O Bandeirante - n.226 - Setembro de 2011

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As Cores da Vida

Ano XX - no 226 - setembro de 2011Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP

O BandeiranteJornal

Josyanne Rita de Arruda FrancoMédica PediatraPresidente da Sobrames SP / Biênio 2011-2012

Realizar o ciclo da vida é a programação natural desde que nascemos. Trazemos conosco, além da herança genética, con-teúdos do aprendizado em fa-mília e na comunidade, vivência social que infere na formação de cada pessoa características dis-tintas e personalizadas.

Caminhamos amealhando vitórias, sucessos, perdas e frus-trações. A trajetória se faz mar-cante e a bagagem é vasta, com volumes de diferentes conteú-dos. Somos seres viajantes que descobrem novas rotas, paisa-gens surpreendentes e a imensa e pouco poética destinação do viver: cumprir nosso percurso até expirar nossa “data de vali-dade”. Isso faz toda a diferença: fazer da vida um existir que va-lha a chama acesa!

Médicos são profissionais ge-ralmente sisudos, introspectivos e observadores, cientes de que sua atividade exige estudo, co-nhecimento, técnica, credibili-dade e responsabilidade, compe-tências algumas vezes interpre-tadas como frieza, arrogância e distanciamento. A sensibilidade, o amor à vida, o deslumbramen-

to com a arte e o encantamento com as nuances do viver passam sem muito destaque na rotina diária dos médicos, preocupa-dos que estão com o resultado do desempenho cotidiano.

Setembro corrente marcou para a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores Regional São Paulo, um hiato na ativida-de profissional de seus sócios por ocasião da realização da XI Jornada Médico-Literária Pau-lista na Estância Turística de Itu, interior do Estado de São Pau-lo. Desbotados pela fuligem das obrigações e aparências que reti-ram de cada indivíduo o brilho e a elegância de existir como pes-soas, o fulgor e a vitalidade de cada participante voltaram a en-contrar expressão no olhar, nas palavras ditas em verso e prosa, no sorriso fácil, franco e juvenil.

Confraternizados, irmanados e descontraídos, médicos escri-tores e outros profissionais libe-rais, acadêmicos e apreciadores da arte literária destacaram, no intervalo de três dias, a beleza que transcende a existência hu-mana: o sentir que é capaz de reverberar no outro, convidar o

outro a ser parte de seu sonho, da sua sensibilidade, do seu vi-ver.

Música, canto, poesia, pro-sa, dança, encanto. Refeições alegres e acompanhadas: não à solidão e ao alimento recebido às pressas em instalações frias e sem cor, de clínicas, postos de saúde, pronto-socorros e hospi-tais!

Passeios, museus, igrejas e história; o vento no rosto, a mú-sica na praça... Café na pérgu-la da piscina do hotel: um luxo merecido, um mimo necessário. Dias de sol, voz e violão, cultura caipira, seresta no imenso casa-rão incrustado na noite. Friozi-nho que pediu proximidade... Boemia antes da premiação... E agora, a saudade.

Outros encontros virão: no-vos sócios e participantes para as nossas pizzas festivas e sabati-nas literárias. Juntos, novamen-te, estreitaremos os vínculos que construirão novos caminhos, novos projetos e uma nova e brilhante caminhada para a SO-BRAMES-SP.

Até lá, amigos!

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2 O BANDEIRANTE - Setembro de 2011

eXPeDIeNte

CUPOM DE ASSINATURAS*

*Disponível para o público em geral e para não sócios da SOBRAMES-SP Preencha este cupom, recorte e envie juntamente com cheque nominal à SOBRAMES-SP para REDAÇÃO “O Bandeirante” R. Francisco Pereira Coutinho, 290, ap. 121 A - V. Municipal - CEP 13201-100 - Jundiaí - SP

Dê uma assinatura de “O BANDEIRANTE” de presente para um colega

Preço de 12 exemplares impressos: R$ 36,00Nome:___________________________________________________________

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Grátis: Além da edição impressa que será enviada por correio, o assinante receberá por e-mail 12 edições coloridas em arquivo digital (PDF)

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Acompanho de perto a luta dos médicos contra o sistema de medicina suplementar. Criado como solu-ção tupiniquim para acobertar a incompetência no gerenciamento da saúde pública, tomou proporções gigantescas e hoje é uma parte indispensável para o atendimento médico digno para a população.

A criação das operadoras de saúde encontrou um território fértil para o seu desenvolvimento. O médico se permitiu ganhar salários aviltantes na rede pública; proporcionando atendimento digno em condições in-dignas, ganha muito menos do que um delegado, fiscal de rendas ou juiz e muito mais do que um professor.

Ele se permitiu que isso acontecesse. Não teve planejamento estratégico, não pensou no seu futuro, embalado pela poesia que envolve sua profissão. O terreno para a saúde suplementar estava pronto.

Cada vez mais admiro Maiakovski, cada vez mais acredito que cada um merece o destino que tem. Cabe a nós, médicos sobramistas denunciar as injustiças, não aceitar aquilo que não nos convém, lembrar a todos que na vida real, a poesia é outra: cruel, trágica, promíscua, como nosso sistema de saúde.

Jornal O Bandeirante ANO XX - no 226 - Setembro 2011

Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP. Sede: Rua Alves Guimarães, 251 - CEP 05410-000 - Pinheiros - São Paulo - SP Telefax: (11) 3062-9887 / 3062-3604 Editores: Josyanne Rita de Arruda Franco e Carlos Augusto Ferreira Galvão. Jornalista Responsável e Revisora: Ligia Terezinha Pezzuto (MTb 17.671-SP). Redação e Correspondência: Rua Francisco Pereira Coutinho, 290, ap. 121 A – V. Municipal – CEP 13201-100 – Jundiaí – SP E-mail: [email protected] Tels.: (11) 4521-6484 Celular (11) 9937-6342. Colaboradores desta edição: Aida Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini, Hildette Rangel Enger, Josyanne Rita de Arruda Franco, Ligia Terezinha Pezzuto, Marcos Gimenes Salun, Maria do Céu Coutinho Louzã, Roberto Antonio Aniche.

Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de 1.000 exemplares PDF enviados por e-mail.

Diretoria - Gestão 2011/2012 - Presidente: Josyanne Rita de Arruda Franco. Vice-Presidente: Luiz Jorge Ferreira. Primeiro-Secretário: Márcia Etelli Coelho. Segundo-Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. Primeiro-Tesoureiro: José Alberto Vieira. Segundo-Tesoureiro: Aida Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini. Conselho Fiscal Efetivos: Hélio Begliomini, Carlos Augusto Ferreira Galvão e Roberto Antonio Aniche. Conselho Fiscal Suplentes: Alcione Alcântara Gonçalves, Flerts Nebó e Manlio Mário Marco Napoli.

Matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores e não representam, necessariamente, a opinião

da Sobrames-SP

Roberto Antonio Aniche

O Malho

Editores: Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. GalvãoRevisão: Ligia Terezinha PezzutoDiagramação: Mateus Marins CardosoImpressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica

Editores de O Bandeirante

Flerts Nebó – novembro a dezembro de 1992Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1993-1994Carlos Luiz Campana e Hélio Celso Ferraz Najar – 1995-1996Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1996-2000Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun – 2001 a abril de 2009Helio Begliomini – maio a dezembro de 2009 Roberto A. Aniche e Carlos A. F. Galvão - 2010Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. Galvão - janeiro 2011

Presidentes da Sobrames – SP

1º. Flerts Nebó (1988-1990)2º. Flerts Nebó (1990-1992)3º. Helio Begliomini (1992-1994)4º. Carlos Luiz Campana (1994-1996)5º. Paulo Adolpho Leierer (1996-1998)6º. Walter Whitton Harris (1999-2000)7º. Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002)8º. Luiz Giovani (2003-2004)9º. Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005)10º. Flerts Nebó (out/2005 a dez/2006)11º. Helio Begliomini (2007-2008)12º. Helio Begliomini (2009-2010)13º. Josyanne Rita de Arruda Franco (2011-2012)

Alitta Guimarães Costa Reis – 14/09

Flerts Nebó – 09/09

José Jucovsky – 13/09

Marcos Gimenes Salun – 15/09

AniversárioSETEMBRO: nesta data

querida, nossos parabéns!

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NotíciasA VI Jornada da Sobrames será em São Luis do Maranhão, nos dias 11 e 12 de novembro de 2011. Cada inscrito

poderá participar com no máximo três textos (Concurso Literário Categoria Prosa e Poesia). Consta da programação nos dias 13 e 14 de novembro uma excursão aos Lençóis Maranhenses. Acesse [email protected] e participe, enviando seus trabalhos.

O Congresso Nacional da Sobrames será realizado em Curitiba em 2012, com concurso literário nas Categorias Prosa, Poesia e Trovas. Acompanhe, em nosso boletim, informações e novidades sobre tão aguardado evento.

A Sobrames-MG realizará a IV Jornada Guimarães Rosa nos dias 14 e 15 de outubro. Na oportunidade haverá lançamento de livros de autores das diversas regionais sobramistas. Sucesso é o que desejamos!

Nossa confreira Márcia Etelli Coelho lançará seu mais novo livro “Entre o Laço e os Nós” no dia 8 de novembro (terça-feira), na Livraria Martins Fontes, Avenida Paulista 509, das 18h30h às 21h30h. Estão todos convidados para brindar com uma taça de vinho mais este sucesso editorial.

A Academia Brasileira de Médicos Escritores (ABRAMES), com sede no Rio de Janeiro, promoverá seu encontro anual nos dias 24 e 25 de novembro, na já consagrada “Semana da Academia”, oportunidade para rever os confrades acadêmicos e amigos de longa data na Cidade Maravilhosa.

Fotos da XI Jornada Médico-Literária Paulista em Itu

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Perfil 2011 Sobrames-SP

Sônia Regina Andruskevicius de Castro

Atuação (profissão ou atividade atual): Médica intensivistaCidade de nascimento: São PauloComida preferida: pizzaEsporte (que pratica ou gosta): não praticoLivro de cabeceira atual: A última músicaFilme: Romeu e JulietaFim de semana (o que prefere fazer): praiaViagem inesquecível: Costa do SauipeSonho: escrever um romanceIntolerância (a alguma coisa, pessoa, estilo...): injustiçaCaracterísticas pessoais: calma e tímidaProjeto futuro: carro novoFilosofia de vida: viva a vida.

Premiados na Jornada

Vencedoras com o Troféu “O Bandeirante”

Destaque do Mês

Categoria Prosa: 1o lugar: Maria do Céu Coutinho Louzã - “Garoa Paulistana”Categoria Poesia: 1o lugar: Aida Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini – “Adeus”

Classificados

Prosa

2o lugar: Márcia Etelli Coelho - “Contratenor”3o lugar: José Medeiros - “Reminiscências do Mestre Aurélio Buarque de Holanda”

Poesia

2o lugar: Josyanne Rita de Arruda Franco – “Pássaros do Crepúsculo”3o lugar: Roberto Antonio Aniche – “Água de Rosas”

*Nesta edição estão publicados os trabalhos vencedores.

Nosso aplauso, consideração e respeito ao querido amigo e confrade Dr. José Rodrigues Louzã, que fez questão de prestigiar a XI Jornada Médico-Literária Paulista em Itu, participando de todas as sessões literárias e passeios, mesmo com sua saúde requerendo cuidados. Um exemplo a quem devemos imensa gratidão!

Quem é? Quem é?(resposta da edição de Agosto)

Ligia Terezinha Pezzuto

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Adeus1o lugar Categoria Poesia na XI Jornada

Médico-Literária Paulista

Noivado

Em um último suspiroo silêncio se faz presente,na noite triste e fria de inverno.Não de um inverno comum,mas daquele que neva pela primeira vez.Os flocos finos, brancos e fofosdo céu caem em profusão.tais quais nacos de algodão doceperfumados pela essência da noite.Nas flores, nas árvores, no cume da montanhaespalham-se fundindo-se com a terra úmida de orvalho.Pela vidraça da vida,o tempo, este divisor de momentos,a tudo espreita e aguarda,implacável e mudo.Uma última lágrimacai de meus olhos úmidos, ainda vivos.Meu espírito, porém, já vagaentre o aqui e o agora,o infinito e o desconhecido.Num breve momento,a última lucidez.Agarro tua mão em desespero,Despeço-me...Um carinho profundo,que só o tempo entende,um adeus doído na despedida da partida.Em um último suspiro,minha alma parte,fica meu corpo inerte,esparramado no leito da morte.

Depois de tanto tempoSuas mãosRedescobriram as minhas...

Se buscaramE se entrelaçaramNa calada da noite.Como seresIndependentes de nós...

DocementeSe encontraramSem mensagensDe desejos...

Sem promessas,Nem cobrançasSem medosNem vontades de adeus...Frágeis e cansadas...Buscaram apenasSomar as forças...Para enfrentaremJuntas o tempo...

Então, irei colherFlores do campoPara enfeitar meus cabelosE me vestir de luar...

Ficaremos noivosAo amanhecerE viveremos de ternurasA partir deste momento...

Aida Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini

Hildette Rangel Enger

Caramunha

Josyanne Rita de Arruda Franco

Os olhos do passarinhoFalam mais do que o biquinho

Que pia o dia inteirinhoMas não sabe revelar

A dor que as asas encobremDebaixo da penugem nobre

Na busca que um dia descobreCompanhia pra voar!

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A Florista

Ligia Terezinha Pezzuto

Cruzamento da Avenida Brasil com Rebou-ças, em São Paulo. Lá vem ela toda sorrisos, oferecendo flores.

Na cidade endurecida pelo concreto, um raio de sol a iluminar, com as cores da alegria, o rosto dos seus inúmeros fregueses.

– Oi, meu amor, como vai você? E o pai e a mãe vão bem? Olha, tome, leve estas flores pra eles. Elas estão fresquinhas.

E sem aceitar o pagamento, ao abrir o sinal, gritava:

– Tchau!!! Amo vocês!!! Beijo!!!

A cena se repetia em seus diversos matizes nos momentos em que eu cruzava essas avenidas na volta do trabalho. Às vezes eu ou os demais fregueses comprávamos um buquê, outras ela o colocava em cima do teto do carro e ficava a conversar até o farol abrir, quando o pegava de volta e corria à calçada, aguardando o próximo sinal vermelho.

Era uma jovem senhora, talhada pela vida dura, mas que não perdia o bom humor e a coragem para sustentar um filho, na época, universitário, com a venda de flores. Vilma, o seu nome.

Naquela avenida onde tantos compromissos ocasionavam o vaivém frenético e o isolamento das pessoas no interior de seus veículos, Vilma era a típica brasileira a espalhar a ginga faceira e uma sadia afetividade.

Nos dias chuvosos, ela não aparecia e já sabíamos que não estaria lá. Mas bastava firmar o tempo e a expectativa por revê-la se fazia presente.

Era uma cena corriqueira encontrá-la ao lado de algum carro com o vidro aberto e travando conversas amenas com seus “amores”. Era cativante.

De um dia para o outro, não a vimos mais. Que pena! O que teria acontecido?

Passaram-se meses e até mesmo anos. Mudou o rumo da vida, mudaram os trajetos que passamos a fazer, mas Vil-ma, vez ou outra, surgia nas conversas familiares. Até que um dia, na volta de um compromisso no bairro de Moema, debaixo de muita chuva... surpresa... lá estava ela no mesmo cruzamento.

– Olá!!! Vocês aqui!!! Quanto tempo!!! Que saudades!!!

A vivacidade era a mesma, os traços dos dias difíceis eram visíveis, mas a tenacidade também.

– Pensamos em você nesse tempo, como está?

– Tudo bom, meus amores, o filho vai bem, a saúde boa e a época é de diversificar. Continuo vendendo flores nos dias menos quentes e, agora, nos chuvosos, vendo guarda-chuvas.

– Ih! Abriu o sinal!

– Feliz em ver vocês, meus queridos, vão com Deus, amo vocês!!!!

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O BANDEIRANTE - Setembro de 2011 7 sUPLemeNto LIterÁrIo

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Trilogia Paciente

Marcos Gimenes Salun

I - Asilo

Acontecia nas noites sem lua e céu aberto, quando as estrelas eram muitas e pareciam brilhar mais. Sentavam-se os dois na varanda e de lá espiavam a escuri-dão. Calados, ouviam atentamente a noite, apenas murmurada entre a folhagem indevassável. Cada qual trancado em seus pensamentos, as mãos unidas com suavidade, apenas repousadas sobre o colo. Aguardavam com paciência o tempo se escoar, marcado pelo ritmo seco do relógio da sala. Espiavam o céu com olhos miúdos por detrás das lentes, e contavam os pontos luminosos que faiscavam.

Não diziam nada, pois não precisavam de palavras. Vez por outra um longo suspiro entrecortado revelava uma distante recordação. Nesses momentos voltavam os olhos um para o outro e sorriam ligeiramente cúmplices. E logo fitavam nova-mente a noite, que preenchia tudo. As pálpebras cansadas teimavam. Placidamente voltavam a se abrir, e nesses momentos era um tremor brando que conduzia os olhos de um aos do outro, ternos. Quanto tempo mais? Um ponto luminoso riscava o negrume do céu e desaparecia. Eles se recolhiam quando o silêncio da noite era preenchido por nove pancadas mais audíveis do relógio da sala.

II - Agonia

Alguns minutos mais e ela chegaria, silenciosa. Viria com sua calma rotineira, e se apossaria do quarto. E nada mudaria. Nem um só minuto passaria de forma diferente, sem a lentidão costumeira de vários meses. Uma réstia de sol percor-reria a mesma trajetória na parede, até que viesse a penumbra. E então a noite se instalaria. Ela entraria, silenciosa, um prato de sopa numa bandeja. Acenderia a luz fraca e se sentaria na banqueta ao lado da cama. Paciente, aguardaria que a boca trêmula e insegura rejeitasse a última colherada.

Faltaria o banho. Mais um lento ritual. Ela agiria com naturalidade incompre-ensível. Suas mãos estariam firmes e certas dos caminhos a percorrer. Nenhum desses caminhos mudaria. E depois novamente o leito. Eternamente igual e desbotado, qual seus olhos. Depois ela sairia lânguida e o deixaria a sós com a pegajosa escuridão. Infinita noite, que ainda assim talvez terminasse. E haveria uma insuportável expectativa de que viriam muitos outros minutos de um outro dia. E ele não seria novo. Apenas seria, até que a última réstia de sol caminhasse.

III - UTI

Nada. E aí disseram pra ela que ficasse quieta, senão poderia morrer. E ela pensou que todos morreriam um dia, mas também pensou que não queria que a sua morte fosse assim tão agora, numa hora dessas. Mas logo ficou quieta e somente pensou. Mas foi muito rápido que ela pensou nisso, porque em seguida já estava pensando noutra coisa. E nem ela mesma sabia no que estava pensando quando outro pensamento lhe veio à cabeça, e logo veio outro e mais outro, e assim todos os seus pensamentos foram acontecendo sem que ela pudesse se dar conta sobre o que pensava. Mas sabia que estava pensando. Nada.

Então veio um homem vestido de azul desbotado com uma cicatriz no rosto e ela pensou num homem que já vira um dia, igualzinho a ele na cicatriz e na roupa desbotando. E que não sorria. Sua boca não estava lá. Pensou onde estaria a boca do homem que já conhecia, e que não tinha boca para sorrir. Ela pensou que conhecia o homem de roupas iguais àquela, pois já tinha visto aquela falta de boca sem sorrir em algum lugar, mas não ficou muito tempo pensando nisso, pois o homem de azul sem cor e sem boca já não estava lá. Nada. Só um grande sol ofuscando seus olhos, que não ardiam. Não estava mais onde pensava estar. Pensava numa distância imensurável e ao mesmo tempo na proximidade das coisas à sua volta. Já não lhe diziam nada. Nada. E não era silêncio, ela sabia. Eram ruídos, músicas e vozes cacofônicas. E eram ao mesmo tempo nada, além da luz do sol que ofuscava. Nada. Já nem sabia se era, se estava ou levitava. Nada. Nem mais a luz do sol que ofuscava. Nem mesmo o homem desbotado e sem boca. Escuro. Nem mais os sons e ruídos daquele nada. Nem mais...

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Volto no tempo à minha infância. Desde que havíamos chegado a São Paulo, meus pais e eu morávamos no bairro do Paraíso. São Paulo era uma cidade pacata, bem provinciana e com uma população pequena. Olhávamos ao redor e vislumbravam-se matas, morros verdes e era possível assistir ao nascer e pôr do sol no horizonte. Não havia a poluição de hoje: poucos carros, ônibus e fábricas. Usava-se muito o bonde ou “carro elétrico” como diziam meus pais, ainda com as expressões de sua terra natal. Nas casas, as janelas com floreiras exibiam gerânios, flores que já não se veem mais. Será por causa do clima mudado ou foram passando de moda?

Os roubos mais comuns eram das roupas penduradas nos quintais e à noite ou da carteira surrupiada espertamente dos bolsos das calças, nos aglomerados pontos de ônibus ou bondes. Prédios altos só havia no centro, ou melhor, na “cidade”, que era como chamávamos o centro, resquícios dos tempos de província, de quando se vivia nos arredores. Era lá que se iam fazer compras, ao médico ou dentista ou então pagar mensalmente as contas na companhia de gás, de água, ou da luz na Light. Era na cidade que ficavam os restaurantes para comer fora, como se dizia antigamente.

Meu pai, engenheiro, trabalhava de dia num escritório de engenharia e à noite dava aulas de português numa escola mantida pela colônia portuguesa – Escolas da Colônia. Poderíamos dizer que era um precursor do Mobral e me lembro de meu pai contar que Isaurinha Garcia, cantora famosa na época, tinha sido sua aluna nessa escola.

Mas algo de que me recordo bem é a garoa daquele tempo. A garoa que caía no inverno como um nevoeiro per-sistente. Trazia muitas gripes e resfriados. Era um problema para as donas de casa quando ela vinha de surpresa à noite e molhava a roupa pendurada nos varais. Para sair era preciso agasalhar-se bem: capas, casacos chapéus, boinas, cachecóis e, se possível, galochas nos pés.

Minha mãe gostava de ir à reza do mês de Maria, na igreja de Santa Generosa, que não ficava muito longe de casa. Acontecia por todo o mês de maio, às dezenove e trinta, com orações e cantos em louvor a Nossa Senhora. Essa igreja ficava situada em uma praça do mesmo nome, rodeada de jardim. Praça e igreja desapareceram com a construção da Avenida 23 de Maio. Esta, na época trouxe um grande transtorno para muita gente, cujas casas foram desapropriadas. Um preço que se pagou pelas facilidades que trouxe para o trânsito de São Paulo. Essa igreja, derrubada, foi reerguida ali perto, na Avenida Bernardino de Campos. Infelizmente ficou tão entalada entre construções, que mal se vê.

Minha mãe não tinha com quem me deixar e assim todas as noites de maio íamos, ela e eu, para a igreja. Como numa deliciosa aventura, sem medo de sair de casa à noite, naquele tempo, lá íamos, mas preparadas para enfrentar a célebre garoa paulistana. Era uma chuva muito fina, quase invisível, mas que molhava e muito o chão, os gramados e os poucos carros que existiam. Era uma umidade terrível, mas, ao mesmo tempo, dava uma sensação de frescor. Eu achava lindo o halo muito brilhante formado de gotículas, ao redor das lâmpadas dos postes de iluminação pública. Era como se fosse uma magia de nuvens muito brancas ilu-minando a noite. Os gramados das praças amanheciam molhados e as rosas do nosso jardim, tombadas nos galhos pelo peso da água que caíra durante a noite.

Ao voltar para casa era preciso pôr chapéus, sapatos e guarda-chuvas para secar e tomar uma bebida bem quente para afugentar a gripe, perigo ameaçador naquele tempo.

São Paulo cresceu desmesuradamente. O clima mudou e muito. Já não temos mais a célebre garoa paulistana que era tão presente naquela época. Porém serviu de inspiração à dupla Tonico e Tinoco, e aos famosos Alvarenga e Ranchinho. Cantores famosos e populares a deixaram marcada no refrão de suas músicas: São Paulo da Garoa.

Garoa Paulistana1o Lugar na Categoria prosa da XI Jornada Médico-Literária Paulista

...Que pode registrar seus textos literários pelo correio?

É só encadernar o material (devidamente numerado e rubricado em cada pági-na) e preencher o Formulário de Requerimento para Registro (com assinatura exatamente igual à do Documento de Identidade).

A taxa a ser paga no Banco do Brasil corresponde atualmente a R$ 20,00.

A Fundação Biblioteca Nacional (cuja sede se encontra no Rio de Janeiro) arma-zena todos os livros e manuscritos definitivamente e tem representantes em vários Estados, sendo que o de São Paulo localiza-se na Rua General Júlio Marcondes Salgado 234, Campos Elíseos.

O site www.bn.br fornece detalhes para que estejamos protegidos em nossos direitos autorais.

Você Sabia?

Maria do Céu Coutinho Louzã