O Desenvolvimento Da Competencia Narrativa

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O DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA NARRATIVA NA APRENDIZAGEM HISTÓRICA: UMA HIPÓTESE ONTOGENÉTICA RELATIVA À CONSCIÊNCIA MORAL * JÖRN RÜSEN A aprendizagem histórica pode se explicar como um processo de mudança estrutural na consciência histórica. A aprendizagem histórica implica mais que um simples adquirir de conhecimento do passado e da expansão do mesmo. Visto como um processo pelo qual as competências são adquiridas progressivamente, emerge como um processo de mudança de formas estruturais pelas quais tratamos e utilizamos a experiência e conhecimento da realidade passada, passando de formas tradicionais de pensamento aos modos genéticos. 1 UMA NARRAÇÃO EM QUATRO VERSÕES O antigo Castelo de Col se encontra nas terras altas da Escócia. É a antiga residência dos chefes do clã Maclean e está ainda em posse de um membro da família, que vive no castelo. Em cima da muralha existe uma pedra gravada com a seguinte inscrição: "Se algum homem do clã Maclonish aparecer perante este castelo, mesmo que venha à meia-noite, com a cabeça de um homem em sua mão, encontrará aqui segurança e proteção contra tudo". * RÜSEN, Jorn. El desarrollo de la competência narrativa en el aprendiaje histórico. Una hipótesis ontogenética relativa a la conciencia moral. Revista Propuesta Educativa, Buenos Aires, Ano 4, n.7, p.27-36. oct. 1992.Tradução para o espanhol de Silvia Finocchio.. Tradução para o português por Ana Claudia Urban e Flávia Vanessa Starcke. Revisão da tradução: Maria Auxiliadora Schmidt.

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  • O DESENVOLVIMENTO DA COMPETNCIA NARRATIVA NA

    APRENDIZAGEM HISTRICA: UMA HIPTESE ONTOGENTICA

    RELATIVA CONSCINCIA MORAL*

    JRN RSEN

    A aprendizagem histrica pode se explicar como um processo de

    mudana estrutural na conscincia histrica. A aprendizagem histrica implica

    mais que um simples adquirir de conhecimento do passado e da expanso do

    mesmo. Visto como um processo pelo qual as competncias so adquiridas

    progressivamente, emerge como um processo de mudana de formas

    estruturais pelas quais tratamos e utilizamos a experincia e conhecimento da

    realidade passada, passando de formas tradicionais de pensamento aos

    modos genticos.

    1 UMA NARRAO EM QUATRO VERSES

    O antigo Castelo de Col se encontra nas terras altas da Esccia. a

    antiga residncia dos chefes do cl Maclean e est ainda em posse de um

    membro da famlia, que vive no castelo. Em cima da muralha existe uma pedra

    gravada com a seguinte inscrio: "Se algum homem do cl Maclonish

    aparecer perante este castelo, mesmo que venha meia-noite, com a cabea

    de um homem em sua mo, encontrar aqui segurana e proteo contra

    tudo".

    * RSEN, Jorn. El desarrollo de la competncia narrativa en el aprendiaje histrico. Una hiptesis ontogentica relativa a la conciencia moral. Revista Propuesta Educativa, Buenos Aires, Ano 4, n.7, p.27-36. oct. 1992.Traduo para o espanhol de Silvia Finocchio.. Traduo para o portugus por Ana Claudia Urban e Flvia Vanessa Starcke. Reviso da traduo: Maria Auxiliadora Schmidt.

  • O texto de um antigo tratado celebrado em Highlands em uma

    ocasio memorvel. Em um passado distante, um dos antepassados Maclean

    obteve do rei da Esccia uma concesso de terras que pertenciam a outro cl

    mas que as perdeu por haver ofendido ao rei. Maclean, acompanhado por sua

    esposa, avanou com uma fora armada de homem para tomar posse de suas

    novas terras. No confronto e batalha com o outro cl, Maclean foi derrotado e

    perdeu sua vida, no entanto sua esposa, grvida, caiu nas mos dos

    vencedores. O chefe do cl vitorioso transferiu para a famlia Maclonish a

    guarda da grvida, Lady Maclean, com uma condio especfica: se a criana

    nascida fosse um varo, deveria morrer imediatamente, se fosse uma menina,

    lhe seria permitido viver. A esposa Maclonish, que tambm estava grvida, deu

    a luz a uma menina quase ao mesmo tempo em que Lady Maclean deu a luz a

    um menino. Elas ento trocaram as crianas.

    O jovem Maclean, havendo sobrevivido a esta armadilha da sentena

    de morte que sobre ele pesava antes de nascer, recuperou com o tempo seu

    patrimnio original. Em agradecimento ao cl Maclonish determinou ento seu

    castelo como um lugar de refgio para qualquer membro daquela famlia que

    se encontrasse em perigo.

    Esta narrao de encontra no livro Journeu to the Western Islands of

    Scotland, de Samuel Jonson, publicado pela primeira vez em 1775.1 Minha

    inteno, com o presente trabalho, utilizar esta histria para demonstrar a

    natureza da competncia narrativa e suas diversas formas, e a importncia da

    competncia para a conscincia moral. Para aproximarmos de uma maneira

    mais concreta, permita-se imaginar esta narrao dentro de uma situao real

    onde se desafiam os valores morais, e onde seu uso e legitimao requerem

    argumentos embasados historicamente. Imagine que voc um membro do cl

    Maclean e vive atualmente no castelo de um ancestral. Uma noite escura, um

    membro do cl Maclonish permita-nos cham-lo de Ian bate a sua porta

    pedindo ajuda. Conta que a polcia o est seguindo em razo de um crime de

    cuja autoria o acusam. Como raciocinaria voc? O ajudaria a esconder-se da

    polcia ou decidiria por alguma outra ao?

    1 Samuel Johnson, a. Journey to the Western Islands of Scotland (New Haven and London, 1971), 133 ff. Trata-se de uma verso simplificada do conto.

  • Imagine que logo seja necessrio explicar a um amigo o que est

    acontecendo; e este amigo, que voc encontra por acaso, no conhece a

    narrao do cl. No importa que atitude tome a respeito de Ian Maclonish,

    voc ser obrigado a contar-lhe o relato dos bebs trocados, para fazer-se

    convincente (e assim interpretada) a situao em que voc se encontra e a

    deciso que deve tomar.

    Sua narrao da lenda do cl provavelmente ser diferente

    dependendo da natureza de sua deciso. Alm do mais, sua deciso original

    depende de sua prpria interpretao da antiga lenda do cl em relao s

    crianas trocadas.

    Assinalo, portanto, a existncia de quatro possibilidades para tal

    interpretao.

    1. Pode esconder Ian Maclonish porque sente que obrigao de sua

    parte honrar o antigo acordo de Highlands. Neste caso, dir a seu

    amigo que voc como um Maclean se sente obrigado a ajudar

    a Ian porque considera vigente a antiga narrao e ento existem

    ainda laos entre os cls. Voc passa a relatar a lenda dos bebs

    trocados com a inteno de esconder da polcia Ian Maclonish,

    para manter o antigo tratado do cl, renovando e continuando,

    dessa forma, a importncia da relao entre os grupos.

    2. Pode esconder Ian Maclonish, motivado por mltiplas razes.

    Assim, pode dizer que ajudou a Ian porque no passado um

    Maclonish uma vez ajudou a um membro do cl Maclean, e agora

    voc se sente obrigado a retribuir, com base no princpio da

    reciprocidade de favores. Ou pode dizer que o ajuda para cumprir a

    obrigao de um tratado entre os cls: porque os acordos devem

    ser mantidos como tais, ou seja, esto unidos pelo tratado. Logo

    conta a lenda concluindo com a observao de que a ajuda mtua

    ou a manuteno de um tratado entre os cls , para voc, um guia

    e um princpio moral, como j foi provado quando o beb foi salvo.

    3. Pode negar-se a esconder Ian Maclonish. Ento, primeiramente

    tem que explicar o pedido de auxlio para aquele, narrando o conto

    dos bebs e a pedra com a inscrio. Mas comenta a histria

    afirmando que no acredita, que meramente um "mito" ou uma

  • "lenda" desprovida de qualquer evidncia e validez

    comprometedora, o que no o obriga moralmente de nenhuma

    maneira. Tambm pode argumentar que desde a introduo do

    direito ingls moderno, aqueles antigos tratados teriam perdido a

    validade que uma vez tiveram e agora so letra morta. Neste caso,

    voc apresenta uma srie de argumentos histrico-crticos para se

    desculpar da obrigao de manter o antigo pacto. Portanto,

    argumenta historicamente para romper qualquer lao de unio

    entre voc e o cl Maclonish, o qual pode ter sido vlido e

    obrigatrio no passado.

    4. Pode se decidir a convencer Ian Maclonish de que intil se

    esconder da polcia e que seria melhor se entregar s autoridades.

    Voc, por sua vez, se compromete a fazer de tudo para ajud-lo,

    por exemplo, contratando o melhor advogado disponvel. Neste

    caso, voc narra o conto s crianas, mas o circunscreve

    agregando o seguinte argumento: o sistema legal se transformou

    muito desde o direito do cl da era pr-moderna at a poca

    moderna. Voc ainda se sente obrigado a ajudar algum do cl

    Maclonish, mas deseja faz-lo baseado em consideraes

    modernas e no como prescrevia o antigo pacto.

    Essa antiga narrao que nos fala, em quatro verses, dos Maclean,

    dos Maclonish e da troca dos bebs, nos proporciona o ponto de partida para

    mais argumentos. O conto indica a necessidade da conscincia histrica para

    tratar os valores morais e o raciocnio moral. Espero demonstrar que as quatro

    variantes representam quatro verses essenciais da conscincia histrica,

    mostrando quatro etapas de desenvolvimento por meio da aprendizagem.

    2 A RELAO ENTRE A CONSCINCIA HISTRICA, OS VALORES

    MORAIS E O RACIOCNIO

    Na situao representada em nossa narrao, devamos decidir por um

    curso de ao. Tal deciso dependia de valores. Esses valores so geralmente

  • princpios, guias de comportamento, ideias ou perspectivas chaves que

    sugerem o que deveria ser feito em uma situao determinada, em que existem

    vrias opes. Tais valores funcionam como fonte de arbitragem nos conflitos e

    como objetivos que nos guiam ao atuar.

    Que significado tem assinalar tais valores como "morais"? Nossas

    perspectivas se enquadram nesta ao sistematicamente, reconhecem a

    relao social dentro da qual vivemos e devem decidir um curso de ao a

    tomar. Elas expressam esta relao social como uma obrigao para ns,

    dirigindo-nos, assim, at a essncia de nossa subjetividade, recorrendo a

    nosso sentido de responsabilidade e nossa conscincia.

    Como entra a histria nesta relao moral entre nossa ao, nossa

    personalidade e nossas orientaes valorativas? A narrao esquematizada no

    princpio deste ensaio pode nos servir para proporcionar uma resposta: quando

    se supe que os valores morais guiem as aes que tomamos em uma dada

    situao, devemos relacionar os valores a essa situao, interpretar os

    mesmos e seu contedo moral com referncia realidade em que os

    aplicamos, e avaliar a situao nos termos de nosso cdigo de valores morais

    aplicveis. Para essa mediao entre valores e realidade orientada pela ao,

    a conscincia histrica um pr-requisito necessrio. Sem tal conscincia, no

    seramos capazes de entender por que Ian Malconish nos pediu para o

    escondermos da polcia. Sem tal conscincia como pr-requisito para a ao,

    seramos incapazes de analisar a situao e chegar a uma deciso plausvel

    para todas as partes envolvidas Ian, meu amigo que me visita, e eu como um

    Maclean.

    Mas, por que tem que ser a conscincia histrica um pr-requisito

    necessrio para a orientao em uma situao presente que demanda uma

    ao? Depois de tudo, tal conscincia por definio aponta para fatos do

    passado. A resposta simples que a conscincia histrica funciona como um

    modo especfico de orientao em situaes reais da vida presente: tem como

    funo ajudar-nos a compreender a realidade passada para compreender a

    realidade presente. Sem haver narrado previamente a antiga histria dos bebs

    trocados, seria impossvel explicar a meu amigo visitante a "situao atual" e

    justificar-lhe, que quer dizer legitimar, minha deciso. Alm disso, o poder

    explicativo da narrao serve para ensinar os elementos bsicos da situao,

  • no somente para quem est fora, como tambm para mim mesmo, um

    homem do cl Maclean, e para alguma outra parte implicada.

    Ento, o que especificamente histrico nesta explicao, nesta

    interpretao da situao e em sua legitimao? O histrico como orientao

    temporal une o passado ao presente de tal forma que confere uma perspectiva

    futura realidade atual. Isto implica que a referncia ao tempo futuro est

    contida na interpretao histrica do presente, j que essa interpretao deve

    permitir-nos atuar, ou seja, deve facilitar a direo de nossas intenes dentro

    de uma matriz temporal. Quando dizemos que nos sentimos forados ou

    obrigados pelo antigo tratado, definimos uma perspectiva futura em nossa

    relao com o cl Maclonish. O mesmo verdade em relao a todas as outras

    explicaes e justificativas histricas associadas a nossa deciso.

    Desejo extrair desse exemplo narrativo uma caracterstica geral da

    conscincia histrica e sua funo na vida prtica.2 A conscincia histrica

    serve como um elemento de orientao chave, dando vida prtica um marco

    e uma matriz temporais, uma concepo do "curso do tempo" que flui atravs

    dos assuntos mundanos da vida diria. Essa concepo funciona como um

    elemento nas intenes que guiam a atividade humana, "nosso curso de ao".

    A conscincia histrica evoca o passado como um espelho da experincia na

    qual se reflete a vida presente, e suas caractersticas temporais so, do mesmo

    modo, reveladas.

    Afirmado sucintamente, a histria o espelho da realidade passada na

    qual o presente aponta para aprender algo sobre seu futuro. A conscincia

    histrica deve ser conceituada como uma operao do intelecto humano para

    aprender algo neste sentido. A conscincia histrica trata do passado como

    experincia, nos revela o tecido da mudana temporal dentro do qual esto

    presas as nossas vidas, e as perspectivas futuras para as quais se dirige a

    2 Uma descrio sinttica pode ser encontrada em Karl Ernest Jeismann, Geschichtsbewusstsein, em K. Bergmann, a. Kuhn, J. Rsen, g. Schneider (eds). Handbuch der Geschichtdidaktik (Dsseldorf, 1985), pp.40-44; cfr. idem Geschichte als Horizont der Genenwrt. Uber den Zusammenbang von Vergagenheitsdeutung, Gegenwartsverstndnis und Zukunftsperspektive (paderborn, 1985,pg.53.

  • mudana. Nas palavras de Shakespeare: "como o destino zomba, e as

    mudanas chegam ao topo da transformao, com diversos licores".3

    A histria um nexo significativo entre o passado, o presente e o futuro

    no meramente uma perspectiva do que foi, wie es eighntlich gewesen.

    uma traduo do passado ao presente, uma interpretao da realidade

    passada via uma concepo de mudana temporal que abarca o passado, o

    presente e a perspectiva dos acontecimentos futuros. Esta concepo molda

    os valores morais a um "corpo temporal" (por exemplo, o corpo da validade

    contnua de um antigo tratado), a histria se reveste dos valores da experincia

    temporal. A conscincia histrica transforma os valores morais em totalidades

    temporais: tradies, conceitos de desenvolvimento ou outras formas de

    compreenso do tempo. Os valores e as experincias esto mediados e

    sintetizados em tais concepes de mudana temporal.

    assim que a conscincia histrica de um membro contemporneo do

    cl Maclean pode traduzir a ideia de moral pela qual os tratados so

    obrigatrios e devem ser cumpridos na forma concreta de um acordo presente,

    vlido para alm do tempo. A conscincia histrica mistura "ser" e "dever" em

    uma narrao significativa que refere acontecimentos passados com o objetivo

    de fazer inteligvel o presente, e conferir uma perspectiva futura a essa

    atividade atual. Desta forma, a conscincia histrica traz uma contribuio

    essencial conscincia tica moral. Os procedimentos criativos da conscincia

    histrica so necessrios para os valores morais e para a razo moral, como

    se a plausibilidade logica dos valores morais (em relao sua coerncia, por

    exemplo), se no mais, em relao prpria plausibilidade, no sentido de que

    os valores devem ter relao aceitvel com a realidade.

    A conscincia histrica tem uma funo prtica4: confere realidade

    uma direo temporal, uma orientao que pode guiar a ao

    intencionalmente, atravs da mediao da memria histrica. Pode-se chamar

    3 Henry IV, 2da. parte, ato III, cena I, II, pp.51-53

    4 Esta questo est discutida principalmente a partir de uma perspectiva estreita da funo dos estudos histricos na vida social, por exemplo, por Jrgen Kocka, Socialgeschichte. Begriff-Entwicklung-Probleme, 2. ed.pp. 112-113; cfr. Jrn Rsen, Lebendige Geschichte, Grundzge einer Historik III: Formen und Funktionen des Historischen Wisses (Gttingen, 1989).

  • a esta funo "orientao temporal". Essa orientao tem lugar em duas

    esferas da vida respectivamente a a) a vida prtica e b) a subjetividade interna

    dos atores. A orientao temporal da vida tem dois aspectos, um interno e

    outro externo. O aspecto externo da orientao por via da histria revela a

    dimenso temporal da vida prtica, descobrindo a temporalidade das

    circunstncias includas na atividade humana. O aspecto interno da orientao

    por via da histria revela a dimenso temporal da subjetividade humana,

    outorgando autocompreenso e conhecimento das caractersticas temporais

    dentro das quais aqueles tomam a forma de identidade histrica, ou seja, uma

    consistncia constitutiva das dimenses temporais da personalidade humana.

    Por meio da identidade histrica a personalidade humana expande sua

    extenso temporal, mais alm dos limites do nascimento e da morte, mais alm

    da mera mortalidade. Via esta conscincia histrica, uma pessoa se faz parte

    de um todo temporal mais extenso que em sua vida temporal.

    Assim, ento, o papel de um membro atual do cl Maclean pressupe

    uma identidade familiar histrica que se pode rastrear em um antigo perodo de

    batalhas entre cls pela concesso real de um territrio. Dando atualmente

    assistncia a Ian Maclonish afirmamos esta identidade, que significa ser um

    Maclean com respeito ao futuro. Um exemplo mais familiar de tal "imortalidade

    temporal" (assim pode ser caracterizada a identidade histrica) a identidade

    nacional. As naes frequentemente localizam suas fontes em um passado

    remoto e antigo, e projetam uma perspectiva de futuro ilimitado que engloba a

    prpria afirmao e desenvolvimento nacional.

    3 A COMPETNCIA NARRATIVA DA CONSCINCIA HISTRICA

    A forma lingustica dentro da qual a conscincia histrica realiza sua

    funo de orientao a da narrao. A partir desta viso, as operaes pelas

    quais a mente humana realiza a sntese histrica das dimenses de tempo

    simultaneamente com as do valor e da experincia se encontram na narrao:

  • o relato de uma histria5. Uma vez explicadas a forma narrativa dos

    procedimentos da conscincia histrica e sua funo como meio de orientao

    temporal, possvel caracterizar a competncia especfica e essencial da

    conscincia histrica e sua funo como meio de orientao temporal,

    possvel caracterizar a competncia especfica e essencial da conscincia

    histrica como "competncia narrativa"6. Essa competncia pode se definir

    como a habilidade da conscincia humana para levar a cabo procedimentos

    que do sentido ao passado, fazendo efetiva uma orientao temporal na vida

    prtica presente por meio da recordao da realidade passada. Esta

    competncia geral relativa a "dar sentido ao passado" pode ser definida em

    termos dos trs elementos que constituem juntos uma narrao histrica:

    forma, contedo e funo. Em relao ao contedo, pode-se falar de

    "competncia para a experincia histrica"; em relao forma, de

    "competncia para a interpretao histrica"; e em relao funo, de

    "competncia para a orientao histrica".

    a) A conscincia histrica se caracteriza pela "competncia de

    experincia". Esta competncia supe uma habilidade para ter

    experincias temporais. Implica a capacidade de aprender a olhar o

    passado e resgatar sua qualidade temporal, diferenciando-o do

    presente. Uma forma mais elaborada de tal competncia a

    "sensibilidade histrica". No fim de nossa narrao, a

    competncia para entender a pedra na muralha do castelo Maclean

    e a necessidade de prestar ateno na inscrio, quer dizer, que

    contm informao importante para os membros da famlia

    Maclean.

    5 Cfr.H. White, Metahistory. The historical Imagination in Nineteenth Century Europe. (Baltimore, 1973); J. Rsen, Historische Vernunft Grundzge einer Historik I: Die Grundlagen der Gerschichtwissenchaft(Gttingen,1983);Paul Ricoeur, Temps et Rcit ,3 vols. (Paris,, 1983,1984,1985); David Carr, Time, Narrative and History.(Bloomington, 1986).

    6 Esbocei um plano geral acerca de uma teoria da competncia narrativa relacionada aos principais objetivos da aprendizagem histrica em Anzte zu einer Theorie des historichen Lernens,in Gechichdidaktik 10 (1985); pp.249-265, 12 (1987), pp.15-27.

  • b) A conscincia histrica se caracteriza posteriormente pela

    "competncia de interpretao". Esta competncia a habilidade

    para reduzir as diferenas de tempo entre o passado, o presente e

    o futuro atravs de uma concepo de um todo temporal

    significativo que abarca todas as dimenses de tempo. A

    temporalidade da vida humana funciona como um instrumento

    principal desta interpretao, desta traduo de experincias da

    realidade passada a uma compreenso do presente e a

    expectativas em relao ao futuro. Essa concepo se encontra na

    essncia da atividade significativo-criativa da conscincia histrica.

    a fundamental "filosofia da histria" ativa dentro das atividades

    significativo-criativas da conscincia histrica, que marca todo

    pensamento histrico.

    No trmino de nossa narrao, implica a competncia para integrar

    o acontecimento da troca dos bebs em um conceito de tempo que

    une aquele antigo perodo com o presente, dando a este complexo

    uma significao de peso histrico para os Maclean em sua relao

    com os Maclonish. Essa concepo pode ser materializada na

    noo de validade indestrutvel do tratado, ou na evoluo do

    direito de uma forma pr-moderna a sua manifestao moderna.

    c) A conscincia histrica, finalmente, se caracteriza pela

    "competncia de orientao". Esta competncia supe ser capaz

    de utilizar o todo temporal, com seu contedo de experincia, para

    os propsitos de orientao da vida. Implica guiar a ao por meio

    das noes de mudana temporal, articulando a identidade

    humana com o conhecimento histrico, mesclando a identidade no

    enredo e na prpria trama concreta do conhecimento histrico. O

    fim da narrao de Highlands supe a habilidade de utilizar a

    interpretao do tratado para analisar a situao presente e

    determinar um curso de ao, ou seja, dizer se vai ou no

    esconder Ian, ou ajud-lo de qualquer outra forma, e legitimar esta

    deciso em cada instncia usando uma "razo histrica boa"

    relativa identidade de um membro do cl Maclean.

  • 4 QUATRO TIPOS DE CONSCINCIA HISTRICA

    Na parte anterior, tentou-se explicar as operaes bsicas da conscincia

    histrica, sua relao com a conscincia moral e suas principais competncias.

    A

    parte final desse texto trata do seu desenvolvimento.

    As diferentes teorias de desenvolvimento da conscincia moral,

    elaboradas e empiricamente confirmadas por pensadores como Piaget,

    Kohlberg e outros, so habituais na literatura sobre o desenvolvimento

    cognitivo.7 Minha inteno aqui propor uma teoria anloga de

    desenvolvimento concernente realidade ou moral e atividade atravs de

    um ato narrativo: o relato de uma histria de fatos passados.

    Para encontrar as etapas de desenvolvimento estrutural na conscincia

    histrica, necessrio, antes de tudo, distinguir as estruturas bsicas dentro

    dos processos concernentes construo do sentido histrico do passado.

    Proponho explicar estas estruturas bsicas na forma de uma tipologia geral do

    pensamento histrico. Esta tipologia abarca conceitualmente o campo completo

    de suas manifestaes empricas, e, portanto, pode ser utilizada para o

    trabalho comparativo na historiografia incluindo comparaes interculturais.8

    A tipologia j est implcita nos quatro modos diferentes de

    argumentao histrica apresentados brevemente em relao ao pedido de Ian

    Maclonish para se esconder da polcia. Qual ento o significado tipolgico

    desses quatro modos?

    7 Jean Piaget, Das moralische Bewusstsein beim Kinde (Franckfurt/Mein, 1973); Lawrence Kohlperg, Zur Kognitiven Entwicklung des Kindes (Frankfurt/Main, 1974); cfr.R.N.Hallan, Piaget and thinking in History, in Marin Ballard (ed.) New Movements in the study and Teaching History (London, 1970), 162-178.,

    8 Para uma explicao mais detalhada desta tipologia, ver Jrn Rsen, Dier vier Typen des historischen Erzhlens, in Reinhart Koselleck, Hainrich Lutz, Jrn Rsen (eds), Formen der Geschitsschereibung (Betrge zur Historik, 4 (Munich, 1982), pp.514-605; J. Rsen Lebendige Geschichte, Grundzge einer Historik III, part I; idem, Historical Narration: Foundation, Types, Reason, History and Theory, Beihelf 26, in The Representations of Historical Events (1987), pp.87-97.

  • Meu ponto de partida a funo da narrao histrica. Como j foi

    mencionado, essa narrao tem a funo geral de servir para orientar a vida

    prtica no tempo. Mobiliza a memria da experincia temporal, desenvolvendo

    a noo de um todo temporal abrangente, e confere uma perspectiva temporal

    interna e externa vida prtica.

    A conscincia histrica realiza esta funo geral em quatro formas

    diferentes, baseadas em quatro princpios distintos para a orientao temporal

    da vida: a) a afirmao das orientaes dadas, b) a regularidade dos modelos

    culturais e dos modelos de vida (Lebensformen), c) a negao e d) a

    transformao doszur modelos de orientao temtica. Todos estes so

    trazidos via a mediao da memria histrica.

    Existem seis elementos e fatores de conscincia histrica atravs dos

    quais se pode descobrir estes tipos: 1) seu contedo, ou seja, a experincia

    dominante do tempo, trazida desde o passado; 2) as formas de significao

    histrica, ou as formas de totalidades temporais, 3) o modo de orientao

    externa, especialmente em relao s formas comunicativas da vida social; 4)

    o modo de orientao interna, particularmente em relao identidade histrica

    como a essncia da historicidade no conhecimento da personalidade humana e

    a autocompreenso; 5) a relao de orientao histrica com os valores

    morais; 5) sua relao com a razo moral (ver quadro 1).

    QUADRO 1 - OS QUATRO TIPOS DE CONSCINCIA DA HISTRIA

    TRADICIONAL EXEMPLAR CRTICA GENTICA

    Experincia do tempo

    Origem e repetio de um modelo cultural e de vida obrigatria

    Variedade de casos representativos de regras gerais de conduta ou sistemas de valores

    Desvios problematizadores dos modelos culturais e de vida atuais

    Transformaes dos modelos culturais e de vida alheios em outros prprios e aceitveis

    Formas de significao histrica

    Permanncia dos modelos culturais e de vida na mudana temporal

    Regras atemporais de vida social. Valores atemporais

    Rupturas das totalidades temporais por negao de sua validade

    Desenvolvimento nos quais os modelos culturais e de vida mudam para manter sua permanncia

    Orientao da vida exterior

    Afirmao das ordens preestabelecidas por acordo ao redor de um modelo de vida comum e vlido para todos

    Relao de situaes particulares com regularidades que se atm ao passado e ao futuro

    Delimitao do ponto de vista prprio frente s obrigaes preestabelecidas

    Aceitao de distintos pontos de vista em uma perspectiva abrangente do desenvolvimento comum

    Orientao da vida interior

    Sistematizao dos modelos culturais e de vida por imitao role-playing

    Relao de conceitos prprios a regras e princpios gerais.

    Legitimao do papel por generalizao

    Autoconfiana na refutao de obrigaes externas role-playing

    Mudana e transformao dos conceitos prprios como condies necessrias para a permanncia e a autoconfiana

    Equilbrio de papis

    Relao com os valores morais

    A moralidade um conceito preestabelecido

    A moralidade a generalidade da

    Ruptura do poder moral dos valores pela

    Temporalizao da moralidade. As

  • de ordens obrigatrias; a validade moral inquestionvel.

    Estabilidade por tradio

    obrigao dos valores e dos sistemas de valores

    negao de sua validade

    possibilidades de um desenvolvimento posterior se convertem em uma condio de moralidade

    Relao com o raciocnio moral

    A razo subjacente aos valores um suposto efetivo que permite o consenso sobre questes morais

    Argumentao por generalizao, referncia a regularidades e princpios

    Crtica dos valores e da ideologia como estratgia do discurso moral

    A mudana temporal se converte em um elemento decisivo para a validade dos valores morais

    Esquema da tipologia:

    a) O tipo tradicional

    As tradies so elementos indispensveis de orientao dentro da

    vida prtica, e sua negao total conduz a um sentimento de desorientao

    massiva. A conscincia histrica funciona em parte para manter vivas essas

    tradies.

    Quando a conscincia histrica nos prov de tradies, nos faz

    recordar as origens e a repetio de obrigaes, fazendo-o em forma de

    acontecimentos passados de concretizao ftica que demonstram o atributo

    de validade e obrigatoriedade dos valores e dos sistemas de valores. Tal pode

    ser exemplificado quando, no caso dos membros do cl Maclean, sentimos

    uma relao de obrigao com um antigo tratado.

    Em tal aproximao, tanto nossa interpretao do que ocorreu no

    passado, como nossa justificativa para esconder a Ian Maclonish, so

    "tradicionais". Alguns outros exemplos dessa "tradio" so os discursos

    comemorativos pblicos, os monumentos pblicos, ou inclusive as histrias

    privadas narradas entre as pessoas com o propsito de consentir sua relao

    pessoal. Assim, tanto voc como sua esposa estaro "apaixonados" da

    narrao que descreve como chegaram a se apaixonar se, claro, vocs

    ainda se amam.

    As orientaes tradicionais apresentam a totalidade temporal que faz

    significativo o passado e relevante a realidade presente e a sua extenso futura

    como uma continuidade dos modelos de vida e os modelos culturais pr-

    escritos alm do tempo.

    As orientaes tradicionais guiam externamente a vida humana por

    meio de uma afirmao das obrigaes que requerem consentimento. Essas

    orientaes tradicionais definem a "unidade" dos grupos sociais ou das

  • sociedades em seu conjunto, entretanto mantm o sentimento de uma origem

    comum.

    Em relao orientao interna, essas tradies definem a identidade

    histrica, a afirmao dos modelos culturais predeterminados de autoconfiana

    e autocompreenso. Enquadram a formao da identidade como um processo

    no qual se assumem e se atuam as relaes. A orientao histrica tradicional

    define a moral como tradio. As tradies expressam a moral como uma

    estabilidade inquestionada de Lebensformen, de modelos de vida e modelos

    culturais alm do tempo e de suas vicissitudes.

    Em relao ao raciocnio moral, as tradies so razes que sustentam

    e asseguram a obrigao moral dos valores. Se a vida prtica se orienta

    predominantemente em termos de tradies, a razo que molda os valores se

    encontra na permanncia de sua realidade na vida social, uma permanncia

    que a histria ajuda a trazer a nossa memria.

    b) O tipo exemplar

    No so as tradies que utilizamos aqui como argumento, mas as

    regras. A histria das lutas entre os cls e a troca dos bebs exemplificam aqui

    uma regra geral atemporal: nos ensina que curso de ao tomar e o que

    devemos evitar fazer.

    Aqui a conscincia histrica se refere experincia do passado na

    forma de casos que representam e personificam regras gerais de mudana

    temporal e a conduta humana. O horizonte da experincia temporal se expande

    de forma significativa neste modo de pensamento histrico. A tradio se move

    dentro de um marco de referncia emprica bastante estreito, mas a memria

    histrica estruturada em termos de exemplos est aberta para processos em

    nmero infinito de acontecimentos passados, desde o momento em que estes

    no possuem relao com uma ideia abstrata de mudana temporal e de

    conduta humana, vlido para todo o tempo, ou ao menos cuja validade no

    est limitada a um acontecimento especfico.

    O modelo de significao que corresponde aqui tem a forma de regras

    atemporais. Nesta concepo a histria vista como uma recordao do

    passado, como uma mensagem ou lio para o presente, como algo didtico:

    historiae vitae maestrae uma mxima tradicional na tradio historiogrfica

  • ocidental.9 Ela nos ensina as normas, sua derivao de casos especficos e

    sua aplicao.

    O modo de orientao realizado pela conscincia histrica neste tipo

    de exemplo est focado na regra: implica a aplicao de regras comprovadas e

    derivadas historicamente de situaes atuais. Muitos exemplos clssicos da

    historiografia na variedade de culturas diversas refletem este tipo de

    significao histrica. Na antiga tradio chinesa, o melhor exemplo o

    clssico de Suma-Kuang, Tzuchih t'ung-chien (Um espelho para o governo).

    Seu prprio ttulo indica como concebe o passado como exemplo: a moral

    poltica se ensina na forma de casos de governo que tiveram xito ou

    sucumbiram.

    Em relao orientao interna da vida, o pensamento histrico

    exemplar relaciona as atividades da vida s regras e princpios, e tem como

    funo legitimar tais atividades atravs do raciocnio abstrato. A identidade

    histrica o marco dado de sensatez (prudncia). Sua matria a

    competncia dada a resultar regras gerais de casos especficos e aplic-los a

    outros casos. Procedendo deste modo, tal forma de conscincia histrica faz

    uma contribuio significativa ao raciocnio moral. O pensamento histrico

    exemplar revela a moralidade de um valor ou de um sistema de valores,

    culturalmente materializados na vida social e pessoal, atravs da

    demonstrao de sua generalidade: ou seja, que tem uma validade que se

    estende a uma gama de situaes. Conceitua-se a moral como possuindo

    validade atemporal.

    A contribuio deste modo de interpretao histrica ao raciocnio

    moral clara: a histria ensina o argumento moral por meio da aplicao de

    princpios a situaes concretas e especficas, tais como um golpe na porta por

    um membro do cl Maclonish ao cair da noite.

    c) O tipo crtico

    O argumento decisivo na verso crtica de nossa narrao que, como

    um membro do cl Maclean, ns no sentimos obrigao nenhuma frente ao

    9 Cfr. R. Kosselleck, Historia Magistra vitae. Uber die auflsung des Topos Im Horizont neuzeitlich bewegter Geschichte, in idem Vergangene Zukunft. Zur Semantik geschichtlicher Zeiten ( Frankfurt/Main, 1979, pp.38-66).

  • suposto atributo de "obrigatrio". Para ns, um velho conto que perdeu toda a

    relevncia para a ao presente e a realidade. No entanto, isto no

    automaticamente assim: como um Maclean, somos de certo modo parte desta

    histria, a antiga pedra contm certamente sua inscrio na muralha. Assim,

    devemos apresentar uma nova interpretao que por meio do raciocnio

    histrico negue a validade do tratado.

    A maneira mais fcil declarar que o conto falso. Para ser

    convincente, devemos reunir a evidncia e isto requer que nos voltemos

    argumentao histrica crtica estabelecendo que plausvel a conteno

    entretanto no existem razes histricas que pudessem nos motivar a oferecer

    ajuda a Ian Maclonish.

    Podemos desenvolver uma crtica ideolgica, afirmando que houve

    uma armadilha no meio de tudo: uma armao dos Maclonish para manter os

    Maclean em uma espcie de dependncia moral sobre eles. Podemos

    argumentar tambm que naquele antigo perodo estava proibido assassinar

    bebs, que o motivo piv sobre o qual gira a histria. Tal argumentao se

    baseia em oferecer elementos de uma "contranarrao" quela gravada na

    pedra. Por meio dessa "contranarrao" podemos desmascarar uma histria

    determinada como um engano, desprestigi-la como uma informao falsa.

    Podemos argumentar tambm de outra forma, afirmando que o tratado gravado

    na pedra perdeu sua validade atual, desde o momento em que novas formas

    de direito emergiram desde ento. Logo, podemos narrar uma "contra-histria"

    breve, por exemplo, a histria de como as leis mudaram com o passar do

    tempo.

    Quais so as caractersticas gerais de tal modo de interpretao

    histrica? Aqui a conscincia histrica busca e mobiliza uma classe especfica

    de experincia do passado: a evidncia prevista pelas "contranarraes",

    desvios que tornam problemticos os sistemas de valores presentes e os

    Lebensformen.

    O conceito de uma totalidade temporal abrangente que inclui o

    passado, o presente e o futuro envolve, deste modo, algo negativo: a noo de

    uma ruptura na continuidade ainda operativa da conscincia. A histria

    funciona como a ferramenta com a qual se rompe, "se destri", se decifra tal

  • continuidade para que perca seu poder como fonte de orientao no

    presente.

    As narraes deste tipo formulam pontos de vista histricos,

    demarcando-os, distinguindo-os das orientaes histricas sustentadas por

    outros. Por meio dessas histrias crticas dizemos 'no' s orientaes

    temporais predeterminadas de nossa vida.

    Em relao a ns e a nossa prpria identidade histrica, tais histrias

    crticas expressam uma negatividade; o que no queremos ser. Proporcionam-

    nos uma oportunidade para nos definirmos como no refns de papis e

    formas prescritas, predefinidas de autocompreenso. O pensamento histrico-

    crtico aclara o caminho para a constituio da identidade pela fora da

    negao.

    Sua contribuio aos valores morais se encontra em sua crtica dos

    valores. Desafia moral apresentando o seu contrrio. As narraes crticas

    confrontam os valores morais com a evidncia histrica de suas origens ou

    consequncias imorais. Por exemplo, as feministas modernas criticam o

    princpio da universalidade moral. Alegam que isso nos leva a considerar a

    natureza do "outro" nas relaes sociais a favor de uma universalizao

    abstrata dos valores como condio suficiente de sua moralidade. Afirmam que

    tal "universalizao" completamente parcial e ideolgica, servindo para

    estabelecer a regra do homem como uma norma humana geral, e que faz caso

    omisso da singularidade atravs do gnero do homem e da mulher como

    condio necessria da humanidade.10

    O pensamento histrico-crtico injeta elementos de argumentao

    crtica ao raciocnio moral. Pe em questo a moral apontando a relatividade

    cultural nos valores, que contrasta com uma universalidade suposta e

    aparente, descobrindo os fatores da condio temporal que contrasta com uma

    validade atemporal falsa. Confronta as solicitaes de validade com a

    evidncia baseada na mudana temporal: o relativo poder das condies e

    consequncias histricas. Em sua variante mais elaborada, apresenta um

    raciocnio moral como uma crtica ideolgica da moral. Dois exemplos clssicos

    10 Cfr. Seyla Benhabib, The generalized and the Concrete Other: Visions of the autonomous Self, in Praxis International, vol. 5, 4 (1986), pp. 402-424.

  • de tal empresa so a crtica de Marx aos valores burgueses11 e a Genealogia

    da Moral de Nietzsche.12

    d) O tipo gentico

    No centro dos procedimentos para dar sentido ao passado encontra-se

    em si mesmo a mudana. Nesta estrutura, nosso argumento que "os tempos

    mudam": nos opomos assim opo de esconder a Ian devido a razes

    tradicionais ou exemplares e opo de negar criticamente a obrigao que

    impe esta velha histria como uma razo para no escond-lo. Pelo contrrio,

    aceitamos a histria mas a localizamos em uma estrutura de interpretao

    dentro da qual o tipo de obrigao em relao a acontecimentos passados

    mudou, de uma forma pr-moderna para uma forma moderna de moral. Aqui a

    mudana a essncia e o que d histria seu sentido. Assim, o velho tratado

    perdeu sua validade principal e tomou uma nova; em consequncia, nosso

    comportamento necessariamente difere agora do que teria sido no passado

    distante: se constri dentro de um processo de desenvolvimento dinmico.

    Portanto, escolhemos ajudar a Ian Maclonish, mas de maneira

    diferente prefigurada no tratado preservado na pedra da muralha de nosso

    castelo. Permitimos que a histria faa parte do passado; no entanto, ao

    mesmo tempo, lhe concedemos outro futuro. A mudana propriamente dita

    que d sentido histria. A mudana temporal se despojou de seu aspecto

    ameaador e se transformou no caminho no qual esto abertas as opes para

    que a atividade humana crie um novo mundo. O futuro supera, excede

    efetivamente o passado em seu direito sobre o presente, um presente

    conceituado como uma interseco, um n intensamente temporal, uma

    transio dinmica. Esta a forma refinada de uma espcie de pensamento

    histrico moderno marcado pela categoria de progresso, ainda que tenha sido

    arrojado por uma dvida radical pelas intimaes da ps-modernidade,

    pensadas por certo segmento da elite intelectual contempornea.

    11 Sobre Direitos Humanos e Civis ver seu ensaio Zur Judenfrage, in Karl Marx, Friedrich Engels, Werke, 1 (Berlin-GDR-1964).

    12 Friedrich Nietzche, Zur Genealogie der Moral (1887), in idem , Werke in drei Banden, ed. K. Schlechta (Munich, 1955), pp. 761-900.

  • Neste modelo a memria histrica prefere representar a experincia da

    realidade passada como acontecimentos mutveis, nos quais as formas de

    vida e de cultura distantes evoluem em configuraes "modernas" mais

    positivas.

    Aqui a forma dominante de significao histrica a do

    desenvolvimento, em que as formas mudam em ordem, paradoxalmente, para

    manter seu prprio desenvolvimento. Assim, a permanncia toma uma

    temporalidade interna, tornando-se dinmica. Ao contrrio, a permanncia

    atravs da tradio, por regras atemporais exemplares, pela negao crtica

    isto , a ruptura da continuidade , so todas essencialmente de natureza

    esttica.

    Esta forma de pensamento histrico v a vida social em toda a

    abundante complexidade de sua temporalidade absoluta.

    Diferentes pontos de vista podem ser aceitos porque se integram em

    uma perspectiva abrangente de mudana temporal. Voltando a nossa narrao,

    ns, como o moderno Maclean, ansioso por persuadir ao moderno Maclonish

    de que seria mais sbio para ele entregar-se polcia, e ento aceitar nossa

    ajuda. Suas expectativas e nossa reao devem se cruzar. E cremos que essa

    interseco parte da interpretao histrica dentro da qual tratamos a

    situao atual. Este reconhecimento mtuo parte da perspectiva futura que

    herdamos do passado atravs de nossa deciso no presente, no para

    oferecer a ele refgio, mas para ajud-lo de uma maneira que acreditamos ser

    mais coerente com o teor de nossa poca: "Conheo um bom advogado".

    Em relao a nossa autocompreenso e autoconfiana, este tipo de

    conscincia histrica permeia a identidade histrica com uma temporalizao

    essencial. Nos definimos estando em uma encruzilhada, uma superfcie de

    contato de tempo e de fatos, permanentemente em transio. Para continuar

    sendo o que somos, para no evoluir e mudar, nos parece como um modo de

    autoperda, uma ameaa a nossa identidade13. Nossa identidade est em nossa

    incessante mudana.

    13 Uma das obras de Bertold Brecht, Stories of Mr. Keuner ilustra isto maravilhosamente: a man who hadnt seen Mr., Keuner for a long time greeted him with the remark: You dont look any different at all. Oh!, said Mr. Keuner, and turned pale. Brecht, Gesammelte Werke, 12 (Frankfurt/Main, 1967), p. 383.

  • Dentro do horizonte desta classe de conscincia histrica, os valores

    morais se temporizam, a moral se despoja de sua natureza esttica. O

    desenvolvimento e a mudana pertencem moral dos valores conceituada em

    termos de uma pluralidade de pontos de vista, e a aceitao da concreta

    caracterstica de "outro", do no semelhante, e a mtua aceitao daquele

    "outro", como a noo dominante de valor moral.

    De acordo com esta temporalizao como um princpio, o raciocnio

    moral depende aqui essencialmente do argumento da mudana temporal como

    necessria ou decisiva para estabelecer a validade dos valores morais.

    Portanto, um indivduo pode se movimentar desde a etapa final no esquema

    kolbergiano do desenvolvimento da conscincia moral at o estgio mais

    avanado: os princpios morais incluem sua transformao dentro de um

    processo de comunicao. aqui onde eles se realizam concretamente e

    individualmente, engendrando diferenas; estas, por sua vez, ativam

    procedimentos de reconhecimento mtuo, mudando a forma moral original.

    Uma fascinante ilustrao deste estado da argumentao moral, que no se

    pode elaborar no contexto deste ensaio, o exemplo das relaes entre os

    sexos. A ideia dos Direitos Humanos Universais outro exemplo claro que

    demonstra a plausibilidade desta forma gentica de argumentao em relao

    aos valores morais.14

    Esta Tipologia se entende como uma ferramenta metodolgica e

    investigativa para a investigao comparativa. Na medida em que a moral est

    conectada com a conscincia histrica, podemos usar esta matriz tipolgica

    para ajudar a categorizar e caracterizar as peculiaridades culturais e as

    caractersticas nicas dos valores morais e os modos de raciocnio moral em

    diferentes pocas e cenrios. Desde o momento em que os elementos dos

    quatro tipos esto operativamente mesclados no processo que d vida

    prtica uma orientao histrica no tempo, podemos reconstruir as complexas

    relaes entre estes elementos para determinar com preciso e definir a

    14 Cfr. Ludger Khnhardt, Die Universalitt der Menschnrechte. Studie zur ideengeschichtlichen Schulsselbergriffs (Munich, 1987); J. Rsen, Menchen-und Brgerrechte als historische Orienterung, in Klaus Frlhlich, Jrn Rsen (eds), Revolutionen und Menschenrechte. Historische Interpretationem, didaktishe Konzepte, Unterrichtsmaterialien (Plaffenwiler, 1989).

  • especialidade estrutural das manifestaes empricas da conscincia histrica

    e sua relao com os valores morais.15

    5 O DESENVOLVIMENTO DAS COMPETNCIAS NARRATIVAS

    No minha inteno aqui focalizar o mtodo comparativo em

    historiografia. Pelo contrrio, desejo fazer uso da tipologia para construir uma

    teoria do desenvolvimento ontogentico da conscincia histrica. Tal teoria

    familiar desde os estudos psicolgicos sobre o desenvolvimento cognitivo,16

    mas segundo o que sei no houve at agora nenhuma tentativa sria para

    acrescentar esta perspectiva psicolgica investigando a conscincia histrica e

    suas competncias cognitivas. Desde o momento em que a conscincia

    histrica pode ser conceituada como uma sntese entre a conscincia temporal

    e moral, poder-se-ia supor que desenvolver uma teoria gentica da conscincia

    histrica fosse um assunto relativamente simples. Infelizmente, no entanto,

    encontramos que Piaget e seus seguidores perseguiram a categoria de tempo

    apenas dentro do marco terico das cincias naturais17, permanecendo de tal

    modo seu trabalho basicamente mudo com relao a questes da conscincia

    histrica.

    Para embarcar em uma investigao sobre a conscincia histrica e

    sua relao essencial com a conscincia moral, necessrio primeiramente

    esclarecer as bases, isto , um marco terico que deva ser construdo e que

    defina o campo de ao e explique em termos conceituais quais so as

    questes bsicas a analisar. Sou da opinio de que a tipologia acima

    esquematizada pode servir efetivamente para tal propsito. Isto assim porque

    revela e define fundamentalmente os procedimentos da conscincia histrica,

    15 Uma interessante contribuio a essa comparao com respeito historiografia na China Hu Chang-tze Deutsche Ideologie und politische Kultur Chinas. Eine Studie zum sonderwergsgedanken der chinessischen Bildungselite 1920-1940 (Bochum, 1983).

    16 Cfr. nota 7. Para complementar, ver Hans G.Furth, Piaget and Knowledge. Theorethical Foudantions (Englewood Cliffs, New Jersey, 1969).

    17 Jean Piaget, Die Bildung des Zeitbewusstseins beim Kinde.(Frankfur-Main, 1974).

  • inclusive dando algumas noes bsicas do que poderia implicar o

    desenvolvimento da conscincia histrica.

    Que conceitos de desenvolvimento podem de fato ser oriundos da

    tipologia? Podemos nos aproximar de uma resposta ordenando logicamente os

    tipos em uma sequncia definida pelo princpio da precondio?

    O tipo tradicional 'a' primrio e no pressupe outras formas de

    conscincia histrica. No entanto, constitui a condio para os outros tipos. a

    fonte, o comeo da conscincia histrica. Na sequncia lgica de tipos,

    entretanto, cada um a precondio para o prximo: tradicional, exemplar,

    crtico, gentico. Ainda que esta sequncia esteja baseada em critrios lgicos,

    pode ter aplicaes empricas, e existe razo para supor que tambm uma

    sequncia estrutural no desenvolvimento da conscincia histrica.

    1. Primeiramente, a sequncia implica uma crescente complexidade.

    As etapas na evoluo humana tambm podem ser descritas em

    termos de uma crescente capacidade para ordenar a

    complexidade.

    2. O crescimento em complexidade pode ser especificado e

    diferenciado seguindo a ordem lgica das precondies. Assim, a

    extenso da experincia e o conhecimento da realidade passada

    se expandem enormemente quando o indivduo se move do modo

    tradicional ao exemplar. O tipo crtico requer uma nova qualificao

    da experincia temporal baseada nas distines entre "meu prprio

    tempo" e "o tempo dos outros". Finalmente, o tipo gentico vai alm

    desta qualidade pela temporalizao do tempo em si mesmo, isto

    , "meu prprio tempo" dinmico, mutvel, instvel, assim como

    "o dos outros".

    3. H tambm um crescimento em complexidade com respeito s

    formas de significao histrica. No existe uma diferena

    relevante entre fato e significado na forma da conscincia histrica

    tradicional. Divergem na conscincia histrica exemplar. Na forma

    crtica, o significado em si mesmo muda, intensificando-se mais

    ainda numa complexa diferenciao dentro do tipo gentico.

    4. Isto igualmente certo quando vai ao grau de abstrao e

    complexidade das operaes lgicas.

  • 5. Existe tambm uma crescente complexidade da orientao interna

    e externa. Na orientao externa, pode-se demonstrar pela

    maneira como a conscincia histrica caracteriza a vida social; as

    tradies so exclusivistas, apresentam seus prprios modos de

    vida e de cultura como os Lebensformen unicamente aceitveis. O

    pensamento exemplar amplia isto atravs da generalizao,

    enquanto o pensamento crtico elabora pontos de vista e

    delimitaes baseados na crtica. O pensamento gentico aclara a

    base temporal para um pluralismo de vises.

    6. Transitando atravs das sries tipolgicas, h uma complexidade

    crescente em relao identidade histrica. Comea com a

    inquestionada forma da autocompreenso histrica impressa pela

    tradio e que se estende at o frgil balano gerado pelas formas

    genticas multidimensionadas e multilaterais.

    Meus argumentos foram aqui principalmente tericos, mas me

    parece que h certa quantidade de evidncia emprica para

    sustentar a hiptese de que a conscincia histrica segue a ordem

    tipolgica esquematizada aqui em sua evoluo.

    7. As observaes dirias demonstram que os modos tradicionais e

    exemplares de conscincia histrica esto bastante estendidos e

    se podem encontrar com frequncia; os modos crticos e genticos,

    pelo contrrio, so mais raros. Este fato se correlaciona com o grau

    de educao e conhecimentos e com o progresso do intelecto

    humano at competncias mais complexas.

    8. A experincia de ensinar histria em escolas indica que as formas

    tradicionais de pensamento so mais fceis de aprender, a forma

    exemplar domina a maior parte dos currculos de histria, as

    competncias crticas e genticas requerem um grande esforo por

    parte dos docentes e do aluno.

    6 OBSERVAES EMPRICAS ACERCA DA APRENDIZAGEM

    HISTRICA E A INVESTIGAO EMPRICA

  • Como resumo, eu gostaria de voltar questo da aprendizagem

    histrica. A aprendizagem pode ser conceituada como um processo de

    digesto de experincias, absorvendo-o sob a forma de competncias. A

    aprendizagem da histria um processo de digesto de experincias do tempo

    em formas de competncias narrativas.18 A "competncia narrativa" se entende

    aqui como a habilidade para narrar una histria pela qual a vida prtica recebe

    una orientao no tempo. Esta competncia consiste em trs habilidades: 1) a

    habilidade da experincia, relacionada com a realidade passada; 2) a

    habilidade de interpretar, relacionada com o todo temporal que combina a) a

    experincia do passado com b) a compreenso do presente e c) as

    expectativas concernentes ao futuro; e 3) a habilidade de orientao

    relacionada com a necessidade prtica de encontrar um caminho atravs dos

    estreitos e remansos da mudana temporal.

    Em termos tericos, no difcil explicar o desenvolvimento da

    conscincia histrica como um processo de aprendizagem. A aprendizagem

    conceituada em seu marco de referncia como uma qualidade especfica dos

    procedimentos mentais da conscincia histrica. Tais procedimentos so

    chamados "aprendizagem" quando as competncias so adquiridas para a)

    experimentar o tempo passado, b) interpret-lo na forma de histria e c) utiliz-

    lo para um propsito prtico na vida diria.

    Utilizando a tipologia, a aprendizagem histrica pode explicar-se como

    um processo de mudana estrutural na conscincia histrica. A aprendizagem

    histrica implica muito mais que o simples adquirir de conhecimento do

    passado e a expanso do mesmo. Visto como um processo pelo qual as

    competncias se adquirem progressivamente, emerge como um processo de

    mudana de formas estruturais pelas quais tratamos e utilizamos as

    experincias e conhecimento da realidade passada, passando de formas

    tradicionais de pensamento aos modos genticos.

    Assim, a tipologia oferece uma base para uma teoria til e diferente de

    aprendizagem histrica. Tal teoria combina trs elementos centrais da

    competncia narrativa (experincia, interpretao, orientao) e quatro etapas

    18 Cfr. Rsen, Anzte zu einer Theorie des historischen Lernes.

  • de seu desenvolvimento. Esta teoria pode ser de certa significao para a

    teoria do desenvolvimento da conscincia moral e a aprendizagem moral.

    Infelizmente a teoria, somente, no basta para analisar as espinhosas

    questes da conscincia histrica e moral. A prova da teoria est em amontoar

    muita evidncia emprica que sustente suas teses, e aqui se necessita muito

    trabalho de investigao. Houve s alguns trabalhos isolados de investigao

    emprica at agora sobre a aprendizagem da histria e a conscincia

    histrica,19 e familiar uma focalizao especial sobre a relao entre a

    aprendizagem e a conscincia histrica e moral.20

    Uma investigao desta natureza enfrenta formidveis obstculos, em

    especial a intrincada complexidade da conscincia histrica e suas quatro

    competncias. Os quatro tipos aqui presentes no so escritas alternativas,

    permitindo qualquer reconto simples de sua distribuio nas manifestaes da

    conscincia histrica; normalmente os tipos aparecem em mesclas complexas,

    e necessrio descobrir sua ordem hierrquica e interpelao em qualquer

    manifestao dada da conscincia histrica. No obstante, a tipologia pode

    dirigir nossa ateno, e funciona de maneira investigativa, definindo questes e

    preparando estratgias para a utilizao em estudos empricos.

    Tal tipologia imprime a ideia aos investigadores de que o que

    importante descobrir em relao conscincia histrica no a extenso do

    conhecimento implcito, mas tambm o marco de referncia e os princpios

    operativos que do sentido ao passado.

    19 Publicaes recentes realizadas na Alemanha, so: Bodo von Borries, Alltgliches Geschichtsbewusstsein. Erkindng durch Intensivinterviiws und Versuch von Fallinterpretationen, in Geschichtsdidaktik 5 (1980), pp. 243=262; idem, Zum Geschitsbewusstsein von Normalbrgern Hinweisse aus offenen Interwies, in Klaus Bergmann, Rolf Schrken (eds), Geschichte im alltag-alltag in der Geschichte (Dsseldorf, 1982), pp. 182-209; Karl Teppe, Maria Wasna, die Teilung Detschlands als Problems des Geschichtsbewusstseisns. Eine empirische Untersuchung uber Wirkungen von Geschichtsunterricht auf historische Vorstellungen und politische Urteile (Paderborn, 1987); Katherina Oehler, Gerschichte in der politischem Rhetorik. Historische Argumentationsmuster im Parlament der Bundesrepublik Deutschland(Beitrge zur Geschichtskultur, 2 (Hagen, 1989), Bodo von Borries, Geschichtslernen und Geschichtsbewusstsein, Empirische Erkundungen zu Erwerd und Gebrauch von Historie. (Stuttgard, 1988).

    20 Valentine Rothe, Werteersiehung und Geschichtsdidaktik. Deitrag zu einer Kritischen Werteerziehung im Geschichtsunterricht (Dsseldorf, 1987), no contm referncias a nenhuma investigao emprica.

  • Como estes podem se encontrar na evidncia emprica? H uma

    aproximao bsica e extrativamente orientada? Permita s pessoas relatar

    narraes que so relevantes para a orientao temporal de suas prprias

    vidas, e logo analise as estruturas narrativas de tais histrias. Tal investigao

    busca estabelecer respostas a perguntas como: que tipo (na tipologia) parece

    seguir esta narrao? H alguma relao entre o tipo dominante e a idade do

    narrador? Que h de seu nvel de educao?

    Os experimentos empricos foram recentemente analisados usando

    esta aproximao em relao histria de Highlands.21 Os alunos e estudantes

    souberam o conto do cl Maclean e do cl Maclonish numa verso altamente

    "neutra". Enfrentaram a situao atual de Maclean e lhes foi perguntado o que

    fariam em relao ao pedido de assistncia de Maclonish, escrevendo uma

    curta justificativa de sua deciso que contivesse uma referncia especfica ao

    motivo dos meninos trocados. Estes textos foram analisados em relao s

    formas de interpretao histrica que eles utilizaram. Empiricamente, os quatro

    tipos foram desde logo distinguveis, e se provou inclusive diferenciar mais

    agudamente esses tipos bsicos da tipologia. Estabeleceu-se que havia uma

    significativa correlao entre as formas narrativas usadas, a idade dos alunos e

    seu nvel de educao e aprendizagem alcanada.

    Isto constitui apenas um exemplo limitado de investigao emprica, e

    as perguntas no foram analisadas em relao ao componente moral da

    conscincia histrica. No obstante, sustentaria que qualquer discusso sobre

    os valores morais e o raciocnio moral dever tentar relacionar-se s

    dimenses associadas da conscincia histrica e aprendizagem da histria.

    21 Hans Gnter Schmidt, Eine Geschichte zum Nachdenken. Erzhltypologie, narrative Kompetenz und Geschichtsbewusstsein: Bericht uber eine Versuch der empirischen Erfrschung des Geschichtsbewusstseins von Schulern der Sckundarstufe I (Unter und Mittelslufe), in Geschichtsdidaktik 12 (1987), pp. 28-35.