O que Ç o Espiritismo

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OQUEEO

ESPIRITISMOALLAN KARDEC/

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ALLAN KARDEC

O que é oEspir i t i sNOÇÕES ELEMENTARES DO MUNDOINVISÍVEL,PELAS MANIFESTAÇÕES DOS ESPÍRITOS,

COM Oresumo dos princípios da Doutrina Espirita e respostaàs principais objeçõesque podem ser apresentadas

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CIP-BRASIL.CATALOGAÇAO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS,RJ.

K27o41.ed.

Kardec, Allan, 1804-1869O que é o espiritismo : noções elementares do mundo in-

visível, pelas manifestações dos espíritos,com o resumo dosprincípios da Doutrina Espirita e resposta às principais obje-ções que podem ser apresentadas / Allan Kardec. — 41 .ed.—Rio de Janeiro : Federação Espírita Brasileira, 1999

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índice das Matérias

Biografia de Allan Kardec 9Preâmbulo 49

CAPÍTULO I

Primeiro diálogo — O crítico 51Segundo diálogo — O céptico 65Espiritismo e Espiritualismo 66Dissidências 68

Fenómenos espíritas simulados 70Impotência dos detratores 71

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ÍNDICE

Esquecimento dopassado 114Elementos de convicção 117Sociedades espíritas 120Interdição do Espiritismo 121Terceiro diálogo— O padre -. 122

CAPÍTULO II

Noções elementares de Espiritismo— Observaçõespreliminares 151

Dos Espíritos 153Comunicação com o mundo invisível 157Fim providencial das manifestações espíritas 168Dos médiuns 170Escolhos da mediunidade 175

Qualidades dos médiuns 178Charlatanismo 182Identidade dos Espíritos 183Contradições 185Consequências do Espiritismo 186

CAPITULO III

Solução de alguns problemas pela Doutrina EspíritaPluralidade dos mundos 193

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ISBN 85-7328-113-8

41 ! edição Do 4 1 C F -ao 414" milheiro

Título do original francês:QVEST-CE QUE LÊ SPIRITISME?(Paris, julho de 1859)

Capa de CECCONI

B.N. 6.834

53-AA; 000.5-O; 9/1999

Copyright 1944 byFEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA(Casa-Máterdo Espiritismo)Av. L-2 Norte — Q. 603 — Conjunto F70830-030 — Brasília, DF — Brasil

Composição, fotolitos e impressão offsetdas

Oficinas do Departamento Gráfico da FEB

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BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC(*)

Minhas senhoras, meus senhores:Muitas pessoas que se interessampelo Espiritismomanifestam muitas vezes o pesar de não possuírem se-

não muito imperfeito conhecimento dabiografia de AllanKardec, e de não saberem onde encontrar, sobre aquelea quem chamamos Mestre, as informações quedeseja-riam conhecer. Pois é para honrar AllanKardec e fes-tejar a sua memória que nos achamoshoje reunidos, e

ti t d ã d h i

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10 BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC

Não somente a biografia deAllan Kardec é poucoconhecida, senão que ainda está por ser escrita. A inve- ja e o ciúme semearam sobre ela os mais evidentes erros,as mais grosseiras e as mais impudentes calúnias.

Vou, portanto, esforçar-me por mostrar-vos, com luzmais verdadeira, o grande iniciador de quem nos desva-necemos de ser discípulos.

Todos sabeis que a nossa cidade se pode honrar, ajusto título, de ter visto nascer entre seus muros essepensador tão arrojado quão metódico, esse filósofo sábio,clarividente e profundo, esse trabalhador obstinado cujolabor sacudiu o edifício religioso do Velho Mundo e pre-parou os novos fundamentos que deveriam servir de baseà evolução e à renovação da nossa sociedadecaduca,impelindo-a para um ideal mais são, maiselevado, paraum adiantamento intelectual e moral seguros.

Foi, com efeito, em Lião, que, a 3 de outubro de1804, nasceu de antiga família lionesa, com o nome de Ri-vail, aquele que devia mais tarde ilustrar o nome deAllan Kardec e conquistar para ele tantos títulos à nossaprofunda simpatia, ao nosso filial reconhecimento.

Eis aqui a esse respeito um documento positivo eoficial:

"Aos 12 do vindemiário (*) do ano XIII, auto donascimento de DenizardHippolyte Léon Rivail nascido

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BIOGRAFIADE ALLANKARDEC 11

"Feita a leitura, as testemunhas assinaram, assimcomo o Maire da região do Sul.

"O presidente do Tribunal,

(assinado): Mathiou."

O futuro fundador do Espiritismo recebeu desde oberço um nome querido e respeitado e todo um passadode virtudes, de honra, de probidade; grande número dosseus antepassados se tinham distinguido na advocacia ena magistratura, por seu talento, saber e escrupulosaprobidade. Parecia que o jovem Eivail devia sonhar,também ele, com os louros e as glórias da suafamilia.Assim, porém, não foi, porque, desde o começo da sua juventude, ele se sentiu atraído para as ciências e paraa filosofia.

Rivail Denizard fez em Lião os seus primeiros es-tudos e completou em seguida a sua bagagem escolar, em

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12 BIOGRAFIA DEALLAN KARDEC

Denizard Rivail era um alto e belo rapaz, de ma-neiras distintas, humor jovial na intimidade, bom e obse-quioso. Tendo-o a conscrição incluído para o serviçomilitar, ele obteve isenção e, dois anos depois, veio fun-dar em Paris, à rua de Sèvres n.° 35, um estabelecimentosemelhante ao de Yverdun. Para essa empresa se asso-ciara a um dos seus tios, irmão de sua mãe, o qual eraseu sócio capitalista.

No mundo das letras e do ensino, que frequentavaem Paris, Denizard Rivail encontrou a senhorita AméliaBoudet, professora com diploma del. a classe. Pequena,mas bem proporcionada, gentil e graciosa, rica por seuspais e filha única, inteligente e viva, ela soube por seusorriso e predicados fazer-se notar pelo Sr. Rivail, emquem adivinhou, sob a franca ecomunicativa alegria dohomem amável, o pensador sábio e profundo, que aliavagrande dignidade à mais esmerada urbanidade.

O registro civil nos informa que:"AmélieGabrielle Boudet, filha deJulien-Louis Bou-det, proprietário e antigo tabelião, e deJulie LouiseSeigneat de Lacombe,nasceu em Thiais (Sena),aos 2do Frimário do ano IV (23 de novembro de1795)."

A senhorita Amélia Boudet tinha, pois, mais noveanos que o Sr. Rivail, mas na aparência dir-se-ia termenos dez que ele, quando, em 6 de fevereiro de 1832,

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BIOGRAFIA DEALLAN KARDEC 13

ciante, que fez maus negócios e cuja falência nada deixouaos credores.

Longe de desanimar com esse duplo revés, o Sr. eSra. Rivail lançaram-se corajosamente ao trabalho. Eleencontrou e pôde encarregar-se da contabilidade de trêscasas, que lhe produziam cerca de 7.000 francos porano; e, terminado o seu dia, esse trabalhador infatigávelescrevia à noite, ao serão, gramáticas, aritméticas, livrospara estudos pedagógicos superiores; traduzia obras in-glesas e alemãs e preparava todos os cursos deLevy--Alvarès, frequentados por discípulos de ambos os sexosdo faubourgSaint-Germain. Organizou também em sua

casa, à rua de Sèvres, cursos gratuitos de química, fí-sica, astronomia e anatomia comparada, de 1835 a 1840,e que eram muito frequentados.

Membro de várias sociedades sábias, notadamenteda Academia real d'Arras, foi premiado, por concurso,em 1831, pela apresentação da sua notável memória:Qual o sistema de estudo mais em harmonia com as ne-

id d d é ?

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Tendo sido essas diversas obras adotadas pela Uni-versidade de França, e vendendo-se abundantemente,pôde o Sr. Rivail conseguir, graças a elas e ao seu assí-duo trabalho, uma modesta abastança. Como se pode jul-gar por esta muito rápida exposição, o Sr. Rivail esta-va admiravelmente preparado para a rude tarefa queia ter que desempenhar e fazer triunfar. Seu nome eraconhecido e respeitado, seus trabalhos justamente apre-ciados, muito antes que ele imortalizasse o nome de

AllanKardec.Prosseguindo em sua carreira pedagógica, o Sr. Ri-vail poderia viver feliz, honrado e tranquilo, estando asua fortuna reconstruída pelo trabalho perseverante epelo brilhante êxito que lhe havia coroado os esforços;mas a sua missão o chamava a uma tarefa mais onerosa,a uma obra maior, e, como teremos muitas vezes ocasiãode o evidenciar, ele sempre se mostrou à altura da mis-são gloriosa que lhe estava reservada. Seus pendores,suas aspirações, tê-lo-iam impelido para o misticismo,mas a educação, o juízoreto, a observação metódica,conservaram-no igualmente ao abrigo dos entusiasmosdesarrazoados e das negações não justificadas.

Foi em 1854 que o Sr. Rivail ouviu pela primeiravez falar nas mesasgirantes, a princípio do Sr. Fortier,magnetizador, com o qual mantinha relações, em razãodos seus estudos sobre o Magnetismo. O Sr. Fortierlhe disse um dia: "Eis aqui uma coisa que é bem maisextraordinária: não somente se faz girar uma mesa,

ti d t bé df ê l f l I

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trar sempre no estudo tão atraente das manifestaçõesdo Além.

*

Até agora, não vos falei senão do Sr.Rivail, pro-fessor emérito, autor pedagógico de renome. Nessa época,porém, da sua vida, de 1854 a 1856, um novo horizontese rasga para esse pensador profundo, para esse sagazobservador. Então o nome de Rivail se obumbra, paraceder o lugar ao deAllanKardec, que a fama levaráa todos os cantos do globo, que todos os ecos repetirão eque todos os nossos corações idolatram.

Eis aqui como Allan Kardec nos revela as suas dúvi-das, as suas hesitações e também a sua primeira ini-ciação:

"Eu me encontrava, pois, no ciclo de um fato inex-plicado, contrário, na aparência, às leis da Natureza eque minha razão repelia. Nada tinha ainda visto nem

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Sra. Plainemaison, que me falaram desses fenómenos

no mesmo sentido que o Sr. Carlotti, mas noutro tom.O Sr. Pâtier era funcionáriopúblico, de certa idade,homem muito instruído, de caráter grave, frio e calmo;sua linguagem pausada, isenta de todo entusiasmo, pro-duziu-me viva impressão, e, quando ele me convidou paraassistir às experiências que se realizavam em casa daSra. Plainemaison, ruaGrange-Batelière n.° 18, aceiteicom solicitude. A entrevista foi marcada para a terça--feira (*) de maio, às 8 horas da noite.

"Foi aí, pela primeira vez, que testemunhei o fenó-meno das mesas girantes, que saltavam e corriam, eisso em condições tais que a dúvida não era possível.

"Aí vi também alguns ensaios muito imperfeitos deescrita mediúnica em uma ardósia com o auxílio de umacesta. Minhas ideias estavam longe de se haver modi-ficado, mas naquilo havia um fato que devia ter umacausa. Entrevi, sob essas aparentes futilidades e a es-pécie de divertimento que com essesfenómenosse fazia,

alguma coisa de sério e como que a revelação de umanova lei, que amim mesmo prometi aprofundar."A ocasião se me ofereceu e pude observar mais

atentamente do que tinha podido fazer. Em um dos se-rões da Sra. Plainemaison, fiz conhecimento com a fa-mília Baudin, que morava então à ruaBochechouart.O Sr. Baudin fez-me oferecimento no sentido de assistiràs sessões hebdomadárias que se efetuavam em sua casa,e às quais eu fui, desde esse momento, muito assíduo.

"F i í fi i i d é iE i i i i d f i d l õ

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as dificuldades da questão. Foi assim que sempre pro-cedi em meus trabalhos anteriores, desde a idade dequinze a dezesseis anos.Compreendi, desde o princípio,a gravidade da exploração que ia empreender. Entrevinesses fenómenos a chave do problema tão obscuro e tão

controvertido do passado e do futuro, a solução do quehavia procurado toda a minha vida; era, em uma palavra,uma completa revolução nas ideias e nas crenças; pre-ciso, portanto, se fazia agir com circunspeção e não le-vianamente, ser positivista e nãoidealista, para me nãodeixar arrastar pelas ilusões.

"Um dos primeiros resultados das minhas observa-ções foi que os Espíritos, não sendo senão as almas doshomens, não tinham nem a soberana sabedoria, nem asoberana ciência; que o seu saber era limitado ao graudo seu adiantamento, e que a sua opinião não tinha se-não o valor de uma opinião pessoal. Esta verdade, re-conhecida desde o começo, evitou-me o grave escolhod f l b l d d d f

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desde o menor até o mais elevado, meios de colher infor-

mações e nãoreveladores predestinados."A estas informações, colhidas nasObras Póstumasde AllanKardec, convém acrescentar que a princípio oSr. Rivail, longe de ser um entusiasta dessas manifes-tações e absorvido por outras preocupações, esteve aponto de as abandonar, o que talvez tivesse feito se nãofossem as instantes solicitações dos Srs. Carlotti, RenéTaillandier, membro da Academia das Ciências,Tiede-man-Manthèse, Sardou, pai e filho, e Didier, editor, queacompanhavam havia cinco anos o estudo desses fenó-menos e tinham reunidocinquenta cadernos de comu-nicações diversas, que não conseguiam pôr em ordem.Conhecendo as vastas e raras aptidões de síntese doSr. Rivail, esses senhores lhe enviaram os cadernos, pe-dindo-lhe que deles tomasse conhecimento e os pusesseem termos — , os arranjasse. Este trabalho era árduoe exigia muito tempo, em virtude das lacunas e obscuri-

dades dessas comunicações; e o sábio enciclopedista re-cusava-se a essa tarefa enfadonha e absorvente, em ra-zão de outros trabalhos.

Uma noite, seu Espírito protetor,Z., deu-lhe, porum médium, uma comunicação toda pessoal, na qual lhedizia, entre outras coisas, tê-lo conhecido em uma prece-dente existência, quando, ao tempo dos Druidas, viviam juntos nas Gálias. Ele se chamava, então, Allan Kardec,e, como a amizade que lhe havia votado só fazia aumen-

i lh E í i dá l f i

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natureza do mundo invisível. Comparecia a cada sessãocom uma série de questões preparadas e metodicamentedispostas: eram respondidas com precisão, profundeza ede modo lógico. Desde esse momento as reuniões tiveramcaráter muito diferente, e, entre os assistentes, encon-travam-se pessoas sérias que tomaram vivo interessepelo trabalho. Se me acontecia faltar, ficavam as ses-sões como que tolhidas, tendo as questões fúteis perdidoo atrativo para o maior número. A princípio eu nãotinha em vista senão a minha própria instrução; maistarde, quando vi que tudo aquilo formava um conjuntoe tomava as proporções de uma doutrina, tive o pensa-mento de o publicar, para instrução de todos. Foramessas mesmas questões que, sucessivamente desenvolvi-das e completadas, fizeram a base de OLivro aos Es- píritos."

Em 1856, o Sr. Rivail frequentou as reuniões espí-ritas que se realizavam à rua Tiquetone, em casa doSr. Roustan, comMlle.Japhet, sonâmbula, que obtinhacomo médium comunicações muito interessantes, com o

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Esse livro era em formato grande, in-4, em duas

colunas, uma para as perguntas e outra, em frente, paraas respostas. No momento de publicá-lo, o autor ficoumuito embaraçado em resolver como o assinaria, se como seu nome —Denizard-Hippolyte-Léon Rivail, ou comum pseudónimo. Sendo o seu nome muito conhecido domundo científico, em virtude dos seus trabalhos ante-riores, e podendo originar uma confusão, talvez mesmoprejudicar o êxito do empreendimento, eleadotou o alvi-tre de o assinar com o nome deAllanKardec que, se-gundo lhe revelara o guia, ele tivera ao tempo dosDruidas.

A obra alcançou tal êxito que a primeira edição foilogo esgotada. Allan Kardec reeditou-a em 1858 (*)sob a forma atual in-12, revista, correta e consideravel-mente aumentada.

No dia 25 de março de 1856 estava Allan Kardecem seu gabinete de trabalho, em via de compulsar ascomunicações e preparar OLivro dos Espíritos, quandoouviu ressoarem pancadas repetidas no tabique; pro-curou, sem descobrir, a causa disso, e em seguida tornoua pôr mãos à obra. Sua mulher, entrando cerca das dezhoras, ouviu os mesmos ruídos; procuraram, mas semresultado, de onde podiam eles provir. Moravam, então,à rua dos Mártires n.° 8, no segundo andar, ao fundo.

"No dia seguinte, sendo dia de sessões em casa doSr. Baudin, escreve Allan Kardec, contei o fato e pedi

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P. — Meu Espírito familiar, quem quer que sejais,agradeço-vos terdes vindo visitar-me. Quereis ter a bon-dade de dizer-me quem sois?

R. — Para ti chamar-me-ei aVerdade,e todos osmeses, durante um quarto de hora, estarei aqui, à tuadisposição.

P. — Ontem, quando batestes, enquanto eu traba-lhava, tínheis alguma coisa de particular a dizer-me?R. — O que eu tinha adizer-te era sobre o traba-lho que fazias; o que escrevias me desagradava e euqueria fazer-te parar.

NOTA — O que eu escrevia era precisamente relativoaos estudos que fazia sobre osEspíritos e suas manifes-tações.

P. — A vossa desaprovação versava sobre o capítu-lo que eu escrevia, ou sobre o conjunto do trabalho?

R. — Sobre o capítulo de ontem: faço-te juiz dele.Torna a lê-lo esta noite; reconhecer-lhe-ás os erros e oscorrigirás.

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P. Animastes alguma personagem conhecida naTerra?

R. — Disse-te que para ti eu era aVerdade,o queda tua parte devia importar discrição; não saberás maisque isto."

De volta a casa, Allan Kardec apressou-se a relero que escrevera e pôde verificar o grave erro que comefeito havia cometido. A dilação de um mês, fixada paracada comunicação do EspíritoVerdade,raramente foiobservada. Ele se manifestou frequentemente a AllanKardec, mas não em sua casa, onde durante cerca deum ano não pôde este receber nenhuma comunicação pormédium algum e, cada vez que ele esperava obter algumacoisa, era obstado por uma causa qualquer e imprevista,que a isso se vinha opor.

Foi a 30 de abril de 1856, em casa do Sr. Roustan,pela médium Mlle.Japhet, que Allan Kardec recebeu aprimeira revelação da missão que tinha a desempenhar.Esse aviso, a princípio muito vago, foi precisado no dia

12 de junho de 1856, por intermédio de Mlle. AlineC.,médium. A 6 de maio de 1857, a Sra. Cardone, pelainspeção das linhas da mão de Allan Kardec, confirmouas duas comunicações precedentes, que ela ignorava. Fi-nalmente, a 12 de abril de 1860, em casa do Sr. Dehan,sendo intermediário o Sr. Croset, médium, essa missãofoi novamente confirmada em uma comunicação espon-tânea, obtida na ausência de Allan Kardec.

Assim, também, se deu a respeito do seu pseudónimo.d d d

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fazer. Foi-lhe respondido que pusesse a sua ideia emexecução e que não se inquietasse com o resto.

"Apressei-me em redigir o primeiro número, dizAllanKardec, e o fiz aparecer no dia1.° de janeiro de1858, sem nada dizer a pessoa alguma. Não tinha umúnico assinante, nem sócio capitalista. Fi-lo, pois, intei-ramente por minha conta erisco, e não tive de que mearrepender, porque o êxito ultrapassou a minha expecta-tiva. A partir de1.° de janeiro, os números se sucederamsem interrupção, e, como o previra o Espírito, esse jornalse me tornou em poderoso auxiliar. Reconheci, mais tar-de, que era uma felicidade paramim não ter tido um

sócio capitalista, porque estava mais livre, enquanto queum estranho interessado teria pretendido impor-me assuas ideias e a sua vontade e poderia embaraçar-me amarcha. Só, eu não tinha que prestar contas a ninguém,por mais onerosa que, como trabalho, fosse a minhatarefa."

E essa tarefa devia ir sempre crescendo em labor e

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formar. Não creias que te seja suficiente publicar umlivro, dois livros, dez livros, e ficares tranquilamente

em tua casa; não, é preciso te mostrares no conflito;contra ti se açularão terríveis ódios, implacáveis inimi-gos tramarão a tua perda; estarás exposto à calúnia, àtraição, mesmo daqueles que te parecerão mais dedica-dos; as tuas melhores instruções serão impugnadas edesnaturadas; sucumbirás mais de uma vez ao peso dafadiga; em uma palavra, é uma luta quase constante queterás de sustentar com o sacrifício do teu repouso, datua tranquilidade,da tua saúde e mesmo da tua vida,porque tu não viverás muito tempo. Pois bem. Mais deum recua quando, em lugar de uma vereda florida, nãoencontra sob seus passos senão espinhos, agudas pedrase serpentes. Para tais missões não basta a inteligência.É preciso antes de tudo, para agradar aDeus,humildade,modéstia, desinteresse, porque abatem os orgulhosos e ospresunçosos. Para lutar contra os homens, é necessáriocoragem, perseverança e firmezainquebrantáveis; é pre-ciso, também, ter prudência e tato para conduzir ascoisas a propósito e não comprometer-lhes o êxito pormedidas ou palavras intempestivas; é preciso, enfim,de-votamento, abnegação, e estar pronto para todos ossacrifícios.

"Vês que a tua missão está subordinada a condiçõesque dependem de ti.

Espírito Verdade."NOTA — (É Allan Kardec que assim se exprime) :

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me detratavam na ausência. Disseram que aqueles que ado-tavam o meu partido eram assalariados pormimcom o di-nheiro que eu arrecadava do Espiritismo. Não mais tenhoconhecido o repouso; mais de umavez,sucumbi; sob o ex-cesso do trabalho, tem-se-me alterado a saúde e compro-metido a vida.

"Entretanto, graças àproteção e à assistência dos bonsEspíritos, que sem cessar me têm dado provas manifestas desua solicitude, sou feliz em reconhecer que não tenho expe-rimentado um único instante de desfalecimento nem de de-sânimo, e que tenhoconstantemente prosseguido na minhatarefa com o mesmo ardor, sem me preocupar com amale-volência de que era alvo. Segundo a comunicação do Es-pírito Verdade, eu devia contar com tudo isso, e tudo severificou."

Quando se conhecem todas essas lutas, todas astorpezas de que Allan Kardec foi alvo, quanto ele se

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conhecia pessoalmente o prefeito de polícia de então,encarregou-se de dar os passos para esseíim, e, graçasao ministro do Interior, o generalX., que era favorávelàs novas ideias, a autorização foi obtida em quinze dias,enquanto que pelo processo ordinário teria exigido meses,sem grande probabilidade de êxito.

"A Sociedade foi, então, regularmente constituídae reunia-se todas as terças-feiras, no local que fora alu-gado no Palais-Royal, galeria Valois. Aí ficou duranteum ano, de1.° de abril de 1858 a1.° de abril de 1859. Nãopodendo lá permanecer por mais tempo, reunia-se todas

as sextas-feiras em um dos salões do restauranteDouix,no Palais-Royal, galeriaMontpensier, de 1.° de abril de1859 a 1.° de abril de 1860,época em que se instalouem sede própria, à rua e passagemSanfAna n.° 59."

Depois de haver dado conta das condições em quese formou a Sociedade e da tarefa que teve a desem-penhar, Allan Kardec assim se exprime (Revista Espi-rita, 1859, pág. 169):

"Empreguei em minhas funções, que posso dizer la-boriosas, toda a solicitude e toda a dedicação de que eracapaz; do ponto de vista administrativo, esforcei-mepor manter nas sessões uma ordem rigorosa e por im-primir-lhe um caráter de gravidade, sem o qual o pres-tígio de assembleia séria teria cedo desaparecido. Agora,que a minha tarefa está terminada e que o impulso estádado, devo inteirar-vos da resolução que tomei, de renun-ciar de futuro a toda espécie de função na Sociedade,mesmo a de diretor dos estudos; não ambiciono senãoum título — o de simples membro titular, com que me

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soais, pois que se torna indispensável a iniciativa quaseexclusiva que me tendes deixado. É a esse motivo, meussenhores, que eu devo o ter tantas vezes tomado a pala-vra, lamentando com frequência que os membros emi-nentemente esclarecidos que possuímos nos privassemdas suas luzes. Desde muito tempo alimentava o desejode demitir-me das minhas funções: manifestei-o de modomuito explícito em diversas ocasiões, quer aqui, quer emparticular a muitos dos meus colegas, e especialmente aoSr. Ledoyen.Tê-lo-ia feito mais cedo, se não fora otemor de produzir uma perturbação na Sociedade. Reti-rando-me no meado do ano, poderiam acreditar em umadeserção, e era preciso não dar esse prazer aos nossosadversários. Desempenhei, portanto, a minha tarefa atéao fim; hoje, porém, que esses motivos cessaram, apres-so-me em vos dar parte da minha resolução, para nãoembaraçar a escolha que fareis. É justo que cada umtenha a sua parte nos encargos e nas honras."

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sarcasmos não colocam do seu lado osgracejadores, eque auxiliam mais do que impedem o progresso das

novas crenças, começam a compreender que nada ga-nham com isso e que consomem o seu espírito em puraperda, e assim se calam. Uma frase muito característicaparece ser em toda parte a ordem do dia, e é esta:o Espiritismo está no ar; só por si desenha ela o estadodas coisas. Mas, é sobretudo em Lião que são maisnotáveis os resultados. Os espíritas são, aí, numerososem todas as classes, e na classe operária contam-se porcentenas. A Doutrina Espírita tem exercido sobre os

operários a mais salutar influência, sob o ponto de vistada ordem, da moral e das ideias religiosas;em resumo,a propagação do Espiritismo marcha com a mais anima-dora celeridade."

No decurso dessa viagem,AllanKardec pronunciouum discurso magistral, no banquete realizado a 19 desetembro de 1860, do qual eis aqui algumas passagens,próprias a nos interessar, a nós que aspiramos a substi-tuir dignamente esses trabalhadores da primeira hora:

"A primeira coisa que me impressionou foi o nú-mero de adeptos; eu sabia perfeitamente que Lião oscontava em grande escala, mas estava longe de imaginarque o número fosse tão considerável, porque é por cen-tenas que eles se contam, e, em pouco tempo — eu oespero — , já se não poderão contar mais.

"Se, porém, Lião se distingue pelo número, não ofaz menos pela qualidade, o que ainda vale mais. Portoda parte não encontrei senão espíritas sinceros, com-

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quências. Bem convencidos de que a existência terrestreé uma prova passageira, esforçam-se por aproveitar essescurtos instantes, para marchar na senda do progressoque lhes traçam os Espíritos, empenhando-se em fazero bem e em reprimir as suas más inclinações; as suas

relações são sempre seguras, porque as suas convicçõesos afastam de todo pensamento do mal; a caridade é,em toda ocasião, a regra da sua conduta: são esses osverdadeiros espíritas, ou, melhor, os espiritas-cristãos.

"Pois bem, meus senhores, euvo-lodigo com satisfa-ção: ainda não encontrei, aí, nenhum adepto da primeiracategoria; em parte alguma vi que se ocupassem do Es-piritismo por mera curiosidade, com frívolos intuitos; portoda parte o fim é grave, as intenções são sérias; e, a crerno que me dizem, há muitos da terceira categoria. Honra,pois, aos espíritas lioneses, por terem, assim, entradolargamente nessa senda progressista, sem a qual o Espi-ritismo não teria objetivo. Este exemplo não será per-dido, terá suasconsequências, e não é sem razão — eu

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os dirigem moralmente. Se esses Espíritos não se achamde acordo, a questão está em saber qual é o que merecemaior confiança; será, evidentemente, aquele cuja teorianão pode provocar nenhuma objeção séria, em uma pala-vra, aquele que, em todos os pontos, dá maior númerode provas de superioridade. Se tudo nesse ensino ébom, racional, pouco importa o nome que toma o Espí-rito; e a esse respeito a questão de identidade é inteira-mente secundária. Se, sob um nome respeitável, o ensinopeca pelas qualidades essenciais, podeis imediatamenteconcluir que é um nome apócrifo e que é um Espíritoimpostor ou galhofeiro. Regra geral: o nome nunca éuma garantia; a única, a verdadeira garantia de supe-rioridade é o pensamento e a maneira por que é eleexpresso. Os Espíritos enganadores tudo podem imitar,tudo, exceto o verdadeiro saber e o verdadeiro senti-mento.

"Acontece muitas vezes que, para fazer adotar cer-tas utopias, alguns Espíritoslazem alarde de um falsosaber e pensam impô-las, escolhendo no arsenal daspalavras técnicas tudo o que pode fascinar aquele queé facilmente crédulo. Eles têm, ainda, um meio maiscerto: é afetar as exterioridades da virtude; com o auxí-lio das grandes palavras — caridade, fraternidade, hu-mildade — esperam fazer passar os mais grosseirosabsurdos e é o que acontece muitas vezes, quando senão está precavido. É preciso, pois, evitar o deixar-seseduzir pelas aparências, tanto da parte dosEspíritos,

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amor-próprio ou uma obsessão podem fazer persistirem uma ideia notoriamente falsa e que o bom-senso decada um repele."

Eis os conselhos tão sábios e tão práticos dados poraquele que quiseram fazer passar por um entusiasta,um místico, um alucinado; e essa regra de conduta, esta-belecida no começo, ainda não foi invalidada, nem pelaobservação,nem pelos acontecimentos; é sempre a ve-reda mais segura, mais prudente, a única a seguir poraqueles que se querem ocupar do Espiritismo.

AllanKardectrabalhava, então, em OLivro dos Mé-diuns, que apareceu na primeira quinzena de janeiro de1861,editado pelos Srs. Didier &Cia., livreiros-editores.O mestre expõe a sua razão de ser nos seguintes termos,na Revista Espírita:

"Procuramos neste trabalho, fruto de longa expe-riência e de laboriosos estudos, esclarecer todas as ques-tões que se prendem à prática das manifestações; ele

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amor-próprio ou uma obsessão podem fazer persistirem uma ideia notoriamente falsa e que o bom-senso decada um repele."

Eis os conselhos tão sábios e tão práticos dados poraquele que quiseram fazer passar por um entusiasta,um místico, um alucinado; e essa regra de conduta, esta-belecida no começo, ainda não foi invalidada, nem pelaobservação,nem pelos acontecimentos; é sempre a ve-reda mais segura, mais prudente, a única a seguir poraqueles que se querem ocupar do Espiritismo.

AllanKardectrabalhava, então, em OLivro dos Mé-diuns, que apareceu na primeira quinzena de janeiro de1861,editado pelos Srs. Didier &Cia., livreiros-editores.O mestre expõe a sua razão de ser nos seguintes termos,na Revista Espírita:

"Procuramos neste trabalho, fruto de longa expe-riência e de laboriosos estudos, esclarecer todas as ques-tões que se prendem à prática das manifestações; ele

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mais seguro guia de que nos podemos servir para explo-rar, sem perigo,o terreno da mediunidade.

No ano de 1861,AllanKardec fez uma nova viagemespírita a Sens, Mácon e Lião, e verificou que em nossacidade o Espiritismo atingira a maioridade.

"Com efeito, não é mais por centenas, diz ele, queaí se contam os espíritas, como há um ano; é por milha-

res, ou, para melhor dizer, já se não contam, e pode-secalcular que, seguindo a mesma progressão, dentro deum ano ou dois eles serão mais de trinta mil. O Espi-ritismo, aí, tem feito adeptos em todas as classes, masé sobretudo na classe operária que se tem propagadocom maior rapidez, e isso não é de admirar: sendo essaclasse a que mais sofre, volta-se para o lado que lheoferece maior consolação. Se aqueles que clamam contrao Espiritismo lhe oferecessem outro tanto, essa classe

se voltaria para eles; mas, ao contrário, querem tirar--Ihe exatamente aquilo que a ajuda a carregar o seufardo de miséria. E isto tem sido o meio mais segurode perderem as suas simpatias efazê-laengrossar asnossas fileiras. O que vimos com os nossos própriosolhos é de tal modo característico e encerra ensino tãogrande, que acreditamos dever consagrar aos operáriosa maior parte do nosso relatório.

"No ano passado, só havia um único centro de

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- i "Sem dúvida, muito é para desejar que se multipli-quem os adeptos, mas o que mais vale ainda do que onúmero é a qualidade. Pois bem, declaramo-lo bemalto:não vimos, em parte alguma, reuniões espíritas maisedificantes do que as dos operários lioneses, quanto àordem, ao recolhimento e à atenção que prestam àsinstruções dos seus guias espirituais; há homens, velhos,senhoras, jovens, crianças mesmo, cuja atitude respei-tosa contrasta com a sua idade; jamais uma única crian-ça perturbou por instantes o silêncio das nossas reuniões,muitas vezes longas; pareciam quase tão ávidas quantoseus pais, em recolher as nossas palavras.

"Mas, isto não é tudo: o número das metamorfosesmorais é, entre os operários, quase tão grande quanto odos adeptos: hábitos viciosos reformados, paixões acal-madas, ódios apaziguados, lares tornados tranquilos, emuma palavra, as mais legítimas virtudes cristãs desen-volvidas, e isso pela confiança, de agora em diante inaba-lável, que lhes dão as comunicações espíritas, no futuro

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BIOGRAFIA DEALLANKARDEC

A 14 de outubro do mesmo ano encontramosAllanKardec em Bordéus, onde, como em todas as cidades

por que passava, semeava a boa-nova e fazia germinara fé no futuro.Além das viagens e dos trabalhos de Allan Kardec,

esse ano de 1861 permanecerá memorável nos anais doEspiritismo por um fato de tal modo monstruoso quequase parece incrível. Refiro-me ao auto-de-fé levadoa efeito em Barcelona, e em que foram queimadas pelafogueira dos inquisidores trezentas obras espíritas.

O Sr. Maurício Lachâtre estava nessa época esta-

belecido corno livreiro, em Barcelona, em relações e emcomunhão de ideias com Allan Kardec. Assim, pediu aeste que lhe enviasse certo número de obras espíritas,para as expor à venda e fazer propaganda da nova fi-losofia.

Essas obras, em número de trezentas aproximada-mente, foram expedidas nas condições ordinárias, comuma declaração em ordem do conteúdo das caixas. Àsua chegada à Espanha, foram os direitos da alfândega

cobrados ao destinatário e arrecadados pelos agentes dogoverno espanhol; mas a entrega das caixas não se fez:o bispo de Barcelona, tendo julgado esses livros perni-ciosos à fé católica, fez confiscar a expedição peloSanto--Ofício.

Uma vez que não queriam entregar essas obras aodestinatário, Allan Kardec reclamou a sua devolução;mas a sua reclamação foi de nulo efeito, e o bispo deBarcelona, erigindo-se em policiador da França, funda-

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Renovando os fastos e as fogueiras da Idade Média,o bispo de Barcelona fez queimar em praça pública, pelamão do carrasco, as obras incriminadas.

Eis aqui, a título de documento histórico, o pro-cesso verbal dessa infâmia clerical:

"Aos nove dias de outubro de mil oitocentos e ses-senta e um, às dez horas e meia da manhã, na esplanadada cidade de Barcelona, no lugar em que são executadosos criminosos condenados à pena última, por ordem dobispo desta cidade foram queimados trezentos volumes ebrochuras sobre o Espiritismo, a saber:

"A Revista Espirita,diretorAllanKardec;"A Revista Espiritualista,diretor Piérart;"O Livro dosEspíritos,por Allan Kardec;"O Livro dosMédiuns,pelo mesmo;"O que é o Espiritismo,pelo mesmo;"Fragmento de Sonata,ditado pelo Espírito de Mozart;"Carta de um católicosobreo Espiritismo,pelo Dou-

tor Grand;

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raram cobertos pelos apupos e as maldições dos nume-rosos assistentes, que gritavam: Abaixo a Inquisição!

"Em seguida muitas pessoas se acercaram da fo-gueira e apanharam cinzas."Seria diminuir o horror de tais atos, acompanhá-los

com a narrativa dos comentários; constatemos somenteque ao clarão dessa fogueira o Espiritismo tomou umincremento inesperado em toda a Espanha e, como ohaviam os Espíritos previsto, conquistou, aí, um númeroincalculável de adeptos. Só podemos, pois, comoo fezAllan Kardec,alegrar-nos com o grande reclamo queesse ato odioso operou em íavor do Espiritismo. A pro-pósito, porém, da propaganda que nós mesmos devemosfazer da nossa filosofia, nunca deveremos esquecer estesconselhos do Mestre(Revista Espírita, 1863, pág. 367):

"O Espiritismo se dirige aos que não crêem ou queduvidam, e não aos que têm fé e a quem essa fé ésuficiente; ele não diz a ninguém que renuncie às suascrenças para adotar as nossas, e nistoé consequentecom os princípios de tolerância e de liberdade de cons-ciência que professa. Por esse motivo não poderíamosaprovar as tentativas feitas por certas pessoas paraconverter às nossas ideias o clero, de qualquer comunhãoque seja. Repetiremos, pois, a todos os espíritas: acolheicom solicitude os homens de boa-vontade; oferecei a luzaos que a procuram, porque com os que crêem não sereisbem sucedidos; não façais violência à fé de ninguém,muito mais quanto ao clero que aos seculares, porquesemeareis em campos áridos; ponde a luz em evidência,

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a pequenina e excelente brochura de propaganda: OEs- piritismo em sua mais simples expressão."O fim destapublicação, diz AllanKardec, é apresentar, em quadromuito resumido, um histórico do Espiritismo e uma ideiasuficiente da doutrina dos Espíritos, para permitir sercompreendido o seu fim moral e filosófico. Pela clarezae simplicidade do estilo, procuramos pô-lo ao alcancede todas as inteligências. Contamos com o zelo de todosos verdadeiros espíritas, para que lhe auxiliem a propa-gação." — Este apelo foi ouvido, porque a pequena bro-chura se espalhou em profusão, devendo muitos a esseexcelente trabalho o terem compreendido o fim e o al-

cance do Espiritismo.Tendo os nossos predecessores no Espiritismo trans-mitido a Allan Kardec, por ocasião do Ano-Novo, a ex-pressão dos seus sentimentos de gratidão, eis aqui comorespondeu o Mestre a esse testemunho de simpatia:

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vida, com uma rapidez maravilhosa; considero um grandefavor do céu ser testemunha do bem que ela já produz."Esta certeza, de que recebo diariamente os maistocantes testemunhos, me paga com usura todos os meussofrimentos, todas as minhas fadigas; não peço a Deussenão uma graça, e é a de dar-me a força física neces-sária para ir até ao fim da minha tarefa, que longe seencontra de estar concluída; mas, como quer que suceda,possuirei sempre a maior consolação, pela certeza de quea semente das ideias novas, espalhada agora por todaparte, é imperecível; mais feliz que muitos outros, quenão trabalharam senão para o futuro, é-me permitidocontemplar os primeiros frutos.

"Se alguma coisa lamento, é que a exiguidade dosmeus recursos pessoais me não permita pôr em execuçãoos planos que concebi para um avanço ainda mais rápi-do; se Deus, porém, em sua sabedoria, entendeu disporde modo diferente, legarei esses planos aos nossos suces-sores, que, sem dúvida, serão mais felizes. A despeitoda escassez dos recursos materiais, o movimento que seopera na opinião ultrapassou toda a expectativa; crede,meus irmãos, que nisso o vosso exemplo não terá sidosem influência. Recebei, portanto, as nossas felicitaçõespela maneira por que sabeis compreender e praticar aDoutrina.

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doutrina que conduz ao reino da caridade efetiva nãofosse combatida por todos os que vivem no egoísmo? Esabeis que são eles numerosos na Terra!

"No começo contaram sepultá-la com a zombaria;hoje vêem que essa arma é impotente e que, sob o fogodos sarcasmos, ela prosseguiu o seu caminho sem tro-peçar. Não acrediteis que se confessem vencidos; não,o interesse material é tenaz. Reconhecendo queé uma

potência com que é necessário dehoje em diante con-tar, vão dirigir-lhe assaltos mais sérios, mas que sóservirão para melhor atestar a fraqueza deles. Uns aatacarão diretamente por palavras e atos, e a persegui-rão até na pessoa dos seus adeptos, que eles se esfor-çarão por desalentar a poder de embaraços, enquantoque outros, secretamente e por caminhos disfarçados,procurarão miná-la surdamente.

"Ficai prevenidos de que a luta não está termi-nada; fui avisado de que eles vão tentar um supremoesforço. Não tenhais, porém, receio: o penhor da vitóriaestá nesta divisa, que é a de todos os verdadeiros espí-ritas: Fora da caridadenão há salvação. Arvorai-a bemalto, porque ela é a cabeça de Medusa para os egoístas.

"A tática, posta já em prática pelos inimigos dos

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a supremacia, egoístas que não pensam senão em si, acizânia não pode tardar a introduzir-se, e com ela a dis-solução. É o que desejariam os nossos inimigos, e é oque eles procuram fazer.

"Se um grupo quer estar em condições de ordem,de tranquilidade e de estabilidade, é preciso que nelereine o sentimento fraternal. Todo grupo ou sociedadeque se formar, sem ter caridade efetiva por base, nãotem vitalidade; enquanto que aqueles que forem funda-dos de acordo com o verdadeiro espírito da doutrinaolhar-se-ão como membros de uma mesma família que,não sendo possível habitarem todos sob o mesmo teto,moram em lugares diferentes. A rivalidade entre elesseria um contra-senso; ela não poderia existir onde reinaa verdadeira caridade, porque a caridade não se podeentender de duas maneiras.

"Reconhecei, pois, o verdadeiro espírita na práticada caridade por pensamentos, palavras e obras, e per-suadi-vos de quem quer que nutra em sua alma senti-mentos de animosidade, de rancor, de ódio, deinvejaoude ciúme, mente a si próprio se tem a pretensão decompreender e praticar o Espiritismo.

"O egoísmo e o orgulho matam as sociedades parti-culares, como matam os povos e a sociedade emgeral..."

Tudo mereceria citação nestes conselhos, tão justosquão práticos; mas é preciso que nos limitemos, emrazão do tempo de que podemos dispor.

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do mais cordial acolhimento e se sentiu feliz por verificaros imensos progressos do Espiritismo.A respeito das viagens deAllanKardec, como certas

influências hostis houvessem espalhado o boato de queeram feitas a expensas da Sociedade Parisiense de Es-tudos Espiritas, sobre cujo orçamento igualmente ele

sacava de antemão todos os seus gastos de correspon-dência e de manutenção, o Mestre rebateu, assim, essafalsidade:

"Muitas pessoas, sobretudo na província, pensaramque as despesas dessas viagens oneravam a Sociedadede Paris; tivemos que desfazer esse erro quando se ofe-receu a ocasião; aos que ainda o pudessem partilhar,recordaremos o que afirmamoshoutra circunstância (nú-mero de junho de 1862, página 167,Revista Espírita),que a Sociedade se limita a prover às suas despesascorrentes e não possui reservas; para que pudesse acumu-lar capital, ser-lhe-ia preciso que tivesse em mira o nú-mero; e isto é o que ela não faz nem quer fazer, porqueo seu fim não é a especulação e porque o número nada

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Em abril de 1864 publicou aImitação do Evange-lho segundo o Espiritismo,com a explicação das máxi-mas morais do Cristo, sua aplicaçãoe sua concordânciacom o Espiritismo. O título dessa obra foi depois modi-ficado,e é hoje OEvangelho segundo o Espiritismo.

Aproveitando-se da época das férias,Allan Kardecfez em setembro de 1864 uma viagem a Antuérpia e aBruxelas. Expondo aos espíritas belgas o seu modo dever acerca dos grupos e sociedades espíritas, recorda oque já havia dito em Lião, em 1861: "Vale mais, por-tanto, haver em uma cidade cem grupos de dez a vinteadeptos, em que nenhum se arrogue a supremacia sobreos outros, do que uma única sociedade que a todos reu-nisse. Essef racionamento em nada pode prejudicar aunidade dos princípios, desde que a bandeira é uma sóe que todos se dirigem para um mesmo fim."

As sociedades numerosas têm sua razão de ser sobo ponto de vista da propaganda; mas, quanto aos estu-dos sérios e continuados, é preferível constituírem-segrupos íntimos.

No dia1.° de agosto de 1865, Allan Kardec fez apa-recer uma nova obra — OCéu e o Inferno ou a Justiça

Divina segundo o Espiritismo,na qual são mencionadosnumerosos exemplos da situação dos Espíritos, no mundoespiritual e na Terra, e as razões que motivaram essasituação.

Os admiráveis êxitos do Espiritismo, seu desenvol-vimento quase incrível, criaram-lhe inúmeros inimigose, à proporção que ele se foi engrandecendo, aumen-tou, também, a tarefa de Allan Kardec. O Mestre pos-suía uma vontade de ferro, um poder de combatividade

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cias que lhe eram dirigidas; atendia à direção daRevistaEspírita e da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas,à organização do Espiritismo e ao preparo das suasobras.

Esse excesso físico e intelectual esgotou-lhe o orga-nismo, e repetidas vezes os Espíritos precisam chamá-lo

à ordem, a firn de obrigá-lo a poupar a saúde. Ele,porém, sabe que não deve durar mais que uns dez anosainda: numerosas comunicações o preveniram desse ter-mo e lhe anunciaram mesmo que a sua tarefa não seriaconcluída senão em nova existência, que sucederia abreve trecho à sua próxima desencarnação; por isso elenão quer perder ocasião alguma de dar ao Espiritismotudo o que pode, em força e vitalidade.Em 1867 faz uma curta viagem a Bordéus, Tourse Orleans; em seguida põe novamente mãos à obra, parapublicar,em janeiro de 1868,A Génese, os milagres eas prediçõessegundoo Espiritismo.É das mais impor-tantes esta obra, porque constitui, sob o ponto de vista

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asilo a que se pudessem recolher na velhice os defen-sores indigentes do Espiritismo.

Em 1869 a Sociedade Espírita era reconstituída etornada sociedade anónima, com o capital de 40.000francos, dividido em quarenta ações, para aexploraçãoda livraria, da Revista Espírita e das obras de AllanKardec. A nova sociedade devia instalar-se no dia1.°deabril, à rua deLillen.° 7.

Allan Kardec, cujo contrato de arrendamento napassagem SanfAna estava quase a terminar, contava

retirar-se para a Vila Ségur, a fim de trabalhar maisativamente nas obras que lhe restava fazer e cujoplano e documentos se achavam já reunidos. Estava,pois, em todos os preparativos de mudança de domi-cílio, quando a 31 de março a doença de coração que ominava surdamente pôs termo à sua robusta constitui-ção e, como um raio, o arrebatou à afeição dos seusdiscípulos. Essa perda foi imensa para o Espiritismo,que via desaparecer o seu fundador e mais poderoso

propagandista, e lançou em profunda consternação todosos que o haviam conhecido e amado.Hippolyte-Léon-DenizardRivail — Allan Kardec —

faleceu em Paris, rua e passagem SanfAna, 59,2. a cir-cunscrição emairie de IaBanque, em 31 de março de 1869,na idade de 65 anos, sucumbindo da ruptura de um aneu-risma.

Unânimes sentimentos acolheram a dolorosa notícia,e numerosíssima concorrência acompanhou ao Père La-

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no movimento contemporâneo, mas ainda, e sobretudo,um exame da situação das ciências físicas, no pontode vista do mundo invisível, das forças naturais desco-nhecidas, da existência da alma e da sua indestrutibili-dade. Em seguida, tomou a palavra o Sr. AlexandreDelanne, em nome dos espíritas dos centros afastados; e,depois, o Sr. E. Muller, em nome da família e dos seusamigos, dirigiu ao morto querido os últimos adeuses.

A senhora AllanKardec tinha 74 anos por ocasiãoda morte de seu esposo. Sobreviveu-lhe até 1883, anoem que, a 21 dejaneiro, se extinguiu, na idade de 89anos, sem herdeiros diretos.

Erraria quem acreditasse que, em virtude dos seustrabalhos, Allan Kardec devia ser uma personagem sem-pre fria e austera. Não era, entretanto, assim. Essegrave filósofo, depois de haver discutido pontos maisdifíceis da psicologia e da metafísica transcendental,mostrava-se expansivo, esforçando-se por distrair osconvidados que ele frequentemente recebia na Vila Sé-

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"Resignados pela fé em uma vida melhor, e pelaconvicção da imortalidade da alma,inúmerosdiscípulostinham vindo lançar um derradeiro olhar àqueles lábiosdescorados que, ainda na véspera, lhes falavam a lin-guagem da Terra. Mas eles recebiam, já a consolaçãode além-túmulo:o Espirito de Allan Kardec veiodizer--Ihesquais haviam sido as suas comoções, quais as suasprimeiras impressões, quais, dos que o haviam precedidono além-túmulo, tinham vindo ajudar-lhe a alma a des-prender-se da matéria. Se "o estilo é o homem", aque-les que conheceram Allan Kardec em vida não podemdeixar de ficar emocionadospela autenticidade dessacomunicação espírita.

"A morte de Allan Kardec é notável por uma coinci-dência estranha. A Sociedade fundada por esse grandevulgarizadordo Espiritismo acabava de desaparecer.Abandonado o local, retirados os móveis, nada maisrestava de um passado que devia renascer sobre novasbases. No fim da últimasessão, o presidente fizera assuas despedidas; preenchida a sua missão, retirava-seda luta cotidiana, para se consagrar inteiramente aoestudo da filosofia espiritualista. Outros, mais jovens— intrépidos — deveriam continuar a obra e, fortes porsua virilidade, impor a verdade por sua convicção.

"Para que referir os detalhes da morte? Que im-porta o modo por que se partiu o instrumento, e por queconsagrar uma linha a esses fragmentos de ora em dian-te mergulhados noturbilhão imenso das moléculas? AllanKardec morreu na sua hora própria. Com ele terminou

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muito tempo vulgarizado pelos que crêem e pelos quereceiam. É difícil praticar o bem sem chocar os inte-resses estabelecidos. O Espiritismo destrói muitos abu-sos, reanima muitas consciências doloridas, dando-lhesa certeza da prova' e a consolação do futuro.

"Os espíritas choram hoje o amigo que os deixa,porque o nosso entendimento, por assim dizer, material,não se pode submeter a essa ideia detransição; pago,porém, o primeiro tributo a essa inferioridade do nossoorganismo, o pensador ergue a cabeça e através dessemundo invisível, que ele sente existir além do túmulo,estende a mão ao amigo, quejá não existe, convencidode que o seu Espírito nos protege sempre."O presidente da Sociedade Espírita de Paris estámorto; mas o número de adeptos cresce todos os dias,e os corajosos, os quais pelo respeito ao Mestre se dei-xavam ficar no segundo plano, não hesitarão em se evi-denciarem, por bem da grande causa.

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dade à memória do Mestre e conservam preciosamenteno coração o culto da saudade.

E já que um sentimento análogo nos reúne hoje,repitamos bem alto, minhas senhoras, meus senhores:Honra! Honra e glória aAllanKardec! (* )

Henri Sausse.

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Retificaressas ideias é prevenir as objecoes;tal é ofim deste pequeno trabalho.

No terceiro capítulo, publicamos um resumo ãe "O Livro dos Espíritos", com a solução, pela Doutrina Espí-rita, de certo número de problemas do mais alto interesse,de ordem psicológica, moral e filosófica, que diariamentesão propostos, e aos quais nenhuma filosofia deu aindaresposta satisfatória.

Procurem resolvê-los por qualquer outra teoria, sem achave que nos fornece o Espiritismo; comparem suasrespostas com as dadas por este, e digam quais são asmais lógicas, quais as que melhor satisfazemà razão.

Estes resumos não somente são úteis aos principian-tes, que neles poderão, em pouco tempo e com pouca des-

pesa, beber as noções mais essenciais da Doutrina Espí-rita, senão, também, aos adeptos, pois lhes fornecem osmeios para responderem às primeiras óbjeçõesque nãodeixarão de lhes apresentar, e, além disso, por encon-trarem reunidos, em quadro restrito e sob um mesmo

ponto de vista, os princípios que devem sempre estar presentes à sua memória.

Para responder,desde já e sumariamente, à pergunta formulada no titulo deste opúsculo, diremos que:

O ESPIRITISMOÊ, AO MESMO TEMPO, UMA CIÊN-CIA DE OBSERVAÇÃO E UMA DOUTRINA FILOSÓFICA.COMO CIÊNCIA PRATICA ELE CONSISTE NAS RELA-

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O que é o Espiritismo

CAPITULO I

Pequena conferência espírita^RIMEIRO DIÁLOGO

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V. — Entretanto, se conseguísseis convencer-me, co-nhecido que sou como antagonista das vossas ideias, istoseria um milagre eminentemente favorável à causa quedefendeis.

A. K.— Lamento-o, caro senhor, porém não tenhoo dom de fazer milagres. Julgais que uma ou duas sessõesbastariam para adquirirdes convicção?

Seria, realmente, um verdadeiroprodígio; eu preciseimais de um ano de trabalho para ficarconvencido;o queprova que não cheguei a esse estado inconsideradamente.

Além disso, não realizo sessões públicas e parece-meque vos enganastes sobre o fim das nossas reuniões,visto não fazermos experiências com o fito de satisfazerà curiosidade de ninguém.

V. — Não procurais, pois, fazer prosélitos?

A. K.— Para que buscarmos fazer-vos prosélito,quando não o quereis ser?

Não pretendo forçar convicção alguma. Quando en-contro pessoas que sinceramente desejam instruir-se edão-me a honra de pedir-me esclarecimentos, folgo ecumpro um dever respondendo-lhes nos limites dos meusconhecimentos; quanto aos antagonistas, porém, que,como vós, têm convicções arraigadas, não tento um passopara delas arredá-los, atento a que é grande o número dosque se mostram bem dispostos, para que possamos perder

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prometeis-me não ver ofensa alguma nas minhas pala-vras? São as minhas ideias sobre a coisa em si e nãosobre a pessoa a quem me dirijo; posso respeitar apessoa, sem participar de suas opiniões.

A. K. — O Espiritismo me tem ensinado a despre-zar essas mesquinhas suscetibilidades doamor-próprio,e a me não ofender compalavras. Se as vossas expres-sões saírem dos limites da urbanidade e das conveniên-cias, apenas concluirei que sois um homemmal-educado,mas não irei além.

Quanto a mim,antes quero que os outros fiquemcom os defeitos, do que compartilhar deles.Vedes, só por isso, que o Espiritismo já serve paraalguma coisa.

Já vos disse, senhor, não tenho a pretensão de vosfazer adotar a minha opinião;respeito a vossa, se ésincera, como desejo que respeiteis a minha.

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conta entre seus adeptos sábios de toda ordem, que sepropaga de preferência nas classes mais esclarecidas, émania singular, que merece examinada.

V. — Tenho minhas ideias a respeito, é certo, porémelas não se acham tão absolutamente firmadas, que nãoconsinta em sacrificá-las à evidência.

Disse-vos que teríeis certo interesse em me convencer.Confesso-vos que tenciono publicar um livro em que

me proponho demonstrarex 'professo (sic) a minhaopinião sobre o que considero umerro; e como esse livrodeve produzir efeito, dando um golpe no Espiritismo, eudeixaria de publicá-lo, caso ficasse convencido da reali-dade da vossa doutrina.

A. K.— Eu sentiria que ficásseis privado do quevos pode proporcionar um livro que deve produzir tantoefeito; além disso, não tenho interesse algum em impedira suapublicação:ao contrário, desejo-lhe grande circula-

ção, porque assim ele nos servirá de prospecto e anúncio.A nossa atenção é sempre chamada sobre aquilo quevemos atacado; há muita gente que quer ver os prós e oscontras, e a crítica faz aparecer a verdade, mesmo aosolhos daqueles que não a procuravam aí; é assim quemuitas vezes, sem querer, se faz reclamo do que se quercombater.

A questão dos Espíritos é, por outro lado, tão pal-pitante de interesse, choca a tal ponto a curiosidade, que

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excluísse do número das grandes obras; quando, porém,uma coisa é má, não há elogio que a torne boa.Se o Espiritismo é uma falsidade,ele cairá por si

mesmo; se, porém, é uma verdade, mão hádiatribe quepossafazerdele uma mentira.

Ao nosso modo de ver, vosso livro não será maisque uma apreciaçãopessoal;a verdadeira opiniãopúblicadecidirá da justeza dos vossos conceitos.

Procurarão examinar. Se mais tarde reconheceremque vos enganastes, vosso livro se tornará ridículo, comoos que, não há muito, foram publicados contra as teoriasda circulação do sangue, da vacina, etc., etc.

Esquecia-me, porém, que íeis tratar a questãoex professo, o que equivale a dizer que a estudastes sobtodas as suas faces; que vistes tudo o que se podever,lestes tudo o que sobre a matéria se tem escrito, anali-sastes e comparastes as diversas opiniões; que vos achas-tes nas melhores condições de observação pessoal; que

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Não. Pois bem: o vosso juízo acerca do Espiritismo,que aliás não conheceis, não pode ter maisvalor que oque, nas condições acima, emitísseis sobre a aludida má-quina. A cada passo sereis apanhado em flagrante delitode ignorância, porque aqueles que têm estudado a ma-téria verão logo que adesconheceis; donde concluirãoque não sois um homem sério ou que agis demá-fé;expondo-vos, portanto, a receber, quer num, quer noutrocaso, desmentido pouco lisonjeiro ao vossoamor-próprio.

V. — É precisamente para evitar esse perigo quevim pedir-vos permissão para assistir a algumas expe-riências.

A. K.— E julgais que isto vos baste para poder,ex professo, falar de Espiritismo?

Como podereis compreender essas experiências e,ainda mais, julgá-las, quando não estudastes os princí-pios em que elas se baseiam?

Como apreciaríeis o resultado,satisfatório ou não,de ensaios metalúrgicos, por exemplo, não conhecendo afundo a metalurgia?

Permiti-me dizer-vos, senhor, que vosso projeto éabsolutamente a mesma coisa que, não tendo estudado aMatemática, nem a Astronomia, vos apresentásseis a umdos membros do Observatório, dizendo-lhe:

"Senhor, quero escrever um livro sobre Astronomia

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livro, já o condena em pensamento, o exame não podeser imparcial.Tal o caso da maioria dos que têm falado contra o

Espiritismo. Apenas sobre o nome formaram uma opi-nião, fazendo qual juiz que proferisse uma sentença, semantes examinar as peças do processo.

A consequência foi que seu julgamento feriu emfalso, e que, em vez de persuadir, ocasionaram riso.A maior parte dos que seriamente têm estudado a

questão, mudou de ideia, e mais de um adversário setem tornado adepto do Espiritismo, quando reconhece queo seu objetivoé muito diverso daquele que supunha.

V. — Falais do exame dos livros em geral; acredi-tais que seja materialmente possível a um jornalista lere estudar todos os que lhe passam pelas mãos, sobretudoquando se ocupam com teorias novas, que lhe seria pre-ciso aprofundar e verificar?

Seria o mesmo que exigir de um impressor que ele

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ao presente não se tinha ainda visto charlatães desin-teressados.Suponhamos que um gaiato de mau gosto tenha que-rido uma vez divertir-seassim; será crível que as outraspessoas presentes pactuassem com ele? Demais, com quefim se fariam elas cúmplices de umamistificação? Direisque com ofim de recrear asociedade.. .

Concordo em que uma vez se prestassem a tal brin-quedo; porém, quando esse brinquedo dura meses e anos,

julgo que o mistificado é o próprio mistificador. Nãoé provável que, sópelo gosto de fazer que creiam emuma coisa que ele sabe ser falsa, alguém vá passar horasinteiras, imóvel, agarrado a uma mesa. O gosto nãoequivaleria à pena.

Antes de julgar isso uma fraude, é preciso indagarque interesse havia em enganar; ora, não deixareis deconvir que há pessoas que se não coadunam com a maisleve suspeita deembuste; pessoas cujo caráter já é umagarantia de probidade.Coisa muito diversa seria se se tratasse de uma es-peculação, porque a tentação do ganho é máconselheira;mas, admitindo mesmo que, neste último caso, ficassebem comprovado um manejo fraudulento, isso em nadaofenderia a realidade do princípio, porque de tudo sepode abusar.

Por vender-se vinho falsificado, não se deve concluir

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de vida, em instrumento de adivinhação ou de investiga-ções fúteis.

Desde que o Espiritismo mesmo traça os limites emque se encerra, define o que pode ou não dizer oufazer,o que está ou não em suas atribuições, o que aceita e o

que repudia, toda a falta recai sobre aqueles que, nãose dando ao trabalho de estudá-lo, o julgam pelas apa-rências e que, por terem encontrado saltimbancos ador-nando-se sob o nome deespíritas, para chamar concor-rência, dizem comgravidade: eis o que é o Espiritismo.

Sobre quem, em definitiva, cairá oridículo?Serásobre o saltimbanco que usa do seuofício?Será sobre

o Espiritismo,cuja doutrina escrita desmente tais asser-ções? ou, antes, sobre os críticos que falam do que nãosabem ou de, cientemente, alterarem a verdade?

Aqueles que atribuem ao Espiritismo o que é con-trário à sua mesma ciência,fazem-nopor ignorância oumá intenção; no primeiro caso há leviandade, no segun-do, má-fé.E, neste último caso, eles se colocam na po-

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deduzir deles as consequências boas ou más que lhesaprouver, porém a consciência impõe ao crítico a obri-gação de não dizer ocontrário do que ele sabe queé;ora, para isso, a primeira condiçãoé não falar do quenão conhece.

V. — Voltemos, por favor, às mesas que se moveme falam; não será possível que elas sejam preparadascom algum artifício?

A. K.— É sempre a mesma questão deboa-fé,aque já respondi.Quando a fraude for provada, euvo-lareconhecerei;

se descobrirdes fatos demonstrados de embuste,charla-tanismo, especulação ou abuso de confiança, fustigai-ose eu desde já vos declaro que não irei defendê-los, porqueo Espiritismo sério é o primeiro a repudiá-los; e quemassinalar tais abusos o auxilia no trabalho de preveni-los

e lhe presta importante serviço. Porém, generalizar essasacusações, lançar sobre elevado número de pessoas hon-radas a reprovação que só cabe a alguns indivíduos isola-dos, é um abuso de outro género, porque é uma calúnia.

Admitindo, como dissestes, que as mesas estivessempreparadas, era preciso que o mecanismo empregado fossebem engenhoso parafazê-las produzir movimentos e sonstão variados. Ora, como não é ainda conhecido o nomedo hábil artista que os fabrica? Entretanto, ele deveria

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um músculo da perna, produzir um ruído semelhante aoque atribuís à mesa; donde concluiu que os médiuns sedivertem à custa da credulidade dos assistentes.

A. K.— Se é um estalido do músculo, não é então

a mesa que está preparada. Uma vez que cada qualexplica a seu modo essa pretendida fraude, fica reconhe-cido que a verdadeira causa não é sabida.

Respeito a ciência desse sábio cirurgião, e somenteacho que se apresentam algumas dificuldades na apli-cação, às mesas falantes, da teoria indicada.

A primeira é que é singular que essa faculdade, atéo presente excepcional e olhada como um caso patológico,se tenha tornadocomum;a segunda, que é preciso ter-serobustíssima vontade de mistificar, para fazer estalar omúsculo durante duas ou três horas consecutivas, quandodisso não resultea quem assim procede senão fadiga edor; a terceira, que eu não compreendo bem como pode

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Estudou ele, ao menos, o fenómeno datiptologia emtodas as suas fases? Verificou, por meio desse estalidomuscular, se podia produzir todos os efeitos tiptológicos?Não; porque, do contrário, ele ficariaconvencidoda in-suficiência do seu processo; apesar disso, julgou-se nocaso de proclamar a sua descoberta, em pleno Instituto.

Não será esse juízo assaz comprometedor para umsábio? Quem pensa hoje nessa opinião?

Confesso-vos que, se me tivesse de sujeitar a umaoperação cirúrgica, hesitaria muito em confiar-me a essemédico, porque recearia que ele não julgasse o meu malcom mais perspicácia.

Já que esse juízo é uma das autoridades em quepareceis querer apoiar-vos para esmagar o Espiritismo,fico completamenteinteirado da força dosoutrosargu-mentos que quereisvalidar,a menos que os não vadesbeber em fontes mais autênticas.

V. — Entretanto, bem vedes que já passou a modadas mesas girantes que durantecerto tempo fizeram

furor; hoje já ninguém se ocupa com elas.Por que se dá isso, quando é uma coisa séria? A. K.•— Porque das mesas girantes saiu uma coisa

ainda mais séria: uma ciência completa, uma perfeitadoutrina filosófica, domáximointeresse para os homensque refletem.Quandoestes nada mais tiveram a apren-der no giro das mesas, não mais com elas se ocuparam.

Para as pessoas fúteis, que nada querem aprofun-

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sentam com pensamentos hostis; como não brincam, nãose prestam a servir de brinquedo para os outros; eu per-tenço a esse número.

V. — No entanto, somente a experiência pode con-vencer, mesmo aquele que, em começo, seja movido pelacuriosidade.Se só trabalhais na presença de pessoas convictas,deixai que vos diga, ensinais a quem já sabe.

A. K.— Uma coisa é estar convencido e outra estardisposto a convencer-se; é aos desta última classe queme dirijo, e não aos que julgam humilhação vir escutaro que eles chamam ilusões. Com estes eu não me ocupo,absolutamente.

Quanto aos que manifestam sincero desejo de escla-recer-se, o melhor modo que têm, para prová-lo, é mos-trar perseverança; são reconhecidos por outros sinais que

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V. — Enfim, tudo deve ter começo. O aprendiz, quenada sabe, que nada viu ainda, mas que deseja esclare-

cer-se, como poderáfazê-lo,quando não lhe facultais osmeios para isso?

A. K.— Eu faço grande distinção entre o incré-dulo por ignorância e o incrédulo por sistema; quandodescubro alguém com disposições favoráveis, nada mecusta esclarecê-lo; há, porém, pessoas em quem a von-tade de instruir-se não é senão aparente; com estasperde-se o tempo; porque, se elas não encontram logoo que parecem buscar, e que talvez as incomodasse, seaparecesse, o pouco que vêemnão é suficiente para lhesdestruir as prevenções; julgam mal os resultados obtidose os transformam em objeto de zombaria, pelo que nãohá utilidade em lhos fornecer.

A quem deseja instruir-se,direi: "Não se pode fazerum curso de Espiritismo experimental como se faz um deFísica ou de Química, atento que nunca se é senhor deproduzir os fenómenos espíritas à vontade, e que as inte-ligências desses agentes fazem, muitas vezes, frustra-rem-se todas as nossas previsões. Aqueles que aciden-talmente poderíeis ver, não apresentando nexo algum,nem ligação necessária, seriam pouco inteligíveis para vós.

Instruí-vos primeiramente pela teoria, lede e medi-tai as obras que tratam dessa ciência; nelas aprendereisos princípios, encontrareis a descrição de todos os fenó-menos compreendereis a possibilidade deles pela expli

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Eis, meu caro senhor, o que aconselho a todos quedizem querer instruir-se, e, pela resposta que dão, é fácilconhecer se neles há alguma coisa mais quecuriosidade!

SEGUNDO DIÁLOGO

O CÉPTICO

V. — Compreendo, cavalheiro, a utilidade do estudopreliminar de que acabais defalar.

Como predisposição pessoal, dir-vos-ei que não soua favor nem contra o Espiritismo, mas esse assunto meexcita o interesse no mais alto grau.

Entre as pessoas de meu conhecimento, há partidá-rios e adversários dele; a seu respeito tenho ouvidoargumentos muito contraditórios, e propunha-me subme-ter-vos algumas das objeções que foram feitas em minhapresença e que me parecem de certo valor, paramimao

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à mente; essa leitura tem a dupla vantagem de evitarrepetições inúteis e de provar um desejo sincero deinstruir-se.

Se, depois dela, ainda existirem dúvidas ou pontosobscuros, o esclarecimento não oferecerá mais dificulda-de, porque já se possui um ponto de apoio e não se temnecessidade de perder tempo em rever os princípios maiselementares da Doutrina.

Se o permitirdes,limitar-nos-emos,por ora, a algu-mas questões genéricas.

V. — Seja; tende a bondade de chamar-me à ordem,sempre que eu dela me afaste.

Espiritismo e Espiritualismo

Pergunto-vos, em primeiro lugar, qual a necessidadeda criação de novostermos: espíritae espiritismo, parasubstituir: espiritualista e espiritualismo, que são dalíngua vulgar e por todoscompreendidos?

Já ouvi alguém classificar tais termos debarba-rismos.

A. K. — De há muito tern já a palavraespiritua-lista uma acepção bem determinada; é a Academia queno-la dá: Espiritualista, aquele ou >aquelapessoa cujadoutrina é oposta ao materialismo.

Todas as religiões são necessariamente fundadassobre o espiritualismo Aquele que crê que em nós existe

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título, bem poderia nada dizer nela sobre os Espíritos,e até combatê-los.Já há algum tempo, li num jornal, a propósito de

uma obra filosófica, um artigo em que se dizia tê-la oautor escrito do ponto de vista espiritualista; ora, ospartidários dos Espíritos ficariam singularmente desa-pontados se, confiantes nessa indicação, acreditassem en-contrar alguma concordância entre o que ela ensina e asideias por eles admitidas.

Se adotei os termosespírita,espiritismo, é porqueeles exprimem, sem equívoco, as ideias relativas aosEspíritos.

Todo espíritaé necessariamenteespiritualista,masnem todos osespiritualistassão espíritas.

Ainda que os Espíritos fossem uma quimera, haviautilidade em adotar termos especiais para designar o quea eles se refere; porque as falsas ideias, como as verda-deiras, devem ser expressas por termos próprios.

Além disso, essas palavras não são mais bárbaras

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torais que fulminam oEspiritismoe os espíritas viriamproduzir enorme confusão,se fossem dirigidos aoespi-ritualismo e aos espiritualistas.

Bárbaros ou não, esses termos estão hoje incluídosna língua usual e em todas as línguas da Europa; sãoos únicos empregados em todas as publicações, favorá-veis ou contrárias, feitas em todos os países. Eles ocupamo vértice da coluna da nomenclatura da nova ciência;para exprimir os fenómenos especiais dessa ciência, tí-nhamos necessidade de termos especiais; o Espiritismohoje possui a suanomenclatura,tal como a Química.

As palavrasespiritualismoe espiritualista, aplicadasàs manifestações dos Espíritos, não são hoje mais em-pregadas senãopelosadeptos da escola americana.

Dissidências

V. — Essa diversidade, na crença do a que chamaisuma ciência, é, parece-me, a sua condenação.

Se ela se baseasse em fatospositivos,não deveriaser a mesma na América e na Europa?

A. K.— A isso responderei, primeiramente, que taldivergência só existe na forma, sem afetar o fundo; real-mente, ela apenas se limita ao modo de encarar algunspontos da doutrina, e não constitui um antagonismoradical nos princípios, como afirmam os nossos adversá-rios, sem ter estudado a questão.

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O QUE fi O ESPIRITISMO 69

Em Medicina não há a Escola de Paris e a Escolade Montpellier?Cada descoberta, em qualquer ciência, não tem pro-

duzido cismas entre os que querem adiantar-se e os quedesejam estacionar?

Referindo-nos ao Espiritismo, não será natural que,ao surgirem os primeiros fenómenos, quando eram igno-radas as leis que os regem, cada pessoa tivesse um sis-tema e houvesse encarado os fatos de um modo par-ticular ?

Onde estão hoje esses sistemasprimitivos?Caíram todos ante uma observação mais completa.Bastaram apenas alguns anos para que ficasse esta-belecida a unidade grandiosa que hoje prevalece na Dou-

trina, e que prende a imensa maioria dos adeptos, comexceçãode algumas individualidades que, nesta como emtodas as coisas, se apegam às ideias primitivas emorremcom elas. Qual a ciência, qual a doutrina filosófica ou

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Fenómenos espíritas simulados

V. — Não estará provado que, fora do Espiritismo,esses mesmos fenómenos podemproduzir-se? E disso nãopodemos concluir que eles não têm a origem que os espí-ritas lhes atribuem?

A. K. — Por ser uma coisa suscetível de imitação,segue-se que ela não exista?

Que direis da lógica daquele que pretendesse, porse fabricar com água deSeltz vinha de Champanha, ser

todo vinho desta espécie apenas água de Seltz?Isto é privilégio de todas as coisas que apresentama possibilidade de engendrar falsificações.

Acreditaram alguns prestidigitadores que o nome deespiritismo, por causa da sua popularidade e das contro-vérsias de que era objeto, podia servir a explorações, epara atrair a multidão simularam, mais ou menos gros-seiramente, alguns fenómenos demediunidade,como játinham simulado a clarividênciasonambúlica;e todos osgaiatos os aplaudiram, bradando:Eis aí o que é o Espiritismo!

Quando se mostrou em cena a engenhosa apariçãodos espectros, não se proclamou que naquilo recebia oEspiritismo um golpemortal?

Antes de pronunciar tão positiva sentença, deve-serefletir que as asserções de um escamoteador não sãopalavras de um evangelho, e certificar se há identidadereal entre a imitação e a coisa imitada

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as palavras místicas destas. Alguns chegaram mesmo acomparar as reuniões espíritas às assembleias dosdbbat,nas quais se espera o soar dameia-noite, para que osfantasmas apareçam.

Um espírita, meu amigo, assistia um dia a umarepresentação deMacbeth, ao lado de um jornalista queele não conhecia. Quando chegou a cena das feiticeiras,ele ouviu o vizinho dizer:

— "Belo! Vamos assistir a uma sessão espírita; é justamente o que precisava para o meu próximo artigo;vou saber agora como as coisas se passam. Se eu encon-trasse por aqui algum desses loucos, perguntar-lhe-ia se

ele se reconhece no quadro que tem ante os olhos."— "Eu sou um deles, disse-lhe o espírita, e possoasseverar-vos que nada vejo que se lhe pareça; tenhoassistido a centenas de reuniões espíritas, e nelas nadaencontrei que se assemelha a isto. Se é aqui que vindescolher argumentos para o vosso artigo, assevero-vos que

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A. K.— Não o contesto. A isso respondo que oEspiritismo também conta em suas fileiras muitos ho-mens de não menos real valor; digo-vos, mais, que a

imensa maioria dos espiritas se compõe de homens inte-ligentes e deestudos;só a má-fépode dizer que seusadeptos são recrutados entre as mulheres simples e asmassas ignorantes.

Um fato peremptório responde, além disso, a essaobjeção; é que, apesar de todo o saber, de todo o poderoficial, ninguém consegue deter o Espiritismo na suamarcha; e, entretanto, não há um só dos seus contrários,seja ele o mais obscuro folhetinista, que se não tenhalisonjeado com a ideia de dar-lhe um golpemortal;semquerê-lo, todos, sem exceção, concorreram para a suavulgarização.

Uma ideia que resiste a tantos assaltos, que avançaimpávida através da chuva de dardos que lhe atiram,não provará a sua força máscula ea segurança das basesem que se firma? Não será essefenómenodigno daatenção dos pensadores?

Também, já hoje, muitos deles avançam que devehaver nisso alguma coisa de real, que talvez seja umdesses grandes movimentos irresistíveis que, de temposa tempos, abalam as sociedades para transformá-las.

Isto se tem dado sempre com todas as ideias novas,chamadas a revolucionar o mundo;forçosamenteelasencontram obstáculos, porque lutam contra os interesses,os prejuízos, os abusos que elas vêm destruir; porém,como estão nos desígnios deDeus,para que se cumpra

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rem onde ele realmente está. Uns crêem encontrá-lo nogrande poder do diabo, que assim se apresenta mais forteque eles, e, mesmo, mais forte que Deus; outros, noaumento da alucinação humana.

O erro de todos está em crerem que a fonte doEspiritismo é uma só, e que se baseia na opinião de umsó homem; daí a ideia de que poderão arruiná-lo, refu-tando essa opinião; eles procuram na Terra uma coisaque só achariam no Espaço; essa fonte do Espiritismonão iS 8 acha num ponto, mas em toda parte, porque nãohá lugar em que os Espíritos se não possam manifestar,em todos os países, nos palácios e nas choupanas.

A verdadeira causa está, pois, na própria naturezado Espiritismo cuja força não provém de uma só fonte,mas permite a cada qual receberdiretamente comuni-cações dos Espíritos e por elas certificar-se da vera-cidade do fato.

Como persuadir a milhões de indivíduos que tudoisso não é mais que comédiacharlatanismoescamotea-

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rem onde ele realmente está. Uns crêem encontrá-lo nogrande poder do diabo, que assim se apresenta mais forteque eles, e, mesmo, mais forte que Deus; outros, noaumento da alucinação humana.

O erro de todos está em crerem que a fonte doEspiritismo é uma só, e que se baseia na opinião de umsó homem; daí a ideia de que poderão arruiná-lo, refu-tando essa opinião; eles procuram na Terra uma coisaque só achariam no Espaço; essa fonte do Espiritismonão iS 8 acha num ponto, mas em toda parte, porque nãohá lugar em que os Espíritos se não possam manifestar,em todos os países, nos palácios e nas choupanas.

A verdadeira causa está, pois, na própria naturezado Espiritismo cuja força não provém de uma só fonte,mas permite a cada qual receberdiretamente comuni-cações dos Espíritos e por elas certificar-se da vera-cidade do fato.

Como persuadir a milhões de indivíduos que tudoisso não é mais que comédiacharlatanismoescamotea-

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marcha; para que triunfassem, era-lhes mister impedirque os Espíritos se manifestassem.

Eis o motivo por que osespíritas, ligam tão poucaimportância às manobras dos seus adversários; eles têmpor si a experiência e o peso dos fatos.

O maravilhoso e o sobrenatural

V. — O Espiritismo tende, evidentemente, a fazerreviver as crenças fundadas no maravilhoso e no sobre-natural; ora, no século positivo em que vivemos, isto meparece difícil, porque é exigir que se acredite nas supers-tições e nos erros populares, já condenados pela razão.

A. K.— Uma ideia só é supersticiosa quandofalsa;mas cessa de o ser desde que passe a ser uma verdadereconhecida.

A questão está em saber se os Espíritos se mani-festam, ou não; ora, isso não pode ser tachado de supers-tição, antes de ficar provado que não existem espíritos.

Direis: a minha razão não aceita essascomunicações;porém, os que crêem e que não sãonenhuns mentecaptosinvocam também as suas razões e, além disso, os fatos;para que lado se deVe pender? O grande juiz, nestaquestão, é o futuro — como tem sido em todas as ques-tões científicas e industriais classificadas como absurdase impossíveis em sua origem.

Pretendeis julgara priori segundo a vossaopinião;

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uma recrudescência do amor ao maravilhoso e ao sobre-natural.O sobrenatural desaparece à luz do facho da Ciência,

da Filosofia e da Razão, como os deuses do paganismoante o brilho do Cristianismo. Sobrenatural é tudo o queestá fora dasleis da Natureza. O positivismo nada admite

que escape à ação dessas leis; mas, porventura, ele asconhece a todas?Em todos os tempos foram reputados sobrenaturais

os fenómenos cuja causa não era conhecida; poisbem:o Espiritismo vem revelar uma nova lei, segundo a quala conversação com o Espírito de um morto é um fatotão natural, como o que se dá por intermédio daeletri-cidade, entre dois indivíduos separados por uma distân-cia de cem léguas; o mesmo acontece com os outrosfenómenos espíritas.

O Espiritismo repudia, nos limites do que lhe per-tence, todo efeito maravilhoso, isto é, fora das leis daNatureza; ele não faz milagres nem prodígios antes

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Por que não fixaram eles sua atenção sobre o fenó-meno das mesasgirantes?

Se nisso tivessem notado alguma coisa de sério, pa-rece-me que não desprezariam fatos tão extraordináriose nem os repeliriam com desdém; noentanto, são todoseles contra vós.

Os sábios não serão o farol das nações, e não têmo dever deesclarecê-las?

A que atribuís que tenham deixado defazê-lo,quan-do se lhes apresentava tão bela ocasião de revelar aomundo a existência de uma nova força?

A. K.— Traçastes o dever dos sábios de modoadmirável; é pena, porém, que eles o tenham esquecidoem mais de uma circunstância.

Mas, antes de responder à vossa judiciosa observa-ção, cumpre-me corrigir um grave erro que cometestesdizendo que todos os sábios são contra nós.

Como vos disse há pouco, é precisamente na classeilustrada que o Espiritismo faz maior número de prosé-litos, isto em todos os países; já ele conta entre seusadeptos grande número de médicos de todas as nações,e ninguém nega que os médicos sejam homens de ciência;os magistrados, os professores, os artistas, os homens deletras, os oficiais, os altos funcionários, os grandes digni-tários, os eclesiásticos, etc., que se agrupam ao redorda sua bandeira, não são pessoas em quem se não devareconhecer uma certa dose de ilustração. Admite-se erro-neamente que os sábios só se encontram na ciência oficial

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Não foi devido auin parecer do nosso primeiro corposábio que a França se absteve da iniciativa do vapor?Quando Fulton veio ao campo de Bolonha apresentar

o seu plano a Napoleão I, que confiou o exame imediatoao Instituto, não decidiu este que aquilo era uma utopia,com o que se não devia ocupar?

Devemos daí concluir que os membros do Institutosão ignorantes e que sejam justificados os epítetos tri-viais que, à força de mau gosto, certas pessoas se com-prazem em prodigalizar-lhes?

Certo que não; não há pessoa sensata que não faça justiça ao seu saber eminente, sem, contudo, deixar de

reconhecer que eles não são infalíveis e, portanto, queas suas sentenças não estão isentas de apelação, sobre-tudo no que se refere a ideias novas.

V. — Admito perfeitamente que eles não sejam in-falíveis; mas não é menos verdade que, em virtude doseu saber sua opinião vale alguma coisa e que se ela

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aos nossos caprichos; por isso eles escapam aos nossosprocessos de laboratório e aos nossos cálculos, e, desde

então, ficam fora dos domínios da ciência propriamentedita.A Ciência enganou-se quando quis experimentar os

Espíritos, como experimenta uma pilha voltaica; foi malsucedida como devia sê-lo, porque agiu visando uma ana-logia que não existe; e depois, sem ir mais longe, concluiupela negação, juízo temerário que otempo se encarregoude ir emendando diariamente, como já tem emendadooutros; e, àqueles que o preferiram, restará a vergonhado erro de se haverem levianamente pronunciado contrao poder infinito do Criador.

As corporações sábias não podem nem jamais pode-rão pronunciar-se nesta questão; ela está tão fora doslimites do seu domínio como a de decretar se Deus existeou não; é, pois, um errofazê-las juiz dela.

O Espiritismo é uma questão de crença pessoal quenão pode depender do voto de uma assembleia, porque

esse voto, embora lhe fosse favorável, não tem o poderde forçar convicções.Quando a opinião pública se tiver formado ares-

peito, os membros dessas corporações a aceitarão sob opoder dos fatos.

Deixai passar esta geração, levando os prejuízos doseu obstinadoamor-próprio,e vereis que se há de darcom o Espiritismo o mesmo que se deu com tantas outras

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"Se Newton não tivesse prestado atenção à quedade uma <maçã;se Galvamitivesse repelido s > u aserva elhe chamasse visionária e louca, quando esta lhe faloudas rãs que dançavam < n oprato, talvez ainda 'estivésse-mos sem conhecer a ^admirávellei da gravitação univer-sal e as fecundas propriedades da pilha elétrica.

"O fenómeno, burlescamente designado sob o nomede damçadas 'mesas,não é mais ridículo que a dançadas rãs, e, talvez, encerre algiu\nsdesses segredos daNatureísa,,que, quando se tem a chave para explicá-los,revolucionam a Humanidade."

Eles disseram ainda:"Já que tanta gente se ocupa com eles, e homensnotáveis fizeram deles o objeto do seu estudo, é preciso

que alguma coisa de verdade se encontre em tais fenó-menos; uma ilusão, uma farsa, se o quiserem, não podeter esse caráter de generalidade; seria divertimento paracerto círculo, para certa sociedade, "mas não daria a

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Eis o raciocínio que me fazia um sábio médico,outrora incrédulo e hoje fervoroso adepto:

"Dizem que seres invisíveis se comunicam; por quenegá-lo ?"Antes de inventar-se o microscópio, suspeitava

alguém que existissem esses milhares deanimálculosquecausam tantos estragos à economia?

"Onde a impossibilidade material de haver no es-paço seres que escapem aos nossossentidos?

"Teremos, acaso, a ridícula pretensão de saber tudo,e de dizer que Deus nada mais nos pode revelar?

"Se esses seres invisíveis que nos rodeiam, são inte-ligentes, por que não poderão comunicar-se conosco? Seestão em relação com os homens, devem desempenhar umpapel no seu destino, nos acontecimentos da vida destes.Quem sabe se eles não constituem uma das potências daNatureza, uma dessas forças ocultas de que nem suspei-távamos ? 'i

"Que novo horizonte vai abrir-se ao pensamento!Que campo tão vasto deobservação!"A descoberta do mundo dos invisíveis tem muitomais alcance que a dos infinitamente pequenos; ela émais quevimadescoberta, é uma revolução nas ideias.

"Quanta luz podeprojetar essa descoberta? Quantascoisas misteriosas explicadas?

"Os crentes são ridiculizados, mas que valor temisso, quando o mesmo se tem dado a respeito de todas

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"Quem, há meio século, se tivesse proposto iluminartoda a cidade de Paris em um instante e com um sóreservatório de uma substância invisível, apenas conse-guiria fazer rir de si.

"Será isso, porventura, coisa mais prodigiosa que oespaço ser povoado pelos seres pensantes que, depois dehaverem vivido na Terra, nela deixaram seu invólucromaterial ?

"Não se achará neste fato a explicação de tantascrenças que existem desde os mais remotos tempos?

"São coisas que bem merecem estudo aprofundado."Eis as reflexões de um sábio, mas de um sábio sem

pretensão; elas são igualmente feitas por muitos outro?homens esclarecidos; estes viram, não superficialmentee de ânimo prevenido; estudaram seriamente, sem par-tido fixo, e tiveram a modéstia de não dizer: não com-preendemos, isto não pode ser a verdade. Sua convicçãoformou-se pela observação e pelo raciocínio. Se essas

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nova: tanto a história sagrada quanto a profana provama antiguidade e a universalidade dessa crença, que seperpetuou através de todas as vicissitudes por que tempassado o mundo, e se mostra, entre os mais selvagenspovos, no estado de ideias inatas e intuitivas, e tão gra-vadas no pensamento como a do Ente Supremo e a daexistência futura.

O Espiritismo, pois, não é uma criação moderna;tudo prova que os antigos o conheciam tão bem, ou talvezmelhor quenós; somente ele não era ensinado, senão comprecauções misteriosas que o tornavam inacessível ao

vulgo, abandonado de propósito no lamaçal da superstição.Quanto aos fatos, eles são de duas naturezas: unsespontâneos e outros provocados. Entre os primeirosestão as visões e as aparições, tãofrequentes;os ruídos,barulhos e movimentações de objetos, sem causa mate-rial, e grande número de efeitos insólitos que olhávamoscomo sobrenaturais e hoje nos parecem simples, porquenão admitimos o sobrenatural, visto como tudo sesubmete às leis imutáveis da Natureza. Os fatos provo-cados são os obtidos por intermédio de médiuns.

Falsas explicações dos fenómenos

Ahucmação.— Fluido magnético. — Reflexodo pensa-mento. —l Sivperexcitaçãocerebral. — Estado sonam-búlicodos médiwns.

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É pena, porém, que aqueles que por meio dela pre-tendem dar conta dos fenómenos espíritas, não possamantes apresentar a explicação deles.

Há, além disso, fatos que escapam a essa hipótese:quando a mesa ou outro objeto se move, se ergue, oubate; quando a dita mesa, à vontade, passeia por uma

câmara, sem que pessoa alguma lhetoque;quando ela sedestaca do solo e se suspende no espaço, sem ponto deapoio; enfim, quando, ao cair, se despedaça, tudo issonão pode ser o efeito de uma alucinação.

Suponho que o médium, por um produto da suaimaginação, creia ver o que não existe. Será admissívelque todos os presentes sejam, ao mesmo tempo, vítimasda mesma vertigem? Equandoo mesmo fato se repro-duz por toda parte, em todos os países? A ser assim,essa alucinação seria prodígio maior que o próprio fato.

V. — Admitindo a realidade do fenómeno das mesasque giram e falam não será mais racional atribuí lo à

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Dá o mesmo com as mesas a que nos referimos Dão se

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Dá-se o mesmo com as mesas a que nos referimos. Dão-se,ou não, efeitosinteligentes? Esta a questão.

Os que contestam, são pessoas que nada viram aindae se apressam a concluir, segundo suas ideias particula-res e baseadas, quando muito, em observação superficial.

V. — Pode-se responder que, se há um efeito inte-ligente, este pode ser um reflexo da inteligência, sejado médium, seja de quem interroga, ou mesmo dosassis-tentes; porque, dizem, a resposta recebida estava semprerio pensamento de alguém.

A. K. — É ainda um erro, filho da falta de obser-vação.

Se os que assim pensam se tivessem dado ao traba-lho de estudar o fenómeno em todas as suas fases, nãodeixariam de reconhecer, a cada passo, a independênciaabsoluta da inteligência que se manifesta.

Como conciliar essa tese com as respostas obtidas,tão fora do alcance intelectual e da instrução domédium?respostas que vão de encontro às suas ideias, desejos eopiniões, ou quedestroem completamenteas previsõesdos assistentes? Quando os médiuns escrevem em umalíngua que não conhecem, ou escrevem na sua própriaquando não sabem ler nem escrever? Ã primeira vista,essa opinião nada tem de irracional, convenho, mas édesmentida por um conjunto de fatos tão concludentesque, diante deles, é impossível duvidar. Além disso,

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Ê realmente curioso ver-se os contraditores empe-nharem-se na busca decausas, cem vezesmais extraordi-nárias e incompreensíveis do que aquelas que se lhesapresenta.

V. — Não será admissível, segundo querem alguns,

que o médium se ache em estado de crise e goze certalucidez, que lhe dá a percepção sonambúlica —espéciede dupla vista— ,que aliás nos pode explicar a ampliaçãomomentânea de suas faculdadesintelectuais? Por que,dizem, as comunicações obtidas pelos médiuns não vãoalém do alcance das que nos dão os sonâmbulos?

A. K. — Ê ainda esse um desses sistemas que nãoresistem a um exame aprofundado. Q médium nem seacha em crise nem dorme, mas está perfeitamente acor-dado, agindo e pensando como os outros, sem nada apre-sentar de extraordinário. Certos efeitos particularesderam lugar a essa suposição; porém quem se não limi-

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Dizem, ainda, que os médiuns só falam com clarezadaquilo que é conhecido. Como explicar o fato seguintee cem outros da mesma espécie? — Um dos meus ami-gos, muito bom médium escrevente, perguntou a umEspírito se uma pessoa que ele tinha perdido de vista,havia quinze anos, era ainda deste mundo.

"Sim, aindavive, foi-lhe respondido; mora em Paris,rua tal, número tanto."

Ele foi e encontrou a pessoa no lugar indicado.Seria isso uma ilusão?Seu pensamento poderia sugerir-lhe tal resposta,quando, por causa da idade da pessoa por quem ele

perguntava, havia toda a probabilidade de ela não exis-tir mais?

Se, em certos casos, vemos respostas combinaremcom o pensamento de quem pergunta, será racional con-cluirmos que isso seja uma leigeral?

Nisso como em todas as coisas, são sempre perigosos

os juízos precipitados, porque eles podem ser desmenti-dos pelos fatos que ainda se não observaram.

Não basta que os incrédulos vejam para quese convençam

V. — O que os incrédulos desejam ver, pedem, ena maioria das vezes não se lhes fornece, são os fatos

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os fatos se produzam espontaneamente, sem pretenderforçá-los ou dirigi-los; aquele que mais desejais será,talvez, precisamente o que não obtereis; virão, porém,outros, e o que quereis se apresentará, quando menoso esperardes.

Aos olhos do observadoratento e assíduo surgemeles inumeráveis, corroborando-se uns aos outros; masquem acreditar que basta tocar a manivela, para fazerque a máquina ande, engana-se redondamente.

Que faz o naturalista quando quer estudar os há-bitos de um animal? Mandá-lo-á fazer tal ou qual coisa,para com vagar observá-lo à suavontade? Não; porquebem sabe que o animal não lheobedecerá; mas espreitaas manifestações espontâneas do instinto do animal; es-

pera-as e colhe-as na passagem. O simplesbom-sensomostra que, com mais forterazão, deve proceder-se domesmo modo com os Espíritos, que são inteligênciasmuito mais independentes que as dos animais.

Ê erro crer que se exija fé antecipada de quem querestudar; o que se exige éboa-fé,aliás coisa diversa;ora, há cépticos que negam até a evidência e aos quais

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que os fenómenosse possam dar contrariamente ao seu

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q pdesejo; não sabem ou não querem colocar-se nas condi-ções precisas paraobtê-los.

Quem deboa-fédeseja observar, deve, não digo crersob palavra, mas abandonar toda ideia preconcebida enão querer comparar coisas incompatíveis; cumpre-lheaguardar, seguir, observar com paciência infatigável;esta condição é também favorável aos que se tornamadeptos, pois que ela prova não haverem formado levia-namente a sua convicção. Disponde vós de talpaciência?Não, e direis: por falta de tempo. Então não vos ocupeis,

não faleis mais nisso, pois ninguém a tal vos obriga.Boa ou má-vontade dos Espíritos para convencer

V. — Os Espíritos devem almejar fazer prosélitos;por que não se prestam,melhormente,aos meios de con-vencer certas pessoas, cuja opinião teria grande in-fluência?

A. K. — É por julgarem que, naquele momento, nãodevem fornecer provas às pessoas a quem não ligam aimportância que elas pretendem ter.

É isso pouco lisonjeiro, convenho, porém não temoso direito deimpor-lhes a nossaopinião;os Espíritostêmsua maneira de julgar as coisas, a qual nem sempre secoaduna com a nossa; eles vêem pensam e agem segun-

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que devem descer ao nosso nível, mas subirmos nós atéeles, é o que nos ensinam oestudo e a observação.Os Espíritos gostam dos observadores assíduos econscienciosos; para estes multiplicam eles as fontes deluz; o que os afugenta não é a dúvida que nasce da igno-rância, é a fatuidade desses pretensos observadores quenada observam, que desejam colocá-los no banco dos réuse fazê-los moverem-se como títeres; é o sentimento dehostilidade e descrédito que exista em seus pensamentos,quando o não traduzam por palavras.

Por sua causa os Espíritos nada fazem, pouco seimportando com o que possam dizer ou pensar, porqueo seu dia também chegará.

Por isso vos dizia eu que não é a f é antecipada oque pedimos, mas, sim, a boa-fé.

Origem das ideias espíritas modernas N

V. — Uma coisa que eu desejava saber, meu amigo,é o ponto de partida das ideias espíritas d serão

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píritos são a causa e não o efeito; quando se vê umf it d lh ã é t l

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efeito, pode-se procurar-lhe a causa, mas não é naturalimaginar-se uma causa antes de lhe ter visto osefeitos.

Não era, pois, possível conceber o pensamento da exis-tência dos Espíritos, se efeitos não se tivessem mostrado,que achassem explicação provável na existência de seresinvisíveis.

Pois bem! não foi mesmo deste modo que nasceutal pensamento; isto é, não foi ele uma hipótese imagi-nada com o fim de explicar certos fenómenos; a primeirasuposição feita, foi a de uma causa material.

Assim, longe de que os Espíritos fossem uma ideiapreconcebida, partiu-se, para chegar a eles, do ponto devista materialista. Não sepodendo, porém, por este meioexplicar tudo, somente a observaçãoconduziu à causaespiritual.

Falo das ideias espíritas modernas; pois sabemosque essa crença é tão velha quanto o mundo.

Eis a marcha das coisas: fenómenos espontâneos seproduziram, tais como ruídos estranhos, pancadas, movi-mentos de objetos, etc., sem causa ostensiva conhecida,realizando-se sob a influência de certas pessoas. Nada,até aí, autorizava a buscar-se-lhes a causa fora da açãode um fluido magnético ou outro qualquer, de proprie-dade ainda desconhecida. Não se tardou, porém, a reco-nhecer nesses ruídos e movimentos um caráter inten-cional e inteligente, do que seconcluiu,como já odisse,que: Se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente

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A ideia dos Espíritos não preexistia, nem mesmo lhefoi consecutiva; em uma palavra, não nasceu do cérebrode ninguém,mas nos foi dada pelos Espíritos mesmos,e tudo o que soubemos depois, a seu respeito, foi-nospor eles ensinado.

Uma vez revelada a existência dos Espíritos e esta-belecidos os meios de nos comunicarmos com eles, pôde-seentreter conversações seguidas e obter informações sobrea natureza desses seres, condições de sua existência eseu papel no mundo visível.

Se assim pudéssemos interrogar os seres do mundodos infinitamente pequenos, quantas coisas curiosas nãoficaríamos sabendo sobre eles!

Suponhamos que, antes da descoberta da América,um fio elétrico estivesse estabelecido através do Atlân-tico, e que na sua extremidade europeia se houvessemproduzido alguns sinais inteligentes, e ter-se-ia logo con-cluído que na outra extremidade se achavam seres inte-ligentes, que desejavamcomunicar-se; teríamos inter-

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rés em tudo, outros, neles só viramdemónios;era só por

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rés em tudo, outros, neles só viramdemónios;era só porsuas palavras e atos que podiam julgá-los.

Suponhamos que dentre os desconhecidos habitantestransatlânticos, de que acabamos de falar, uns tenhamdito muito boas coisas, ao passo que outros se faziamnotar pelo cinismo dal inguagem;ter-se-ia logo concluídoque entre eles havia bons e maus.

Foi o que aconteceu com os Espíritos; foi assim quese reconheceu entre eles todos os graus de bondade emalvadez, de saber e ignorância.

Uma vez bem informados acerca dos defeitos e dasboas qualidades que entre eles se encontram,cabe ànossa prudência distinguir o que é bom do que é mau,o verdadeirodo falso em suas relações conosco, absolu-tamente como procedemosa respeitodos homens.

A observação não nos esclareceu somente sobre asqualidades morais dos Espíritos, mas, também, sobre asua natureza e sobre o que podemos chamar estado fisio-lógico. Ficou-se sabendo, por eles mesmos, que uns sãomuito felizes e outros muito desgraçados; que não sãoseres à parte, de natureza excepcional e, sim, as almasdaqueles que já viveram na Terra, onde deixaram seuinvólucrocorpóreo,e que hoje povoam os espaços, noscercam, nos acotovelam sem cessar, e, dentre eles, cadaqual pode, por sinais incontestáveis, reconhecerseus pa-rentes e amigos e os que conhecera na Terra;pode-seacompanhá-los em todas as fases de sua existência de

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Enquanto dura o corpo, esse invólucro é um laço queo prende ao Espírito; quando, porém, o corpo morre, aalma ou o Espírito, que é a mesma coisa, abandona-o,sem, contudo, deixar o primeiro envoltório, do mesmomodo como despimos as peças exteriores da nossa roupa,para só conservarmos as interiores; assim como o frutodespojado do invólucro cortical conserva ainda ope-risperma.

É esse invólucrosemimaterial do Espírito que lheserve de meio para a produção de diferentes fenómenos,pelos quais ele se nos manifesta.

Tal é, em poucas palavras, cavalheiro, a história doEspiritismo; bem vedes, e reconhecereis ainda melhorquando o tiverdes estudado a fundo, que tudo nele é oresultado da observação e não de um sistema precon-cebido.

Meios de comunicação

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ideias e pensamentos que eles nos sugerem; é este,é i iá l lid d d

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porém, um meio pouco apreciável, na generalidade doscasos; outros existem mais materiais. Certos Espíritosse comunicam por pancadas, respondendo porsim ou pornão, ou designando as letras que devem formar as pala-vras. As pancadas podem ser obtidas pelo movimento deoscilação de um objeto, de uma mesa, por exemplo, quebate com o pé. Muitas vezes se fazem ouvir nas própriassubstâncias dos corpos, sem que estes se movimentem.Esse modo primitivo é demorado e dificilmente seprestaa comunicações de certodesenvolvimento;a escrita subs-tituiu-o, e é obtida de diferentes maneiras.

Serviu-se no começo, e serve-se ainda algumas vezes,de um objetomóvel,como uma prancheta, uma cestinha,uma caixa, ao qual se adapta um lápis, cuja ponta pousasobre o papel. A natureza e a substância do objeto sãoindiferentes. O médium coloca as mãos sobre esse objeto,ao qual transmite a influência que recebe do Espírito,e o lápis traça os caracteres. O objeto assim empregadonão é, propriamente falando, mais que um apêndice da

mão, uma espécie deporta-lápis.Depois, reconheceu-se a inutilidade desse interme-diário, que não é senão uma complicação de meios, cujoúnico mérito está em demonstrar, de modo mais palpá-vel, a independência do médium; este último pode es-crever, segurando, ele mesmo, o lápis.

Os Espíritosmanifestam-se ainda e podem transmi-tir seus pensamentos por sons articulados, que se fazem

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experiência. É o mesmo que aconteceria àquele que, semsaber Química, tentasse fazer manipulações químicas;

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saber Química, tentasse fazer manipulações químicas;correria o risco de queimar os dedos.

V. — Há algum sinal pelo qual se possa reconhecera posse dessa aptidão?

A. K.— Até ao presente não se conhece um diag-nóstico para amediunidade;todos os que julgamos des-cobrir, são sem valor; experimentar é o único meio desaber se a faculdade existe.

Além disso, os médiuns são muito numerosos e éraríssimo, quando não o sejamos, não se encontrar algumem qualquer dos membros de nossa famíl ia, ou naspessoasque nos cercam.

O sexo, a idade e o temperamento sãoindiferentes;eles aparecem entre os homens e mulheres, entre crian-ças, velhos, doentes e pessoas sadias.

Se a mediunidade se traduzisse por um sinal exteriorqualquer, isto implicaria a permanência da faculdade, aopasso que ela é essencialmente móbil e fugidia. Sua causa

física está na assimilação, mais ou menos fácil, dos flui-dos perispirituais do encarnado e do Espírito desencar-nado; sua causa moral está na vontade do Espírito quese comunica, quando isto lhe apraz, e não segundo anossa vontade, donde resulta:1.°, que nem todos os Espí-ritos podem comunicar-se indiferentemente por todos osmédiuns;2.°,que todo médium pode perder ou ver sus-pender-se a sua faculdade, quando ele menos o esperar.

Estas poucas palavras bastam para mostrar que há

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Em princípio, podemos comunicar-nos com os Espí-ritos de todas as categorias, com os nossos parentes eamigos, com os mais elevados como com os mais vulga-res; porém, independente das condições individuais depossibilidade, eles vêm mais ou menos de boa-vontadesegundo as circunstâncias e, sobretudo, segundo a suasimpatia pelas pessoas que os chamam, e não pelo pedidodo primeiro que tenha a fantasia de evocá-los por umsentimento de curiosidade; nestas circunstâncias, se eles,quando na Terra, não se incomodariam com elas, depoisda morte não o fazem também.

Os Espíritos sérios só comparecem nas reuniõessérias, para onde os chamam comrecolhimento e paracoisas sérias; não se prestam a responder a perguntasde curiosidade, de prova, ou com um fim fútil, nemtambém a experiência alguma.

Os Espíritos frívolos andam por toda parte; porém,nas reuniões sérias, calam-se e conservam-se afastados

t f i t d t bl i

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vai perder o tempo, certeza que lhe poderia provir dofato concludente mesmo obtido a peso de ouro

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fato concludente, mesmo obtido a peso de ouro.

A. K.— Aquele que não se quer dar ao trabalhode estudar, é antes guiado pela curiosidade, que pelodesejo real de se instruir; ora, os Espíritos, assim comoeu, não gostam dos curiosos. Além disso, a cobiça é-lhes,sobretudo, antipática, e eles recusam-se a prestar-lhequalquer serviço; crer que Espíritos superiores como Fe-nelon, Bossuet, Pascal, Santo Agostinho, se ponham àsordens do primeiro que os chame, a tanto por hora, éfazer ideia bem falsa das nossas relações com o mundo

espiritual.Não, senhor. As comunicações dealém-túmulosãoassunto muito grave e respeitabilíssimo para seremassim exibidas.

Sabemos que os fenómenos espíritas não se produ-zem como o movimento das rodas de um mecanismo,porquanto dependem da vontade dos Espíritos; mesmoadmitindo-se que um indivíduo possua aptidãomediúnica,nada lhe garante obter uma manifestação em dado

momento.Se os incrédulos são inclinados a suspeitar da boa--fé dos médiuns emgeral, muito pior seria se neles en-contrassem o estímulo dointeresse; com razão se pode-ria suspeitar que o médium retribuído simulasse quandoo Espírito não o auxiliasse, pois que ele desejaria dequalquer forma ganhar dinheiro.

Além de que o desinteresse absoluto é a melhor ga-i d i id d i à ã

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dência de vontade estranha à do médium, e de lhe poderela, no momento preciso, deixá-lo em falta, salvo se elea suprir pela astúcia.

Porém, admitindo mesmo inteira boa-fé, desde queos fenómenos não se produzem à vontade, seria puroacaso se, em sessão paga, se produzisseexatamente aqueleque desejávamos ver para nos convencermos.

Dai cem mil francos a um médium e não consegui-reis que ele obtenha que os Espíritos façam o que nãoquerem; essa dádiva, que viria desnaturar a intenção etransformá-la em violento desejode lucro, seria antesum motivo para que ele fosse mal sucedido. Quando seestá bem compenetrado desta verdade — que a afeiçãoe a simpatia são os mais poderosos móveis de atraçãopara os Espíritos— ,não se pode deixar de compreenderque não lhes agradam assolicitações de alguém quetenha a ideia de servir-se deles para ganhar dinheiro.

Aquele, pois, que precisa de fatos que o convençam,deve provar aos Espíritos sua boa vontade por uma

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Os médiuns verdadeiramente sérios e devotados,quando não possuem uma existência independente, pro-curam recursos no trabalho ordinário e não abandonamsuas profissões; eles não consagram àdi id d senão

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suas profissões; eles não consagram àmediunidade senãoo tempo que lhe podem dar, sem prejuízo de outrasocupações; empregando parte do tempo destinado aosdivertimentos e repouso, nesse trabalho mais útil, elesse mostram devotados, tornam-se apreciados e respeitados.

A multiplicidade dos médiuns nas famílias torna, aodemais, inúteis os médiuns de profissão, ainda que estesofereçam todas as garantias desejáveis, o que é muitoraro.

Se não fosse o descrédito que acompanha esse gé-nero de exploração, para o que me felicito de muito haverconcorrido, os médiuns mercenários pululariam e os jornais viriam sempre cheios de seusreclamos;ora, paraum que fosse leal, apresentar-se-iam cem charlatães que,abusando de uma faculdadereal ou simulada, fariam oimaiordano ao Espiritismo.

É, pois, um princípio: todos quantos vêem no Espi-ritismo coisa diferente de uma exibição de fenómenoscuriosos, que compreendem e tomam a peito a dignidade,consideração e os verdadeirosinteresses da doutrina,reprovam toda espécie de especulação, qualquer que sejaa forma ou disfarce com que se apresente.

Os médiuns sérios e sinceros — e eu dou este nomeaos que compreendem a santidade do mandato que Deuslhes confiou — evitam até as aparências do que poderiafazer pairar sobre eles a menor suspeita de cobiça; elesconsideram uma injúria a acusação de tirarem qualquerlucro da sua faculdade

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involuntariamente o respeito por ele se vos impunha;seja embora ele o mais humilde proletário, inspirar-vos-ámais confiança, porque não há motivo algum para suspei-tardes da sua lealdade.

Pois bem! caro senhor, encontrareis mil como este,contra um que não esteja nas mesmas condições, e éesta uma das causas que mais têm concorrido para ocrédito e propagação da doutrina; ao passo que, se elasó tivesse intérpretes interessados, não contaria a quartaparte dos adeptos que possui hoje.

É perfeitamente compreensível que os médiuns deprofissão sejam excessivamente raros, pelo menos emFrança; eles são desconhecidos na maioria dos centrosespíritas da província, onde a reputação de mercenáriosbastaria para que os excluíssem de todos os grupos sé-rios, e onde para eles o ofício não seria lucrativo, porcausa do descrédito de que se tornariam objeto e daconcorrência de médiuns desinteressados, que seencon-,tram por toda parte

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o que não posso desenvolver aqui, porque não estou fa-zendo um curso de Espiritismo.

Limito-me a dizer-vos que as afinidadesfluídicas,princípio do qual dimanam as faculdadesmediúnicas, sãoindividuais e não gerais, podendo existir do médium paratal Espírito, e não para tal outro; que, sem essas afini-dades, cujas variantes são múltiplas, as comunicações sãoincompletas, falsas ou impossíveis; que, as mais dasvezes, a assimilaçãofluídica entre o Espírito e o médiumsó se estabelece depois de algum tempo, ou somente umavez em dez acontece que ela seja completa desde a pri-meira vez.

A mediunidade, como vedes,cavalheiro, é subordi-nada a leis, de alguma sorte orgânicas, às quais todomédium está sujeito; ora, não se pode negar que isto éum obstáculo para a mediunidade de profissão, pois quea possibilidade e a exatidão das comunicações são umproduto de causas que não dependem do médium nemdo Espírito

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vida terrena; também há médiuns especialmente própriospara esse género demanifestações; porém, o vulgarbom--senso repele a ideia de virem osEspíritos, por menoselevados que sejam, representar palhaçadas e fazer esca-moteações para divertimento dos curiosos. A obtençãodesses fenómenos à vontade, e sobretudo em público, é

sempre suspeita; neste caso a mediunidade e a prestidi-gitação se tocam tão de perto que é difícil muitas vezesdistingui-las; antes de vermos nisso a ação dos Espíri-tos, devemos observar minuciosamente e ter em conta,quer o caráter e os antecedentes do médium, quer umgrande número de circunstâncias que só o estudo da

teoria dos fenómenos espíritas nos pode fazer apreciar.Deve-se notar que esse género de mediunidade, quan-do mediunidade nisso exista, limita-se a produzir sempreo mesmo fenómeno, salvo pequenas variantes, o que nãoé muito próprio para dissipar dúvidas. O desinteresseabsoluto é a melhor garantia de sinceridade.

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A. K.— Sem dúvida eles ficam livres das imper-feições físicas, isto é, das dores e enfermidades corpo-

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feições físicas, isto é, das dores e enfermidades corporais; porém, as imperfeições morais são do Espírito enão do corpo. Entre eles há alguns que são mais oumenos adiantados, moral e intelectualmente.

Seria erro acreditarque os Espíritos, deixando ocorpo material, recebem logo a luz da verdade.

É possível admitirdes que, quando morrerdes, nãohaja distinção alguma entre o vosso Espírito e o de umselvagem? Assim sendo, de que vos serviria ter traba-lhado para a vossa instrução e melhoramento, quandoum vadio, depois da morte, será tanto quanto vós?

O progresso dos Espíritos faz-se gradualmente e,algumas vezes, com muita lentidão.Entre eles algunshá que, por seu grau de aperfeiçoamento, vêem as coisassob um ponto de vista mais justo do que quando estavamencarnados; outros, pelo contrário, conservam ainda asmesmas paixões, os mesmos preconceitos e erros, até queo tempo e novas provas os venham esclarecer. Notai bemque o que digo é fruto da experiência, colhido no que

eles nos dizem em suas comunicações. É, pois, um prin-cípio elementar do Espiritismo que existem Espíritos detodos os graus de inteligência e moralidade.

V. •— Por que não são perfeitos todos osEspíritos?Tê-los-á Deus assim criado em tão diversas categorias?

A. K.— Ê o mesmo que perguntar por que todos

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do corpo, o mundo corporal fornece seu contingente aoespiritual; pelos nascimentos, este alimenta a huma-nidade.

Em cada nova existência, o Espírito dá maior oumenor passo no caminho do progresso, e, quando adqui-riu na Terra a soma de conhecimentos e a elevação moralque o nosso globo comporta, ele o deixa, para ir viverem mundo mais elevado onde vai aprender novas coisas.

Os Espíritos que formam a população invisível daTerra são, de alguma sorte, o reflexo do mundo corpo-ral; neles se encontram os mesmos vícios e as mesmasvirtudes; há entre eles sábios, ignorantes e charlatães,prudentes e levianos, filósofos, raciocinadores, sistemáti-cos; como se não se despissem de seus prejuízos, todasas opiniões políticas e religiosas têm entre eles represen-tantes; cada um fala segundo suas ideias, e o que elesdizem é, muitas vezes, apenas a sua opinião pessoal; eiso motivo por que se não deve crer cegamenteem.tudo o

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inútil; para bem conhecer um povo é necessário estu-dá l b t d f Vó t d

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dá-lo sob todas as faces. Vós mesmos tendesa provadisso; pensáveis que bastava aos Espíritos deixarem seuenvoltório corpóreo para que ficassem isentos de todasas suas imperfeições;ora, são as comunicações com elesque nos ensinaram que isto não se dá, e fizeram-nosconhecer o verdadeiro estado do mundo espiritual, quea todos nós interessa no mais alto ponto, pois que todostemos que ir para lá.

Quanto aos erros que se podem originar da diver-gência de opiniões entre os Espíritos, eles desaparecempor si mesmos,à medida que se aprende a distinguir osbons dos maus, os sábios dos ignorantes, os sinceros doshipócritas, absolutamente como se dá entre nós; entãoo bom-senso repelirá as falsas doutrinas.

V. — A minha observação subsiste sempre no pontode vista das questões científicas e outras que podemossubmeter aos Espíritos. A divergência de suas opiniões,sobre as teorias que dividem os sábios, deixa-nos naincerteza.

Compreendo que, não possuindo todos o mesmo graude instrução, não podem saber tudo; mas, então, que pesopode ter para nós a opinião daqueles que sabem, quandonão podemos distinguir quem erra ou quem tem razão?

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a fim de que, por analogia, fiquemos sabendo o que sere-

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a fim de que, por analogia, fiquemos sabendo o que sere

mos um dia; e não para nos fazer conhecer o que nosdeve ser oculto, ou revelar-nos as coisas antes do tempopróprio.

Tampouco os Espíritos são leitores dabuena-dicha,e aquele que se vangloria de obter deles certos segredos,prepara para si estranhasdecepções da parte dos Espí-ritos galhofeiros; em uma palavra,o Espiritismo é uma

ciência deobservação,

e nãowma

arte deaãivimJMr

eespecular. Nós o estudamos com o fim de conhecer oestado das individualidades do mundo invisível, as rela-ções que nos prendem a elas, sua ação oculta sobre omundo visível, e não para dele tirar qualquer vantagemmaterial.

Deste ponto de vista, não há Espírito algum cujoestudo não nos traga alguma utilidade; alguma coisaaprendemos sempre com todos eles; as suas imperfei-ções, os defeitos, a incapacidade, a ignorância mesmo,são outros tantosobjetos de observação, que nos iniciamna natureza íntima desse mundo; e quando eles não nosinstruam, nós, estudando-os, nos instruímos, como faze-mos quando observamos os costumes de um povo desco-

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A. K.— Podíamosdizer o mesmo das vias férrease do vapor, sem os quais também se vivia muito bem.

S tilid d áti ó é d i* i d

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Se utilidade prática, para vós, é dai* meios de passarboa vida, fazer fortuna, conhecer o futuro, descobrirminas de carvão ou tesouros ocultos, arrecadar heranças,libertar-se do trabalho de estudar, o Espiritismo não natem; ele não pode produzir altas e baixas na Bolsa, nemtransformar-se em ações de Bancos, nem mesmo fornecerinventos já prontos e no estado de serem explorados. Sobtal ponto de vista, quantas ciências deixariam de serúteis! Quantas delas não oferecem vantagem alguma,comercialmente falando!

Os homens passavam igualmente bem, antes da des-coberta dos novos planetas, antes que se soubesse ser aTerra e não o Sol que se move, antes que se conhecesseo mundo microscópico e outras tantas coisas.

O camponês,para viver e fazer brotar seu trigo, nãoprecisa saber o que seja um planeta. Para que, pois, seentregam os sábios a esses estudos? Há alguém que ousedizer que eles perdem o tempo?

Tudo que serve para erguer uma ponta do véu quenos envolve, ajuda o desenvolvimento da inteligência,alarga o círculo das ideias, fazendo-nos melhor compreen-der as leis da Natureza.

Ora, o mundo dos Espíritos existe em virtude deuma dessas leis naturais, e o Espiritismo nos faz conhe-cê-lo; ele nos mostra a influência que o mundo invisívelexerce sobre o visível e as relações existentes entre eles,como a Astronomia nos ensina as que ligam os astros

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-túmulo, que nos devem interessar de algum modo, vistoque todos nós, tarde ou cedo, temosde transpor essemarco fatal?

O Espiritismo possui, porém, uma outra utilidade,mais positiva: é a naturalinfluência moral que exerce.Ele é a prova patente da existência da alma, da sua in-

dividualidade depois da morte, da sua imortalidade, dasua sorte futura; é, pois, a destruição do materialismo,não pelo raciocínio, mas por fatos.Não convém pedir-lhesenão o que ele pode dar, enunca o que está fora doslimites do seu fim providencial.

Antes dos progressos sérios da Astronomia, acredi-tava-se na Astrologia. Será razoável dizer-se que a As-tronomia para nadaserve, porque já não se pode encon-trar na influência dos astros o prognóstico do destino?

Assim como a Astronomia destronou os astrólogos,o Espiritismo veio destronar os adivinhos, os feiticeirose os que liam abu&na-dicha.Ele é, para a magia, o que

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de um certo estado patológico do cérebro, instrumentod d i d i d

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p gdo pensamento; estando o instrumento desorganizado, opensamento fica alterado.A loucura é, pois, um efeito consecutivo, cuja causaprimária é uma predisposição orgânica, que torna o cé-rebro mais ou menos acessível a certasimpressões; eisto é tão real que encontrareis pessoas que pensamexcessivamente e não ficam loucas, ao passo que outrasenlouquecem sob o influxo da menor excitação.

Existindo uma predisposição para a loucura, tomaesta o caráter de preocupação principal, que então setorna ideia fixa; esta poderá ser a dos Espíritos, numir.divíduo que deles se tenha ocupado, como poderá sera de Deus, dos anjos, do diabo, da fortuna, do poder,de uma ciência, da maternidade, de um sistema políticoou social. É provável que o louco religioso se tivessetornado um louco espírita, se oEspiritismo fosse a suapreocupação dominante.

Ê certo que um jornal disse que se contavam, só emuma localidade da América, de cujo nome não me recor-do, 4.000 casos de loucuraespírita; mas é também sabidoque os nossos adversários têm aideia fixa de se creremos únicos dotados derazão; é uma esquisitice como outraqualquer. Para eles, nós somos todos dignos de um hos-pital de doidos, e, por consequência, os 4.000 espíritasda localidade em questão eram considerados como loucos.

Dessa espécie, os Estados Unidos contam centenasd ilh d í d d ú

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Eu digo, pois, que o Espiritismo não tem privilégioalgum, nesse sentido; mas vou aindaalém: afirmo que,bem compreendido, ele é um preservativo contra a lou-cura e o suicídio.

Entre as causas mais numerosas de excitação cere-bral, devemos contar as decepções, os desastres, as afei-ções contrariadas, as quais são também as mais frequen-tes causas do suicídio. Ora, o verdadeiro espírita vê ascoisas deste mundo de um ponto de vista tão elevado,que as tribulações não são para eles senão os incidentesdesagradáveis de uma viagem. Aquilo que em outroqualquer produziria violenta comoção,afeta-o mediocre-mente. Ele sabe que os dissabores da vida são provas queservirão para o seu adiantamento, se as sofrer sem mur-murar, porque sua recompensa será proporcional à cora-gem com que as houver suportado. Suas convicçõesdão-lhe, pois, uma resignação que o preserva do deses-pero e, por consequência, de uma causa incessante deloucura e de suicídio Ele sabe além disso pelo espetá

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subjugação que Espíritos malévolos exercem sobre certosi di íd q it tê ê i d

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indivíduos, e que, muitas vezes, têm as aparências daloucura propriamente dita. Esta afecção, muito frequen-te, é independente de qualquer crença no Espiritismo eexistiu em todos os tempos. Neste caso, a medicaçãocomum é impotente e mesmo prejudicial.

Fazendo conhecer esta nova causa de perturbaçãoorgânica, o Espiritismo nosoferece,ao mesmo tempo,o único meio de vencê-la, agindo não sobre o enfermo,mas sobre oEspírito obsessor. O Espiritismo é o remédioe não a causa do mal.

Esquecimento do passado

V. — Não consigo explicar amim mesmo como podeo homem aproveitar da experiência adquirida em suasanteriores existências, quando não se lembra delas, poisque, desde que lhe faJta essa reminiscência, cada exis-tência é para ele qual se fora a primeira; deste modo,está sempre a recomeçar.

Suponhamos que cada dia, ao despertar, perdemos amemória de tudo quantofizemosno dia anterior; quandochegássemos aos setenta anos, não estaríamos maisadiantados do que aos dez; ao passo que recordando asnossas faltas, inaptidões e punições que disso nos pro-vieram, esforçar-nos-emos por evitá-las.

Para me servir da comparação que fizestes do ho-mem na Terra com o aluno de um colégio eu não com-

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coes que apresentais são naturais em quem ainda nadaconhece, mas que, mediante estudo sério, pode encon-trar lhes respostas muito mais explícitas do que as que

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trar-lhes respostas muito mais explícitas do que as queposso dar em sumária explicação que, por certo, devesempre ir provocando novas questões.

Tudo se encadeia no Espiritismo, e, quando se tomao conjunto, vê-se que seus princípios emanam uns dosoutros, servindo-se mutuamente de apoio; e, então, o queparecia uma anomalia, contrária à justiça e à sabedoriade Deus, se torna natural e vem confirmar essa justiçae essa sabedoria. Talé o problema do esquecimento dopassado, que se prende a outras questões de não menorimportância e, por isso, não farei aqui senão tocar leve-mente o assunto.

Se em cada uma de suas existências um véu escondeo passado doEspírito, com isso nada perdeele das suasaquisições, apenas esquece o modo por que as conquistou.

Servindo-me ainda dacomparação supra com o alu-no, direi que pouco importa saber onde, como, com queprofessores ele estudou as matérias de uma classe, umavez que as saiba, quando passa para a classe seguinte.Se os castigos o tornaram laborioso e dócil, que lheimporta saber quando foi castigado por preguiçoso einsubordinado?

Ê assim que, reencarnando, o homem traz por in-tuição e como ideias inatas, o que adquiriu em ciênciaemoralidade. Digo em moralidade porque, se no curso deuma existência ele se melhorou, se soube tirar proveitodas lições da experiência, se tornará melhor quandovoltar; seu Espírito, amadurecido na escola do sofrimen-to e do trabalho, terá mais firmeza; longe de ter derecomeçar tudo, ele possui um fundo que vaisemprecrescendo e sobre o qual se apoia para fazer maioresconquistas.

A segunda parte da vossa objeção, relativa ao ani-

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guiu e do que lhe resta ainda fazer; de modo quenão

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guiu e do que lhe resta ainda fazer; de modo quenão

há essa solução de continuidade em sua vidaespiritual,que é a vida normal do Espírito. Esse esquecimentotemporário é um benefício daProvidência; a experiênciasó se adquire, muitas vezes, por provas rudes e terríveisexpiações, cuja recordação seria muito penosa e viriaaumentar as angústias e tribulações da vida presente.

Se os sofrimentos da vida parecem longos, que seriase a ele se juntasse a lembrança do passado?

Vós, por exemplo, meu amigo, sois hoje um homemde bem, mas talvez devais isso aos rudes castigos querecebestes pelos malefícios que hoje vos repugnariam àconsciência; ser-vos-ia agradável a lembrança de ter sidooutrora enforcado por vossa maldade? Não vos perse-guiria a vergonha de saber que o mundo não ignoravao mal que tínheis feito? Que vos importa o que fizestese o que sofrestes para expiar, quando hoje sois um ho-mem estimável? Aos olhos do mundo, sois um homemnovo, e aos olhos de Deus um Espírito reabilitado. Livreda reminiscência de um passadoimportuno,viveis commais liberdade; é para vós um novo ponto de partida;vossas dívidas anteriores estão pagas, cumprindo-vos tercuidado de não contrair outras.

Quantos homens desejariam assim poder, durante avida, lançar um véu sobre os seus primeirosanos! Quan-

O QUE É O ESPIRITISMO 117

seu devotamento e afeição; não vos acharíeis mutua-

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mente na mais embaraçosa posição, se ambos vos lem-brásseis de vossas passadas inimizades? Em vez de seextinguirem, os ódios se eternizariam.

Disso resulta que a reminiscência do passado per-turbaria as relações sociais e seria um tropeço ao pro-gresso. Quereis uma prova?

Supondo que um indivíduo condenado às galés tome

a firme resolução de tornar-se um homem de bem, queacontece quando ele termina o cumprimento da pena?A sociedade o repele, e essa repulsa o lança de novo nosbraços do vício. Se, porém, todosdesconhecessem os seusantecedentes, ele seria bem acolhido; e, se ele mesmoos esquecesse, poderia ser honesto e andar de cabeçaerguida, em vez de ser obrigado a curvá-la sob o peso

da vergonha do que não pode olvidar.Isto está em perfeita concordância com a doutrinados Espíritos, a respeito dosmundos superiores ao nossoplaneta, nos quais, só reinando o bem, a lembrança dopassado nada tem de penosa; eis por que seus habitantesse recordam da sua existência precedente, como nós nosrecordamos hoje do que ontem fizemos

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aceita essas condições, mostra não ter sério desejo deesclarecer-se, e com tal pessoa é inútil perdermos tempo.

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, p p p

Convireis, também, que seria singular que tão racio-nal filosofia tivesse saído de fatos ilusórios e contro-vertidos.

Em boa lógica, a realidade do efeito implica a dacausa que o produz; se um é verdadeiro, a outra nãopode ser falsa, porque, onde não há árvores, não se podecolher frutos.

Nem todos, é certo, testemunharam osfatos, porquenão se colocaram nas condições precisas para observá-los;não tiveram a paciência e a perseverança exigidas. Masisso também se dá com todas as ciências: o que unsnão fazem, é feito por outros; todos os dias aceitamoso resultado dos cálculosastronómicos, sem que nós mes-mos os façamos.

Seja como for, se achais a filosofiaboa, podeis acei-tá-la como aceitaríeis outra qualquer, conservando vossaopinião sobre as vias e meios que aela conduziram, ou,ao menos, não a admitindo senão a título de hipótese,até mais ampla averiguação.Os elementos de convicção não são os mesmos paratodos; o que convence a uns, não produz impressão algu-ma em outros; assim sendo, é preciso um pouco de tudo.É, porém, um engano crer-se que as experiências físicassejam o único meio de convencer.

Notei que em algumas pessoas os mais importantesfenómenos não produziram a menor impressão ao passo

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alguns fatos de manifestação,vê-los-eis commenor pre-

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alguns fatos de manifestação,vê los eis commenor prevenção, porque possuireis uma base onde firmar o vossoraciocínio.

Há duas coisas noEspiritismo: a parte experimentaldas manifestações e a doutrina filosófica.

Ora, eu sou todos os dias visitado por pessoas queainda nada viram e crêem tão firmemente como eu, pelosó estudo que fizeram da parte filosófica; para elas ofenómeno das manifestações é acessório; o fundo é adoutrina, a ciência; eles a vêem tão grande, tão racional,que nela encontram tudo quanto pode satisfazer às suasaspirações interiores, à parte o fato dasmanifestações;do que concluem que, supondo não existissem as mani-

festações, a doutrina não deixaria de ser sempre a quemelhor resolve uma multidão de problemas reputadosinsolúveis.

Quantos me disseram que essas ideias estavam emgerme no seu cérebro, conquanto em estado de confusão.

O Espiritismo veio coordená-las dar-lhes corpo e foi

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Há entre o Espiritismo e outros sistemasfilosóficosesta diferença capital; que estes são todos obra deho-mens, mais ou menos esclarecidos, ao passo que, naquele

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que me atribuís, eu não tenho o mérito da invenção deum só princípio.Diz-se: a filosofia de Platão, de Descartes, deLeib-

nitz; nunca se poderádizer: a doutrina de AllanKardec;e isto, felizmente, pois que valor pode ter um nome emassunto de tamanhagravidade?

O Espiritismo tem auxiliares de maior preponderân-cia, ao lado dos quais somos simples átomos.

Sociedades espíritasV. — Tendes uma sociedade que se preocupa com

esses estudos: ser-me-ia possível fazer parte dela?

A. K.— Por ora, ainda não; porque se não há,para ser nela recebido, necessidade de ser doutor emEspiritismo, há, contudo, a de ter-se sobre ele ao menos

ideias mais firmes do que as vossas.Como a Sociedade não deseja ser perturbada nos seusestudos, ela não admite os que lhe viriam fazer perdertempo com questões elementares, nem os que, não simpa-tizando com seus princípios e convicções, lançariam adesordem no seu seio, com discussões intempestivas oucom o espírito de contradição.

Ê uma sociedade científica, como tantas outras, que

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vos vou apresentar, incorreria na censura dos meus cole-

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p ,gas, e a porta vos seria interdita.Aí encontrareis uma reunião de homens graves e deboa sociedade, cuja maioria se recomenda pela superiori-dade do seu saber e posição social, e que não consentiria,àqueles que recebe em seu seio, se afastarem das conve-niências, no que quer que seja; não creais, pois, que ela

convide o público e chame o primeirorecém-vindoparaassistir às suas sessões.Como não faz demonstrações com o fim de satisfazer

curiosidades, ela afasta com cuidado os curiosos.Aqueles, pois, que supõem ir aí achar uma distração

e uma espécie de espetáculo, ficarão desapontados emelhor farão se lá não forem.

Eis por que ela recusa admitir, mesmo como simplesvisitantes, as pessoas que não conhece, ou aquelas cujasdisposições hostis são notórias.

Interdição do Espiritismo

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claras; elas estão à disposição de todo o mundo e se pro-duzem desde o palácio até a mansarda.

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pPodem interdizer-lhe o exercíciopúblico;porém, éassaz sabido que não é em público queelas mais se dão;

é na intimidade;ora, desde que todos podem sermédiuns,quem impedirá que uma família no seu lar, que um indi-víduo no silêncio do seu gabinete, que um prisioneiroem seu cárcere, tenha comunicações com os Espíritos,mesmo nas barbas da polícia e sem que esta o saiba?

Admitamos, entretanto, queum. governo seja fortebastante para impedi-los de trabalhar em suas casas;

conseguirá também que o não façam na de seus vizinhos,no mundo inteiro, quando não há país algum, nos doishemisférios, em que não se encontremmédiuns?

O Espiritismo, além disso, não tem sua fonte entreos homens; ele é obra dosEspíritos, que não podem serqueimados nem encarcerados. Ele consiste na crença in-dividual e não nas sociedades, que de nenhuma sorte sãonecessárias. Se chegassem a destruir todos os livros es-píritas, os Espíritos ditariam outros.

Em resumo, o Espiritismo é hoje um fato consuma-do; ele já conquistou o seu lugar na opinião pública eentre as doutrinasfilosóficas; ê pois preciso que aqueles,a quem ele não convém, se resignem a vê-lo ao seu lado,restando-lhes a liberdade de recusá-lo.

TERCEIRO DIALOGOO PADRE

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nos livros em que estão expostas; neles podereis estu-dá-las à vontade e aceitá-las ou rejeitá-las.

O Espiritismo tem por fim combater a incredulidadee suas funestas consequências, fornecendo provas paten-tes da existência da alma e da vida futura; ele se dirige,pois, àqueles que em nada crêemou que de tudo duvi-dam, e o número desses não é pequeno, como muito bemsabeis; os que têm fé religiosa e a quemesta fé satisfaz,dele não têm necessidade.

Àquele quediz: "Eu creio na autoridade da Igreja enão me afasto dos seus ensinos, sem nada buscar alémdos seus limites", o Espiritismo responde que não se

impõe a pessoa alguma e que não vem forçar nenhumaconvicção.A liberdade de consciência é consequência da liber-

dade de pensar, que é um dos atributos do homem; e oEspiritismo, se não a respeitasse, estaria em contradiçãocom os seus princípios de liberdade e tolerância.

324 ALLAN KARDEC

Àquele que nos procura como irmão, nós o acolhe-mos como tal; ao que nos repele, deixamo-lo em paz.É o conselho que não tenho cessado de dar aos espí-

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ritas, porque não concordo com os que se arrogam amissão de converter o clero. Sempre lhes tenho dito:Semeai no campo dos incrédulos, onde há colheita afazer.

O Espiritismo não se impõe, porque, comovo-lodisse — respeita a liberdade de consciência; ele sabetambém que toda crença imposta é superficial e nãodesperta senão as aparências da fé; nunca, porém, a fésincera. Ele expõe seus princípios aos olhos de todos, demodo a cada um poder formar opinião segura.

Os que lhe aceitam osprincípios, sacerdotes ou lei-gos, o fazem livremente e pelos achar racionais; mas nósnão ficamos querendo mal aos que se afastam da nossaopinião. Se hoje há luta entre a Igreja e o Espiritismo,nós temos consciência de não havê-la provocado.

Padre. — Se a Igreja, vendo levantar-se uma novadoutrina, cujos princípios, em consciência, julga devercondenar, podeis contestar-lhe o direito de discuti-los ecombatê-los, premunindo os fiéis contra o que ela con-sidera erro?

A. K.— De modo algum podemos contestar essedireito, que também reclamamos para nós outros.

Se ela se houvesse encerrado nos limites da dis-cussão, nada haveria de melhor; lede, porém, a maioriad di f id b bli d

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Não lamentam muitos, hoje, não se poder atear para

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os espíritas as fogueiras da Inquisição?Em certas localidades não têm sido assinalados àanimadversãode seus concidadãos, a ponto de fazer quesejam nas ruas perseguidos e injuriados?

Não se tem imposto a todos os fiéis que os evitemcomo pestíferos, e impedido que os criados entrem a seuserviço?

Muitas mulheres não têm sido aconselhadas a sepa-rarem-se de seus maridos, como muitos maridos de suasmulheres, tudo por causa do Espiritismo?

Não se têm tirado lugares a empregados, retiradoo pão do trabalho a operários e recusado caridade aosnecessitados, por serem eles espíritas?

Não se têm despedido de alguns hospitais, até cegos,pelo fato de não quererem abjurar sua crença?Dizei-me, senhor abade, será isso uma discussão leal?Os espíritas responderam, porventura, à injúria com

a injúria, ao mal com o mal?

126 ALLAN KARDEC

Em resumo, aIgreja, repelindo sistematicamente osespíritas que a buscavam, forçou-os a retroceder; pelanatureza e violência dos seus ataques ela ampliou a dis-

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cussão e conduziu-a para um terreno novo. O Espiritismoera apenas uma simples doutrina filosófica; foi a Igrejaquem lhe deu maiores proporções, apresentando-o comoinimigo formidável; foi ela, enfim, quem o proclamounova religião. Foi um passo errado, mas a paixão nãoraciocina melhor.

Um livre pansadar.— Há pouco proclamastes a li-berdade de pensamento e de consciência, e declarastesque toda crença sincera é respeitável. O materialismo éuma crença como outra qualquer; por que negar-lhe aliberdade que concedeis a todas as outras?

A. K.— Cada um é, certamente, livre de crer noque quiser ou de não crer em coisa alguma; e não tole-raríamos mais uma perseguição contra aquele que acre-dita no nada depois da morte, assim como na promovidacontra um cismático de qualquer religião.

Combatendo o materialismo, não atacamos os indi-víduos, mas sim uma doutrina que, se é inofensiva paraa sociedade, quando se encerra no foro íntimo da cons-ciência de pessoas esclarecidas, é uma chaga social, sevier a generalizar-se.

A crença de tudo acabar para o homem depois damorte, que toda solidariedade cessa com a extinção da

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maioria dos males da Humanidade. É necessário pos-

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suir alta dose de virtude para não seguir a correntedo vício e do crime, quando para isso não se tem outrofreio além do da própria força de vontade.

O respeito humano pode conter o homem do mundo,mas não contém aquele que não dá importância à opiniãopública.

A crença na vida futura, mostrando a perpetuidadedas relações entre os homens, estabelece entre eles umasolidariedade que não se quebra na tumba; desse modo,essa crença muda o curso das ideias. Se essa crença fosseum simples espantalho, não duraria senão um tempocurto; mas, como a sua realidade é fato adquirido pelaexperiência, é um dever propagá-la e combater a crençacontrária, mesmo no interesse da ordem social. É o quefaz o Espiritismo; e o faz com êxito, porque forneceprovas, e porque, decididamente, o homem antes querter a certeza de viver e poder ser feliz em um mundomelhor para compensação das misérias deste mundo do

128 ALLAN KAEDEC

Ora, é provável que os Espíritos só se manifestemcom o consentimento de Deus; se, pois, Deus em suamisericórdia envia aos homens esse socorro para afas-

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tá-los da incredulidade,é uma impiedade repeli-lo.Padre. — Não podeis, entretanto, contestar que o

Espiritismo não está, em todos os pontos, de acordo coma religião.

A. K.— Ora, senhor abade, todas as religiões dirãoa mesma coisa: os protestantes, os judeus, os muçulma-nos, tanto quanto os católicos.

Se o Espiritismo negasse a existência de Deus, daalma, da sua individualidade e imortalidade, das penase recompensas futuras, dolivre-arbítrio do homem;seele ensinasse que cada um só deve viver parasi, nãopensar senão em si, não só seria contrário à religiãocatólica, como a todas as religiões do mundo; ele seriaainda a negação de todas as leis morais, base das socie-dades humanas.

Longe disso: os Espíritos proclamam um Deus único,soberanamente justo e bom; eles dizem que o homem élivre e responsável por seus atos, recompensado ou punidopelo bem ou pelo mal que houver feito; colocam acimade todas as virtudes a caridade evangélica e a seguinteregra sublime ensinada pelo Cristo: fazer aos outroscomo queremos que nos seja feito.

Não são estes os fundamentos dareligião?Essa certeza do futuro, de se ir encontrar aqueles

a quem se amou não será uma consolação?

O QUE E OESPIRITISMO 129

A. K.— O Espiritismo é, antes de tudo, uma ciên-

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cia, não cogita de questões dogmáticas.Esta ciência temconsequências morais como todas as ciências filosóficas;essas consequências são boas ou más?

Pode-se julgá-las pelos princípios gerais que acabode expor.

Algumas pessoas se iludem sobre o verdadeiro ca-ráter do Espiritismo. A questão é de grande importânciae merece alguns 1 desenvolvimentos. Façamos primeiro umtermo de comparação: a eletricidade, estando na Natu-reza, existiu em todo tempo e produziusempre os efeitosque hoje observamos e muitos outros que ainda não co-nhecemos. Na ignorância da sua verdadeira causa, os

homens explicavam esses efeitos de um modo mais oumenos extravagante. A descoberta da eletricidade e desuas propriedades veio lançar por terra um punhado deteorias absurdas, espargindo a luz por sobre mais de ummistério da Natureza. O que fizeram a eletricidade e asciências físicas para certos fenómenos o Espiritismo o

130 ALLAN KARDEC

Mais bem observado depois que se vulgarizou, o Es-piritismo vem derramar luz sobre grande número dequestões, até hoje insolúveis ou mal compreendidas. Seu

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verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência e não deuma religião (*); e a prova disso é que ele conta entreos seus aderentes homens de todas as crenças, que poresse fato não renunciaram às suas convicções: católicosfervorosos que não deixam de praticar todos os deveresdo seu culto, quando a Igreja os não repele; protestantesde todas as seitas, israelitas, muçulmanos e mesmo bu-distas e bramanistas.

Ele repousa, por conseguinte, em princípios inde-pendentes das questões dogmáticas. Suas consequênciasmorais são todas no sentido do Cristianismo, porque detodas as doutrinas é esta a mais esclarecida e pura;razão pela qual, de todas as seitas religiosas do mundo,os cristãos são os mais aptos para compreendê-lo emsua verdadeira essência.

Podemos exprobrá-lo porisso?Cada um pode formar de suas opiniões uma religião

e interpretar à vontade as religiõesconhecidas; mas daí

a constituir nova Igreja, a distância é grande.Padre.— As evocações, entretanto, não são feitas

segundo uma fórmula religiosa?

A. K.— Realmente, o sentimento religioso dominanas evocações e em nossas reuniões; mas não temosfórmula sacramental: para os Espíritos o pensamento é

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seja sua condição, feliz ou infeliz, no mundo espiritual;

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fazemos um apelo aos bons Espíritos, porque, conhe-cendo que há bons e maus, desejamos que estes últimosnão venham tomar parte fraudulentamente nas comuni-cações que recebemos.

Que prova tudo isto? Que não somos ateus, o quenão quer dizer que sejamos professos de religião re-formada.

Padre. — Pois bem! Que dizem os Espíritos supe-riores a respeito da religião? Os bons nos devem acon-selhar e guiar.

Suponhamos que eu não tenha religião alguma e

queira escolher uma; se eu lhes pedir para aconselha-rem-me se devo ser católico, protestante, anglicano, quá-quer, judeu, maometano oumórmon,qual será a res-posta deles?

A K — Há dois pontos a considerar nasreligiões:

132 ALLAN KARDEC

é conforme à bondade e justiça de Deus; que dá de Deusa maior e a mais sublime ideia e não O rebaixa empres-

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tando-Lhe as fraquezas e as paixões dahumanidade; quetorna os homens bons e virtuosos e lhes ensina a ama-rem-se todos como irmãos; que condena todo mal feitoao próximo; que não autoriza a injustiça sob qualquerforma ou pretexto queseja; que nada prescreve de con-trário às leis imutáveis da Natureza, porque Deus nãose pode contradizer; aquela cujos ministros dão o melhorexemplo de bondade, caridadee moralidade; aquela queprocura melhor combater o egoísmo e lisonjear menoso orgulho e a vaidade dos homens; aquela, finalmente,em nome da qual se comete menos mal, porque uma boareligião não pode servir de pretexto a nenhum mal; elanão lhe deve deixar porta alguma aberta, nem direta-mente, riem por interpretação. Vede, julgai e escolhei.

Padre.— Creio que certos pontos da doutrina ca-tólica são contestados pelos Espíritos que considerais

superiores; supondo mesmo que esses princípios sejamerróneos, poderá tal crença, segundo a opinião dos ditosEspíritos, ser prejudicial à-salvaçãodaqueles que, erran-do ou acertando, a consideram artigo de fé e apraticam?

A. K.— Certamente que não, se ela os não desviarda prática do bem, se ela antes os incitar a isso; ao

i b f d d j di á

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Paãíre.— Assim, o católico fervoroso, que escrupu-

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losamente cumpre com os deveres do seu culto, não écensurado pelosEspíritos?

A. K.— Não, se isso é para ele uma questão deconsciência, se ele ofaz com sinceridade; sim, mil vezessim, se for hipócrita, se só tiver piedade aparente.

Os Espíritos superiores, os encarregados do pro-gresso da Humanidade, declararam-se contra todos osabusos que podem retardar esse progresso, qualquer queseja a natureza deles e quaisquer que sejam os indivíduosou as classes que deles se aproveitem.

Ora, não se pode negar que a religião nem sempreesteve isenta de abusos; se, entre os seus ministros, hámuitos que desempenham sua missão com devotamentointeiramente cristão, que a fazem grande, bela e respei-tável, convireis que nem todos assim sempre compreende-ram a santidade do seu ministério. Os Espíritos comba-tem o mal, onde quer que ele se ache; mas, assinalar os

134 ALLAN KARDEC

Um grande princípio domina a todos: a prática dobem,que é a leisuperior, a condição sine c p u anem do nossofuturo, como no-lo prova o estado dos Espíritos que

i

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conosco se comunicam.Enquanto a luz não se faz para vós sobre essasquestões, crede, se o quiserdes, nas chamas e torturasmateriais, se julgais que isso impede que pratiqueis omal; essa crença, porém, não as tornará mais reais seelas não existirem.

Acreditais que não temos mais de uma existênciacorporal, mas isto não impede de renascerdes aqui ouem, outra parte, se assim tiver de ser, apesar de o nãoquererdes; credes que o mundo todo foi criado em seisvezes vinte e quatro horas, mas, apesar disso, a Terranos apresenta a prova do contrário, escrita em suas ca-madas geológicas; estais convencido de haver Josué feitoparar o Sol, o que não dá lugar a que deixe de ser a Terraque gira; dizeis que a data da vinda do homem àTerra não vai além de 6.000 anos: isto, porém, não privaque os fatos vos contradigam. E que direis se um dia aGeologia demonstrar, por traços patentes, a anteriori-dade do homem, como já tem demonstrado tantas outrascoisas ?

Crede, pois, em tudo que vos aprouver, mesmo naexistência do diabo, se tal crença vos puder tornar bom,humano e caridoso para com os vossos semelhantes.O Espiritismo, como doutrina moral, só impõe umacoisa:a necessidade de fazer o bem e evitar o mal. É uma

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É assim, por exemplo, que ele não nega o purga-ó i l á i d id d

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tório; antes, pelo contrário, demonstra sua necessidadee justiça; vai mesmo além: ele o define. O inferno foidescrito como imensa fornalha, mas ele será assim tam-bém compreendido pela alta teologia? Evidentemente,não; ela diz muito bem que isto é uma simples figura;que o fogo que ali se consome é um fogo moral, símbolo

das maiores dores. Quanto à eternidade das penas, sefosse possível pôr-se a votos tal questão, para se conhe-cer a opinião íntima de todos os homens que raciociname se acham no caso de compreendê-la, mesmo entre osmais religiosos se veria para que lado penderia a maio-ria, porque a ideia de uma eternidade de suplícios é anegação da infinita misericórdia de Deus.

Eis, demais, o que avança a Doutrina Espírita a talrespeito:A duração do castigo é subordinada ao melhoramento

do Espírito culpado. Nenhuma condenação por tempo de-terminado é pronunciada contra ele. O que Deus exige,

136 ALLAN KARDEC

Não; são os Espíritos que a ensinam e provam, pelosexemplos que diariamente nos fornecem. Os Espíritosnão negam, pois, as penas futuras, pois que são eles

ê d ó i f id d h

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mesmos que nos vêm descrever seus próprios sofrimen-tos; e este quadro nos toca mais que o das chamas per-pétuas, porque tudo neleê perfeitamente lógico. Com-preende-se que isto é possível, que assim deve ser, queessa situação é uma consequência natural das coisas; opensador filósofo pode aceitá-lo, porque nele nada re-pugna à razão. Eis por que as crenças espíritas têm con-duzido ao bem muita gente, mesmo entre os materialis-tas, aos quais não fazia mossa o medo do inferno, como

lhes era pintado.Pax&re.— Admitindoesse raciocínio,não julgais que

o vulgo precisa de imagens mais impressionantes, antesque de uma filosofia que ele não pode compreender?

A. K.— Ê isso um erro que tem lançado mais deum homem no materialismo, ou, pelo menos, afastadomais de um homem da religião. Chega o momento emque essas imagens não impressionam mais, e então aque-les que não aprofundam as coisas, não aceitando umaparte, rejeitam o todo, porque, dizem eles: se me ensi-naram como verdade incontestável um ponto que é falso,se me deram uma imagem, uma figura, pela realidade,quem me afiança que o resto seja verdadeiro? Se, pelocontrário, a razão, crescendo, nada tem a repelir, a fése fortifica A religião ganhará sempre em seguir o pro

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encontramos coisas boas, quando nos pregam neles amais pura e sublime moral evangélica, a abnegação, o

desinteresse e o amor ao próximo; quando neles se combate o mal qualquer que seja o aspecto sobre que se

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desinteresse e o amor ao próximo; quando neles se com-bate o mal, qualquer que seja o aspecto sobre que semostre, será racional crer-se que o Espírito malignoassim proceda?

Padre. — O Evangelho ensina que o anjo das trevas,ou Satã, se transforma em anjo de luz para seduzir oshomens.

A. K.— Satã, segundo o Espiritismo e a opiniãode muitos filósofos cristãos, não é um ser real; é apersonificação do Mal, como Saturno era outrora a doTempo. A Igreja apega-se à letra dessa figuraalegórica;é uma questão de opinião que eu não discutirei.

Admitamos, por um instante, que Satã seja um serreal; a Igreja, à força de exagerar seu poder, tendo emvista intimidar, chega a um resultado totalmente con-trário, isto é, à destruição, não somente do medo,mas

também da crença em tal personagem, segundo o provér-bio: Quem muito quer provar, nada prova. Ela o repre-senta como eminentemente fino, sagaz e ardiloso, mas,na questão do Espiritismo,fá-lodesempenhar o papel delouco ou de tolo.

Uma vez que seu fim é alimentar de vítimas o infer-no e arrebatar almas do poder de Deus, compreende-se

di ij à l tã b i d i l

O QUE fi O ESPIRITISMO 139

Ihidos e a triste sorte que aguarda os maus, seria ato de

i ló i i tú id q d d lib d dq t j g i l t d

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um simplório, mais estúpido que o de dar liberdade aaves que estejam numa gaiola, com o pensamento deapanhá-las de novo.

Há, pois, na doutrina da comunicação exclusiva dosdemónios uma contradição que fere todo homem sen-sato; nunca se persuadirá alguém que os Espíritos quereconduzem a Deus aqueles que o renegavam, ao bem osque praticavam omal; que consolam os aflitos, dão forçae coragem aos fracos; que, pela sublimidade de seusensinos, elevam a alma acima da vida material, sejamauxiliares de Satã, e que, por este motivo, se deva inter-dizer-nos qualquer relação com o mundo invisível.

Padre. —•Se a Igreja proíbe as comunicações comos Espíritos dos mortos, é porque elas são contrárias àreligião, como sendo formalmente condenadas pelo Evan-gelho e por Moisés. Este último, pronunciando a pena demorte contra essas práticas, prova quantoelas são re-preensíveis aos olhos de Deus

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O QUE S O ESPIRITISMO 141

ainda hoje o podem, e, se são Espíritos de mortos, não

são exclusivamente demónios Antes de tudo devemosser lógicos

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são exclusivamente demónios. Antes de tudo, devemosser lógicos.

Padre. — A Igreja não nega que bons Espíritospossam comunicar-se, pois reconhece que os santos tam-bém se têmmanifestado; ela, porém, não considera bonsaqueles que vêm contradizer seus princípios imutáveis.Os Espíritos ensinam, é verdade, que há penas e recom-pensas futuras, porém, de modo diverso do que ela en-sina; só ela pode julgar o que eles pregam e, portanto,distinguir os bons dos maus.

A. K.— Eis a magna questão. Galileu foi acusadode heresia e de ser inspirado pelo demónio, porque vinharevelar uma lei da Natureza, provando o erro de umacrença julgada inatacável, e, então, foi condenado eexcomungado.

Se os Espíritos tivessem, sobre todos os pontos,b d d tid l i d Ig j l ã

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O QUE É O ESPIRITISMO 143

rentes existências corpóreas se cumprem na humanidade,sendo cada uma um passo que aalma dá na senda doi t l t l é i it di

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sendo cada uma um passo que aalma dá na senda doprogresso intelectual emoral; o que é coisa muito diversada metempsicose.

Não podendo adquirir um desenvolvimento completoem uma só existência, muitas vezes abreviada por causasacidentais, Deus lhe permite continuar, em nova encar-nação, o que ela não pôde acabar em outra, ou recomeçaro que fez errado. A expiação na vida corporal consistenas tribulações que nela sofremos.

Quanto à questão de saber se a pluralidade das exis-tências da alma é ou não contrária a certos dogmas daIgreja, limito-me a dizer o seguinte:

Ou a reencarnação existe, ou não; se existe, é umalei da Natureza. Para provar que ela não existe, serianecessário demonstrar que vai de encontro, não aosdogmas, mas a essas leis, e que há outra mais clara elogicamente melhor que ela, explicando as questões que

144 ALLAN KARDEC

Padre.— Segundo os Espíritos, quem não crê nelesnem nas suasmanifestações, deve ser menos aquinhoadona vida futura?

A. K. — Se esta crença fosse indispensável à sal-ação dos homens q e seria daq eles q e desde o co

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A. K. Se esta crença fosse indispensável à salvação dos homens, que seria daqueles que, desde o co-meço do mundo, não tiveram possibilidade de possuí-la,bem como daqueles que, durante ainda muito tempo, mor-rerão sem tê-la? Poderá Deus cerrar-lhes as portas dofuturo?

Não; os Espíritos que nos instruem não são assimtão pouco lógicos; eles nosdizem: Deus é soberanamen-te justo e bom, não faz a sorte futura do homem subor-dinar-se a condições alheias à vontade deste; eles nãonos pregam que fora do Espiritismo não possa haversalvação, mas sim, como oCristo: Fora,da camdaãenãohá salvação.

Padre. — Permiti-me, então, dizer-vos que, desdeque os Espíritos só ensinam os princípios de moral en-contrados no Evangelho, não vejo qual possa ser a utili-dade do Espiritismo,visto como antes que este viesse ehoje, sem ser por ele, podíamos e podemos alcançar asalvação. Não seria o mesmo se os Espíritos viessemensinar algumas grandes verdades novas, alguns dessesprincípios que mudam a face do mundo, como fez oCristo. Ao menos o Cristo era só, sua doutrina era única,ao passo que os Espíritos se contam por milhares e secontradizem, uns dizendo que é branco o que outros afir-

O QUE É O ESPIRITISMO 145

deve-se acolhê-lo como poderoso auxiliar, que vem con-firmar por todas as vozes deAlém-Túmuloas verdadesf d t i d li iã b tid l i d lid d

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firmar, por todas as vozes deAlém-Túmulo,as verdadesfundamentais da religião, combatidas pela incredulidade.Que o materialismo o combata, explica-se facilmen-

te; mas que a Igreja se ligue ao materialismo contra ele,é um fato menos concebível. Igualmente inconsequente éela quando qualifica de demoníaco um ensino que seapoia sobre a mesma autoridade e que proclama a missãodivina do fundador do Cristianismo.

O Cristo teria dito, teria reveladotudo?Não; vistoque ele próprio disse: "Eu teria ainda muitas coisas adizer-vos, mas vós não podeis compreendê-las, é por issoque eu vos falo em parábolas."

O Espiritismo vem hoje, época em que o homem estámaduro para compreendê-lo, completar e explicar o queo Cristo propositadamente não fez senão tocar, ou nãodisse senão sob a forma alegórica. Direis, sem dúvida,que à Igreja competia dar essaexplicação. Mas, quald l ? C ã

146 ALLAN KAKDEC

Vós vos iludis dando o nome deseitas a algumasdivergências de opiniões relativas aos fenómenos espíri-tas. Não é de admirar que no começo de uma ciência,quando ainda as observações eram incompletas para mui-tos, tenham surgido teoriascontraditórias; essas teorias,porém repousam sobre pontos de minúcias eã sobre

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, g ,porém, repousam sobre pontos de minúcias enão sobreo princípio fundamental. Podem constituirescolas queexpliquem certos fatos a seu modo, porém, não são seitas,como não o são os diferentes sistemas quedividemossábios nas ciências exatas: em medicina, em física, etc.Riscai, pois, a palavra seita, que é imprópria ao nossocaso.

A quantas seitas não tem o Cristianismo dado nas-cimento, desde a sua origem ? Por que não teve bastantepoder a palavra doCristo para impor silêncio a todasas controvérsias? Por que é ela suscetível de interpreta-ções que ainda hoje dividem os cristãos em diferentesigrejas, pretendendo todas elas possuir exclusivamente averdade necessária à salvação, detestando-se intimamen-te e anatematizando-se em nome do seu divino Mestre,que não pregou senão o amor e a caridade?

Fraqueza dos homens, direis vós. Seja; então, comoquereis que o Espiritismo triunfe subitamente dessa fra-queza, transforme a Humanidade como por encanto?

Vamos à questão da utilidade. Dizeis que o Espiri-tismo nada revela de novo. Ê umerro: ele ensina, aocontrário, muito àqueles que não se limitam a um estudosuperficial Não fizesse ele mais que substituir a máxi-

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mundo microscópico e cem outras coisas; o camponês,para viver e fazer germinar o trigo não tem necessidaded b é i é

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para viver e fazer germinar o trigo, não tem necessidadede saber o que é um cometa, e, entretanto, ninguém negaque todas essas coisas alargam o círculo das ideias e nosfazem compreender melhor as leis da Natureza.

Ora, o mundo dos Espíritos é uma dessas leis que o

Espiritismo nos faz conhecer;ele

nos ensina a influênciaque esse mundo exerce sobre o corpóreo. Suponhamosque a isso se limitasse a sua utilidade, já não seria muitoa revelação de tal potência?

Vejamos, agora, a sua influência moral. Admitamosque ele nada ensine, sob este ponto de vista; qual o maiorinimigo da religião? O materialismo,porqueo materia-lista não crê em coisa alguma;ora, o Espiritismo é anegação do materialismo, que já não tem razão de ser.Não é mais pelo raciocínio, pela fé cega que se diz aomaterialista que nem tudo se acaba como corpo; é pelos

148 ALLAN KARDEC

que a falta de ortodoxia é mais repreensível, aos olhosde Deus, que o ateísmo ou omaterialismo?

Apresento claramente as questões seguintes, a quan-

tos combatem oEspiritismo, sob o ponto de vista de suasconsequênciasreligiosas:

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pq1." Quem terá melhor quinhão na vida futura —

aquele que não crê em coisa alguma, ou aquele que, crentedas verdades gerais, não admite certas partes dodogma?

2.* O protestante e o cismático serão confundidosna mesma reprovação que o ateu e o materialista?

3." O que não é ortodoxo, no rigor da palavra, masfaz o bem que pode, que é bom e indulgente para como próximo, leal em suas relações sociais, deve contarmenos com a salvação, do que aquele que crê em tudo,mas é duro, egoísta e baldo de caridade?

4." Qual terámais valor aos olhos deDeus: a prá-tica das virtudes cristãs sem a dos deveres da ortodoxia,

ou a destes últimos sem a damoral?

Respondi, senhor abade, às questões eobjeções queme dirigistes, mas, comovo-lodisse no começo, sem in-tenção alguma preconcebida de conduzir-vos às nossasideias e de mudar as vossas convicções, limitando-me tão--somente a fazer-vos encarar o Espiritismo sob seu ver-d d i S ã i é i i d ã i

O QUE É O ESPIRITISMO

Dissemosque o melhormeiode seesclareceremo Espiritismo é estudarempreviamentea teoria; os

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Dissemosque o melhor de seesclareceremo Espiritismo é estudaremp ev a e tea teoria; osvirão depois, naturalmente,e soãofacilmente compreet^ 1 'didos, qualquer'queseja a oièa em que as circunstâr^ 1"cias os façamvir. As nossaspiblicaçõessão feitas n *°intuito de favorecer esseestuí; eis aqui a ordemqu ae

aconselhamos.A primeira leitura a fazewé a deste resumo,apresenta o conjunto e os p o n t o smais salientes da

cia; com isso, pois, já se p o d efazer dela uma ideiaficar-se convencido de que, no todo, existe algo deNesta rápida exposiçãoesforçaní-nospor indicar osponJ -~tos sobre que particularmentes e deve fixar aatenção d<"-°observador. A ignorância dosaíncípiosfundamentais e

a causa das falsas apreciações Ia maioria daqueles qu- ' e

querem julgar o que nãocomprendem,ou que seem ideias preconcebidas.

Se desta leitura nascero desejode continuar,ler O Lvorodas Espíritos, onde ss princípios da

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CAPITULO II

Noções elementares de EspiritismoOBSERVAÇÕES PRELIMINARES

1. É um erro crer-se que basta a certos incréduloso testemunho de fenómenos extraordinários, para que set i t Q ã d it h i

152 ALLAN KARDEC

víduos se comportam como se operassem sobre a ma-téria bruta; e, desde que não obtêm o que pedem, con-cluem que não há Espíritos.

Colocando-se em um ponto de vista diferente,com-preender-se-á que, não sendo os Espíritos mais que almas

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preender se á que, não sendo os Espíritos mais que almasdos homens, todos nós, depois da morte, seremos Espíri-tos, e que, nestascondições,também estaríamos poucodispostos a servir de joguete, para satisfação das fanta-sias dos curiosos.

3. Ainda que certos fenómenos possam ser provo-cados, eles, pelo fato de provirem de inteligências livres,não se acham absolutamente à disposição de quem querque seja; e quem se disser capazde obtê-Ios,sempre quequeira, só provará ignorância oumá-fé.É preciso espe-rá-los, apanhá-los em sua passagem, e, muitasvezes, équando são menos esperados que se apresentam os fatosmais interessantes e concludentes.

Aquele que seriamente deseja instruir-se, deve, nistocomo em tudo, ter paciência e perseverança, e colocar-senas condiçõesindispensáveis; doutra forma, é melhor nãose preocupar com isso.

4. Nem sempre as reuniões que têm por objetotratar de manifestações espíritas se acham em boas con-dições, seja para obter resultados satisfatórios, seja paraproduzir a convicção; de algumas mesmo não podemos

O QUE Ê O ESPIRITISMO 153

5. As reuniões frívolas têm o grave inconveniente

de dar aos noviços, que aelas assistem, uma ideia falsado caráter do Espiritismo. Os que só têm frequentado

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ç , q ,p q qreuniões dessa espécie, não podem tomar a sério umacoisa que eles vêem tratadairrefletidamente pelos pró-prios que se dizem adeptos. Um estudo antecipado lhesensinará a julgar do alcance do que vêem, a separar obom domau.

6. O mesmo raciocínio se aplica aos que julgaremo Espiritismo pelo que dizem certas obras excêntricas,que dele apenasdão uma ideia incompleta e ridícula.

O Espiritismo sério não pode responder por aquelesque o compreendem mal, ou que o praticam de modocontrário aos seus preceitos; assim como nãoo faz apoesia por aqueles que produzem maus versos.

Ê deplorável, dizem, que existam tais obras preju-dicando a verdadeira ciência. Sem dúvida, seria prefe-rível que só as houvesseboas; o maior mal, porém, con-i ã d b lh d dá l d

354 ALLAN KARDEC

8. Faz-se geralmente uma ideia muito errónea doestado dos Espíritos; eles não são, como alguns acredi-tam, seres vagos e indefinidos, nem chamas semelhantes

a fogos-fátuos, nem fantasmas como os pintam nos con-tos das almas do outro mundo. São seres nossos seme-lhantes tendo como nós um corpo mas fluídico e invi

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lhantes, tendo como nós um corpo, mas fluídico e invi-sível no estado normal.

9. Quando a alma está unida ao corpo, durante avida, ela tem duplo invólucro: um pesado,grosseiro edestrutível — o corpo; o outro fluídico, leve e indestru-tível, chamadoperis/pírito.

10. Há, pois, no homem três elementos essenciais:1." A alma ou Espírito, princípio inteligente em que

residem o pensamento, a vontade e o senso moral;2." O corpo, invólucro material que põe o Espírito

em relação com o mundo exterior;3.° O perispírito,invólucro fluídico, leve, imponde-

rável, servindo de laço e de intermediário entre o Espí-rito e o corpo.

11. Quandoo invólucro exterior está usado e nãopode mais funcionar, tomba eo Espírito o abandona,como o fruto se despoja da sua semente, a árvore dacasca, a serpente da pele, em uma palavra, como se deixaum vestido velho que já não pode servir; é o que sedesigna pelo nome demorte.

O QUE É O ESPIRITISMO 155

14. A união da alma, do perispírito e do corpomaterial constitui ohomem; a alma e o perispírito sepa-rados do corpo constituem o ser chamadoEspírito.

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p pOBSERVAÇÃO — A alma é assim um ser simples; o

Espírito um ser duplo e o homem um ser triplo.Seria mais exato reservar a palavraalma para designar

o principio inteligente, e o termo Espírito para o ser semi-material formado desse princípio e do corpofluídico;mas,como não se pode conceber o princípio inteligente isolado damatéria, nem o perispírito sem ser animado pelo princípiointeligente, as palavrasalma e Espírito são, no uso, indife-rentemente empregadas uma pela outra; é a figura que con-siste em tomar a parte pelo todo, do mesmo modo por quese diz que uma cidade é povoada detantas almas, uma vilacomposta de tantas famílias; filosoficamente, porém, é essen-cial fazer-se a diferença.

15. Os Espíritos revestidos de seus corpos mate-riais constituem a Humanidade ou mundo corporal visí-vel; despojados desses corpos, formam o mundo espiritual

156 ALLAN KARDEC

Todos os nossos pensamentos neles se repercutem,e eles os lêem como em um livro aberto; de modo que oque podíamos esconder a alguém, durante a vida terrena,não mais o podemos depois da sua desencarnação. (OLi-vro dos Espíritos, n.° 237.)

í d

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18. Os Espíritos estão em toda parte, ao nossolado, acotovelando-nos e observando-nos sem cessar. Porsua presença incessante entre nós, eles são os agentesde diversos fenómenos, desempenham um papel impor-tante no mundo moral,e, até certo ponto, nofísico;cons-tituem, se o podemosdizer,uma das forças da Natureza.

19. Desde que se admita a sobrevivência da almaou do Espírito, é racional que as suas afeições conti-nuem;sem o que, as almas dos nossos parentes e amigosseriam, pela morte, totalmente perdidas para nós.

Pois que os Espíritos podem ir a toda parte, é igual-mente racional admitir-se que aqueles que nos amaram,durante a vida terrena, ainda nos amem depois da morte,que venham para junto de nós e se sirvam, para isso,dos meios que encontrem à suadisposição; é o que con-firma a experiência.A experiência, de fato, prova que os Espíritos con-servam as afeições sérias que tinham na Terra, quefolgam em se juntarem àqueles a que amaram, sobre-tudo quando são por estes atraídos pelos sentimentosafetuosos que lhes dedicam; ao passo quese, mostramindiferentes para com quem só lhes vota indiferença

O QUE ffi O ESPIRITISMO 157

doutrinas materialistas, não tanto por meio de raciocí-nios, mas principalmente por fatos.

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p p p21. Uma ideia quase geral, entre os quenão conhe-

cem o Espiritismo, é a de crer que os Espíritos, pelosimples fato de estarem desprendidos da matéria, devemsaber tudo, estar de posse da sabedoria suprema. É um

grave erro.Não sendo mais que as almas dos homens, os Espí-ritos não adquirem a perfeição logo que deixamo envol-tório terrenal. Seu progresso só se faz com o tempo, enão é senão paulatinamente que se despojam das suasimperfeições, que conquistam os conhecimentos que lhesfaltam.

Seria tão ilógico admitir-se que o Espírito de umselvagem ou de um criminoso se torne de repente sábioe virtuoso, como seria contrário à justiça de Deus suporque ele continue perpetuamente em inferioridade. Comohá homens de todos os graus de saber e ignorância, de

158 ALLAN KARDEC

dos visível e invisível, bem como conhecidos a natureza,o princípio e o modo dessas relações, abriu-se um novocampo à observação e encontrou-se a chave de grandenúmero de problemas.

Fazendo cessar a dúvida sobre o futuro, o Espiri-tismo é poderoso elemento de moralização.

23 O f d i

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23. O que faz nascer na mente de muitas pessoasa dúvida sobre a possibilidade das comunicações deAlém--Túmulo, é a ideia falsa que fazem do estado da almadepois da morte. Figuram ser ela um sopro, uma fumaça,uma coisa vaga, apenas apreensível ao pensamento, quese evapora e vainão se sabe para onde, mas para lugartão distante que se custa a compreender que ela possatornar à Terra. Se, ao contrário, a considerarmos aindaunida a um corpofluídico,semimaterial, formandocomele um ser concretoe individual, as suas relações comos viventes nada têm de incompatível com a razão.

24. Vivendo o mundo invisível no meio do visível,com o qual está em contato perpétuo, dá em resultadouma incessante reação de cada um deles sobre o outro,e bem assim demonstra que, desde que houve homens,houve também Espíritos, e que se estes têm o poder demanifestar-se, deviam tê-lo feito em todas as épocas eentre todos os povos.

Entretanto, nestes últimos tempos, as manifestaçõesdos Espíritos tomaram grande desenvolvimento e adqui-riram maior caráter de autenticidade, porque estava nasi d P idê i ô à d i d li

O QUE É O ESPIRITISMO 159

As manifestações espontâneas se verificam inopina-damente e deimproviso; produzem-se, muitas vezes, entreas pessoas mais estranhas às ideias espíritas, as quais,não tendo meios de explicá-las, as atribuem a causas

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p ,sobrenaturais. As que são provocadas, dão-se por inter-médio de certos indivíduos dotados para isso de faculda-des especiais, e designados pelo nome demédiuns.

26. Os Espíritos podem manifestar-se de muitasmaneiras diferentes: pela vista, pela audição, pelo tato,produzindo ruídos e movimentos de corpos, pela escrita,desenho, música, etc.

27. As vezes, os Espíritos se manifestam esponta-neamente por pancadas eruídos; é muitas vezes um meioque empregam para atestar sua presença e chamar sobresi a atenção, tal como nós, quando batemos para avisarque está alguém à porta.

Alguns não se limitam a ruídos moderados, mas pro-duzem bulhas imitando louças que se quebram caindo

160 ALLAN KARDEC

29. A vidênciapermanente e geral de Espíritos émuito rara, porém as aparições isoladas são assaz fre-quentes, sobretudo em ocasiões de morte; o Espírito,quando deixa o corpo, parece ter pressa de ir ver seusparentes e amigos, como para adverti-los de já não estarna Terra, e dizer-lhes que aindavive.

S i t i i ê i

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Se passarmos em revista as nossas reminiscências,veremos quantos fatos autênticos, dessa ordem,sem queos percebêssemos convenientemente, se deram conosco,não só de noite, durante o sono, senão também de dia eem completo estadode vigília. Outrora consideravam taisfatos como sobrenaturais e maravilhosos e os atribuíamà magia e à feitiçaria; hoje, os incrédulos os classificamcomo um produto da imaginação; desde que, porém, aciência espírita nosforneceumeios de explicá-los, ficou-sesabendo como eles se produzem e que pertencem à classedos fenómenos naturais.

30. Era por meio do perispírito que oEspírito agiasobre o seu corpo quando vivo, e é ainda com esse mesmofluido que ele se manifesta agindo sobre a matéria inerte,produzindoruídos, movimentos de mesas e outrosobjetos

que ele levanta, derruba ou transporta. Esse fenómenonada terá de surpreendente, se considerarmos que, entrenós, os mais poderosos motores se alimentam dos fluidosde maior rarefação e, mesmo, da dos imponderáveis, comoo ar, o vapor e aeletricidade.

Ê igualmente por meio do perispírito que o Espíritofaz os médiuns escreverem falarem ou desenharem; não

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gentes, indicando as letras do alfabeto para formar pa-lavras e frases,fenómenoeste designado pelo nome detiptotogia

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tiptotogia.A mesa não é senão um instrumento de que ele

então se serve, como o faz com o lápis para escrever,dando-lhe vitalidade momentânea, pelo fluido com que apenetra, masnão se identificacom ela.

As pessoas que, presas de emoção, vendo manifes-tar-se-lhes um ser querido, abraçam a mesa, praticamum ato ridículo, porqueé absolutamente o mesmo queabraçar a bengala de que se servisse um indivíduo parabater. O mesmo podemos dizer relativamente àquelas quedirigem a palavra à mesa, como se o Espírito se achasseencerrado na madeira, ou se a madeira se tivesse tornadoEspírito.

Por ocasião das comunicações dessa ordem, o Espí-rito não se acha na mesa, mas ao lado do móvel, comoo faria se fosse vivo; e aí o veríamos se nessa ocasião

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em outra parte qualquer, não é o Espírito quem batecom a mão ou com algumobjeto;ele lança, sobre o pontodonde parte o ruído, um jato de fluido que produz o efeito

de um choque elétrico e modifica os sons, como se podemodificar os que são produzidos pelo ar.Assim, facilmente se compreende a possibilidade de

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p po Espírito erguer no ar uma pessoa, como levantar ummóvel qualquer, transportar um objeto de um para outrolugar, ou atirá-lo a qualquer parte.

E uma só a lei que regula tais fenómenos.

32. Pelo pouco que dissemos, pode-se ver que as

manifestações espíritas, de qualquer natureza, nada têmde maravilhoso esobrenatural; são fenómenos que seproduzem em virtude da lei que rege as relações domundo visível com o invisível, lei tão natural quantoas da eletricidade,da gravitação, etc.

O Espiritismo é a ciência que nos faz conhecer essalei, como a mecânica nos ensina as do movimento, aóptica as da luz, etc.

Pertencendo à Natureza, as manifestações espíritas

se deram em todos os tempos; a lei que as dirige, umavez conhecida, vem explicar-nos grande número de pro-blemas, julgados sem solução; ela é a chave de umamultidãode fenómenosexplorados e amplificados pelasuperstição.

33. Afastado o prisma maravilhoso, nada maisf à ã i

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37. Reconhece-se a qualidade dos Espíritos por sualinguagem; a dos Espíritos verdadeiramente bons e su-periores é sempre digna, nobre, lógica e isenta de con-

tradições; nelase respira a sabedoria, a benevolência,amodéstia e a mais pura moral; ela é concisa e despidade redundâncias. Na dos Espíritos inferiores, ignorantesou orgulhosos o vácuo das ideias é quase sempre preen

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ou orgulhosos, o vácuo das ideias é quase sempre preen-chido pela abundância de palavras.

Todo pensamento evidentemente falso, toda máximacontrária à sã moral, todo conselho ridículo, toda expres-são grosseira, trivial ou simplesmente frívola, enfim, todamanifestação de malevolência, de presunção ou arrogân-cia, são sinais incontestáveis da inferioridade dos Es-píritos.

38. Os Espíritos inferiores são, mais ou menos,ignorantes; seu horizonte moral é limitado, perspicáciarestrita; eles nãotêm das coisas senão uma ideia muitasvezes falsa e incompleta, e, além disso, conservam-seainda sob o império dos prejuízos terrestres, que elestomam, às vezes, por verdades; por isso, são incapazesde resolver certas questões. E podem induzir-nos em erro,

voluntária ou involuntariamente, sobre aquilo que nemeles mesmos compreendem.39. Os Espíritos inferiores não são todos, por isso,

essencialmente maus; alguns há que são apenas ignoran-tes e levianos; outros pilhéricos, espirituosos e diverti-dos, sabendo manejar a sátirafina e mordaz. Ao ladod d i i l T

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41. Devemos sempre estar calmos e concentrados,

quando entrarmos em comunicação com os Espíritos;nunca se deve perder de vista que eles são as almas doshomens e que é inconveniente fazer do seu trabalho um

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homens e que é inconveniente fazer do seu trabalho umpassatempo ou pretexto de divertimentos. Se lhes res-peitamos os despojos mortais, maior respeito ainda nosdevem merecer como Espíritos.

As reuniões frívolas, sem objetivo sério, faltam aum dever; os que as compõem esquecem-se de que, deum momento para outro, podem entrar no mundo dosEspíritos, e não ficarão satisfeitos se os tratarem compouca atenção.

42. Outro ponto igualmente essencial a consideraré que osEspirites são livres e só se comunicam quandoquerem, com quem lhes convém e quando as suas ocupa-ções lho permitem; não estão às ordens e à mercê doscaprichos de quem quer que seja; a ninguém é dadofazê losmanifestar se quando não o queiram nem dizer

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dês,a questões ociosas em que se lhes manifeste poucaafeição, falta de respeito e nenhum desejo de se instruir;e ainda menos que eles venham dar-se emespetáculopara desfastio dos curiosos. Vivos, eles não o fariam;mortos, também o não fazem.

44. A frivolidade das reuniões dá como resultado

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44. A frivolidade das reuniões dá como resultadoatrair os Espíritos levianos que só procuram ocasião deenganar e mistificar.

Pelo mesmo motivo que os homens graves e sériosnão comparecem às assembleias de medíocre importân-cia, os Espíritos sérios só comparecem às reuniões sérias,que têm por fim, não a curiosidade, porém, a instrução.Ê nessas assembleias que os Espíritos superiores dãoensinamentos.

45. Do que precede, resulta que toda reunião espí-rita, para ser proveitosa, deve, como condição primacial,ser séria, em recolhimento, devendo aí proceder-se comrespeito, religiosidade e dignamente, se se quer obter oconcurso habitual dos bons Espíritos.

Convém não esquecer que se esses mesmos Espíritosaí se tivessem apresentado, quando encarnados, ter-se-iacom eles todas as considerações, a que depois de desen-carnados ainda têm mais direito.

46. Em vão se alega a utilidade de certas experiên-cias curiosas frívolas e divertidas para convencer os

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Mas, pelo fato mesmo de ele ter respeito, veneraçãoe amor à pessoa cuja alma se lhe apresenta, fica cho-cado e escandalizado ao vê-la mostrar-se em uma assem-bleia irreverente, no meio de mesas que dançam e das

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q çgatimanhasdos Espíritos brincalhões; incrédulo como é,sua consciência repele essa aliança do sério com o ri-dículo, do religioso com o profano; por isso tacha tudode charlatanismo e, muitas vezes, sai menos convicto do

que entrou.As reuniões dessa natureza fazem sempre mais malque bem, porque afastam da doutrina maior número depessoas do queatraem;além de que, prestam-se à críticados detratores, que assim acham fundados motivos parazombarias.

47. Erra quem considera brinquedo as manifesta-ções físicas; se não têm a importância do ensino filosó-fico, têm sua utilidade do ponto de vista dos fenómenos,pois que são o alfabeto da ciência, da qual deram a chave.Ainda que menos necessárias hoje elas ainda concorrem

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acha com esse grosseiro invólucro, do qual se separou nomomento da morte, e, uma vez operada essa separação,nada mais há de comum entre eles.

49. A crítica malévola representou as comunica-ções espiritas como mescladas pelas práticas ridículas esupersticiosas da magia e danigromancia; se esses ho-mens que falam do Espiritismo sem conhecê lo se dessem

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mens que falam do Espiritismo, sem conhecê-lo, se dessemao trabalho de estudá-lo,teriam poupado esses desper-dícios de imaginação, que só servem para provar suaignorância ou má-vontade.

As pessoas estranhas à ciência cumpre-nos dizer que,para nos comunicarmos com os Espíritos, não há dias,horas e lugares mais propícios uns que os outros; que,para evocá-los, não existem fórmulas nem palavras sacra-mentais ou cabalísticas; que não se precisa para isso depreparação alguma, nem de iniciação; que o empregode qualquer sinal ou objeto material, seja para atraí-los,seja para repeli-los, não exerce efeito algum, bastandosó o pensamento; e, finalmente, que os médiuns recebemas comunicações, tãosimples e naturalmente como sefossem ditadas por uma pessoaviva, sem que saiam doestado normal.

Só o chsrlatanismo pode inventar o emprego demodos excêntricos e acessórios ridículos.

O apelo aos Espíritos faz-se em nome de Deus, comrespeito e recolhimento; é a única coisa que se reco-menda às pessoas sérias que desejem entrar em relação

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Os bons Espíritos nos vêm instruir para nosso me-

lhoramento e avanço e não para revelar-nos o que nãodevemos saber ainda, ou o que só deve ser conseguidopelo nosso trabalho.

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pe o osso t aba o.Se bastasse interrogar osEspíritos para obter a so-

lução de todas as dificuldades científicas, ou para fazerdescobertas e invenções lucrativas, todo ignorante podiatornar-se sábio sem estudar, todo preguiçoso ficar ricosem trabalhar; é o que Deus não quer.Os Espíritos ajudam o homem de génio pela inspi-ração oculta, mas não o eximem do trabalho nem dasinvestigações, a fim de lhe deixar o mérito.

51. Faria ideia bem falsa dos Espíritos, quem nelesquisesse ver auxiliares dos leitores dabuema-dicha.Os Espíritos sérios se recusam a ocupar de coisasfúteis;os frívolos e zombeteiros tratam de tudo, respon-dem a tudo, predizemtudoo que se quer, sem se impor-tarem com a verdade, e encontram maligno prazer em

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consequências moraisqilas dimanam; não tivessem,elas, porém, como resu senão fazer conhecer umanova lei da Natureza, dstrar materialmente a exis-tência da alma e suairridade,e já isso seria muito,porque era largocaminJvoaberto à Filosofia.

DO3DIUNS

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54. Os médiuns antam numerosíssimas varie-dades nas suasaptidõejueos torna mais ou menospróprios paraobtenção;al ou tal fenómeno, de talou tal género de comuão.

Segundo essasapti distinguimo-los por médiunsde efeitosfísicos, de ocoaçõesinteligentes, videntes,falantes, auditivos, sens, desenhadores,-poliglotas, poetas, músicos,escrev,etc.

Não devemos esper médium aquilo que está forados limites da sua face.

Sem o conhecimeias aptidões mediúnicas, oobservadornão pode a a explicação de certas difi-culdades ou de certas isibilidades que se encontramna prática. (OLivro dddxwis,cap. XVI,n.° 185.)

55. Os médiuns eitos físicos são mais parti-cularmente aptosparavocarfenómenos materiais,como movimentos,pan<etc.,com o auxílio de mesase outrosobjetos; quaísses fenómenosrevelam umpensamento ou obedea uma vontade são efeitos

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vezes, durante muitos meses. Seria, pois, um erro com-parar a mediunidadea uma propriedade do talento. O ta-lento adquire-se pelo trabalho, quem o possui é sempredele senhor; ao passo que o médium nuncao é de suafaculdade, pois que ela depende de vontade estranha.

60. Os médiuns de efeitos físicos que obtêm, regu-l t à t d d ã d t f ó

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larmente e à vontade, a produção de certos fenómenos,admitindo que n ã ç >haja embuste, estãoem relação comEspíritos de baixa esfera que se comprazem nessa espé-cie de exibições, e que talvez foram prestidigitadoresquando na Terra; seria, porém, absurdo pensar que Espí-ritos, mesmo de pouca elevação, se divirtam em executarfarsas teatrais.

61. A obscuridadenecessária à produção de certosefeitos físicos, presta-se, sem, dúvida, à suspeita, masnada prova contra a realidade deles.

Sabemos que em Química algumas combinações nãopodem ser operadas à luz; que muitas composições edecomposições se produzem sob a ação do fluido lumi-noso; ora, todos os fenómenos espíritas são resultantesde umacombinação dos fluidos próprios do Espírito comos do médium; desde que esses fluidos são matéria, nãoadmira que, em certas circunstâncias, essa combinaçãoseja contrariada pela presença da luz.

62 A i õ i li li i l

O QUE É O ESPIRITISMO 173

63. fi um erro acreditar-se que basta ser médiumpara receber, com igual facilidade, comunicações de qual-quer Espírito.Não existem médiuns universais para as evocações,nem com aptidão para produzir todos os fenómenos

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nem com aptidão para produzir todos os fenómenos.Os Espíritos buscam, de preferência, os instrumen-

tos que lhes sejam mais apropriados;impor-lhes o pri-meiro médium que tenhamos à mão, seria o mesmo que

obrigar uma pianista a tocar violino, supondo que, porsaber música, pode ela tocar qualquer instrumento.

64. Sem a harmonia, que só pode nascer da assi-milação fluídica, as comunicações são impossíveis, incom-pletas ou falsas. Podem ser falsas, porque, em vez doEspírito que se deseja, não faltam outros sempre prontosa manifestarem-se e que pouco se importam com averdade.

65. A assimilação fluídica é, algumas vezes, total-mente impossível entre certos Espíritos e certos médiuns;

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provocar e ativar a assimilaçãofluídica.É um meio dese atenuar a dificuldade.

68. Quando as condiçõesfluídicasnão são propí-cias à comunicaçãodireta do Espírito ao médium, elapode fazer-se por intermédio do guia espiritual deste

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pode fazer-se por intermédio do guia espiritual desteúltimo; neste caso, o pensamento não vem senão emsegunda mão, isto é, depois de haver atravessado doismeios. Compreende-se, então, quanto é importante ser omédium bemassistido; porque, seele o for por um Espí-rito obsessor, -ignorante ou orgulhoso, a comunicaçãoserá necessariamente adulterada.

Aqui as qualidades pessoais do médium desempe-nham forçosamente um papel importante, pela naturezados Espíritos que ele atrai a si. Os mais indignos médiunspodem possuir poderosas faculdades, porém, os mais se-guros são os que a esse poder reúnem as melhores sim-

patias no mundo espiritual; ora, essas simpatias nãoficam, de forma,algwma,demonstradas pelos nomes, maisou menos imponentes, revestidos pelos Espíritos queassinam as comunicações, mas, sim, pelo fundoconstam-temente bom das mesmas.

O QUE É O ESPIRITISMO 175

ESCOLHOS DAMEDIUNIDADE

70. "Um dos maiores escolhos damediunidade é aobsessão, isto é, o domínio que certos Espíritos podemexercer sobre os médiuns, impondo-se-lhes sob nomes

ó if i di d i t

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apócrifos e impedindo que se comuniquem com outrosEspíritos. Ê também um obstáculo que se depara a todoobservador novato e inexperiente que, não conhecendo oscaracteres desse fenómeno, pode ser iludido pelas apa-rências, como aquele que, desconhecendo a medicina, podeenganar-se sobre acausa e natureza de qualquer mal.Se o estudo prévio, neste caso, é útil para o obser-vador, mais indispensável é ao médium, a quem forneceos meios de prevenir um inconveniente que lhe poderiatrazer bem desagradáveis consequências. Assim, é poucatoda a recomendação para que o estudo preceda à prática.(O Làwro'dosMédiwns,cap. XXIII.)

71. A obsessão apresenta três graus principaisbemcaracterísticos: a obsessão simples, < afascinação e a sub- jugação. No primeiro, o médium tem perfeitamente cons-ciência de não obter coisa alguma boa; ele não se iludeacerca da natureza do Espírito que se obstina em se lhe

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os outros médiuns cujas comunicações sejam julgadasmelhores que as suas; a querer impor-se nas reuniõesespíritas, das quais se afasta quando não pode domi-ná-las. Essa atuação do Espírito pode chegar ao pontode ser o indivíduoconduzido a dar os passos mais ridí-culos e comprometedores.

72. Um dos caracteres distintivos dos maus Espí-i é i i ã l dã d b d

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pritos é a imposição;eles dão ordens e querem ser obede-cidos; os bons nunca seimpõem;dão conselhos, e, se nãosão atendidos, retiram-se. Resulta daí que a impressãoque em nós produzem os maus Espíritos é sempre penosa,fatigante e muitas vezesdesagradável; ela provoca umaagitação febril, movimentos bruscos edesordenados;ados bons, pelocontrário, é calma, branda e agradável.

73. A subjugação óbsessiomal,designada outrorasob o nome depossessão, é um constrangimento físicoexercido sempre por Espíritos da pior espécie e que podeir à neutralização dolivre-arbítrio do paciente. Ela selimita, muitas vezes, a simples impressões desagradá-veis; porém, muitas vezes provoca movimentos desorde-nados, atos insensatos, gritos, palavras injuriosas ou in-coerentes, de queo subjugado, às vezes, compreende oridículo, mas não pode abster-se. Este estado difere essen-cialmente daloucura patológica com que erradamente aconfundem, pois na possessão não hálesão orgânicaalguma; sendo diversa a causa outros devem ser também

O QUE É O ESPIRITISMO 177

moral superior à dele. A experiência prova que nunca,em tal caso, osexorcismes produziram resultado satisfa-tório: antes agravaram que minoraram asituação.

Indicando a verdadeira fonte do mal, só o Espiritis-d d i d b tê l f d d ã

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mo pode dar os meios de combatê-lo, fazendo a educaçãomoral do Espírito obsessor; por conselhos prudentementedirigidos, chega-se a torná-lo melhor e afazê-lorenun-ciar voluntariamente à atormentação do enfermo, queentão fica livre. (OLwro dos Medi/uns,n." 279. —RevueSpvrite,fevereiro, março e junho de 1864. —La jeuneobséãée de Marmcunde.)

75. A subjugação obsessional é ordinariamente in-dividual; quando, porém, uma falange de Espíritos mausse lança sobre uma povoação, ela pode apresentar caráterepidêmico. Foi um fenómeno desse género que se veri-ficou ao tempo do Cristo; só um poder moral superiorpodia então domar esses entes malfazejos, designados sobo nome de demónios, e restituir a calma às suas vítimas.

178 ALLAN KARDEC

Ciência tiver saído da senda materialista, reconhecerá naação do mundo invisível que nos cerca, e no meio do qualvivemos, um poder que reage sobre as coisas físicas,assim como sobre as morais; será um novo caminhoaberto ao progresso e a chave de grande número de fenó-menos até hoje mal compreendidos.

78. Como a obsessão nunca pode ser produto de umbom Espírito um ponto essencial o saber reco

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bom Espírito,torna-se um ponto essencial o saber reco-nhecer-se a natureza dos que se apresentam.

O médium não esclarecido pode ser enganado pelasaparências, mas o prevenido percebe o menor sinal sus-peito, e o Espírito, vendo que nada pode fazer, retira-se.

O conhecimento prévio dos meios de distinguir osbons dos maus Espíritos é, pois, indispensávelao médiumque se não quer expor a cair num laço. Ele o é tambémao simples observador, que pode, por esse meio, apreciaro justo valor do que vê e ouve.(O Livro dos Médiuns,cap. XXIV.)

QUALIDADES DOS MÉDIUNS

79. A faculdademediúnicaé uma propriedade doorganismo e não depende das qualidades morais do mé-dium; ela se nosmostra, desenvolvida, tanto nos maisdignos, como nos maisindignos. Não se dá, porém, omesmo com a preferência que os Espíritos bons dão aomédium.

O QUE Ê O ESPIRITISMO 179

podem vir senão de bons Espíritos, o que não deve sermotivo de espanto: é muitas vezes no interesse dosmédiuns e com o fim de dar-lhes sábios conselhos. Seeles os desprezam, maior será a sua culpa, porque sãoeles que lavram a sua própria condenação Deus cuja

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eles que lavram a sua própria condenação. Deus, cujabondade é infinita, não pode recusar assistência àquelesque mais necessitam dela. O virtuoso missionário quevai moralizar os criminosos, nãofaz mais que os bonsEspíritos com os médiuns imperfeitos.De outra sorte, os bons Espíritos, querendo dar umensino útil a todos, servem-se do instrumento que têmà mão; porém, deixam-no logo que encontram outro quelhes seja mais afim e melhor se aproveite de suas lições.

Retirando-se os bons Espíritos, os inferiores, quepouco se importam com as más qualidades morais domédium, acham então o campo livre. Resulta daí que osmédiuns imperfeitos, moralmente falando, os que nãoprocuram emendar-se,tarde ou cedo são presas dos mausEspíritos, que, muitas vezes, os conduzem à ruína e às

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prova aos bons Espíritos de que não são instrumentoscom que eles possam contar.

83. Não nos deve admirar ver maus Espíritos obsi-

diarem pessoas de mérito, quando vemos na Terra ho-mens de bem perseguidos por aqueles que o não são.É digno de nota que, depois da publicação deO Livro

dos Médiuns,o número de médiuns obsidiados diminuiuéd d l

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muito; os médiuns, prevenidos, tornam-se vigilantes eespreitam os menores indícios que lhes podem denunciara presença demistificadores.

A maioria dos que se mostram ainda nesse estadonão fizeram o estudo prévio recomendado, ou não deramimportância aos conselhos que receberam.

84. O que constitui o médium, propriamente dito,é a faculdade;sob este ponto de vista, pode ser mais oumenos formado, mais ou menos desenvolvido.

O médiumseguro, aquele que pode ser realmentequalificado debom médium,é o que aplica a sua faculda-de, buscando tornar-se apto a servir de intérprete aosbons Espíritos.

O poder que tem o médium de atrair os bons e re-pelir os maus Espíritos, está na razão da sua superiori-dade moral, da posse do maior número de qualidades queconstituem o homem de bem; é por esses dotes que seconcilia a simpatia dos bons e se adquire ascendênciasobre os maus Espíritos

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entre os nossos defeitos, o que lhes dá margem maioré o orgulho, sentimento que se encontra mais dominantena maioria dos médiuns obsidiados e, principalmente, nos fascinados. É o orgulho que faz sejulguem infalíveis erepilam todos os conselhos.

E i é i f li i d l l i

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Esse sentimento é infelizmente excitado pelos elogiosde que são objeto; basta que um médium apresente fa-culdade um pouco transcendente, para que o busquem, oadulem, dando lugar a que ele exagere sua importânciae se julgue como indispensável, o que vem a perdê-lo.

87. Enquanto o médium imperfeito se orgulha pelosnomes ilustres, frequentemente apócrifos, que assinam ascomunicações por ele recebidas e se considera intérpreteprivilegiado das potências celestes, obom médium nuncase crê assaz dignode tal favor; ele tem sempre umasalutar desconfiança do merecimento do que recebe e nãose fia no seu própriojuízo;não sendo senão instrumentopassivo, compreende que o bom resultado não lhe conferemérito pessoal, como nenhuma responsabilidade lhe cabepelo mau; e que seria ridículo crer na identidade abso

182 ALLAN KARDEC

queles que viveram, a fim de recebermos ensinamentos einiciações da vida futura.

Assim como a vista nos põe em relação.como mundovisível, a mediunidade nos liga ao invisível.

Aquele que dela se utiliza para o seu adiantamentoe o de seus irmãos, desempenha uma verdadeira missãoe será recompensado.O que abusa e a emprega em coisasfúteis ou para satisfazer interesses materiais, desvia-a

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p ,do seu fim providencial, e, tarde ou cedo, será punido,como todo homem que faça mau uso de uma faculdadequalquer.

CHARLATANISMO89. Certas manifestações espíritas facilmente se

prestam à imitação; porém, apesar de as teremexplo-rado os prestidigitadores e charlatães, do mesmo modoque o fazem com tantos outros fenómenos, é absurdocrer-se que elas não existam e sejam sempre produto docharlatanismo.

Quem estudou e conhece as condições normais emque elas se dão, distingue facilmente a imitação da rea-lidade;além disso, aquela nunca pode ser completa e sóilude o ignorante, incapaz de distinguir as diferenciaçõescaracterísticas dofenómenoverdadeiro.

O QUE & O ESPIRITISMO 183

91. Os que não conhecem o Espiritismo,são geral-mente induzidos a suspeitar da boa-fé dos médiuns; sóo estudo e a experiência lhes poderão fornecer os meiosde se certificarem da realidade dos fatos; fora disso, amelhor garantia que podem ter está no desinteresse abso-

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g q pluto e na probidade domédium;há pessoas que, por suaposição e caráter, estão acima de qualquer suspeita.

Se a tentação do lucro pode excitar à fraude, obpm-

-senso diz que ocharlatanismonão se mostra onde nadatem a ganhar.(OLivro dosMédiuns,cap. XXVIII;Char-latanisimoe embuste, médiunsvnteressevros,fraudesespí-ritas, n." 300. —RevueSpirite,1862, pág. 52.)

92. Entre os adeptos do Espiritismo, encontram-seentusiastas e exaltados, como em todas as coisas; são,em geral, os piores propagadores, porque a facilidade comque, sem exame, aceitam tudo, desperta desconfiança.

O espíritaesclarecidorepele esse entusiasmocego,observa com frieza e calma, e, assim, evita ser vítima deilusões e mistificações À parte toda a questão de boa-

184 ALLAN KARDEC

Entre os que se manifestam, muitos não têm nomespara nós; mas, então, para fixar as nossas ideias, elespodem tomar o de um Espírito conhecido, da mesmacategoria da sua; de modo que, se um Espírito se comu-nicar com o nome de S. Pedro, por exemplo, nada nosprova que seja precisamente o apóstolo dessenome;tantopode serele como outro da mesma ordem, como aindaum enviado seu. A questão da identidade é, neste caso,inteiramente secundária e seria pueril atribuir-lhe im-

â é d é

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pportância; o que importa é a natureza do ensino, se ébom ou mau, digno ou indigno da personagem que oassina; se esta o subscreveria ourepeliria: eis a questão.

95. A identidade é de mais fácil verificação quandose trata de Espíritos contemporâneos, cujo caráter ehábitos sejam conhecidos, porque é por esses mesmoshábitos e particularidades da vida privada que a identi-dade se revela mais seguramente e, muitas vezes, demodo incontestável.

Quando se evoca um parente ou um amigo, é a per-sonalidade que interessa, e então é muito natural bus-car-se reconhecer a identidade; os meios, porém, quegeralmente emprega para isso quem não conhece o Espi-ritismo, senão imperfeitamente, são insuficientes e podeminduzir a erro.

96. O Espírito revela sua identidade por grandenúmero de circunstâncias patenteadas nas comunicações

O QUE Ê O ESPIRITISMO 185

está em querer que ele as dê, como deseja o evocador;é então que ele recusa sujeitar-se às exigências.(O Livro

dos Méditutns,cap. XXIV;Identidadedos Espíritos. —Revue Spirite,1862, pág. 82:Fait d'id0ntí,té.)

CONTRADIÇÕES

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CONTRADIÇÕES

97. As contradições que frequentemente se notam,na linguagem dos Espíritos, não podem causar admira-ção senão àqueles que só possuem da ciência espírita umconhecimento incompleto, pois são a consequência danatureza mesma dos Espíritos, que, como já dissemos,não sabem as coisas senão na razão do seu adiantamento,sendo que muitos podem saber menos que certos homens.

Sobre grande número de pontos, eles não emitemmais que a sua opinião pessoal, que pode ser mais oumenos acertada, e conservar ainda um reflexo dos pre- juízos terrestres de que se nãodespojaram;outros forjamsistemas seus, sobre aquilo que ainda não conhecem, par-ticularmente no que diz respeito a questões científicas

186 ALLAN KARDEC

e da lógica; é uma recomendação que fazem todos osbons Espíritos;abstêm-sede fazê-laos maus, pois sabemnão ter senão a perder com esse exame sério, pelo queevitam discussão e querem ser cridos sob palavra. O se-gundo critério da verdade está na concordância do ensino.Quando o mesmo princípio é ensinado em muitos pontospor diferentes Espíritos e médiuns estranhos uns aosoutros e isentos de idênticas influências, pode-se concluirque ele está mais próximo da verdade do que aquele que

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que ele está mais próximo da verdade do que aquele queemana de uma só fonte e é contradito pela maioria.(O Livro dos Médwms,cap. XXVII;Contradiçõese mis-tificações.— RevueSpirite,abril 1864, pág.99: Autoritéde Ia doctrinespirite.— OEvangelho segundoo Espiri-

tismo — "Introdução".)CONSEQÍJÊNCIASDO ESPIRITISMO

100. Ante a incerteza das revelações feitas pelosEspíritos, perguntarão: para que serve,então,o estudodo Espiritismo?

Para provar materialmente a existência do mundoespiritual. Sendo o mundo espiritual formado pelas almasdaqueles que viveram, resulta de sua admissão a provada existência da alma e sua sobrevivência ao corpo.

As almas que se manifestam, nos revelam suas ale-grias ou seus sofrimentos, segundo o modo por que em-pregaram o tempo de vida terrena; nisto temos a provadas penas e recompensas futuras

O QUE E O ESPIRITISMO 187

nestes cinco anos que lhe restam? trabalhará para ofuturo? certamente que não; procurarágozar o maispossível, acreditando ser uma tolice submeter-se a fadi-gas e privações, sem proveito. Se, porém, ele tiver acerteza de viver até aos oitenta anos, seu procedimento

á t tã d á id d d

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será outro, porque então compreenderá a necessidade desacrificar alguns instantes do repousoatual para asse-gurar o repouso futuro, durante longos anos. O mesmo

se dá com aquele que tem a certezada'vida futura.A dúvida relativamente a essepontoconduz natu-ralmentea tudo sacrificar aos gozos do presente, daí ligar-se excessiva importância aos bens materiais.

A importância que se dá aos bens materiais excitaa cobiça, a inveja e o ciúme do que tem pouco contra

aquele que tem muito.Da cobiça ao desejo de adquirir, por qualquer preço,o que o vizinho possui, o passo é simples; daí ódios, que-relas, processos, guerras e todos os males engendradospelo egoísmo

188 ALLAN KARDEC

é um véu que se levanta descobrindo imenso e esplêndidohorizonte.

Diante da infinidade e grandeza da vida deAlém--Túmulo, a vida terrena some-se, como um segundo nacontagem dos séculos, como o grão de areia ao lado deuma montanha. Tudo se torna pequeno, mesquinho, eficamos pasmos de haver dado importância a coisas tãoefémeras e pueris. Daí, no meio dos acontecimentos davida, uma calma, uma tranquilidade que já constituem

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, , q q juma felicidade, comparadas às desordens e tormentos aque nos sujeitamos, com o fito de nos elevarmos acimados outros; daí, também, para as vicissitudes e decepções,uma indiferença que, tirando todo motivo de desespero,afasta numerosos casos de loucura e desvia forçosamenteo pensamento do suicídio.

Com a certeza do futuro, o homem espera e se re-signa; com a dúvida perde a paciência, porque nadaespera do presente.

O exame daqueles que já viveram, provando que asoma da felicidade futura está na razão do progressomoral efetuado e do bem que se praticou na Terra; que

a soma de desditas está na razão dos vícios e más ações,imprime em quantos estão bem convencidos dessa ver-dade umatendência,assaz natural, para fazer o bem eevitar o mal.

Quando amaioriados homens estiver convencidadessa ideia quando ela professar esses princípios e pra-

O QUE É OESPIRITISMO 189

agora incompreendidos, tanto na ordem física quanto namoral.

Quando a Ciência levar em conta essa nova forçaaté hoje desconhecida, retificará imenso número de errosprovenientes de atribuir tudo a uma única causa:a ma-téria O conhecimento dessa nova causa nosf ó

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téria. O conhecimento dessa nova causa, nosfenómenosda Natureza, será uma alavanca para o progresso, pro-duzirá o efeito da descoberta de um agente inteiramentenovo.

Com o auxílio da lei espírita, o horizonte da Ciênciase alargará, como se alargou com o da lei da gravitação.Quando do alto de suas cátedras os sábios procla-

marem a existência do mundo espiritual e sua partici-pação nos fenómenos da vida, eles infiltrarão na moci-dade o contraveneno das ideias materialistas, em vez de

predispô-la à negação do futuro.Nas lições de filosofia clássica, os professores ensi-nam a existência da alma e seus atributos, segundo asdiversas escolas, mas sem apresentar provas materiais.

Não parece estranho que quando se lhes fornecem

190 AIJLAN KARDEC

outra na ordem das coisas. É esta revolução que o Espi-ritismo prepara.

102. Os Espíritos, porém, fazem mais que isso; seas suas revelações são rodeadas de certas dificuldades,se elas exigem minuciosas precauções para se lhes com-provar a exatidão, não é menos real que os Espíritosesclarecidos — quando sabemos interrogá-los e quandolhes é permitido — • podem revelar-nos fatos ignorados,d l ã d ã d

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p p gdar-nos a explicação do que não compreendemos e enca-minhar-nos para um progresso mais rápido. É nisto,sobretudo, que o estudo sério e completo da ciência espí-rita é indispensável, a fim de só se lhe pedir o que elapode dar e do modo por que o pode fazer; ultrapassandoesses limites é que nos expomos a ser enganados.

103. As menores causas podem produzir grandesefeitos; assim como de umgrãozinho pode brotar umaárvore imensa, a queda de um fruto fez descobrir a leique rege os mundos; as rãs, saltando num prato, reve-laram a potênciagalvânica; também do fenómeno vulgardas mesas girantes saiu a prova da existência do mundoinvisível, e, desta, uma doutrina que, em alguns anos,fez a volta do mundo e pode regenerá-lo pela verificaçãoda realidade da vida futura.

104. O Espiritismo ensina poucas verdades absolu-tamente novas ou mesmo nenhuma em virtude do axio

O QUE É O ESPIRITISMO 191

fatos materiais e o apresenta em sua verdadeira luz,desembaraçando-o dos preconceitos e ideias supersticio-sas, filhos da dúvida e da incredulidade.

OBSERVAÇÃO — Estas explicações, incompletas comosão bastam para mostrar a base em que se assenta o Espi

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são,bastam para mostrar a base em que se assenta o Espi-ritismo, o caráter das manifestações e o grau de confiançaque podem inspirar, segundo as circunstâncias.

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CAPITULO m

Solução dealguns problemas pelaDoutrina Espírita

PLURALIDADE DOS MUNDOS

105. Os diferentes mwmdosque circulam no espaço,terão habitantes como a Terra?Todos os Espíritos o afirmam e a razão diz que assim

deve ser. A Terra não ocupa no Universo nenhuma po-sição especial, nem por suacolocação,nem pelo seu vo-l d j ifi i i ilé i l i d

194 AIXAN KARDEC

a organização deve ser diferente; não é, pois, provávelque, em seu estadonormal, eles possam mudar de mundocom os mesmos corpos. Isto é confirmado por todos osEspíritos.

107. AdmAtimidoque esses mwnãassejam povoados,estarão na mesma colocação que onosso, sob o ponto devista intelectual e "moral?

Segundo o ensino dos Espíritos, os mundos se achamem graus de adiantamento muitodiferentes; alguns estão

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em graus de adiantamento muitodiferentes; alguns estãono mesmo ponto que o nosso; outros são mais atrasados,sendo sua humanidade mais bruta, mais material e maispropensa ao mal. Pelo contrário, outros são muito maisadiantados moral, intelectual e fisicamente; neles, o malmoral é desconhecido, as artes e as ciências já atingiramum grau de perfeição que foge à nossa apreciação; aorganização física, menos material, não está sujeita aossofrimentos, moléstias e enfermidades; aí os homensvivem em paz, sem buscar o prejuízo uns dos outros,isentos dos desgostos, cuidados, aflições e necessidadesque os apoquentam na Terra. Há, finalmente, outrosainda mais adiantados, onde o invólucro corporal, quasefluídico, se aproxima cada vez mais da natureza dos anjos.Na série progressiva dos mundos, o nosso nem ocupao primeiro nem o último lugar, mas é um dos mais mate-rializados e atrasados. (Reme Spirrite,1858, págs. 67,108 e 223. —Idem, 1860, págs. 318 e 320. —O Evamge-Iho segundoo Espiritismo cap. HE.)

O QUE fi O ESPIRITISMO 195

confundidos durante a vida e separados depois da morte.Nessa ocasião um deles édestruído, ao passo que o outro

subsiste.Durante a vida a alma age mais especialmente sobreos órgãos do pensamento e do sentimento. Ela é, aomesmo tempo, interna e externa, isto é, irradia exterior-

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mesmo tempo, interna e externa, isto é, irradia exteriormente, podendo mesmo isolar-se do corpo, transportar-seao longe e aí manifestar sua presença, como o provama observação e os fenómenossonambúlicos.

109. Será a alma, criada ao -mesmotempo c fueocorpo, ou anteriormente a este f

Depois da questão da existência da alma, é esta umadas questões mais capitais, porque de sua solução dima-nam as mais importantesconsequências; ela é a únicacapaz de explicar uma multidão de problemas até hojeinsolúveis, por não se ter nela acreditado.

De duas uma: ou a alma existia, ou nãoexistia antesda formação docorpo; não pode havermeio-termo.

C i tê i d l t d li ló i

196 ALLAN KARDEC

O progresso anterior da alma é simultaneamentedemonstrado pela observação dos fatos e pelo ensinodos Espíritos.

112. Criou Deus as almas iguaismoral e intelec-tualmente, ou fê-las mais'perfeitase inteligentes umasque as outras?

Se Deus as houvesse feito umas mais perfeitas queas outras, não conciliaria essa preferência com a justiça.

S d t d i t b di

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Sendotodas as criaturas obra sua, por que dispen-saria ele do trabalho umas, quando o impõe a outraspara alcançarem a felicidade eterna?

A desigualdade das almas em sua origem seria anegação da justiça de Deus.

113. Se as almas são criadasiguais, comoeocpUcara diversidade de aptidões e predisposições naturais quenotamos entre os homens, na Terra?

Essa diversidade é a consequência do progresso feitopela alma, antes da sua união ao corpo.

As almas mais adiantadas, em inteligência e mora-

lidade, são as que têm vivido mais e mais progredidoantes de sua encarnação.114. Qual o estado da alma ems\ua origem?As almas são criadas simples e ignorantes, isto é,

sem ciência e sem conhecimento do bem e do mal, mas

O QUE É O ESPIRITISMO 197

fazer-se em uma série de existências corporais, mais oumenos numerosas, segundo o grau a que ele chegou; a

prova disto está naobservação dos fatos que diaria-mente estão sob os nossos olhos.(O Livro dos Espíritos,n.°s166 a 222. —Revue Spirite,abril, 1862, páginas97 a 106.)

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O HOMEM DURANTE A VIDA TERRENA

116. Como e em que momento se opera a wniãodaalma ao corpo?

Desde a concepção, o Espírito, ainda que errante,está, por um cordão fluídico, preso ao corpo com o qualse deve unir. Este laço se estreita cada vez mais, à me-dida que o corpo se vai desenvolvendo. Desde esse mo-mento, o Espírito sente uma perturbação que crescesempre; ao aproximar-se do nascimento, ocasião em queela se torna completa, o Espírito perde a consciência desi e não recobra as ideias senão gradualmente, a partirdo momento em que a criança começa a respirar; a união

198 ALLAN KARDEC

ou um progresso por elas adquirido anteriormente àencarnação.

Sendo a primeira hipótese incompatível com a jus-tiça de Deus, só fica de pé a segunda.

As ideias inatas são o resultado dos conhecimentosadquiridos nas existências anteriores, são ideias que seconservaram no estado de intuição, para servirem de baseà aquisição de outras novas.

119 Como se podem revelar génios mas classes da

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119. Como se podem revelar génios mas classes dasociedade inteiramente privadas de cultura intelectual?

É um fato que prova serem as ideias inatas inde-pendentes do meio em que o homem foi educado. O am-biente e a educação desenvolvem as ideias inatas, masnão no-las podem dar. O homem de génio é a encarnaçãode um Espírito adiantado que muito houvera já progre-dido. A educação pode fornecer a instrução que falta,mas não o génio, quando este não exista.

120. Por que encontramos criançasinstintivamenteboas em um meio perverso, apesar dos maus eocemplos•quecolhem, ao passo que outras são instintivamente vi-ciosas em um meio bom, apesar dos bons conselhosquerecebem?

É o resultado do progresso moral adquirido, comoas ideias inatas são o resultado do progresso intelectual.

121 P d d i filh d i d d

O QUE Ê O ESPIRITISMO 199

corpo procede do corpo, mas as almas são independentesumas das outras.

122. Se as almas são independentesumas das mitras,aonde v& mo amor dos pais pelos filhose o destes por aqueles?

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aqueles?Os Espíritos se ligam por simpatia, e o nascimento

em. tal ou tal família não é um efeito do acaso, mas de-

pende muitas vezes da escolha feitapelo Espírito, quevem juntar-se àqueles a quem amou no mundo espiritualou em suas precedentes existências. Por outro lado, ospais têm por missão ajudar o progresso dos Espíritosque encarnam como seus filhos, e, para excitá-los a isso,Deus lhes inspira uma afeição mútua; muitos, porém,faltam a essa missão, sendo por isso punidos. (OLwrodos Espíritos, n." 379, Da Infância.)

123. Por que há maus pais e maiusfilhos?São Espíritos que não seligaram na mesma família

por simpatia mas com o fim de servirem de instrumen

200 ALLAN KARDEC

encontrando-se nesta, são atraídos um para o outro. Asantipatias instintivas provêm também, muitasvezes, derelações anteriores.

Esses dois sentimentos podem ainda ter uma outracausa. O perispírito irradia ao redor do corpo, formandouma espécie de atmosfera impregnada das qualidadesboas ou más do Espírito encarnado. Duas pessoas quese encontram, experimentam, pelo contacto desses fluidos,a impressão sensitiva, impressão que pode ser agradávelou d dá l os fluidos tendem a confundir se ou a

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ou desagradável; os fluidos tendem a confundir-se ou arepelir-se, segundo sua natureza semelhante ou desse-melhante. É assim que se pode explicar o fenómeno datransmissão de pensamento. Pelo contacto desses fluidos,duas almas, de algum modo, lêem uma na outra; elas seadivinham e compreendem, sem se falarem.

126. Por que não conserva o 'homema lembrançade suas anteriores emstências? Não será ela necessáriaao seu progresso futuro?

(Vede a parte que trata doEsquecimento do " p a s -sado, pág. 114.)

127. Qual a origem do sentimento a que chamamosconsciência?

Ê uma recordação intuitiva do progresso feito nasprecedentes existências e das resoluções tomadas peloE í i d l õ l i

O QUE É O ESPIRITISMO 201

admissão desse livre-arbítrio; quem, por uma enfermi-dade, loucura, embriaguez ou idiotismo, perde acidental-

mente essa faculdade, é lastimado ou desprezado.O materialista que faz todas as faculdades moraise intelectuais dependerem do organismo, reduz o homemao estado de máquina, sem, livre-arbítrio e, por conse-

ê i bilid d d l é it d

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quência, sem responsabilidade do mal e sem mérito dobem que pratica. (Revue Spírite, 1861, pág. 76; La têtede Gnríbaldi— Idem, 1862, pág. 97:Phrénologie spirri-tualiste. )

129. Será Deus o criador do mal?Deus não criou o mal; Ele estabeleceu leis, e estas

são sempre boas, porque Ele é soberanamentebom;aque-le que as observasse fielmente, seria perfeitamente feliz;porém, os Espíritos, tendo seu livre-arbítrio, nem sempreas observam, e é dessainfração que provém o mal.

130. O homem já nasce bom ou ma/u?É preciso fazermos uma distinção entre a alma e o

202 ALLAN KARDEC

O nosso mundo pode ser considerado, ao mesmotempo, como escola de Espíritos pouco adiantados e cár-cere de Espíritos criminosos. Os males da nossa huma-nidade são a consequência da inferioridade moral damaioria dos Espíritos que a formam. Pelo contacto de seusvícios, eles se infelicitam reciprocamente e punem-se unsaos outros.

133. Por que vemos tantasvezes o menuprospera/r,enquanto o homem de bem,vive em aflição?

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enquanto o homem de bem,vive em aflição?Para aquele cujo pensamento não transpõe as raias

da vida presente, para quem a acredita única, isto deveparecer clamorosa injustiça. Não se dá, porém, o mesmocom quem admite a pluralidade das existências e pensana brevidade de cada uma delas, em relação à eternidade.

O estudo do Espiritismo prova que a prosperidadedo mau tem terríveis consequências em suas seguintesexistências; que as aflições do homemde bem são, pelocontrário, seguidas de uma felicidade, tanto maior e du-radoura, quanto maisresignadamente ele soube supor-tá-las; não lhe será mais que um dia mau em uma exis-

tência próspera.134. Por que nascem alguns na indigênciae outros

na opulência? Por que vemos tantas pessoas nasceremcegas, surdas, «mudas ouafetadasde moléstiasmemoráveis,enquanto owtsraspossuem todas as vantagens físicas?

O QUE É O ESPIRITISMO 203

Se admitimos a justiça de Deus, não podemos deixar

de admitir que esse efeito tem uma causa; e se esta causanão se encontra na vida presente, deve achar-se antesdesta, porqueem todas as coisas a causa deve >preceãerao efeito; há, pois, necessidade de a alma já ter vivido,para que possa merecer uma expiação

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para que possa merecer uma expiação.Os estudos espíritas nos mostram, de fato, que mais

<ieum homem, nascido na miséria, foi rico e consideradoem uma existência anterior, na qual fez mau uso da for-tuna que Deus o encarregara degerir; que mais de um,nascido na abjeção, foi anteriormente orgulhoso e pre-potente, abusou do poder para oprimir os fracos. Essesestudos no-los fazem ver, muitas vezes, sujeitos àquelesa quem trataram com dureza, entregues aos maus-tratose à humilhação a que submeteram os outros.

Nem sempre uma vida penosa é expiação; muitasvezes é prova escolhida pelo Espírito, que vê um meiode avançar mais rapidamente, conforme a coragem comque saiba suportá-la.

O QUE É O ESPIRITISMO 203

Se admitimos a justiça de Deus, não podemos deixar

de admitir que esse efeito tem uma causa; e se esta causanão se encontra na vida presente, deve achar-se antesdesta, porqueem todas as coisas a causa deve >preceãerao efeito; há, pois, necessidade de a alma já ter vivido,para que possa merecer uma expiação

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para que possa merecer uma expiação.Os estudos espíritas nos mostram, de fato, que mais

<ieum homem, nascido na miséria, foi rico e consideradoem uma existência anterior, na qual fez mau uso da for-tuna que Deus o encarregara degerir; que mais de um,nascido na abjeção, foi anteriormente orgulhoso e pre-potente, abusou do poder para oprimir os fracos. Essesestudos no-los fazem ver, muitas vezes, sujeitos àquelesa quem trataram com dureza, entregues aos maus-tratose à humilhação a que submeteram os outros.

Nem sempre uma vida penosa é expiação; muitasvezes é prova escolhida pelo Espírito, que vê um meiode avançar mais rapidamente, conforme a coragem comque saiba suportá-la.

204 ALLAN KARDEC

Os estudos espíritas, feitos acerca dos imbecis eidiotas, provam que suas almas são tão inteligentes comoas dos outroshomens; que essa enfermidade é uma expia-ção infligida a Espíritos que abusaram da inteligência,

e sofrem cruelmente por se sentirem presos, em laçosque não podem quebrar, e pelo desprezo de que se vêemobjeto, quando, talvez, tenham sido tão considerados emencarnação precedente. (R&imeSpirite, 1860, pág. 173;UEsxpritd'wnidiot. — Idem, 1861, pág.311: Lês crétms.)

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136. Qual o estado da alma durante o sono?No sono é só o corpo que repousa, mas o Espírito

não dorme. As observações práticas provam que, nessascondições, o Espírito goza de toda a liberdade e da ple-nitude das suas faculdades; aproveita-se do repouso docorpo, dos momentos em que este lhe dispensa a presença,para agir separadamente e ir aonde quer. Durante a vida,qualquer que seja a distância a que se transporte, o Espí-rito fica sempre preso ao corpo por umcordão fluídico,que serve para chamá-lo, quando a sua presença se tornanecessária. Só a morte rompe esse laço.

137. Qual a oausados sonhos?Os sonhos são o resultado da liberdade do Espírito

durante o sono;às vezes, são a recordação dos lugares e

O QUEB O ESPIRITISMO 205

139. Por que há na Terra selvag<ense homens cwi-lizados?

Sem a preexistência da alma, esta questão éinso-lúvel, a menos que admitamos tenha Deus criado almasselvagens e almas civilizadas, o que seria a negação dasua justiça. Além disso, arazão recusa admitir que,depois da morte a alma do selvagem fique perpetua-

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depois da morte, a alma do selvagem fique perpetuamente em estado de inferioridade, bem como se ache namesma elevação que a do homem esclarecido.

Admitindo para as almas um mesmo ponto de par-tida — única doutrina compatível com a justiça deDeus — , a presença simultânea daselvageria e da civi-lização, na Terra, é um fato material que prova o pro-gresso que uns jáfizeram e que os outros têm defazer.

A alma do selvagem atingirá, pois, com o tempo, o

mesmo grau da alma esclarecida; mas, como todos os diasmorrem selvagens, essa alma não pode atingir esse grausenão em encarnações sucessivas, cada vez mais aperfei-çoadas e apropriadas ao seu adiantamento, seguindo todosos graus intermediários a esses dois extremos

206 ALLAN KARDEC

2.°, por que, tendo esse monopólio, nela se apresentamalmas encarnadas de todos os graus.

141. Par que, no meio das sociedades civilizadas,se mostram seres de ferocidade comparável à dos maisbárbaros selvagens?

São Espíritos muito inferiores, saídos das raças bár-baras, que experimentam reencarnar em meio que nãoé o seu, e onde estão deslocados, como estaria um rústicocolocado de repente numa cidade adiantada.

Ã

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OBSERVAÇÃO — Não é possível admitir-se, sem negara Deus os atributos debondadee justiça, que a alma docriminoso endurecido tenha, na vidaatual, o mesmo ponto

de partida que a de um homem cheio de virtudes.Se a alma não é anterior ao corpo, a do criminoso e ado homem de bem são tão novas uma como a outra; por querazão, então, uma delas é boa e a outra má?

142. Donde vem o caráter distintivo dos povos?São Espíritos que têm mais ou menos os mesmos

gostos e inclinações, que encarnam em um meio simpá-tico e, muitas vezes, no mesmo meio em que podem satis-fazer as suas inclinações.

143. Como progridem e como degeneram os povos?Se a alma é criada juntamente com o corpo, as dos

homens de hoje são tão novas, tão primitivas, como ados homens da Idade Média e desde então pergunta se

O QUE fi O ESPIRITISMO 207

correspondente ao grau que atingiu, encarnará entre umpovo mais adiantado. À medida que uma geração dá um

passo para frente, atrai por simpatia Espíritos maisavançados, os quais são, talvez, os mesmos que já haviamvivido no mesmo país e que, por seu progresso, dele setinham afastado; é assim que, passo a passo, uma naçãoavança Se a maioria dos seus novos habitantes fosse de

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avança. Se a maioria dos seus novos habitantes fosse denatureza inferior e os antigosemigrassem, diariamentee não mais descessem a um meio inferior, o povo aca-baria por degenerar, e, afinal, por extinguir-se.

OBSERVAÇÃO — Essas questões provocam outras queencontram solução no mesmo princípio;cor exemplo, dondevem a diversidade de raças, naTerra? — Há raças rebeldesao progresso? — A raça negra é suscetível de subir ao níveldas raças europeias? — A escravidão é útil ao progressodas raças inferiores? — Como se pode operar a transforma-ção da Humanidade? — (OLivro dosEspíritos:Lei de pro-gresso, n«s776 e seguintes. —RevtieSpirite,1862, pág. 1:Doctrinedês ungesdêchus.•— Idem, 1862, pág. 97: Per/ecíi-bilitéde Ia rocenègre )

208 ALJLAN KAKDEC

serva-se tonta, no estado do homem que sai de profundosono e que procura compreender a sua situação. A lucidezdas ideias e a memória do passadolhe voltam, à medidaque se destrói a influência da matéria de que ela acabade separar-se, e que se dissipa o nevoeiro que lhe obscure-ce os pensamentos.

O tempo da perturbação, sequente à morte, é muitovariável; pode ser de algumas horas somente, como demuitos dias, meses ou, mesmo, de muitos anos. É menoslonga, entretanto, para aqueles que, enquanto vivos, seidentificaram com o seu estado futuro, porque esses com-

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, p qpreendem imediatamente a suasituação; porém, é tantomais longa quanto mais materialmente o indivíduo viveu.

A sensação que a alma experimenta nesse momentoé também muito variável; a perturbação, sequente àmorte, nada tem de penosa para o homem de bem; écalma e em tudo semelhante à que acompanha um des-pertar plácido.

Para aquele cuja consciência não é pura e amoumais a vida corporal que a espiritual, esse momento écheio de ansiedade e de angústias, que vão aumentandoà medida que ele se reconhece, porque então sente medo

e certo terror diante do que vêe sobretudo do que en-trevê. A sensação a que podemos chamar física, é a degrande alívio e de imensobem-estar, fica-se como quelivre de um fardo, e o Espírito sente-se feliz por nãomais experimentar as dores corporais que oatormenta-vam alguns instantes t sente se livre desemba

O QUE E O ESPIRITISMO 209

são o resultado de uma teoria ou de um sistema, mas deestudos diretos feitos sobre milhares deindivíduos,observadosem todas as fases e períodos da sua existência espiritual,desde o mais baixo ao mais alto grau da escala, segundo seushábitos durante a vida terrena, género de morte, etc.

Muitas vezesdiz-se,falando da vida futura, quenão sesabe o que nela se passa, porque ninguémno-loveio contar;é um erro,pois são precisamente os que nela já se acham,

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é u e o,po s são p ec sa e te os que e a já se ac a ,que, a respeito, nos vêm instruir, eDeuso permite hoje, maisque em nenhuma outra época, como último aviso à incredu-lidade e ao materialismo.

146. A alma que deiomo corpo, pode ver a Deus?As faculdadesperceptivas da alma são proporcionais

à sua purificação: só as de escol podem gozar da pre-sença de Deus.

147. Se Deus está em toda parte, par que nem todosos Espíritos podem vê-lo?

Deus está em toda parte, porque em toda parte Eleirradia, podendo dizer-se que o Universo está mergulhado

210 ALLANKARDEC

linguagem e qualidades próprias de cada qual; uma vezque elas pensam e agem de modo diferente, umas sãoboas e outras más, umas sábias e outras ignorantes,querendo umas o que outras não querem, o que provaevidentemente não estarem confundidas em um todo ho-mogéneo, isso sem falar das provas patentes que nosdão, de terem animado tal ou tal indivíduo na Terra.Graças ao Espiritismo experimental, a individualidade daalma não é mais uma coisa vaga, porém o resultado daobservação.

A própria alma reconhece sua individualidade, por-t t li ã ó i di ti

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que tem pensamento e volição próprios, que distinguemumas das outras; verificando ainda a sua individualidadepor seu invólucrofluídicoou perispírito, espécie de corpolimitado, que faz dela um ser distinto.

OBSERVAÇÃO — Há quem pense poder fugir à pechade materialista por admitir um princípio inteligente universal,do qual uma parte absorveríamos ao nascermos, formandodela a nossa alma e restituindo-a depois da morte à massacomum,onde com outras se confundiria, tal como gotasdágua no oceano.

Este sistema, espéciede transição, não merece mesmoo nome de Espiritualismo, pois é tão desolador quanto omaterialismo.

O reservatório comum do conjunto universal equivaleriaao aniquilamento, porquanto ali não haveria mais individua-lidades.

O QUE É O ESPIRITISMO 211

Um fenómeno, mais ou menos constante em tal caso,é a persuasão em que ele se conserva de. não estar morto,podendo essa ilusão durar muitos meses e mesmo muitosanos. Neste estado, ele se locomove, julga ocupar-se dosseus negócios, como se ainda estivesse no mundo, e mos-tra-se espantado de não lhe responderem, quando fala.

Essa ilusão também se nota, fora dos casos de mortei l i i di íd j id f i b id

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violenta, em muitos indivíduos, cuja vida foi absorvidapelos gozos e interesses materiais.(O Livro dos Espíritos,

n." 165. — Reme Spirite,1858, pág. 166:Lê suicide deIa Sa-maritaine.— Idem, 1858, pág.326: Un Esprit auconvoide son oorps;idem, 1859, pág. 184:Lê Zouavede

Magenta; idem, 1859, pág. 319;Un Esprit qui ne se croit pás rmort. — Idem, 1863, pág. 97:FrançoisSimonLowvet.)

150. Para onde vai a alma depois de deixar ocorpo?

Ela não vai perder-se na imensidade do infinito,como geralmente se õ erra no e o mais das

212 ALLANKARDEC

por estar livres. Quanto aos trabalhos que começaram,segundo sua importância e utilidade, inspiram a outroso desejo de terminá-los.

153. Encontra a alma no mamão dos Espíritos os

parentes que ali a precederam?Não só os encontra, como também a outros muitos,seus conhecidos de outras existências.

Geralmente, aqueles que mais a amam vêm rece-bê-la à sua chegada no mundo espiritual, e ajudam-naa desprender-se dos laços terrenos.

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a desprender se dos laços terrenos.Entretanto, a privação de ver as almas mais caras

è, algumas vezes, punição para os culpados.

154. Qual,, na outra vida, o estado intelectual emoral da alma da criança morta em tenra 'idade?Suas faculdades conservam-sena infância, como durante avida?

O incompleto desenvolvimento dos órgãos da criançanão dava ao Espírito a liberdade de se manifestar com-pletamente; livre desse invólucro, suas faculdades são oque eram antes da sua encarnação. O Espírito, não tendofeito mais que passar alguns instantes na vida, não sofremodificação nas faculdades.

OBSERVAÇÃO — Nas comunicações espíritas, o Espí-rito de um menino pode, pois, falar como adulto, porque pode

O QUE E O ESPIRITISMO 213

A mesma, pouco mais ou menos, que existia entreelas durante a vida; porque a entrada no mundo dosEspíritos não dá à alma todos os conhecimentos que lhefaltavam na Terra.

156. Progridem as almas, intelectualmente, depoisda morte?

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da morte?Progridem mais ou menos, segundo sua vontade, e

algumas se adiantam muito; porém, têm necessidade depôr em prática, durante a vida corporal, o que adquiri-ram em ciência e moralidade. As que ficaram estacioná-rias, recomeçam uma existência análoga à quedeixaram;as que progrediram, alcançam uma encarnação de ordemmais elevada.

Sendo o progresso proporcionado à vontade do Espí-rito, há muitos que, por longo tempo, conservam os gostose as inclinações que tinham durante a vida, e prosseguemnas mesmas ideias. (RevweSpvrite,1858, pág. 82: Lareine d'Qude; idem, pág. 142; UEsprit et lês héritiers;

214 ALLAN KARDEC

justiça, não concede Deus a todos o tempo de produzira maior soma de bem e reparar o mal quefizeram?

Quem sabe se o criminoso que morre aos trinta anos,não se teria tornado um homem de bem, se vivesse atéaos sessenta?

Por que Deus lhe tira assim os meios que concedea outros?

Só o fato da diversidade das durações da vida e doestado moral da grande maioria dos homens, prova aimpossibilidade, admitida a justiça divina, de ser a sorte

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p , j ç ,da alma irrevogavelmente fixada depois da morte.

158. Qual, na vida futwra,a sorte das crianças qwmorrem em, tenra idade?

Esta questão é uma das que melhor provam a jus-tiça e a necessidade da pluralidade das existências. Umaalma que só tiver vivido alguns instantes, sem fazer nembem nem mal, não pode merecer prémio nem castigo, pois,segundo a máxima do Cristo —cada um é jnvnídoourecompensado conformesuas obras — é tão ilógico comocontrário à justiça de Deus admitir-se que, sem trabalho,essa alma Seja chamada a gozar da bem-aventurança dosanjos, ou que desta se veja privada;entretanto, ela < d e v eter wn destino qualquer. Um estado misto, por toda aeternidade, seria igualmente uma injustiça. Uma exis-tência logo^emcomeço interrompida, não podendo, pois,

ê i l l

O QUE fi OESPIRITISMO 215

que procuram instruir-se e melhorar-se. (OLivro aosEspíritos, n.° 558: Ocupações e missões dos Espíritas.)

160. Em que consistem os sofrimentos da alma,depoisda morte? Irão as almas crmmosas ser tortwra-dasem chamas materiais f

A Igreja reconhece perfeitamente, hoje, que o fogo

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A Igreja reconhece perfeitamente, hoje, que o fogodo inferno é todo moral e não material; porém, nãodefine a natureza dos sofrimentos. As comunicações espí-ritas colocam os sofrimentos sob os nossos olhos, e, poresse meio, podemos apreciá-los e convencer-nos de que,apesar de não serem o resultado de um fogo material,que efetivamente não poderia queimar almas imateriais,eles, nem por isso, deixam de ser mais terríveis, emcertos casos.

Essas penas não são uniformes: variam infinita-mente, segundo a natureza e o grau das faltas cometidas,sendo quase sempre essas mesmas faltas o instrumentodo seu castigo; é assim que certos assassinos são obriga-d ó i l d i

216 ALLAN KARDEC

Como dissemos, a Terra é um dos lugares de exílioe de expiação,wn purgatório, para os Espíritos dessanatureza, do qual cada um se pode libertar, melhoran-do-sesuficientementepara merecer habitação em mundomelhor. (O Livro dos Espíritos,n." 237: Percepções,sen-sações e sofrimentosdos Espíritos; idem, Parte4.": Espe-rançase consolações,cap. I,Penas e gozosfuturos; —Revue Spirite,1858, pág. 79:Uassassm Lemaire; idem,pág. 166: Lê suicideãe Ia Samaritaine; idem, pág.331:Bensatwns •dês Esprits; idem, 1859, pág. 275:Lê pèreCrépin;idem 1860 pág61 E t i R g i idem página

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Crépin;idem, 1860, pág.61: Esteia Regnier; idem, página247:Lê suicide deIa rue Quinocumpoia;;idem, pág.316: Lêchâtiment; idem, pág.315: Entrée d'un coupabledans lêmonde dês Esprits; idem, pág.384: Châtiment de1'egois-te; idem, 1861, pág.53: Suicide d'wnathée; idem, pági-na 270: La peineãu talian.)

161. A prece será útilos almas sofredoras?Todos os bons Espíritos a recomendam e os imper-

feitos a pedem como meio de aliviar os seus sofrimentos.A alma, por quem se pede, experimenta um consolo,

porque vê na prece um testemunho de interesse, e o in-feliz é sempre consolado, quando encontra pessoas quecompartilhem de suas dores. De outro lado, pela prece oexortamos ao arrependimento e ao desejo de fazer o ne-cessário para serfeliz;é neste sentido que se pode abre-viar lhe as penasquandoele de seu lado o favorece

O QUE É OESPIRITISMO 217

ciúme, nem inveja, nem ambição, nem qualquer daspaixões que desgraçam os homens. O amor que os uneé,

para os bons Espíritos, a fonte de suprema felicidade,pois não experimentam as necessidades, nem os sofri-mentos, nem as angústias da vida material.

O estado de contemplação perpétua seria uma feli-cidade estúpida e monótona; seria a ventura do egoísta,

i tê i i t i l t i útil

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uma existência interminavelmente inútil.A vida espiritual é, ao contrário, de uma atividade

incessante pelas missões que os Espíritos recebem do SerSupremo, de serem seus agentes no governo do Universo— missões essas proporcionadas ao seu adiantamento, ecujo desempenho os torna felizes, porque lhes forneceocasiões de serem úteis e de fazerem o bem. (OLivro dosEspíritos, n." 558: Ocupações e missões dos Espíritos.—Revue Spirite, 1860, págs. 321 e322: Lês purs Esprits:Lê séjour dês lAenhewreux;idem, 1861, pág.179: MadameGourdon.)

OBSERVAÇÃO Convidamos os adversários do Espiri

Livros da Federação Espírita Brasileira

Allan Kardec

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O LIVRO DOS ESPÍRITOS

É o livro básico da DoutrinaEspírita,indubitavelmente a obra-prima do Espi-ritismo, constituindo verdadeiro tratado

filosófico espiritualista que responde ainquietantesquestões da vida e da morte.Escrito mediante ditado de Espíritos

Superiores, é a expressão do pensamentod l O d é i d K d f i li

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Carlos Imbassahy

O ESPIRITISMO À LUZ DOS FATOS

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O ESPIRITISMO À LUZ DOS FATOS

Em realidade, é das obras mais vigorosasdo conhecido e inigualável polemista. Bem poucasobras estrangeiras, do mesmo género, se igualamno conjunto a esta do Dr. Carlos Imbassahy.

Em grosso volume de 404 páginas, de-

monstra o Autor a realidade insofismável do Es-piritismo, através dos maravilhosos fatos que oatestam, opondo cerrada argumentação às obje-ções formuladas à parte científica de nossa Dou

Léon Denis

CRISTIANISMO E ESPIRITISMOLeitura utilíssima para todo espírita estudio-

so e que não pode conceber a Doutrina Espíritasenão vinculada ao Evangelho do Cristo. Seuautor Léon Denis foi o pujante espírito que se

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autor, Léon Denis, foi o pujante espírito que seconta entre os seguidores de Allan Kardec, que

o secundaram na grande obra de divulgação dosensinos revelados pelos Espíritos Superiores.Autor de outras notáveis obras, nesta ele teve oobjetivo de ressaltar a grandeza do Cristianismo,mas dissecando também o corpo de deturpaçõese deformidades que nele foram introduzidas pe-los dogmas do Catolicismo Romano e suas fór-mulas ritualísticas. A origem dos Evangelhos,sua autenticidade e sentido oculto, os fenómenosespíritas da Bíblia, a comunhão dos primeiroscristãos com os Espíritos dos mortos, os dogmasda Igreja, o Espiritismo e a Ciência, a reencarna-ã ã l d d

Alexandre Aksakof

ANIMISMO E ESPIRITISMOAksakof, o sábio investigador dos fenómenos es-

píritas, apresenta nesta obra a sua resposta ao mais fa-moso filósofo daépoca, o Dr. EduardovonHartmann,

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época, ,colocando, com uma argumentação incontestável e vito-

riosa, as teoriasantiespíritasno seu devido lugar, mos-trando-lhes o seu nenhum valor.Em 700 páginas de composiçãocompacta, o livro

encerra uma multidão de fatos maravilhosos, recolhidosem todo o Mundo, de váriossábios daépoca, e da qualbom número é também devido às observações e expe-riências do próprio Autor.

No conceito de muitosestudiosos, é "a obra maisimportante e mais completa que se escreveu acerca doEspiritismo, no ponto de vista científico e filosófico".

Léon Denis

CRISTIANISMO E ESPIRITISMOLeitura utilíssima para todo espírita estudio-

so e que não pode conceber a Doutrina Espíritasenão vinculada ao Evangelho do Cristo. Seuautor, Léon Denis, foi o pujante espírito que se

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, , p j p qconta entre os seguidores de Allan Kardec, queo secundaram na grande obra de divulgação dosensinos revelados pelos Espíritos Superiores.Autor de outras notáveis obras, nesta ele teve oobjetivo de ressaltar a grandeza do Cristianismo,mas dissecando também o corpo de deturpaçõese deformidades que nele foram introduzidas pe-los dogmas do Catolicismo Romano e suas fór-mulas ritualísticas. A origem dos Evangelhos,sua autenticidade e sentido oculto, os fenómenosespíritas da Bíblia, a comunhão dos primeiroscristãos com os Espíritos dos mortos, os dogmasda Igreja, o Espiritismo e a Ciência, a reencarna-

Alexandre Aksakof

ANIMISMO E ESPIRITISMOAksakof, o sábio investigador dos fenómenos es-

píritas, apresenta nesta obra a sua resposta ao mais fa-moso filósofo daépoca, o Dr. Eduardo vonHartmann,colocando com uma argumentação incontestável e vito

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colocando, com uma argumentação incontestável e vito-riosa, as teoriasantiespíritasno seu devido lugar, mos-trando-lhes o seu nenhum valor.Em 700 páginas de composiçãocompacta, o livroencerra uma multidão de fatos maravilhosos, recolhidosem todo o Mundo, de vários sábios daépoca, e da qualbom número é também devido às observações e expe-riências do próprio Autor.

No conceito de muitos estudiosos, é "a obra maisimportante e mais completa que se escreveu acerca doEspiritismo, no ponto de vista científico e filosófico".

Zeus Wantuil e Francisco Thiesen

ALLAN KARDECPublicada em 1979 e 1980, essa obra 'Veio enrique-

cer, sobremaneira, as letras espíritas e deu ao Codificador

da Doutrina Espírita a sua real dimensão na história da Hu-manidade.São três volumes, num total de 896 páginas, dezenas de

ilustrações e numerosas e preciosas informações sobre a vidade Kardec e daqueles que constituíram o seu pequeno e valoro-so contingente de colaboradores diretos no planofísico.

O volume l apresenta uma visão muito nítida da formação

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moral e intelectual de Hippolyte Léon Denizard Rivail no InstitutoYverdon, do método pestalozziano e da obra de Rivail comoeducador emérito. Ao final há um apêndice que elucida a respei-to do nome civil de Kardec, sobre a data do seu nascimento esobre a controvertida questão de ele ter sido ou não formado emMedicina.

O volume II trata da missão de Kardec, traçando um pa-norama que se inicia em Hydesville até as primeiras perseguiçõescontra o Movimento Espírita nascente.

O volume III abrange as obras espíritas deAllanKardec,os periódicos do seu tempo, a sua desencarnação, a continuida-de do Movimento, as lutas e a abnegação dos seus continuado-res, o Movimento Espírita brasileiro e a destinação do nossopaís como Pátria do Evangelho. O apêndice final traz uma sériede elucidações sobre vários pontos importantes.

A perfeitaconcatenaçãodos fatos a forma como são

O Q U E E O E S P I R IT I S M O

A l l a n K a r d e c

Obra sempre atual, útil aos adeptos da Doutrina Es- pírita, como também àqueles que desejam conhecer a natureza do Espiritismo e a definição de seus pontos fundamentais.

A lógica e o bom-senso de Allan Kardec aí se evi- denciam, desconcertando os negativistas e clareando as indagações dos que acreditam e aspiram à vida su- perior.

Divide-se em 3 capítulos:

O primeiro, sob a forma de diálogos com um críti- co, um céptico e um padre, traz respostas àqueles que desconhecem os princípios básicos da Doutrina, bem como apropriadas refutações aos seus contraditares.

O segundo capítulo, expõe partes da ciência práti- ca e experimental, caracterizando-se como um resu- mo de O Livro dos Médiuns.

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No terceiro capítulo, é publicado o resumo de O Li- vro dos Espíritos, com a solução, apontada pela Dou- trina Espírita, de problemas de ordem psicológica,moral e filosófica.

Contém também a biografia de Allan Kardec, por Hei. -í Snusse.