O potencial do ensino a distância mediado por computador (E-learning) para a flexibilização do...

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11º Congresso da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Regiões “O papel das universidades no desenvolvimento das regiões” Título: O potencial do ensino a distância mediado por computador (E-learning) para a flexibilização do conhecimento e para o desenvolvimento regional. Autores: BRAIDA, Frederico (Arq.Urb.); COLCHETE FILHO, Antonio (DSc.) e MAYA- MONTEIRO, Patricia (MSc.) Instituição: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Brasil. Contato: UFJF. Faculdade de Engenharia. AUR – Campus universitário – JF/MG, Brasil. CEP: 36.036-330. Telefax: 55.32.3212.2743 e E-mail: [email protected] Resumo (15 linhas): O objetivo deste artigo é, além de apresentar algumas considerações sobre o ensino superior a distância, apontar o potencial existente no E-learning como uma tecnologia que democratiza o acesso à informação e à educação e também permite um processo de aprendizagem cooperativa, o que amplia o conceito de autodesenvolvimento. A partir de algumas iniciativas para o debate que se estende desde a concepção às estratégias destinadas a fomentar a utilização de metodologias e tecnologias de E-learning nas instituições de ensino superior, percebemos que o E- learning propõe uma metodologia de caráter realmente digital, formada por elementos que podem ser reorganizados a qualquer momento e em qualquer lugar, diversificando as metodologias tradicionais, geralmente lineares e presenciais. No atual momento em que a sociedade se desenvolve numa dinâmica pautada no conhecimento e nas tecnologias de informação, cabe pensarmos em novas práticas universitárias que expandam a produção e aquisição de conhecimento para além dos limites físicos das instituições, com vistas ao desenvolvimento regional e ao combate à exclusão digital. Palavras-chave: Ensino a distância; Tecnologia da Informação; Tecnologia da Educação.

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Texto apresentado em um congresso. Título: O potencial do ensino a distância mediado por computador (E-learning) para aflexibilização do conhecimento e para o desenvolvimento regional.

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  • 11 Congresso da Associao Portuguesa para o Desenvolvimento das Regies

    O papel das universidades no desenvolvimento das regies

    Ttulo:

    O potencial do ensino a distncia mediado por computador (E-learning) para a

    flexibilizao do conhecimento e para o desenvolvimento regional.

    Autores:

    BRAIDA, Frederico (Arq.Urb.); COLCHETE FILHO, Antonio (DSc.) e MAYA-

    MONTEIRO, Patricia (MSc.)

    Instituio:

    Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Brasil.

    Contato:

    UFJF. Faculdade de Engenharia. AUR Campus universitrio JF/MG, Brasil. CEP:

    36.036-330. Telefax: 55.32.3212.2743 e E-mail: [email protected]

    Resumo (15 linhas):

    O objetivo deste artigo , alm de apresentar algumas consideraes sobre o

    ensino superior a distncia, apontar o potencial existente no E-learning como uma

    tecnologia que democratiza o acesso informao e educao e tambm permite um

    processo de aprendizagem cooperativa, o que amplia o conceito de

    autodesenvolvimento. A partir de algumas iniciativas para o debate que se estende

    desde a concepo s estratgias destinadas a fomentar a utilizao de metodologias e

    tecnologias de E-learning nas instituies de ensino superior, percebemos que o E-

    learning prope uma metodologia de carter realmente digital, formada por elementos

    que podem ser reorganizados a qualquer momento e em qualquer lugar, diversificando

    as metodologias tradicionais, geralmente lineares e presenciais. No atual momento em

    que a sociedade se desenvolve numa dinmica pautada no conhecimento e nas

    tecnologias de informao, cabe pensarmos em novas prticas universitrias que

    expandam a produo e aquisio de conhecimento para alm dos limites fsicos das

    instituies, com vistas ao desenvolvimento regional e ao combate excluso digital.

    Palavras-chave: Ensino a distncia; Tecnologia da Informao; Tecnologia da

    Educao.

  • Introduo

    Esse artigo baseia-se, primeiramente, na pesquisa conduzida por Braida (2004)

    no mbito de seu trabalho para a concluso do curso de Arquitetura e Urbanismo sobre

    o potencial do ensino a distncia e as possveis relaes deste para a forma urbana e

    arquitetnica na contemporaneidade. Algumas investigaes tm norteado nossa

    pesquisa, tanto do ponto de vista do ensino, quanto do campo disciplinar especfico em

    que situamos o ensino da Arquitetura e Urbanismo1.

    Uma das indagaes, de carter mais geral, sobre a contribuio do E-learning

    no estabelecimento de uma esfera pblica mais inclusiva. Habermas (1962) aponta

    como a literatura nos sculos XVIII e XIX teve um papel preponderante no

    desenvolvimento da atitude crtica que caracterizou a opinio pblica nesse perodo. No

    nosso contexto atual, no seria o E-learning um canal possvel para a multiplicao da

    interao atravs do alargamento das fronteiras espaciais? No seria uma possibilidade

    de contribuio tambm para a discusso e redefinio da esfera pblica?

    Por fim, buscamos relacionar as novas possibilidades do saber com o ensino,

    ratificando a Universidade como lugar tradicional do conhecimento e grande

    responsvel pela instituio de prticas democrticas de acesso informao. A

    possibilidade de unio entre as atuais ferramentas de difuso de conhecimento, como o

    E-learning, e o atual momento de redefinio do papel da Universidade na sociedade,

    podem, em ltima instncia, conduzir a um processo dentro de uma escala regional que

    facilite no s a difuso do conhecimento, mas ajude a reduzir a excluso digital

    daqueles que se localizam foram do raio de atuao dos plos regionais que concentram

    renda, investimento e conseqentemente, poder.

    Espao-tempo contemporneo

    A passagem da cidade escravocrata para a cidade do trabalho livre, sustentada pelo

    advento do industrialismo, marcada pela modernizao do espao urbano. Na cidade

    escravocrata, o trabalho cativo, mas a terra livre: o que significa que o espao de

    moradia urbano apropriado, a partir e na medida da necessidade de uso. J na cidade

    do trabalho assalariado, o trabalho livre, mas a terra mercadoria cuja nica forma de

    apropriao o contato monetrio de compra e venda (Rolnik, 2003).

    1 Os autores fazem parte do ncleo de pesquisa LOCI estudos do espao e lugar, composto por alunos da graduao e pelos professores Patrcia Maya-Monteiro, Rogrio Amorim e Antonio Colchete - que realiza pesquisa de ps-doutoramento sobre o ensino da arquitetura no Brasil e em Portugal junto FA-UTL.

  • Obviamente, ressaltamos ento que as relaes espao-temporais possuem

    ligaes diretas com o modo de produo da sociedade. A produo em massa, a

    comercializao de automveis e a utilizao de meios de transporte cada vez mais

    velozes so evidentes questes apresentadas pelo industrialismo e pelo modo capitalista

    de produo. Com os investimentos em infra-estrutura urbana as distncias tornaram-se

    mais curtas e o tempo gasto para percorr-las, cada vez menor. Essas so novas relaes

    espao-temporais da primeira metade sculo XX.

    A antiga percepo do tempo era cclica e diurna, sua relao com o espao tinha

    um carter mais subjetivo e absoluto, como afirma o terico mais propalado do

    ciberespao, Pierre Lvy2. Mas, com a chegada do tempo marcado pelo relgio

    associado produo, a relao entre espao e tempo se converteu em seqencial,

    objetiva e, rapidamente, em relativa. Tudo se torna mvel (homens, coisas, capitais,

    signos): Os mveis nos automveis combinam suas velocidades, trocam suas

    mensagens, entrecruzam-se em um espao tambm mvel, relativo, no qual tudo se

    mexe em relao a tudo, no qual a distncia no nada e a velocidade, tudo (Lvy,

    1998a, p. 152).

    Bem como os meios de transporte, os meios de comunicao desempenharam

    importante papel na reconfigurao do tempo e do espao. E, quando os meios de

    comunicao se aliaram informtica, produzindo novas tecnologias de informao e

    comunicao, os resultados foram surpreendentes, com grandes reflexos no espao e na

    previso desse espao na contemporaneidade:

    As cidades foram configuradas para minimizar as barreiras do espao e para

    superar as limitaes do tempo, ao passo que as telecomunicaes foram

    moldadas visando o contrrio, minimizando as barreiras de tempo para superar

    as limitaes do espao (Graham, 2004, p.60).

    Recentemente, a partir dos anos 1990, temos visto que a rede econmica mundial

    e as tecnologias de informao e comunicao tm sido responsveis por processos de

    mudanas da mesma forma que a manufatura teve esta responsabilidade na era

    industrial. A utilizao de computadores conectados em uma grande rede (Internet) se

    2 Sobre o pensamento de Pierre Lvy, ver a coletnea de artigos em Pellanda & Pellanda (2000), alm do bastante conhecido A ideografia dinmica: rumo a uma imaginao artificial?, do prprio Lvy (1998b), que apresenta a discusso sobre as possibilidades de novas expresses visuais do pensamento.

  • tornou responsvel pela ltima revoluo significativa e que ainda se encontra em

    franco processo de definio do espao e do tempo3.

    Podemos dizer que os processos de mudanas da sociedade industrial eram muito

    mais lentos quando comparados com os da sociedade contempornea. Em apenas duas

    dcadas e meia, a microeletrnica potencializou a capacidade de produo de bens,

    possibilitou o desenvolvimento das novas tecnologias de informao e comunicao

    (NTIC) e, paralelamente, reduziu os custos de alguns de seus produtos. Hoje em dia j

    no podemos mais ver as NTIC como meras cenas de fico cientfica presente em

    filmes e jogos eletrnicos ou como uma simulao para um futuro distante. Atualmente,

    tanto as possibilidades de atuao dos indivduos como as relaes sociais por eles

    estabelecidas, tm sido profundamente alteradas pelos impactos dessas tecnologias.

    Contudo, embora o desenvolvimento tecnolgico aponte para um futuro promissor

    na ampliao do conhecimento, por outro lado, h os efeitos perversos desse

    desenvolvimento, onde cada vez mais uma gigantesca parcela da populao mundial

    excluda desse processo. Tornam-se ainda mais graves essas condies de desigualdade

    quando notrio que h um claro interesse em prol da criao e manuteno de uma

    fronteira rgida e bem definida que qualifica, grosso modo, os pases em ricos e

    desenvolvidos tecnologicamente e aqueles que so pobres e excludos digitalmente4.

    Cabe repassar ento, o potencial existente que no deixa de fazer parte das novas

    tecnologias, tanto para a ampliao do conhecimento como para o desenvolvimento de

    regies.

    As contribuies das novas tecnologias de Informao e Comunicao (NTIC)

    Dentre as vrias contribuies da tecnologia de informao e comunicao, a

    conectividade possibilitada pela Internet deve ser destacada como uma das mais

    relevantes para o estabelecimento de novas formas de relao social. A comunicao

    ilimitada permitiu que os ambientes virtuais se tornassem locais de encontro, onde

    pessoas separadas geograficamente pudessem se fazer presentes.

    3 Sobre a amplitude dos impactos da informtica no contexto social mais amplo, ver Johnson (2001), que percorre um caminho histrico, passando pela importncia das artes e da arquitetura na Idade Mdia (especialmente o captulo 2) at as transformaes dos ltimos cinqenta anos que trouxeram a informtica para o centro da organizao da vida social, bem como, Duarte (2003). 4 Ou, como afirma Lvy (1998a, pp.200-203), o hemisfrio Norte, como uma parte do planeta, que quer reger todo o espao do saber, que acaba por engendrar o mal e a servido. Para o autor, o caminho reside no reconhecimento do saber como novo ncleo da cosmologia antropolgica, com efeito, o espao virtual.

  • Com o uso pblico da Internet pudemos conversar com pessoas ao redor do

    mundo em tempo real, enviar correspondncias que so entregues em poucos segundos,

    trocar experincias com pessoas espalhadas pelo mundo, fazer apresentaes em outros

    pases, participar de cursos ou seminrios, fazer compras sem sair de casa, trabalhar em

    um pas e morar em outro, contribuir socialmente, decidir ou opinar sobre os fatos e

    eventos etc (Lima, 2000).

    A oferta de servios e recursos jamais imaginados anteriormente ampliou os

    relacionamentos humanos e possibilitou atuarmos no mundo sem deslocamentos

    espaciais. Considerando que, at pouco tempo atrs, a sociedade estava unicamente

    condicionada pela territorialidade, determinada por questes locais, assistimos hoje a

    uma revoluo na formao da sociedade, cujas referncias so globais, mas os

    impactos, positivos e negativos, so locais.

    Potencialmente, h, atravs da utilizao das NTIC, condies para a melhoria e

    competitividade dos servios prestados ao cidado, tanto pelo setor pblico como pelo

    privado, reduzindo as grandes diferenas na aplicao e desenvolvimento do

    conhecimento e na afirmao social e econmica das cidades e regies. H, na verdade,

    uma maior facilidade para o trnsito de uma esfera para outra, mas no se trata de uma

    homogeneizao ou predomnio do global em detrimento das questes locais e

    regionais. No se trata, pois, de uma sociedade homogeneizada pelas tecnologias da

    comunicao de massa. Afinal, sabemos que as caractersticas locais influenciam a

    forma de utilizao e manipulao de uma determinada tecnologia, a fim atender s suas

    necessidades especficas.

    Castells (2001, p.395) acredita que o carter plural e miditico da comunicao

    eletrnica, que admite todas as culturas e todas as formas de expresso, somado ao

    sistema multinodal e descentralizado da Internet, poder evitar a homogeneizao das

    culturas e garantir as distintas formas sociais. Essas formas distintas de interao social,

    que emergem da sociedade conectada, constituem o que Lvy (2000a) chama de

    cibercultura: um conjunto de tcnicas (materiais e intelectuais), de prticas, de

    atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o

    crescimento do ciberespao. A cibercultura essencialmente de natureza heterognea e,

    como podemos ver, tem sido responsvel pela formao de novos paradigmas para as

    relaes sociais.

    No campo da Educao, podemos dizer que estamos diante de novas mediaes

    tcnicas facilitadas pelas mltiplas ferramentas desenvolvidas a partir das novas

  • tecnologias da informao e comunicao que transformam as relaes espaciais e

    sociais do ensino. A sociedade do conhecimento exige uma reflexo sobre as

    possibilidades da incluso social, democratizao dos saberes, acesso ao ensino superior

    e educao continuada ao longo da vida. Tais questes incluem a reviso urgente do

    papel da Universidade principalmente as de carter pblico e/ou subsidiadas com

    recursos pblico na difuso do saber.

    O espao do saber

    O senso comum aponta que saber significa ter informao ou ter conhecimento

    de. O saber pode ser entendido meramente como um conjunto de instrues tcnicas ou

    uma erudio. Porm, recuperando uma definio de Lvy (1998a, pp.120-121),

    ressaltamos a origem comum do saber com o espao virtual:

    O espao do saber associa-se Terra, no aquela, nmade, dos animais, das

    plantas e dos deuses, mas como um planeta cognitivo, com uma diversificao

    csmica incontrolada. O espao do saber virtual, pois no se realiza em parte

    alguma, no apenas o do conhecimento cientfico, mas um savoir-vivre ou

    vivre-savoir. Um saber co-extensivo vida.

    Com esta conotao, vemos o saber como um produto coletivo que, embora no se

    concretize em lugar algum, sempre existiu. Percebemos ento que deste ponto de vista,

    o espao do saber , desde sempre, virtual, mesmo antes de esse termo existir e ter

    significado. Ainda segundo Lvy, o espao do saber tem a ver com o espao

    cosmopolita e sem fronteiras de relaes e de qualidades. o espao da metamorfose

    das relaes e do surgimento das maneiras de ser. Para ele, cada vez que um ser humano

    organiza ou reorganiza sua relao consigo mesmo, com seus semelhantes, com as

    coisas, com os signos, se envolve em uma atividade de conhecimento, de aprendizado.

    Este o saber co-extensivo vida5.

    Deste modo, vemos como que o espao do saber est relacionado com o espao

    que surgiu com o desenvolvimento e aplicao das NTIC, mais especificamente com o

    espao produzido pelas redes. Isto nos leva a afirmar que no ciberespao est o

    potencial mximo para a existncia do saber em tempos atuais. Esta afirmao no parte 5 O autor, em outra publicao (2000a, p.17), recupera que a humanidade desenvolveu quatro ideais ou tipos de relao com o saber: o saber ritual, personificado pelo homem velho e sbio; o saber ligado escrita, onde o homem intrprete dos livros era a figura do conhecimento; o saber relacionado biblioteca, onde o erudito era o responsvel por articular um imbricado conjunto de conhecimentos, e, por fim, o saber da humanidade, como uma espcie de retorno, como se s o coletivo pudesse ser o portador do conhecimento.

  • somente da observao da dimenso dinmica e infinita do ciberespao, mas tambm da

    constatao do carter potencializador de estabelecimento de mltiplas e universais

    relaes humanas. exatamente devido aos aspectos abordados acima que o espao do

    saber habitado e animado, por intelectuais coletivos, por imaginantes coletivos, como

    nomeia Lvy. Esses intelectuais coletivos criam lnguas mutantes, constroem

    universos virtuais e buscam formas inditas de comunicao. tambm pelo fato de

    estar relacionado ao ciberespao que o espao do saber dinmico, e est em

    permanente reconfigurao.

    Ento, observamos que ao passo que os indivduos vo interagindo uns com os

    outros pelo ciberespao, eles animam e produzem o espao do saber. Longe de serem

    membros de pontos de vista imutveis, so ao mesmo tempo singulares, mltiplos,

    nmades e em vias de metamorfose (ou de aprendizado) permanente. So, enfim,

    indivduos que participam ativamente para a construo de uma inteligncia coletiva.

    A inteligncia coletiva

    O conceito de inteligncia coletiva, tambm de Lvy, diz respeito inteligncia

    distribuda por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que

    resulta em uma mobilizao efetiva das competncias. A base e o objetivo da

    inteligncia coletiva so o reconhecimento e o enriquecimento mtuos das pessoas, e

    no o culto de comunidades fetichizadas ou hipostasiadas (Lvy, 1998a, pp. 28-29).

    O que podemos perceber, que o modelo de inteligncia desenvolvido no

    ciberespao o da inteligncia coletiva. Uma inteligncia ilimitada formada pela

    contribuio dos saberes individuais, mas que no est submetida a nenhuma

    inteligncia individual. Esta a inteligncia que tem como produto final um intelectual

    coletivo em processo de atualizao.

    Ainda segundo Lvy, o intelectual coletivo uma espcie de sociedade

    annima, para a qual cada acionista traz como capital seus conhecimentos, suas

    navegaes, sua capacidade de aprender e ensinar. Portanto, o ciberespao no pode ser

    entendido simplesmente como o espao onde as inteligncias individuais so somadas.

    Ele faz florescer uma forma de inteligncia qualitativamente diferente, que vem a

    acrescentar s inteligncias pessoais a inteligncia coletiva.

    Todo este discurso nos leva a questionar se a espacialidade fsica da escola

    tradicional capaz de contribuir para a formao do indivduo contemporneo. E, ainda,

    interrogar o quanto s relaes dos homens com o conhecimento produzido nas

  • instituies de ensino formalizadas, no so condicionadas e limitadas pelas questes

    territoriais. Especialmente quando se avalia um recorte regional, que, diferentemente de

    uma comunidade local, prescinde do encontro cotidiano.

    A busca pela informao produzida pelo saber coletivo desafia a abordagem

    educacional convencional da sociedade contempornea, como afirma Fialho (2002,

    p.77)6. Assim, o desafio para a Educao contempornea de participar ativamente na

    construo do intelectual coletivo, oferecendo as condies necessrias para o seu

    desenvolvimento, at mesmo porque esse conhecimento j vem sendo continuamente

    desenvolvido desde a difuso das NTIC, com reflexos desde a expresso escrita e

    cifrada organizao do prprio pensamento.

    No plano pedaggico h uma demanda por mtodos que valorizam o processo de

    aprendizado personalizado, em roteiros flexveis e o aprendizado cooperativo em redes.

    H tambm uma demanda por docentes que atuem como mediadores dessa forma de

    aprendizagem. No plano institucional, h uma demanda pela reviso dos papis das

    universidades diante os novos mtodos de ensino-aprendizagem; pela criao de um

    sistema de validao de percursos individuais de aprendizagem, que valorize os

    conhecimentos prvios e os saberes no-acadmicos. Eis um novo humanismo que

    inclui e amplia o conhece-te a ti mesmo para o aprendamos a nos conhecer para

    pensarmos juntos, e que generaliza o penso, logo existo em um formamos uma

    inteligncia coletiva, logo existimos eminentemente como comunidade (Lvy, 1998a,

    pp. 31-32).

    perceptvel que as dimenses aqui abordadas extrapolam os limites das salas de

    aulas convencionais. Extrapolam tambm os limites das escolas e das universidades. O

    que parece estar sendo construdo um modelo de ensino que no esteja simplesmente

    condicionado por relaes espao-temporais. O ensino a distncia possibilita que o

    processo ensino-aprendizagem prescinda da sincronia espao-temporal. Mas o E-

    learning, a forma de ensino a distncia auxiliada por computador, que nos parece

    contribuir verdadeiramente para a formao do intelectual coletivo.

    6 Em Jambeiro & Ramos (2002) h uma interessante coletnea de artigos sobre as possibilidades do ensino a distncia, reunidas a partir de convnio e intercmbio entre a Universidade Federal da Bahia, no Brasil e a Universidade de Aveiro, em Portugal, resultando numa antologia tanto das teorias sobre essa nova ferramenta de ensino como de algumas prticas j adotadas com sucesso.

  • O Ensino a Distncia

    "Educao a Distncia uma forma de ensino que possibilita a auto-

    aprendizagem, com a mediao de recursos didticos sistematicamente

    organizados, apresentados em diferentes suportes de informao, utilizados

    isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicao"

    (Decreto 2.494, de 10.02.1998, Brasil, citado por Nova & Alves, 2002, pp.43-44).

    A Educao a Distncia (EAD) vem se tornando uma discusso fundamental para

    quem est refletindo sobre os rumos da educao numa sociedade cada vez mais

    interconectada por redes de tecnologia digital. Podemos perceber que a educao se far

    presente de forma cada vez mais acelerada e, o que fundamental, de uma maneira cada

    vez mais personalizada e individualizada, valorizando o autodesenvolvimento.

    A compreenso de que cada indivduo possui uma necessidade especfica em um

    momento especfico faz com que a prtica educativa tenha como base a definio e o

    desenvolvimento da menor unidade de conhecimento possvel. Assim, os indivduos

    podem combinar estas unidades de forma coerente, segundo sua prpria lgica e em

    funo de suas necessidades.

    Podemos enumerar, ao longo do tempo, os diferentes meios pelos quais se deu o

    ensino a distncia, pois muitas solues foram adotadas desde os cursos por

    correspondncia at os atuais cursos na Internet.

    Segundo Lago (2002, p.87 apud Sormani & Moreira) foram trs as geraes de

    educao a distncia (EAD), as quais acompanharam a evoluo tecnolgica: a primeira

    fase foi dominante at a dcada de 60 e baseada na gerao textual, com suporte em

    texto simples, utilizando geralmente o correio tradicional. A segunda fase foi a gerao

    analgica, na qual o aprendizado era baseado em textos com suporte intenso de

    recursos de udio e vdeo, muito presente entre os anos de 60 e 80. Atualmente temos a

    terceira fase, a gerao digital, em que o auto-aprendizado tem como suporte, quase

    exclusivo, recursos tecnolgicos altamente diferenciados, tais como bate-papo,

    videoconferncia, e-mails, entre outros.

    Mesmo definindo geraes para o EAD, podemos dizer que o propsito

    fundamental do ensino a distncia continua sendo, basicamente, a ruptura do conceito

    de espao-tempo. Disponibilizando recursos didticos para a aprendizagem autnoma, a

    EAD visa facilitar o acesso formao de todas aquelas pessoas que tenham algum tipo

    de dificuldade de deslocamento a centros de formao presenciais.

  • Muito embora a educao a distncia tivesse uma histria de sucesso dentro do

    circuito alternativo da educao, o espao que ocupou historicamente em termos de

    aceitao pelo sistema formal pode ser considerado como mnimo, levando a grande

    maioria das instituies educacionais e as organizaes empresariais a desprezarem esta

    tecnologia durante as ltimas dcadas. Ou seja, trabalhar com projetos de EAD no

    tinha o mesmo glamour que as discusses acadmicas e a criao de grandes centros de

    treinamento tinham (Lima, 2000, p.87).

    Contudo, a cada dia que passa, cresce a demanda por cursos flexveis, em que os

    alunos possam definir seu horrio e local de estudo. Isso tem feito com que as

    instituies de ensino invistam em cursos a distncia via Internet. Alm de serem cursos

    com custos financeiros mais reduzidos quando comparados com os custos dos cursos

    presenciais, os conhecimentos dos professores podem ser disponibilizados a um grupo

    de indivduos mais heterogneo formado por colaboradores situados em diferentes

    lugares.

    A educao a distncia uma das modalidades de ensino que tem crescido no

    Brasil. Hoje em dia, so mais de 40 instituies de ensino superior credenciadas pelo

    Ministrio da Educao do Brasil, que oferecem diversos cursos de graduao e ps-

    graduao7.

    Por ser recente no Brasil, ainda pouco conhecida pela populao que, baseada

    em preconceitos, no poupam esforos em critic-la. As crticas quase sempre apontam

    a EAD como uma modalidade pouco consistente e de baixa qualidade. Mas, tais

    preconceitos so desmistificados quando observamos que em pases desenvolvidos,

    como a Espanha e Inglaterra, esta metodologia tem atendido satisfatoriamente as

    necessidades dos alunos.

    O modelo de EAD baseado nas NTIC, mais especificamente na Internet, que se

    denomina E-learning.

    E-learning

    E-learning o termo que nomeia a metodologia da educao a distncia que

    utiliza como suporte as novas tecnologias de informao e comunicao,

    principalmente, o computador conectado rede mundial de computadores (Internet).

    7 Segundo dados do Ministrio da Educao do Brasil, existem hoje 34 instituies credenciadas para oferecer cursos de graduao a distncia e 42 instituies credenciadas para oferecer cursos de ps-graduao Lato Sensu a distncia. Ver .

  • O E-learning traz luz um importante questionamento que tem reflexo no campo

    da arquitetura: aps o surgimento do espao construdo e potencializado pelas redes

    digitais, o espao da sala de aula tradicional e presencial continua sendo o mais

    adequado para a concretizao do processo de ensino e aprendizagem?

    Observamos que o E-learning no somente prope mudanas no espao de

    aprendizagem. O E-learning desenvolve tambm uma argumentao temporal. O tempo

    da escola , quase sempre, nico, rgido e absoluto. Na escola tradicional, os assuntos

    lecionados so os mesmos para todo o universo de alunos de uma determinada classe. A

    avaliao do processo de ensino e aprendizagem tambm se d de forma homognea e

    comparativa. J o E-learning respeita o tempo individual.

    Segundo Lima (2000, p.33), a Internet exerceu, e exerce, um papel fundamental na

    acelerao dos processos de mudana dos paradigmas da educao, pois tem

    possibilitado o redesenho dos ambientes nos quais vivemos em termos de comunicao,

    publicaes, comrcio, manuseio de informao e recurso educacional. O autor enumera

    a seguinte lista de mudanas paradigmticas na educao contempornea desenvolvida

    pelo E-learning: (1) Est permitindo que dados disponibilizados se transformem em

    conhecimento; (2) Est democratizando o acesso educao e ampliando o conceito de

    autodesenvolvimento; (3) Est se tornando um importante meio de distribuio de

    cursos e seminrios via educao a distncia; (4) Est permitindo o desenvolvimento de

    formas de suporte para a EAD; (5) Permite um processo de aprendizagem cooperativa;

    (6) Permite um processo de interao e suporte ao aprendizado via aconselhamento,

    avaliao de performance, suporte etc.

    Lima tambm apresenta uma importante contribuio no que diz respeito

    validao do processo de ensino-aprendizagem ciberntico. H uma evidncia de que o

    E-learning no se configura a partir de um modismo, o que poderia ser muito perigoso

    para a sociedade, mas sim de uma demanda da sociedade contempornea.

    As caractersticas do sistema de E-learning esto relacionadas com os

    fundamentos da Teoria Construtivista, uma das teorias de aprendizagem que atualmente

    so bem aceitas e praticadas pela comunidade cientfica da rea de Educao. Essa

    teoria se baseia no pensamento de Lev Vygotsky que destaca a importncia da

    participao ativa dos alunos no processo de construo do conhecimento.

    O E-learning prope a construo de conhecimento colaborativo, na medida em

    que possvel por em funcionamento ambientes de aprendizagem no geogrficos que

    oportunizam a realizao de experimentaes cognitivas e pesquisas, implicando

  • ludicidade, manipulao de objetos do ambiente, perturbaes, bem como interao

    com outros sujeitos.

    A partir da combinao do E-learning com os ambientes virtuais, a educao a

    distncia deu um salto qualitativo gigantesco. A abordagem tradicional baseada em

    manuais bidimensionais e auto-instrucionais foi substituda por uma abordagem

    tridimensional, interativa, colaborativa e participativa, baseada em atividades capazes de

    contribuir para a construo de um intelecto coletivo.

    Ainda segundo Lima (2000, pp.60-64), a relao ensino-aprendizagem j

    modificou a trade educador-educando-contedo, numa concepo muito baseada em

    ensinar contedos (significado), como se o ser humano fosse um banco de dados,

    quando necessrio, em tempos atuais, uma discusso mais profunda sobre o

    significante (forma-estratgia), procurando estabelecer quais os mecanismos cognitivos

    que se instalam ou se desenvolvem no ato de aprender.

    Segundo Pantelidis (1995)8, os ambientes virtuais de aprendizagem auxiliam

    diretamente na construo de modelos mentais de conhecimento, pois permitem que os

    usurios explorem, descubram e observe o problema ou objeto de estudo. O autor

    enumera outras vantagens que so atribudas ao uso de ambientes virtuais em educao:

    (1) amplia a motivao do estudante; (2) possibilita ilustrar mais precisamente algumas

    caractersticas, processos etc. (3) permite a observao do objeto ou ambiente virtual de

    pequenas ou grandes distncias; (4) fornece a oportunidade para melhor compreenso

    do objeto de estudo; (5) permite que o aluno proceda atravs da experincia no seu

    prprio ritmo; (6) no restringe o prosseguimento das experincias ao perodo de aula

    regular; (7) oferece a possibilidade de aprendizado de novas tecnologias; e (8) requer

    interao, ou seja, encoraja a participao ativa em vez de passiva.

    Considerando o contexto descrito e as demandas da sociedade contempornea, tais

    como: reduo de custos, necessidade de acelerar o tempo-resposta, personalizao do

    acesso ao conhecimento etc., podemos imaginar a viabilidade prtica que tem essa nova

    ferramenta da Educao.

    A falta de recursos tecnolgicos, que vinha sendo o argumento para a no

    utilizao do E-learning, tornou-se questo superada. As tecnologias que possibilitam o

    desenvolvimento de ambientes virtuais de aprendizagem j esto disponveis no

    8 PANTELIDIS, V.S. Reasons to Use Virtual Reality in Education, VR in the Schools. 1995.

    Disponvel em . Acessado em: 19 abr 2004.

  • mercado. Porm, percebemos que os maiores empecilhos para a popularizao dessa

    forma de ensino nos dias de hoje so: (1) a inexistncia de equipes formadas por

    profissionais de diversas reas para o desenvolvimento dos ambientes virtuais, levando-

    se em conta seus aspectos pedaggicos, psicolgicos, estticos, entre outros; (2) a falta

    de professores capacitados para atuar com metodologias eficazes nos ambientes virtuais;

    e (3) a existncia modelos mentais que desvalorizam o saber produzido fora das

    instituies tradicionais de ensino.

    Observamos ento, que urgente a criao de equipes multidisciplinares, a

    capacitao de professores e a instituio de novos paradigmas que valorizem os

    processos de auto-educao. Aqui, apontamos as universidades como uma das

    principais instituies responsveis pela formao de uma nova mentalidade que

    contemple as demandas da sociedade contempornea e possa ajudar a superar os

    entraves de ordem poltica e burocrtica que vem na ampliao das formas de

    conhecimento uma mera possibilidade de diviso do poder, com mais custos para os

    mais ricos e menos possibilidade de explorao dos mais pobres.

    O papel das universidades na cibercultura

    Preparar as universidades para acompanhar a velocidade das mudanas um

    desafio, mas deve ser uma meta constante para que as instituies se adeqem ao

    contexto da formao contempornea. Uma universidade que no acompanhe o

    processo de atualizao tecnolgica tende se transformar em uma universidade obsoleta.

    preciso que as universidades desenvolvam e implementem sistemas que visem o

    melhoramento da gesto e sistemas de informao de carter pblico, garantindo assim

    o acesso universal informao. Ao empreender o esforo para desenvolver uma

    universidade que atue para alm do seu territrio geograficamente demarcado,

    conferimos a ela a importncia de ser um elemento ativo no desenvolvimento das

    tecnologias de informao e comunicao regional, permitindo que tire vantagens

    significativas no acesso s tecnologias, no desenvolvimento de competncias e no

    processo de integrao na sociedade de informao dentro do seu territrio espacial de

    influncia.

    necessria a reestruturao da Universidade para fomentar a pesquisa, extenso

    e prestar servios de ensino voltados para o desenvolvimento de mtodos e processos de

    educao e capacitao pautados nas novas tecnologias de informao e comunicao.

    Percebemos que as NTIC so, nos dias de hoje, um instrumental que permite s

  • universidades expandirem suas aes e se afirmarem como instituio interventora,

    inovadora e motor de desenvolvimento nas esferas local, regional e nacional.

    Embora as NTIC j sejam do conhecimento geral, preciso que as instituies

    adotem uma viso sobre as tecnologias de informao, reconhecendo esta como uma

    rea estratgica para o seu desenvolvimento. Sabemos que as universidades devem

    esforar-se para potencializar o desenvolvimento regional por meio de suas aes. A

    busca por um modelo igualitrio de incluso que supere o contingenciamento financeiro

    uma alternativa para a cidadania e para o desenvolvimento regional. Propomos ento,

    a Educao a Distncia, em especial o E-learning, como um modelo de educao

    inclusiva, que respeita as individualidades, de modo a que um maior nmero de

    cidados possa partilhar os avanos alcanados.

    As contribuies do E-learning no se extinguem em caractersticas de cunho

    universal. Vemos nele um grande potencial para o desenvolvimento local e regional,

    pois alm de atender a indivduos em interao social de modo cooperativo, pode

    tambm se configurar como uma ferramenta de ensino-aprendizagem extremamente

    contextualizada na vida local e regional, tanto para as novas geraes como para

    indivduos em atividades, que necessitam constantemente reaprender o antes aprendido.

    Quanto Educao continuada, O Plano Nacional de Graduao do Ministrio da

    Educao do Brasil9 j reflete parte dessa preocupao quando afirma que:

    Do ponto de vista da graduao, em particular, a formao para o exerccio de

    uma profisso, em uma era de rpidas, constantes e profundas mudanas, requer,

    necessariamente, atenta considerao por parte da universidade. A decorrncia

    normal deste processo parece ser a adoo de nova abordagem, de modo a

    ensejar aos egressos a capacidade de investigao e a de aprender a aprender.

    Este objetivo exige o domnio dos modos de produo do saber na respectiva

    rea, de modo a criar as condies necessrias para o permanente processo de

    educao continuada.

    Identificamos no E-learning uma possibilidade que as universidades possuem para

    adentrar o territrio nacional e alcanar populaes interioranas, contribuindo

    sobremaneira para a regionalizao e interiorizao do desenvolvimento, para a

    9 O Plano Nacional de Graduao do Ministrio da Educao do Brasil um referencial para a criao de polticas educacionais destinadas ao ensino de graduao nas universidades brasileiras. Um dos temas ai abordados o papel da Universidade frente nova conjuntura tecnolgica e globalizada. Vide o Plano completo em < http://www.mec.gov.br/sesu/planograd.shtm>.

  • minimizao das desigualdades inter e intra-regionais e para a potencializao do

    desenvolvimento scio-econmico das regies.

    A UNESCO publicou em outubro de 1998, um documento intitulado Declarao

    Mundial sobre a Educao Superior no Sculo XXI: Viso e Ao. O contedo do

    documento refora a necessidade de adequar a formao superior aos anseios

    contemporneos, tomando como aliado o desenvolvimento das tecnologias de

    informao.

    (...) A educao a distncia e a universidade virtual so facilidades s quais

    deve outorgar-se prioridade no contexto da cooperao porque podem permitir

    por em prtica a internacionalizao e o trabalho reticular... Estas facilidades, no

    entanto, devem ser concebidas no marco da cooperao no baseada num modelo

    exclusivo de exportar educao ou esquemas de franquia, mas em sua integrao

    aos contextos locais em associaes com os atores locais (UNESCO, 1998).10

    Nesse sentido, o Campus Virtual mais uma interface de comunicao das

    instituies de ensino com a populao. Alm disso, um recurso concreto que

    possibilita a expanso das oportunidades de acesso ao ensino superior para um maior

    nmero de alunos, e tambm, um vetor de reciclagem para todos os cidados que

    querem manter-se competitivos no mercado de trabalho. Portanto, um uma alternativa

    capaz de reduzir significativamente as diferenas entre demanda e oferta de formao

    entre regies, criando novas formas de ensinar e aprender e, por fim, gerando novos

    servios e novas possibilidades de trabalho.

    As tecnologias de informao e comunicao por meio dos equipamentos de

    multimdia, da Internet e da videoconferncia constituem-se em uma poderosa

    ferramenta de suporte educao a distncia, possibilitando maior interatividade entre

    as instituies de ensino superior e pesquisa. Mas para tirar maior proveito dessa

    tecnologia e transformar isso em grandes benefcios para as instituies, como j

    mencionamos, infra-estrutura e pessoal capacitado so fundamentais. preciso atrair

    mais profissionais para a rea de tecnologia da informao, criar programas de

    capacitao nos diversos departamentos da instituio e investir em infra-estrutura.

    Por mais que o rol de requisitos parea maior que a demanda pelos servios da

    educao baseada nas NTIC, devemos sempre lembrar que, infelizmente, h uma

    enorme demanda reprimida que espera pelo esforo da sociedade no cumprimento de

    10 Essa referncia sobre indicaes da Unesco para a educao a distncia e universidade virtual foram citadas na Justificativa do Projeto Campusnet. Disponvel em < http://www.unifap.br/campusnet >.

  • tarefa das mais significativas na agenda contempornea: como oferecer tecnologia de

    forma massiva a populaes que mal dispe da oferta de servios como saneamento e

    emprego? Sem superarmos as defasagens sociais que j vigoram h uma centena de

    anos, ns estamos fadados a ver as NTIC como um benefcio cada vez mais distante das

    sociedades mais pobres e relegando, talvez sem possibilidade de recuperao, a incluso

    digital para mais adiante, o que impensvel, dada velocidade das mudanas no setor

    tecnolgico. Por outro lado, se considerarmos a urgncia da incluso digital, certamente

    poderemos enfrentar o descaso com a promoo do atraso que deliberadamente

    seleciona a quem destinar o acesso (para consumo) informao e ainda deixa de suprir

    uma vasta parcela da populao que ainda carece de necessidades to bsicas.

    Consideraes finais

    O advento das novas tecnologias de informao e comunicao proporcionou

    mudanas significativas na sociedade. O trajeto do homem contemporneo pode

    comear a no mais ser definido apenas pela relao espao-tempo como conhecemos.

    A sociedade conectada ganhou liberdade para funcionar a distncia. Os indivduos j

    podem se relacionar em uma esfera virtual, estendendo as possibilidades do espao

    concreto.

    Reunies, encontros, compras, estudos, e, at mesmo viagens, foram

    potencializados e parecem prescindir de espaos concretos, podendo valer-se

    unicamente de sua existncia virtual. Contudo, a cidade concreta no desapareceu e

    tende a no desaparecer, mas sim ser ampliada e redefinida fsica e virtualmente.

    Como afirma Silveira (2003) no h uma relao direta tambm de que, ao suprir

    uma sociedade com os recursos tecnolgicos, haja um declnio dos nveis de pobreza,

    mas bvio que o analfabetismo digital impede a construo de uma inteligncia

    coletiva, que, como vimos, uma chave importante para a prpria organizao social

    hoje.

    As NTIC possibilitam uma juno dos ambientes virtuais com os espaos fsicos,

    produzindo espaos hbridos que ainda esto por serem explorados. imensa a

    quantidade de informaes existentes no mundo de hoje e, incrvel, a velocidade de

    produo do conhecimento. Isso impe novos rumos para a vida em sociedade.

    necessrio que aprendamo a conviver com a provisoriedade, as incertezas, o imprevisto

    e a novidade. Analisar os fatos, refletir, interiorizar seletivamente a informao

    adquirida, e, a partir da, produzir novos conhecimentos, a seqncia que talvez

  • contribua para a formao de um indivduo socialmente mais ativo, e, ao mesmo tempo,

    um agente criador de novas possibilidades, como diz Lvy (1998b, p.149), quanto mais

    uma pessoa participa ativamente na aquisio de um saber, mais ela integra e internaliza

    o que aprendeu.

    Para isto, necessrio desenvolver a capacidade de aprender continuamente, ou

    seja, aprender a aprender. Este , sem dvida, um paradigma do ensino contemporneo,

    principalmente o ensino mediado por computadores. Podemos dizer que o

    desenvolvimento regional possui um vnculo direto de dependncia com fatores como

    educao, pesquisa e redes interligadas de informaes. Portanto, acreditamos que a

    utilizao do ensino a distncia potencializa o desenvolvimento regional, mas para gerar

    grandes impactos ainda necessria uma forte expanso das instituies com vistas

    formao de cidados capazes de participar de uma nova sociedade da informao em

    rede.

    Referncias

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