LEIRIA-FÁTIMA · OJUDILEU _____ _ Três questões para nossa meditação nesta manhã para que te...

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LEIRIA-FÁTIMA Órgêio Oficial da Diocczscz

Ano VIII • N.· 23 • Maio-Agosto 2000

DIREcrOR AMÉRICO FERREIRA

CHEFE DE REDACÇÃO JOSÉ ALMEIDA SOUSA

ADMINISTRADOR HENRIQUE DIAS DA S/LV A

CONSELHO DE REDACÇÃO BELMIRA DE SOUSA

JORGE GUARDA LUCIANO CRISTINO

MANUEL MELQUÍADES SAUL GOMES

PERIODICIDADE QUADRIMESTRAL

PROPRIEDADE E EDIÇÃO DIOCESE DE LEIRIA-FÁTIMA

REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO SEMINÁRIO DIOCESANO DE LEIRIA

2410 LEIRIA • TELEF. 244832760

ASSINATURA ANUAL - 2.000$00

o Jubileu: "Um único e ininterrupto canto de louvor à Santís·

sima Trindade" . . .. . .. . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . .. . . . .. .. .. ... .. .. . .. . . .. .. . ... . . . . . .. .. . . . 83

O Jubileu na Diocese . . . . . . . . . .. . . . .. . ....... . . . .. . . .... ... . . ......... . .. .. .. .. . . .. . . . .. 96

Propostas para a mudança de atitudes práticas pastorais . . . . .. . . . 97

A terceira parte do Segredo de Fátima.... . . . . . . ........ .............. ........ 99

Diocese de Leiria.Fátima (Missas binadas e trinadas - Estipên·

dws entregues em 1999 ..... . . . . . . . . . . . .......................................... 123

Actos Episcopais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125

A beatificação dos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto......... 126

Comunicado da reunião dos vigários da vara............................. 135

A vigararia de Ourém em 1998/ 1999 .............. "......................... 137

Vida Eclesial . . . . . . .. ... .. .. . . . . . . .. . .. . .. . . . . . . . . .. . . . . . .. . . ... . . .. ,... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139

Processo de beatificação de Luísa Andaluz... . . . . . . . . . ...... . . . . . . . ........ 143

Ouro: os dinheiros do Santuário de Fátima................................ 144

Ofertórios na Diocese .. . ....... ... ... :........................ . ......................... 151

Remodelação das vigararias . .. . .. . . . . . .. .. . .. .... . .... .... . . ... . . . .. . . . . . . . . . . . . .. 156

Objectivos principais no Ano Pastoral 2000·2001....................... 157

"De coração saúdo toda a Diocese de Leiria·Fátima". ......... . . . . . . . . 159

o JUBILEU: «UM ÚNICO E ININTERRUPTO

CANTO DE LOUVOR À SANTÍSSIMA TRINDADE»

Nos nossos dias, dizer que há dois mil anos Deus se fez homem e veio habitar no meio de nós, é uma provocação, e para nós crentes, uma ousadia que só a fé garante. E no entanto, por mais paradoxal que seja, nós projectámos a nossa vida sobre esta convicção.

Por isso, proclamamos com entusiasmo: Deus montou a sua tenda no meio de nós, assumindo plenamente a nossa existência: foi criança e adolescente como nós. São Lucas diz que «crescia em sa­bedoria, idade e graça diante de Deus e dos homens. (2, 51-52), e depois do episódio do Templo, conta-nos que Jesus era obediente a seus pais. Da Sua juven tude não falam os evangelhos mas da Sua vida adulta, conhecemos bem os factos pelos quais, na Sua pessoa, Deus revelou a verdade e a seriedade do seu amor por nós até acei­tar o sacrifício de Seu Filho na Cruz, ressuscitando-O depois para que conste e seja anunciado a toda a criatura o Evangelho da divi­na loucura.

O jubileu faz-nos regressar a este essencial da Revelação e da Fé, anunciando-nos um ano de alegria: em Cristo contemplamos o que não foi possível a Moisés (Ex 33, 20), podemos ver no Seu rosto a glória do Pai; e o este mistério continua na história: a Incarnação não está retida no passado ou encerrada na memória do tempo, ela, pelo nosso mistério, emerge no tempo sobre o altar ou noutro gesto sacramental.

O Jubileu, embora centrado sobre o mistério da Incarnação, é pri­meiramente, um hino de louvor à Trindade. Diz-nos João Paulo II: «celebrando a Encarnação, nós temos os nossos olhos fIxos no mistério da Trindade. Jesus de Nazaré, revelador do Pai, realiza o desejo de co­nhecer a Deus, escondido no mais íntimo do coração do homem •. Sem a revelação de Jesus não teríamos conhecimento da paternidade de Deus, quando muito, falaríamos de uma genérica criação; sem o re­gresso de Cristo ao Pai não teríamos recebido o Espírito Santo e sería­mos ainda órfãos. Assim, propõe o Papa, este ano deve ser «um único e ininterrupto canto de louvor à Santíssima Trindade. (1M 3).

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Três questões para nossa meditação nesta manhã para que te­nha mais profundidade a nossa gratidão e o nosso louvor: Cristo e o sentido da vida; o Espírito Santo e o protagonismo na Igreja; Deus Pai e o sentimento de orfandade da nossa cultura.

1 - Vidas sem sentido ou a necessidade de um

encontro pessoal com Cristo

A nosso cultura levanta todos os dias e em todas as suas expres­sões (cínema, píntura, escultura, literatura, etc.), a questão amarga do sentido da vida: de que modo Cristo é, ou então, como descobrir n'Ele a resposta a esta pergunta maior da existência humana? Um dado é ab­solutamente certo: em Cristo, Deus não só fala ao homem como o pro­cura. A Incarnação do Filho de Deus testemunha precisamente este busca do homem por parte de Deus, fazendo-nos compreender que es­ta Sua solicitude é gratuidade pura que brota do Seu amor (TMA, 7).

1.1 A história de Jesus de Nazaré

«Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre .. (Hb 13,8). Este é o refrão do grande canto de louvor que é o jubileu. Cristo não é per­sonagem de um passado longínquo mas provocação maior para os nossos dias, determinando o presente de muitos e o futuro de todos. Foi assim no passado: o Ocidente, nestes últimos dois mil anos, é in­compreensível sem Cristo e a história d'Ele, nós o acreditamos pro­fundamente, é o ponto de partida e de chegada que dá sentido ao peregrinar da humanidade rumo à plenitude definitiva na casa do Pai. Em Cristo, a história da humanidade e de cada um de nós, po­de ganhar sentido se nos deixarmos iluminar pelo Seu mistério.

E que mistério é este? Para Paulo, é o desvendar dos planos do Pai, dados a conhecer «na plenitude dos tempos .. (Gal 4,4). Pela En­carnação nós começámos a descobrir «a amplitude e a largura, a al­tura e a profundidade .. (Ef 3,18) dos desígnios divinos na sua admirável condescendência para connosco (São João Crisóstomo fa­la de acomodação: synkatábasis (cfr. DV, 13). Podemos dizer que a Trindade decide jogar tudo, empenhandO--:se pessoalmente pelo ho­mem. Ao viver a nossa vida, revela-Se a Si Mesma e revelando-Se

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num rosto hurnano--divino, ilumina o mistério da nossa existência: donde vimos e para onde vamos; porque somos assim, pequenos e grandes, pecadores mas sedentos de bem e de verdade, às escuras mas buscando a luz. Desta vez, o Pai não suscitou mais um profeta, mas acolheu, no mistério sublime da intimidade trinitária, a dispo­nibilidade do Seu Filho Bem-amado. Com o «eis-me aqui!» (Sal 39) da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade começou a festa: a his­tória conhece o seu fim, o homem o seu destino e humanidade encon­tra o caminho de regresso à casa do Pai.

1.2 Dois mil anos de espanto e de negação

Como Santo Anselmo, entre o espanto e a contemplação, tantos homens e mulheres se perguntaram, porque é que Deus se fez ho­mem? (e nós poderíamos ficar por aqui... mais do que falar, importa adorar . . . mas porque acreditamos, ousamos erguer a voz!). Então, à luz da revelação, só uma resposta é legítima: Deus fez-se um de nós porque ama e quem ama busca o amado para a ele se entregar em total gratuidade. Isto não o aprendemos por experiência própria mas vimo--lo realizado na vida do próprio Cristo.

Mas o espantoso é ver este amor imenso permanentemente con­frontado com a recusa do homem -- com a minha recusa -- este é o drama de hoje e de sempre. Contudo Deus não "cruza os braços", as­sume esta mesma recusa e transforma-a em expressão total do Seu amor -- gratuidade absoluta -- desde então, o Seu amor por nós ga­nha um novo sentido: é amor salvífico, é um convite permanente à reconciliação, ou melhor, é um convite a deixarmo--nos reconciliar com Deus, a não recusar o Seu amor e o Seu perdão (2Cor 5,20). De repente, na história invertem-se os papéis: já não é o Homem que -procura Deus mas Deus que procura o homem, qual pastor em bus­ca da ovelha perdida (Lc 15).

Assim, se alguém quiser encontrar o sentido da história saiba que na Incarnação de Cristo, Deus nos precede, pois antes que nós o procurássemos já Ele tinha saído ao nosso encontro. Mais, fora deste encontro não há notícias nem é possível cumprir o desejo profundo do coração humano. Como diz o Concílio: «o Filho de Deus uniu-se de certo modo a cada homem. Trabalhou com mãos humanas, pen-

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sou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou­-se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, excepto no pecado» (GS 22). Pelo próprio facto de assumir a nossa humani­dade, torna evidente o sentido da criação e o destino último do ho­mem. Se o homem quiser encontrar Deus,já sabe onde encontrá-Lo, e se ainda não sabe, essa é a razão de ser da Igreja. Por esta, Deus, em Cristo, fez-Se à estrada por onde todos nós passamos.

A actualidade da Encarnação exprime-se assim no anúncio pe­rene que a Igreja faz deste mistério, vivendo dele e para ele; ao man­ter viva a memória da Encarnação na história, a Igreja proclama a sua fé que é mais que recordação saudosista ou simples evocão de um passado remoto, e ao fixar nele o nosso olhar (1M 1), a Igreja ex­perimenta os frutos da salvação, oferecendo a todo o crente. É nesta tensão provocada pela contemplação deste mistério vivo que a nossa vida se aclara e se torna mais compreensível, principalmente diante do sofrimento e da morte.

Quando Jesus pôs a questão do sentido a dar à Sua vida, colo­cou-a no ãmbito da sua íntima relação com o Pai: voltou-se para Ele em ardente oração e, como sempre fazia, entregou-Lhe confiadamen­te a Sua vida, «por nós e pelos nossos pecados». Subindo à Cruz, liber­tou-nos da sua escravidão; aceitando morrer por nós, destruiu o poder da morte; ressuscitando ao terceiro dia, proclamou a força e a radica­lidade do Amor que é mais forte que o pecado, o mal e a morte. Assim, a quem acredita no Seu «Filho muito amado», o Pai também o ressus­citará (lCor 15, 35-58). Este é o desafio maior para o nosso tempo marcado pela técnica e pelo cepticismo. Este é o novo ponto de parti­da; aqui está a novidade absoluta do Deus de Jesus Cristo.

Certos deste amor que vence a morte e nos impele ao testemu­nho, somos convidados a trabalhar para fazer emergir na nossa vida e na vida social, «sinais novos» cheios de sentido que possam resti­tuir a esperança ao mundo. Estes serão sempre uma antecipação da plenitude que esperamos e que pela acção do Espírito Santo começa­mos aqui a saborear como Dom e Tarefa. Isto, porque é preciso dar rosto humano e eclesial à condição de baptizados; porque é impossí­vel negar ou ficar indiferente à solicitude do Pai por todos nós, Seus filhos, a começar pelos mais fracos que vivem marginalizados, na so­lidão ou em tantas outras situações que humilham a vida humana.

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2 - O protagonismo na Igreja ou a necessidade de se deixar conduzir pelo Espírito

São Paulo diz-nos que «ninguém pode dizer que Jesus é Senhor senão sob a acção do Espírito Santo» (ICor 12,3). Portanto, o Espíri­to Santo não é uma apêndice do mistério da fé cristã mas é o seu cen­tro. Na evangelização da Igreja, são palavras de João Paulo II, «o Espírito precede, acompanha e segue a missão», isto é: Ele é a alma, o coração, Ele é o verdadeiro «protagonista da missão».

Mas como falar do Espírito? Os nossos irmãos orientais dizem que é mais fácil invocá-Lo que falar d'Ele. O Espírito Santo é graça que vem do amor do Pai e do Filho, perante o Qual somos convida­dos a uma atitude de acolhimento e de contemplação maravilhada. João Paulo II afirma que «a Igreja não pode preparar-se para a ce­lebração bimilenária do nascimento de Jesus senão no Espírito San­to. O que por obra d'Ele se cumpriu na plenitude dos tempos, só por meio d'Ele pode agora emergir na memória da Igreja» (TMA, 44). Ci­tando Balthasar, podemos dizer que o Espírito Santo é «o grande Desconhecido que vem depois do Verbo».

2.1 A Pessoa do Espírito Santo

Conhecemos Cristo; por Ele, Deus fala à humanidade de todos os tempos; n'Ele e com Ele o Pai age de modo compreensível aos nos­sos olhos. Os Evangelhos, embora não pretendendo traçar uma biblio­grafia de Jesus, dão-nos um conjunto de dados históricos que nos permitem delinear os contornos da Sua vida e da Sua personalidade mas do Espírito Santo não sabemos os contornos e ainda para mais, Ele parece-se tão pouco com o que conhecemos; de facto, na Sua rea­lidade mais profunda, na Sua identidade, no Seu mistério, Ele per­manece «o Desconhecido» que vem depois de Jesus.

A teologia do passado tem, por certo, as suas responsabilidades: faltou reflexão sobre a Terceira Pessoa da Santíssiroa Trindade e por isso faltou também a provocação necessária para descobrirmos sem­pre mais as riquezas por Ele oferecidas à vida dos crentes. O esque­cimento do Espírito Santo, reduzind<Hl ao campo da espiritualidade, não só não enriqueceu a teologia como não imprimiu vitalidade e cria-

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tividade à vida das comunidades cristãs. A teologia foi-se afastando do seu campo específico na ilusão de se comparar às outras ciências e a espiritualidade foi-se acomodando à repetição de práticas secu­lares, esquecendo a força da profecia. Só nesta última década se tem feito um esforço para recuperar o lugar central que é devido ao Espí­rito Santo.

Na dificuldade para exprimir o mistério do Espírito Santo, a Sa­grada Escritura fala preferentemente de «ruah .. : palavra hebraica que significa sopro, ar, espírito, vento, respiração ... Nas palavras de Jesus, segundo João, diz-se que «se ouve a sua voz mas não se sabe de onde vem nem para onde vai .. (3,8): percebe-se a sua presença e a sua força, mas não se sabe dizer mais porque está envolvido no mis­tério da vida de Deus.

a concílio de Constantinopla (Credo), ajudou-nos a explicitar um pouco mais o seu mistério: «É Senhor que dá a vida ... E o nosso pensamento vai instantaneamente até às primeiras páginas da Bí­blia, onde o Espírito «pairando sobre as àguas .. (Gn 1,2) dá rosto, for­ma e vida à intenção criadora de Deus. Por sua vez, o salmista canta: «da Palavra do Senhor nascem os céus e do sopro da Sua boca, o Seu exército .. (33,6). a Espírito é o sopro que sai da boca de Deus: Ele tu­do cria, dando vida. É bem expressivo o fresco de Michelangelo na Capela Sistina: o dedo de Deus passa rente ao de Adão. É o dedo de Deus que criou todas as coisas (Sal 8,5); é também o dedo de Jesus que «expulsa os demónios .. (Lc 1 1,20) e é também o dedo da mão di­reita do hino Veni Creator, o qual dá vida ao homem. É tal a depen­dência de toda a criatura do Espírito que Job chega a dizer: «se Deus chamasse a Si o seu Espírito, se concentrasse em Si o seu sopro, tu­do morreria no mesmo instante e o homem voltaria ao pó da terra .. (34,14). Numa palavra, o Espírito Santo é potência e força de Deus, por meio d'Ele tudo recebe vida e chega à plenitude.

2.2 O Espírito Santo na História da Salvação

a Espírito é, de facto o protagonista de toda a história da salva­ção. Nos profetas a sua acção tornou-se visível. Possuídos pelo Espí­rito, eles são a .boca» mediante a qual Deus faz ouvir a Sua voz. Mas é em Cristo que a Sua acção se realizada plenamente. Escreve São

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Gregório Nazianzo: «Cristo nasce e o Espírito O precede; é baptiza­do e o Espirito d'Ele dá testemunho; é tentado e o Espirito condu-Lo à Galileia; realiza milagres e Espirito acompanha-O; sobe ao céu e o Espírito Santo sucede-O» (Discorsi, XXX, 29).

Jesus possui em plenitude o Espírito Santo e àqueles que n'Ele acreditam faz descer sobre eles a abundância dos seus dons. Foi as­sim no Cenáculo, aos discípulos estupefactos diz: «recebei o Espírito Santo» (Jo 20,22). Mas o Espirita nâo é autónomo, como se pudesse ou quisesse agir sozinho. Jesus diz que «Ele tomará do que é d'Ele para no-Lo anunciar (Jo 16,14-15). Ou seja, Ele vem para que pos­samos compreender e viver o que Jesus revelou. O Espírito não tem um conteúdo próprio; este só pode ser aquele que a Palavra pronun­ciou, tendo--o ouvido junto do Pai. Mas a inteligência do mistério nem por isso é menos importante que o conteúdo. Aquela é sinal que a Igreja caminha na busca da verdade plena prometida pelo seu Se­nhor, é prova que Ele éstá connosco e nos acompanha no peregrinar da fé através do Seu Espírito, no qual «vivemos, nos movemos e exis­timos» (At 17,28).

A Igreja, presente no grupo dos discípulos, nasce da efusão do Espirito Santo, prefigurada no lado aberto do Senhor sobre a Cruz. Pela força do Espírito ela torna-se capaz de ser testemunha da Res­surreição e como Jesus tinha inaugurado a sua missão pública com a pregação da conversão e do perdão, assim Ela, percorrendo os mes­mos caminhos, pela voz de Pedro, no seu primeiro discurso (At 2, 14), anuncia a conversão e convida à fé no Seu Senhor.

Se Babel é sinal de divisão, fruto do pecado, o Pentecostes é si­nal de união por meio do Espírito. Se a divisão cria medos e descon­fianças e eleva muros, o Espírito de Cristo, abre portas, vence medos e faz da diversidade um bem para todos. Cumpre-se assim a profe­cia de Joel: todos hão-de receber o dom do Espírito o qual a todos congregará num único Povo.

Como tinha acontecido com Cristo, assim o Espírito fez com a Igreja. É Ele que revela aos apóstolos onde devem ou não ir (At 16, 6-10); é Ele que concede a cada um os carismas necessários para a construção da comunidade (ICor 12,7); é Ele que dá aos discípulos as palavras necessárias para sua defesa em tribunal (Lc 12, 11-12); é Ele que permite a Estevão dar o testemunho supremo do Ressus­citado (At 7); é Ele que inspira os autores sagrados a pôr por escri-

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to os Evangelhos e os ensinamentos dos Apóstolos; é Ele que guia o incessante transmitir do que não foi escrito, mas que constitui a «regula fidei»: a fé de sempre e de todos; É Ele, o Espírito de Ver­dade, que nunca abandona nem abandonará a Igreja, permitindo a todos os crentes viverem deste «sentido da fé» CLG 12) ou «sensus fidelium» , a fim de que todo o Povo de Deus saiba em que consiste a fé e os pastores unidos a Pedro> interpretem o Evangelho na ver­dade.

Deste modo, toda a vida da Igreja se desenvolve em obediência ao Espírito do Senhor. O Apóstolo recorda-nos que na própria vida de oração, nós «não sabemos pedir como convém; é o Espírito que in­tercede por nós com gemidos inefáveis» CRm 8,26). Mas a Sua Obra torna-se ainda mais evidente na liturgia e especialmente na Euca­ristia, onde no momento da epiclese - evocação sobre os dons - se dá a expressão máxima da sua acção: «enviai Senhor o Vosso Espí­rito . . . para que santifique os dons que vos apresentamos». Sem Ele só teríamos pão e vinho, e o mesmo aconteceria em cada um dos ou­tros sacramentos. A grandeza do Espírito em toda a acção litúrgica, manifesta-se no obedecer à palavra do ministro que o invoca para que transforme a matéria do sacramento. De um certo modo, é pos­sível ver quase uma «kénosis» do Espírito Santo não só porque obe­dece ao ministro como se torna visível na sua Igreja mesmo ao nível institucional.

2.3 O Espírito de verdade é fonte de esperança

O Espírito é condescendência de Deus para que possamos aco­lher em nós a verdade da Pessoa de Jesus Cristo e o mistério do Amor de Deus Pai. Esta é uma verdade que toca em primeiro lugar a nos­sa existência. Num tempo como o nosso, caracterizado pela fragmen­tariedade da verdade, só a abertura ao mistério de Cristo nos pode dar a plenitude que, mais que uma conquista da razão, é acolhimen­to gracioso da iniciativa amoroso do Pai. Fides et ratio indica este ca­minho, tanto a crentes como a não crentes.

A esta luz podemos distingir entre o que é fruto da fé e o que é produto ideológico. Deste modo resistiremos melhor às leituras an­gustiadas e desesperadas da vida e do futuro, dentro e fora da Igre-

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ja. Perante uma sociedade envelhecida que não acolhe a vida por­que incapaz de projectar o futuro; perante o homem pós-moderno incapaz de decisões corajosas porque tem medo do futuro, ele que apostou em gozar o presente, embora sabendo que não o controla e por isso mesmo lhe irá fugir; perante uma cultura que se apegou a um conceito de «progresso» que tantas vezes é decadência, que se apegou a uma nostalgia onde a tradição foi substituída pela segu­rança, a esperança pelo medo e se esqueceu que a tradição ou é vi­va e produz futuro ou então não é nada, só a acção dos crentes, sabendo-se animados pela esperança de Cristo Ressuscitado, abri­rá caminhos novos, à imagem dos profetas.

O Espírito é a eterna frescura de Deus que nos visita no meio das dificuldades; Ele revela a permanente juventude da Igreja e abre­-nos a mente e o coração para os sinais que coloca no nosso caminho. Para Ele se deve dirigir o nosso olhar e com Ele deve sintonizar o nosso coração para que possamos ser sinal de esperança no nosso mundo. «Esperar contra toda a esperança .. é o desafio da fé e o con­vite do Espírito que fala às Igrejas no Apocalipse (2-3).

O Espírito é o verdadeiro protagonista do projecto do Pai na his­tória, em todas as suas fases, tempos e lugares. Cada um de nós só se pode compreender do Seu lado e ao Seu serviço. Por isso, somos convidados a inventar «sinais novos .. que tornem evidente a nossa esperança na ressurreição de Cristo. Não obstante as sombras do nosso tempo, somos discípulos de um Deus que é fiel às suas promes­sas. Nós próprios, pelo nosso ministério, somos sinais desta divina fi­delidade. Por isso, vivamos com entusiasmo, em obediência às moções do Espírito Santo.

3 - Uma cultura sem Deus ou a descoberta do rosto misericordioso do Pai

Que significa para nós cristãos dizer que Deus é Pai? Em primeiro lugar queremos afirmar a total gratuidade da nos­

sa existéncia: ninguém escolhe os pais, todos nos «tornámos filhos». E somo-lo por uma escolha de Deus Pai. Somos fruto do Amor do Pai e do Filho que foi derramado em nossos corações pelo Espírito San­to, nas palavras de Paulo, e nas de João: «vede que prova de amor

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nos deu o Pai: sermos chamados filhos de Deus. E nós somo--Io!» (lJo 3,1). Ser filho de Deus é realidade, não é fantasia mítica. Estamos em íntima relação com Ele porque recebemos a Sua vida. E não há bem mais precioso que a vida, daqui se intui a dimensão desta gra­tuidade, que é a do próprio ser (ontológica): na água do baptismo ca­da um de nós nasceu para uma nova vida, com uma nova condição, podendo então e de verdade, chamar a Deus seu Pai. Não se nasce «filho de Deus» , não é um direito ou imposição da natureza, é pura

. graça e puro chamamento à participação da condição do Filho Uni­génito.

Como consequência, chegamos naturalmente à gratidão: quem crê, diz São Cipriano, deve começar a sua oração pelo agradecimen­to a Deus e .. exultar no Espírito Santo» como Cristo pelos desígnios insondáveis do Pai, disponibilizando--se para cumprir a Sua vonta­de. O primeiro motivo de gratidão é o dom de Seu Filho, no qual nos tornámos filhos e herdeiros.

Depois, descobrimos na radicalidade da renúncia ao pai terre­no a grandeza do dom recebido: Jesus toca os laços mais profundos das pessoas ao colocar-se acima das laços familiares, como centro e critério de verdade e de juízo. O Próprio Cristo dá testemunho pon­do o Pai acima de tudo, obedecendo sempre à Sua vontade. Deus é o .. único necessário» da vida, dizia Blondel, porque é a última condi­ção para aceder ao sentido da existência para além de toda a contra­ditoriedade e limitação humanas.

Assim começamos a entender a paternidade divina: Deus é nos­so Pai. Com o conceito «pai» a antiguidade exprimia já uma certa ideia de criação: Zeus era pai dos deuses e pai de todos os homens. O termo pai também não é desconhecido do Israel antigo, significando então a omnipotência com que Deus rege o universo e «cria» o seu Po­vo, por isso, pai de todo o Povo: Israel é definido como o primogénito de Adonai (Es 4, 22; Mal 2,10). No entanto, nunca o crente israelita se dirige a Deus chamando--Ihe pai. Embora se fale de Deus com a ternura de uma mãe (Os 11,1-9), nunca o Povo de Israel chega à cons­ciência que todos somos irmãos. Esta é a originalidade do Novo Tes­tamento: por revelação de Cristo vemos que Deus se identifica redimensionando o conceito de pai. Jesus usa três expressões: «meu», é todo os mistério da Trindade Santa: só Ele é Filho! É por Ele que nos chega o Pai e o Espírito Santo; �<DOSSO)}, Cristo nunca o pronún-

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cia, é próprio da reunião dos discípulos (Pai Nosso); «vosso» exprime a solicitude amorosa de Deus para com os seus filhos (manhã da res­surreição: Jo 21,17).

Finalmente e em resposta, somos convidados a agir como filhos: «tal pai tal filho», diz o ditado popular. Esta dignidade exige um com­portamento consequente, seja na relação com Deus seja na relação com os irmãos, a começar com os mais pobres, até porque, radical­mente, todos nós somos pobres aos olhos de Deus.

3.1 Uma cultura que rejeita o Pai?

Mas o que significa esta concepção da paternidade numa cultu­ra que se orgulha das suas tradições e insiste para que o homem se­cularizado viva como se «Deus não existisse»?

Nos tempos que correm, mais do que salientar a busca de Deus por parte do homem - constante da experiência humana em todos os tempos e lugares - importa insistir mais, muito mais, naquela que é a lógica profunda da Revelação: Deus, como no passado as­sim hoje, continua a sair à procura dos homens. Afirma o Papa: «em Jesus Cristo Deus não só fala ao homem, como o procura. A Encar­nação do Filho de Deus testemunha que Deus procura o Homem» (TMA 7).

E porque procura o homem? Porque este, iludindo-se, pensa que não precisa de um pai. Aqui tocamos um dos temos cruciais da nossa situação cultural: rejeita-se a paternidade porque se pensa que tal comporta uma situação de vassalagem (menoridade). A pre­sença do pai é vista como impedimento grave à autonomia e capaci­dade de decisão livre por parte do filho; este sente-se dependente e constrangido perante aquele. Nesta óptica é natural que queira cor­tar o laço umbilical que não o deixa em condições de conduzir a sua vida . À volta desta questão construíram-se muitas teorias psicoló­gicas (Freud e a sua teoria da origem do Cristianismo) por exemplo e muitos movimentos filosóficos (a autonomia do homem através da libertação progressiva de toda a fé e de todo o conhecimento que nos vem por revelação). Heidegger diz mesmo que se o homem quer ser ele mesmo deve realizar a grande escolha: «o acto subjectivo com o qual impõe a partir de si mesmo uma imagem ao mundo. Para isso,

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o homem deve desvincular-se da obrigatoriedade da verdade cristã e da doutrina da Igreja, buscando uma legislação autónoma e auto­suficiente" (L'epoca dell'immagine dei mundo, 94).

Livre de todos os laços que o pudessem subjugar, sobretudo da obediência a Deus, este homem lançou-se numa longa e louca aven­tura que julgava ser o princípio de um tempo novo de liberdade e con­tudo o que aconteceu foi ver-se no meio de um pãntano, incapaz de mover-se, perdido entre a irrelevãncia relativista das suas afirma­ções absolutas e do endeusamento sucessivo do efémero.

Amargamente, este homem parece hoje regressar mais humil­de - isto é: cada um de nós - mas ainda sem capacidade para enten­der que não é rejeitando os limites que nos tornamos autónomos mas é sabendo-os acolher que superamos os limites da existência. A der­rotar permanentemente as nossas ilusões de infinito, está o mistério da morte; só acolhendo a filiação divina, nos descobriremos eleitos, com parte na vida divina, condição essa que ultrapassa todos os li­mites do possível e do imaginável.

3.2 Acreditar em Deus, segundo a perspectiva de Jesus Cristo

Importa retornar a Deus, não segundo o «equívoco da moderni­dade" (Guardini) mas segundo a «perspectiva de Jesus Cristo" como nos diz João Paulo II (TMA 49). Sem Cristo, Deus é um concorrente e um obstáculo que impede a minha felicidade e liberdade. Só n'Ele, calando a nosso mente e acolhendo em nós a revelação que Deus fez de Si mesmo, se pode ter conhecimento adequado de Deus ainda que envolvida em mistério (FR 15).

Em que consiste esta «perspectiva de Cristo»? Entre tantos ou­tros aspectos, talvez seja de fundamental importância redescobrir hoje que Deus é Pai rico de misericórdia, como recordava o papa na sua encíclica com o mesmo nome, e que é a expressão genuína do ju­bileu. O termo misericórdia indica-nos O caminho: é amor que che­ga ao perdão! Esta imagem de Deus vê-se esplendidamente retractada nas parábolas da misericórdia (Le 15). Naquela a que da­mos o nome de «filho pródigo» (11-32) quem mais se salienta não são os filhos; mas sim o Pai. Pela nossa parte, bem sabemos como agimos:

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o JUBILEU

queremos a divisão da herança, queremos gastar, consumir e gozar; queremos desfrutar quanto recebemos, e hoje então não faltam opor­tunidades, umas mais subtis que outras, para saciar esta sede, des­de os divertimentos à posse de bens .. . Além disto, vivemos também a condição do outro fIlho que na sua inveja e ciúme, não quer com­preender o perdão do Pai.

Contudo, o coração do Parábola não está nos fIlhos, mas no Pai: Ele é que é o protagonista. Nós, sempre distraídos ou talvez iludidos, pensando que devemos estar sempre no centro das atenções, preten­demos o reconhecimento mesmo que seja sublinhando os nossos pe­cados. E no entanto o centro, não somos nós ou os nossos pecados, mas sim a infinita misericórdia do Pai:

- é Ele que divide o que é Seu com o fIlho que o quer deixar (Ele respeita-nos e deixa-nos livres);

- é Ele que sai ao encontro do fIlho, abraçando-o e beijando--o (não só sabe esperar como vê longe: conhece o coração do fIlho e antecipa o tempo do regresso; não o deixa falar porque o ama: é seu filho);

- é Ele que diz aos servos: façamos a festa porque este meu fi­lho estava morto e voltou à vida;

-é Ele que sai a pedir ao fIlho mais velho que regresse (este não está convencido do amor do Pai apesar de ter vivido sempre com Ele);

A misericórdia é pois a capacidade de amar ao ponto de recome­çar tudo desde o princípio. Esta é a imagem do Pai de Jesus: é Aque­le que anda sempre à nossa procura, sem descanso, porque nos ama. Esta é, por excelência, a missão da Igreja: tomar evidente - tangivel a todo o homem - a misericórdia de Deus Pai.

Pe. Armindo Janeiro

Nota: Este texto foi preparado para a recolecção mensal do Cle­ro. Fátima, 5 de Junho de 2000.

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o JUBILEU NA DIOCESE Entre as muitas celebrações jubilares que se fizeram ou se en­

contram em agenda na nossa Diocese, podemos registar as peregri­nações à Terra Santa (Dezembro 99) e Roma (Julho 2000), sob a organização da Comissão Diocesana, e as peregrinações das vigara­rias e de outros grupos à Sé e a Fátima.

O Jubileu dos Jovens em Roma (15-20 de Agosto) terá a pre­sença de muitos jovens de Portugal, com o seu Bispo.

Por sua vez o Clero vai peregrinar no dia 5 de Outubro desde a Sé até Fátima.

Ao comemorarmos o Nascimento do Salvador, estamos a fazer Festa, mas sobretudo a reforçar e testemunhar as razões da nossa Fé.

O ano jubilar continua até 6 de Janeiro 2001. Estão previstas e são desejadas outros actos jubilares, de grupos como os desportistas, e de comunidades como as religiosas e paroquiais.

Recomendamos também as Exposições sobre a Pessoa de Jesus Cristo, como a do Porto (aberta até 17 de Setembro) e a de Ciudad Ro­drigo (de 12 de Agosto até 22 de Outubro).

NOTÍCIAS BREVES:

As crianças de Portugal ofereceram às crianças de Angola muito material escolar. No dia 14 de Julho foi enviado um contentor (30 metros cúbicos) com centenas de milhares de cadernos e esferográficas. No início do ano escolar/pastoral serão entregues milhares de assinaturas aos Dirigentes de Organizações Na­cionais e Internacionais que podem intervir a favor da Paz em Angola.

Por proposta do Serviço Nacional de Música Sacra e em cola­boração do Santuãrio, vai realizar-se no dia 14 de Outubro, em Fátima, o Jubileu das Filarmónicas e dos Coros Litúrgicos. Nos princípios de Agostojá se registavam mais de 7.000 inscrições.

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PROPOSTAS PARA A MUDANÇA DE ATITUDES

PRÁTICAS PASTORAIS Conclusões da Formação

Permanente do Clero em 1999

I. O ACONTECIMENTO

Em 1999, nas duas sessões da formação permanente do clero, foi abordado o tema "A Igreja na Sociedade de hoje em mudança". A análise da história da Igreja, universal e em Portugal, permitiu verifi­car que as comunidades cristãs em cada época reagiram com uma es­tratégia ofensiva ou defensiva, combativa ou de acomodação, consoante as circunstancias internas e externas. A perspectiva da teologia trouxe a consciência de que, à luz da fé, a Igreja é, no seu próprio ser, sacra­mento, isto é, sinal e instrumento de Jesus Cristo para os homens e fer­mento da presença e acção de Deus que ama e oferece a cada pessoa a participação na Sua própria vida.

A análise da sociedade complexa em que vivemos pennitiu a cla­rificação de que nela a Igreja precisa de assumir um papel profético: testemunhar e anunciar, por obras e palavras, os horizontes de vida e de esperança patentes no Evangelho. A figura do padre, nas presentes circunstancias sociais e eclesiais, deverá enriquecer-se com novas di­mensões e dinamismo. O padre não poderá ser um homem só, nem na vida nem no exercício do ministério. A comunhão com Deus, com os ou­tros padres e com os leigos, e a abertura e diálogo com todos, fazem de­le um homem eclesial mediante O qual Deus se comunica abundantemente aos outros.

A quase totalidade do clero participou nos dois turnos de formação. O primeiro ocorreu no final de Outubro, no Porto. O segundo teve lugar em Fátima, de 15 a 19 de Novembro. O Bispo da Diocese, D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, acompanhou pessoalmente ambos os cursos. Do programa, além do estudo, fizeram parte a oração e celebração comunitá­ria, um passeio cultural e o convívio, tornando o curso uma rica experiên­cia de vida em presbitério, que muito animou os padres, dando-lhes um entusiasmo renovado para continuar a sua missão.

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PROPOSTAS PARA A MUDANÇA DE ATITUDES

II. AS CONCLUSÕES

L O desejo e a disponibilidade para a mudança de atitudes e de práticas pastorais são condições indispensáveis, para tornar mais frutuoso o serviço da Igreja aos homens e mulheres de hoje. A mudan­ça, para ser verdadeiramente construtiva requer um equilíbrio entre a fidelidade à Tradição e a audácia para inovar. Tal empenho não se faz sem pessoas revestidas de esperança.

2. A urgência da planilcação, na diocese, na paróquia e nos mo­vimentos e serviços, e do empenho prioritário na evangelização e na catequese de adultos estão também entre as principais conclusões.

3. Para operar as mudanças, os padres reconhecem a necessidade de se renovarem, pelo cultivo da vida espiritual, a abertura à cultu­ra actual, a promoção da corresponsabilidade e colaboração dos fiéis leigos e no pensar e avaliar a acção pastoral com os colaboradores.

4. É importante o encontro mais frequente entre os padres, pa­ra reforçar os lacos de amizade e de comunhão dentro do mesmo presbi­tério. Para isso, constituem ocasiões propícias as ordenações, a missa crismaI, as assembleias do clero e outros momentos, desde que se dê o tempo devido para estar com os outros e participar na refeição comum, sem se deixar dominar pela preocupação com as tarefas por fazer.

5. Aproveitem-se as tardes de recolecção mensal e as reuniões vicariais para a formação e reflexão pastoral. Além da assembleia do clero que se faz em Maio, realize-se mais uma ou duas, por ano, para a reflexão pastoral elou sacerdotal.

6. É preciso mais coragem, a nível paroquial e diocesano, para mudar O que está mal oujá não é eficaz e melhorar os serviços e inicia­tivas pastorais. Importa que cada padre ponha mais coração no que faz e tenha a coragem de assumir uma vida mais simples, com uma espiri­tualidade mais profunda. Igualmente enriquecedor e pastoralmente fru­tuoso é o maior convívio e comunhão com os fiéis leigos e a entreajuda pessoal e pastoral dos presbíteros entre si.

Ao longo do ano, conforme desejo expresso Pêlos participantes, as conclusões deverão retomadas, em reuniões vicariais e assembleias do clero, para aprofundamento e concretização na vida pastoral da Igreja diocesana.

Leiria, 6 de Abril de 2000

Redigiu estas conclusões o P. Jorge Guarda

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A TERCEIRA PARTE DO SEGREDO DE FÁTIMA

Apesar de já publicado e conhecido, transcrevemos, para efeito de arquivo, os documentos principais concernentes à 3.' parte do Se­gredo de Fátima, a saber:

1 - Apresentação geral pelo Sr. D. Tarcisio Bertone, Secretário da Congregação da Doutrina da Fé.

2 - Texto integral do segredo: 1.' e 2.' parte e 3." parte

3 - Comunicação do Sr. Cardeal Ângelo Sodano, Secretário de Estado de Sua Santidade, em Fátima no dia 13 de Maio 2000.

4 - Comentário Teológico do Sr. Cardeal Joseph Ratzinger, Pre­feito da Congregação da Doutrina da Fé.

l - APRESENTAÇÃO

Na passagem do segundo para o terceiro milénio, o Papa João Paulo II decidiu tornar público o texto da terceira parte do « segredo de Fátima ».

Depois dos acontecimentos dramáticos e cruéis do século XX, um dos mais tormentosos da história do homem, com o ponto cul­minante no cruento atentado ao « doce Cristo na terra », abre-se assim o véu sobre uma realidade que faz história e a interpreta na sua profundidade segundo uma dimensão espiritual, a que é refrac­tária a mentalidade actual, frequentemente eivada de racionalis-mo.

A história está constelada de aparições e sinais sobrenaturais, que influenciam o desenrolar dos acontecimentos humanos e acom­panham o caminho do mundo, surpreendendo crentes e descrentes. Estas manifestações, que não podem contradizer o conteúdo da fé, de­vem convergir para o objecto central do anúncio de Cristo: o amor do Pai que suscita nos homens a conversão e dá a graça para se aban­donarem a Ele com devoção mial. Tal é a mensagem de Fátima, com o seu veemente apelo à conversão e à penitência, que leva realmen­te ao coração do Evangelho.

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A TERCEIRA PARTE DO SEGREDO DE FÁTIMA

Fátima é, sem dúvida, a mais profética das aparições modernas. A primeira e a segunda parte do « segredo ", que são publicadas em seguida para ficar completa a documentação, dizem respeito antes de mais à pavorosa visão do inferno, à devoção ao Imaculado Coração de Maria, à segunda guerra mundial, e depois ao prenúncio dos danos imensos que a Rússia, com a sua defecção da fé cristã e adesão ao to­talitarismo comunista, haveria de causar à humanidade.

Em 1917, ninguém poderia ter imaginado tudo isto: os três pas­torinhos de Fátima vêem, ouvem, memorizam, e Lúcia, a testemunha sobrevivente, quando recebe a ordem do Bispo de Leiria e a autori­zação de Nossa Senhora, põe por escrito.

Para a exposição das primeiras duas partes do « segredo }>, aliás já publicadas e conhecidas, foi escolhido o texto escrito pela Irmã Lú­cia na terceira memória, de 31 de Agosto de 1941; na quarta memó­ria, de 8 de Dezembro de 1941, ela acrescentará qualquer observação.

A terceira parte do « segredo " foi escrita « por ordem de Sua Ex.cia Rev.ma o Senhor Bispo de Leiria e da C,..) Santíssima Mãe ", no dia 3 de Janeiro de 1944.

Existe apenas um manuscrito. O envelope selado foi guardado primeiramente pelo Bispo de Leiria. Para se tutelar melhor 0 « segre­do ", no dia 4 de Abril de 1957 o envelope foi entregue ao Arquivo Se­creto do Santo Ofício. Disto mesmo, foi avisada a Irmã Lúcia pelo Bispo de Leiria.

Segundo apontamentos do Arquivo, no dia 17 de Agosto de 1959 e de acordo com Sua Eminência o Cardeal Alfredo Ottaviani, o Co­missário do Santo Ofício, Padre Pierre Paul Philippe OP, levou a João XXIII o envelope com a terceira parte do « segredo de Fátima ". Sua Santidade, « depois de alguma hesitação ", disse: « Aguardemos. Re­zarei. Far-lhe-ei saber o que decidi ».C')

Na realidade, a decisão do Papa João XXIII foi enviar de novo o envelope selado para o Santo Ofício e não revelar a terceira parte do « segredo }}.

Paulo VI leu o conteúdo com o Substituto da Secretaria de Es-

1. Lê-se no diário de João XXIII, a 17 de Agosto de 1959: _Audiências: P. Phi· lippe, Comissário do 8.º, que me traz a carta que contém a terceira parte dos segredos de Fátima. Reservo--me de a ler com o meu Confessor»,

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A TERCEIRA PARTE DO SEGREDO DE FÁTIMA

tado, Sua Ex.cia Rev.ma D. Ângelo Dell'Acqua, a 27 de Março de 1965, e mandou novamente o envelope para o Arquivo do Santo Ofí­cio, com a decisão de não publicar o texto.

João Paulo II, por sua vez, pediu o envelope com a terceira par­te do « segredo », após o atentado de 13 de Maio de 1981. Sua Emi­nência o Cardeal Franjo Seper, Prefeito da Congregação, a 18 de Julho de 1981 entregou a Sua Ex.cia Rev.ma D. Eduardo Martínez Somalo, Substituto da Secretaria de Estado, dois envelopes: um bran­co, com o texto original da Innã Lúcia em língua portuguesa; outro cor-de-Iaranja, com a tradução do « segredo » em língua italiana. No dia 1 1 de Agosto seguinte, o Senhor D. Martínez Somalo devolveu os dois envelopes ao Arquivo do Santo Ofício. C')

Como é sabido, o Papa João Paulo II pensou imediatamente na consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria e compôs ele mesmo uma oração para o designado « Acto de Entrega », que seria celebrado na Basílica de Santa Maria Maior a 7 de Junho de 1981, solenidade de Pentecostes, dia escolhido para comemorar os 1600 anos do primeiro Concílio Constantinopolitano e os 1550 anos do Con­cílio de Efeso. O Papa, forçadamente ausente, enviou uma radiomen­sagem com a sua alocução.

Transcrevemos a parte do texto, onde se refere exactamente o acto de entrega:

« Ó Mãe dos homens e dos povos, Vós conheceis todos os seus so­frimentos e as suas esperanças, Vós sentis maternalmente todas as lutas entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas, que abalam o mun­do, acolhei o nosso brado, dirigido no Espírito Santo directamente ao vosso Coração, e abraçai com o amor da Mãe e da Serva do Senhor aqueles que mais esperam por este abraço e, ao mesmo tempo, aqueles cuja entrega também Vós esperais de maneira parti­cular. Tomai sob a vossa protecção materna a família humana in­teira, que, com enlevo afectuoso, nós Vos confiamos, ó Mãe. Que se

2. Vale a pena recordar o comentário feito pelo Santo Padre, na Audiência Ge­raI de 14 de Outubro de 1981, sobre .. O acontecimento de Maio: grande prova divina», em: Insegnamenti di Giovanni Paolo II, N-2 (Città dei Vaticano 1981), 40�12; cf. L'OsseroawreRomano (ed. portuguesa de 18-X-1981), 484.

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A TERCEIRA PARTE DO SEGREDO DE FÁTIMA

aproxime para todos o tempo da paz e da liberdade, o tempo da ver­dade, da justiça e da esperança ". (')

Mas, para responder mais plenamente aos pedidos de Nossa Se­nhora, o Santo Padre quis, durante o Ano Santo da Redenção, tornar mais explicito o acto de entrega de 7 de Junho de 1981, repetido em Fátima no dia 13 de Maio de 1982. E, no dia 25 de Março de 1984, quando se recorda o fiat pronunciado por Maria no momento da Anunciação, na Praça de S. Pedro, em união espiritual com todos os Bispos do mundo precedentemente " convocados », o Papa entrega ao Imaculado Coração de Maria os homens e os povos, com expres­sões que lembram as palavras ardorosas pronunciadas em 1981:

« E por isso, ó Mãe dos homens e dos povos, Vós que conheceis todos os seus sofrimentos e as suas esperanças, Vós que sentis ma­ternalmente todas as lutas entre o bem e o mal, entre a luz e as tre­vas, que abalam o mundo contemporâneo, acolhei o nosso clamor que, movidos pelo Espírito Santo, elevamos directamente ao vosso Cora­ção: Abraçai, com amor de Mãe e de Serva do Senhor, este nosso mun­do humano, que Vos confiamos e consagramos, cheios de inquietude pela sorte terrena e eterna dos homens e dos povos.

De modo especial Vos entregamos e consagramos aqueles ho­mens e aquelas nações que desta entrega e desta consagração têm particularmente necessidade.

"À vossa protecção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus"! Não desprezeis as súplicas que se elevam de nós que estamos na prova­çãor

Depois o Papa continua com maior veemência e concretização de referências, quase comentando a Mensagem de Fátima nas suas predições infelizmente cumpridas:

« Encontrando-nos hoje diante Vós, Mãe de Cristo, diante do vosso Imaculado Coração, desejamos,juntamente com toda a Igreja, unir-nos à consagração que, por nosso amor, o vosso Filho fez de Si mesmo ao Pai: "Eu consagro-Me por eles - foram as suas palavras -

3. Radiomensagem durante o rito, na Basílica de Santa Maria Maior, "Venera­ção, agradecimento, entrega à Virgem Maria Theotokos», em: lnsegnamenti di Giovanni Paolo 11, IV-I (Città deI Vaticano 1981), 1246j cf. L'Osservatore Romano (ed. portuguesa de 14--VI-1981), 302.

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A TERCEIRA PARTE DO SEGREDO DE FÁTIMA

para eles serem também consagrados na verdade" (Jo 17, 19). Que­remos unir-nos ao nosso Redentor, nesta consagração pelo mundo e pelos homens, a qual, no seu Coração divino, tem o poder de alcan­çar o perdão e de conseguir a reparação.

A força desta consagração permanece por todos os tempos e abrange todos os homens, os povos e as nações; e supera todo o mal, que o espírito das trevas é capaz de despertar no coração do homem e na sua história e que, de facto, despertou nos nossos tempos.

Oh quão profundamente sentimos a necessidade de consagra­ção pela humanidade e pelo mundo: pelo nosso mundo contemporâ­neo, em união com o próprio Cristo! Na realidade, a obra redentora de Cristo deve ser participada pelo mundo por meio da Igreja.

Manifesta-<l o presente Ano da Redenção: o Jubileu extraordi­nário de toda a Igreja.

Neste Ano Santo, bendita sejais acima de todas as criaturas Vós, Serva do Senhor, que obedecestes da maneira mais plena ao chamamento Divino!

Louvada sejais Vós, que estais inteiramente unida à consagra­ção redentora do vosso Filho!

Mãe da Igreja! Iluminai o Povo de Deus nos caminhos da fé, da esperança e da caridade! Iluminai de modo especial os povos dos quais Vós esperais a nossa consagração e a nossa entrega. Ajudai-nos a viver na verdade da consagração de Cristo por toda a família hu­mana do mundo contemporâneo.

Confiando-Vos, ó Mãe, o mundo, todos os homens e todos os po­vos, nós Vos confiamos também a própria consagração do mundo, depositando-a no vosso Coração matemo.

Oh Imaculado Coração! Ajudai-nos a vencer a ameaça do mal, que se enraíza tão facilmente nos corações dos homens de hoje e que, nos seus efeitos incomensuráveis, pesajá sobre a vida presente e pa­rece fechar os caminhos do futuro!

Da fome e da guerra, livrai-nos! Da guerra nuclear, de uma autodestruição incalculável, e de to­

da a espécie de guerra, livrai-nos! Dos pecados contra a vida do homem desde os seus primeiros

instantes, livrai-nos! Do ódio e do aviltamento da dignidade dos filhos de Deus, li­

vrai-nos!

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A TERCEIRA PARTE DO SEGREDO DE FÁTIMA

De todo o género de injustiça na vida social, nacional e interna­cional, livrai-nos!

Da facilidade em calcar aos pés os mandamentos de Deus, li­vrai-nos!

Da tentativa de ofuscar nos corações humanos a própria verda-de de Deus, livrai-nos!

Da perda da consciência do bem e do mal, livrai-nos! Dos pecados contra o Espírito Santo, livrai-nos, livrai-nos! Acolhei, ó Mãe de Cristo, este clamor carregado do sofrimento

de todos os homens! Carregado do sofrimento de sociedades inteiras! Ajudai-nos com a força do Espírito Santo a vencer todo o peca­

do: o pecado do homem e o "pecado do mundo", enfim o pecado em to­das as suas manifestações.

Que se revele uma vez mais, na história do mundo, a força sal­vífica infinita da Redenção: a força do Amor misericordioso! Que ele detenha o mal! Que ele transforme as consciências! Que se ma­nifeste para todos, no vosso Imaculado Coração, a luz da Esperan­ça! " (')

A Irmã Lúcia confirmou pessoalmente que este acto, solene e universal, de consagração correspondia àquilo que Nossa Senhora queria: « Sim, está feita tal como Nossa Senhora a pediu, desde o dia 25 de Março de 1984" (carta de 8 de Novembro de 1989). Por isso, qualquer discussão e ulterior petição não tem fundamento.

Na documentação apresentada, para além das páginas manus­critas da Irmã Lúcia inserem-se mais quatro textos: 1) A carta do Santo Padre à Irmã Lúcia, datada de 19 de Abril de 2000; 2) Uma des­crição do colóquio que houve com a Irmã Lúcia no dia 27 de Abril de 2000; 3) A comunicação lida, por encargo do Santo Padre, por Sua Eminência o Cardeal Ângelo Sodano, Secretário de Estado, em Fáti­ma no dia 13 de Maio deste ano; 4) O comentário teológico de Sua Eminência o Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação pa­ra a Doutrina da Fé.

4. Na Jornada Jubilar das Famílias, o Papa entrega a Nossa Senhora os ho­mens e as nações: Insegnamenti di Giovanni Paolo II, VlI-1 (Città deI Vati­cano 1984), 775-777; cf. L'Osservatore Romano (ed. portuguesa de l-IV-1984), 157 e 160.

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A TERCEIRA PARTE DO SEGREDO DE FÁTIMA

Uma orientação para a interpretação da terceira parte do « se­gredo » tinha sido já oferecida pela Irmã Lúcia, numa carta dirigida ao Santo Padre a 12 de Maio de 1982, onde dizia:

«A terceira parte do segredo refere-se às palavras de Nossa Se­nhora: "Se não, [a Rússia] espalhará os seus erros pelo mundo, pro­movendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquila­das» (13-VIl-1917).

A terceira parte do segredo é uma revelação simbólica, que se re­fere a este trecho da Mensagem, condicionada ao facto de aceitarmos ou não o que a Mensagem nos pede: USe atenderem a meus pedidos, a Rússia converter-se-á e terão paz; se não, espalhará os seus erros pelo mundo, etc",

Porque não temos atendido a este apelo da Mensagem, verifica­mos que ela se tem cumprido, a Rússia foi invadindo o mundo com os seus erros. E se não vemos ainda, como facto consumado, o final desta profecia, vemos que para aí caminhamos a passos largos. Se não recuarmos no caminho do pecado, do ódio, da vingança, da in·

justiça atropelando os direitos da pessoa humana, da imoralidade e da violência, etc.

E não digamos que é Deus que assim nos castiga; mas, sim, que são os homens que para si mesmos se preparam o castigo. Deus ape­nas nos adverte e chama ao bom caminho, respeitando a liberdade que nos deu; por isso os homens são responsáveis» .

A decisão tomada pelo Santo Padre João Paulo II de tornar pú­blica a terceira parte do «segredo» de Fátima encerra um pedaço de história, marcado por trágicas veleidades humanas de poder e de ini­quidade, mas permeada pelo amor misericordioso de Deus e pela vi­gilância cuidadosa da Mãe de Jesus e da Igreja.

Acção de Deus, Senhor da história, e corresponsabilidade do ho­mem, no exercício dramático e fecundo da sua liberdade, são os dois alicerces sobre os quais se constrói a história da humanidade.

Ao aparecer em Fátima, Nossa Senhora faz-nos apelo a estes valores esquecidos, a este futuro do homem em Deus, do qual somos parte activa e responsável.

Tarcisio Bertone, SDB Arcebispo emérito de VerceUi

Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé

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A TERCEIRA PARTE DO SEGREDO DE FÁTIMA

2 - Texto integral do segredo: L" e 2". Parte

o «SEGREDO" DE FÁTIMA

PRIMEIRA E SEGUNDA PARTE DO .. SEGREDO. SEGUN­DO A REDACÇÃO FEITA PELA IRMÃ LÚCIA NA .. TERCEIRA MEMÓRIA>" DE 31 DE AGOSTO DE 1941, DESTINADA AO BIS­PO DE LEIRIA-FÁTIMA

Tereipara isso que falar algo do segredo e responder ao primei­ro ponto de interrogação.

O que é o segredo? Parece-me que o posso dizer, pois que do Céu tenho já a licença.

Os representantes de Deus na terra, têm-me autorizado a isso várias vezes, e em várias cartas, uma das quais,julgo que conserva V. Ex.cia Rev.ma do Senhor Padre José Bernardo Gonçalves, na em que me manda escrever ao Santo Padre. Um dos pontos que me indica é a re­velação do segredo. Algo disse, mas para não alongar mais esse escri­to que devia ser breve, limitei-me ao indispensável, deixando a Deus a oportunidade d'um momento mais favorável.

Expusjá no segundo escrito a dúvida que de 13 de Junho a 13 de Julho me atormentou e que n'essa aparição tudo se desvaneceu.

Bem o segredo consta de três coisas distintas, duas das quais vou revelar.

A primeira foi pois a vista do inferno! Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fogo que pare­

cia estar debaixo da terra. Mergulhados em esse fogo os demónios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras, ou bronzeadas com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas pelas cha­mas que d'elas mesmas saiam,juntamente com nuvens de fumo, cain­do para todos os lados, semelhante ao cair das faúlhas em os grandes incêndios sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e de­sespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor. Os demónios dis­tinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes e negros. Esta vista foi um mo­mento, e graças à nossa boa Mãe do Céu; que antes nos tinha preve­nido com a promessa de nos levar para O Céu (na primeira aparição) se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e pavor.

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A TERCEIRA PARTE DO SEGREDO DE FÁTIMA

Em seguida, levantámos os olhos para Nossa Senhora que nos disse com bondade e tristeza:

- Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores, para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a meu Ima­culado Coração_ Se fizerem o que eu disser salvar-se-<io muitas al­mas e terão paz. A guerra vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pIor. Quando virdes uma noite, alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o gran­de sinal que Deus vos dá de que vai a punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Pa­dre. Para a impedir virei pedir a consagração da Rússia a meu Ima­culado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz, se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que so­frer, várias nações serão aniquiladas, por fim o meu Imaculado Co­ração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz.

TERCEIRA PARTE DO «SEGREDO ..

A terceira parte do segredo revelado a 13 de Julho de 1917 na Cova da Iria-Fátima.

Escrevo em acto de obediência a Vós Deus meu, que mo mandais por meio de sua Ex.cia Rev.ma o Senhor Bispo de Leiria e da Vossa e minha Santíssima Mãe.

Depois das duas partes quejá expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fo­go em a mão esquerda; ao cintilar, despedia chamas que parecia iam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O Anjo apon­tando com a mão direita para a terra, com voz forte disse: Penitên­cia, Penitência, Penitência! E vimos n'uma luz imensa que é Deus: "algo semelhante a como se vêem as pessoas n'um espelho quando lhe passam por diante" um Bispo vestido de Branco "tivemos o pressen­timento de que era o Santo Padre". Vários outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da

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A TERCEIRA PARTE DO SEGREDO DE FÁTIMA

qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fora de sobrei­ro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trémulo com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros e setas, e assim mesmo foram mor­rendo uns trás outros os Bispos Sacerdotes, religiosos e religiosas e va­rias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de varias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em a mão, n'eles recolhiam o sangue dos Már­tires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus.

Tuy-3--1-1944»

3 - Comunicação do Sr. Cardeal Ângelo Sodano, Secretário de Estado de Sua Santidade, em Fátima no dia 13 de Maio 2000.

COMUNICAÇÃO DE SUA EMINÊNCIA O CARD. ÂNGELO SODANO

SECRETÁRIO DE ESTADO DE SUA SANTIDADE

No final da solene Concelebração Eucarística presidida por João Paulo II em Fátima, o Cardeal Ângelo Sodano, Secretário de Estado, pronunciou em português as palavras seguintes:

Irmãos e innãs no Senhor! No termo desta solene celebração, sinto o dever de apresentar

ao nosso amado Santo Padre João Paulo II os votos mais cordiais de todos os presentes pelo seu próximo octogésimo aniversário natalí­cio, agradecidos pelo seu precioso ministério pastoral em benefício de toda a Santa Igreja de Deus.

Na circunstãncia solene da sua vinda a Fátima, o Sumo Pontí­fice incumbiu-me de vos comunicar uma notícia. Como é sabido, a fi­nalidade da vinda do Santo Padre a Fátima é a beatificação dos dois Pastorinhos. Contudo Ele quer dar a esta sua peregrinação também

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o valor de um renovado preito de gratidão a Nossa Senhora pela pro­tecção que Ela Lhe tem concedido durante estes anos de pontificado. É uma protecção que parece ter a ver também com a chamada ter­ceira parte do « segredo .. de Fátima.

Tal texto constitui uma visão profética comparável às da Sagra­da Escritura, que não descrevem de forma fotográfica os detalhes dos acontecimentos futuros, mas sintetizam e condensam sobre a mes­ma linha de fundo factos que se prolongam no tempo numa sucessão e duração não especificadas. Em consequência, a chave de leitura do texto s6 pode ser de carácter simbólico.

A visão de Fátima refere-se sobretudo à luta dos sistemas ateus contra a Igreja e os cristãos e descreve o sofrimento imane das tes­temunhas da fé do último século do segundo milénio. É uma Via Sa­cra sem fim, guiada pelos Papas do século vinte.

Segundo a interpretação dos pastorinhos, interpretação confir­mada ainda recentemente pela Irmã Lúcia, 0 « Bispo vestido de bran­co .. que reza por todos os fiéis é o Papa. Também Ele, caminhando penosamente para a Cruz por entre os cadáveres dos martirizados (bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e várias pessoas seculares), cai por terra como morto sob os tiros de uma arma de fogo.

Depois do atentado de 13 de Maio de 1981, pareceu claramen­te a Sua Santidade que foi « uma mão materna a guiar a trajectória da bala .. , permitindo que o « Papa agonizante .. se detivesse « no li­miar da morte .. [João Paulo II, Meditação com os Bispos Italianos, a partir da PolicUnica GemeUi, em: Insegnamenti di Giovanni Pao­lo II, XVII-l (Città dei Vaticano 1994), 1061]. Certa ocasião em que o Bispo de Leiria-Fátima de então passara por Roma, o Papa deci­diu entregar-lhe a bala que tinha ficado no jeep depois do atentado, para ser guardada no Santuário. Por iniciativa do Bispo, essa bala foi depois encastoada na coroa da imagem de Nossa Senhora de Fá­tima.

Depois, os acontecimentos de 1989 levaram, quer na União So­viética quer em numerosos Paises do Leste, à queda do regime comu­nista que propugnava o ateísmo. O Sumo Pontífice agradece do fundo do coração à Virgem Santíssima também por isso. Mas, noutras par­tes do mundo, os ataques contra a Igreja e os cristãos, com a carga de sofrimento que eles provocam, infelizmente não cessaram. Embo­ra os acontecimentos a que faz referência a terceira parte do « segre-

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do » de Fátima pareçam pertencer já ao passado, o apelo à conversão e à penitência, manifestado por Nossa Senhora ao início do século vinte, conserva ainda hoje uma estimulante actualidade. « A Senho­ra da Mensagem parece ler com uma perspicácia singular os sinais dos tempos, os sinais do nosso tempo. (. .. ) O convite insistente de Ma­ria Santíssima à penitência não é senão a manifestação da sua soli­citude materna pelos destinos da família humana, necessitada de conversão e de perdão» [João Paulo II, Mensagem para o Dia Mun­dial do Doente - 1997, n. 1, em: Insegnamenti di Giovanni Paolo II, XIX-2 CCittà dei Vaticano 1996), 561].

Para consentir que os fiéis recebam melhor a mensagem da Vir­gem de Fátima, o Papa confiou à Congregação para a Doutrina da Fé o encargo de tornar pública a terceira parte do «segredo», depois de lhe ter preparado um adequado comentário.

Irmãos e irmãs, damos graças a Nossa Senhora de Fátima pe­la sua protecção. Confiamos à sua materna intercessão a Igreja do Terceiro Milénio.

Sub tuum prlEsidium confugimus, Sancta Dei Genetrix! Inter­cede pro Ecclesia. Intercede pro Papa nostro loanne Paulo II. Amen.

Fátima, 13 de Maio de 2000.

4 - Comentário Teológico do Sr. Cardeal Joseph Ratzinger Pre­feito da Congregação da Doutrina da Fé

COMENTÁRIO TEOLÓGICO

Quem lê com atenção o texto do chamado terceiro « segredo » de Fátima, que depois de longo tempo, por disposição do Santo Padre, é aqui publicado integralmente, ficará presumivelmente desiludido ou maravilhado depois de todas as especulações que foram feitas. Não é revelado nenhum grande mistério; o véu do futuro não é rasgado. Vemos a Igreja dos mártires deste século que está para findar, re­presentada através duma cena descrita numa linguagem simbólica de difícil decifração. É isto o que a Mãe do Senhor queria comunicar

. à cristandade, à humanidade num tempo de grandes problemas e an­gústias? Serve--nos de ajuda no início do novo milénio? Ou não serão

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talvez apenas projecções do mundo interior de crianças, crescidas num ambiente de profunda piedade, mas simultaneamente assusta­das pelas tempestades que ameaçavam o seu tempo? Como devemos entender a visão, o que pensar dela?

Revelação pública e revelações privadas - o seu lugar teológico

Antes de encetar uma tentativa de interpretação, cujas linhas essenciais podem encontrar-se na comunicação que o Cardeal Soda­no pronunciou, no dia 13 de Maio deste ano, no fim da Celebração Eu­carística presidida pelo Santo Padre em Fátima, é necessário dar alguns esclarecimentos básicos sobre o modo como, segundo a dou­trina da Igreja, devem ser compreendidos no ãmbito da vida de fé fe­nómenos como o de Fátima. A doutrina da Igreja distingue « revelação pública » e « revelações privadas »; entre as duas realida­des existe uma diferença essencial, e não apenas de grau. A noção « revelação pública » designa a acção reveladora de Deus que se desti­na à humanidade inteira e está expressa literariamente nas duas partes da Bíblia: o Antigo e o Novo Testamento. Chama-se « revela­ção », porque nela Deus Se foi dando a conhecer progressivamente aos homens, até ao ponto de Ele mesmo Se tomar homem, para atrair e reunir em Si próprio o mundo inteiro por meio do Filho encarnado, Jesus Cristo. Não se trata, portanto, de comunicações intelectuais, mas de um processo vital em que Deus Se aproxima do homem; na­turalmente nesse processo, depois aparecem também conteúdos que têm a ver com a inteligência e a compreensão do mistério de Deus. Tal processo envolve o homem inteiro e, por conseguinte, também a razão, mas não só ela. Uma vez que Deus é um só, também a histó­ria que Ele vive com a humanidade é única, vale para todos os tem­pos e encontrou a sua plenituge com a vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Por outras palavras, em Cristo Deus disse tudo de Si mesmo, e portanto a revelação ficou concluída com a realização do mistério de Cristo, expresso no Novo Testamento. O Catecismo da Igreja Católica, para explicar este carácter definitivo e pleno da re­velação, cita o seguinte texto de S. João da Cruz: « Ao dar-nos, como nos deu, o seu Filho, que é a sua Palavra - e não tem outra -, Deus

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disse--nos tudo ao mesmo tempo e de uma só vez nesta Palavra úni­ca C .. ) porque o que antes disse parcialmente pelos profetas, revelou­-o totalmente, dando-nos o Todo que é o seu Filho. E por isso, quem agora quisesse consultar a Deus ou pedir-Lhe alguma visão ou reve­lação, não só cometeria um disparate, mas faria agravo a Deus, por não pôr os olhos totalmente em Cristo e buscar fora d'Ele outra rea­lidade ou novidade » (CIC, n. 65; S. João da Cruz, A Subida do Mon­te Carmelo, II, 22).

O facto de a única revelação de Deus destinada a todos os povos ter ficado concluída com Cristo e o testemunho que d'Ele nos dão os livros do Novo Testamento vincula a Igreja com o acontecimento úni­co que é a história sagrada e a palavra da Bíblia, que garante e inter­preta tal acontecimento, mas não significa que agora a Igreja pode apenas olhar para o passado, ficando assim condenada a uma estéril repetição. Eis o que diz o Catecismo da Igreja Católica: « No entanto, apesar de a Revelação ter acabado, não quer dizer que esteja comple­tamente explicitada. E está reservado à fé cristã apreender gradual­mente todo o seu alcance no decorrer dos séculos » (n. 66). Estes dois aspectos - o vinculo com a unicidade do acontecimento e o progresso na sua compreensão - estão optimamente ilustrados nos discursos de despedida do Senhor, quando Ele declara aos discípulos: « Ainda te­nho muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis suportar agora. Quando vier o Espírito da Verdade, Ele guiar-vos-á para a verdade total, porque não falará de Si mesmo ( . . . ) ji:le glorificar-Me--á, porque há-de receber do que é meu, para vo-lo anunciar » (Jo 16, 12-14). Por um lado, o Espírito serve de guia, desvendando assim um conheci­mento cuja densidade não se podia alcançar antes porque faltava o pressuposto, ou seja, o da amplidão e profundidade da fé cristã, e que é tal que não estará concluída jamais. Por outro lado, esse acto de guiar é « receber . do tesouro do próprio Jesus Cristo, cuja profundi­dade inexaurfvel se manifesta nesta condução por obra do Espirito. A propósito disto, o Catecismo cita uma densa frase do Papa Gregório Magoo: « As palavras divinas crescem com quem as lê » (CIC, n. 94; S. Gregório Magoo, Homilia sobre Ezequiel l, 7, 8). O Concílio Vati­cano II indica três caminhos essenciais, através dos quais o Espírito Santo efectua a sua guia da Igreja e, consequentemente, o « cresci­mento da Palavra .: realiza-se por meio da meditação e estudo dos fiéis, por meio da íntima inteligência que experimentam das coisas

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espirituais, e por meio da pregação daqueles « que, com a sucessão do episcopado, receberam o carisma da verdade " (Dei Verbum, n. 8).

Neste contexto, torna-se agora possível compreender correcta­mente o conceito de « revelação privada », que se aplica a todas as vi­sões e revelações verificadas depois da conclusão do Novo Testamento; nesta categoria, portanto, se deve colocar a mensagem de Fátima. Ou­çamos o que diz o Catecismo da Igreja Católica sobre isto também: « No decurso dos séculos tem havido revelações ditas "privadas", algu­mas das quais foram reconhecidas pela autoridade da Igreja. C . . ) O seu papel não é C .. ) "completar" a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-Ia mais plenamente numa determinada época da his­tória " (n. 67). Isto deixa claro duas coisas:

1. A autoridade das revelações privadas é essencialmente diver­sa da única revelação pública: esta exige a nossa fé; de facto, nela, é o próprio Deus que nos fala por meio de palavras humanas e da me­diação da comunidade viva da Igreja. A fé em Deus e na sua Palavra é distinta de qualquer outra fé, crença, opinião humana. A certeza de que é Deus que fala, cria em mim a segurança de encontrar a própria verdade; uma certeza assim não se pode verificar em mais nenhuma forma humana de conhecimento. É sobre tal certeza que edifico a mi­nha vida e me entrego ao morrer.

2. A revelação privada é um auxílio para esta fé, e manifesta-se credível precisamente porque faz apelo à única revelação pública. O Cardeal Próspero Lambertini, mais tarde Papa Bento XIV, afirma a tal propósito num tratado clássico, que se tornou normativo a propó­sito das beatificações e canonizações: « A tais revelações aprovadas não é devida uma adesão de fé católica; nem isso é possível. Estas re­velações requerem, antes, uma adesão de fé humana ditada pelas re­gras da prudência, que no-las apresentam como prováveis e religiosamente credíveis ". O teólogo flamengo E. Dhanis, eminente conhecedor desta matéria, afirma sinteticamente que a aprovação eclesial duma revelação privada contém três elementos: que a respec­tiva mensagem não contém nada em contraste com a fé e os bons cos­tumes, que é lícito torná-Ia pública, e que os fiéis ficam autorizados a prestar-lhe de forma prudente a sua adesão [E. Dhanis, Sguardo su Fatima e bilancio di una discussione, em: La Civiltà Cattolica, CIV ( 1953-IIJ, 392-406, especialmente 397]. Tal mensagem pode ser um

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vãlido auxílio para compreender e viver melhor o Evangelho na hora actual; por isso, não se deve transcurar. É uma ajuda que é oferecida, mas não é obrigatório fazer uso dela.

Assim, o critério para medir a verdade e o valor duma revelação privada é a sua orientação para o próprio Cristo. Quando se afasta d'Ele, quando se torna autónoma ou até se faz passar por outro desíg­nio de salvação, melhor e mais importante que o Evangelho, então ela certamente não provém do Espírito Santo, que nos guia no âmbito do Evangelho e não fora dele. Isto não exclui que uma revelação priva­da realce novos aspectos, faça surgir formas de piedade novas ou apro­funde e divulgue antigas. Mas, em tudo isso, deve tratar-se sempre de um alimento para a fé, a esperança e a caridade, que são, para to­dos, o caminho permanente da salvação. Podemos acrescentar que frequentemente as revelações privadas provêm da piedade popular e nela se reflectem, dando--lhe novo impulso e suscitando formas no­vas. Isto não exclui que aquelas tenham influência também na pró­pria liturgia, como o demonstram por exemplo a festa do Corpo de Deus e a do Sagrado Coração de Jesus. Numa determinada perspec­tiva, pode--se afirmar que, na relação entre liturgia e piedade popu­lar, estã delineada a relação entre revelação pública e revelações privadas: a liturgia é o critério, a forma vital da Igreja no seu conjun­to alimentada directamente pelo Evangelho. A religiosidade popular significa que a fé cria raízes no coração dos diversos povos, entrando a fazer parte do mundo da vida quotidiana. A religiosidade popular é a primeira e fundamental forma de « inculturação » da fé, que deve con tin uamen te deixar-se orientar e guiar pelas indicações da liturgia, mas que, por sua vez, a fecunda a partir do coração.

Desta forma, passãmos jã das especificações mais negativas, e que eram primariamente necessãrias, à definição positiva das revela­ções privadas: Como podem classificar-se de modo correcto a partir da Escritura? Qual é a sua categoria teológica? A carta mais antiga de S. Paulo que nos foi conservada e que é também o mais antigo escrito do Novo Testamento, a primeira Carta aos Tessalonicenses, parece--me oferecer uma indicação. Lã, diz o Apóstolo: « Não extingais o Espírito, não desprezeis as profecias. Examinai tudo e retende o que for bom » (5, 19--21). Em todo o tempo é dado à Igreja o carisma da profecia, que, embora tenha de ser examinado, não pode ser desprezado. A este pro­pósito, é preciso ter presente que a profecia, no sentido da Bíblia, não

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significa predizer O futuro, mas aplicar a vontade de Deus ao tempo presente e consequentemente mostrar o recto caminho do futuro. Aque­le que prediz o futuro pretende satisfazer a curiosidade da razão, que deseja rasgar o véu que esconde o futuro; o profeta vem em ajuda da cegueira da vontade e do pensamento, ilustrando a vontade de Deus enquanto exigência e indicação para o presente. Neste caso, a predi­ção do futuro tem uma importãncia secundária; o essencial é a actua­lização da única revelação, que me diz respeito profundamente: a palavra profética ora é advertência ora consolação, ou então as duas coisas ao mesmo tempo. Neste sentido, pode-se relacionar o carisma da profecia com a noção « sinais do tempo ", redescoberta pelo Vatica­no II: « Sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu; como é que não sabeis interpretar o tempo presente? (Lc 12, 56): Por « sinais do tem­po ", nesta palavra de Jesus, deve-se entender o seu próprio caminho, Ele mesmo. Interpretar os sinais do tempo à luz da fé significa reco­nhecer a presença de Cristo em cada período de tempo. Nas revelações privadas reconhecidas pela Igreja - e portanto na de Fátima -, trata­-se disto mesmo: ajudar-nos a compreender os sinais do tempo e a en­contrar na fé ajusta resposta para os mesmos.

A estrutura antropológica das revelações pri­vadas

Tendo nós procurado, com estas reflexões, determinar o lugar teológico das revelações privadas, devemos agora, ainda antes de nos lançarmos numa interpretação da mensagem de Fátima, esclarecer, embora brevemente, o seu carácter antropológico (psicológico). A an­tropologia teológica distingue, neste âmbito, três formas de percepçâo ou « visão ": a visão pelos sentidos, ou seja, a percepção externa cor­pórea; a percepção interior; e a visão espiritual (visio sensibilis, ima­ginativa, intellectualis). É claro que, nas visões de Lourdes, Fátima, etc, não se trata da percepção externa normal dos sentidos: as ima­gens e as figuras vistas não se encontram fora no espaço circundan­te, como estã lá, por exemplo, uma árvore ou uma casa. Isto é bem evidente, por exemplo, no caso da visão do inferno (descrita na primei­ra parte do « segredo " de Fátima) ou então na visão descrita na ter­ceira parte do « segredo ., mas pode-se facilmente comprovar também

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noutras visões, sobretudo porque não eram captadas por todos os pre­sentes, mas apenas pelos « videntes ». De igual modo, é claro que não se trata duma « visão » intelectual sem imagens, como acontece nos altos graus da mística. Trata-se, portanto, da categoria intermédia, a percepção interior que, para o vidente, tem uma força de presença tal que equivale à manifestação externa sensível.

Este ver interiormente não significa que se trata de fantasia, que seria apenas uma expressão da imaginação subjectiva. Significa, antes, que a alma recebe o toque suave de algo real mas que está pa­ra além do sensível, tornando-a capaz de ver o não-sensível, o não­-visível aos sentidos: uma visão através dos « sentidos internos ». Trata-se de verdadeiros « objectos » que tocam a alma, embora não pertençam ao mundo sensível que nos é habitual. Por isso, exige-se uma vigilância interior do coração que, na maior parte do tempo, não possuímos por causa da forte pressão das realidades externas e das imagens e preocupações que enchem a alma. A pessoa é levada para além da pura exterioridade, onde é tocada por dimensões mais pro­fundas da realidade que se lhe tornam visíveis. Talvez assim se pos­sa compreender por que motivo os destinatários preferidos de tais aparições sejam precisamente as crianças: a sua alma ainda está pou­co alterada, e quase intacta a sua capacidade interior de percepção. « Da boca dos pequeninos e das crianças de peito recebeste louvor »: es­ta foi a resposta de Jesus - servindo-se duma frase do Salmo 8 (v. 3) - à crítica dos sumos sacerdotes e anciãos, que achavam inoportuno o grito hossana das crianças (Mt 21, 16).

Como dissemos, a « visão interior » não é fantasia, mas uma ver­dadeira e própria maneira de verificação. Fá-lo, porém, com as limi­tações que lhe são próprias. Se, na visão exterior, já interfere o elemento subjectivo, isto é, não vemos o objecto puro mas este chega­-nos através do flItro dos nossos sentidos que têm de operar um pro­cesso de tradução; na visão interior, isso é ainda mais claro, sobretudo quando se trata de realidades que por si mesmas ultrapassam o nos­so horizonte. O sujeito, o vidente, tem uma influência ainda mais for­te; vê segundo as próprias capacidades concretas, com as modalidades de representação e conhecimento que lhe são acessíveis. Na visão in­terior, há, de maneira ainda mais acentuada que na exterior, um pro­cesso de tradução, desempenhando o sujeito uma parte essencial na formação da imagem daquilo que aparece. A imagem pode ser capta-

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da apenas segundo as suas medidas e possibilidades. Assim, tais vi­sões não são em caso algum a " fotografia " pura e simples do Além, mas trazem consigo também as possibilidades e limitações do sujeito que as apreende.

Isto é patente em todas as grandes visões dos Santos; natural­mente vale também para as visões dos pastorinhos de Fátima. As ima­gens por eles delineadas não são de modo algum mera expressão da sua fantasia, mas fruto duma percepção real de origem superior e íntima; nem se hão-de imaginar como se por um instante se tivesse erguido a ponta do véu do Além, aparecendo o Céu na sua essencialidade pura, como esperamos vê-lo na união definitiva com Deus. Poder-se-ia di­zer que as imagens são uma síntese entre o impulso vindo do Alto e as possibilidades disponíveis para o efeito por parte do sujeito que as re­cebe, isto é, das crianças. Por tal motivo, a linguagem feita de imagens destas visões é uma linguagem simbólica. Sobre isto, diz o Cardeal So­dano: " Não descrevem de forma fotográfica os detalhes dos aconteci­mentos futuros, mas sintetizam e condensam sobre a mesma linha de fundo factos que se prolongam no tempo numa sucessão e duração não especificadas ". Esta sobreposição de tempos e espaços numa única imagem é típica de tais visões, que, na sua maioria, só podem ser de­cifradas a posteriori. E não é necessário que cada elemento da visão tenha de possuir uma correspondência histórica concreta. O que con­ta é a visão como um todo, e a partir do conjunto das imagens é que se devem compreender os detalhes. O que efectivamente constitui o cen­tro duma imagem só pode ser desvendado, em última análise, a par­tir do que é o centro absoluto da « profecia " cristã: o centro é o ponto onde a visão se torna apelo e indicação da vontade de Deus.

Uma tentativa de interpretação do «segredo» de Fátima

A primeira e a segunda parte do « segredo " de Fátima foram já discutidas tão amplamente por específicas publicações, que não neces­sitam de ser ilustradas novamente aqui. Queria apenas chamar bre­vemente a atenção para o ponto mais significativo. Os pastorinhos experimentaram, durante um instante terrível, uma visão do inferno. Viram a queda das « almas dos pobres pecadores ". Em seguida, foi-

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-lhes dito o motivo pelo qual tiveram de passar por esse instante: pa­ra « salvá-las » - para mostrar um caminho de salvação. Isto faz-nos recordar uma frase da primeira Carta de Pedro que diz: « Estais cer­tos de obter, como prémio da vossa fé, a salvação das almas » (1, 9). Co­mo caminho para se chegar a tal objectivo, é indicado de modo surpreendente para pessoas originárias do ambiente cultural angl<r-sa­xónico e germânico - a devoção ao Imaculado Coração de Maria. Para compreender isto, deveria bastar uma breve explicação. O termo « co­ração », na linguagem da Bíblia, significa o centro da existência huma­na, uma confluência da razão, vontade, temperamento e sensibilidade, onde a pessoa encontra a sua unidade e orientação interior. O « cora­ção imaculado » é, segundo o evangelho de Mateus (5, 8), um coração que a partir de Deus chegou a uma perfeita unidade interior e, conse­quentemente, « vê a Deus ». Portanto, « devoção » ao Imaculado Cora­ção de Maria é aproximar-se desta atitude do coração, na qual o fiat ­« seja feita a vossa vontade » - se torna o centro conformador de toda a existência. Se porventura alguém objectasse que não se deve inter­por um ser humano entre nós e Cristo, lembre-se de que Paulo não tem medo de dizer às suas comunidades: « Imitai-me » (cf. 1 Cor 4, 16; Fil 3, 17; 1 Tes 1, 6; 2 Tes 3, 7.9). No Apóstolo, elas podem verificarcon­cretamente o que significa seguir Cristo. Mas, com quem poderemos nós aprender sempre melhor do que com a Mãe do Senhor?

Chegamos assim finalmente à terceira parte do « segredo » de Fátima, publicado aqui pela primeira vez integralmente. Como resul­ta da documentação anterior, a interpretação dada pelo Cardeal So­dano, no seu texto do dia 13 de Maio, tinha antes sido apresentada pessoalmente à Irmã Lúcia. A tal propósito, ela começou por observar que lhe foi dada a visão, mas não a sua interpretação. A interpreta­ção, dizia, não compete ao vidente, mas à Igreja. No entanto, depois da leitura do texto, a Irmã Lúcia disse que tal interpretação corres­ponde àquilo que ela mesma tinha sentido e que, pela sua parte, re­conhecia essa interpretação como correcta. Sendo assim, limitar-no8--€mos, naquilo que vem a seguir, a dar de forma profun­da um fundamento à referida interpretação, partindo dos critérios an­teriormente desenvolvidos.

Do mesmo modo que tínhamos indentificado, como palavra-cha­ve da primeira e segunda parte do « segredo », a frase « salvar as al­mas », assim agora a palavra-chave desta parte do « segredo » é o

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tríplice grito: « Penitência, Penitência, Penitência! " Volta-nos ao pen­samento o início do Evangelho: « Prenitemini et credite evangelio » (Mc 1, 15). Perceber os sinais do tempo significa compreender a urgência da penitência, da conversão, da fé. Tal é a resposta justa a uma épo­ca histórica caracterizada por grandes perigos, que serão delineados nas sucessivas imagens. Deixo aqui uma recordação pessoal: num co­lóquio que a Irmã Lúcia teve comigo, ela disse-me que lhe parecia ca­da vez mais claramente que o objectivo de todas as aparições era fazer crescer sempre mais na fé, na esperança e na caridade; tudo o mais pretendia apenas levar a isso.

Examinemos agora mais de perto as diversas imagens. O anjo com a espada de fogo à esquerda da Mãe de Deus lembra imagens análogas do Apocalipse: ele representa a ameaça do juízo que pende sobre o mundo. A possibilidade que este acabe reduzido a cinzas num mar de chamas, hoje já não aparece de forma alguma como pura fan­tasia: o próprio homem preparou, com suas invenções, a espada de fo­go. Em seguida, a visão mostra a força que se contrapõe ao poder da destruição: o brilho da Mãe de Deus e, de algum modo proveniente do mesmo, o apelo à penitência. Deste modo, é sublinhada a importân­cia da liberdade do homem: o futuro não está de forma alguma deter­minado imutavelmente, e a imagem vista pelos pastorinhos não é, absol u tamen te, um filme an tecipado do futuro, do qual já nada se po­deria mudar. Na realidade, toda a visão acontece só para chamar em campo a liberdade e orientá-la numa direcção positiva. O sentido da visão não é, portanto, o de mostrar um filme sobre o futuro, já fixo ir­remediavelmente; mas exactamente o contrário: o seu sentido é mo­bilizar às forças da mudança em bem. Por isso, há que considerar completamente extraviadas aquelas explicações fatalistas do « segre­do " que dizem, por exemplo, que o autor do atentado de 13 de Maio de 1981 teria sido, em última análise, um instrumento do plano divi­no predisposto pela Providência e, por conseguinte, não poderia ter agido livremente, ou outras ideias semelhantes que por aí andam. A visão fala sobretudo de perigos e do caminho para salvar-se deles.

As frases seguintes do texto mostram uma vez mais e de forma muito clara o carácter simbólico da visão: Deus permanece o incomen­surável e a luz que está para além de qualquer visão nossa. As pes­soas humanas são vistl)s como que num espelho. Devemos ter continuamente presente esta limitação inerente à visão, cujos confrns

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estão aqui visivelmente indicados. O futuro é visto apenas « como que num espelho, de maneira confusa " (cf. 1 Cor 13, 12). Consideremos agora as diversas imagens que se sucedem no texto do « segredo ". O lugar da acção é descrito com três símbolos: uma montanha íngreme, uma grande cidade meia em ruínas e finalmente uma grande cruz de troncos toscos. A montanha e a cidade simbolizam o lugar da história humana: a história como árdua subida para o alto, a história como lu­gar da criatividade e convivênCia humana e simultaneamente de des­truições pelas quais o homem aniquila a obra do seu próprio trabalho. A cidade pode ser lugar de comunhão e progresso, mas também lugar do perigo e da ameaça mais extrema. No cimo da montanha, está a cruz: meta e ponto de orientação da história. Na cruz, a destruição é transformada em salvação; ergue-se como sinal da miséria da histó­ria e como promessa para a mesma.

Aparecem lá, depois, pessoas humanas: o Bispo vestido de bran­co (<< tivemos o pressentimento que era o Santo Padre »), outros bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas e, finalmente, homens e mulheres de todas as classes e posições sociais. O Papa parece caminhar à fren­te dos outros, tremendo e sofrendo por todos os horrores que o circun­dam. E não são apenas as casas da cidade que jazem meio em ruínas; o seu caminho é ladeado pelos cadáveres dos mortos. Deste modo, o ca­minho da Igreja é descrito como uma Via Sacra, como um caminho num tempo de violência, destruições e perseguições. Nesta imagem, pode-se ver representada a história dum século inteiro. Tal como os lugares da terra aparecem sinteticamente representados nas duas imagens da montanha e da cidade e estão orientados para a cruz, as­sim também os tempos são apresentados de forma contraída: na visão, podemos reconhecer o século vinte como século dos mártires, como sé­culo dos sofrimentos e perseguições à Igreja, como o século das guer­ras mundiais e de muitas guerras locais que ocuparam toda a segunda metade do mesmo, tendo feito experimentar novas formas de cruelda­de. No « espelho » desta visão, vemo.s passar as testemunhas da fé de decénios. A este respeito, é oportuno mencionar uma frase da carta que a Irmã Lúcia escreveu ao Santo Padre no dia 12 de Maío de 1982: « A terceira parte do "segredo" refere-se às palavras de Nossa Senho­ra: "Se não, [a Rússia] espalhará os seus erros pelo mundo, promoven­do guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas" ".

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A TERCEIRA PARTE DO SEGREDO DE FÁTIMA

Na Via Sacra deste século, tem um papel especial a figura do Papa. Na árdua subida da montanha, podemos sem dúvida ver figu­rados conjuntamente diversos Papas, começando de Pio X até ao Pa­pa actual, que partilharam os sofrimentos deste século e se esforçaram por avançar, no meio deles, pelo caminho que leva à cruz. Na visão, também o Papa é morto na estrada dos mártires. Não era razoável que o Santo Padre, quando, depois do atentado de 13 de Maio de 1981, mandou trazer o texto da terceira parte do « segredo ", tivesse lá iden­tificado o seu próprio destino? Esteve muito perto da fronteira da mor­te, tendo ele mesmo explicado a sua salvação com as palavras seguintes: « Foi uma mão materna que guiou a trajectória da bala e o Papa agonizante deteve-se no limiar da morte " (13 de Maio de 1994). O facto de ter havido lá uma « mão materna " que desviou a ba­la mortífera demonstra uma vez mais que não existe um destino imu­tável, que a fé e a oração são forças que podem influir na história e que, em última análise, a oração é mais forte que as balas, a fé mais poderosa que os exércitos.

A conclusão do « segredo " lembra imagens, que Lúcia pode ter visto em livros de piedade e cujo conteúdo deriva de antigas intuições de fé. É uma visão consoladora, que quer tornar permeável à força sa­nificante de Deus uma história de sangue e de lágrimas. Anjos reco­lhem, sob os braços da cruz, o sangue dos mártires e com ele regam as almas que se aproximam de Deus. O sangue de Cristo e o sangue dos mártires são vistos aqui juntos: o sangue dos mártires escorre dos braços da cruz. O seu martírio realiza-se solidariamente com a pai­xão de Cristo, identificando-se com ela. Eles completam em favor do corpo de Cristo o que ainda falta aos seus sofrimentos (cf. Cal 1, 24). A sua própria vida tornou-se eucaristia, inserindo-se no mistério do grão de trigo que morre e se torna fecundo. O sangue dos mártires é semente de cristãos, disse Tertuliano. Tal como nasceu a Igreja da morte de Cristo, do seu lado aberto, assim também a morte das tes­temunhas é fecunda para a vida futura da Igreja. Deste modo, a vi­são da terceira parte do « segredo ", tão angustiante ao início, termina numa imagem de esperança: nenhum sofrimento é vão, e precisamen­te uma Igreja sofredora, uma Igreja dos mártires torna-se sinal indi­cador para o homem na sua busca de Deus. Não se trata apenas de ver os que sofrem acolhidos na mão amorosa de Deus como Lázaro, que encontrou a grande consolação e misteriosamente representa

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A TERCEIRA PARTE DO SEGREDO DE FÁTIMA

Cristo, que por nós Se quis fazer o pobre Lázaro; mas há algo mais: do sofrimento das testemunhas deriva uma força de purificação e re­novamento, porque é a actualização do próprio sofrimento de Cristo e transmite ao tempo presente a sua eficácia salvífica.

Chegamos assim a uma última pergunta: O que é que significa no seu conjunto (nas suas três partes) 0 « segredo " de Fátima? O que é nos diz a nós? Em primeiro lugar, devemos supor, como afirma o Cardeal Sodano, que « os acontecimentos a que faz referência a ter­ceira parte do "segredo" de Fátima parecem pertencer já ao passado ". Os diversos acontecimentos, na medida em que lá são representa­dos, pertencem já ao passado. Quem estava ã espera de impressio­nantes revelações apocalípticas sobre O fim do mundo ou sobre o futuro desenrolar da história, deve ficar desiludido. Fátima não oferece tals satisfações à nossa curiosidade, como, aliás, a fé cristã em geral que não pretende nem pode ser alimento para a nossa curiosidade. O que permanece - dissemo-lo logo ao início das nossas reflexões sobre o texto do « segredo " - é a exortação à oração como caminho para a « salvação das almas ", e no mesmo sentido o apelo à penitência e à con­versão.

Queria, no fim, tomar uma vez mals outra palavra--ehave do « se­gredo » que justamente se tornou famosa: « O meu Imaculado Cora­ção triunfará ». Que significa isto? Significa que este Coração aberto a Deus, purificado pela contemplação de Deus, é mais forte que as pis­tolas ou outras armas de qualquer espécie. O fiat de Maria, a palavra do seu Coração, mudou a história do mundo, porque introduziu nes­te mundo o Salvador: graças àquele « Sim ", Deus pôde fazer-Se ho­mem no nosso meio e tal permanece para sempre. Que o maligno tem poder neste mundo, vemo-lo e experimentamo-lo continuamente; tem poder, porque a nossa liberdade se deixa continuamente desviar de Deus. Mas, desde que Deus passou a ter um coração humano e deste modo orientou a liberdade do homem para o bem, para Deus, a liber­dade para o mal deixou de ter a última palavra. O que vale desde en­tão, está expresso nesta frase: « No mundo tereis aflições, mas tende confiança! Eu venci o mundo " (Jo 16, 33). A mensagem de Fátima convida a confiar nesta promessa.

Joseph Cardo Ratzinger Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé

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DIOCESE DE LEIRIA-FÁTIMA MISSAS BINADAS E TRINADAS

ESTIPÊNDIOS ENTREGUES EM 1999

D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva . . . . . . Abel José da Silva Santos . . . . . . . . . . . . . . . Adelino Filipe Guarda . . . . . . . . . . . . . . . . . . Adelino Rodrigues Ferreira . . . . . . . . . . . . . Albino da Luz Carreira . . . . . . . . . . . . . . . . . Américo Ferreira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

António Ferreira Júnior . . . . . . . . . . . . . . . . António da Piedade Bento . . . . . . . . . . . . . . . António Ramos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Armindo Castelão Ferreira . . . . . . . . . . . . . . Augusto Ascenso Pascoal . . . . . . . . . . . . . . . Augusto Gomes Gonyalves . . . . . . . . . . . . . . Aurélio Galamba de Oliveira . . . . . . . . . . . . Benevenuto Vieira de Oliveira Dias . . . . . . . Bernardo Pereira Morganiya . . . . . . . . . . . . Carlos Querido da Silva . . . . . . . . . . . . . . . . Clemente Dotti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Cristiano João Rodrigues Saraiva . . . . . . . . David Pedrosa Gaspar . . . . . . . . . . . . . . . . . . Diamantino da Silva Maurício . . . . . . . . . . . Elias Ferreira da Costa . . . . . . . . . . . . . . . . . Fernando Pereira Ferreira (1998/1999) . . . . Filipe Luciano de Oliveira Vieira . . . . . . . . . Francisco Jorge . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Francisco Vieira da Rosa . . . . . . . . . . . . . . . .

12.006$00 77.000$00

8.000$00 55.500$00 95.000$00 45.000$00 20.010$00 73.000$00

118.000$00 57.300$00 15.000$00 9.000$00

44.500$00 160.000$00 80.000$00

141.330$00 149.000$00 113.000$00

9.000$00 202. 150$00

73.000$00 120.000$00 41.000$00

104.000$00 21.314$00

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DIOCESE DE LEIRIA-FÁTIMA

Henrique Fernandes da Fonseca . . . . . . . . . João Vieira Trindade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Joaquim Domingues Gaspar . . . . . . . . . . . . . Jorge Manuel Faria Guarda (1998) . . . . . . . José Ferreira Gonyalves . . . . . . . . . . . . . . . . José Luís de Jesus Ferreira (1998)_ . _ . . . . . José Martins Alves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . José de Oliveira Rosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Júlio Gaspar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Luís Henriques Francisco (199819) . . . . . . . Manuel Antunes Messias . . . . . . . . . . . . . . .

Manuel Armindo Pereira Janeiro . . . . . . . . Manuel Ferreira (Casal dos Crespos) . . . . . Manuel Ferreira (Caxarias) . . . . . . . . . . . . . Manuel da Fonseca Moreira . . . . . . . . . . . . . Manuel Marques dos Santos . . . . . . . . . . . . . Manuel Pedrosa Melquíades . . . . . . . . . . . . . Manuel da Silva Gaspar . _ . . . . . . . . . . . _ . .

Mário de Almeida Verdasca (1998) . . . . . . . . Mário Marques dos Anjos . . . . . . . . . . . . . . .

Martinho Manuel Vieira . . . . . . . . . . . . . . . .

Pedro Manuel Jorge Ferreira . _ . . . . . . . . . . Ramiro Pereira Portela . . . . . . . . . . . . . . . . . Raúl Rodrigues Carnide . . . . . . . . . . . . . . . . Vítor José Mira de Jesus . . . . . . . . . . . . . . .

Virgílio da Silva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Abílio Vieira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

TOTAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

41.400$00 37.333$00

142.690$00 40.000$00 67.000$00 63.000$00 53.500$00

6.020$00 13.000$00 60.000$00 80.000$00

6.000$00 114.000$00 63.000$00

175.820$00 118.000$00 172. 190$00 23.500$00 60.000$00

180.000$00 137.000$00

70.000$00 .

135.000$00 150.000$00

31.300$00 73.000$00 28.000$00

3.983.863$00

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ACTOS EPISCOPAIS DIRECTOR DA ESCOLA

DE FORMAÇÃO TEOLÓGICA DE LEIGOS E JUIZ DO TRmUNAL ECLESIÁSTICO

1. Havemos por bem nomear o Rev. P. Dr. Manuel Armindo Pe­reira Janeiro Director da Escola de Formação Teológica de Leigos.

Agradecemos à Direcção cessante e pedimos que continue a pre-paração do ano escolar 2000/2001.

.

Nomeamos também o Rev. P. Dr. Manuel Armindo Pereira Ja­neiro como primeiro Responsável de uma Comissão promotora e ins­taladora do Centro Diocesano de Formação e Cultura proposto pela Assembleia Sinodal.

2. Havemos por bem nomear, com a benigna anuência do Se­nhor Bispo de Viseu e por um ano, o Rev. P. Doutor Alfredo de Al­meida Melo Juiz do Tribunal Eclesiástico da nossa Diocese.

Leiria, 9 de Junho de 2000

t SERAFIM DE SOUSA FERREIRA E SILVA Bispo de Leiria-Fátima

CAPELÃO DO SANTUÁRIO DE FÁTIMA, DIRECTOR ESPffiITUAL DO SEMINÁRIO, VIGÁRIO PAROQUIAL DA SÉ DE LEmIA

E EQUIPA FORMADORA DO SEMINÁRIO DIOCESANO

1. Nomeia Capelão do Santuário de Nossa Senhora de Fátima o Rev. P. José Lopes Baptista.

2. Nomeia Director espiritual do Seminário Diocesano o Rev. P. José Augusto Pereira Rodrigues, integrado, como já está, na equipa formadora do mesmo Seminário.

3. Nomeia Vigário paroquial da Sé de Leiria " Rev. P. Leonel Vieira Baptista.

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ACTOS EPISCOPAIS

4. Nomeia membro da equipa formadora do Seminário Diocesa­no o Revi' Diác. Nelson José Nunes Araújo.

Manifesta apreço pelos serviços prestados e reza pelo bom cum­primento das missões atribuídas.

Leiria, 9 de Julho 2000

t SERAFIM DE SOUSA FERREIRA E SILVA

Bispo ck Leiria-Fátima

A BEATIFICAÇÃO DOS PASTORINHOS FRANCISCO

E JACINTA MARTO CERIMÓNIA DA BEATIFICAÇÃO

13 de Maio do ano 2000. Pelas 9h30, no Altar do Recinto de Ora­ção do Santuário de Fátima, o Bispo de Leiria-Fátima, D. SerafIm de Sousa Ferreira e Silva, acompanhado do Postulador Geral, P. Paulo Molinari, S.J., e do Postulador Extra Urbem, P. Luís Kondor, S.V.D., e perante uma multidão calculada em 400 mil fIéis, aproxima-se da cátedra do Santo Padre João Paulo II, para pedir que se proceda,à beatificação dos Servos de Deus Francisco e Jacinta Marto.

D. SerafIm: «Santo Padre, na qualidack ck Bispo ck Leiria-Fátima, peço hu­

mildemente a Vossa Santidade que se digne inscrever os Veneráveis Servos de Deus Francisco e Jacinta Marto no número dos Beatos».

Depois de o Bispo de Leiria-Fátima ter lido uma pequena biogra­fIa dos Pastorinhos, todos se levantaram, fIcando sentado apenas o Santo Padre, que pronunciou solenemente a fórmula da Beatificação:

«Acolhendo o desejo expresso pelo nosso Irmão Dom Serafim, Bispo de Leiria-Fátima, por muitos outros Irmãos no Episcopado e por tantos fiéis cristãos, ckpois de termos ouvido o parecer da Congre-

.

gação da Causa dos Santos, com a Nossa Autoridade Apostólica con-

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ACTOS EPISCOPAIS

celÚ!mos que, lÚ! hoje em diante, os Veneráveis Servos de Deus, Fran­cisco e Jacinta Marto, sejam chamados Beatos, e possa celebrar-se anualmente a sua festa, nos lugares e segundo as normas do direito, no dia 20 de Fevereiro.

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo». Dois grandes painéis que ladeavam a torre da Basílica, com fo­

tografias dos dois Pastorinhos, que estavam encobertos pelas ban­deiras de Portugal e da Santa Sé, foram lentamente descerrados, enquanto o coro cantou, pela primeira vez, o Hino dos Pastorinhos «Cantemos alegres a uma só voz: Francisco e Jacinta, rogai por nós!"

O Bispo de Leiria-Fátima agradeceu ao Santo Padre: «Santo Padre, do íntimo do coração agradeço a Vossa Santida­

de por ter proclamado hoje Beatos os Veneráveis Servos de Deus, Francisco e Jacinta Marto».

O Bispo de Leiria-Fátima, e o Postulador Extra Urbem troca­ram o abraço de paz com o Santo Padre, enquanto o coro cantou mais uma estrofe do Hino dos Pastorinhos, vibrantemente acompanhado por toda a multidão.

HOMll.IA DO PAPA JOÃO PAULO II

Beatificação dos veneráveis Francisco e Jacinta , pasto­rinhos de Fátima - 13 de Maio de 2000

1. Eu Te bendigo, ó Pai, C . . ) porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. CMt 11, 25).

Com estas palavras, amados innãos e innãs, Jesus louva os de­sígnios do Pai celeste; sabe que ninguém pode vir ter com Ele, se não for atraído pelo Pai Ccf.Jo 6, 44), por isso louva por este desígnio e abraça-o fllialmente: «Sim, Pai, Eu Te bendigo, porque assim foi do teu agrado" CMT 11, 26). Quiseste abrir o reino aos pequeninos.

Por desígnio divino, veio do Céu a esta terra, à procura dos pe­queninos privilegiados do Pai, «uma Mulher revestida com o Sol. CAp 12, 1). Fala-lhes com voz e coração de mãe: convida-os a ofe­recerem-se como vítimas de reparação, oferecendo-Se Ela para os conduzir, seguros até Deus. Foi então que das suas mãos maternas saiu uma luz que os penetrou intimamente, sentindo-se imersos

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ACTOS EPISCOPAIS

em Deus como quando uma pessoa - explicam eles - se contempla num espelho.

Mais tarde, Francisco, um dos três privilegiados, exclamava: «Nós estávamos a arder naquela luz que é Deus e não nos queimá­vamos. Como é Deus? Não se pode dizer. Isto sim que a gente não po­de dizer». Deus: uma luz que arde mas não queima. A mesma sensação teve Moisés, quando viu Deus na sarça ardente; lá ouviu Deus falar, preocupado com.a escravidão do Seu povo e decidido a li­bertá-lo por meio Dele: «Eu estarei contigo» (cf. Ex 3, 2-12). Quan­tos acolhem esta presença tornam-se morada e, consequentemente, «sarça ardente» do AItfssimo.

2. Ao beato Francisco, o que mais o impressionava e absorvia era Deus naquela luz imensa que penetrara no íntimo dos três. Só a ele, porém, Deus Se dera a conhecer «tão triste», como ele dizia. Certa noite, seu pai ouviu-o soluçar e perguntou-lhe porque chorava; o fi­lho respondeu: «pensava em Jesus que está tão triste por causa dos pecados que se cometem contra Ele». Vive movido pelo único desejo - tão expressivo do modo de pensar das crianças - de «consolar e dar alegria a Jesus»,

Na sua vida dá-se uma transformação que poderíamos chamar radical; uma transformação certamente não comum em crianças da sua idade. Entrega-se a uma vida espiritual intensa, que se traduz em oração assídua e fervorosa, chegando a uma verdadeira forma de união mística com o Senhor. Isto mesmo leva-o a uma progressiva purificação do espírito, através da renúncia aos próprios gostos e até às brincadeiras inocentes de criança.

Suportou os grandes sofrimentos da doença que o levou à morte, sem nunca se lamentar. Tudo lhe parecia pouco para consolar Jesus; morreu com um sorriso nos lábios. Grande era, no pequeno Francisco, o desejo de reparar as ofensas dos pecadores, esforçando-se por ser bom e oferecendo sacrificios e oração. E Jacinta sua irmã, quase dois anos mais nova que ele, vivia animada pelos mesmos sentimentos.

3. «E apareceu no Céu outro sinal: um enorme Dragão» (Ap 12, 3). Estas palavras da pritrieira leitura da Missa fazem-nos pensar

na grande luta que se trava entre o bem e o mal, podendo-se consta­tar como o homem, pondo Deus de lado, não consegue chegar à feli­cidade, antes acaba por destruir-se a si próprio.

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ACTOS EPISCOPAIS

Quantas vítimas ao longo do último século do segundo milénio! Vêm à memória os horrores da primeira e segunda Grande Guerra e doutras mais em tantas partes do mundo, os campos de concentra­ção e extremínio, os gulags, as limpezas étnicas e as perseguições, o terrorismo, os raptos de pessoas, a droga, os atentados contra os nas­cituros e a família.

A mensagem de Fátima é um apelo à conversão, alertando a hu­manidade para não fazer o jogo do ((dragão» que, com a sua �(cauda, arrastou um terço das estrelas do Céu e lançou-as sobre a terra» (Ap 12, 4). A meta última do homem é o Céu, sua verdadeira casa onde o Pai celeste, no seu amor misericordioso, por todos espera.

Deus não quer que ninguém se perca; por isso, há dois mil anos, mandou à terra o Seu Filho «procurar e salvar o que estava perdido» (Le 19, 10). E Ele salvou-nos com a Sua morte na cruz; que ninguém torne vã aquela Cruz; Jesus morreu e ressuscitou para ser o «primo­génito de muitos innãos». (Rom 8, 29).

Na sua solicitude materna, a Santíssima Virgem veio aqui, a Fá­tima, pedir aos homens para -não ofenderem mais a Deus Nosso Se­nhor, que já está muito ofendido». É a dor de mãe que A faz falar; está em jogo a sorte de seus filhos. Por isso dizia aos pastorinhos: -rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas».

4. A pequena Jacinta sentiu e viveu como própria esta aflição de Nossa Senhora, oferecendo-se heroicamente como vítima pelos pecadores. Um dia - já ela e Francisco tinham contraído a doença que os obrigava a estarem pela cama - a Virgem Maria veio visitá­-los a casa, como conta a pequenita: _Nossa Senhora veio-nos ver e diz que vem buscar o Francisco muito breve para o Céu. E a mim per­guntou-me se queria ainda converter mais pecadores. Disse-Ihe que sim». E, ao aproximar-se o momento da partida do Francisco, Jacin­ta recomenda-lhe: -dá muitas saudades minhas a Nosso Senhor e Nossa Senhora e diz-lhes que sofro tudo quanto Eles quiserem para converter os pecadores». Jacinta ficara tão impressionada com a vi­são do inferno durante a aparição de 13 [treze] de Julho, que nenhu­ma mortificação e penitência era demais para salvar os pecadores.

Bem podia ela exclamar como São Paulo: ,<Alegro-me de sofrer por vós e completo em mim própria o que falta às tribulações de Cris-

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ACTOS EPISCOPAIS

to, em benefício do seu Corpo, que é a Igreja» (Cal 1, 24). No domin­go passado, junto ao Coliseu de Roma, fizemos a comemoração de tantas testemunhas da fé do século 20 [vintel, recordando as tribu­lações por elas sofridas, através de significativos testemunhos que nos deixaram. Uma nuvem incalculável de testemunhas corajosas da fé legou-nos uma herança preciosa, que deve permanecer viva no terceiro milénio. Aqui em Fátima, onde foram vaticinados estes tem­pos de tribulação pedindo Nossa Senhora oração e peniténcia para abreviá-los, quero hoje dar graças ao Céu pela força do testemunho que se manifestou em todas aquelas vidas. E desejo uma vez mais ce­lebrar a bondade do Senhor para comigo, quando, duramente atin­gido naquele dia 13 [trezel de Maio de 1981 [mil novecentos e oitenta e uml, fui salvo da morte. Exprimo a minha gratidão também à bea­ta Jacinta pelos sacrifícios e orações oferecidas pelo Santo Padre, que ela tinha visto em grande sofrimento.

5. «Eu te bendigo, ó Pai, porque revelaste estas verdades aos pe­queninos». O louvor de Jesus toma hoje a forma solene da beatifica­ção dos pastorinhos Francisco e Jacinta. A Igreja quer, com este rito, colocar sobre o candelabro estas duas candeias que Deus acendeu pa­ra alumiar a humanidade nas suas horas sombrias e inquietas. Bri­lhem elas sobre o caminho desta multidão imensa de peregrinos e quantos mais nos acompanham pela rádio e televisão. Sejam uma luz amiga a iluminar Portugal inteiro e, de modo especial, esta dio­cese de Leiria-Fátima.

Agradeço ao Senhor Dom Serafim, Bispo desta ilustre Igreja particular, as suas palavras de boas vindas, e com grande alegria saúdo todo o Episcopado português e suas dioceses que muito amo e exorto a imitar os seus Santos. Uma saudação fraterna aos Cardeais e Bispos presentes, com menção particular para os Pastores da Co­munidade de Países de Língua Portuguesa: a Virgem Maria alcance a reconciliação do povo angolano; conforte os sinistrados de Moçam­bique; vele pelos passos de Timor Lorosae, Guiné-Bissau, Cabo Ver­de, São Tomé e Príncipe; e preserve na unidade da fé os seus filhos e filhas do Brasil.

Saúdo com deferência o Senhor Presidente da República e demais Autoridades que quiseram participar nesta celebração, aproveitando este momento para, na sua pessoa, exprimir o meu reconhecimento a

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ACTOS EPISCOPAIS

todos pela sua colaboração que tornou possível esta minha peregrina­ção. Um abraço cordial e uma bênção particular à paróquia e cidade de Fátima que hoje se alegra pelos seus filhos elevados às honras dos altares.

6. A minha tiltima palavra é para as crianças: Queridos meni­nos e meninas, vejo muitos de vós vestidos como Francisco e Jacin­ta. Fica-vos muito bem! Mas, logo ou amanhã, já deixais essa roupa e . . . acabam-se os pastorinhos. Não haviam de acabar, pois não?! É que Nossa Senhora precisa muito de vós todos, para consolar Jesus, triste com as asneiras que se fazem; precisa das vossas orações e sa­crifícios pelos pecadores.

Pedi aos vossos pais e educadores que vos metam na .escola» de Nossa Senhora, para que Ela vos ensine a ser como os pastori­nhos, que procuravam fazer tudo o que lhes pedia. Digo--vos que .se avança mais em pouco tempo de submissão e dependência de Ma­ria, que durante anos inteiros de iniciativas pessoais, apoiados ape­nas em si mesmos» (S. Luís de Montfort, Tratado da verdadeira devoção à SS.ma Virgem, n2 155). Foi assim que os pastorinhos se tornaram santos depressa. Uma mulher que acolhera a Jacinta em Lisboa, ao ouvir conselhos tão bons e acertados que a pequenita da­va, perguntou quem lhos ensinava . • Foi Nossa Senhora» - respon­deu. Entregando--se com total generosidade à direcção de tão boa Mestra, Jacinta e Francisco subiram em pouco tempo aos cumes da perfeição.

7 . • Eu Te bendigo, ó Pai, porque escondestes estas verdades aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos».

Eu Te bendigo, ó Pai, por todos os teus pequeninos, a começar da Virgem Maria, Tua humilde Serva, até aos pastorinhos Francis­co e Jacinta.

Que a mensagem das suas vidas pennaneça sempre viva para iluminar o caminho da humanidade! .

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo

João Paulo II

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ACTOS EPISCOPAIS

SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE AOS ENFERMOS

Amados peregrinos de Fátima! Quero agora dirigir uma saudação particular aos enfermos aqui

presentes em grande número, mas extensiva a quantos, em suas ca­sas ou nos hospitais, estão unidos espiritualmente connosco:

O Papa saúda-vos com grande afecto, queridos doentes, asse­gurando uma especial lembrança na oração por vós e pelas pessoas que cuidam de vós" coloco os anseios de cada um nos Altar onde Je­sus continuamente intercede e Se sacrifica pela humanidade.

Vim aqui hoje como testemunha de Jesus ressuscitado. Ele sa­be o que é sofrer, e viveu as angústias da morte, sendo o primeiro ho­mem, em absoluto, que Se libertou definitivamente das cadeias dela. Ele percorreu todo o itinerário do homem até à pátria do Céu, onde preparou um trono de glória para cada um de nós.

Querido irmão doente! Se alguém ou alguma coisa te faz pensar que chegaste ao fim da

estrada, não acredites! Se tens conhecimento do Amor eterno que te criou, sabes também que, dentro de ti, há uma alma imortal. Exis­tem várias estações na vida; se porventura sentires chegar o inver­no, quero que saibas que não pode ser a última estação, porque a última será a primavera: a primavera da ressurreição. A totalidade da tua vida estende-se infinitamente para além das suas fronteiras terrenas: prevê o Céu.

Queridos doentes! Eu sei que «os sofrimentos do tempo presente nada são em com­

paração com a glória que se há-de revelar em vós" (Rom 8, 18). Co­ragem! Neste Ano Santo, a graça do Pai derrama-se com maior abundância sobre quem a acolher com a alma simples e confiante das crianças; isto mesmo no-lo recordou Jesus, no texto evangélico ago­ra proclamado. Sendo assim, procurai ser contados também vós, que­ridos doentes, no número destes «pequeninos», para que Jesus possa comprazer-Se convosco. Daqui a pouco, Ele vai aproximar-se de vós para vos abençoar pessoalmente, no Santíssimo Sacramento; vai ao vosso encontro com a promessa: «Eu renovo todas as coisas" (Ap 21, 5). Tende confiança! Abandonai-vos na Sua mão providente, como o

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ACTOS EPISCOPAIS

fizeram os pastorinhos Francisco e Jacinta. Estes dizem-vos que não estais sozinhos. O Pai celeste ama-vos.

BEM HAJA SANTO PADRE

Saudação de D. Serafim a João Paulo II 13 de Maio 2000

É com muita alegria que recebemos pela terceira vez neste san­tuário de Fátima o Papa João Paulo II.

Saudamos com entusiasmo e gratidão Sua Santidade. Veio de Roma para beatificar duas Crianças que aqui viveram,

Francisco e Jacinta Marto. Aqui viram e ouviram Nossa Senhora em 1917. Testemunharam a vivência da mensagem.

Bem haja Santo Padre. A exemplo dos pastorinhos todos os dias rezamos neste Santuá­

rio Mariano pelo Papa. Recordamos que faz hoje 19 anos que João Paulo II foi vítima

de um atentado louco. A bala criminosa ofereceu-a para a coroa da Rainha da Paz. Cuja imagem está presente nesta celebração.

Rezamos à Senhora da Mensagem que ajude os homens a não praticarem a violência, e optarem definitivamente pela "cultura da Paz".

A mesma Senhora "mais brilhante que o sol" continua a pedir a conversão das pessoas, dos grupos e das nações. E a oração ou a vi­da interior 'é o segredo e a força, para que toda a humanidade seja uma família de innãos, filhos do mesmo Deus, que é Pai.

HONRA DA DIOCESE DE LEIRIA-FÁTIMA

A nossa Diocese, fundada em 1545, extinta em 1882 e restau­rada em 1918, chama-se de Leiria-Fátima desde 1984.

Aquando das aparições de 1916-1917, a freguesia ou paróquia de Fátima estava integrada no Patriarcado, ou Diocese, de Lisboa.

O primeiro Bispo da Diocese restaurada, D. José Alves Correia da Silva, prestou especial atenção aos acontecimentos da Cova da Iria e de Aljustrel. Em 1922 nomeou uma Comissão diocesana para

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ACTOS EPISCOPAIS

"organizar o processo segundo as regras canónicas" e em 1930 decla­rou "dignas de crédito" as aparições de Fátima.

A Diocese tem como Padroeira Nossa Senhora de Fátima. A sua imagem está em todas as igrejas e capelas. Das 74 paróquias, há 35 que tém Nossa Senhora como Padroeira, sendo três (Caxarias, Cer­cai e Ribeira do Fárrio) que a invocam sob a designação de Nossa Se­nhora de Fátima. Sem contar a basflica da Cova da Iria.

A devoção a Nossa Senhora de Fátima enche toda a Diocese. Creio mesmo que não há lar cristão que não tenha uma estátua ou pintura da Senhora "mais brilhante que o sol", com as mãos em po­sição de prece e os olhos a irradiarem a Esperança.

E haverá alguém, com mais de sete anos, que não tenha ido à capelinha das aparições? Basta apontar que na 69' peregrinação dio­cesana ao Santuário de Fátima (Abril 2000) seriam cerca de 50 000 os peregrinos de todas as idades!

Diversas vezes a imagem peregrina tem percorrido as paró­quias. E eu próprio testemunho, com emoção, a alegria filial, que aquece o coração e apela à vivência da Mensagem.

É óbvio que Fátima é uma honra para a Diocese, que se tornou conhecida em todo o mundo.

Em contrapartida ou por consequência, poderemos acrescentar que, se é titulo honroso, também é oneroso. Os franceses dizem que "noblesse oblige".

Desde sempre, membros do Clero diocesano (cerca de uma de­zena) vivem a tempo inteiro para o Santuário de Fátima. O bispo es­tá muitas vezes presente nas celebrações e acompanha os cursos e encontros que se realizam no Santuário de Fátima, que, com os pó­los da Cova da Iria e dos Valinhos, representa um salutar oásis de pausa e purificação, ao mesmo tempo que uma escola ou universida­de de humanização e evangelização.

O altar do mundo, levantado na Serra de Aire, é um sinal e uma bênção para toda a Diocese de Leiria-Fátima.

Também é evidente que a beatificação de duas crianças natu­rais desta Diocese é para todos nós uma grande honra. Não temos a certeza se Santa Iria nasceu na área da Diocese, mas sabemos que "Santa" Teresa de Ourém e o Beato Simão Lopes SJ são das terras de Ourém. Por aqui passou Santo António. Por aqui andou Beato Nu­no. Aqui viveu Santa Isabel. Pelo Santuário de Fátima passou Bea-

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to José Maria Escrivã . . . E tantos milhões de santos anónimos conti­nuam a passar e a rezar.

Agora temos os Beatos Francisco e Jacinta Marto. Além dos tú­mulos, da casa natal e das memórias, podemos levantar estátuas e colocá-las nos altares, para veneração e intercessão.

São muitos os sobrinhos. São milhões os admiradores e devo­tos. O Francisco e a Jacintajá eram da nossa família. Agora são mais. Por isso nos sentimos honrados e agradecidos.

t SERAFIM DE SOUSA FERREIRA E SILVA Bispo de Leiria-Fátima

COMUNICADO DA REUNIÃO DOS VIGÁRIOS DA VARA

No passado dia 23 de Maio decorreu, na casa episcopal de Lei­ria, a reunião do bispo da diocese de Leiria-Fátima e do vigário-ge­ral com os vigários da vara, sendo a última do triénio dos vigários. Dela realçamos os pontos seguintes:

1 - Apresentação de um documento sobre as festas religiosas com romarias, preparado pelo vigário-geral e que vai ser debatido na próxima reunião do conselho presbiteral. Objectivo do documento: dar um novo enquadramento teológico-pastoral de forma que as fes­tas ditas cristãs, o sejam, de facto, e não acabem por se tornar num contra sinal.

2 - Da partilha da vida das vigararias, feita pelos vigários, sa­lientamos que, em todas as vigararias, houve actividades de âmbito vicarial; que, apesar de o trabalho paroquial ser, tantas vezes, absor­vente e de haver padres que talvez estejam a trabalhar acima das suas forças, nenhum pode, nem deve, fechar-se na sua paróquia e que é preciso desenvolver mais a pastoral inter-paroquial e vicarial.

3 - Mereceu uma especial referência a vinda do Papa João Pau­lo II a Fátima e a beatificação dos Pastorinhos, Francisco e Jacinta. Foi lido o texto do Papa, proferido no Angelus, em Roma e publicado no Observatore Romano de 17 de Maio próximo passado, em que o Santo Padre fala da especial protecção de Maria, que lhe foi conce-

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dida ao longo do seu pontificado, e das misericórdias de Deus derra­madas sobre a humanidade por intermédio de Maria. Na mesma al­tura, o Papa convidou todos a acolher a luz que vem de Fátima. Todos os presentes na reunião foram unânimes em reconhecer que a beati­ficação dos pastorinhos foi acontecimento de grande importãncia pas­toral e se deve aproveitar a ocasião para valorizar mais a pastoral dos mais pequeninos, pois uma criança pode ser mediadora de salvação não só para outras crianças, mas também para jovens e adultos.

4 - A próxima solenidade do Corpo de Deus também mereceu especial referência. Foram realçadas as novidades que foram intro­duzidas, este ano, na celebração, para toda a diocese, que se faz na cidade de Leiria. São elas: o novo espaço em que decorre a celebra­ção, que não será no largo da sé, mas na antiga cerca do Convento de Santo Agostinho, onde gerações e gerações de homens de Deus pra­ticaram a oração e a contemplaçâo, e que hoje está convertida num belo jardim da cidade, contíguo ao rio Lis; o novo itinerário da pro­cissão, que liga o referido jardim à sé, onde se concluirá a celebração, e a presença das crianças que este ano fizeram, ou vão fazer, a Pri­meira Comunhão de toda a diocese, que seguem imediatamente à frente do pálio, as quais ao longo do percurso da procissão, vão ata­petando de pétalas o caminho por onde é levado o Santíssimo. E ain­da os acólitos de todas as paróquias, enviando cada uma delas um turíbulo para se queimar incenso ao longo da procissão.

5 - Debateu-se ainda o lugar da pastoral juvenil na pastoral da diocese. Sentiu-se a necessidade de a repensar e reestruturar, por al­guns sentirem que ela está a perder um pouco do seu dinamismo e pelo facto do Episcopado Português ter feito, para o biénio 2000 e 2001, uma opção preferencial pelos jovens.

6 - Houve ainda ocasião para o bispo e os vigários se congratula­rem com o povo da paróquia da Barosa, da vigararia de Leiria, que em 16 de Abril inaugurou a sua nova igreja paroquial e reconhecerem o belo testemunho de unidade e de cooperação que deu a toda a diocese.

7 - Em relação à reestruturação das vigararias, que tinha sido ob­jecto de auscultação nas reuniões de padres, o vigário-geral disse nâo haver, por agora, um largo consenso, quanto às grandes alterações su­geridas. O sr. Bispo admitiu a possibilidade de nomear novos vigários apenas por dois anos, para que neste espaço de tempo, julgado sufi­ciente, se amadurecesse o assunto da reformulação das vigararias.

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A VIGARARIA DE OURÉM EM 1998/1999

Constituída por 6 freguesias, Gondemaria, Olival, Nossa Se­nhora da Piedade, Nossa Senhora das Misericórdias, A1buritel e Sei­ça, a vigararia de Ourém faz fronteira com a diocese de Santarém nas 3 últimas paróquias atrás mencionadas.

Tem ao seu serviço 5 sacerdotes com 61-68-65-75--52 anos respectivamente, numa média de 64.2 anos de idade. Juntando esta média à média dos 7 1 anos de idade dos 5 sacerdotes da vigararia de Caxarias, constatamos que esta zona da diocese é servida por um cle­ro com uma média etária de 67.6.

Teoricamente somos duas vigararias, mas, na prática, apenas uma. Há alguns anos que aguardamos a actualização do nome, em conformidade com a realidade dos factos.

Como nos anos anteriores, também em 99/200(}os dois vigários, além de presidirem, alternadamente, à reunião mensal dos sacerdo­tes, procuraram viver, cada um a seu modo, o munus que lhes foi con­fiado.

Nas reuniões houve, duma forma geral, assiduidade, interesse e participação, quer no tempo de oração, reflexão e estudo quer no tem­po do convívio - almoço. Foi pena, que, no nosso passeio de fim de ano, tivessem faltado alguns, por falta de saúde.

De entre as actividades vividas, destacamos algumas mais signi­ficativas:

Na catequese, sob a responsabilidade do P. Bento, um retiro de catequistas e um curso de iniciação.

Na pastoral da família acompanhada pelo P. Manuel Ferreira e equipa do C.P.M., dois cursos de noivos, com bastantes participan­tes.

Na pastoral juvenil com o P. José Luís e a equipa vicarial de Jovens, formada em 1993, presentemente constituída por 16 elemen­tos de quase todas as paróquias, o desdobrável, com o habitual pro­grama anual .

• na área da oração - (6 shemás em 6 paróquias) entre 40-60 jo­vens participantes.

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• na área da formação - "acreditar em Que(m)?", numa jornada aberta aos jovens e à comunidade vicarial, em dois tempos complemen­tares, sob a orientação do P. Vasco Magalhães S.J., com cerca de 150 jovens e adultos;

• na área do convívio e lazer - (juventude ao largo), um passeio com 50 jovens dos 15-30 anos, em dois dias, para os lados de Idanha­-a-Nova, onde não faltou o safari, pedi-paper, visita a museus, mis­sa com a comunidade local, trabalho de grupos, etc.

De realçar o trabalho conjunto da equipa, quer procurando aju­dar o jovem a inserir-se na sua comunidade quer preparando e dando vida às actividades, sem deixar de ter presente os movimentos juvenis da vigararia, "os jovens sem fronteiras" da Ribeira do Fárrio, os agru­pamentos de escutismo e a missão do Secretariado Diocesano.

O espírito jubilar e sinodal estiveram presentes quer nas preo­cupações dos sacerdotes quer na vida dos leigos. Esperamos uma in ten­sificação na conversão e renovação das nossas comunidades, proporcionais às respostas que possamos dar ao Senhor.

RECOMENDAMOS:

O Vigário P. José Luís de Jesus Ferreira

• CURSO DE ESPIRITUALIDADE CRISTÃ (7 de Outubro de 2000 a 2 de Junho de 2001) - Fac. de Teologia, Lisboa.

• SEMANA DA PASTORAL SOCIAL (5-9 de Setembro de 2000, Fátima).

• JORNADAS DO MMF SOBRE OS PASTORINHOS (27-30 de Setembro de 2000, em Fátima).

• CONGRESSO SOBRE SANTO AGOSTINHO (12-16 de No­vembro de 2000, Fac. de Teologia, Lisboa).

• JORNADAS CONTRA A EXCLUSÃO SOCIAL (20-22 de Ou­tubro de 2000, Colégio de S. João de Brito, Lisboa).

• ENCONTRO DA PASTORAL DA SAÚDE (28 de Novembro a 1 de Dezembro de 2000, em Fátima).

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VIDA ECLESIAL BÊNÇÃO E DEDICAÇÃO

DA IGREJA PAROQUIAL DA BAROSA

No dia 16 de Abril do ano dois mil, Domingo de Ramos, com iní­cio às catorze horas e trinta minutos, perante o Ex.mo e Rev.mo Se­nhor D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, que presidiu, o Vigário Geral, Padre Jorge Manuel Faria Guarda, o Pároco desta freguesia, Pa­dre Augusto Gomes Gonçalves, doze sacerdotes desta diocese e com a presença das autoridades, Governador Civil, Presidente da Câmara Municipal e alguns Vereadores, todos os membros da Direcção da Jun­ta da Freguesia da Barosa, Presidente da Assembleia da mesma Jun­ta, e de algumas centenas de pessoas da Comunidade e muitos visitantes, iniciou-se o ritual da dedicação e bênção da nova igreja pa­roquial, cujo padroeiro é São Mateus.

Toda a cerimónia da celebração, que decorreu ao longo de duas horas, foi acompanhada pelo grupo coral da paróquia, devidamente ensaiado e constou do seguinte: procissão de Ramos; que partiu do sa­lão paroquial, que servira de igreja paroquial até àquela data, entra­da solene, ritos iniciais, Liturgia da Palavra, Oração da Dedicação, Unções, Liturgia Eucarística, inauguração da Capela do Santíssimo e Bênção da Imagem de Cristo Ressuscitado. No fmal, antes da bênção, o Pároco dirigiu algumas palavras finais a toda a comunidade e visi­tantes, um elemento do Conselho Económico deu contas da situação financeira e outro do Conselho Pastoral lançou o desafio da constru­ção duma Igreja humana e viva.

No fmal descerrou-se, no átrio de entrada, a inscrição que diz i seguinte: ESTA IGREJA PAROQUIAL FOI SOLENEMENTE BEN­ZIDA E DEDICADA, EM 16 DE ABRIL DE 2000, POR D. SERAFIM DE SOUSA FERREIRA E SILVA, BISPO DE LEIRIA-FÁTIMA

Durante a tarde houve um espaço cultural de festa e convívio, que foi iniciado com uma sessão solene, em palco armado junto ao pa­vilhão da paróquia. Tomaram a palavra o Pároco da Freguesia, o Pre­sidente da Junta da Freguesia, a Presidente da Câmara, o Governador Civil e o Bispo da Diocese.

O espaço cultural propriamente dito foi preenchido por um pe­queno concerto musical pela fIlarmónica dos Pousos, a apresentação de algumas canções populares pelas duas Marchas Populares da fre-

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guesia, a dos Moinhos da Barosa e a da Barosa, algumas canções por crianças, jovens e adultos da comunidade e terminou com a apresen­tação dos Corais do Orfeão de Leiria,já dentro da igreja.

Dia cheio e importante para o povo da paróquia da Barosa, não apenas pela igreja construída, mas pelo que esta obra significa: união no muito esforço, trabalho e colaboração.

O Pároco P. Augusto Gomes Gonçalves

250.º ANIVERSÁRIO DOS MILAGRES

o dia 24 de Junho foi de festa para a paróquia dos Milagres. Foi o 25Q2 aniversário da freguesia.

Para que esta comemoração se tornasse um marco na sua histó­ria, o povo, com o seu Pároco à cabeça, P. Jacinto Pereira Gonçalves, iniciou a sua preparação hájá alguns meses dedicando-se à restaura­ção do seu ex-libris, o Santuário do Senhor dos Milagres.

Ao longo deste ano foram executadas várias acções de índole cul­tural e desportiva e no dia 24, Sua EX.cia Rev.ma o Sr. Bispo, D. Sera­fim de Sousa Ferreira e Silva, deslocou-se àquela paróquia e num ambiente de grande festa, administrou o sacramento da Confrrmação a 48 jovens.

No início da celebração o pároco, P. Jacinto Gonçalves, em nome de todos os cristãos da paróquia saudou o Sr. Bispo, manifestando a ale­gria da comunidade em receber o Pastor Diocesano no santuário res­taurado.

D. Serafim manifestou publicamente o seu contentamento pelo restauro do santuário, exaltando o grande trabalho e esforço do Con­selho Económico Paroquial e da população que não tem faltado com o seu apoio à obra de preservação e conservação do seu santuário que, na região, continua a ser um importante centro de peregrinação.

No final, em jeito de envio, D. Serafim entregou a recordação do sacramento da Confrrmação a cada um dos jovens. "Chegaram ao fi­nal de uma etapa, mas a caminhada cristã continua", disse. Convidou­-os ainda a interessar-se pela catequese e a integrar os grupos de jovens cristãos da paróquia.

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FRATERNIDADE SACERDOTAL

No edificio do Seminário Diocesano reuniu a Fraternidade Sacer­dotal da Diocese de Leiria-Fátima.

Foram eleitos os novos corpos dirigentes: DIRECÇÃO - Presidente: Manuel Armindo Pereira Janeiro; Se­

cretário: José Lopes Baptista; Tesoureir: Adelino Filipe Guarda CONSELHO CONSULTIVO - Armindo Castelão Ferreira, Joa­

quim Almeida Baptista, José Augusto Pereira Rodrigues, Virgílio do Nascimento Antunes e Filipe Luciano de Oliveira Vieira.

A PÁSCOA NA PRISÃO ESCOLA

Como vem sendo hábito, em outras ocasiões festivas, a Associa­ção " Os Samaritanos" - Pastoral Carcerária, quis mais uma vez cele­brar esta Páscoa junto daqueles que momentaneamente se encontram privados da liberdade nos Estabelecimentos Prisionais de Leiria.

As actividades, que têm o ponto alto na celebração eucarística e que é muito participada pelos detidos que aderem às iniciativas, são uma maneira de dar algum alento e sentido de vida aos presos. Es­te ano um grupo de jovens do MCE deu uma ajuda na animação das celebrações. Quer na Prisão-Escola quer no Estabelecimento Prisio­nal Regional, foi entregue a cada um dos presentes um pacote de amên­doas e uma pequena lembrança artesanal, com as imagens do Francisco e da Jacinta.

P. JÚLIO GASPAR

Faleceu no dia 26 de Abril o Rev" P. Júlio Gaspar.

Nasceu no dia 10 de Julho de 1937 na Ra­nha de São João - Vermoil e entrou para o Semi­nário em Outubro de 1950. Terminou o curso de Teologia em Julho de 1962 e foi ordenado pres­bítero em 15 de Agosto desse mesmo ano.

Iniciou a sua actividade pastoral, como coadjutor, na paróquia do Olival em 1 de Outu-

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bro de 1962. A sua vida de trabalho foi dedicada ao serviço de diversas paróquias na nossa Diocese, como pároco e ainda dois anos como Ca­pelão Militar no Regimento de Infantaria 7 de Leiria, de 1973 a 1975. Durante esse tempo, quer como Pároco, quer como Capelão, leccionou Religião e Moral em vários estabelecimentos de ensino além de outras disciplinas. A partir de 1993 até à data da sua morte exerceu a sua ac­tividade sacerdotal no Santuário de Fátima, como confessor.

P. MANUEL DOS SANTOS CRAVEmO

Faleceu no dia 8 de Junho o Rev" P. Ma­nuel dos Santos Craveiro.

Nasceu na Loureira - Santa Catarina da Serra a 26 de Dezembro de 1918. Entrou para o Seminário de Leiria a 16 de Outubro de 1932 e terminou o seu curso em Junho de 1942 tendo si­do ordenado presbítero a 12 do mês seguinte.

Praticamente toda a sua vida de trabalho foi dedicada ao Seminário Diocesano onde come­çou como Prefeito e Professor em Outubro de 1943. Em Outubro de 1946 foi nomeado Director Espiritual, munus que exerceu até 1965.

A partir dessa data foi residir para o Santuário de Fátima tendo sido encarregado de preparar a Missão Diocesana por ocasião das Bo­das de Ouro das Aparições de Fátima e Restauração da Diocese. Em 1970 foi nomeado Capelão do Santuário de Fátima cargo que exerceu até à data do seu falecimento. Exerceu ainda o cargo de Juiz Pró-Si­nodal - 1973, e em Setembro deste mesmo ano foi nomeado para a Co­missão Diocesana do Ano Santo.

ORDENAÇÕES

No domingo, 9 de Julho, o presbitério diocesano viu-se enriqueci­do com um novo padre e um diácono. A igreja"':mãe da Diocese encheu­-se de amigos e familiares para participarem na festa. D. Serafim, manifestou a sua alegria por impôr as mãos nos dois jovens ordinandos.

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o novo padre é o Leonel Vieira Baptista que nasceu no Canadá de uma familia oriunda da Urqueira. Foi nomeado Vigário Paroquial da Sé.

O Nélson José Nunes Araújo é o novo Diácono é natural da Ma­rinha Grande e foijá nomeado para a equipa formadora do Seminário Diocesano.

PROCESSO DE BEATIFICAÇÃO DE LUÍSA ANDALUZ

No dia 25 de Março, celebrou-se em Lisboa, na igreja de S. Ma­mede, o encerramento do processo diocesano da beatificação da serva de Deus Luísa Andaluz, fundadora da Congregação das Servas de Nos­sa Senhora de Fátima.

. Aberto a 15 de Outubro de 1997 por D. António Ribeiro, então Cardeal- Patriarca de Lisboa, o processo teve duas fases distintas:

-A recolha de todos os escritos da serva de Deus e a busca de tu­do o que diz respeito à sua vida e obra bem como os testemunhos de várias pessoas que a conheceram.

Este acto foi presidido por D. José da Cruz Policarpo, Patriarca de Lisboa. Esteve presente o Tribunal Eclesiástico de Lisboa, a quem tinha siso entregue o processo, bem como o postulador da causa, P. Si­me6n de la Sagrada Familia, da Ordem Carmelita, e várias centenas de pessoas, entre as quais um grande número de irmãs da Congrega-ção.

Luísa Andaluz nasceu a 12 de Fevereiro de 1877, em Santarém. A sua firmeza na fé, bebida na formação familiar, impressionava aque­les que com ela conviviam. Muito cedo, começou a comprometer-se nas obras apostólicas, tão necessárias, devido ao abandono proveniente da perseguição religiosa do seu tempo. Apenas com 14 anos, assumiu, a pedido do Cardeal D. José Neto, a missão de incrementar uma obra so­cial para crianças pobres e abandonadas. Luísa Andaluz sentiu-se chamada à vida contemplativa e pensava entrar no Carmelo. A sua primeira intuição foi fundar uma congregação para se encarregar das obras de apostolado que tinha a seu cargo e depois poder ir descansa­da para o Carmelo ... Mais tarde, sorri de si própria, da sua ingenuida-

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de, pois, à medida que ia pensando na fundação da Congregação, mais se ligava a ela e . . . a vocação do Carmelo foi substituída por uma vida de contemplação na acção.

A 13 de Maio de 1923, reuniu-se na Fátima com um grupo de se­nhoras para consagrarem a congregação nascente à maternal protec­ção de Maria. A primeira comunidade veio a abrir na casa de seus pais, em Santarém, a 15 de Outubro desse mesmo ano.

Em 1939, o Cardeal Cerejeira fez a erecção canónica do Institu­to das Servas de Nossa Senhora de Fátima, que, em 1981, foi consti­tuído de direito pontifício.

Luísa Andaluz faleceu, em Lisboa, a 20 de Agosto de 1973, dei­xando cerca de 30 comunidades em Portugal e Moçambique ao servi­ço da Igreja e do Mundo. Actualmente a Congregação estende a sua acção através de 38 comunidades em Portugal, Moçambique, Angola, Bélgica e Luxemburgo.

A documentação relativa ao processo de beatificação de Madre Andaluz foijá entregue em Roma na Congregação para as Causas dos Santos, onde foi aberto no dia 3 de abril. Aí se continuará o trabalho de estudo e avaliação, até que o Santo Padre possa declarar oficial­mente as virtudes heróicas da Serva de Deus.

Ir. Rosária Cardoso Martins

OURO: OS DINHEIROS DO SANTUÁRIO DE FÁTIMA

Da Reitoria do Santuário de Fátima recebemos o seguinte comu­nicado, que esclarece todas as dúvidas das pessoas bem intencionadas:

1 - Urna revista semanal alimentou, em vários números suces­sivos, a partir de 30 de Março, com o título "Ouro Nazi para Fáti­ma?"; investigações, comentários, entrevistas, interrogações, relativas a algumas barras de ouro que, nos anos 70, um banco do Porto colocou num depósito que o Santuário de Fátima lhe confiara para custódia, com o fim de repor uma parte que, por sua iniciativa, de lá retirara para venda.

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Tendo mantido o silêncio enquanto pairavam no ar as poeiras do sensacionalismo, parece-nos chegado o momento de fornecennos alguns dados infonnativos às pessoas, e sobretudo peregrinos do San­tuário de Fátima, que porventura tenham ficado perturbados com tanto alarido.

2 - Basicamente queremos afirmar que, com todos os nonnais defeitos que justamente nos podem ser atribuídos, a nossa preocu­pação fundamental é a de cumprir os fins imediatos do Santuário, que se resumem no acolhimento espiritual, e material se necessário, dos peregrinos.

3 - Na administração dos bens materiais, procuramos seguir os princípios de um bom governo, apontados no essencial pelo Código de Direito Canónico. A administração é exercida em equipa, asses­sorada por pessoas competentes, e em entendimento frequente com a autoridade episcopal de Leiria-Fátima.

O administrador do Santuário, que, de há uns anos para cá não é o reitor mas um dos capelães por ele indigitado, apresenta ao Bis­po diocesano, no princípio e no fim de cada ano civil, o orçamento e relatório de contas. Estes documentos têm sido sempre aprovados, nas receitas como nas despesas, tanto ordin'árias como extraordiná­rias.

4 - De fora da Igreja, e pelas habituais "sentinelas" de dentro, sempre prontas a corrigir em público os defeitos da família, é-nos imputado como culpa o não divulgannos os nossos documentos de gestão. A esse propósito, observamos o seguinte:

4.1 - Os peregrinos, ou seja, os nossos frequentadores, não cos­tumam apresentar-nos exigências de contas, nem quanto às ofertas em dinheiro, nem quanto a outras dádivas.

Igual atitude têm mantido, ao longo destas oito décadas, os co­laboradores mais próximos do Santuário, que, para além de uns 160 assalariados, constituem um voluntariado de mais de meio mi­lhar de pessoas, onde se inclui a Associação de Servitas, que vem já dos anos vinte. Alguns destes colaboradores, por dever de oficio, ou por dom gratuito, são testemunhas e actores diários da gestão do Santuário.

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Igual atitude têm observado ainda as setenta e tal instituições religiosas com casas na Cova da Iria, assim como os habitantes da ci­dade, os sacerdotes e leigos da diocese de Leiria-Fátima.

Também nos não pedem contas as muitas centenas, talvez mi­lhares, de instituições, santuários, paróquias, congregações religio­sas, associações (algumas com centenas de milhar de aderentes) que pelo mundo inteiro se dedicam persistentemente à difusão da men­sagem de Fátima, conduzem peregrinos ao Santuário, e colaboram generosamente nas suas despesas.

4.2 - Na realidade, portanto, e paradoxalmente, a publicação dos actos de administração do Santuário vem sendo reclamada só por pessoas que nunca ou pouco o frequentam, e não contribuem para a sua manutenção. Seremos injustos se dissermos que, tenham ou não razão, tais exigências parecem provir de uma qualquer animosida­de, sempre má conselheira, mais do que do desejo de defender os di­reitos dos peregrinos?

4.3 - Vistas as coisas à luz da razão natural, e dado que quem entrega objectos votivos não costuma pôr condições prévias, podemos interrogar-nos se os ofertantes têm propriamente direito a conhecer as contas e administração deste ou de outros santuários, como se de­vêssemos equiparar a Igreja às instituições estatais, ou mesmo à or­ganizações não-governamentais (ong), que vivem de impostos obrigatórios ou de subsídios públicos.

5 - O que transparece do aparente desinteresse dos frequenta­dores dos santuários pela sua gestão é que as suas contribuições não lhes parecem ter por si peso suficiente para criar exigência de con­trole, ou mesmo só de informação, sobre a globalidade das ofertas dos peregrinos em conjunto. Tanto mais que o vínculo do peregrino ao santuário é muito diferente do de outras suas ligações, até eclesiais, como por exemplo à paróquia ou a associações, por ser totalmente li­vre e pouco assídua a sua frequência.

No caso do Santuário de Fátima, os peregrinos também serão suficientemente avisados para verem que sempre se fizeram aqui grandes obras, as quais exigem fundos importantes. E sabem que ou­tras mais importantes estão previstas para breve.

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6 - Ao contrário do que legitimamente acontece noutros gran­des santuários, e precisamente porque as ofertas espontâneas dos peregrinos vêm sendo suficientes para a sua manutenção e obras, o Santuário de Fátima não costuma pedir nada a ninguém. Com ad­miração e encómio dos estrangeiros! (Os resultados dos peditórios ordenados pelas autoridades eclesiásticas, ou de iniciativa nossa pa­ra benefício externo, costumam ser publicados).

7 - O novo Código de Direito Canónico manda que "os adminis­tradores prestem contas aos fiéis dos bens por eles oferecidos à Igre­ja, segundo normas estabelecidas pelo direito particular" (Cn 1287). Uma tal prestação parece exigir meios de comunicação "públicos".

Numa sociedade em que o alargamento da cultura torna as pes­soas cada vez mais capazes de participação, esta norma aponta um caminho de progresso na transparência, que uma instituição como a Igreja não podia deixar de acolher.

Mas, ao que consta, talvez por dificuldades que mudanças des­te género costumam implicar, nem as dioceses , nem grande parte das paróquias, nem os santuários costumam, em Portugal e outros paí­ses, apresentar publicamente as suas contas.

Quando vier a aparecer a citada determinação comum do "direi­to particular", o Santuário de Fátima estará preparado para a res­peitar. Mas por enquanto não nos sentimos chamados a fazer pioneirismo, ainda por cima a reboque de entidades que nem nos fre­quentam, nem nos ajudam.

8 - O cuidado que pomos em administrar os ex-votos, entre os quais os objectos preciosos, é o mesmo que pomos em toda a admi­nistração. A sacralidade dos metais preciosos é igual à das ofertas em dinheiro, das fardas dos soldados, das alfaias litúrgicas, das velas, ou flores. A diferença pode estar no valor material, histórico ou artísti­co, como também na durabilidade. Mas uns e outros destinam-se aos fins do Santuário, que são genericamente a difusão do Evangelho, a administração dos sacramentos, a vivência da oração, e a comunhão fraterna, sobretudo com os pobres, e antes de mais os próprios pere­grinos, por serem os nossos mais próximos.

Por necessidade ou conveniência, para realizar fundos ou por falta de espaço, costumamos transformar, alienar ou oferecer parte importante dos ex-votos.

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Sempre, porém, houve a preocupação de guardar, para fins do­cumentais ou testemunhais, os que se revestissem de maior signifi­cado. Assim acontece ultimamente com vestidos de noiva, que de há três anos para cá começámos a guardar.

8. 1 - Este é, pois, o critério que se vem usando com o ouro e a prata, de que nos são oferecidos entre dez e vinte quilos anualmen­te. Algumas vezes são utilizados para confeccionar alfaias litúrgicas, como cãlices e cibórios, outras vezes vendidos para fazer face a des­pesas várias, e em muitos casos conservados.

8.2 - Por várias vezes têm sido feitas exposições com objectos voo tivos. Estas exposições são recomendadas pelo Código de Direito Ca­nónico, cânone 1234. Está prevista para este ano a exposição "Luz de Fátima".

9 - Chegamos agora à questão que ocasionou este comu­nicado. Acontece que em 1976 algum ouro do Santuário foi substi­tuído, num banco, por barras do III Reich.

Em 1970, o Santuário mandara fundir ouro que não lhe pare­cia susceptível de aproveitamento museológico e depositou-{) num banco do Porto,

Supostamente com o acordo do reitor de então, e com a condi­ção de repor depois o mesmo peso, o banco fiduciário usou uma par­te desse ouro para venda.

Quando o banco, a partir de 1976, e a pedido do actual reitor, o quis repor, fê-lo em parte com algumas barras que tinham a marca do III Reich.

Entre os anos de 1982 e 1986, teve o Santuário que vender uma quantidade considerável desse ouro, e de outro que entretanto lá tam­bém depositara, para fazer face às despesas com as novas constru­ções, depois de obtidas as necessárias autorizações, inclusive da Santa Sé.

10 - Alguns interrogam-se agora como funcionou a consciência do reitor quando viu as barras alemãs no depósito do Santuário, e depois quando vieram a público notícias das comissões de inquérito, constituídas no seguimento das reivindicações dos Judeus espolia­dos durante a Segunda Grande Guerra.

148 ______________________________________ __

VIDA ECLESIAL

Como primeiro alvejado, sinto poder confessar a verdade na pri­meira pessoa: nunca se me pôs qualquer problema de consciência.

Quando deparei com a inscrição "III Reich", achei até curioso, mais do que estranho. Estávamos no após 25 de Abril e constava que se ia esvasiando a famosa reserva das setecentas toneladas de ouro deixadas pelo anterior regime. A esta distância, o que julgo ter pen­sado foi que essas barras, vindas de tão longe, no tempo, no espaço e na idiossincracia, tinham sido compradas pelo banco depositário ao Banco de Portugal. Possivelmente veio--me também à mente a febre do volfrâmio, e o tempo da guerra, mas não as espoliações názis, de que ao tempo não se falava. Também achei por bem perguntar ao banco se, tendo convertido em empréstimo para venda uma parte de um depósito fiduciário, não haveria lugar a participação do proprie­tário nos lucros emergentes.

Isto em 1976. Recentemente, só quando veio a público o nome do Santuário me lembrei de pedir que se conferisse se, e desde quan­do, as barras tinham desaparecido. De facto já lá não estavam pelo menos desde ·1986.

11 - E se as barras estivessem ainda hoje na posse do Santuá­rio? Pois certamente procuraríamos saber o máximo possível sobre a sua proveniência remota, e nos interrogaríamos em que medida poderíamos colaborar na reparação de qualquer injustiça. Mas asse­gurando a posse do valor que nos pertencia.

E se. como parece provável, não chegássemos a saber nada, po­deria parecer-nos razoável tentar preservar ao menos algumas das barras, como memória autêntica daquele horrível período da Histó­ria da Humanidade. Tal como guardamos com igual respeito, um pe­daço do Muro de Berlim, e a bala disparada contra o Papa João Paulo II. Tanto mais que o mal não está nas coisas, mas no coração dos ho­mens e no uso que eles fazem delas.

Não é verdade que, para salvar os Judeus das mordeduras das serpentes, no deserto, já Deus mandou a Moisés que levantasse na frente do povo uma serpente de bronze? Até a vista de uma simples imagem de horror pode ter muitas vezes efeitos curativos.

Não deve ter sido outra a convicção dos que fizeram de, e dos restantes campos de extermínio, verdadeiros museus do Holocaus­to, lugares horríveis onde em cada canto, e a cada imagem, uma tre-

149

VIDA ECLESIAL

menda revolta e uma profunda angústia se sublimam misteriosa­mente num silêncio de súplica, pela justiça e pelo amor, dos homens e de Deus.

Pensamos que uma razão semelhante nos poderia assistir para conservar as barras, se estivessem ainda hoje em nossa posse.

12 - Por parte de quem de direito, não nos foi ainda pedida qual­quer responsabilidade. Mas queremos deixar claro que, como é nos­sa obrigação, estamos preparados, não para alimentarmos a voracidade capitalista de certos "media", mas para respondermos, com sinceridade, a quem de direito e em sede própria, sobre o que nos possa ser imputado, nesta ou noutras questões.

Santuário de Fátima, 2 de Maio de 2000

o reitor P. Luciano Guerra·

PRÉMIO GULBENKIAN DE CIÉNCIA 1999

o Dr. Saúl António Gomes e sua esposa Dr". Cristina Maria An­dré de Pina e Sousa foram distinguidos com o prémio Gulbenkian de Ciência 1999 pela sua obra, INTIMIDADE E ENCANTO - O mosteiro Cisterciense de Santa Maria de Cós.

O júri considerou Intimidade e Encanto que reconstitui o vi­ver quotidiano dos membros da comunidade feminina cisterciense de Cós a partir da primeira metade do Século XIV como obra origi­nai e inovadora, de construção histórica sólida, criativa, exigente e modelar.

O prémio foi-lhes entregue na sede da Fundação Calouste Gul­benkian no dia 8 de Junho último em sessão solene presidida pelo senhor ministro da Ciência e Tecnologia e perante numerosa assis­tência sobretudo dos meios universitário e cultural.

"Leiria-Fátima" apresenta ao Dr. Saúl António Gomes, mem­bro do seu Conselho de Redacção e um dos mais dedicados colabora­dores, as mais vivas felicitações por esta merecida distinção que torna extensivas a sua Ex.ma esposa.

150 ________________________________________ __

OFERTÓRIOS NA

DIOCESE

É óbvio que não nos referimos aos

"ofertórios" que se fazem habitualmente nas

celebrações dominicais. E muito menos aos

(peditórios" fora das igrejas, como aconte­

ce, por exemplo, para a Cáritas.

Há "obrigação" de promover, nas Ce­

lebrações Dominicais da Missa, alguns

"ofertórios" no ano, para fins eclesiais bem

especificados. Referimo-nos a essas verbas,

que publicamos em mapa comparativo dos

anos 1998-1999. Os poucos casos omissos

foram, como regra, explicados /justificados

nos Serviços Administrativos.

Porque alguns Párocos se interrogam

sobre o número e as razões destes Ilofert6-

rios", esperamos que a Conferência Episco­

pal Portuguesa reveja a lista ou tabela de

âmbito nacional. Também será bom que a

nossa Diocese, na vigência do RABI e na

prática da Sinodalidade, partilhe mais ge­

nerosamente todos os Valores.

151

PARÓQUIA UNlVERS. CÁRITAS CONTRIBUTO LUGARES COMUNIC. SANTO CAT6l1CA PENITENCIAl SANTOS SOCIAIS PADRE

Albergaria dos Doze 0$ 0$ 34.700$ 0$ 0$ 0$

A�unlel 13.565$ 20.230$ 48.500$ 1 1.500$ 14.130$ 10.710$

Alcalia 7.100$ 17.200S 10.500$ 5.000$ 6.700$ 16.000$

Aljubarrota 24.680$ 27272$ 66.090$ 10.850$ 23.140$ 22.560$

Alpednz 1 1 .996$ 21.045$ 31 .720$ 2.230$ 0$ 1 1 .440$

Alqueidão da Serra 28.125$ 66.330$ 254.650$ 17.035$ 26.150$ 33.835$

Alvados 9.300$ 9.500$ 70.000$ 0$ 9.050$ 0$

Amor 31 .500$ 46.000$ 74.700$ 27.500$ 28.500$ 27.500$

Arrabal 26.000$ 48.500$ 35.000$ 39.000$ 34.250$ 29.880$

Arrimal 10.485$ 20.000$ 61 .805$ 10.400$ 15.720$ 8.200$

Atouguia 10.000$ 20.000$ 50.180$ 15.000$ 10.000$ 25.000$

Azoia 30.966$ 41 .945$ 53.420$ 9.550$ 20.100$ 17.740$

Bajouca 49.000$ 82.000$ 180.000$ 0$ 13.600$ 24.000$

Barosa 14.000$ 14.000$ 10.000$ 9.000$ 9.000$ 0$

Barreira 15.062$ 54.770S 79.000$ 23.000$ 15.830$ 13205$

Balalha 80.628$ 123.636$ 219.500$ 12.000$ 64.650$ 70.200S

Bidoeira 12.555$ 5.080$ 0$ 2.505$ 10.690$ 0$

Boa��a 15.500$ 22.100$ 0$ 0$ 13.400$ 0$

Calvaria 16.000$ 24.000$ 45.000$ 8.000$ 18.500$ 18.000$

Caranguejeira 0$ 0$ 0$ $O $O 0$

Camide 14.500$ 22.000$ 53.000$ 10.850$ 16.500$ 17.300$

CaNide 16.820$ 13.010$ 30.875$ 12.445$ 9.000$ 1 6.830$

Casal dos Bernardos 23.850$ 40.170$ 190.200$ 44.645$ 20.890$ 31 .345$

Caxarias 37.730$ 79.765$ 122.140$ 43.540$ 47.050$ 56.245$

Cercai 18.275$ 38.566$ 46.456$ 21 .855$ 22.875$ 14.715$

Coimbrão 22.875$ 24.440$ 38.645$ 6.440$ 22.035$ 23.465$

Colmeias 43.640$ 95.595$ 268.340$ 41 .290$ 33.600$ 41 .070$

Cortes 12.2445 26.155$ 45.500$ 13.330$ 18.926$ 12.000$

Esp�e 20.270$ 47.000$ 150.000$ 42.000$ 21.250$ 32.000$

Fálima 107.115$ 265.027$ 427.575$ 147.900$ 96.045$ 104.770$

Fonnigais 9.000$ 15.000$ 21.500$ 10.000$ 8.000$ 9.� Freixianda 65.050$ 75.660$ 231.885$ 33.000$ 60.675$ 57.190$

Gondemaria 13.070$ 28.625$ 41 .265$ 13.020$ 13.380$ 8.500$

Juncal 0$ 43.843$ 35.285$ 17.780$ 30.726$ 27.856$

Leiria 152.310$ 291.545$ 491.755$ 128.245$ 137.896$ 159.236$

Maceira 80.420$ 102.276$ 184.463$ 28.086$ 66.385$ 51 .877$

Marinha Grande 76.286$ 1 17.350$ 107.560$ 26.445$ 61 .223$ 66.874$

162 ________________________________________ __

MlGRAçOES IGREJA MlSSOES SEMINÁRIO TOTAIS TOTAIS DIOCESANA, , ... ,,,.

0$ 0$ 226.000$ 0$ 260.700$ 491.181$

1 1 .855$ 1 1 .730$ 42.245$ 20.320$ 204.785$ 179.174$

1 1 .000$ 10.600$ 26.000$ 18.600$ 128.600$ 128.745$

19.000$ 27.000$ 100.000$ 73.020$ 393.612$ 375.185$

8.690$ 0$ 0$ 0$ 87.123$ 129.997$

57.495$ 32.035$ 95.198$ 46.886$ 857.749$ 560.989$

10.590$ 14.000$ 18.000$ 15.446$ 155.8861 131 .490$

37.000$ 39.600$ 60.600$ 39.500$ 412.300$ 473.600$

29.800$ 30.000$ 102.360$ 40.795$ 415.585$ 387.550$

6.350$ 7.500$ 27.700$ 30.000$ 198.160$ 156.532$

13.000$ 35.000$ 21.000$ 1 1 .000$ 210.180$ 240.572$

19.300$ 25.340$ 36.260$ 33.920$ 288.541$ 241.787$

26.000$ 41.000$ 104.000$ 93.350$ 612.950$ 601.600$

12.000$ 13.000$ 28.000$ 16.000$ 125.000$ 119.600$

30.600$ 18.460$ 44.875$ 35.215$ 329.917$ 309.582$

62.890$ 115.979$ 229.552$ 143.315$ 1.12:0348$ 1.009.598$

4.075$ 1 1 .460$ 23.040$ 20.585$ 89.970$ 97.932$

16.9161 12.650$ 25.000$ 13.000$ 118.5661 262.600$

13.000$ 18.6001 35.000$ 28.000$ 224.000$ 238.500$

0$ 55.584$ 1 16.144$ 107.475$ 279.203$ 701.253$

13.600$ 17.600$ 18.000$ 14.600$ 197.650$ 137.627$

20.260$ 33.000$ 18.020$ 17.020$ 187.280$ 202.542$

28.800$ 28.060$ 38.510$ 39.555$ 486.225$ 448.920$

43.671$ 58.475$ 123.125$ 129.615$ 739.356$ 600.530$

21.3851 21 .355$ 30.910$ 21.165$ 257.559$ 224.718$

59.630$ 19.920$ 32.960$ 33.230$ 283.640$ 258.940$

41 .590$ 45.510$ 289.6251 50.510$ 950.970$ 962.095$

15.100$ 21.847$ 32.155$ 50.100$ 247.359$ 313.358$

35.100$ 28.120$ 1 18.900$ 28.100$ 520.740$ 340.106$

104.860$ 123.420$ 396.385$ 224.135$ 1.997.252$ 1.851 .458$

20.600$ 1 1 .600$ 13.000$ 23.660$ 141.660$ 145.800$

51.020$ 49.580$ 294.700$ 172.000$ 1.090.760$ 1.626.669$

23.775$ 17.825$ 16.335$ 18.765$ 194.560$ 231.880$

21.081$ 31 .436$ 87.598$ 48.435$ 344.042$ 451.399$

45.000$ 220.862$ 375.925$ 284.445$ 2.287.219$ 2.504.347$

53.1251 73.121$ 1 19.405$ 85.730$ 844.887$ 848.377$

46.640$ 62.190$ 184.845$ 127.451$ 876.664$ 828.400$

____ �------------------------------------ 153

PAROQUIA UNIVERS. CÁRITAS CONTRIBUTO LUGARES COMUNIC. SANTO CATÓLICA PENITENCIAL SANTOS SOCIAIS PADRE

Marrazes 53.965$00 51.904$ 128.156$ 39.725$ 60.227$ 58.9681

Matas 9.200$ 23.500$ 60.000$ 30.000$ 14.700$ 13.900$

Meirinhas 15.405$ 25.050$ 55.270$ 10.165$ 15.940$ 15.565$

Memória 25.950$ 45.035$ 87.370$ 18.610$ 20.130$ 22.085$

Mendiga 13.420$ 15.100$ 8.000$ 4.715$ 16.300$ 5.720$

Milagres 19.600$ 51.1SOS 67.800$ 9.200$ 1 1 .2SOS 0$ Minde 37.770$ 67.760$ 85.550$ 0$ 24.410$ 21.640$

Mira ele Aire 26.500$ 50.600$ 112.325$ 0$ 32.045$ 0$

Monte Real 35.950$ 42.000$ 49.220$ 16.610$ 24.645$ 32.600$

Monle Redondo 49.155$ 75.330$ 156.870$ 17.785 52.267$ 64.195$

O!ival 16.262$ 23.895$ 46.070$ 28.600$ 20.000$ 13.680$

Ortigosa 21.920$ 20.850$ 66.705$ 7.310$ 0$ $O ÜIlrém-N.S. Piedade 34.770$ 83.330$ 197.380$ 25.090$ 46.890$ 41 .690$

Ourém-N,S. Miseric. 61.010$ 88.024$ 211 .820$ 54.4361 60.962$ 48.687$

Parceiros 28.000$ 72.000$ 141 .560$ 34.000$ 21.400$ 23.720$

Pataias 0$ 75.037$ 100.000$ 0$ 36.007$ 57.48.2$

Pedreiras 21.000$ 37.000$ 74.000$ 10.000$ 25.000$ 21.500$

Porto de Mós 52030$ 79.195$ 104.895$ 14.790$ 47.4861 86.900$

Pousos 28.958$ 54.450$ 49.100$ 32.685$ 20.015$ 34.200$

Regueira de Pontes 24.055$ 36.850$ 81 .745$ 16.500$ 13.350$ 16.755$

Reguengo do Felal 23.585$ 53.275$ 121 .720$ 16.135$ 21.471$ 20.490$

Ribeira do Fárrio 29.000$ 41.500$ 189.020$ 25.300$ 32.500$ 34.700$

Rio de Couros 21.8.20$ 38.420$ 128.080$ 17.750$ 17.735$ 31.1 SOS Sti.Catarina da Serra 56.155$ 132.400$ 120.480$ 0$ 0$ 0$

Santa Eufémia 26.000$ 75.330$ 115.500$ 13.320$ 23.000$ 36.000$

São Bento 3.824$ 4.000$ 3.380$ 3. ISOS 2.420$ 2.680$

São Mamede 47.630$ 79.660$ 197.210$ 20.125$ 43.435$ 31 .465$

S. Simão de Ulém 31 .300$ 72.000$ 130.000$ 21 .500$ 30.300$ 39.500$

Seiça 18.728$ 31.120$ 96.190$ 28.775$ 22.255$ 21.050$

Serra de St.12 António 4.825$ 6.695$ 2.680$ 3.440$ 3.280$ 4.230$

Serro Ventoso 6.120$ 12.060$ 31200$ 2.855$ 5.730$ 4.610$

Soulo da Carpalhosa 39.195$ 56.255$ 107.505 7.870$ 0$ 0$

Urqueira 61 .020$ 84.202$ 162.610$ 18.500$ 51.320$ 50.856$

Vermoil 26.435$ 71 .550$ 66.565$ 12.600$ 20.600$ 21.38.3$

Vieira de Leiria 30.450$ 43.000$ 59.800$ 20.000$ 0$ 15.740$

Sanluário de Fátima 1.160.069$ 1287.502$ 2.386238$ 191 .655$ 2.350.319$ 1.877.712$

TOTAIS 3.281.193$ 5.096.564$ 9.613.225$ 1.616.536$ 4.207.359$ 3.820.304$

154 __________________________________________ __

MlGRAçOES IGREJA MISSOES SEMINÁRIO TOTAIS TOTAIS DIOCESANA 1999 1998

43.604$ 62.757$ 277.506$ 96.61 1$ 675.621 $ 654.422$

16.003$ 15.155$ 61 .250$ 17.055$ 260.763$ 290.634$

15.050$ 13.615$ 29.405$ 22.050$ 217.715$ 253.765$

42.350$ 29.650$ 209.205$ 29.650$ 530.435$ 570.135$

9.675$ 1 6.490$ 16.690$ 24.220$ 134.730$ 70.143$

26.150$ 31 .655$ 24.220$ 46.650$ 292.075$ 263.256$

30.791$ 42.770$ 146.460$ 52.390$ 51 1 .561$ 556.929$

33.500$ 35.500$ 72.400$ 55.690$ 416.460$ 309.270$

41 .200$ 44.015$ 89.320$ 36.200$ 413.960$ 447.562$

51 .705$ 36.570$ 96.920$ 161 .925$ 752.722$ 631 .368$

1 7.465$ 16.330$ 27.190$ 24.355$ 235.657$ 245.761$

0$ 29.365$ 32.350$ 40.400$ 216.930$ 0$

41.070$ 52.635$ 126.600$ 66.095$ 739.950$ 760235$

60.754$ 55.327$ 41 1 .025$ 69.106$ 1.121 .353$ 296.051$

24.500$ 34.000$ 52.500$ 33.500$ 465.160$ 1.036.456$

37.047$ 47.205$ 69.666$ 70.269$ 512.913$ 401.530$

23.000$ 16.000$ 50.500$ 34.500$ 312.500$ 694.452$

66.660$ 69.700$ 135.90OS 109.161$ 766.757$ 345.500$

22.315$ 27.490$ 49.046$ 36.695$ 354.953$ 720.604$

14.610$ 1 6.305$ 1 42.235$ 40.755$ 405.360$ 405.650$

18.600$ 49.560$ 45.850$ 35.910$ 406.596$ 374.987$

25.060S 28.800$ 107.500$ 78.500$ 591.860$ 364.236$

31 .950$ 42.900$ 1 02.650$ 63.380$ 495.6355 439.045$

30.145$ 50.385$ 90.265$ 1 33.080$ 612.910$ 604.232$

30.600$ 41 .000$ 1 03.995$ 59.250$ 523.995$ 453.344$

3.320$ 5.820$ 6.605$ 6.605$ 41 .804$ 73.480$

55.33OS 64.060$ 104.640$ 59.000$ 702.775$ 678.129$

52.500$ 41 .500$ 136.500$ 64.440$ 641.540$ 649.970$

31 .770$ 34.965$ 37.745$ 35.220$ 357.828$ 339.71 1$

4.8555 7.320$ 7.010$ 6.120$ 52.455$ 52.752$

5.230$ 7.040$ 9.075$ 12.310$ 96.030$ 1 10.0955

0$ 47.530$ 102.390$ 61 .275$ 442.020$ 491 .993$

76.830$ 53.633$ 107.165$ 69.207$ 735.563$ 724.592$

36.215$ 35.900$ 41 .200$ 46.000$ 316.590$ 343.682$

24.500$ 35.900$ 41 200$ 46.000$ 316.590$ 343.682$

2.466.379$ 3.971 .804$ 3.517.965$ 1.387.570$ 20.597.233$ 20.294.103$

4.549.691$ 6.594.060$ 10.295.304$ 5.444.904$ 54.519.140$ 54.252.257$

____________________________________________ 155

REMODELAÇÃO DAS VIGARARIAS

N. R. -- Transcrevemos parte de uma carta do Sr. Bispo a todos os Padres da Diocese.

Reverendíssimo Senhor:

1. Continua(rá) em estudo a possível remodelação das vigara­rias territoriais, unidades de acção pastoral de conjunto (cc. 553--555), que devem ser apoiadas e desenvolvidas.

Da reflexão dialogal já feita, conclui-se e aceita-se que as viga­rarias de Ourém e Caxarias sejam fundidas numa só, com o mesmo Vigário. As outras propostas/alterações serão cuidadosamente reana­lisadas e ponderadas, mesmo que caso a caso.

Porque está terminando o mandato dos actuais Vigários da va­ra e se aproxima o ano pastoral 2000/2001, venho solicitar a VR o fa­vor de indicar o nome do Sacerdote, da sua área de residência, que julgue mais idóneo para poder assumir tais funções. A resposta de­verá chegar-me às mãos, antes do final do corrente mês.

2. No edifício da Alfândega do Porto está aberta (das 10 às 12 h. e das 14 às 19 h.) a EXPO 2000 - CRISTO FONTE DE ESPERAN­çA.

A pedido/sugestão de vários membros do Clero, está previsto que o autocarro do Santuário de Fátima parta de Fátima às 7.30 h. e do Seminário diocesano às 8 h. do dia 21 deste mês de Julho, 6."­-feira . . .

3 . O s Rev. Párocos serão procurados pela Sr." Eng.' Almerinda Antas, da empresa ValorLis, que deseja solicitar preciosa colabora­ção na perspectiva da educação cívica .

. . . Oxalá que possa ter algumas merecidas férias, e recomeçar o ano pastoral com mais coragem, nesta nossa querida Diocese em Sí­nodo.

Jubilares cumprimentos in JC.

Leiria, 8 de Julho 2000.

(t SERAFIM S. FERREIRA E SILVA, Bispo de Leiria-Fátima).

156 ________________________________________ __

OBJECTIVOS PRINCIPAIS NO ANO PASTORAL

2000-2001

N. R. -- Da introdução do Sr. Bispo ao Calendário Diocesano para o Ano Pastoral 2000-2001, salientamos as partes que dizem res­peito ao Sínodo e à Formação.

1. O SÍNODO DIOCESANO continua em curso. Já se vêem al­guns frutos. Na sequência da sessão anterior, que estudou como "fa_ zer das celebrações fontes de vida", a etapa que se inicia seguirá uma bandeira bem levantada com a seguinte legenda: "Brilhe a vossa luz diante dos homens".

O quarto guião para o trabalho dos grupos sinodais é, pois, so­bre a presença visível dos cristãos no mundo. São "iguais a todos, e diferentes na fé". Porque e para que os cristãos são/sejam os melho­res cidadãos. Coerentes e activos. Com o testemunho profético dos "consagrados" .

Os grupos sinodais trabalharão nos meses de Outubro-Dezembro, a fim de que a 4.' sessão da Assembleia Sinodal (em reestruturação) nos dias 2-4 de Fevereiro de 2001 disponha de conclusões/propostas, oriun­das das bases/realidades.

Já vislumbramos o documento fmal, como marco/padrão da si­nodalidade estrutural e da renovação permanente.

Da 3.- sessão sinodal (1-3 de Outubro de 1999) resultou uma conclusão/exortação que promete e compromete: "Vamos celebrar a fé com corpo e alma". Cremos e queremos que vai ser melhor. Na re­visão dos ritos e das festas. Na união sacral de culto e cultura.

E continuará bem erguida a cruz da nossa caminhada proces­sional e progressiva: "Unidos no Caminho da Esperança".

2. A FORMAÇÃO deverá ser prioritária e permanente. Para o Clero e para o Laicado.

____________________________________________ 1 5 7

Esperamos que a Comissão para a formação do Clero prossiga, a desenvolver actividades como os cursos (23-27 de Outubro e 20-24 de Novembro) e outras jornadas. Desejamos que o "órgão oficial" da Diocese e o Semanário diocesano ajudem, que seja estimulado o aces­so às publicações e bibliotecas, que as recolecções mensais sejam mais aproveitadas, que as reuniões de vigararia se dinamizem na entrea­juda e na actualização dos Formadores, sem os vicios de funcioná­rios e com alma/carisma de bons pastores ...

Também muito esperamos que o novo Centro de Cultura e ajá adulta Escola de Formação Teológica de Leigos sejam pólos e instru­mentos de vida cristã, em crescimento e em diálogo.

A evangelização/catequese, através das escolas de catequistas e cursistas, nos movimentos e nas comunidades, nos secretariados do ensino nas escolas e da pastoral familiar . . . ocupará com dinamis­mo a linha avançada da missão eclesial. Para os que estão dentro e/ou fora da Igreja. Para os mais novos e para os adultos.

Todos os cristãos da nossa Diocese, em comunhão hierárquica e dialogal, sem monopolizar tarefas e sem menosprezar os "diferen­tes", desejam purificar-se no Baptismo, alimentar-se na Eucaristia e encontrar a Vida.

Neste conjunto de programa pastoral diocesano 2000-2001, não vamos esquecer as crianças nem os idosos; queremos investir mais na pastoral juvenil . . . Há muita gente à espera de Alguém.

Todas as boas vontades serão animadas e convidadas à colabo­ração para um mundo mais justo, de "cidadania individual-respon­sabilidade colectiva". Para que os que seguem outros ideais ou religiões vejam e percebam que somos diferentes na fé, mais respon­sáveis no bem comum, mais valentes e felizes na caminhada da vi­da. E sintam vontade de nos acompanhar. Com · Cristo, o único Salvador.

Leiria, 10 de Agosto de 2000, festa de S. Lourenço.

(t SERAFIM S. F. SILVA, Bispo de Leiria-Fátima)

158 ____________________________________ �----

- ,

"DE CORAÇAO SAUDO TODA A DIOCESE DE LEIRIA-FÁTIMA"

No final da tarde de sábado 29 de Julho, o Santo Padre transferiu­-se de Castel Gandolfo, para a Praça de São Pedro e ali recebeu em au­diência colectiva cerca de 20 mil membros dos "Cursilhos de Cristendade",

originários de 40 nações diferentes. Entre os numerosos grupos de fiéis de diversas proveniências, des­

tacamos a presença de cerca de cem peregrinos da Diocese de Leiria-Fá­tima, acompanhados pelo Bispo D. Serafun Ferreira e Silva.

Depois de falar aos Cursilhistas, disse aos portugueses:

",.4. minha saudação estende-se com a mesma cordialidade a todos os outros peregrinos aqui congregados. Em palticular àqueles da Diocese de Leiria-Fátima, guiados pelo seu Bispo, o estimado D. Serafim.

Queridos Irmãos e Irmãs, já se passaram dois meses desde quando' tive a alegria de me encontrar no meio de vós. gozando da vossa calorosa hospitalidade e testemunhando a vossa radiante alegria pela confirmação da santidade em dois vossos conterrâneos: os Beatos Francisco e Jacinta Marto. Hoje, em vós - eleita representação da referida Igreja local - ve­jo retributda a visita: em vós, que viestes junto do túmulo do Prtncipe dos Apóstolos, em espírito de oração e penitência, implorar perdão e indulgên­cia, e renovar a vossa d€dicação àquela obra de divinização da humani­dade que teve início há dois mil anos, com O nascimento de Deus humanado.

De coração saúdo toda a Diocese de Leiria-Fátima, com votos por que este Grande Jubileu da Encarnação se revele para todos vós aquele "ano de graça do Senhor", que se tornou realidade com Jesus e em Jesus (cr Lc 4, 19-21), para poderdes esperar confiadamente na força da sua mensa­gem e obra de salvação, amar a todos com amor de doação e também de reparação pela ingratidão a Deus de tantas pessoas, e testemunhar a fé com coragem e coerência na sociedade actual.

A Virgem Santíssima, misticamente presente nos vossos santuários marianos, entre os quais sobressai por sua escolha o de Fátima, acompa­nhe maternalmente o vosso caminho de penitência e conversão, e vos sus· tenha na realização dos vossos propósitos para o bem da vossa Diocese e para a salvação do mundo. "

No dia seguinte, domingo, os peregrinos da nossa Diocese voltaram

a encontrar-se com o Papa em Castel Gandolfo.

159

LEIRIA-FÁTIMA, publicação quadri­mestral, que arquiva decretos e pro­visões, divulga critérios e normas de acção pastoral e recorda etapas im­portantes da vida da Diocese.

Impresso na GRÁFICA DE LEIRIA

Depósito Legal N' 64587/93

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