desse captulo.

    De incio, importante se reconhecer que existe bastante variabilidade

    na composio qumica dos eucaliptos, principalmente no que se refere aos

    constituintes qumicos vitais para a polpao kraft: lignina, hemiceluloses,

    celulose e extrativos. Temos variaes que dependem da espcie, do clone,

    da idade, do ambiente onde est crescendo a rvore, dos tratos silviculturais,

    da posio da madeira na rvore, etc., etc.

    Para os fins desse captulo, que acompanhar a remoo da lignina e

    dos constituintes associados na individualizao das fibras, faremos uma

    rpida navegao sobre esses constituintes principais e suas quantidades na

    madeira. Devemos colocar muito foco sobre alguns desses constituintes

    como os carboidratos passveis de sofrerem dissoluo, a lignina e os

    extrativos orgnicos. Os extrativos, por exemplo, so bastante removidos na

    polpao. Portanto, quanto maior for seu teor na madeira, menor poder ser

    o rendimento da polpao base madeira inicial seca.

    Tendo por base uma ampla gama de artigos disponibilizados para

    vocs na seo de literatura para consulta, procurei elaborar uma tabela

    bastante ampla, colocando nelas valores mais tpicos da constituio qumica

    de algumas madeiras de eucaliptos. Claro que reconheo as imperfeies,

    mas algo aproximado para se ter uma breve indicao das presenas dos

    constituintes das madeiras dos eucaliptos.

    Como temos grandes grupos muito distintos de espcies de

    Eucalyptus, procurei apenas esboar as principais constituies do que

    chamei de grandes grupos: hbrido E.urograndis; E.globulus e E.nitens.

    Similar a E.urograndis temos E.urophylla, E.grandis e E.saligna.

    muito comum se expressar os constituintes da madeira com base

    em madeira isenta de extrativos, j que os extrativos podem interferir em

    algumas avaliaes qumicas, como da lignina. Outros autores no fazem

    assim, calculam seus teores com base na madeira inicial, fazendo as

    correes devidas em funo dos teores de extrativos. Por essas razes,

    algumas vezes os teores somados dos constituintes podem ultrapassar ou

    no os 100%.

    So significativas as diferenas encontradas em relao composio

    qumica das madeiras de eucaliptos. Acredito que em parte isso se deva s

    diferenas em metodologias, na forma de se amostrar a madeira e tambm

    de como os resultados so relatados (base madeira original ou base madeira

  • 43

    isenta de extrativos). Existe tambm a forte contribuio das diferenas

    entre as espcies, clones, etc., j mencionadas para vocs. Enfim, para algo

    to importante como a composio dos constituintes vitais para o processo

    de polpao kraft, nota-se que ainda existe muita coisa a melhorar. Uma

    sugesto seria a melhor padronizao das metodologias e na forma de

    relatar os resultados. Tambm considero crtica a necessidade de se

    esclarecer mais os leitores sobre a caracterizao da amostra e resultados

    (espcie, clone, idade, posio na rvore, nmero de indivduos amostrados,

    nmero de repeties, erro assumido nas estatsticas, desvio padro e

    amplitudes dos valores, etc.). Noto que existe muita simplificao analtica e

    amostral muito grande entre muitos autores, o que pode ser muito perigoso.

    Enfim amigos, esse mais um problema a ser resolvido no apenas

    pelos estudiosos dos eucaliptos, mas das madeiras de forma geral.

    Eucaliptos: madeiras e madeiras

    Seguem alguns dados numricos importantes sobre a composio

    qumica das madeiras de eucaliptos para vocs conhecerem:

  • 44

    Espcie E.urograndis E.globulus E.nitens

    Caracterstica

    Densidade bsica,

    g/cm

    0,43 0,53

    0,52 0,63

    0,43 0,50

    Teor de celulose,

    % base madeira

    45 - 50

    44 - 50

    42 - 48

    Extrativos orgnicos,

    % base madeira

    2 3,5

    1,8 - 3

    2 3,5

    Lignina Klason solvel em

    cido, % base madeira

    1,5 - 4

    3 4,5

    -

    Lignina Klason insolvel

    em cido, % base madeira

    23 - 28

    18 - 23

    -

    Lignina Klason total,

    % base madeira

    25 - 30

    22 - 26

    23 - 28

    Relao

    -0-4/unidade aromtica

    0,5 0,6

    0,5 0,6

    0,5 0,6

    Relao entre unidades de

    lignina condensadas e no

    condensadas

    4 4,5

    3,5 - 4

    -

    Relao S/G na lignina

    2,2 3,5

    3,8 - 6

    3 - 4

    Carboidratos totais

    (Holocelulose),

    % base madeira

    69 - 72

    70 - 75

    70 - 72

    Pentosanas,

    % base madeira

    12,5 - 16

    17 - 19

    17 - 21

    Glucanas (principalmente

    celulose), % base madeira

    45 - 55

    45 - 55

    45 - 55

    Xilanas,

    % base madeira

    10 - 14

    14 20

    16 - 22

    Grupos acetila,

    % base madeira

    2 - 3

    2,8 3,5

    4 - 5

    Acetilas/10 xiloses 6 - 7 6 - 7 5 - 6

    cido metil glucurnico,

    % base madeira

    2,5 4,2

    2,5 4,5

    3,5 - 4

    Relao xiloses/grupos

    urnicos

    5 - 7

    5 - 7

    5 - 7

    Arabinanas,

    % base madeira

    0,4 0,7

    0,4 0,7

    -

    Galactanas,

    % base madeira

    1,2 2,1

    1,5 - 2

    -

  • 45

    Espcie E.urograndis E.globulus E.nitens

    Caracterstica

    Mananas,

    % base madeira

    1 2,5

    1,1 2,5

    -

    Hemiceluloses totais,

    % base madeira

    18 - 24

    23 - 28

    27 - 33

    Cinzas minerais,

    % base madeira

    0,2 0,5

    0,3 0,7

    0,2 0,6

    Fonte: Diversos e variados autores mencionados na seo Referncias da Literatura

    ============================================= O MECANISMO DE INDIVIDUALIZAO DOS CONSTITUINTES

    ANATMICOS DA MADEIRA DO EUCALIPTO

    PELA POLPAO KRAFT

    O processo de separao das fibras e dos demais constituintes

    anatmicos da madeira forma a base conceitual de todos os mtodos de

    produo de polpa celulsica. Uma polpa ou pasta ou simplesmente celulose

    nada mais do que uma madeira ou outro material fibroso cujos

    constituintes celulares foram individualizados e colocados em uma forma de

    suspenso aquosa para posterior processamento e converso a papel.

    Conforme o tipo de energia utilizada nessa separao das fibras, os

    processos so classificados em qumicos, mecnicos, semi-qumicos, termo-

    mecnicos, quimi-termo-mecnicos, etc.

    O processo kraft um processo qumico alcalino porque utiliza o

    poder dos reagentes qumicos NaOH, NaHS e Na2S para promover a

    dissoluo dos componentes que cimentam as fibras umas s outras, sob

    condies favorveis e otimizadas de presso e temperatura.

    A finalidade da polpao desestruturar a madeira que se encontra

    em uma organizao slida, compacta e resistente. As fibras, aps a

    separao, podero ser reorganizadas pelo fabricante de papel na forma de

    uma folha ou lmina, o papel. Pode-se ento dizer que o papel nada mais

    seria do que uma madeira reconstituda na forma de uma folha, simples de

    entender, no mesmo?

    Para uma perfeita separao e individualizao dos elementos

    anatmicos da madeira pelos processos qumicos, necessrio que a lamela

    mdia seja quase que praticamente toda dissolvida ou enfraquecida. Essa

  • 46

    lamela mdia rica em lignina dever ento ter essa lignina degradada e

    plastificada, sendo assim enfraquecidas as foras de unio fibra a fibra na

    madeira. Ao final do cozimento kraft, os constituintes anatmicos da madeira

    estaro praticamente soltos. Uma leve ao mecnica de mistura com uma

    soluo aquosa j suficiente para individualiz-los.

    O processo qumico ideal seria aquele que apresentasse altssima

    seletividade (s removendo a lignina) e excepcional eficincia (praticamente

    toda ela). A remoo da lignina, a mais completa possvel, necessria em

    caso da fabricao de polpas branqueadas. Isso porque os fragmentos

    residuais da lignina so cromforos, possuem cor escura e escurecem ainda

    mais com o tempo, a oxidao, modificaes na sua estrutura qumica, etc.

    Infelizmente, a remoo completa e seletiva da lignina no consegue ser

    feita pelo processo kraft, por razes de sua baixa seletividade. O processo

    kraft tem maravilhosas vantagens energticas e econmicas, mas carece de

    seletividade. Tampouco temos uma deslignificao uniforme. Muitas fibras ao

    final do cozimento ainda mostram resduos de lamela mdia no dissolvida.

    Outras, no conseguem ser completamente individualizadas, formando

    grupos de fibras denominados feixes ou shives. Outros pedaos de madeira

    maiores (cavacos grandes) ou com madeiras anormais (ns de insero de

    ramos) acabam sofrendo deslignificao parcial e se convertem em rejeitos

    incozidos na sada do digestor. Esses demandaro um recozimento ou algum

    outro reprocessamento ou disposio final.

    Fibras da madeira a separar na polpao kraft

  • 47

    Fibras parcialmente individualizadas em cavaco semi-cozido

    Fibras e feixes de constituintes anatmicos

    J que o processo de individualizao das fibras exige a reao

    qumica do lcali ativo do licor com a lamela mdia da forma mais uniforme

    possvel, torna-se fundamental que sejam postas juntas as partes

    interessadas (lamela mdia e licor de cozimento). Isso significa que quanto

    melhor for a impregnao dos cavacos pelo licor alcalino kraft, melhor a

    polpao. Mas no apenas a entrada fsica do licor que essencial. As

    condies de concentraes de lcali, temperatura e tempo de reao so

    tambm variveis vitais nesse processo.

    J vimos em captulo anterior a importncia da porosidade da madeira

    para garantir o fluxo de licor (penetrao) e de ons por difuso. A difuso

    no seria apenas a de ons ativos para dentro dos cavacos, mas tambm o

    contra-fluxo dos constituintes qumicos dissolvidos da madeira, saindo e

  • 48

    liberando-se dessa estrutura da madeira na forma de cavacos. Tudo isso est

    acontecendo na deslignificao ou polpao qumica da madeira do eucalipto.

    Podemos ento dividir a polpao kraft em sete etapas fsico-

    qumicas, envolvendo os seguintes fenmenos:

    1. Penetrao do licor para o interior dos cavacos; 2. Difuso dos ons ativos de cozimento para as frentes de reaes com os

    constituintes da madeira que precisam ser dissolvidos;

    3. Reaes qumicas entre os ons ativos do licor e os componentes qumicos da madeira;

    4. Difuso dos produtos resultantes das reaes para o exterior dos cavacos; 5. Continuidade das reaes na fase lquida; 6. Desfibramento mecnico final para a individualizao dos constituintes

    anatmicos;

    7. Separao das fibras e demais constituintes anatmicos individualizados do licor residual e das impurezas (depurao e lavagem).

    Essas etapas no so estanques, elas ocorrem de forma simultnea

    entre algumas delas.

    A fase de interrupo da continuidade do cozimento kraft depende

    muito do tipo de produto que se est produzindo e outras vezes, das

    limitaes que o fabricante tem como gargalos em sua fbrica. No caso dos

    eucaliptos, o processo kraft basicamente utilizado para a produo de

    polpa a ser branqueada. Isso significa que a polpa deve conter baixo teor de

    lignina residual para no consumir demasiadamente os reagentes oxidantes

    e caros de branqueamento. Entretanto, conduzir a polpao kraft a nveis

    exagerados (nmero kappa abaixo de 15, por exemplo, para os eucaliptos

    brasileiros) pode resultar em perdas srias de rendimento da polpao. Esses

    nveis de nmero kappa baixos s se justificam quando a polpa tem enorme

    facilidade de deslignificao (baixo teor de lignina e alta relao S/G

    siringil/guaiacil