Literatura Infantil Origens e Tendencias

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LITERATURA INFANTIL: ORIGENS E TENDÊNCIAS RODRIGUES, Scheila Leal 1 ; ALVES, Carla Rosane da Silva Tavares 2 ; SOUZA, Antonio Escandiel de 3 ; LAUXEN, Sirlei de Lourdes 4 ; BASSO, Berenice Geschwind 5 Resumo: Este texto é resultado parcial de uma pesquisa desenvolvida no projeto Arte- Educação: A literatura infantil como prática sociocultural interdisciplinar, financiado pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da FAPERGS-PROBIC. A pesquisa qualitativa, de fundamentação bibliográfica, tem por objetivo, neste momento, oportunizar o conhecimento acerca das origens da literatura infantil, sua chegada e evolução no Brasil. O estudo está estruturado em Cademartori (1986), Coelho (1998) e Frantz (2001), que atribuem a origem da literatura infantil ao francês Charles Perrault e a origem da literatura infantil brasileira a Monteiro Lobato. Assim, buscou-se desenvolver um breve apanhado histórico sobre a temática e aprofundar algumas reflexões sobre o contexto de origem da literatura infantil e a concepção de criança da época. Palavras-Chave: Literatura. Criança. Panorama. Evolução. Abstract: This text is a partial result of a research developed in Art Education: Children's literature as a sociocultural practice interdisciplinary funded Scholarship Program of Scientific Initiation FAPERGS-PROBIC. Qualitative research, reasoning literature, aims at this time, provide the opportunity for knowledge about the origins of children's literature, his arrival in Brazil and evolution. The study is structured in Cademartori (1986), Coelho (1998) and Frantz (2001), who attribute the origin of children's literature to the French Charles Perrault and the origin of Brazilian children's literature Monteiro Lobato. Thus, we sought to develop a brief historical overview on the subject and deepen reflections on the origin context of children's literature and the child's conception of time. Keywords: Literature. Child. Overview. Evolution. 1 Acadêmica do Curso de Pedagogia UNICRUZ. Bolsista PROBIC-FAPERGS-UNICRUZ. E-mail: [email protected] 2 Doutora em Letras (UFRGS). Professora da UNICRUZ e orientadora do PROBIC FAPERGS/UNICRUZ. Coordenadora do GEPELC Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Linguagens e Comunicação, ao qual está vinculado o projeto de pesquisa. E-mail: [email protected] 3 Doutor em Letras (UFRGS). Professor da UNICRUZ. Membro do GEPELC e colaborador do projeto. E-mail: [email protected] 4 Doutora em Educação (UFRGS). Professora da UNICRUZ. Membro do GEPELC e colaboradora do projeto. E-mail: [email protected] 5 Mestre em Educação (UFSM). Professora da UNICRUZ. Membro do GEPELC e colaboradora do projeto. E-mail: [email protected]

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  • LITERATURA INFANTIL: ORIGENS E TENDNCIAS

    RODRIGUES, Scheila Leal1; ALVES, Carla Rosane da Silva Tavares2; SOUZA, Antonio Escandiel de3; LAUXEN, Sirlei de Lourdes4; BASSO, Berenice Geschwind5

    Resumo: Este texto resultado parcial de uma pesquisa desenvolvida no projeto Arte-Educao: A literatura infantil como prtica sociocultural interdisciplinar, financiado pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Cientfica da FAPERGS-PROBIC. A pesquisa qualitativa, de fundamentao bibliogrfica, tem por objetivo, neste momento, oportunizar o conhecimento acerca das origens da literatura infantil, sua chegada e evoluo no Brasil. O estudo est estruturado em Cademartori (1986), Coelho (1998) e Frantz (2001), que atribuem a origem da literatura infantil ao francs Charles Perrault e a origem da literatura infantil brasileira a Monteiro Lobato. Assim, buscou-se desenvolver um breve apanhado histrico sobre a temtica e aprofundar algumas reflexes sobre o contexto de origem da literatura infantil e a concepo de criana da poca.

    Palavras-Chave: Literatura. Criana. Panorama. Evoluo.

    Abstract:

    This text is a partial result of a research developed in Art Education: Children's literature as a sociocultural practice interdisciplinary funded Scholarship Program of Scientific Initiation FAPERGS-PROBIC. Qualitative research, reasoning literature, aims at this time, provide the opportunity for knowledge about the origins of children's literature, his arrival in Brazil and evolution. The study is structured in Cademartori (1986), Coelho (1998) and Frantz (2001), who attribute the origin of children's literature to the French Charles Perrault and the origin of Brazilian children's literature Monteiro Lobato. Thus, we sought to develop a brief historical overview on the subject and deepen reflections on the origin context of children's literature and the

    child's conception of time. Keywords: Literature. Child. Overview. Evolution.

    1 Acadmica do Curso de Pedagogia UNICRUZ. Bolsista PROBIC-FAPERGS-UNICRUZ. E-mail:

    [email protected] 2 Doutora em Letras (UFRGS). Professora da UNICRUZ e orientadora do PROBIC

    FAPERGS/UNICRUZ. Coordenadora do GEPELC Grupo de Estudos, Pesquisa e Extenso em Linguagens e Comunicao, ao qual est vinculado o projeto de pesquisa. E-mail: [email protected] 3 Doutor em Letras (UFRGS). Professor da UNICRUZ. Membro do GEPELC e colaborador do projeto.

    E-mail: [email protected] 4 Doutora em Educao (UFRGS). Professora da UNICRUZ. Membro do GEPELC e colaboradora do

    projeto. E-mail: [email protected] 5 Mestre em Educao (UFSM). Professora da UNICRUZ. Membro do GEPELC e colaboradora do

    projeto. E-mail: [email protected]

  • Introduo

    A literatura infantil sempre um tema atual na educao, pois considerada

    a base para a formao de cidados leitores. Dessa forma, tendo em vista a

    importncia da temtica para uma educao de qualidade, o presente artigo

    apresenta uma investigao bibliogrfica a respeito das suas origens e evoluo no

    pas, como mostra o recorte, a seguir:

    Com o passar dos anos fui-me convencendo de duas coisas: primeira, uma proposta de educao que se quer de fato transformadora, competente, democrtica, emancipatria, construtivista s ser possvel se a escola tiver sucesso no empreendimento de formar leitores; segunda, a literatura infantil, por seu carter ldico-mgico o caminhos natural, a chave mgica que abre a porta de entrada principal que d acesso ao mundo da leitura e a tudo o que ela pode proporcionar (FRANTZ, 2001, p. 14).

    Apesar de j existir alguns manuscritos destinados s crianas, a literatura

    infantil nasce a partir de transformaes sociais e de uma nova concepo de

    criana, na Europa, o que levou ao surgimento de uma literatura especifica para

    esse pblico. No entanto, no se produz uma literatura nica para as crianas, mas

    so feitas adaptaes dos contos populares. Quem d incio a essas adaptaes o

    francs Charles Perrault, considerado o pai da literatura infantil.

    No Brasil, a literatura infantil chega mais tarde, inicialmente com adaptaes

    de textos europeus feitos, por Alberto Figueiredo Pimentel, e s a partir de 1922,

    surge uma produo prpria, pelas mos de Monteiro Lobato. Nas ltimas dcadas,

    a literatura infantil brasileira mostra-se rica e diversificada, com vrios enfoques e

    para todas as faixas etrias.

    Neste texto, faz-se o estudo em dois momentos: primeiro, quanto origem

    da literatura infantil, enfatizando o contexto de seu surgimento e as mudanas de

    concepes; segundo, enfatizando a origem da literatura infantil brasileira e sua

    evoluo at a literatura contempornea.

    Metodologia

    A metodologia utilizada para a realizao deste trabalho foi uma pesquisa do

    tipo bibliogrfica, atravs da leitura de livros e sob a viso de vrios autores que

    contriburam para uma investigao das origens da literatura infantil.

  • Origem da Literatura Infantil

    A literatura infantil, como seu adjetivo determina, a literatura destinada

    criana, que tem como objetivo principal oferecendo-lhe, atravs do fictcio e da

    fantasia, padres para interpretar o mundo e desenvolver seus prprios conceitos

    (CADEMARTORI, 1986). Atravs da literatura, a criana tambm tem acesso

    herana cultural, de uma maneira adequada sua idade, enriquecendo seu

    conhecimento e construindo sua personalidade.

    Por meio da literatura infantil, a criana descobre o mundo atravs da

    fantasia, ldico, mgico e sonho, enriquecendo sua imaginao e despertando-lhe a

    liberdade de pensamento e a criatividade. Por meio dela, a criana estabelece uma

    relao de harmonia entre fantasia e realidade, facilitando a compreenso das

    coisas do mundo adulto e a resoluo de conflitos internos. A literatura infantil

    tambm ludismo, fantasia, questionamento, e dessa forma consegue ajudar a

    encontrar respostas para as inmeras indagaes do mundo infantil, enriquecendo

    no leitor a capacidade de percepo das coisas (FRANTZ, 2001, p. 16).

    A literatura infantil nasce a partir de algumas transformaes sociais e tem

    suas origens na Europa. Apesar de j existir manuscritos destinados s crianas,

    como tratados de pedagogia, escritos pelos protestantes com fins religiosos, a

    literatura pedaggica, na cultura erudita e a literatura oral, de vertente popular, o

    francs Charles Perrault considerado o pioneiro da literatura infantil. No sculo

    XVII, Perrault coleta narrativas populares e lendas da Idade Mdia e adapta-as,

    atribuindo-lhes valores comportamentais da classe burguesa, constituindo os

    chamados contos de fadas (CADEMARTORI, 1986).

    Segundo Cademartori (1986), a poca em que Perrault coletou seus contos

    foi penosa e de grandes transformaes e contradies sociais, momento aps a

    Fronde, movimento popular de oposio ao governo absolutista do reinado de Lus

    XIV. A poca tambm foi marcada pelo conflito entre Reforma e Contra-Reforma

    [sic] e pela ascenso da burguesia como classe social, fato determinante para a

    consolidao de instituies como a famlia e a escola.

    Se antes a criana era vista como um adulto em miniatura, sem condies

    especiais e sem uma preocupao especfica com sua aprendizagem, a partir do

    fortalecimento da burguesia essas concepes comeam a se modificar, e a criana

    passa, ento, a ser considerada socialmente como um ser diferente do adulto.

  • Conforme Cademartori (1986, p. 38-39), a criana, na poca, era concebida como

    um adulto em potencial, cujo acesso ao estgio dos mais velhos s se realizaria

    atravs de um longo perodo de maturao.

    A partir desse momento, a criana passa a ser considerada um ser com

    necessidades e caractersticas diferentes dos adultos e, principalmente, um ser que

    necessita de uma educao diferenciada para a vida adulta. Perrault coletava as

    narrativas populares e adaptava-as, tornando-as viveis ao pblico infantil,

    acrescentando-lhes valores que correspondiam ao gosto da classe qual era

    destinada, a burguesia. Essa coleta dos contos provinha de duas condies: o conto

    folclrico que na poca era destinado aos adultos e que aps a adaptao eram

    direcionados ao pblico infantil e o carter de advertncia, em que os personagens

    que desobedecessem a regras estabelecidas tivessem uma punio

    (CADEMARTORI, 1986).

    A transformao da literatura popular em infantil, por Perrault, era regida de

    princpios normativos, com um modelo educativo que lhe foi definido e imposto,

    muito normativo e austero, delineados pela Contra-Reforma [sic], que eram

    basicamente a cristianizao e valorizao do pudor (CADEMARTORI, 1986). Suas

    obras tambm se caracterizavam por uma depreciao ao popular e s suas

    supersties e por uma preocupao em fazer uma arte com princpios morais.

    Perrault inicia seu trabalho de adaptao, a partir do registro de contos e

    lendas populares e os contos tambm chegavam sua famlia atravs de

    contadores, que, na poca, integravam-se vida domstica como servos

    (CADEMARTORI, 1986, p. 36). O francs editava as narrativas folclricas, retirando

    as passagens obscenas de contedo incestuoso e canibalismo.

    Segundo Coelho (1998), no princpio, o trabalho de adaptao, por Perrault,

    no foi pensando com intenes de criar uma literatura destinada criana. Apenas

    com a publicao dos Contos da me gansa (1697), que Perrault se dedica

    inteiramente a uma literatura destinada criana (COELHO, 1998).

    Esses contos continham: A bela adormecida, Cinderela, Chapeuzinho

    vermelho, Barba azul, Henrique do topete, O gato de botas, As fadas, A gata

    borralheira, O pequeno polegar, entre outros.

    A origem da literatura infantil tambm est ligada aos irmos Jacob e

    Wilhelm Grimm, que, no sculo XIX, realizaram uma coleta de contos, na Alemanha,

    e transformaram em literatura infantil (CADEMARTORI, 1986). Entre os mais

  • conhecidos dos contos de Grimm, que circulam em traduo portuguesa, esto: A

    bela adormecida, Os msicos de Bremen, Os sete anes e a branca de neve, O

    chapeuzinho vermelho, A gata borralheira (COELHO, 1998, p. 74).

    Outros nomes de grande importncia na origem da literatura infantil so: o

    dinamarqus Hans Christian Andersen (O patinho feio, O soldadinho de chumbo); o

    italiano Collodi (Pinquio); o ingls Lewis Carrol (Alice no pas das maravilhas), o

    americano Frank Baum (O mgico de Oz), o escocs James Barrie (Peter Pan)

    (CADEMARTORI, 1986).

    Origens e Evoluo da Literatura Infantil no Brasil

    No Brasil, apenas se pode falar em literatura infantil, aps a implantao da

    Imprensa Rgia, em 1808, com a chegada de D. Joo VI ao pas. As obras

    publicadas nessa poca eram tradues e adaptaes das obras portuguesas. At

    esse momento nossas crianas liam textos no literrios escritos por pedagogos

    com intenes didticas e/ou moralizantes.

    Um dos primeiros autores da poca a fazer adaptaes, conhecido pela

    insero dos contos europeus no Brasil, Alberto Figueiredo Pimentel. O autor

    publica tradues dos contos de Perrault, dos irmos Grimm e de Andersen, em

    obras como Contos da carochinha, Histrias da avozinha, Histrias da baratinha.

    Considerando que as obras adaptadas eram de origem europeia, o primeiro

    registro de literatura infantil brasileira d-se pelas mos de Monteiro Lobato, em

    1920, com a obra A menina do narizinho arrebitado (CADEMARTORI,1986).

    Por no gostar muito das tradues dos livros europeus e por ser um

    nacionalista ardoroso, Lobato desenvolveu aventuras para nossas crianas com

    caractersticas tpicas brasileiras, integrando costumes do campo e lendas do nosso

    folclore. O stio do Picapau Amarelo um exemplo disso, pois destaca bem

    caractersticas da vida rural e da cultura brasileira.

    As obras de Lobato tambm se caracterizam por uma forte ligao com as

    questes sociais de sua poca. Devido inconformidade com problemas de nossa

    sociedade, o autor desenvolve um olhar crtico e transparente da realidade de nosso

    pas, transmitindo isso em suas obras. Segundo Cademartori (1986, p. 48) Monteiro

    Lobato escandaliza, assusta e ameaa a modorra nacional.

  • Segundo Cademartori (1986), as obras infantis de Lobato antecipam uma

    realidade que supera os preconceitos histricos e ignora o moralismo to presente

    nas obras destinadas criana, na poca, tais como a moral oficial, os preceitos

    religiosos e as normas estatais.

    Monteiro Lobato cria, entre ns, uma esttica da literatura infantil, sua obra constituindo-se no grande padro do texto literrio destinado criana. Sua obra estimula o leitor a ver a realidade atravs de conceitos prprios. Apresenta uma interpretao da realidade nacional nos seus aspectos social, poltico, econmico, cultural, mas deixa, sempre, espao para a interlocuo com o destinatrio. A discordncia prevista (CADEMARTORI, 1986, p. 51).

    Lobato tambm adaptou contos de Perrault, dos Irmos Grimm, de Andersen,

    e de outros autores tradicionais, mas as suas obras so as que ganham maior

    destaque. As principais e mais conhecidas so: A menina do narizinho arrebitado,

    Reinaes de Narizinho, Fbulas de Narizinho, Emlia no pas da gramtica,

    Memrias de Emlia, Jeca Tatuzinho, entre tantas outras.

    A maioria das obras infantis de Lobato acontece no Stio do Picapau Amarelo

    e possuem personagens consagrados como: Dona Benta, seus netos Pedrinho e

    Narizinho, Tia Nastcia, boneca Emlia, Visconde de Sabugosa, o porco Rabic, o

    rinoceronte Quindim, entre outros. Consoante Cademartori (1986), o conhecimento e

    a esperteza eram caractersticas principais de seus personagens, e a criatividade e

    a liberdade dos habitantes do local eram responsveis por fazer o stio prosperar.

    Depois de Lobato, a produo de literatura infantil no Brasil ficou reprimida

    por um longo perodo e s a partir da dcada de 70 retomado esse gnero no pas.

    Considerando que o analfabetismo um problema constante no Brasil, nesse

    perodo, houve a tentativa de erradicar com esse problema investindo na

    alfabetizao de adultos, com o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetizao), que

    no obteve resultados positivos. Segundo a autora, isso se justifica pelo crescente

    aumento da classe mdia, do consumo de livros e pele elevao do nvel de

    escolaridade, ocasionado pela reforma do ensino.

    A continuidade da situao de subdesenvolvimento no Brasil mostrou que os

    problemas no se resolviam com o letramento dos adultos, nem com a facilidade de

    ingressar no ensino superior. Diante dessa situao, buscou-se uma nova

  • alternativa: investir no ensino bsico, valorizando o livro como instrumento

    indispensvel para o desenvolvimento intelectual das crianas.

    A partir de ento, a literatura infantil passou a ser tema de estudos e

    seminrios, e tambm surgiram os quadrinhos, produo grfica destinada s

    crianas. No mbito educacional, observam-se esforos dos diversos nveis de

    ensino, do bsico universidade, propondo a leitura como forma de promover

    recuperaes no sistema de educao. Cademartori (1986) argumenta que o

    reconhecimento das universidades em relao aos problemas da educao bsica

    fez suscitar instituies que renem pesquisadores acadmicos voltados ao estudo

    da literatura e da literatura infantil.

    Assim, muitos fatores contribuem para a literatura infantil tornar-se assunto

    importante em relao educao brasileira. Conforme a autora, a escola voltou-se

    para a literatura infantil com interesses imediatos, como o de expandir o domnio

    lingustico dos alunos e auxili-los a escrever melhor, desconsiderando, de certa

    forma, a funo de reorganizao das percepes do mundo.

    Nas ltimas dcadas, a literatura infantil vem se constituindo de forma rica e

    diversificada em nosso pas, com produes de boa qualidade para todas as faixas

    etrias e com vrios enfoques. Segundo Frantz (2001), a literatura dos ltimos

    tempos possui algumas tendncias que definem sua produo literria.

    Uma dessas tendncias o tradicional conto de fadas, mas atualizado, com

    caractersticas da nossa poca, a exemplo de Chapeuzinho vermelho, de Patrcia

    Gwinner, cujo teor a preocupao com a proteo dos animais. A Fada que tinha

    idias, de Fernanda Lopes de Almeida, outro exemplo, no qual a fada moderna e

    dotada de ideias revolucionrias.

    Outra tendncia de nossa literatura infantil a sua inteno em despertar, no

    leitor, uma viso mais crtica da realidade, como se verifica em O ltimo broto, de

    Rogrio Borges, enfocando a destruio do meio ambiente, sem deixar de lado a

    fantasia, o humor e a poesia. Ao mesmo tempo em que a criana ri, sonha e se

    diverte com a literatura atual, esta tambm no se omite de convid-la a olhar ao

    seu redor e refletir sobre o que est acontecendo, bem como fazia o precursor

    Lobato (FRANTZ, 2001; p. 71).

    O humor outro aspecto muito acentuado na produo literria brasileira,

    caracterstica que encanta e diverte as crianas. Como diz Frantz (2001), as obras

    de Sylvia Orthof e Ziraldo destacam-se nessa tendncia. A literatura potica, que

  • desperta a sensibilidade e sentimentos no leitor, tambm so considerados pela

    autora como uma tendncia do gnero, tendo como exemplo a obra Corao no

    toma sol, de Bartolomeu Campos Queirs.

    Frantz (2001) tambm cita a presena do nosso folclore, em que muitos

    autores se preocupam em trazer em suas obras as nossas razes culturais, como

    ocorrem em A festa no cu, de ngela Lago, O Saci e o Curupira, de Joel Rufino dos

    Santos.

    E uma ltima tendncia destacada por Frantz (2001) a do texto de

    imagem, cuja preocupao contar uma histria apenas com o uso de imagens,

    dando ao leitor o poder de verbalizar o texto. Esse tipo de texto um exerccio de

    liberdade e de criatividade que desafia o leitor a observar, refletir, interpretar, criar e

    explorar o texto (FRANTZ, 2001, p. 72). Briga de uma nota s, de Izomar Camargo

    Guilherme, O Erudito, de Rogrio Borges, so exemplos desses textos de imagens.

    Segundo Cademartori (1986), existem obras que seguem essa tendncia do

    texto de imagens, mas que j acrescentam algumas palavras, sendo destinadas

    para a criana em processo de alfabetizao. Essa relao entre os signos visuais e

    verbais pode ser encontrada em Chuva, dia e noite, de Mary e Eliardo Frana.

    A produo literria para os j alfabetizados, com certo domnio da leitura,

    muito ampla e diversificada. Nela podemos citar autores como Sylvia Orthof, com

    suas obras A limpeza de Teresa, Uxa, ora fada, ora bruxa, Maria vai s compras, A

    vaca Mimosa e a mosca Zenilda.

    Ruth Rocha tambm referncia com obras de grande sucesso, como O

    que os olhos no vem, O reizinho mando, O rei que no sabia de nada. Ziraldo

    tambm enquadra- se nessa lista, com suas varias obras, das quais podemos citar

    O menino Maluquinho, O menino mais bonito do mundo, A bela borboleta, entre

    outros.

    Na poesia infantil, destacam-se as obras de Ceclia de Meireles, Vinicius de

    Morais, Roseana Murray, Elias Jos, Maria Dinorah, entre outros.

    Como vimos, a produo contempornea do gnero abundante em nosso

    pas, oferecendo ao nosso pequeno leitor um material rico e diversificado, que o

    convida a embarcar numa viagem de ludismo, fantasia e sonho, despertando-lhe o

    gosto pela leitura.

  • Consideraes Finais

    Atravs deste trabalho foi possvel conhecer as origens da literatura infantil e

    sua trajetria histrica, assim como alguns autores que foram importantes para o

    desenvolvimento do gnero.

    Esse trabalho tambm possibilitou descobrir alguns fatos que foram

    determinantes para suscitar mudanas na viso da sociedade em relao criana,

    a fim de ser reconhecida como um ser com caractersticas e necessidades diferentes

    do adulto, fatos que foram fundamentais para a concepo de criana que temos

    hoje.

    Considerando a importncia da temtica para uma educao de qualidade e

    para a formao de leitores, o presente estudo tambm possibilitou construir um

    breve panorama da literatura infantil contempornea em nosso pas, possibilitando a

    educadores ter conhecimento dessa vasta produo para seu trabalho em sala de

    aula.

    Referncias

    CADEMARTORI, Lgia. O que literatura infantil. So Paulo: Brasiliense, 1986. Coleo Primeiros Passos. COELHO, Nelly Novaes. O conto de fadas. 3 ed. So Paulo: tica, 1998. Srie Princpios. FRANTZ, Maria Helena Zancan. O ensino da literatura nas sries iniciais. 3 ed. Iju: UNIJU, 2001. Coleo Educao.