Metodologias Ativas Alem Da Sala de Aula Enilton Rocha

download Metodologias Ativas Alem Da Sala de Aula Enilton Rocha

of 8

description

Didática de ensino para professores, com práticas ativas

Transcript of Metodologias Ativas Alem Da Sala de Aula Enilton Rocha

  • 1

    Metodologias Ativas: um desafio alm das quatro paredes da

    sala de aula

    Enilton Ferreira Rocha ([email protected]),

    https://www.facebook.com/enped2012.

    Lattes: http://lattes.cnpq.br/1682585826032961

    Resumo:

    Este artigo apresenta reflexes e relatos como resultado da utilizao de duas das

    metodologias ativas, no ensino universitrio, representadas pelos mtodos da Sala de

    Aula Invertida e PBL - Aprendizagem Baseada em Problemas, destacando os prs e

    contras apontados pelos professores do ensino superior que participaram da experincia.

    Palavras-chave:

    PBL, Sala Invertida, Estilo de aprendizagem, Mtodo CAV.

    Segundo Moran, vivemos um momento diferenciado do ponto de vista do

    ensinar e aprender. Aprendemos de vrias formas, em redes, sozinhos, por

    intercmbios, em grupos etc. Para ele, essa liberdade de tempo e de espao em

    processos de aprendizagem configura um novo cenrio educacional onde vrias

    situaes de aprendizagem so possveis com a ajuda das Metodologias Ativas - MAs

    ou Metodologias Inovadoras - MIs.

    Particularmente, acredito muito no potencial das MAs, mesmo quando o

    professor utiliza metodologias comuns com o suporte tecnolgico de vdeos,

    hipertextos, textos, blogs etc, partindo do pressuposto de que essas metodologias so

    fundamentais para o processo de iniciao dos principais atores das MAs: os alunos e

    professores. Mas, observando o comportamento da maioria desses atores diante das

    tentativas de mudanas utilizando duas das metodologias ativas, penso que ainda falta

    muito para que o professor, em especial, compreenda e utilize adequadamente os

    desafios de inovar na sua ao docente.

  • 2

    SALA DE AULA INVERTIDA SAI OU FLIPPED CLASSROOM

    Durante algumas tentativas e mais recentemente quando trabalhei o mtodo

    com um grupo de cento e dezesseis professores, na expectativa de estabelecer um

    dilogo significativo entre eles e a possibilidade de manipulao e utilizao de

    algumas tecnologias (digitais e no digitais) de suporte na aplicao do mtodo, pude

    observar pelos comentrios, pelos resultados apresentados e reflexes sobre a leitura

    antecipada de contedos recomendados (em diversos formatos), que alguns

    professores resistem ideia de antecipar o acesso ao contedo da sala invertida, sob a

    alegao de que parte dos seus alunos no possui acesso internet (porque no tem

    tempo ou porque no possui banda larga).

    Nesse sentido, a reao desses professores pode representar a necessidade de

    mais aprofundamento sobre o objetivo da aplicao do mtodo SAI e os elementos de

    contexto que podem interferir positivamente ou negativamente nos resultados da

    aplicao desse mtodo, bem como no objetivo a que se prope a sua utilizao. H

    de certo modo nesse relato, uma demonstrao de que o professor precisa se apropriar

    dos conceitos embutidos nessa proposta, para compreender o seu verdadeiro

    significado, de modo a distinguir os estgios que a compe - do acesso prvio ao

    contedo e do confronto pessoal entre professor e aluno. Ambos so ricos em suas

    propostas, o primeiro abrindo espao para a autonomia dos alunos na busca de outras

    fontes de contedos associados, na busca de informaes divergentes, na busca de

    outros contrapontos ao desafio proposto na atividade de aprendizagem; o segundo

    considerado por alguns especialistas o momento do confronto presencial, do

    aprofundamento sobre o contedo feito pelo professor (MORAN,2014).

    Na minha prtica docente utilizo uma varivel desse momento presencial, o

    momento online, com recursos do Hangout1 para o confronto sobre o nvel de

    apropriao antecipada de contedo feita pelo aluno. Nesse espao, em que a sala de

    aula de aula virtual, por meio dos dilogos em udio e vdeo ou chat do Hangout,

    consigo avaliar o estgio de aprendizagem e intervenes da turma, com destaque para

    aqueles alunos que se dedicaram mais ao estgio do acesso prvio ao contedo (a

    1 Hangout ferramenta do google+ que possibilita o dilogo online em udio e vdeo, alm da interao

    via chat em tempo real.

  • 3

    compreenso, as questes mais polmicas, as dificuldades individuais). Lembrando

    que nessa sala de aula virtual, alguns alunos se encontram fisicamente em um

    determinado local e outros em seus locais de trabalho ou na suas residncias.

    Talvez o equvoco de concepo esteja na ideia de que Sala Invertida

    pressupe o uso de tecnologias... comum a reao de professores que desistem de

    utilizar essa metodologia ativa porque est preso a esse pressuposto.

    Do ponto de vista prtico tradicional possvel fazer a sala invertida para

    leitura prvia de textos, parte de livros (e-books) ou artigos que sero trabalhados no

    segundo estgio da SAI, utilizando laboratrios pedaggicos onde se encontram

    professores e alunos. Isso sem contar a recomendao de parte de um livro ou a

    leitura de um texto muito utilizado no ensino presencial, como preparao para o

    confronto na sala de aula.

    A diferena bsica em relao proposta da SAI e o modo tradicional de fazer

    a sala invertida dentro da sala de aula que se utilizarmos os recursos tecnolgicos na

    mediao desse mtodo oportunizamos ao aluno as possibilidades de buscar contedos

    em vdeos, em hipertextos, grupos em redes sociais, bibliotecas virtuais, nas

    entrevistas com especialistas sobre o contedo etc, alm claro de o aluno poder

    medir antecipadamente o seu nvel de apropriao do contedo prvio com ajuda de

    recursos tecnolgicos de medio, viabilizando desse modo a antecipao de

    resultados (MORAN, 2014).

    O importante compreender a proposta do mtodo, em que o professor deve

    assumir os papeis de facilitador, orientador, moderador e observador e o aluno o de

    protagonista da sua aprendizagem e que a sala de aula deve ser o palco dos debates

    sobre o aprofundamento dos contedos sob a orientao do professor, o momento em

    que o professor se dedica medio da avaliao da aprendizagem, ao esclarecimento

    de pontos conflitantes sobre a compreenso e apropriao do contedo antecipado.

    PBL - Problem-Based Learning - PBL OU Aprendizagem Baseada em Problema

    Para os tericos dessa metodologia que surgiu no final da dcada de 60, o

    mtodo PBL est centrado no aluno, pressupondo que esse aluno aprende sobre um

  • 4

    determinado tema por meio de experincias na resoluo de problemas, tendo como

    meta educacional o pensar-fazer pelo domnio ou apropriao do conhecimento. So

    vrias sugestes de organizao desse mtodo para a sua execuo, mas no conjunto

    da obra o mtodo pode ser desenvolvido pela sequncia de basicamente trs etapas: 1 -

    Estgio de Formulao/Descrio do problema, 2 - Resoluo do problema - momento

    da investigao e 3 - Discusso do Problema - concluso e debate acerca da

    investigao feita na 2 fase.

    A literatura extensa e os casos de sucesso tambm, mas no Brasil essa

    proposta ainda carece de estudos mais aprofundados, considerando a cultura

    educacional vigente do aluno passivo e o processo deficiente de formao dos

    professores principais responsveis pela adoo de mudanas significativas no

    processo de aprendizagem.

    Nos ltimos encontros com oitenta e trs professores do ensino universitrio,

    durante as oficinas do curso de ps-graduao em docncia no ensino superior, o

    mtodo PBL foi amplamente utilizado como ferramenta, apresentando resultados

    significativos em relao aos prs e contras de contextos, motivao e expectativas

    tais como:

    Prs

    82% dos professores disseram ficar motivados com a adoo do

    mtodo em suas atividades de aprendizagem cooperativo-colaborativas;

    O processo de busca de novos conhecimentos ligados ao problema

    estudado foi bastante rico, com depoimentos animadores de professores

    que no haviam experimentado ainda a possibilidade de buscar em

    outras fontes, de modo rpido e eficaz, fora da sala de aula,

    informaes, experincias, vdeos, que pudessem enriquecer o debate

    sobre a discusso das solues apresentadas pelos grupos de trabalho;

    Segundo alguns dos professores, o processo de formulao do

    problema foi essencial para compreender porque muitas vezes no

    sabemos dimensionar a problematizao na sala de aula;

  • 5

    Permitiu que o trabalho em grupo destacasse a importncia de

    desenvolver a capacidade de anlise e deciso, bem como as

    competncias para a organizao, liderana e distribuio de tarefas no

    trabalho em equipe.

    Contras

    Se as realidades em que esto envolvidos os alunos no forem levadas

    em conta, o PBL provavelmente no apresentar os resultados

    esperados.

    Segundo alguns professores que participaram das atividades utilizando

    o PBL, o mtodo no se encaixaria em algumas reas de conhecimento

    das cincias humanas.

    A maioria dos professores universitrios no conhece ou resiste

    utilizao do modelo em sala de aula.

    O PBL se apresentou como uma metodologia ativa que no depende de

    tecnologias mediadoras para a sua aplicao, mas pode enfraquecer a

    implementao sem o apoio/mediao delas no processo de

    enriquecimento das etapas de Formulao do Problema (1) e

    Discusso das solues propostas (3). Associada a essa dificuldade a

    falta de tempo dos professores e dos alunos ficou evidenciada na

    avaliao feita pelos professores em relao ao processo de busca.

    O aluno como principal sujeito do modelo no est preparado para

    aprender como protagonista.

    A falta de conhecimento prvio dos estilos de aprendizagem da turma

    influenciar negativamente no resultado esperado para aprendizagem

    baseada em problemas.

    Exige muita disciplina, competncia nas relaes interpessoais, hbito

    de leitura e administrao de tempo e esprito de cooperao perfis

    pouco encontrados na comunidade acadmica.

  • 6

    Consideraes finais

    Como dizia o saudoso Freire ensinar exige reflexo crtica sobre a prtica.

    Nessa perspectiva, a reflexo dos professores sobre os prs e contras da utilizao do

    PBL e a resistncia de alguns ao mtodo da Sala de Aula Invertida parecem

    encaminhar para um momento de reviso urgente da prtica vigente na sala de aula.

    Penso que dois elementos singulares nessa reflexo devam ser reavaliados: a

    resistncia causada pela ignorncia ou por medo do desconhecido e a falta de

    reformulao do currculo de formao de professores e pedagogos para as novas

    formas de aprendizagem utilizando as metodologias ativas como opes estratgicas.

    Sob o olhar do pesquisador David Kolb, as metodologias ativas, em especial o

    CAV Ciclo de Aprendizagem Vivencial proposto por ele pode enriquecer

    consideravelmente o papel de orientador sob a responsabilidade do professor e a

    aprendizagem do adulto, no sentido de oportunizar ao aluno a vivncia pela

    experincia concreta, de modo que ele possa refletir sobre essa experincia, intervir a

    partir das suas abstraes e decidir (realizar transformaes e mudanas significativas

    no seu cotidiano profissional e universitrio). Ainda nessa perspectiva, Kolb destaca a

    importncia do conhecimento prvio dos estilos de aprendizagem dos alunos, como

    parte do planejamento de projetos pedaggicos que intencionam utilizar as

    metodologias ativas. Acredita-se que, do ponto de vista da humanizao da

    aprendizagem, adotar sistematicamente o Teste de Estilos de Aprendizagem

    recomendado por ele garantir coerncia entre o que se pretende com as metodologias

    inovadoras e os contextos dos alunos, personagens principais na inovao pedaggico-

    andraggica, conhecendo previamente os estilos divergente, convergente, assimilador

    e adaptveis (CARVALHO, 2003).

    Noutra dimenso, encontra-se a urgncia por um debate permanente nos meios

    acadmicos sobre o verdadeiro papel das tecnologias nas metodologias ativas, no

    sentido de desfazer o mito em que teorizam e atrelam o potencial das metodologias

    ativas ao uso das tecnologias na educao.

    bem verdade, considerando inmeros relatos de professores e alunos que de

    algum modo passaram por uma experincia com esses modelos, que a mediao

    tecnolgica ajuda, facilita e pode at enriquecer o trabalho do professor e a capacidade

    reflexiva do aluno, no momento em que elas so bem utilizadas no processo de busca,

  • 7

    de autoavaliao, de conexo com o mundo da informao digital disponvel na rede e

    de fcil acesso via telemveis. No momento em que a mediao tecnolgica viabiliza

    a explorao do tempo de sala de aula, presencial ou virtual, para o confronto de

    ideias, de aprofundamento dos contedos sob a orientao do professor, a sua

    importncia se consolida.

    Enfim, acredito que no d mais para evitar as metodologias ativas sob pena de

    o professor acelerar o seu processo de excluso das novas tendncias na educao do

    sculo XXI, onde a inovao pedaggica no est nas tecnologias, mas sim na

    capacidade e comprometimento do professor em achar a sua identidade docente e

    desenvolver novas habilidades para exercer o difcil papel de orientador da

    aprendizagem na cultura digital em que vivemos massacrados por informaes

    desestruturadas, divergentes, de fcil aceso e massificadas.

    Referncias

    [01] AMARAL, S. F. DO; BARROS, D. M. V. Estilos de aprendizagem no contexto

    educativo de uso das tecnologias. Digitais interativas. Disponvel em:

    . Acesso em 10

    abr. 2014.

    [02] AQUINO, C.T.E. Como aprender Andragogia e as habilidades de

    aprendizagem. So Paulo: Pearson, 2008.

    [03] AURIL, ALINE. 10 posts para voc se aprofundar na sala de aula invertida.

    Disponvel em

    [04] CARVALHO, A. C. B. D. DE; PORTO, A. J. V. O uso do ciclo de kolb no

    planejamento de ensino de engenharia. Disponvel em:

    .

    Acesso em 10 abr. 2014.

    [05] CAVALCANTI. R.A. Andragogia na educao universitria. Disponvel em:

    Acesso

    em 15 mar. 2014.

  • 8

    [06] FILHO, E. E.; RIBEIRO, L. R. DE C. Aprendendo com PBL aprendizagem

    baseada em problemas: relato de uma experincia em cursos de engenharia da

    EESC-USP. Disponvel em: < http://www.fipai.org.br/Minerva%2006(01)%2003.pdf >.

    Acesso em 10 abr. 2014.

    [07] FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa.

    17 ed. So Paulo: Paz e Terra, 19964

    [08] MORAN, J. M. Razo e emoo: componentes fundamentais do conhecimento.

    5 Simpsio Hipertextos e Tecnologias na Educao. 1 Colquio Internacional de

    Educao com Tecnologias. Recife: UFPE, 2013. Entrevista a Karla Vidal. Disponvel

    em: . Acesso em: 20 jun. 2013.

    [09] MORAN, J.M. O Uso das Novas Tecnologias da Informao e da Comunicao

    na EAD - uma leitura crtica dos meios. Disponvel em:

    . Acesso em: 12

    abr. 2013.

    [10] MORAN, J.M. Metodologias Inovadoras com Tecnologias. Entrevista a Joo

    Matar. Disponvel em:

    . Acesso em:

    13 abr. 2014.

    [11] UNIFESP. Departamento de Medicina Preventiva. Aprendizado Baseado em

    Problemas. Disponvel em: .

    Acesso em 09 abr. 2014.