Léo Prudêncio - Baladas para violão de cinco cordas

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pequena amostra do livro com alguns poemas da obra e comentarios...

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BALADAS PARA VIOLÃO DE CINCO CORDAS – LÉO PRUDENCIO(PEQUENA MOSTRA)

ISBN: 978-85-8406-006-1ANO DE PUBLICAÇÃO : 2014

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POEMAS

balada para violão de cinco cordas

I

essa é a história de chico

mais um dentre tantos

que ardem por justiça

chico era homem casado

(de uma mulher só)

pai; amigo xadrezista filósofo e sonhador

cansou sem grandes alardes da vida

dizia que

– viver é uma atividade repetitiva e cansativa

um belo dia

disse à mulher e aos filhos

que iria se encontrar com Deus.

no mesmo dia

voltando para casa

chico ao atravessar a avenida

foi engolido por um caminhão

não resistiu

II

– PSIU!!

reza a lenda que chico

era um filósofo suicida

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os poetas

(poema redundante)

I

os poemas são as chaves para se desvendar

a vida e a vida segue o ritmo das ondas do mar

(clichê não?)

as palavras existem para criar mundos

foi com ela que Deus criou o seu mundo

por falar em Deus

o poeta é um profeta enviado por Jah

II

o poeta

mero manipulador da palavra

o poeta

mero desespectador da vida

escrever poemas é como soltar

pássaros de suas gaiolas

e

quem compõe poemas

merece o perdão divino

III

!(

a propósito:

foda-se platão e sua república

)!

IV

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ser poeta é absorver as dores do mundo

é cavalgar nas palavras

é desconstruir o agouro (h)umano

ser poeta é desacreditar na vida

é fornecer o grito

é formular o descompasso

do caminho

V

sentado à beira do cais

o poeta pergunta ao mar:

“que faço eu no mundo?”

ondaondaonda

ondaondaondaondaonda

ondaondaondaondaondaondaonda

ondaondaondaondaondaondaondaondaonda

ondaondaondaondaondaondaondaondaondaondaonda

(o mar devolveu-lhe apenas o silêncio

da existência humana)

VI

quem nunca se sentiu como um navio naufragado

(além de não ter o dom da poesia)

sobre viver nada sabe

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ode a sulamita

“Eu dormia, mas o meu coração velava; e eis a voz do meu amado

que está batendo"

Cantares de Salomão 5:2

I

eu não dormi aquela noite

passeei pela noite seguindo o ritmo

das batidas cardíacas de minha amada.

a voz de minha amada

é a força motora de meu barco a vela.

navegar em seus lábios

é melhor que o vinho.

minha amada é como a pomba

não a prendo em minhas mãos.

ela é delicada, linda, graciosa e sutil

como a mirra exposta ao sol

II

assim como as muralhas de jerusalém

os braços de minha amada me protegem.

ela me afaga com o mesmo cuidado

que um pastor afaga as suas ovelhas

o seu corpo é o meu telhado

num dia de chuva

o seu cabelo é mais cheiroso e afável

que os campos do líbano

que Deus me perdoe

por ter escrito o nome de minha amada

no caule do cedro de meu jardim

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III

minha amada é majestosa

como os montes moriá sião e sinai.

os braços de minha doce e amada sulamita

são navegáveis e afogáveis

como o mar mediterrâneo

a sua presença é mais refugiosa

que estar em en-gedi.

IV

ela é a fonte dos jardins

ela é a força dos cavalos

ela é o eco das cavernas

ela é o horizonte

ela é o azul do mar

ela é o sol se pondo

ela é minha amada:

sulamita.

o poeta está só

(poema revisitado ®)

I

a solidão

é um naufrágio em si mesmo

é um estado de introspecção

a solidão é o momento antropófago do ser

ando só como um elefante

a beira da morte

nesse abrigo de poetas mortos

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sou o único a permanecer anônimo

sou uma ilha rodeada de terra

sou poeta apenas quando estou

so-

zinho

II

não sou o poeta das multidões

nem dos milhões de leitores

escrevo para mim

volto à solidão

quando ponho o ponto final

no poema

a solidão é o estado que faz desabrochar a flor

a solidão é o quixote do poeta

sem solidão não existe poesia

o poema atraca em mim

como um navio chegando dalém mar

III

ao compor o poema

bato asas e voo para outro país

(transcendo na solidão da escrita)

sou o vento que forma a onda do mar

na solidão da escrita vou além do toque real da vida

- mil solitários em um -

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IV

poema:

habitante de mim

sobrevivente de mim

poema:

objeto tácteo

peça de museu

V

o poema

é

tudo

que

res

ta

de

m

i

m

.

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POSFACIO E OUTRAS RESENHAS

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A SOLIDÃO ENTRE BALADAS

por Nathan Matos

Os poetas jovens tendem a falar de temas relacionados ao amor, ao sonho e à esperança

de viver. Na maioria das vezes, tais temas nos levam a desacreditar nesses poetas por acharmos que

devem dar mais tempo aos seus versos e tentar repensar o mundo, de uma maneira diferente, onde

nem tudo o que acontece são maravilhas ou deveriam ser. Que a esperança pode, com muita

facilidade, não existir e que as dores do mundo estão a nos incomodar quase que diariamente; e que

existem muitas outras abstrações, digamos assim, que deveriam nos preocupar.

Léo Prudêncio é um desses jovens, porém com um diferencial. Há alguns anos, li os

poemas do poeta e percebi neles o que mencionei. Faltava-lhe uma “estabilidade” no texto, havia,

em certo sentido, muito sentimento, apenas. Como se agisse comandado apenas pelo sentir ou pela

inspiração.

Apesar de acreditar em que bons textos podem surgir sob o efeito anestésico dos

sentimentos ou sob o efeito da musa inspiradora, e de momentos de epifania também, creio que o

trabalho do poeta deva existir de maneira que consiga não driblar os sentimentos, mas

complementá-los com nossa razão.

Esse é o problema de vários escritores, pois creem que apenas o sentir é necessário para

a escrita. Ao lermos um Manoel de Barros ou um João Cabral de Melo Neto, poderíamos pensar em

afirmar que conseguiríamos apontar com certeza qual deles usou apenas a razão ou o sentimento

com maior afinco. Seria pura ingenuidade fazê-lo. A poesia não se constrói apenas com momentos

epifânicos nem com pura racionalidade, mas sim com a observação da vida que acontece em tudo e

em todos e quase sempre acompanhada de atos reflexivos, ou não. Portanto, é quase impossível, a

meu ver, separarmos esses dois “seres”.

Em Baladas para violão de cinco cordas temos um pouco de cada, com uma harmonia

que, por vezes, desafina e afina, como estivéssemos a ajustar o tom das melodias que irão ser

tocadas. Partindo de tragédias, como a vida de Chico – presentes desde os primeiros versos-acordes

do livro – à ironia, que traz certa pitada de vida, pode-se afirmar que o poeta deste livro “anda

perdido”, mas apenas enquanto toca os seus versos nas nuvens que o formam. Perdido entre baladas

que tocam não apenas o seu íntimo, mas o da vida que o rodeia.

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Léo Prudêncio toca em temas caros a qualquer leitor de poesia e aos escritores que

começam a desejar enveredar pela escrita. O amor e o sonhar são mais do que vivos em seus

poemas. Contudo, perguntaria o poeta: será isso tudo clichê? É para essa resposta que devemos ater

detalhadamente a nossa percepção.

O poeta entende que temas como esses não devem ser deixados de lado, apenas porque

a crítica, propriamente, já não os quer presentes em poemas. O clichê deve ser retomado e talhado

com certa originalidade que cabe apenas àqueles que escrevem sozinhos entre as multidões.

Os poemas-clichês, chamemos assim alguns dos textos aqui encontrados, apontam para

algo desconcertante, como frases que surgem ao fim dos poemas e que, além de nos interpelar em

outra língua, como no segundo poema do livro, nos deixam desconcertados por perceber que nem

tudo é o que se lê. A desconstrução está colocada com precisão para que não nos ludibriemos pela

melodia dos versos e para que não nos deixemos levar pela simples ilusão dos temas clichês, que

em alguns poemas se fazem presentes.

Na verdade, tudo está estruturado para nos desconcertar, nos deixar imprecisos quanto à

existência da vida. Parece ser esse sob este sentimento que o poeta compõe sua balada. Ele parece

querer nos manipular, assim como fazia Orfeu com os pássaros e os animais selvagens, fazendo

assertivas que nos deixam, apesar de compenetrados, confusos e duvidosos, como a que diz que o

poeta é um “desespectador da vida”. Parece que Léo Prudêncio segue bem as indicações de um

ilustre poeta português, em que afirmava que o poeta é sempre responsável pelo fingir. Iludir,

portanto, poderia ser um ato mágico, mas é também poético.

Além da falsa ilusão criada pelas palavras lançadas através dos versos harmoniosos de

Léo Prudêncio, há certa disposição de aspectos gráficos visuais, mostrando a habilidade do poeta

em não exagerar utilizando a influência que aparenta ter do concretismo, como bem é possível

observar no poema espólio, que nos direciona para uma cruz que simboliza nossa perdição, nossa

rendição ao esquecimento.

Poemas como horizonte ou guitar solo deixam evidente a preocupação que o poeta teve

em meio aos poemas amorosos, que surgem como ervas daninha no jardim dos críticos, aos poucos,

como em eu e minha pequena, deixar claro que nem tudo o que se lê é ilusório. Mostra, através

desses poemas, que razão e sentimento encontram-se muito bem alinhados, como a sequência de

notas que são criadas para suas Baladas para violão de cinco cordas.

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O que deverá ter sido apreendido por você, leitor, é o toque de inocência que existe na

confessionalidade do poeta, deixando parte de si no livro, relatando, quem sabe, sua infância e a

escrita, na qual as nuvens, as páginas em branco, eram o seu brinquedo favorito, onde “desenhava

soldados, carros e animais”.

E através dessa infância, que não se deixou ser levada pela memória, ao contrário dos amores vãos,

sugere que sempre haverá os que duvidaram da vida, por que é certo que muito há a se perder no

caminho até a morte. Mas é assim que vai “reformulando o peso do mundo / transfigurando / o real

em sonetos”.

A vida do poeta é construída através dos poemas, assim como constrói os seus versos,

sua balada, seu caminho entre as multidões. Léo Prudêncio não está entre as multidões, pois ele

acredita que “o poeta está só” e sempre só, quando a revolver em si os sentimentos e os momentos

vividos, para que quem sabe um dia seus poemas possam chegar até o leitor mais arredio “como um

navio chegando d’além mar”.

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RESENHA – BALADAS PARA VIOLÃO DE CINCO CORDAS

por Ronnison Araújo

Lançado no início dessa semana pela editora Penalux, Baladas Para Violão de Cinco

Cordas é a primeira obra de Léo Prudêncio.

O acabamento editorial do livro é impecável, os detalhes das páginas, fontes e ilustrações

conferem a obra uma personalidade autêntica, qualidade que não fica atrás do seu

conteúdo.

Baladas é composto por uma coleção de dezenove poemas (sendo 9 delas no lado A e 8

no lado B) que trazem uma profunda reflexão sobre alguns aspectos de nossa existência

cotidiana. O autor tem sacadas filosóficas muito boas, fazendo ligeiras referências à

alguns pensadores como Sócrates, Descartes, Nietzsche, Sartre e outros, horas também

mandando alguns se fuderem (riso)! Isso mostra a erudição do poeta sem que para a

apreciação de seus versos exija do leitor algum curso básico de filosofia.

Outro elemento impossível de ser ignorado são os poemas espaciais e o uso da

criatividade cobrada do poeta ao próprio leitor, algum momento pedindo inclusive que o

próprio complete o poema convidando assim para que aquele que se sintoniza no

Baladas seja mais que um simples espectador, um mero ouvinte. Se torna também

músico!

Com um agradável repertório que traz de volta as rajadas musicais de lendas do rock

como Jimi Hendrix, George Harrison, Beatles, Nirvana e Lennon podemos sentir uma

crítica do autor aos músicos contemporâneos e suas tendências, onde antes havia

sentimentos e razão embalados em prazerosas melodias de guitarra agora se encontram

letras sem significados e ritmos ridículos propagados por uma mídia vazia. O que por

vezes me faz pensar que a Morte deve ter bom gosto pra música.

Para aqueles que fizerem mais do que um drift pelos versos e arranjos gráficos desse

poeta, chegarão a concluir que Léo Prudêncio tocou em sua vitrola um LP que mescla

razão e sentimentos, pois seu texto não é um simples delírio epifânico de emoções,

porém, tão pouco é um concerto acadêmico de terminologias. O poeta aqui consegui

afinar uma deliciosa, reflexiva e delirante balada que provoca uma atitude critica àqueles

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que o leem. Baladas para violão de cinco cordas não é tipo de livro que se lê em um

momento, uma hora ou duas, é preciso um dia inteiro pra aproveitar sua sonoridade,

sentir suas provocações ecoarem em nossa mente e deixar que os pensamentos sejam

ao mesmo tempo tão hipnóticos e desinteressados como as ondas do mar.

Depois de ler esse livro, o li novamente ouvindo as músicas e cantores citados, e isso só

me deixou mais desejoso de ouvir um Vol. 2!

Li e recomendo o Baladas para violão de cinco cordas.

(ouvindo Belchior, Alucinação)

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COMENTARIO DE BADIDA CAMPOS

Amigo Léo Prudêncio: recebi ontem à tarde o seu livro "Baladas para violão de cinco cordas". Li de um só fôlego. Gostei muito. O livro está repleto de achados poéticos. Moderno e dulcíssimo. Em "Espólio" vc. finda com uma grande verdade: "Tudo o que sobrará de mim, serão essas pegadas deixadas na praia q. logo, logo serão apagadas, assim como nós." "Epílogo": "Envelhecer é deixar de sonhar." Perfeito !"Eu e minha pequena": "Ela é glamorosa (como os solos de George Harrison)". Põe glamour nisto! E por falar em G. Harrison sou encantada com a música "Mysweet Lord".E esta delícia de frase: "Queria ser um pássaro e ser amigo do céu."Em "O Mar"- "Uma lágrima passeia sobre meu rosto e encontra-se com o mar..." Lembrei desta frase do poeta português: "Oh mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal". Gostei muito da expressão "pagão natal". Resumiu toda a dissertação sobre o Natal.Parabéns, Léo. De verdade. E olhe que eu sou exigente quando se trata de Literatura.Que venham mais livros.Obrigada pelo presente, filho.Abraço grande.Badida

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AS BALADAS DE UM JOVEM POETA

por Bruno Paulino

Acabei de ler o originalíssimo livro-disco de estreia do poeta Léo Prudêncio “Baladas paraviolão de cinco cordas”. O titulo e a obra como um todo me fizeram lembrar-se de um poema do simbolista Cruz e Sousa “violões que choram”:

“Ah! plangentes violões dormentes, mornos,/ soluços ao luar, choros ao vento.../Tristes perfis, os mais vagos contornos,/ bocas murmurejantes de lamento./ Noites de além, remotas, que eu recordo,/noites de solidão, noites remotas/ que nos azuis das Fantasias bordo,/ vou constelando de visões ignotas.”

Dialogando através do tempo, num primeiro olhar, pode se constatar que tanto o poema de Cruz e Sousa como o livro de Léo Prudêncio são carregados de dolências plangentes. Sendo movido pela crença que “ser poeta é absorver as dores do mundo” Léo o “poeta que está só” constrói a narrativa da vida do personagem Chico, refugiando-o num universo imaginário, refletindo uma filosofia do nada, da desesperança e do ceticismo. Elegendo nesse percurso como trilha sonora e colocando na vitrola grandes nomes da música pop, assim como também ao caminhar, o faz sempre dialogando com renomados pensadores da historia universal.

Desse modo as baladas-poemas que compõe o volume são dormentes, tristonhas, chorosas, e por vezes ritmadas com a melodia cortante do humor e da ironia, fazendo da meditação metafísica de Chico uma rejeição clara a lógica da sociedade burguesa. Por fim só nos resta parabenizar o poeta por sua dedicação à literatura, assim como também pelo excelente livro que pública, que de igual modo como a boa música, nos toca, acarinha e nos aguça ao ato de refletir, e claro, sentir o mundo com outros riffes.