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Co::: unicação www.jornalcomunicacao.ufpr.br jornal laboratório do curso de jornalismo da ufpr edição 03 | junho de 2008 GERAL CIÊNCIA E TECNOLOGIA POLÍTICA PÁG. 3 PÁG. 4 PÁG. 8 Parlamentares que controlam canais de rádio ou televisão comprometem a democracia Inventores existem há séculos, porém hoje a profissão precisa sobreviver à escassez de recursos Proprietários vendem automóveis financiados para desmanches por preços até 15 vezes menores A UFPR está preparada para recebê-la?

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Jornal laboratório do curso de jornalismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) - Edição de Junho de 2008.

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Co:::unicaçãowww.jornalcomunicacao.ufpr.br jornal laboratório do curso de jornalismo da ufpr

edição 03 | junho de 2008

GeralCiênCia e TeCnoloGiaPolíTiCa

PáG. 3 PáG. 4 PáG. 8

Parlamentares que controlam canais de rádio ou televisão comprometema democracia

Inventores existem há séculos, porém hoje a profissão precisa sobreviver à escassez de recursos

Proprietários vendem automóveis financiados para desmanches por preços até 15 vezes menores

A UFPR está preparada

para recebê-la?

Co:::unicaçãojunho de 20082 opinião

EditorialOs carros e os bois

Quando, em 2004, a UFPR aprovou os sistemas de cotas racial e socioe-conômico, a controvérsia foi intensa, principalmente com relação às cotas raciais. À época, processos de vestibu-landos que alegavam ter tido suas vagas usurpadas por cotistas não foram raros na mesa do reitor.

Nesse sentido, a recente aprovação, pelo Conselho Universitário (Coun), de vagas suplementares para portadores de deficiência não deve causar estarda-lhaço, já que prevê a criação de vagas adicionais exclusivas para esses estu-dantes. No entanto, a decisão levanta outra questão: a UFPR tem condições de atender de maneira satisfatória os deficientes?

Estruturalmente, como mostra a matéria da editoria de UFPR desta edição, ainda há muito por fazer. Tanto na Reitoria quanto nos campi menores, as condições de locomoção para quem utiliza cadeira de rodas, por exemplo, estão próximas do zero. Mas é preciso lembrar, também, que nem só de es-trutura física vive uma universidade. Aí entra o ponto mais delicado do tema: a capacitação docente é imprescindível para que a UFPR possa receber esses alunos e, mais do que isso, garantir a permanência deles no meio universitá-rio. Alunos com necessidades especiais têm necessidades pedagógicas que vão bastante além do que nossos profes-sores, grosso modo, praticam hoje. O despreparo, a julgar pelos números apresentados pelo Núcleo de Apoio ao Portador de Necessidades Especiais (Napne), é grande. No ano passado, por exemplo, apenas 15 professores da UFPR participaram de cursos de capa-citação ofertados pelo Napne.

A decisão acalorada, cujo pavio foi acionado por uma ação judicial, tam-bém pouco contribui para o sucesso da empreitada. Com a reserva de vagas aprovada no último dia 30, a UFPR tem até o próximo dia 09 (prazo limite para a publicação do edital do vestibular deste ano) para definir as diretrizes de um sistema de inclusão que tem suas complexidades. O grupo dos portado-res de deficiência inclui cegos, surdos, mudos, cadeirantes, amputados, entre tantos outros. Nele, há uma infinidade de variáveis que precisam ser equa-cionadas se a Universidade pretende realizar um processo de inclusão sa-tisfatório. Talvez pensar o assunto sob a pressão de um prazo de menos de duas semanas não fosse a maneira mais apropriada de fazê-lo.

É claro que a instauração das cotas, como defende a pró-reitora Rosane de Sá Brito, pode acelerar o processo de adaptação de estrutura e capacitação dos professores. Mas é preciso uma iniciativa que garanta isso, que deve vir de cima para baixo. Um importante passo para inclusão pode ter sido dado. Resta saber se a UFPRnão cairá em uma armadilha que ela mesma criou.

Um levantamento da ONG Transpa-rência Brasil, divulgado em janeiro deste ano, mostra que cerca de 10% dos depu-tados federais e um terço dos senadores detêm algum tipo de concessão de TV ou rádio no país. Os números, entretanto, deixaram de fora os parlamentares cujos nomes não aparecem como donos ou diretores das emissoras – que se valem de laranjas ou de familiares para tanto.

O problema maior se concentra no fato de que poucos cidadãos sabem o que diz o artigo 54 da Constituição Fe-deral, que proíbe funcionários públicos e políticos de firmarem “contrato” ou serem “proprietários, controladores ou diretores de empresas concessionárias de direito público”, como são as empresas de comunicação. O objetivo do artigo seria evitar que parlamentares transformem veículos midíaticos em meios de propa-ganda ideológica ou utilizem o poder das licenças, oficialmente concedidas com a participação do Legislativo, como objeto de barganha política.

A prática não é de hoje, e vem se tor-nando cada vez mais comum e danosa à democratização da comunicação. O go-verno de José Sarney (1985-1990), com sua política do “é dando que se recebe”, por exemplo, premiou com concessões os parlamentares que decidiram por seu mandato de cinco anos. E o fato de hoje serem os próprios congressistas os responsáveis por outorgar as licenças torna quase impossível que esse vício seja erradicado.

É a estrutura de poder existente no país, segundo o jornalista José Arbex, que faz com que as pessoas acusadas de desrespeitar a lei das concessões sejam as mesmas responsáveis por determinar quem deve ou não ter a licença. ‘É a mes-ma coisa que entregar o galinheiro para a raposa’, diz. Confira abaixo a entrevista:

O fato de parlamentares controlarem emissoras de rádio e TV, enquanto movi-mentos sociais são praticamente impedi-dos disso, reflete a política de comunicação no Brasil?José Arbex: Eu não diria que re-flete a políti-ca de comu-nicação do Brasil, mas a

Vossas excelências midiáticasestrutura do poder brasileiro. Aqueles que detêm o controle dos meios de comunicação são também aqueles que detêm o controle da terra e da grande propriedade. É inseparável. Não dá pra separar a política de comunicação do governo da estrutura de poder do Estado brasileiro. Então, o fato dos parlamentares serem proprietários também reflete o fato dos parlamentares serem latifundiários e serem associados às transnacionais, ao capital financeiro, etc.Não é que a comunicação seja um setor particularmente perverso no sistema capitalista brasileiro. É que o sistema capitalista brasileiro inteiro é totalmente perverso. E, inclusive, é mais perverso do que nos países capitalistas desenvolvidos. Por exemplo, nos EUA, é proibido você ser dono ao mesmo tempo de uma emis-sora de rádio e de uma emissora de televi-são numa mesma região. Você não pode, porque pela lei dos EUA isso caracteriza propriedade monopolizada dos meios de comunicação. E aqui no Brasil, não só se pode como até se deve, não é? Quer dizer, o cara que é dono da televisão também é dono do jornal impresso, do rádio, de tudo. Eu diria que o fato que você citou na pergunta é um reflexo disso.

Efetivamente, qual o impacto político e social desse cenário?Arbex: É a perpetuação da forma de dominação escravista. Há dados muito graves. Num país com 200 milhões de ha-bitantes, você vende apenas sete milhões de jornais diários, se somar todos os jor-nais vendidos. A população praticamente não sabe ler, é analfabeta. Então, você tem 20% do país, que representa a ‘Casa Gran-de’, com um certo nível de educação, que almoça e janta todos os dias, faz viagens etc. E tem 80% da população que mal sobrevive. Isso é uma coisa extremamente perversa em pleno século XXI. Agora, mesmo pegando os 20% da população, se você pegar aqueles que conseguem ler um livro, interpretar e consumir livros, você vai ver que dificilmente vão chegar a 5% da população.

Então, na verdade, estamos tratando

de um país de cultura pre-

dominantemente oral, um país iletrado, e que a elite deseja que assim seja porque, dessa forma, ela consegue manter uma estrutura que interessa a ela.

Por isso tantas concessões de rádio em poder de parlamentares?Arbex: Claro. O rádio, num país continen-tal como o Brasil, é um meio fundamental para se manter uma certa influência, mes-mo em localidades distantes. E a elite sabe disso. Ela disputa as concessões de rádio e TV no tapa, porque sabe que importância isso tem na hora de uma campanha elei-toral, na hora de produzir informações. E mesmo na hora de criminalizar os movi-mentos sociais.

Qual é exatamente a relevância disso na estrutura de poder do Brasil, que você contextualizou há pouco?Arbex: Não é só relevante, como é reve-lador. Permite traçar um Raio-X daquilo que é o Brasil, da falta de democracia aqui existente. Quando você tem essa estrutura de poder e de controle, com os mesmos caras que a dominam sendo também responsáveis por julgar quem merece ou não ter concessão, é a mesma coisa que entregar o galinheiro para a raposa. ‘Ó, você cuida do galinheiro.’ É uma brinca-deira, não é?

Eles conseguem isso através de brechas legais ou manobras políticas?Arbex: Tudo. Conseguem isso por meio de maracutaias, de laranjas, de manobras políticas. A lei é feita para isso. Por exemplo, aqui no Brasil, para você suspender a concessão de alguém, você precisa ter dois terços mais um dos votos do Congresso. Ninguém vai conseguir dois terços mais um nem se Cristo vol-tar e falar: “Vote em mim. Eu não tenho dois terços mais um nesse Congresso”. Então, nunca vai haver a cassação de uma concessão. A própria lei é feita para funcionar desse jeito.

E qual seria uma ofensiva à altura, o que poderia ser feito? Os meios de comunica-ção têm papel nessa história, ou é mais uma ação do Ministério Público?

Arbex: Não é a mídia que vai resolver o problema da mídia. O que vai resol-

ver o problema da mídia é a orga-nização da sociedade civil em

partidos, em movimentos sociais, em sindicatos, que vão fazer pressão e, eventual-mente, mudar a correlação de forças, criando uma nova mol-dura jurídica que nos permita resolver isso.

rafael CosTa

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CONCESSÕES Parlamentares que controlam empresas de radiodifusão contrariam a Constituição

A ‘bancada da comunicação’ no ParanáPelo menos um terço dos 81 senadores e

cerca de 10% dos 513 deputados federais do país controlam canais de rádio ou televisão. Cinco desses parlamentares federais são do Paraná, que também possui três deputados estaduais proprietários de concessões de veículos de comunicação. Os números e os nomes [ver box ao lado] são de um levantamento feito pela Agência Repórter Social, com base em pesquisas realizadas no Tribunal Superior Eleitoral e no Ministério das Comunicações, divulgado em outubro de 2006 – e que, portanto, diz respeito a par-lamentares que estão no cargo atualmente. Em janeiro deste ano a ONG Transparência Brasil divulgou nova pesquisa, na qual rei-tera os números apresentados.

A posse dessas concessões contraria o artigo 54 da Constituição Federal, segundo o qual deputados e senadores não podem “firmar ou manter contrato” ou “aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remu-nerado” em empresas concessionárias de serviço público. É o caso das empresas de radiodifusão, que operam com concessões feitas pelo Governo Federal. Para a pro-fessora de Direito da UFPR Ângela Cos-tadello, a radiodifusão é, sem dúvida, um serviço público. “A primeira das punições é a perda do mandato, mas pode-se cogitar até improbidade administrativa, dependen-do do caso”, diz a professora.

Para o deputado federal e membro da Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) da Câmara, Gustavo Fruet (PSDB-PR), não há dúvidas de que as concessões de rádio e televisão trazem “vantagens políticas, eleitorais e de construção de imagem” para o dono da concessão. Mas não é só isso. O sociólogo, cientista político e professor da UFPR, Ricardo Costa de Oliveira, analisa o fato focando a questão da distribuição da mídia para grupos sociais específicos. De acordo com ele, há casos de políticos com relações de poder em diversas esferas do Estado, não só na área da comunicação.

“As famílias deles [dos políticos] muitas vezes possuem poder no Judiciário, no Legislativo e no Executivo, além do poder econômico e do controle de meios de co-municação”, explica.

O poder excessivo desses grupos acaba tornando o próprio Ministério das Comu-nicações objeto de disputas políticas. “As concessões são usadas como moeda de troca em votações estratégicas, para mo-bilizar votos, apoios e interesses”, informa o professor Oliveira, que vai mais longe. Para ele, o grupo de parlamentares com controle de meios de comunicação não é apenas significativo, mas representa uma bancada enraizada no Congresso.

A situação, contudo, pode ser ainda mais complexa. Para o jornalista e escritor José Arbex Júnior, por exemplo, os dados do levantamento estão abaixo do real. “São bem mais do que 10% os deputados fede-rais que possuem concessões. Isso é o que

você consegue mapear. Na verdade, há um monte de laranjas e parentes que detém a propriedade, e o nome do parlamentar não aparece”, diz.

Atualmente, o processo para as con-cessões inicia-se no Executivo, que abre os editais e faz análises técnicas através do Ministério das Comunicações, como a comprovação societária. Depois, ele passa por comissões legislativas, como a de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) e a de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI), que analisa a do-cumentação, verifica os critérios formais e a veracidade das informações. Só então, a proposta volta ao Executivo, para a ho-mologação do presidente da República. Alguns parlamentares, no entanto, não apenas recebem as concessões como tam-bém integram as comissões da Câmara e do Senado que analisam esses processos.

Exemplo disso são os deputados fede-rais Ricardo Barros (PP-PR) e Antonio Anibelli (PMDB-PR), proprietários de rádios e integrantes da CCJC. Mas há um caso que chama ainda mais a atenção: o de-putado federal Ratinho Júnior (PSC-PR), filho do apresentador de TV e empresário Carlos Massa, o Ratinho, é vice-presidente da CCTCI. O pai do deputado acaba de comprar as retransmissoras do SBT no Paraná, criando a Rede Massa de Comu-nicação, ao mesmo tempo em que o filho é pré-candidato à Prefeitura de Curitiba.

O fato pode ser visto como o diagnós-tico da falta de democracia no Brasil. Essa é a interpretação de José Arbex Júnior. “É a mesma coisa que entregar o galinheiro para a raposa. ‘Ó, você cuida do galinheiro.’ É uma brincadeira, não é?”, questiona ele.

Os parlamentares se defendem

O deputado federal Dilceu Sperafico (PP-PR), que aparece na listagem da Agên-cia Repórter Social de parlamentares com controle de emissoras de rádio, considera que a lei permite que parlamentares sejam

acionistas de empresas de radiodifusão. Para o deputado, se fosse inconstitucional, haveria um grande problema no Congresso. “Porque acho que metade dos parlamen-tares são acionistas”, especula, antes de uma risada. Mesmo assim defende-se, explicando que não é ele o proprietário das emissoras de rádio que constam no levantamento. “É a minha esposa, não eu”, afirma. E admite que há motivos para o in-teresse dos políticos em controlar meios de comunicação. “Acho que só o fato de você ter uma emissora que não invente coisas já é o bastante”, diz Sperafico.

Já o deputado estadual Luiz Carlos Martins Gonçalves (PDT-PR) acredita que a legislação não define claramente a questão. Ele diz que é cotista de emissoras de rádio respaldado na própria regula-mentação, que possuiria brechas. “Sou um escravo da lei”, garante.

O senador Flávio Arns (PT-PR) tam-bém é apontado pelo levantamento. O parlamentar teria parentes donos de rádios em Santa Catarina, mas afirma que as informações são errôneas. “Embora tenha parentes no Estado, desconheço a exis-tência de relações entre eles e as empresas apontadas pela fonte que, certamente, se equivocou em sua pesquisa”.

Arns diz concordar com a proibição de concessões para parlamentares. “É um ato delituoso, que incorre em quebra de decoro”. Ele explica que os veículos de comunicação podem ser usados não só na disputa eleitoral, mas além dela. “Pode ser que os veículos formem a opinião pública na direção de teses políticas particulariza-das”, afirma.

Todos os parlamentares paranaenses que constam na lista da Agência Repórter Social, além do deputado federal Ratinho Júnior, foram procurados pelo Comuni-cação, mas, com exceção dos citados na matéria, recusaram-se a falar quando infor-mados sobre o conteúdo da reportagem.

rafael CosTa

Flávio Arns (PT), senador (as empresas estão no nome de familiares): Radiodifusora Eldorado Catarinense, Sociedade Rádio Hulha Negra de Criciúma AM, Rádio Floresta Verde de Joinville AM, Rádio Guararema AM, Sistema Interativo de Comunicação FM e Rádio Som Maior FM

Dilceu Sperafico (PP), deputado federal: Rádio Difusora Paraná, Rádio Cultura Palotinense e Rádio Guaíra

Moacir Micheletto (PMDB), deputado federal: Rádio Jornal de Assis Chateaubriand e Rádio Pitiguara

Odilio Balbinotti (PMDB), deputado federal: Rádio Educadora

Ricardo Barros (PP), deputado federal: Rádio Jornal de Maringá e Frequencial Empreendimentos

Antonio Martins Anibelli (PMDB), deputado estadual: Rádio Progresso e Cleveland FM

Luiz Carlos Martins (PDT), deputado estadual: JHM Radiodifusão e LK Radiodifusão

Nelson Garcia (PSDB), deputado estadual que se licenciou para assumir a Secretaria Estadual do Trabalho, Emprego e Promoção Social (SETP): Rádio Educadora Inconfidência e Rádio em Jóia

Parlamentares paranaenses que controlam empresas de rádio ou televisão:

[O fato de parlamentares autorizarem as concessões] é a mesma coisa que entregar

o galinheiro para a raposa”José Arbex Júnior,

jornalista e escritor“

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Co:::unicaçãojunho de 20084 ciência e tecnologia

INVENTORES A profissão tenta se adaptar a tempos em que criatividade não basta

Eurekas nossas de cada diaQuando se fala em inventores, o que

logo vem à mente são aqueles indivíduos no estilo do Professor Pardal, personagem de Walt Disney – pessoas com um para-fuso a menos. Malucos? Na opinião do inventor paranaense Isac Ribeiro, “maluco é quem não aproveita as idéias que tem”. E as idéias são, de fato, o ponto de partida para o trabalho desses profissionais, que atuam de forma independente, fora de corporações ou universidades. Porém até que o projeto se concretize, o caminho a ser percorrido é longo: da busca pela pa-tente até o sucesso comercial da invenção são muitos os desafios, e o trabalho exige dos inventores do país muito mais do que a genialidade a eles atribuída.

Para além do estereótipo, inventores são “gente como a gente”, nas palavras do presidente e fundador da Associação Nacional dos Inventores (ANI), Carlos Mazzei. Para ser um deles, não é neces-sário ter uma formação específica e nem mesmo um nível de escolaridade mínimo. “É uma questão de criatividade, não de conhecimento”, diz Mazzei. A mesma linha de raciocínio segue o presidente da Associação dos Inventores do Paraná, Marcelo Mendes. “Não existem gênios, apenas pessoas com bom senso crítico”, diz, acrescentando que elas devem estar atentas às necessidades da sociedade.

A partir da observação do cotidiano, o inventor identifica necessidades e bus-ca uma inovação para as suprir, mesmo que a idéia inicial pareça impraticável. Um exemplo é o equipamento despolui-dor de ar desenvolvido por Isac Ribeiro. O aparelho ainda não está no mercado por falta de certificação tecnológica, mas seu criador acredita que ele ainda será um sucesso. “Mais dia, menos dia, a iniciativa privada vai ter que investir em alternativas em relação ao meio am-biente. E o Brasil já terá inventos como esse prontos para atender à tal demanda”, prevê. Ele garante que o equipamento, instalado em escapamentos de veículos, chaminés de indústrias ou mesmo ao ar livre, é capaz de realizar o seqüestro de carbono, ou seja, reduzir a liberação de poluição na atmosfera.

Após conceber uma inovação, o primeiro passo antes de desenvolvê-la é checar se já não existe algo semelhante registrado. No Brasil, isso pode ser feito pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). A entidade é responsá-vel por registros de marcas e concessão de patentes, dentre outras questões refe-rentes à propriedade industrial.

A patente é o título oficial que asse-gura os direitos de um inventor sobre sua idéia e tudo o que investiu para a desenvolver. Existe um custo para fazer o registro, que varia de acordo com o caráter do invento, além de uma anuidade que pode ser solicitada. Assim, a inovação fica protegida, evitando-se que ela seja copiada por outra pessoa ou empresa. O título de exploração comercial é tempo-rário – sua duração é, em geral, de 10 a 20 anos, segundo Mendes.

Em busca de recursos

A falta de políticas de incentivo espe-cíficas para os inventores independentes é apontada por eles como uma das maiores dificuldades no cenário atual. “Não temos apoio nenhum do governo”, afirma Ma-zzei. Marcelo Mendes conta que as discus-sões de políticas de ciência e tecnologia se restringem aos interesses da Academia e da indústria. Segundo ele, quem não faz parte delas fica legado à própria sorte. O especialista em registro de marcas e paten-tes Wagner José Fafá Borges acrescenta: “O problema da ciência no Brasil não é a falta de recursos, mas de projetos que viabilizem sua liberação – nesse caso, o inventor de fundo de quintal perde muito”. Para ele, apesar de existirem entidades de fomento de projetos de inovação, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Fi-nanciadora de Estudos e Projetos (Finep), dificilmente um inventor independente consegue recursos. Borges explica que a dificuldade para interpretar os editais e colocar os projetos no papel dentro das normas exigidas é um dos obstáculos.

Em boa parte dos casos, quem custeia o projeto é o próprio inventor. “Infelizmente, é preciso ter um outro emprego para se manter”, comenta Mazzei. Alguns conse-guem parcerias, mas quem leva um projeto sozinho encontra também a dificuldade de divulgação e distribuição. “Não basta ter uma boa idéia ou um produto pronto para ir ao mercado. Se não tiver logística, distribuição, esquema de vendas, a idéia morre na praia”, diz o presidente da ANI.

Uma outra opção é vender ou licenciar o projeto direto para empresas. Nesse caso, o inventor entra com o protótipo inicial, e a companhia com a tecnologia e o capital para sua reprodução. Se o produto tiver sucesso, seu idealizador fica com uma porcentagem dos lucros – uma margem que varia de 3% a 10%, de acordo com Carlos Mazzei. Mas essa pode ser uma situação desvantajosa para o autor da idéia. Ribeiro ilustra com o

caso do seu despoluidor de ar: “Não quero vender o projeto para multinacionais, para depois o país ter que importar a tecnologia, sendo que a idéia saiu daqui”.

Há também quem busque parcerias com pesquisadores de instituições cien-tíficas e tecnológicas (ICTs), como as universidades. Mendes, porém, critica a posição destas: “Elas ainda estão muito fechadas àqueles que vêm de fora”.

Ensino, pesquisa e mercado Ainda que a interação entre invento-

res independentes e universidades não venha acontecendo de forma intensa, existem iniciativas para aproximar am-bos. A coordenadora de Propriedade Intelectual da UFPR, Edmeire Pereira, cita a lei número 10.973, criada em 2004. O texto sugere mecanismos para que a produção científica se transforme em produtos disponíveis no mercado, atra-vés de parcerias entre inventores inde-pendentes, empresários e pesquisadores de instituições científicas e tecnológicas. Pereira, no entanto, faz uma ressalva: “A lei apenas sinaliza que as ICTs recebam o inventor independente, mas isso ainda fica a critério de cada uma”.

Para Marcelo Mendes, essa aproxi-mação é muito importante para todas as partes. Com ela, o inventor poderia contar com uma infra-estrutura e uma equipe multidisciplinar de apoio, en-quanto a universidade tomaria conta da pesquisa de base e ao mesmo tempo beneficiaria os alunos que futuramente preferirão trabalhar no setor produtivo. “Nem todo mundo vai querer ficar só na academia. É importante promover experiências em todos os sentidos”, comenta.

Thaís sChneider

Conheça duas invenções brasileiras que fizeram sucesso internacionalmente:Spaghetti

de Piscina

Espécie de bóia comprida, muito utili-zada em exercícios de hidroginástica e como brinquedo, o objeto é criação do empresário brasileiro Adriano Sabina. Mazzei conta que o inventor teve a idéia de adaptar um dos materiais usados para preenchimento dos espaços vazios de bar-cos – a espuma de polietileno – para um acessório de piscina. Apesar do conceito já ser conhecido nos EUA desde 1988, Sabina fez uma adaptação na composição e aplicação do produto, o que lhe rendeu o patrimônio da invenção.

Caixa de pizza que vira brinquedo

Uma embalagem que vira um quebra-cabeça, um dinossauro, uma formiga – basta destacar a área pontilhada no papelão e montar. A invenção de Constatino e Clau-dia Kostakis ganhou o prêmio Invenção do Ano de 2007, promovido pela revista Embanews, especializada na área de em-balagens. A caixa especial tem o mesmo custo de produção de uma normal, mas um diferencial para o consumidor. Segundo Mazzei, este é um exemplo de invenção de sucesso criada por pessoas que não têm uma vasta formação acadêmica ou técnica.

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Idéia de um brasileiro, a caixa de pizza lúdica foi eleita Invenção do Ano de 2007

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NOVAS VAGAS Falta de estrutura e de preparo dos professores não intimidam a Universidade

Coun aprova inclusão para deficientesA implantação de vagas suplementares

para portadores de deficiência na UFPR foi aprovada na última reunião do Conselho Universitário (Coun), no dia 30 de maio. Já para o próximo vestibular, será criada mais uma vaga em cada curso da Universidade, destinada exclusivamente a esses alunos. Os detalhes do processo, no entanto, ainda não foram acertados. De acordo com a pró-reitora de Graduação, Rosana de Sá Brito, isso deve ser feito até o dia 09 de junho, data limite para a publicação do edital do vestibular 2009.

Entretanto, já existe um sistema de inclusão de deficientes endossado pelo Pro-grama de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Nele, o candidato deve se inscrever no vestibular em uma das três modalidades já existentes – cotas para negros, oriundos de escola pública, ou vagas gerais – e precisa ser aprovado ao menos na primeira fase. Na segunda fase, caso haja um único candidato portador de deficiência em determinado curso, ele tem a vaga suplementar garantida mesmo que não alcance a nota mínima do curso. No caso de haver dois vestibulandos nessa situação, entra na Universidade o que obtiver a melhor nota.

A discussão a respeito da reserva de va-gas veio à tona após uma ação civil movida pelo Ministério Público contra a UFPR e a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), que exigia a reserva de 5% do total de vagas das instituições para deficientes. A ação foi indeferida, após ambas as instituições terem recorrido, mas o assunto continuou em debate.

De acordo com Rosana de Sá Brito, o fato de a Universidade ter sido contrária a ação significa apenas que ela estava defen-dendo sua autonomia, e não que era contrá-ria à inclusão de portadores de necessidades especiais. A pró-reitora defende a criação das cotas, o que, segundo ela, deve acelerar as reformas e adaptações necessárias dentro da UFPR para receber os deficientes. “As reformas estruturais, que antes eram conse-guidas com verbas do MEC e de emendas parlamentares, agora serão prioridades”.

Além disso, ela afirma que cerca de 92 alunos com algum tipo de deficiência já estudam na UFPR, o que comprova que a instituição está minimamente preparada para recebê-los.

Já para o presidente da Associação dos Deficientes Físicos do Paraná (ADFP), Mauro Nardini, o sistema de vagas suple-mentares só é válido se existir um progra-ma de reformas dentro da Universidade. “Quando se pensa em acessibilidade, vêm à cabeça apenas a questão dos deficientes físicos, porém existem vários outros tipos de deficiências que exigem cuidados especiais”. Nardini também critica a posição da pró-reitora de Graduação de primeiro receber os estudantes, para depois adaptar-se. “A Universidade é obrigada a aceitar todas as pessoas, independente de suas deficiências, e conseqüentemente, oferecer estrutura físi-ca e pedagógica para recebê-las”, pondera.

Em 2006, a UFPR instituiu o Núcleo de Apoio ao Portador de Necessidades Espe-ciais (Napne), com o propósito de preparar

a Universidade para atender os deficientes. O Núcleo atende de deficientes físicos a pes-soas com superdotação e hiperatividade. “O Napne faz trabalho psicológico e de adapta-ção dos materiais de estudo de acordo com a necessidade de cada estudante”, explica a coordenadora do Núcleo, Laura Moreira, que lamenta a baixa procura dos cursos de capacitação por parte dos professores da Universidade. “No ano passado, foram reali-zados 11 cursos, mas apenas 15 professores da UFPR participaram”, revela.

A baixa procura dos cursos de capa-citação por professores, segundo Rosana de Sá Brito, deve ser regulada agora, com a aprovação das vagas suplementares. “Com a decisão, acredito que os professores e servidores começarão a se empenhar mais em procurar os cursos do Napne para se aperfeiçoarem”, defende ela.

O Napne atende casos como o do estudante do terceiro ano de Agronomia e deficiente visual Fuad Elias Kallas, de 45 anos. “Recebo todo o apoio necessário por parte dos professores e do Núcleo para dar continuidade aos estudos”. Ele explica que qualquer material acadêmico que precise pode ser levado até o Napne, onde é conver-tido em um arquivo de áudio. No caso dos alunos que possuem visão parcial, a opção é ampliar a cópia dos livros, o que pode ser feito tanto no Núcleo quanto na própria copiadora dos campi em que estudam.

Julio Cesar VasConCellosNa avaliação de Silmara dos Santos, a Reitoria não está apta a receber deficientes

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A Universidade em testeAlém de a maioria dos professores

não se interessar pelos cursos que os capacitariam a atender os alunos defi-cientes, a estrutura da UFPR deixa a desejar em alguns pontos. O Comuni-cação convidou a associada da ADFP Silmara dos Santos, que se locomove com cadeira de rodas, para avaliar quatro campi da Universidade.

Na Reitoria, para ir de um prédio a outro o cadeirante precisa dar a volta na quadra. “Os acessos para o pátio e para a entrada dos prédios são mal planejados. Há poucas rampas e as que existem estão quebradas. O risco da cadeira de rodas tombar é muito grande”, afirma Silmara. No interior dos prédios, os elevadores, apesar de espaçosos, possuem os painéis de controle altos demais para o alcance de alguém em cadeira de rodas. E, no caso de quebra, a locomoção do cadeirante de um andar a outro se torna difícil. “A rampa de acesso é estreita e não possui nenhum corrimão. É impossível subir sozinho e descer é bastante difícil também”.

No Prédio Histórico, existe uma en-trada especial para os deficientes, através do Napne, além de rampas e elevadores adaptados. Mas os banheiros, tanto deste campus quanto da Reitoria, são pequenos e despreparados. “Sem uma pessoa para auxiliar por perto, não há a menor condi-

ção de um deficiente físico ir ao banheiro nesses locais”, avalia Silmara. Dentro das salas de aula, outro problema: somente cadeiras de rodas pequenas conseguem entrar no espaço debaixo das carteiras, que são estreitas.

No campus Politécnico, faltam rampas especiais nos meio-fios, mas há alguns elevadores e banheiros especiais. Já o Botânico, por ter uma estrutura recente, é o que está mais bem preparado. Possui rampas com corrimões, corredores largos, banheiros e elevadores que comportam os cadeirantes.

Em campi menores da UFPR a situação é mais complicada. A estudante do curso de Publicidade e Propaganda Beatriz Giublin quebrou o pé há dois anos e passou um mês utilizando muletas para ir para as aulas. “Foi uma situação ruim, pois precisava subir es-cadas todos os dias e, para isso, necessitava da ajuda de outras pessoas”, diz. No depar-tamento em que estuda, no bairro Juvevê, muitas aulas ocorrem no segundo andar e não há nem rampas nem elevadores. “É uma pena que só os prédios mais novos es-tejam preparados, pois não é pré-requisito você não ser deficiente para poder entrar na Universidade”, afirma a estudante.

Em todos os prédios visitados as cantinas permitem uma boa locomoção, embora os balcões de pedidos sejam altos para, por exemplo, alguém que se locomo-ve em cadeira de rodas.

Após a visita, Silmara dos Santos faz o balanço. Para ela, apesar da UFPR ter alguns espaços bem adaptados, muitas mudanças ainda precisam ser feitas. “Uma universidade que queira abrir suas portas para os deficientes precisa estar pronta para isso. Hoje, só há condições em alguns locais e em outros, como na Reitoria, são nítidos a falta de planejamento e o impro-viso”, finaliza.

Julio Cesar VasConCellos

A Univer-sidade é obrigada a

aceitar todas as pessoas e a oferecer estrutura física e pedagógica

para recebê-las”Mauro Nardini,

presidente da associação dos deficientes físicos do paraná (adfp)

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Co:::unicaçãojunho de 20086 cultura

SUCESSO Quais sãos os fatores que levam uma banda a estourar ou fracassar?

A fama e o anonimato dos palcosBom êxito, resultado final positivo:

essas são as principais definições do di-cionário Aurélio para a palavra sucesso. Mas o que significa exatamente dizer que uma banda faz sucesso? No cenário musical brasileiro, há diversos casos de grupos bem sucedidos. Existem as bandas que, apesar de não conseguirem fazer sucesso nacionalmente, são muito conhecidas numa determinada região e até aquelas que são melhor acolhidas fora de sua própria cidade. Existem, ain-da, os artistas brasileiros que conquis-tam maior reconhecimento no exterior do que no país de origem.

O vocalista e guitarrista da banda curitibana Relespública, Fábio Elias, cita alguns fatores que determinam se um músico será bem sucedido: “Ter um visual legal, uma proposta bacana, música interessante, saber dar entrevista e ter um bom investidor são fatores es-senciais. Mas ainda não é a fórmula do sucesso”. Ele explica que dessa forma os artistas podem até se tornar conhecidos do público, mas o mais difícil é perma-necer na mídia. “Para ficar famoso hoje em dia é preciso tirar a sorte grande. O mundo das celebridades está cada vez mais descartável”, lamenta.

Segundo ele, é ilusão dizer que o mercado nacional não tem espaço para os diversos gêneros, porque o público é bastante eclético. “É possível levar adiante o sonho de se fazer rock n’roll no país do funk, do samba e do sertane-jo. Existe espaço para todos os estilos, sim”, garante.

Já o violeiro da também curitibana Charme Chulo, Leandro Delmonico, afirma que para se inserir no mercado musical o artista deve se adequar no perfil pop do momento. “Se o músico não for simpático, bonito ou não se enquadrar na moda, uma grande gra-vadora dificilmente terá interesse. O público precisa de um rótulo, de algo vendável. Só uma minoria não liga para isso”.

Para ele, os motivos que fazem uma banda ter dificuldade de expandir seu trabalho podem variar. “Alguns artistas têm sua música restrita a determinada região porque o público de um estado pode não se identificar com o gênero musical produzido em outro local”, diz. Ele aponta ainda as questões financei-ras como fatores decisivos na hora de expandir o trabalho. E completa a lista ao falar sobre carisma: músicos apáticos, segundo ele, não conseguem se sobres-sair. “Se o artista não tem diferencial ou carisma popular, está fadado ao fracas-so”, sentencia.

O jornalista musical da Folha de Londrina, Rodrigo Duarte, diz que a proximidade com os grandes centros de música brasileiros – São Paulo e Rio de Janeiro – é também fator crucial que pode levar ao sucesso ou ao anoni-mato. As bandas dessa região têm mais facilidade de se projetar no cenário nacional. “O mercado musical começou

nessas duas capitais, onde os grandes empresários e gravadoras estão até hoje. Portanto, é natural que haja uma maior concentração de bandas famosas nesse eixo”, explica.

Mas, para Fábio Elias, a preocupação em conquistar as metrópoles do sudeste não deve fazer com que as bandas des-mereçam os fãs de suas cidades. “Isso é um grande erro. Sucesso regional é legal. Não podemos querer ir para São Paulo antes de conquistar o Paraná. Isso é um equívoco que alguns grupos cometem”, afirma o vocalista.

Nesse sentido, a internet é grande aliada, de acordo com Leandro Delmo-nico. Para ele, a grande rede torna o su-cesso mais acessível para as bandas que ainda não se estabeleceram no mercado fonográfico. “Existem vários artistas que estouram na internet e conseguem viver do seu trabalho sem precisar tocar no eixo Rio–São Paulo”, conta. Porém, é fundamental que a banda passe por uma das duas cidades para atingir a massa. “Foi o caso do Calypso, que fazia shows lotados no norte do país, mas só depois que ganhou alguns olhos paulistas conseguiu reconhecimento da mídia”, esclarece.

O sucesso internacional

Às vezes, a internet também inverte a ordem natural de ascensão da maioria das bandas – e de forma megalomanía-ca. O grupo de funk curitibano Bonde do Rolê conquistou primeiro o cená-rio internacional, recebendo críticas positivas da revista Rolling Stone e do jornal The New York Times (apesar de suas letras desbocadas e em portu-guês), para depois se lançar no Brasil. De acordo com o jornalista Rodrigo Duarte, a internet foi um instrumento fundamental na divulgação do trabalho do trio. “O Bonde do Rolê alcançou sua grande projeção pelo meio virtu-al”, explica. Ele relata que em 2005 a banda chegou a tocar no TIM Festival sem nunca ter lançado um CD. “Isso mostra a força do formato MP3, que revolucionou completamente todo o cenário musical. Agora, os músicos não precisam, necessariamente, ter um grande empresário para poder mostrar seu trabalho”.

Fábio Elias é mais específico e aponta uma ferramenta da internet que tornou o cenário musical mais independente. “Por meio do site MySpace, passaram a surgir

diversos cantores que fazem um sucesso enorme na rede sem dependerem de gravadoras”, declara. O MySpace é uma rede social interativa em que os músicos apresentam novos trabalhos e interagem com seus fãs.

Duarte explica que as bandas brasi-leiras mais conhecidas no exterior dão certo por possuírem enfoques diferentes. “Normalmente não é uma questão de acaso. Ou o grupo foca num estilo de música que é melhor aceito lá fora, ou simplesmente direciona todo o marke-ting para outros países”. Segundo ele, o fato desses artistas terem mais fama fora do Brasil não quer dizer que o som que produzem é melhor ou pior do que o feito aqui. O jornalista volta a usar como exemplo o Bonde do Rolê, que precisou primeiro ser aceito pelos ‘gringos’ para depois chamar a atenção de alguns bra-sileiros. “Essa é uma banda inicialmente formada por jovens de classe média que tentaram se lançar no cenário funk. Justamente por terem vindo de uma situação financeira razoável, o público não os recebeu bem, pois achava que o som deles soava falso” reporta. Para o jornalista, o grupo decidiu virar os olhos para o exterior somente depois desse primeiro ‘fracasso’.

Fábio Elias complementa dizendo que por mais que uma banda faça sucesso no exterior, é preciso sempre haver algum tipo de reconhecimento com o país de origem. “A música só será internacional se ela tiver raízes. Ninguém conquista o mundo se não conquistar antes o seu quintal”, teoriza.

A relação com Curitiba

De acordo com o guitarrista da ban-da Terminal Guadalupe, Lucas Borba, a platéia de Curitiba é mais distante do que as de outras regiões. “Apesar do Terminal ser daqui, sentimos que os públicos de outros locais são mais receptivos”, relata. Ele conta que o grupo só conquistou mais espaço no cenário curitibano depois que teve destaque em jornais e revista de grande circulação.

Delmonico afirma, porém, que no papel de consumidores de música, os curitibanos não são muito diferentes do resto do país. “Curitiba aceita o que está na mídia simplesmente por parecer a melhor coisa a ser ouvida no momento, enquanto uma pequena parcela busca algo novo e diferente”, afirma.

Fábio Elias discorda: uma das vanta-gens de se tocar na capital paranaense, segundo ele, é justamente o fato de o público daqui ser bastante exigente. “Curitiba é considerada o termômetro, a ‘cidade-teste’ para todos os estilos. O povo daqui é mais crítico do que o de outras cidades”, garante. “‘Se deu certo em Curitiba, dá em qualquer lugar’, é isso o que a gente ouve sempre”, resume.

anna eMília soares

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Co:::unicaçãojunho de 2008 7comportamento

CRUELDADE O que leva alguém a cometer atos que chocam a sociedade?

O crime sem motivos aparentesCenas de violência não são raras. Elas

estão nas esquinas de nossas ruas, no tele-jornal diário, em um país do outro lado do mundo. Os comentários a respeito dessas cenas costumam relacioná-las a meios para algum fim. Há, por mais mundano que seja, um motivo. O assaltante agrediu o assaltado para tomar-lhe algum dinheiro, os ladrões tentaram alvejar os policiais para que pudessem escapar de um tiroteio, um latrocínio foi cometido para eliminar a hi-pótese de testemunhas. Mas como justificar as torturas sistemáticas sofridas por uma garota de 12 anos, em Goiânia, e descober-tas em março deste ano? Ou a idéia de atear fogo em um indígena, colocada em prática por estudantes brasilienses em 1996?

Há um mês, chegando em casa depois do trabalho, a empregada doméstica Vânia encontrou seu neto Rafael (os nomes são fictícios para preservar a identidade das fontes), de 3 anos, sentado de forma torta no sofá. A criança, que mora com a mãe e os avós maternos, costuma passar todos os finais de semana com Vânia, a avó paterna. “O Rafael é muito ativo, sapeca, então comecei a ficar preocupada quando ele não queria sair do sofá”, recorda a avó. Depois de muita insistência, o garoto concordou em se levantar – mas, ao fazê-lo, não conseguiu abafar os gritos de dor. “Vi que na calça dele tinha uma mancha de sangue”, conta Vânia, que perguntou ao neto o que havia acontecido. “Ele falava, meio atrapalhado, que o avô materno ti-nha ‘furado’ suas nádegas com os dedos”, diz Vânia. Ela e o filho, pai de Rafael, foram correndo à casa da mãe da criança e pres-sionaram o agressor, que negava qualquer acusação. Foram necessários 15 dias, um exame de corpo delito e um boletim de ocorrência para provar a culpa do avô, que, enfim, assumiu vir a tempos cultivando tal comportamento. A troco de quê?

A violência gratuita provoca estarreci-mento e comoção pública – e passa a ser dita cruel quando não há, para ela, outra explicação cabível. Seria essa a definição de crueldade? Há algo por trás do comporta-mento violento sem motivos? Segundo o psiquiatra Élio Luiz Mauer, alguns indivíduos possuem uma “herança gene-ticamente estabelecida” que lhes confere maior tendência à agressividade. “A crueldade, porém, é uma variante do com-portamento humano que tem componentes muito mais signi-ficativos: o cultural e o social”, ressalva o doutor, dizendo que a pessoa cruel possui valores distorcidos que fogem ao alcance da genética e da fisiologia.

De acordo com o professor de Ética da UFPR e mestre em Filosofia, Sérgio Czajkowski Júnior, a crueldade seria um abuso de poder que caminha paralelamen-te a algum tipo de agressão. “Ela decorre do uso conscientemente desnecessário da violência por parte de certo indivíduo, que desconsidera o tormento físico ou simbóli-co experimentado pela vítima”, explica.

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O ex-perito criminal Sérgio Gavassi contabiliza quase quatro mil casos em seu currículo policial. Em meio a tantos plantões, entretanto, ainda guarda na memória um caso específico, que julga como o mais cruel que presenciou. “Vi uma mãe atear fogo nela e em seu bebê, vi um homem atropelado por um trem, mas essas cenas extremamente violentas não me marcaram tanto quanto aquele caso que, comparado a elas em termos de violência, pode parecer banal”, explica. Em uma madrugada na cidade de Marília, um vigia noturno preparava café em sua guarita, com a porta aberta. Do lado de fora, dois adolescentes tinham acabado de obter, de forma ilegal, uma pistola. Ao ver o vigia de costas, um deles não pensou duas vezes antes de apertar o gatilho mi-rando em sua nuca, para ‘testar’ a arma. “O

filho da mãe tirou a vida de um homem, tirou-o do convívio da família, para ter o prazer de atirar. Isso é má índole, é pura crueldade”, desabafa Gavassi.

A crueldade através dos séculos

Doutor em Direito pela UFPR e de-legado da Polícia Civil do Paraná, Carlos Roberto Bacila defende que o ‘cruel’ é um conceito cunhado socialmente. “Na Idade Média, o trabalhador cumpria uma carga

de 15 a 20 horas diárias, e sabe-se que muitas das penas aplicadas àqueles que infringiam as leis envolviam flagelo físico”, afirma. Bacila destaca que hoje em dia ninguém argumentaria a favor da volta das extenuantes jornadas de trabalho ou da tortura como forma de punição, “mas no passado essas práticas eram consideradas perfeitamente aceitáveis pela maior parte da população”.

Foi com a Declaração dos Direitos Humanos, no período pós-iluminista do século XVIII, que a sociedade deu seus primeiros passos em direção a um melhor entendimento do que é a crueldade. O fi-lósofo Sérgio Czajkowski Júnior esclarece: “Ocorreu uma revalorização do homem. Ela gerou discussões sobre formas de estabelecer relações entre as pessoas, sem que essas relações causem malefícios ao

outro”. A idéia que temos atual-mente de crueldade é uma lei-tura bastante compatível com a concepção iluminista, mesmo não sendo partilhada por todos exatamente da mesma maneira, garante Czajkowski. Segun-do ele, essa ótica, entretanto, apresenta uma falha: ela parte da premissa de que o homem é um ser racional. “Mas o desejo é o senhor do destino do ho-mem, e não a razão”, ressalta.

O filósofo explica que o ser humano é parcialmente governado pelo instinto e pela impulsividade: o que o diferencia dos outros animais é a presença do superego, uma camada sócio-cultural consciente que regula as funções psicoló-gicas humanas. “Quando o lado impulsivo do indivíduo o impele à certas práticas, o encargo do superego é coibi-las, e se algo desencadeia uma atitude que não é reprimida de maneira eficaz, um dos desdobramentos possíveis é a crueldade”, conclui Czajkowski.

Para explicar o que gera a crueldade, Carlos Roberto Bacila expõe duas teorias antagônicas. A primeira preconiza o livre-arbítrio: de acordo com ela, a pessoa já nasce com conhecimento do bem e do mal e pode, então, optar por praticar um deles. A segunda é determinista: os indivíduos estão destinados a praticar certos atos por fatores que não dependem de sua vontade. “Segundo esta teoria, o ser humano é uma soma de fatores biológicos, psicológicos e sociais, ou seja, é um produto do meio”, explica o advogado.

Quando punir e quando tratar

Denunciado à polícia, o avô do garoto Rafael recebeu intimação e apresentou-se em depoimento. Ele levou à delegacia as caixas do antidepressivo que toma regu-larmente. “Parece que o remédio era de tarja preta, bem forte. Então fizeram uma avaliação mental nele e ainda não houve punição. Nos mandaram esperar pela de-cisão”, conta Vânia, descrente. “Não acho que um remédio ou um teste justifique o que ele fez”, explica.

Segundo Bacila, o Direito pende suas de-cisões baseado na corrente do livre-arbítrio. “Se as pessoas têm liberdade para optar por praticar a crueldade, devem ser punidas de acordo com seus atos”, sugere. Quando é comprovado que o indivíduo apresenta alte-rações mentais graves, entretanto, o desenro-lar do caso é outro, explica o psiquiatra Élio Mauer. “Não são todas as doenças psíquicas que interferem na consciência do portador, mas se estivermos falando sobre quadros de transtorno de personalidade, normalmente o indivíduo não é punível”, esclarece. “Não há como responsabilizar essa pessoa pelo crime porque ela não tem consciência do sofrimento da vítima, e é essa consciência que caracteriza a crueldade”, completa.

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No filme Em nome do Pai, de Jim Sheridan, Gerry Conlon (Daniel Day-Lewis) é torturado para confessar um crime que não cometeu

Sérgio Czajkowski Júnior,mestre em filosofia

A crueldade decorre do uso conscientemente desnecessário

da violência, desconsiderando o tormento da vítima”“

O Comunicação é uma publicação do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná, com a participação de alunos das disciplinas de Laboratório de Jornalismo Impres-so e Laboratório Avançado de Jornalismo Impresso.

Professor orientador: Mário Messagi Jr. (jornalista res-ponsável - DRT 2963/PR).editora Chefe: Renata Ortega.seCretário de redação (imPresso): Sandoval Poletto. sub-seCretária: Manuela Salazar.

seCretária de redação (on-line): Aline Baroni. subseCre-tária: Iasa Monique. Webmaster: Tiago Capdeville. ComuniCação instituCional: André Marques assessor de ComuniCação: Tiago Cegatta. Chefe de rePortagem: Rodney Caetano. editores: CiênCia e TeCnoloGia: Suelen Trevizan. CoMPor-TaMenTo: Giovana Neiva. CulTura: Amanda Audi. esPor-Tes: Danilo Hatori. Geral: Poli Brito e Rapha Ramirez. oPinião: Vanessa Prateano. PolíTiCa: Fábio Pupo e Thaíse Mendonça. ufPr: Amanda Menezes e Chico Marés. fo-

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expediente

Co:::unicaçãojunho de 20088 geral

DESMANCHES Muitas vezes, carros financiados são negociados pelos próprios donos

As peças da ilegalidadeÉ difícil para as lojas de peças auto-

motivas concorrer com os preços baixos oferecidos por quem vende peças de car-ros provenientes de desmanches. Ainda mais quando esse mercado é fomentado por quem menos se espera: os próprios donos dos automóveis. A informação é do comerciante de peças roubadas Paulo A., que solicitou sigilo de fonte à repor-tagem do Comunicação. Segundo ele, grande parte dos carros que passam por desmanches são negociados pelos pró-prios proprietários, quando constatam que não conseguirão pagar o financia-mento e então procuram uma maneira de acionar a seguradora. “A pessoa vê que não consegue pagar e me oferece, por exemplo, um carro de R$ 60 mil por R$ 3 mil ou R$ 4 mil. Eu compro e a pessoa espera que eu desmonte o carro para dar queixa de furto”, explica Paulo A.

De acordo com ele, grande parte dos números que constam nas delegacias rela-tivos ao furto ou ao roubo de veículos são provenientes desse tipo de negociata. Os dados oficiais da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) indicam que, em 2007, foram roubados em média 16 carros por dia em Curitiba. Nos primeiros três meses deste ano, o número subiu para 19 carros diários. Um índice que, segundo o delegado da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV), Itiro Hashitani, pode ser considerado pequeno quando comparado ao tamanho da frota (segundo o Detran, um milhão e 50 mil veículos).

Hashitani enumera os principais motivos que levam ao roubo ou ao furto de automóveis em Curitiba, de acordo com as estatísticas. “Os ladrões roubam para fazer clonagem, esquentar uma documentação (usar os dados do carro roubado para falsificar um documento), trocar por drogas no exterior. Mas prin-cipalmente para desmanchar e revender as peças”, conta.

O trabalho de desmanche é rápido, de acordo com Paulo A. “Para desmontar o motor, leva em média uns 20 minutos. O carro inteiro é desmontado em 2h20”, afirma. Segundo ele, alguns cuidados são tomados para garantir que o automóvel não seja localizado. “Na maioria das ve-zes o carro é desmontado dentro de uma carreta ou furgão forrado com amianto e chumbo, o que impede que os veículos que possuem rastreadores sejam locali-zados”, explica. Ou então os automóveis são levados para lugares afastados, o que,

segundo o delegado Hashitani, também dificulta a localização. “Eles levam os carros para lugares retirados, desmontam, pegam o que interessa e jogam o resto fora”, complementa.

Mas nem sempre quem rouba automó-veis para desmanchar toma esses cuida-dos. Um exemplo é o caso da empresária Rosimeri Delay, que trabalha com men-sagens ao vivo, e já teve dois dos veículos de sua empresa roubados. O segundo foi recuperado cerca de três horas após o rou-bo. “Eles estavam desmontando o carro embaixo de uma árvore numa rua sem saída quando a polícia chegou”, conta.

As peças mais procuradas em desman-ches são módulos, motores, equipamentos de som, airbags e bancos de couro. “Elas têm maior procura porque são as mais caras e as mais difíceis de encontrar nas lojas de autopeças”, diz Paulo A.

O preço é o principal motivo que deixa a concorrência desleal para as autopeças regulares. Esses estabelecimentos têm despesas, por exemplo, com a tributação de notas, o que encarece a mercadoria em relação às peças roubadas. “Quem trabalha certo é prejudicado. Os clientes compram onde acham mais barato. Para a gente vender, só se eles [os comerciantes de desmanches] não tiverem a mercadoria”, lamenta o gerente de vendas de peças au-tomotivas Antonio Freitas Aguiar. O baixo custo das peças ilegais, segundo Paulo A., vem acompanhado da certeza de que

elas não prejudicarão o desempenho do veículo. “O cliente sabe que as peças são originais e que estavam em funcionamen-to, e o preço não tem comparação com o das originais”, explica.

Mas a fiscalização, segundo o dele-gado Hashitani, tem se intensificado, com o monitoramento permanente de oficinas e autopeças. “Já fechamos várias oficinas e lojas que trabalhavam com mercadoria roubada”, garante ele. Para o delegado, a população pode ajudar nessa campanha, denunciando e não compran-do peças que tenham origem suspeita. “Quem fomenta o roubo e o comércio é a própria população, que compra peças usadas de origem duvidosa. Se deixas-sem de comprar, com certeza o número de roubos diminuiria”.

Furtos e roubos

No caso dos veículos efetivamente roubados para fins de desmanche, há uma relação entre os carros mais visados pelos assaltantes e a frota de veículos. “Quanto mais carros de um determinado modelo estiverem rodando, maior será a demanda por peças desses carros”, expli-ca Hashitani.

Carros mais antigos, que dificilmente possuem dispositivos anti-furto, facilitam a ação do ladrão e estão mais sujeitos ao furto – modalidade em que o carro é leva-do sem que a vítima perceba. São maiores as chances de ocorrer o furto quando o motorista deixa o automóvel estaciona-do por muito tempo em algum local ou horário de pouco movimento. Foi o que ocorreu com o Passat do massoterapeuta Marcos Brante. A esposa foi a uma reunião no colégio da filha e deixou o veículo estacionado do lado de fora. “Quando a reunião acabou, ela não achou o carro”, lembra ele.

Já o roubo ocorre geralmente quando a vítima está no interior do carro, parado em um semáforo, por exemplo. As situa-ções priorizadas pelos bandidos também são aquelas em que há menor circulação de pessoas e demais automóveis, como à noite, o que possibilita uma ação rápida, geralmente acompanhada por agressão ou ameaça. Esse foi o caso de Rosimeri Delay, quando o primeiro carro de sua empresa foi roubado. Os ladrões encomendaram uma mensagem ao vivo e, quando os funcionários chegaram ao local, foram rendidos. “Os bandidos saíram com eles ainda no carro e os deixaram sob um via-duto em Almirante Tamandaré. O carro não foi achado”, conta.

Os pontos da cidade onde mais ocorrem furtos e roubos são, contradito-riamente, onde mais existem veículos dis-poníveis, com os ladrões aproveitando-se de momentos de distração dos motoristas, que estacionam em lugares de pouca vi-sibilidade e em horários impróprios. “O maior número de furtos e roubos ocorre no centro e nos bairros Bigorrilho, Água Verde, Juvevê e Cabral”, informa o dele-gado Hashitani.

Depois de roubados, os veículos são recuperados, em média, na metade dos casos, segundo Hashitani. O tempo para isso, no entanto, pode variar de algumas horas a vários anos.

sharon abdalla

Segundo o delegado Hashitani, a fiscalização sobre o comércio de peças roubadas está mais intensa

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