INOVAÇÃO ENXUTA: UM CAMINHO PARA A CRIATIVIDADE...

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INOVAÇÃO ENXUTA: UM CAMINHO PARA A CRIATIVIDADE EFICIENTE Ian Soares Muniz Matheus de Oliveira Meneghini Rio de Janeiro Abril de 2016 Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Adriano Proença

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INOVAÇÃO ENXUTA:

UM CAMINHO PARA A CRIATIVIDADE EFICIENTE

Ian Soares Muniz

Matheus de Oliveira Meneghini

Rio de Janeiro

Abril de 2016

Projeto de Graduação apresentado ao Curso

de Engenharia de Produção da Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como parte dos requisitos necessários

à obtenção do título de Engenheiro.

Orientador: Adriano Proença

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INOVAÇÃO ENXUTA:

UM CAMINHO PARA A CRIATIVIDADE EFICIENTE

Ian Soares Muniz

Matheus de Oliveira Meneghini

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS

PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO.

Examinado por:

_________________________________________

Prof. Adriano Proença, D.Sc.

_________________________________________

Prof. Amarildo da Cruz Fernandes, D.Sc.

_________________________________________

Prof. Vinicius Carvalho Cardoso, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

ABRIL DE 2016

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Muniz, Ian Soares; Menegihini, Matheus de Oliveira

Inovação Enxuta: Um caminho para a criatividade eficiente / Ian

Soares Muniz e Matheus de Oliveira Meneghini. – Rio de Janeiro:

UFRJ/ ESCOLA POLITÉCNICA, 2016.

XIII, 115 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Adriano Proença

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de

Engenharia de Produção, 2016.

Referências Bibliográficas: p. 105-109

1. Inovação Enxuta. 2. Sistemas de Inovação 3.

Desenvolvimento de produto. 4. Gestão da Inovação. 5. Lean

Thinking. I. Proença, Adriano. II. Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia de Produção. III.

Inovação Enxuta: Um caminho para a criatividade eficiente.

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Agradecimentos

Demonstramos nossa grande gratidão ao nosso professor e orientador Adriano Proença por

sua amizade e dedicação. Sua orientação foi fundamental para desenvolvimento deste

trabalho.

Agradecemos também aos demais professores do curso de Engenharia de Produção da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, cujos ensinamentos foram base para que nos

tornássemos profissionais completos.

Aos nossos amigos, pelo carinho, amizade, incentivo e companheirismo, durante toda a

faculdade. É através das conversas de corredor que os alunos UFRJ chegam a um patamar

tão diferenciado.

Aos nossos companheiros de trabalho, pelo amadurecimento pessoal e profissional ao longo

dos anos da graduação.

Nosso agradecimento especial às nossas famílias, que estiveram sempre presentes em

nossas vidas, nos apoiando em tudo que fazemos, possibilitando que chegássemos até aqui.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à POLI/ UFRJ, como parte dos requisitos

necessários a obtenção do título de Engenheiro de Produção.

Inovação Enxuta:

Um caminho para a criatividade eficiente

Ian Soares Muniz

Matheus de Oliveira Meneghini

Abril/2016

Orientador: Adriano Proença

Curso: Engenharia de Produção

O objetivo deste trabalho é entender e desenvolver um modelo de gestão enxuta da

inovação para ganhos de eficiência em criatividade. Para isso uma revisão conceitual de

inovação, pensamento enxuto e gestão da inovação é realizada, identificando a lacuna de

ferramental consolidado a respeito do tema. Estrutura-se então uma revisão bibliográfica do

conceito de inovação enxuta e uma exploração de suas definições, princípios e ferramentas

originais. Um estudo de caso real é analisado para ilustração da aplicabilidade do novo

conceito. Discute-se então o que há de mais relevantes do modelo original, partindo para os

componentes necessários para consolidação de uma proposta final.

A conclusão avalia o modelo proposto a partir de: a capacidade de impacto no processo de

inovação tradicional, a singularidade e originalidade do novo conceito e, a aplicabilidade do

modelo proposto em diferentes contextos.

Palavras-chave: inovação enxuta; gestão da inovação; engenharia de produção

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Engineer.

Lean Innovation:

One way to efficient creativity

Ian Soares Muniz

Matheus de Oliveira Meneghini

April/2016

Advisor: Adriano Proença

Course: Industrial Engineering

The purpose of this work is to understand and develop the lean innovation

management model to gain efficiency in creativity. A conceptual revision of

innovation management is realized to identify current gaps of consolidated

instrument about it. A bibliography revision and theoretical exploration build the

definitions, principles and best practices of lean innovation. A case-study is

presented to evaluate the applicability of new concept. Discussions regard the main

object and its components consolidates a final proposal.

The conclusion evaluates the proposed model upon the impact on the traditional innovation

process, singularity and originality of the new concept, and applicability of the proposed

methodology in different contexts.

Keywords: lean innovation; innovation management; industrial engineering.

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“O mapa não é o território”

“The map is not the territory”

Alfred Korzybski, 1931

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Sumário

1. Introdução ............................................................................................................... 13

1.1. Apresentação ............................................................................................................... 13

1.2. Justificativa .................................................................................................................. 14

1.3. Este Projeto ................................................................................................................. 15

1.4. Método de pesquisa ..................................................................................................... 15

1.5. Limitações da pesquisa ................................................................................................. 17

1.6. Estrutura deste documento .......................................................................................... 18

2. Base Conceitual ....................................................................................................... 19

2.1. Pensamento Enxuto ..................................................................................................... 19

2.2. Inovação: definição ...................................................................................................... 22

2.3. Gestão de inovação: histórico ....................................................................................... 23

2.4. Gestão da inovação: o estado atual .............................................................................. 27

3. A Inovação Enxuta na literatura ............................................................................... 31

4. Inovação Enxuta: o modelo original ......................................................................... 38

4.1 Definição ...................................................................................................................... 38

4.2. Diretrizes ..................................................................................................................... 40

4.3. Princípios ..................................................................................................................... 41

4.3.1. Gemba ............................................................................................................................ 42

4.3.2. Frontloading ................................................................................................................... 42

4.3.3. Gestão visual................................................................................................................... 43

4.3.4. Timeboxing ..................................................................................................................... 44

4.3.5. Fluxo Singular ................................................................................................................. 45

4.3.6. Ritmo .............................................................................................................................. 46

4.3.7. Prototipação Rápida ....................................................................................................... 46

4.4. Pilares do Sistema de Inovação ..................................................................................... 47

4.4.1. Gestão Ativa ................................................................................................................... 49

4.4.2. Estratégia e Gestão de Portfolio ..................................................................................... 54

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4.4.3. Valor ............................................................................................................................... 58

4.4.4. Suporte ........................................................................................................................... 65

4.5. Consolidação do modelo ................................................................................................... 70

5. Estudo de Caso ........................................................................................................ 72

5.1. Contexto ...................................................................................................................... 72

5.2. Processo de Concepção - PIP ........................................................................................ 73

5.3. Indicadores .................................................................................................................. 78

5.4. Auditoria ..................................................................................................................... 79

5.5. Resultados ................................................................................................................... 81

5.6. Adendos ...................................................................................................................... 86

6. Proposta de Modelo ................................................................................................ 86

6.1. Revisão crítica dos pilares............................................................................................. 87

6.1.1 Cronograma: o Scrum e a capacidade de resposta dinâmica .......................................... 87

6.2.2 Indicadores: a Startup Enxuta e o direcionamento da estratégia ................................... 91

6.2. Revisão crítica dos princípios ........................................................................................ 96

6.1.1. Padronização .................................................................................................................. 96

6.1.2. Compartilhamento ......................................................................................................... 97

6.1.3. Gestão da informação .................................................................................................... 98

6.3 Modelo Resultante........................................................................................................ 99

6.4 Análise Crítica do Modelo ............................................................................................ 101

6.4.1 Impacto .......................................................................................................................... 101

6.4.2 Originalidade ................................................................................................................. 103

6.4.3 Permutabilidade ............................................................................................................ 105

7. Conclusão .............................................................................................................. 107

8. Referencias Bibliográficas ...................................................................................... 110

9. Anexos .................................................................................................................. 115

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ÍNDICE DE FIGURAS

FIGURA 1 ESTRUTURA PARA DEFINIR INOVAÇÃO (ADAPTADO DE HENDERSONCLARK, 1985) 24

FIGURA 2 MODELO DE EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA DA CURVA S (ADAPTADO DE CHRISTENSEN ET AL. 2009) 25

FIGURA 3 EVOLUÇÃO DE MERCADO EM INOVAÇÃO DISRUPTIVA (ADAPATADO DE CHRISTENSEN, 1997) 26

FIGURA 4 PROCESSO TRADICIONAL SIMPLIFICADO DE INOVAÇÃO (ADAPTADO DE TIDD ET AL, 2005 P.68) 28

FIGURA 5 MODELO DE LIMITE DE CONTROLE EM INOVAÇÃO (ADAPTADO DE SCHUH, 2008) 33

FIGURA 6 MODELO DE FRONTLOADING PARA INOVAÇÃO ENXUTA (ADAPTADO DE SEHESTEDSONNENBERG,

2011 P.60) 43

FIGURA 7 MODELOS DE LIMITAÇÃO DE TEMPO EM PROJETOS PARA INOVAÇÃO ENXUTA (ADAPTADO DE

SEHESTEDSONNENBERG, 2011 P.64) 44

FIGURA 8 CICLO DE MELHORIA CONTÍNUA OU RODA DE DEMING (1986) 46

FIGURA 9 O EFEITO CASCATA DA APLICAÇÃO DA INOVAÇÃO ENXUTA (ADAPTADO DE

SEHESTEDSONNENBERG, 2011 P. 74) 48

FIGURA 10 AS QUATRO DIMENSÕES DA GESTÃO DE TAREFAS (ADAPTADO DE SEHESTEDSONNEBERG, 2011 P.

83) 50

FIGURA 11 PAINEL DE MELHORIA PARA GERÊNCIA E EQUIPES DE SUPORTE (ADAPTADO DE

SEHESTEDSONNENBERG, 2011 P. 94) 53

FIGURA 12 CICLO DE APRENDIZAGEM ATRAVÉS DA GESTÃO DE PORTFÓLIO (ADAPTADO DE

SEHESTEDSONNENBERG, 2011 P. 107) 56

FIGURA 13 PRINCÍPIOS DE ORGANIZAÇÃO DE PORTFÓLIO DE PROJETOS (ADAPTADO DE

SEHESTEDSONNENBER, 2011 P.113) 58

FIGURA 14 ESTÁGIOS DO PROCESSO DE INOVAÇÃO DE ACORDO COM ROBERT COOPER (1980 APUD

SEHESTEDSONNENBERG, 2011 P. 133) 59

FIGURA 15 QUADRO DE GESTÃO DE PROJETOS PARA INOVAÇÃO ENXUTA (ADAPTADO DE

SEHESTEDSONNENBERG, 2011 P.141) 62

FIGURA 16 EXPECTATIVA DE GANHOS ATRAVÉS DO USO DE FRONTLOADING EM INOVAÇÃO ENXUTA

(ADAPTADO DE SEHESTEDSONNENBERG, 2011 P. 153) 63

FIGURA 17 QUADRO DE MEDIDAS DE SUPORTE DIÁRIO (ADAPTADO DE SEHESTEDSONNENBERG, 2011 P.164)

69

FIGURA 18 PLANEJAMENTO DE CAPACIDADE EM INOVAÇÃO ENXUTA (ADAPTADO DE HOPPMAN, 2009) 70

FIGURA 19 PRINCÍPIOS E PILARES DO MODELO ORIGINAL DE INOVAÇÃO ENXUTA (ELABORAÇÃO PRÓPRIA) 71

FIGURA 20 DIAGRAMA DE PROCESSO DE CONCEPÇÃO DE PROJETO (ELABORAÇÃO PRÓPRIA) 73

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FIGURA 21 ESTADO DA PRÁTICA CORRENTE DO GRUPO ALIA EM INOVAÇÃO (DOCUMENTO ADAPTADO DA

EMPRESA ALIA,2015) 82

FIGURA 22 GRÁFICO DE DIFUSÃO DA INOVAÇÃO (DOCUMENTO ADAPTADO DA EMPRESA ALIA,2015) 82

FIGURA 23 GRÁFICO DE TEMPO MÉDIO DE PROJETOS ATÉ MERCADO (DOCUMENTO ADAPTADO DA

EMPRESA ALIA,2015) 84

FIGURA 24 TAXA DE SLIP RATE CORRENTE DO GRUPO ALIA (DOCUMENTO ADAPTADO DA EMPRESA

ALIA,2015) 85

FIGURA 25 DESCRIÇÃO DE PROCESSO PADRÃO DA METODOLOGIA SCRUM (ADAPTADO DE DEEMER ET AL,

2012 P.29) 89

FIGURA 26 MODELO DE CONSTRUÇÃO DE SOLUÇÃO AO MERCADO NO MODELO DE STARTUP ENXUTA

(ADAPTADO DE RIES, 2011) 93

FIGURA 27 CICLO CONSTRUIR-MEDIR-APRENDER DE ACORDO COM MODELO DE STARTUP ENXUTA

(ADAPTADO DE RIES, 2011) 94

FIGURA 28 MÉTODO COMPLETO PROPOSTO DE INOVAÇÃO ENXUTA (ELABORAÇÃO PRÓPRIA) 100

FIGURA 29 QUADRO DE AVALIAÇÃO TEÓRICA DOS IMPACTOS DA INOVAÇÃO ENXUTA EM EFICIÊNCIA A

CRIATIVIDADE (ELABORAÇÃO PRÓPRIA) 103

FIGURA 30 TIPIFICAÇÃO DE INOVAÇÃO DE ACORDO COM DEFINIÇÃO (ELABORAÇÃO PRÓPRIA) 106

ÍNDICE DE TABELAS

TABELA 1 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ENXUTO (ADAPTADO DE HINES ET AL., 2014) 20

TABELA 2 MODELO DE EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA EM FASES (ADAPTADO DE ABERNATHYUTTERBACK, 1978)

26

TABELA 3 TIPOS DE VARIAÇÃO PARA GESTÃO DA INOVAÇÃO (ADAPTADO DE TIDD ET AL. 2008) 29

TABELA 4 COMPONENTES DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO ENXUTO ABORDADO (ADAPTADO DE

HOPPMAN, 2009) 35

TABELA 5 COMPARAÇÃO DA APLICAÇÃO DOS PRÍNCIPIOS ENXUTOS EM CADA CONTEXTO (ADAPTADO DE

MACHADONUNES TOLEDO, 2005) 37

TABELA 6 PRINCIPAIS DIFERENÇAS DA PERSPECTIVA DO PENSAMENTO ENXUTO (ELABORAÇÃO PRÓPRIA) 40

TABELA 7 DIFERENTES TIPOS DE SUPORTE A PROJETO (SEHESTEDSONNENBERG, 2011 P. 159) 65

TABELA 8 ROTINAS CORRELACIONADAS A TÉCNICAS DOS PILARES DO MODELO COMPLETO DE INOVAÇÃO

ENXUTA (ELABORAÇÃO PRÓPRIA) 104

ÍNDICE DE ANEXOS

ANEXO 1: ROTINAS PADRÃO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO 115

ANEXO 2: AUDITORIA INTERNA (ESTUDO DE CASO) 118

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ANEXO 3: ADENDOS (ESTUDO DE CASO) 120

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1. Introdução

1.1. Apresentação

No mundo globalizado de hoje, a situação estratégica de uma empresa muda muito

rapidamente: oportunidades de mercado, aumento da concorrência, desenvolvimento de

novas redes colaborativas e novos grupos de clientes. A fim de permanecer à frente do

jogo, as empresas precisam desenvolver uma dinâmica estratégica que lhes permita capturar

movimentos e oportunidades à sua volta e depressa deslocar seu rumo estratégico. É

fundamental que as estratégias sejam transformadas em ação com maior rapidez.

Isso coloca pressão sobre o processo de inovação, já que é através deste processo que uma

grande parte das estratégias é realizada. Desenvolver processos de inovação mais rápidos

com saídas mais previsíveis é uma necessidade estratégica. É nesse contexto que a inovação

enxuta pode desempenhar um papel central.

O pensamento enxuto permitiu uma revolução notável nos sistemas de produção; as pessoas

logo desenvolveram um enorme interesse nos resultados que poderiam ser alcançados.

Sua aplicação em inovação é ainda mais benéfica do que na produção. Em um sistema de

produção, há um limite para quanto os custos podem ser reduzidos. Em um processo de

inovação, no entanto, o principal objetivo não é reduzir custos. Mesmo que a redução de

custos seja levada em conta, a finalidade primária e mais importante é em lançar uma

solução à tempo no mercado. Já que a antecipação eficaz é capaz de gerar uma receita que

ultrapassaria o aumento dos custos em seu desenvolvimento.

Diversas empresas encontram dificuldades ao tentar desenvolver um processo de inovação

mais eficiente, essas tentativas muitas vezes são consideradas uma crítica indireta ao

trabalho dos pesquisadores e desenvolvedores gerando uma grande insatisfação.

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Os desenvolvedores/especialistas passam a responsabilizar a implantação dessas medidas,

que visam ganhos de eficiência, às perdas de qualidade da inovação. Os gestores, por sua

vez, afastados do processo ou carentes de conhecimento técnico profundo, aceitam os

argumentos e desistem.

Uma possível solução para essa situação nada trivial é estruturar uma abordagem

consistente que relembre aos desenvolvedores que para se obter um aumento de output nem

sempre precisamos de um aumento de input, como por exemplo a crença de que para se

aumentar a força de uma lâmpada se deveria consumir mais energia. Hoje sabemos,

entretanto, que é possível “inovar” o processo de modo que o mesmo seja mais eficiente e

seus outputs de melhor qualidade, a transformação de um trade-off em trade-on.

A Inovação Enxuta surge exatamente como um caminho promissor para a criação eficiente.

1.2. Justificativa

Esse novo conceito promissor, e ainda pouco explorado mundialmente, com exceção dos

países nórdicos europeus e Estados Unidos, vem ganhando força depois que líderes globais

da inovação, tais como GE (Valor, 2015), Siemens (2008), Mercedez-Benz, Man Diesel e

ECCO (SehestedSonneberg, 2011), o adotaram.

O tema foi escolhido tendo-se em vista sua relevância, seus benefícios potenciais, a

aplicabilidade no contexto brasileiro, e a experiência profissional internacional dos autores

deste trabalho, que puderam participar ativamente ou como espectadores de projetos de

inovação enxuta, um deles exposto no estudo de caso.

O intuito é de fomentar a discussão sobre a inovação enxuta no Brasil, tornando-a acessível

para gestores, empresários, pesquisadores e especialistas locais e para aqueles que tem

interesse em manter contato com os desenvolvimentos na área.

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Este trabalho visa propor um artefato técnico científico modelo para gestão enxuta da

inovação. Assim explora-se o conceito recente, apresentando expectativas dos benefícios

que podem ser obtidos através de sua implantação bem como suas limitações.

1.3. Este Projeto

O grande interesse desse trabalho é fomentar a discussão de inovação enxuta no Brasil,

explorando, para isso, não só a teoria e as ferramentas por traz do modelo de gestão

original, mas também um caso de aplicação, buscando consolidar a proposição de um

modelo revisado mais completo.

Para isto, esse projeto se inicia com a revisão de conceitos fundamentais de pensamento

enxuto e da inovação, chegando até a nova abordagem da inovação enxuta. O modelo

original é então estruturado segundo sua definição, diretrizes, princípios, pilares e técnicas.

A partir dessa estrutura, um estudo de caso, vivido por um dos autores deste trabalho, é

exposto de modo a tornar possível uma análise do modelo em um contexto real.

O estudo de caso permite uma revisão no artefato modelo original, acarretando em uma

nova estrutura, que em seguida é analisada segundo expectativas do seu desempenho.

1.4. Método de pesquisa

O texto aqui apresentado busca construir um modelo de gestão enxuta da inovação para

ganhos de eficiência em criatividade.

Para a revisão sistemática de literatura, os autores utilizaram como ferramenta de busca

principalmente o site internacional da Amazon para encontrar livros, e as bases de artigos

científicos CAPES, SCIELO, Science Direct, DOAJ e Google Acadêmico para os artigos

científicos.

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As buscas consideraram não só os títulos Lean Innovation e Inovação Enxuta, mas também

outros temas que possuem grande interface, tais como o Lean Product Development e

desenvolvimento enxuto de produtos.

As buscas pelo site Amazon.com apresentaram a grande maioria dos resultados

relacionados aos temas Lean Startup, Lean Thinking ou Innovation. Apenas seis livros

relevantes e recentes ao tema foram encontrados, um deles disponível apenas em alemão,

portanto o para a escolha do livro base foram considerados os seguintes livros: o Lean-

Driven Innovation: Powering Product Development at The Goodyear Tire & Rubber

Company de Norbert Majerus; Lean Innovation: A Fast Path from Knowledge to Value dos

autores Claus Sehested e Henrik Sonnenberg; The Lean Product Playbook: How to

Innovate with Minimum Viable Products and Rapid Customer Feedback de Dan Olsen; e

The Mastery of Innovation: A Field Guide to Lean Product Development de Katherine

Radeka; Lean Innovation: Understanding What's Next in Today's Economy de Barry L.

Cross.

Segundo a análise dos abstracts, avaliações dos livros realizadas pelo público e

contribuição dos autores para o desenvolvimento do conceito, tais como autorias de artigos

no tema e referências, definiu-se como livro base deste projeto: Lean Innovation: A Fast

Path from Knowledge to Value de Claus Sehested e Henrik Sonnenberg.

Em relação aos artigos científicos, a quantidade de resultados foi mais expressiva.

Aplicando os mesmos critérios utilizados na seleção dos livros, chegou-se à lista de quatro

artigos principais: um único escrito no Brasil, Criacao de Valor no Processo de

Desenvolvimento de Produtos: uma Avaliacao da Aplicabilidade dos Principios e Praticas

Enxutas, de Marcio Machado e Nilton Nunes Toledo, e três internacionais: The Lean

Innovation Roadmap – A Systematic Approach to Introducing Lean in Product

Development Processes and Establishing a Learning Organization de Jorn Hoppmann; e

Lean Innovation: Introducing Value Systems to Product Development dos autores Gunther

Schuh, Michael Lenders e Solveigh Hieber e Creativity, Innovation and Lean sigma: a

controversial combination? de Craig Johnstone, Garry Pairaudeau e Jonas A. Pettersson.

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Outros materiais utilizados como suporte e referencial teórico estão expostos na

bibliografia encontrada no final deste documento.

Desenvolve-se então os principais conceitos explorados da nova técnica proposta já

associados a inovação enxuta. O modelo de gestão proposto é testado em ambiente prático

através do estudo de caso, descrevendo resumidamente a forma e ferramentas aproveitados

de inovação.

Por último, levanta-se importantes discussões a respeito do material disponível buscando

complementaridade ao ferramental original.

1.5. Limitações da pesquisa

Por estar ainda em fase de amadurecimento e difusão, tanto na academia quanto no

mercado, o tema oferece uma base de pesquisa limitada. Os prós e contras da aplicação da

inovação enxuta em sistemas de desenvolvimento de soluções ainda não podem ser

conhecidos em sua totalidade já que o período para conhecer as respostas às implantações é

mais longo do que o tempo de existência do conceito.

Os conceitos de Lean Thinking e Gestão da inovação utilizados na construção da definição

de inovação enxuta são apresentados em nível de detalhamento suficiente apenas para a

compreensão da composição Lean Innovation, não se tendo, portanto, a intenção de

aprofundar a discussão nesse sentido.

O estudo de caso guardará em sigilo informações consideradas estratégicas à companhia

envolvida, a primeira delas é seu nome, neste trabalho apresentada pelo nome fictício

ALIA. Valores expostos representarão apenas a proporção ou a ordem de grandeza dos

valores reais, já que a real importância não é expor o valor em si, mas possibilitar a

comparação entre situações e contextos.

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1.6. Estrutura deste documento

Além deste capítulo introdutório, este trabalho contempla mais seis capítulos:

O capítulo 2 revisa tópicos importantes para a formulação do conceito de inovação enxuta.

O capítulo inicia com a definição de inovação, em seguida apresenta o desenvolvimento

dos modelos de inovação no decorrer do tempo e conclui com a discussão acerca da gestão

da inovação.

O capítulo 3 contém o referencial teórico do trabalho. Nele são exploradas diversas bases

científicas a fim de chegar-se a uma definição concisa do que é a inovação enxuta.

O capítulo 4 apresenta toda a teoria por trás desse novo conceito, tais como sua definição,

objetivos, princípios, pilares do sistema de inovação sob a ótica da inovação enxuta além

das técnicas capazes de potencializar o sucesso do desenvolvimento de projetos criativos.

Após a leitura desse capitulo o leitor estará apto a compreender o que há de mais

importante a ser explorado.

No capitulo 5 o estudo de um caso de aplicação da inovação enxuta em um grupo europeu

de desenvolvimento de soluções de segurança. Nele são apresentados o contexto inicial; as

iniciativas desenvolvidas para reverter o cenário negativo, porém promissor, vivido pela

empresa; e os resultados obtidos.

O capitulo 6 busca formular o artefato modelo de gestão da inovação enxuta sob uma ótica

mais crítica, apresentado complementos à inovação enxuta “pura” que poderiam trazer

ainda mais potência ao novo conceito.

Por fim, o capítulo 7 apresenta a conclusão do estudo e considerações finais dos autores.

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2. Base Conceitual

A inovação enxuta se sustenta na prática em muitas ferramentas e discussões já existentes

em gestão da inovação e abordadas no contexto industrial pela filosofia enxuta que,

combinadas, permitem trazer novas respostas a antigos problemas e, conformando os

alicerces para o novo conceito.

Assim torna-se essencial introduzir brevemente os conceitos da filosofia enxuta, a evolução

da definição da inovação e modelos de gestão da inovação até hoje.

2.1. Pensamento Enxuto

O pensamento enxuto descreve um conjunto de princípios e métodos a fim de diferenciar

"desperdícios" e "valor" nas organizações (Stone 2012, p. 114). Desperdício pode ser

definido como "[...] qualquer atividade humana que absorve recursos, mas não cria nenhum

valor "(Womack & Jones 1996b, p. 15) enquanto valor é a "[...] capacidade, função,

habilidade oferecida a um cliente no momento certo a um preço adequado, conforme

definido em cada caso, pelo cliente "(Womack & Jones 1996b, p. 311). Exemplos de

desperdícios, por exemplo, incluem defeitos, excesso de processamento, inventário,

movimento, superprodução, transporte e espera (Ohno 1988 pp. 19-20).

Ao definir o que os clientes querem, as etapas do processo podem ser divididas entre

aquelas que agregam valor e aquelas que não. Atividades que agregam valor contribuem

diretamente para a criação do produto ou serviço que o cliente anseia, enquanto as

atividades que não agregam valor são tomadas como desperdício e necessitam ser

removidas ou evitadas.

Uma grande linha de pensamento influenciou a formação do conceito do Pensamento

Enxuto: o Sistema Toyota de Produção, o qual se destaca o Controle da Qualidade Total.

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Estas duas concepções foram introduzidas paralelamente em diferentes empresas japonesas

na década de 50 e percorreram caminhos distintos (Womack et al. 1997, pág.270-273).

A filosofia do Pensamento Enxuto se expandiu muito desde então e através dela empresas

de diferentes core business puderam operar em máxima eficiência e produzir produtos e

serviços de alta qualidade com o menor custo (Meng, Liu, & Fan, 2007; Heterogéneo,

2004).

Desde sua introdução, a ideia e aplicabilidade do Pensamento Enxuto mudou

consideravelmente. Hines et al (2004) utiliza-se das fases de aprendizagem organizacional

para demonstrar essa evolução, como indicado na Tabela 1.

Tabela 1 Evolução do pensamento enxuto (adaptado de Hines et al., 2014)

A revolução gerada por esse conceito foi pautada em 5 cinco princípios definidos por

Womack & Jones:

Princípio 1 – Oferecer o valor que os consumidores necessitam

Princípio 2 – Identificar a cadeia de valor e eliminar os desperdícios

Princípio 3 – Alinhar os procedimentos de modo a criar um fluxo contínuo

Princípio 4 – Produzir de acordo com a demanda do mercado – Sistema Pull

Princípio 5 –Busca constante pela perfeição

1980 - 1990 1990 - 1995 1995 - 1999 2000+

Foco Células e linha de

produção Shop Floor Cadeia de Valor Sistema de Valor

Abordagem

Métodos e Regras

muito fortes:

Ferramentas do Lean

Métodos e

Regras muito

fortes -

Benchmarking

Métodos e Regras -

Princípios do Lean

Integração - diferentes

instrumentos de gestão

Setor

Industrial

Automotiva -

Montadoras

Automotiva -

montadoras de

veículos e

componentes

Produção em geral -

Produções

repetitivas

Alto e Baixo volumes

de produção, extensão

para setores de

serviços

Atividades

Típicas JIT, 5S, Kanban

TQM,

treinamentos e

promoção

Orientação por

processos, melhorias

no fluxo, integração

com supply chain

Alinhamento

estratégico para

entregar valor ao

cliente - redução das

variações

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Uma consequência notória da melhoria de um único processo é o deslocamento dos

problemas para os processos adjacentes, é por isso que o pensamento enxuto enfatiza uma

visão sistêmica, holística, da melhoria de processos. A aplicação do pensamento enxuto

pode inicialmente se concentrar em melhorar um único processo mas precisa difundir-se

rapidamente para o sistema de valor como um todo, caso contrário, os problemas serão

transferidos a outras partes do sistema.

A introdução destes princípios colocou o valor percebido pelo cliente e a redução de

desperdícios no centro do pensamento enxuto, mas também alimenta o argumento de que a

melhoria de processos e de valor ao cliente é atingido em detrimento das condições de

trabalho dos empregados.

Pensamento Enxuto pode tornar o sistema mais rentável, melhorar o processo de marketing,

serviços ao cliente, processo de desenvolvimento de novos produtos e satisfação dos

clientes, há desafios, no entanto, relacionados à comunicação. Comunicar visão e valores

do Pensamento Enxuto para todos os funcionários, ajudando-os a compreender e aceitar os

benefícios do conceito é crítico para a maximização dos resultados (Czabke, et al., 2008).

Apesar de sucesso das aplicações do "Pensamento Enxuto" em uma variedade de casos,

também se encontra críticas em diversos níveis, tais como a falta de integração humana ou

a sua aplicabilidade limitada fora de ambientes de produção altamente repetitivos. A

abrangência de sua definição também levou a confusões com outros conceitos de gestão (P.

Hines, et al., 2004).

A influência técnica-social do Pensamento Enxuto para os trabalhadores tem sido alvo de

críticas explícitas. Grande parte dessa crítica centrou-se na questão de como um sistema

técnico que promove explicitamente o trabalho repetitivo padronizado ainda pode ser

considerado atraente e motivador para os trabalhadores. A opinião comum é que, embora as

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organizações enxutas têm algumas práticas que visam promover bem-estar ao trabalhador

(por exemplo extensa formação, promoção interna e pagamento por desempenho),

"respeito" aos seres humanos é apenas um subproduto quando comparada a busca por uma

maior produtividade e qualidade. (Pil F, Fujimoto T. 2007)

2.2. Inovação: definição

Torna-se relevante em primeira instância diferenciar o significado de inovação, invenção e

empreendedorismo, conceitos que por muitas vezes são tratados como sinônimos e na

realidade apresentam diferenças significativas.

O empreendedorismo é o desenvolvimento de um novo negócio. É possível que um

empreendimento seja baseado em novas ideias, invenções ou inovações, mas não

necessariamente. Uma pessoa que gere uma franquia também é um empreendedor, não

sendo necessariamente um inovador.

A invenção é um novo produto ou uma nova solução voltada para o mundo. Os inventores

são frequentemente inovadores, mas as soluções inovadoras não têm que ser invenções.

Muitas inovações são novos modelos de negócios, novos serviços ou novas experiências

que não são necessariamente invenções.

A inovação é pautada na execução de uma ideia ou conceito novo que gere valor ou

rentabilidade a seus detentores, sejam eles indivíduos ou organizações. A inovação nem

sempre trata da criação de um novo produto, de um novo modelo de serviço, processo e/ou

experiência.

Nem toda invenção se transforma em inovação por diferentes motivos, seja por não estar

bem desenvolvida do ponto de vista técnico, ou por não atender às necessidades de

mercado (Burgelman et al. 2012).

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A inovação, tratada ao longo desse projeto, enquadra-se as definições do Manual de Oslo

em sua edição mais recente (2005) e do Banco Mundial (2008) que prega, como definição a

implementação de um produto, bem ou serviço, seja novo ou significativamente melhorado,

ou um processo (novo método organizacional) nas práticas de negócios na organização do

local de trabalho ou nas relações externas.

2.3. Gestão de inovação: histórico

O pioneiro no estudo de inovação foi Joseph Schumpeter (1939) que analisou como o

sistema capitalista era afetado por inovações de mercado. Para ele a inovação tinha caráter

destrutivo, pois sobrepõe algo antigo para construir algo novo. O empresário inovador

desempenhava papel central na construção do cenário econômico.

Posteriormente, Schumpeter (1939( descreve as quatro fases do ciclo econômico (auge,

recessão, depressão e recuperação) na perspectiva da variável inovação. A inovação, de

acordo com o autor, é fruto do estabelecimento de novos produtos, novos processos e novos

recursos. Para ele, a inovação é responsável por criar uma curva de custo marginal inferior,

revigorando as empresas.

Os períodos de prosperidade surgem a partir do empreendedor inovador ao criar novos

produtos, que é então imitado por uma grande leva de outros empreendedores que investem

recursos para reproduzir essas inovações. Consequentemente, uma onda de investimentos

de capital ativa a economia. Á medida que as inovações são absorvidas pelo mercado, e seu

consumo se generaliza, a taxa de crescimento da economia diminui, e tem início um

processo recessivo, com a redução dos investimentos e a baixa da oferta de emprego.

Contudo, o excesso de confiança dos setores produtivos e consumidores estagnam o

interesse em inovar, já que eles acreditam que o patamar de inovação será mantido. Essa

mentalidade dará início, então, a uma recessão. O período de incerteza e perdas em cadeia

que se sucede pode se configurar como uma depressão, uma anomalia do equilíbrio de

mercado que é corrigida ao longo do ciclo

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A inovação entra em debate no âmbito da tipificação. Abernathy e Utterback (1978)

diferenciam inovação incremental de radical. A inovação incremental contribui para

desenvolver competências a partir de recursos e conhecimentos já existentes – aumento a

competitividade. A inovação radical por outro lado destrói competências na medida em

que utiliza recursos e conhecimentos inteiramente novos – trazendo obsolescência ao

mercado competitivo. Introduz-se também a época o conceito de design dominante. Um

design dominante seria aquele que possui a lealdade do mercado ao qual os concorrentes e

inovadores devem aderir para atuar no mercado.

Já nos anos posteriores a dicotomia se amplifica através do modelo de Henderson e Clark

(1985), baseado nos conceitos de design dominante conforme Figura 1. A partir do novo

modelo há introdução de dois diferentes tipos – modular e arquitetura. A primeira designa

mudanças nos conceitos essenciais do design inicial, sem alterar a arquitetura do produto. A

segunda designa mudança nas relações entre os componentes.

Figura 1 Estrutura para definir inovação (adaptado de HendersonClark, 1985)

Inovação incremental

Inovação modular

Inovação de

arquitetura

Inovação radical

Grau de impacto nos componentes

Gra

u d

e i

mp

acto

na a

rqu

itetu

ra

Reforçado Revogado

Inalterada

Alterada

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Os modelos de inovação até então eram estáticos. A teoria fornecia material suficiente para

entender as descontinuidades na inovação.

Surge em formato dinâmico, primeiro com Rogers (1962) o modelo de evolução e

saturação de mercado para inovação. Posteriormente, com Foster (1986), baseado em

Cooper e Schendel (1976) e Henderson (1988), a curva S da dinâmica de evolução da

tecnologia torna-se o modelo mais aceito. De acordo com a teoria da curva S, os estágios

iniciais de tecnologia têm taxa de progresso relativamente baixa. Com a evolução da

tecnologia e compreensão de mercado, a evolução sofre um rápido crescimento com taxas

muito elevadas. Entretanto, ao alcançar estágios maduros, a tecnologia alcança seu limite

natural e físico de desenvolvimento. A estratégia natural decorrente desse fenômeno é a

combinação de introdução de novas tecnologias nos estágios de maturidade das anteriores,

como pode-se observar na Figura 2.

Figura 2 Modelo de evolução tecnológica da curva S (adaptado de Christensen et al. 2009)

Complementarmente Abernathy e Utterback (1978) também participam da discussão e

apresentam o modelo de fases descrevendo suas principais características conforme Tabela

6. Tudo inicia com a presença de um novo conceito no mercado, representando a fase

flexível. Após a introdução emerge o design dominante, que restringirá o mercado na fase

transacional. Por fim, com o amadurecimento da tecnologia, as organizações disputam em

performance de produto e custos para se manter no mercado na fase de diferenciação.

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Tabela 2 Modelo de evolução tecnológica em fases (adaptado de AbernathyUtterback, 1978)

A discussão em torno da tipificação se expande, mais recentemente, com Clayton

Christensen (1997). Ao investigar o real motivo pelo qual organizações se reforçam em

contexto de inovação radical, ele formulou a hipótese a respeito de dois tipos de inovação:

sustentadora e disruptiva. Para ele a inovação de sustentação não resultava na queda de

empresas já pré-estabelecidas, pois aprimorava a performance de produtos já existentes. Já

a inovação disruptiva aproveitaria mercados de segmentação específicas trazendo soluções

mais simples, baratas e/ou de qualidade inferior. Devido a sua parcela não relevante de

mercado para os grandes concorrentes, os responsáveis pela inovação disruptiva teriam

livre espaço para evoluir até alcançar o patamar dos detentores do mercado como podemos

observar na Figura 3.

Figura 3 Evolução de mercado em inovação disruptiva (adapatado de Christensen, 1997)

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Por fim, Rothwell (1994) contribuiu com o artigo em que descreve de forma resumida a

evolução dos modelos históricos de cada geração da gestão da inovação:

i. Modelo linear simples (1ª e 2ª geração) – baseado somente na interface entre

evolução tecnológica, oferta “empurrada” face a demanda “puxada” pela novidade

ao consumidor;

ii. Modelo de acoplamento (3ª geração) – reconhecimento de interação entre

elementos e identificação de ciclos de retornos entre eles;

iii. Modelo paralelo (4ª geração) – integração externa com fornecedores e clientes

com ênfase em parcerias e alianças estratégicas;

iv. Modelo de rede e integração (5ª geração) – Aumenta o grau da inovação, sendo

mais flexível e customizável com forte presença de contínuo processo de melhoria.

De acordo com o pesquisador, os modelos mais simplificados das primeiras gerações se

abstinham de discussões mais refinadas a respeito de interações com o meio externo. Ao

identificar a necessidade de inclusão de variáveis exógenas ao processo de controle, cada

geração inclui em seu modelo de gestão ciclos de retorno, integração e parceria e

estratégica até o contínuo processo de melhoria na última fase. Novas descobertas

agregaram complexidade e incerteza ao fenômeno de inovação, que exige um

amadurecimento em termos teóricos e práticos de gestão para adaptar-se ao novo contexto.

O desafio central de gestão de inovação é transformar um invento em solução técnica e

comerciável. Já que para inovar de maneira eficaz é necessário ultrapassar a fronteira de

boas ideias e desenvolver soluções práticas ao mercado.

2.4. Gestão da inovação: o estado atual

As organizações naturalmente possuem peculiaridades e necessitam de soluções

particulares ao seu contexto. As soluções são pautadas em duas abordagens distintas: fazer

melhor, aprimorando as melhores práticas em torno de algo já existente e; fazer diferente,

via processo exploratório e co-evolutivo sob alto risco (Tidd et al, 2009 p. 69).. Na tentativa

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de padronizar a gestão da inovação é fundamental entender seus estágios naturais de

processo e como otimizá-los para eficiência e eficácia.

O processo mais tradicional e simplista de inovação pode ser descrito a partir da Figura 4.

De acordo com o fluxo o processo é composto de 4 fases sendo uma delas conectada

diretamente a todas outras (Tidd et al, 2009 p. 67). Apesar da linearidade do modelo ignorar

os ciclos de retorno e diferentes estágios no processo, e existirem hoje modelos mais

avançados de inovação aberta e voltados ao consumidor (Godin, 2006), adota-se essa

simplificação para identificar as ferramentas aplicadas atualmente.

Em “Procurar” é realizada a exploração de mercado e busca de ameaças e oportunidades

para mudança. Em seguida, na etapa “Selecionar”, é feita a escolha baseada na estratégia

organizacional da melhor opção de mudança a desenvolver. Já a etapa final de

“Implementar” trata da transformação do potencial ideal em solução para o mercado,

subdividida em eventos chave: capacitar a organização com recursos para inovar, executar

o projeto para resolução do problema raiz identificado, lançar a solução e acompanhar o

processo de adoção sustentando seu uso no longo prazo via a reinovação. Por último

“Aprender”, para que se ocorra o ciclo contínuo de melhoria integrando todas as fases

anteriores através do conhecimento adquirido e levando à evolução de sua gestão.

Figura 4 Processo tradicional simplificado de inovação (adaptado de Tidd et al, 2005 p.68)

Procurar Selecionar Implementar

Aprender

Aquisição

Execução

Lançar / sustentar

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As variações dentro do contexto de inovação são as peculiaridades que o gestor precisa

adequar ao processo de inovação. Tidd et al. (2008, p.75) classifica conforme a Tabela 3.

Tabela 3 Tipos de variação para gestão da inovação (adaptado de Tidd et al. 2008)

O modelo básico apresentado dentro de suas peculiaridades descritas é afetado por uma

série de fatores, que desviam a rota estratégica em curso e dificultam o processo de gestão:

i. Desencadeamento de inovação ao se atingir um indício de oportunidade ou

insatisfação;

ii. Acumulação de falhas e excesso de otimismo;

iii. Reestruturação como alteração no quadro de funcionários;

iv. Influência dos patrocinadores do projeto (interno ou externo);

v. Alteração de indicadores chave de processo;

vi. Dependência de mecanismo de aprendizado evolutivo não previsível.

Gerenciar inovação torna-se assim uma composição de condições favoráveis ao sucesso da

empreitada, devido a imprevisibilidade. Algumas rotinas do fluxo produtivo fabril são

adaptadas, de modo a garantir objetividade no fluxo criativo do processo. Tais rotinas são

resultado de experiências de sucesso organizacionais desenvolvidas a partir de um

mecanismo formal/informal de aprendizado. No caso da inovação não se trata de uma ação

repetitiva, mas de uma execução organizacional sem reflexão – natural ao processo. Ao

incluir rotinas o maior desafio é garantir a melhoria contínua do processo, apesar da

padronização.

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As rotinas de cada uma das fases descritas acima estão disponíveis por completo no Anexo

1.

A respeito das rotinas apresentadas em geral em Gestão da Inovação, há dificuldades ao se

tratar de ganhos de eficiência dentro do âmbito de inovação, pois o setor criativo

restringiria sua efetividade ao criar modelos de padronização e controle limitantes.

Contudo, o contexto de aceleração da inovação na era digital exigiu uma mudança dos

participantes de processos de inovação para atender o mercado a tempo (Johnstone et al.

2011).

Assim, aos poucos, a academia na virada do século abriu espaço para uma nova

combinação de conceitos da Engenharia Industrial visando avanços no processo de gestão

da inovação, a inovação enxuta, a ser explorada ao longo dos próximos capítulos.

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3. A Inovação Enxuta na literatura

Uma pesquisa exploratória nas bases americanas via Google Acadêmico pelo termo em

inglês lean innovation retornou 622 respostas sendo o artigo mais relevante citado 53 vezes

e o livro texto base do projeto citado somente 29 vezes. Já o termo em português inovação

enxuta retornou somente 1 estudo de caso aplicado.

O diretório público e acadêmico DOAJ (Directory of Open Access Journals) retornou 52

resultados para o termo inglês lean innovation, sendo 45 escritos em inglês, seguidos de 7

na língua eslovaca e 6 em espanhol e 6 em português. O termo em português inovação

enxuta retornou 3 resultados, sendo o mais antigo de 2011.

O Science Direct retornou a maior quantidade de resultados dentre as bases bibliográficas,

com um total de 3.324 artigos, tendo seus picos produtos em 2008 e 2015 com quase 200

publicações no tema. Não se pode garantir que todos textos abordam exclusivamente o

novo conceito. Ao restringir a busca de palavras ao termo “inovação enxuta” exatamente, o

resultado são somente 17 publicações. A pesquisa sem restrição para o termo em português

trouxe 53 resultados.

A pesquisa em bases brasileiras se restringiu ao termo exato e não a busca por cada

vocábulo em separado, tanto em inglês quanto em português.

As bases brasileiras retornam para o termo em inglês lean innovation de acordo com a fonte

pesquisada:

i. Portal Scielo: 11 respostas, sendo a mais antiga de 2008, tal que 5 são brasileiras, 5

são de outros países latino-americanos e 1 é espanhola;

ii. Portal Periódico da Capes: 15 respostas relevantes, sendo a mais antiga de 2007,

tal que 10 são artigos, 2 são resenhas, 2 são dissertações e há 1 ata de congresso.

As bases brasileiras retornaram para o termo em português inovação enxuta por sua vez:

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i. Portal Scielo: 3 respostas, sendo a mais antiga de 2012, todos ligados a área

temática de Ciências Sociais e Aplicadas;

ii. Portal Periódico da Capes: 0 respostas relevantes, se removido a restrição ao termo

exato retorna-se 15 sendo grande parte da temática retornada relacionada a cada

tópico em separado e não sua combinação e o novo conceito explotado.

A Alemanha desponta junto aos EUA como principal responsável pelo material de maior

relevância. Destaque para o artigo da Aachen University por Schuh, Lender e Hieber 2008 e

a tese de mestrado de Hoppman numa parceria entre University of Braunschweig e o MIT

em 2009.

O artigo Lean innovation – introducing value systems to product development de Schuh et

al (2008) aborda a dificuldade de implementação dos conceitos do pensamento enxuto a

inovação devido as incertezas e restrições à automatização.

Aborda-se o contexto atual para necessidade de desenvolvimento da combinação de

inovação e filosofia enxuta. Os mercados dos países desenvolvidos estão saturados e

redução da diferenciação por avanço tecnológico. A sobrecapacidade e a globalização

criam uma forte pressão sob os preços como consequência reduz o ciclo de vida dos

produtos e segmenta o mercado. Existe, assim, um movimento de aumento da variabilidade

com tendência de redução do volume produtivo.

Em resumo, de acordo com os autores, o sistema corrente de inovação encontra um

antagonismo entre variedade e dinâmica. Com surgimento muitos elementos novos, porém,

pouca dinâmica de mudança funcional efetiva. Um sistema de inovação com baixa

variabilidade e dinâmica de interações e agilidade estratégica¹ reduzida exige menos

esforços de flexibilidade e eficiência da gestão da inovação. Entretanto, no contexto atual,

na medida que ambas variáveis crescem, novas abordagens se tornam necessárias. Equipes

de desenvolvimento precisam aprender a ultrapassar novas barreiras de complexidade com

velocidade, sendo assim a conjuntura ideal para aplicação da inovação enxuta conforme

indicado na Figura 5.

¹ Agilidade estratégica: reconfiguração rápida da base de recursos para atingimento dos

objetivos estratégicos da organização.

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Figura 5 Modelo de limite de controle em inovação (adaptado de Schuh, 2008)

Em estudo de benchmark feito pelos pesquisadores com 143 gerentes de pesquisa e

desenvolvimento da indústria germânica definiu-se os parâmetros de mercado: finanças,

qualidade de produto e operações para determinar o nível de inovação de cada organização.

As empresas melhores sucedidas possuíam características similares, resumidamente:

i. Processos padronizados detalhados eram 27% mais efetivos que aqueles não

detalhados na remoção de defeitos potenciais à solução final;

ii. 39% daqueles de desempenho superior desistiam do projeto quando atrasavam

entregas vs. 4% daqueles de pior desempenho

iii. Impacto positivo qualitativo de uma liderança forte no valor da solução final e

suas funcionalidades;

iv. 30% das funcionalidades desenvolvidas não é aproveitada pelo cliente final;

v. 50% das organizações de desempenho superior alteram orçamentos com

novidades em oportunidades de mercado entre outros.

Assim é estruturada a base da inovação enxuta como: identificação de desperdício

sistemática, foco no valor ao consumidor, reutilização de ideias, alocação flexível de

orçamento e capacidade, padronização de processos e posicionamento da liderança.

Dinâmica de inovação

Vari

edade d

e e

lem

ento

s

Facilmente

controlável

Controlável

Inovação

enxuta

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Em seguida se desenvolve teoricamente o conceito inicial da inovação enxuta através do

mote: “Estruture antes, sincronize fácil e adapte seguro.” Trata-se de definir, estruturar e

priorizar os valores dentro do projeto de inovação levando a um redesenho de processos e

execução focada no cliente final. A base do sistema proposto visa definir valores objetos e

requisitos de produto e processo que permitam um desenvolvimento enxuto. Isso é atingido

pela hierarquização das metas, dinâmica acelerada de mudanças e transparência de

informação do projetos e valores objetos de acordo com o artigo.

O texto mais consistente encontrado foi a tese de mestrado de Hoppman (2009), The Lean

Innovation Roadmap – A Systematic Approach to Introducing Lean in Product

Development Processes and Establishing a Learning Organization. A estrutura de sua tese

segue a seguinte linha de raciocínio:

i. Revisão conceitual de pensamento enxuto e desenvolvimento de produtos;

ii. Desenvolvimento e estruturação do sistema de desenvolvimento de produtos

enxuto (inovação enxuta);

iii. Coleta e análise de dados empírica de dados aplicados ao modelo sugerido;

iv. Validação da teoria e derivação de mapa de aplicação teórico.

Os 11 componentes de inovação enxuta (ferramental teórico) abordados e testados por

Hoppman (2009) estão na Tabela 4. Hoppman explora dentro do contexto de

desenvolvimento de produtos quais seriam os componentes (pilares) aproveitados a partir

dos princípios originais do pensamento enxuto. O autor nota, na época, a não existência de

consolidação do novo conceito, permitindo uma exploração menos rígidas dos pilares que a

compõem. Em pesquisa exploratória realizada pelo autor identificou qual seriam as origens

de cada dos componentes que formulariam o novo modelo. A maior contribuição foi

oferecida por parte de Morgan e Liker (2006) em seu livro The Toyota Product

Development System, com referências diretas a todos os componentes do novo ferramental.

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Tabela 4 Componentes de desenvolvimento de produto enxuto abordado (adaptado de Hoppman, 2009)

Seu estudo de caso formulado dentro da indústria automotiva ratifica o valor da inovação

conceito. Por fim, o autor é capaz de construir um mapa de aplicação teórico robusto

apoiando todas as fases do processo de desenvolvimento via adequação ao novo conceito.

No contexto internacional, mais um artigo realiza uma importante discussão a respeito dos

desafios a criatividade de programas de eficiência em Creativity, Innovation and Lean

sigma: a controversial combination?. Johnstone et al. (2011), na Suécia, aplicaram

ferramentas do pensamento enxuto junto ao 6-sigma no contexto farmacêutico, encontrando

resultados consistentes de redução de ciclo de processo de inovação.

O lean sigma, como abordado no texto, é importante para evolução de ferramentas de

melhoria de processos para uma cultura de melhoria contínua. Contudo o uso

indiscriminado do ferramental adaptado à manufatura pode reduzir a capacidade de

inovações de sustentação. Além disso a introdução da eficiência no processo de

desenvolvimento criativo é uma mudança radical de cultura, que precisa de gerência e

liderança para atingir plenitude (Johnstone et al. 2011). Citando Peter Drucker (apud

Johnstone et al. 2011 pg 53) “a cultura engole (sic) a estratégia no café da manhã”. Sugere-

se então, complementarmente, uma abordagem humana da filosofia enxuta em inovação.

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De acordo com os autores, a contribuição da filosofia enxuta à inovação permite a seleção

de principais problemas a resolver; uma atitude organizacional de melhoria contínua face a

problemas encontrados; oportunidades de interação entre departamentos; aumento de

confiança da equipe pela distribuição homogênea de responsabilidade no planejamento e

controle; motivação para ambiente favorável a inovação; redução de riscos via controle de

processos; estruturação sem que para isso hajam restrições à liberdade criativa do

desenvolvimento.

O Brasil também participa da discussão. O artigo da USP Criacao de Valor no Processo de

Desenvolvimento de Produtos: uma Avaliacao da Aplicabilidade dos Principios e Praticas

Enxutas de 2005, antes do amadurecimento do novo conceito, por Machado Nunes e

Toledo discute o sistema de valor no desenvolvimento de produtos.

A partir do estudo de caso comparativo entre duas organizações na indústria aeronáutica

brasileira, avaliou-se o alinhamento do processo de inovação com a filosofia enxuta.

Define-se como aplicação dos princípios enxutos na inovação, “a eliminação de

desperdícios no processo de forma que os produtos possam ser desenvolvidos com a

minimização do custo total, tempo e esforço humano. ” (MachadoNunes Toledo, 2005).

Para os autores as principais dificuldades na transição do conceito da manufatura para

inovação são a complexidade de processo, a distância do consumidor final, alternância das

condições de mercado, aparecimento de novas tecnologias e incertezas técnicas. Um

resumo da discussão acerca das diferenças de contexto na aplicação da filosofia enxuta é

apresentado na Tabela 5 .

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Tabela 5 Comparação da aplicação dos príncipios enxutos em cada contexto (adaptado de MachadoNunes

Toledo, 2005)

Percebe-se, portanto, que o tema possui ainda bastante espaço para discussão e

desenvolvimento, principalmente em contexto nacional. Com esse objetivo, a concepção da

inovação enxuta por Sehested e Sonnenberg (2011), através de sua definição, objetivos,

princípios e boas práticas, é apresentada a seguir.

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4. Inovação Enxuta: o modelo original

4.1 Definição

Se desenvolvendo com mais força nos países de primeiro mundo, tais como os países

nórdicos e os Estados Unidos, principalmente no tocante ao desenvolvimento de produtos,

a Inovação Enxuta (Lean Innovation) é mais um poderoso conceito nascido da forma

enxuta de pensar (Lean Thinking), dessa vez buscando maximizar os benefícios dentro do

processo de inovação.

A Inovação Enxuta não é uma forma melhor de inovar, mas sim uma maneira mais

eficiente de aprendizado, tanto pela rapidez de aprendizado quanto pela prontidão do

compartilhamento desses aprendizados dentro das diversas equipes e setores na empresa.

Como dito anteriormente, Lean significa eliminar sistematicamente o desperdício, ou seja,

todos os processos que não agregam valor, utilizando minimamente seus recursos para que

se consiga atingir as necessidades dos clientes.

Os processos desnecessários a serem eliminados são mais que um desperdício de recursos;

Além de não estarem criando valor ao consumidor, que, portanto, não possui intenção de

pagar por aquilo, também desmotivam a equipe de desenvolvedores que estão trabalhando

em funcionalidades e aspectos que não serão utilizados.

Inovação por sua vez é a criação de valor através da resolução de um problema, tendo a

gestão do conhecimento e o aprendizado papel fundamental no seu desenvolvimento.

Conforme as equipes e o processo se tornam mais maduros, o universo de soluções

conhecido e a base para tomada de decisão se expande, reduzindo-se as incertezas e erros.

Daí a importância de mecanismos de aprendizado e priorização na inovação.

Alguns exemplos de desperdícios em inovação são:

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i. Definição vasta e imprecisa do mercado;

ii. Escolhas erradas no portfólio;

iii. Funcionalidades que os consumidores não precisam;

iv. Informação que não é traduzida em insights para a solução em questão;

v. Conhecimento disponível e relevante que não é compartilhado;

vi. Trabalhar e testar sem que haja aprendizado;

vii. Equipe com objetivos desalinhados;

viii. Departamentos e equipes não querem compartilhar informações e conhecimentos.

Inovação enxuta é, portanto, explorar eficientemente o conhecimento, é tornar a

organização inteligente de modo mais rápido, para isso apoiando-se em três diretrizes: fazer

a coisa certa, da maneira certa, e sempre melhorar.

Mesmo com toda a simplicidade de sua definição, por ser um conceito recém desenvolvido,

já existem confusões e interpretações errôneas acerca da inovação enxuta.

A primeira delas é a simplificação: “é a mesma coisa que a produção enxuta, mas no

contexto de inovação”, a inovação enxuta e a produção enxuta possuem enormes

diferenças.

Ela ocorre quando o processo se inicia: na produção, a solução é conhecida, sabemos o

final e quando parar. Na inovação, quando parar é uma decisão e uma competência

primordial, é muito difícil identificar o momento no qual a solução está suficientemente

desenvolvida, ou seja, satisfaz as necessidades dos consumidores.

Uma segunda é que enquanto todas as variações são vistas como erro ou desperdício nos

processos de produção, na inovação as variações são quase que pré-requisito para a criação

de algo novo.

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A Tabela 6 abaixo indica as principais diferenças do objeto de estudo e resultado entre os

diferentes campos de atuação da filosofia enxuta, complementar a visão explorada por

Nunes e Toledo (2005):

Área Objeto Resultados

Produção Enxuta Material e Informação Produtos

Administração Enxuta Informação Documentos e Ações

Inovação Enxuta Informação e

Conhecimento

Especificações, Protótipos e

Soluções Tabela 6 Principais diferenças da perspectiva do pensamento enxuto (Elaboração própria)

Uma outra muito frequente é a tradicional ideia: “Enxugar o processo de inovação destrói a

criatividade”. Da mesma maneira que o tempo para tentativa e erro é fundamental para o

aprendizado no processo, o foco precisa estar no progresso, de modo que as ideias se

concretizem em realidade o mais rápido possível, uma vez que a data de lançamento tardia

é suficiente para o insucesso de uma inovação.

O foco excessivo na estrutura, passo a passo e documentação sem dúvida podem eliminar a

criatividade. Ao mesmo tempo, desordem e confusão também acarretam impactos

extremamente negativos à criatividade. A inovação enxuta busca o difícil equilíbrio entre

controle e liberdade, de modo que o direcionamento da equipe atue como fator motivador,

aumentando o potencial de inovação da equipe.

4.2. Diretrizes

Fazer a coisa certa:

É a diretriz que se relaciona com o mundo externo à empresa, ou seja, é a identificação

correta das necessidades do mercado ou cliente. É com base nele que será possível afirmar

o que é valor e o que é desperdício, e qual é o ponto ótimo entre o sobre e o

subdesenvolvimento da solução. A abordagem deve ser de fora para dentro.

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A grande dificuldade da inovação enxuta está nessa diretriz, já que as intenções do mercado

estão em constate modificação. É nesse sentido que o aumento da frequência de feedbacks

se torna fundamental, aumentando a interação com o mercado.

Fazer da maneira certa:

Consiste na otimização do processo de desenvolvimento da solução. O grande desafio nesse

caso é compreender a cadeia de valor, já que cada projeto de inovação é único e portanto,

deve ser reavaliado.

Sempre melhorar:

É desenvolver uma forma de pensar que vise sempre melhorar. Revela a importância em

reavaliar o trabalho sistematicamente para a identificação e promoção de melhorias. Esse

princípio deve estar intrínseco nas rotinas diárias.

Existem diversas vantagens para empresas que inovam em ciclos curtos quando

comparadas a empresas que decidem inovações maiores em ciclos mais longos:

i. Aprendem mais rápido com o mundo real

ii. Elas são consideradas mais inovadoras no mercado

iii. Se beneficiam mais rapidamente dos aprendizados adquiridos

4.3. Princípios

A fim de transformar o conhecimento em valor aos consumidores, a inovação enxuta se

apoia em sete princípios tidos como chave (SehestedSonnenber, 2011), por mais que a

grande maioria dos caminhos à solução possam ser abertos através deles.

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4.3.1. Gemba

Taiichi Ohno, executivo da Toyota por vários anos, ficou conhecido por ter sido o pai do

Sistema Toyota de Produção (STP), Just in Time (JIT) e o Círculo de Ohno. Ao perceber

que algumas áreas estavam se desenvolvendo mais rapidamente ou que apresentavam

dificuldades, Ohno desenhava um círculo no chão e permanecia dentro dele por uma hora,

observando tudo que acontecia ao redor.

A ideia por trás do círculo é a de que todos, independentemente do nível hierárquico que

ocupam, devem ir ao local da realidade, ao “gemba”, experienciar a situação antes de dizer

qual é a solução para o problema.

Os benefícios de ir ao gemba e experienciar a situação real são diversos. Primeiramente, o

processo de tomada de decisão é facilitado, já que se tem mais insumo, conhecimento

prático. Outro fator importante são os ganhos de motivação da equipe, que percebe o

interesse da gestão em ajudar e entender os problemas reais.

4.3.2. Frontloading

O princípio visa aumentar o nível de conhecimento da equipe no início do projeto, para isso

aloca-se mais recursos nas fases primárias ou adia-se as decisões para fases posteriores,

quando a equipe possui informação suficiente. O modelo da relevância das decisões e a

quantidade conhecimentos a respeito do projeto de acordo com esse princípio está

disponível na Figura 6.

O princípio de frontloading entra em conflito direto com a tradicional estratégia de funil em

gestão da inovação, em que decisões são tomadas a medida que conhecesse mais acerca do

projeto. Ou seja, o maior investimento é direcionado a fase de maior risco.

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Essa técnica de adiamento das tomadas de decisões se difundiu muito após os excelentes

resultados obtidos pelas equipes da Toyota no desenvolvimento de carros no início da

década de 90.

Figura 6 Modelo de frontloading para inovação enxuta (adaptado de SehestedSonnenberg, 2011 p.60)

4.3.3. Gestão visual

O poder de uma imagem ao transformar em visual algo que é ideia ou que está escrito é

enorme, e sem dúvidas uma maneira muito eficaz de se facilitar o aprendizado e o

compartilhamento de informações.

Levando para uma escala ainda maior, quanto mais aproximamos a ideia de algo concreto,

mais fácil e intuitiva a compreensão. Em inovação esse conceito é utilizado de diversas

maneiras.

Imagens, quadros brancos, desenhos, post-its, gráficos, protótipos, são apenas algumas das

ferramentas visuais que auxiliam tanto na gestão quanto no compartilhamento do

conhecimento.

Frontloanding

Conhecimento do projeto

Importância das decisões

Tempo

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Mesmo uma solução low-tech é suficiente para ganhos expressivos nas trocas de

informação. O fato de se utilizar post-its para ilustrar o progresso de um projeto por

exemplo, permite que qualquer um do departamento, mesmo os que não trabalham no

projeto em questão, passem a compreender quais são as atividades importantes e quais são

as responsabilidades de cada um, quais são as relações de interdependência nas entregas

internas.

A gestão visual auxilia tanto na forma quanto no foco.

4.3.4. Timeboxing

Nem todas as condições e soluções para o projeto podem ser estabelecidas no seu início já

que muito se aprende no decorrer do próprio processo de desenvolvimento. No entanto, é

necessário definir os prazos para as entregas para que se tenha um mínimo de

previsibilidade de quando interromper o trabalho. Assim pede-se dois modelos distintos,

um em que há limitação de tempo e outro em que há limitação de recursos de acordo com a

Figura 7.

Figura 7 Modelos de limitação de tempo em projetos para inovação enxuta (adaptado de SehestedSonnenberg, 2011

p.64)

Os prazos estabelecidos nos projetos traduzem o momento em que produto em

desenvolvimento deve chegar ao mercado. A ideia de valor aos clientes está em constante

mudança, perder o tempo ideal pode significar transformar o projeto todo em desperdício.

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Esse princípio até certo ponto aumenta o estresse da equipe, prejudicando o processo

criativo, ou até mesmo os custos do projeto, pois pode haver a necessidade de mais recursos

para que uma determinada tarefa seja concluída a tempo.

Porém, quando realizada de forma planejada, a limitação de tempo passa a ser primordial.

Como a figura 7 ilustra, para atender o tempo ótimo de lançamento não são poupados

esforços. Ela demonstra essa peculiaridade dos projetos de inovação.

Além disso, a determinação de prazos em equipe amplia o sentimento de responsabilidade

de cada um dentro da equipe, uma vez que o atraso de cada um é repassado em cadeia, e

todo o projeto é comprometido.

A existência de um prazo também auxilia a tomada de decisão, o processo de priorização de

tarefas e entregas passa a ser quase que intuitivo: o que exige maior esforço e possui prazo

mais curto.

4.3.5. Fluxo Singular

Quando uma equipe trabalha com ideias e conhecimento, não é rara a sensação de que o

trabalho está fragmentado em diferentes iniciativas, e que na realidade nada está

efetivamente encaminhando para o final.

Quanto mais projetos de inovação estiverem ocorrendo em simultâneo menor o foco em

cada um, e no ambiente da inovação é quase que uma tendência dos desenvolvedores e das

empresas manter diversos tópicos em paralelo.

O fluxo singular é fazer uma coisa de cada vez, como determina o princípio do fluxo

singular, traz muitas vantagens: aumenta a concentração e a imersão, obtendo-se uma

solução de maior qualidade, menor intervalo de tempo entre a apropriação de novo

conhecimento e a sua utilização por outros, aumento da satisfação e motivação da equipe

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que sente-se capaz de concluir as tarefas que inicia, redução do tempo gasto para a

migração entre tarefas, atenuando irritações e minimizando os custos.

4.3.6. Ritmo

Manter uma regularidade e uma previsibilidade nas reuniões e entregas, tanto temporal

quanto espacial, aporta diversos benefícios: maior previsibilidade no processo de inovação,

apoio a melhoria contínua, uma vez que as oportunidades de feedback passam a ser

sistemáticas; ganhos de velocidade no progresso.

Um ritmo bem definido também auxilia na linearidade dos esforços, criando um ambiente

favorável à inovação, enquanto que um projeto em ondas combina o estresse de um volume

enorme de trabalho esporádico com uma ociosidade enorme.

4.3.7. Prototipação Rápida

A prototipação é um grande indício que existe uma roda de Deming funcionando. Dentro

do plan, do, check e act da melhoria contínua (conforme Figura 8). A elaboração de um

protótipo testa os pressupostos com o intuito de melhorar o conceito e portanto está

localizada bem abaixo do check.

Figura 8 Ciclo de melhoria contínua ou roda de Deming (1986)

A utilização de protótipos pelas empresas evoluiu muito no último século, sendo

atualmente parte primordial do desenvolvimento de quase qualquer tipo de solução.

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Exemplos de protótipo utilizados hoje são: soluções funcionais ou parciais, simulações,

modelos, gráficos e imagens, fichas técnicas e anúncios

A importância da prototipação vai além da visualização da solução e a validação com os

agentes internos. Muitas vezes é a forma de teste mais próxima da realidade e que chega até

o consumidor.

Realizar protótipos sem que haja aprendizado e feedback é um dos maiores e mais famosos

desperdícios.

4.4. Pilares do Sistema de Inovação

Diversas empresas se esforçam para o desenvolvimento de um sistema de inovação mais

saudável, para isso utilizam diferentes abordagens, normalmente programas de formação de

lideres e desenvolvimento técnico da equipe que trabalha com o conhecimento. O desafio,

no entanto, é justamente a combinação desses dois aspectos. A grande maioria das

empresas possue equipes altamente qualificadas tecnicamente, mas não conseguem unir

essas capacidades em um sentido comum.

O foco está direcionado demasiadamente nas competências técnicas e nas metas

individuais, e raramente nos objetivos de grupo e na habilidade de integrar.

Logo, uma grande oportunidade para se atingir todo o potencial da inovação enxuta está na

definição de objetivos comuns para todo o sistema de inovação da empresa. O sonho que

todos deveriam estar buscando é o desenvolvimento de uma solução única que jamais

nenhuma outra companhia foi capaz de conceber.

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A quebra do objetivo comum da inovação que é a criação de valor para os consumidores,

torna possível a integração e o alinhamento da equipe.

A Figura 9 ilustra que para a criação de valor, o sistema de inovação precisa ser mais

eficiente tanto na gestão de seu portfólio quanto no desenvolvimento da solução, fazendo

com que a solução mais próxima da esperada chegue a tempo às mãos dos consumidores.

Eficiência que será atingida através de um trabalho orientado à resultados, havendo suporte

consistente, aprendizado e apropriando-se de boas práticas e um direcionamento correto.

Normalmente uma organização que trabalha com a criação de soluções inovadoras,

apresenta uma estrutura similar. As ideias chegam de algum lugar, são executadas em um

Criar mais valor para o

cliente e aumentar os

lucros através da

inovação

Ser melhor e mais

eficiente no

desenvolvimento de

soluções

Concentrar os esforços

para a direção

estratégica correta

Trabalhar mais

conscientemente em

projetos e ser mais

orientado à resultados

Aumentar o foco nos

projetos através de um

apoio consistente

Incrementar as

habilidades necessárias

para a solução através do

aprendizado e das boas

práticas de gestão

Definir um

direcionamento mais

simples e ambicioso

através da gestão de

portfólio

Como

Como

Figura 9 O efeito cascata da aplicação da inovação enxuta (adaptado de SehestedSonnenberg, 2011 p. 74)

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processo na forma de projetos, que necessitam de suporte e recursos ao longo do seu

desenvolvimento, e que devem ser geridas de modo a satisfazer os clientes a tempo e a um

preço acessível.

Desse modo, nota-se que, sob a ótica da inovação enxuta, um sistema de inovação

normalmente é constituído de quatro pilares. Cada um desses pilares será analisado em

maior detalhamento nos subcapítulos que seguem.

4.4.1. Gestão Ativa

A gestão ativa é capaz de traduzir toda a energia que existe na organização em resultados,

principalmente através do foco nas diretrizes estratégicas, na ambição e em um

acompanhamento mais próximo da equipe.

O potencial da gestão ativa em inspirar os desenvolvedores é chave, tanto para a execução

dos processos de negócios quanto para estabelecer lean como cultura na inovação.

A gestão ativa baseia-se em quatro pontos, são eles:

i. Foco em processos orientados aos consumidores

ii. Rotinas regulares de melhoria contínua

iii. Gestão sistemática em coordenação com seus pares

iv. Estilo de gestão mais presente e visual

A mensagem central da cultura lean nos lembra que é responsabilidade da gestão, staff e

suporte apoiar os processos de criação, devendo-se desenvolver e auxiliar todos os

processos principais na organização, pois no final as entregas têm, direta ou indiretamente,

um cliente no final.

A necessidade em aumentar o foco em processos é um desafio, principalmente para as

organizações inovadoras. É muito comum a escolha de gestores de grandes competências

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técnicas em desenvolvimento de produtos, mas negligenciar as capacidades de tornar mais

eficiente a organização através de uma orientação por processos.

A. Gestão de Tarefas

As quatro dimensões da gestão das tarefas apresentadas na figura 10 auxiliam os gestores a

compreender suas principais forças e seus pontos a melhorar, direcionando seus esforços

nesse sentido. Esses são os pontos que os gestores devem trabalhar em suas equipes de

desenvolvedores: gestão de disciplinas, consumidores, colaboradores e tarefas.

Figura 10 As quatro dimensões da gestão de tarefas (adaptado de SehestedSonneberg, 2011 p. 83)

> Conhecimento técnico > Compreensão de problemas e soluções potenciais > Resolução de problemas

> Habilidade de resolver problemas em grupo > Gerenciamento de tarefas

> Ambientes agradáveis de trabalho > Gerenciamento de pessoas

> Entendimento da necessidade do cliente > Descrição de serviços > Estabelecimento de confiança

Disciplina

Clientes Funcionários

Tarefas

Gerente A

Gerente B

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i. Disciplinas (Competência) – Ganhos de qualidade – é a dimensão que comporta o

conhecimento e as competências técnicas, é através dela que a organização é

legitimada. Sem ela a equipe seria incapaz de desenvolver a solução e é por isso

que normalmente 85% dos esforços dos gestores são nela concentrados.

ii. Consumidores (Orientação ao valor) – Ganhos de efetividade - a equipe precisa

possuir uma boa compreensão da visão dos clientes, sem isso, nem mesmo a

empresa como um todo pode existir. Lidar com as relações com os clientes é uma

tarefa de extrema relevância. Através de um canal de comunicação aberto com os

consumidores é possível determinar com mais facilidade as necessidades, e

indícios de qual é a solução a ser feita e como faze-la.

iii. Funcionários (Cultura) – Prontidão – Nessa dimensão o gestor é responsável por

garantir a motivação, o bem-estar, o recrutamento e a manutenção dos talentos da

equipe. Os resultados alcançados podem variar muito de acordo com a motivação

dos desenvolvedores.

iv. Tarefas (Organização) – Eficiência – a dimensão em questão foca em como o

trabalho é desenvolvido para os consumidores, é a capacidade em fazer com que as

capacidades dos colaboradores funcionem em harmonia, trabalhando com

processos e métodos. Como nas organizações inovadoras os processos se traduzem

em projetos, essa dimensão pode ser traduzida no potencial do gestor em organizar

e gerir os projetos. Normalmente é aqui que se encontra o grande desafio,

normalmente as equipes de pesquisa e desenvolvimento preferem trabalhar

individualmente focados nas próprias competências.

No exemplo exposto da figura 10, o gestor A teria que buscar o equilíbrio desenvolvendo-

se nas dimensões tarefas e colaboradores, enquanto o gestor B teria que direcionar seus

esforços para disciplina e consumidores. São poucos os líderes que conseguem trabalhar

todas as dimensões em suas equipes.

Sendo um gestor tipo A, mais frequentes nos ambientes de inovação, é de extrema

importância pensar para todas as tarefas mais no “como” e menos no “o que”. Uma maneira

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de facilitar essa transformação é a integração de gestores de diferentes áreas, aumentando

trocas, colaboração e compartilhamento de conhecimento.

A integração dos princípios lean à gestão podem ir além da melhoria contínua. O presidente

Cho da Toyota definiu três princípios para uma gestão enxuta: gemba: vá a campo e

experiencie fisicamente as dificuldades da equipe, pergunte porque: use a técnica dos

porquês no dia a dia e mostre respeito: respeite sua equipe, sem a ajuda dela nada é

possível.

B. Quadros de melhoria a nível de gestão

Os quadros de melhorias, conforme

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Figura 11, aumentam o comprometimento e a participação dos colaboradores. É importante

que o quadro esteja bem localizado, que seu preenchimento seja uma rotina e que toda a

equipe seja treinada e informada sobre os benefícios dessa ferramenta.

Figura 11 Painel de melhoria para gerência e equipes de suporte (adaptado de SehestedSonnenberg, 2011 p. 94)

As funções do quadro são: Visualizar as melhorias implantadas, priorizar algumas das

ideias de melhoria, e decidir quais iniciativas lançar.

O gestor pode então resumir os resultados alcançados e as próximas metas, é importante

para que as reuniões também sejam objetivas e curtas, respeitando os pensamentos do lean.

Muitas vezes o papel do gestor nas reuniões do quadro de melhoria será apenas como um

facilitador das discussões, mantendo o que de fato em importante em pauta e interrompendo

discussões não benéficas.

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O objetivo da gestão em relação ao quadro é o aumento da participação em grupo na

tomada de decisão e a revisão sistêmica, já que na maior parte do dia os colaboradores

estão concentrados em suas atividades individuais.

C. Determinação das práticas de gestão

O termo padronização nem sempre é bem aceito em um ambiente de inovação, no entanto,

padronizando os processos e tarefas mais simples a equipe pode se concentrar no que

realmente importa, no que realmente agrega valor.

Segundo Taiichi Ohno (1997), se não existe padronização, não existe kaizen - melhoria

contínua. É através dos procedimentos e métodos que a melhoria contínua se faz possível, a

padronização garante a manutenção do nível de melhoria alcançado, permitindo assim que

haja evolução.

É interessante observar também que as padronizações com efeito mais positivo são sutis,

enquanto que aquelas que praticamente não agregam são que mais percebemos.

4.4.2. Estratégia e Gestão de Portfolio

A gestão de portfólio é um método para criação de um framework que promove foco e

progresso nos projetos. Entretanto, apesar de boas intenções, o portfólio se torna complexo,

com modelos de priorização, relatórios e nebulosos planos para o futuro acarretando em

atrasos e falhas da tomada de decisão.

Os papeis mais importantes da gestão de portfólio são a priorização de quais projetos

implementar e o estabelecimento de condições saudáveis para esses projetos.

Os propósitos da gestão de portfólio são:

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i. Traduzir a estratégia da empresa em projetos

ii. Alocar recursos nas iniciativas mais relevantes

iii. Tornar os projetos mais eficientes

iv. Aplicar as capacidades de cada um eficientemente

v. Garantir a coordenação entre projetos e evitar esforço duplicados

Deficiências na gestão de portfólio podem causar diversos problemas: atrasos nos projetos,

mudanças frequentes das equipes entre os projetos. Os recursos se destina para o que parece

ser mais urgente e não para o que é mais importante.

Normalmente os recursos disponíveis são insuficientes para tamanha demanda de inovação,

consequentemente, é fundamental a compreensão da capacidade da empresa e a habilidade

em priorizar os projetos à iniciar.

Se a gestão de portfólio estiver deficiente, os próprios desenvolvedores passam a decidir

como priorizar seu trabalho, acarretando em um caos causador de desperdícios de tempo e

recursos. A priorização deve, portanto, iniciar cedo no processo de desenvolvimento.

A Figura 12 traduz o ciclo que, via gestão de portfólio, transforma a estratégia da empresa

em diversos projetos, ocorrendo então a priorização e o acompanhamento desses projetos,

atualizando o portfólio e assim sucessivamente.

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Figura 12 Ciclo de aprendizagem através da gestão de portfólio (adaptado de SehestedSonnenberg, 2011 p. 107)

Mesmo sendo a estratégia da empresa o guia para a priorização, a gestão de portfólio não

deve se limitar apenas no longo prazo. Projetos podem vir a ser desenvolvidos pelo seu

potencial de caixa no curto prazo.

Existem basicamente dois tipos de projeto, aqueles que desenvolvem as soluções para então

vender, e aqueles que vendem a solução e depois a desenvolvem, normalmente as primeiras

são desenvolvimento de produtos enquanto que as últimas se relacionam ao

desenvolvimento de serviços. Para a gestão de portfólio essas diferenças são diferenciais.

As principais práticas de gestão enxuta de inovação associadas à gestão de portfólio são:

A. War Room

Para isso, uma solução foi desenvolvida pela Toyota: a oobeya. O conceito é simples,

utilizar a gestão visual e criar uma sala ou um espaço onde seja possível visualizar todos os

projetos em andamento, onde cada pessoa e recursos está alocado e a relação entre os

projetos. Essa sala ficou conhecida como War Room.

Estratégia

Projetos

Priorização e acompanhamento

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B. Priorização

A priorização, tarefa mais complexa da gestão de portfólio, deve ser decidida pelos clientes

do projeto, podendo ser tanto interno quanto externo. Os critérios para a priorização podem

ser divididos em três tipos:

Estratégia - normalmente associados ao longo prazo, nem sempre visam ganhos imediatos,

por exemplo, desenvolver uma solução para entrar em um novo mercado;

Valor – selecionados com base no valor que eles vão gerar ao serem implementados, estão

frequentemente atrelados ao ponto de vista financeiro, podem, no entanto, também buscar a

satisfação dos colaboradores, ou reduções nos impactos ambientais.

Regulação – Solução que busca atualização ou antecipação à uma certificação.

Os critérios podem ser combinados ou trocados dependendo das circunstâncias do

momento, visando balancear a utilização de recursos, riscos e duração.

C. Estrutura progressista

Uma estrutura consistente para o portfólio de projetos é composta dos seguintes fatores:

poucos projetos, tempos de ciclo curtos, funcionários adequados aos objetivos, utilização

integral dos recursos disponíveis, tempos de entrega fixos, ritmo uniforme para todos os

projetos e visão geral simplificada. Como já dito anteriormente o fluxo singular é de

extrema importância para a maximização do aprendizado. Analisa-se, portanto, os dois

portfólios indicados na

Figura 13.

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Figura 13 Princípios de organização de portfólio de projetos (adaptado de SehestedSonnenber, 2011 p.113)

O portfólio B é mais atraente, já que reduzindo a duração dos projetos, aprende-se mais

rapidamente com cada projeto, sendo possível utilizar esses aprendizados nos próximos

projetos.

Além disso o portfólio B permite entregas rápidas, aumentando a satisfação dos clientes e

as oportunidades de melhoria contínua já que a curva de aprendizado é acelerada.

4.4.3. Valor

O principal fator analisado em progresso de projetos é o tempo de desenvolvimento para

inovação enxuta. De acordo com questionários respondidos por 3.000 executivos ao redor

do mundo o maior desafio à inovação são tempos desenvolvimento muito longos – ou seja

a rapidez de transformar conhecimento em valor (SehestedSonnenberg, 2011 p. 129). Esse

tempo de desenvolvimento é medido essencialmente através do tempo de projeto até

mercado. Ao olharmos esse indicador apenas a variável eficiência é analisada, entretanto a

inovação enxuta preza também pela eficácia – o valor do consumidor a partir do resultado

deve ser sempre o mesmo.

Os modelos tradicionais de desenvolvimento de projetos preveem estágios bem definidos

com pontos de tomada de decisão ao final de cada um deles (marcos) em que um comitê

responsável analisa os resultados parciais e os planos e orçamentos necessários para

Projeto 1

Projeto 2

Projeto 3

Projeto 1 Projeto 2 Projeto 3

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continuidade ao próximo estágio. Os critérios, responsabilidades e processos estão bem

definidos em cada etapa de modo a trazer notoriedade e difusão de conhecimento dentro da

companhia. Uma divisão conhecida de estágios pode ser vista na Figura 14.

Figura 14 Estágios do processo de inovação de acordo com Robert Cooper (1980 apud SehestedSonnenberg, 2011 p.

133)

Os treinamentos voltados a gerente de projetos, comitês de avaliação de portfólio e

participantes executores dos projetos buscam aprimorar o planejamento, gerenciamento de

equipes, análise de stakeholders e impactos ou riscos. Graus de certificação em PMBOK

(Project Management Body of Knowledge) organizado pelo PMI (Project Managemente

Institute) são a maneira mais tradicional de especialização em gestão de projetos do

mercado.

Enquanto durante muito tempo a gestão de projetos obteve avanços significativos em

termos de eficiência e padronização de grandes empresas, atualmente os maiores desafios

de entrega de valor ao cliente e agilidade estão presos aos formatos e normas pré-

estabelecidas. Os modelos de projeto tradicionais enfocam mais no sistema de construção

em si que em respostas e resultados. Uma inversão de priorização: o processo pela saída.

(SehestedSonnenberg, 2011). Algumas técnicas são então desenvolvidas desde a

perspectiva da inovação enxuta. São elas:

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A. Fluxo de valor

A principal técnica diz respeito ao mapeamento do fluxo de valor. Um projeto de inovação

deve ser capaz de desenvolver de maneira única uma solução a partir de uma necessidade.

Para que isso seja possível as etapas chaves do processo são identificação de valor para o

consumidor (1), desenvolvimento do fluxo de valor (2) e direcionamento do fluxo de valor

(3).

O desenvolvimento de soluções que não agregam valor ao cliente é reconhecido como

desperdício e aprimorável desde o estágio inicial. Uma correta identificação de valor para o

cliente é estratégica para os estágios futuros, na medida em que serão sempre principal

pauta na tomada de decisão de continuidade. Para que isso ocorra, a experiência e a

realidade do cliente precisam ser exploradas e entendidas de modo a definir projetos de

inovação possíveis. Ao longo da primeira etapa é elaborada a base e o objetivo juntos aos

gestores e especialistas - integrando e garantindo que projeto de inovação se torne

realidade.

Em segundo, é necessário um alinhamento entre os objetivos do projeto e os desejos

identificados do cliente através da visão completa do cenário de desenvolvimento ao longo

das etapas de planejamento. Isso significa permitir que todas as dúvidas a respeito do

processo estejam sanadas antes do início da implementação de cada fase.

As respostas às perguntas do projeto devem contemplar os participantes do projeto da

empresa e, principalmente, o consumidor final. Assim modelos de soluções integradas são

desenvolvidas a partir de protótipos, testes e experimentações sejam realizadas junto aos

clientes futuros antes mesmo do lançamento.

Em terceiro a organização precisa reavaliar o fluxo natural de desenvolvimento para

estruturar um sistema consciente de aprendizagem de altas velocidade e tempo takt (da

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filosofia enxuta, tempo disponível para a desenvolvimento dividido pela demanda de

mercado).

O pré-requisito é subdividir os grandes questionamentos e objetivos em entregas parciais

fundamentalmente mais simples, específicas e acessíveis sempre com os marcos decisórios

ao final de cada etapa. Assim o ciclo de interação torna-se reduzido e a equipe se concentra

no progresso de desenvolvimento e não no consumo de recursos, crítica maior a projetos de

pesquisa e desenvolvimento nas organizações conforme o principio timeboxing já

explorado. Ao trazer resultados em tempos curtos de ciclo de interação, muitas vezes com

duração semanal, o acompanhamento torna-se mais palpável e existe uma maior margem de

manobra estratégica caso ocorra desalinhamento de expectativas.

A inovação enxuta busca em outras palavras criar rotinas para o processo de criação de

soluções únicas. Algumas técnicas já testadas de inovação enxutas que exemplificam os

conceitos explorados acima são o painel visual de projeto, frontloading e fórum.

B. Painel visual de projeto

Baseado no princípio de gestão visual e ativa constrói-se um grande quadro de gestão para

cada projeto que contenha as informações necessárias para realização de planejamento,

acompanhamento e gestão do progresso. O principal objetivo do quadro é aumentar o foco

individual em cada projeto. Um modelo de painel visual para projetos está disponível na

Figura 15.

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Figura 15 Quadro de gestão de projetos para inovação enxuta (adaptado de SehestedSonnenberg, 2011 p.141)

O quadro desempenha papel central na definição e acompanhamento do projeto. As

atividades chave possíveis a partir dele são: definição de objetivos, planejamento e

replanejamento, seleção de indicadores chave, mapeamento de riscos, apoio a reuniões

semanais.

C. Execução postergada

A postergação da execução busca reverter um lugar comum dentro da gestão de projetos.

Por muitas vezes a gestão almeja reduzir o espaço dedicado ao planejamento para iniciar

mais rapidamente a fase de execução do desenvolvimento e implementação. Contudo a

falha no processo decisório devido ausência de informação necessária e base para

Nome do projeto

Equipe

Objetivos

Entregáveis

Semana 1

Semana 2

Semana 3

Membro1

Membro 2

Membro 3

Membro 4

Indicadores

Riscos

80%

Ideias

Ações

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desenvolvimento acaba por atrasar os resultados na perspectiva global. A expectativa de

ganho do princípio frontloading está disponível na Figura 16.

Figura 16 Expectativa de ganhos através do uso de frontloading em inovação enxuta (adaptado de SehestedSonnenberg,

2011 p. 153)

Caso uma atenção e esforço maior for dedicado a etapa inicial de pesquisa e planejamento o

tempo final será inferior de acordo Allen Wardy (1995) em seu artigo “The Second Toyota

Paradox – How Delaying Decisions Can Make Better Cars Faster”. Contundo uma

distribuição excessiva de tempo ao planejamento pode, por fim, atrasar ainda mais o tempo

final do projeto, sendo um tópico controverso nos debates em inovação. Especialmente pela

preocupação de alocação maior de recursos (tempo, dinheiro, pessoas) para a etapa mais

incerta e menos mensurável. A inovação enxuta sugere duas abordagens estruturadas e mais

previsíveis de alocação de tempo a fase do planejamento.

A primeira abordagem parte são “200 questões”. A ideia é durante o brainstorm inicial de

planejamento com os integrantes da equipe formular 200 perguntas a serem respondidas

antes do início do desenvolvimento da execução. As perguntas devem ter natureza variada e

atender a temas como clientes, mercados, garantias, serviços, condições de produção,

custos/orçamento, processos e etc. A equipe após a formulação de todas as perguntas faz a

priorização de acordo com os recursos disponíveis e tempo alocado para a etapa inicial.

Algumas questões são capazes de serem respondidas a partir da experiência dos integrantes

algumas precisarão de um estudo mais elaborado. Assim a equipe é dividida de modo a

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buscar as fontes necessárias para responder as perguntas remanescentes em um horizonte de

uma a duas semanas.

A segunda abordagem é o “painel dos especialistas”. Diferentemente dos participantes

técnicos das equipes de projeto, nesse caso, os especialistas são os clientes. Essa abordagem

visa priorizar as necessidades dos clientes quem determinam o real valor do resultado do

processo de inovação. A proposta aqui é construir um workshop voltado ao cliente.

O workshop é composto de duas etapas, uma de questionário e outra de experiências. A

primeira é feita parcialmente em uma rodada oral de perguntas e respostas verificando a

interação entre as partes e em formato escrito permitindo uma elaboração mais construtiva

das perguntas abertas e múltiplas escolhas diretas para perguntas fechadas. A segunda é

necessário separar os clientes em pequenos grupos e criar experiências de teste para os

objetivos idealizados pela equipe. Algumas tarefas sugeridas são construção de solução

modelo baseada em módulos pré-moldados pela equipe do projeto, descrição da experiência

do uso da solução proposta, brainstorm de tendências no tema.

D. Fórum

Por fim, dentre as técnicas aplicada a projetos, temos os fóruns semanais que basicamente

buscam identificar a evolução do projeto. Contudo, diferentemente das tradicionais

reuniões, o objetivo final é promover a melhoria contínua em todos os projetos em

atividade na organização.

Baseado nos conceitos da filosofia enxuta os gerentes de projeto devem iniciar a reunião

listando todos os desperdícios que evitam o progresso eficiente do projeto. Em seguida os

gerentes terão uma semana para entender e resolver cada problema de acordo com uma lista

previamente definida. A solução projetada pelos gerentes é avaliada no fórum seguinte e

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deve ser implementada até o próximo fórum. A recorrência semanal da reunião cria um

ambiente favorável à melhoria contínua do processo de inovação na organização.

4.4.4. Suporte

O projeto de inovação depende não somente do desejo daqueles participantes ativos de sua

equipe de desenvolvimento, mas de uma estrutura organizacional associada a uma eficiente

organização de processo (SehestedSonnenberg, 2011 p.160). Há dois tipos diferentes de

suporte em projeto de acordo com os autores: o suporte de desenvolvimento em que o

trabalho é configurável a cada projeto e o suporte operacional em que o trabalho possui

serviços padronizáveis independentemente do projeto atendido. A lista tarefas de cada tipo

está disponível na Tabela 7.

Suporte de desenvolvimento Suporte operacional

Infraestrutura de laboratório Recursos humanos / recrutamento

Protótipos de workshop Financeiro

Pesquisas de mercado Tecnologia da informação

Design gráfico e documentação Instalações

Análise de patentes Relações públicas

Tabela 7 Diferentes tipos de suporte a projeto (SehestedSonnenberg, 2011 p. 159)

Esse capítulo visa identificar um objetivo comum entre as atividades de apoio e o processo

de inovação, aprimorando fluxos para torná-las enxutas.

A ausência de estrutura de suporte adequado ao projeto pode acarretar em gargalo não

previsto causando atrasos desnecessários ao projeto. Diferentemente da equipe do projeto, o

suporte atende a todo portfólio simultaneamente, por isso seu ganho impacta todos projetos

como consequência. As principais questões levantadas relacionadas ao suporte são

comunicação com os projetos e processos internos.

A abordagem sugerida em inovação enxuta é praticar o objetivo comum entre os projetos e

as funções de suporte. O desafio é gerado por dois fatores essencialmente: a prioridade em

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tarefas operacionais das funções de suporte face as tarefas de apoio a projetos; e falhas de

planejamento e prazos dos projetos que gera desperdício ao gerar demandas urgentes que

nem sempre podem ser atendidas imediatamente.

O mesmo conceito de sistema consciente de aprendizagem de alta velocidade aplicados ao

desenvolvimento de projetos devem ser buscados por suas funções de suporte. Como os

processos das funções de suporte são em sua maioria operacionais todos os conceitos

adaptados da filosofia enxuta têm ainda mais possibilidades de ganho.

Algumas técnicas já testadas de inovação enxutas que exemplificam os conceitos

explorados acima são o aprimoramento de comunicação, mapeamento de interação e

planejamento de ritmo de capacidade e ritmo takt.

A transferência de atividades pode ser associada a uma grande quantidade de desperdício, e

a eliminação de tarefas desnecessárias é uma maneira simples de melhorar o processo

(SehestedSonnenberg, 2011 p. 162). Assim são apresentadas as técnicas de melhoria de

fluxo entre áreas: comunicação, mapeamento de interações e planejamento de capacidade e

takt.

A. Comunicação

Criar um senso de responsabilidade cria o objetivo comum entre as partes.

Em uma abordagem informal isso é realizado através da inclusão de membros das funções

suporte nos fóruns, painéis visuais de acompanhamento de projeto, fase de planejamento

em conjunto. Ou seja, aproximando e alinhando as equipes.

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Uma abordagem mais formal pode ser necessária em organizações de grande porte. A

formalidade simplifica a cooperação pois deixa claro os padrões, metas e normas de serviço

esperados por ambas as partes.

A construção colaborativa de um formulário padrão com as informações necessárias para

execução das funções de suporte é um exemplo de formalidade útil aos ganhos de processo

esperados. Outro exemplo ainda mais formal são os SLA’s (Service Level Agreements) ou

Acordos de Nível de Serviço em tradução livre. O SLA é uma ferramenta que estabelece

parâmetros de comum acordo entre as partes para os entregáveis de um determinado

serviço. Busca garantir um nível mínimo qualidade adaptado as necessidades dos projetos

da organização. O viés negativo da formalização é o distanciamento entre as partes. Os

ganhos de entendimento e flexibilidade são perdidos na medida em que formatos rígidos

são necessários para execução de uma demanda.

Ainda no âmbito da difusão do senso de responsabilidade, a proatividade dentro das

funções de suporte pode ajudar a identificar falhas comuns entre projetos de modo a

beneficiar o resultado global além das tarefas rotineiras. Isso é possível, pois ao lidar com

todos os projetos da organização, uma visão interfuncional sistêmica é mais evidente do

que aos participantes individuais de cada projeto.

Os projetos têm por necessidade entender a capacidade, planejamento e recursos

disponíveis dentro de suas funções suporte. Baseado nos conceitos de gestão visual e ativa

um simples quadro de reserva de capacidade aprimora a cooperação entre ambas as partes.

Evita também interrupções recorrentes de modo a influenciar a priorização de projetos

individualmente.

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B. Mapeamento das interações

O mapeamento de interação basicamente trata de identificar como a equipe responsável

pelo projeto pode integrar de forma mais eficiente a transferência de atividades junto as

funções de suporte. Ao montar um mapa de interações e debater quais formatos eram

essenciais e quais seriam desperdício se estabelecerá uma nova metodologia de interação

padrão focada em entendimento entre ambas as partes e menos formalização.

A substituição do processo de documentação é baseada na filosofia enxuta de que todo

controle e registro são uma forma de desperdício, e representam um processo fora de

controle. Em outras palavras um processo atrasado não se adiantará se etapas de controle e

registro forem incluídas ao longo de seu desenvolvimento. O primeiro passo nesse caso é o

mapeamento de processo e determinação do lead time (tempo de atravessamento em

tradução livre). De acordo com a filosofia enxuta, o lead time é o tempo de caminho crítico

da produção, do momento da criação da ordem do pedido até a entrega do produto final ao

cliente (Erickesen et al., 2007). Isso significa o tempo de atravessamento total dentro da

cadeia de suprimento no âmbito de fabricação.

Dentro de projetos, o lead time seria o equivalente ao tempo do surgimento da ideia até o

lançamento do produto. Também conhecido dentro do campo da inovação como time to

market (tempo até o mercado, em tradução livre). É importante pontuar a necessidade de

atuar diretamente no caminho crítico, devido aos riscos do uso incorreto de esforços de

melhoria nas características não limitantes do processo (em linha com a Teoria das

Restrições de Goldratt (1984)¹).

Com o objetivo de reduzir o processo de documentação sem perder o acesso aos dados

dentro do projeto, a inovação enxuta aplica dois métodos baseados nos conceitos de gestão

visual e ativa: quadro de medidas diário e fluxo visual de projetos.

¹ Teoria de restrições: consolidada pelo israelense Eliyahu Goldratt, a teoria das restrições

preza pela exploração daquilo que limita a organização de maximizar seu ganho global.

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O quadro de medidas diário usa uma abordagem de acompanhamento e evolução

progressiva junto as funções de suporte em que parâmetros de produtividade e qualidade

são medidos diariamente, conforme Figura 17. Já o fluxo visual permite o mapeamento do

estágio que cada projeto do portfólio se encontra de modo a permitir uma preparação prévia

de distribuição adequada recursos de acordo com a aproximação da demanda das funções

de suporte.

Figura 17 Quadro de medidas de suporte diário (adaptado de SehestedSonnenberg, 2011 p.164)

C. Planejamento das capacidades e takt

Por fim uma maneira de utilizar as funções de suporte para ganhos de tempo takt se dá

através da distribuição de capacidade ao longo do tempo. Grande picos de capacidade

gerados por uma sazonalidade mal planejada, no caso de todos projetos de portfólio terem

início e marcos de estágio juntos gera uma sobrecarga desnecessária nas funções de

suporte. A diferença de carga de trabalho entre um projeto com e sem capacidade nivelada

está na Figura 18 .

Segunda

Atividade 2ª

Atividade 2ª

Terça

Atividade 3ª

Atividade 3ª

Quarta

Atividade 4ª

Atividade 4ª

Quinta

Atividade 5ª

Atividade 5ª

Sexta

Atividade 6ª

Atividade 6ª

Suporte A

Suporte B

INDICADOR INDICADOR INDICADOR INDICADOR INDICADOR

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Figura 18 Planejamento de capacidade em inovação enxuta (adaptado de Hoppman, 2009)

A coordenação entre estágios do projeto, especificamente baseado na necessidade das

funções suporte, é capaz de acelerar o ritmo takt de todos projetos. O primeiro passo antes

da alocação espaçada de cronogramas é a identificação da capacidade real de cada função,

por fim cada projeto é alocado em intervalos de tempo consecutivas sem intersecção,

incluindo o tempo de folga caso o processo prescinda imprevistos naturalmente. Ao tornar

o planejamento visual a aos também se aplica o princípio de gestão visual e ativa, como

indicam as resoluções anteriores.

4.5. Consolidação do modelo

A análise do capítulo 4 nos leva até à compreensão do modelo original de gestão enxuta da

inovação, abrangendo completamente seu conjunto de princípios, pilares e técnicas,

conforme exposto na Figura 19.

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Figura 19 Princípios e pilares do modelo original de inovação enxuta (Elaboração própria)

A partir da consolidação teórica do modelo, partiremos agora para análise de implantação

em um contexto real, apresentado pelo estudo de caso que segue no próximo capítulo.

Pilares

Gestão Ativa

Estratégia e Portfólio

Valor

Suporte

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5. Estudo de Caso

5.1. Contexto

O Grupo ALIA é o líder do seu segmento e um dos 100 grupos mais inovadores do mundo

segundo a revista Forbes (2014), seu core business é o desenvolvimento e produção de

produtos vinculados a segurança de pessoas, bens e locais.

Uma estratégia agressiva de fusões e aquisições praticadas principalmente no decorrer dos

últimos 10 anos, levou o grupo a uma nova dimensão, atualmente (2016) contando com

mais de 43.000 funcionários, vendas anuais de mais de 5,1 bilhões de euros, presença em

mais de 70 países e market share mundial de 10%.

A transformação do seu caráter local em mundial trouxe ao grupo grandes desafios e

oportunidades. Paralelamente à esse contexto, surgia na Europa, por volta de 2005, o

conceito de inovação enxuta.

No início de 2010, o conceito de inovação enxuta ganhava mais notoriedade no mundo

empresarial, no mesmo período em que os projetos de desenvolvimento de produtos na

ALIA desempenhavam os piores resultados.

O processo de desenvolvimento de produtos realizado pelo grupo até então era formulado

conforme as determinações locais, ou seja, não existia um padrão de desenvolvimento à

nível global. Cada unidade de P&D utilizava uma linguagem diferente, o grupo não possuía

identidade de grupo, as tomadas de decisão eram muito complicadas, não existia um

compartilhamento de conhecimento entre as unidades, milhares de euros eram

desperdiçados em retrabalho.

Foi nesse momento que a ALIA resolveu apostar na implantação da inovação enxuta nas

suas unidades de P&D.

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O projeto de treinamento, adaptação e implantação do lean innovation na cultura

organizacional teve inicio em meados de 2010, e foi marcado por três principais ações.

O estudo de caso se inicia com a definição de indicadores que permitiam mensurar a

eficiência do sistema de desenvolvimento de produtos; passa pelo estabelecimento de um

processo de concepção padrão qual todos os escritórios do grupo no mundo deveriam

seguir; e para finalizar, a auditoria interna, possibilitando um benchmarking entre unidades

e a identificação de pontos à considerar no plano de ação.

As próximas seções apresentam essas três ações de inovação enxuta em maior

detalhamento.

5.2. Processo de Concepção - PIP

Os projetos de concepção seguiam um processo padrão desenvolvido pela própria empresa

ALIA chamado de Product Innovation Process (PIP) ou Gateway Process. Esse processo

deveria ser aplicado a todos os projetos de concepção que atendessem a um dos seguintes

critérios:

i. Movimentar um volume de negócios estimado superior à 200 k€ acumulado nos 3

anos sucessivos.

ii. Investimento estimado acima de 20 k €

iii. Tempo de desenvolvimento de P & D superior a 500 horas.

Para projetos de produtos novos ou de alterações de produtos já existentes que estivessem

fora destes critérios, ficaria a critério dos departamentos locais definir os procedimentos à

aplicar.

Abaixo se encontra o processo de concepção (PIP) representado pela Figura 20:

Figura 20 Diagrama de processo de concepção de projeto (Elaboração própria)

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O PIP era dividido em seis fases de desenvolvimento, cada fase deveria ser validada em um

conselho, chamado de Product Council. Nesse conselho, o chefe do projeto apresentava as

entregas de cada fase aos gestores, que decidiam então se o projeto estava apto a avançar.

Essas etapas de validação entre fases eram chamadas de Gateways (GW), ou seja, as portas

de entrada para cada fase. Essas validações possuíam datas fixadas e deveriam ser seguidas

rigorosamente.

A definição das datas de entrega é a tradução da teoria da timeboxing, ferramenta

importantíssima discutida anteriormente no capitulo de inovação enxuta, na prática de

gestão de projetos de inovação, uma maneira inteligente de respeitar o Time-to-Market.

A organização das fases e gateways do processo de concepção se dava na seguinte

estrutura:

Fase 0 - Pré-estudo

Esta fase destina-se a preparação um pedido de abertura de projeto do produto. Esta análise

é conduzida pelo departamento de marketing. As principais ações desta fase são: um

primeiro esboço do business case, uma proposta de projeto, a determinação dos recursos

exigidos, o resumo das principais cifras do projeto (one pager) e a numeração do projeto.

Como explicado anteriormente, o frontloading é primordial para o sucesso do projeto. A

alocação de recursos na fase 0 possibilita uma determinação mais correta das necessidades

do mercado reduzindo os riscos de alterações emergenciais nas etapas mais próximas do

lançamento, muito mais nocivas.

Gateway 0

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Essa etapa de validação é uma das mais importantes, à ela estão relacionadas as ferramentas

de gestão de portfólio e a suporte ao projeto.

É nessa etapa que os gestores determinam quais projetos iniciar, respeitando os critérios de

priorização pré-estabelecidos na gestão de portfólio e também ocorre a estruturação da

equipe de projeto atendendo as limitações previstas no suporte aos projetos.

Fase 1 – Definição das Necessidades

Esta fase tem como objetivo refinar as necessidades dos clientes. E traduzi-las em

características e aspectos do produto. Algumas entregas importantes previstas para esta fase

são as especificações de marketing, a avaliação primária dos riscos do projeto e a avaliação

preliminar do Make or Buy.

Gateway 1

Validar se o projeto possui uma base sólida de informações acerca do produto, ou seja, a

equipe de desenvolvedores é capaz de compreender as necessidades do mercado em termos

de características do produto e traduzi-las em especificações técnicas, a noção do o que é

valor para o cliente deverá estar clara.

Fase 2 – Especificação Técnica do Produto

Durante essa fase, os desenvolvedores assumem o papel central, transformando os

requisitos do produto, elaborados pela equipe de marketing, em especificações técnicas, por

exemplo, a fase 1 gerará o imput: produto ficará exposto ao tempo (chuva e sol e grandes

variações de temperatura), a fase 2 se apropriará desses requisitos para a definição de

propriedades materiais e níveis de resistência. Ao final desta fase os seguintes tópicos

deverão estar esclarecidos: "Business Case" final, plano de marketing preliminar, a tomada

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de decisão do make or buy, o cronograma detalhado do projeto, segunda avaliação de riscos

e a matriz de conformidades.

Gateway 2

Validar o gateway 2 significa definir o produto, congelando suas especificações descritas

na matriz de conformidade. A partir deste momento qualquer alteração pode causar um

replanejamento completo do projeto e uma revisão completa dos custos projetados. Tanto a

tradução das necessidades de mercado em requisitos de produto, quanto a transformação

desses requisitos em especificações técnicas devem não podem apresentar erros de

interpretação.

Fase 3 – Concepção do produto e do processo

Nessa fase ocorrem os estudos do produto e do processo em paralelo, as vantagens de

desenvolver ambos simultaneamente são enormes, a equipe de pesquisa e desenvolvimento

e a de planejamento da produção passam a interagir e a compreender as limitações de cada

área. Essas interações reduzem revisões no produto durante a concepção da produção e

normalmente trazem à tona alternativas de redução de custos e material.

As entregas previstas para essa etapa são as seguintes: o estudo completo do produto, a

avaliação de propriedade intelectual, o plano de certificações, o estudo Completo do

processo (industrialização), a avaliação de fornecedores e acordos de confidencialidade,

elaboração de documentação de produto / processo (manuais, normas e procedimentos), o

plano de Marketing final, o Business Case, a demanda de investimentos (CAPEX), o

cronograma do projeto detalhado e sua atualização e a checklist dos impactos ambientais.

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Gateway 3

É a aprovação ou rejeição da demanda de investimento realizada pelo chefe de projeto em

um formulário online enviado à sede. Essa demanda é composta por todos os detalhes do

projeto, produto e processo. Portanto, fica a cargo dos gestores da ALIA à nível global a

decisão de progressão, sendo a única etapa em que o conselho de produtos é não decisivo,

ou seja, sua função é de apenas auxiliar o chefe de projeto na demanda.

Fase 4 – Industrialização e preparação para o lançamento

Esta fase visa validar e industrializar o produto. Além disso, o marketing inicia a

preparação do mercado para o lançamento do produto. As principais ações desta fase são: o

processo de homologação do produto, o teste beta do produtos e certificações, finalização

dos dados de produção e de armazenamento, conclusão das ações de marketing e a

formação da equipe comercial.

Gateway 4

É a etapa que caracteriza o lançamento, nela são validados o produto, o processo produtivo

e a cadeia de suprimentos. Nela define-se a data de lançamento do produto. A partir deste

momento, todo o processo de desenvolvimento propriamente dito é finalizado e a equipe

comercial passa a assumir o papel central.

Fase 5 – Resumo

Esta fase representa a melhoria contínua, ela é iniciada após um ano do lançamento do

produto, e seu principal objetivo é verificar as previsões correspondem à realidade. As

principais ações dessa fase são a revisão do lançamento, a atualização do "Business Case",

a transferência do projeto e o relatório final à ser arquivado para futuras consultas.

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5.3. Indicadores

Time to Market

É definido como o tempo para o lançamento de uma inovação pelo P&D. À nível gerencial

temos os seguintes itens de controle: o intervalo de tempo entre o GW2 e GW4, que

representa o tempo entre a validação do produto e o seu lançamento, e o intervalo de tempo

entre o GW0 e o GW4, que é o tempo entre o inicio do projeto e o lançamento do produto.

As metas fixadas a nível global pelo grupo ALIA são: média entre GW2 e GW4 inferior à

12 meses; média entre GW0 e GW4 inferior à 18 meses; e máximo de 24 meses entre GW0

e GW4.

Slip Rate

O segundo indicador é a taxa de “deslizamento”, ou de desvio em relação ao planejado. Ele

visa reduzir atrasos em projetos e aumentar a eficiência no planejamento, melhorando a

previsão de imprevistos e eliminando os esquecimentos. Esses erros no planejamento

normalmente estão associados à atrasos, aumento do custo do projeto, suscetibilidade à

falhas, estresse na equipe e disputas entre chefes de projetos por recursos compartilhados já

que ocorre a sobreposição.

Este indicador é estabelecido pela diferença entre as datas de gateways reais e planejadas.

Para cada projeto, soma-se todas as diferenças entre as datas de passagem de gateway

planejadas e reais. Calcula-se então a média de deslizamento para o total de projetos.

Vale ressaltar que este indicador é apenas um retrato do momento da medição, já que o

atraso em uma das passagens de GW não significa necessariamente um atraso no

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lançamento final. Contudo, permite que o gestor de P&D tenha uma posição acerca do

andamento dos projetos.

Um slip rate alto significa um mal planejamento do projeto, modificações consideráveis no

escopo e um forte indício de que haverá projetos atrasados (aumento do Time to Market).

Um slip rate baixo normalmente também está relacionado a um mal planejamento no

projeto, já que representa um timeboxing dilatado, mas também pode representar o sucesso

da equipe de projeto, que soube utilizar os princípios da inovação enxuta.

A meta do grupo para esse indicador é obter uma taxa de deslizamento = 0, ou seja, o

conjunto de projetos deve passar todos GW nos prazos estabelecidos no início do projeto.

Exemplo ilustrativo:

Se para o projeto N1 estava prevista a passagem de GW2 para 31/03/2010, mas que só veio

ocorrer de fato em 30/04/2010, temos uma diferença igual a 1 mês. O projeto N2, por sua

vez, apresenta uma diferença de 3 meses de atraso em relação a passagem de GW3.

Logo, o Slip Rate referente ao conjunto de projetos é igual a soma dos deslizamentos divida

pela quantidade de projetos, ou seja, (3+1)/2, portanto slip rate igual a 2.

5.4. Auditoria

O principal objetivo da auditoria é determinar o nível de maturidade Lean Innovation da

equipe avaliada. Esse nível é determinado da seguinte forma: Existe uma comissão de

auditoria do grupo ALIA à nível global, que viaja o mundo auditando os escritórios de

desenvolvimento de produto e os avaliando de acordo com critérios pré-estabelecidos em

um documento checklist base, vide Anexo 2 e segundo o Lean Step Model descrito abaixo.

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O Lean Step Model faz referência à implantação das ferramentas de inovação enxuta

definidas pelo grupo, ele é subdivido em seis degraus acumulativos de maturidade, que

definem a abrangência da visão da gestão de P&D. São eles:

Entrada (Degrau 0) – Equipes que seguem o processo PIP, exposto na próxima seção, é o

nível obrigatório para todos os escritórios de P&D do grupo.

Projeto (Degrau 1) – Chega-se a esse nível quando cada equipe de projeto está apta a retirar

o máximo do seu trabalho.

Multi-Projetos (Degrau 2) – O escritório passa a ter uma visão mais sistêmica, alocando

recursos e linearizando os esforços do conjunto de projetos, além disso a priorização passa

a ter mais coerência. Os resultados crescem globalmente que o desenvolvido

individualmente de cada projeto da etapa anterior.

Portfólio (Degrau 3) – No terceiro nível, o escritório passa não somente a entender melhor a

relação e o compartilhamento de recursos entre projetos em andamento, mas também a

participar mais ativamente da escolha dos novos projetos. Ou seja, existe uma maior

proximidade entre as equipes de desenvolvimento e o mercado.

Conhecimento (Degrau 4) – A esse ponto, as equipes passam a adquirir, reter e

compartilhar seus conhecimentos em altíssima eficiência. As equipes passam a iniciar seus

projetos com muito mais conhecimento e informações, reduzindo drasticamente o tempo de

desenvolvimento e as inconveniências decorrentes das alterações no escopo.

Líder (Degrau 5) – Os escritórios nesse nível são consistentes quanto ao sucesso no

lançamento de novas soluções; a alavancagem do fluxo, a qualidade e os custos são muito

bem balanceados no portfólio de projetos; a melhoria contínua bem como os princípios

enxutos são completamente internalizadas na cultura das equipes.

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O objetivo do grupo é que os escritórios de P&D estejam em um nível 4 (conhecimento) até

meados desse ano. Com todas as ferramentas dos degraus anteriores tendo sido aplicadas.

Ao final da auditoria, os resultados são divulgados comparando-se a performance dos

escritórios distribuídos no mundo, premiando as equipes à nível mais avançado e

direcionando a atenção para as localidades que apresentam maiores resistências, e, portanto,

níveis mais baixos.

5.5. Resultados

Os resultados alcançados pelo grupo ALIA, a partir da implantação das ações apresentadas

na seção anterior, são expostas a seguir. O Lean Step Model será abordado primeiramente,

já que ele indica o nível de maturidade de inovação enxuta em que o grupo se encontra no

momento.

É importante também ressaltar que os resultados abaixo expostos foram mensurados em

2015, e portanto, podem representar pequenas variações em relação a situação atual.

Auditoria:

Lean Step Model:

Os degraus (steps) cobertos pela cor verde indicam os degraus “conquistados”, ou seja, a

maioria das ferramentas presentes nesses degraus já estão em prática; enquanto que os

cobertos pela cor amarela ainda apresentam diversas ferramentas pendentes e portanto, não

foram alcançados. Segue a Figura 21 que ilustra a situação do grupo no final de 2015.

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Figura 21 Estado da prática corrente do grupo ALIA em inovação (documento adaptado da empresa ALIA,2015)

Atualmente o grupo se encontra majoritariamente no nível 3, possuindo, no entanto,

algumas ferramentas ainda pendentes de implantação, como é o caso do quadro de gestão

de recursos exigidos para o nível 2. Lembrando que a meta para o final deste ano é alcançar

o quarto nível.

A auditoria via checklist retratou uma situação bastante interessante. Quanto a difusão da

inovação enxuta nos escritórios, percebe-se que ela não segue a linearidade cumulativa da

implantação das ferramentas representadas pelo lean step model, como pode ser visto na

Figura 22.

Figura 22 Gráfico de difusão da inovação (documento adaptado da empresa ALIA,2015)

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Percebemos que existem dois tópicos que despontam quanto seus resultados, o primeiro é

positivo, o processo PIP definido pelo progresso marcado pela passagem por gateways.

Item obrigatório do grupo ALIA, passou fazer parte da cultura da grande parte dos

escritórios do mundo.

Na outra ponta, encontramos o knowledge (conhecimento), talvez o mais importante da

inovação enxuta, é quase que esquecido pela grande maioria dos escritórios, por ser o mais

abstrato e complexo a nível de implantação e medição, os gestores preferem dedicar-se aos

outros grupos.

Com esse cenário, a tendência é que após os saltos de eficiência conquistados pela

determinação de um processo padrão (PIP), fique muito complicado continuar avançando,

já que a captura e compartilhamento de conhecimentos não faz parte das prioridades dos

gestores responsáveis pela difusão da inovação enxuta.

Time to Market:

Os dados da Figura 23 fazem referência ao tempo entre GW0 e GW4. As cores escuras

indicam que todos os projetos iniciados naquele ano foram finalizados e, portanto,

apresentam dados estáticos, enquanto que para os anos com cores mais claras ainda existem

projetos em andamento e por isso as médias e máximos ainda podem aumentar.

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Figura 23 Gráfico de tempo médio de projetos até mercado (documento adaptado da empresa ALIA,2015)

Após seguidas más performances do grupo, com tempo médio de desenvolvimento de

produto de 30 meses e projetos com tempo máximo de desenvolvimento chegando à 5 anos,

percebe-se que a partir 2011, quando as ações de inovação enxuta passam a fazer efeito,

esse tempo começa a reduzir drasticamente.

Atualmente o grupo ALIA, principalmente através da aplicação dos princípios de inovação

enxutas expostos no capítulo 4, apresenta tempo médio de desenvolvimento em torno dos

15 meses e atingindo um limite máximo de tempo de projeto de 30 meses, iguais a metade

daqueles da década anterior.

O princípio de inovação enxuta que mais impactou a redução do tempo máximo de projeto

foi o fluxo singular, o que acontece atualmente é a quebra de projetos enormes em vários

pequenos projetos, nesse caso os ciclos de aprendizado são mais rápidos e a gestão é muito

facilitada, além de todos os fatores motivacionais que beneficiam a equipe, decorrentes do

cumprimento dos prazos pré-determinados.

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Slip Rate:

A Figura 24 abaixo demonstra a evolução do slip rate no tempo, nesse caso a modificação

em relação ao planejado é expressa em número de meses e é mensurada a cada trimestre.

Figura 24 Taxa de slip rate corrente do grupo ALIA (documento adaptado da empresa ALIA,2015)

O slip rate vem apresentando um afastamento da meta desde que os princípios de inovação

enxuta passaram a ser aplicados, a média de 3 meses registrada no terceiro trimestre de

2011, atingiu seu máximo (8,2 meses) no último trimestre de 2014 e já atinge um patamar

de 6,3 meses, o que na verdade não é tão negativo quanto parece.

Ao analisar criteriosamente as causas do aumento desse indicador, chegamos a conclusão

de que na realidade, o planejamento dos gateways internos passou a ser muito rigoroso. Já

que a equipe de desenvolvimento vem conseguindo reduzir drasticamente o tempo total de

duração dos projetos (Time to Market), os gestores passaram a definir prazos ainda mais

curtos, o que acontece é que os projetos apresentam então atrasos durante o seu

desenvolvimento mas que no entanto são recuperados e o projeto é finalizado à tempo.

Ou seja, isso é tradução da aplicação do princípio frontloading. As tomadas de decisão

passam a acontecer em etapas mais tardias, dedicando-se um tempo maior nas etapas

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

8,0

9,0

2011-Q3 2011-Q4 2012-Q1 2012-Q2 2012-Q3 2012-Q4 2013-Q1 2013-Q2 2013-Q3 2013-Q4 2014-Q1 2014-Q2 2014-Q3 2014-Q4 2015-Q1

Slip Rate

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iniciais de desenvolvimento (consequentes atrasos, aumento do slip rate), mas que não

impacta no prazo final de entrega da solução (menos alterações e maior facilidade nas

tomadas de decisão posteriores), em outras palavras, um projeto inicia mais lento, com

maior alocação de recursos e finaliza em ritmo mais acelerado.

Além do mais, essa queda registrada no primeiro trimestre de 2015 registra a adequação do

planejamento a essa nova realidade de inicio mais longos e finais mais curtos.

5.6. Adendos

A implantação da inovação enxuta no grupo ALIA contou ainda com diversas outras

ferramentas que não foram exploradas a fundo neste trabalho devido seu menor impacto e

sua abrangência, desviando do foco central deste projeto.

A grande maioria dessas ferramentas dizem respeito à gestão visual e a melhoria contínua.

Serão incluídos no Anexo 3 as seguintes ferramentas:

i. Quadro cronograma por projeto

ii. War Room

iii. Plano de ação

A partir da formulação teórica e da análise da aplicação baseada nesse estudo de caso, o

próximo capitulo construirá um modelo mais robusto maximizando o potencial da inovação

enxuta.

6. Proposta de Modelo

Esse capítulo objetiva a construção do modelo da inovação enxuta com base na revisão

crítica do conceito, o explorando sob ambas perspectivas teórica e prática.

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Os tópicos a seguir apresentarão uma revisão dos pilares e princípios estabelecidos sob a

ótica da inovação enxuta.

6.1. Revisão crítica dos pilares

O modelo de inovação enxuta original apresenta uma série de pilares para aprimoração da

gestão do processo de desenvolvimento de inovação. Contudo, alguns tópicos foram

abordados de forma muito superficial pela inovação enxuta até então. Paralelamente outros

autores se aproveitaram dos conceitos de filosofia enxuta e formularam técnicas que se

acredita complementar ao modelo original no que diz respeito a gestão de cronograma e

indicadores em projetos.

Para gestão de cronograma é apresentado a metodologia Scrum, utilizada originalmente em

desenvolvimento de programas computacionais. Para gestão de indicadores é apresentado a

metodologia Startup Enxuta, utilizada originalmente na gestão de valor no

empreendedorismo baseado em inovação.

Sugere-se aqui uma extrapolação do contexto original para correta apropriação por parte de

qualquer tipo de projeto de inovação.

6.1.1 Cronograma: o Scrum e a capacidade de resposta dinâmica

O tempo dentro do contexto de sistema de inovação é fator fundamental para composição

de valor. Uma solução pode ganhar ou perder seu valor dependendo do período de

atingimento ao mercado – atrasar ou adiantar uma entrega é parte determinante do sucesso

da estratégia de inovação. O cronograma é a ferramenta de gestão e controles de atividades

no tempo. Até então a inovação enxuta explorou dentro de cronogramas técnicas de

balanceamento de capacidade de atividades de suporte e gestão visual de atividades junto a

equipe.

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O Scrum é reconhecida técnica para gestão de cronograma em projetos de desenvolvimento

de software.

Jeff Sutherland e Ken Schwaber iniciaram em 1993 os estudos acerca de técnicas de

planejamento baseado na experiência militar de seus autores, os avanços em gestão do

conhecimento dos japoneses Nonaka e Takeuchi (1986) e os estudos de visão sistêmica de

Peter Senge (1990). A filosofia Scrum foi formalizada em 1995.

O termo Scrum é originário do jogo do rúgbi, momento em que ambos os times fazem a

formação de braços dados e cabeças para baixo frente a equipe adversária para retomada do

jogo. A bola é rolada por baixo da formação e as equipes tentam garantir a posse de bola

para o seu time. É um exemplo dentro do jogo de alinhamento minucioso, unidade de

propósito e clareza de objetivo.

A experiência dos autores ao pilotar caças mostrava que ao realizar o pouso não existia uma

maneira única de realizar o trajeto. Devido à complexidade da tarefa o piloto deve ser capaz

de realizar ajustes a programação de pouso para adequar a rota necessária ao sucesso. Ou

seja, o segredo do sucesso não estava no controle e previsibilidade do processo e sim na

capacidade de resposta.

A proposta da nova metodologia é tornar o processo de planejamento e cronograma mais

dinâmico de forma integrada e objetiva.

O principal contraponto da nova filosofia são os diagramas de Gantt (1917), cronogramas

detalhados em cascata com precedência de tarefas de modo a completar o processo.

Basicamente a crítica do Scrum é que os esforços despendidos na descrição detalhada das

etapas, eventos e prazos do projeto acabam por sempre não corresponder a realidade e

entrega resultados aquém da expectativa.

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A proposta do Scrum é que o projeto seja dividido em diversos ciclos de atividades, com

reuniões frequentes para que a equipe possa trocar o que vem fazendo, e pensar formas de

melhorar o processo com agilidade. Esta metodologia prevê um acompanhamento

diretamente no campo (ou Gemba conforme os preceitos da inovação enxuta) e sofra

mudanças de planejamento recorrentemente de forma livre e pouco formalizada. A

premissa base do Scrum é ao realizar projetos, “por que não fazer paradas regulares para

verificar se o que está sendo feito está seguindo na direção certa, e se, na verdade, os

resultados são os que as pessoas desejam?” (Sutherland 2014, p. 13). Ao verificar um

processo aprimorável identificar quais são os obstáculos existentes e atuar diretamente

sobre eles adaptando o planejamento antigo a um novo modelo.

A descrição base do processo Scrum é representada pela Figura 25.

Figura 25 Descrição de processo padrão da metodologia Scrum (adaptado de Deemer et al, 2012 p.29)

Os participantes de projeto são compostos por 3 figuras: um dono do produto, uma equipe e

um gestor. O dono do produto é o responsável pela visão do que você vai fazer ou

conseguir baseado nos riscos e benefícios motivando a equipe. A equipe é formada pelo

Entrada de clientes, equipes

e gestores

Dono do produto Equipe

Pendências do produto

Planejamento do Sprint

Pendências do Sprint

Reunião diária

Mestre Scrum

Iteração de 1-2

semanas

Prazo e entrega do Sprint não se alteram

Entrega

Revisão do Sprint

Retrospectiva do Sprint

Seleção de tarefas da

lista de

prioridades

Tarefas

Lista de tarefas

em ordem

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menor grupo possível de pessoas capazes de transformar o projeto em realidade. O gestor é

o mestre Scrum, responsável pela orientação da equipe e eliminação dos obstáculos do

portfolio de projetos.

Dentre as técnicas originais da metodologia se aproveitariam a lista de pendências de

produto, Sprint e revisão e retrospectiva.

A. Lista de pendências do produto

O produto representa a solução final objetivo do projeto. Para construir esse produto é

realizado internamente uma lista de todas as tarefas necessárias para transformar a visão em

realidade. Na fase de planejamento inicial do projeto é feita a priorização de cada umas das

pendências assim como o esforço necessário para concluí-las. Todos da equipe devem ser

aptos a defender tanto o valor quanto a viabilidade das pendências.

B. Sprint

Ao longo da reunião inicial são planejados os Sprints em comum entre todos participantes.

Sprints são os ciclos curtos imutáveis de cada projeto – ao longo do ciclo nada pode ser

incluído ou alterado. O Sprint é o cerne da metodologia Scrum.

Igualmente ao princípio disseminado pela filosofia de inovação enxuta o Scrum possui duas

práticas comuns para tornar fluxo de informação simplificado e visual para todos

participantes.

O primeiro é o quadro chamado de Kanban, um grande painel para cada projeto

subdividido em 3 partes: a fazer, fazendo e feito – em desenvolvimento de software é

comum inclusão das etapas de teste e impedimentos. O segundo é o gráfico conhecido

como Burndown, com a carga de trabalho e os dias até o final do Sprint de modo a detectar

o afastamento do realizado ao planejado baseado no ritmo diário de trabalho. Devido a sua

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atualização diária é possível prever com relativa eficácia quando um Sprint atrasará

chamando a equipe para ação sob os impedimentos.

A ideia da fluidez e interação entre as partes dentro da metodologia Scrum é superior a

metodologias tradicionais de gestão de projeto. Assim a ideia é que diariamente a equipe se

reúna por não mais que 15 minutos de pé (por isso nome inglês Standup) e respondam a 3

simples perguntas: o que foi feito ontem para terminar o Sprint; o que será feito hoje para

terminar o Sprint; e, por fim, o que impede a equipe de terminar o Sprint.

C. Revisão e Retrospectiva

Ao final de cada Sprint é o momento adequado para reflexão a respeito das funcionalidades

desenvolvidas e o andamento do Sprint em si.

Na revisão a equipe apresenta todas tarefas concluídas a todos envolvidos no processo para

avaliação de forma aberta. Importante ressaltar que é apenas passível de revisão as tarefas

que alcançarem a coluna ‘Feito’ do quadro Kanban. A ideia é demonstrar atributos sempre

que finalizados, o produto será construído na integração de todos atributos.

Em seguida da reunião de revisão é o momento de avaliação de forma fechada pela equipe

de projetos o andamento do último Sprint, identificando pontos de melhoria e criticando a

condução do projeto. Essa fase do Scrum é denominada retrospectiva está diretamente

alinhada com o processo de melhoria contínua desenvolvido também pela filosofia enxuta,

reconhecido pelo termo kaizen.

6.2.2 Indicadores: a Startup Enxuta e o direcionamento da estratégia

Os indicadores desempenham papel de monitoramento e avaliação de atividades. Sua

principal função é o acompanhamento de metas, avanços, qualidade e problemas do

processo traduzindo os dados em indicadores o alinhamento ao plano estratégico

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organizacional. As métricas selecionadas são componentes auxiliares fundamentais a

tomada de decisão. A inovação enxuta explorou em indicadores o quadro de melhoria de

nível de gestão da gestão ativa e visual, o painel visual de projeto do valor em projetos e a

técnica de SLA’s (em comunicação formal) do suporte em projetos. Apesar de abordado

nesses pilares, o modelo original não detalha como construir indicadores alinhados a

tomada de decisão estratégica.

Dentro do contexto das startups, Eric Ries (2011) elaborou a metodologia de startup enxuta

com base na gestão estratégica baseada em indicadores maduros de negócio.

O conceito de startup, cunhado na segunda década do século, é “[...] uma empresa nova,

até mesmo embrionária ou ainda em fase de constituição, que conta com projetos

promissores, ligados à pesquisa, investigação e desenvolvimento de ideias inovadoras. Por

ser jovem e estar implantando uma ideia no mercado, outra característica das startups é

possuir risco envolvido no negócio. Mas, apesar disso, são empreendimentos com baixos

custos iniciais e são altamente escaláveis. ” (SEBRAE, 2011).

O novo modelo de empreendedorismo se adequa ao alto grau de incerteza do mercado e

aceleração da inovação (Ries, 2011). Se pequenos empreendimentos sempre tiveram altas

taxas de mortalidade, sendo que menos metade das empresas sobrevivem após 5 anos

(HaswellHolmes, 1989) o fenômeno se acelera no novo contexto com maior

competitividade e risco.

Assim Ries (2011), baseado em sua experiência prévia como gestor e consultor de diversas

startups no mercado estadunidense, propôs um método para acelerar o tempo até o mercado

e reduzir a taxa de fracasso de novas startups sem perder o valor agregado da solução final.

Esse novo método possui os princípios da filosofia enxuta já explorados anteriormente.

Sua proposta é baseada em 3 etapas: visão (mínimo produto viável), direção (aprendizagem

validada) e aceleração (contabilidade para inovação).

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A. Mínimo produto viável

Na primeira etapa, visão, se reforça a necessidade de direcionar os esforços a compreensão

de valor ao cliente. Assim modela-se uma adequação entre propósito e solução conforme

Figura 26. A visão é a razão de ser do empreendimento, a estratégia é como chegar a essa

visão e a solução é o resultado final da estratégia apresentado ao mercado. A ideia é que

para visão existe pouca ou quase nenhuma mutabilidade, porém a solução e estratégia estão

sempre sob possibilidade de alteração baseado na resposta dos clientes.

Figura 26 Modelo de construção de solução ao mercado no modelo de startup enxuta (adaptado de Ries, 2011)

Assim quanto antes a organização conseguir “prototipar” sua solução e trazê-la a prova do

mercado melhor. Permitindo que os ajustes de curso estratégico correspondam a visão

desejada. O mínimo produto viável a solução mais simples capaz de ser distribuída ao

mercado para fases de testes e está intimamente relacionado a próxima técnica,

aprendizagem validada.

B. Aprendizagem validada

A estratégia é baseada em hipóteses de fé compostas por duas premissas críticas: a proposta

de valor e o modelo de crescimento de negócio. A cada iteração com o cliente final e teste

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empírico é possível gerar um aprendizado validado. Para o modelo de gestão da startup

enxuta o aprendizado validado é o verdadeiro indicador de produtividade do processo de

inovação.

Na segunda etapa, direção, é apresentado o modelo de processo para atingir a aprendizagem

validada. Trata-se do ciclo construir-medir-aprender disposto na Figura 27. O objetivo real

do autor é reduzir o tempo de atravessamento desse ciclo, para isso, tal qual o modelo de

gestão de inovação enxuta, a fase entre construir e produto deve ser acelerada. Isso é

realizado através do produto mínimo viável já apresentado.

Figura 27 Ciclo construir-medir-aprender de acordo com modelo de startup enxuta (adaptado de Ries, 2011)

C. Contabilidade para inovação

Para amadurecimento do conceito e gestão da aceleração da organização é necessária

observação da fase de medição e análise de dados baseado nos conceitos da contabilidade

para inovação. Para Ries (2011) a contabilidade tradicional é incapaz de gerar indicadores

satisfatórios de gestão para o processo de desenvolvimento.

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Os dados precisam ser capazes de indicar dois caminhos estratégicos a serem seguidos:

perseverar ou “pivotear” (termo que significa alterar radicalmente a estratégia). Como trata-

se de empresas recentes no mercado existe considerável flexibilidade para uma gestão

brusca estratégica. Para garantia da melhor tomada de decisão são necessários indicadores

representativos e confiáveis.

A contabilidade para inovação surge então como resposta a contabilidade de custos

tradicional. Voltada a análise de sustentabilidade do crescimento da organização, as

métricas devem ser acionáveis, acessíveis e auditáveis. Acionáveis, pois tornam claras

quais ações são necessárias para aprimorar o resultado. Acessíveis de modo que não haja

discussão com relação a informação, através de uma linguagem simples e direta.

Auditáveis, de modo a trazer consistência a análise realizada. O autor pontua nesse ponto a

diferença entre métrica de vaidade e métricas acionáveis como principal armadilha de

indicadores para inovação. As métricas de vaidade facilmente podem ser estimuladas sem

necessariamente representar um modelo de crescimento sustentável do negócio, e isso é

determinante em termos estratégicos a organização.

As principais resoluções estratégicas são persistir e “pivotear”, porém existem diversos

tipos de mudança estratégica como:

i. Aumentar/diminuir zoom – funcionalidade vira produto principal ou produto

principal vira funcionalidade de outro produto maior;

ii. Alterar segmentação de cliente, canal de distribuição;

iii. Alterar proposta de valor, formato de receita, arquitetura do negócio – modelo

baixo volume/alta margem vs. alto volume/baixa margem;

A decisões estratégicas são fundamentas definirão o motor de crescimento da organização.

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6.2. Revisão crítica dos princípios

A revisão crítica dos princípios tem como ponto partida o conjunto final de pilares do

modelo e, portanto, surge para cobrir seja uma necessidade teórica ou uma necessidade

oriunda da análise do estudo de caso.

Para cada pilar, existem técnicas s que devem ser exploradas para o máximo proveito da

inovação enxuta nos sistemas de inovação. É nesse contexto que nota-se a relevância de

princípios que não foram explorados pela bibliografia mas que devem compor o modelo

final da inovação enxuta.

A revisão foi feita da seguinte maneira, cada técnica dos pilares deve se relacionar a um

princípio.

As técnicas julgadas relevantes para a alavancagem dos sistemas de inovação mas que não

estão vinculadas à nenhum dos princípios da inovação enxuta foram os seguintes:

i. Determinação das práticas de gestão – Gestão Ativa e Visual

ii. Comunicação - Suporte

iii. Contabilidade para inovação – Indicadores

Os princípios não incluídos na bibliografia que surgem naturalmente quando se analisa as

técnicas acima são padronização, compartilhamento e gestão da informação.

6.1.1. Padronização

A padronização é o estabelecimento de procedimentos, normas e processos. Esse princípio

se mostrou extremamente relevante para potencializar o pilar de gestão ativa e visual

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Vejamos abaixo a apresentação resumida da técnica referente a esse princípio para a análise

mais embasada da necessidade de sua criação.

Determinação das práticas de gestão – componente do pilar de gestão ativa e visual, é

definido basicamente como a estandardização dos processos e das tarefas mais simples,

fazendo com que a equipe não se esforce para etapas rotineiras no processo, podendo se

concentrar no que realmente importa, no que realmente agrega valor. Através dela também

se fixa o nível de qualidade, permitindo, a partir desse ponto, o desenvolvimento da

melhoria contínua.

No que se refere a gestão ativa e visual, a padronização é a responsável pela existência da

gestão ativa na melhoria contínua. É através dos procedimentos e métodos que a melhoria

contínua se faz possível, a padronização garante a manutenção do nível de melhoria

alcançado, permitindo assim que haja evolução.

O estudo de caso, através do processo PIP e as passagens de gateway, também demonstrou

a relevância na padronização dos processos, traduzida em melhores resultados nos

indicadores.

6.1.2. Compartilhamento

Compartilhamento é o princípio que visa trocas mais frequentes entre as equipes de

diferentes projetos, bem como entre as equipes de projeto e suporte. Através dele existe

uma compreensão global das entregas de cada um, aumentando o senso de

responsabilidade.

A técnica referente a esse princípio é apresentada abaixo com o intuito de validar a

necessidade desse novo princípio.

Comunicação – pertencente ao pilar suporte, defende a aproximação e alinhamento das

equipes sob duas abordagens: a formal, através do SLA (Service Level Agreement), que

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determina através de um documento as entregas de cada um na equipe; e a informal que

normalmente ocorrem nas reuniões de fórum ou são expostas em painéis visuais.

Ambas as abordagem são complementares, formalizar é extremamente importante pois

evita mal-entendidos mas a discussão em fóruns ou painéis visuais aproxima a equipe e

facilita a compreensão das funções de cada um.

Se analisarmos o estudo de caso também percebemos a presença desse princípio, além do

quadro visual de recursos, que deixava claro onde cada indivíduo da equipe estava alocado;

existiam os quadros cronograma de projeto, nele cada post-it identificava uma entrega

dentro do projeto e a ele era atribuído um nome, o responsável; e para finalizar, também

ocorriam as reuniões semanais de alinhamento, as chamadas pulse meeting.

6.1.3. Gestão da informação

Gestão da informação é princípio base para a contabilidade para inovação, uma técnica do

pilar dos indicadores. Tem como principal objetivo a tomada de decisão acurada e precisa,

já que é somente através de informações e confiabilidade que se encontra eficácia nas

decisões.

Analisemos a técnica contabilidade para inovação a seguir:

A contabilidade para inovação – introduz a relevância de métricas acionáveis, acessíveis e

auditáveis. O grande objetivo desta técnica é a decisão correta entre perseverar ou

“pivotear”. Acionáveis, clareza nas ações necessárias para aprimorar o resultado;

acessíveis, pois necessita de linguagem simples; e direta e auditáveis, que possa ser

conferida, trazendo consistência.

Percebe-se claramente a importância, dentro da técnica de contabilidade para inovação, a

importância de se trabalhar sob um banco confiável de informações.

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A gestão da informação também se faz presente no estudo de caso através das auditorias a

nível mundial expostas na seção 5.4.

Após a reformulação dos pilares e princípios chega-se a forma final do modelo, explorada

na seção seguinte.

6.3 Modelo Resultante

O esquema da Figura 28 apresenta a estrutura final do modelo desenvolvido. Nele

percebemos que as entregas aos clientes são apoiadas pelos seis pilares: gestão ativa e

visual, estratégia e portfólio, valor, suporte, cronograma e indicadores; que podem ser

potencializados pelas técnicas expostas, desenvolvidas sob os princípios de inovação

enxuta.

A estrutura final sugerida para entendimento completo do modelo é através da analogia a

figura da árvore. Os princípios são a origem de todo novo conceito, a raiz que nutre, a base

da proposta. Os pilares são o suporte do conjunto de técnicas apresentadas, ela assim como

o tronco na árvore, sustenta o modelo permitindo a seleção daquelas técnicas mais

apropriadas. As técnicas, por fim, são o fruto da metodologia final proposta, boas práticas

diretas aplicadas ao contexto de inovação asseguradas por princípios e seus consequentes

pilares cuidadosamente construídos.

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Figura 28 Método completo proposto de inovação enxuta (Elaboração própria)

Gemba Frontloading Gestão visual Prazo Fluxo Singular

Ritmo Prototipação Padronização Compartilhamento Gestão da Informação

Pila

res

Princípios

Técnicas

Gestão ativaEstratégia e portfólioValorSuporteCronogramaIndicadores

Gestão de tarefas | Quadro de melhorias | Determinação de práticas

War Room | Priorização | Estrutura progressita

Fluxo de valor | Painel visual de projeto | Execução postergada |

Fórum

Comunicação | Mapeamento de interações | Planejamento de

capacidade

Lista de pendências | Sprint | Revisão e retrospectiva

MPV | Aprendizagem validada | Contabilidade para inovação

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A seguir o modelo será analisado segundo três perspectivas: impacto, originalidade e

permutabilidade.

6.4 Análise Crítica do Modelo

A análise crítica do novo modelo prescinde entender as consequências de sua aplicação e as

possibilidades de seu uso. A sugestão concebida no projeto é avaliada de modo

observacional (entendimento sobre estudo de caso) e descritivo (análise informada acerca

do modelo completo).

Assim se explora: a capacidade de impacto ao processo de inovação tradicional, a

singularidade e originalidade do novo conceito e, a aplicabilidade do método proposto em

diferentes contextos.

6.4.1 Impacto

A principal análise crítica a ser realizada a respeito do modelo final diz respeito a

capacidade de impacto positivo aos sistemas de inovação tradicionais. Ou seja, se existirão

ganhos de eficiência a criatividade na aplicação do modelo de inovação enxuta proposto.

Nesse sentido olharemos a prática a priori da teoria. O estudo de caso ALIA demonstrou

através de três indicadores a evolução da empresa comparado ao estágio anterior a

implantação do novo modelo de gestão da inovação.

O primeiro, a difusão da inovação via auditoria, trouxe uma evolução robusta na gestão de

portfólio e das fases do processo criativo. Entretanto para difusão do conhecimento houve

um desenvolvimento ruim devido ao enfoque em termos de eficiência do novo modelo.

O segundo, o time to market (tempo até mercado), a partir de técnicas aplicadas de fluxo

singular e prazo evoluíram de modo a reduzir à metade o indicador. Sendo, portanto, o

indicador mais consistente em termos de resultados da implantação de inovação enxuta.

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O terceiro, o Slip Rate, percebe-se o fenômeno de aumento de atrasos. O que poderia ser

um indício negativo a inovação enxuta. Uma hipótese levantada seria que a real

apresentação de atrasos dentro do processo como consequência da aplicação do

frontloading, com uma redução de prazo final devido a consequente aceleração das etapas

posteriores. Ao analisar o ótimo local se distanciava do ótimo global.

Comparado ao sistema de inovação tradicional, a inovação enxuta obtém sucesso na gestão

de portfólio e processo obtendo ganhos em termo de tempo de desenvolvimento agregando

valor a eficiência em criatividade.

Uma análise descritiva também é possível através de um exercício retórico somente teórico

de impactos possíveis de cada uma das ferramentas abordadas dentro do modelo comparado

ao sistema tradicional de gestão da inovação.

Considerando o impacto de ganho de eficiência em criatividade (objetivo fim do modelo)

se elaborou um quadro de avaliação quantitativa por técnica baseado na avaliação dos

autores disponível na Figura 29. Entende-se como ganho de eficiência em criatividade, o

resultado de cada técnica em reduzir do consumo de recursos (tangíveis, como matéria

prima; intangíveis, como tempo; e humanos, como stakeholders internos (trabalhadores) e

externos (fornecedores)) ao longo do processo de desenvolvimento

Baseado na avaliação realizada, os ganhos máximos de eficiência se dão por conta das

técnicas planejamento de capacidade e takt em suporte e Sprint em cronograma. Os pilares

que mais impacta teoricamente a eficiência são o cronograma seguido por suporte.

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Figura 29 Quadro de avaliação teórica dos impactos da inovação enxuta em eficiência a criatividade (Elaboração

própria)

Um impacto de nível 3,2 em totalidade representa uma capacidade média de cumprimento

de seus objetivos. Portanto, não seria uma garantia de cumprimento de sua proposta final.

6.4.2 Originalidade

A originalidade do novo conceito de inovação enxuta foi tema abordado por Hoppman

(2009) em sua tese assim como SehestedSonneberg (2011, p.20). De acordo com os autores

as ferramentas utilizadas possuem como base principal o livro de Morgan e Liker (2006),

The Toyota Product Development System, e o artigo de Ward (1995), The Second Toyota

Paradox: How Delaying Decisions Can Make Better Cars Faster. O sistema Toyota de

desenvolvimento de produtos foi precursor, portanto, da filosofia enxuta e da inovação

enxuta.

Os princípios são vinculados aos conceitos de filosofia enxuta. O que de fato não retiraria a

originalidade da nova metodologia proposta, já que em seu fundamento a novidade está na

aplicação dentro do novo contexto: inovação.

Escala

Eficiência a criatividade

Pilar Técnicas Tangíveis Intagíveis Humanos Impacto Média de impacto

por pilar

Gestão de tarefas X 2

Quadro de melhorias X X 3

Determinação de práticas de gestão X X X 4

War Room X 2

Priorização X X 3

Estrutura progressista X X 4

Fluxo de valor X X 4

Painel visual de projeto X X 3

Execução postergada X X 4

Fórum X 1

Comunicação X 2

Mapeamento de interação X X 3

Planejamento de capacidade e takt X X X 5

Lista de pendências de produto X X 3

Sprint X X X 5

Revisão e retrospectiva X X 3

Mínimo produto viável X X X 4

Aprendizagem validada X X 3

Contabilidade para inovação X 2

TOTAL 3,2TOTAL

1 (menor impacto) a 5 (maior impacto)

3,0

3,0

3,0

3,3

Eficiência de Recursos

3,7

3,0

Gestão ativa e visual

Estatégia de Portfólio

Valor

Suporte

Cronograma

Indicadores

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Para isso foi feito um paralelo entre as rotinas abordadas por Tidd et al. (2008) para

sistemas de inovação e as técnicas de cada pilar. Quanto menos rotinas forem

correlacionadas relacionadas mais original é a nova proposta.

De acordo com a Tabela 8 é possível identificar uma forte correlação entre as rotinas já

existentes e as novas técnicas. Contudo, o real diferencial da aplicação das rotinas dentro da

inovação enxuta é o aproveitamento da filosofia enxuta. Ou seja, no contexto de sistema de

inovação tradicional os princípios eram outros, e, portanto, traziam diferentes resultados

finais.

Tabela 8 Rotinas correlacionadas a técnicas dos pilares do modelo completo de inovação enxuta (Elaboração própria)

Pilar Técnica Rotina correlataFase do sistema de

inovação

Gestão de tarefasEquipe multifuncional;

Estrutura de gestãoImplementar - Execução

Quadro de melhorias Conceitualização Implementar - Aprender

Determinação de práticas de gestão Estrutura de gestão Implementar - Execução

War Room Monitoramento estratégico Selecionar

Priorização Selecionar Implementar - Aquisição

Estrutura progressista Decisão estratégica Selecionar

Fluxo de valorDesenvolvimento em funil;

Estágios com marcosImplementar - Execução

Painel visual de projeto

Reflexão do processo;

Mecanismo de aprendizado e

melhoria contínua

Implementar - Aprender

Execução postergada Frontloading Implementar - Execução

FórumMecanismo de aprendizado e

melhoria contínuaImplementar - Execução

Comunicação Equipe de suporteImplementar - Lançar e

sustentar

Mapeamento de interação Equipe de suporteImplementar - Lançar e

sustentar

Planejamento de capacidade e takt Equipe de suporteImplementar - Lançar e

sustentar

Lista de pendências de produto Selecionar Implementar - Aquisição

Sprint -

Revisão e retrospectivaCaptura de experiência;

Reflexão de processoImplementar - Aprender

Mínimo produto viávelTeste do consumidor; Teste

de marketingImplementar - Aprender

Aprendizagem validada Experimentação Implementar - Aprender

Contabilidade para inovação Monitoramento estratégico Selecionar

Suporte

Cronograma

Indicadores

Gestão ativa e visual

Estatégia de Portfólio

Valor

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A combinação única de ferramentas, pilares e princípios possui exclusividade e pode ser

considerada original dentro do contexto de estudo de gestão da inovação.

6.4.3 Permutabilidade

Por fim é analisada a permutabilidade do modelo proposto a partir, também, de um

exercício retórico comparativo entre cenários. O comportamento e aplicabilidade diferem

dependendo dos contextos, contudo quanto maior a sua permutabilidade maior sua

relevância.

Na tipificação explorada por Henderson e Clark (1985) as técnicas exploradas em inovação

enxuta são aplicáveis igualmente a inovação incremental, modular, de arquitetura ou

radical. Entretanto seu efeito é maior quando aplicado ao último tipo, já que ao trazer

eficiência a criatividade tanto novidades acerca de componentes quanto de sua arquitetura

possui ganhos que somados tornam-se ainda mais relevantes.

Enquanto sob a perspectiva mais recente de Christensen (1997) diferenciando inovações

radicais de sustentação ou disruptiva não existe ferramental estratégico específico que

garanta reforço sob um dos tipos. As decisões estratégicas de mercado e análise de ciclo de

vida do produto é mais determinante para composição de uma inovação de sustentação ou

disruptiva.

Ainda em tipos de inovação, examinando sua definição, é possível distinguir os tipos de

inovação de acordo com a Figura 30.

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Figura 30 Tipificação de inovação de acordo com definição (Elaboração própria)

Para inovação de produto de serviço os pilares do modelo são apropriados devido a

flexibilidade de trabalho dentro do sistema de inovação. Quanto a inovação de produto,

dependerá essencialmente do tipo de bem. Considerando a indústria, separa-se em bens

primários, bens intermediários, bens de capital e bens de consumo. Em indústrias mais

tradicionais e científicas o grau de aplicabilidade tende a ser menor, já que a flexibilidade

criativa é inferior e o valor agregado essencialmente são qualidades técnicas do produto

final desejado. Além disso a tecnologia envolvida exige um nível de maturação mínimo

maior até o lançamento.

Por fim sob a perspectiva de inovação de processo, com clientes internos e maior controle

sobre as variáveis de saída, a aplicabilidade do modelo é apropriada e inclusive permite

resultados de ganhos mais satisfatórios.

A maturidade da organização também tem impacto sob os efeitos do modelo. Como os

pilares complementares são concebidos em indústria de tecnologia e empresas recentes sua

difusão (em termos de cultura) e aplicabilidade são maiores devido a flexibilidade criativa

dos setores. Ao tratar de indústrias de bases e empresas maduras, que envolvem

principalmente a globalização de equipes de desenvolvimento, existem restrições na

aplicação. Isso ocorre tanto pela complexidade do fluxo de informação, risco maior de

aceleração do processo de desenvolvimento (por exemplo, empresas do ramo de petróleo e

gás), distância maior do cliente final e pouco espaço para inovações radicais.

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7. Conclusão

A inovação enxuta é realidade de uma empresa quando é normal questionar o modo de

como ela opera; a gestão está bem ativa nos processos que agregam valor e se dedica no

suporte às equipes para desenvolvimento de processos e métodos; existem rotinas de apoio

e documentação do desenvolvimento contínuo; e as equipes estão familiarizadas com os

princípios e métodos da filosofia enxuta.

O grande desafio dentro das organizações não é a definição ou a compreensão da inovação

enxuta pelas equipes, e sim tomar a decisão do que é prioritário para que se atinja o

resultado e o desenvolvimento de uma cultura organizacional nova centrada na inovação

enxuta.

Em termos práticos e teóricos é possível perceber que existem impactos relevantes

associados a implantação da metodologia da inovação enxuta, contudo sua aplicação não é

a garantia suficiente para eficiência no processo de inovação. É pertinente ressaltar que

todo novo ferramental trazido pela metodologia já possui relevância desde que retira

gestores acostumados a taxas de ineficiência da inércia, para experimentação do novo

modelo apresentado.

A originalidade se sustenta principalmente na combinação das ferramentas e aplicação no

contexto específico de inovação, exclusivo até então. E quanto a permutabilidade, pode se

afirmar, após análise descritiva, que existem oportunidades em diferentes meios e tipos,

portanto amplificando seu potencial em vez de restringi-lo.

A melhoria contínua aplicada aos mecanismos de aprendizagem de uma empresa através da

captura, reutilização e atualização de conhecimentos é provável que seja um dos principais

componentes de um sistema de inovação enxuta em busca de eficiência.

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A inovação enxuta está preocupada com instrumentos destinados a maximizar o potencial

de novas soluções a partir de novas ideias, fazendo, para isso, uso forte da base de

engenharia para encontrar, projetar e testar soluções e garantindo que a grande quantidade

de informação gerada é usada para atualizar continuamente a base de conhecimento

existente. Este conhecimento é, então, frequentemente resumido e simplificado para

produzir conclusões generalizáveis sobre como melhorar os produtos e processos.

De acordo com Garvin (1993 apud Christensen, 2011), com base nos conceitos

desenvolvidos por Senge (1990), “[...] a organização que aprende é uma organização

qualificada para criar, adquirir e transferir conhecimento e capaz de modificar seu

comportamento a fim de refletir novos conhecimentos e ideias.” Para ele tais organizações

são compostas de cinco bases principais: a resolução sistemática de problemas,

experimentação de novas abordagens, aprendizagem com experiências próprias e

benchmark; e transferência eficiente de conhecimento através da organização.

A inovação enxuta tal qual apresentada é capaz de reforçar todas as bases através de seus

princípios e pilares voltados a traduzir criatividade em ação. Entretanto a maior crítica a

esse respeito é que o foco maior na ação do desenvolvimento permite que as capacidades

críticas¹ se transformem em rígidas² (Leonard-Barton, 1995) limitando a capacidade de

inovação no futuro – conforme comprovado pelo estudo de caso.

Ou seja, a inovação efetivamente não consegue se transformar em conhecimento

organizacional que permitiria uma evolução contínua e sustentável. O objetivo deste último

ponto é levantar uma crítica relevante a um mapa consolidado que pode remover parte da

liberdade organizacional em nome da eficiência sistêmica, necessária a sobrevivência.

Finalmente, esse projeto teve por objetivo construir um novo modelo técnico de gestão a

partir de bases teóricas já fundamentadas, observações de estudo de caso e novos conceitos

explorados dentro da gestão de inovação. A partir da Design Science Research (Lacerda et

al., 2013) foi estruturada de forma científica uma classe de problemas para os quais um

¹ Capacidade crítica: vantagem competitiva organizacional construída ao longo do tempo

e difícil replicabilidade..

² Capacídades rígida: capacidades crítica que não acompanham adequação ao mercado.

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conjunto de soluções prescritiva foi apresentado recombinando métodos já existentes no

modelo proposto.

O projeto não encerra a discussão a respeito do modelo ótimo dentro de inovação enxuta.

Sugere-se, nesse ponto, uma sequência em que o novo modelo proposto é testado em

ambiente real de aprendizagem para validação da recomendação por meio desse

apresentado.

Os ganhos para os autores percebido ao longo de sua construção foi o aprendizado do

sistema corrente de gestão da inovação e a oportunidade de proposição com base na análise

de conceitos ainda não correlacionados entre si um novo modelo com os mesmos princípios

de filosofia enxuta. Além disso, a estruturação do projeto, discussão lógica de suas etapas e

storyline;, definição e avaliação do método final foi valioso para formação dentro da

engenharia de produção ao desenvolver uma fundamentação crítica lógica consistente entre

seus participantes.

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8. Referencias Bibliográficas

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9. Anexos

Anexo 1: Rotinas padrão de gestão da inovação

PROCURAR

Rotinas Descrição

Posicionamento de mercado Definição de participação em mercados

Acompanhar dinâmica de

mercado

Identificação de oportunidade potenciais consequência de

mudança de mercado

Identificar tendênciasIdentificação de direcionamento de mercado e surgimento de

novos mercados

Monitoramento de

tendências

Identificação de tendências emergentes a partir do

acompanhamento recorrente

Previsão de mercadoTécnicas de análise para entender dinâmica de mercado e

identificar tendências futuras

Previsão de ciclo de vida

tecnológico

Identificar fase de amadurecimento de tecnologia para prever

substituição

Pesquisa integrada do futuroAnálise do contexto futuro completo e identificar quais são as

possibilidades de inovação no cenário imaginado

BenchmarkComparativo entre organizações na busca de melhores práticas e

engenharia reversa

Participação de stakeholdersEnvolver consumidores para coletar informações relevantes a

respeito de problemas e possibilidades de soluções

Participação internaPermitir internamente ambiente favorável para implantação de

melhorias incrementais contínuas

Aproveitamento de errosIdentificar casos em que alternativas não planejadas são exploradas

e trazem inovações válidas a organização

Fluxo de comunicaçãoGarantir que a perspectiva do usuário é entendida por todas as

funções da organização que participam do processo de inovação

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SELECIONAR

Rotinas Descrição

Análise estratégica Alinhar solução com objetivo estratégico organizacional

Decisão estratégicaGerir o portfolio de projetos baseado na dualidade 'fazer melhor' vs

'fazer diferente' comparando fatores qualitativos e quantitativos

Desenvolver estudo de casoApresentar desenvolvimento e elaboração do conceito principal do

projeto assim como suas consequências a organização

Desenvolver coalisõesAtravés do quality-function deployment e mapeamento funcional

de modo a integrar envolvidos na evolução do conceito

Monitoramento estratégicoMonitorar fases do projeto e garantir alinhamento com objetivo

estratégico traçado inicialmente

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Rotinas Descrição

Manutenção de fonte de

recursosGarantir variedade e disponibilidade de recursos

Selecionar Alinhar necessidades internas e ofertas externas

NegociarGarantir transferência completa de recursos para máximo

aproveitamento do projeto

Implementação Gerenciamento do processo de transferência

Aprendizado Internalizar conhecimento na organização

Desenvolvimento em funilProcesso gradual composto de: desenvolver conceito, detalhar

design, testar e lançar

Estágios com marcos

Revisão do projeto e processo decisório a cada marco, filtrando

somente aqueles cujo progresso atenderem aos requisitos pré-

estabelecidos

FrontloadingTrazer todas perspectivas antes do desenvolvilmento de modo a

prever futuros problemas

Trabalho em paralelo Engenharia simultânea e concorrente

Estrututra de gestãoGestor de projetos peso leve vs peso pesado, organograma em

matriz e em linha de acordo com condições específicas e tarefa

Equipe multifuncionalDesenvolver capacidades em modelo flexível de resolução de

problemas

Ferramentas de apoio

avançadoPrototipação rápida, CAD/CAM

Mecanismo de aprendizado e

melhoria contínua

Levar adiante lições aprendidas através de cultura de melhoria

contínua e auditoria de projetos

Teste do consumidorExplorar preferências do consumidor através da experiência do

consumidor com protótipos

Teste de marketingRefinar planos de marketing baseado em experimentos em grupo

controlado de clientes

Estratégia de marketing

Analisar as 5 forças de Porter para determinar o mercado alvo e

posicionamento competitivo do projeto e desenvolver o marketing

mix 4 P (Produto, Promoção, Preço e Praça)

Plano de marketingDocumentação de objetivos, estratégias e programa para

lançamento de produto

Equipes de suporteGarantir funcionamento de canais de distribuição e promoção do

projeto

Gestão da mudançaCuidados com choque de transição para novo modelo proposto de

inovação

Reflexão do processoAvaliar o que aconteceu, o que deu certo e errado ao longo do

processo de desenvolvimento

ConceitualizaçãoCodificar as lições aprendidas em frameworks e outros formatos

padrão

ExperimentaçãoGerir de forma diferente na próxima iteração para validar lições

aprendidas

Captura de experiênciaColetar material bruto a respeito da última experiência para futura

utilização em outros projetos

Aq

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ição

Exec

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oLa

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IMPLEMENTAR

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Anexo 2: Auditoria Interna (Estudo de Caso)

1 - GateWay Process

GateWay Process Applied

GateWay internalized

(GW checklist internalized and updated with local adaptations, lessons learned etc)

GateWay 2 used as success assured point

(Desicion delayed to ensure that all knowledge needed is in place)

Steering Committee for all projects

(Steering committee with know how & decision rights)

Project audits according to GW checklist

(GW "gatekeeper" in place to support decision making)

Product Council in place

(Product Council start, kills & closes projects)

Product Council priorities projects

(PC balances no of projects, starts when resource available etc)

Quality Council in place

(monitoring claims & Q concerns to provide priorities for product improvements)

2 - Projects

Visual Targets - Product and Project - approved and agreed by the team. Project has value,

quality, cost and time targets (with priority order). At least 3 usps in innovation projects

Pull and Result Driven Stepwise Project Planning and Progress Monitoring

Integration events - Synch Points, result driven e.g., working verified results, Demos

Quality Events - FMEA, QFD used and result used to drive further activities

Validation Plan - Alfa & Beta test procedures in place, Tolerance analysis, FEM tools (or

similar) used Validation plan influenced by results from Q-events

The team makes detailed activity plans based on sub results and drive the progress, Pulse

Boards / Meetings

Team and individual ownership - no technical debt or quality issues forwarded. Focus max

3 tasks at the time/individual

Dedicated Entrepreneurial Product oriented Project Leader.

(Dedicated Project Leader = at least 50% of the individuals time available for project

leadership)

Using full cross functional project team.

The Team identifies & analyze Risks and Problems - ask for help when needed

(Fish on the table)

Processes and competence for VOC based requirements (visualized) and product launch

Processes and Competence for - Verification, Industrialisation, Suppliers - available and

applied

Test to Fail - Then Design, Quality is Designed in rather than Manufactured in

ReUse - Modularization - Platform thinking

CPI is organized for prompt and quick response to Opportunities and Problems.

(Including 'gate keeper' to focus efforts)

CPI - Pulse board and Meetings - Enhancements, Customer Projects, Q Problems etc

3 - Multi-Project Management

Resource Management in place

(Max 3 projects/assignments per resource)

Resource owners forum in place

(for full x-team)

Project priorities

Project Portfolio Mgmt - Balancing, Criterias with targets by category, Reviews, Running

Project Prio, Product Councils

Risk/problem escalation procedure in place

Separation PPI, NPI and CPI budget and resources

R&D manager reports to CEO or MRM

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6 - Continuous Improvements

Continuous Improvements - Systematic Waste Elimination, Problem solving Process used

Space for project, project rooms and mgt visual meetings

Lean and VOC Champions in each development site/unit

Focus on cutting cost, continuous improvement

Short learning loops with full x-team involvement

(to improve your processes)

Training - of full X-Team

(and then train them again)

4 - Portfolio

Vision driven visual product management, steps with targets

(Pulse meetings & product boards)

Product Portfolio Mgmt - Balance, Profitability, Product Prio, Reduce Complexity

(sku reduction program, Life Cycle management, New introductions follow up etc)

All Product Groups have Product Mgrs and vision driven Generation Plans (>5 years)

(launches, rationalization/complexity reduction, terminations, knowledge building and

technology platform development)

Product Generation Plans are Reality based/ Customer needs defined/visualized and used

Product Idea and Improvement Process - All Product groups have Product Candidates,

Prioritized Short and Long list

VoC integrated in processes for Strategies, Generation Planning, Product Projects,

Positioning

Product Performance is Monitored and results are used - Profitability, Warranty level,

Support need

(maximizing portfolio value, prioritizing maintenance and upgrade initiatives)

Product Projects Decision Material and Input to Product Projects - One Pager, Visual

product definition, Business Case (incl NPV, ROI)

Trends monitored and used

(incl customer needs, segments, competitors, technology, and society)

Provide VOT and concept development challenge, Platforms suggestions, Reuse, prioritize

VOT ideas with Technology management

LEAN Transformation is driven by mgmt and integrated in mgmt work, Mgmt do LPI

Training

Boost benefit, Customer First - Create Value based on Customer Needs, Use Pull to drive,

Optimized flow

Focus on speed supported by Trust and Respect People, servant management, always focus

on the most important

(Mgt supports team with decisions and removes obstacles identified by the teams)

Transparency - Fish on the table - raise problems immediately, no blame

Company vision and generation plan available and visualized

(Company vision based on PEST and customer segment trend analysis)

Servant Leadership - manage by asking humble questions

(Delaying decisions (JIT), Establish and live culture of trust and respect)

Management Presence, Goto Gemba, Pulse Meetings, Respond to escalations and problems

5 - Knowledge

Set Based Design used in projects

(Multiple solutions explored and the bad ones killed)

A3 & LAMDA used to solve problems

(process & product)

Trade off curves used to create reusable knowledge

Pre Product Innovation projects to build knowledge prior to product projects

(budgeted & staffed PPI projects)

Systematic, short and long term mapping and prioritizing of Technology Trends and Needs

External network of Knowledge Sources and Technology Partners

Monitoring of Problems and Support Need for present products used as input for concept

development

Technology vision and generation plan available and visualized

Specialist career path to match strategic direction/reach vision, status of technology

comptence (recruited, built and rewarded)

Owner / Responsible for VOC, VOT, Knowledge and Competence Teams

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Anexo 3 – Adendos (Estudo de Caso)

Quadros Cronogramas por projeto

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War Room

Plano de ação