MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE...

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENFERMAGEM FERNANDO JOSÉ GUEDES DA SILVA JÚNIOR ALTERAÇÕES SOMATOSCÓPICAS, HEMATOLÓGICAS E NUTRICIONAIS ENTRE USUÁRIOS DE CRACK TERESINA, 2013

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENFERMAGEM

FERNANDO JOSÉ GUEDES DA SILVA JÚNIOR

ALTERAÇÕES SOMATOSCÓPICAS, HEMATOLÓGICAS E NUTRICIONAIS ENTRE USUÁRIOS DE CRACK

TERESINA, 2013

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FERNANDO JOSÉ GUEDES DA SILVA JÚNIOR

ALTERAÇÕES SOMATOSCÓPICAS, HEMATOLÓGICAS E NUTRICIONAIS ENTRE USUÁRIOS DE CRACK

Relatório final de Dissertação apresentado ao Programa de Pós-Graduação Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Mestre em Enfermagem.

Orientadora: Profa. Dra. Claudete Ferreira de Souza Monteiro Área de Concentração: A Enfermagem no contexto social brasileiro

Linha de pesquisa: Políticas e práticas sócio-educativas em Enfermagem

TERESINA, 2013

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FERNANDO JOSÉ GUEDES DA SILVA JÚNIOR

ALTERAÇÕES SOMATOSCÓPICAS, HEMATOLÓGICAS E NUTRICIONAIS ENTRE USUÁRIOS DE CRACK

Relatório final de Dissertação apresentado ao Programa de Pós-Graduação Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Mestre em Enfermagem.

Aprovada em: ____ de _________________ de 2013.

Profa. Dra. Claudete Ferreira de Souza Monteiro - Presidente Universidade Federal do Piauí - UFPI

Profa. Dra. Sandra Cristina Pillon – 1ª Examinadora Universidade de São Paulo – EERP/USP

Profa. Dra. Telma Maria Evangelista de Araújo – 2ª Examinadora Universidade Federal do Piauí - UFPI

Prof. Dr. José Ivo dos Santos Pedrosa - Suplente Universidade Federal do Piauí – UFPI

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À Deus, fonte de amor e misericórdia, por restaurar minha vida e me fazer um vaso novo todos os dias, aos meus pais, Fernando e Eliane, minha referência de vida e à Profa. Dra. Claudete Monteiro, minha inspiração profissional.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, Criador, por estar presente iluminando meu caminho, permitir força,

saúde e sabedoria no cotidiano do meu existir e, principalmente, por tornar possível

mais este sonho: a Ele toda honra e toda glória!

À Universidade Federal do Piauí (UFPI), na pessoa do Magnífico Reitor Prof.

Prof. Dr. José Arimatéa Dantas Lopes, pela possibilidade de qualificação profissional

pelo constante incentivo a criação de programas de pós-graduação stricto sensu e

por considerar a epistemologia o caminho mais concreto para evolução.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),

órgão de fomento, essencial nessa dissertação, pelo auxílio financeiro que

possibilitou a realização deste trabalho.

À Profa. Dra. Claudete Ferreira de Souza Monteiro, mais que uma

orientadora: fonte de inspiração! A minha eterna gratidão pelo incentivo, dedicação,

disponibilidade, companheirismo, amizade, paciência, conhecimento e por

compartilhar desse sonho, sempre de forma ética e respeitosa. Agradeço ainda pela

confiança que sempre a mim depositou e pela oportunidade de trilhar pelos

caminhos da ciência por meio de pesquisas financiadas pelo Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ao refletir sobre essa convivência

parafraseio Érico Veríssimo: “a glória da amizade não é a mão estendida, nem o

sorriso carinhoso, nem mesmo a delícia da companhia. É a inspiração espiritual

quem vem quando você descobre que alguém acredita e confia em você”.

À Profa. Dra. Inez Sampaio Nery, coordenadora do Programa de Pós-

Graduação Mestrado em Enfermagem, pela paciência, disponibilidade e, sobretudo,

pelo seu fazer ético e disciplinado na condução deste programa.

Às professoras examinadoras: Dra. Sandra Cristina Pillon, Dra. Telma Maria

Evangelista de Araújo, Dr. José Ivo dos Santos Pedrosa, pelas contribuições e

cuidado que dispensaram na leitura e nas observações pertinentes e valiosas

realizadas.

Às demais professoras desse programa, pela dedicação em seus modos de

ensinar e, sobretudo, por me fazerem compreender o que é ser um mestre no

sentido amplo da palavra.

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Aos membros e amigos do grupo de Estudos sobre Enfermagem, Violência e

Saúde Mental, da Universidade Federal do Piauí, em especial, a Profa. Ms. Adriana

Meneses da Cunha Parente, Profa. Ms. Lorena Uchoa Portela Veloso e ao Prof. Dr.

Alexandre Vaz Parente Castelo Branco, Daniel Galeno Machado pelas valiosas

discussões e colaboração na construção desta pesquisa.

Aos meus pais, Fernando José Guedes da Silva e Eliane Vasconcelos Lima

Guedes, fonte de inspiração, meu porto seguro, exemplo de vida e dedicação à

família, verdadeira fonte de amor, presenças constante em minha vida, que com

seus valores e virtudes, sempre me incentivaram a superar os desafios. Obrigado

estímulo constante para galgar novos passos, pelo apoio nas minhas decisões

pessoais e profissionais e por sempre me fazerem acreditar que com coragem,

perseverança e amor tudo é possível.

A minha irmã, Raquel Vasconcelos Lima, amiga de todas as horas, de toda a

vida, que muito orgulho e amor tem por mim e a quem muito me orgulha. Obrigado

pelo apoio, confiança, paciência e por sempre acreditar nos meus projetos.

Aos meus sobrinhos e afilhados, Maria Luíza e João Davi, maiores motivos

da minha luta cotidiana na busca por mais esta qualificação profissional.

Às queridas amigas Profa. Ms. Olívia Dias de Araújo, Profa. Ms. Maria Zélia

Araujo Madeira, Profa. Ms. Tânia Maria Melo Rodrigues por acolher as minhas

dúvidas, pela contribuições, pelas palavras de incentivo, força e carinho.

Essa caminhada acadêmica me permitiu mais que o crescimento

profissional. Sou grato às pessoas que conheci nessa universidade e, sobretudo,

pelas amizades edificadas na rocha do conhecimento. Assim, agradeço a vocês: Ms.

Lissandra Chaves de Sousa Santos, Ms. Giovanna de Oliveira Libório Dourado e

Ms. Belisa Maria da Silva Melo.

Às alunas do Curso de Enfermagem e bolsistas do Programa de Iniciação

Científica (PIBIC), essenciais na coleta de dados, especialmente, à Larissa Lima,

Ana Livia Castelo Branco, Jéssica Oliveira, Iara Jéssica, Brenna Emanuella e

Paloma Leal, pela amizade, confiança, compromisso e esmero dispensado a esta

pesquisa.

Ao Padre Ms. Antônio Francisco dos Santos Cruz, muito mais que mestre

em bíblia, um mestre da vida que sabe conduzir seu rebanho aos pés da cruz!

Aos amigos da Geração de Adoradores ao Rei (GERAR) e do Encontro de

Jovens com Cristo (EJC-Nossa Senhora de Lourdes) com vocês meus sonhos e

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aspirações são diferentes. Obrigado pelo incentivo a me manter com meus olhos

fixos em Jesus! Obrigado, pelo estímulo a viver em Cristo e buscar o caminho da

santidade!

Aos companheiros do Programa de Mestrado em Enfermagem da UFPI pelo

convívio harmonioso, pelas dúvidas partilhadas, conhecimentos transmitidos, mas,

principalmente, pela amizade!

Aos sujeitos deste estudo pela confiança e inestimável contribuição. Por,

muitas vezes, compartilharem comigo seus sentimentos e emoções o que

transcendia o fazer epistemológico deste estudo. Muito obrigado!

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No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. Nunca me esquecerei desse acontecimento. Na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra.

(ANDRADE, 1928).

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RESUMO

Introdução: O consumo de crack configura-se como um fenômeno alarmante e

progressivo. Seu caráter dependógeno torna difícil o seu enfrentamento e leva o usuário a ser vítima de consequências graves a saúde que podem ser identificadas em diversas dimensões, tais como: somatoscópica, hematológica e nutricional. Objetivos: Avaliar as relações entre alterações somatoscópicas, hematológicas e nutricionais e uso de crack. Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, seccional de abordagem quantitativa desenvolvido com 331 usuários de crack dos Centros de Atenção Psicossocial para dependentes de álcool e outras drogas do Piauí. A coleta de dados aconteceu de outubro de 2012 a junho de 2013, por meio de entrevistas, avaliação física e coleta de sangue. Para a análise estatística, utilizou-se o aplicativo Statistical Package for the Social Science, versão 18.0. A comparação com outras variáveis categóricas foi feita por meio do teste do qui-quadrado e o teste exato de Fisher. A significância estatística foi fixada em (p<0,05). A força das associações entre as variáveis foi aferida pelo odds-ratio e intervalos de confiança (IC=95%). Resultados: A amostra estudada é constituída

em sua maioria por homens, jovens, pardos, solteiros, de Teresina, com ensino fundamental incompleto, sem renda e evangélicos. A maioria dos usuários experimentou o crack antes dos 18 anos e usou mais de 100 vezes na vida, associando, com o consumo de bebidas alcoólicas, maconha, tranquilizantes e solventes. Com relação as alterações somatocópicas, hematológicas e nutriconais entre usuários de crack 9,1% apresentavam déficit no asseio corporal, 17,5% danos na pele, 3,0% taquisfigmia, 3,6% taquipneia, 19,3% alteração da pressão arterial sistólica e 11,2% da pressão arterial diastólica, 55,6% cáries, 29,9% perdas dentárias, 4,5% lesões na mucosa nasal, 4,2% epistaxe, 32% zumbido, 27,8% vertigem, 18,1% hipoacusia. A avaliação hematológica revela importantes achados, a citar: hemoglobina e hematócrito abaixo do padrão de normalidade, monocitopenia e alteração nos níveis de creatinina. A avaliação nutricional realizada a partir da análise dos hábitos alimentares, antropometria e exames bioquímicos demonstram que os usuários realizam, em média, 4,38 refeições normalmente ricas em carboidratos. A relação entre o peso ponderal e a altura permitem afirmar que 57,4% estão eutróficos, 25,1% com sobrepeso, 9,4 obesos e apenas 8,2% com baixo peso. Houve associação estatisticamente significativa entre sexo e pressão arterial sistólica, diastólica, hemoglobina, hematócrito, HDL e albumina. Com relação ao tempo de uso houve associação estatística com triglicerídeos (p-valor=0,036) e o tempo de tratmento esteve associado significativamente com plaquetas, circunferência abdominal e colesterol total. Conclusão: A contribuição específica para o cuidar pelo enfermeiro chama atenção para a compreensão do usuário de crack como um ser biopsicossocial cujas repercussões desse consumo transgridem a dimensão física, sobremaneira dificultando a assistência de enfermagem tradicional. Neste contexto, faz-se imperativa uma assistência holística e humanizada capaz de fomentar o enfrentamento desse grave problema. Palavras-chave: Cocaína crack. Saúde mental. Enfermagem.

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ABSTRACT

Introduction: The use of crack configures itself as a progressive and alarming

phenomenon. His character makes it difficult dependent your face and takes the user to fall victim to serious health consequences that can be identified in several dimensions such as: general state, hematologic and nutritional. Objectives: To evaluate the relationship between changes somatoscópicas, hematologic and nutritional use of crack. Methodology: This was a descriptive, exploratory, cross-sectional quantitative approach developed with 331 crack users of Psychosocial Care Centers for alcohol and other drugs of Piauí. Data collection took place from October 2012 to June 2013, through interviews, physical assessment and blood collection. For statistical analysis, we used the application Statistical Package for Social Science, version 18.0. The comparison with other categorical variables was performed using the chi-square and Fisher's exact test. Statistical significance was set at (p<0.05). The strength of associations between variables was assessed using odds ratios and confidence intervals (IC 95%). Results: The sample consists mostly of men, young, brown, single, Teresina, with incomplete primary education, no income and evangelicals. Most users experienced the crack before 18 years and used over 100 times in his life, associating with the consumption of alcohol, cannabis, tranquillizers and solvents. Regarding changes general state, hematological and nutriconais among crack users had a 9.1% deficit in body hygiene, skin damage 17.5 %, 3.0% taquisfigmia, tachypnea 3.6 %, 19.3% pressure change systolic and 11.2% diastolic blood pressure, 55.6% caries, tooth loss 29.9%, 4.5% nasal mucosa lesions, epistaxis 4.2%, 32 % tinnitus, vertigo 27.8%, 18.1% hearing loss. The hematologic evaluation reveals important findings, quote: hemoglobin and hematocrit below the normal range, and monocytopenia change in creatinine levels. Nutritional assessment performed through the analysis of dietary habits, anthropometric and biochemical tests show that users perform on average 4.38 meals usually rich in carbohydrates. The relationship between weight and height weight have revealed that 57.4% were normal weight, 25.1% overweight , 9.4 obese and 8.2% underweight. Statistically significant association between sex and systolic blood pressure, diastolic blood pressure, hemoglobin, hematocrit, HDL and albumin. With regard to time use statistical association with triglycerides (p-value=0.036) and time tratmento was significantly associated with platelets, waist circumference and total cholesterol. Conclusion: The specific contribution to the care by the nurse calls

attention to the understanding of crack users as a biopsychosocial being the repercussions of this consumption violate the physical dimension, greatly complicating the traditional nursing care. In this context, it is imperative to support holistic and humane able to foster face this serious problem. Keywords: Crack cocaine. Mental health. Nursing.

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RESUMEN

Introducción: El uso del crack se configura como un fenómeno progresivo y

alarmante. Su personaje hace difícil dependiente la cara y lleva al usuario a ser víctima de graves consecuencias para la salud que se pueden identificar en varios dimenões como: somatoscópica, hematológicas y nutricionales. Objetivos: Evaluar la relación entre los cambios somatoscópicas, hematológicas y el uso de crack. Metodología: Se realizó un enfoque descriptivo, exploratorio, transversal cuantitativa desarrollada con 331 consumidores de crack de los Centros de Atención Psicosocial de alcohol y otras drogas de Piauí. La recolección de datos se llevó a cabo a partir de octubre 2012 a junio 2013, a través de entrevistas, evaluación física y colecta de sangre. Para el análisis estadístico se utilizó el paquete estadístico solicitud de Ciencias Sociales, versión 18.0. La comparación con otras variables categóricas se realizó mediante la chi-cuadrado y la prueba exacta de Fisher. La significación estadística se fijó en (p<0,05). Se evaluó la fuerza de las asociaciones entre las variables mediante los odds ratios y los intervalos de confianza (IC 95 %). Resultados: La muestra está compuesta principalmente por hombres, jóvenes,

marrón, único, Teresina, con educación primaria incompleta, sin ingresos y evangélicos. La mayoría de los usuarios experimentaron la grieta antes de los 18 años y se utilizaron más de 100 veces en su vida, la asociación con el consumo de alcohol, cannabis, tranquilizantes y solventes. En cuanto a los cambios somatocópicas , hematológicas y nutriconais entre los consumidores de crack tienen un déficit del 9,1% en la higiene corporal, daños en la piel del 17,5%, 3,0% taquisfigmia, taquipnea 3,6%, el cambio de presión 19,3% sistólica y 11,2% la presión arterial diastólica, el 55,6% de caries, pérdida de dientes 29.9%, 4.5% lesiones de la mucosa nasal, epistaxis 4,2%, 32% tinnitus, vértigo 27,8%, 18.1% de pérdida de la audición. La evaluación hematológica revela hallazgos importantes, cito: hemoglobina y hematocrito por debajo del rango normal, y el cambio monocitopenia en los niveles de creatinina. La evaluación nutricional realizada a través del análisis de los hábitos alimenticios, pruebas antropométricos y bioquímicos muestran que los usuarios realizan un promedio de 4,38 comidas generalmente ricos en hidratos de carbono. La relación entre el peso y el peso de la altura han revelado que el 57,4% eran de peso normal, el 25,1% de sobrepeso, obesidad 9,4 y el 8,2% de bajo peso. Asociación estadísticamente significativa entre el sexo y la presión arterial sistólica, presión arterial diastólica, hemoglobina, hematocrito, HDL y albúmina. En relación con el uso del tiempo estadístico de asociación con los triglicéridos (p-valor=0,036) y el tiempo tratmento se asoció significativamente con las plaquetas, la circunferencia de la cintura y el colesterol total. Conclusión: La contribución específica al cuidado de la enfermera llama la

atención sobre la comprensión del usuario de la grieta como un ser biopsicosocial, las repercusiones de este consumo violar la dimensión física, lo que complica en gran medida la atención de enfermería tradicional. En este contexto, es imprescindible apoyar holística y humana capaz de fomentar enfrentar este grave problema.

Palabras clave: Cocaína crack. Salud mental. Enfermería.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Caracterização da amostra segundo as variáveis sociodemográficas e econômicas. Teresina, 2013. (n=331)

41

Tabela 2 – Padrão de consumo de crack da amostra estudada. Teresina, 2013. (n=331)

43

Tabela 3 – Distribuição das variáveis somatoscópicas na amostra estudada. Teresina, 2013. (n=331)

44

Tabela 4 – Distribuição das alterações orais e otorrinolaringofaríngeas identificadas na amostra estudada. Teresina 2013. (n=331)

45

Tabela 5 – Caracterização hematológica da amostra estudada. Teresina, 2013. (n=331)

46

Tabela 6 – Caracterização nutricional da amostra segundo os hábitos alimentares. Teresina, 2013. (n=331).

47

Tabela 7 – Caracterização nutricional da amostra estudada segundo parâmetros antropométricos. Teresina, 2013. (n=331)

48

Tabela 8 – Caracterização nutricional da amostra estudada segundo parâmetros bioquímicos. Teresina, 2013. (n=331)

49

Tabela 9 - Associação entre as variáveis somatoscópicas e sexo. Teresina, 2013. (n=331)

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Tabela 10 - Associação entre as variáveis hematológicas e sexo. Teresina, 2013. (n=331)

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Tabela 11 - Associação entre as variáveis nutricionais e sexo. Teresina, 2013. (n=331)

52

Tabela 12 - Associação entre as variáveis nutricionais e tempo de uso de crack. Teresina, 2013. (n=331)

53

Tabela 13 - Associação entre as variáveis hematológicas e tempo de tratamento. Teresina, 2013. (n=331)

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Tabela 14 - Associação entre as variáveis nutricionais e tempo de tratamento. Teresina, 2013. (n=331)

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 14

1.1 Delimitação do problema e construção do objeto de estudo 14 1.2 Objetivos 17 1.2.1 Objetivo Geral 17 1.2.2 Objetivos específicos 18 1.3 Justificativa e relevância do estudo 18 2 MARCO CONCEITUAL, HISTÓRICO, EPIDEMIOLÓGICO E POLÍTICO 20

2.1 Políticas públicas e o enfrentamento do fenômeno das drogas: interface histórica e contextual

20

2.2 Abordagem histórica e epidemiológica sobre o consumo de crack 28 2.3 O consum de crack: complicações, prevenção e tratamento 31

3 METODOLOGIA 36 3.1 Tipo de estudo

36

3.2 Local do estudo 36 3.3 Universo/Amostra do Estudo 36 3.4 Variáveis do estudo 38 3.5 Procedimentos e instrumento para coleta dos dados 38 3.6 Análise dos dados 42 3.7 Aspectos éticos e legais 42 4 RESULTADOS 44 5 DISCUSSÃO 59 5.1 Caracterização geral da amostra 59 5.2 Alterações somatoscópicas, hematológicas e nutricionais 62 6 CONCLUSÃO 72 REFERÊNCIAS 75 APÊNDICES

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Delimitação do problema e construção do objeto de estudo

O consumo de substâncias psicoativas compreende uma prática milenar e

universal, presente nas comunidades, com diferentes modos de uso e objetivos. É

possível afirmar que inexiste uma sociedade que não tenha recorrido ao seu uso, no

decorrer de sua história. Essas substâncias eram empregadas de modo comedido e

na pluralidade das vezes em rituais religiosos, auxiliando no relacionamento entre

pessoas e marcando festividades. No entanto, ao longo dos anos, verifica-se uma

desvirtuação dessa finalidade passando a serem utilizadas na perspectiva de

aumento do prazer.

A partir da década de 1960, subleva-se uma grande preocupação com essa

prática, particularmente nos países industrializados, em função da alta frequência e

dos riscos que acarretam à saúde da população. Estas substâncias foram, então,

classificadas em dois grupos: lícitas e ilícitas (SILVA; MONTEIRO, 2012).

O consumo, principalmente, das drogas ilícitas, partiu de quantidades

consideradas irrelevantes, para produção e distribuição em ampla escala, como

produto comercial por meio do tráfico ilegal. Esse processo contribui para desordens

sociais, econômicas e de saúde, tornando-se sério problema de saúde pública

(NOTO et al., 2009).

Dentre as substâncias ilícitas mais consumidas de modo abusivo, no mundo,

estão a cocaína, a heroína e a maconha. Com destaque para cocaína, cujo consumo

vem exacerbando-se a partir da década de 1980, principalmente, na forma de pedra:

o crack (KESSLER; PECHANSKY, 2008).

Uma das justificativas para disseminação do consumo do crack resulta no

fato de ser derivada da cocaína, constituída pelas sobras da sua matéria prima, em

associação com ácido sulfúrico ou ácido clorídrico, carbonato ou bicarbonato de

sódio, água e até querosene ou gasolina o que a torna mais acessível,

financeiramente.

A prevalência do consumo do crack é estimada em 0,3% da população

mundial. Cerca de 70% desses consumidores concentram-se nas Américas

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(ARAÚJO et al., 2010). Nessa dimensão geográfica, chama atenção o fato do Brasil

apresentar um consumo em torno de 0,7% da população geral, com destaque para

as regiões Sul (3,6%), Sudeste (2,6%) e Nordeste (1,4%) entre jovens, estudantes

do ensino médio e fundamental, predominantemente, de baixa renda (RIBEIRO et

al., 2006, GALDURÓZ et al., 2005; DUALIBI; RIBEIRO; LARANJEIRA, 2008;

BERNADY; OLIVEIRA, 2010).

No contexto em que este estudo se insere a realidade é semelhante. De

acordo com levantamento realizado em 3.950 cidades cujo objetivo era mapear a

existência e a intensidade do consumo de crack foi verificado que a droga já atinge

84% destes, o que representa 126 municípios. Somente na capital, estimou-se que

cerca de oito mil dependentes circulam pelas ruas da cidade (CNM, 2011).

Diante da magnitude com que este consumo vem se apresentando é

relevante pontuar as consequências na saúde de seus usuários. De acordo com

Nassif (2004) o consumo de crack acarreta dificuldades gerais de saúde. Outros

estudos corroboram com esta afirmativa embora acreditem que essa substância

repercuta de modo mais acentuado no sistema nervoso central (SNC), no trato

respiratório, no aparelho cardiovascular, na função renal e sistema digestório. Essas

repercussões tornam imperativa a avaliação somatoscópica, bem como da

composição corporal, uma vez que estas estão imbricadas com a saúde, bem-estar

global e qualidade de vida humana (GAZONI et al., 2006; BALBINOT et al., 2011a;

PANKL; PELLEGRINI; BRUETMAN, 2012).

Silveira et al. (2010) destaca que o crack pode ocasionar hemorragias

intracerebrais e subaracnóideas, além de infartos provavelmente decorrentes da

diminuição da perfusão sanguínea cerebral, bem como tosse, expectoração

enegrecida, dor torácica, com capacidade de expiração comprometida (GOSSOP;

MANNING; RIDGE, 2006; RAMPELOTTO et al., 2010).

Clinicamente, podem-se observar lesões no trato aerodigestivo superior

(mucosa e septo nasal, faringe, mucosa oral, laringe e porções superiores do

esôfago) considerando seus efeitos irritativos, vasoconstritores e, sobretudo, pelas

queimaduras resultantes da inalação dos gases expelidos da combustão dessa

substância (GOSSOP; MANNING; RIDGE, 2006). É possível observar ainda entre

os usuários dores de garganta, disfagia, perda do olfato e do paladar. Essas

manifestações podem afetar a ingesta de alimentos e, consequentemente,

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comprometer o estado geral do usuário (alteração somatoscópica) além de afetarem

o sistema hematológico (RAMPELOTTO et al., 2010).

O fato mais preocupante é que o consumo do crack incita um padrão

intenso, contínuo e repetitivo, fazendo com que as consequências transgridam o

usuário e se estenda a toda sua conjuntura familiar e social. A urgência pelo crack,

juntamente com a intensidade dos efeitos causados por sua busca, se associam à

violência e aos comportamentos sexuais de risco que atingem não só o usuário

como a sociedade, podendo disseminar doenças e acarretar danos à segurança da

população (PINHO et al., 2012; SAPORI; SENA; SILVA, 2012).

É visto, então, que as consequências na vida do indivíduo, decorrentes do

crack são inúmeras e demasiadamente graves. Além de concorrer para o

crescimento dos gastos com tratamentos médicos e internações hospitalares,

aumenta, consideravelmente, os índices de criminalidade, acidentes de trânsito,

violências, suicídios e mortes prematuras.

Assim, tem-se como objeto de estudo a relação

entre alterações somatoscópicas, hematológicas e nutricionais e uso de crack

entre usuários dos Centros de Atenção Psicossocial para dependentes de álcool e

outras drogas (CAPSad) do Estado do Piauí. Diante da definição do foco do estudo,

formulou-se a seguinte pergunta de pesquisa: quais as

relações entre alterações somatoscópicas, hematológicas e nutricionais e uso

de crack entre usuários do CAPSad do Estado do Piauí? Para se obter resposta a

esta indagação elaborou-se os seguintes objetivos:

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo geral

Avaliar as relações entre alterações somatoscópicas, hematológicas e

nutricionais e uso de crack.

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1.2.2 Objetivos específicos

Caracterizar os usuários de crack quanto as variáveis econômicas e

sóciodemográficas;

Identifcar o padrão de consumo de crack e outras drogas entre a amostra

estudada;

Avaliar a amostra do estudo quanto aos seus aspectos somatoscópicos,

hematológicos e nutricionais;

Investigar associação entre as variáveis econômicas e sociodemográficas

com alterações somatoscópicas, hematológicas e nutricionais;

Avaliar as possiveis relações entre o perfil somatoscópico, hematológico e

nutricional com o tempo de uso do crack e de tratamento.

1.3 Justificativa e relevância do estudo

A aproximação com a temática do consumo de substâncias psicoativas,

especialmente, do crack estabeleceu-se a partir da inserção no Grupo de Estudos

sobre Enfermagem, Violência e Saúde Mental (GEEVSM) da Universidade Federal

do Piauí (UFPI), em que a partir dessa oportunidade tornou-se possível uma

apropriação desses conteúdos por meio de discussões e eventos desenvolvidos

pelo grupo e que são corresponsáveis pela motivação a trabalhar com o tema.

Esse fato suscitou a estudar no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da

graduação em Enfermagem, os significados atribuídos pelos usuários de crack a

morte e ao morrer. Por meio de uma pesquisa qualitativa fundamentada pela

fenomenologia heideggeriana aconteceu uma aproximação inicial tanto com estes

usuários quanto com cenário terapêutico.

Essa aproximação inicial com este grupo de pacientes sob a ótica subjetiva

da tanatologia e sua interface com a fenomenologia possibilitaram visualizar outras

importantes questões que, embora, quantificáveis e estudadas sob o enfoque

positivista também possuem como foco principal contribuir com o desenvolvimento

de abordagens terapêuticas centradas no cliente.

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No sentido de buscar respostas às indagações/problemas identificados e

nessa busca por novos conhecimentos construídos na área da saúde mental,

especificamente, em termos de dependência química foi-se instigado à participação,

no ano de 2011, no XIV Simpósio Internacional sobre Tabaco, Álcool e outras

Drogas, realizado no Rio de Janeiro.

Na ocasião o autor participou do curso sobre o tratamento do usuário de

crack. Essa oportunidade possibilitou a ampliação de horizontes do autor no que

tange as abordagens terapêuticas e minimizou o olhar biologicista que enfoca a

medicalização da dependência química pelo crack.

As evidências científicas apresentadas no evento chamaram atenção

também para as comorbidades associadas a esse consumo nas mais diversas

dimensões: cardíacas, neurológicas, psíquicas, respiratórias, dermatológicas e

digestórias. Neste momento, compreende-se a necessidade de transcender a

subjetividade que até então vinha sendo buscada a partir dos estudos desenvolvidos

com este grupo. Subleva-se, então, uma preocupação com outras dimensões

também afetadas por este consumo: somatoscopia, hematologia e nutrição.

Portanto, as complicações que emergem desse consumo associadas à

lacuna na produção científica sobre dependência química, especialmente, por crack

no Estado do Piauí justificam a necessidade de planejamento e elaboração desta

dissertação.

A relevância deste estudo, por sua vez, reside no fato de que o do crack

constitui, sem dúvida, um fenômeno complexo. O dependente, frente às dificuldades

cotidianas, encontra na droga um caminho quimicamente efetivo para superar a sua

fragilidade e supostamente evitar a desintegração do seu ego.

A rápida deteriorização cognitiva, o comprometimento do estado geral do

usuário (somatoscopia) e o desenvolvimento de comportamentos antissociais, em

alguns casos, complicam ainda mais a elaboração de uma abordagem terapêutica

centrada no cliente. A partir deste estudo espera-se contribuir para o fortalecimento

do saber psiquiátrico, bem como da equipe multidisciplinar em saúde, sobretudo, da

Enfermagem a partir de novo enfoque que vem sendo dado a problemática da

dependência química pelo crack.

A gravidade dos problemas emergidos pelo consumo do crack, suas

frequentes repercussões clínicas, psiquiátricas e sociais impõem a necessidade de

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atenção para cada uma das áreas envolvidas. A partir deste estudo espera-se,

também, reconhecer o substrato social, cultural e histórico da dependência química

por crack, além de estudar, compreender e criar meios de enfrentar a dimensão

biológica da dependência química pelo crack, para poder contribuir para o

desenvolvimento de estratégias de prevenção e reabilitação de modo correto e

positivo.

A importância deste estudo está relacionada a possibilidade de formação e

capacitação de profissionais da saúde, com ênfase nos de enfermagem:

profissionais que são habilitados para o cuidar de indivíduos, família e coletividade

de forma holística e humanística na perspectiva da promoção, prevenção e

reabilitação. Destaca-se que a assistência de enfermagem deve estar associada à

rede de serviços de saúde e sociais e deve dar ênfase na reabilitação e reinserção

social deste usuário, além de atenção à comunidade e aos familiares.

Acredita-se que a construção de novos conhecimentos científicos no que

tange a dependência química pelo crack associada a estratégias sociopolíticas, tais

como: a Câmara Especial de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas contribuam

para o combate aos graves problemas enfrentados pelas pessoas que usam essa

substância, bem como para alertar para necessidade de desenvolver estratégias que

viabilizem prevenir, tratar e reabilitar os seus dependentes.

Assim, a partir deste estudo espera-se contribuir com o Decreto nº 7.179, de

20 de maio de 2010 que institui o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e

outras Drogas e à Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários

de Álcool e outras Drogas no que tange a tentativa de reduzir ou eliminar o risco

para o uso abusivo e/ou dependência de drogas.

É importante destacar que como diretrizes do referido plano destacam-se os

investimentos na área científica a partir do desenvolvimento de novos

conhecimentos na área. É, pois, neste sentido que o projeto deste estudo foi

reconhecido como importante pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq) a partir do seu financiamento por meio do Edital

14/2011, processo n. 479521/2011-5.

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2 MARCO CONCEITUAL

2.1 Políticas públicas e o enfrentamento do fenômeno das drogas: interface

histórica e contextual

A história vem mostrando que as as políticas públicas que envolvem as

drogas emergiram nos Estados Unidos, no século XIX, sob uma ótica proibicionista,

militarizada e repressiva atreladas a dois modelos explicativos: o modelo

moral/criminal e o modelo de doença (ALVES, 2009).

No modelo moral/criminal, o consumo de substâncias psicoativas se

configura como um problema moral, uma prática delituosa cujo enfrentamento

consiste no encarceramento dos imorais/criminosos. Já o modelo de doença

concebe o consumo de drogas e a dependência como uma patologia biologicamente

determinada e, como tal, deve ser abordada com a oferta de tratamento e

reabilitação, no entanto, muitas vezes, sua prática também envolvia o isolamento

dos usuários (ALVES, 2009). Embora esses modelos explicativos sejam divergentes

quanto às suas propostas de intervenção, ambos, subliminarmente, compartilham do

propósito de eliminação do consumo de drogas a partir de medidas punitivas, tal

como: o encarceramento.

De acordo com Teixeira (2012) este processo de construção política do

enfrentamento ao fenômeno das drogas teve subsídio em movimentos populares e

religiosos americanos, tais como: Prohibition party (1869) e a Sociedade para a

supressão do vício (1873) que avançaram dentro das estruturas de poder do Estado

e ao longo dos anos foram garantindo a implantação de leis que restringiam, cada

vez mais, a produção, o comércio e o uso de toda e qualquer droga ilícita.

Paralelamente, no campo das relações internacionais, a dinâmica de

desenvolvimento das políticas seguiu a mesma lógica, sendo, igualmente,

encampada e articulada a partir de conferências e reuniões globais para que fosse

possível uma efetivação das estratégias de enfrentamento, conforme os

pressupostos já defendidos pelos Estados Unidos (TEIXEIRA, 2012).

Essa forma de combate às drogas foi disseminada em diversos continentes

e, assim, a adoção de uma postura semelhante (proibicionista, ostensiva e

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repressiva) - a estadunidense, tornou-se uma realidade considerando que esse

processo de produção, distribuição e consumo de drogas que circunscreve as mais

distintas áreas geográficas é responsável pelo financiamento de diversos crimes

transnacionais (FORTE, 2007).

Com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945, esse

órgão responsável por criar e colocar em prática mecanismos que possibilitassem a

segurança internacional, desenvolvimento econômico, definição de leis

internacionais relacionados aos direitos humanos e ao progresso social, visualiza-se

de modo concreto um organismo internacional que pudesse liderar essa luta pelo

controle das substâncias psicoativas no mundo.

Reflexões realizadas por Rodrigues (2008) demonstram que a criação desta

Organização teve como um dos principais eixos, voltados ao enfrentamento ao

fenêmeno das drogas, a consagração do proibicionismo como estratégia efetiva de

controverter o fenômeno das drogas no mundo. Esse fato repercutiu e norteou toda

a dinâmica de enfrentamento às drogas em todo o mundo. É relevante pontuar que

esse processo político discutido e enfrentado pela comunidade internacional esteve

restrito às questões de segurança internacional em detrimento ao fato desse

fenômeno repercutir na segurança por meio do narcotráfico (RITTER, 2010).

Ventura (2011), a partir de uma análise reflexiva sobre o fenômeno das

drogas no cenário internacional assegura que essa estratégia política vigorou por

muito tempo em todo o mundo e ainda traz consigo marcas importantes em diversas

diretrizes políticas apresentadas na contemporaneidade. Destaca ainda que é

recente na história do sistema internacional de controle de drogas a abordagem

direcionada à área da saúde que tenha como diretriz a prevenção do uso, o

tratamento e a reinserção social, como possíveis soluções para o seu controle.

Ao analisar esse movimento político sob um enfoque nacional constata-se

que o Brasil compõe o grupo de nações signatárias das convenções internacionais

para repressão do tráfico e do uso de drogas. Ribeiro (2006) enfatiza que essa

realidade determinou que o país assumisse uma postura internacional semelhante e

formulasse suas políticas alinhadas ao discurso proibicionista.

As intervenções elementares desenvolvidas no Brasil datam do início do

século XX tendo em vista a exacerbada venda do ópio e seus derivados. Na

perspectiva de atuar efetivamente na redução deste consumo, na década de 1930

foi promulgada a Lei nº. 891/1938 (Figura 1) que propunha a internação compulsória,

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por tempo indeterminado, dos denominados toxicomaníacos (BRASIL, 1938). Além

disso, criminalizava o porte de drogas ilícitas, independentemente, da quantidade

apreendida.

Figura 1 – Evolução histórica das políticas de enfrentamento às drogas, no Brasil, no período de 1938-1993.

Fonte: Pesquisa direta.

Na evolução histórica das políticas, conforme a Figura 1, destaca-se o ano

de 1964 pela promulgação da Convenção Única sobre Entorpecentes a partir do

Decreto nº. 54.216/1964. Neste momento identifica-se significativa evolução

ideológica nessa dinâmica do fazer política sobre drogas: é possível identificar a

preoucupação com a saúde fisica até então esquecida. Outro aspecto relevante é a

necessidade de conscientização acerca da prevenção deste consumo (BRASIL,

1964).

A partir da compreensão da existência de uma relação incoercível entre o

consumo de drogas e as alterações de saúde, tornou-se uma preocupação a

necessidade de um enfoque mais específico à dimensão biológica. Nesta

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perspectiva, elaborou-se a Lei nº. 5.726/1971 que dava diretrizes às intervenções

em saúde embora estivesse restrita aos denominados infratores viciados: aqueles

que em razão do vício, não possuiam condições de discernimento acerca do caráter

ilícito do seu ato (BRASIL, 1971).

Posteriormente esta Lei foi substituída pela Lei nº. 6.368/1976 que prevê

assistência a saúde aos demais dependentes de substâncias psicoativas

assegurando-lhes tratamento sob regime de internação ou não, a partir da avaliação

do quadro do dependente. Neste momento já se entendia a importância da

continuidade da assistência sob um enfoque extrahospitalar, nos moldes da Reforma

Psiquiátrica. No entanto, a ausência de recursos específicos tornou, naquele

momento, o hospital psiquiátrico ferramenta exclusiva para essa abordagem

terapêutica (BRASIL, 1976).

Somente dez anos depois é sancionada a Lei nº. 7.560/1986 que dá maior

liberdade financeira às ações preventivas e terapêuticas que deveriam ser

implementadas a esse segmento social. Essa legislação cria o fundo de prevenção,

recuperação e combate às drogas de abuso (FUNCAB) que dispõe sobre o destino

dos bens apreendidos e adquiridos com produtos do tráfico ilícito de drogas ou

atividades correlatas (BRASIL, 1986).

Machado (2006) ao realizar análise sobre o processo de construção das

políticas públicas de saúde no Brasil para usuários de drogas, chama atenção para o

fato de que a própria legislação referida anteriormente impunha barreiras legais para

a construção de novos modelos de atenção a saúde, além de possuir ainda

arraigada a ideologia proibicionista que contrapõe a abordagem de redução de

danos.

Outro fato que merece destaque é a criação no Ministério da Justiça da

Secretaria Nacional de Entorpecentes instituída a partir da Lei nº. 8.764/1993. Essa

legislação representa um grande avanço político já que possui uma visão mais

global da problemática e prevê integração entre os diversos órgãos: Vigilância

Sanitária, Ministérios da Fazenda, Saúde e Bem-Estar Social (BRASIL, 1993). Sua

finalidade principal é a integração das atividades desenvolvidas nos Estados e no

Distrito Federal de modo a tornar proporcional todos os investimentos voltados a

essa problemática.

Pode-se perceber que grandes conquistas foram alcançadas, sobretudo, a

partir da compreensão da dependência química como problema de saúde. No

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entanto, somente a partir dos anos 2000, pode ser observada uma nova ótica diante

do fenômeno das drogas. De acordo com Alves (2009) por mais que as políticas

permaneçam alinhadas ao discurso proibicionista, a atenção a saúde deixa de ser

uma espécie de apêndice e se torna tema, cada vez mais importante, ainda que

persistam contradições imanentes de uma estrutura político-organizacional

militarizada para o enfrentamento das questões relacionadas às drogas.

Figura 2 – Evolução histórica das políticas de enfrentamento as drogas, no Brasil, período de 2002-2011.

Fonte: Pesquisa direta.

Nessa lógica é instituído o Decreto nº. 4.345/2002, conforme Figura 2, para

a criação da Política Nacional Antidrogas. Neste Decreto permanece como

fundamento principal o uso indevido de drogas como uma ameaça séria e

persistente a humanidade tendo associada à problemática ao tráfico e outros crimes.

A marca inovadora da política entende que diversas modalidades de violência são

comumente presentes no cotidiano da dependência (BRASIL, 2002).

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A Política Nacional Antidrogas aproxima discursos paradoxais: compartilham

do proibicionista a partir da repressão e criminalização da produção e porte de

drogas ilícitas, ao mesmo tempo em que se inicia uma aproximação positiva à

abordagem da redução de danos além de compromissos com a garantia dos direitos

de cidadania alinhados aos princípios também da Reforma Psiquiátrica. Segundo

Sodelli (2010) esse fato favoreceu o delineamento de um modelo de atenção aos

usuários de drogas, especialmente, os de crack.

Em, 2004, tem-se a formulação da política do Ministério da Saúde para

atenção integral a usuários de álcool e outras drogas. Essa legislação representa

importante marco, uma vez que, o uso prejudicial e/ou dependência por álcool e

outras drogas é inserido na agenda da saúde pública (BRASIL, 2004). Outro aspecto

relevante a ser considerado é a articulação com o Sistema Único de Saúde (SUS)

que passa a responsabilizar-se pela garantia da atenção especializada aos usuários

até então contemplada pelas instituições não-governamentais, em sua maioria,

comunidades terapêuticas, em sua maioria apoiadas pelo governo.

Para Souza et al. (2007) e Trad (2010) as diretrizes políticas preconizam que

a assistência aos usuários de drogas seja oferecida em todos os níveis de atenção a

saúde, de forma efetiva e integrada que contemple o tratamento, a recuperação e a

reinserção social, constituída por diversos segmentos: públicos e privados, como:

unidade básica de saúde, ambulatórios, CAPS, CAPsad, comunidades terapêuticas,

grupos de auto-ajuda e ajuda mútua, hospitais gerais e psiquiátricos, hospital-dia,

serviços de emergência, corpo de bombeiros, clínicas especializadas, casas de

apoio e convivência e moradias assistidas.

Em continuidade a evolução histórica das políticas de enfrentamento as

drogas, destaca-se que a Política Nacional Antidrogas passou por um processo de

reconstrução. Assim, em 2005, é aprovada a Política Nacional sobre Drogas por

meio da Resolução nº. 3/2005. Segundo Alves (2009) na legislação apresentada o

enfoque na redução de danos aparece com maior notoriedade nessa nova versão da

política, o que de fato representa a modificação mais expressiva nesse caminhar

histórico de construção das políticas públicas sobre drogas no Brasil.

Outra significativa mudança ocorreu em 2006 por meio da Lei nº.

11.343/2006 em que é instituído o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre

Drogas em substituição ao Sistema Nacional Antidrogas (BRASIL, 2006). Alves

(2009, p. 2317) assegura que essa mudança possui como pressuposto a

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transformação da compreensão da problemática das drogas que no discurso político

mostra-se cada vez mais ampliada: “as drogas deixam de ser referidas como

ameaça para serem reconhecidas como problema social complexo a ser enfrentado

com políticas públicas intersetoriais”.

Outro avanço das políticas é a presença de modo transversal da ideologia

da redução de danos nessa legislação. Para Trad (2010) a referida Lei apresenta

avanços, historicamente, substanciais e reveladores de um posicionamento político

contemporâneo: repreende a produção e tráfico, mas aborda de forma ampliada a

prevenção, a atenção à saúde e a reinserção social.

É possível perceber em todo o discurso político apresentado que são

inexistentes diretrizes específicas para o enfrentamento do fenômeno do crack.

Somente no ano de 2010 com o avançar dos debates sobre drogas no Brasil e o

visível aumento da oferta dessa substância começa-se a compreender a importância

da implantação de medidas sanitaristas para tratar a questão do usuário de crack.

Nesta perspectiva, tem-se no ano de 2010, a criação do Plano integrado de

enfrentamento ao crack e outras drogas, por meio do Decreto 7.179/2010. Trata-se

de uma iniciativa do Governo Federal, que mantém o mesmo alinhamento ideológico

de todas as outras políticas anteriores: repressão à oferta das drogas e do

narcotráfico, mas inova por possuir a organização de ações estruturantes que

preveem a integração de ações de prevenção, tratamento e reinserção social;

diagnóstico da situação sobre o consumo do crack e suas consequências;

campanha permanente de mobilização, informação e orientação; e, formação de

recursos humanos e desenvolvimento de metodologias para o enfrentamento desse

fenômeno (BRASIL, 2010).

Teixeira (2012) assegura que esse plano mantém a adoção de medidas

ostensivas e militarizadas, tal como: internação compulsória para crianças e

adolescentes, moradores de rua, usuários de crack, em abrigos para serem tratados

da dependência química, com acompanhamento de agentes da saúde. Para muitos

representa um retrocesso no modo de cuidar do dependente, uma vez que, a ação

militarizada é uma medida falida. Embora, seja defendida, na contemporaneidade,

como uma estratégia médico-sanitarista segundo descreve Boiteux (2009).

Com a avaliação dos resultados dos planos anteriores, em dezembro de

2011 foi lançado o plano “Crack é possível vencer”, que consiste numa ampliação e

inovação do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack. Seus objetivos caminham

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na intenção de aumentar a oferta de tratamento de saúde e atenção aos usuários,

enfrentar o tráfico de drogas e as organizações criminosas, além de ampliar

atividades de prevenção por meio da educação, informação e capacitação (BRASIL,

2012).

Para operacionalizar os direcionamentos apontados pelo dispositivo político

retrocitado o Brasil tem investimento na ampliação da Rede de Atenção Psicossocial

(RAPS) que se configura como uma rede de saúde mental integrada, articulada e

efetiva nos diferentes pontos de atenção para atender as pessoas em sofrimento

e/ou com demandas decorrentes dos transtornos mentais e/ou do consumo de

álcool, crack e outras drogas (SEVERO; DIMENSTEIN, 2011)

Ao analisar a realidade política do Piauí percebe-se que as ações

desenvolvidas nessa realidade contextual são coerentes as nacionais. Considerando

que no Piauí o consumo do crack vem apresentando índices crescentes em todas as

regiões, com importante penetração no interior do Estado, são visíveis as

repercussões nos altos custos ao Sistema Único de Saúde (SUS), aumento da

demanda de atendimento , devido aos prejuízos biopsicossociais causados pela

droga, criminalidade, tráfico e prostituição (PIAUI, 2012).

Nesta perspectiva, o Governo do Estado em parceria com o Governo

Federal é instigado a elaborar políticas e programas que venham não apenas a

criminalizar o uso, mas, sobretudo, fornecer espaços de prevenção e reabilitação

corroborando com as diretrizes da Reforma Psiquiátrica. É relevante acrescentar

que para operacionalizar essa parceria firmada, em 2011, foi criada a Câmara de

enfrentamento ao crack e outras drogas no Piauí: órgão responsável por lutar contra

a dependência química por meio da integração de todas as secretárias estaduais

como forma de concentrar esforços através da intersetorialidade (PIAUI, 2011).

Apesar de todos os avanços e conquistas, o que de fato se percebe nesses

discursos políticos são diretrizes que se complementam e convergem para a

implementação de medidas, cada vez mais, efetivas para o enfrentamento desse

problema de saúde pública.

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2.2 Abordagem histórica, conceitual e epidemiológica sobre o consumo de

crack

Historicamente, a humanidade tem buscado refúgio para seus problemas ou

experimentado de novas sensações com finalidades de natureza lúdica, religiosa e

curativa a partir da utilização de substâncias psicoativas. Dentre elas destaca-se a

cocaína e seus derivados, cujo consumo tem se expandido progressivamente em

todo o mundo.

Nesse sentido, destaca-se que a folha da coca (Erythroxylon coca) já era

usada há milhares de anos, geralmente mastigada junto com algum produto de

natureza alcalina, como cal, cinzas ou uma matéria produzida a partir de certos

moluscos. Esta combinação ajuda a liberação da cocaína presente nas folhas e é de

grande importância para a produção de seus efeitos psicoativos (DOMANICO,

2006).

O crack é um subproduto da cocaína, composto pela mistura aquecida de

cocaína em pó, adicionada de água e bicarbonato de sódio. Trata-se de uma

substância psicoativa estimulante do sistema nervoso central (SNC), normalmente,

encontrada ao leste dos Andes e acima da Bacia Amazônica (DUALIBI, RIBEIRO;

LARANJEIRA, 2008). Segundo Kessler e Pechansky (2008) a origem do nome crack

é inglesa e descreve o som produzido durante o processo de aquecimento da droga.

Os estudiosos acima afirmam que a partir disto, essas drogas passaram a

coexistir alternando o contexto de uso, principalmente, em detrimento às condições

econômicas do dependente.

De acordo com Marques et al. (2012) o consumo de crack é um fenômeno

recente, surgido há cerca de 25 anos nos Estados Unidos e há 20 anos no Brasil.

Em alguns países do continente europeu, esse problema somente tornou-se

relevante há pouco mais de cinco anos, uma vez que, a expansão desse consumo

deu notoriedade as consequências do consumo dessa substância na vida do usuário

e da comunidade que o permeia.

A estatística tem mostrado que no mundo, estima-se que 14 milhões de

pessoas façam uso abusivo de crack. Levantamento realizado demostra que a

cocaína e o crack são consumidos por 0,3% da população mundial. No entanto, a

maior parte dos usuários concentra-se nas Américas (70%) e, na última década, o

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número vem crescendo assustadoramente (UNODC, 2009). No Canadá, por

exemplo, evidenciaram que em dez anos houve um implemento significativo de

pessoas que usaram crack na vida, passando de 7,4% para 42,6% (WERB et al.,

2010).

Entre os países emergentes esse aumento é ainda mais significativo. O

Brasil é o maior mercado na América do Sul em números absolutos, com mais de

900.000 usuários (UNODC, 2009). É relevante destacar que no Brasil, até o início do

século XX, não havia relato sobre abuso e dependência ou preocupações maiores

com o crack. O país não é um produtor significativo da droga, mas faz parte da rota

colombiana do tráfico para os Estados Unidos e Europa, e, mais recentemente,

ingressou na conexão nigeriana, vindo a droga a entrar em grandes quantidades no

país (FERREIRA FILHO et al., 2003).

Nesse contexto tem-se o primeiro relato de uso de crack no Brasil no ano de

1989, na cidade de São Paulo. Após este relato, começaram a aumentar os registros

de apreensões da droga, apontando para a popularização do crack na nação, a

partir de 1990. Desde então o número de usuários vêm aumentando drasticamente

tendo-se em vista as influências dos inúmeros fatores sociais, políticos e

econômicos, pela significativa contribuição dos próprios traficantes que passaram a

ofertar a droga em larga escala, reduzindo a oferta de outras drogas, fazendo com

que os usuários passassem a optar crescentemente pelo uso de crack.

Segundo Noto et al. (1998), levantamento epidemiológico realizado no Brasil

com crianças e adolescentes em situação de rua demonstra que em 1997, o uso na

vida atingiu 24,5%. Os dados evidenciam ainda que cerca de 2% dos estudantes já

usaram cocaína pelo menos uma vez na vida, e 0,2%, o crack. Entre os principais

circuitos de consumo da droga destaca-se São Paulo, cujo uso na vida de cocaína

atinge 2,1% da população.

Dados dos Levantamentos Domiciliares sobre o uso de Drogas, realizado

pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), no

Brasil, nos anos de 2001 e 2005, detectaram que o uso na vida de crack aumentou

de 0,4% para 0,7% nesse período. O maior aumento ocorreu na região sul, indo de

0,5% para 1,1% e, na região sudeste, de 0,4% para 0,8% (GALDURÓZ et al., 2005).

O Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD) realizado, em 2012,

pelo Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Drogas (INPAD, 2012)

evidenciou que, aproximadamente, 2 milhões de brasileiros já usaram cocaína

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fumada (crack/ merla/oxi) pelo menos uma vez na vida representando cerca de 1,4%

dos adultos e 1% dos jovens. O estudo estima ainda que um em cada cem adultos

usou crack no último ano, representando 1 milhão de pessoas. Destaca-se ainda

que a maioria dos entrevistados possuía uma idade de experimentação antes dos 18

anos (45%).

Diante do crescimento e das consequências desse consumo vários estudos

foram realizados mostrando o perfil e o padrão de consumo como, por exemplo, o

estudo de Borini, Guimarães e Borini (2003) com 406 usuários de drogas ilícitas

internados em Unidade de Desintoxicação do Hospital Psiquiátrico São Pedro de

Porto Alegre, Rio Grande do Sul e identificou que a droga de uso mais prevalente foi

o crack, a qual era usada por 37,2% dos homens e 58,3% das mulheres. Com

relação à idade de início de uso, os usuários de crack iniciaram o consumo com 16,6

anos e a usam a aproximadamente 4 anos. Com relação ao padrão de consumo o

estudo evidenciou que era diário e de cerca de 5,7 gramas.

No Estado de São Paulo, na cidade de Campinas, outro estudo de natureza

transversal envolvendo 30 usuários de Campinas, São Paulo, verificou que estes,

em média, começaram a consumir a droga aos 18,41 anos e o tempo médio de uso

da droga corresponde a 10,30 anos. Sendo que estes consomem a substância, em

média, por cinco dias a cada semana (CUNHA et al., 2004).

Estudo realizado em Porto Alegre, envolvendo três CAPSad da Região

Metropolitana de Porto Alegre, com 95 usuários de crack acolhidos, entre agosto de

2009 e março de 2010, identificou que houve predomínio de pacientes homens,

adultos jovens, com escolaridade fundamental, sem ocupação regular, mas com

renda individual informada, em uso frequente e pesado há mais de um ano (HORTA

et al., 2011).

Estes usuários possuem como perfil predominante: sexo masculino, jovem,

solteiro, de baixa classe socioeconômica, baixo nível de escolaridade e sem vínculos

empregatícios formais. Normalmente consumem múltiplas drogas e desenvolvem

atividades ilícitas em troca da substância ou dinheiro (OLIVEIRA; NAPPO, 2008).

Nessa realidade contextual, embora tenha sido investido significativos

esforços para controlar o uso de drogas, com ênfase no crack, o uso de substâncias

psicoativas ilícitas continua aumentando, progressivamente. Informações veiculadas

pela Confederação Nacional dos Municípios Brasileiros obtidas por meio de

entrevistas com os secretários de saúde de todos os municípios brasileiros observou

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que em 98% dos municípios pesquisados existiam problemas relacionados com o

crack, inclusive naqueles com menos de 20.000 habitantes (CNM, 2011).

De fato, o fenômeno da interiorização do consumo de crack já pode ser

evidenciado no Brasil. A partir dos estudos retratados constata-se que o consumo de

crack se configura como uma problemática ampla, grave e que vem crescendo

progressivamente no Brasil e no mundo. Cidades, quer capitais ou interiores são

palcos deste consumo e o usuário protagonista deste processo de definhamento

física, moral e social.

2.3 O consumo do crack: complicações, prevenção e tratamento

O consumo de crack encontra-se, inevitavelmente, associado a padrões

graves de dependência. Além disso, são evidenciadas significativas complicações

neuropsicológicas, psiquiátricas e físicas decorrentes do seu consumo, que variam

de gravidade conforme o modo e padrões de consumo adotados pelo dependente.

De acordo Boghdadi e Henning (2007) não existe concordância sobre a

quantidade de cocaína/crack necessária para desencadear problemas sérios à

saúde do usuário. No entanto, acredita-se que o consumo médio diário de 2 a 4

mg/kg seja corresponsável pela redução discreta do fluxo cerebral, coronariano e

aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial. O estudo destaca ainda que

além da toxicidade inerente à substância ela torna seus usuários ainda mais

suscetíveis a outras complicações: coronariopatias, hipertensão arterial sistêmica,

aneurismas, epilepsias e doença pulmonar obstrutiva crônica.

O crack também atua no SNC por meio de um bloqueio da recaptação da

dopamina na fenda sináptica, que pode alterar o funcionamento neuronal com

consequente modificação no desempenho das funções cerebrais, tais como:

processo do pensamento, senso-percepção, atenção, concentração, memória,

sentimentos, emoções, coordenação motora, nível intelectual, entre outras

(MATTOS; ALFANO; ARAÚJO, 2004).

Com relação as alterações das funções neuropsicológicas, Cunha et al.

(2004), realizou estudo com 15 pacientes dependentes de crack, internados e em

abstinência, por duas semanas, e comparou com 15 indivíduos normais. Os

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principais déficits encontrados nesses pacientes foram nas seguintes funções

neuropsicológicas: atenção, fluência verbal, memória visual, memória verbal,

capacidade de aprendizagem e funções executivas. Além disso, o estudo concluiu

que o abuso de crack está associado a déficits neuropsicológicos importantes,

possivelmente relacionados a problemas em regiões cerebrais pré-frontais e

temporais, semelhante ao que ocorre em transtornos cognitivos.

Outra dimensão em que se encontram significativas complicações como

consequência da dependência química pelo crack é a psiquiátrica. Hamid (2011)

enfatiza que as complicações psiquiátricas são frequentes, ocorrendo em 35,8% dos

casos, sobressaindo-se, entre elas, episódios de pânico, depressão e psicose.

Nessa mesma dimensão, recente estudo brasileiro realizado por Hess,

Almeida e Moraes (2012) em comunidades terapêutica da região metropolitana de

Porto Alegre, Rio Grande do Sul constatou frequência significativa de indicadores

para transtornos de ansiedade, dentre eles: transtorno obsessivo compulsivo,

transtorno de estresse pós-traumático e transtorno de ansiedade generalizada.

Nassif (2001), em sua tese sobre a avaliação neuropsicológica de usuários

de crack identificou que estes apresentam níveis significativos de sintomas de

ansiedade, mas, sobretudo sérios comprometimentos cognitivos, sugerindo que este

padrão de uso (fumado) é mais deletério devido seu poder de ação no SNC.

Como pôde ser evidenciado a ansiedade se configura como uma

consequência inevitável na vida de quem consume esse substância. Tal

característica é ainda mais comum nos momentos de abstinência sendo, pois,

denominada por craving. Essa complicação é definida por Zeni e Araújo (2011)

como um intenso desejo de utilizar essa substância na perspectiva de alívio do afeto

negativo e dos sintomas relacionados à abstinência.

É relevante destacar que as complicações não se restringem a dimensão

neuropsíquica elas transgridem o usuário em toda sua anatomia repercutindo de

forma especial em diversos órgãos e sistemas fisiológicos, como mostra estudo

realizado por Teixeira Neto (2009) em Salvador, o qual verificou a ocorrência de

xerostomia (36,5%) e refluxo gastroesofágico (32,7%). O índice dentes cariados,

perdidos e obturados (CPOD) foi em média de 14,81, em 61,5% da amostra do

estudo.

As complicações cardiovasculares decorrentes do uso do crack são as mais

frequentes entre as não psiquiátricas. Neste contexto, a comorbidade cardíaca mais

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evidente é a angina pectoris que atinge, aproximadamente, 10% dos usuários

(BAUMANN et al., 2000). O infarto agudo do miocárdio (IAM) não é tão frequente.

Cerca de um terço dos acidentes vasculares cerebrais em adultos jovens está

associado ao consumo de drogas, sendo que, entre os indivíduos de 20 a 30 anos,

esse índice chega a 90% (FELDMAN et al., 2000).

Estudo realizado em Buenos Aires que analisou o desenvolvimento de

trombose periférica em dependentes de cocaína/crack concluiu que este tipo de

complicação esteve presente em mulheres usuárias de, pelo menos, 3 miligramas

diárias da droga, com dor e parestesia do membro inferior esquerdo como principal

sintomatologia (PANKL; PELLEGRINI; BRUETMAN, 2012).

O consumo dessa substância é responsável por produzir pequenas

partículas que são absorvidas pela árvore brônquica, alcançam os alvéolos, levam a

uma absorção instantânea proporcionada pela ampla vascularização desta estrutura

anatômica, conduzindo imediatamente ao aparecimento de efeitos, tais como:

redução da função pulmonar, com capacidade de expiração comprometida

(RIBEIRO et al., 2006; GOSSOP; MANNING; RIDGE, 2006; RAMPELOTTO et al.,

2010; TERRA FILHO et al., 2004).

Zorzetto (2007) em sua tese de doutorado, avaliou os efeitos do uso crônico

de cocaína/crack identificou que a inalação dessa substância causa alterações no

aparelho respiratório (do nariz até o parênquima pulmonar), demonstradas pela

diminuição do epitélio, aumento de muco no epitélio nasal e brônquico,

vasoconstrição das arteríolas pulmonares, aumento de hemossiderina pulmonar e

de macrófagos e neutrófilos pulmonares.

Estudo demonstra que comprometimentos otorrinolaringofaríngeos também

são uma realidade significativa. Estudo do tipo caso-controle que tinha por objetivo

avaliar a função vestibular de usuários de crack encontrou que a maioria dos

usuários de crack apresentou sintomas que indicam diagnóstico de síndrome

vestibular periférica do tipo irritativo ou deficitário (TAGUCHI, 2007).

A infinidade de consequências à saúde do usuário de crack tornam a

abordagem ao dependente complexa e, portanto, implica em uma avaliação

holísitca. De acordo com Marques et al. (2012) a maior parte dos usuários de crack

que procuram atendimento médico imediatamente após o consumo apresentam

sintomas psiquiátricos com frequência. No entanto, o estudo refere que a equipe

multiprofissional deve considerar a possibilidade de coexistir alterações clínicas

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relacionadas, tais como: hipoglicemia, distúrbios metabólicos e quadros confusionais

desencadeados por infecções.

Ao se compreender a gravidade das consequências do consumo de crack,

sobretudo, as relacionadas a saúde destaca-se o desenvolvimento de políticas

públicas voltadas a implementação de estratégias de cuidado que promovam a

reabilitação e reinserção social do dependente.

Chama atenção para os CAPSad, criados em 2002 e regulamentados pelas

Portarias n°. 336 e 816. Estes consistem em dispositivos estratégicos na

organização da “porta de entrada”, na avaliação e no acolhimento ao indivíduo com

sofrimento mental no território decorrente do uso de álcool e outra drogas. Devem

dar apoio especializado à Estratégia de Saúde da Família (ESF), fazer articulações

intersetoriais, encaminhar e acompanhar os usuários à internação em hospitais

gerais, quando necessário (BRASIL, 2010).

No atendimento a estes usuários os CAPSad oferecem três modalidades de

tratamento: intensivo, semi-intensivo e não intensivo. Vale destacar que o

enquadramento em uma dessas classificações depende da necessidade psíquica e

do grau de comprometimento cognitivo do usuário. Esse dispositivo realiza também

diversas atividades que vão desde o atendimento individual, em grupo, até oficinas

terapêuticas e visitas domiciliares (BRASIL, 2004).

A expansão e gravidade da problemática do consumo de substâncias

psicotivas com ênfase no crack determinou a necessidade de ampliar as ações para

a redução dos riscos e danos ocasionados pelo consumo de drogas. É, pois, nesse

sentido que emerge um novo dispositivo de cuidado os CAPSad 24h (CAPSad III),

regulmentados pela Portaria n°. 130 de janeiro de 2012. Esse dispositivo objetiva

oferecer atenção integral ao individuo que necessita de cuidados relacionados ao

uso de álcool, crack e outras drogas, com funcionamento 24 horas por dia, e nos

sete dias da semana (BRASIL, 2012).

De acordo com Zuze e Silva (2012) o enfermeiro ao fazer parte dessa

realidade contextual destaca-se por meio da implementação das ações normativas

dos programas de ações preventivas e curativas, além de oferecer

acompanhamento e aliviando sintomas de abstinências.

De modo mais específico, no cotidiano da assistência de enfermagem,

Lowenstein et al. (2005) afirmam que é importante avaliar os sintomas psicóticos.

Estes podem dissipar-se naturalmente após algumas horas em que houve o

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consumo, mas as repercussões na psicomotricidade (agitação) podem necessitar de

cuidados mais específicos e quiçá ação farmacoterapêutica para sua regressão.

Ribeiro e Laranjeira (2011) afirmam que pode haver necessidade de

prescrição de sedativos (benzodiazepínicos) que devem ser administrados pelos

profissionais de enfermagem por via intramuscular. Destacam ainda que pode haver

necessidade de administração de antipsicóticos, mas neurolépticos fenotiazínicos,

devem ser evitados, pela redução significativa do limiar de convulsão.

O profissional de enfermagem ao estar inserido nesse contexto de cuidado

deve compreender que além de conhecer e operacionalizar toda a dinâmica de

administração desse arsenal farmacológico, amplo para a estabilização do quadro

clínico e psiquiátrico decorrente do uso da droga, deve estar apto ao manejo da

abstinência.

Na contemporaneidade, uma das maiores preocupações do enfemreiro ao

ser protagonista do cuidado ao usuário de crack volta-se ao controle da abstinência

e prevenção da recaída, uma vez que, o craving por crack é descrito por Zeni e

Araújo (2010) como incontrolável, levando os usuários, em sua maioria, ao uso

compulsivo, com padrão diário de consumo intenso, sendo finalizado apenas quando

é atingido o esgotamento físico, psíquico e/ou financeiro. Diante dessa realidade, o

manejo do craving adquire grande importância para a eficácia do tratamento de

dependentes de crack.

Compreende-se, assim, que a enfermagem como parte da equipe

multiprofissional tem papel intrínsenco na recuperação e promoção da saúde dos

usuário de crack. A inserção do enfermeiro nesses dispositivos deve proporcionar

não somente um cuidado de qualidade, mas, sobretudo, proporcionar novos

posicionamentos, novos saberes com a proposta de um trabalho interdisciplinar e

indissociável.

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3 METODOLOGIA

3.1 Tipo de estudo

Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, seccional de abordagem

quantitativa desenvolvido por meio de um inquérito epidemiológico.

3.2 Local do estudo

O estudo foi desenvolvido nos Centros de Atenção Psicossocial para

dependentes de álcool e outras drogas (CAPSad) do Piauí, os quais estão

distribuídos em quatro municípios de maior porte do Estado e cuja implantação

ocorreu em 2004, na capital (Teresina); em 2006, em Parnaíba e Picos e, em 2010,

no município de Piripiri.

Os CAPSad se caracterizam como serviços de base comunitária, com o

objetivo de descentralizar a assistência à saúde mental voltados especificamente

para os casos de dependência química e transtornos mentais decorrentes dela.

3.3 Universo/Amostra do Estudo

A população de referência do estudo foi composta pelos 2.807 usuários de

crack cadastrados nos quatro CAPSad do Estado. Em Teresina estão cadastrados

2.483 usuários de crack, em Parnaíba 196, em Picos 120 e em Piripiri 08.

Todavia a população a ser estudada foi constituída por meio de amostra

aleatória simples.

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A partir da realização do cálculo amostral aleatório simples constatou-se uma

amostra de 342 usuários de crack, conforme segue na equação:

Em que,

N0 = primeira aproximação do tamanho da amostra;

E0 = erro amostral tolerável;

N = população;

n = amostra.

Destaca-se que para o cálculo amostral levou-se em consideração um erro

tolerável de 5%, com nível de significância de 95% (LUIZ, 2009). Com o objetivo de

garantir a representatividade de toda a população usuária de cada CAPSad de

forma a permitir inferências estatísticas para os demais, procedeu-se a estratificação

proporcional, a qual foi baseada na percentagem de usuário de cada CAPSad. A

amostra foi constituída como segue:

Quadro 1 – Plano amostral por municípios do Piauí. Teresina, 2013. (n=342)

CAPS ad Número e percentual de usuários de crack cadastrados por CAPSad

Quantidade de investigados

Parnaíba 196 (6,98%) 18

Picos 120 (4,27%) 14

Piripiri 8 (0,29%) 8

Teresina 2.486 (88,45%) 302

Total 2.807 342

Portanto, foram 302 de Teresina (88,45%), 18 de Parnaíba (6,98%) e 14 de

Picos (4,27%). Com relação à Piripiri, considerando que são apenas 8 usuários

todos foram incluídos. Destaca-se que no município de Picos foram coletadas

somente amostras de 3 usuários representando, assim, uma perda de 3,2%. Essa

perda deveu-se, principalmente, por conta da evasão, pelos usuários ao tratamento

no referido município.

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Destaca-se que foram incluídos no estudo: usuários de crack, de ambos os

sexos, em processo terapêutico nos CAPSad dos referidos municípios e que

aceitarem participar do estudo com a assinatura do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE A). Destaca-se que o único participante menor de

18 anos assinou o termo de assentimento e seu responsável o TCLE.

3.4 Variáveis do estudo

As variáveis estudadas foram:

- Sociodemográficas e econômicas (idade, sexo, raça, procedência, situação

conjugal, escolaridade, religião e renda individual);

- Relacionadas ao uso de crack e outras drogas: idade de experimentação,

padrão de consumo do crack (uso na vida, uso no último ano e uso no último mês),

tempo de uso, investigação sobre poliuso e dependência pelo crack);

- Somatoscópicas: estado geral, sinais vitais, pele, mucosas (nasais, orais e

da tuba auditiva);

- Hematológicas: hemoglobina, hematócrito, leucócitos, eosinófilos,

linfócitos, monócitos e neutrófilos e contagem de plaquetas.

- Nutricionais: hábitos alimentares, peso, altura, índice de massa corporal

(IMC), circunferência do braço, circunferência abdominal. Utilizou-se também alguns

parâmetros bioquímicos: colesterol total, LDL, HDL, triglicerídeos, albumina e

creatinina.

3.5 Procedimentos e instrumentos para coleta de dados

O trabalho de campo foi realizado por graduandos e pelo mestrando do

Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Piauí (UFPI), após

serem submetidos a treinamento, e se deu sob a supervisão da orientadora da

pesquisa.

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Antes da aplicação dos formulários realizou-se um pré-teste, com o objetivo

de aperfeiçoar o instrumento construído, testar o desempenho dos pesquisadores de

campo e promover ambientação, enfim testar todas as etapas do estudo (MARCONI;

LAKATOS, 2010).

Os procedimentos foram os que seguem:

1. Entrevistas mediante aplicação de formulário anônimo, com perguntas

fechadas e algumas semi-abertas de forma a estabelecer uma caracterização

socioeconômica e demográfica, conhecer a relação com o crack e outras drogas,

além de subsidiarem a obtenção de dados relativos aos hábitos alimentares e as

condições otológicas e nasais (histórico de enfermagem) (APÊNDICE B).

2. Avaliação das condições de saúde (exame físico): inicialmente realizava-

se a avaliação do estado geral do usuário e da pele. Considerando os pressupostos

descritos por Barros et al. (2010) dava-se prosseguimento a avaliação cefalocaudal

com enfoque na região oral na busca por cáries, perdas dentárias, bolha, lesão e

gengivite.

Foi realizada verificação dos sinais vitais: pulso, respiração e pressão

arterial. De acordo com Barros et al. (2010) para sua verificação o indivíduo foi

colocado em posição confortável (sentado), porém sempre com o braço apoiado. A

pulsação foi verificada na artéria radial que encontra-se entre a apófise estilóide do

rádio e o tendão dos flexores, sendo que para palpá-los empregou-se os dedos

indicador e médio, com o polegar fixado no dorso do punho do usuário, sendo que o

examinador usou a mão direita para examinar o pulso esquerdo. Destaca-se que

essa técnica foi empregada durante um minuto inteiro.

A frequência respiratória foi verificada de acordo com os pressupostos de

Barros et al. (2010) que determinam que para que este sinal vital seja verificado com

fidedignidade é necessário colocar a mão no pulso do cliente, simulando verificar o

pulso, observar os movimentos de abaixamento e elevação do tórax. A autora

chama atenção para o fato de que os dois movimentos (inspiratório e expiratório)

somam um movimento respiratório. Esse procedimento também foi verificado

durante um minuto completo.

Nas medidas da pressão arterial, foram adotadas as recomendações

internacionais que apresentam diretrizes para os protocolos de medida da pressão

arterial (SBC, 2010). Foram utilizados os seguintes materiais: esfigmomanômetros

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com manômetros aneróides devidamente testados e calibrados, estetoscópios

duplos e manguitos de larguras correspondentes a 40% da circunferência do braço

utilizado para a verificação da pressão arterial. Os valores de referência indicativos

de Hipertensão Arterial adotados foram os propostos por Resende et al. (2006):

pressão arterial sistólica ≥ 130 mmHg e de pressão arterial diastólica ≥ 85 mmHg.

Na etapa seguinte foi realizada a avaliação nutricional por meio de medidas

antropométricas como peso, altura, circunferência do braço (CB) e circunferência

abdominal (CA). A pesagem foi realizada com os pacientes descalços, vestindo

roupas leves, em posição ereta, com balança antropométrica Filizola com

capacidade de 200 kilogramas, de precisão de 50 gramas. Para aferição da estatura

utilizou-se o antropômetro vinculado a balança.

A razão entre o peso e altura resultou no Índice de Massa Corpórea (IMC)

que foi analisado conforme os pontos de corte propostos pela World Heath

Organization (WHO, 1995): baixo peso (IMC < 18,5); eutrofia (IMC 18,5-24,99);

sobrepeso (IMC 25-29,99) e obesidade (IMC ≥ 30,00).

Obteve-se a circunferência abdominal (CA) na menor curvatura localizada

entre as costelas e a crista ilíaca com fita métrica flexível e inelástica sem comprimir

os tecidos. Quando não foi possível identificar a menor curvatura, obteve-se a

medida 2 cm acima da cicatriz umbilical. Os pontos de corte adotados para CA

foram os preconizados por Lean, Han e Morrison (1995), de acordo com o grau de

risco para doenças cardiovasculares: risco aumentado para mulheres (CA > 80 cm)

e para homens (CA > 94 cm), e risco muito aumentado para mulheres (CA > 88 cm)

e para homens (CA > 102 cm).

3. Coleta de sangue da veia anticubital do braço direito para retirada de

amostras de sangue para análise do estado hematológico, lipídico e nutricional.

Destaca-se que antes do procedimento ser realizado, explicou-se ao participante,

que embora a punção venosa seja uma técnica invasiva, não haveria riscos,

considerando que o material utilizado era rigorosamente esterilizado e o coletador

era mestrando, com graduação em Enfermagem e, portanto, com experiência em

punção venosa.

Para avaliação da hemoglobina utilizou-se o método eletrônico, por meio do

equipamento Coulter-STKS. Neste estudo teve-se como valores de referências

aqueles preconizados por Maia, Carvalho e Teles (2010): hemoglobina total

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(homens: 14 a 18 g/dl; mulheres: 12 a 16 g/dl), hematócrito (homens: 42% a 54% de

Ht; mulheres: 36% a 46% de Ht), a contagem de leucócitos poderia variar de 4.000 a

10.000/ml, as células sanguíneas deveriam obedecer os seguintes parâmetros

(basófilos: 0 a 200/ml; 0 a 2%; eosinófilos: 40 a 500/ml; 1 a 5%; linfócitos: 880 a

4.000/ml; 22 a 40%; monócitos: 120 a 1.000/ml; 3 a 10%; neutrófilos: 1.800 a

7.500/ml; 45 a 75%). As contagens normais de plaquetas poderiam variar entre

130.000 a 370.000/ml.

Para realização das análises bioquímicas (lipidograma e níveis séricos de

albumina e creatinina) as amostras de sangue foram processadas e centrifugadas a

3.000 rotações por minuto (RPM) durante 15 minutos. Finalizado o procedimento o

soro e o plasma eram pipetados e aliquotados em tubos de ensaios.

Para determinar o colesterol total e os triacilgliceróis sanguíneos utilizou-se o

método Enzimático-Trinder (TRINDER, 1969; GOOD et al., 1966; McGOWAN et al.,

1983). Já o colesterol HDL determinou-se utilizando-se o método de inibição seletiva

(VIRELLA et al., 1977; WARNICK et al., 1985). A fração de colesterol LDL foi

calculada segundo a Equação de Friedewald (LDL-C=colesterol total – HDL-C –

triacilgliceróis/5) e a VLDL através da seguinte fórmula: triacilglicerois/5.

Foram definidos como fatores de risco para doenças cardiovasculares

valores apontados por Resende et al. (2006): triglicérides ≥ 150 mg/dl, níveis de

colesterol total ≥ 200 mg/dl, níveis de LDL ≥ 130 mg/dl e níveis de HDL < 40 mg/dl

para homens e < 50 mg/dl para mulheres.

As análises da albumina foram realizadas por método colorimétrico,

empregando-se Verde de Bromocresol (WESTGARD, 1981). Sua avaliação foi

realizada devido ao fato de ser a principal proteína circulante no organismo humano

e, portanto, um importante marcador nutricional.

Segundo Maia, Carvalho e Teles (2010) os valores de referência em g/dL,

para o presente método, foram obtidos através da determinação de albumina em

populações sadias do sexo masculino e feminino. Portanto, neste estudo

considerou-se albumina no soro: 3,5 a 5,5 g/dL.

Para avaliação dos níveis séricos de creatinina utilizou-se o método cinético

enzimático. Para esse marcador bioquímico levou-se em consideração o parâmetro

apontado por Lessa (2004): creatinina ≥ 1,3mg/dl para ambos os sexos.

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As análises foram realizadas por laboratório privado com qualidade

comprovada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e

Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC).

3.6 Análise dos dados

Para a análise estatística, utilizou-se o programa Statistical Package for the

Social Science (SPSS, versão 18.0). A associação entre as variáveis foi feita por

meio de tabelas de contingência, sendo empregado o teste do qui-quadrado para

comparação de proporções. Quando uma das frequências esperadas era menor que

um ou 20% das caselas for menor que cinco, adotou-se o teste exato de Fisher.

O nível de significância estatística estabelecido foi de 5%. Assim, quando o

valor de p correspondente a esses testes foi menor ou igual a esse valor, a hipótese

nula foi rejeitada. É importante destacar que algumas variáveis foram recodificadas

em relação às opções originais para facilitar as análises (ACAYGUER; UTRA, 2004).

A força das associações entre as variáveis foi aferida pelo odds-ratio (OR) e

intervalos de confiança (IC 95%). Na discussão dos dados realizou-se interlocução

com autores da área temática.

3.7 Aspectos éticos e legais

O estudo foi aprovado pela Fundação Municipal de Saúde (FMS) de Teresina

e pela Secretaria Estadual de Saúde do Piauí (SESAPI). Após autorização pela FMS

e SESAPI o projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da

Universidade Federal do Piauí (UFPI) que obteve aprovação por meio da CAAE nº.

07269112.5.0000.5214.

Destaca-se que foram obedecidos os princípios da ética, sigilo e

confidencialidade. O desenvolvimento deste estudo não implicou em riscos ou

benefícios aos sujeitos que poderiam desvincular-se do estudo tão logo considerem

necessário. Os sujeitos foram convidados a participarem e após apresentação dos

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objetivos do estudo, assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(APÊNDICE A) conforme determina a Resolução nº. 466/2012 do Conselho Nacional

de Saúde (CNS).

Destaca-se que os resultados dos exames realizados foram entregues nos

CAPSad para que pudessem ser anexados aos prontuários para posterior avaliação

médica pelos profissionais da unidade.

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4 RESULTADOS

A amostra foi constituída de usuários de crack, com idade entre 17 e 70

anos (Média=30,12 e DP=8,48) sendo 88,58% do sexo masculino e 11,5% do sexo

feminino. Quanto à raça 57,1% declararam-se pardos e 67,1% solteiros.

Quanto a procedência 79,2% referem ser de Teresina. A maioria dos

usuários estudou em escola pública (85,2%) e somente até o ensino fundamental

incompleto (41,7%). Quanto a religião 44,1% são evangélicos. A renda mensal

individual varia de 50,00 a 3.600,00 reais, embora 64% referissem não possuir

nenhum tipo de fonte financeira (Média=822,23 e DP=512,98).

Tabela 1 – Caracterização da amostra segundo as variáveis sociodemográficas e econômicas. Teresina, 2013. (n=331)

(continua)

Variáveis n %

Faixa Etária 17-34 anos 248 74,9 35-52 anos 78 23,6 53-70 anos 5 1,5 Sexo Masculino 293 88,5 Feminino 38 11,5 Raça Branco 66 19,9 Negro 56 16,9 Pardo 189 57,1 Indígena 9 2,7 Amarela 11 3,4 Situação Conjugal Solteiro 218 67,1 Casado legalmente 31 9,3 União estável 43 12,1 Divorciado 38 11,2 Viúvo 1 0,3 Procedência Teresina 262 79,2 Outra localidade 69 20,8 Escolaridade Fundamental Incompleto 138 41,7 Fundamental Completo 48 14,5 Médio Incompleto 67 20,2 Médio Completo 57 17,2 Superior Incompleto 17 5,1 Superior Completo 4 1,3

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Tabela 1 – Caracterização da amostra segundo as variáveis sociodemográficas e econômicas. Teresina, 2013. (n=331)

(conclusão)

Variáveis N %

Religião/Doutrina Católica 127 38,4 Evangélica 146 44,1 Espírita 7 2,1 Outra 6 1,8 Não possui 45 13,6 Renda mensal individual Não possui 212 64,0 Até 1 SM* 55 16,6 De 1 a 3 SM 62 18,8 De 3 a 6 SM 2 0,6

Total 331 100,0 *SM (Salário Mínimo) = R$ 678,00

No gráfico 1, 42% dos usuários experimentaram crack pela primeira vez

antes dos 18 anos de idade. A média da idade de experimentação foi de 22,73 anos

(DP=8,24).

Gráfico 1 – Distribuição da amostra estudada segundo a idade de experimentação do crack. Teresina, 2013. (n=331)

Mínima-Máxima (10-69) Média (22,73) Desvio Padrão (8,24)

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46

Segundo o padrão de consumo de crack (Tabela 2) 90,7% dos usuários

utilizaram o crack por mais de um ano e o uso na vida por mais de 100 vezes foi de

realizado por 91,8%.

Quando questionados sobre o consumo nos últimos 12 meses, 86,7%

informaram que sim e 55,3% nos últimos 30 dias, destes 32,4% de 10 a 99 vezes,

2,1% por 100 vezes e 83,9% enfatizam que precisaram de quantidades cada vez

maiores para ter o efeito desejado.

Tabela 2 – Padrão de consumo de crack da amostra estudada. Teresina, 2013. (n=331)

Variáveis n %

Tempo de uso

Menos de 1 ano 31 9,3

Mais de um ano 300 90,7

Quantas vezes você usou crack na vida

Menos que 10 vezes 7 2,2

De 10 a 100 vezes 20 6,0

Mais de 100 vezes 304 91,8

Usou todos os dias nos últimos 12 meses

Sim 287 86,7

Não 44 13,3

Quantas vezes usou nos últimos 30 dias

Não consumiram 148 44,7

Menos que 10 vezes 69 20,8

De 10 a 99 vezes 107 32,4

100 vezes 7 2,1

Precisou de quantidades maiores para ter o efeito desejado?

Sim 278 83,9

Não 53 16,1

Total 331 100,0

O gráfico 2 mostra que as drogas mais consumidas de modo associado ao

crack são a maconha (93,4%), os solventes (81,3%), o álcool (69,5%) e os

tranquilizantes (62,8%).

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Gráfico 2 – Distribuição das drogas associadas ao consumo de crack pela amostra estudada. Teresina, 2013. (n=331)

Na tabela 3 observa-se que 72,8% encontravam-se com estado geral

asseado. Na avaliação da pele observou-se que 16% apresentavam diversas lesões,

8,2% possuiam eritema, 5,4% sinais de perfuração de agulha.

A avaliação somatoscópica compreende também a análise dos sinais vitais

que nos permitiu identificar que 3% apresentaram taquisfigmia, 3,6% taquipnéia,

19,3% alteração na pressão arterial sistólica e 11,2% na pressão arterial diastólica.

Tabela 3 – Distribuição das variáveis somatoscópicas na amostra estudada. Teresina, 2013. (n=331)

(continua)

Variáveis n %

Estado geral

Asseado 241 72,8

Com roupas limpas 60 18,1

Falta de asseio corporal e bucal 30 9,1

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48

Tabela 3 – Distribuição das variáveis somatoscópicas na amostra estudada. Teresina, 2013. (n=331)

(conclusão)

Variáveis n %

Pele

Sem alterações 268 81,0

Anasarca 2 0,6

Descorado 3 0,9

Reações alérgicas 5 1,5

Lesões de pele 53 16,0 Presença de eritema

Sim 27 8,2

Não 304 91,8 Sinais de perfuração de agulha

Sim 18 5,4

Não 313 94,6 Pulso

Taquisfigmia 10 3,0

Normosfigmia 315 95,2

Bradisfigmia 6 1,8 Respiração

Taquipnéia 12 3,6

Eupinéia 248 74,9

Bradipnéia 71 21,5 Pressão arterial sistólica

Normal 267 80,7

Alterado 64 19,3 Pressão arterial diastólica

Normal 294 88,8

Alterado 37 11,2

Total 331 100,0

A Tabela 4 apresenta as queixas de natureza otorrinolaringofaríngea e a

avaliação oral do segmento populacional estudado. Dentre elas, destaca-se que

54,1% possuem cáries, 30,29% perdas dentárias, 12,4% gengivite, 31,1% zumbido,

29% vertigem, 19% hipoacusia, 19% plenitude, 4,2% bolha/lesão nasal, 10% prurido

nasal, 5,7% referem coriza, 4,2% alergias e 4,5% epistaxe.

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Tabela 4 – Distribuição das alterações orais e das queixas otorrinolaringofaríngeas identificadas na amostra estudada. Teresina 2013. (n=331)

Variáveis n %

Alterações orais*

Cáries 179 54,1

Perdas dentárias 100 30,2

Bolha ou lesão na mucosa oral 44 13,3

Gengivite 41 12,4 Queixas auditivas*

Zumbido 103 31,1

Vertigem 96 29,0

Hipoacusia 63 19,0

Plenitude 63 19,0

Otalgia 52 15,7

Otorréia 17 5,1 Queixas nasais*

Bolha ou lesão na mucosa nasal 14 4,2

Coriza 19 5,7

Alergia 14 4,2

Epistaxe 15 4,5

Sem alterações 283 85,5 *Resposta Múltipla

A caracterização hematológica dos usuários de crack permitiu identiticar que

52,9% possuem hemoglobina abaixo da normalidade, 38,7% possuem hematócrito

abaixo do padrão de normalidade. A avaliação das células sanguíneas de defesa da

amostra estudada evidencia que 15,4% apresentam leucocitose, 16% eosinofilia,

3,6% linfopenia, 41,7% monocitopenia, 11,2% neutrofilia, 4,5% trombocitose e 4,2%

trombopenia (Tabela 5).

Tabela 5 – Caracterização hematológica da amostra estudada. Teresina, 2013. (n=331)

(continua)

Variáveis n %

Hemoglobina

Abaixo da normalidade 175 52,9

Normal 156 47,1 Hematócrito

Abaixo da normalidade 127 38,4

Normal 200 60,4

Acima da normalidade 4 1,2 Leucócitos

Leucopenia 13 3,9

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Tabela 5 – Caracterização hematológica da amostra estudada. Teresina, 2013. (n=331)

(conclusão)

Variáveis n %

Leucócitos

Normal 267 80,7

Leucocitose 51 15,4 Eosinófilos

Eosinopenia 8 2,4

Normal 270 81,6

Eosinofilia 53 16,0 Linfócitos

Linfopenia 12 3,6

Normal 313 94,6

Linfocitose 6 1,8 Monócitos

Monocitopenia 138 41,7

Normal 193 58,3 Neutrófilos

Neutropenia 5 1,5 Normal 289 87,3

Neutrofilia 37 11,2 Plaquetas

Trombocitopenia 14 4,2 Normal 302 91,3 Trombocitose 15 4,5

Total 331 100,0

Com relação aos hábitos alimentares os usuários referem consumo de frutas

(92,7%), verduras (94%), carne vermelha (97,9%), carne branca (94%), café (89,7%)

e leite (89,1%). Quando questionados sobre a quantidade de refeições que realizam

ao dia 52,6% referiram fazê-las entre 3 a 4 vezes por dia (Média 4,38, DP=1,4).

Tabela 6 – Caracterização nutricional da amostra segundo os hábitos alimentares. Teresina, 2013. (n=331).

(continua) Variáveis n %

Frutas

Não 24 7,3

Sim 307 92,7

Verduras

Não 20 6,0

Sim 311 94,0

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51

Tabela 6 – Caracterização nutricional da amostra segundo os hábitos alimentares. Teresina, 2013. (n=331).

(conclusão)

Variáveis N %

Carne vermelha

Não 7 2,1

Sim 324 97,9

Carne branca

Não 20 6,0

Sim 311 94,0

Café

Não 34 10,3

Sim 297 89,7

Leite

Não 36 10,9

Sim 295 89,1

Costuma fazer quantas refeições

1 a 2 refeições 16 4,8

3 a 4 refeições 174 52,6

5 ou mais refeições 141 42,6

Verificou-se que 8,1% apresentaram baixo peso, 25,1% sobrepeso e 9,4%

obesidade entre a amostra estudada. Com relação a CA a prevalência de alteração

é de 32,3 %.

Tabela 7 – Caracterização nutricional da amostra estudada segundo parâmetros antropométricos. Teresina, 2013. (n=331)

Variáveis n %

IMC

Baixo peso 27 8,1

Eutrófico 190 57,4

Sobrepeso 83 25,1 Obesidade 31 9,4 Circunferência abdominal

Normal 224 67,7

Alterado 107 32,3

Na tabela 8 apresenta-se a avaliação nutricional a partir de importantes

marcadores bioquímicos. Identificou-se na amostra estudada que 29,6% possuem

alteração de colesterol total, 10,6% LDL, 31,4% HDL, 50,2% triglicerídeos alterados,

5,1% alteração nos níveis de albumina e 99,4% alteração de creatinina.

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Tabela 8 – Caracterização nutricional da amostra estudada segundo parâmetros bioquímicos. Teresina, 2013. (n=331)

Variáveis n %

Colesterol Total

Normal 233 70,4

Alterado 98 29,6 LDL

Normal 296 89,4

Alterado 35 10,6 HDL

Normal 227 68,6

Alterado 104 31,4 Triglicerídeos

Normal 165 49,8

Alterado 166 50,2 Albumina

Normal 314 94,9

Alterado 17 5,1 Creatinina

Normal 2 0,6

Alterado 329 99,4

Total 331 100,0

Os dados apresentados na tabela 9 demonstram que a alteração da pressão

arterial sistólica ocorreu significativamente nos homens. O cálculo do odds ratio

evidenciou que as mulheres possuem 3,9 vezes mais chance de ter alteração de

pressão arterial sistólica que os homens (Intervalo de Confiança=0,995-15,291).

Observou-se ainda que a pressão arterial diastólica alterada ocorreu

significativamente nos homens e que não houve caso de mulher com pressão

diastólica alterada. Há associação entre alteração da pressão diastólica com o sexo

(p-valor=0,022). A estatísitica demonstra que os homens possuem 0,3 vezes mais

chance de ter a pressão arterial diastólica alterada em relação as mulheres.

Tabela 9 - Associação entre as variáveis somatoscópicas e sexo. Teresina, 2013. (n=331)

(continua)

Variáveis

Sexo Total n(%)

OR (IC)

p-valor Masculino n(%)

Feminino n(%)

Respiração

Alterada 77(26,3) 6(15,8) 83(100) 1,901 0,160

Normal 216(73,7) 32(84,2) 248(100) (0,765-4,723)

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Tabela 9 - Associação entre as variáveis somatoscópicas e sexo. Teresina, 2013. (n=331)

(conclusão)

Variáveis

Sexo Total n(%)

OR (IC)

p-valor* Masculino n(%)

Feminino n(%)

Pulso

Alterada 14(87,5) 2(12,5) 16(100) 0,903 0,740#

Normal 279(88,6) 36(11,4) 315(100) (0,197-4,137)

Pressão sistólica

Normal 232(86,9) 35(13,1) 267(100) 3,901 0,023*

Alterado 61(95,3) 3(4,7) 64(100) (0,995-15,291)

Pressão diastólica

Normal 256(87,1) 38(12,9) 294(100) 0,302 0,022*

Alterado 37(100) 0(0) 37(100) (0,021-0,501)

*Teste Qui-Quadrado de Pearson (2).

#Teste Exato de Fisher.

As associações entre as variáveis hematológicas e o sexo apresentadas na

tabela 10, evidenciaram que a alteração da hemoglobina total ocorreu

significativamente nos homens. O cálculo do odds ratio demonstra que um usuário

do sexo masculino tem 0,628 vezes mais chance de ter alteração de hemoglobina

do que as mulheres (Intervalo de confiança=0,301-1,314).

Em relação ao parâmetro hematócrito, a chance de possuir hematócrito fora

dos valores de referências é 1,706 maior para usuários do sexo masculino (Intervalo

de confiança=0,951-3,060) (Tabela 10). É importante destacar que não houve

associação estatística entre sexo e as demais variáveis hematológicas.

Tabela 10 - Associação entre as variáveis hematológicas e sexo. Teresina, 2013. (n=331)

(continua)

Variáveis

Sexo Total n(%)

OR (IC)

p-valor* Masculino n(%)

Feminino n(%)

Hemoglobina total

Alterada 163(93,1) 12(6,8) 175(100) 0,629 0,003*

Normal 130(83,3) 26(16,7) 156(100) (0,301-1,314)

Hematócrito

Alterado 121(93,1) 10(6,9) 131 (100) 1,706 0,044*

Normal 172(86) 28(14) 200(100) (0,951-3,060)

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Tabela 10 - Associação entre as variáveis hematológicas e sexo. Teresina, 2013. (n=331)

(conclusão)

Variáveis

Sexo Total n(%)

OR (IC)

p-valor* Masculino n(%)

Feminino n(%)

Leucócitos

Alterado 55(85,9) 9(14,1) 64(100) 0,353 0,709

Normal 238(89,1) 29(10,9) 267(100) (0,171-0,729)

Eosinófilos

Fora da normalidade 52(85,2) 9(14,8) 61(100) 1,001 0,595

Normal 241(89,2) 29(10,7) 270(100) (0,418-2,392)

Linfócitos

Fora da normalidade 14(77,7) 4(22,3) 18(100) 0,306 0,447

Normal 279(89,1) 34(10,8) 313(100) (0,103-0,914)

Monócitos

Alterado 121(87,6) 17(12,4) 138(100) 0,981 0,578

Normal 172(89,1) 21(10,9) 193(100) (0,495-1,945)

Neutrófilos

Alterado 34(80,9) 8(19,1) 42(100) 0,290 0,290

Normal 259(89,6) 30(10,4) 289(100,0) (0,131-0,642)

Plaquetas

Alterada 25(86,2) 4(13,8) 29(100) 0,353 0,999

Normal 268(88,7) 34(11,3) 302(100) (0,171-0,729)

*Teste Qui-Quadrado de Pearson (2).

Ao analisar a associação entre as variáveis nutricionais com sexo obteve-se

p<0,05 na relação entre circunferência abdominal (p valor=0,009), HDL (p-

valor=0,002) e albumina (p-valor=0,03). A tabela 11 mostra que a chance de um

usuário do sexo masculino possuir HDL alterado é 0,53 vezes maior que a de uma

usuária do sexo feminino (Intervalo de Confiança=0,373-0,748).

A chance de um usuário do sexo masculino possuir alteração na

circunferência abdominal excede 0,58 (com intervalo de confiança de 0,407- 0,835)

vezes a de um usuário do sexo feminino. A chance de um usuário do sexo

masculino possuir albumina acima da normalidade excede 0,30 (com intervalo de

confiança de 0,113 - 0,809) vezes a de um usuário do sexo feminino.

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Tabela 11 - Associação entre as variáveis nutricionais e sexo. Teresina, 2013. (n=331)

Variáveis

Sexo Total n(%)

OR (IC)

p-valor* Masculino n(%)

Feminino n(%)

IMC

Alterado 125(88,6) 16(11,4) 141(100,0) 0,970 0,441

Normal 168(88,4) 22(11,6) 190(100) (0,482-1,955)

Circunf. addominal

Alterado 87(81,4) 20(18,5) 107(100) 0,53 0,009*

Normal 206(91,9) 18(8,1) 224(100) (0,373-0,748)

Triglicerideos

Alterado 146(88,0) 20(11,9) 166(100) 1,007 0,877

Normal 147(89,1) 18(10,9) 165(100) (0,512-1,979)

Colesterol total

Alterado 86(87,8) 13(13,2) 98(100) 0,900 0,69

Normal 207(88,8) 25(10,7) 233(100) (0,434-1,866)

LDL

Alterado 32(91,6) 3(8,3) 35(100) 1,006 0,398

Normal 261(88,2) 35(11,8) 296(100) (0,334-3,024)

HDL

Alterado 83(80,0) 21(20,0) 104(100) 0,58 0,002*

Normal 210(92,5) 17(7,5) 227(100) (0,407-0,835)

Albumina

Alterada 11(66,6) 6(33,4) 17(100) 0,30 0,030*

Normal 282(89,8) 32(10,2) 314(100) (0,113-0,809)

Creatinina

Alterado 291(88,4) 38(11,6) 329(100) - 0,999

Normal 2(100) 0(0) 2(100)

*Teste Qui-Quadrado de Pearson (2).

A análise entre as variáveis nutricionais com tempo de uso de crack

apresentadas na tabela 12 demonstram que somente houve associação com

triglicerídeos (p-valor=0,036). A alteração de triglicerídeos ocorreu significativamente

nos pacientes com mais de um ano de uso do crack.

A chance de alteração de triglicerídeos em um usuário de crack com mais de

um ano de uso é 0,62 vezes maior do que a de um usuário com menos de um ano

de uso (Intervalo de Confiança=0,368-1,045).

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56

Tabela 12 - Associação entre as variáveis nutricionais e tempo de uso de crack. Teresina, 2013. (n=331)

Tempo de Uso

Total n(%)

OR (IC)

p-valor* Variáveis

Menos de 1 ano n(%)

Mais de 1 ano n(%)

Triglicerídeos

Alterado 10(6) 156(94) 166(100) 0,440 0,036*

Normal 21(12,7) 144(87,3) 165(100) (0,200-0,965)

Colesterol total

Alterado 6(6,1) 92(93,9) 98(100) 0,543 0,189

Normal 25(10,7) 208(89,3) 233(100) (0,215-1,367)

LDL

Alterado 2(5,7) 33(94,3) 35(100) 0,558 0,757

Normal 29(9,8) 267(90,2) 296(100) (0,127-2,446)

HDL

Alterado 10(9,6) 94(90,4) 104(100) 1,044 0,916

Normal 21(9,3) 206(90,7) 227(100) (0,473-2,303)

Albumina

Fora da normalidade 3 (17,6) 14 (82,4) 17 (100) 2,189 0,205

Normal 28(8,9) 286(91,1) 314(100) (0,593-8,079)

Creatinina

Alterado 31(9,4) 298(90,6) 329(100) - 0,999

Normal 0(0) 2(100) 2(100)

*Teste Qui-Quadrado de Pearson (2).

Identificou-se que parâmetro plaquetas de todos os pacientes menos de um

ano de tratamento estavam alterados. Estatisticamente, houve associação entre

essas variáveis (p-valor=0,006). O usuário com menos de um ano de tratamento

possui 55,05 vezes mais chance de desevolver alteração plaquetária.

Tabela 13 - Associação entre as variáveis hematológicas e tempo de tratamento. Teresina, 2013. (n=331)

(continua)

Variáveis Tempo de Tratamento Total n(%)

OR (IC)

p-valor

Menos de 1 ano n(%)

Mais de 1 ano n(%)

Hemoglobina

Alterado 147(84) 28(16) 175(100) 1,575 0,104

Normal 120(76,9) 36(23,1) 156(100) (0,909-2,729)

Hematócrito

Alterado 111(84,7) 20(15,3) 131(100) 1,565 0,129

Normal 156(78) 44(22) 200(100) (0,875-2,801) Leucócitos

Alterado 49(76,6) 15(23,4) 64(100) 0,734 0,355

Normal 218(81,6) 49(18,4) 267(100) (0,381-1,415)

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Tabela 13 - Associação entre as variáveis hematológicas e tempo de tratamento. Teresina, 2013. (n=331)

(conclusão)

Variáveis Tempo de Tratamento Total n(%)

OR (IC)

p-valor

Menos de 1 ano n(%)

Mais de 1 ano n(%)

Eosinófilos

Alterado 44(72,1) 17(27,9) 61(100) 0,546 0,062

Normal 223(82,6) 47(17,4) 270(100) (0,287-1,037)

Linfócitos

Alterado 16(88,9) 2(11,1) 18(100) 1,976 0,542

Normal 251(80,2) 62(19,8) 313(100) (0,443-8,821)

Monócitos

Alterado 113(81,9) 25(18,1) 138(100) 1,145 0,635

Normal 154(79,8) 39(20,2) 193(100) (0,655-1,999)

Plaquetas

Alterado 29(100) 0(0) 29(100) 55,05 0,006*

Normal 238(78,8) 64(21,2) 302(100) (3,28-92,30)

*Teste Qui-Quadrado de Pearson (2).

A tabela 14 apresenta a associação entre as variáveis nutricionais e o tempo

de tratamento. O cálculo do odds ratio demonstra que a chance de alteração na

circunferência abdominal em pacientes com menos de um ano de tratamento é 1,48

vezes maior quando comparado com pacientes com mais de um ano de tratamento

(Intervalo de Confiança=1,059-2,065).

Evidenciou-se também que a chance de um usuário de crack com menos de

um ano de tratamento possuir alteração do colesterol total é 0,474 vezes maior

quando comparado com um usuário com mais de um ano de tratamento (Intervalo

de confiança de 0,262-0,859).

Tabela 14 - Associação entre as variáveis nutricionais e tempo de tratamento. Teresina, 2013. (n=331)

(continua)

Variáveis

Tempo de tratamento

Total

OR

p-valor* Menos de 1

ano Mais de 1

ano (IC) n(%) n(%)

IMC Alterado 169 (81,6) 38 (18,4) 207(100,0) 1,18 0,561 Normal 98(79) 26(21) 124(100) (0,676-2,060)

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Tabela 14 - Associação entre as variáveis nutricionais e tempo de tratamento. Teresina, 2013. (n=331)

(conclusão)

Variáveis

Tempo de tratamento

Total

OR

p-valor* Menos de 1

ano Mais de 1

ano (IC) n(%) n(%)

Circunferência abdominal

Alterado 79(73,8) 28(26,2) 107(100) 1,48 0,030*

Normal 188(83,9) 36(16,1) 224(100) (1,059-2,065)

Colesterol total

Alterado 88(89,8) 10(10,2) 98(100) 0,474 0,006*

Normal 179(76,8) 54(23,2) 233(100) (0,262-0,859) LDL Alterado 32(91,4) 3(8,6) 35(100) 2,769 0,088 Normal 235(79,4) 61(20,6) 296(100) (0,820-9,346)

HDL Alterado 83(79,8) 21(20,2) 104(100) 0,924 0,789 Normal 184(81,1) 43(18,9) 227(100) (0,516-1,654)

Albumina Alterado 12 (70,6) 5 (29,4) 17 (100) 0,555 0,340 Normal 255(81,2) 59(18,8) 314(100) (0,188-1,637)

Creatinina Alterado 266(80,9) 63(19,1) 329(100) 4,222 0,350 Normal 1(50) 1(50) 2(100) (0,261-68,425)

*Teste Qui-Quadrado de Pearson (

2).

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5 DISCUSSÃO 5.1 Caracterização geral da amostra

O estudo contou com uma amostra de 331 sujeitos, usuários de crack, em

tratamento nos CAPSad do Piauí. Na caracterização sociodemográfica destaca-se

prevalência do sexo masculino, adultos jovens, solteiros, de raça parda, procedentes

da capital do estado, com ensino fundamental incompleto, evangélicos e sem renda

própria.

Esta caracterização apresenta similaridade com o II Levantamento nacional

sobre o uso de drogas psicotrópicas, realizado pelo CEBRID, divulgado em 2005 e

que envolveu 108 maiores cidades brasileiras, estando incluída Teresina. No

levantamento há prevalência de solteiros, baixa escolaridade e com discreto

predomínio do sexo feminino. Entretanto, quando os dados se referem à região

Nordeste os homens tiveram maior prevalência em relação ao uso de crack do que

as mulheres (GALDURÓZ et al., 2005).

Outro levantamento recente realizado pela Fundação Oswaldo Cruz

(Fiocruz) com 7.381 usuários de crack apresenta congruência aos resultados deste

estudo, uma vez que, o perfil do usuário de crack brasileiro é constituído por homens

(78,7%), com idade média de 30 anos (desvio padrão=0,3), não brancos, solteiros e

com baixa escolaridade (BRASIL, 2013).

Quando se busca outras similaridades em estudos realizados na mesma

região geográfica – o Nordeste, identifica-se o levantamento realizado por Silva et al.

(2011) sobre o perfil dos usuários de crack da cidade de Camaragibe, Pernambuco.

Nele há predominância do sexo masculino (89,2%), solteiros (53,9%),

desempregados (46,6%) e com estudos interrompidos no primeiro grau (46,2%). Na

mesma região e fazendo divisa com o Piauí localiza-se o estudo desenvolvido no

Ceará, na cidade de Sobral, em CAPSad, por Oliveira et al. (2012) no qual também

há predominância do sexo masculino (76%), solteiros (57,8%), com ensino

fundamental completo (45,4%) e desempregados (46,4%).

Constata-se que os usuários de crack apresentam perfil semelhante,

independente da região geográfica. O crack tornou-se uma das drogas mais

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consumidas pelos jovens e pelo seu poder de dependência leva a romper laços

afetivos, educacionais e laborais. Assim, são jovens que não estudam, não

trabalham e não se relaciona amorosamente para formar família, base da estrutura

social do viver humano. Embora não se conheça de fato, o nexo de causalidade

entre o consumo de crack e a situação conjugal, mas o inicio precoce desse

consumo, certamente se configura como um fator dificultador do estabelecimento de

relações afetivas estáveis e duradouras. Esta substancia incita um padrão intenso,

contínuo e repetitivo que leva o usuário a viver pelo crack e para o crack.

Chama-se atenção para a realidade da pouca ou nenhuma escolaridade

entre os jovens que se tornam dependentes de drogas, como o crack. Por ter seu

inicio cada vez mais precoce, esta preocupação também se configura na construção

de séries históricas sobre o tema com a finalidade de monitorar a evolução do

fenômeno do consumo das drogas e, assim, propor políticas de enfrentamento,

como é a iniciativa da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD, em

parceria com o Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas da

Universidade Federal de São Paulo – CEBRID/UNIFESP, ao apresentarem em 2010

o VI levantamento nacional sobre o consumo de drogas psicotrópicas entre

estudantes do ensino médio da rede pública e privada de 27 capitais brasileiras,

também incluído Teresina. Neste levantamento o álcool e o tabaco se configuram

como as drogas mais consumidas pelos estudantes, embora outras sejam citadas

como o crack. Os dados referentes à Teresina mostram que os estudantes da rede

pública apresentam maior predominância de uso na vida de crack (1,7%) do que

estudantes da rede privada (0,5%), sobressaindo-se o sexo masculino com 3,2%

(CEBRID/UNIFESP, 2010).

Embora o VI levantamento afirme que o crack não é uma droga de destaque

entre os estudantes de todas as capitais pesquisadas, sua informação merece

atenção já que ela vem se propagando de forma cada vez mais rápida entre os

jovens e sua dependência leva ao absenteísmo escolar, como mostra Oliveira et al.

(2012) ao discutir que a dependência do crack entre estudantes parece agir como

uma reação em cadeia iniciando com déficits na aprendizagem e vai avançando,

leva a repetição e desempenho escolar não compatível com a idade, que por sua

vez contribui para um perfil de baixa escolaridade entre usuários.

Freire et al. (2012) também apontam que o baixo poder aquisitivo e a baixa

escolaridade são uma realidade entre os usuários de crack da cidade de Porto

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Alegre, no Rio Grande do Sul. Destaca ainda que o processo de marginalização e

experiências de se tornarem moradores de rua são reais, muitas vezes, justificadas

pelo uso pesado da droga, perda dos laços familiares e, consequentemente, da

moradia.

Com relação à religião, o presente estudo apresenta maioria de evangélicos

e dessa forma a informação vem demonstrando que eles têm alguma crença e que a

mesma pode servir de apoio para ir adiante ao tratamento, muito embora informar

ter uma religião seja diferente de praticá-la, pois como colocam Sanchez, Oliveira e

Nappo (2005), jovens não usuários de crack têm e praticam alguma religião numa

frequência maior do que aqueles que são usuários. Para Vargens et al. (2009) a

religiosidade é considerada como um fator de proteção contra o consumo de drogas

e meio facilitador para o acesso ao tratamento.

No que tange ao consumo do crack e a idade de experimentação, os sujeitos

deste estudo mostraram um início ainda na fase de adolescência, antes dos 18 anos

de idade. A idade de experimentação é um indicador importante, uma vez que já há

evidências da relação entre a precocidade do uso e o aumento do risco de

desenvolvimento de dependência e de outras comorbidades.

Constata-se que o início precoce do uso de crack já é comum na realidade

brasileira, informada em dados recentes do Levantamento nacional de álcool e

drogas (INPAD, 2012) em que 45% dos pesquisados experimentaram cocaína/crack

pela primeira vez antes dos 18 anos de idade. Nesse sentido reflexões de Martins e

Pillon (2008) sob a ótica do contexto social, demonstram que o inicio precoce do uso

de crack é uma necessidade momentânea, muitas vezes atuando como atitude de

identificação e aceitação nos grupos. Entretanto, vale trazer para a discussão que

esse fugaz momento pode não ter mais volta e dele se vai progredindo até a droga

tê-lo sob domínio total.

Outra questão sobre a caracterização geral dos usuários da amostra

estudada se refere ao tempo de uso do crack. Neste estudo sobressai-se mais de

um ano e por mais de cem vezes, além de informarem a predominância do consumo

diário e de precisar de maiores quantidades para obter o efeito desejado.

Em relação a estes resultados estudos realizados na década de 1990 já

apontavam preocupação com a expansão desse consumo, visto que o crack não se

configura como um fenômeno momentâneo, mas progressivo em função de maior

disponibilidade, baixo custo, facilidade do uso e pelo poder de dependência, cuja

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meia vida é curta o que leva o usuário a repeti-la por várias vezes (STRANG;

GRIFFITHS; GOSSOP, 1990; DUNN et al., 1996; FERRI et al., 1997; FERREIRA

FILHO; 2003). Dados mais recentes reafirmam essas condições para o consumo do

crack, inclusive por período superior a dois anos, com maior intensidade e em curtos

intervalos de tempo (BISCH et al., 2011).

Entretanto, merece atenção o estudo realizado por Oliveira e Nappo (2008) o

qual aponta uma categoria sobre o uso controlado, considerado como uso não diário

do crack entre alguns sujeitos pesquisados. Nesse uso haveria a conciliação entre o

consumo e a manutenção das atividades de vida diária (OLIVEIRA; NAPPO, 2008).

O uso controlado do crack traz uma nova perspectiva sobre a utilização

dessa substância, sobretudo, contribuindo para desconstrução de paradigmas

acerca desse consumo e possibilitando novas abordagens terapêuticas, embora,

seja uma modalidade pouco difundida e aceita pela sociedade considerando o

estigma, o envolvimento com crimes motivados pelo desejo incontrolável pelo crack

e a marginalização dos usuários.

Outro dado levantado neste estudo refere-se à prática do poliuso. Verifica-se

que os usuários de crack notadamente fazem associação com outras substâncias,

prevalecendo o álcool e a maconha como as drogas de escolha entre a amostra

pesquisada. Outros estudos nacionais e internacionais também verificaram que essa

prática é recorrente, predominando a maconha, o álcool e o tabaco (FERREIRA

FILHO et al., 2003; SILVA et al., 2011; ZEREMSKI et al., 2012). No estudo de

Vergara-Moragues et al. (2012) sobressaem-se o álcool, a maconha e a heroína

como substâncias de escolha.

5.2 Alterações somatoscópicas, hematológicas e nutricionais

Em sua maioria a avaliação dos sinais vitais como pulso, respiração e

pressão arterial encontram-se dentro da normalidade, bem como em relação a pele,

esta, também na maioria da amostra, encontra-se dentro da normalidade.

Entretanto, observou-se que em uma parcela significativa da amostra havia

presença de eritema, lesões de pele e sinais de perfuração de agulhas.

Dawan e Wang (2007) relatam que pode parecer intuitivo afirmar que a

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cocaína/crack provoca lesão local da mucosa. No entanto, as manifestações dessa

substância nos tecidos e vasos sanguíneos são amplas e podem afetar praticamente

todos os órgãos e/ou área da pele, independentemente do instrumento utilizado para

o consumo.

Estudo realizado por Poon et al. (2011) que descreveu os casos de quatro

pacientes usuários de cocaína/crack em que todos desenvolveram alterações de

pele como reação de hipersensibilidade a essa droga. É relevante destacar que o

uso de cocaína/crack tem sido reconhecido como um agente causador de uma

infinidade de manifestações cutâneas que vão desde síndrome de Stevens-Johnson,

úlceras crônicas de pele até púrpura palpável (BREWER et al., 2008).

Reutemann, Grenier e Telang (2011) também afirmam que o uso da

cocaína/crack está associado a múltiplos achados sistêmicos e cutâneos

relacionados com os seus efeitos sobre a vasculatura. No entanto, os efeitos

dermatológicos variam amplamente e podem apresentar-se como vasculite, púrpura

palpável, ulcerações, necrose, fibrose, bolhas, granulomas gangrena, pústula,

descamação e muitos outros tipos de lesão.

Quando avaliadas as alterações orais, os sujeitos da amostra deste estudo

apresentaram elevadas queixas de cáries, perdas dentárias, bolhas ou lesão na

mucosa oral. Estes achados são compatíveis com o estudo de Colodel et al. (2009)

que identificou de modo acentuado a ocorrência de cáries, erosões e perdas

dentárias e ainda a existência de quadros de xerostomia e/ou redução do fluxo

salivar associadas as alterações da microbiota. O estudo mostra que a absorção da

cocaina/crack pela mucosa bucal leva a formação de lesões por deficiência de

suprimento sanguíneo em decorrência da vasoconstrição provocada na região,

causando irritação na orofaringe, desenvolvimento de escaras linguais, aumentando

à infecção e em casos mais graves leva a necrose tecidual.

Avaliação periodontal em usuários já realizada por Invercini (2012)

comparando as as condições periodontais supra e subgengivais de 52 fumantes de

crack e tabaco a um grupo de fumantes apenas de tabaco e um grupo de não

fumantes, encontrou que, estatisticamente, não foram observadas diferenças entre

os grupos para todos os parâmetros avaliados quando comparados ao grupo dos

usuários apenas de tabaco, entretanto, estes apresentaram diferenças do grupo de

não fumantes.

Achados similares foram levantados por Ribeiro et al. (2002) ao identificarem

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altos percentuais de biofilme bacteriano e sangramento gengival em usuários de

crack. Associações, também, propostas por Bastos et al. (2011) enfatizam que deve-

se considerar a associação entre o uso do crack e a baixa condição socioeconômica

dos usuários, o que provavelmente pode está envolvimento na dinâmica das

alterações periodontais.

Com relação a mucosa oral estudos têm identificado um nexo de

causalidade entre o consumo do crack e alterações dessa mucosa. Pesquisa

realizada por Lima et al. (2007) com 32 usuários de crack identificou que o consumo

dessa substância pode induzir o desenvolvimento de respostas inflamatórias e

aumento da queratinização no epitélio oral. Similarmente, Woyceichoski et al. (2008),

em estudo com 20 dependentes dessa substância evidenciou um decréscimo das

áreas nucleares nas células do epitélio oral quando comparadas a indivíduos não

expostos à droga.

Quanto as queixas nasais importante parcela dos usuários entrevistados

neste estudo referem diversos problemas. Os mais evidentes foram bolhas/úlceras

na mucosa nasal, coriza e epistaxe. Estudo recente realizado por Sá (2012) nos

CAPSad do Piauí com o objetivo de estimar a prevalência da Hepatite C entre

usuários de crack também realizou avaliação da mucosa oral e nasal identificando

resultados similares: 12,2 referiram a presença de bolhas ou lesões na mucosa oral

e 5,1% lesões na mucosa nasal.

Resultados convergentes ao deste estudo foram encontrados por Di Cosola

et al. (2007) que identificou a partir de uma série de casos que o contato da cocaína

em pó ou com resíduos oriundos de sua combustão provocam congestionamento

nasal, epistaxe e, em longo prazo, até mesmo erosão do septo nasal, causando uma

comunicação bucossinusal.

Essa comunicação bucossinual parece já ser consenso, pois em revisão

sistemática apresentada por Silvestre et al. (2010) com a inclusão de 36 estudos

demonstra a ocorrência destas comunicações. Além disso, emergiram evidências de

alterações graves, a citar: destruição do septo nasal, infecção nasofaríngea, dor de

cabeça, halitose, sinusite, rinolalia e passagem de alimentos para a região nasal.

A aspiração nasal dessa droga provoca pequenas hemorragias nasais e

irritação das mucosas. É comum uma vasoconstricção periférica que se sucessiva

necrosa o tecido provocando lesões como rinite atrófica até perfuração do septo

nasal, com profunda epistaxe (ROSSETO et al.,2009).

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Estudo de Molina et al. (2012) chama atenção por descrever um caso em

que o abuso de cocaína/crack provocou sinusopatia química por destruição e

necrose mediofacial secundária. Aponta ainda que quando a necrose do terço médio

da face já está estabelecida, outras complicações podem ocorrer relacionados com a

proximidade de estruturas como a órbita ou nervo óptico.

As repercussões não ficam restritas às cavidades oral e nasal, as queixas de

natureza otorrinolaringofaríngea são evidentes na população deste estudo. As

queixas mais recorrentes foram zumbido, vertigem, hipoacusia e plenitude. Estas

queixas também já foram mencionadas por 18 usuários de crack em

acompanhamento pelo Hospital das Clínicas da Universidade de Sâo Paulo. No

estudo 55,5% apresentaram zumbido, 16,6% vertigem, 27,7% hipoacusia, mas

nenhum queixou-se de plenitude (PASSARELLI et al., 2003). É importante destacar

que as queixas auditivas, especialmente, o zumbido foram relacionadas somente no

período de consumo do crack.

Com relação a condição auditiva, Weich (2012) ao avaliar usuários de

maconha e crack observou que o uso dessas substâncias pode provocar alterações

auditivas periféricas e centrais. O achado mais importante é que os danos causados

pelo uso do crack são mais deletérios que a maconha, embora o tempo de uso não

tenha associação estatística com a gravidade dos danos causados.

Para Rosseto et al. (2009) a idade de experimentação é uma variável que

deve ser considerada ao se avaliar a condição auditiva do usuário de crack. A

relação entre essas variáveis está relacionada a maturação do sistema auditivo

central que ocorre, em média, aos 12 anos. Considerando que esse consumo tem

se tornado, cada vez mais precoce, é, notadamente observada a ação deletéria

sobre tais estruturas e funções alterando, portanto, o processo da neuromaturação.

A dimensão somatoscópica proporciona ainda avaliação de aspectos que

podem sugerir alterações sistêmicas graves como é o caso dos sinais vitais. Neste

estudo foram avaliados pulso, frequência respiratória e pressão arterial. Foram

identificadas taquisfigmia, taquipneia, alteração de pressão sistólica e diastólica. A

literatura científica, historicamente, vem sugerindo a existência de uma relação direta

entre o consumo de cocaína/crack com complicações cardiovasculares.

Nesse sentido Gazoni et al. (2006) afirmam que existem evidências de que a

cocaína/crack, em indivíduos susceptíveis, pode produzir alterações miocárdicas e

vasculares. Chamam atenção ainda para a existência de uma correlação positiva

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com o desenvolvimento de doenças cardíacas, aterosclerose ou hipertensão arterial

considerando os vários mecanismos fisiológicos envolvidos nesse consumo, dentre

eles o vasoespasmo coronariano, o aumento da agregação plaquetária e do trabalho

cardíaco e a ação tóxica direta no miocárdio e nas coronárias. Com relação a

alteração do pulso, também identificaram a presença de taquisfigmia.

A literatura científica clássica explica que o consumo da cocaína/crack, por

bloquear a retirada de norepinefrina dos terminais pré-sinápticos, pode aumentar

significativamente a frequência cardíaca, o pulso, a pressão arterial e a resistência

vascular sistêmica. Adicionalmente, essa substância aumenta a concentração de

cálcio nos miócitos por estimulação dos receptores beta e alfa-adrenérgicos,

facilitando a utilização de cálcio pelo complexo de proteína troponina-actina-miosina.

Em consequência disso, a contratilidade miocárdica pode aumentar o que repercute

no aumento da frequência cardíaca, do pulso e da pressão arterial, acima da

capacidade de suprimento pelas coronárias (BOGHDADI; HENNING, 1997).

Discussão específica sobre a pressão arterial proposta em publicação de

Plavnik (2002) enfatiza que embora o uso de cocaína não seja uma causa comum

de hipertensão crônica, o uso desta droga por qualquer uma das vias (inalação,

endovenosa e fumo na sua forma alcalóide, o crack) tem implicações agudas muito

mais graves e preocupantes. A maioria dos usuários permanecem normotensos,

porém o uso crônico pode causar hipertensão aguda em normotensos e pode

exacerbar os níveis pressóricos e levar a quadros de hipertensão arterial mais

resistente nos pacientes com hipertensão já diagnosticada. A autora chama atenção

para gravidade desse consumo, uma vez que, essa condição pode evoluir para

quadros de infarto agudo do miocárdio, arritmias, morte súbita e acidente vascular

cerebral.

Outra importante repercussão do consumo de crack está relacionada às

consequências ao sistema respiratório, que neste estudo foi verificado pela

frequência. Importante parcela dos usuários avaliados apresentaram taquipneia.

Embora de 25 a 60% dos usuários de crack apresentem sintomas respiratórios após

fumar a droga, poucos procuram assistência.

Considerando a pouca procura por assistência Mançano et al. (2008) alerta

que é comum muitos usuários negarem a utilização de drogas ilícitas em um

primeiro momento e enfatiza a necessidade de busca por achados clínicos ao

exame físico que possam sugerir o diagnóstico, tais como: queimaduras nas pontas

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dos dedos, decorrentes do manuseio dos artefatos para consumo da droga e a

presença de escarro negro (carbônico).

A taquisdipneia progressiva aos esforços mínimos (36 movimentos

respiratórios por minuto) com expectoração sanguinolenta como causa de internação

em unidade de emergência foi descrita por Gazoni et al. (2006) em estudo de caso

de paciente usuário de crack. Estudo semelhante, dessa vez, realizado em Santa

Catarina também identificou a alteração da frequência respiratória de usuário de

crack admitido em serviço de emergência após consumo da substância (50

movimentos por minuto) (LAZZAROTTO et al., 2009).

Pesquisa congênere realizada em Cádiz, na Espanha, mostra que essas

consequências têm se tornado, cada vez mais, frequentes, embora apenas uma

minoria desses usuários busca atendimento em serviços de saúde. O estudo chama

atenção para alteração do padrão respiratório (acima de 30 movimentos respiratórios

por minuto) e, sobretudo, para o risco de desenvolvimento da condição mais grave: o

edema pulmonar (PALMA et al., 2003).

Sintomas respiratórios agudos, geralmente, se desenvolvem poucas horas

após o uso da droga, embora possam emergir em minutos. Os sintomas

respiratórios agudos incluem tosse seca ou com eliminação de sangue ou de

material escuro, decorrente da inalação de resíduos provenientes da combustão da

substância, dispnéia, febre, dor torácica, asma e episódios de broncoespasmo

(ZENI; ARAÚJO, 2009). Achados de Lazzarotto et al. (2009) apontam que a inalação

de crack pode induzir uma variedade de alterações pulmonares tendo como

desfechos mais graves a hemorragia alveolar, o edema pulmonar agudo e as

infiltrações pulmonares de diversas naturezas.

Quanto a avaliação hematológica realizada neste estudo, identificou-se que

importante parcela dos usuários apresentaram hemoglobina e hematócrito abaixo do

padrão de normalidade. Nesse segmento identificou-se também outros indícios

hematológicos importantes, tais como: leucocitose, eosinofilia, linfopenia,

monocitopenia, neutropenia e trombocitose.

Lazzarotto et al. (2009) e Palma et al. (2003) descrevem em seus estudos

achados hematológicos convergentes aos apresentados nesta pesquisa. Os exames

laboratoriais realizados na admissão evidenciaram hemoglobina de 11,6 mg/dl,

hematócrito de 33,5%, leucócitos de 14.870 mm3, embora, destaque que não

ocorreu evidências de alteração plaquetária. Os exames laboratoriais do estudo

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realizado por Mançano et al. (2008), por sua vez, divergem significativamente destes

estudos, considerando que o hemograma e plaquetas encontravam-se normais.

Estudo de revisão sistemática realizado nos bancos de dados PubMed,

PubJet e Cochrane Review acerca da relação entre alterações hematológicas

associadas com levamisol contaminado por cocaína evidenciou que a prevalência

significativa de leucopenia (25% a 30%), neutropenia (45% a 60%) e de

trombocitose (80% a 95%) (KHAN et al., 2011).

Pesquisa realizada na Islandia com objetivo de descrever quatro casos de

pacientes que usaram cocaína por mais de dez anos e que apresentaram púrpura

palpável, artralgia ou artrite e leucopenia como resultado de uma reação de

hipersensibilidade a cocaína com cloridrato de levamisol identificou que três dos

pacientes avaliados apresentaram leucopenia e neutropenia (POON et al., 2011).

No que tange a avaliação nutricional, neste estudo ela foi subsiada pela

análise dos hábitos alimentares, antropometria e exames bioquímicos (triglicerídeos,

colesterol total e frações, albumina e creatinina). Quanto aos hábitos alimentares os

usuários referem consumo médio de 4,38 refeições compostas por alimentos fontes

de carboidratos, fibras e proteínas.

Notadamente, parece que há uma distinção dos hábitos alimentares entre os

que consomem a substância quando comparados aqueles em abstinência. Estudo

realizado por Oliveira et al. (2005) concluiu que 98,08% dos usuários entrevistados

tiveram seus hábitos alimentares afetados pelo consumo de substâncias. Destacam

que nos momentos de máximo consumo do crack os alimentos eram totalmente

rejeitados, ficando alguns, até vários dias sem se alimentar.

O mesmo estudo revela que quando não estavam sob efeito do crack a

maioria (57,69%) relatou consumir de 2 a 3 refeições diárias, sendo que as refeições

mais citadas pelos entrevistados foram o almoço (73,08%), o jantar (65,38%) e o

café da manhã (53,85%) dado que destoa aos encontrados nesta pesquisa.

Quando se trata da frequência alimentar em usuários de crack, estudo de

Oliveira et al. (2005) demonstraram que os alimentos mais consumidos entre os

pesquisados foram: arroz, café, feijão e pães. Dentre os alimentos consumidos

esporadicamente foram citados: legumes crus, legumes cozidos, frutas, peixe,

frango, carne suína e bovina, leite, queijos, ovos e frituras. No período em que não

estavam sob efeito das drogas, os alimentos preferenciais eram aqueles pobres em

nutrientes essenciais e ricos em calorias, principalmente carboidratos, prática similiar

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a dos usuários de crack que compuseram a amostra estudada.

Ainda com relação aos hábitos alimentares estudo realizado com 25

adolescentes que frequentavam um CAPSad de Cascavel, no Paraná identificou

padrão alimentar similar ao encontrado nesta pesquisa. Os alimentos mais

consumidos diariamente pelos adolescentes pesquisados foram, arroz, feijão, carne

bovina, leites, margarina, café (COZER; GOUVEA, 2010).

Com relação ao estado nutricional dos usuários avaliados neste estudo as

medidas antropométricas revelaram 57,4% de eutrofia, 25,1% de sobrepeso, 9,4%

de obesidade e 8,1% de baixo peso. Na pesquisa de Cozer e Oliveira (2010) foi

evidenciada uma realidade diferenciada: 84% de eutrofia, 12% de sobrepeso e 4%

de obesidade e ausência de baixo peso.

A avaliação do estado nutricional por sexo também é distinta a do referido

estudo. As mesmas pesquisadoras identificaram que 40% dos achados que estão

fora do padrão preconizado como saudável foi entre as mulheres. Neste estudo, o

estado nutricional mais afetado pelo consumo do crack está entre os homens,

apesar de não ter havido associação entre sexo e estado nutricional.

Estudo realizado com 52 dependentes químicos de Maringá, no Paraná

identificou que 76,92% dos entrevistados foram classificados como eutróficos,

19,23% apresentaram sobrepeso, um indivíduo (1,92%) apresentou IMC limítrofe

para desnutrição (IMC=18,46 kg/m2) e outro (1,92%) apresentou obesidade mórbida

(IMC=55,51 kg/m2) (OLIVEIRA et al., 2005).

Outro estudo transversal realizado por Balbinot et al. (2011a) em Porto

Alegre, no Rio Grande do Sul, em que foram avaliados 30 dependentes de crack, do

sexo masculino internados para desintoxicação por crack verificou média de peso

total de 68,70 kg, de estatura 1,69 m e de IMC 23,79 kg/m². A pesquisa conclui que

pacientes dependentes de crack, internados em unidade de desintoxicação,

apresentam relação peso/estatura e IMC dentro da normalidade, porém o seu

percentual de gordura fica abaixo do preconizado na literatura.

Ochoa (2006) chama atenção para um fenômeno recorrente que é a perda

excessiva de massa magra, que pode evoluir para rabdomiólise em usuários em uso

abusivo do crack, embora não tenha sido uma realidade significativa neste estudo,

talvez por já estarem em processo terapêutico no momento da avaliação. O autor

alerta que o baixo IMC é um indicador de propensão para que sejam desencadeados

transtornos paranoides severos induzidos por essa substância.

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Outro estudo realizado por Balbinot et al. (2011b) cujo objetivo foi verificar a

variação da fissura de dependentes de crack no decorrer da internação e a

associação com perfil antropométrico identificou que ao longo do tratamento houve

um aumento significativo do percentual de gordura. Estudos demosntram que esse

perfil lipídico não se configura como algo saudável, mas como fator de risco para

diabetes, hipertensão arterial, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, conforme

apontado pela literatura e também evienciado nos exames bioquímicos realizados

(RESENDE et al., 2010; ARAÚJO et al., 2010).

Com relação ao perímetro da abdominal que avalia o risco cardiovascular

identificou-se a prevalência de alteração nessa medida de 32,3%. A CA está

associada ao sexo (p-valor=0,009) e cuja razão de chances demonstra maior

vulnerabilidade daqueles do sexo masculino. Balbinot et al. (2011a), por sua vez,

observou que essa medida está inversamente correlacionado com a quantidade

média de uso semanal de cocaína inalada, fator que pode ser explicado pelos

efeitos anorexígenos dessas substâncias psicoativas.

A avaliação do metabolismo protéico e renal é uma outra dimensão que

requer uma análise cuidadosa considerando os riscos que estão imbricados entre o

consumo do crack e os possíveis comprometimentos metabólicos. É verdade que

ainda é obscura a relação entre esses fenômenos, uma vez que, a maioria dos

estudos que teve-se acesso trabalham com amostras pequenas o que dificulta a

generalização dos achados.

Etchepare et al. (2011) realizaram em Santa Maria, Rio Grande do Sul,

estudo com 22 usuários de crack e identificaram que a média dos níveis de

creatinina foi de 0,71mg/dl, encontrando-se assim, dentro dos padrões de referência.

Esse achado é divergente aos identificados neste estudo, já que a alteração da

creatinina foi encontrada na maioria dos usuários que compuseram a amostra.

No entanto, similaridade foi identificada na relação entre as alterações dos

níveis de creatinina com o tempo de consumo. Ambos estudos não evidenciaram

associação estatística entre as alterações nos níveis de creatinina com o tempo de

consumo, embora, seja possível perceber que os níveis séricos de creatinina se

elevaram em relação ao maior tempo de uso da droga, demonstrando que

alterações renais podem ser maiores em usuários com um maior tempo de consumo

(ETCHEPARE et al., 2011).

Deve-se destacar que o consumo de crack se configura como uma

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problemática recente e que, portanto, ainda precisa ser melhor estudada, sobretudo,

na busca pelo nexo de causalidade entre as consequências inerentes a essa prática.

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6 CONCLUSÃO

A partir dos resultados encontrados nesse estudo é possível se

compreender porque o consumo de crack tem sido considerado um grave problema

de saúde pública: trata-se de prática que além de ter transgredido as barreiras

geográficas, tem se tornado protagonista do desenolvimento de uma série de

alterações nos principais sistemas biológicos que constituem o indivíduo.

Os dados coletados nessa pesquisa permitem afirmar que o grupo não é

homogêneo, embora algumas características se sobressaiam em detrimento a

outras. É possível afirmar que o perfil da amostra estudada é constituída por

homens, jovens, pardos, solteiros, de Teresina, com ensino fundamental incompleto,

sem renda e evangélicos.

Dados relacionados ao consumo demonstram que importante parcela dos

usuários experimentaram o crack antes dos 18 anos e mais de 100 vezes na vida,

associando, na pluralidade das vezes com o consumo de bebidas alcoólicas,

maconha, tranquilizantes e solventes.

Foram identificadas alterações somatocópicas, hematológicas e nutriconais

entre os usuários de crack. Quanto a somatoscopia 13,3% apresentavam déficit no

asseio corporal, 17,5% danos na pele, 3,0% taquisfigmia, 3,6% taquipneia, 19,3%

alteração da pressão arterial sistólica e 11,2% da pressão arterial diastólica.

A avaliação oral e otorrinolaringofaríngea trazem importantes alterações. As

prevalências mais significativas foram de cáries (55,6%), perdas dentárias (29,9%),

lesões na mucosa nasal (4,5%), epistaxe (4,2%), zumbido (32%), vertigem (27,8%)e

hipoacusia (18,1%).

A avaliação hematológica mostra importantes achados, a citar: hemoglobina

e hematócrito abaixo do padrão de nromalidade, leucocitose, eosinofilia, linfopenia,

monocitopenia, neutropenia e trombocitose. Chama atenção para alteração

plaquetária que possui associação estatística com tempo de tratamento (p-

valor=0,006) demonstrando haver 55,05 vezes mais chance de alteração plaquetária

naqueles usuários com menos de um ano de tratamento.

A avaliação nutricional realizada a partir da análise dos hábitos alimentares,

antropometria e exames bioquímicos demonstram que os usuários realizam, em

média, 4,38 refeições normalmente ricas em carboidratos. A relação entre o peso

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ponderal e a altura permitem afirmar que 57,4% estão eutróficos, 25,1% com

sobrepeso, 9,4 obseos e apenas 8,2% com baixo peso. Acredita-se, pois, que o fato

de estarem em processo terapêutico, alguns ainda com sinais de abstinência pela

substância contribuem para o aumento do padrão alimentar que reflete nas medidas

aferidas.

Os achados encontrados a partir desse estudo reforçam a necessidade de

implementação das políticas voltadas para esse grupo considerando o efêmero

processo de deterioração física a que estão sujeitos. Considerando a gravidade

dessa prática e, sobretudo, das consequências na vida desse tecido social espera-

se contribuir para o desenvolvimento de políticas de saúde que contemplem essa

problemática sob o enfoque da integralidade do cuidado.

A contribuição específica para o cuidar pelo enfermeiro chama atenção para

a compreensão do usuário de crack como um ser biopsicossocial cujas

repercussões desse consumo transgridem a dimensão física, sobremaneira

dificultando a assistência de enfermagem tradicional. Neste contexto, faz-se

imperativa uma assistência holística e humanizada capaz de fomentar o

enfrentamento desse grave problema.

Embora este estudo seja relevante, é importante destacar a existência de

limitações: os dados relativos às condições otológicas e nasais são oriundos do

histórico de enfermagem considerando a ausência de instrumentais próprios para

essa avaliação (otoscópio e rinoscópio). Acredita-se, pois, na necessidade de

estudos futuros que avaliem essa dimensão, uma vez que, as pesquisas tem

demonstrado a existência de um nexo de causalidade entre alterações dessa

natureza com o consumo de crack, além de contribuir para o aumento do risco para

outro importante agravo, a Hepatite C.

Apesar da dependência química, com ênfase no crack está tendo maior

visibilidade midiática e científica, é importante destacar que a ampliação do

conhecimento científico sobre o tema ainda encontra-se restrito. Uma vez que,

encontrou-se dificuldades no levantamento bibliográfico que relacionasse a

dependência por crack e sua relação com as múltlipas repercussões causadas,

especialmente, aquelas que envolvessem as variáveis hematológicas e da

composição corporal.

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APÊNDICES

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENFERMAGEM

APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado(a) a participar, como voluntário, em uma

pesquisa. Para tanto, precisa decidir se deseja ou não participar. Por favor, não se

apresse em tomar a decisão. Leia cuidadosamente o que se segue e peça

esclarecimentos ao responsável pelo estudo sobre as dúvidas que você vier a ter.

Este estudo está sendo conduzido pela Profa. Dra. Claudete Ferreira de Souza

Monteiro. Após obter as informações necessárias e desejar participar do estudo,

assine no final deste documento, que se apresenta em duas vias; uma delas será

sua e a outra pertencerá ao pesquisador responsável. Em caso de recusa você não

será penalizado(a) de forma alguma.

ESCLARECIMENTOS SOBRE A PESQUISA: Título do Projeto: PREVALÊNCIA DE ALTERAÇÕES SOMATOSCÓPICAS, HEMATOLÓGICAS E NUTRICIONAIS ENTRE USUÁRIOS DE CRACK. Pesquisadora Responsável: Profa. Dra. Claudete Ferreira de Souza Monteiro Instituição/Departamento: UFPI – Mestrado em Enfermagem/Departamento de

Enfermagem. Telefone para contato: (86) 3215 5558 Pesquisadores Participantes: Fernando José Guedes da Silva Júnior Telefones para Contato: (86) 9976-7784

Os objetivos da pesquisa são: caracterizar os usuários de crack quanto

aos indicadores econômicos e sóciodemográficos, quanto aos seus aspectos

somatoscópicos a partir de suas condições gerais, tais como: estado geral, estado

mental, tipo morfológico, postura, fáceis, sinais vitais, pele, mucosas e anexos;

caracterizar a amostra estudada quanto aos seus aspectos hematológicos a partir da

avaliação da hemoglobina total, hematócrito, leucócitos (basófilos, eosinófilos,

linfócitos, monócitos e neutrófilos) e plaquetas; traçar o perfil nutricional dos usuários

de crack a partir dos seguintes parâmetros: peso, altura, índice de massa corporal

(IMC), circunferência do braço, perímetro da cintura e do quadril, relação cintura-

quadril, pregas cutâneas e níveis séricos de albumina; investigar associação entre

os indicadores econômicos e sóciodemográficos com alterações somatoscópicas,

hematológicas e nutricionais; buscar correlação entre o perfil somatoscópico,

hematológicas e nutricionais com o tempo de uso do crack; investigar associação

entre craving com alterações somatoscópicas, hematológicas e nutricionais.

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Consentimento da participação da pessoa como sujeito

Eu, _________________________________________, RG/ CPF/ n.º de prontuário/ n.º de matrícula ________________________________________________, abaixo assinado, concordo em participar do estudo ________________________________, como sujeito. Fui suficientemente informado a respeito das informações que li ou que foram lidas para mim, descrevendo o estudo “PREVALÊNCIA DE ALTERAÇÕES SOMATOSCÓPICAS, HEMATOLÓGICAS E NUTRICIONAIS ENTRE USUÁRIOS DE CRACK”. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas e que tenho garantia do acesso a tratamento hospitalar quando necessário. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu acompanhamento/ assistência/tratamento neste Serviço. Local e data _________________________________________________________ Nome e Assinatura do sujeito ou responsável: ____________________________ Presenciamos a solicitação de consentimento, esclarecimentos sobre a pesquisa e aceite do sujeito em participar

Testemunhas (não ligadas à equipe de pesquisadores): Nome:______________________________________________________________ RG: _______________________________________________ Assinatura: _________________________________________ Nome:______________________________________________________________ RG: _______________________________________________ Assinatura: _________________________________________

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participação neste estudo.

Teresina, _____ de ____________ de 20__.

Profa. Dra. Claudete Ferreira de Souza Monteiro

Pesquisadora responsável pelo estudo Observações complementares: Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato: Comitê de Ética em Pesquisa – UFPI - Campus Universitário Ministro Petrônio Portella - Bairro Ininga CEP: 64.049-550 - Teresina –

PI tel.: (86) 3215-5734 - email: [email protected] web: www.ufpi.br/cep

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENFERMAGEM

APÊNDICE B - FORMULÁRIO PARA REALIZAÇÃO DA ENTREVISTA

Formulário No __ Data da Entrevista: __/__/20__ Nome do entrevistador(a): ____ PARTE 1 - CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA E DEMOGRÁFICA Qual é a sua Idade (anos)?

Sexo: 1.masc. 2. fem.

Cor ou raça: 1.Branco 2.Negro 3.Pardo 4.Indígena 5.Amarela

Qual o seu estado conjugal atual? 1. Solteiro(a) 2. Casado(a) legalmente 3. União estável 4. Viúvo(a) 5.Divorciado(a)

Procedência? 1. Teresina 2. Outra localidade

Você possui ou pratica alguma religião/doutrina? 1. Sim 2. Não

Qual a sua religião? 1.Católica 2.Evangélica 3.Espírita 4.Outra

Você tem renda pessoal? 1. Sim 2. Não

(Caso sim), qual é a sua renda mensal? (em reais)

Frequentou escola? 1. Não 2. Sim

Caso sim, até que série estudou? Fundamental incompleto Fundamental completo Médio incompleto Médio completo Superior incompleto Superior completo ou mais

PARTE 2 – DADOS RELACIONADOS AO USO DE CRACK Que idade experimentou crack pela primeira vez (em anos)? ________

Você usou crack nos últimos 12 meses? 1. Sim 2. Não

Usou todos os dias ou mais de duas vezes por semana nos últimos 12 meses?

Quantas vezes usou nos últimos 30 dias? ______

Costuma misturar com bebidas alcoólicas? 1. Sim 2. Não

Quantas vezes você já usou crack na vida? 1. Menos que 10 vezes 2. De 10 a 100 vezes 3. Mais de 100 vezes

Precisou quantidades maiores pra ter o efeito desejado? 1. Sim 2. Não

PARTE 3 – DADOS RELACIONADOS AO USO DE OUTRAS DROGAS Você já usou crack ou merla? 1. Sim 2. Não

Você já usou oxi? 1. Sim 2. Não

Você já usou tranquilizantes/remédios para dormir? 1. Sim 2. Não

Você já usou solventes (loló, cheirinho, cola de sapateiro, lança-perfume)? 1. Sim 2. Não

Você já usou ecstasy (bala, MDMA)? 1. Sim 2. Não

Você já usou morfina? 1. Sim 2. Não

Você já usou heroína? 1. Sim 2. Não

Você já usou esteróides anabolizantes? 1. Sim 2. Não

Você já usou alucinógenos (doce, acido, LSD, chá de cogumelo)? 1. Sim 2. Não

Você já usou anestésicos (super k, ketamina, GHB, boa noite cinderela)? 1. Sim 2. Não

Você já usou cristal? 1. Sim 2. Não Você já usou maconha, skank ou haxixe? 1. Sim 2. Não

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PARTE 4 – HISTÓRICO DE ENFERMAGEM Ano de início do tratamento

Regime terapêutico? 1. Não intensivo 2. Semi-intensivo 3. Intensivo

Hábitos

Cuidado corporal? 1. Asseado 2. Com roupas limpas 3. Falta de asseio corporal e bucal

Hábitos alimentares? 1. Frutas 2. Verduras 3. Carne vermelha 4. Carne branca 5. Café 6. Leite

Costuma fazer quantas refeições?

Queixas otológicas

Ouvido? 1. Otalgia 2. Hipoacusia 3. Otorréia 4. Plenitude 5. Vertigem 6. Zumbido

Queixas nasais

Mucosa nasal? 1. Bolha ou lesão 2. Coriza 3. Alergia 4. Epistaxe 5. Sem alterações

PARTE 4 - EXAME FÍSICO

PARTE 5 – PERFIL HEMATOLÓGICO E BIOQUÍMICO Hemograma

Lipidograma

Níveis séricos de albumina

Níveis séricos de creatinina

Altura

Peso

IMC

Circunferência abdominal

Pulso

Respiração

Pressão Arterial

Pele

Pele? 1. Sem alterações 2. Anasarca 3. Cianose 4. Icterícia 5. Descorado 6. Reações alérgicas 7. Lesões de pele 8. Úlcera por pressão

Presença de eritema? 1).Sim; 2).Não

Sinais de perfuração de agulha? 1).Sim; 2).Não

Caso sim, em qual parte do corpo?

Boca

Boca? 1. Bolha ou lesão na mucosa oral 2. Prurido oral 3. Cáries 4. Gengivite 5. Perdas dentárias