Kiperman

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Kiperman, por mais paradoxal que possa parecer, é, ao mesmo tempo, conservador e inovador nos negócios que faz VALDIR FRIOLIN O mascate de livros que virou dono de editora Gente Filho de imigrantes dirige uma das maiores editoras técnicas do país | 30 | Economia > ZERO HORA > DOMINGO | 10 | DEZEMBRO | 2006 SEBASTIÃO RIBEIRO No princípio, era a peregrina- ção pelos consultórios, bater de porta em porta oferecendo as novidades da literatura médica. E também as bancas improvisa- das nos corredores de hospi- tais-escola, os estudantes do primeiro ano ávidos pelos li- vros de anatomia. Sem contar as viagens para o Interior, pri- meiro de ônibus, depois no Mercury 48, o próprio carro transformado em abrigo para o estoque. É com naturalidade que Henrique Kiperman, 68 anos, lembra hoje de seus tempos de vendedor e relata sua ascensão a dono de uma das maiores editoras técnicas do país, a Artmed. – É o caminho normal. Todo li- vreiro tem sonho de ser editor. O li- vreiro acha que o editor faz tudo er- rado, e o editor acha que o livreiro não sabe vender – diz o empresário. Filho de dois imigrantes judeus que chegaram a Curitiba em 1932, Kiperman passou a infância brin- cando em meio à venda de secos e molhados dos pais. Ao contrário do que poderia se imaginar, estar atrás do caixa nunca foi interesse do me- nino. O dom para as vendas só se manifestou quando começou a tra- balhar para editora Guanabara, em seu primeiro emprego, há 52 anos. De lá para cá, mesmo formado em economia, nunca largou os livros. Em 1964 veio para Porto Alegre, on- de virou representante, depois ge- rente, sócio e, enfim, desde 1987, dono da Artes Médicas Sul, transfor- mada em Artmed. Empresa traça estratégias para assegurar o futuro Muitos médicos que compraram os livros de Kiperman na faculdade hoje são autores da editora, que, de 1980 até hoje, já publicou 2,1 mil tí- tulos, dos quais 1,4 mil permane- cem ativos. – Eu estudava medicina na déca- da de 60 em Pelotas e tinha um cole- ga de quarto que era como que um representante do Henrique na facul- dade. Então, eu torcia para que ele não vendesse os livros, para que pu- desse estudar neles, já que na época não tinha dinheiro para comprar – rememora o psicanalista Gley Costa, que já publicou três livros com a Artmed. Na administração do negócio, Ki- perman é, ao mesmo tempo, con- servador e inovador. Conservador porque gosta de manter relações an- tigas, negocia fácil com autores que tradicionalmente publicam com a empresa, mantém um quadro de Família unida dentro e fora da empresa No domingo, é o churrasquinho no apartamento da Bela Vista, na Capital. O lugar também pode ser Atlântida ou Canela. O cardápio po- de variar para algo mais sofisticado, um prato que Henrique Kiperman tenha aprendido a fazer em um cur- so de culinária. O que não costuma mudar é o público: os pais, os dois filhos, os quatro netos, a nora e o genro. Na Artmed, Leda Kiperman (mulher de Henrique) atua no con- trole de qualidade, Celso (filho) cui- da das finanças e Adriane (filha), da revista pedagógica Pátio. – Comecei aqui quando tinha 17 anos. O meu pai não me explicou nada, me passava os cheques e eu assinava e fazia os pagamentos. Ho- je, eu sou o responsável pela gestão e nós nunca tivemos uma conversa sobre a minha função aqui – diver- te-se Celso. Perfil da empresa Estrutura: baseada em Porto Alegre, a Artmed tem uma unidade em São Paulo e representantes e operadores logísticos no Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Belo Horizonte e Fortaleza Funcionários: 94 Títulos já publicados: 2,1 mil, dos quais 1,4 mil ativos Novos títulos publicados em 2006: 140 Faturamento previsto para 2006: R$ 40 milhões funcionários estável. Inovador por- que está sempre aberto a novas apostas e leva em conta a intuição para tomar decisões. Desde o primeiro título da Art- med – “A Relação Médico – Pacien- te”, de Cyro Martins, publicado em 1980 –, a editora mudou. Criou no- vos selos, ampliou o leque de assun- tos que aborda. Hoje, tem publica- ções em diversas áreas – engenha- ria, pedagogia, educação física, in- formática, entre tantas outras – e é, segundo seu dono, uma empresa preparada para o futuro. – O livro sempre vai existir. Mas estamos entrando no mercado vir- tual, nos aprontando não só para vender pela Internet. Mas também para que o usuário, com uma senha, possa baixar nossos livros (pela re- de) – relata.

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Kiperman, por mais paradoxal que possa parecer, é, ao mesmo tempo, conservador e inovador nos negócios que faz

VALDIR

FRIO

LIN

O mascatede livros quevirou donode editora

Gente Filho de imigrantes dirige umadas maiores editoras técnicas do país

| 30 | Economia > ZERO HORA > DOMINGO | 10 | DEZEMBRO | 2006

SEBASTIÃO RIBEIRO

No princípio, era a peregrina-ção pelos consultórios, bater deporta em porta oferecendo asnovidades da literatura médica.E também as bancas improvisa-das nos corredores de hospi-tais-escola, os estudantes doprimeiro ano ávidos pelos li-vros de anatomia. Sem contaras viagens para o Interior, pri-meiro de ônibus, depois noMercury 48, o próprio carrotransformado em abrigo para oestoque.

Écom naturalidade que HenriqueKiperman, 68 anos, lembra hoje

de seus tempos de vendedor e relatasua ascensão a dono de uma dasmaiores editoras técnicas do país, aArtmed.

– É o caminho normal. Todo li-vreiro tem sonho de ser editor. O li-vreiro acha que o editor faz tudo er-rado, e o editor acha que o livreironão sabe vender – diz o empresário.

Filho de dois imigrantes judeusque chegaram a Curitiba em 1932,Kiperman passou a infância brin-cando em meio à venda de secos emolhados dos pais. Ao contrário doque poderia se imaginar, estar atrásdo caixa nunca foi interesse do me-nino. O dom para as vendas só semanifestou quando começou a tra-

balhar para editora Guanabara, emseu primeiro emprego, há 52 anos.De lá para cá, mesmo formado emeconomia, nunca largou os livros.Em 1964 veio para Porto Alegre, on-de virou representante, depois ge-rente, sócio e, enfim, desde 1987,dono da Artes Médicas Sul, transfor-mada em Artmed.

Empresa traça estratégiaspara assegurar o futuro

Muitos médicos que compraramos livros de Kiperman na faculdadehoje são autores da editora, que, de1980 até hoje, já publicou 2,1 mil tí-tulos, dos quais 1,4 mil permane-cem ativos.

– Eu estudava medicina na déca-da de 60 em Pelotas e tinha um cole-ga de quarto que era como que umrepresentante do Henrique na facul-dade. Então, eu torcia para que elenão vendesse os livros, para que pu-desse estudar neles, já que na épocanão tinha dinheiro para comprar –rememora o psicanalista Gley Costa,que já publicou três livros com aArtmed.

Na administração do negócio, Ki-perman é, ao mesmo tempo, con-servador e inovador. Conservadorporque gosta de manter relações an-tigas, negocia fácil com autores quetradicionalmente publicam com aempresa, mantém um quadro de

Família unidadentro e forada empresa

No domingo, é o churrasquinhono apartamento da Bela Vista, naCapital. O lugar também pode serAtlântida ou Canela. O cardápio po-de variar para algo mais sofisticado,um prato que Henrique Kipermantenha aprendido a fazer em um cur-so de culinária. O que não costumamudar é o público: os pais, os doisfilhos, os quatro netos, a nora e ogenro. Na Artmed, Leda Kiperman(mulher de Henrique) atua no con-trole de qualidade, Celso (filho) cui-da das finanças e Adriane (filha), darevista pedagógica Pátio.

– Comecei aqui quando tinha 17anos. O meu pai não me explicounada, me passava os cheques e euassinava e fazia os pagamentos. Ho-je, eu sou o responsável pela gestãoe nós nunca tivemos uma conversasobre a minha função aqui – diver-te-se Celso.

Perfil da empresa

Estrutura: baseada em Porto Alegre, a Artmedtem uma unidade em São Paulo e representantese operadores logísticos no Rio de Janeiro, Curitiba,Salvador, Belo Horizonte e Fortaleza

Funcionários:

94Títulos já publicados:

2,1 mil,dos quais 1,4 mil ativos

Novos títulospublicados em 2006:

140Faturamento previsto

para 2006:

R$ 40milhões

funcionários estável. Inovador por-que está sempre aberto a novasapostas e leva em conta a intuiçãopara tomar decisões.

Desde o primeiro título da Art-med – “A Relação Médico – Pacien-te”, de Cyro Martins, publicado em1980 –, a editora mudou. Criou no-vos selos, ampliou o leque de assun-tos que aborda. Hoje, tem publica-ções em diversas áreas – engenha-

ria, pedagogia, educação física, in-formática, entre tantas outras – e é,segundo seu dono, uma empresapreparada para o futuro.

– O livro sempre vai existir. Masestamos entrando no mercado vir-tual, nos aprontando não só paravender pela Internet. Mas tambémpara que o usuário, com uma senha,possa baixar nossos livros (pela re-de) – relata.