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Ensinar a aprender!

O saber da ação pedagógica em

práticas de ensino inovadoras.

ATAS DIGITAIS III Seminário Nacional Investigando Práticas de Ensino

em Sala de Aula e I Seminário Internacional de Práticas Pedagógicas

Inovadoras

TRABALHOS APRESENTADOS

ORGANIZADORES:

Arilson Sartorelli Ribas

Davi Marangon

João Filipe Matos

Neuza Pedro

SÃO PAULO

23 de outubro de 2015

Ensinar a aprender! O saber da ação pedagógica em práticas de ensino

inovadoras.

São Paulo, SP – Brasil

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23 de outubro de 2015

ORGANIZADORES

Arilson Sartorelli Ribas

Davi Marangon

João Filipe Matos

Neuza Pedro

CRÉDITOS

Título: Ensinar a aprender! O saber da ação pedagógica em práticas de ensino

inovadoras.

Subtítulo: Atas do III Seminário Nacional Investigando Práticas de Ensino em Sala

de

Aula e do I Seminário Internacional de Práticas Pedagógicas Inovadoras

São Paulo, São Paulo – Brasil

23 de outubro de 2015

EDIÇÃO E COPYRIGHT

CAPA: Arilson Sartorelli Ribas

BLOG: investigandopraticasdeensino.wordpress.com

Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP) (Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil)

S471 Seminário Nacional Investigando Práticas de Ensino em Sala de Aula (3. :

2015 : São Paulo, SP.) ; Seminário Internacional de Práticas Pedagógicas Inovadoras (1. 2015 : São Paulo, SP.).

Ensinar a aprender! : o saber de práticas de ensino inovadoras : atas digitais do 3º Seminário Nacional Investigando Práticas de Ensino em Sala de Aula, 1º Seminário Internacional de Práticas Pedagógicas Inovadoras. Organizadores Arilson Sartorelli Ribas ... [ et al. ]. – Dados eletrônicos – ticEDUCA2016 EVENTO SATÉLITE : 2015, São Paulo.

: 13 MB ISBN 978-85-467-0653-2 1. Educação – Seminários. 2. Atas. CDD 370

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COMISSÃO ORGANIZADORA

Arilson Sartorelli Ribas, Departamento Pedagógico da Editora Positivo, Brasil

Doutorando em Educação: especialidade Tecnologias de Informação e

Comunicação na Educação pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa

Davi Marangon, Departamento Pedagógico da Editora Positivo, Brasil

Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná

João Filipe Matos, Instituto da Educação da Universidade de Lisboa, Portugal

Doutor em Educação pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa

Neuza Pedro, Instituto da Educação da Universidade de Lisboa, Portugal

Doutora em Educação na especialidade TIC e Educação pela Universidade de

Lisboa (IEUL)

COMISSÃO CIENTÍFICA

Altina Ramos, Professora Associada do Instituto de Educação da Universidade do

Minho

Ana Pedro, Assistente Convidada do Instituto de Educação da Universidade de

Lisboa

Beatriz Campos, Doutoranda em Artes Visuais (Fundamentos Teóricos) pela

Universidade de Campinas, Assessora da área de História do Departamento

Pedagógico da Editora Positivo, Brasil

Bianca Cristina Buse, Mestre em Literatura pela Universidade Federal de Santa

Catarina, Assessora da área de Língua Portuguesa, Departamento Pedagógico da

Editora Positivo, Brasil

Carlos Henrique Wiens, Mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio

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Grande do Sul, Coordenador da área de Matemática do Departamento Pedagógico

da Editora Positivo, Brasil

Carolina Carvalho, Professora Auxiliar do Instituto de Educação da Universidade de

Lisboa

Cecilia Galvão, Professora Associada do Instituto de Educação da Universidade de

Lisboa

Clarisse Nunes, Professora Auxiliar da Escola Superior de Educação de Lisboa e

Investigadora da Unidade de Investigação e Desenvolvimento do Instituto de

Educação da Universidade de Lisboa

David Rodrigues, Investigador da Unidade de Investigação e Desenvolvimento do

Instituto de Educação da Universidade de Lisboa

Elisângela Karine Martins, Mestre em Ensino de Ciência e Tecnologia pela

Universidade Federal Tecnológica do Paraná, Assessora de Ciências e Biologia do

Departamento Pedagógico da Editora Positivo, Brasil

Fernando Moreira Barnabé, Mestre em Educação pela Universidade de São Paulo,

Assessor da área de Matemática do Departamento Pedagógico da Editora Positivo,

Brasil

Guilhermina Miranda, Professora Auxiliar do Instituto de Educação da Universidade

de Lisboa

Hélia Oliveira, Professora Auxiliar do Instituto de Educação da Universidade de

Lisboa

Jailson Rodrigo Pacheco, Mestre em Química Ambiental pela Universidade Federal

do Paraná, Assessor da área de Química do Departamento Pedagógico da Editora

Positivo, Brasil

Jorge do Ó, Professor Associado do Instituto de Educação da Universidade de

Lisboa

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Josimeire de Lima Sobreira, Mestre em Educação e Tecnologia pela Universidade

Tecnológica Federal do Paraná, Assessora da área de Geografia do Departamento

Pedagógico da Editora Positivo, Brasil

Leandro Duso, Doutor em Educação Científica e Tecnológica pela Universidade

Federal de Santa Catarina, Assessor da área de Ciências e Biologia do

Departamento Pedagógico da Editora Positivo, Brasil

Leonor Santos, Professora Associada do Instituto de Educação da Universidade de

Lisboa

Lucia Amante, Professora Auxiliar da Universidade Aberta de Portugal

Manuela Esteves, Professora Associada do Instituto de Educação da Universidade

de Lisboa

Marcos Rafael Tonietto, Doutorando em Educação pela UFPR, Assessor da área de

Educação Física do Departamento Pedagógico da Editora Positivo, Brasil

Marileusa Guimarães Souza, Especialista em Gestão Escolar e Redes de

Telecomunicações pela Universidade Positivo, Coordenadora da área de Informática

Educativa do Departamento Pedagógico da Editora Positivo, Brasil

Natália Alves, Professora Auxiliar do Instituto de Educação da Universidade de

Lisboa

Norton Frehse Nicolazzi Junior, Mestre em História pela Universidade Federal do

Paraná, Coordenador das áreas de Filosofia, História e Sociologia do Departamento

Pedagógico da Editora Positivo, Brasil

Ottília Marcacci Ribeiro da Silva, Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade

Católica do Paraná, Assessora da área de Informática Educativa do Departamento

Pedagógico da Editora Positivo, Brasil

Pedro Palhares, Professor Associado do Instituto de Educação da Universidade do

Minho

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Pedro Reis, Professor Associado do Instituto de Educação da Universidade de

Lisboa

Selma Meirelles, Graduada em Pedagogia pela Universidade Tuiuti do Paraná,

Assessora da área de Educação Infantil do Departamento Pedagógico da Editora

Positivo, Brasil

Simone Stival, Especialista em Gestão do Trabalho e graduada em Pedagogia pela

Universidade Federal do Paraná, Coordenadora das áreas de Educação Infantil,

Língua Portuguesa e Língua Inglesa do Departamento Pedagógico da Editora

Positivo, Brasil

Wilson Galvão, Mestre em Geografia pela Universidade Federal do Paraná,

Coordenador da área de Geografia do Departamento Pedagógico da Editora

Positivo, Brasil

Vanize Pacheco de Araújo, Doutoranda em Adminstração pela Universidade

Positivo, Coordenadora das áreas Administrativa, Financeira e Pedagógica do

Departamento Pedagógico da Editora Positivo, Brasil

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COLABORADORES

André Elias Emídio

Jolano Michel dos Santos

Julia Padeski Rodoniski

Junior Ken Iti Obata

Marcos Antônio Alves Júlio

Roger Kelson Fortes

APOIOS E PATROCÍNIOS

Departamento Editorial da Editora Positivo

Departamento Pedagógico da Editora Positivo

Departamento de Marketing da Editora Positivo

Universidade Positivo

Instituto de Educação da Universidade de Lisboa

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PREFÁCIO

Esta ata digital reúne os trabalhos nos formatos de relato de experiência e

pôster que foram aceitos para serem apresentados e discutidos no III Seminário

Nacional Investigando Práticas de Ensino em Sala de Aula e no I Seminário

Internacional de Práticas Pedagógicas Inovadoras, evento satélite do Congresso

Internacional de Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação

(ticEDUCA2016), que foi organizado pela Editora Positivo em parceria com o

Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.

O processo de revisão dos trabalhos foi realizado pela comissão científica, de

acordo com as práticas correntes para este tipo de eventos científicos, tendo sido

estas atas digitais compiladas pela Comissão Organizadora.

O Seminário teve como tema o Ensinar a Aprender! O saber da ação

pedagógica em práticas de ensino inovadoras. Entendemos que, ao considerar o

aluno como protagonista de suas aprendizagens, as novas diretrizes educacionais

(BRASIL, 2013) vigentes abrem um espaço importante de reflexão sobre os

processos de ensino e aprendizagem que ocorrem nos espaços educativos,

contribuindo para o desenvolvimento de práticas pedagógicas de ensino inovadoras.

A análise de diferentes perspectivas do ensinar e aprender pode permitir aos

educadores que estão em sala de aula elaborar estratégias metodológicas, articular

recursos didáticos que estão imersos em seu cotidiano e na cultura dos alunos,

proporcionar uma ampliação do olhar sobre as suas práxis e, ao mesmo tempo,

proporcionar aos alunos uma aprendizagem mais significativa e contextualizada.

Tomando como referência o conceito de saber da ação pedagógica em

práticas de ensino inovadoras que trata o saber experiencial dos docentes a partir do

momento em que se torna público e é validado por meio de pesquisas realizadas

tendo como cenário empírico a sala de aula, o seminário abriu espaços de estudo e

de reflexões sobre o saber da ação pedagógica por meio da análise de diferentes

abordagens da relação entre o ensino e a aprendizagem presentes na experiência

dos educadores em suas práticas educativas que estão vinculadas à sua realidade

cultural.

Visando abarcar o maior número de práticas de ensino inovadoras que

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acontecem nos espaços educativos das escolas da educação básica, sejam elas em

ambientes físicos ou virtuais de aprendizagem, foram escolhidos os seguintes

subtemas: o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) em práticas

de ensino escolares; situações didáticas relacionadas à abordagem da

aprendizagem profunda (AP); iniciativas interdisciplinares na escola; o lúdico como

recurso pedagógico; estratégias de ensino eficazes e desenvolvimento profissional

docente; práticas avaliativas a serviço das aprendizagens; práticas de ensino

inclusivas nos espaços educativos; práticas de alfabetização e letramento nos

diversos componentes curriculares.

Este evento, que está em sua terceira edição nacional e primeira

internacional, tem como grande objetivo proporcionar um espaço de partilha, debate

e reflexão sobre a práxis, entre profissionais que trabalham nos espaços educativos

das escolas de educação básica.

A Comissão Científica do III Seminário Nacional é formada por um grupo

variado de professores especialistas, mestres e doutores da Editora Positivo, e por

um grupo variado de acadêmicos de Portugal, que compõem parte da comissão

científica do ticEDUCA2016 e que trabalham e desenvolvem investigação no

domínio das tecnologias educativas. Coube a esse grupo a responsabilidade de

avaliar a qualidade científica dos artigos submetidos.

Foram recebidos 85 trabalhos, de Brasil, Portugal e Japão, em formato de

relato de experiência e de pôsteres, e a taxa de rejeição foi de 32,8%.

Foram igualmente importantes para a realização deste seminário os oito

workshops que conseguimos organizar, dinamizados por especialistas em seus

campos de atuação, cujas temáticas estão relacionadas aos subtemas ofertados.

Salientamos, ainda, a palestra inicial e a mesa redonda de encerramento

proferidas por especialistas nacionais e estrangeiros (os portugueses João Filipe

Matos e Neuza Pedro e a brasileira Acedriana Sandi), e que cobriram os subtemas

debatidos.

Sem as várias sessões subtemáticas, realizadas em regime presencial e

virtual, nas quais os 64 trabalhos aceitos foram apresentados e discutidos, o

seminário não teria a vida e o debate de ideias necessário à reflexão sobre a práxis

e a progressão do pensamento e do conhecimento científicos não teria força. Esses

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trabalhos foram integrados nas Atas Digitais do Seminário disponíveis em:

https://investigandopraticasdeensino.wordpress.com/atas-digitais/

Agradecemos, na qualidade de membros organizadores destas Atas Digitais,

a todos os que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste evento:

autores, comissões, patrocinadores, colaboradores e participantes.

São Paulo, 23 de outubro de 2015.

Arilson Sartorelli Ribas

Davi Marangon

João Felipe Matos

Neuza Sofia Guerreiro Pedro

Comissão Organizadora

Sumário

Palestra Salas de Aula do Futuro: Novos Designs, Ferramentas e Pedagogia

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.................................................................................................................................. 12

Relato de experiência - Subtema 1: O uso das tecnologias de informação e

comunicação (tic) em práticas de ensino escolares ........................................... 30

Pôsteres -subtema 1: O uso das tecnologias de informação e comunicação

(tics) em práticas de ensino escolares ................................................................. 72

Relatos de experiência - Subtema 2: Situações didáticas relacionadas à

abordagem da aprendizagem profunda (ap) ........................................................ 75

Pôsteres - Subtema 2: Situações didáticas relacionadas à abordagem da

aprendizagem profunda (ap) ............................................................................... 129

Relatos de experiências - Subtema 3: Iniciativas interdisciplinares na escola

................................................................................................................................ 132

Pôsteres - Subtema 3: Iniciativas interdisciplinares na escola ......................... 158

Relatos de experiências - Subtema 4: O lúdico como recurso pedagógico .... 162

Pôsteres - Subtema 4: O lúdico como recurso pedagógico .............................. 179

Relatos de experiências - Subtema 5: Estratégias de ensino eficazes e

desenvolvimento profissional docente ............................................................... 185

Pôsteres - Subtema 5: Estratégias de ensino eficazes e desenvolvimento

profissional docente ............................................................................................ 214

Relatos de experiências - Subtema 6: Práticas avaliativas a serviço das

aprendizagens ....................................................................................................... 215

Pôsteres - subtema 6: Práticas avaliativas a serviço das aprendizagens ....... 246

Relatos de experiências - Subtema 7: Práticas de ensino inclusivas nos

espaços educativos .............................................................................................. 255

Pôsteres - Subtema 7: Práticas de ensino inclusivas nos espaços educativos

................................................................................................................................ 277

Relatos de experiências - Subtema 8: Práticas de alfabetização e letramento

nos diversos componentes curriculares ............................................................ 288

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PALESTRA

SALAS DE AULA DO FUTURO: NOVOS DESIGNS, FERRAMENTAS E PEDAGOGIAS

RESUMO: As mudanças tecnológicas, científicas e sociais têm provocado forte

pressão sobre as instituições e os profissionais da educação dos vários

níveis de ensino. O estabelecimento de mudança nas práticas de

ensino e aprendizagem em sala de aula revela-se complexa, mas, ao

mesmo tempo, a demora a torna cada vez mais necessária. Como

podem as escolas reagir a essas mudanças cientificas e tecnológicas?

Como devem as salas de aulas acolhê-las? Que competências

profissionais se exige dos professores no século XXI? Que novas

ferramentas pedagógicas temos ao nosso dispor? São algumas das

questões a que se pretende responder, em particular com a

apresentação do projeto Future Teacher Education Lab em

desenvolvimento no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.

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PALESTRANTES

João Filipe Matos (Portugal)

MINICURRÍCULO

Professor Catedrático do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa,

universidade onde terminou o Doutoramento em 1991. É Diretor do Programa de

Doutoramento FCT Technology Enhanced Learning and Societal Challenges, do

curso de Doutoramento TIC na Educação e dos Mestrados em e-Learning e

Formação a Distância e Ensino da Informática. Coordena o Centro de Competência

em Tecnologia e Inovação (C2TI) do Instituto de Educação da Universidade de

Lisboa vocacionado para o apoio a iniciativas de escolas e professores no domínio

das tecnologias digitais em colaboração com o Ministério da Educação.

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PALESTRANTES

Neuza Sofia Guerreiro Pedro (Portugal)

MINICURRÍCULO

Professora Auxiliar no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa e

consultora na área de e-Learning e Tecnologias educativas. Doutora em Educação

na especialidade TIC e Educação pela Universidade de Lisboa (IEUL), possui

mestrado em Psicologia da Educação e cursos de pós-graduação na área de e-

Teaching pela Universidade de Adger, na Noruega, e Online Assessment pela

Universidade de Wisconsin-Stout, nos Estados Unidos. Coordenadora do Mestrado

em Educação e Tecnologias digitais e do Laboratório de e-Learning da Universidade

de Lisboa.

SALAS DE AULA DO FUTURO

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1.INTRODUÇÃO

As inúmeras mudanças tecnológicas, científicas e sociais que se têm

registado nas últimas décadas têm exercido uma forte pressão para a mudança

tanto das instituições educativas como dos profissionais da educação dos vários

níveis de ensino. O estabelecimento de mudança nas práticas de ensino e

aprendizagem em sala de aula revela-se complexa.

Ao mesmo tempo, a demora torna a inovação cada vez mais necessária.

Mas como podem as escolas reagir a essas mudanças cientificas e tecnológicas?

Que novas ferramentas têm hoje as escolas ao seu dispor? E como podem as salas

de aulas configurar-se para acolhê-las?

O presente artigo procura contribuir para responder a algumas dessas

questões, explorando especificamente as seguintes temáticas: a aprendizagem

como prática social e a organização das salas de aula como habitat de comunidades

de aprendizagem; o (re)design dos ambientes educativos formais, as tecnologias

atuais e o seu papel no suporte a processos mais ricos e equitativos de ensino e

aprendizagem e como meio de inovação pedagógica.

2.QUE (NOVAS) PEDAGOGIAS? APRENDIZAGEM NATURAL VERSUS

ARTIFICIAL E O CONCEITO DE COPS

Uma das questões essenciais no domínio da educação e formação, e que

Novos designs, ferramentas e pedagogias.

Neuza Pedro1 e João Filipe Matos2 1Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, [email protected], [email protected]. Alameda da Universidade, Lisboa, Portugal

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está na base das opções pedagógicas que professores e formadores realizam na

sua prática docente, diz respeito à forma como se aprende. Não é imediato

responder à questão “Como se aprende?”, já que dispomos de uma grande

variedade de perspetivas sobre a aprendizagem. Vamos por isso aflorar, de uma

forma breve, a questão da natureza da aprendizagem.

Seymour Papert (1980) discutia essa questão na sua obra Mindstorms:

Children, Computers and Powerful Ideas, colocando em contraponto, de uma forma

provocatória, duas perspetivas sobre a aprendizagem: aquilo que designava de

“aprendizagem natural” versus “aprendizagem artificial”.

Ao falar em aprendizagem natural, Papert (1980) referia-se às

aprendizagens que as pessoas realizam sem esforço intencional, muitas vezes sem

instrução explícita. Um dos exemplos mais interessantes é o aprender a andar. De

facto, as pessoas aprendem a andar quando crianças de uma forma natural, com o

apoio de pais e de outras crianças, aprendem a mobilizar e articular diversas

capacidades do corpo, a equilibrar-se e a ganhar automatismos que lhes permitem

vir a andar de forma segura em poucos anos. Trata-se de aprendizagem natural, que

Papert põe em contraponto a aprendizagens artificiais, como aquelas que a escola

proporciona ao definir um currículo.

A escola é um exemplo de um dispositivo intencional para promover

aprendizagens em domínios em que o contexto social e o ambiente habitual das

pessoas é menos rico. É, nomeadamente, o caso da matemática, cuja

aprendizagem tem que ser necessariamente organizada em termos escolares por

meio de currículos mais ou menos flexíveis, mas sempre com um caráter por

natureza normativo. É pelo facto de não existirem estímulos e atividades

suficientemente ricos em matemática nas práticas diárias das pessoas que se revela

necessário um sistema que produza aprendizagem de matemática; e esse sistema é

a escola. É nesse sentido que Papert considera a noção de aprendizagem artificial.

Nessa perspetiva, a aprendizagem é entendida como uma parte integrante

das práticas sociais. Por exemplo, para aprender a ler, envolvemos os alunos em

práticas (de natureza lúdica e didática, começando em atividades de

reconhecimento de letras, estabelecendo relação entre a letra e o som que a

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materializa na oralidade, etc.). Essa ideia sobre o aprender enquadra-se nas teorias

da aprendizagem situada (LAVE; WENGER, 1991) e remete para o conceito de

Communities of Practice (CoPs).

Numa comunidade de prática, a base comum que os participantes partilham

é a sua prática. Quando surge necessidade e interesse, os membros da comunidade

trocam histórias acerca dos acontecimentos de que são parte, ajudam-se uns aos

outros a fazer sentido delas e assim atribuem sentido às suas experiências. Ao

participar nesses processos dialógicos, os membros aperfeiçoam as suas

compreensões, partilham o que descobriram e as suas intuições e, em geral,

fortalecem a sua eficiência.

Uma comunidade de prática existe na medida em que se reconhece um

domínio de prática comum aos seus membros. Por exemplo, a matemática constitui

o domínio de prática de investigadores que produzem e desenvolvem novas ideias e

novas propriedades naquela ciência e partilham as suas descobertas nas

publicações científicas daquela especialidade.

Do mesmo modo, por exemplo, os professores de Geografia têm um

domínio de prática que é o ensino da Geografia que é constituído pelas orientações

curriculares respectivas, pelos conteúdos específicos de Geografia e pelo

conhecimento inerente às sua práticas pedagógicas. Deve-se notar que o domínio

não é estático. É a prática que dá coerência à comunidade; quer na dimensão

explícita da prática (em que situamos por exemplo os regulamentos e normativos

dessa prática, as ferramentas utilizadas, as formas de falar, o reportório comum

usado pelos práticos num dado domínio, os quadros de referência seguidos, etc.),

quer na dimensão tácita da prática (em que colocamos regras implícitas, percepções

dos práticos num dado domínio, convenções, etc.), constitui-se a comunidade em

que os seus membros participam. É por isso que se torna tão importante o conceito

de participação.

Considera-se assim que a participação numa dada prática social (na qual

reside o conhecimento específico do domínio de prática) é um princípio

epistemológico da aprendizagem na comunidade onde aquela prática se desenvolve

(MATOS, 2010). O conceito de participação descreve a experiência social de viver

no mundo social em termos de pertença a comunidades e de envolvimento em

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atividades e em empreendimentos no domínio da prática.

2.O QUE SE ENTENDE COMO (NOVOS) DESIGNS EDUCACIONAIS?

Ainda que a educação se tenha relacionado conceptualmente bem com o

desenvolvimento de novas pedagogias e novas abordagens curriculares, tais

redefinições tendem a não se repercutir com igual poder nas práticas educativas. A

forma como permanecem desenhados os espaços de sala de aula são disso prova

irrefutável. Reclama-se a necessidade de se desenvolverem novos desings

educacionais, designs mais coadunados com as práticas sociais.

O design refere-se simultamente à forma e à função. Destina-se a

estabelecer as qualidades formais e funcionais de espaços, objectos, processos e

sistemas tendo em conta a sua interacção com o ser humano e o ambiente

envolvente. Exercer design refere-se à atividade de criação estratégica, orientada

para um objetivo e baseada em técnica, contrapondo-se à criação arbitrária, sem

finalidade ou rigor.

O design educacional a que nos referimos centra-se especificamente no

espaço da sala de aula, na assumpção mais tradicional do conceito, e alertamos

para o facto de a renovação das práticas educativas não ser possível caso se

mantenha inalterado o espaço físico da sala de aula. E nele é preciso repensar

múltiplos elementos que vão além do currículo e da pedagogia.

3.1. A ARQUITECTURA DOS ESPAÇOS EDUCATIVOS

As atuais salas de aula merecem ser pensadas de forma diferenciada para

as diferentes àreas cientificas, o que requer uma arquitectura flexível, modular,

adaptável. Os espaços educativos ainda que formais necessitam de assumir

diferentes formas. A sala de aula pode e deve ser entendida não como um espaço

único, mas antes como um espaço plural, logo divisível e reconfigurável. A

organização de diferentes zonas de aprendizagem como propõe o projecto Future

classroom lab coordenado pela European Schoolnet é exemplo disso (EUN

PARTNERSHIP, 2014).

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A sala do futuro que é proposta edifica-se com base em seis áreas ou zonas

funcionais, alinhadas com diferentes perfis de atividades de ensino e aprendizagem.

− Zona do “Criar”: com base em uma idelologia construcionista (“aprender

construindo”, como proposto por Papert), organiza-se um espaço de aprendizagem

promotor do envolvimento ativo dos alunos na criação de determinado

produto/conteúdo, o qual deve revelar ligação com a vida real e/ou empregabilidade

futura. Fornece-se assim aos alunos oportunidade para estimular a sua criatividade,

sentido de produtividade e de propriedade sobre a sua aprendizagem. As

tecnologias suportam o processo de planificação, criação e disseminação dos

produtos desenvolvidos pelos alunos.

− Zona do “Interagir”: as atuais tecnologias de informação e comunicação, a

internet e os seus ambientes on-line permitem hoje não apenas que cada aluno

possa expressar o seu processo de aprendizagem, em imediato ou em diferido,

como igualmente permite que sejam recebidos em sala de aula outros agentes

educativos de elevado relevo, outros alunos, professores, profissionais ou

especialistas de contexto tanto nacional como internacional. (Um exemplo serão os

webminars oferecidos pela NASA especificamente para professores e alunos dos

vários níveis de ensino, como explicado em

http://www.nasa.gov/audience/foreducators/current-opps-index.html.)

− Zona de “Apresentar”: a sociedade atual requer sólidas competências de

comunicação, apresentação e utilização produtiva de feedback. O desenvolvimento

e a entrega dos trabalhos dos alunos merece ter adicionada uma

dimensãocomunicativa, de apresentação interativa e publicação on-line, permitindo

assim a partilha de ideias com uma vasta audiência.

− Zona de “Investigar”: numa sala de aula do futuro, os alunos necessitam

ser incentivados a pesquisar cientificamente, a recolher e analisar dados

criticamente, a tomar decisões e a descobrir por si mesmos como resolver

problemas efetivos, sob abordagens ativas de ensino e aprendizagem.

− Zona do “Partilhar”: A organização globalizada da sociedade, e dentro

desta o atual mercado de trabalho, tem sinalizado como muito importante a

capacidade de colaborar com os outros. No trabalho em equipe, a colaboração é

determinada pelo comprometimento e pela responsabilidade individual, mas

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igualmente pela capacidade de comunicação e de partilha do processo de tomada

de decisão. Com as tecnologias digitais, a sala de aula do século XXI consegue

garantir processos de partilha muito mais amplos, indo além do presencial e do

regime síncrono.

− Zona do “Desenvolver”: Todos os espaços de aprendizagem e

produtividade merecem uma àrea de ambiente informal de suporte à reflexão,

aprofundamento e meta-cognição. Com vista a promover a autonomia e

independência dos alunos, há necessidade de permitir espaços mais descontraídos

e não monitorados, onde haja oportunidade de integração de elementos lúdicos que

estimulem a motivação e autoexpressão.

2.2. A ESTÉTICA DOS ESPAÇOS DE SALA DE AULA E OS SEUS

OBJETOS CONSTITUTINTES

A estética dos espaços de sala de aula tem sido excessivamente

negligenciada. Os espaços educativos necessitam ser convidativos, atraentes e

confortáveis. Contudo, essa preocupação tende a decrescer à medida que se

progride nos níveis de ensino. Se ela existe de forma permanente na Educação

Infantil, a monotonia em prol do estabelecimento da ordem pauta frequentemente os

espaços de sala de aula no Ensino Médio e Superior.

Contudo, a investigação tem provado que

students' involvement in the process of creating their environment can empower them, […] and increase motivation. The physical structure of a classroom is a critical variable in affecting student morale and learning (PHILIPS, 2014, s.p.).

De igual modo, ao longo de séculos, os elementos constitutivos do espaço

da sala de aula tenderam a permanecer iguais e a ser mundialmente convergentes.

Apesar de diferenças mínimas associadas a particularidades culturais, as salas de

aula são primordialmente constituídas por mesas, cadeiras individuais e

quadro/lousa. A configuração da sala tende a ser orientada em torno de dois eixos:

vertical ou horizontal, sendo as mesas e cadeiras

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dispostas de fronte para o quadro/lousa junto ao qual se situa o professor. Essa

herança não se encontra alheia ao modelo transmissivo que permanece a imperar.

A actualidade (se não há já muito tempo) requer salas de aula repletas de

outros equipamentos, sendo estes necessariamente robustos, de elevada

portabilidade, integráveis entre si e decomponíveis, de modo que múltiplas

configurações se tornem rapidamente possíveis. A presença das tecnologias

educacionais são igualmente uma prioridade na medida em que

Wireless technology, portable laptop and tablet devices […] Coupled with projectors, microphones, and video cameras, the classroom experience is fully connected to the internet. This provides new ways of teaching and new ways of learning that require specific physical support. (WULSIN JR., 2013, p.2)

2.3. QUALIDADE ACÚSTICA, LUMINOSIDADE, SALUBRIDADE E

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Múltiplos estudos têm relacionado a aprendizagem dos alunos com o local

da sala de aula em que se encontram sentados (Tanner, 2000) bem como os

problemas que os professors apresentam na voz com a qualidade acústica dos

espaços escolares (Mattiske, Oates & Greenwood,1998). Mas a real análise

dessesresultados em muito pouco tem impactado as salas de aula cujo tempo de

vida é de largas décadas.

Por exemplo, num país desenvolvido como os EUA, a idade média dos

edifícios escolares em 1999 era de 40 anos (National Center for Education statistics,

2000). Sem desprimor da história que tais edifício contêm, a verdade é que se torna

difícil acreditar no nível de qualidade acústica, luminosidade, salubridade, conforto e

eficiência energética de tais edifícios.

Especificamente olhando para os níveis de luz em sala de aula, várias

investigações têm alertado para o facto de reduzidos níveis de luz natural em sala

de aula contribuir negativamente para manter os alunos atentos e ativos, ao mesmo

tempo que, num outro extremo, a incisão da luz direta na sala de aula perturba a

visualização dos conteúdos projetos por tecnologia multimédia (Heschong Mahone

Group, 2003). O autor salienta ainda uma realidade

22

com que múltiplos educadores se debatem diariamente, a inadequação dos espaços

escolares para acolher as novas tecnologias digitais.

Nesse sentido, preconizam-se assim os seguintes princípios para o design

de espaços educativos do futuro.

− Flexibilidade: defende-se a necessidade de espaços com estrutura e

configuração flexíveis que permitam movimentos de adaptação de acordo com as

atividades desenvolvidas, as quais devem necessariamente ter carácteres

diferentes, dinâmicas diferentes, permitindo que os alunos experienciem realmente

papéis sociais distintos.

− Personalização: tanto o espaço como os seus elementos devem promover

nos alunos, em cada um dos alunos, um sentido de propriedade e de pertença. O

espaço e seus elementos devem permitir criar oportunidades de aprendizagem

cientificamente coerentes, mas individualmente significativas para cada aluno. As

salas de aula merecem deixar de ser vivenciadas como ambientes impessoais e não

personalizáveis.

− Inovação: Pedro et al. (2011) sistematizaram recentemente as

competências identificadas como relevantes para o aluno do século XXI (21st-

century skills). Da revisão sistemática de 17 referenciais teóricos de notoriedade

internacional publicados sobre a matéria foi possível verificar que as competências

metacognitivas associadas à criatividade e à capacidade de inovação surgem na

linha da frente. Nesse sentido, preconiza-se fundamental que a inovação seja

integrada como principio orientador do design de espaços, dinâmicas e recursos de

suporte à aprendizagem. É difícil conceber a aprendizagem e o exercício da

inovação e da criatividade em espaços onde elas são referidas, mas raramente

vivenciadas. Simultaneamente, o suporte à organização de atividades inovadoras

deve ser articulado com novas visões pedagógicas e com o desenvolvimento de

outras competências para o século XXI.

− Comunicação: os espaços educativos tendem a entender a comunicação

como um processo primordialmente estabelecido de forma unidireccional, do

professor para o aluno. As mais comuns configurações de salas de aula

demonstram essa realidade.

23

Figura 1: Configurações tradicionais de salas de aula

Apesar disso, não existe comunicação efectiva quando esta se regista

apenas num sentido unidireccional e garantidamente por si só esta não garante a

aprendizagem. Os alunos têm que se sentir estimulados a comunicar com todos os

agentes que se encontram no espaço de sala de aula. E se, tradicionalmente, esta

era habitada por professores e alunos, unidos pelos vectores espaço e tempo, hoje a

tecnologia permite-nos ter outros agentes em aula, ao mesmo tempo que permite

que, por situações especiais, professores ou alunos possam ter que estar noutro

local num mesmo momento no tempo.

− Colaboração: tem se tornado consensual a necessidade de promover em

sala de aula práticas de trabalho menos individualistas e que estimulem mais a

capacidade de cooperar e colaborar. Contudo, essa preocupação centra-se

excessivamente naquilo que é o trabalho do aluno e menos no que diz respeito às

práticas dos professores ou aos hábitos de fechamento das próprias instituições

escolares. Escolas e professores necessitam igualmente estabelecer práticas de

colaboração, colocando-se em articulação com diferentes parceiros (pedagogos,

psicólogos, especialistas científicos, pais, empresas, investigadores em educação,

formadores de professores, arquitectos, designers, decisores políticos, etc.). Criar

práticas regulares de comunicação com múltiplos agentes é na verdade a única

forma de resolver os problemas educacionais, na medida em que a maior parte

deles extravasa em muito aquilo que é a função e a capacidade do professor ou da

própria escola.

− Acessibilidade: o conceito de inclusão, mais do que juridicamente

proclamado, necessita ser uma realidade estabelecida em todos os contextos

educativos. Por inclusão entende-se total equidade no acesso à experiência

24

educativa e formativa de todos e cada um dos alunos, promovendo a presença deles

naqueles que devem ser os seus contextos naturais de vida. A acessibilidade será

assim conseguida pelo ajustamento adequado da configuração dos espaços e

respectivos ambientes, pela seleção de conteúdos, serviços, estratégias e atividades

de aprendizagem acessíveis a qualquer estudante, independentemente do

momento, condição ou contexto.

− Sustentabilidade: associa-se ao desenvolvimento de soluções educativas

que revelem impacto favorável naquilo que são os principais outcomes de

professores e alunos, o que se refere a variáveis como a motivação e o desempenho

académico dos estudantes, o envolvimento e a satisfação profissional dos

professores. Importa contudo salientar que essas soluções necessitam revelar-se

ecológica, social e economicamente suportáveis, garantindo-se assim a sua

viabilidade atual e futura.

Em súmula, entende-se primordial o desenvolvimento de espaços

educativos que tenham subjacente a ideia de que se pretende desenvolver inovação

educativa, que sejam equipados com múltipla e atual tecnologia e com um layout

adaptável e flexível, de modo a não só permitir, mas realmente estimular a

construção e exploração de novos cenários de aprendizagem com tecnologias

digitais e ambientes on-line analisando o seu poder transformador no que respeita à

educação científica dos alunos como à sua formação integral enquanto seres

humanos.

3. QUE NOVAS TECNOLOGIAS?

Não se pretende percorrer toda a historicidade dos artefactos tecnológicos e

a forma como eles têm modificado o nosso modo de gerir a informação e de

estabelecer interacções sociais. Respeitando as tendências mais vanguardistas (da

internet-of-thing‟ ou da tecnologia wearable), pretende-se antes centrar a atenção no

paradigma que actualmente impacta já a maioria dos cidadãos. Falemos então da

tecnologia móvel; desta salientam-se os tablets e smartphones.

As vantagens encontradas em tais equipamentos parecem ser muito

significativas e potencialmente transformadoras do

25

processo de ensino-aprendizagem. De acordo com Ozuorcun e Tabak (2012), a

marcada redução do seu custo, a portabilidade, robustez, conetividade, a

multiplicidade de aplicativos gratuitamente disponíveis, a capacidade de

armazenamento, a adaptabilidade e usabilidade de tais equipamentos trazem

grandes oportunidades para suporte à aprendizagem individual, mas também

colaborativa.

As múltiplas funcionalidades de tais equipamentos são bem conhecidas

pelos nossos estudantes. O celular funciona hoje como uma extensão da sua

memória, um gestor pessoal do seu tempo e suas responsabilidades, um arquivo

identitário (já que parte da sua identidade reside on-line), um ancorador das suas

interacções sociais, uma extensão não orgânica de si.

Contudo, como refere Carvalho (2012), esta “geração móvel” considera estar

habituada a explorar as funcionalidades e aplicativos dos seus celulares, mas reage

com surpresa e mesmo com desconforto quando se lhes pede para usar essa

tecnologia para aprender. Mas não há porquê tais equipamentos serem impedidos

de servir de base a pesquisa, arquivo, produção e partilha da informação no espaço

da sala de aula. Não há sequer necessidade de adicionar a essa premissa a ideia de

“mas sempre com as necessárias regras e imprescindíveis cuidados”, pois qualquer

metodologia pedagógica implementada em sala de aula requer sempre as

necessárias regras e os imprescindíveis cuidados.

Na verdade, a questão da integração das tecnologias móveis em contexto

escolar, e em particular na sala de aula, tem assumido já sobeja importância sendo

salientada por entidades de relevo como seja a Comissão Europeia ou a Unesco

(Digital Agenda for Europe, 2013; Unesco, 2013). O mobile learning e a mobilização

das tecnologias para o ensino, desenvolvimento social e competitividade económica

das sociedade conferem reconhecimento ao uso de tais equipamentos como forma

de atingir maiores níveis de acesso e equidade à educação, num momento mundial

em que ela se perspetiva e ambiciona para todos. Pela ubiquidade inerente a esses

aparelhos móveis, não os utilizar em contexto escolar equivale a uma perda de

substanciais oportunidades de aprendizagem.

4. CINCO IDEIAS CONCLUSIVAS

26

No sentido de finalizar este artigo procurando agregar ideias fundamentais

no que respeita à educação, à escola e à sala de aula do futuro, apresentamos cinco

ideias que, de forma articulada, acreditamos que podem inspirar a reflexão e a

inovação nas práticas escolares.

A primeira ideia diz respeito à aprendizagem ubíqua, ou seja, aprendizagem

entendida como algo que ocorre em qualquer lugar e em qualquer momento. Essa

ideia de aprendizagem ubíqua é coerente com a perspetiva da aprendizagem como

parte integrante das práticas sociais.

Sendo o objetivo a aprendizagem de um conjunto de conceitos, ideias e

processos por parte dos estudantes, é preciso criar os ambientes (espaços e

tempos) mais adequados para as práticas sociais de que essas aprendizagens são

parte integrante. E naturalmente que aqui se inclui a exposição de ideias e

procedimentos por parte do professor e do educador mas não se restringe a isso.

Valoriza-se todos os espaços e tempos em que os estudantes atuam enriquecendo

esses espaços e esses tempos com elementos que favoreçam as aprendizagens

que se pretendem para esses alunos no quadro das suas práticas sociais.

A segunda ideia refere-se ao acesso livre a informação de qualidade por

meio das aplicações da web 2.0 e, cada vez mais, da dimensão semântica

materializada na chamada web 3.0. O acesso universal aos recursos da web é ainda

utópico, mas aproximamo-nos cada vez mais da situação em que esse acesso se

torna essencial para uma enorme variedade de atividades sociais diárias. Também

na área da educação e formação esse acesso tem vindo a crescer e a tendência

será a apropriação e o uso desse acesso por parte das instituições educativas.

A terceira ideia é relativa à importância de considerar a educação em

habitats digitais (WENGER, 1998). Considera-se aqui a ideia de habitat como um

espaço de ação com características específicas que permitem que uma dada

espécie (comunidade) possa sobreviver e desenvolver-se, sendo que nesse espaço

de ação se identifica sempre uma relação dialética entre o ambiente e a espécie

criando contextos específicos e mantendo um dinâmica própria do habitat.

Essa relação dinâmica é mutuamente definida entre a espécie e o lugar. É

nesse sentido que as comunidades de prática necessitam de habitats para existir e

27

para se desenvolver. Os habitats digitais incluem ligação a espaços baseados nas

tecnologias digitais e podem constituir uma parte maior ou menor dos habitats das

comunidades, mas atualmente é cada vez mais frequente reconhecer-se a dimensão

digital em qualquer habitat e em qualquer comunidade.

A quarta ideia refere-se à necessidade de reforço da atenção ao contexto da

interação e colaboração entre os estudantes e destes com o mundo social. É

essencial repensar a importância do redesign nos modelos pedagógicos, nos

equipamentos e nas atividades que se desenvolvem nos habitats escolares. É nesse

sentido que o ambiente que é criado intencionalmente em meio escolar para

promover aprendizagens deve ser coerente com os objetivos do ensino e do

professor, quer em termos da interação humana quer em termos do modelo

pedagógico adoptado.

Finalmente, e como quinta ideia, faz-se referência explícita à necessidade de

reforçar o combate aos QWERTY da Educação. Papert (1980) chamava a atenção

para o facto de que os teclados dos computadores têm a primeira linha de teclas

com uma configuração de letras que, quando juntas, formam a sequência QWERTY.

As razões subjacentes a essa distribuição das teclas tem origem nas antigas

máquinas de escrever em que o sistema de impressão se baseava em hastes

metálicas que, ao acionadas, batiam sobre uma fita de tinta que imprimia os

respetivos carateres diretamente no papel. Dado que havia uma tendência para que

as hastes ficassem presas, definiu-se uma distribuição das letras nas três linhas de

teclas de modo que fossem colocadas nas extremidades do teclado as letras que

mais frequentemente surgissem juntas nas palavras numa dada língua. Por essa

razão havia outras configurações de distribuição das letras de acordo com a língua.

O facto é que a distribuição QWERTY prevaleceu mesmo após as máquinas

de escrever mecânicas terem sido substituídas por máquinas elétricas (sem hastes)

e pelos computadores e ainda mais recentemente com a sua virtualização em

tablets e smarthphones. A distribuição das letras no formato QWERTY não tem

assim qualquer justificação racional atualmente a não ser o facto de sempre ter sido

assim. É exatamente essa força de inércia que os procedimentos tradicionais têm

nas práticas em educação que é preciso combater. Metaforicamente, é necessário

combater os QWERTY da educação e da formação, algo que só pode ser realizado

28

por meio da inovação, a qual se entende fundamental para (re)pensar o futuro da

educação e dos multiplos espaços (formais) que a suportam.

5. REFERÊNCIAS

CARVALHO, A. A. Aprender na era digital: Jogos e Mobile-Learning. Santo Tirso: DeFacto Editores, 2012. DIGITAL AGENDA FOR EUROPE, 2013. Digital Agenda Assembly 2013. Disponível em: <https://ec.europa.eu/digital-agenda/en/digital-agenda-assembly-2013-0>. Acesso em: 20 set 2015. EUN PARTNERSHIP (2014). Future Classroom Lab- Learning zones. Disponível em: <http://fcl.eun.org/learning-zones>. Acesso em: 20 set 2015. LAVE, J.; WENGER, E. Situated Learning: Legitimate Peripheral Participation. Cambridge: Cambridge University Press, 1991. MATOS, J. F. Towards a learning framework in mathematics: taking participation and transformation as key concepts. In: PINTO, M.; KAWASAKI, T. (Ed.). Proceedings of the 34th Conference of the International Group for the Psychology of Mathematics Education. Belo Horizonte: PME, 2010. vol.1, p. 41-59. NATIONAL CENTER FOR EDUCATION STATISTICS. Condition of America's Public School Facilities: 1999. Washington, DC: U.S. Department of Education Office of Educational Research and Improvement, 2000. OZUORCUN, N. C.; TABAK, F. Is M-learning versus E-learning or are they supporting each other? Procedia – Social and Behavioral Sciences, n. 46, p. 299-305, 2012. PAPERT, S. Mindstorms: children, computers and powerful ideas. Nova Iorque: Basic Books, 1980. PEDRO, N. et al. Teacher skills and competence development for classrooms of the future. Disponível em: <http://itec.eun.org/c/document_library/get_file?p_l_id=10307&folderId=37321&name=DLFE-2213.pdf>. Acesso em: 2 out 2015. PHILIPS, M. Place for Learning: The Physical Environment of Classrooms. Disponivel em: <http://www.edutopia.org/blog/the-physical-environment-of-classrooms-mark-phillips>. Acesso em: 13 out 2015. UNESCO. Policy Guidelines for Mobile Learning. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0021/002196/219641e.pdf>. Acesso em: 13 out

2015.

29

WENGER, E. Communities of Practice: learning, meaning and identity. Cambridge: Cambridge University Press, 1998 WULSIN JR., L. R. Classroom Design: Literature Review. Disponível em <https://www.princeton.edu/provost/space-programming-plannin/SCCD_Final_Report_Appendix_B.pdf>. Acesso em: 13 out 2015.

30

RELATO DE EXPERIÊNCIA

SUBTEMA 1:

O uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) em práticas de ensino escolares

Resumo: As TIC podem ser definidas como um conjunto de recursos

tecnológicos utilizados para mediar situações didáticas em espaços

educativos nos processos de ensino e aprendizagem. Ao longo de seu

desenvolvimento, esse novo paradigma tecnológico associado às

transformações sociais, econômicas e culturais tem sido um

instrumento que ajuda a pensar, aprender, conhecer, representar e

transmitir a informação para outras pessoas e gerações. Nesse

sentido, dentro desse subtema, podem ser apresentados trabalhos

desenvolvidos em práticas de ensino escolares que envolvam o uso de

conteúdos digitais, de simuladores, de e-mail, de chats, de fóruns, de

comunidades virtuais, de agendas on-line, de redes sociais, de

comunicadores on-line, de blogs, de websites, de tablets e de telefones

celulares (incluindo todas as suas funcionalidades e aplicativos), de

gravadores de som, de filmadoras, de câmeras fotográficas, etc.

31

TECNOLOGIAS E ENSINO DE MATEMÁTICA: UMA RELAÇÃO QUE PODE DAR CERTO

Alessandro Marques Calil

Resumo: Este artigo mostra os estudos efetuados em duas turmas de 9º ano

do ensino fundamental, situadas em uma escola da cidade de Juiz

de Fora/MG, nos anos de 2013/2014, com o objetivo de buscar uma

melhora para o ensino de Matemática na referida

série,particularmente o ensino de funções polinomiais de 1º grau e

o estudo e análise dos gráficos das mesmas, buscando também um

melhor aprendizado do conteúdo e,consequentemente, uma melhor

interpretação destes gráficos. Foi utilizado o software

GRAPHMATICA e, as aulas foram desenvolvidas no laboratório de

Informática da escola e na sala de aula tradicional. Os alunos

utilizaram o software, comparando os gráficos obtidos com as

soluções iniciais feitas no caderno, onde acreditamos que o

programa foi um motivador e facilitador do aprendizado. Outra turma

não utilizou o programa.

Abstract: This article shows the studies carried out in two classes of the

9thgrade of secondary education, located in a school in the city of

Juiz deFora/MG in the years 2013/2014, with purpose of improving

the teaching of mathematics in that grade, in particular first degree

polynomials functions, and the study and analysis of their respective

graphs, aiming at improving content learning and, consequently, a

Doutorando em Educação Matemática na Universidade Anhanguera de São Paulo. Professor de Matemática nas redes pública e particular de Juiz de Fora/MG. Email: [email protected]

32

better interpretation of these graphs. The GRAPHMATICA software

was used and the lessons were held in the school computer lab and

traditional classroom environment. The students used the software to

compare the graphs obtained with the initial solutions made in their

notebook, and we believe that the program motivated and facilitated

learning. The other class did not use the program.

Palavras-chave: Funções. Gráficos. Matemática.

Keywords: Functions. Graphics. Mathematics.

O ENSINO DE MATEMÁTICA E A UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS

Sabemos que a escola tem como um de seus objetivos principais formar

cidadãos prontos para o convívio em sociedade e, que estejam prontos para

acompanhar todos os avanços do mundo. Particularmente neste trabalho, a

informática na suas vidas, inclusive dentro da escola. Esta visão é bem defendida

por Borba e Penteado (2002):

O acesso à informática deve ser visto como um direito e, portanto, nas escolas públicas e particulares o estudante deve poder usufruir de uma educação que no momento atual inclua, no mínimo, uma „alfabetização tecnológica‟. Tal alfabetização deve ser vista não como um Curso de Informática, mas, sim, como um aprender a ler essa nova mídia. Assim o computador deve estar inserido em atividades essenciais, tais como aprender a ler, escrever, compreender textos, entender gráficos, contar, desenvolver noções espaciais etc. (p. 17)

É fato que todos os setores das sociedades de todo o mundo, utilizam

recursos tecnológicos em suas atividades, em sua grande parte, computadores.

Segundo D‟Ambrosio (2002,p. 60) “a teleinformática impõe-se como uma marca no

mundo neste final de século, afetando todos os setores da sociedade”.

Nos vemos então obrigados a aceitar a ideia que com a escola não pode ser

diferente e que pode ser o lugar ideal para utilizar o que pode ser uma poderosa

33

ferramenta de ensino. Segundo Borba e Penteado (2002, p. 17):

[...] o acesso à informática na educação deve ser visto não apenas como

um direito, mas como parte de um projeto coletivo que prevê a

democratização de acessos a tecnologias desenvolvidas por essa mesma

sociedade. É dessas duas formas que a informática na educação deve ser

justificada: alfabetização tecnológica e direito ao acesso.

A relação, não só da Matemática mas, das diversas disciplinas escolares fica

mais evidente a cada dia. Computadores, calculadoras e internet são palavras que já

fazem parte do cotidiano escolar e, portanto, devem ser aceitos pelos educadores.

Vemos escolas com salas de informática bem montadas mas, as mesmas

pouco utilizam estes recursos de forma adequada. Temos que admitir que a escola

não pode mais esperar para se adequar à utilização de recursos tecnológicos em

seus programas de ensino, para uma tentativa de superar problemas na prática de

ensino tradicional.

Mas o que vemos em muitas pesquisas que envolvem ensino e tecnologias

que as instituições de ensino pouco se utilizam da ferramenta tecnologia como

auxilio de ensino de conteúddos educacionais. Este fato pode ser confirmado por

Sório (2004), em sua dissertação de Mestrado, defendida na PUC-RS Pontifícia

Universidade Católica do Rio Grande do Sul, concluindo que os professores da rede

estadual de Porto Alegre/RS pouco usam a tecnologia como auxilio de ensino de

suas disciplinas.

Nos dias de hoje, nossas crianças já nascem em um mundo altamente

tecnológico e, chegam nas escolas com esta tecnologica “entranhada em suas

células” portanto, a escola não pode estar alheia à este poderoso recurso de auxílio

de ensino, pois com toda certeza, um lap top é de muito maior interesse para um

estudante que lápis e papel, sem levar em conta que recursos computacionais já

substituem vários materiais escolares.

Segundo Bicudo (2001):

O movimento, a velocidade, o ritmo acelerado com que a Informática imprime novos arranjos na vida fora da escola caminham para a escola, ajustando e transformando esse cenário e exigindo uma

34

revisão dos sistemas de hierarquias e prioridades tradicionalmente estabelecidos na profissão docente (p. 309).

Portanto, não podemos negar que a tecnologia está presente em nosso

cotidiano e, as mesmas, podem modifcar o processo de aprendizagem de conteúdos

escolares.

Vivemos em um mundo onde “respiramos” tecnologias. Então, não podemos

estar alheios que os recursos tecnológicos vão se desenvolvendo muito rápido e

estão presentes em quase todos os momentos em nossa vida, inclusive na escola,

ficando assim impossível ignorar que não são fundamentias para nossa vivência em

uma sociedade atual.

As tecnologias estão presentes em todos os setores da sociedade (inclusive

na Educação) e revolucionam nossa vida.

Segundo D‟Ambrosio (2002):

Como consequência na Educação, não há como escapar. Ou os educadores adotam a teleinformática com absoluta normalidade, assim como o material impresso e a linguagem, ou serão atropelados no processo e inúteis na sua profissão. Procurem imaginar um professor que rejeita os meios mais tradicionais: falar, ver, ouvir, ler e escrever. Lamentavelmente ainda há alguns que só praticam o falar! (p. 60).

De acordo com Kenski (2008, p. 2), a utilização de tecnologias criam mudanças e

alterações em uma sociedade. A mesma julga não ser somente uma questão de

popularização:

A evolução tecnológica não se restringe aos novos usos de determinados equipamentos e produtos. Ele altera comportamentos. A ampliação e a banalização do uso de determinada tecnologia impõe-se à cultura existente e transformam não apenas o comportamento individual, mas o de todo o grupo social.

Ainda, defendendo este mesmo pensamento, Oliveira (2008, p. 81), defende que:

Na contemporaneidade, as tecnologias digitais de informação e comunicação estão presentes de forma intensa no cotidiano das pessoas. Permeiam a maior parte dos processos, de maneira condicionante, tendo a informação como

elemento básico. Estruturam-se em termos lógicos na forma de redes, mantendo a possibilidade de resgate dos dados dos processos, das articulações.

O ensino dito tradicional, com aulas expositivas, onde o professor é o detentor

do conhecimento e o aluno um mero receptor, já está

35

sendo questionado quando acreditamos que a informática abre possibilidades de

mudança na construção de conhecimentos, ajudando aos alunos a superarem

problemas de aprendizagem, sem levar em conta que o ensino tradicional não mais

atrai atenção dos estudantes. Como então a escola pode se afastar do uso das

tecnologias?

A disponibilidade de computadores e calculadoras para alunos e professores

já é uma realidade. Bicudo (2001), em seu livro Pesquisa em Educação Matemática:

Concepções e perspectivas, afirma que:

[...] precisa considerar que o computador passará a constituir essa profissão, mobilizando os atores normalmente presentes no seu cenário e trazendo consigo muitos outros atores. O movimento, a velocidade, o ritmo acelerado com que a informática imprime novos arranjos na vida fora da escola caminham para a escola, ajustando e transformando esse cenário e exigindo uma revisão dos sistemas de hierarquias e prioridades tradicionalmente estabelecidos na profissão docente. (p. 309)

A utilização de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) no ensino

de tópicos da Matemática e seu trânsito dentro da Educação Matemática, é um

instrumento que abre a possibilidade de transformação da prática educativa.

Em seu artigo sobre aprendizagem significativa de Matemática, Silva (2008),

coloca que:

O computador tem sido cada vez mais explorado como auxiliar no processo de ensino e aprendizagem. Aliado à sua utilização cada vez mais disseminada em todas as áreas, está à necessidade de inovação em métodos de ensino, com técnicas efetivas e atraentes ao aluno. Em relação à Matemática, ele presta de uma forma surpreendente, barata e simples, se levar em conta a grande quantidade de softwares gratuitos existentes. (p. 3).

Sendo assim, não podemos, como educadores, estarmos alheios à estas

mudanças que vem ocorrendo no processo de ensino. Temos que acompanhar as

mudanças do mundo e, a escola, consequentemente não pode estar fora dela.

2 A UTILIZAÇÃO DO SOFTWARE E METODOLOGIA

O motivo da escolha do software foi porque o mesmo facilita a elaboração de

gráficos, auxiliando na confecção dos mesmo e, assim ganhando tempo para uma

maior análise dos mesmos e, como é fácil de manipular, incentiva e motiva os

alunos.

36

[...] para possibilitar ao aluno construir seu conhecimento, é preciso que o professor escolha um tipo de software adequado para isso. [...] É imprescindível que o professor tenha profundo conhecimento do conteúdo que trabalhará e do software que adotará. Além disso, ele deve estar sempre interagindo com o aluno, questionando seus resultados, interpretando seu raciocínio e aproveitando os erros cometidos como forma de explorar os conceitos que não ficaram bem esclarecidos. Assim, o professor estará claramente, utilizando o computador como ferramenta inteligente, enquanto ele desempenha um papel facilitador entre o aluno e a construção do seu conhecimento. (CLÁUDIO; CUNHA, 2001, p.174-175).

O Software GRAPHMATICA, possui uma interface de fácil manipulação e, é

possível conseguir uma versão free, o que diminui custos para sua utilização e, a

metodologia utilizada foi a abordagem dos conceitos fundamentais de função

polinomial do 1º grau em sala de aula tradicional, como lei de formação, domínio de

função, revisão de plano cartesiano etc.

Já os gráficos foram feitos no laboratório de informática, com a utilização do

software, após apresentação do mesmo pelo professor.

Foram construídos gráficos após a apresentação dos problemas referentes ao

conteúdo estudado e, várias análises foram feitas como mudança ou conservação

dos coeficientes angular e linear, função constante, relações com a disciplina Física,

entre outros. Vejamos alguns exemplos:

Gráfico 1 - Gráfico da função f(x) = - x + 4

Fonte: Elaborado pelo autor

37

Gráfico 2 - Gráficos das funções f(x) = x + 3, f(x) = x – 2 e f(x) = x – 4 (paralelismo entre

retas)

Fonte: Elaborado pelo autor

Gráfico 3 - Gráficos das funções f(x)= -x + 2, f(x) = x + 2 e f(x) = -2x + 2 (não alteração do

coeficiente angular)

Fonte: Elaborado pelo autor

Também foram comparados os resultados entre duas turmas: uma que

utilizou o programa e outra que ficou somente com o ensino tradicional, ou seja

dentro da sala de aula convencional, para que fossem feitos estudos de avanços ou

igualdades de aprendizagem entre as turmas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, podemos observar que a assimilação do conteúdo funções

polinomiais do 1º grau foi muito melhor, quando comparado com a turma que não

38

utilizou o computador.

O computador permitiu que os alunos verificassem com mais facilidade e

rapidez as relações entre coeficientes, pontos e raízes nos gráficos, sem

simplesmente ficarem fazendo contas sem sentido, fazendo-os perceber que a

tecnologia pode auxiliá-los no aprendizado de conteúdos escolares e não somente

ser utilizada para redes sociais ou vídeos.

Os professores devem direcionar suas aulas de forma que o estudo seja

prazeroso para os alunos e, não somente, transmitir o conteúdo em forma de

“receita” e, avalia-los na intenção de aprovar ou reprovar. Realmente dá trabalho

mas, quem disse que é fácil ser professor?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BICUDO, Maria Aparecida Viggiani. Pesquisa em Educação Matemática:

concepções e perspectivas. São Paulo: UNESP, 2001. (Seminários & Debates).

BORBA, M. de C.; PENTEADO, M. G. Informática e educação matemática. 2. ed.

Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

CLÁUDIO, Dalcídio Moraes; CUNHA, Márcia Loureiro da. As novas tecnologias na

formação de professores de Matemática. In: CURY, Helena Noronha (org.).

Formação de Professores de Matemática: uma visão mutifacetada. Porto Alegre:

EDIPUCRS, 2001.

D´AMBRÓSIO, U. Educação matemática: da teoria à prática. 9. ed. Coleção

Perspectivas em Educação Matemática. Campinas: Papirus, 2002.

KENSKI, V. M. Tecnologias e ensino presencial e a distância. 5. ed.

Campinas(SP): Papirus, 2008.

OLIVEIRA, A. S. de. O Ensino de Funções no Movimento da Matemática Moderna

no Brasil. In: XII EBRAPEM, Rio Claro(SP): UNESP, 2008.

39

SILVA, Maria Eugênia de Carvalho. Aprendizagem significativa e o ensino de

função do segundo grau. Disponível em:

<http://www.utp.br/proppe/X%20seminario_pesquisa/Artigos%20completos/FCHLA/A

PRENDIZAGEM%20SIGNIFICATIVA%20E%20O%20ENSINO%20DE%20FUN%C7

%C3O%20DO%20SEGUNDO%20GRAU.doc>. Acesso em:18.dez.2008.

SÓRIO, Maria Helena de Carvalho. Uso de Software no Ensino de Matemática: uma investigação na Rede Estadual de Ensino Médio de Porto Alegre. 2004. 166p.Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e Matemática). Faculdade de Matemática, PUC-RS, Porto Alegre, 2004.

40

Projeto Repórter na Escola Uso de tecnologias em sala de aula

Pâmela Bonkevitch Escola São Francisco de Assis, [email protected] , Rua Rio de Janeiro, São

Lourenço do Oeste, SC, Brasil

Resumo: Este artigo busca refletir sobre as contribuições propiciadas pelo uso das

tecnologias digitais de informação e comunicação em sala de aula,

identificar as possibilidades de mudanças educacionais evidenciadas com

sua inserção nas escolas ligadas a distintos sistemas de ensino público

ou privado. As tecnologias educacionais e o seu uso têm ocasionado

inúmeras discussões permeadas em torno dos prós e contras. Entretanto,

o que são tecnologias educacionais e, principalmente, o que são as novas

tecnologias da educação e como estão sendo utilizadas nas escolas?

Este artigo apresenta um projeto que visa desenvolver em sala de aula a

criatividade, a leitura e a escrita, desenvolvidas de forma interdisciplinar

utilizando os recursos tecnológicos.

Abstract: This article aims to reflect on the contributions offered by the use of digital

information and communication technologies in the classroom, identify

possibilities for educational change evidenced by its inclusion in schools

linked to different public or private school systems. Educational

technologies and their use have caused numerous permeated discussions

about the pros and cons. However, what are educational technologies

and, above all, what are the new technologies of education and how they

are being used in schools? In this article, we developed a project that can

develop in the classroom to explore and develop creativity, reading, and

writing. developed interdisciplinary and using technological resources.

Palavras-Chave: Tecnologia em sala de aula; Comunicação; Novas tecnologias;

41

Educação.

Key-word: Technology in the classroom: communication; New technologies;

Education.

INTRODUÇÃO

Este projeto tornou-se hoje um importante instrumento de caráter

interdisciplinar, pois registra informações referentes às mais diversas áreas do

conhecimento. Como veículo formador de opinião, oferece uma leitura crítica sobre

fatos atuais que devem e precisam ser discutidos em diferentes disciplinas,

contribuindo assim para a formação intelectual e cultural dos alunos. Com o projeto

os alunos são motivados a pensar, criar e elaborar vários ambientes para

desenvolver o que lhes foi ensinado. Estimulados pelas multimídias e pelas

diferentes oficinas eles ficam motivados a aprender o que é proposto de diferentes

maneiras, seja por meio de vídeos, fotos, relatos, escritas etc. A proposta deste

projeto é apresentar os diferentes meios que temos com as tecnologias para atingir

um determinado objetivo, dando-lhes suporte necessários para que isso ocorra. A

escola, os alunos, profissionais de outras áreas e pais caminharam juntos para que

o projeto fosse desenvolvido pois acreditamos que juntos podemos proporcionar

uma educação de melhor qualidade, e inserir nossas crianças as novas tecnologias,

praticando em sala de aula, no ambiente escolar ações que possam ser integrada à

vida no outro lado do muro da escola.

DESENVOLVIMENTO

O Projeto Repórter na escola foi uma experiência vivenciada na cidade de

Araranguá- SC no ano de 2014 com o professor filósofo e escritor José Paulo

Teixeira que incentiva a prática da leitura, filosofia, escrita juntamente com a cultura

digital.

O projeto “Repórter na escola” é uma veia do projeto “ Bom de Ler”, onde os

42

professores e alunos que gostam da leitura são convidados a participar dessas

oficinas.

No projeto “Repórter na Escola”, trabalhamos as multimídias ancorada na

palavra latina media que significa vários meios, integra vários elementos ou aparatos

que podem ser elementos ou dispositivos diferentes interconectados apresentados

como módulos ou como um único produto denominado, geralmente, de computador

multimídia.

Cada meio (ou cada componente de um único aparato que processa

textos, imagens, gráficos e som) trabalha com documentos específicos, cada um

com sua função e, se estes documentos estiverem interligados, entre todos eles

formam um novo documento audiovisual distinto, que podemos chamar de

documento multimídia.

Neste projeto é elaborado várias oficinas sendo elas:

Oficina Bom de Ler, onde o aluno procura despertar os olhares e os

sentidos, a atenção à mensagem e à linguagem, fazendo do Repórter um artista da

palavra e da vida através de uma conexão inteligente entre a cultura do livro e a

cultura digital;

Oficina da Fotografia, onde o aluno aprende as técnicas básicas para

conseguir fotografar com ângulos, foco, luminosidade entre outros recursos próprios

da fotografia;

Oficina do escritor, onde o aluno elabora textos propostos pelos professores;

Oficina das filmagens, o aluno aprende como elaborar uma filmagem, criação

e produção de projetos gráficos e digitais e roteiros.

Oficina da Cultura digital e redes sociais onde o aluno aprende desde o

básico de criar um e-mail, mandar e-mails, anexar arquivos aos e-mails, desenvolver

um blog, publicar textos nos blogs desenvolvidos, alterar, editar, remover o blog.

Este projeto é desenvolvido em etapas. A primeira etapa é elaborada em

sala de aula, conversando sobre a proposta do projeto, depois os professores

desenvolvem atividades de leituras, escritas, atividades

43

que desenvolvem a criatividade e a imaginação para ver onde o aluno se encaixará

melhor e inicia-se as oficinas. Todos os alunos podem passar por todas as oficinas

pois uma dependerá da outra para funcionar.

A oficina de fotografia serve para captar fotos do determinado tema,

Exemplo: Tema sobre as árvores mais bonitas de sua cidade, os alunos terão que

pegar suas máquinas fotográficas/ digitais e terão que tirar fotos das diversas

árvores da cidade, e para isso acontecer serão instruídos como fotografar com mais

qualidade, melhor foco, enquadramento da imagem, analisar se precisa flash ou não

entre outros recursos da fotografia.

Na oficina de imagem e edição utilizando o mesmo exemplo acima, à oficina

é elaborada para criarem vídeos e editarem os vídeos capturados. Os vídeos podem

ser capturados por câmeras profissionais onde os alunos aprenderão a utilizar essas

câmeras, podem ser capturadas também pelas câmeras dos celulares, smartphones

entre outros recursos de capturas de imagens. Depois os alunos aprenderão a editar

os vídeos capturados. Existem vários programas de edição de vídeos, mas o

programa que é básico e tem vários recursos é o Windows Movie Maker, podendo

mostrar outros programas com mais ferramentas para edição.

A oficina da escrita é desenvolvida no editor de texto, dependendo do

sistema operacional da escola pode ser o Word ou outro editor de texto.

Nesta oficina os alunos que realmente gostam de escrever desenvolverão

uma matéria referente ao tema acima, e terão que elaborar textos sobre todas as

fotografias e todas as imagens e também textos que falem sobre o tema proposto.

Chegando na oficina Digital os alunos que tem experiência e que gostam de

trabalhar na frente da telinha do computador desenvolverão blogs para postagem de

todas essas informações recolhidas e elaboradas nas oficinas de fotografia, edição

de imagem e vídeo e os textos elaborados na oficina do escritor.

Uma oficina depende da outra para funcionar, e quando elas todas

caminham no mesmo sentido finalizam o trabalho e concluem com o melhor

trabalho.

44

Quando falamos sobre o projeto “ Repórter na escola”, já imaginamos

repórteres correndo com câmeras, máquinas fotográficas, celulares, tabletes,

smartphones, gravadores entre outros recursos que um repórter utiliza para captar e

buscar informações necessárias para cumprir suas metas. Toda informação tem que

ser elaborada, trabalhada de forma coerente para que todos os públicos sejam

atingidos.

O grande objetivo do projeto é a formação de indivíduos críticos, capazes de

desenvolver uma ação transformadora no meio em que vivem, por meio do

conhecimento e vivência com os diversos elementos culturais e midiáticos. Para que

isso aconteça, o projeto inclui profissionais de diversas áreas, como fotógrafos que

nas oficinais ensinam as técnicas básicas da fotografia, também profissionais de

jornalismo para orientação de como elaborar jornais, elaboração de comerciais,

elaboração de um roteiro, e juntamente com esses profissionais o entendimento

sobre as tecnologias de edição de imagem e de vídeo.

Os objetivos específicos são:

1) criar condições para que crianças e adolescentes desenvolvam

habilidades e competências nas linguagens de comunicação e expressão;

2) investir na consciência crítica e na ampliação do repertório das crianças e

dos adolescentes, por meio das ferramentas de comunicação;

3) investir nos vínculos dos alunos com a escola e com a comunidade, a

partir da produção coletiva e colaborativa de meios de comunicação.

A presença da tecnologia em sala de aula vai além, pois permite aproximar

dois mundos que precisam estar interligados: a Comunicação e a Educação,

Segundo Soares:

“a inter-relação entre a Comunicação Social e a Educação ganhou densidade própria e se afigura, hoje, como um campo de intervenção social. (SOARES, 2001 apud ALMEIDA, 2009, P. 2)

CONCLUSÃO

45

Sabemos que a implantação de novas tecnologias na educação é um

processo lento, requer paciência e superação de inúmeras dificuldades. As escolas

vêm tentando trabalhar com estas novas mídias e tecnologias, e estão buscando o

conhecimento, apesar de alguns professores ainda terem certa resistência. É claro

que alguns professores levarão mais tempo para vencer as suas próprias

dificuldades do que outros e há ainda aqueles que ficarão estagnados. Porém, a

educação tirará proveito desta situação, uma vez que a existência de várias opções

de ensino é ótima e atende aos diferentes interesses educacionais, alguns serão

atendidos através da informática, outros através de recursos que abrangem a

maneira convencional de “dar aulas”. Torna-se claro então que não basta apenas

propostas pedagógicas, ou produção de materiais didáticos, embora claro estas

condições sejam necessárias.

É preciso mais, é preciso que o professor esteja realmente engajado,

interessado, para assim viabilizar a gestão pedagógica juntamente com a gestão de

sistemas e mídias. O crescimento da informática exerce grande impacto na vida da

sociedade moderna. Vários setores de nossa sociedade já estão informatizados.

Portanto, é o momento e a vez do setor educacional ingressar no futuro.

Por um lado, inspira a curiosidade, o fascínio e o interesse do aluno, por

outro lado apavora o professor mantido nos moldes tradicionais de metodologias e

uso de recursos empregados durante seu percurso profissional. Esse professor deve

ser mais bem preparado pelas universidades e, principalmente, valorizado por parte

do governo, o que realmente não vem acontecendo há muito tempo.

A utilização de mídias e tecnologias dentro de uma sala de aula nos dias de

hoje, deixa de ser um fator diferencial e se torna uma necessidade dentro do que

chamamos de educação. Entretanto, as TIC ainda representam um desafio para o

professor, que precisam adaptar-se e enquadrar-se na sua maneira de ensinar a

uma nova dinâmica de aula, assim alcançando seu objetivo como professor e

formador de cidadãos.

Nesse sentido, este projeto proporcionou uma reflexão sobre o alcance da

informática na prática de ensino, que vai muito mais além de discutir este ou aquele

software em si, e chegar a ele pode ser usado para auxiliar nas propostas de

46

mudanças; das próprias mudanças operadas por ele na prática pedagógica.

Portanto, é necessário um conjunto de ações: políticas públicas, apoio da

equipe diretiva, de funcionários da escola e dos pais, além de todo um aparato

ferramental para tornar o ensino-aprendizagem cada vez mais satisfatório e

tornando os discentes capazes de estar inserido em uma sociedade cada vez mais

tecnológica.

COPYRIGHT

Ao submeter este documento, os autores concordam explicitamente em

proporcionar à organização do III Seminário Nacional “Investigando Práticas de

Ensino em Sala de Aula” e I Seminário Internacional de “Práticas Pedagógicas

Inovadoras”a autorização formal para a publicação do mesmo, na vertente online

(Atas Digitais).

REFERÊNCIAS

ASSIS, Juliana Alves. Ensino/aprendizagem da escrita e tecnologia digital: o e-

mail como objeto de ensino e de trabalho. In: COSCARELLI, Carla Viana; Ribeiro,

Ana Elisa (Orgs.). Letramento digital: aspectos sociais e possibilidades pedagógicas.

Belo Horizonte: CEALE; Autêntica, 2005, p. 209240. Disponível em:

http://www.pucminas.br/imagedb/mestrado_doutorado/publicacoes/PUA_ARQ

_ARQUI20121016143420.pdf . Acesso em: set. 2015.

BALULA, João Paulo Rodrigues. Desenvolvimento de estratégias de leitura

funcional através do ensino/aprendizagem da língua portuguesa no 3º Ciclo do

Ensino Básico. Disponível em:

http://repositorio.ipv.pt/bitstream/10400.19/968/1/Balula%282008%29.pdf . Acesso

em: set. 2015.

COUTINHO, Clara Pereira. Tecnologias Web 2.0 na sala de aula: três propostas de

futuros professores de Português. Educação, Formação & Tecnologias, v. 2, n. 1,

maio 2009. Disponível em: http://www.eft.educom.pt/index.php/eft/article/view/46/54 .

Acesso em: set. 2015.

47

FARIA, Paulo. Integração curricular das tecnologias educativas no ensino da língua

portuguesa: um blog para desenvolver a leitura e a escrita. Educação, Formação

& Tecnologias, v. 1, n. 2, nov. 2008. Disponível em:

http://eft.educom.pt/index.php/eft/article/view/57/37 . Acesso em: set. 2015.

FREITAG, Raquel Meister Ko; FONSECA E SILVA, Marineide. Uma análise

sociolinguística da língua utilizada na internet: implicações para o ensino de

língua portuguesa. Revista Intercâmbio, São Paulo, v. 15, 2006. Disponível em:

http://revistas.pucsp.br/index.php/intercambio/article/view/3689/2414 . Acesso em:

set. 2015.

MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos; BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias

e Mediação Pedagógica. 16. ed. Campinas: Papirus,

Digital Citizenship: Cidadania Digital Os nove elementos da Cidadania Digital

48

CHAGAS, Cristina Pereira1, Yuri Afonso Berri2 e Patrícia da Silva Tristão3

1 Colégio Pe. João Bagozzi, [email protected], Curitiba Paraná, Brasil 2 Centro Universitário Internacional UNINTER, [email protected], Curitiba,

Paraná, Brasil. 3 Centro Universitário Internacional UNINTER, [email protected], Curitiba,

Paraná, Brasil.

Resumo: Este relato tem como objetivo levantar questões sobre o tema

Cidadania Digital, de como as novas Tecnologias da Informação e

Comunicação (TIC) influenciam o modo de vida dos indivíduos, e,

consequentemente, exercem impacto sobre a cidadania. As

características que tangem a Cidadania Digital serão visitadas sob a

análise de nove elementos propostos pelos autores Mike Ribble e

Gerald Bailey no livro Digital Citzenship in Schools. Também

contemplamos a atividade realizada em sala de aula com o grupo de

mestrandos de Educação e Novas Tecnologias do Centro Universitário

Internacional Uninter. Subtema: O uso das TIC em práticas de ensino

escolares.

Abstract: This article aims to raise questions on the subject of digital citizenship,

of how new Information and Communication Technologies (ICT)

influence the way of life of individuals and consequently have an impact

on citizenship. The characteristics that concern digital citizenship will be

visited in the analysis of nine elements proposed by the authors Mike

Ribble and Gerald Bailey in the book Digital Citzenship in Schools. This

article also contemplate the activity performed in the classroom with the

masters of group Education and New Technologies of the International

UNINTER University Center. Sub-theme: The use of ICT in school teaching

practices.

Palavras-Chave: Cidadania digital. Educação. TIC. Blog. Portal Positivo.

Key-word: Digital citizenship. Education. ICT. Blog. Positivo portal.

INTRODUÇÃO

Em menos de 30 anos, a sociedade presenciou o surgimento celulares, laptops e

tocadores de mp3 em que inicialmente tinham um custo

49

alto e, portanto, consumidos por poucos, para uma realidade atual na qual existem

indivíduos que não são capazes de viver sem eles. Muitos de nós até nos sentimos

perdidos sem os dispositivos digitais ao ponto de esquecermos datas, números de

telefones, compromissos, entre outros. No entanto, com o acesso a toda essa

tecnologia, ficam questionamentos essenciais: “Já refleti alguma vez se estou

usando essa tecnologia apropriadamente?”. “Será que esse pensamento sequer

invadiu minha mente?” “Se eu, docente, pensar sobre isso, estarei ensinando meus

alunos a serem mais responsáveis por seus comportamentos e agir da mesma forma

em casa?” “Posso desenvolver uma linguagem comum com a qual eu consiga falar

com alunos e seus pais sobre o comportamento adequado para o uso da

tecnologia?”.

Em tempos em que as tendências se consolidam num piscar de olhos. Surgem

algumas propostas, sobram muitas questões. Qual a moral, quais as leis, e quais

condutas devem adotadas no meio digital sem que o maior bem da internet - a

liberdade - seja comprometido?

Buscando responder as preocupações humanas, culturais e sociais relacionadas

à tecnologia e a prática de um comportamento ético e legal, explicitaremos a seguir

o conceito de cidadania digital e suas dimensões.

CIDADANIA DIGITAL

Em meio à formação social, grandes densidades demográficas se aglutinaram

dando origem às cidades. Estas precisaram se desenvolver como organismos para

que se sustentassem, assim como a qualidade de vida de seus habitantes. Então, os

exercícios de cidadania seriam como uma via de mão dupla, gerada por ofertas e

demandas das comunidades que habitam a cidade. Na definição do Dicionário

Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (2010) observa-se o cidadão como “o que goza

dos direitos políticos de um estado livre”, ou como “habitante da cidade”. Enquanto

cidadania refere-se à “qualidade do Cidadão”. Estas definições são sucintas, mas

sem muita objetividade. Já em sites de busca – muito utilizados por nossos e alunos

– como o no www.significados.com.br o termo cidadania é apresentado de forma

mais atual, e imparcial:

50

Cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e sociais estabelecidos na constituição. Uma boa cidadania implica que os direitos e deveres estão interligados, e o respeito e cumprimento de ambos contribuem para uma sociedade mais equilibrada. (2015)

Esta definição é mais atual e engloba características de cidadania vista sob um

prisma mais interligado com as sociedades contemporâneas e utilizadoras de

Tecnologias de Informação e Comunicação. No entanto, vale rever conceitos

definidos no passado que fazem referência às interações entre a cidade e seus

habitantes. Aristóteles apud Bustamente (2010) escreve: "a pólis não pode se

estender além do alcance da voz dos cidadãos, pois sua essência é o diálogo

democrático que se manifesta na ágora como ponto de encontro".

Apesar das palavras de Aristóteles fazerem referência a um modelo social que

não possuía as novas TIC, suas palavras seguem atuais. Ele já destaca o diálogo

democrático como essência do exercício do cidadão, porém, sem contradizê-lo. Com

as novas TIC a voz do cidadão ganhou um novo alcance, e o espaço/tempo dessa

manifestação não obedece necessariamente às leis da física, ou às capacidades do

corpo humano. Daí surgem as ideias de “meios de comunicação como extensão do

homem” e de “Aldeia Global” de Marshall Mcluhan1.

Ou seja, se hoje temos ferramentas que permitem com que nossas vozes

atravessem fronteiras pelo mundo, qual o alcance da voz do cidadão? E como

podem ser definidos os valores morais, ou legais, que fundamentam as

características singulares de cada cultura já que no mundo digital todas fazem parte

de uma mesma aldeia que busca seu equilíbrio?

A “aldeia global”, porém, ainda não exercia a cidadania, tendo em vista de que a

cidadania é um diálogo. Mcluhan não estava errado. Ele morreu no início da década

de 80, quando a internet e a interação do receptor no processo de comunicação

ainda não impactavam de forma tão contundente na população mundial.

Atualmente, as novas tecnologias incluem o receptor como elemento ativo no

processo de comunicação, então surge o diálogo. Para complementar Mcluhan,

Bustamente (2010, p. 22) destaca: “o feito de que a informação sobre o que está

acontecendo se propague instantaneamente converte os receptores em

1 Foi educador, intelectual, filósofo e teórico da comunicação canadense.

51

protagonistas. Como tais, cobram um papel na hora de definir ou modificar o curso

dos acontecimentos. ”

À medida que a comunicação se torna um caminho de mão dupla, os dispositivos

tecnológicos evoluem e envolvem outras informações e interações possíveis no

processo de diálogo e cidadania.

AS TRÊS REPs E OS NOVE ELEMENTOS DA CIDADANIA DIGITAL

Segundo Ribble e Bailey (2007), “Cidadania Digital pode ser definida pelas

normas de comportamento responsável e apropriada, relacionada ao uso de

tecnologia”. Eles dividem cidadania digital em nove elementos, que obedecem a três

princípios chamados de REPs (respeito, educação e proteção).

Segundo os autores, o conceito das REPs serve para explicar, bem como ensinar

sobre os temas da cidadania digital. Eles sugerem que a cidadania digital deve ser

estimulada nas escolas, e também propõe um modelo de atividade onde os três

princípios das REPs compreendem os nove elementos da Cidadania Digital.

Os três princípios do conceito das REPs e nove elementos são apresentados a

seguir:

1. Respeito a si mesmo/Respeito aos outros

O primeiro elemento, a Etiqueta Digital de acordo com Ribble e Bailey (2007) é

considerada um dos temas mais preocupantes dentro da cidadania digital. Os

autores destacam que as leis, regras e normas regulam o comportamento dentro de

parâmetros, mas não definem as boas condutas no mundo digital. Defendem ainda,

que a etiqueta digital deve ser estimulada por meio da educação.

Segundo elemento, o Acesso: considera-se a importância da inclusão da

sociedade em sua totalidade à equitação eletrônica. Organizações com acesso

limitado também deveriam rever suas ferramentas eletrônicas. De acordo com os

conceitos dos autores, o aumento do acesso digital desenvolve cidadãos mais

produtivos.

Terceiro elemento, a Lei: as leis digitais são tema de grande discussão. As leis

são formadas pela moral da sociedade e agora diversas

52

sociedades se encontram no mesmo ambiente digital. Entende-se por leis digitais as

regras básicas de que roubar propriedade intelectual, plagiar, causar danos (por

meio de spams, troyan horses, e vírus), roubo de informações e dados privados são

crimes.

As leis digitais ainda são tema muito atual, no Brasil foi feito o Marco Civil da

Internet, em 2012 e, em 2015, nem todos os cidadãos brasileiros tem o

conhecimento sobre a existência e importância do mesmo.

2. Educar-se a si mesmo/Conectar-se com outros

O quarto elemento, a Comunicação é definida como troca eletrônica de

informação. Uma das características mais fantásticas das novas tecnologias é a

capacidade de comunicação entre indivíduos, a qualquer distância e em tempo real.

Na comunicação digital todos podem criar e publicar seus conteúdos por diversos

meios e ferramentas disponíveis. Porém, nem todas essas ferramentas são

utilizadas de maneira correta, nem otimizada.

Emerge então a importância do quinto elemento, a Literacia/Alfabetização Digital.

Este é considerado o processo de Ensinar e Aprender sobre tecnologia e o uso de

tecnologia. Os pontos abordados na literacia digital são: refletir sobre o papel da

tecnologia na sociedade e como ela deve ser usada; como ela deve ser

desenvolvida; o ensino e aprendizado do uso de tecnologia nas diversas áreas de

atuação profissional; e a formação de docentes capacitados e dispostos a aprender

as novas tecnologias.

O sexto elemento, o Comércio é descrito como a compra e venda de bens por

meios eletrônicos. Ribble expressa à necessidade da capacitação da sociedade para

a entrada na Economia Digital. Ele destaca a crescente oferta de serviços

eletrônicos, assim como novos produtos que existem apenas nesse ambiente

(dados, informações, jogos eletrônicos). Além do preparo do cidadão digital para

esta economia eletrônica é necessária a reflexão sobre o comércio de bens ilegais, e

as fronteiras e constituições de cada estado durante o processo de comércio.

3. Proteger a si mesmo/Proteger os outros

2 Marco regulatório civil que determina direitos e responsabilidades relativas à utilização dos meios digitais no Brasil.

53

Sétimo elemento, os Direitos e Deveres: os direitos e deveres de todos se

estendem ao mundo digital. Na literatura indicada por Ribble o que define os direitos

e deveres é a constituição americana. No Brasil há o Marco Civil da Internet, na

qual, a princípio, cada estado deve definir como seus usuários são cobertos pelos

seus direitos e deveres. Algumas normas globais continuam sendo discutidas, mas

os direitos e deveres no mundo digital estão, na maioria das vezes, relacionados à

constituição do estado no qual cada individuo que se envolve nos processos está

inserido.

Ribble destaca alguns assuntos básicos que devem ser abordados:

Os cidadãos digitais têm direito à privacidade, liberdade de expressão, etc. Os direitos digitais básicos devem ser abordados, discutidos e compreendidos no mundo digital. Com estes direitos também vêm responsabilidades. (2007)

Oitavo elemento, a Segurança: como na maioria das sociedades, a cidadania

digital reconhece a existência de indivíduos que praticam crimes. Ao reconhecer as

ameaças desenvolvem-se métodos de precauções, prevenções para garantir a

segurança no mundo digital. Os usuários destas tecnologias devem ser capacitados

para se utilizarem destes métodos para sua própria segurança, assim como dos que

compartilham seu convívio digital.

No mundo digital existem recursos que promovem o controle de informações e

segurança, como: Antivírus, Filtros de Informações e Navegadores Inteligentes.

Nono elemento, a Saúde e Bem-estar. A questão de saúde e bem-estar no âmbito

digital refere-se aos riscos que as novas TIC oferecem ao bem-estar fisiológico.

Problemas recorrentes no uso das novas tecnologias surgem como: Lesão por

esforço repetitivo (LER), problemas de coluna e também problemas psicológicos,

como vícios e distúrbios de comportamento.

Os nove elementos ajudam os usuários a prestarem atenção nesses problemas,

mas também, a ultrapassar os limites de simplesmente trabalhar com a tecnologia

apropriadamente. É o ponto de partida para a construção de uma base, para

lidarmos uns com os outros em uma sociedade global e digital através da discussão

em relação aos problemas e dificuldades que a tecnologia nos trouxe. Esses nove

elementos também criam uma bússola para ajudar a educar crianças em relação a

54

problemas que eles estão se deparando em um mundo em constante crescimento

tecnológico.

ATIVIDADE EM SALA

Seguindo alguns parâmetros sugeridos por Ribble e Bailey, propusemos uma

atividade com o grupo de mestrandos da área de Educação e Novas Tecnologias do

Centro Universitário Internacional Uninter.

Previamente à atividade, foi construído um blog3 - ver Apêndice - onde qualquer

usuário da internet poderá encontrar informações sobre a Cidadania Digital e seus

nove elementos. As informações foram obtidas de fontes diversas da internet,

compreendendo vídeos, reportagens e artigos relacionadas a cada elemento.

Também foram disponibilizadas questões para a reflexão sobre os temas

abordados.

No primeiro momento os mestrandos responsáveis pela temática apresentaram

os conceitos sobre Cidadania Digital. Num segundo momento, a turma foi dividida

em nove grupos e cada grupo ficou responsável por um dos elementos. Num

terceiro momento os grupos acessaram o material disponível no blog, para refletirem

e discutirem as questões levantadas. Na sequência, cada grupo produziu um

pequeno comentário e publicou no post relativo a temática o qual o mesmo ficou

responsável. Na etapa de conclusão todos puderam se expressar individualmente

sobre os temas pesquisados e contextualizar os nove elementos no conceito de

Cidadania Digital proposto por Ribble e Bailey. A atividade foi finalizada com um

momento de trocas de ideias e reflexões coletiva acerca dos elementos estudados e

das possibilidades pedagógicas de utilização dos mesmos nas escolas e em suas

atividades docentes.

CONSIDERAÇOES FINAIS

Os conceitos de Cidadania e seus envolvimentos com as TIC aparecem de forma

massiva com a evolução da internet e dos dispositivos. Hoje é possível exercer a

cidadania através do voto eletrônico, do acesso a documentos digitalizados e

planilhas em portais de transparência, entre outros. Além disto é possível fazer

3 Disponível em http://blog.portalpositivo.com.br/cidadaniadigital/bem-vindo/

55

compras on-line, acessar dados bancários, operações realizadas com sistemas de

segurança como senhas, tokens e biometria.

A cidadania promove o equilíbrio entre o cidadão e a cidade. Quando Ribble e

Bailey falam da necessidade de promover a cidadania digital e o treinamento dela,

eles mencionam um cidadão mais produtivo. Legítimo, pois vivemos em uma

sociedade capitalista. Por outro lado, os valores da cidadania não devem ser vistos,

apenas, como ferramentas para beneficiar o Estado ou o sistema de capital. Os

valores de cidadania digital também promovem o bem-estar do indivíduo que está

inserido no meio digital.

A atividade realizada em sala de aula foi muito válida, pois fez uso das novas

tecnologias para adquirir informações e elaborar conhecimento de forma

colaborativa, reflexiva e solidária. A propósito, colaboração, reflexão e solidariedade

que não são abordados nos nove elementos de Ribble e Bailey, mas que devem ser

elementos relevantes na cidadania digital.

Durante a realização da mesma contamos com adesão de todos os colegas e os

conteúdos produzidos estão disponíveis para todos no Blog Cidadania Digital.

Através da mesma concluímos que a promoção desses conceitos entre os usuários

dos meios digitais possibilitaria uma maior participação na construção dos novos

saberes. Além de estar disponível ao público, o blog atualmente é utilizado na

disciplina de Filosofia e também no Projeto Educomunicação por docentes e alunos

do Ensino Fundamental e Médio no Colégio Padre João Bagozzi, em Curitiba,

Paraná.

REFERÊNCIAS

BUSTAMANTE, Javier. Communicative power, digital ecosystems and digital

citizenship. In: CIDADANIA. In Significados.com.br. Disponível em:

<http://www.significados.com.br/?s=cidadania> Acesso: em 20 de mai. de 2015

Dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. 5ª edição. Curitiba: Editora Positivo,

2010.

RIBBLE, Mike; BAILEY, Gerald. Digital Citizenship in Schools. 1st Edition. ISTE,

2007.

56

SILVEIRA, Sérgio Amadeu da, (Org). Cidadania e redes digitais = Citizenship and

digital networks. São Paulo. Comitê Gestor da Internet no Brasil: Maracá, 2010.

APÊNDICES

Imagem: Blog Cidadania Digital, página inicial. Disponível em:

http://blog.portalpositivo.com.br/cidadaniadigital/bem-vindo/

57

CULTIVAR E APRENDER: OS TABLETS NO DESENVOLVIMENTO DA ORALIDADE

Ádila Faria,1 Paulo M. Faria2 e Altina Ramos3

1CIEd- Centro de Investigação em Educação - Universidade do Minho –

[email protected]. Braga, Portugal. 2 CIEd- Centro de Investigação em Educação -

Universidade do Minho – [email protected]. Braga, Portugal. 3 Professora e

Investigadora na Universidade do Minho - [email protected]. Braga – Portugal.

Resumo: Este texto dá conta de parte um projeto de intervenção na área da

oralidade com utilização das tecnologias digitais. Alguns aspetos da

oralidade, nas suas vertentes da compreensão e expressão do oral,

têm vindo a ser trabalhados ao longo de vários anos no Jardim de

Infância, com educadores e também com professores de outros graus

de ensino. Surgiu nesse contexto um movimento crescente que

passava pelo uso dispositivos móveis, particularmente tablets, em casa

e na escola. A problemática exigiu que se equacionasse a sua

integração no Jardim de infância como meio de desenvolvimento nas

relações interpessoais, sociais e pedagógicas. Deste modo, com

inspiração no movimento BYOD (Bring Your Own Device) procurou-se

neste estudo emergente compreender as vantagens e os riscos

associados à utilização desses dispositivos. Ao mesmo tempo, as

atividades desenvolvidas em vários contextos inspiraram-se em

metodologias participativas, próximas da investigação-ação para

desenhar novos cenários de atuação e tentar contribuir para a inovação

no processo de desenvolvimento profissional docente.

58

Abstract: This paper is responsabile for a part of an intervention project in the

area of orality with the use of digital technologies. Some aspects of

orality, such as understanding and oral expression, have been wor over

several years in Kindergarten, with Kindergarten teachers and teachers

from other levels of education. In this context emerged a growing

movement that involved the use of mobile devices, particularly tablets,

at home and at school. The problem demanded that integration in the

Kindergarten be planned in a way to develop interpersonal, social and

pedagogical relations. In this way, inspired by the BYOD movement

(Bring Your Own Device), we tried to understand, in this emerging

study, the benefits and risks associated with these devices. At the same

time, the activities developed in various contexts were nspired by

participatory methodologies, close to the action-research to design new

acting scenarios and try to contribute to innovation in teacher

professional development.

Palavras-chave: Desenvolvimento profissional docente. Digital. Oralidade. Tablets.

Vocabulário.

Keywords: Teacher professional development. Digital. Orality. Tablets. Vocabulary.

INTRODUÇÃO

59

Num tempo em que o acesso à informação se facilitou, sobretudo por meio

de dispositivos móveis, não há como negar uma realidade tendencialmente mais

digital. Proliferam os tablets e smartphones. Num ápice, os adultos viram estes

“brinquedos” passarem para as mãos das crianças.

Na verdade, as crianças, quando chegam ao Jardim de Infância, manifestam

domínio instrumental desses dispositivos digitais, consequência de uma

aprendizagem informal e de uma “tendência natural” para os utilizarem naturalmente

em casa ou com os amigos. Ao mesmo tempo, o acesso, a partilha e a interação

ocorrem pela combinação de um sistema comunicativo que não se restringe já à

herança do modelo grafocêntrico, mas diversifica-se por congregar no mesmo

espaço e ao mesmo tempo sons, imagens (fixas e em movimento), ícones e outros

símbolos. Estamos efetivamente perante um novo conceito de comunicação e de

literacia (GEE, 2007; COIRO, KNOBEL, LANKSHEAR & LEU, 2014) que o Jardim de

Infância e a escola devem encarar como uma oportunidade de formar/ensinar, mas

que tem necessariamente presente riscos que não se podem menosprezar

(LIVINGSTONE, HADDON & GORZIG, 2012).

As crianças, por natureza, são muito práticas e gostam de descobrir,

experimentar e explorar; e, por isso, não nos surpreende observá-las em idades

muito precoces a manipular tablets e outros similares com uma destreza admirável.

Mas a verdade é que o fazem numa dimensão instrumental, com uma finalidade que

se esgota no jogo e na diversão e, portanto, não significa necessariamente que

tenham adquiridas as competências críticas e criativas e outras necessárias ao seu

crescimento global, como facilmente pode ser comprovado por uma grande

diversidade de estudos. Não se trata, porém, de não valorizar todos os

conhecimentos e saber implícito que cada uma das crianças traz dessas suas

vivêncais lúdicas. Defedemos que será crucial que os educadores e professores

tenham a atenção devida para cultivar o que as crianças aprendem no dia a dia e o

mobilizem para que se integre numa perspetiva ecológica. Nesse sentido, o seu

saber e as suas experiências – também as digitais –, devem colaborar para o

desenho de estratégias que assentam em princípios pedagógicos que privilegiam a

abertura ao mundo e, ao mesmo tempo, desenvolvam princípios que evidenciem

uma posição crítica, pressuposto fundamental no cenário dominado pela

60

cibercultura.

Em boa verdade, a proximidade e a destreza natural com que as crianças

interagem com o mundo digital, nomeadamente na utilização de dispositivos móveis,

como defende Moura (2009), não pode ser tomada como sinónimo de que possuem

competências para deles retirar benefícios. Essa dinâmica poderá ficar

comprometida se educadores e professores não aprofundarem os conhecimentos

técnicos e pedagógicos, de forma a que os investimentos se traduzam em novas

formas de pensar, interagir ou colaborar. Nesse sentido, retirar o máximo potencial

pedagógico do extraordinário universo de materiais informativos, comunicacionais e

lúdicos a que os alunos acedem diariamente por meio dos seus próprios dispositivos

digitais deverá ser encarado na perspetiva “bring your own device”, (CRAIG & VAN

LOM, 2011; DU, ROSSON, CARROLL, & GANOE, 2009; RAVENSCROFT, BOYLE,

COOK, & SCHMIDT, 2010) e também utilizando cada vez mais os meios que a

escola oferece.

Ao compartilharmos aqui toda a experiência de utilização de tecnologias

digitais no Jardim de Infância há mais de 10 anos, consideramos que a emergência

de um cenário que se carateriza, globalmente, pelo uso de dispositivos digitais

móveis pelo enorme poder de acesso e de interação em rede, exige uma resposta a

essa problemática. Ora, é nese contexto favorável, mas que representa um grande

desafio, que sentimos necessidade de redescobrir nesses dispositivos móveis,

provenientes de casa, instrumentos que possam contribuir para desenvolver e

cultivar novas metodologias, novas estratégias, ou seja, um novo pensamento sobre

o que é ensinar e aprender. Propusemo-nos, então, a tirar partido dessa

familiaridade com a tecnologia e predisposição das crianças para nela interagir,

aliadas ao facto de se verificar que quase todas as crianças têm irmãos mais velhos

e familiares que utilizam os tablets.

Ora, compreender o potencial que a tecnologia digital pode oferecer na

aprendizagem exige que professores e educadores reflitam acerca dos riscos e das

enormes oportunidades e desafios que a autêntica revolução digital traz em si

mesma (BARRON, 2006; COLLINS & HALVERSON, 2010; CRAWFORD, HICKS, &

DOHERTY, 2009). Na verdade, o nosso papel, enquanto educadores e professores

exige um enorme sentido crítico acerca dos desafios e oportunidades das

61

tecnologias, mas também dos riscos que lhe estão associados. Esse é sem dúvida

um assunto que merece uma reflexão aprofundada. A necessidade de se ter

presente uma abordagem às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) é

explícita já nas Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar (OCEPE,

Ministério da Educação, 1997) quando salvaguardam que

a utilização de meios informáticos, a partir da educação Pré-escolar, pode ser desencadeadora de variadas situações de aprendizagem, permitindo a sensibilização a um outro código, o código informático, cada vez mais necessário. (p. 72)

Na perspetiva de Sim-Sim (2008),

ainda que de frequência facultativa, é o primeiro degrau de um longo caminho educativo com um peso decisivo no sucesso escolar e social dos jovens, e o jardim de infância configura-se como um espaço de tempo privilegiado para aprendizagens estruturantes e decisivas no desenvolvimento da criança. (p. 7)

Há, de facto, um grau de consenso alargado, não subsistindo reservas por

parte das diversas áreas do conhecimento sobre a relevância da educação

pré-escolar no desenvolvimento integral da criança.

Este projeto representa, pois, uma tentativa ou um caminho possível para

adotar estratégias e metodologias que favoreçam o desenvolvimento da linguagem

oral, nas vertentes da compreensão e expressão do oral como a seguir se dará

conta.

As crianças envolvidas têm idades compreendidas entre os 3 e os 6 anos e

estão inseridas num meio rural em que os encarregados de educação têm

maioritariamente uma formação académica baixa. Por essa via, evidenciam uma

base lexical muito elementar que se manifesta na dificuldade de comunicação e

expressão em relação a várias situações do quotidiano, estados de espírito ou

sentimentos, patente no domínio muito pobre relativo à diversidade vocabular.

Foi, portanto, centrando-se nas competências da compreensão e expressão

do oral que se planificou um conjunto de ações que foram aplicadas em vários

contextos e de que daremos conta neste artigo.

1. OBJETIVOS

62

Tendo presente que a problemática suscitada por um universo de meios e

dispositivos digitais que cada vez mais fazem parte da vida das crianças e que

comportam um sem número de interrogações, julgamos que educadores e

professores devem emprreender caminhos possíveis de atuação que representam

respostas informadas às inquietudes provenientes de todos os setores da

sociedade. O saber teórico aliado a todo um movimento empírico, de que Jardim e

Escola devem ser palcos privilegiados, deverão contribuir para o diálogo transversal

entre todos os agentes envolvidos no processo educativo.

Definiram-se para este projeto objetivos que traduzem essa ideia de criar

ambientes tecnologicamente ricos e inovadores, que sejam neste caso

potenciadores do desenvolvimento da linguagem oral. Teve-se naturalmente em

conta a cultura verbal que chega a cada uma das crianças, de modo a podermos

completar e compensar o que lhes falta, no sentido de as levar a evoluir de

estruturas frásicas simples para estruturas cada vez mais complexas.

Assim definiu-se como objetivos centrais:

selecionar um conjunto aplicações/recursos digitais que, articulados com

as áreas de conteúdo do pré-escolar, possam ser utilizados tendo em

vista o desenvolvimento da oralidade;

criar uma rubrica denominada “oficina do oral” de forma a criar um espaço

que não se limitasse a intervenções pontuais, mas se afirmasse como

uma prática periódica e estruturada;

definir, implementar e avaliar um projeto de intervenção curricular desses

recursos;

incentivar a participação dos pais e do restante da comunidade educativa

no processo educativo, em ambiente informal de aprendizagem;

analisar, com base na evidência recolhida, o impacto dos recursos e das

estratégias no desenvolvimento da oralidade nas vertentes da expressão

e compreensão do oral.

2. METODOLOGIA

Segue-se um modelo inspirado em pedagogias participativas, centrado no

63

envolvimento e na construção da aprendizagem por meio da experiência contínua e

interativa (FORMOSINHO & FORMOSINHO, 2011), em que se valoriza a

participação individual das iniciativas das crianças na dinamização de projetos.

Privilegia-se a aprendizagem cooperativa, isto é, o conhecimento constrói-se no

processo de interação entre as crianças, entre elas e o educador, bem como com

outros elementos da comunidade.

Os exemplos de atividades também deixam subjacente a ideia de que as

tecnologias digitais foram enquadradas numa pedagogia que privilegia a

aprendizagem pela descoberta, baseada em projetos de pesquisa, por meio do

trabalho de projeto, com vista à cooperação entre as crianças, ao trabalho

colaborativo e à partilha do conhecimento. O educador procurou sempre assumir um

papel de facilitador das aprendizagens e instigador de uma permanente atitude

crítica. Os processos de trabalho em contexto de sala reforçam a natureza interativa

e colaborativa das tarefas que as crianças executam.

3. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

Relativamente ao desenvolvimento do projeto de intervenção, criou-se a

“Oficina do Oral” em duas vertentes distintas, mas que no fundo são

complementares: a da compreensão do oral e a da expressão oral. É, portanto, uma

intervenção pedagógica no âmbito da linguagem oral, tendo sempre presentes os

normativos, concretamente as Metas de Aprendizagem e as Orientações

Curriculares para a Educação Pré-Escolar (OCEPE). Deve-se, por essa razão,

salientar que a linguagem oral no Jardim de Infância articula-se com as restantes

áreas e domínios das OCEPE.

Passamos então a apresentar alguns dos recursos utilizados para potenciar

o desenvolvimento da oralidade.

Atividade 1

Como se compreende, a expressão e a compreensão do oral são áreas

particularmente sensíveis para o desenvolvimento da criança no ensino pré-escolar.

64

Recorremos, por isso, com regularidade a aplicativos digitais que favorecem a

aquisição e desenvolvimento da linguagem nesses domínios, como é exemplo o

podcast.

Figura 1 – Página principal do podcast da janela do meu jardim

Conforme já foi mencionado, este projeto nasce e deriva de outros que

temos desenvolvido e acompanhado no Jardim de Infância e na formação de

professores de diversos graus de ensino.

Participamos no projeto “A leitura em vai e vem”, iniciativa do Plano Nacional

de Leitura ao longo de vários anos. Desde o início, consideramos que a utilização de

recursos digitais, nomeadamente para gravar a leitura que cada criança fazia em

casa ou no Jardim, concorreria para desenvolver novas competências no domínio do

oral.

Nesse projeto, poder-se-á sublinhar objetivos que foram atingidos, como: a

partilha de histórias do Plano Nacional de Leitura e outras, utilizando o podcast; o

incentivo do trabalho colaborativo entre crianças e encarregados de educação;

acompanhamento por meio do podcast, como um espaço de informação, divulgação

e participação; desenvolvimento da oralidade, melhorando a comunicação e

a expressão; transferência e aplicação de conhecimentos veiculados pelo podcast

em vários contextos de vida. Finamente, o objetivo principal do projeto “A leitura em

vai e vem” foi atingido e consistia em motivar as crianças para a leitura de histórias e

facilitar uma aprendizagem mais criativa e motivadora.

O projeto consiste em que cada uma das crianças escolha livremente um

livro da nossa biblioteca e o leve para casa. Estabelecidas as regras, cada criança

tem três ou quatro dias para desfrutar do livro em casa com a família. Depois a

criança é convidada a recontar a história contada pelos

65

pais para os colegas. É nessa altura que recorremos a uma das aplicações

disponíveis para iPad, o Twisted Wave, para gravar o reconto da história. Esse

recurso, na versão gratuita, permite corrigir falas repetidas, remover ruídos,

normalizar o som gravado, acrescentar efeitos sonoros e, simultaneamente, obter

uma melhor qualidade ao nível do som. Depois a história gravada em formato mp3 é

publicada num dos servidores de podcast, no nosso caso o Podomatic.

Figura 2 – Gravação na aplicação TwistedWave

Todo esse trabalho de sonoplastia é acompanhado pelas crianças e permite

que educadores e crianças gravem, editem, manipulem e distribuam os arquivos de

áudio, facilmente descarregados para o computador e também para dispositivos

móveis, como os seus telemóveis ou dos pais, transformando o podcast no nosso

recurso de eleição. Não admira que tenha, por isso, tão boa aceitação por parte dos

utilizadores de dispositivos móveis.

Nesse sentido, o podcasting oferece-nos a possibilidade de publicar

conteúdos de áudio na internet, apresentando-se como um “recurso atractivo, ao

alcance de qualquer utilizador, de acesso livre e gratuito, que permite ao aluno

protagonizar a construção activa do seu saber” (FARIA & RAMOS, 2010, p. 45-46).

A facilidade com que acedemos e manipulamos os dispositivos digitais, que

permitem comunicar em formatos multimodais, proporciona um ambiente de

aprendizagem interativo e impulsiona novas formas de ensinar, aprender e interagir

com o conhecimento, no contexto local e global. Ora, tudo isso cria um elevado nível

de interação entre todos – as crianças demonstram autonomia na realização das

suas tarefas, mas sobretudo espírito crítico porque conseguem apreciar os seus

trabalhos e os trabalhos dos colegas. Esses recursos criam, deste modo, grandes

oportunidades de situações de comunicação e colaboração.

Além de se anularem barreiras espaciais e temporais, esses recursos

66

constituem oportunidades únicas para promover a aprendizagem e a apropriação de

novos conhecimentos e experiências, sabres e competências de forma colaborativa.

Paralelamente, em contexto de formação de professores, acompanhamos

colegas de outros graus de ensino no desenho de projetos que visavam, por

exemplo, percepcionar o desenvolvimento dos níveis da competência leitora ao

longo de um período ou até de mais tempo. Foi mesmo possível construir um

portefólio áudio que ajudava a ter uma visão mais precisa da evolução da leitura e

que representava um instrumento valioso para a avaliação de cada aluno.

Atividade 2

A tarefa consiste em que cada criança utilize os dispositivos móveis (tablet

ou smartphone) e, com a câmara incorporada, tire uma “selfie”. Com a fotografia,

deverá reproduzir o seu autorretrato por meio de desenho no papel, tendo em

atenção as suas características individuais. Pretende-se uma mensagem pelo

desenho de uma foto de si mesma sobre “quem sou, como sou? ”.

A motivação “selfie” impulsionará o diálogo entre todos, a expressão e

interiorização do que pensam e do que sentem as crianças sobre caraterísticas

individuais físicas, psicológicas, ambiente social, cultural e linguístico.

Haverá oportunidade para perceber que são indivíduos únicos com as suas

histórias pessoais. Descobrirão como interagir com outras pessoas na sua

comunidade e serão incentivadas a expressar interesse, sensibilidade e

responsabilidade nas interações com o outro.

Essa é, pois, uma forma de envolver mais as crianças num ambiente

interativo rico, que as leva a pensar criticamente sobre cidadania e identidade e a

contatar, desde cedo, com a multimodalidade de suportes de expressão e

comunicação.

67

Figura 3 – A expressão verbal com base em uma “selfie”

De facto, aqui a imagem e o tablet representam um enorme potencial para a

expressão verbal das crianças. E, a nosso ver, esse envolvimento das crianças nas

suas próprias produções torna o processo de aprendizagem mais significativo e mais

eficaz, pois as conexões cognitivas das crianças são mais fortes quando estas

seguem os seus interesses.

Atividade 3

Mais um exemplo de uma atividade, neste caso com recurso a uma

aplicação Shadow Puppet Edu, na versão gratuita para abordar os aspetos

científicos. As crianças, com base no registo fotográfico, podem descrever

experiências científicas.

Aqui, pretendia-se registar a experiência com os estados da água – sólido e

líquido – e assim introduzir também o vocabulário científico. É necessário, num

contexto de pré-escolar, que o educador promova ocasiões que motivem o interesse

em comunicar as suas experiências para que as crianças tenham oportunidade de

propor explicações, reflexões e de desenvolver o espírito crítico.

Essa aplicação assenta numa planificação mental antecipada, ou seja, a

criança terá de estruturar as suas ideias, o seu pensamento para verbalizar todas as

fases de processo experimental ou acontecimentos com auxílio das imagens.

A integração dessas ferramentas permite também uma interação contínua a

vários níveis: pelo protagonismo que cada um assume, pela autoavaliação dos

trabalhos que estão a desenvolver e pela promoção da reflexão e espírito crítico.

O recurso Shadow Puppet Edu permite usar o áudio, o vídeo, o texto e a

imagem com uma grande autonomia das crianças. Promovem-se assim as literacias

múltiplas, desde a digital à visual, e de novas competências, como o

68

aperfeiçoamento auditivo, particularmente, a capacidade de se escutar a si mesmo e

aos outros. Há sempre uma enorme curiosidade em escutar o resultado das

produções.

Embora a nossa preocupação resida no desenvolvimento da linguagem oral,

o projeto é transversal a todas as áreas de conteúdo da Educação Pré-escolar.

É frequente, nesses ambientes, mais do que em quaisquer outros, uma

filosofia de trabalho que parte dos interesses e curiosidades das crianças, que apela

à transversalidade dos saberes, que os conjuga e interliga de acordo com o sentido

que adquirem em cada projeto que se realiza. E cada projeto é desenvolvido em

conjunto, não só tendo em vista um resultado final, mas valorizando todo um

processo, de pesquisa, de descoberta, de partilha, ou, numa palavra, de

aprendizagem.

5. CONCLUSÃO

No Jardim de Infância, as crianças podem imaginar o que querem fazer. O

processo de aprendizagem desenvolve-se em espiral (RESNICK, 2007). As crianças

criam um projeto baseado nas suas ideias, experienciam e jogam com as suas

criações, trocam ideias com os outros, refletem sobre as suas experiências e, de

novo, imaginam novas ideias e novos projetos que vão mais além, desenvolvendo e

refinando deste modo as suas habilidades criadoras. Nesse processo, em que a

interligação de saberes se efetiva, e em que a construção de percursos de

aprendizagem é orientada por um educador atento, que estimula, acompanha,

responsabiliza, propõe, valoriza, reside um fator importantíssimo para o sucesso. E

julgamos que, nesse contexto, o apuro da linguagem – da expressão e compreensão

do oral – contribua para que a criança possa efetivamente revelar e mobilizar os

seus saberes, os seus interesses, as suas necessidades e a sua crescente

afirmação no plano relacional, cívico e na preparação para as novas etapas da sua

vida.

6. REFERÊNCIAS

BARRON, B. Interest and Self-Sustained Learning as Catalysts of Development: A Learning Ecology Perspective. Human Development, 49(4), p. 193-

69

224, 2006.

BESCHORNER, B., & HUTCHISON, A. iPads as a Literacy Teaching Tool in Early Childhood. Online Submission, 1(1), 16-24, 2013.

COIRO, J. et al (Ed.). Handbook of research on new literacies. Londres: Routledge, 2014.

COLLINS, A.; R. HALVERSON. The second educational revolution: rethinking education in the age of technology. Journal of Computer Assisted Learning, 26(1): p. 18-27, 2010.

CRAIG, T.; VAN LOM, M. Impact of constructivist learning theory and mobile technology integration. In: SEARS, C.; HINCK, G. FLORES, C. Theories of Educational Technology. Boise: EDtech, 2011.

CRAWFORD, B.S., HICKS, D.; DOHERTY, N. Worth the WAIT: Engaging Social Studies Students with Art in a Digital Age. Social Education, 73(3): p. 136-139, 2009.

FARIA, Á.; RAMOS, A. Podcast no Jardim-de-Infância: ler antes de ler para contar a brincar. In: CARVALHO, A. A. A.; AGUIAR, C. A. A. (Ed.). Podcasts para Ensinar e Aprender em Contexto. Santo Tirso: De Facto, 2010. p. 45-58.

LIVINGSTONE, S. M.; HADDON, L.; GORZIG, A. Children, risk and safety on the Internet: Research and policy challenges in comparative perspective. Bristol: Policy Press, 2012.

MOURA, A. (2009). Geração Móvel: um ambiente de aprendizagem suportado por tecnologias móveis para a “Geração Polegar”. In: CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE TIC NA EDUCAÇÃO, 6. 2009, Braga. Actas. Braga: Universiade do Minho, 2009.

NIZA, S. O Modelo Curricular de Educação Pré-Escolar da Escola Moderna Portuguesa. In: OLIVEIRA-FORMOSINHO, Júlia (Org.). Modelos Curriculares para a Educação de Infância. Porto: Porto Editora, 1996. p.137-159.

RAVENSCROFT, A. et al. Deep learning design for sustainable innovation within shifting learning landscapes. In: WOLPERS, M. et al (Ed.). Sustaining TEL: From Innovation to Learning and Practice. Berlim: Springer, 2010. p. 578-583

RESNICK, M. (2007). All I really need to know (about creative thinking) I learned (by studying how children learn) in kindergarten. In: CONFERENCE ON CREATIVITY AND COGNITION, 2007, Washington, DC. Proceedings. Washington, DC, 2007. p. 1-6.

SANDVIK, M.; SMORDAL, O.; OSTERUD, S. Exploring iPads in practitioners‟ repertoires for language learning and literacy practices in kindergarten. Nordic journal of digital literacy, 7(03), 204-221, 2012.

SIM-SIM, I., SILVA, A. C., & NUNES, C. (2008).

70

Linguagem e Comunicação no Jardim- de-Infância. Lisboa: Ministério da Educação; Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular.

PÔSTERES

SUBTEMA 1: O uso das Tecnologias de Informação e Comunicação

(TICs) em práticas de ensino escolares

Resumo: As TICs podem ser definidas como um conjunto de recursos

tecnológicos utilizados para mediar situações didáticas em espaços

educativos nos processos de ensino e aprendizagem. Ao longo de seu

desenvolvimento, esse novo paradigma tecnológico, associado às

transformações sociais, econômicas e culturais, tem sido um

instrumento que ajuda a pensar, aprender, conhecer, representar e

transmitir a informação para outras pessoas e gerações. Nesse sentido,

dentro desse subtema, podem ser apresentados trabalhos

desenvolvidos em práticas de ensino escolares que envolvam o uso de

conteúdos digitais, de simuladores, de e-mail, de chats, de fóruns, de

comunidades virtuais, de agendas on-line, de redes sociais, de

comunicadores on-line, de blogs, de websites, de tablets e de telefones

celulares (incluindo todas as suas funcionalidades e aplicativos), de

gravadores de som, de filmadoras, de câmeras fotográficas, etc.

71

DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL DO VALOR DA ACELERAÇÃO DA GRAVIDADE UTILIZANDO

PLATAFORMA ARDUINO

PASCOALINO, Kelly C.S. Colégio FAAT

[email protected]

Resumo: A utilização da robótica no ensino de Física, Ciências e demais

disciplinas têm sido amplamente abordada utilizando tecnologias

prontas que na maioria das vezes não instigam o estudante à

investigação científica. A fim de explorar ao máximo as capacidades

cognitivas dos alunos diversos projetos vêm sendo desenvolvidos por

todo o mundo utilizando a plataforma livre de prototipagem eletrônica

Arduino. A utilização desta plataforma permite o desenvolvimento de

trabalhos multidisciplinares baseados em ideias inesgotáveis cujos

benefícios vão além da área educacional. Em nossa instituição, temos

desenvolvido projetos de Iniciação Científica Jr. com o objetivo principal

de construir, aplicar e validar experimentos de Física de baixo custo

utilizando plataforma Arduino. Estes experimentos serão utilizados

durante o ano letivo, nas aulas de Física, a fim de facilitar a assimilação

do conteúdo abordado. Em um dos projetos desenvolvidos utiliza-se

um sensor ultrassônico para determinar a aceleração da gravidade

local a partir da queda de diferentes objetos. Este projeto foi

inteiramente

desenvolvido por alunos do primeiro ano do ensino médio, sob

orientação, e encontra-se em fase de conclusão. Os dados

experimentais mostram excelente concordância com o valor da

aceleração da gravidade esperado (~9,81 m/s²) e indicam ainda as

limitações do sensor utilizado no tocante as dimensões, formatos e

materiais dos objetos em queda. Para verificar as possíveis fragilidades

do experimento desenvolvido, os estudantes participantes do projeto

72

desenvolverão um roteiro experimental detalhado e aplicarão o

experimento a um grupo de alunos do primeiro ano do ensino médio.

Os resultados serão avaliados por meio da comparação entre a

assimilação do conteúdo por estudantes que não realizaram o

experimento e aqueles que o realizaram.

Palavras chaves: Tecnologias. Projetos. Investigação Ciêntífica.

73

RELATOS DE EXPERIÊNCIA SUBTEMA 2:

Situações didáticas relacionadas à abordagem da aprendizagem profunda (AP)

Resumo: Os estudantes possuem diferentes motivações e estratégias para

aprender. A abordagem relacionada à AP envolve uma postura ativa do

sujeito junto ao processo de aprendizagem, demarcando uma

articulação entre motivação e estratégia ativa de interação entre esse

sujeito e o objeto de conhecimento. São características dessa

abordagem a interpretação de aspectos explícitos e implícitos, a

construção de relações amplas e abstratas, assim como a busca pela

compreensão e formação de significados pessoais diante dos objetos

do conhecimento (GOMES, 2011). Podem ser contemplados nesse

subtema trabalhos envolvendo situações didáticas de aprendizagem

baseadas em projetos, em investigação, em resolução de problemas,

em desafios e métodos de aprendizagem mais ativa centrados no

estudante.

FLIPPED CLASSROOM

Centrar a aprendizagem no aluno recorrendo a ferramentas cognitivas

74

Ricardo Jorge Oliveira Carvalho1 1Escola Secundária de Silves, [email protected], Silves, Portugal.

Resumo: Os alunos com que lidamos hoje cresceram com acesso a uma

panóplia de recursos digitais, estando em constante contato com a

tecnologia. Por isso, integrar nas práticas educativas o mundo de

imersão tecnológica em que vivem pode ser a solução para o seu

sucesso. Este texto expõe a aplicação desse princípio e os resultados

produzidos por uma investigação elaborada no âmbito de um projeto de

intervenção pedagógica. As estratégias pedagógicas utilizadas

consistiram numa abordagem de flipped classroom e na utilização de

duas ferramentas cognitivas, nomeadamente a plataforma TED-Ed e o

Packet Tracer da Cisco. As estratégias utilizadas demonstraram ser

eficazes, mostrando-se inclusivas, potenciadoras de

colaboração/partilha e envolveram os alunos no processo de ensino e

aprendizagem e na construção dos seus próprios conhecimentos.

Palavras-chave: Flipped classroom. Ferramentas cognitivas. Aprendizagem

baseada em problemas. Tecnologia em sala de aula. Tecnologia

inclusiva.

Abstract: Today‟s students grew up with Internet access, YouTube, Social

Networks, and a multitude of other digital resources. They are

constantly connected to technology. Therefore meeting them at that

technological immersive world they live in and integrate it in educational

practices might present itself as the key to success. This document

illustrates those proceedings as part of a pedagogical intervention

project. The implemented teaching strategies consisted of a flipped

classroom approach and the use of two cognitive tools, namely the

75

TED-Ed platform and Cisco‟s network simulator Packet Tracer. The

results showed the effectiveness of the used strategies, as they

presented themselves as means of involving teacher and students as

active agents. These strategies proved to be inclusive, and enhanced

sharing and collaborating. They also engaged students into rich and

diversified learning experiences such as exploration, investigations,

problem solving, resulting in a greater teaching-learning process

involvement and the construction of their own knowledge.

Keywords: Flipped classroom. Cognitive tools. Problem based learning.

Classroom technology. Inclusive technology.

INTRODUÇÃO

“Considera-se primordial desenvolver no aluno a capacidade de aprender a

aprender” (PINTO & SANTOS, 2006, p. 129). O ensino deve ser dirigido ao

desenvolvimento de competências, sendo a competência algo que não se adquire

de

76

imediato, mas, sim, se desenvolve, se trabalha ao longo do tempo. O professor deve

preconizar

o envolvimento ativo de quem aprende, último responsável pela sua própria aprendizagem. De um professor detentor do conhecimento e de capacidades para o transmitir, emerge um perfil profissional muito mais complexo, com alguma indefinição, mas mais exigente. (MEIRINHO; OSÓRIO, 2011, p. 42)

O recurso à tecnologia, que é, por excelência, um meio para a resolução de

problemas e de envolvimento de professores e alunos enquanto agentes ativos, que

melhora a qualidade dos ambientes de aprendizagem e promove a criação de

comunidades de aprendizagem, mostra-se como o caminho que alguns educadores

estão a construir, de maneira a desempenhar o seu papel de gestores de saberes.

O flipped classroom é um modelo de ensino que está a ganhar força na

comunidade educativa, ainda que não seja um modelo de ensino e aprendizagem

novo. A diferença está no facto de as tecnologias da web e dos media digitais

estarem a aumentar o potencial desse modelo de forma exponencial. É uma

abordagem ao processo de ensino e aprendizagem na qual se emprega a tecnologia

para inverter o papel tradicional do tempo de aula – aqui os alunos são expostos a

conceitos fora da sala de aula, geralmente por meio da observação e análise de

vídeos. O tempo de sala de aula é então utilizado para fazer o difícil trabalho de

assimilar esses novos saberes, por meio de estratégias como a resolução de

problemas, discussão ou debates, isto é, passa a ser dedicado integralmente a

experiências de aprendizagem ativas. Assim recorrendo ao uso de tecnologias na

partilha de dúvidas e curiosidades, a organização da sala de aula altera-se,

passando os aprendentes para a posição central, previamente ocupada pelo

professor, promovendo uma maior dinâmica em sala de aula. Os alunos não

aprendem a partir das tecnologias, mas as tecnologias podem apoiar a construção

de significados por parte dos alunos.

As ferramentas cognitivas são ferramentas informáticas adaptadas ou desenvolvidas para funcionarem como parceiros intelectuais do aluno, de modo a estimular e facilitar o pensamento crítico e a aprendizagem de ordem superior. (JONASSEN, 2007, p. 21)

77

A investigação exposta neste documento surge no âmbito de uma prática

pedagógica supervisionada decorrida numa escola secundária de uma cidade capital

de distrito na região norte do país, no âmbito do Mestrado em Ensino de Informática,

ministrado pelo Instituto de Educação da Universidade do Minho.

1. CONTEXTO DA INTERVENÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA

2.1 CURSOS PROFISSIONAIS

Segundo a Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional

(ANQEP), os cursos profissionais são um dos percursos do nível secundário de

educação, caracterizado por uma forte ligação com o mundo profissional. Tendo em

conta o perfil pessoal dos alunos, a aprendizagem realizada nesses cursos valoriza

o desenvolvimento de competências para o exercício de uma profissão, em

articulação com o sector empresarial local. O ensino profissional tem albergado uma

nova fação de alunos, aqueles que possuem percursos escolares mais

desnivelados. Os estudantes que revelam maiores dificuldades de aprendizagem e

que são provenientes de famílias com escolaridade reduzida encontram-se em

grande quantidade a frequentar esses cursos. Há uma opinião generalizada de que

há uma desvalorização social do ensino profissional, que, de acordo com Antunes

(2013, s.p.), está intrinsecamente ligada à “desvalorização do trabalho” que refere

que não é expectável que “a educação que qualifica para o trabalho seja valorizada”

quando impera uma política em Portugal que enaltece o embaratecimento do

trabalho. Assim, é expectável que se encontrem nesses cursos alunos pouco

motivados para a aprendizagem e que não acreditam no sucesso do seu percurso

escolar. Nessas circunstâncias, torna-se imperativo construir a motivação dos alunos

para a aquisição de aprendizagens significativas, o que constitui um dos desafios

mais importantes para qualquer docente.

2.2 A DISCIPLINA DE INSTALAÇÃO E MANUTENÇÃO DE EQUIPAMENTOS

78

INFORMÁTICOS

A disciplina de Instalação e Manutenção de Equipamentos Informáticos

(IMEI) pertence à componente de formação técnica, tecnológica e prática do Curso

Profissional de Técnico de Gestão de Equipamentos Informáticos (CPTGEI). De

acordo com o programa Componente da Formação Técnica: Disciplina de Instalação

e Manutenção de Equipamentos Informáticos, a disciplina pretende garantir aos

formandos uma “aprendizagem de técnicas de manutenção e reparação de

equipamentos informáticos” (DGFV, 2006, p. 1). Do mesmo documento, destacam-

se finalidades que salientam a importância de desenvolver no aluno a capacidade de

aprender a aprender e lançam logo à partida as bases de fundamentação para as

estratégias utilizadas na intervenção pedagógica. As próprias orientações

metodológicas sugeridas no documento servem de base ao seu desenvolvimento

dessas estratégias, das quais se destacam a adoção de estratégias por parte do

docente que permitam aos alunos desenvolver autonomia e iniciativa, motivando-os

para se envolverem na sua própria aprendizagem, e o “carácter predominantemente

prático e experimental” da disciplina, o que implica “implementar metodologias

através de atividades que incidam sobre a aplicação prática e contextualizada dos

conteúdos, a experimentação, a pesquisa e a resolução de problemas.” Dessa

forma, privilegia-se a participação dos aprendentes na “resolução de problemas e de

exercícios que simulem a realidade” (DGFV, 2006, p. 5).

2.3 TURMA

A intervenção pedagógica teve como alvo quinze alunos, onze masculinos e

quatro femininos, pertencentes a uma turma de 12º Ano de um Curso Profissional de

Técnico de Gestão de Equipamentos Informáticos. A disciplina em que se interveio

tem uma componente prática fundamental para o curso e conta com uma carga

horária de três horas semanais de trabalho em sala de aula. Três alunos estavam

identificados como tendo Necessidades Educativas Especiais (NEE) com deficiência

79

auditiva, encontrando-se sempre presente um intérprete de Língua Gestual

Portuguesa.

Com base na recolha de informação (Tabela 1), numa fase de investigação

preliminar, existiam factos que indicavam que os alunos não se encontravam

motivados para esta disciplina, revelavam falta de autonomia e não demonstravam

hábitos de estudo.

Tabela 1 – Síntese de dados da turma obtidos por meio de instrumentos de recolha

de informação

Instrumento de recolha de

informação Evidência

Ficha individual do aluno

(questionário implementado no

inicio do ano letivo)

- 3 alunos (20%) apontam IMEI como disciplina

favorita.

- 10 alunos (66,67%) referem que não estudam

diariamente, 1 aluno (6,67%) diz que estuda

menos de uma hora e outro (6,67%) mais do

que uma hora, os restantes (20%) não

sabem/não respondem.

- Todos os alunos (100%) possuem computador

e ligação à internet.

- 7 alunos (46,67%) referem que têm retenções

prévias e 3 (20%) repetiram 2 anos.

Observação direta das aulas

- Desinteresse nas atividades realizadas, desvio

frequente das atividades de sala de aula para

outras mais apelativas dos seus pontos de vista.

- Maioria dos alunos revelava falta de autonomia

na resolução dos trabalhos, tendo o professor

que repetir várias vezes as mesmas instruções

para os diversos grupos.

- Os alunos reclamavam por aulas mais práticas

e menos expositivas.

80

Mapa de faltas - 6 alunos (40%) têm faltas injustificadas a IMEI

Relação da turma - 1 aluno (6,67%) anulou a matrícula desde o

início do curso (10º ano) num total de 16.

Ata do Conselho de Turma

- Problema da motivação abordado entre os

professores do Conselho de Turma.

- Reforço no melhoramento de atitudes na aula

de forma a promover o bom funcionamento da

turma.

- Responsabilizar os alunos de forma a

incentivar os métodos de trabalho e do estudo.

2.4 QUESTÕES E OBJETIVOS

Com base nas evidências e nas variáveis contextuais (cursos profissionais,

curso, disciplina, escola) previamente referidas, definiu-se o plano geral da

intervenção e respetivos objetivos ao nível de estratégias de ensino e aprendizagem,

investigação e avaliação da ação. Os objetivos que se pretenderam alcançar foram

os seguintes:

− Maximizar a aprendizagem aproveitando o tempo de instrução em sala de

aula.

− Potenciar, no processo de ensino e aprendizagem, os recursos

tecnológicos que estão à disposição dos alunos na sala de informática.

− Desenvolver estratégias que tornem os alunos intervenientes diretos do

processo de ensino e aprendizagem.

− Avaliar o impacto da abordagem “virar a sala de aula” no processo de

ensino e aprendizagem, no que respeita à promoção da autonomia e

motivação.

− Promover pensamento estratégico, crítico e criativo.

Consequentemente as questões que orientaram a Intervenção/investigação

foram:

81

1. Que percepções têm os alunos de uma turma do ensino profissional sobre

o modelo de educação flipped classroom e o uso de estratégias ligadas às

novas tecnologias na sua aprendizagem?

2. Será possível promover autonomia e motivação nos alunos, recorrendo ao

modelo de educação flipped classroom e a estratégias ligadas às novas

tecnologias?

3. Que percepções têm os intérpretes de Língua Gestual Portuguesa sobre

as estratégias utilizadas, particularmente, com os estudantes com

Necessidades Educativas Especiais?

4. Serão as estratégias ligadas às novas tecnologias e o modelo de

educação flipped classroom eficazes para aprendizagem sobre Redes de

Dados e desenvolvimento de competências gerais e especificas nessa área?

2. ESTRATÉGIAS E FUNDAMENTAÇÃO

2.1 FLIPPED CLASSROOM

O modelo de ensino tradicional de educação espelha a era na qual surgiu: a

revolução industrial. Dos alunos é esperado que se sentem a ouvir o “perito” a expor

a matéria, e mais tarde recordar a informação adquirida por meio de um exame.

(BERGMANN, 2012, p. 6) “Virar a sala de aula” (flip the classroom) é o nome que se

dá a um “modelo de educação no qual se transfere toda a prioridade de

aprendizagem para o aluno” (BERGMANN, 2012, p. 10). O seu propósito é passar

de uma aprendizagem passiva para uma ativa, para se concentrar em competências

de pensamento de ordem superior, tais como análise, síntese e avaliação (BLOOM,

2005).

Esse modelo defende que o aluno deve fazer toda a parte de observação e

análise em casa, recorrendo aos vídeos disponibilizados, e na sala de aula partilhar

com os colegas os conhecimentos que adquiriu. O professor ajuda na formulação

dos conceitos e temas abordados numa lógica de colaboração-ação entre aluno e

professor.

Durante um Mestrado em ensino, vamos ouvindo que cada caso é um caso,

que nem todos os alunos aprendem da mesma maneira, ou ao mesmo ritmo. Isso

82

levou o autor a pensar qual seria a melhor maneira de ensinar uma turma tão

heterogénea, como foi o caso da turma alvo da intervenção. Ao tomar conhecimento

desse modelo de ensino, houve a percepção de que podia estar aqui a resposta, já

que podia permitir aos alunos a liberdade de aprender ao seu próprio passo. “ O

flipped classroom estabelece uma estrutura que garante que os alunos recebem

uma educação personalizada adequada às suas necessidades individuais”

(BERGMANN, 2012, p. 6).

3.2. FERRAMENTAS COGNITIVAS

“As ferramentas cognitivas são ferramentas informáticas adaptadas ou

desenvolvidas para funcionarem como parceiros intelectuais do aluno, de modo a

estimular e facilitar o pensamento crítico e a aprendizagem de ordem superior”

(JONASSEN, 2007 p. 21).

Na génese desta intervenção esteve sempre a intenção de se utilizar a

tecnologia como parceira no processo educativo. Procurou-se, por isso, as

ferramentas mais adequadas e que possibilitassem o apoio na construção de

significados por parte dos alunos. O packet tracer e a plataforma TED-Ed

apresentaram-se como as ferramentas cognitivas ideais no contexto deste projeto de

intervenção pedagógico (PIP).

3.3. PLATAFORMA TED-ED: CRIAR LIÇÕES

O TED-Ed tem como mote “lições que valem a pena serem compartilhadas”.

Os vídeos do TED já são utilizados por alguns educadores como fonte de referência

e inspiração nas suas aulas. A novidade da plataforma está na possibilidade de o

professor ou aluno fazer intervenções no vídeo, incluindo questões de escolha

múltipla ou dissertativas, adicionar hiperligações para conteúdos extras e atividades

relacionadas, sendo considerada a parte mais inovadora do projeto a possibilidade

de utilização da ferramenta de customização das aulas para qualquer vídeo

disponível no Youtube ou da própria plataforma. Uma lição customizada na

83

plataforma TED-Ed permite que os alunos a revejam fora da sala de aula, podendo

aprender ao seu próprio passo. Aqueles que fiquem com dúvidas num determinado

conceito, podem ver e rever as vezes que julguem necessário. O vídeo escolhido

pode conter recursos visuais explicativos que melhoram a compreensão de

determinada matéria. Pode ser também usado como um recurso disponibilizado

antes de o aluno vir para a aula, permitindo-lhe absorver os princípios básicos dessa

mesma aula. O docente ganha tempo que pode ser utilizado para investigação,

discussão, colaboração, pensamento crítico e monitorização individual prestada ao

aluno.

3.4. PACKET TRACER DA CISCO: SIMULAR A REALIDADE

O packet tracer da Cisco (PT) permite aos alunos simular, em ambiente de sala

de aula, redes de computadores, através de equipamentos e configurações

presentes em situações reais. É uma poderosa ferramenta que facilita o ensino e a

aprendizagem de conceitos tecnológicos complexos. O PT possibilita a alunos a

criação de uma rede de computadores com um número quase ilimitado de

dispositivos, encorajando-os à prática, à descoberta e à solução de problemas. Esse

ambiente de aprendizagem baseado em simulações ajuda-os a desenvolver

competências, como a tomada de decisões, pensamento crítico e criativo e

resolução de problemas. Aos docentes, permite demonstrar facilmente conceitos

técnicos complexos na criação de sistemas de redes e possibilita personalizar

atividades de modo que as aulas se tornem bastante práticas e orientadas aos

tópicos específicos abordados numa lição. Desse modo, os alunos podem construir,

configurar e solucionar problemas de redes utilizando equipamentos virtuais e

conexões simuladas, sozinho ou em colaboração com outros estudantes. O packet

tracer revela-se essencial, uma vez que ajuda alunos e professores a criar os seus

próprios “mundos de redes” virtuais para exploração, experimentação e explicação

de conceitos e tecnologias de rede. (CISCO, 2010, p.1)

DESENVOLVIMENTO DA INTERVENÇÃO

A metodologia de ensino adotada pode ser dividida em dois momentos:

antes (Figura 1) e depois (Figura 2) de tornar os alunos autores dos

84

próprios vídeos. Inicialmente eram disponibilizados vídeos sobre um tópico da lição

para analisarem fora da sala de aula. Essa análise era apoiada por um documento

inspirado pelo método de anotações da Cornell resumindo a aprendizagem retirada

do visionamento do vídeo. Na aula seguinte era atribuída a tarefa de tornarem esse

vídeo numa lição, utilizando a plataforma ed.ted.com. As dúvidas que surgiam do

visionamento do vídeo ajudavam na elaboração da tarefa, trazendo dúvidas

concretas, o que lhes permitia uma pesquisa mais focada. Geralmente, após

alcançarem as repostas, transformavam essas dúvidas em questões para serem

respondidas pelos próprios colegas. O papel do professor nesse ambiente muda

significativamente; não somos mais apresentadores de informação, em vez disso,

assume-se um papel de facilitador e potenciador de aprendizagens em que o nível

de interação aumenta. Estando consolidada a parte teórica, era apresentado um

problema real numa rede de computadores. Recorrendo ao PT, os alunos

simulavam possíveis soluções de modo a conseguirem uma rede funcional. As

videolições criadas, bem como os problemas, eram resolvidas em pequenos grupos.

De modo a avaliar os conhecimentos adquiridos individualmente, eram criados

testes na plataforma Socrative.

Figura 1: Metodologia de ensino antes de tornar os alunos autores dos próprios

vídeos

85

Num segundo momento, os alunos tornaram-se autores dos próprios vídeos

a utilizar nas lições. Inicialmente era projetada no quadro uma simulação no PT que

demonstrava o funcionamento de um novo equipamento de uma rede de

computadores construída com a participação dos alunos, fazendo-se a interligação

com os conteúdos abordados previamente. Os alunos passariam então a resolver

um problema, em que figurava a utilização desse novo equipamento, e, ao mesmo

tempo, era-lhes pedido que gravassem essa solução de forma a criar um vídeo.

Normalmente procuravam resolver o problema primeiro, e de seguida gravavam a

sua solução de modo explícito para que pudessem ser utilizadas nas suas

videolições criadas na plataforma ed.ted.com. Esses vídeos eram analisados

posteriormente em casa e preparados da maneira descrita anteriormente, para que

na aula seguinte criassem as suas videolições em grupo. Como na metodologia

anterior, de modo a avaliar os conhecimentos adquiridos individualmente, os alunos

respondiam a testes realizados na plataforma Socrative.

Figura 2: Metodologia de ensino depois de tornar os alunos autores dos próprios

vídeos

4. METODOLOGIA

Tratou-se de um estudo quanti-qualitativo. Durante a implementação deste

86

projeto, procurou-se proceder a uma abordagem que enfatizasse “a descrição, a

indução, a teoria fundamentada e o estudo das perceções pessoais” (BOGDAN &

BILKEN, 1994, p. 11) estando assim próximos da investigação qualitativa.

Associamos também a investigação quantitativa, uma vez que se considerou

relevante a apresentação de dados numéricos para uma melhor descrição e

compreensão do objeto de estudo.

4.1 DADOS QUALITATIVOS

Esta investigação, de cariz qualitativo e semelhante às características

descritas por Bogdan & Bilken (1994, p.16-17) descreve-se da seguinte maneira: a

obtenção dos dados foi feita em ambiente natural, neste caso, a sala de aula, com

destaque para o professor investigador, já que existe uma inter-relação entre o

investigador e o objeto investigado, assumindo assim esse papel com a sua própria

turma e operando como observador, privilegiando a compreensão de

comportamentos a partir da perspetiva dos sujeitos da investigação. É um trabalho

que se refere a um contexto educacional particular (o estudo sobre redes de dados

numa turma do 12º ano de um curso profissional, que constituiu a amostra). Os

dados qualitativos recolhidos são ricos em pormenores descritivos, tendo-se

recorrido à análise de artefactos e à observação participante. O investigador é em si

mesmo um instrumento na investigação e recolha de informação.

4.1. DADOS QUANTITATIVOS

Recorreu-se à utilização de meios quantitativos de recolhas de dados, como,

inquéritos com perguntas fechadas, normalmente recorrendo à escala de Likert. No

final da intervenção apresentou-se à turma um inquérito com o objetivo de cruzar a

informação recolhida do mesmo com as informações recolhidas nos registos diários

de observação direta e de outros artefactos. Apresentou-se um inquérito aos

intérpretes de Língua Gestual Portuguesa de modo a comparar a informação

recolhida, como retratado anteriormente, mas relativamente aos alunos com

deficiência auditiva. E por fim um questionário de avaliação do professor a realizar

pelos alunos. Considera-se que a interpretação e descrição conseguida através dos

87

dados numéricos e estatísticos obtidos se mostraram como valiosos na validação e

credibilidade do estudo desenvolvido, especialmente quando associados aos

instrumentos aplicados numa investigação qualitativa, pois permitem uma

compreensão mais completa daquilo que se pretende avaliar.

4.2. RESULTADOS

Os resultados das estratégias implementadas que se apresentam de

seguida foram obtidos tendo em conta a metodologia mista descrita anteriormente,

muito centrada na ação, mas também na reflexão, e de modo a avaliar as

estratégias implementadas recorreu-se aos registos diários de observação direta, às

simulações no PT, aos vídeos produzidos, às videolições criadas no TED-Ed e aos

questionários ao final da Intervenção Pedagógica dos intérpretes de Língua Gestual

Portuguesa e da avaliação do professor.

Tabela 2: Resultados das estratégias utilizadas

Instrumento Resultados obtidos

88

Observação

direta

- Os alunos utilizaram os vídeos como instrumento de auxílio

quando surgiam dúvidas na compreensão da matéria

lecionada.

- Os conceitos eram absorvidos pela totalidade dos alunos;

impossível avançar na matéria caso o contrário se

verificasse.

- Os alunos começavam imediatamente a trabalhar nas

tarefas atribuídas, faziam questões e respondiam a questões

levantadas pelos próprios colegas.

- Não existiram problemas de indisciplina.

- Redução significativa dos desvios para assuntos que não

tinham a ver com a aula.

- Referência, junto de outros professores da turma, das

estratégias utilizadas.

Perceções dos

alunos sobre o

impacto das

estratégias

utilizadas na sua

aprendizagem

(QOII nº1)

- A maioria considerou que a forma de abordar a matéria

contribuiu para que compreendessem melhor os conteúdos

lecionados.

- Sentiram evolução na aquisição de conhecimentos.

- Preferem as estratégias utilizadas ao modelo tradicional de

ensino.

- Consideraram que a utilização das ferramentas cognitivas

e a realização dos vídeos foram importantes para melhor

compreenderem os conceitos lecionados.

- Todos preferem adquirir os conceitos teóricos recorrendo

aos vídeos em vez da sua exposição oral.

89

Utilização das

estratégias na

promoção de

autonomia e

motivação (QOII

nº2)

- A maioria confirma que as estratégias contribuíram para

que se sentissem motivados.

- Os alunos notaram diferença na motivação que tiveram

neste módulo, quando comparado com módulos anteriores

da disciplina, considerando-se mais motivados.

- Consideraram a utilização das ferramentas cognitivas e das

várias ferramentas tecnológicas como um dos fatores dessa

motivação.

- Consideraram o trabalho colaborativo uma das razões

fundamentais para se sentirem motivados.

- Os alunos utilizavam os artefactos por si produzidos para

tirar dúvidas.

- Os alunos mostravam satisfação na construção desses

artefactos.

Perceções dos

intérpretes de

Língua Gestual

Portuguesa sobre

as estratégias

utilizadas (QOII

nº3)

- Consideram as estratégias inclusivas.

- Recomendariam as estratégias a outros docentes.

- Consideraram as estratégias inovadoras

Registos de

autoavaliação

- A maioria quantificou os seus níveis de empenho e

interesse na disciplina com valores bastante positivos

(média: empenho 14,69; interesse 15,07; comportamento

17,23).

- Os alunos consideraram os seus trabalhos bem

executados ao nível da produção de conteúdos (vídeos,

videolições).

90

Reflexões sobre

as estratégias

(citações de

reflexões

realizadas pelos

alunos)

- “Eu achei que estas aulas foram boas e diferentes e sinto

que aprendi com algumas situações sobre redes.”

- “O que eu gostei mais nestas aulas foi a oportunidade de

aprender a matéria de uma forma diferente, de uma forma

menos „secante‟ digamos assim, tendo um pouco de prática

nas aulas ajuda-nos a compreender um pouco mais sobre a

matéria.”

- “Acho que as aulas foram mais interessantes e que foi mais

fácil aprender com os programas utilizados.”

- “Visto que o meu interesse por redes era quase inexistente,

após essas aulas aumentou de uma maneira considerável

de modo a que me interessasse mais pela matéria e pela

maneira que me foi lecionada!”

Resultados das

aprendizagens

(QOII nº 4)

- Não existiram notas finais negativas.

- Média de classificações foi de 15,32 valores.

- 87% dos alunos obtiveram níveis iguais ou superiores a 15.

5. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

O contexto de formação apresentou-se como ideal para experimentar as

estratégias aqui documentadas, nunca esquecendo a responsabilidade de ensinar

os alunos a aprender a aprender. A prévia análise da turma e da disciplina em que

se iria intervir levou à criação das estratégias a implementar que visavam não só

colmatar lacunas evidenciadas pela turma, mas principalmente desenvolver nos

alunos competências para uma aprendizagem ao longo da vida que lhes permita

adaptar a novas situações e capacidades para solucionar problemas.

A turma alvo da intervenção revelou-se bastante heterogénea como grande

parte das turmas das escolas atualmente; no entanto, faziam parte de seu elenco

alunos com Necessidades Educativas Especiais, particularmente alunos com

deficiência auditiva, o que levou a que as estratégias utilizadas fossem idealizadas

91

de modo a contemplar as necessidades de todos em igual medida (inclusivas).

Assim, procurou-se potenciar, no processo de ensino e aprendizagem, os

recursos tecnológicos que estão à disposição dos alunos na sala de informática e

maximizar a aprendizagem aproveitando o tempo de instrução em sala de aula. As

estratégias utilizadas, nomeadamente os modelos de ensino flipped classroom e de

aprendizagem baseada em problemas, que contaram com a importante contribuição

das ferramentas cognitivas utilizadas (Packet Tracer, TED-Ed), mostraram-se

pertinentes e, de acordo com os resultados obtidos, bem-sucedidas.

Essas estratégias estimularam a responsabilização do aluno pela sua

aprendizagem e potenciaram uma aprendizagem mais centrada no aluno, vendo o

autor deste estudo o seu papel redefinido na qualidade de docente, assumindo-se

como um gestor de saberes em vez de um mero transmissor. Tornou-se evidente,

por meio da observação direta nas aulas, que de facto os conceitos eram absorvidos

pela totalidade dos alunos, uma vez que, para avançar na matéria esses mesmos

conceitos tinham que estar bem interiorizados, já que sem eles seria impossível

continuar a trabalhar no seguimento lógico da matéria. Numa turma tão

heterogénea, verificar esses níveis de aprendizagem simultânea foi de facto

fascinante. Daqui se conclui que se criou um ambiente favorável ao processo de

ensino e aprendizagem.

6. AGRADECIMENTOS

À Professora Doutora Maria Altina da Silva Ramos, da Universidade do

Minho, que, com a sua experiência, me direcionou nesta intervenção e na

elaboração deste projeto.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDERSON, L. W.; Krathwohl, D. R., & Bloom, B. S. A taxonomy for learning, teaching, and assessing. Harlow: Longman, 2005. BERGMANN, J. Flip Your Classroom: Talk to Every Student in Every Class Every Day. Arlington: Iste, 2012. BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigação Qualitativa em Educação: Uma Introdução à Teoria e aos Métodos. Porto: Porto Editora, 1994.

92

DGFV. Programa Componente da Formação Técnica Disciplina de Instalação e Manutenção de Equipamentos Informáticos. Disponível em: <http://www.anqep.gov.pt>. Acesso em: 25 nov. 2013. É MUITO arriscado discutir qualquer formação com base na empregabilidade Entrevista com Fátima Antunes. Disponível em: <http://www.educare.pt/noticias/noticia/ver/?id=14620&langid=1>. Acesso em: 8 set. 2014. JONASSEN, D. H. Computadores, Ferramentas Cognitivas-Desenvolver o pensamento crítico nas escolas. Porto: Porto Editora, 2007. MEIRINHOS, M.; OSÓRIO, A. (2011). O advento das TIC na escola como organização que aprende: a relevância. In: Actas da CONFERÊNCIA IBÉRICA INOVAÇÃO NA EDUCAÇÃO COM TIC, 2011, pp. 39-54. Disponível em: <https://bibliotecadigital.ipb.pt/handle/10198/7431>. Acesso em: 9 set. 2014. PINTO, J.; SANTOS, L. Modelos de avaliação das aprendizagens. Lisboa: Universidade Aberta, 2006.

A REDESCOBERTA DA CIÊNCIA

93

1Gabbai, Michelle Q., 2Monteiro, Pedro G. R.

Colégio Cosmos de Paulínia S/C Ltda, Rua Nelson Prodócimo, 495- Jardim Bela Vista- Paulínia – São Paulo [email protected], [email protected].

Resumo: O uso da pesquisa e investigação, traz ao aluno uma realidade diferente, de forma a despertar o interesse no desconhecido. A redescoberta científica, no Colégio Cosmos, vem atuando de forma incrível no desenvolvimento e interesse do aluno nas aulas de Química e Física, onde a integração das duas disciplina no projeto entitulado de Semana Científica, desenvolve e desperta no aluno o interesse em aprender e realizar pesquisas, trazendo a tona resultados surpreendentes. O projeto Semana Cientícia acontece no Colégio Cosmos de Paulínia anualmente, procurando integrar as disciplinas e desespertar o saber científico nos alunos do ensino médio.

Abstract: The use of research and investigation brings the student to a different

reality in order to generate interest in the unknown. The scientific rediscovery, the College Cosmos, has been acting so incredible in the development and student interest in the lessons of Chemistry and Physics, where the integration of the two disciplines in the project entitled Scientific Week, develops and awakens in the student‟s interest in learning and performing research, bringing out surprising results. The project Week Scientific happens in Paulinia Cosmos College annually, seeking to integrate the disciplines and desespertar scientific knowledge in high school students.

Palavras-Chave: Científica. Projeto. Alunos. Pesquisa.

Key-word: Scientific. Design. Students. Research.

1. INTRODUÇÃO

Com o desenvolvimento tecnológico e a informação disponível e acessível a

94

todos os alunos, estar dentro da sala de aula se torna um grande desafio. Despertar

no aluno interesse em atividades práticas afim de inserir um pensamento científico

faz com que as aulas se tornem mais atrativas e traz outra visão do mundo

científico.

O Projeto da Semana Científica do Colégio Cosmos de Paulínia, faz com que o

aluno vivencie a ciência de forma diferenciada, podendo integrar as disciplinas de

química e física, e também outras disciplinas para complementar o seu projeto,

como por exemplo, a matemática e a biologia. O desenvovimento de painéis para

exposição traz a linguagem científica para dentro da realidade do aluno, mostrando

como há na ciência a integração entre as disciplinas.

O ensino em sala de aula se expande quando os projetos são apresentados,

fazendo com que os alunos se sintam cada vez mais dentro da ciência, não somente

como aprendiz, mas também como um cientista e pesquisador.

Há razões sedutoras para a adoção do ceticismo, postura na qual a ciência

seria produto apenas de convenções arbitrárias, circunstância que implicaria a sua

aparente certeza, em que os fatos científicos e,as leis, seriam obra artificial do

cientista.

Sendo assim, Henri POINCARÉ (1854-1912), descreve que, a ciência,

portanto, nada pode nos ensinar sobre a verdade, só pode nos servir como regra de

ação”. Nessa perspectiva nominalista, a ciência desenvolvida pelos alunos torna

interessante o conhecimento. Dentro desta vertente, nas figuras 01, 02, 03, 04, 05,

07 e 07, pode-se observar a aplicação dos Projetos no ano de 2014.

2. O PROJETO

Dentro do cronograma escolar do Colégio Cosmos de Paulínia, já esta inserido o

Projeto que é intitulado como “Semana Científica”, onde os alunos se separam em

equipes para realizá-lo.

Com o intuito de levar ao aluno o interesse em pesquisar e realizar ciência, as

equipes devem buscar através de suas ferramentas tecnológicas e também através

dos livros e revistas científicas disponíveis na Biblioteca do Colégio, experimentos

para serem realizados. Como parte do projeto deve-se elaborar um pôster científico

95

com as informações do desenvolvimento do experimento, seus idealizadores e sua

importância no mundo atual. Também faz parte do projeto desafiar os alunos com

gincanas e tarefas que envolvem competição e ciência, nesta parte os alunos

demosntram uma enorme satizfação e levam o projeto de maneira bem profissional.

Para evitar a repetição de desafios, a cada ano, os professores responsáveis

selecionam diferentes desafios. Este ano foi proposto a realização de um Barco de

Papelão, de dimensões pré-estabelecidas, que deverá atravessar a piscina do

Colégio com um integrante do grupo sem afundar, e um terceiro desafio, que é a

confecção de um míssel de Água (lançamento a 45º).

No ano passado, os alunos desenvolveram réplicas de experimentos que

consagraram alguns cientistas e consequentemente realizaram o Poster do cientista

homenageado, outro projeto foi o desenvolvimento da ponte de Macarrão e o

Foguete de Água (lançamento a 90º). A figura

3. DESENVOLVIMENTO E DISCUSÃO

As equipes compostas por 5 alunos, desenvolveram os projetos de pesquisas

e realização de experimentos testes para o dia da apresentação.

3.1. Ponte de Macarrão

O primeiro projeto, intitulado de “Ponte de Macarrão”, contou com as seguntes

regras:

a) Da Participação

1. Inscrição da Ponte na Competição.

2. Cada equipe participa com apenas uma ponte.

3. A ponte não pode ultrapassar a massa de 1 quilograma.

4. No dia da competição, os professores responsáveis estão encarregados de

verificar se as pontes se adequam às prescrições do regulamento da competição.

b) Normas para a construção da ponte:

1. A ponte deverá ser indivisível, de tal forma que partes móveis ou encaixáveis não

serão admitidas.

96

2. Será permitifo o uso de massa para macarrão do tipo espaguete número 7.

3. Cola do tipo epóxi.

4. Barras

5. Cola quente em pistola

A equipe campeã é aquela cuja ponte de macarrão suportar uma quantidade

maior de massa a qual é submetida.

A figura 1 ilustra a equipe campeã de 2014, juntamente com a ponte de

macarrão confeccionada para o Projeto.

Figura 1 – Equipe Campeã 2014 na modalidade: Ponte de Macarrão na

Semana Científica do Colégio Cosmos de Paulínia

3.2. Foguete de Água

a) Da Participação

1. Inscrição do Foguete de àgua

2. Cada equipe participa com apenas 1 foguete.

3. O foguete deve ser decorado, pois a estética, é um dos critérios de

pontuação.

4. No dia da competição, os professsores responsáveis, estão encarregados

de verificar se os foguetes se adequam ao regulamento da competição.

b) Normas para contrução do foguete

1. O foguete deve ser confeccionado em garrafa Pet de 2 litros.

2. É permitido o uso de fitas adesivas.

3. O foguete deve conter obrigatoriamente um paraquedas.

4. A garrafa não pode estar amassada por motivos de segurança.

5. A pressão dentro da garrafa deve ser monitorada por um manômetro (

encontrado em algumas bombas „T‟ de encher pneu de bicicleta) não

excedendo 80 psi.

A equipe campeã é aquela cujo foguete alcance a maior altura, abra o paraquedas e

tenha uma estética agradável.

A figura 2 e 3 ilustram alguns foguetes e alunos no dia da competição.

97

Figura 2 – Aluno pronto para o lançamento do foguete de água na Semana Científica

do Colégio Cosmos de Paulínia

FIGURA 3 - Aluno efetuando o lançamento do foguete de água da sua equipe na

Semana Cientifica do Colégio Cosmos de Paulínia (equipe campeã)

2.3. Poster científico

Cada equipe deve confecionar um poster científico homenageando um

98

cinetísta e apresentando a réplica ou o experimento efetuado por ele.

As figuras 4, 5, 6 e 7 ilustra a apresentação dos posteres das equipes, assim

como os experimentos realizados na Semana Científica no ano de 2014.

FIGURA 4 – Equipe ao lado do Poster que homegeou a cinetísta Marrie Currie na

Semana Científica do Colégio Cosmos de Paulínia

FIGURA 5 – Equipe ao lado da réplica do cientista homenageado na Semana

Cientifica do Colégio Cosmos de Paulínia – “Bubina de Tesla”

99

FIGURA 6 – Equipe apresentando seu experimento e respondendo à duvidas da

platéia (alunos de outros anos)

FIGURA 7 – Exposição do experimento na Semana Científica do Colégio Cosmos de

Paulínia

3. CONCLUSÃO

O Projeto semana Científica vem a cada ano se tornando mais presente na

100

vida dos alunos os proporcionando uma verdadeira imersão no mundo dos

experimentos e os fazendo perceber o quão unidas estão as disciplinas Químicas e

Física. A bagagem científicas que os alunos do ensino médio estão adquirindo com

o projeto se torna evidente a cada ano.

A familiaridade com os procedimentos realizados em laboratório, a confecção

de relatórios nos moldes universitários, a postura e a liguagem utilizadas nas aulas

preparatórias no laborátorio faz com que os alunos tenham uma adaptação mais

fácil quando estiverem inseridos nas universidades. Observa-se ainda que a

aapresentação para alunos de outros segmentos ou anos escolares diferentes

estimula todos os envolvido de forma positiva.

O Fato do projeto trabalhar não só em sala de aula mais em diferentes

ambientes estimula os alunos a quererem aprender de maneira mais fácil e

prazerosa, saido da mesmice e conquistando novamente o brilho nos olhos na

satisfação em aprender.

4. BIBLIOGRAFIA

POINCARÉ, Henri. Science et hipothèse. Flammarion, Paris: 1902. O valor da

ciência. Tradução de Maria Helena Franco Martins, Rio de Janeiro: Contraponto,

1995.

FARMÁCIA DA TERRA Cultivo de plantas medicinais dentro de estufa.

101

Jorge Eurípedes da Silva1

1Instituto Samaritano de Ensino,email: [email protected], Franca-SP, Brasil.

Resumo: Este artigo apresenta a importância do uso da medicina alternativa enfatizando atividades que contribuem para a modificação nos hábitos e atitudes de alunos do ensino fundamental II e comunidade, quanto à percepção que eles possuem sobre medicamentos. O uso de plantas medicinais continua sendo o principal recurso terapêutico na busca de alívio de sintomatologia dolorosa ou desagradável para a maioria da população. De acordo com a proposta de interação escola-comunidade, foi desenvolvido o Projeto Farmácia da Terra, Horta de Plantas Medicinais dentro de uma estufa na Unidade Escolar: Instituto Samaritano de Ensino, com alunos do Ensino Fundamental II, do Curso de Ciências da Natureza (sextos e sétimos anos) cujo objetivo é proporcionar o resgate o conhecimento e uso correto das plantas medicinais através de um encontro formador entre alunos, família, professores e comunidade. A montagem da horta ocorreu com a participação dos alunos e familiares, que auxiliaram no preparo da terra, na escolha e no plantio das espécies medicinais. A integração entre a escola e aluno tornou possível associar o conhecimento empírico ao científico, e assim, não só despertar cuidados com a saúde, mas também o interesse em usar e preservar a flora. Os alunos dos sextos anos elaboram folheto de receita do chá da vovó; efetuaram o plantio de mudas, enquanto os alunos dos sétimos anos elaboram o creme de arnica brasileira, sob a supervisão do professor responsável pelo desenvolvimento do projeto.

Palavras-Chave: Cura. Ervas medicinais. Fármaco. Fitoterápico. Abstract: This article shows the importance of the alternative medicine usage,

emphasizing activities, which contribute to the changing of habits in students from Ensino Fundamental ll and the community in terms of perception that they know about medicines. The use of

102

medicinal plants is still the main therapeutic resource in the search of painful or undesirable symptoms relief to the majority of the population. According to the proposal of school and community interaction, the project Farmácia da Terra was developed. It consists of a medical herb garden inside a greenhouse in the School UnitSamaritano Learning Institute. Students from Ensino Fundamental ll, from the course Nature Science (sixth and seventh grades) whose objective is to provide the rescue, the knowledge, and the correct usage of medicinal plants, scheduled a training meeting among families, teachers, the community and themselves. The assembly of this herb occurred with their participation and their families, who helped in preparing the soil, choosing and planting medicinal species. The interaction between school and students made it possible to associate the empirical knowledge to the scientific one, thus it can arouse not only health care but also the interest in using and preserving the flora. Students from sixth grades developed leaflets containing a recipe of the grandmother‟s

tea, and carried out the planting of seedlings, meanwhile the seventh grade ones produced the Brazilian Arnica Cream, under the supervision of the teacher responsible for the project development.

Key-word: Cure. Medicinal herbs. Drug. Phytotherapic.

1. INTRODUÇÃO

Esse projeto tem por objetivo, implantar uma estufa de plantas medicinais nas

dependências da escola Instituto Samaritano de Ensino, na cidade de Franca-SP,

103

para difundir e conjugar saberes e fazeres da cultura popular tradicional presentes

na medicina popular, proporcionando o desenvolvimento e o aprendizado crítico-

reflexivo dos alunos expandindo-os à comunidade.

Nessa proposta foi abordado os cuidados no cultivo, manipulação e consumo das

plantas medicinais, juntamente com os erros e problemas mais comuns na sua

utilização, visando um maior conhecimento das pessoas em relação ao modo

adequado de plantá-las, colhê-las e usá-las para o bem comum. “Somente na

Alemanha, os fitofármacos movimentam US$ 3 bilhões/ano (NOGUEIRA; WOLFF,

2001, citado por SOUZA, 2006)”.

Por volta de 1.600 a.C, os egípcios já faziam uso de plantas medicinais na cura de doenças; os chineses, há mais de 5.000 anos, utilizavam os princípios ativos das plantas medicinais. O uso de plantas no tratamento de doenças no Brasil tem influências das culturas indígena, africana e européia, entre outras. (MARTINS et al., 1995; TORRES, 2005).

O estudo em questão enfatiza-se o resgate e uso correto de plantas medicinais

disseminados saberes entre alunos, família, professores e toda a comunidade

próxima ou ligada à unidade escolar. Nogueira (1984) ressalta que o uso de plantas

medicinais não é novidade, e que todos nós usamos ou já utilizamos em algum

momento determinado tratamento caseiro aprendido com a família e, que a medicina

popular sempre existiu, principalmente entre as camadas das populações menos

favorecidas economicamente.

Antigamente, tínhamos o hábito de ir até a horta para colher ervas para temperos

ou chás, para nossas mães. Hoje, compramos as ervas nas feiras e supermercados,

sem muitas vezes saber como elas são cultivadas na natureza. O projeto em

questão tem como premissa recuperar essa vivência que não temos mais,

proporcionar o contato com a terra, estreitar a relação das pessoas com a natureza

que nos cerca e que muitas vezes nos passa despercebida.

A vida moderna distanciou o homem da natureza, da qual somos totalmente

dependentes. No Brasil, a utilização de plantas no tratamento de doenças apresenta,

fundamentalmente, influências de cultura indígena, africana e, naturalmente,

européia, principalmente portuguesa. Martins et al. (2000), nos falam a respeito

destas influências.

A Horta Escolar é uma ação, que consegue envolver a clientela estudantil e a

104

comunidade em geral, através de um laboratório vivo inter, multi e transdisciplinar na

medida em que envolve os conteúdos programáticos das diferentes disciplinas em

teoria e prática usando como referencial laboratorial de metas concretas,

evidenciando ações possíveis de serem desenvolvidos no ato pedagógico das

relações discentes, docentes e comunitárias. O sucesso depende da mudança

cultural no processo de ensino, e a aprendizagem resulta do sucesso do aluno em

aprender.

2. DESENVOLVIMENTO

“A metodologia define-se como um conjunto de métodos e técnicas que tem por

objetivo traçar comparação da realidade com a teoria” Demo (1987).

Na metodologia de pesquisa, encontramos meios e técnicas utilizadas para atingir os objetivos anteriormente apresentados e as perguntas que podemos fazer são: Como fazer? Onde fazer? Com que fazer? Quando? Quando fazer? (BEZZON, 2005, P. 23).

O Projeto Farmácia da Terra, (estufa de ervas medicinas) instalada nas

dependências do Instituto Samaritano de ensino, perfaz uma área de15 metros

quadrados (3 metros de largura por 5 metros de comprimento), com estrutura

metálica recoberta com sombrite e 30 canteiros subdivididos em térreo e suspensos

confeccionados em estrutura de alvenaria, para a acomodação das mudas. .Além

dos alunos dos 6º anos, e 7º anos (perfazendo um total de 210 alunos envolvidos),

funcionários, pais e colaboradores participam ativamente das atividades

desenvolvidas.

O projeto passa por três etapas: preparação solo para o cultivo das mudas,

plantio na horta e manipulação para a fabricação de diferentes produtos que servem

como remédios, temperos aromáticos e produtos de higiene pessoal. É importante

ressaltar que as atividades ocorrem no decorrer de todo o ano letivo, onde alunos,

professores, coordenação direção e colaboradores, mantêm esse espaço como

sendo um patrimônio da escola, sinalizando reflexões sobre novos caminhos e

estratégias a serem agregados aos já existentes.

Os alunos dos sextos anos preparam o solo para o plantio das mudas, a matéria

105

orgânica para os canteiros, e efetuaram o plantio das mudas de ervas medicinais, de

várias plantas, entre elas: “alfavaca”, “arnica-brasileira”, “babosa”, “bálsamo”,

“boldinho”, “capim-limão”, “dipirona”, “erva-cidreira”, “falso-boldo”, “guaco”,

“sabugueiro”, “alecrim” e “terramicina”. Utilizou-se somente plantas, que já foram

pesquisadas e identificadas, liberadas pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância

Sanitária), para o uso humano em tratamentos fitoterápicos. A manutenção da estufa

ocorre por três vezes no decorrer da semana letiva, onde as plantas são regadas e

cuidadas por dois alunos, mantendo-se um rodízio devidamente acompanhado de

um colaborador.

Figuras: 01 e 02. Preparando o solo (6º anos).

Fig.03 Efetuando o plantio. (6º ano) Fig. 04 Vista interna da estufa. Fotos do autor.

O projeto abrange eixos que abordam a temática de Educação Ambiental, Horta

escolar orgânica e o cultivo de ervas medicinal, conteúdos temáticos do Livro

Didático Integrado Positivo do Sétimo ano (Botânica); e Livro Didático Integrado

Positivo do Sexto ano (Solo e vida), enfatizando as técnicas de plantios.

A última etapa do aprendizado das plantas medicinais é desenvolvida no

laboratório, essa atividade é uma das mais interessantes e que desperta a

curiosidade dos alunos. Eles aprendem o valor da

106

planta e os benefícios que ela faz com suas propriedades medicinais, que até então

era um assunto desconhecido para eles. Como produto final, foi elaborado um

folheto de receitas relacionado às propriedades medicinais das ervas em estudo;

sache de 15g para infusão de chá (hortelã e erva-doce), sabonete líquido perolado

com essência de erva-doce com hortelã; e creme de arnica.

Figura- 05 Logomarca do projeto. Figura- 06 Linha de Produção do creme de Arnica.

Figura - 07. Produto final Figura - 08. Sabonete líquido

.

Fig.09 Sache de hortelã e erva-doce

3. CONCLUSÃO

107

Espera-se que o projeto tenha orientado a comunidade escolar sobre a

importância do uso de plantas medicinais e dos critérios para a sua seleção,

sugestão para cultivo, utilização como curativas, identificação de plantas tóxicas e

receitas caseiras à base de plantas medicinais.

O grande entrave da educação é elaborar “forma”, de intervenção, que exalta a

temática ambiental para que esteja presente em todas as disciplinas, do currículo

escolar, ou seja, um elo intrínseco de nosso fazer pedagógico cotidiano,

independentemente da área de atuação, bem como os diferentes níveis de ensino.

No Brasil 20% da população consome 63% dos medicamentos disponíveis e o

restante usa produtos de origem natural, principalmente plantas medicinais, como

única fonte de recurso terapêutico (Di Stasi, 1995). Prance (1987) relata que em

todas as 14 tribos diferentes da Amazônia brasileira e peruana que visitou foi

verificado o emprego de medicamentos preparados com plantas.

Este trabalho buscou estabelecer o resgate de valores, hábitos e a cultura, de

parte da nossa comunidade estudantil, explorando os saberes e práticas populares

quanto à promoção e a recuperação da saúde, através da utilização de plantas

medicinais.

A proposta enriqueceu a exposição dos conteúdos programáticos com a prática e

contribuiu de forma positiva para o fortalecimento e manutenção das relações;

professor/aluno, escola/comunidade e homem/meio ambiente, tornando nesse

sentido a escola um espaço democrático, comprometida com o resgate e construção

de valores fundamentais para a conquista do cidadão critico, reflexivo e participativo.

Os produtos preparados pelos alunos foram liberados para que os mesmos os

levassem para uso em casa; e doação para a comunidade acontece no M.A.I.S.

(Manhã de Atividade do Instituto Samaritano), sempre no mês de outubro.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BALADRIN, M.F.; KLCKE, E.S.W.; BOLINFER, W.H. Natural plants chemicals: Sources of industrial and medicinal materiais. Science, 228:1154/1160, jun. 1985.

108

BALBACH, A. A Flora Nacional na Medicina Doméstica. 17. ed. São Paulo, edições " A Edificação do lar”, s.d. 919 p. il.2v. CORREA, M.P. Dicionário das plantas úteis e das Exóticas Cultivadas. Rio de Janeiro. Imprensa Nacional,1926-1978.il. CORREA JR., C.; MING, L.C. SCHEFFER, M.C. Cultivo de Plantas Medicinnais, Condimentares e Aromáticas. Curitiba, EMATER-PR,1991. DE VOLTA ÀS RAÍZES. Olinda, equipe "De volta às raízes",1986-1992. EMATER/DF. Remédios Caseiros. 2 ed. Brasília, s.ed., 1988.54.p. ERVAS MEDICINAIS. São Paulo, Três, 1983.113p.il. FIGUEIREDO, L.S. CHEIRO DE MATO: Transcrição das Receitas apresentadas pelo Prof. Sylvio Panizza. GROS, E.G. et.al.. Introduction al estudio de los productos naturales. Washington. OEA, 1985. 146p. GRUPO ENTRE FOLHAS PLANTAS MEDICINAIS. I Curso de Plantas Medicinais. Viçosa. s.ed. 1992.38p.(mimeografado) GUIA RURAL ERVAS E TEMPEROS. São Paulo, ICONE, 1986. LEWIS, W. H. Medical Botany, Plants Affecting Man's Health. New Yo rk, J.Willey.1977.515p. IL. LORENZI, H. Plantas Daninhas do Brasil. 2 ed. Nova Odessa, Editora Plantarum, 1991. MARTINS, E. R. Plantas Medicinais: Efeitos do Meio na Produção de Fármacos. Viçosa. Depto. De Fitotecnia/UFV, 1992, 19p (datilografado).

DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM: UM FATOR DE DESEQUILÍBRIO NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO.

Marcia Lessa Medeiros da Silva1 1Instituto Presbiteriano de Cabo Frio, email: [email protected], Cabo Frio/RJ - Brasil

Resumo: O contexto educacional brasileiro denuncia sua crise mediante índices de reprovação e fracasso escolar; aliado ao quadro de uma escola com dificuldade de aprender, uma saúde doente, um sistema habitacional sem teto e um trabalho sem emprego. Este contexto

109

emergencial suscita em nós a necessidade de propostas que viabilize mudanças no contexto educacional. O objetivo deste artigo é refletir o processo em que perpassa a dificuldade no processo avaliativo e suas consequências no processo relacional entre professores e alunos, bem como propor medidas e entendimentos que partam da necessidade da formação continuada para que professores possam assumir uma pratica reflexiva, embasada cientificamente. Tal investimento no professor possuirá reflexo direto no aluno minimizando as dificuldades na aprendizagem e possibilitando espaços de diálogos onde os indivíduos envolvidos possam se encontrar na condição de sujeitos no processo de ensinar e aprender.

Palavras Chaves: Dificuldade de Aprendizagem, Avaliação, Ensinar/Aprender, Professor/Aluno

Abstract: The Brasilian educational context betrays their crisis by failure in school: together with ascenario of a school without a job. This emergency context suggests to us the need for proposals that might allow for changes in the educational context. The aim of this paper is to Reflect the progress that permeates he difficulty in the evaluation process and its consequences on the relationship prosess between teachers and studentes as well as propose measures, and that part of the need for continued education so that.

Key words: Diffculty learning- Evaluation-Teach/Learn- Teacher/stundent

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo fala da dificuldade de aprendizagem que é algo tão

oportuno quanto corriqueiro, uma vez que tal temática vem sendo

constantemente discutida e considerada entre aqueles que se encontram

mergulhados no ambiente educacional, a valorização do individuo, o avanço da

tecnologia, o aumento do conhecimento científico como fruto de uma política de

sistematização e valorização das praticas pedagógicas, tem contribuído para

que haja um espaço de reflexão que subsidie uma ação eficaz e consciente na

atuação com as dificuldades de aprendizagens. Por outro lado, essas

dificuldades se alimentam de todo um processo político

110

e social que viabiliza o empobrecimento das relações sociais, a massificação

da sociedade, e isto através da diminuição do acesso a uma educação que

promova indivíduos críticos, reflexivos e atuantes no contexto social. Encarar o

aluno como sujeito implica situar-se em sua realidade e propor condições para

que este aluno assuma o papel de coautor de sua história, principalmente de

sua história escolar e assim transforma-se em “um sujeito capaz de exercer

sua própria lógica e que se sobreponha quando necessário á lógica do

ambiente”. (LARANJEIRA, 200P. 44). Para isso é preciso atentar e refletir

sobre o diálogo existente, o mantido e o esperado entre professores e alunos.

Este artigo aborda a relação entre aprendizagem e desenvolvimento,

utilizando-se da perspectiva Vigostisquiana da valorização da cultura na

relação entre desenvolvimento e aprendizagem, faz–se consideração da

concepção “bancaria” segundo a visão de Paulo Freire dos sujeitos aprendem-

te e também trabalha a relação interpessoal como uma

Importante relação entre professores e alunos e o quanto esta relação pode

influenciar o desejo de aprender minimizando assim as dificuldades no

processo escolar. Paulo Freire (1993) destaca a necessidade de se falar ao

educando e de se falar com o educando e ainda diz que existem momentos em

que a professora assumindo seu papel de autoridade deve dizer o que deve ser

feito, estabelecendo limites, e providenciando assim material para a formação

de conceitos como espaço e liberdade para o aluno. No entanto estes

momentos precisam estar mesclados onde se fala com o educando. Falar com

educando implica em ouvi-lo e assim perceber que diversas situações no

cotidiano geram lições e promovem aprendizagens. A nossa pesquisa propõe

coletas de depoimentos do cotidiano escolar de professores e alunos, no intuito

de apontar alternativas de trabalho cujo objetivo é perceber que ação deve

eliminar minimizar e prevenir as dificuldades de aprendizagens no processo de

ensinar e aprender? A motivação que objetivou esta pesquisa parte de

inquietações pessoais, em perceber a difícil tarefa de se trabalhar e avaliar

alunos que apresentam dificuldade de aprendizagem e o quanto esta

dificuldade desequilibra todo um processo educacional, minando a autoestima

do aluno e levando ao professor o sentimento de frustração. Dai o interesse de

111

se investigar o tema, visando contribuir para minimizar o desconforto entre

professores e alunos no processo de ensinar e aprender.

2. REVISÂO BIBLIOGRÀFICA

Os estudos de Vygotsky (1992) sobre a aprendizagem decorrem da

compreensão do homem como um ser que se forma em contato com a

sociedade. Ele rejeita nos seus estudos os conceitos de teorias inatistas nas

quais se acredita que o ser humano carrega ao nascerem características que

se desenvolverão ao longo da vida. Nesta rejeição ele também inclui as teorias

empiristas e comportamentais que veem o ser humano como um produto dos

estímulos externos. Para Vygotsky (1992), a formação se dá numa dialética

entre o sujeito e a sociedade, ao seu redor, ou seja, o homem modifica o

ambiente e o ambiente modifica o homem. Nesta relação de interação um de

seus pressupostos básicos é “que o ser humano constitui-se enquanto tal na

sua relação com o outro social. A cultura torna-se parte desta natureza humana

num processo histórico, que ao longo do desenvolvimento da espécie e do

indivíduo, molda o funcionamento psicológico do homem”. (Kohl, 1992, p. 24).

Nisto podemos claramente perceber a relação e a intenção do homem com

ambiente cultural, pois na ausência do outro, o homem não se constrói homem.

O que significa dizer que quando o indivíduo não estabelece um vínculo de

interação, o seu desenvolvimento e aprendizado ficam comprometidos, pois

não há significação real de um saber que advém de uma experiência pessoal,

que seja construída e internalizada sem o seu grupo cultural. Vygotsky (1992)

levanta outra questão que diz a respeito da mediação. Segundo ele “toda

relação do indivíduo com o mundo é feita por meio de instrumentos técnicos”,

ou seja, todo aprendizado da criança é mediado pelo adulto no uso destes

instrumentos. Neste momento ela passa a internalizar as experiências até se

apropriar delas e assim tornar-se independente. Percebe-se que o

aprendizado segundo Vygotsky (1992), não se encontra totalmente

subordinado ao desenvolvimento intelectual da criança, mas um alimenta o

outro permitindo um aprendizado significativo. “Para Piaget não há privilégio do

112

social sobre o individual nas suas concepções sobre o processo de aquisição

do conhecimento, Freitas (1993, p30) nos leva a refletir o seu pensamento

onde se afirma que ele (Piaget)” Crê que o homem é produto do meio social

onde ele se encontra inserido, mas que não somos apenas reflexos desta

estrutura social. Há em cada homem um espaço de autonomia e liberdade de

ser único.

Segundo Faille (1992, p.12) Piaget é conhecido por “desprezar” o papel de

fatores sociais na vida do indivíduo, o que ele chama de injustiça, pois Piaget

não se ateve nos seus estudos pesquisar o papel da sociedade na vida do

indivíduo, mas sim pesquisar o papel do individuo “social” e sua interferência

no progresso e na qualidade do pensamento humano. Segundo Piaget “o

homem normal não é social da mesma maneira aos seis meses ou aos vinte

anos de idade, e, por conseguinte, sua individualidade não pode ser da mesma

qualidade nesses dois diferentes níveis”. Do estudo de suas concepções Piaget

criou um campo de investigação que é conhecido como a epistemologia

genética, onde nesta teoria, o conhecimento é centrado no desenvolvimento

natural do indivíduo. Nos seus estudos ele define que o pensamento humano

passa por quatro estágios do nascimento até o início da adolescência onde ele

adquire a capacidade plena do seu raciocínio. Não se nega a forte influência do

pensamento Piaget ano na educação, no entanto chamo atenção que, de certa

forma este pensamento do desenvolvimento se torna limitado à medida que a

partir da teoria Piaget Iana não se pode fazer uma criança aprender o que ela

não está preparada para absorver. Segundo ele o pensamento do

desenvolvimento humano passa pelo estágio básico do pensamento cognitivo.

O sensório motor que vai mais ou menos até os 2 anos de idade. Neste

momento a criança administra seus reflexos básicos e podem guiar ações de

prazer ou de vantagem. É um momento anterior a aquisição da linguagem, e a

criança é capaz de perceber a si mesmo e os objetos à sua volta. No estágio

pré-operacional que vai dos dois aos sete anos surge à capacidade e a

necessidade de dominar a linguagem e a representação por meio dos

símbolos, a criança continua egocêntrica, e aprende lentamente a se colocar

no lugar do outro. No estágio das operações concretas, dos sete aos 12 anos,

113

a criança adquire a noção de reversibilidade de suas ações, começam a surgir

às lógicas nos processos mentais para discriminar objetos nas suas igualdades

e diferenças, também já dominam conceitos de tempo e número. Por volta dos

12 anos segundo a teoria de Piaget o estágio é das operações formais, esta

fase marca a entrada na fase adulta noções cognitivas. O adolescente passa a

ter domínio do pensamento lógico e dedutivo, o que o habilita à

experimentação mental, onde ele faz relações de conceitos abstratos e ganha

a capacidade de raciocinar sobre hipóteses. A partir deste estágio Faille diz

que (1992 p.16) segundo Piaget, a criança adquire o que ele chama de

personalidade e longe de estar à margem da sociedade, a personalidade

constitui o produto mais refinado da socialização. Piaget (Taille, 1992) define

diversos momentos de socialização partindo do zero até a aquisição do que

chamamos maturação; neste momento percebem-se as diferentes etapas do

desenvolvimento do ser social, onde sua demonstração é clara quantos aos

objetivos da aquisição do desenvolvimento da aprendizagem que se processa

por interação de estruturas internas e contextos internos. O que faz divergir do

pensamento Vigotskyano, que se refere ao desenvolvimento da aprendizagem

pelo processo de influência ativa do meio social.

3. METODOLOGIA

A metodologia utilizada no desenvolvimento de minha pesquisa terá dois

momentos, o primeiro momento partiu de abordagem bibliográfica, cujos

autores tratam da dificuldade de aprendizagem no processo pedagógico,

autores estes, que trabalham a teoria do desenvolvimento humano e também a

relação interpessoal como um caminho para o desejo de aprender e a

formação continuada como forma de avaliação da prática docente. O Segundo

momento partimos de escutas e diálogos com alunos e professores para coleta

de impressões e vivencias do cotidiano escolar por meio de depoimentos e

estudo de caso. Para coleta de informação em forma de depoimentos foram

elaboradas perguntas onde os professores puderam relatar seus

conhecimentos, sua pratica e intervenção em sala de aula. As perguntas

elaboradas foram realizadas com 04 professoras. No

114

estudo de caso foram colhidos relatos de dos 04 alunos, sendo 3alunos do

Fundamental um e um aluno estudante universitário.

4. ANALISE E DISCUSSÂO

Paulo Freire (2005) enfatiza importância da atividade de avaliação que o

professor faz de si mesmo através do resultado de sua atuação, ou seja, o tipo

de aluno e de cidadão que se obtém como fruto do processo educativo. Freire

(2005) escreve que não há docência sem deiscência, onde ensinar exige rigor,

respeito aos saberes dos educandos, criticidade, estética e ética, exige

pesquisa, risco, aceitação do novo, rejeição a qualquer forma discriminatória,

reflexão crítica sobre o pratica e reconhecimento da identidade cultural. Em

todas as tematizações sobre a educação a atuação do professor é sempre um

dos meios pelos quais se define determinada prática educativa, e este trabalho

segue pelo mesmo caminho. A questão é que quando a discussão sobre um

determinado modelo educativo avança na direção da democratização, a

educação é considerada um instrumento da construção política, social e

individual. Assim, sua amplitude não se deixa encerrar num quadro

metodológico fechado, pré-concebido, estereotipado. É preciso um constante

auto avaliação da atividade docente quando se considera a realidade das

pessoas comuns em processo de aprendizagem, Segundo (Freire 2005) o que

passa por um entendimento sobre suas concepções de mundo e suas

transformações de modo que a transmissão de saberes possa ser realmente

eficiente. O objetivo aqui é uma pesquisa que possibilite dar visibilidade de que

os profissionais da área de educação, principalmente professores, devem

manter a postura constante de auto avaliação da sua formação e atuação. Isto

porque uma vez que o movimento de ensino aprendizagem segundo Freire

(2005) é um processo inacabado, a construção do cidadão autônomo deve

sempre ser incentivada. A educação como processo perpétuo, existirá

enquanto o homem tiver vida. E, assim, é preciso enfatizar que esse

profissional da educação, resinificando sua postura frente à construção do

conhecimento, deve constituir uma busca de alternativas para ajudar alunos

115

com dificuldades na aprendizagem, ao invés de, simplesmente, taxá-los como

“incapazes”. É um fato que o fracasso escolar é geralmente apontado como

falha do aluno. E como é um lugar-comum do discurso pedagógico, seu fim

ainda está longe de ser alcançado. Ainda assim, muitas possibilidades existem

para se melhorar este quadro. Em relação à atuação dos professores,

identificamos três condições importantes a serem buscadas na atuação pratica

pedagógica: Alternativas ideológicas que viabilizem ao professor uma postura

reflexiva da sua ação avaliativa; outra é propor estratégias que ajude o

professor a se enxergar como fomentador do diálogo na relação professor-

aluno durante o processo de ensino-aprendizagem e ainda facilitar o

desenvolvimento de uma postura crítica na relação professor-aluno. Esses três

objetivos não podem ser compreendidos separadamente. A reflexão é

importante para que se revejam às posições assumidas na relação com os

alunos, para que, então, esta relação seja cultivada como um verdadeiro

diálogo e não monólogo. Ou seja, que haja um verdadeiro espaço para a

crítica. Acreditamos que as saídas para muitos dos impasses da educação hoje

estão intimamente ligadas à atuação do professor, pois “nas condições de

verdadeira aprendizagem os educados vão se transformando em reais sujeitos

da construção e reconstrução do saber ensinado”. (FREIRE, 1999, p.29). Este

é um fato, deve-se notar que cabe especialmente aos professores construir.

Um professor formatado ou educado numa concepção de reprodução social

educacional tem a capacidade de adquirir autonomia profissional? Tenho lido

muito a respeito e confesso que percebo cada vez mais que a práxis é uma

realidade distante das salas de aula, o que observamos são poucos

capacitados e muitos formatados pelo poder que aprisiona. O mestre Paulo

Freire nos adverte: “é ouvindo o educando, tarefa inaceitável pela educadora

autoritária, que a professora democrática prepara cada vez mais para ser

ouvida pelo educando. Mas, ao aprender com o educando a falar com ele

porque o ouvir ensina o educando a ouvi-la também”. (Freire, 1993, p. 88). O

que Paulo Freire nos fala nada mais é do que mostrar a realidade das nossas

salas de aula, onde nós professores necessitamos compreender que resinificar

nossa prática é urgente principalmente, para a busca de autonomia

116

profissional, contribuindo para uma transformação no contexto educacional e

social. Oliveira (2005) fala que segundo Freire a autoridade coerentemente

democrática está convicta de que a disciplina verdadeira não existe se

estagnada ou silenciada, mas existe no alvoroço dos inquietos, na dúvida que

instiga e, na esperança que desperta.

Depoimento 01 – Formação Superior em Pedagogia

Falha pedagógica caracteriza-se pela omissão do professor em não ajudar o

aluno com a dificuldade de aprendizagem, mesmo depois de identificá-la, ou

mesmo a falta de percepção do professor de identificar a necessidade de ajuda

do aluno. Dificuldade de Aprendizagem é o que o aluno apresenta em relação á

fala, escrita, cálculo mental, raciocínio e percepção fazendo com que o aluno

tenha pouca ou nenhuma expressividade e baixo rendimento. A minha

formação possibilitou que eu reconhecesse diversas dificuldades de

aprendizagens, mas não me forneceu segurança para trabalhar com elas e

assim ajudar o meu aluno. Esse tema é trabalhado de forma superficial e não

há uma preparação do professor para intervir-nos mais variados casos.

Lecionei para um aluno no 5º ano do ensino fundamental que apresentava

dificuldades em se concentrar, raciocínio lógico, inscrita incorreta de palavras,

desordem na escrita e organização de parágrafos. Tentei trabalhar com ele

acrescentando atividades diversificadas em sua rotina de livre iniciativa e

atividades dirigidas de acordo com suas necessidades, porém o aluno não

conseguia prosseguir. Busquei ajuda da equipe pedagógica, pedimos um maior

apoio da família, mas o aluno se mostrava apático, desinteressado e com

nenhuma motivação para aprender. A história de vida desse aluno era muito

complicada. Filho de pais separados e omissos nunca comparecia na escola e

o aluno não conseguia atingir os objetivos traçados para ele nas atividades

propostas. Ao final do ano letivo o aluno foi reprovado, os pais compareceram

para cobrar da escola, mesmo tendo feito tudo que estava ao meu alcance à

culpa da reprovação do aluno segundo os pais foi da professora.

Depoimento 02 - Formação: Superior em Pedagogia

117

Dificuldade de aprendizagem é diferente da falha pedagógica. A falha

pedagógica acontece quando o professor não percebe que o aluno está

apresentando uma dificuldade e assim, não realiza um trabalho diferenciado e

direcionado á atender necessidade do aluno. Percebo também, que muitos

professores não estão preparados e não são bem orientados para desenvolver

este tipo de trabalho. Isto é uma grande falha decorrente da má formação de

muitos profissionais. Dificuldade de aprendizagem é quando o aluno mostra

indícios de que não consegue (por algum motivo) acompanhar e desenvolver

as atividades proposta e o professor precisa estar envolvido no processo de

cada aluno para que através da observação possa detectar os vários tipos de

dificuldades e assim poder fazer as intervenções e pedir ajuda da equipe

pedagógica. A minha formação me ajudou a perceber as dificuldades do

alunado, e está atenta a ajudá-los, mas sem dúvida a maior parte do meu

aprendizado se deu na pratica do dia a dia, nas conversas com os colegas, nas

orientações recebidas e também na formação continuada através de cursos

palestras e leituras. Lembro-me que alfabetizei uma menina muito esperta e

dedicada. No inicio ela acompanhou o processo normalmente, em certo

momento ela começou a apresentar dificuldades e essa dificuldade foi

aumentando. Observei que a aluna trocava a maioria dos fonemas na escrita,

porque oralmente fazia trocas na pronuncia da palavra. A aluna também não

conseguia organizar e estruturar frase curta e pequenos textos, sua escrita

apresentava se confusa com omissão e trocas de letras. Neste momento toda a

turma estava em processo normal do processo de alfabetização quando

percebi a dificuldade da aluna pedir ajuda á coordenação, pesquisei sobre a

dificuldade apresentada e conversamos com o responsável da aluna e pedimos

algumas avaliações de profissionais onde detectou a necessidade de

tratamento fonoaudiólogo e um reforço escolar. Após as intervenções e

tratamentos começamos a perceber uma mudança considerável no processo

de alfabetização da aluna. Ao final do ano letivo a aluna já se encontrava

alfabetizada, escrevia textos estruturados sua escrita passou a ser clara e com

pouca troca de letra. Ressalto a importância da observação e das intervenções

realizadas para o sucesso do trabalho com a aluna. Este ano sou professora

118

novamente desta aluna no 4º ano do ensino Fundamental, onde a aluna

acompanha com sucesso todo o objetivo traçado para a turma. Observo que o

trabalho conjunto cooperou para a superação de todas as dificuldades

Depoimento 03 - Formação de Professor (Médio)

Entendo falha pedagógica quando o professor se omite a ajudar o aluno no

momento que ele precisa. Já a dificuldade de aprendizagem é a dificuldade na

aquisição da fala, da escrita, leitura, cálculos e raciocínio na forma plena. No

meu curso de formação de professor não fui preparada para atender as

necessidades individuais de cada aluno. Aprendi a ensinar o conteúdo de uma

mesma forma para todos os alunos. O meu aprendizado aconteceu e acontece

em sala com meus alunos, nas conversas com os colegas, nas leituras que

faço e na coordenação pedagógica na escola que trabalho. A cada ano

aparece um novo caso que me desafia a buscar orientações e ajuda com

outros profissionais, o que tem me ajudado a superar os obstáculos. Fui

professora de um aluno superativo, não parava sentado, corria o empo todo

pela escola, mexia com os colegas, gritava e não admitia ser chamada

atenção. Apresentava dificuldades na fala, escrita, nos cálculos e raciocínio. Às

vezes me batia um desespero e achava que não ia conseguir, pois as escutas

me deixavam confusa nos meus procedimentos de intervenção e buscamos

ajuda de profissionais da área e junto firmou uma parceria com os pais e

fizemos um planejamento de ação para ser utilizado na escola e em casa pelos

pais. Contamos com ajuda de DEUS e aos poucos começamos a perceber

mudanças no comportamento do aluno e um avanço cognitivo. O meu maior

aprendizado foi aprender a dividir minhas aflições, pois reconheço que sempre

fui uma professora muito individualista, não gostava de compartilhar meus

sucessos e muito menos minhas derrotas, mas percebi que sozinha não

podemos resolver nada, pois sempre necessitamos da ajuda do outro e os

obstáculos nos ajudam há crescer cada dia na nossa caminhada e no

desenvolvimento do nosso trabalho.

Depoimento 04 - Formação: Superior em Pedagogia

119

Segundo o dicionário Aurélio FALHA, quer dizer errar, cometer erro. No

sentido pedagógico está relacionado à omissão do professor em ajudar o aluno

nas suas dificuldades educacionais. Já as dificuldades de aprendizagens estão

associadas nos decorrentes aspectos de alteração das estruturas mentais e

emocionais ou neurológicas que se repercutem nos processos da aquisição da

construção e desenvolvimento das funções cognitivas. O meu processo de

formação tem me proporcionado momentos de descobertas, através de

pesquisas e observação do cotidiano escolar. As dificuldades que se

apresentam são muitas e variadas e o curso de formação de professor quanto

o superior ficam distantes das realidades da sala de aula, saímos dos cursos

com o diploma na mão, mas sem a noção da realidade dos problemas

educacionais. Tive a experiência com um aluno que demorou se adaptar ao

ambiente escolar, o aluno hora se mostrava extremamente carinhoso, outras,

demonstrava-se irritado e tinha atitudes de agressividades com os colegas e

professora. Quanto a sua linguagem não era clara e se utilizava de palavras

soltas, repetitivas e desconexas para se comunicar. Seu comportamento e

aprendizado em relação à turma ficavam bem abaixo do esperado para a sua

faixa etária. Busquei ajuda com a equipe pedagógico que acionou os pais. Foi

pedido avaliação de profissionais da área neurológica e psicológica. Tivemos o

retorno e assim podemos junto à coordenação refletir o nosso trabalho

direcioná-lo ao aluno na esperança de minimização das suas dificuldades.

ESTUDO DE CASO - 01

Na outra escola eu não gostava de ir não. Eu chorava e minha vó ficava na

sala um tempão comigo. Eu não gostava de ficar lá não. Os coleguinhas riam

de mim, botava apelido e a tia não falava nada. E tirava nota ruim e ele me

chamava de burro, eu ficava triste. Eu ia pra lá porque minha vó me mandava

ficar lá. Outra coisa que me deixava chateado é que tia me mandava lê, e ela

sabia que eu não sabia lê, eu lia letra por letra e demorava. Eu acho que ela

fazia isto só pro colegas me chamar de burro.

Aluno do 3º ano Ensino Fundamental

120

(Transcrito conforme a fala do aluno)

ESTUDO DE CASO - 02

Eu gostei desta escola, os colegas são bem legais, eu brinco com eles gosto da

tia, mas eu fiquei triste outro dia. A tia mostrou minha nota para outras tias e elas

riram de mim eu acho. Falei pra minha mãe ela falou com a tia, e ela conversou

comigo, falou que gostava de mim e que não estava rindo de mim, só mostrando

para a outra tia que eu tinha melhorado. Eu acreditei, eu sei ela gosta de mim, gosta

de todos. Ela brinca com agente, mas também é um pouco séria, mas é legal. Eu já

aprendi um monte de coisa. Até agora minhas notas são mais ou pior.

Aluno do 4º ano do Ensino Fundamenta

(Transcrito Conforme a fala do aluno)

ESTUDO DE CASO - 03

Entrei na escola no chamado Jardim da infância, fui criada por minha avó materna

e minha tia, quando criança sempre foi muito tímida e gostava de brincar sozinha. E

foi por este motivo que acharam que entrando na escola eu iria melhorar, eu teria

contato com outras crianças. Mas foi ao contrário entrava na escola muda e saia

calada, não falava com as professoras e nem com os colegas. Eu tinha vergonha,

achava que ninguém gostava de mim. Todos os colegas tinham mãe e a minha tinha

ido embora e a professora não conversava comigo eu lembro que me sentia muito

infeliz na escola. Eu não chorava, mas tinha vergonha até de pedir para ir ao

banheiro e ai quando via eu fazia minhas necessidades ali mesmo e quando isso

acontecia à professora brigava muito comigo.

Um dia me mudaram de sala e eu fui parar na classe de criança com problemas

mentais. Eu fiquei cinco anos estudando nesta classe sem responder a nada e sem

falar. Na escola achavam que eu era muda e quando falava com minha avó ela

dizia: ela fala sim, ela conta tudo o que acontece aqui. Ela é muito tímida mais é uma

criança normal. Certo dia chegou uma tia nova, contou historinha, cantou e brincou

de se esconder. Nesse dia eu não brinquei, mas ela levou todos para lavar as mãos

e ir ao banheiro. Parecia que ela adivinhou eu estava com vontade de fazer xixi. Ela

sempre levava agente no banheiro, ela conversava com

121

agente fazia carinho e eu peguei confiança nela e comecei a responder as perguntas

e brincar com os colegas e ela. Ela tinha um cabelo bonito e deixava-me mexer nele.

Um dia ela falou menina você é muito esperta você não pode ficar aqui você tem que

ir para a sala de criança normal. Aos poucos ela foi me convencendo que era melhor

eu ir para outra sala, que ela ia conversar com a tia e ela ia ser minha amiga e que

eu podia visitá-la quando sentisse saudade. Não foi fácil: mas fui e sempre antes de

ir para a sala dela, passava na minha sala conversava comigo me abraçava. Com o

tempo minha história foi mudando e fiz todo um processo escolar sem maiores

atropelos. Hoje sou estudante de pedagogia e espero ajudar meus alunos olhando

sempre as necessidades individuas de cada uma delas. Percebo que me faltava na

realidade era me sentir amada e uma avaliação adequada e quando recebi isso

minha história mudou. (Estudante do 2º período de Pedagogia)

ESTUDO DE CASO 04

Nossa escola recebeu um aluno com nove anos de idade e com uma hist6ria de

insucesso escolar, sendo matriculado na classe de alfabetização junto com aluno de

seis anos. Nossa equipe de direção refletiu sobre o quadro e percebeu que naquele

momento o importante era resgatar o aluno, após conversar com a responsável, sua

matricula foi efetivada na primeira série. O referido aluno trouxe muitas

"preocupações" tanto ao professor, quanto á coordenação. “Reclamações e

avaliações da professora”: "O aluno é disperso", "não consegue interpretar, nem

resolver os problemas mais simples", "é apático e alheio, se dispersa com facilidade,

mas por outro lado é um aluno carinhoso, educado, cordial com os colegas, mas se

mostra desmotivado nas aulas," parece que nada entra na sua cabeça'. Chama mãe,

conversa com o aluno, coloca em reforço paralelo, desenvolve-se um trabalho

diferenciado com o mesmo. Esses foram alguns procedimentos tomados pela

escola. Observando o aluno no horário do recreio, percebi sua desenvoltura ao

comprar na cantina, nas regras dos jogos, e em outras atitudes que não condiziam

com as observações avaliativas da professora. Conversei com a mãe do aluno, e

procurei saber o que ele mais gostava de fazer, como era seu comportamento em

casa, etc. Nas conversas descobri que a mãe trabalhava na pesca e possuía

ganchos para pegar camarão e siri, e o que mais ele gostava de fazer era pegar siri

e camarão para vender, ele os recolhia diariamente e

122

dava para tirar uns trocados, como ele mesmo dizia mais ou menos de quinze a

vinte e cinco reais "dependia se a pesca fosse boa". Eis o motivo porque o mesmo

não gostava de vir para a escola. Com essa informação, me aproximei do aluno,

sempre no recreio e procurava saber como tinha sido a pesca, quantos quilos

conseguira e o seu olho brilhava, pois aquilo lhe dava prazer. Até que resolvi

conversar com o aluno sobre os seus sonhos, ele me confidenciou que pretendia ser

"um empresário do peixe, ter barcos e outras coisas mais", nesta nossa conversa eu

falei o quanto admirava o seu sonho e torcia por ele, mas que só havia um problema:

Ele me perguntou o que tia? Olha Arte mio, para você se tomar um grande

empresário e ter tudo isso que me falou, você precisa estudar e se esforçar para

aprender, pois se não fizer isto vai ficar difícil e os outros vão passar a perna em

você. Sempre o sinal do recreio batia e nossa conversa continuava no dia seguinte.

Sempre nas nossas conversas ele olhava fixamente em meus olhos. Depois de

algumas semanas, na coordenação a professora falou da mudança do aluno nas

realizações das tarefas e que ele estava mais concentrado. Transcorre o tempo e o

aluno era relatado como outro com comportamento totalmente diferente,

principalmente nas realizações das tarefas de casa (basicamente pesquisas). Inicia-

se o período das avaliações, e após realizações destas, á professora entra em

nossa sala falando mais ou menos algo assim: "gente um milagre aconteceu,

Artemio foi muito bem ás provas". Lembro-me que conversamos sobre varias

hipóteses... Bate o sinal do recreio e eu me aproximo do Artemio falo da alegria e do

orgulho pelo seu novo comportamento e desempenho parabeniza pelo seu esforço e

comportamento. O aluno me interrompe e diz: "Tia você falou que se eu quisesse

me tomar um empresário do peixe eu teria que me esforçar; então tia eu estou me

esforçando". Naquele momento eu sentir uma lagrima correr na minha face, o

abracei... Dispensei as palavras. (Experiência vivenciada pela autora)

5. CONCLUSÃO

Refletindo percebo o quanto à escola está distante da realidade significativa para

a vida do aluno. O grande educador Paulo Freire, nos adverte que a escola faz de

seus alunos grandes depósitos com saberes insignificantes prescrito, onde nos

123

chama atenção que um dos elementos básicos na mediação opressores - oprimida é

a prescrição. “Toda prescrição é imposição da opção de uma consciência

recebedora no que vemos e chamamos de consciência hospedeira da consciência

opressora. O comportamento do oprimido é um comportamento pré-escrito". (Freire,

2005 p.37). Trabalhar sem reflexão é condicionar os alunos a um processo de

alienação ou até mesmo de condicionamento; onde alunos esperam do professor

receber, e o professor na maioria das vezes são incapazes de perceber a riqueza da

vivência extraescolar do aluno. O grande desafio da educação na atualidade é levar

os docentes a refletir sua prática; e no ato da reflexão libertar-se, e assim também

poder libertar seus alunos. Na concepção bancaria da educação, o educador

aparece na figura de agente, onde o objetivo é "encher a cabeça" dos alunos com

conteúdos distantes, aula desmotivou fora das necessidades dos alunos. Nesta

concepção as palavras se tomam vazias, sem a dimensão concreta de seu

significado; o educador é o sujeito do processo de ensino e conduz o aluno a uma

memorização dos conteúdos narrados. Encontramos professores e alunos

aprisionados num ato depositário, sem reflexões, o que gera opressão do professor

sobre o aluno, se cobra memorizações, tabuada na ponta da língua, prova surpresa,

tudo como instrumento opressor para manter o aluno ocupado sem o direito de

verbalizar seu próprio pensamento, acreditando que quanto mais conteúdo passar,

melhor educador será, e, quanto mais o aluno acumular conteúdos melhor educando

será. Percebemos que o perfil do educador pouco mudou. Na verdade, poucos são

os que fogem do conceito de educação bancária, ou seja, (Freire, 2005) "o saber

não passa de uma doação dos que se julgam sábios, aos que nada sabem". Então

aos sábios cabe: dar, entregar e transmitir o seu grande saber, portanto, a educação

se toma um simples ato de depositar. É fundamental reconhecer que a posições

rígidas apenas fossilizam o conhecimento, o desafio da educação hoje é reconhecer

que o centro da inteligência é aprender a aprender, o que nos leva a pontuar como

um grande distanciamento da concepção bancaria de educação. Desinteresse,

desatualização e indisciplina estão associados e quase sempre são atitudes e

comportamentos de crianças que de acordo com o sistema de ensino são armas que

os alunos usam para demonstrar sua insatisfação com a escola, e a maneira pela

qual estão sendo tratados ou até desrespeitados. Um olhar diferenciado para o

124

processo de ensino-aprendizagem deve se comprometer, dentre algumas coisas,

com a satisfação interna da criança na realização das propostas, buscando

desenvolver nesta criança a autonomia, a melhoria de sua autoestima, a sua saúde

emocional, o conhecimento e valorização de suas potencialidades, ou seja,

providenciando ao mesmo tempo, ser sujeito e atuar ativamente na construção de

sua história. Percebe-se que habilidades de relacionamento interpessoal e social é

comportamento apreendido e que se desenvolve no estar junto ao outro. E deste

estar junto, ninguém sai igual, mudanças e valores são engendrados no nível da

consciência que poderá facilitar ou não o mecanismo de comunicação que vai influir

diretamente nos relacionamentos. O sucesso do objetivo citado depende em grande

parte da relação construída entre alunos e professores. Esta relação se constitui

numa possibilidade para que a criança se recoloque, e, a partir deste professor,

desta interação, adquira novos significados e possibilidade de superar suas

dificuldades em aprender. Entra em destaque o professor que não pode se despir de

seu papel de parceiro enquanto é e condutor outras vezes, mas, em todo tempo, é

aquele que objetiva promover e muitas vezes resinificar experiências e conteúdos

que além de desencadear aprendizagens, minimiza e supera as dificuldades de

ensinar e aprender. Para isto é necessário se instrumentalizar através da reflexão da

pratica docente e formação continuada.

Há necessidade de se ter um professorado capacitado, conhecedor dos

meandros dos processos de desenvolvimentos e ensino-aprendizagem, além de

todas as vertentes que perpassam por esses eixos, principalmente as dificuldades

de aprendizagem. Tal necessidade surge do clamor de um alunado que, ao sofrer as

dificuldades do não aprender, depara-se com professores que por falta de

conhecimento, assumem posturas arcaicas e excludentes vivenciadas ao longo dos

anos. O autor baixo corrobora com este pensamento quando nos fala que: “As

deficiências de formação inicial e a insuficiente oferta de formação continuada,

Aliada a outros fatores desestimulantes, têm resultados num grande contingente de

Professores mal preparados para as exigências mínimas da profissão”. (Libâneo,

2002, p14). Investir na formação e na relação entre professores e alunos. É

promover espaço para que se comuniquem, é promover condições para que os

professores se capacitem, é motivar a implementação

125

de estratégias motivacionais, é, acima de tudo, contribuir para a saúde emocional

destes indivíduos que ao assumirem a condição de sujeitos, entendam a sua

responsabilidade de construção de um ambiente que favoreça a todos os que

possuem e os que não possuem dificuldades em aprender. É tempo de demonstrar

esperança através de atitudes práticas que transformem não o futuro, mas o

presente.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA. R.de; PLACCO, S. de N.M.V. (org.). As relações interpessoais na

formação de professores. São Paulo: Loyola, 2002.

FERNANDES, A. Os idiomas do aprendem-te: analise de modalidades

ensinaram em famílias, escolas e meio de comunicação. Porto Alegre: Artmed,

2001.

FREIRE, P. Professor sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho

d ‟ água, 1993.

--------------- Pedagogia da autonomia: saberes necessários á pratica educativo.

São Paulo: Paz e Terra, 1999.

___________Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

GROSSI, P.E; BORDIN, J. (org). Construtivismo pós piagetiano: um novo

paradigma sobre aprendizagem. Petrópolis, RJ, 1993.

LARANJEIRA, M.I. Da arte de aprender ao ofício de ensinar, relatos em reflexão

de uma trajetória. São Paulo: EDUSC, 2000.

OLIVEIRA, de I. M. Indisciplina escolar determinação consequências e ações

Brasília, Líber livro Editora, 2005;

TAILLE, L.Y de; OLIVEIRA, K.M; DANTAS, H. Piaget Vygotsky Wallon teorias

psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

126

PÔSTERES

SUBTEMA 2: Situações didáticas relacionadas à abordagem da

aprendizagem profunda (AP)

Resumo: Os estudantes possuem diferentes motivações e estratégias para

aprender. A abordagem relacionada à AP envolve uma postura ativa do

sujeito junto ao processo de aprendizagem, demarcando uma

articulação entre motivação e estratégia ativa de interação entre esse

sujeito e o objeto de conhecimento. São características dessa

abordagem a interpretação de aspectos explícitos e implícitos, a

construção de relações amplas e abstratas, assim como a busca pela

compreensão e formação de significados pessoais diante dos objetos

do conhecimento (GOMES, 2011). Podem ser contemplados, nesse

subtema, trabalhos envolvendo situações didáticas de

127

aprendizagem baseadas em projetos, em investigação, em resolução

de problemas, em desafios e métodos de aprendizagem mais ativa

centrados no estudante.

PRODUZINDO VIDEOCLIPES

Edeliz Klaumann1

1Colégio Padre João Bagozzi, [email protected], Curitiba-PR, Brasil

Resumo: A televisão, uma das invenções mais importantes do século XX, uniu

rádio e cinema, proporcionando mais uma opção de lazer. Entre as

produções artísticas feitas para serem veiculadas por meio dessa mídia

estão os videoclipes – obras audiovisuais que articulam montagem,

música, letra e efeitos visuais em um tipo de narrativa livre da

linearidade. Até meados da primeira década do século XXI, a TV foi

fundamental para a massificação do videoclipe, sendo, até então, o

único meio de transmissão e visualização. Mas, com o advento da

internet e a criação do YouTube, MySpace e de outras plataformas, a

televisão começou a perder sua exclusividade. Atualmente, a

democratização das TICs – Tecnologias da Informação

128

e Comunicação – contribuiu para o barateamento das produções,

podendo-se fazer um clipe usando um celular. Portanto, após a

exposição oral da unidade “Televisão é (e) Arte”, a apreciação de

videoclipes de várias épocas e estilos, e a compreensão da “Estética

Videoclipe”, propôs-se aos alunos do 9º ano do Ensino Fundamental a

produção de videoclipes utilizando editores de vídeo ou softwares de

apresentação de slides. A partir daí os alunos foram divididos em

equipes e fizeram as escolhas de música e narrativa que conduziriam.

Foi disponibilizado o Laboratório de Informática para que executassem

suas produções no ambiente escolar. O resultado obtido foi muito

satisfatório, com a apresentação de muitas produções criativas,

originais e divertidas, comprovando o comprometimento dos alunos

com temas pertinentes ao seu cotidiano e áreas de interesse.

Abstract: Television, one of the most important inventions of the twentieth

century, joined radio and cinema, providing another recreational option.

Among the artistic productions meant to be conveyed through this

medium are video clips – audiovisual works containing editing, music,

lyrics and visual effects in a kind of free of narrative linearity. Until the

middle of the first decade of this century, the TV was essential for the

massification of the video clip, and so far the only transmission and

viewing media. But with the advent of the Internet and the creation of

YouTube, MySpace and other platforms, television began to lose its

exclusivity. Currently, the democratization of ICTs – Information

Communication Technologies – contributed to the cheapening of

production, making it possible to film a clip using a mobile phone. So

after the oral exposure of unit "Television is (and) Art", the evaluation of

video clips from different eras and styles, and understanding the "Music

Video Aesthetics", the production video clips using video editors or slide

show software was proposed to the students of the 9th grade. From

there, the students were divided into teams and made the music and

narrative choices for their would production. The Computer Lab was

129

made available so they could execute their productions at school. The

result was very satisfactory, with the presentation of many creative,

original and entertaining productions, demonstrating the commitment of

students with issues relevant to their daily lives and areas of interest.

Palavras-chave: Arte. Televisão. Videoclipe.

Keywords: Art. Television. Vide

130

RELATOS DE EXPERIÊNCIAS

SUBTEMA 3: Iniciativas interdisciplinares na escola

RESUMO: As vigentes Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica

– DCN (BRASIL, 2013, p. 29) destacam a interdisciplinaridade,

assumindo o princípio de que todo conhecimento mantém um diálogo

com outros conhecimentos e que o ensino deve ir além da descrição e

constituir nos estudantes a capacidade de analisar, explicar, prever e

intervir. Ela é, portanto, uma abordagem teórico-metodológica cuja

ênfase está na integração das diferentes componentes curriculares por

meio de projetos de investigação para a cooperação, a partilha de

informação e o planejamento, com o objetivo de solucionar um

problema. Como eixo norteador, os componentes curriculares e as

áreas de conhecimento devem articular em seus conteúdos, com base

nas possibilidades abertas pelos seus referenciais, a abordagem de

temas abrangentes e contemporâneos que afetam a vida humana em

escala global, regional e local, bem como na esfera individual (BRASIL,

2013, p. 134), como saúde, sexualidade e gênero, vida familiar e social,

os direitos das crianças e dos adolescentes, preservação do meio

ambiente, educação para o consumo, educação fiscal, trabalho, ciência

e tecnologia, diversidade cultural, direitos dos idosos e educação para

o trânsito.

131

Resumo: Para o presente projeto de investigação, planificou-se uma unidade

didática para ensino de inglês como língua estrangeira no 8º ano do

Ensino Fundamental. Conceberam-se recursos educativos digitais,

como um livro digital iBook. Este foi explorado em aula autonomamente

pelos alunos de forma colaborativa com recurso a tablets iPad. Testou-

se a compreensão da leitura, mas com o objetivo de levar os alunos à

produção de pequenos vídeos e de estimular a produção oral, por meio

da apresentação dos respetivos trabalhos à turma. Os objetivos deste

trabalho visavam o impacto destas estratégias e tecnologias no

desenvolvimento da competência comunicativa, na motivação dos

alunos e na utilização das tecnologias pelos professores. Foram

previamente analisados outros estudos semelhantes, procurando

vantagens e desvantagens deste tipo de trabalho, cujos resultados se

procuraram corroborar. A implementação foi realizada com duas

turmas e respetivos professores, tendo sido recolhidos dados antes e

depois da implementação da unidade didática. Foi recolhido e

analisado o seguinte corpo de dados: questionários de motivação para

os alunos, escala de utilização das tecnologias para os professores e

produções dos alunos. No final entrevistaram-se ainda ambos os

professores. Os resultados apontaram algumas diferenças positivas em

termos da motivação e desenvolvimento de competências por parte

TECNOLOGIAS MÓVEIS NA AULA DE

INGLÊS E DESENVOLVIMENTO DA COMUNICAÇÃO ORAL Projeto com alunos portugueses

Sílvia Roda Couvaneiro1 e Neuza Pedro2 1 Instituto de Educação, Universidade de Lisboa, Portugal, [email protected]

2 Instituto de Educação, Universidade de Lisboa, Portugal, [email protected]

132

dos alunos. Quanto aos professores, verificou-se que o uso destas

tecnologias poderá favorecer e estimular atividades de produção por

parte dos próprios alunos em aula.

Abstract: For this research project, a didactic unit for the 8th grade of English as a

foreign language was planned. Digital educational resources were also

produced, such as a digital book iBook. This was explored in class

collaboratively and autonomously by the students using iPad tablets.

Reading comprehension was tested, but in order to lead students to

produce short videos and to stimulate their oral production, having

students presented their work to the class. This project‟s objectives

were aimed at the impact of these strategies and technologies on the

development of the communicative competence, on students'

motivation and on the use of technology by teachers. Other similar

studies were previously analysed, looking at advantages and

disadvantages of this type of work, results which this project sought to

corroborate. The implementation was carried out with two classes and

two teachers, and data was collected before and after that moment. The

following data were collected and analised: surveys on students‟

motivation, a teacher technology use scale, and the students‟ products.

At the end, both teachers were also interviewed. The results showed a

positive difference in terms of student motivation and skills

development. The teachers‟ use of these technologies might facilitate

and stimulate production activities.

Palavras-chave: Comunicação oral. Inglês língua estrangeira. Motivação. Tablets.

Trabalho colaborativo.

Keywords: Collaborative work. English as a Foreign Language. Motivation. Oral

communication. Tablets.

133

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho explora um projeto de utilização colaborativa de tecnologias móveis

com 53 alunos de inglês de 8º ano do Ensino Fundamental, e respetivos professores

de Língua Inglesa, em duas escolas da área de Lisboa em Portugal. Para tal,

planificou-se e implementou-se uma unidade didática com recurso a tablets,

aplicativos (apps) de produtividade e outros recursos educativos digitais. O estudo

assumiu como objetivo compreender o eventual impacto deste tipo de trabalho na

aprendizagem da língua inglesa, apontando as questões de investigação para esse

impacto em relação: i) ao desenvolvimento da produção oral em língua inglesa; ii) à

motivação no caso dos alunos; iii) à apropriação destas tecnologias pelos

professores. Foi também objetivo do estudo contribuir para o desenvolvimento da

consciencialização dos docentes quanto à necessidade e mais-valia de se inovar

com tecnologias móveis em contextos educativos.

Procedeu-se ao levantamento e à análise de estudos e relatórios internacionais

sobre a utilização de tecnologias móveis, em particular o tablet iPad, já que seria

esse o equipamento a utilizar, procurando sistematizar a melhor forma de trabalhar

com o equipamento. De acordo com o que se pôde depreender da literatura,

planeou-se uma unidade didática para um projeto de leitura extensiva. Preferiu-se a

produção oral e estratégias de trabalho colaborativo, resultantes da exploração

conjunta de vários elementos textuais e visuais disponíveis no livro digital e que

levassem à produção de um vídeo sobre o mesmo tema. Esses trabalhos foram

recolhidos para análise, conjuntamente com outros dados, nomeadamente

questionários de motivação para alunos e uma escala de utilização das tecnologias

para professores, bem como uma entrevista aos docentes no final de todo o projeto.

2. ENQUADRAMENTO

A integração educativa de tecnologias móveis tem vindo a ser apontada como

pertinente e benéfica, sobressaindo diversas vantagens à sua utilização, não apenas

pela mobilidade que permite ao processo de aprendizagem dos alunos, mas também

134

pelo estímulo à sua produtividade, equidade de oportunidades e desenvolvimento de

competências digitais. No contexto específico do processo de ensino e

aprendizagem do Inglês como Língua Estrangeira, essas tecnologias poderão trazer

vantagens, sendo o enfoque deste estudo as questões associadas à produção oral e

à aprendizagem colaborativa.

Para este projeto preferiu-se trabalhar com tablets, elegendo-se mais

especificamente o tablet iPad. A investigação varia desde a utilização com o pré-

escolar (BESCHORNER e HUTCHISON, 2013) ao nível universitário (GAWELEK,

SPATARO e KOMARNY, 2011; HESSER e SCHWARTZ, 2013), sendo também

abordado o suporte em situações especiais de necessidades educativas (SHAH,

2011) e multideficiência (HELPS e HERZBERG, 2013). A nível internacional, os

relatórios de implementação assentes em casos práticos (CLARK, 2013; KARSENTI

e FIEVEZ, 2013) concordam com a adequabilidade do equipamento ao contexto

escolar. Os estudos analisados exploraram a integração em contextos educativos

distintos, tendo-lhe sido apontadas diversas mais-valias. Nomeadamente, esse tipo

de tablet poderá superar as possibilidades dos computadores (HUTCHISON,

BESCHORNER e SCHMIDT-CRAWFORD, 2012). A usabilidade, a portabilidade e a

possibilidade de adaptação às necessidades e aos interesses dos alunos são

sublinhadas como características ideais para o meio escolar (SHAH, 2011),

parecendo potenciar a diferenciação pedagógica (ENSOR, 2012). Em Portugal

encontraram-se igualmente estudos desenvolvidos com recurso a esse

equipamento, explorando a sua integração em contextos educativos formais e

informais, por exemplo para a infoinclusão de seniores (FONSECA, 2011), para

apoio a alunos com necessidades educativas especiais (RAMOS, FERREIRA e

REIS 2012), bem como no apoio ao ensino regular (BIDARRA et al., 2012).

A motivação e o envolvimento dos alunos surgem como um fator favorável à

utilização educativa do iPad, não apenas pelo sentimento de pertença

proporcionado, mas também por permitir autonomia nos processos de aprendizagem

(HESSER e SCHWARTZ, 2013; ARONIN & FLOYD, 2013; O‟MALLEY, 2013).

O‟Malley salienta melhorias no aproveitamento dos alunos por comparação a

cenários mais tradicionais, não deixando de considerar necessária uma reflexão

profunda dos professores sobre as suas práticas (O‟MALLEY, 2013) diante da

135

adesão a esses novos equipamentos. O facto de se poder usar diversas apps

parece alargar as possibilidades de aprendizagem, concordando os investigadores

com a vantagem de se aceder facilmente à informação, podendo os alunos, além

disso, produzir e publicar os seus próprios recursos multimídia, um processo criativo

que poderá ser mais autónomo, quer individualmente, quer em grupo (ENSOR,

2012).

3. METODOLOGIA

Este projeto foi realizado no ano letivo 2013/2014 e assumiu uma metodologia

mista de recolha e análise de dados, inscrevendo-se num paradigma pragmático de

investigação (ROBSON, 2011). Procurou-se verificar se haveria ou não impacto na

aprendizagem e motivação dos alunos que pudesse resultar da estratégia de ensino

e aprendizagem mobilizada. Essa estratégia foi orientada para o trabalho

colaborativo, combinada com o recurso às tecnologias móveis para consulta,

exploração e criação de artefatos digitais pelos alunos. Partindo-se da ideia de que a

colaboração na criação de um artefato digital os motivaria, procurou-se planificar

uma unidade didática em que o momento criativo explorasse a produção oral em

língua inglesa. Simultaneamente, procurou-se compreender o impacto da utilização

das tecnologias nas práticas de trabalho dos professores.

Inicialmente recolheram-se e analisaram-se diversos estudos e relatórios, tendo

sido considerados artigos que correspondessem aos seguintes critérios: a) estudos

desenvolvidos pela Apple em contextos escolares; b) estudos em que se integrou o

iPad em contextos escolares; c) estudos sobre a utilização de equipamentos móveis

no ensino de Inglês como Língua Estrangeira. Seguindo um processo sistemático de

revisão da literatura (GOUGH, OLIVER e THOMAS, 2012), constatou-se que até

aquele momento não se encontravam disponíveis muitos trabalhos científicos que

correspondessem àqueles critérios, pelo que se selecionaram para análise 2

trabalhos de acordo com o critério a, 22 para b e 2 para c.

Reunidas as vantagens e dificuldades aí encontradas, planificou-se uma unidade

didática, que adiante se descreverá. Foram recolhidos dados antes e depois da

136

implementação dessa unidade. O questionário aplicado aos alunos constituiu uma

seleção de escalas da “Attitude / Motivation Test Battery” de Gardner (GARDNER,

1985) para aferir a motivação dos alunos para a aprendizagem da Língua Inglesa.

Para o questionário relativo ao uso das tecnologias por parte dos professores,

utilizou-se uma versão portuguesa (PEDRO, 2012) da escala “Teacher Technology

Use Scale” de Bebell, Russell e O‟Dwyer. Concebeu-se um instrumento próprio para

analisar os produtos desenvolvidos pelos alunos, descrevendo-se a utilização feita

da língua inglesa de acordo com uma escala de 5 pontos para o nível A2, cujos

descritores foram concebidos de acordo com o Quadro Europeu Comum de

Referência (Conselho da Europa, 2001). A conclusão da unidade coincidiu com a

recolha dos produtos dos alunos, aplicando-se novamente os questionários já

referidos. Uma análise preliminar a todos esses dados permitiu conceber uma

entrevista com os professores para fornecer maior sentido aos resultados

encontrados. Após essa entrevista foram analisados e cruzados todos os resultados

recolhidos, procurando-se contributos que respondessem às três questões de

investigação.

4. DESCRIÇÃO DA UNIDADE DIDÁTICA – “News report from 2064”

A unidade didática a implementar com o 8º ano, que no caso português

corresponde ao nível IV de Língua Inglesa, nível A2 (Conselho da Europa, 2001)

implicou produzir diversos recursos educativos digitais. Para esses recursos

recorreu-se a softwares e aplicativos como iTunesU Course Manager, iBooks Author,

Keynote, ExplainEverything, Garage Band e iMovie. Com o iTunesU Course

Manager foi possível delinear e organizar a unidade, de maneira que os alunos

pudessem aceder aos materiais e tarefas autonomamente. Esse espaço on-line

serviu de ambiente virtual de aprendizagem, ao qual os alunos acederam com a app

iTunesU. À data essa app não permitia interação entre alunos, pelo que serviu como

repositório de materiais e tarefas, recorrendo-se à plataforma Edmodo para a

interação em língua inglesa, onde disponibilizaram as suas produções.

137

O primeiro recurso utilizado foi um livro digital, um iBook concebido para este

estudo com o iBooks Author. Intitulado “Isaac Asimov & Someday”, continha textos,

imagens e vídeos recolhidos de diversas fontes e foi concebido como um livro digital

multimédia interativo, com exercícios com feedback e correção imediata. A primeira

parte do livro foi explorada em grande grupo, tendo-se analisado informação

biográfica do autor, as leis da robótica que propôs, bem como previsões de 1964

sobre a tecnologia de 2014. Continha ainda informações textuais e visuais

interativas, bem como trailers embebidos de dois filmes contemporâneos, cujos

enredos se inspiraram em histórias de Asimov. Em grupos de 4 ou 5 elementos, os

alunos exploraram e realizaram autonomamente as tarefas de aprendizagem.

Durante a leitura conjunta de uma história de Asimov, “Someday”, os alunos iam

alternando a leitura em voz alta à vez, assegurando que todos os elementos a

compreendiam. O grupo realizou ainda exercícios de compreensão da leitura com

feedback imediato. Em conjunto, conceberam um desenho a lápis num papel que

concretizava um elemento descrito na história, tendo todo o grupo de concordar com

essa imagem. Ela viria a ser partilhada no Edmodo e apresentada à turma,

justificando as opções, sendo mais uma forma de verificar a compreensão do texto.

Tanto a história como as previsões de Asimov serviram de inspiração para as

tarefas a realizar após a leitura. No iTunesU acederam a documentos-modelo e

roteiros de trabalho a fim de responder ao seguinte desafio: produzir uma notícia em

inglês do ano de 2064 em formato de vídeo. Seguindo o roteiro, os grupos puderam

seguir as tarefas passo a passo e orientações sobre as apps necessárias. Cada

grupo tinha de planear a primeira aparição pública de uma tecnologia futurista para o

ano de 2064. Depois de planificada a notícia, recolheram imagens da internet ou

filmaram personagens dos seus contextos reais. Essas imagens foram colocadas na

app ExplainEverything (no caso dos grupos que conceberam uma animação) ou

diretamente no iMovie. Dessa, forma os alunos tiveram a oportunidade de gravar os

textos em inglês, ouvindo e refazendo gravações as vezes necessárias até estarem

satisfeitos com a sua própria produção oral. Editando os vídeos no iMovie, os alunos

escolheram ainda modelos dos noticiários da CNN, tendo partilhado os produtos

finais no Edmodo. Os vídeos foram também apresentados presencialmente à turma,

mencionado-se as tecnologias utilizadas e as dificuldades na sua utilização, o que

138

estimulou a reflexão e o debate acerca da utilidade e de obstáculos associados à

manipulação e ao uso pedagógico da tecnologia em aula, o que sucedeu em inglês.

5. CONCLUSÕES

Os resultados obtidos com os dados recolhidos e a sua análise conjunta

despoletaram reflexões para cada uma das questões de investigação. Esses

resultados aparentam ser favoráveis, podendo indiciar um impacto positivo da

unidade didática no momento em que foi aplicada às turmas participantes.

Relativamente à primeira questão de investigação, que se prendia com a

motivação dos alunos diante da aprendizagem da língua inglesa, constatou-se que

não houve diferenças significativas, já que ambos os grupos revelavam níveis

elevados de motivação no início do projeto (turma 1 – 87.99 e turma 2 – 91.97, num

máximo de 110 pontos), mantendo-se igualmente elevados no final (87.66 e 93.58

pontos, respetivamente). Todavia, as percepções dos professores nas entrevistas

ajudam a compreender esses resultados, tendo ambos salientado que a participação

dos alunos foi bastante mais ativa, principalmente no que toca à utilização oral

espontânea da língua inglesa. Ambos referiram que as turmas tiveram uma atitude

mais disciplinada e ativa em termos de envolvimento nas tarefas propostas.

Para a segunda questão de investigação, relativa ao desenvolvimento da

produção oral, considerou-se a avaliação das produções orais integradas nos

recursos digitais desenvolvidos pelos alunos. Essa avaliação revelou uma média

elevada nas duas turmas (turma 1 média 4.7; turma 2 média 4.4, num máximo de 5

pontos). Na entrevista os professores referiram que ambas as turmas já tinham

resultados bastante positivos, mas sinalizaram que sentiram diferenças na

frequência da participação oral, particularmente em alunos com dificuldades.

Para a terceira questão de investigação, consideraram-se os resultados dos

questionários aplicados aos docentes, tendo estes revelado diferenças nas práticas

de utilização das tecnologias. Os docentes tendiam a utilizar tecnologias mais

frequentemente antes e após as aulas, tendo agora essa experiência de utilização

das tecnologias móveis alterado essa tendência, registando-se um maior uso em

139

aula e mais especificamente no suporte às produções dos alunos. Nas entrevistas

os docentes reconheceram como elevado o potencial dessas tecnologias, já que

puderam constatar que com a unidade se pôde desenvolver atividades bastante

diferentes das habituais, podendo ser promotoras da motivação e do envolvimento

dos alunos e, muito em particular, do desenvolvimento da produção oral em língua

inglesa, uma dificuldade comum no ensino de línguas estrangeiras.

Os resultados deste estudo, embora não sendo generalizáveis e decorrendo da

aplicação de um projeto desenvolvido num período de tempo limitado, não deixam

de se constituir como exemplos relevantes para docentes que pretendam motivar os

seus alunos e inovar nas suas práticas de ensino, tirando partido das tecnologias

móveis como forma de melhor suportar as aprendizagens dos seus alunos.

6. REFERÊNCIAS

ARONIN, S.; FLOYD, K. Using an iPad in inclusive preschool classrooms to Introduce STEM Concepts. Teaching Exceptional Children, 45(4), p. 34-39, 2013.

BESCHORNER, B.; HUTCHISON, A. iPads as a literacy teaching tool in early childhood. International Journal of Education in Mathematics, Science and Technology, 1(1), p. 16-24, 2013.

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FONSECA, I. O uso de dispositivos multitácteis para a infoinclusão do sénior. 2011. Dissertação (Mestrado em Comunicação Multimédia) – Departamento de Comunicação e Arte, Universidade de Aveiro. Aveiro, 2011.

GARDNER, R. C. Motivation/Attitude Test Battery Manual. Disponível em: <http:// publish.uwo.ca/~gardner/>.

GAWELEK, M.A.; SPATARO, M.; KOMARNY, P. Mobile Perspectives: On iPads – Why Mobile? EDUCAUSE Review, 46(2), p. 28-32, 2011.

GOUGH, D.; OLIVER, S.; THOMAS, J. An Introduction to Systematic Reviews. Londres: SAGE Publications Ltd, 2012.

140

HELPS, H.; HERZBERG, T. Practice report: the use of an iPad2 as a leisure activity for a student with multiple disabilities. Journal of Visual Impairment & Blindness, 107(3), p. 232-236, 2013.

HESSER, T.; SCHWARTZ, P. iPads in the Science laboratory: Experience in designing and implementing a paperless chemistry laboratory course. Journal of STEM Education, 14(2), p. 5-9, 2013.

HUTCHISON, A.; BESCHORNER, B.; SCHMIDT-CRAWFORD, D. Exploring the use of the iPad for Literacy Learning. The Reading Teacher, 66(1), p. 15-23, 2012.

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O‟MALLEY, P. et al. Effectiveness of using iPads to build math fluency. In: COUNCIL FOR EXCEPTIONAL CHILDREN ANNUAL MEETING, 2013, San Antonio, Texas.

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RAMOS, A.; FERREIRA, S.; REIS, S. Análise das potencialidades do iPad visualizadas nos vídeos do YouTube no âmbito das Necessidades Educativas Especiais. Internet latent corpus journal, 2(2), p. 5-18, 2012.

SHAH, N. Special education students find learning tool in iPad applications. Education Week, 30(22), p. 1; 16-17, 2011.

141

O TEATRO DE ANIMAÇÃO COMO CONSCIENTIZADOR

DOS 3 RS COM FOCO NO RESPEITO À ECOLOGIA HUMANA

Um projeto de Artes Cênicas aplicado no 6° Ano do Ensino Fundamental II.

Alexandro Cesar Lima de Oliveira1, Maria de Fátima de Souza Moretti2 1 Colégio Energia e Colégio Salvatoriano Nossa Senhora de Fátima – São José-SC,

[email protected], Florianópolis-SC, 2 Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, [email protected], Florianópolis-SC

Resumo: A disciplina de Artes constitui um componente curricular obrigatório nas diversas etapas da educação básica no Brasil. Além de Artes Visuais, Dança e Música, esta disciplina contempla Teatro. Durante os exercícios teatrais, lecionados nesta disciplina no Ensino Fundamental II, observou-se uma menor participação dos alunos por conta da dificuldade de trabalhar em equipe. Motivado pela necessidade de por em prática a sequência didática do conteúdo desta disciplina, foi criado o projeto Ludicando bonecos...somos multiculturais, durante o ano letivo de 2014, visando apresentar o Teatro de Animação a fim de conscientizar o ensino dos 3 Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar) com foco no respeito à Ecologia Humana. Este projeto teve o objetivo de potencializar mudanças comportamentais a fim de minimizar os impactos negativos nos relacionamentos humanos e ambientais no contexto escolar. Esta experiência mostrou que é fundamental a prática de Jogos Teatrais para iniciar o envolvimento dos alunos no Teatro de Animação integrando a outras atividades como: contações de histórias; uso de um “diário de bordo” com registro das atividades; redes sociais; confecção e manipulação de bonecos; produção de peça teatral e saídas de estudos para uma peça de Teatro voltada ao tema Os 3 Rs; e uso de game digital com elementos do teatro de animação. Como resultado observou-se melhorias no tratamento com os colegas, no respeito a comunidade escolar e entorno da Escola, avanço no relacionamento consigo mesmo e com o meio ambiente.

Abstract: The discipline of Art is a compulsory curriculum component at various

stages of basic education in Brazil. In addition to Visual Arts, Dance and Music, this course covers Theatre. During the theatrical exercises taught in this course in Middle School, there was a lower participation of students because of the difficulty of working in teams. Motivated by the

142

need to put into practice the teaching sequence of the contents of this course, the project was created Playing dolls... we are multicultural, during the school year 2014, aiming to present the Animation Theater to educate the teaching of the 3Rs (Reduce, Reuse and Recycle) with a focus on respect for Human Ecology. This project aimed to enhance behavioral changes in order to minimize the negative impacts on human and environmental relationships in the school context. This experience has shown that the practice of Theatrical Games is critical to start the involvement of students in the Animation Theater integrating other activities such as: storytelling; use of a "logbook" with record of activities; social networks; making and manipulating puppets; production stage play and study outputs for a theater piece focused on the theme The 3 Rs; and use of digital game animation theater elements. As a result there has been improvements in treatment with colleagues, respect the school and surrounding community of the school, progress in the relationship with yourself and the environment.

Palavras-Chave:Arte-Educação. Interdisciplinaridade. Teatro de Animação.

Key-word: Art Education. Interdisciplinarity. Animation Theater.

1 INTRODUÇÃO

O ensino de Arte no Brasil é orientado de acordo com um documento elaborado pela

Secretaria de Educação Fundamental (1998) constituído a partir de estudos e

discussões sobre dois aspectos fundamentais da área: a natureza e abrangência do

campo de conhecimento da educação em arte e as práticas educativas e estéticas

que vêm ocorrendo principalmente na escola brasileira. Estes encaminhamentos

nortearam a estrutura e orientações do documento, no qual se explicita objetivos,

conteúdos e ações, tanto no que se refere à arte como manifestação humana. A

área de Arte nos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) expõe uma compreensão

do significado da arte na educação e como por meio dela pode-se potencializar a

educação e a cultura artística dos alunos (PETRY, 2004).

Com isso, a disciplina de Artes tornou-se componente curricular obrigatório

nos diversos níveis da educação básica do Brasil, destacando quatro linguagens:

Artes Visuais, Dança, Música e Teatro. Para se tratar da inclusão do Teatro nos

currículos escolares deve considerar seu valor educacional.

O Teatro, por exemplo, permite que adolescentes e crianças tenham

oportunidade de conhecer, observar e confrontar diferentes culturas em diversos

143

momentos históricos, de operar com modos coletivos de produção de arte, de

buscar soluções criativas e imaginativas para problemas, de conhecer seus códigos,

afinando a percepção sobre eles mesmos. Para trabalhos que visam situações do

cotidiano, a responsabilidade, a reciprocidade e respeito com vistas a um projeto

comum que expressa e comunica a leitura que o jovem realiza da cultura e da

cultura dos jovens é necessário providenciar para que este se aprofunde no

conhecimento e reflita sobre o ambiente em diversas mídias, além de oportunizar

para que ele se posicione em relação ao volume e tipo de informação que recebe

(PCN, 1998).

As relações sociais também são determinadas pelo modo como se constroem

os ambientes, com ética e seguindo os ideais de sustentabilidade. Vale destacar que

desenvolvimento sustentável é suprir as necessidades da população mundial sem

comprometer as necessidades das populações futuras (HIRAMA e DA SILVA, 2009).

Um exemplo de estudo de sustentabilidade é a prática dos 3Rs: Reduzir,

Reutilizar e Reciclar, que associados à ideia de mudança de comportamento, como

uma alternativa preventiva ou minimizadora dos impactos negativos gerados ao

meio ambiente, precisa ser aplicada com a finalidade de atingir a própria cultura da

sociedade capitalista para que assim se possa mudar a atual cultura consumista que

tanto degrada o planeta (DE MACÊDO; DE OLIVEIRA; MARACAJÁ, 2012).

A palavra ecologia foi empregada pela primeira vez pelo biólogo alemão E.

Haeckel em 1866 em sua obra Generelle Morphologie der Organismen. Ecologia

vem de duas palavras gregas: Oikós que quer dizer casa, e logos que significa

estudo. Ecologia significa literalmente a Ciência do Habitat. É a ciência que estuda

as condições de existência dos seres vivos e as interações, de qualquer natureza,

existentes entre esses seres vivos e seu meio. (CASSINI, 2005).

A ecologia humana tem o desafio de auxiliar o reconhecimento das causas

dos desequilíbrios ambientais existentes na sociedade humana e propor soluções

alternativas ou minimizadoras. Este ramo da ecologia, associado à conscientização

e educação ambiental, pode transformar o ambiente escolar em local mais habitável

e saudável, onde o uso dos recursos naturais deve ser racional e otimizado.

(CASSINI, 2005).

144

Com isso, buscou-se desenvolver esse projeto com objetivo de potencializar

mudanças comportamentais a fim de minimizar os impactos negativos nos

relacionamentos humanos e ambientais no contexto escolar. E ainda criar uma

consciência Ecológica Humana com estudo dos valores humanos; apresentar o

Teatro de Animação, estudo de bonecos, a fim de conscientizar o ensino de os 3 Rs

(Reduzir, Reutilizar e Reciclar).

2 JUSTIFICATIVA

A motivação para este projeto partiu da observação feita em sala de aula no início

do primeiro semestre de 2014.

Alguns aspectos comportamentais dos alunos, como sinais de desrespeito

entre colegas percebidos em sala, mostraram possível risco de comprometer o

princípio de igualdade. Este, relatado no artigo 5° da constituição federal

(PPB,1998).

A partir dessa ótica, relacionada principalmente às questões de inclusão social,

educacional, racial e digital foi possível desenvolver um projeto que unisse o estudo

dos valores humanos, os 3Rs, a Ecologia Humana e ainda incluir plataformas

digitais para enfrentar os problemas identificados em sala. Iniciou-se por trabalhar

alguns valores humanos para conscientizar a classe sobre o atual problema. Logo,

foi necessário aplicar os outros conceitos de forma prática.

Utilizando a interdisciplinaridade como suporte da disciplina e o estudo do

Teatro de Animação, especificamente estudo de bonecos, houve a possibilidade de

interligar os conteúdos à prática de uma consciência ecológica. Isso foi permitido

com a reutilização de material que iria para o lixo na confecção de bonecos de forma

divertida e agradável. Vale ressaltar que, neste caso, a consciência ecológica

abrange a ecologia humana, com destaque para a melhoria das relações no

ambiente escolar, principalmente a sala de aula.

Com isso, o “Ludicando bonecos pretos, brancos, recicláveis... somos

multiculturais” tornou-se um projeto interdisciplinar da disciplina de Artes no ensino

fundamental II que, além do Teatro e contação de histórias, utiliza o laboratório de

Informática, por meio de instruções para pesquisas na web, elaboração de blog, uso

145

em redes sociais e utilização de game desenvolvido pelo professor com bonecos

representando os valores humanos em jogo de memória, isso como suporte

fundamental do projeto em ambiente digital.

A crescente utilização de bonecos, durante a fase infantil, tornou-se uma

constante para o universo lúdico da criança. Nesse enfoque, o ensino de Teatro de

Animação com o estudo de bonecos potencializou a contextualização do estudante

com os conteúdos trimestrais da sequência didática durante as aulas de Arte. Por

meio de diálogos entre diferentes conhecimentos e saberes, com estratégias

pedagógicas inseridas na prática de ensinar - aprender (FREIRE, 2008) e recursos

didáticos.

3 METODOLOGIA

Este trabalho foi possível por meio de uma pesquisa bibliográfica com estudo

de caso aplicado a este Projeto. Utilizou-se o processo metodológico triangular

sugerida por Barbosa (2010) que foca a utilização dos conteúdos em três fases: a

primeira é a leitura com análise seguida de interpretação e julgamento; a segunda

fase é a contextualização interdisciplinar com a realidade do educando; e a terceira

fase é o fazer da prática artística - não copiar, mas criar.

Na primeira fase, utilizei trechos de textos sobre Teatro de Animação, de

autoria da Amaral (2001), como O boneco: uma relação triangular – Quem manipula

quem? Além de Amaral (2005): O inverso das coisas: Teatro de Animação: boneco,

figura ou formas animadas? Seguido de pesquisas no laboratório de Informática por

meio de aulas interdisciplinares. Ademais, houve a criação de uma rede social que

conectou o processo entre os alunos e o professor.

Ocorreram duas contações de histórias durante a primeira fase. Na primeira

contação houve uma adaptação de histórias de diferentes culturas relacionando

bonecos e valores humanos. Na segunda contação, utilizando o livro emprestado da

própria biblioteca da escola, o livro Os sete novelos de Angela Medearis (2012),

buscou-se também incentivar à leitura de livros desse espaço pedagógico.

146

Na saída de estudos à Peça de Teatro “Os 3 Rs em: a grande missão” os

alunos puderam assistir ao espetáculo – inclusive muitos nunca tinham assistido

uma Peça Teatral – e puderam conversar com os artistas do grupo Atrapatrupe que

gentilmente responderam as perguntas relacionadas as temáticas sobre os 3 Rs

(Reduzir, Reutilizar e Reciclar) e os valores humanos trabalhados em sala de aula

(Paz, Amor, Doação, Respeito e Cooperação).

Na segunda fase, foi importante envolver os alunos sobre Teatro de

Animação, na qual os jogos teatrais foram utilizados por meio de cartões ilustrados

com imagens de bonecos (boneco reciclável, boneca de pano, boneco de luta

(UFC), boneco Saci Pererê, boneco Louro José, boneco Pinóquio, boneca

cadeirante etc.), a fim de contextualizar a realidade do educando, assim: cada aluno

escolheu um cartão por identificação própria.

Na terceira fase, foram confeccionados bonecos com materiais recicláveis

(tampinhas de plástico, lacres de latas de alumínio, potes e garrafas PETS coletados

pela Comunidade Escolar que se sensibilizou com esse projeto): o primeiro boneco,

junto a sua descrição como personagem, foi confeccionado como trabalho de equipe

devidamente segmentado pela cor que representa um valor humano, por exemplo:

Branca-Paz, Azul-Amor, amarela-Doação, Preta-Respeito e Verde-Cooperação. O

segundo boneco foi criado com a união dessas cores para representar a

multiculturalidade e a junção de todos esses valores em cada um.

Para concluir, na terceira fase organizou-se uma Peça Teatral com enredo

baseado nos valores humanos e o tema de os 3 Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar)

trabalhados em sala de aula, a produção de um videogame utilizando os bonecos

confeccionados pelos alunos e a utilização deste game como aprendizado dos

valores humanos no laboratório de informática.

4 RESULTADOS

A aplicação do Projeto dentro dos conteúdos curriculares permitiu utilizar o resultado

como avaliação contínua e processual dos conteúdos da sequência didática sobre

teatro de animação com bonecos.

Este projeto contempla os conteúdos da disciplina de Artes utilizados durante

sua execução (Quadro 1).

147

Sequência didática da Disciplina Artes

Período: 28 de Março a 29 de Novembro Conteúdo Expectativas de aprendizagem Resultado

Universo dos bonecos e os bonecos de estimação;

Compreender que os objetos de seu cotidiano, tais como bonecas, bichos de pelúcia, miniaturas, e outros, podem ser utilizados no Teatro de bonecos;

Maior interação qualitativa com os colegas.

Contação de história com Artes Cênicas: contextualizar valores humanos;

Reconhecer que o Teatro de bonecos existe em todas as partes do mundo desde os tempos mais remotos e que é uma forma de comunicação, representação de ideias e visões de mundo;

Maior concentração nos trabalhos exigidos em sala de aula.

O Teatro de bonecos no mundo; Conhecer e perceber que existem artistas profissionais que trabalham com animação de bonecos em Santa Catarina, no Brasil e no mundo;

Maior percepção do outro.

Manipulação: Conceitos e a manipulação de bonecos;

Aprender a animar um boneco realizando ações simples, consciente do movimento, da forma de manipulação;

Maior capacidade de aplicar conhecimento às problemáticas dos ensaios.

Exercícios e jogos para a desmecanização física e intelectual;

Conhecer-se a si mesmo, desenvolvendo sua capacidade sensível e criadora, na medida em que experimentar e conhecer seus limites com os limites do outro;

Maior contribuição ativa às atividades em sala de aula (trabalhos de criação individuais e em equipe).

A manipulação e suas especificidades técnicas;

Praticar a manipulação de bonecos durante ensaios.

Construção de cena. Utilização do game Bonecos das Virtudes

Praticar parte dos conteúdos estudados durante o ano letivo, de maneira lúdica, em meio digital.

Maior conectividade com os meios digitais.

Quadro 1: Sequência didática da Disciplina. Fonte: organizada pelo autor.

A utilização de recursos didáticos consistiu uma aplicação de multimídia

como: cartões ilustrativos com imagens, cópias de texto sobre Teatro de Animação,

computador, tablet, bonecos, livro para contação de história etc.

Devido à presença de um aluno com deficiência auditiva, adequou-se as

propostas para aulas com inclusão de mais imagens ao invés de apenas

comunicação oral ou escrita. Por exemplo: durante a aula com jogos teatrais foram

utilizados cartões ilustrados com imagens de bonecos. Foi possível perceber que

148

esse aluno respondeu melhor aos estímulos visuais ao visualizar os cartões que ele

escolhia. Ademais, enfatizou-se a exposição do conteúdo por meio de recursos

visuais como filmes, vídeos com a ajuda do Interprete (professor auxiliar).

Para avaliar a compreensão, o aprendizado e as mudanças de

comportamento dos alunos durante esse projeto, aplicou-se um questionário com 11

perguntas sobre os 3 Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar), valores humanos e quais as

consequências desses estudos (extra) comunidade escolar. Como resultado podem

ser destacadas algumas respostas, tais como: “Aprendi que temos que ter respeito,

cooperação, amor, paz e praticar a doação. Elas são coisas muito importantes”. “Eu

penso melhor antes de brigar com a minha irmã”. “Eu aprendi a fazer algo legal (um

boneco). E aprendi que com várias coisas que vão para o lixo, podem ser

transformadas em coisas legais”. “Criei respeito pelas coisas e pessoas. E doei

minha bicicleta”. Essas respostas mostraram que os resultados, de acordo com os

objetivos desse projeto, foram satisfatórios.

Além disso, a apresentação com público e o texto teatral formulado a partir da

criação dos personagens, marionetes recicláveis, mostram integração com a

perspectiva do Projeto.

5 CONCLUSÕES

Com o estudo dos valores humanos e a Ecologia Humana junto ao Teatro e à

prática de habilidades manuais dos estudantes, buscou-se de forma lúdica, melhorar

os relacionamentos e criar um ambiente salutar para o convívio e o aprendizado em

sala de aula. Criar uma conexão do Teatro com os valores humanos facilitou a

mudança de comportamento por meio da integração nos trabalhos em equipe, pois o

teatro é algo que já existe dentro de cada ser humano e pode ser praticado em

qualquer lugar (BOAL, 2009).

O resgate dos valores humanos é fundamental para que ocorra uma verdadeira

sensibilização do indivíduo de forma integral, ou seja, o seu comportamento e sua

atitude dentro e fora da classe em meio a diversidades culturais.

Desta forma, o conteúdo curricular, como o Teatro de Animação, é uma forma

estratégica para trazer uma mudança de comportamento de forma lúdica e divertida.

149

Esta experiência mostrou a interdisciplinaridade utilizada em projetos

pedagógicos de Artes Cênicas com o uso de Teatro de Animação no Ensino

Fundamental II. Com isso, observou-se que é importante a prática de Jogos Teatrais

para iniciar o envolvimento dos alunos no Teatro de Animação; contações de

histórias no que tange às temáticas transversais; uso de um “diário de bordo” com

registro das atividades; redes sociais que conectam o processo entre os alunos e o

professor; confecção e manipulação de bonecos feitos com materiais que iam para o

lixo, produção de peça teatral e saídas de estudos para uma peça de Teatro voltada

ao tema, Os 3 Rs; uso de game digital com elementos do teatro de animação, haja

vista o uso frequente de dispositivos digitais pelos alunos. Isto posto, observou-se

melhorias no tratamento com os colegas, no respeito a comunidade escolar e

avanço no relacionamento consigo mesmo e com o meio ambiente.

AGRADECIMENTOS

Aos alunos e toda a equipe da Escola Básica Municipal João Gonçalves

Pinheiro que me permitiram aplicar esse projeto.

REFERÊNCIAS

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AMARAL, Ana Maria; ATOR, O.; DUPLOS, Seus. O inverso das coisas. Móin-Móin–Revista de Estudos sobre Teatro de Formas Animadas, 2005, 12-25.

BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos; DA CUNHA, Fernanda Pereira. A abordagem triangular no ensino das artes e culturas visuais. Cortez Editora, 2010.

BOAL, Augusto. Jogo para atores e não - atores. Editora Civilização Brasileira: Rio de Janeiro, 2009.

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150

CASSINI, Sérvio Túlio. Ecologia: conceitos fundamentais. Centro tecnológico, UFES. Vitória, 2005. Disponível em: <http://www.inf.ufes.br/~neyval/Gestao_ ambiental/Tecnologias_Ambientais2005/Ecologia/CONC_BASICOS_ECOLOGIA_V1.pdf>. Acesso em: 20.jun.2014.

DE MACÊDO, Daniele Araújo; DE OLIVEIRA, Roberto Vitório Nunes; MARACAJÁ, Kettrin Farias Bem. Atitudes responsáveis para um planeta sustentável: os 3 r's do consumo consciente. Revista Querubim, ano 08 n. 16 v.2, 2012. Disponível em: < http://www.uff.br/feuffrevistaquerubim/images/arquivos/publicacoes/zquerubim_16_ v_2.pdf>. Acesso em: 10.jun.2014.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 37ª ed. 2008.

HIRAMA, Ângela Megumi; DA SILVA, Sidinei Silvério. Coleta seletiva de lixo: uma análise da experiência do município de Maringá–PR. Revista Tecnológica, 2010, 1.18: 11-23.

MEDEARIS, Angela Shelf. Os sete novelos: um conto de Kwanzaa. 2012.

PETRY, Ely Carlos. LDB - Lei de Diretrizes e Bases. Editora AGE Ltda, 2004.

AUTORES

Alexandro Cesar Lima de Oliveira, Professor de Artes. Pesquisador no Grupo EDUMIDIA (Educação, Comunicação e Mídias - UFSC), http://bonecosdasvirtudes.pancakeapps.com, [email protected]

Maria de Fátima de Souza Moretti, Professora do Curso de Artes Cênicas da UFSC. Doutora em literatura pela UFSC. Mestra em Literatura. Licenciada em Artes Cênicas (UDESC), [email protected]

151

As práticas interdisciplinares com ferramentas de liderança

André Luiz Moreno

Graduado em História na Universidade do Grande ABC

Graduado em Geografia na Universidade Metropolitana de Santos

Pós Graduado em Docência do Ensino Superior na Universidade de Nova Iguaçu

Resumo: Refletir sobre as dificuldades dos educadores em relacionar temas de

estudo e conteúdos nas matérias que correlacionam. Abordar discussões

entre os profissionais e colegas de escola para solução de problemas

com

atividades que proporcionam maior agrado para os alunos e que este

aluno

possa fazer suas melhores escolhas e qualidades no seu

desenvolvimento

escolar.

Abstract: Reflect on the difficulties of teachers in relating topics of study and content

in the field that correlate . Addressing discussions among professionals

and

school colleagues to solve problems with activities that provide greater

satisfaction to students and that students can do your best choices and

qualities in their school development.

Key-word - Educators , Interdisciplinary, Practices

Palavra chave – Educadores, Interdisciplinaridade, Práticas

Introdução

Quando profissionais da educação falam de interdisciplinaridade, o mais

comum ouvirmos dizer: “Preciso procurar meu colega na área e perguntar o que ele

está aplicando com os alunos”, mas nunca esquecendo a outra pergunta: “Qual o

152

conteúdo que devo aplicar ao meu aluno? Será que eu vou fugir do plano de aula se

tiver que apresentar um conteúdo em conjunto com o meu colega?”, preocupações

corriqueiras que atrapalham o desenvolvimento de um trabalho que poderia ser tão

valioso quanto as várias informações diárias que os alunos devem engessar em

seus cérebros, nessa abordagem é importante sabermos qual foi o objetivo da

interdisciplaridade.

O movimento da interdisciplinaridade segundo (KLEIN,2001), nasceu na

Europa (principalmente na França e na Itália) no início da década 1960, esse

movimento surgiu em oposição à especialização demasiada do conhecimento que

causava um distanciamento entre a Academia e os problemas cotidianos.

Excesso de conteúdos em sala de aula, conteúdos abordados mas, nem

sempre são relacionados com o dia-a-dia dos alunos, sua aplicação e finalidade, dar

sentido aos estudos nem sempre é uma tarefa fácil, é possível perceber conteúdos

repetitivos em matérias como Ciências Naturais e Biológicas com matérias como a

Geografia, na disciplina de Língua Portuguesa os conteúdos de literatura que são

também abordados na matéria de História, é claro que todos apresentam visões

diferenciadas mas será que não existe uma forma de aproximar esses assuntos para

que não se torne um fardo repetitivo aos nossos alunos?

Problemas nas práticas e formas para relacionar com outras matérias

É muito comum ouvir dizer que o aluno não tem interesse em conteúdos de

Humanas, Exatas e Biológicas, acontece um distanciamento, se o aluno gosta de

por exemplo de Matemática, deve ao mesmo tempo não gostar de História, mas é

preciso analisar que cada aluno tem uma forma diferente de aprendizado e que isso

pode diferenciar no gosto de suas matérias, assim como podemos perceber com o

PNL (Programa Neurolinguistica) existem três formas de percepção de informações

e são elas:

- Visual: faz uso da visão como meio de obter e reter as informações;

- Auditivo: vale-se da audição para absorver informações e;

153

- Cinestésico: aproveita-se dos sentidos relacionados ao movimento para

guardar informações.

A forma que os professores abordam suas matérias pode ser mais voltado para

um determinado tipo de aluno e pode ocorrer que as disciplinas ajudem a dar mais

significado e seja mais representativo ao aluno, segundo Marco Antônio Moreira:

“"a aprendizagem significativa é um processo por meio do

qual uma nova informação relaciona-se, de maneira substantiva (não-

literal) e não-arbitrária, a um aspecto relevante da estrutura de

conhecimento do indivíduo"

O que é mais representativo, nos estudos de Neurociência sabemos que o

lado esquerdo no nosso cérebro representa o sentimento, a emoção e a imaginação,

o lado direito a nossa escrita e a lógica, então o que preciso ativar primeiro, o nosso

lado emocional, se isso não for representativo para o aluno nada é possível se fazer

com aprendizagem, Perrenoud afirma que os conteúdos afetam neste aprendizado

com a seguinte informação: “...a meta principal da escola não é o ensino de

conteúdos disciplinares, mas o desenvolvimento da competências pessoais”

Se a ideia principal na educação é que se desenvolva nos alunos uma

aprendizagem representativa com habilidades e competências então qual o principal

objetivo da educação? Jean Piaget revela isso: “O principal objetivo da educação é

criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que

outras gerações fizeram”. A procura de uma nova identidade interdisciplinar para que

uma nova forma de aprendizagem é a proposta que iremos abordar no tópico

seguinte

Caminhos na prática

Em um trabalho individual e empírico durante os anos de 2014 e 2015 a escola

“Colégio Gran Leone” na cidade de Ribeirão Pires utilizou o método de educação

baseado nos “7 hábitos para pessoas altamente eficazes” de Stephen R. Covey

onde em seus pensamentos de liderança e melhores escolhas puderam ser feitas

154

pelos próprios alunos. Foi desenvolvido um trabalho onde os professores de suas

determinadas áreas escolheram temas pertinentes a sua área e os próprios alunos

escolheram de forma aleatória qual tema gostariam de apresentar um trabalho,

alguns trabalhos utilizaram temas pedagógicos, outros mais enriquecedores de

fatores éticos, porém todos poderiam utilizar práticas interdisciplinares como por

exemplo um dos projetos na área de História utilizou o tema do filme “De volta para

o Futuro II” de Robert Zemeckis, trata do garoto Martin Mcfly que viaja para o futuro

(exatamente viaja do ano de 1985 até 2015) e descobre várias informações sobre o

futuro, inclusive o quanto pode ser prejudicial, com este projeto não só foi possível

ser feita uma análise histórica, mas sobre elementos da Física com a possibilidade

da viagem do tempo, questões da Geografia que apresenta elementos do tempo e

clima em cenas da viagem, questões da Filosofia com exemplo dos paradoxos e

ética entre os grupos sociais, entre outros onde os próprios alunos puderam

encontram informações e repassar para alunos e professores e com direito a famosa

carta onde será colocada até o final do ano em uma cápsula para ser lida no futuro

(quem sabe daqui 30 anos).Os tipos de trabalho apresentado mostram o quanto é

importante a prática dos professores em seus planejamentos pensarem como deixar

seus trabalhos mais “naturais” e menos pesados em projetos no seu planejamento

que não comprometam os seus colegas e instruem sem confusões para os alunos

de forma divertida e interativa no conhecimento.

Conclusão:

A liberdade no desenvolvimento de um trabalho eficaz e sem problemas de

comunicação com outros profissionais de matérias relacionadas pode ser resolvido

com projetos que desempenham o gosto na aprendizagem, as múltiplas inteligências

dos alunos podem ser desenvolvidas em uma forma colaborativa e muito necessária

inclusive em nosso mundo cada vez mais cooporativo.

Referências:

Covey, Stephen. 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes. 2005

GARDNER, Howard. Inteligências múltiplas, a teoria na prática. Porto Alegre:

2000

155

MOREIRA, Marco Antônio (1999). Aprendizagem significativa. Brasília: Editora

Universidade de Brasília

PIAGET, Jean e INHELDER, Bärbel. A psicologia da criança. São Paulo : DIFEL,

1982.

VIGOTSKY, LEV S. Teoria e método em psicologia. SP, Martins Fontes, 2004

156

PÔSTERES

SUBTEMA 3: Iniciativas interdisciplinares na escola

Resumo: As vigentes Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica

– DCN (BRASIL, 2013, p. 29) – destacam a interdisciplinaridade,

assumindo o princípio de que todo conhecimento mantém um diálogo

com outros conhecimentos e que o ensino deve ir além da descrição e

constituir nos estudantes a capacidade de analisar, explicar, prever e

intervir. Ela é, portanto, uma abordagem teórico-metodológica cuja

ênfase está na integração dos diferentes componentes curriculares por

meio de projetos de investigação para a cooperação, a partilha de

informação e o planejamento, com o objetivo de solucionar um

problema. Como eixo norteador, os componentes curriculares e as

áreas de conhecimento devem articular em seus conteúdos, com base

nas possibilidades abertas pelos seus referenciais, a abordagem de

temas abrangentes e contemporâneos que afetam a vida humana em

escala global, regional e local, bem como na esfera individual (BRASIL,

2013, p. 134). São temas como saúde, sexualidade e gênero, vida

familiar e social, os direitos das crianças e dos adolescentes,

preservação do meio ambiente, educação para o consumo, educação

fiscal, trabalho, ciência e tecnologia, diversidade cultural, direitos dos

idosos e educação para o trânsito.

157

Resumo: Em meio a cálculos, curiosidades, sensações e muita diversão, os

alunos realizaram um circuito que simulou o fundo do mar. A ideia surgiu do

tema trabalhado pela escola no Projeto de Valores: Meio Ambiente. A intenção

foi trazer ao cotidiano dos alunos uma vertente desse tema que parece

tão distante da nossa realidade, mas que é de extrema importância: a

poluição do mar. As disciplinas de Geografia, Ciências, Língua

Portuguesa e Matemática prepararam alguns conteúdos que pudessem

se relacionar com o tema. Dessa forma, os alunos fizeram uma pesquisa

com o tema gerador, foram orientados que deveriam se atentar a dados

numéricos e curiosidades, além de imagens e charges que retratassem

o tema. Depois de realizar a pesquisa, montaram um minibanner com as

informações trazidas e iniciou-se, então, a segunda etapa. Uma sala foi

transformada num cenário do fundo do mar com inúmeras espécies

marinhas, além de uma parte completamente poluída. A intenção era

que os alunos “mergulhassem” nesse cenário e, com seu bloco de

anotações, coletassem dados predeterminados acerca da poluição marinha, além

de curiosidades sobre alguns animais. Esse “mergulho” foi em forma de um

circuito de obstáculos onde cada aluno mostrou suas habilidades em

subir e descer escadas, escorregar e passar por túneis. Com esses dados

coletados, cada equipe, já do lado de fora desse cenário, resolvia uma

série de questões envolvendo conhecimentos gerais. As respostas de

OCEANOS... LONGE DOS OLHOS, PERTO DA PREOCUPAÇÃO

¹Marilda de Souza Fagundes e ²Daiana da Rocha

¹Marilda de Souza Fagundes, Colégio Positivo Junior. [email protected]

Rua Marco Polo, 720, Curitiba, Brasil

²Daiana da Rocha, Colégio Postivo Junior. [email protected]

Rua Pe. Tiago Alberione, 28, Curitiba, Brasil

158

cada uma dessas questões trazia uma informação interessante sobre

esse rico ecossistema. O trabalho que se tem para realizar atividades

interdisciplinares que motivem mais nossos alunos é árduo, porém nada

se compara à resposta que temos deles. Um olhar encantado, um

sorriso, uma atitude entusiasmada e, acima de tudo, o aprendizado é o

que nos move para sempre estar inovando e transformando esse

processo de ensino e aprendizagem.

Abstract: Amid calculations, trivia, experience and lots of fun students made a

circuit that simulated the seabed. The idea came from the theme worked by the

school in the Values Project: Environment. The intention was to bring to

the daily lives of students an aspect of this issue that seems so distant

from our reality, but it is of utmost importance: pollution of the sea. The

subjects Geography, Science, Portuguese and Mathematics prepared

some content that could relate to the theme.Thus, the students made a

survey on the generator theme and were told that theyshould pay

attention to numerical data and curiosities as well as images and cartoons that

portraied the theme. After a search, they set up a mini banner with the

information brought and then began the second step. A room was

transformed into a sea background scenery with numerous marine

species, as well as a completely polluted part. The intent was that

students “dipped” into this scenario, and with their notebooks, collected

predetermined data on the marine pollution as well as trivia about some

animals. That “dive” was shaped like an obstacle course where each

student showed his skills going up and down stairs, sliding and going

through tunnels. With the data collected, each team, already outside of

this scenario, solved a number of problems involving general knowledge. The

answers to each of these questions brought an interesting information

about this rich ecosystem. The work that we need to carry out in

interdisciplinary activities that will motivate our students is hard, but

nothing compares to the response we have from these students. An

enchanted look, a smile, an enthusiastic attitude and, above all, learning

159

is what drives us to always innovating and transforming this process of

teaching and learning.

Palavras-Chave: Interdisciplinaridade. Poluição. Criatividade

Keywords: Interdisciplinarity. Pollution. Creativity

160

RELATOS DE EXPERIÊNCIAS

SUBTEMA 4: O lúdico como recurso pedagógico

Resumo: A ludicidade decorre da interação do sujeito com um dado conhecimento e

o seu potencial didático depende da sensibilidade do educador em gerar desafios (o

novo pode representar um desafio assim como o que é velho e familiar também

pode, quando se enxergam novas relações existentes) e descobrir interesses de

seus alunos em relação às situações didáticas de ensino trabalhadas. Nesse

sentido, diversas atividades humanas realizadas cotidianamente podem estar

impregnadas de aspectos lúdicos, e não só os jogos, os brinquedos e as

brincadeiras. O caráter lúdico se caracteriza pela presença de regras, de diversão e

pela busca de prazer, mas também sugere a ideia do “aprender brincando” com a

intenção de gerar no aluno o gosto pela aprendizagem. Como? Envolvendo e

ousando por meio de desafios, de vivências, de discussões em atividades de grupo,

nos jogos e brinquedos que envolvam conteúdos conceituais, sejam eles em

espaços educativos físicos ou virtuais. Portanto, neste subtema os trabalhos para

apresentação devem evidenciar práticas de ensino por meio de situações didáticas

de aprendizagem com aspectos lúdicos e não só práticas de ensino que tenham

como suporte o jogo, o brinquedo e a brincadeira.

161

CONCEPÇÕES ACERCA DA LUDOTECA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA E O

BRINCAR NA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL Francielle Pereira Nascimento4

Resumo: O presente trabalho refere-se a um relato sobre o programa de

extensão Ludoteca que existe na Universidade Estadual de Londrina

(UEL). Serão expostas as considerações acerca do espaço onde o

programa ocorre bem como a importância da brincadeira, enquanto

a ludicidade em ação a luz da Teoria Histórico-Cultural para o

desenvolvimento das crianças. Por meio deste, buscou-se expor a

Ludoteca-UEL enquanto norteadas pelo brincar que favorecem seu

desenvolvimento social, afetivo, físico e intelectual. Para alcançar o

objetivo proposto foi realizada uma pesquisa bibliográfica na qual

teve como referencial teórico autores defensores da perspectiva

Histórico- Cultural como: Leontiev (1988), Rossler (2006) e Cunha (2010). O

programa Ludoteca-UEL atende crianças de toda comunidade

londrinense e da região de 4 a 10 anos e permite que as crianças

frequentem seu espaço localizado no Campus Universitário em

devido à existência de cantos temáticos. Entretanto, essa livre

escolha não extingue a intencionalidade do espaço enquanto

propiciador de experiências que promovem a criança sua

humanização. Enquanto sujeitos históricos e ativos, elas se

apropriam da cultura acumulada em suas relações com seus pares e vivencia

situações desafiadoras, proporcionadas pela brincadeira. Dessa

forma, a relevância da Ludoteca- UEL se constitui na medida em que

é um espaço rico em possibilidades de apropriação das máximas

4Graduanda do quinto ano de Pedagogia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Foi bolsista e colaborada nos projetos de extensão vinculados a Ludoteca UEL nos anos de 2012 e 2013. Atualmente, é professora do Ensino Fundamental I no Colégio Integrado Sônia Marcondes. E-mail: [email protected], residente na Rua das Acacias, nº 46 na cidade de Ibiporã-PR, Brasil.

162

qualidades humanas pelas crianças que são atendidas que se

opõem as brincadeiras tecnológicas mecanizadas da atualidade.

Abstract: This paper refers to an account of the Ludoteca outreach program

that exists in the Universidade Estadual de Londrina (UEL). Will be

exposed considerations about the space where the program is and

the importance of play, while playfulness action in the light of historical-

cultural theory to the development of children. Through this, he

sought to expose the Ludoteca-UEL as a privileged space, providing the

children attending live experiences guided by play favoring their

social, emotional, physical and intellectual. To achieve the proposed

objective was conducted a literature search in which had the theoretical

framework authors advocates of historical-cultural perspective as

Leontiev (1988), Rossler (2006) and Cunha (2010). The Ludoteca-

UEL program serves children of all Londrina community and the

region of 4-10 years and allows children to attend their space located on the

university campus as opposed to the regular school schedule. There

the children can choose what to play because of the existence of

thematic corners. However, this choice does not extinguish the

intentionality of space as a helping of experiences that promote child

humanization. As historical and active subjects, they take ownership

of accumulated culture in their relationships with their peers and

experiencing challenging situations, provided the joke. Thus, the of

appropriation of the highest quality for children who are cared

opposed mechanized technology play today.

Palavras-Chave: Brincar. Ludoteca. Teoria Histórico-Cultural.

Keywords: Playing. Toy library. Historical-Cultural Theory.

163

INTRODUÇÃO

Partindo da realidade contemporânea atual acerca da infância e da

brincadeira5, temos um acervo de tecnologias que seduzem as crianças pelas suas

cores, praticidade e seus sons, os quais não consideram a criança produtora de sua

cultura, pois, tratam de realizar a maioria das atividades que propõem, enquanto a

criança se torna uma mera espectadora reprodutora.

É nesse contexto, que se percebe a ausência de espaços que permitam a

humanização da criança, ou seja, que possibilite sua apropriação das máximas

qualidades humanas por meio da relação com o brincar, com atividades lúdicas e

seu meio social. Dessa forma, o presente trabalho refere-se a um relato sobre o

programa de extensão Ludoteca que existe na Universidade Estadual de Londrina.

Serão expostas as considerações acerca deste espaço bem como a importância da

brincadeira, enquanto a ludicidade em ação a luz da Teoria Histórico-Cultural para o

desenvolvimento das crianças.

Por meio deste, buscou-se expor a Ludoteca-UEL enquanto um espaço

privilegiado e intencional, que proporciona as crianças atendidas vivenciar

experiências lúdicas que favorecem seu desenvolvimento social, afetivo, físico e

intelectual. Para alcançar o objetivo proposto foi realizada uma pesquisa bibliográfica

na qual teve como referencial teórico autores defensores da perspectiva Histórico-

Cultural como: Leontiev (1988), Rossler (2006) e Cunha (2010).

O programa Ludoteca-UEL atende crianças de toda comunidade londrinense

e região de 4 a 10 anos e permite que as crianças frequentem seu espaço localizado

no Campus Universitário em horário oposto ao da escola regular. Lá as crianças

podem escolher do que brincar, devido à existência de cantos temáticos, sendo

alguns deles: canto da leitura, canto da arte, do faz de conta, entre outros, além do

espaço externo que contempla um parque, amarelinha e campo de futebol.

Entretanto, essa livre escolha do que e com o que brincar existente no

programa não extingue a intencionalidade da proposta do espaço, enquanto

propiciador de experiências que promovam a criança sua humanização. Enquanto 5 Este termo será exposto neste relato como o lúdico em ação (FERREIRA; MANTOVANI, 2013.).

164

sujeitos históricos e ativos, elas se apropriam da cultura acumulada em suas

relações com seus pares e vivencia situações desafiadoras, proporcionadas pela

brincadeira. Dessa forma, a relevância da Ludoteca- UEL se constitui na medida em

que é um espaço rico em possibilidades de apropriação das máximas qualidades

humanas pelas crianças que são atendidas.

Nessa perspectiva, num primeiro momento, será exposto concepções acerca

da Ludoteca-UEL, sua descrição, caracterização e objetivo. Em seguida, uma

discussão do brincar na perspectiva Histórico-Cultural, tendo em vista que a

proposta desta teoria vai de encontro ao que o programa propõe. E para finalizar, as

considerações finais deste trabalho, relacionando a teoria com as práticas

vivenciadas na Ludoteca-UEL.

1. CONSIDERAÇÕES ACERCA DA LUDOTECA-UEL

No ano de 1988, começou a ser idealizado na Universidade Estadual de

Londrina o Programa de Extensão Ludoteca por meio de arrecadação de

brinquedos. Dois anos depois, a Universidade concedeu na condição de empréstimo

um espaço conjunto a sua Biblioteca Central, localizado no Campus Universitário

para o desenvolvimento do programa, que existe e está em funcionamento até a

atualidade.

Segundo Silva et al (2012) a Ludoteca da UEL tem como objetivo trabalhar

junto com os acadêmicos vinculados a diferentes áreas do conhecimento, em

conjunto com seus supervisores que se interessem pelo brincar e pela ludicidade no

contexto educativo não formal. O programa atende crianças da comunidade de

Londrina da faixa etária de 4 a 10 anos. Esta faixa etária justifica-se as limitações do

espaço e é considerada um desafio para os professores, estagiários e para as

próprias crianças, tendo em vista as características dos diferentes períodos do

desenvolvimento.

. Considerando as diferentes faixas etárias, o atendimento as crianças

possibilitam os benefícios em relação ao seu desenvolvimento a todas, tendo em

vista que são planejadas conforme suas particularidades, entretanto, que todos

podem participar. Como afirma Silva et al (2012, p.279):

165

O atendimento às crianças da comunidade, em geral, possibilita o acesso ao lúdico e o desenvolvimento da sociabilidade, habilidades criativas e expressivas como: pintura, desenho, jogos, construção de brinquedos, leitura, dramatização entre outas essenciais para o desenvolvimento infantil.

Após a criação deste programa desenvolvido dentro do espaço da Ludoteca-

UEL, outros surgiram atrelados à ele como: Infância e Ludicidade: Oficinas e

Vivências e Ludoteca em Movimento. Apesar de suas particularidades, os

programas buscam a valorização do brincar como necessário para o

desenvolvimento humano na medida em que impulsiona a aprendizagem. Dessa

forma, busca romper com as ideias do brincar como supérfluo para a criança.

De acordo com as coordenadoras dos programas desenvolvidos no espaço

da Ludoteca:

O programa Ludoteca – UEL sempre teve como filosofia básica dois aspectos fundamentais, o primeiro de possibilitar ás crianças frequentadoras do espaço o acesso a „livre escolha‟ do brinquedo/brincadeira, em situação de mediação, e o segundo aspecto o de priorizar o enfoque interdisciplinar, possibilitando reflexões e discussões de temas relacionados ao lúdico. (SILVA et al, 2012, p. 280).

O programa busca resgatar a importância da brincadeira e do brincar na atualidade,

contrapondo o uso das tecnologias modernas que assumiram a função que antes,

era ocupada pelo lúdico. No espaço interno a Ludoteca- UEL é dividida em cantos,

sendo eles: canto da leitura, dos jogos, da arte, dos fantoches, da fantasia, das

bonecas e dos carrinhos, e no lado externo há um parque com: amarelinha, balanço,

campo de futebol, jogo de bets, cordas, entre outros. Sobre as múltiplas

possibilidades oferecidas pela ludoteca que Cunha (2010) chama de brinquedoteca,

o autor afirma que “as criança brinca e cria sempre mais, com vários brinquedos e

com muita variedade de materiais, desafiando e promovendo a inventividade” (p.92).

Acerca do espaço da Ludoteca UEL, Silva et al (2012, p. 280) apontam que “É

com oficinas e brincadeiras livres que na Ludoteca as crianças encontram novas

formas de brincar, de criar, de interagir, de se desenvolver e de se divertir, pois,

brincando as crianças aprende de uma forma divertida”. As oficinas e as

brincadeiras proporcionadas pelo espaço da Ludoteca UEL funcionam em horário

166

oposto ao que a criança frequenta na escola, e mesmo sendo caracteriza pelo

brincar livre, constitui-se em um espaço intencional.

Dessa maneira, os cantos tornam-se ricos em possibilidades de

desenvolvimento infantil na medida em que contribuem nos aspectos: físico, social,

afetivo e intelectual da criança. Tomamos por exemplo o canto dos jogos. Cunha

(2010, p.28) afirma que na disputa de um jogo “ainda que em postura de adversário,

a parceria é um estabelecimento de relação porque, mesmo em posição competitiva,

os parceiros não deixam de serem cumplices dentro do objetivo de realizar o jogo”.

No que se refere ao desenvolvimento social e afetivo, a ênfase está na

constituição de regras, que são construídas coletivamente, o que permite um

exercício constante de respeito.

Partindo da realidade contemporânea atual acerca da infância e da

brincadeira, temos um acervo de tecnologias que seduzem as crianças pelas suas

cores, sons e praticidade, as quais não consideram a criança produtora de sua

cultura. É nesse contexto, que se percebe a ausência de espaços que permitam a

humanização da criança, ou seja, que possibilite sua apropriação das máximas

qualidades humanas por meio da relação com o brincar, com atividades lúdicas e

seu meio social. Por este motivo, torna-se relevante o espaço da Ludoteca- UEL,

onde a criança se desenvolve e se humaniza brincando, que será subsídio para o

sua aprendizagem.

2. O BRINCAR NA PERSPECTIVA HISTÓRICO CULTURAL

Considera-se neste relato a importância do brincar na medida em que é por

meio do lúdico que a criança se desenvolve, exercita suas potencialidades e se

humaniza. O último aspecto levantado é referido da teoria Histórico-Cultural, que

considera a criança como um ser histórico e ativo, que ao nascer se depara com um

mundo existente, e que na medida em que se relaciona com ele e com outros

sujeitos se apropria das máximas qualidades humanas, ou seja, se humaniza. Nessa

perspectiva, Mello (2007) aponta que:

Com a Teoria Histórico-Cultural, aprendemos a perceber que cada criança aprende a ser um ser humano. O que a natureza lhe provê no nascimento é condição necessária, mas não basta para mover seu desenvolvimento. É

167

preciso se apropriar da experiência humana criada e acumulada ao longo da história da sociedade. Apenas na relação social com parceiros mais experientes, as novas gerações internalizam e se apropriam das funções psíquicas tipicamente humanas – da fala, do pensamento, do controle sobre a própria vontade, da imaginação, da função simbólica da consciência –, e formam e desenvolvem sua inteligência e sua personalidade (p.88).

Considerando que o mundo é coberto de sentidos e significados que foram

construídos pelos sujeitos ao longo da história, fazem-se necessárias situações que

permitam a criança se apropriar destes sentidos, é uma destas possibilidades é a

brincadeira. Um dos colaboradores de Vygotsky6 foi Leontiev, que fez a seguinte

consideração acerca da brincadeira na perspectiva Histórico-Cultural:

Elementos de atividade lúdica podem ser encontrados em certos tipos de animais superiores, porém o brinquedo infantil, mesmo em uma idade precoce, como o período pré-escolar, fase em que surgem os primeiros „rudimentos do brinquedo infantil, em nada se assemelha com a dos animais. [...] a brincadeira da criança não é instintiva, mas precisamente humana, atividade objetiva, que por constituir a base da percepção que a criança tem do mundo dos objetos humanos, determina o conteúdo de suas brincadeiras (LEONTIEV,1988, p.120).

Segundo esta teoria, no estágio pré-escolar, a criança brinca para dominar o mundo

adulto, o qual a desafia. Pelas suas limitações físicas e psíquicas de operar com

objetos utilizados pelos adultos, ela recorre a ludicidade, por isto, esta é a atividade

principal da criança neste período. Dessa maneira, faz-se necessária e relevante a

brincadeira para a criança neste período, tendo em vista que por meio dela este

sujeito conhece o mundo, internaliza conceitos e vivencia situações que lhe

proporcionarão lidar com novas situações. O brinquedo em si, enquanto objeto

cultural permite que a criança se relacione com “o significado em questão, com a

ideia, e não com o objeto concreto que está ao seu alcance. O brinquedo fornece,

assim, uma situação de transição entre a ação da criança com objetos concretos e

as suas ações com significados” (ROLIM et al, 2008). Por esta razão, considera-se

relevante a brincadeira para a criança. Ela possibilita a este sujeito experimentar

6 Lev Semenovitch Vygotsky foi um psicólogo russo do século XX pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual humano ocorre das interações com o meio social. Seus estudos originaram a Teoria Histórico-Cultural, que na atualidade é norteadora de práticas pedagógicas educacionais.

168

papeis e funções sociais e a apropriação da cultura por meio dos brinquedos. Como

aponta Rossler (2006, p.57):

Ao brincar com um martelo, a criança não realizará com essa ferramenta nenhum grande trabalho, a não ser na sua própria imaginação. Todavia, estará se apropriando de seu significado social, de seu uso, de algumas habilidades e aptidões físicas e psíquicas (psicomotoras, por exemplo), aprendendo, assim, a manuseá-lo, ainda que precariamente. Ao brincar de dirigir um carro, ainda que totalmente no mundo da fantasia, estará na realidade, apropriando-se do significado social desse instrumento humano, bem como do significado social do comportamento de guiar, além de algumas habilidades e propriedades básicas desse comportamento como virar a direção olhar o retrovisor, frear etc.

Nessa perspectiva, a brincadeira desafia a criança a realizar atividades que

vão além do seu comportamento diário e característico de criança. Quando brincam,

elas elaboram regras e constituem relações de acordo com suas necessidades. “Na

atividade de brincar, as crianças vão construindo a consciência da realidade ao

mesmo tempo em que já vivenciam uma possibilidade de modificá-la” (WAJSKOP,

1995, p.67). Dessa maneira, a brincadeira torna uma oportunidade não somente da

criança se humanizar, mas de criar alternativas para transformar sua realidade,

antes não conhecidas.

CONCLUSÃO

Por intermédio deste trabalho, conclui-se que a apropriação das máximas

qualidades humanas pelo ser humano ocorre desde a sua infância, e que a

brincadeira, uma ação característica deste período da vida e tipicamente humana, é

uma possibilidade para que o processo de humanização ocorra.

Ao nascer, a criança se depara com uma cultura estabelecida e um mundo

permeado por objetos com significados que pra ela é desconhecido. É por meio do

brincar que a criança se apropria destes significados. Nesta atividade, ela vivencia

experiências adultas norteadas pelo faz de conta que devido a suas limitações da

faixa etária não lhe seriam possíveis.

Neste contexto, observa-se a Ludoteca-UEL como um espaço organizado

intencionalmente para que este processo de humanização ocorra. Nele as crianças

169

são livres para serem crianças, para brincar, criar e imaginar, os professores e

estagiários exercem o papel de mediadores de todo o processo.

O programa não nega os brinquedos tecnológicos atuais, entretanto,

reconhece a sua limitação no que diz respeito a permitir a criança criar se apropriar

da cultura, por isso, busca a valorização daqueles que permitem as crianças se

expressarem e vivenciarem situações em que serão desafiadas e que necessitam da

relação com os outros do seu meio.

Deste modo, enquanto educadores, devemos refletir acerca desta temática,

propondo espaços lúdicos à nossas crianças, de maneira que as permitam serem e

agirem como crianças, entretanto, sem desconsiderá-la como sujeito ativo em seu

processo de desenvolvimento, que necessita da interação com o meio e da

apropriação de significado do seu mundo para se desenvolver.

REFERÊNCIAS CUNHA, Nylse Helena Silva. Brinquedoteca: um mergulho no brincar. São Paulo: Maltese, 2010.

LEITE, Sandra Regina Mantovani–UEL, Marta Silene Ferreira–UEL BARROS, and Grupo de Trabalho–Educação da Infância. Ludicidade e Infância: a Importância das Oficinas Pedagógicas. 2013.

LEONTIEV, Alexie N. Os princípios psicológicos da brincadeira pré-escolar. In: VIGOTSKI, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1988.

ROLIM, Amanda Alencar Machado, Siena Sales Freitas Guerra, and Mônica Mota Tassigny. Uma leitura de Vygotsky sobre o brincar na aprendizagem e no desenvolvimento infantil. Revista Humanidades 23.2, p, 176-180, 2008.

ROSSLER, João Henrique. O papel da brincadeira de papéis sociais no desenvolvimento do psiquismo humano. In: ARCE, A.; DUARTE, N. (Orgs.). Brincadeiras de papéis sociais na educação infantil: as contribuições de Vigotski, Leontiev e Elkonin. São Paulo: Xamã, 2006.

SILVA, A. T. T.; BARROS, M. S. F.; LEITE, S. R. M. 50 anos da pedagogia – FFCL / Londrina e UEL – 1962 a 2012. Londrina: UEL, 2012.

170

WAJSKOP. Gisela. O Brincar na Educação Infantil. Caderno de Pesquisa. São Paulo, n.92, p.62-69, fev. 1

REVOLUCIONANDO: Brincando E Aprendendo

***Ana Paula Palmezan Lourenço Santos Milinavicius

Educadora/Pedagoga e Terapeuta

Professora de História /Ensino Religioso e Empreendedorismo

Coordenadora da Pastoral Escolar e Projetos Educacionais

Graduada em Pedagogia Fundação Santo André FSA – SP

Graduada em História – Universidade Cidade de São Paulo

Pós Graduação em Ensino Religioso Escolar

Terapeuta Naturopata Holística

Educandário Nossa Senhora Aparecida

Rua das Valerianas, 230, Vila Bela, SP – Brasil- BR

Email [email protected]

INTRODUÇÃO Quando iniciamos com este termo REVOLUCIONANDO, podemos tomar

ciência da mudança interna e externa que tal atividade proporcionará, pois o prazer

está em brincar e aprender. E é dentro do universo da sala de aula, que o jogo vai

sair da rotina, onde o educador será a ponte entre o aluno e o conhecimento. Neste

universo de acões e emoções haverá uma rica troca de experiências que somente

quem estiver envolvido neste ciclo de aprendizado saberá o que tal vivência

significa.

O momento da brincadeira é uma oportunidade de desenvolvimento para a

criança. Através do brincar ela aprende, experimenta o mundo, possibilidades,

relações sociais, elabora sua autonomia de ação, organiza emoções

A ideia muitas vezes divulgada é a de que o brincar seja somente um

entretenimento, como se não tivesse outras utilidades mais importantes. Através do

jogo, a criança compreende o mundo à sua volta, aprende regras, testa habilidades

físicas, como correr, pular, aprende a ganhar e perder. O brincar desenvolve

também a aprendizagem da linguagem e a habilidade motora. A brincadeira em

grupo favorece alguns princípios como o compartilhar, a cooperação, a liderança, a

competição, a obediência às regras. Podemos afirmar que nessa convivência é uma

171

relação de uma mini sociedade, onde ela saberá resolver seus conflitos, saberá

perder, passar a vez, raciocinar, encontrar soluções para aquele momento.

Dessa forma, se apropriando desta premissa, como educadora este foi o

desafio, fazer do conhecimento adquirido a grande transformação de aprendizagem

– O JOGO. E vários são os autores e estudiosos que alimentam esta ideia. O jogar e

aprender estimula muitas oportunidades dentro do contexto da sala de aula.

A educação para obter um ensino mais eficiente aperfeiçoou novas técnicas

didáticas consistindo numa prática inovadora e prazerosa. Dentre essas técnicas

temos o lúdico, um recurso didático dinâmico que garante resultados eficazes na

educação, apesar de exigir extremo planejamento e cuidado na execução da

atividade elaborada. O jogo é a atividade lúdica mais trabalhada pelos professores

atualmente, pois ele estimula as várias inteligências, permitindo que o aluno se

envolva em tudo que esteja realizando de forma significativa. Através do lúdico o

educador pode desenvolver atividades que sejam divertidas e que sobretudo ensine

os alunos a discernir valores éticos e morais, formando cidadãos conscientes dos

seus deveres e de suas responsabilidades, além de propiciar situações em que haja

uma interação maior entre os alunos e o professor numa aula diferente e criativa,

sem ser rotineira.

A educação tem por objetivo principal formar cidadãos críticos e criativos com

condições aptas para inventar e ser capazes de construir cada vez mais novos

conhecimentos. O processo de Ensino/Aprendizagem está constantemente

aprimorando seus métodos de ensino para a melhoria da educação, o educador

deve estar ciente dessa sua incrível possibilidade.

O lúdico é um desses métodos que está sendo trabalhado na prática

pedagógica, contribuindo para o aprendizado do alunado possibilitando ao educador

o preparo de aulas dinâmicas fazendo com que o aluno interaja mais em sala de

aula, pois cresce a vontade de aprender, seu interesse ao conteúdo aumenta e

dessa maneira ele realmente aprende o que foi proposto a ser ensinado,

estimulando-o a ser pensador, questionador e não um repetidor de informações.

172

É preciso ressaltar que o termo lúdico etimologicamente é derivado do Latim

“ludus” que significa jogo, divertir-se e que se refere à função de brincar de forma

livre e individual, de jogar utilizando regras referindo-se a uma conduta social, da

recreação, sendo ainda maior a sua abrangência. Assim, pode-se dizer que o lúdico

é como se fosse uma parte inerente do ser humano, utilizado como recurso

pedagógico em várias áreas de estudo oportunizando a aprendizagem do indivíduo.

Dessa forma, percebem-se as diversas razões que levam os educadores a

trabalharem no âmbito escolar as atividades lúdicas.

Assim, é na sala de aula que o educador deverá ser capaz de fazer de sua

realidade, algo significativo, que possa envolver os seus alunos, para que estes

aprendam brincando e não percam o foco do que realmente está sendo ensinado.

DESENVOLVIMENTO

Após ter o objetivo em mente, trabalhamos com o tema da Revolução

Francesa, tema muito complexo para nós e para os nossos alunos, tamanha

complexidade que foi proposto aos alunos um jogo, um jogo que fizesse com que

através dele, os objetivos, os conhecimentos fossem colocados na prática.

Com o tema trabalhado fizemos rodas de debates, atividades dirigidas,

apontamentos significativos para tal concretização das ideias. Assim após

trabalharmos bem o tema, os alunos foram divididos em grupos, e chegou o

momento da criação.

Aqui acredito que o criar é o ponto máximo de nossa atividade, pois foi aqui

que o conjunto das ideias, das vontades, dos diálogos, da interação entre eles

aconteceu. O criar exige paciência e tolerância, é olhar o outro como parceiro de

conhecimentos e novos desafios, pois o jogo auxilia a parte teórica do aprendizado.

O Jogo sendo desenvolvido, foi colocado em prática, os alunos pensaram,

criaram e assim jogaram. Tivemos as mais incríveis ideias de jogos de tabuleiro,

quizz, cartas, fichas, adivinhas, entre outros. E este é o ponto principal deste artigo,

é o BRINCAR APRENDENDO. Tudo o que realmente fazemos na prática, fica

173

marcado em nosso ser. O brincar realmente abre as portas para muitas

potencialidades.

O grande desafio foi a troca desta metodologia com alunos de outra faixa

etária, os alunos do 8º ano foram apresentar seus jogos para os alunos do Ensino

Médio, que grandes resultados tivemos: alunos tímidos venceram sua timidez,

alunos mais egocêntricos tiveram que partilhar, alunos ansiosos tiveram que

explicar, alunos criativos tiveram que passar mais criatividade, alunos com receios,

venceram seus medos e enfrentaram de forma harmoniosa as suas grandes

limitações. Como é fascinante o mundo da educação?

Mundo este que nos proporciona tantas descobertas e possibilidades, pelo

qual no dia a dia podemos incluir em nosso meio. Esta simples atividade gerou uma

complexidade de ALMA. Nossos alunos foram desafiados, venceram o desafio e

assim puderam partilhar com outras pessoas o seu melhor, adquirindo experiências

e partilhando conhecimentos.

Segundo o autor Patrick Moratori, em seus estudos nos reafima que através

dos jogos educativos o educador proporciona uma aprendizagem prazerosa, lúdica e

significativa para o aluno. Mostra que os jogos são excelentes recursos, onde o

professor possui um forte aliado para a sua prática eficiente para desenvolver o seu

trabalho.

Cabe ao educador estar atualizado e preparado para perceber as condições

de seus alunos no preparo dos jogos, pois deve ter os objetivos bem claros, pois o

processo de criação deverá estar ligado a imaginação e isso todo educador deve ter

o prazer de transmitir.

ENCANTAMENTO

Todo educador quando se encanta pelo universo de sua sala de aula, busca

em sua missão, a grande arte de se encantar. Nesta atividade vivenciamos este

encantamento na praticidade, onde o fazer, o conhecer, o criar e apresentar foi

altamente percebido o gosto de fazer algo diferente.

174

E este encantamento inicia-se na grande capacidade que o educador vai

apresentar, a sua forma de levar a sua sala de aula, ferramentas, ideias, propostas,

são reconhecidas pelo fazer do educando. Diria que a educação é uma fascinante

história de amor entre o conhecimento e o despertar da curiosidade. Se não houver

curiosidade, não poderá haver conhecimento.

Os gregos já diziam que o encantamento começa pela banalidade. Talvez

seja aí o grande segredo, se eu como educador não me encantar pelo simples, pelo

humilde, pelo o que realmente é, não conseguirei abranger as propostas de uma

significativa educação. O encantamento surge pela vontade de ir mais longe, pela

estrada mais difícil, pelos desafios a serem vencidos. Caso contrário, sempre será

morna, sem vida e sem graça.

Quando utilizamos uma simples metodologia de um jogo, após qualquer

conteúdo que seja, tenho que ter em mente os meus objetivos, a minha proposta,

onde quero chegar. O educador deve estar envolvido, caso não ocorra, a atividade

não fluirá, não atribuindo conceitos pertinentes para algo acontecer.

O aprender brincando exige regras, partilha, atenção, concentração,

perspicaz e uma série de descobertas que o próprio aluno fará. Quando há

encantamento, há aprendizagem.

Acredito que esta atividade foi uma das mais prazerosas que já vivenciei, ver

os alunos criando algo em cima de um conteúdo tão complexo, fez-me perceber a

imensidão de criatividade que se tem dentro de uma sala de aula. E além de criarem

algo significativo, transmitiram seus conceitos para outros alunos, maiores que eles.

Ou seja, eu aprendo e ensino ao mesmo tempo, vencendo limitações.

Aqui podemos destacar, Rubem Alves, quando nos remete sobre a arte do

encantamento do educador. O educador diz: Veja! O Aluno olha e vê o que nunca

viu. Assim acontece num processo de ensino e aprendizagem, todo educador torna

seu aluno mais rico interiormente. E essa riqueza só será validada pela curiosidade

que será despertada neste caminhar tão cheio de surpresas, chamada educação. E

quando ocorrer a arte de encantar, haverá um EducAMOR

175

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao universo que todos os dias me possibilita encontrar o encantamento dentro de minha missão

Agradeço aos meus alunos que por mim passam diariamente fazendo-me refletir através de nossas experiências o que realmente posso me transformar

Agradeço a escola que me acolhe para reinar o que um dia sonhei

176

REFERÊNCIAS

AS UTOPIAS NA EDUCAÇÃO; ENSAIOS SOBRE AS PROPOSTAS DE PAULO FREIRE.

RIO DE JANEIRO: PAZ E TERRA, 1985, ... PAULO FREIRE: PODER, DESEJO E

MEMÓRIAS DA LIBERTAÇÃO.

PRECONCEITO LINGÜÍSTICO: O QUE É, COMO SE FAZ. SÃO PAULO: EDIÇÕES

LOYOLA, 1999. BAGNO, MARCOS.

MELLO, F. DE SOBRE O OLHAR TRANSDISCIPLINAR.PAUL, PATRICK. O IMAGINÁRIO

COMO OBJETO DO CONHECIMENTO? IN: EDUCAÇÃO E TRANSDISCIPLINARIDADE II

RUBEM ALVES "ENQUANTO A SOCIEDADE FELIZ NÃO CHEGA, ... SOBRE O TEMPO E

A ETERNA IDADE, EDITORA PAPIRUS (CAMPINAS) TEMPUS FUGIT, EDITORA PAULUS

(SÃO PAULO)

ALVES, RUBEM. FILOSOFIA DA CIÊNCIA: INTRODUÇÃO AO JOGO E SUAS REGRAS.

SÃO PAULO: LOYOLA, 2000.:: BOOTH, W; COLOMB, G.G.; WILLIAMS, J.M. A ARTE DA

PESQUISA. 2ª

PATRICK BARBOSA MORATORI RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL DEZEMBRO, 2003.

POR QUE UTILIZAR JOGOS EDUCATIVOS NO PROCESSO DE ENSINO

APRENDIZAGEM? PATRICK BARBOSA MORATORI

177

PÔSTERES

SUBTEMA 4: O lúdico como recurso pedagógico

Resumo: A ludicidade decorre da interação do sujeito com um dado conhecimento

e o seu potencial didático depende da sensibilidade do educador em gerar

desafios (o novo pode representar um desafio assim como o que é velho

e familiar também pode, quando se enxergam novas relações existentes) e

descobrir interesses de seus alunos em relação às situações didáticas de

ensino trabalhadas. Nesse sentido, diversas atividades humanas

realizadas cotidianamente podem estar impregnadas de aspectos lúdicos,

e não só os jogos, os brinquedos e as brincadeiras. O caráter lúdico se

caracteriza pela presença de regras, de diversão e pela busca de prazer,

mas também sugere a ideia do “aprender brincando” com a intenção de

gerar no aluno o gosto pela aprendizagem. Como? Envolvendo e ousando

por meio de desafios, de vivências, de discussões em atividades de

grupo, nos jogos e brinquedos que envolvam conteúdos conceituais, sejam eles

em espaços educativos físicos ou virtuais. Portanto, neste subtema os

trabalhos para apresentação devem evidenciar práticas de ensino por

meio de situações didáticas de aprendizagem com aspectos lúdicos e não só

práticas de ensino que tenham como suporte o jogo, o brinquedo e a

brincadeira.

REVOLUCIONANDO

178

Resumo: Sabemos que o educador é a peça fundamental dentro de sua sala de

aula. É na sala de aula que o universo pedagógico ganha espaço na

contemplação de conhecimentos, partilhas, superações e

aprendizagens. Partindo do pressuposto de condução de seu espaço,

que o educador deve levar aos seus alunos a vontade de aprender.

O aprendizado só ocorre se acontecer encantamento entre educadores

e educandos. Nestas circuntâncias ocorrem o verdadeiro e significativo

aprendizado. A matriz curricular contempla muitos dos conteúdos com

temáticas mais complexas, como o caso do tema da Revolução

Francesa e todos os princípios e características que levaram ao fato

ocorrido. Assim, diante de tal complexidade e querendo realizar nos

meus alunos do 8º ano,do ensino fundamental, a vontade de aprender

de forma satisfatória, criamos de forma lúdica uma aula diferente,

voltada para a construção de diversos tipos de jogos, todos

relacionados com a temática da Revolução Francesa. Os alunos, em

grupos, confeccionaram diversos tipos de jogos: tabuleiros, fichas,

adivinhas, quizz, cartas e coletivamente jogavam e aprendiam cada vez

mais. O grande desafio deste nosso projeto, foi o encontro de duas

faixas etárias diferentes, os alunos do 8º ano apresentaram os jogos

aos alunos do 2º ano do Ensino Médio, onde neste momento houve

realmente um encantamento de aprendizagens. De um lado os

criadores da metodologia e do outro alunos, que possuem uma

experiência escolar e que focam outros objetivos, mas que juntos

brincaram e partilharam conhecimentos, numa troca de saberes com

níveis de maturidades

BRINCANDO E APRENDENDO

Ana Paula Palmezan Lourenço Santos Milinavicius Educandário Nossa Senhora Aparecida/ Brasil/São Paulo - SP

179

diferentes.Desssa forma, neste dia observamos como o jogo encanta o

momento do aprendizado. As atividades lúdicas por mais simples que

sejam, auxiliam o educador nas temáticas de suas aulas, propiciando

grandes trocas e fazendo com que pelo jogo, algumas sejam

esclarecidas no processo de ensino-aprendizagem. Hoje os alunos que

encontramos em nossas salas de aula são permeados pelo mundo da

tecnologia, os conteúdos são os mesmos, onde caberá ao educador

ser a grande ponte entre o aprendizado e o conhecimento,

resignificando o conteúdo apresentado. E foi exatamente o que

ocorreu, o conteúdo existia, mas foi transformado pela brincadeira e o

aprender ganhou um encantamento especial, revolucionando não

somente as mentes, mas muitos corações.

Abstract: REVOLUTIONIZING

PLAYING AND LEARNING

Summary: We know that the teacher is the cornerstone in his or her classroom. It

is in the classroom that the pedagogical universe gains ground in the

contemplation of knowledge, sharing, overcoming and learning. Starting

from the assumption of their space driving, that the educator must lead

his or her students to the desire to learn.Learning only occurs if

enchantment happens between teachers and students. In such

circumstances the true and meaningful learning occurs.The curriculum

includes a lot of content with more complex themes, as it is the case of

the French Revolution theme and all the principles and characteristics

that led to the fact occurred. Thus, faced with such complexity and

wanting to instill in my elementary school 8th graders the willingness to

learn satisfactorily, we‟ve created a playful, different class, focused on

the construction of various types of games, all related to the theme of

the French Revolution.

180

Students, in groups, crafted different types of games: boards, chips,

puzzles, quizzes, cards and collectively played and learned more and

more.The great challenge of our project was the meeting of two

different age groups, the 8th graders presented the games to the

students of the 2nd year of high school, and at that moment there was

really a learning enchantment. On one side the creators of the

methodology and on the other, students who have school experience

and focus on other goals, but they played together and shared

knowledge, in an exchange of lore with different levels of maturity.That

way, on this day we observed how the game enchants the moment of

learning. The recreational activities, no matter how simple they are, help

the teacher in the themes of their classes,providing great exchanges

and making that by the game, some doubts are clarified in the teaching-

learning process. Nowadays the students we find in our classrooms are

permeated by the world of technology, the contents are the same, so it

is up to the educator to be the great bridge between learning and

knowledge, redefining the content presented. And that's exactly what

happened, the content existed, but was transformed by the play and

learning won a special enchantment, revolutionizing not only the minds,

but many hearts.

Palavras-Chave: Aprendizagem. Brincadeiras. Criatividade. Encantamento.

Key-word: Creativity. Incantation. Learning. Play

181

Propostas construtivas para uma aprendizagem significativa

Daniela Navilli de Arauna / Colégio Educar Guarulhos, [email protected], Rua Vitória da

Conquista, 550, Guarulhos-SP, Ellen Borges Barbosa Sargentini / Colégio Educar Guarulhos,

[email protected], Rua Vitória da Conquista, 550, Guarulhos-SP, Brasil

Resumo: Atualmente nas escolas é comum, em um contexto geral, não

presenciarmos mais os estímulos, acerca dos objetivos a serem

atingidos com os alunos em sala de aula. Tudo vêm pronto e

organizado em seu devido lugar, situações mecânicas que não

estimulam a criança a pensar, criar e realizar situações-problemas

em seu cotidiano. A escola vem mudando a cada dia as suas

estratégias com vivências e atividades lúdicas na prática. De

acordo com os RCN´s “ A aprendizagem da linguagem oral e escrita é um

dos elementos importantes para as crianças ampliarem suas

possibilidades de inserção e de participação nas diversas práticas

sociais”. Sob este ponto de vista, faz-se necessário que o professor

seja mediador, organizador e motivador de toda a aprendizagem,

construindo-a através do convívio entre os alunos, em diferentes

situações. Em nossa escola, com crianças de 4 anos, utilizamos

diversas estratégias, entre elas:

- O uso do alfabeto concreto, a partir da visualização de palavras

geradoras, como recurso no momento da construção de novas

palavras;

- O bingo de letras, no reconhecimento das letras do alfabeto por

meio da brincadeira;

- E as “plaquinhas” com nomes dos objetos da sala de aula, em um

„ambiente alfabetizador que proporciona o acesso a cultura escrita,

com as quais eles possam interagir.

182

ssas atividades paralelas enriquecem e contribuem com a proposta

do SPE que dá as diretrizes para o trabalho no âmbito escolar,

seguindo a mesma linha de pensamento (abordagem

metodológica). Em conjunto, essas atividades favorecem uma

aprendizagem significativa. Em seu livro “Aprender e Ensinar na

Educação Infantil, Eulália Bassedas, Teresa Huguet e Isabel Sole,

dizem que “o ensino é uma atividade conjunta, compartilhada que

assegura a criança ir conhecendo e construindo progressivamente

o mundo que a envolve”. Assim, entendemos que os jogos e as

brincadeiras são muito importantes para ampliar o conhecimento e

possibilitar a participação em diversas práticas sociais, ajudando na

formação, na interação com seus pares, na construção da

aprendizagem e no desenvolvimento de forma geral.

Palavras-Chave: Alfabetização. Atividades. Brincadeiras.

ity. Incantation. Learning. Play

183

RELATOS DE EXPERIÊNCIAS

SUBTEMA 5: Estratégias de ensino eficazes e desenvolvimento

profissional docente

Resumo: Neste subtema os trabalhos apresentados devem relatar

experiências de sucesso da sala de aula que utilizem estratégias de

ensino eficazes. São exemplos de estratégias apontadas como

eficazes por Marzano et al (2008) para os processos de ensino: a

habilidade de identificar semelhanças e diferenças por meio de

comparação, classificação, metáforas e analogias; as habilidades de

resumir e tomar notas para apropriação dos temas estudados; o uso

de representações não linguísticas para gerar/criar imagens

mentais/gráficas da/sobre a informação; o uso da aprendizagem

cooperativa no desenvolvimento de conteúdos conceituais; a

geração e testagem de hipóteses; perguntas, sugestões e organizadores

avançados como estratégia de ativação de conhecimentos prévios;

entre outras.

184

CLUBE DE ASTRONOMIA E MATEMÁTICA NA ESCOLA

Elizangela Goldoni7

Colégio FAAT, [email protected], Av. Nove de Julho, Atibaia, Brasil

Resumo: A criação de um Clube de Astronomia e Matemática na escola trata-

se de um projeto de extensão acadêmica a ser desenvolvido junto

aos alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio. As atividades

realizadas pelo Clube visam estimular, por meio de oficinas, o

estudo e a valorização dessas ciências entre os alunos do Colégio e

promover a divulgação das mesmas. Pretende-se também

desenvolver o aprofundamento do conhecimento que abrange os

conteúdos mais solicitados em diversas olimpíadas científicas, em

especial da OBA (Olimpíada Brasileira de Astronomia e

Astronáutica) e a OBM (Olimpíada Nacional de Matemática). As oficinas devem

ser realizadas uma vez por semana, com grupos de no máximo 15

alunos, otimizando assim o acompanhamento pelo professor das atividades

realizadas. Vários assuntos podem ser abordados e estudados, por

meio de pesquisas e experimentos, tais como, astronomia,

astrofotografia, astroarqueologia, matemática aplicada, teoria dos

números, física, entre outros.

Abstract:: The creation of an Astronomy‟s and Mathematics‟ Club at school is

an academic extension project to be developed with the students of the

Elementary School II and High School. The activities of the Club

aims to encourage, through workshops, study and appreciation of these

sciences among students of the College and to promote the

7 Pós graduada em Docência no Ensino Superior e Gestão Escolar, graduada em Matemática (licenciatura plena). Atualmente atua como coordenadora pedagógica e professora de matemática no Colégio FAAT, Atibaia/SP.

185

dissemination of these subjects . It also intends to develop the depth

of knowledge covering the contents more relevant to various

scientific olympics, especially the OBA (Brazilian Astronomy and Astronautics

Olympiad ) and OBM (National Mathematical Olympiad ) .

Workshops can be held once a week, with groups of up to 15 students, thus

optimizing the monitoring of the activities performed by the teacher.

Several issues can be addressed and studied through research and

experiments, such as the Astronomy, astrophotography,

astroarqueology, applied mathematics, number theory, physics,

among others.

Key-word: Astronomy. Mathematics. Workshops

Palavras-Chave: Astronomia. Matemática. Oficinas.

186

INTRODUÇÃO

Este artigo propõe a discução sobre a finalidade e procedimentos para se

criar um Clube de Astronomia e Matemática na escola. A possibilidade de uma

escola lançar mão de diversos recursos para garantir o interesse do aluno e seu

desenvolvimento nas áreas que ele tem mais afinidade é um desafio. Atualmente

elas gastam mais energia tentando contornar as deficiências dos alunos do que

propriamente encontrando soluções para saná-las.

Quando a escola passa a destacar as habilidade de um aluno, a motivá-lo

através daquilo que ele tem interesse e é bom, o faz tornar-se mais ativo no âmbito

escolar e mais seguro para enfrentar os obstáculos oriundos de áreas que ele

acredita ter mais dificuldade para aprender.

Foi sob esse ponto de vista que se criou em 2014 o Clube de Astronomia e

Matemática no Colégio FAAT, localizado na cidade de Atibaia/SP.

Todas as atividades ligadas ao Clube de Astronomia e Matemática são

realizadas por meio de oficinas e tendem a trazer a tona discussões sobre variados

temas envolvendo essas ciências. A metodologia utilizada para o desenvolvimento

dessas oficinas procura, principalmente, formar cidadãos críticos, analíticos e

motivados a aprender.

O Clube tem a missão de formar jovens divulgadores da Ciência, envolvendo

toda a comunidade escolar. Os alunos participam de diversas olimpíadas científicas,

além de serem protagonistas de várias oficinas, que são oferecidas a comunidade

em geral e também aos demais alunos que estudam no Colégio.

Com essas abordagens, acredita-se que, o ensino de diversas ciências

contempladas nas oficinas, tais como matemática, física, astronomia, química, entre

outras, pode fazer com que os alunos se encantem pelo conhecimento e se

interessem cada vez mais em aprender, dessa forma, os objetivos do projeto estão

sendo amplamente contemplados.

187

1. CRIAÇÃO DO CLUBE DE ASTRONOMIA E MATEMÁTICA

A Astronomia é uma área científica fascinante e intrigante, capaz de gerar

grande curiosidade. Ela tem um caráter multidisciplinar e é uma ferramenta

motivadora que pode ser utilizada no ensino de diferentes ramos das Ciências, como

a Física, Matemática, Química, Biologia, História, entre outras. Sob uma ótica

construtivista, a motivação para a aprendizagem é essencial, e muitas vezes perde-

se tempo focando apenas naquilo que o aluno não aprende, uma vez que poderia

motivá-lo e fazê-lo se encantar pelo conhecimento e pelo ato de aprender.

Foi pensando em contemplar as facilidades e interesses dos alunos, que a

ideia de se criar Clubes de diversas áreas surgiu no Colégio FAAT em 2014. O

projeto piloto aconteceu com alunos apenas do Ensino Fundameerntal II e

posteriormente, com base nesse referencial e a partir do interesse manifestado

pelos estudantes do Ensino Médio, o clube passarou a aceitar alunos de 1ª e 2º

séries também.

O Clube de Astronomia e Matemática, objeto de estudo desse artigo, surgiu

em especial, com o intuito de acabar com o estigma que as disciplinas de exatas

têm: “é difícil”, ”ninguém gosta” e “ninguém aprende”. E possibilitar uma visão bem

mais ampla e prática dos seus conceitos.

2. ENSINO E APRENDIZAGEM

Conservando a ótica construtivista, a motivação para a aprendizagem é

essencial, uma vez que a assimilação de conceitos depende da participação ativa do

estudante para integrar novas ideias à sua estrutura cognitiva. Outro fator

determinante para o sucesso da aprendizagem é o conhecimento prévio dos

aprendizes (AUSUBEL, 2003), logo um fator relevante a ser considerado no

processo de ensino-aprendizagem é o conhecimento adquirido pelo indivíduo em

suas experiências anteriores. Quando a nova informação não se relaciona com

conceitos existentes na estrutura cognitiva, acaba sendo armazenada de forma

arbitrária (MOREIRA, 1985).

188

Já nos primeiros registros da civilização é possível constatar a existência de

conhecimentos astronômicos norteando as atividades das pessoas. Desta forma,

pode-se dizer que a Astronomia é uma Ciências que proporciona conexões diversas

à vivênvia e conhecimentos prévios dos alunos, podendo ser um excelente canal

para uma foma de aprendizagem que não contemple esse armazenamento

arbitrário.

Compreender o comportamento dos corpos celestes e sua influência sobre a

vida era questão de sobrevivência. O comportamento das marés, a sucessão de

dias e noites, as estações do ano e a elaboração de um calendário são questões de

que muitas civilizações primitivas se ocuparam, evidenciando a relação da

Astronomia com aspectos do dia a dia. A Ciência em questão atrai a atenção e

desperta à curiosidade das pessoas, independente de possuírem ou não

conhecimentos científicos. Essa característica pode fazer da Astronomia uma

importante ferramenta na motivação dos alunos para o estudo das disciplinas de

diversas Ciências (GONZALEZ et al., 2004). Associando os elementos curiosidade e

motivação, a um processo de ensino realizado por meio de metodologias

diferenciadas, levando-se em consideração o interesse dos alunos e envolvendo-os

em projetos estimulantes, tais como oficinas, observação, laboratórios, participação

em olimpíadas científicas, entre outros, os resultados têm se mostrado muito

satisfatórios.

Sendo assim o Colégio FAAT, escolheu essa abordagem e a adotadou como

atividade complementar, disponível aos alunos interessandos em estudar essa

ciência. Neste artigo, relatam-se as principais atividades de um grupo dessa

natureza, bem como alguns dos resultados alcançados.

3. O GRUPO DE ESTUDOS DE ASTRONOMIA

O Clube de Astronomia e Matemática foi criado em 2014. Inicialmene abriu-se

12 vagas que foram ocupadas por alunos do Ensino Fundamenal II submetidos a um

processo seletivo no início do ano letivo. O processo contemplou uma avaliação

contendo conceitos básicos de matemática e astronomia.

189

As oficinas aconteciam semanlamente, e tinham um tempo de duração de 1

hora. Ao longo desse ano os alunos integrantes do clube tiveram a oportunidade de

parcipar de diversas olimpíadas científicas e concursos, tais como Olimpíada

Brasileira de Astronomia (OBA), Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM),

Concurso do Telescópio SOAR (LNA), Semana Mundial do Espaço, entre outros,

conquistando inclusive, diversas medalhas.

Já em 2015, com base no interesse manifestado pelos estudantes do Ensino

Médio, o clube passou a aceitar alunos de 1ª e 2º séries do Ensino Médio, abriu

mais vagas, passando a compor um grupo de 27 alunos. A participação dos alunos

envolvidos e da comunidade escolar intensificava-se e aos poucos, o tempo para

essas discussões foi se tornando insuficiente, visto que a Astronomia estava sendo

utilizada como fator motivador e não era mais o conteúdo exclusivo a ser trabalhado,

além do que também foi necessário levar em consideração o novo perfil do grupo,

que agora passou a ser composto também por alunos de Ensino Médio. Surgiu

então a preocupação de não desmotivar os estudantes. A solução nasceu por parte

dos próprios alunos: aumentar o tempo da oficina para 3 horas e dividir esse tempo

em oficinas de Astronomia e estudo aprofundado de Matemática, vivenciado

inicialmente o estudo da Teoria dos Números.

No decorrer destes dois anos de grupo de Clube, vários dos alunos

participantes têm mostrado interesse em continuar seus estudos pós Ensino Médio

em áreas afins aos assuntos discutidos durante as oficinas, além de relatarem que

suas notas melhoraram em todas as disciplinas curriculares.

4. ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO

Os assuntos tratados nas oficinas são definidos previamente pelo professor,

que determina os materiais a serem utilizados e os temas a serem pesquisados

previamente pelos alunos, possibilitando assim, discussões com maior riqueza de

conteúdo.

A escolha dos temas leva em conta assuntos que possibilitem o estudo

multidiscipliar, prático e divertido das ciências, além de contemplar os tópicos mais

pedidos nas provas de diversas olimpíadas científicas. No início de cada encontro,

190

os estudantes comparilham seus conhecimentos prévios e curiosidades encontradas

em suas pesquisas. No segundo momento do encontro, o professor introduz os

materiais a serem utilizados e as informações relevantes sobre o tema. A conclusão

da oficina se dá com a execução da atividade de laboratório, que pode ser variada,

inclusive utilizando diversos ambientes da escola, tais como sala de informática, sala

de aula, laboratório de química, sala de artes, entre outros.

Outro aspecto importante observado ao longo das oficinas realizadas nesses

dois anos, se refere em deixar o aluno o mais relaxado possível. Propiciar um

ambiente agradável, onde ele possa ficar à vontade, usar o celular se quiser, ouvir

música enquanto faz uma leitura ou um cálculo, se alimentar, dar uma pausa para

descansar, ou seja, ter autonomia para gerenciar seu tempo e o modo de conduzir

os experimentos, possibilitou um aprendizado e um interesse pelo conhecimento

muito mais significativo. E um fato curioso pôde ser observado ao dar toda essa

liberdade ao aluno, ao contrário do que se pensava, essa autonomia, trouxe mais

responsabilidade e menos interesse por elementos que teoricamente poderiam

deixá-los mais dispersos, tal como o celular, por exemplo, maturidade acadêmica.

O estudo orientado de diferentes temas e a produção de diversos artigos

motivou os alunos a participarem de diversos eventos, sendo o primeiro deles a

Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA), o que os levaram a

conquistar suas primerias medalhas. Os primeiros artigos escritos foram frutos da

pesquisa sobre objetos astronômicos, tais como nebulosas, aglomerados de estrelas

e galáxias, com a finalidade de participarem do Concurso Laboratório Nacional de

Astrofísica e Telescópio SOAR, (LNA/SOAR), no Chile. A participação na Semana

Mundial do Espaço, evento organizado pela Organização das Nações Unidas

(ONU), também foi de grande relevância para os alunos, visto que tiveram a

oportunidade de apresentar os trabalhos pesquisados, e ministrar oficinas sobre

satélites em 2014 e de lançamento de foguete em 2015, para as crianças dos 5º

anos do Ensino Fundamental I do Colégio FAAT.

Em 2015 a primeira medalha conquistada foi na Olimpíada Internacional

Canguru de Matemática. Essa se deu em bronze para um aluno do 6º ano do Ensino

Fundametnal.

191

As atividades realizadas durante as oficinas alcançaram tanto sucesso que

chamou a atenção da Secretaria de Cultura e Eventos da Prefeitura de Atibaia. O

Secretário da Cultura, o Sr. Luis Otávio Frittoli, por acaso, viu uma oficina de

lançamento de foguetes durante a participação do grupo na Mostra Brasileira de

Lanaçamento de foguetes (MOBFOG) de 2015, que aconteceu no estacionamento

do Centro de Convenções Victor Brecheret, na cidade de Atibaia/SP. Ao passar

pelo local e ver a movimentação do grupo, se interessou pela oficina e convidou os

integrantes do Clube para ministrarem a atividade de lançamento de foguetes nos

eventos realizados pela Secretaria nos bairros mais carentes da cidade.

Também tiveram a oportunidade de divulgar a Astronomia na Feira

Multidisciplinar que acontece todo ano no Colégio. Em 2014 conseguiram levar para

a feira dois telescópios de observação solar e montaram um estande onde os

visitantes puderam observar o sol, as manchas solares e as explosões solares. Já

em 2015, tiveram a oportunidade de levar para a feira o Planetário Itinerante da

Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA), onde foram realizadas 6

sessões com mais de 180 pessoas, entre elas adultos e crianças, que puderam ter

uma experiência inesquecível. A visita do planetário foi muito importante para

disseminar a Astronomia na comunidade escolar, pois o projeto ganhou apoio da

Universidade Federal do Rio de Janeiro8, e também oportunizou à motivação e

interesse de crianças pelo projeto, fazendo surgir assim, a possibilidade de se iniciar

no próximo ano o “Clubinho de Astronomia”, direcionado à crianças entre 7 e 9 anos.

Outro evento importante, aconteceu no final de setembro e início de outubro

de 2015, o Desafio Nacional Acadêmico (DNA). Após a participação do grupo no

DNA os alunos passaram a valorizar ainda mais o aspecto experimental e de

pesquisa. A colocação de todas as equipes inscritas foi excelente e o grupo se

tornou ainda mais unido, forte e motivado.

O ingresso ao Clube de Astronomia e Matemática é realizado através de

processo seletivo, sendo seu acompanhamento realizado pela freqüência dos

participantes, não gerando assim notas e aprovações. Os alunos optam por

8 UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro é a instituição que organiza a Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) e também as visitas do Planetário.

192

participar do projeto. Sendo então, o ponto crítico da atividade, manter os alunos

frequentando assiduamente, já que sua ausência, não gera para ele, nenhuma

conseqüência, a não ser pela falta do conteúdo abordado. As desistências são em

percentual muito pequeno, sendo em uma média de 10% ao ano, mas é possível

obervar que a participação dos integrantes é cada vez mais ativa, o que indica que

as atividades realizadas são motivadoras e que essse grupo de alunos tem um

interesse crescente pelo conhecimento, nos indicando que a missão do Clube está

sendo alcançada.

5. CONCLUSÃO

No início do projeto, os encontros eram um pouco tumultuados, visto que os

alunos não estavam acostumados com o tipo de abordagem, tão pouco com a

autonomia sugerida. Muitos traziam informações controversas, com pesquisas feitas

em fontes não seguras, e outros nem se quer se lembravam de fazê-las. Aos

poucos, os estudantes foram sendo conduzidos a fontes de pesquisa mais seguras,

aprendendo a trabalhar com a autonomia dada, a diferenciar especulação e fato

real, mito e Ciência. A partir do momento em que os alunos começaram a participar

das Olimpíadas Científicas, a ministrar oficinas para outros estudantes e a

entenderem como se conduz um experimento, sob orientação do professor, ficou

mais claro para eles a importância do embasamento científico na explicação dos

fenômenos astronômicos. As discussões no grupo de estudos contribuíram para a

melhoria do nível de argumentação e dos questionamentos dos alunos, bem como

no seu rendimento acadêmico em geral. Com o passar do tempo, as atividades do

grupo foram reestruturadas, o tempo de oficina aumentou e os assuntos foram

sendo aprofundados para atender os anseios dos participantes e mantê-los

motivados a continuar no Clube.

Também é importante ressaltar que outras habilidades foram desenvolvidas

e/ou fomentadas, um exemplo que pode ser citado é o da solidariedade: os alunos

do Clube têm se preocupado em ajudar outros alunos do Colégio que têm

dificuldades em exatas.

193

A colaboração para com o próximo foi algo que surgiu naturalmente e a união

do grupo, mesmo sendo de turmas diferentes, tem proporcionado momentos

agradáveis e as novas amizades tem se perpetuado fora do Colégio também.

Para manter os alunos assíduos às oficinas, as experimentações passaram a

ser mais frequentes e as conquistas de medalhas, certificados, entre outros são

sempre comemoradas e divulgadas.

Atividades de iniciação científica realizada através do Clube, proporcionam ao

aluno um amadurecimento científico e maior autonomia nos estudos. O aluno

percebe que ele é responsável pela construção de seu conhecimento, sentindo-se

então, motivado a estudar e a aprender cada vez mais. Oportuniza a construção da

concepção de que ele é o autor do seu próprio conhecimento, independente das

dificuldades encontradas pelo caminho.

A Astronomia é uma ferramenta motivadora para o ensino, em especial nas

áreas relacionadas às Ciências Naturais e Exatas. Ao se buscar relacionar o

conhecimento científico com as concepções que os alunos já possuem, facilita-se a

assimilação dos conteúdos, favorecendo o sucesso do processo de ensino e

aprendizagem. Quando os estudantes têm espaço para expor suas ideias, realizar

pesquisas, desenvolver experimentos e fazer descobertas, sentem-se mais

motivados para estar em sala de aula, pois o ambiente escolar passa a ter mais

sentido para os mesmos. Este é um dos principais resultados alcançados pelo

projeto.

REFERÊNCIAS

AUSUBEL, D. P. Aquisição e retenção de conhecimentos: uma perspectiva

cognitiva. Lisboa: Plátano, 2003.

GONZALEZ, E. A. M. et al. A Astronomia como ferramenta motivadora no

ensino das ciências. In: Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, 2., 2004,

Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: UFMG, 2004. Disponível em: . Acesso em:

17 out. 2009.

194

MOREIRA, M. A. Aprendizagem significativa. Brasília: Universidade de Brasília,

1999.

MOREIRA, M. A. Ensino e aprendizagem. São Paulo: Moraes, 1985.

SOUZA, Salete Eduardo de. O uso de recursos didáticos no ensino escolar I

Encontro de Pesquisa em Educação, IV Jornada de Prática de Ensino, XIII Semana

de Pedagogia da UEM: “Infância e Práticas Educativas”. Arq Mudi. 2007; 11(Supl.2).

195

SUBINDO A SERRA: O APRENDIZADO SE EFETIVANDO POR MEIO DA PRÁTICA

Catia Alves Barcelos de Oliveira9

Escola Técnica de Comércio de Tubarão, [email protected]

Rua Padre Bernardo Freuser, n. 97, Centro, Tubarão – SC, Brasil

Resumo: Este artigo tem por objetivo expor o relato de experiência de uma

pesquisa de campo, a partir de um projeto intitulado Subindo a Serra,

que se desenvolve há mais de uma década com alunos do 5º ano da

Escola Técnica de Comércio de Tubarão, Santa Catarina. Esse

projeto possibilita que os educandos possam fazer uma viagem ao planalto

serrano a fim de concretizar seus saberes. Por meio de aulas

expositivas, foi-se aguçando o desejo dos alunos de vivenciar de

maneira prática os conhecimentos adquiridos. Lançaram-se questões

que seriam evidenciadas apenas no dia da execução do projeto. Para

isso, houve a necessidade de um bom planejamento para que todos

os objetivos traçados fossem alcançados. É importante ressaltar que os

projetos bem elaborados, que exigem a participação ativa dos alunos

e o comprometimento dos professores são, de fato, bem-sucedidos.

Abstract: This article aims to expose the experience report of a field survey from

a project entitled Climbing the Mountain, which is developed for more

than a decade with 5th grade students of Escola Técnica de Comércio

de Tubarão, Santa Catarina. This project takes students on a trip to

the mountainous plateau in order to practice their knowledge. Through

lectures, the students‟ desire of experiencing the acquired knowledge

9 Catia Alves Barcelos de Oliveira. Graduada em Português / Inglês pela Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul); Pós-Graduada em Literatura Brasileira: Produção Contemporânea, pela Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). Trabalha na Escola Técnica de Comércio de Tubarão, Tubarão, Santa Catarina. [email protected].

196

was anhanced. Questions that would be evident only on the day of the

project execution were proposed. In order to do so, there was the

need for good planning, so that all objectives were achieved. It is important

to note that the well-designed projects, which require the active

participation of students and the commitment of teachers are, in fact,

successful.

Palavras-chave: Concretização de saberes. Ensino Fundamental 1. Viagem ao

planalto serrano.

Keywords: Reporting experiences. Travel. Mountains.

197

1. INTRODUÇÃO

O objetivo de todo professor é contribuir para o desenvolvimento pleno do

aluno, levando-o a se apropriar do conhecimento e aplicá-lo em sua vida. Por isso o

papel do educador não é o de ser apenas mero expositor de informação, ele deve

estar embasado em uma pedagogia inovadora e realista, utilizando para isso

métodos educacionais específicos, para que de maneira efetiva aconteça a

apropriação do saber pelo aluno.

Debruçando-se nessa perspectiva de ensino, foi desenvolvido este artigo,

que se destina a relatar a experiência de um projeto que está sendo desenvolvido há

mais de uma década pela Escola Técnica de Comércio de Tubarão com os alunos

do 5º ano do Ensino Fundamental.

O projeto se intitula Subindo a Serra e tem como intuito proprocionar o

aprendizado por meio da experiência concreta, partindo das abordagens em sala de

aula a respeito da região da serra catarinense. Essa atividade amplia o

conhecimento do aluno, proporcionando-lhe a oportunidade de verificar o que

aprendeu e adquirir competência de formular novos saberes, fazendo associações,

bem como comprovando suas expectativas, identificando semelhaças e diferenças

que possam melhorar seu entendimento e sua habilidade para usar o conhecimento

(MARZANO et al, 2008).

2. DESENVOLVIMENTO

A discussão acerca da prática do ensinar é muito extensa. Alguns

professores acreditam que quando simplesmente apresentam ou explicam um

determinado conteúdo já ensinam, bastando ao aluno estudar para prestar um

exame que medirá sua compreensão. De acordo com Léa Anastasiou (1998), o

verbo ensinar, do latim, insignare, significa marcar com um sinal, que deveria ser de

vida, de busca e de despertar para o conhecimento. O papel do professor, no

decorrer dos tempos, tem-se modificado muito no que se refere à mediação do

conhecimento. O apreender só se efetivará se essa ação de ensino contiver as

198

dimensões de intenção e de resultado. O aluno tem de apreender e se apropriar do

conteúdo/conhecimento.

Sabe-se que, além de toda a dependência de um conjunto de princípios

teóricos, o docente deve ter certeza de que aquilo que pretende realizar em sala de

aula atingirá o aluno de alguma forma, habilitando-o a utilizar tais conhecimentos em

sua vida. Quando se trabalha visando à interação do aluno no processo de ensino e

aprendizagem, tem-se o resultado mais amplo e efetivo.

O desenvolvimento de projetos bem-sucedidos é a comprovação de que a

prática pedagógica do professor está atingindo o seu objetivo: o aluno assimila o

conteúdo, transformando-o em conhecimento, e utiliza-o em seu dia a dia.

Este artigo ressalta exatamente essa comprovação por meio da abordagem

de um projeto que ocorre há mais de uma década, desenvolvido com alunos do 5º

ano do Ensino Fundamental 1 da Escola Técnica de Comércio de Tubarão, na

cidade de Tubarão, em Santa Catarina. O projeto tem como parte essencial a

pesquisa de campo, mais especificamente a comprovação in loco de tudo que é

abordado em sala de aula, por meio de estudos de textos, observação de imagens,

relato de experiências, enfim por meio da interdisciplinaridade.

3. COMO TUDO COMEÇOU

A cidade de Tubarão fica localizada no sul de Santa Catariana, a uma

altitude média de 9 (nove) metros acima do mar. Seu nome deve-se ao Rio Tubarão

que, em tupi-guarani, era chamado Tubá-Nharô e que tem sua nascente exatamente

na Serra do Rio do Rastro. É uma cidade litorânea, margeada pela BR 101, próxima

do mar e ao mesmo tempo da mais famosa serra catarinense, a Serra do Rio do

Rastro.

Aproveitando essa localização geográfica e os conteúdos de Língua

Portuguesa, Geografia e História contidos no livro didático integrado do Sistema

Positivo de Ensino direcionado aos alunos do 5º ano do Ensino Fundamental 1,

surgiu o projeto Subindo a Serra, idealizado e desenvolvido pela professora Catia

Alves Barcelos de Oliveira, com o apoio da direção e da coordenação e também das

professoras colaboradoras da escola.

199

Tudo começou em sala de aula, há mais de doze anos, nas aulas de

Geografia e História. Sempre quando se fazia a abordagem geográfica e histórica

dessa região de Santa Catarina, pensava-se em como era abstrato mostrar apenas

fotos e mapas ou relatar as viagens feitas pela professora (natural da serra, cidade

de São Joaquim) – para que os alunos pudessem compreender de fato o conteúdo,

era necessário algo mais concreto. Até que um aluno desafiou a professora,

questionando-a se poderiam ver tudo aquilo in loco. Então, não houve dúvidas:

conseguiu-se o alvará da coordenação com uma ótima argumentação e disposição.

3.1. A execução do projeto

Por essa viagem à serra já ser uma tradição, a Escola Técnica de Comércio

de Tubarão (ETCT) coloca em seu calendário anual esse projeto, por isso os

preparativos se fazem desde o primeiro bimestre até a sua execução no mês de

agosto, início do terceiro bimestre.

Apesar do rigoroso, inverno característico da Região Sul do país, nessa

época do ano, antes das 4 h 30 min da madrugada os alunos já aguardam ansiosos

em frente à escola a hora de embarcar na aventura.

A distância até o destino não é longa, mas é necessário sair cedo para

observar a iluminação artificial gerada pelas torres de energia eólica – responsável

pela parte da iluminação da Serra do Rio do Rastro – que é uma atração do local e

objeto de estudo do grupo de estudantes. Ao subir a serra, na maioria das vezes,

contempla-se o espetáculo que a natureza proporciona no horizonte: o nascer do

sol.

Aproveita-se também para relembrar as histórias sobre os índios que

habitavam a região e as aventuras dos tropeiros, que faziam longas viagens e

costumavam descansar com mulas em locais específicos ao longo do trajeto. Já no

alto da serra, no município de Bom Jardim da Serra, em um espaço denominado

Mirante, pode-se apreciar a bela paisagem das curvas da estrada lá embaixo,

acompanhada da vegetação da mata nativa. Em dias de céu azul, também é

possível enxergar o mar a mais de 70 quilômetros de distância e 1 460 metros

abaixo.

200

Nesse lugar é normal temperaturas abaixo de zero grau, assim como

campos cobertos de geada e, eventualmente, de neve.

Figura 1: Vista da serra – 2014 Figura 2: Árvore congelada – 2011

É nesse momento que a professora tem a oportunidade de concretizar os

conteúdos que, até então, foram vistos apenas na teoria: relevo, clima, vegetação,

fauna.

Sobre essa experiência vivida pelos alunos da Escola Técnica de Comércio

de Tubarão, fez-se um apanhado de relatos de alguns participantes do projeto ao

longo dos anos. Seguem-se algumas menções:

No ano de 2009, quando eu tinha 9 anos e frequentava o 5º ano, eu e minha turma tivemos uma experiência maravilhosa: a viagem à serra. Era uma daquelas viagens que a turma não via a hora para chegar, embarcar no ônibus e começar a ouvir as misteriosas histórias da Tia Catia. Ou ainda conhecer a cidade de São Joaquim [...]. Foi uma viagem de muita diversão, mas principalmente de muito aprendizado. Uma forma de vivenciar tudo aquilo que estudamos naquele ano. Simplesmente foi uma experiência que me remete a muitas lembranças que até hoje tenho com muito carinho.

(Mariana Fenille, 15 anos, 2ª série do Ensino Médio)

No ano de 2008, a escola nos propôs uma viagem diferente, com destino à Serra do Rio do Rastro. Lembro que a maioria da turma foi. Saímos antes do dia clarear e, no caminho, as professoras foram contando histórias até chegarmos ao nosso destino [...]. O clima estava frio, mas sem neve, apenas geada, o que facilitou que fizéssemos diversas atividades [...]. Chegando à serra, logo na primeira parada nos deparamos com os quatis, o que prendeu a atenção da turma durante um bom tempo. Lembrarei sempre com um carinho imenso e um pouco de saudade esse momento que aproximou os professores e alunos ainda mais.

(Alice Favero Silvano, 17 anos, 3ª série do Ensino Médio) Eu tinha 10 anos de idade. No dia 3 de agosto de 2011, fiz minha primeira viagem à Serra do Rio do Rastro, uma experiência inesquecível, até porque foi minha primeira viagem acompanhado de meus amigos e colegas de classe, a primeira e única vez até hoje que pude ter o prazer de presenciar a tão esperada neve. [...]. Tivemos também a oportunidade de fazer amizades visitando a escola Educandário Santa Isabel – nos divertimos

201

muito, aprendemos várias coisas de seus costumes e sua história. Enfim, foi uma viagem que valeu muito participar. Levarei muitas lembranças boas dessa viagem incrível que ETCT nos proporcionou.

(Arthur Effting Saturno, 14 anos, 9º ano do Ensino Fundamental) A próxima parada é na cidade de São Joaquim, a

aproximadamente 160 quilômetros de Tubarão. Lá, além de

visitar os pontos turísticos e históricos da cidade, os alunos têm

uma missão muito importante: conhecer os alunos do

Educandário Santa Isabel, também conveniado ao Sistema

Positivo de Ensino. Há muitos anos essa escola recebe os

alunos da Escola Técnica de Comércio de Tubarão (ETCT)

para troca de experiências e apresentação das maravilhas da

cidade considerada umas das mais frias do Brasil.

Foto 3: Visita a vinícola – 2011 Foto 4: Seleção de maçã – 2014

O tour contempla visitas a vinícolas; a uma empresa de distribuição de maçã;

ao centro histórico e comercial da cidade; à Empresa de Pesquisa Agropecuária e

Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri); bem como à escola citada. Lá, os alunos

interagem com brincadeiras, um delicioso lanche e troca de lembranças.

Lá pelas 16 h 30 min é hora de se despedir e cair na estrada. Na descida da

serra, mais uma surpresa! Para mexer com o imaginário dos alunos, ao anoitecer, a

professora faz um suspense e conta, de maneira dramatizada, uma lenda indígena,

muito conhecida na época dos tropeiros: a lenda do Gritador. As crianças, atentas,

algumas incrédulas e outras bastante impressionadas, divertem-se com todo aquele

imaginário!

202

Quando a viagem chega ao fim, lá pelas 19 h da noite, apesar do cansaço,

os alunos estão ainda eufóricos, agora para relatar aos seus familiares a

emocionante aventura.

O planejamento faz parte da atividade pedagógica de qualquer professor e

ele se consolida quando seu objetivo é alcançado. A pesquisa de campo é uma das

estratégias que mais comprovam esse sucesso. Melhor ainda se ela for completa,

envolvendo várias disciplinas de uma só vez. Por isso o projeto Subindo a Serra é

tão benquisto e apreciado pela comunidade escolar.

CONCLUSÃO

Por meio deste projeto percebeu-se o quanto é importante que a escola

oportunize diferentes meios de aprendizagem para que o aluno tenha a capacidade,

desde cedo, de elaborar o seu saber. Experimentar na prática os conteúdos vistos

em sala de aula é um dos recursos mais eficientes.

O projeto aqui relatado tem-se mostrado eficaz quanto à aquisição do

conhecimento de maneira prática. Tanto o é que já perdura por mais de uma

década. A abordagem de conceitos interdisciplinares e diferenças culturais

nortearam o desenvolvimento desse projeto. Visitar um lugar nunca antes visitado

pela maioria dos alunos se faz um verdadeiro desafio.

Acredita-se que essa experiência serve como prática educativa no sentido

de desenvolver, no estudante, o aperfeiçoamento e aprofundamento de seu

aprendizado.

REFERÊNCIAS

ANASTASIOU, L. G. C. Metodologia do Ensino Superior: da prática docente a uma

possível teoria pedagógica. Curitiba: IBPEX, 1998.

MARZANO, R. J.; PICKERING, D. J.; POLLOCK, J. E. Ensino que funciona: estratégias

baseadas em evidências para melhorar o desempenho dos alunos. Porto Alegre:

Artmed, 2008.

203

I CINEFESTIVAL DE LITERATURA DA ESCOLA TÉCNICA DE COMÉRCIO DE TUBARÃO (ETCT) – POSITIVO/2015

Daiane de Souza Alves Mauricio10

Escola Técnica de Comércio de Tubarão – SC, [email protected]

Rua Padre Bernardo Freuser, 140, Centro, Tubarão – SC, CEP 88701-140

Telefone: (48) 36220960

RESUMO: O presente artigo apresenta um projeto envolvendo Literatura,

Leitura e Cinema, chamado I Cinefestival de Literatura da Escola Técnica de

Comércio de Tubarão (ETCT) – SC. Tal projeto propõe uma

metodologia diferenciada, a ser aplicada com alunos do Ensino

Médio, e envolve a participação efetiva dos alunos em todas as

etapas de seu desenvolvimento: planejamento, elaboração efetiva dos

curtas-metragens e apresentação aos pais e/ou amigos.

ABSTRACT : This article presents a project involving literature, reading and

movies, called I Cinefestival de Literatura da Escola Técnica de Comércio de

Tubarão (ETCT) – SC. This project proposes a different methodology

to be applied to high school students and involves the active

participation of students in all stages of development: planning,

effective preparation of short films and presentation to parents and/or

friends.

Palavras-chave: Cinefestival. Literatura. Leitura.

Keywords: Cinefestival. Literature. Reading.

1. INTRODUÇÃO 10Pós-graduanda em Psicopedagogia Clínica e Institucional. Especialista em Literatura Brasileira e Catarinense. Formada em Letras Português/Inglês pela Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). Professora de Redação e Literatura na Escola Técnica de Comércio de Tubarão – SC. E-mail: [email protected].

204

Devido ao fato da dificuldade encontrada ao estimular os jovens pelo gosto da

leitura das obras clássicas da Literatura, buscou-se uma alternativa que chamasse a

atenção dos adolescentes do Ensino Médio e despertasse o prazer pela leitura de

clássicos literários nacionais.

Lembrando que todo o processo

deve proporcionar ao aluno o estímulo à pesquisa e a busca de novos conhecimentos, o propósito do uso de materiais concretos no ensino escolar é o de fazer o aluno a adquirir a cultura investigativa o que o preparará para enfrentar o mundo com ações práticas sabendo-se sujeito ativo na sociedade. (SOUZA, 2007, p. 2)

Para tanto, pensou-se em conciliar a leitura obrigatória das obras clássicas

e/ou exigidas pelos vestibulares à produção de um curta-metragem.

Os alunos deveriam ler as obras indicadas pela professora de Literatura, que

são as seguintes:

1. O demônio e a Srta. Prym – Paulo Coelho

2. Iracema – José de Alencar

3. A hora da estrela – Clarice Lispector

4. O seminarista – Bernardo Guimarães

5. O cortiço – Aluízio de Azevedo

6. O Fantástico na Ilha de Santa Catarina – Franklin Cascaes

7. Várias Histórias – Machado de Assis

As obras 1 e 2 foram destinadas à 1ª série do Ensino Médio; 3 e 4, à 2ª série

do Ensino Médio; 3, 6 e 7 à 3ª série do Ensino Médio.

O período destinado ao presente projeto foi o primeiro semestre letivo do ano

de 2015.

Além de participarem de uma avaliação referente à leitura feita das obras

supracitadas, com valor de 0 a 10, os alunos deveriam criar um curta-metragem, de

até 10 minutos, a respeito dos livros, com valor também de 0 a 10.

205

Cada turma foi dividida em duas equipes, salvo a 3ª série do Ensino Médio,

que foi dividida em 4 equipes devido ao número de alunos.

Depois de produzir um curta-metragem a respeito da obra lida no primeiro

bimestre e outro no segundo, as equipes deveriam escolher um dos dois curtas para

concorrer às premiações do Oscar Literário, nas seguintes categorias:

1. Melhor Filme

2. Melhor Atriz

3. Melhor Ator

4. Melhor Atriz Coadjuvante

5. Melhor Ator Coadjuvante

6. Melhor Diretor

7. Melhor Canção Original

8. Melhor Trilha Sonora

9. Melhor Roteiro Adaptado

10. Melhor Figurino

11. Melhor Maquiagem e Penteado

12. Melhor Engenharia e Efeitos

2 ORGANIZAÇÃO DO PROJETO

A Escola Técnica de Comércio de Tubarão firmou uma parceria com a

empresa Wood Filmes, também da cidade. Os proprietários da empresa foram à

escola e promoveram um momento de bate-papo para conversar com os alunos a

respeito da filmagen dos curtas-metragens, ensinando técnicas referentes a tal

prática.

206

Figura 1: Palestra sobre filmagem – Wood Filmes

Como citado anteriormente, os alunos apresentaram os curtas-metragens

previamente em sala de aula e, posteriormente, escolheram um dos dois filmes para

concorrer à premiação.

Foram convidados professores e colaboradores da Escola Técnica de

Comércio de Tubarão para julgar, em um sábado, todos os curtas-metragens

escolhidos pelos alunos.

Figura 2: Comissão julgadora reunida

Figura 3: Comissão julgadora reunida

Julgados os trabalhos e de posse dos resultados, a data da realização do I

Cinefestival de Literatura da ETCT – Positivo foi escolhida: 17 de julho de 2015.

207

Os alunos foram envolvidos também na organização do evento. Cada grupo

deveria eleger dois integrantes responsáveis por participar da comissão do I

Cinefestival. O plano este deu muito certo, visto que todos os eleitos tiveram

participação efetiva no evento, tanto nos pedidos de patrocínio, quanto na

organização do evento em si, incluindo a confecção dos convites e a decoração do

hall de entrada do local.

Figura 4: Convite do Cinefestival de Literatura

3 EXECUÇÃO DO PROJETO

No dia marcado, cada aluno foi acompanhado por três membros da família

e/ou amigos.

O diretor da escola disponibilizou o aluguel de duas salas de um antigo

cinema, na cidade de Tubarão, para a realização do evento.

No dia 17 de julho de 2015, às 19 horas, iniciou-se a apresentação dos filmes

e, no final, cada equipe apresentou a canção original do seu curta-metragem; vale

ressaltar que tais canções – letra e melodia – foram compostas pelos integrantes de

cada equipe.

Após, os alunos, seus familiares e amigos foram surpreendidos por um curta-

metragem produzido por alguns professores da ETCT Positivo. Tal curta

apresentava as personagens principais de cada obra literária lida pelos alunos.

208

Figura 5 – Professoras como as personagens principais das obras

Posteriormente, iniciou-se a divulgação dos resultados do I Cinefestival de

Literatura da ETCT – Positivo. Os premiados foram os seguintes:

Quadro 1 – Resultado do I Cinefestival de Literatura ETCT Positivo/2015

Categoria Aluno/ Filme Série

Melhor Filme O Seminarista, da diretora Maria

Eduarda Guarezzi

2ª série do Ensino

Médio

Melhor Ator Pedro, como Eugênio, em O

Seminarista, da diretora Maria

Eduarda Guarezzi

2ª série do Ensino

Médio

Melhor Atriz Beatriz Oliveira, como Macabéa,

em A hora da Estrela

2ª série do Ensino

Médio

Melhor Ator Coadjuvante João Zomer, como seu

Raimundo, em A Hora da

Estrela, do diretor Zoão Zomer

Terceirão

Melhor Atriz Coadjuvante Bárbara, como Glória, em A

hora da Estrela, do diretor

Nicolas Fernandes

2ª série do Ensino

Médio

209

Melhor Diretor Nícolas Fernandes, com A Hora

da Estrela, e Maria Eduarda

Guarezi, com O Seminarista

Ambos da 2ª série

do Ensino Médio

Melhor Canção Original “Um amor para trás”, do filme O

Seminarista, da diretora Maria

Eduarda Guarezzi, e

“Marcas da dor”, do filme A

Hora da Estrela, do diretor Zoão

Zomer

2ª série do Ensino

Médio e Terceirão,

respectivamente

Melhor Trilha Sonora “Preciso me encontrar” –

Cartola, do filme O cortiço,

diretora Angela Bittencourt

Cardoso

Terceirão

Melhor Roteiro Adaptado O Seminarista, da diretora Maria

Eduarda Guarezzi

2ª série do Ensino

Médio

Melhor Figurino A Hora da Estrela, do diretor

Nícolas Fernandes

2ª série do Ensino

Médio

Melhor Maquiagem e

Penteado

A Hora da Estrela, do diretor

Nícolas Fernandes

2ª série do Ensino

Médio

Melhor Engenharia e

Efeitos

A Hora da Estrela, do diretor

Nícolas Fernandes, e O

Seminarista, da diretora Maria

Eduarda Guarezzi

Ambos da 2ª série

do Ensino Médio

Fonte: Autora (2015)

210

Figura 6 – Momento da apresentação dos curtas-metragens

4 CONCLUSÃO

O contexto escolar está constantemente sendo modificado devido à

diversidade de alunos, e as práticas pedagógicas mostram-se, algumas vezes,

falhas, visto que não atingem a totalidade dos alunos em sala de aula.

Salientada a importância da leitura, resolveu-se criar uma estratégia para

despertar o interesse pela leitura integral das obras literárias indicadas pela

professora em todo início de ano, uma vez que os alunos, em sua maioria,

preferiram a leitura de quaisquer resumos encontrados na internet.

Com o intuito de provar que todos têm um modo de aprendizado efetivo e

com a intenção de envolver todos os alunos na leitura e na produção dos curtas-

metragens é que se deu o objetivo maior deste projeto.

Como resultado, teve-se um grande empenho por parte dos alunos em

realizar a atividade proposta da melhor forma possível, visto que as turmas visavam

obter o melhor resultado para serem premiadas em todas as categorias.

Indivíduos motivados costumam ser mais persistentes e apresentam níveis de desempenho mais altos. [...] o que motiva é o atingir de uma meta, isto pode levar a uma motivação para novos desafios, ou seja, são os fatores do próprio trabalho que funcionam como fatores motivadores, pois o homem busca descobrir coisas, realizar-se, atualizar-se, progredir e agregar coisas a sua existência. (FASSBINDER et al., 2011, p. 2).

Os alunos demonstraram grande interesse pelas artes cinematográficas e

cada integrante das equipes viu-se diante de possíveis profissões futuras.

211

Os envolvidos no projeto já solicitaram à professora de Literatura que, no

próximo ano, seja pedido um filme de até 1 hora e que, em vez de dividir-se a sala

em duas equipes, tal filme seja criado pela sala inteira, tornando, assim, o trabalho

em grupo mais efetivo.

O projeto deve ser passado a diante, tamanha sua aceitação, tanto pelos

alunos, que aprenderam muito durante todo o processo, quanto pelos pais, que

apoiaram a causa e sentiram-se felizes e realizados com o referido trabalho,

inclusive surpreendendo-se com a performance de seus filhos nos curtas-metragens.

Além do fato de que é realmente importante “chamar os pais para a escola”, para

participarem efetivamente da vida escolar de seus filhos no Ensino Médio.

REFERÊNCIAS

FASSBINDER, Aracele Garcia de O.; PAULA, Lílian Cristina de; ARAÚJO João

Cláudio D. Experiências no estímulo à prática de Programação através do

desenvolvimento de atividades extracurriculares relacionadas com as competições

de conhecimentos. Disponível em:

<http://www.imago.ufpr.br/csbc2012/anais_csbc/eventos/wei/artigos/Experiencias%2

0no%20estimulo%20a%20pratica%20de%20Programacao%20atraves%20do%20de

senvolvimento%20de%20atividades%20extracurriculares%20relacionadas%20com

%20as%20competicoes%20de%20conhecimentos.pdf>.

SOUZA, Salete Eduardo. O uso de recursos didáticos no ensino escolar. Disponível

em: <http://www.dma.ufv.br/downloads/MAT%20103/2014-II/Rec%20didaticos%20-

%20MAT%20103%20-%202014-II.pdf>.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, a quem eu amo incondicionalmente e que

sempre me concede insights mirabolantes. Ao meu marido, Tiago, e meu filho,

Valentin, que estão sempre presentes carinhosamente. Ao diretor e à coordenadora

212

dos Ensinos Fundamental 2 e Médio da Escola Técnica de Comércio de Tubarão

(ETCT) – Positivo, Santos Inésio Magri e Maria Ana Pignatel Marcon Martins,

respectivamente, pela oportunidade concedida. Aos colegas de profissão, que se

dispuseram a participar direta ou indiretamente deste projeto. E um agradecimento

especial a todos os meus alunos do Ensino Médio, por “comprarem” a ideia deste

projeto e torná-lo fantasticamente real.

213

PÔSTERES

SUBTEMA 5: Estratégias de ensino eficazes e desenvolvimento

profissional docente

Resumo: Neste subtema os trabalhos apresentados devem relatar experiências

de sucesso em sala de aula que utilizem estratégias de ensino

eficazes. São exemplos de estratégias apontadas como eficazes por

Marzano et al (2008) para os processos de ensino: a habilidade de

identificar semelhanças e diferenças por meio de comparação,

classificação, metáforas e analogias; as habilidades de resumir e tomar

notas para apropriação dos temas estudados; o uso de representações

não linguísticas para gerar/criar imagens mentais/gráficas da/sobre a

informação; o uso da aprendizagem cooperativa no desenvolvimento

de conteúdos conceituais; a geração e testagem de hipóteses;

perguntas, sugestões e organizadores avançados como estratégia de

ativação de conhecimentos prévios; entre outras.

214

Festa Mitológica Estratégia pedagógica no ensino de História nos anos

finais do Ensino Fundamental

Nilton Maurício Martins Torquato1 1Colégio Bagozzi, [email protected], Rua João Bettega, 15, Curitiba, Paraná, Brasil.

Resumo: A docência no ensino de História se vê diante do desafio constante de

ensinar conhecimentos históricos antigos a alunos contemporâneos. O

desafio aumenta quando é preciso ensinar história antiga a alunos com

idade entre 10 e 12 anos. E é a partir da prática docente inserida no

contexto dos saberes pedagógicos que se (re) constroem

permanentemente no cotidiano escolar que é possível desenvolver o

pensamento reflexivo profissional11. É nessa perspectiva dialética que

tenho usado vivências culturais do conteúdo estudado. Este trabalho

apresenta o processo de construção do conhecimento da Grécia

Antiga, ocorrido no segundo bimestre de 2015, no Colégio Bagozzi em

Curitiba – PR, com cerca de 180 alunos de sexto ano, numa

experiência denominada Festa Mitológica. O encaminhamento

metodológico teve início com a contação de histórias em sala de aula.

As histórias dos deuses gregos foram vivenciadas pelos alunos

mediante o uso de técnicas de narrativa histórica. Em seguida os

alunos começaram suas pesquisas sobre os seres mitológicos gregos

prediletos. Por meio de pesquisas individuais, objetivando a construção

de fantasias, coube ao aluno escolher o ser mitológico de acordo com

sua predileção pessoal. Além de facilitar a construção da própria

fantasia, a pesquisa possibilitou a socialização do conhecimento

11 PIMENTA, Selma Garrido. Professor-Pesquisador: mitos e possibilidades. Contrapontos, Itajaí, v. 5, n. 1, p. 9-22, jan./abr. 2005. Disponível em <http://www6.univali.br/seer/index.php/rc/article/viewFile/802/654>. Acesso em: 2 fev.2015

215

adquirido. O papel de mediação, como definido por Vygotsky,12 foi

vivenciado nas aulas por meio do constante compartilhar dos alunos

com o professor, quando eram indicadas novas possibilidades de

pesquisa. No dia marcado, a sala de aula estava configurada como

roda da conversa, e os alunos fantasiados compartilharam as

descobertas de suas respectivas pesquisas. A avaliação do

conhecimento ocorreu de forma divertida e interativa. O último

momento foi, na opinião dos alunos, o mais marcante: no auditório,

uma festa com direito a músicas, projeção e até dança. Imagens da

Grécia projetadas completavam o ambiente mitológico. Essa estratégia

pedagógica demonstrou ser uma eficiente possibilidade para a

construção do conhecimento e gerou vivência cultural para os alunos.

O conteúdo despertou o interesse deles principalmente após a

narrativa histórica contextualizar suas pesquisas. A mediação do

docente no processo de pesquisa resultou em uma construção da

aprendizagem que aproximou um tema de história antiga ao aluno

contemporâneo.

Abstract: History teachers face the constant challenge of teaching ancient

historical knowledge to contemporary students. The challenge

increases when you need to teach ancient history to students aged

between 10 and 12 years. From the inserted teaching practice in the

context of pedagogical knowledge that (re)construct permanently in the

school routine, it is possible to develop professional reflective thinking13

(PEPPER, 2005). It is in this dialectical perspective that I have used

cultural experiences of the study content. This paper presents the

construction process of ancient Greece knowledge, during the second

quarter of 2015, at Colégio Bagozzi, Curitiba – PR, with about 180

students in sixth grade in an experiment called Mythological Party. The 12 VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2007. 13 PIMENTA, Selma Garrido. Professor-Pessquisador: mitos e possibilidades. Contrapontos, Itajaí, v. 5, n. 1, p. 9-22, jan./abr. 2005. Disponível em <http://www6.univali.br/seer/index.php/rc/article/viewFile/802/654>. Acesso em: 2 fev.2015

216

methodological routing started with the storytelling in the classroom.

The students experienced stories of the Greek gods using techniques of

historical narrative. Then the students began their research on their

favorite Greek mythological beings. Through individual research

projects aiming at the construction of costumes, it was up to the student

to choose the mythological being of his personal preference. In addition

to facilitating the construction of the costume, the research allowed the

socialization of the knowledge acquired. The role of mediation as

defined by Vygotsky14 was experienced in the classroom through

constant share with the teacher, when the students were shown new

possibilities of research. On the appointed day, the sudents were

arranged in a cirle, students with costumes shared the findings of their

respective research. Knowledge evaluation took place in a fun and

interactive way. The last thing was, in the opinion of the students, the

most striking: at the auditorium, a party with music, projection and even

dance. Pictures of Greece completed the mythological environment.

This pedagogical strategy proved to be an efficient possibility to build

knowledge and generated cultural experiences for students. The

content aroused their interest especially after the historical narrative

contextualized their research. The mediation of the teacher in the

research process resulted in the construction of learning which brought

an ancient history topic to contemporary students.

Palavras-chave: Narrativa histórica. Mitologia grega. Mediação docente.

Keywords: Historical narrative. Greek mythology. Teaching mediation.

14 VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

217

RELATOS DE EXPERIÊNCIAS

SUBTEMA 6 Práticas avaliativas a serviço das aprendizagens

Resumo: O foco desse subtema está na avaliação entendida como

instrumento de contínua progressão dos estudantes. Nesse sentido, são aceitos

trabalhos que apresentem experiências de avaliação com caráter

formativo, isto é, avaliação do desenvolvimento das aprendizagens

como processo permanente de reconhecimento de conhecimentos,

habilidades, atitudes, valores e emoções. Sant‟Anna (2014) orienta

que, para processar a avaliação, é preciso observar: a seleção dos

objetivos e conteúdos distribuídos em pequenas unidades de ensino,

que deverão contar com a participação dos alunos; a formulação de

objetivos visando à avaliação em termos de comportamento

(cognitivo, social, emocional) observável, estabelecendo critérios de

tempo, qualidade e/ou quantidade; a elaboração de um esquema

teórico que permita a identificação dos pontos de maiores

dificuldades; as correções de erros e insuficiências para reforço dos

comportamentos bem-sucedidos e supressão dos desacertos; e a

seleção de alternativas para auxiliar o aluno na recuperação de

alguma insuficiência no processo de ensino e aprendizagem.

218

Estratégias avaliativas para crianças em processo de alfabetização

BARGE, Christiane Azevedo1 1 Educandário Nossa Senhora Aparecida.

Rua das Valerianas, 230. Vila Bela - São Paulo-SP

CEP 03201-060 www.ensa.org.br

Telefones: (11) 2341-1738 / 2341-1795

Resumo: A partir de uma temática definida, o planejamento deve abranger um

roteiro de como o professor deverá estimular seu aluno para que ocorra

a aprendizagem. A partir do conhecimento prévio do aluno, vivências e

experiências, as interferências devem ser adaptadas, modificadas para

atender aos objetivos propostos. Para que o processo ensino

aprendizagem ocorra de maneira efetiva, a avaliação é o instrumento

que o professor deve utilizar para que acompanhe o processo

educativo, através de questionamentos, rodas de conversa, provas,

debates, portfólios onde são registradas a evolução do conhecimento

do aluno. A avaliação também proporciona ao professor dados para

que verifique se há a necessidade de alteração de suas condutas e

consequentemente mudanças no planejamento, além de utiliza-la como

autoavaliação, sabendo que ele (o professor) faz parte do processo

ensino aprendizagem, sendo o mediador.

Abstract: From a defined theme , planning should include a roadmap of how the

teacher should encourage your student to occur learning. From the

student's prior knowledge , experiences and experiences , interferences

are to be adapted , modified to meet the proposed objectives. So that

the learning process takes place in an effective manner , evaluation is

the instrument that the teacher should use to accompany the

219

educational process , through questioning, conversation circles , tests,

discussions , portfolios which are recorded the evolution of student's

knowledge . The assessment also provides the teacher data to check

for the need to change their conduct and consequently changes in

planning , as well as use it as a self-assessment, knowing that he (the

teacher ) is part of the learning process , being the mediator.

Palavras-Chave: Conhecimento prévio, aprendizagem significativa e intervenções

avaliativas.

Key-word: Prior knowledge , meaningful learning and evaluative interventions.

AUTOR (ES)

Sou Christiane Azevedo Barge, Pedagoga e Psicopedagoga, formada em 2002

com especializações em Orientação Educacional, Coordenação pedagógica e

Administração escolar. Iniciei minha carreia, lecionando para crianças de 4 anos.

Após três anos de experiência, passei a lecionar salas de alfabetização, com

crianças de 1º Ano do Ensino Fundamental I (2005), onde permaneço até os dias de

hoje.

Minha constante procura para compreender como os alunos aprendem e as

diversificadas maneiras como aprendem me fez buscar novas formações. Estudei

Psicopedagogia em 2007, formando-me na área e realizei curso de PNL para

acrescentar em meu estudo.

Sou questionadora e através de leituras e cursos paralelos busco respostas para

meus questionamentos, entre eles, as diversificadas maneiras de avaliações

significativas que me tragam parâmetros da aprendizagem dos meus alunos.

Aceitei este desafio de participar do I Seminário Internacional. Estou motivada e

feliz. Essa proposta me proporcionou momentos de estudos e reflexões importantes

para a minha atuação em sala de aula.

220

INTRODUÇÃO

Os alunos são os protagonistas do processo de ensino aprendizagem. O

professor, mediador, deve propor e criar situações de aprendizagem significativas

que possam promover o desenvolvimento das capacidades e atingir seus objetivos

através de atividades prazerosas, onde cabe ao professor acompanhar todo esse

processo, avaliando as expectativas, evoluções e aprendizagem de seus alunos.

A temática escolhida, trouxe um conhecimento privilegiado sobre a Grécia antiga,

no qual os alunos foram envolvidos através de gêneros textuais, ilustrações,

conhecimentos de modalidades esportivas, vivências corporais, com jogos e

dinâmicas, além de ampliar o conhecimento da cultura de outro povo e sua história.

O compromisso com a aprendizagem de todos os alunos retrata a necessidade

constante do professor estar analisando como, quando e quanto o seu aprendiz

evoluiu a partir do conhecimento prévio.

DESENVOLVIMENTO

Através da temática da Unidade 2 do Livro do Sistema Positivo (1º bimestre/

1º Ano do Ensino Fundamental I) com o tema : “Grécia: Uma viagem no tempo e nos

esportes Olímpicos”. Iniciei, definindo em meu planejamento um roteiro para

empreender uma viagem de conhecimento, de interação, experiências múltiplas e

significativas com os alunos. O planejamento contribuiu para a construção de uma

ação avaliativa, traçando o mapa do percurso e os caminhos que podem ser

descobertos e trilhados a partir do desenvolvimento das atividades e argumentações

que os alunos iriam trazer durantes as aulas.

“A ação pedagógica cria condições para que os conhecimentos prévios dos

alunos sejam considerados e transformados em objetos de estudo.”(Maio e

Junho/2015). Para isso, fiz uso da “Roda de Conversa”, criando um momento bem

provocativo, problematizador e estimulante para que o aluno pudesse levantar suas

hipóteses, compartilhar ideias e dialogar.

221

A avaliação é realizada para diagnosticar, não como uma simples constatação

do rendimento da capacidade ou do pensamento do aluno, mas sim como um

processo educativo que, por si só, produz efeitos sobre os alunos avaliados e sobre

a pessoa que a avalia. Segundo Hoffmann (1991):

acompanhar a aprendizagem das crianças, a partir dessa concepção, não se restringe ao uso de instrumentos formais em tempos predeterminados, mas se efetiva na vitalidade intelectual de sala de aula, abrangendo as situações previstas e inesperadas- ação mediadora que só ocorre se o professor estiver atento à evolução das crianças, analisando o conjunto de atividades escolares, observando o seu convívio com os outros e ajustando as propostas continuamente.

As avaliações foram realizadas á todo momento em que a proposta

pedagógica esteve em desenvolvimento com meus aprendizes. Quando ouvia e

fazia intervenções nas colocações das crianças, quando retomava conceitos já

passados ao iniciar novas atividades, quando observava os registros, enfim, a todo

momento a avaliação acontecia.

O avaliar teve a função de fornecer informações que ajudaram a melhorar a

proposta de ensino, contribuindo para que eu pudesse compreender se as

necessidades destes estavam sendo atendidas e se as interações educativas

estavam surtindo os efeitos esperados. A avaliação é um instrumento do processo

ensino aprendizagem que não pode ser desconsiderado em nenhum momento no

cotidiano escolar. Ao ser avaliado, o aluno toma consciência de seus acertos, o que

fortalece sua autoestima, amplia e consolida a sua visão de mundo e estratégias de

ação. Essa tomada de consciência é influenciada pela participação dos alunos em

um Projeto de Liderança (O Líder em Mim) que oportuniza ao aluno estabelecer

metas pessoais, sentindo-se responsável pelo processo, logo, favorecido pelo

“feedback” da avaliação. A avaliação tem um caráter diagnóstico e permanente.

O aluno é avaliado de acordo com sua participação em todas as atividades

escolares individuais e coletivas. São realizadas avaliações mensais e bimestrais,

teatros, análise de desenhos, que é um olhar humanizado do professor sobre os

dados obtidos para melhor incluir seu aluno na sociedade. Como forma de avaliar

cabe seguir alguns parâmetros importantes que o professor deve estar atento:

a não fragmentação do processo didático;

222

o reconhecimento das diferenças apresentadas pelos alunos;

os registros das performances e desenvolvimento individual dos alunos;

a atenção e intervenção com os alunos que apresentam dificuldades de

aprendizagem;

o estabelecimento de mecanismos diferenciados de avaliação para cada

aluno;

o entendimento do erro como possibilidade de aprendizagem;

a criação de instrumentos específicos de avaliação, como a auto-avaliação

e a auto-correção.

Criação de situações problemas para que o aluno reflita e compreenda

melhor a proposta.

Villas Boas (2004) aponta que estratégias formativas de avaliação não podem

se basear na revisão pura e simples de conteúdos supostamente aprendidos, mas

em desafiar os alunos na construção de novos entendimentos. Neste sentido, dentre

os aspectos a serem avaliados cabe:

Avaliar as práticas de leitura, como a interpretação de texto e imagens,

realização de leitura hipotética de diferentes palavras relacionadas à temática, lista

de palavras de um mesmo grupo semântico.

Avaliar as práticas de escrita: reconhecimento de que a escrita é utilizada para

organizar ideias, escrita de palavras, no contexto da unidade, participação em

produção de textos coletivos. Avaliar a oralidade e a capacidade de argumentação e

construção de opiniões, ideias, preferências e sentimentos. Avaliar o e

conhecimento de números e operações com ideias de divisão, contagem de

quantidades, números ordinais e leitura de datas e calendários.

Avaliar a Participação em atividades que envolvem histórias, jogos e

brincadeiras, conhecimento dos modos de ser, viver e trabalhar de alguns grupos

sociais do passado, bem como os filósofos que viveram nesse contexto e sua

importância para a humanidade.

Enfim, avaliar de modo geral as habilidades inerentes ao processo de

alfabetização propostos nesta fase escolar.

223

Os interesses do processo avaliativo abrangem todos os elementos: avaliar o

processo, o aluno e a prática pedagógica do professor.

Celso dos Santos Vasconcellos disse em entrevista à revista “O jornal do

professor”, que devemos nos preocupar em quais são nossos objetivos ao avaliar,

indo além, dizendo ainda que devemos ter o compromisso com a efetiva

aprendizagem de todos os alunos.

Sendo assim, a avaliação serve para diagnosticar, conhecer as condições de

trabalho, as dificuldades e possibilidades dos alunos, melhorar as condições e

subsidiar o curso da ação didática do processo, ou seja, corrigir distorções, indicar

possibilidade, modificar estratégias, além de tomar decisões referentes à necessária

intervenção pedagógica, mudar estratégias didáticas, rever metodologias, apoiar

alunos com dificuldades, etc. (conforme orientações do MDP)

CONCLUSÃO

“A avaliação ajuda a fazer melhor aquilo que propomos”. Celso dos S.

Vasconcellos.

Sendo assim, a partir de um planejamento, o professor deve traçar suas metas,

objetivos e saber o que pretende ensinar, atendendo as necessidades dos alunos.

A avaliação deve ser constante, durante todo o processo de ensino

aprendizagem, buscando informações e alterações de acordo com os dados obtidos.

O professor também necessita da autoavaliação, no qual irá refletir sobre sua

postura, avaliar o sistema de ensino aplicado para ter conhecimento da realidade

escolar, projetar suas finalidades e elaborar diversificadas formas de mediação.

AGRADECIMENTOS

Ao Educandário Nossa Senhora Aparecida, que ataravés da parceria com a

Editora Positivo valoriza e conduz o seu educador para constantes propostas de

aprendizagem com o compromisso de fazer a diferença na educação e vida escolar

de seus alunos.

224

À Maria Aparecida Richeti, minha Coordenadora Pedagógica, que sempre motiva

sua equipe, busca novos conhecimentos e me incentivou muito durante todo o

processo de construção do artigo, me acompanhando e participando desse desafio.

Aos meus filhos, que compreenderam meus momentos de estudo e dedicação

neste projeto.

Aos meus alunos, que proporcionam a minha prática pedagógica, onde busco

argumentos e motivos para sempre fazer a diferença na vida deles, trazendo

conhecimentos e formando cidadãos.

REFERÊNCIAS

Material didático do 1º Ano do Ensino Fundamental I da Editora Positivo.

O Líder em Mim – Franklin Covey – education. Abril Educação.

Avaliação da aprendizagem: Práticas de mudança por uma práxis transformadora.

Celso dos S. Vasconcellos.

Avaliação mito & desafio. Uma perspectiva construtiva. – Hoffman, Jussara.

Como ensinar bem – Leo Fraiman.

225

Processos Avaliativos do Projeto “Blog Nosso Interativo”

NASCIMENTO, Carina Martins15 [email protected]

Resumo: O presente projeto surgiu da necessidade de inserir no cotidiano dos

nossos alunos as mídias digitais a favor da aprendizagem. O blog

“Nosso Interativo” foi pensado para que todos os alunos do Ensino

Fundamental II do Colégio Interativo participem das produções das

postagens (textos, vídeos e imagens), leiam e comentem tudo que nele

é publicado. Neste trabalho, apresentamos os processos avaliativos do

projeto que tem por objetivo exercitar e desenvolver as habilidades de

escrita, leitura e pesquisa através da manutenção do blog. Dessa

maneira, fez-se necessária a escolha de temas pertinentes às

disciplinas envolvidas (História e Geografia) que já haviam sido

discutidas e trabalhadas no bimestre anterior para que os alunos

pudessem realizar suas pesquisas já embasados. Em textos, vídeos ou

imagens, cada turma ficou responsabilizada em produzir seus

trabalhos, respeitando prazos e lidando com as dificuldades e

satisfações do trabalho coletivo.

Abstract: The current project has been emerged from the need to introduce the

digital medias for our students, in a daily basis, as learning tools. The

15 Graduada em Licenciatura em História pela Universidade Federal de Campina Grande (2010) e pós-graduada lato sensu em História, Sociedade e Cultura pela PUC-SP (2013). Professora do Ensino Fundamental II de História e Geografia do Colégio Interativo desde 2012 (Rua Caracaraí, 50, Cidade Patriarca – São Paulo/ SP, Brasil).

226

blog “Nosso Interativo” was designed for the middle school students

from Colégio Interativo to participate on the posts production (texts,

videos and images), read and comment everything that is published. In

this work, we present the evaluation process of the project that the main

goal is to exercise and developing the capabilities of writing, reading

and researching through the blog maintenance. In this way, the choice

of the themes relevant to the subject evolved (History and Geography)

has been discussed and studied in the past bimester for the students

researches being possible. In texts, videos and images, each class was

in charge to produce their works, respecting deadlines and dealing with

difficulties and advantages of collective work.

Palavras-Chave: blog – textos – vídeos – imagens – pesquisa – escrita – leitura

Key-word: blog – texts – videos – images – research – writing – reading

227

INTRODUÇÃO

Diferentes tecnologias e linguagens fazem parte do cotidiano dos nossos

alunos. Muitas vezes, o uso, das mídias digitais por parte deles restringem-se ao

acesso à redes sociais, jogos e sites de busca. Considerando as inúmeras

possibilidades que os recursos da Internet proporcionam ao processo de

aprendizagem, entendemos que é necessário incluir no dia-a-dia escolar dos nossos

alunos os benefícios da mídia eletrônica .

O blog “Nosso Interativo” (www.nossointerativo.blogspot.com.br) está no ar

desde abril de 2015 e foi idealizado por mim, professora de História e Geografia do

Ensino Fundamental II do Colégio Interativo desde 2012

(www.colegiointerativo.com). O objetivo inicial centrava-se na construção de um

blog, em conjunto com os alunos, cujas postagens têm relação direta com os

conteúdos estudados e debatidos em sala nas disciplinas de História e Geografia,

com apoio das demais áreas do conhecimento. Dessa forma, os alunos exercitam,

de maneira constante, a prática da pesquisa, leitura e escrita, além da

responsabilidade de manter a página sempre atualizada.

DESENVOLVIMENTO

Entende-se que o trabalho em grupo entre nossos alunos deve ser reforçado

e incentivado. Além do aspecto da aprendizagem, já citado, a socialização é outro

ponto relevante deste projeto pois as relações entre os alunos serão estreitadas

através da elaboração das postagens e, como resultado final desta etapa, o diálogo

entre eles sobre os textos publicados foi/será intensificado a cada novo trabalho

divulgado no blog. Conforme Vygotsky apud Mantovani:

A colaboração entre pares ajuda a desenvolver estratégias e habilidades

gerais de solução de problemas pelo processo cognitivo implícito na interação e na

comunicação. A linguagem é fundamental na estruturação do pensamento, sendo

necessário para comunicar o conhecimento, as idéias do indivíduo e para entender o

228

pensamento do outro envolvido na discussão ou na conversação. O trabalho em

colaboração com o outro, enfatiza a zona de desenvolvimento proximal (ZDP) que é

“algo coletivo” porque transcende os limites dos indivíduos. A aprendizagem

acontece através do compartilhamento de diferentes perspectivas, pela necessidade

de tornar explícito seu pensamento e pelo entendimento do pensamento do outro

mediante interação oral ou escrita (2005, p.12).

Considera-se essencial, portanto, desenvolver a habilidade da pesquisa, bem

como das práticas de leitura e escrita dos nossos alunos. Sabemos da importância

desses requisitos para a formação intelectual dos nossos jovens e também

entendemos que, dentre os resultados positivos obtidos através das ações deste

projeto, aspectos relevantes para a formação do aluno – como o aumento da

autoestima através da motivação e reconhecimento familiar e dos amigos após a

divulgação dos trabalhos desenvolvidos nesta iniciativa e nas demais da instituição –

são cruciais para as transformações que desejamos dentro e fora do ambiente

escolar.

A partir do mês de setembro voltaremos às atividades do blog em todas as

turmas, com novas abordagens e maior participação dos alunos, uma vez que, na

primeira experiência, eu que organizei todos os processos (desde a revisão textual,

de imagens e vídeos até a postagem). Muito antes do início dos trabalhos do “Nosso

Interativo”, montei para cada turma um e-mail no qual todos deveriam sempre

acessar, facilitando a comunicação e recebimento das postagens.

Os trabalhos iniciaram no começo do 2º bimestre (06/04) e devem continuar

até a segunda semana de aulas do mês de novembro do ano letivo vigente.

Todos os temas listados no cronograma (abaixo) foram trabalhados em sala,

sendo que os primeiros temas de cada turma haviam sido discutidos em cada turma

no 1º Bimestre. Desta forma, considerando o número de alunos em algumas salas,

em especial, no 6º ano, os temas se desmembraram, aumentando, assim, o número

de grupos. Além dos temas estabelecidos por mim, há a possibilidade dos alunos

quererem postar textos sobre outros temas, o que é permitido desde que se respeite

as regras de conduta escolar e do ambiente digital, além do teor do conteúdo

desejado a ser publicado no blog.

229

A maior parte dos alunos respeitou a data de entrega dos textos e foram

informados sobre o cronograma na primeira semana do blog (descrita no próximo

tópico). Cada grupo ficou responsável por digitar seu texto e enviar para o e-mail da

sua sala.

Respeitando a data de entrega, a sala avaliou o texto do grupo, juntamente

comigo, podendo haver algumas alterações do texto original (ortografia,

concordâncias verbais, nominais etc) e de imagens e vídeos, caso o grupo queira

incluir na postagem. No entanto, na maioria das vezes o trabalho de revisão, como

citado acima, restringiu-se a mim. Este problema deve ser solucionado neste

bimestre com a criação do grupo dos editores do blog: a sugestão foi proposta e os

alunos se voluntariaram para revisar e realizar outras atividades importantes que

dividiriam comigo a carga de trabalho do “Nosso Interativo”, porém sempre com a

minha mediação.

Quanto à avaliação, é formativa, considerando o trabalho coletivo. A nota do

Projeto é incluída na avaliação global e está dividida em quatro partes:

1,0 ponto: pontualidade de entrega;

3,0 pontos: pesquisa (fontes utilizadas – reportagens, textos acadêmicos);

4,0 pontos: texto (ortografia, formatação, gramática, criatividade, coerência e

coesão, uso das citações e referências);

3,0 pontos: participação nos comentários de todos os textos publicados/leitura

assídua do blog.

METODOLOGIA

Todas as turmas tiveram uma aula sobre o que é um blog, os elementos

básicos dele e as suas diferentes funções, porém apenas uma turma, o 9º ano,

criará o blog e irá montar o layout (devido a data de início dos trabalhos, que será no

dia em que temos duas aulas de Geografia), podendo as outras turmas, nos demais

bimestres, mudar a estética do blog, se julgarem necessário. Abaixo, os temas de

pesquisa trabalhados, que foram sorteados durante a aula:

230

TEMA DE PESQUISA DATA DE ENTREGA

6º ANO

1. A Importância das Coordenadas Geográficas no nosso cotidiano;

14/04

2. Aquecimento Global: Causas, Consequências e Combate; 04/05

3. A Influência da Religião Hebraica na Civilização Ocidental;

20/05

4. Diferenças entre a Democracia Grega e a Democracia Atual.

30/05

7º ANO 1. A Importância dos Recursos Minerais Para a Indústria; 14/04 2. Diminuição da Taxa de Natalidade do Brasil: Causas e Consequências; 28/04 3. A Influência das Teorias do Absolutismo no Pensamento Político Atual; 09/05

4. A Importância da Reforma Protestante e a Burguesia. 22/05

8º ANO

1. As Causas e Consequências da Globalização; 14/04 2. A Índia: Tradições Milenares e Economia Emergente; 07/05 3. Principais Pensadores Iluministas e Sua Influência na América; 22/05 4. Como a Revolução Industrial Transformou o Mundo; 29/05

9º ANO

1. União Europeia: Principais Desafios dos Dias Atuais; 13/04 2. A População Europeia: Diferentes Níveis de IDH e a Baixa Natalidade; 05/05

3. As Heranças da República Velha Brasileira; 07/05

4. A Influência das Ideias Nazistas no Brasil. 21/05

Além dos temas citados, muitos outros trabalhos foram divulgados na nossa

página, a destacar as apresentações sobre Nazismo e IDH gravadas em vídeo (para

conferir:

http://nossointerativo.blogspot.com.br/search/label/Apresenta%C3%A7%C3%A3o).

A turma do 9º ano, em comemoração aos 70 anos da Segunda Guerra

Mundial, realizaram a leitura e análise do livro “Nazismo: como ele pôde acontecer”,

do jornalista Eduardo Sklarkz (Editora Abril) para apresentarem um capítulo cada

aluno. O reconhecimento do próprio autor ao nosso trabalho nos deixou

extremamente lisonjeados e nos rendeu uma divulgação no site do livro em questão

231

(https://www.facebook.com/livro.sobre.nacional.socialismo?notif_t=page_new_likes)

CONCLUSÃO

O primeiro bimestre de trabalho do nosso blog contribuiu para pensarmos em

formas mais eficientes da participação de todos os alunos na elaboração dos

trabalhos e na manutenção da nossa página. Após os meses de trabalho da nossa

primeira experiência, criamos o grupo de “editores do blog” no qual alunos

voluntários prestam pequenas atividades de manutenção da página como revisão,

edição de imagens e vídeos, produção textos descritivos, além de divulgação nos e-

mails de cada turma da escola. Além de revisão de conteúdo, esses alunos podem

escrever ou produzir vídeos sobre temas de interesses aleatórios, como resenhas de

livros, filmes, dicas de passeios culturais e publicação de desenhos e textos literários

da criação deles.

Desta forma, apesar dos prazos dos trabalhos relacionados aos conteúdos

estudados das disciplinas, muitos alunos apresentaram a disponibilidade e vontade

em participar do grupo de editores colaborando com revisão e novos temas. As

iniciativas do colégio nas assembleias escolares também nos ajudam a pensar em

temas de trabalho relacionados aos conteúdos estudados e ao cotidiano do aluno no

ambiente escolar.

No presente momento, os ajustes pensados após o término do 2º bimestre não

foram postos em prática, sendo possível tirar algumas considerações apenas após o

bimestre vigente. Porém, da nossa primeira tentativa, percebemos uma certa

elevação da autoestima dos alunos que tiveram seus trabalhos expostos (até eles

mesmos, em vídeos) após seus pais, familiares, colegas e amigos visualizarem suas

produções no nosso blog.

Em muitos casos, os pais dos alunos escreveram para mim e para a

coordenação, via agenda, para externar a satisfação de verem seus filhos felizes por

terem seus trabalhos divulgados no blog. Além disso, os trabalhos em grupo e de

pesquisa apresentaram melhora no seu resultado final, comparado aos trabalhos

produzidos antes da criação do blog. Houve um maior cuidado na escolha de sites

de pesquisa na internet e na forma como eles são indicados nos trabalhos escritos,

232

uma vez que o resultado seria divulgado na internet. Quando ao processo anterior à

produção vídeos de apresentação, por exemplo, os alunos socializaram seus

processos de pesquisa, apontando o porquê das escolhas dos textos, vídeos e

imagens, utilizando até duas aulas para ajustes dos trabalhos que seriam

apresentados por eles.

REFERÊNCIAS

SILVA, N. R. da. Práticas de leitura: a utilização do blog em sala de aula. Texto Digital, Florianópolis, ano 2, n. 2, Dezembro 2006. SOARES, Eliana Maria do Sacramento; ALMEIDA, Cláudia Zamboni. Interface gráfica e mediação pedagógica em ambientes virtuais: algumas considerações. Disponível em http://ccet.ucs.br/pos/especializa/ceie/ambiente/disciplinas/pge0946/material/biblioteca/ sacramento_zamboni_conahpa_2005.pdf MANTOVANI, Ana Margô. Weblogs na Educação: Construindo Novos Espaços de Autoria na Prática Pedagógica. Disponível em http://www.tise.cl/archivos/tise2005/02.pdf.

233

AVALIAÇÃO FORMATIVA:

Uma proposta de discussão e avaliação via chat

ROCHA, Simone16

Resumo: A prática pedagógica desenvolvida no cotidiano escolar é uma discussão presente que se faz necessária quando buscamos elementos que possibilitem uma educação significativa e ao mesmo tempo prazerosa neste processo. Os recursos tecnológicos adotados no contexto escolar passaram de meros facilitadores de acesso a informação via rede para mecanismos de comunicação no ambiente escolar. Sendo assim, este trabalho pretende relatar uma experiência de avaliação via Chat no laboratório de informática do CEST – Centro Educacional Santa Teresinha, na disciplina de História. A experiência relata a interação dos alunos com o conteúdo trabalhado em sala de aula, de forma a valorizar a expressão em ambiente interativo, possibilitando uma relação dialógica entre professor e aluno sobre a temática abordada.

Abstract: The pedagogical practice developed in the school routine this is a discussion that is necessary when we seek elements that make possible a meaningful education and at the same time pleasurable in this process. Technological resources adopted in the school context have gone from mere facilitators of access to information over the network for communication mechanisms in the school environment. Thus, this paper aims to report a measure of experience Chat in the computer lab CET - Central Educational St. Therese, in the discipline of history. Experience tells student interaction with the content worked in the classroom in order to enhance the expression in interactive environment, enabling a satisfactory relationship between teacher and student on the theme.

Palavras-Chave: Avaliação; Chat; Ensino de História.

Key-word: evaluation; chat; History teaching.

16 Professora do Centro Educacional Santa Teresinha; Professora e Coordenadora de Pesquisa da Universidade do Contestado – Curitibanos SC. Graduada em História (UnC), mestre em Ciências da Linguagem (Unisul), doutora em História da Ciência (PUC/SP) e Pós-doutora em História da Educação (USP/SP).

234

INTRODUÇÃO

As tecnologias de informação e comunicação chegaram a pouco mais de uma

década no ambiente escolar, causando certo desconforto entre professores e

comunidade escolar. Atualmente as discussões que se fazem referente a sua

utilização estão no âmbito da proposta de um recurso como ferramenta de

aprendizagem, utilizada pelo mediador deste novo processo que é o professor.

As aulas centradas na fala exclusiva do professor para uma plateia nem

sempre curiosa ou interessada de alunos, fez da “sala de aula” tradicional um

universo a ser modificado, assim como todos os ambientes que nas últimas décadas

tiveram que se adequar as constantes inovações tecnológicas presentes na

sociedade. A inserção de recursos áudio visuais na escola, vem possibilitando a

imersão de professores e alunos no mundo da informação de forma dinâmica,

atualizada e lúdica, processo facilitador que vai ao encontro da realidade do aluno.

Sabemos que as crianças atualmente são expostas a diversos recursos

de mídia facilitando a sua interação com os recursos digitais mesmo antes de sua

alfabetização. Tal proximidade permite uma disposição e interação com a

informação (conteúdo, texto, imagens...) diferente de outras gerações que tinham

basicamente uma carga extensa de informação textual.

Neste sentido, é importante salientarmos que as condições pelas quais a

relação no tratamento das informações tendem a se alterar conforme ganham

destaque e popularidade em sociedade. E por conta desta mudança de formato em

que as informações nos chegam (celulares, computadores, note book, redes sociais,

smartfone etc), faz-se de grande importância entender como as crianças e os jovens

tem acesso a essas informações, de que forma elas significam no aprendizado desta

geração, e qual a função da escola neste contexto de mudanças em que o

235

hipertexto, os links, as imagens, e os chats transformam a comunicação e a

aprendizagem.

Sendo assim, este relato descreve uma série de atividades desenvolvidas

em sala de aula que teve como momento de grande significância o processo

dialógico entre professor e aluno através de um chat, resultando em uma avaliação

participativa dos conteúdos anteriormente trabalhados.

1. A RELAÇÃO DIALÓGICA NA DISCIPLINA DE HISTÓRIA

As discussões no campo da historiografia nas últimas décadas passaram

por significativas transformações de ordem epistemológica na busca de estabelecer

sentido as construções históricas. O plano discursivo que remete a análise e ao

trabalho do historiador se distingue da concepção de verdade histórica tanto no

referente a pesquisa como na perspectiva de ensino.

Possibilitar a discussão da História como discurso em sala de aula, nos

leva a instigar uma reflexão ampla do fazer histórico partindo de uma macro

estrutura de área (Humanas), para a disciplina.

Tal compreensão nos permite entender que o historiador formula

questões ao objeto que partem do seu presente. Contudo, as respostas não são um

segredo guardadas a sete chaves pelo objeto, prontas para serem desvendadas,

descobertas ou decifradas. Elas encontram-se na construção discursiva feita pelo

historiador.

A relação do pesquisador com o seu objeto de pesquisa se efetiva pela

interpretação dos fatos, documentos e materiais a serem investigados. Tal escrita

não é livre de ideologias e da intervenção que o historiador (o autor) deseja imprimir

sobre o seu texto.

Valendo-se dessa premissa, é no mínimo incoerente defender a

veracidade dos fatos como uma apreensão do passado. “Todo conhecimento é

produzido por níveis de linguagem e, diferentemente do método cartesiano, não há a

possibilidade de se atingir a verdade ou a essência das coisas, mas construir uma

236

linguagem sobre elas, sem, contudo, acreditar que esta linguagem produzida

mantém laços de fidelidade com o real” (GIANNATTASIO, 2011).

2. DIALOGISMO E INTERAÇÃO EM CHAT

Um texto mesmo que apresentado de forma tradicional, linear, é

constituído muitas vezes por co-autorias, vozes emitidas por diversos autores

reapresentadas na voz de um “organizador” que a seu modo produziu um texto

coletivo. Cada sujeito, como parte da sociedade a que pertence, teria então o seu

papel enquanto agente modificador na atividade social. Mesmo assumindo que no

discurso de um sujeito possam estar presentes outros discursos anteriores, a sua

forma de analisar o processo de apropriação do discurso alheio pressupõe um

sujeito ativo e atuante, capaz de fazer escolhas e estabelecer estratégias

(STROGENSKI, 1996).

Para Bakhtin (2004) a palavra só ganha seu devido significado quando

imersa num singular meio social, materializada por autores e leitores que se

apossam de sua significação, sem necessariamente lhes tomar por pertence. A

fundamentação da relação dialógica está na multiplicidade de vozes constituintes do

discurso, no compartilhamento sem fronteiras do “mundo das ideias”, muitas vezes

parecendo estar subjetiva ao ato da leitura.

O dialogismo defendido por Bakhtin, nos permite entender como que no

processo de reflexão e escrita nos apropriamos de diversos autores que constituem

nosso próprio discurso. Identificar a “relação com outras vozes, outros discursos”

que se estabelecem na fala (escrita) do aluno, permite ao professor reconhecer a

apropriação e o sentido subjetivo que o aluno estabeleceu no seu ato de aprender.

É nesta relação entre o fazer sentido (conteúdo histórico) com a participação no

Chat que buscamos repensar o modo de avaliação descrito neste relato de

237

experiência. A avaliação estabelecida nesta abordagem foi de caráter formativo,

propiciando o aluno a desenvolver suas habilidades cognitivas, de raciocínio rápido,

de estrutura e produção textual através do Chat. Em sequência, descrevemos o

procedimento da aula e a avaliação através deste recurso.

2.1 Relato de experiência no Chat

A partir das atividades de leitura, exposição oral do professor, discussão e

realização de atividades sobre o tema: “Bloqueio continental e a fuga da família

real para o Brasil”, os alunos do 8º ano do Centro Educacional Santa Teresinha

realizaram no laboratório de informática da escola, uma discussão em Chat.

Buscamos entrar em uma sala (Terra/idade 15 a 20 anos) de forma que

pudéssemos discutir sem a entrada de pessoas externas, mesmo assim o “Miguel

entrou na sala”. Quem era o Miguel, perguntou um aluno? O que eu faço perguntou

outro aluno? Orientei que deixassem o “Miguel” e que continuássemos as

discussões. Em poucos instantes, “Miguel saiu da sala”, e as discussões ocorreram

conforme o que esperávamos.

A conversa não contou com apoio de apostilas ou do caderno dos alunos,

sendo que as respostas aos questionamentos dados no ambiente foram realmente o

que eles haviam aprendido em sala de aula nas atividades desenvolvidas

anteriormente.

Figura 1. Alunos no Laboratório de Informática

Fonte: a autora

238

Após o pequeno incidente de termos companhia de um estranho no Chat, as

discussões iniciaram a partir do Bloqueio Continental; resgatamos a ideia do

acontecimento que marcou toda a trajetória de fuga da família real para o Brasil.

Figura 2. Chat

Fonte: a autora

Conforme a imagem acima, identificamos a informalidade na discussão entre

os alunos e a participação efetiva e sem repetições nas respostas. A partir da

temática “Bloqueio Continental”, souberam relacionar a fuga da família real para o

Brasil, o modo como Portugal ficou sem o seu rei, as condições sociais do Brasil

neste período, e a Revolução do Porto, conforme consta na imagem a seguir.

Figura 3. Chat – Revolução do Porto.

239

Fonte: a autora

A partir da participação, interação e envolvimento dos alunos com a história e

a escrita a partir da interpretação pessoal sobre o acontecimento trabalhado em sala

de aula, os alunos souberam dialogar sobre as indagações propostas para o debate.

Percebemos que até mesmo os alunos mais tímidos, que muitas vezes em pouco

participam oralmente, se sentiram instigados a discutir sobre o assunto.

Buscamos nesta experiência uma “observação formativa” que, segundo

Perrenoud (1999), (...) observar é construir uma representação realista das

aprendizagens, de suas condições, de suas modalidades, de seus mecanismos, de

seu resultado.

A avaliação formativa apresenta-se então, antes de mais nada, sob a forma

de uma regulação interativa, isto é, de uma observação e de uma intervenção em

tempo real, praticamente indissociável das interações didáticas propriamente ditas

(PERRENOUD, 1999).

A proposta de uma avaliação que o aluno pudesse ao mesmo tempo

discorrer sobre o assunto estudado e participar na interação com o professor e os

demais colegas da turma, nos permitiu identificar o que realmente havia

permanecido enquanto conhecimento construído a partir das interações realizadas.

A escola ainda busca de forma quantitativa, padrões de mensuração

objetivos e uniformes sendo um dos entraves a um processo avaliativo em respeito à

individualidade do educando.

CONCLUSÕES

A experiência relatada a partir de uma avaliação formativa, nos possibilitou

entender o modo como os alunos buscam dialogar com a temática proposta pelo

professor, fazendo inferências, contribuindo nas discussões sobre o que realmente

aprendeu.

240

As atividades realizadas no Chat foram instigantes para o universo de uma

geração que cresce a cada dia com maior conexão de informações, mas nem

sempre se apropria devidamente do que foi acessado.

A metodologia de ensino e avaliação na área de humanas tem sido

constantemente revisada, buscando uma relação capaz de propiciar uma formação

humana e critica de forma participativa e dialógica, distanciando-se do modelo de

“decorar” datas, nomes e fatos sem nenhuma relevância de significados para o

cotidiano do aluno. Quanto as discussões epistemológicas em torno da disciplina, é

preciso revisar os conteúdos que expressão uma verdade suprema, afinal o

historiador trabalha com narrativas e estas são subjetivas a sua forma de

compreender o objeto pesquisado.

Cabe ao professor estabelecer relações entre a informação e a interatividade

tão presentes nos recursos multimídia de modo que o diálogo entre professores e

alunos venha agregar na relação, no saber e na avaliação deste processo.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao apoio e incentivo dado pela escola para a participação no

evento, bem como o interesse dos alunos no trabalho desenvolvido.

REFERÊNCIAS

ACHARD, Pierre; DAVALLON, Jean; DURAND, Jean-Louis; PÊCHEUX, Michel;

ORLANDO, Eni. Papel da Memória. 3 ed. Campinas SP: Pontes, 2010.

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 11ª ed. São Paulo:

Hucitec, 2004.

PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens.

Porto Alegre: Artmed, 1999.

HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Pontos e Contrapontos: do pensar ao agir em

avaliação. Porto Alegre: mediação, 2011.

241

GIANNATTASIO, Gabriel; IVANN, Rogerio. Epistemologias da História. Verdade,

linguagem, realidade, interpretação e sentido na pós-modernidade. Londrina, PR:

EDUEL, 2011.

Práticas Avaliativas Inovadoras: Scrapbook e Livro de Recortes

FERNANDES, Katia de Araujo Macci 1

Colégio Cosmos de Paulínia, Rua Nelson Prodocimo 495, Paulínia, São Paulo – Brasil [email protected]

Resumo: Este é um relato de uma experiência realizada com alunos dos sétimos

e oitavos anos do Ensino Fundamental do Colégio Cosmos de Paulínia,

tendo como objetivo demonstrar que a busca da melhoria do

aprendizado pode acontecer com o uso de novas práticas avaliativas. A

avaliação deve ser contínua, formativa, na perspectiva do

desenvolvimento integral do aluno, sendo parte integrante do processo

ensino/aprendizagem e, baseando-se nestes princípios; foi elaborado

um trabalho motivador para educador e educandos.

Abstract: This is an account of an experiment conducted with students of the

Seventh and eighth years of elementary school II Cosmos Paulínia

College, aiming to demonstrate that the pursuit of improved learning

can happen with the use of new assessment practices. Evaluation

should be continuous training, in view of the integral development of the

student, should be an integral part of the teaching / learning process

and based on these factors; we designed a motivating work for

educators and students.

Palavras-Chave: práticas avaliativas; contínua; formativa; ensino/aprendizagem.

242

Key-word: evaluative practices; continuous; training; teaching / learning.

INTRODUÇÃO

Muito se tem discutido sobre a avaliação da aprendizagem, objeto de pesquisas e estudos nas últimas décadas. Importantes contribuições foram incorporadas à fundamentação teórica que orienta a ação docente, seja na própria escola ou em cursos específicos por área de conhecimento. Diante disso, torna-se essencial refletir acerca de novas práticas avaliativas.

A ideia de realizar este trabalho surgiu de uma oficina realizada no dia 26 de

maio de 2015, em um curso da Editora Positivo, onde foi abordado o tema: Ficção X

Realidade e proposto a confecção de um livro de recortes (scrapbook.)

DESENVOLVIMENTO

Os educadores compromissados têm o dever de buscar alternativas para

superar o sistema avaliativo atual que classifica e exclui os alunos. Portanto, é

indispensável colocar a avaliação em questão, para poder transformá-la, não

devendo cair no determinismo, que nos leva ao imobilismo. Para Vasconcellos, é

necessário:

[...] um enfoque dialético: há necessidade de análise, para se saber as reais possibilidades de mudança, tendo-se em conta tanto as determinações da realidade, quanto a força da ação consciente e voluntária da coletividade organizada. É o homem que faz a história, mas nas condições que herdou e não que escolheu (cf. Marx,1986: 17). Esta análise é muito importante para se saber o tamanho do problema; precisamos ganhar a consciência de que nossa luta não é inglória, porém é contra um inimigo muito, mas muito grande, uma vez que estamos nos defrontando com todo um quadro de organização da sociedade, que é ferreamente defendido pela classe dominante e seus cooptados. (Idem, p.24)

Tais afirmações vêm ao encontro das reflexões de Luckesi ao considerar

que:

243

[...]a avaliação da aprendizagem responde a uma necessidade social. A escola recebe o mandato social de educar as novas gerações e, por isso, deve responder por esse mandato, obtendo dos seus educandos a manifestação de suas condutas aprendidas e desenvolvidas. [...]. Em função disso o educador e educando têm necessidade de se aliarem na jornada da construção da aprendizagem. Desta forma esses dois objetivos só fazem sentido se caminharem juntos. (LUCKESI, 2006, p.174)

Luckesi ainda ressalta que, se houver uma valorização do sujeito

individual, pode-se correr o risco de cair no espontaneísmo. Por outro lado, se a

ênfase for dada ao segundo objetivo, tende-se chegar ao autoritarismo. Luckesi

define avaliação como um ato amoroso, no sentido de que a avaliação, por si, é um

ato acolhedor, integrativo, inclusivo. Para compreender isso é importante distinguir

avaliação de julgamento. No julgamento difere-se o certo do errado, incluindo o

primeiro e excluindo o segundo.

A elaboração do livro de recortes (scrapbook) foi pensada para os sétimos

e oitavos anos com o intuito de tornar o fechamento do aprendizado dos conteúdos

do segundo bimestre mais criativo, atrativo e inovador.

A atividade foi sugerida como tarefa de férias, para que houvesse mais

tempo às escolhas de imagens, das palavras-chaves e para todo o processo criativo

que envolve a decoração final do scrapbook.

Aos sétimos anos, a proposta foi trabalhar a questão da Ficção X

Realidade, segundo o apresentado na oficina de 26 de maio, realizada pela

Assessora de Ciências da Natureza da Editora Positivo, Elisângela Karine Martins. O

tema proposto foi Bob Esponja, um desenho animado, que apresenta rica

diversidade de seres vivos, a qual foi explorada de maneira intensa e criativa pelos

alunos.

Aos oitavos anos, o tema proposto foi a relação entre coração e sangue,

tema esse que, embora desvinculado da proposta inicial da Oficina (Ficção X

Realidade), sua extrema importância enquanto conteúdo sistematizado da série em

questão e as possiblidades de riqueza de cores, imagens e palavras-chaves, foram

fatores relevante para sua escolha.

244

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho refletiu o quanto a prática avaliativa inovadora é um instrumento

enriquecedor, tanto para o resgate de um conteúdo trabalhado e explorado em sala

de aula, como para o desenvolvimento de outras potencialidades dos alunos, tais

como: criatividade, organização, pesquisa, escolhas. Além disso, o resultado final

em muito contribuiu para a autoestima dos alunos, ao se perceberem como

elementos produtores do conhecimento e, ao mesmo tempo, capazes de aplicar

esse conhecimento a realidades e/ou ficção.

Devemos estar conscientes de que “o fator mais importante de que depende a

aprendizagem dos alunos é aquilo que eles já sabem” (Ausubel et al., 1980) e, por

isso, os alunos não podem partir para uma aprendizagem baseada no trabalho

experimental sem nada saberem acerca do que vão fazer, sem sequer

compreenderem a questão ou questões a que vão ter de responder, sem terem os

conhecimentos minimamente necessários para desencadear a metodologia

necessária para recolher dados, ajuizar do seu valor, transformá-los adequadamente

de modo a tornar explícitas as conclusões, finalizando assim o seu aprendizado.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me dar saúde e disposição para desempenhar minha

profissão com dedicação e carinho.

A todos os envolvidos, familiares, direção e coordenação do colégio, aos colegas de

trabalho e, principalmente, aos meus alunos que possibilitaram a realização deste

trabalho.

REFERÊNCIAS

AUSUBEL, D.; Novak, J.; Hanesian, H. (1980), Psicologia Educacional. Rio de Janeiro, Ed. Interamericana. Brooks LUCKESI, Cipriano Carlos, Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 18°. ed.- São Paulo: Cortez Editora, 2006. 180 p.

245

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Avaliação: concepção dialética-libertadora do processo de avaliação escolar. 15° ed.- São Paulo: Libertad, 2005. 133 p. (Cadernos Pedagógicos do Libertad; v.3)

PÔSTERES

SUBTEMA 6: Práticas avaliativas a serviço das aprendizagens

Resumo: O foco desse subtema está na avaliação entendida como instrumento de

contínua progressão dos estudantes. Neste sentido, são aceitos trabalhos que

apresentem experiências de avaliação com caráter formativo, isto é, avaliação do

desenvolvimento das aprendizagens como processo permanente de reconhecimento

de conhecimentos, habilidades, atitudes, valores e emoções. Sant‟Anna (2014)

orienta que, para processar a avaliação é preciso observar a seleção dos objetivos e

conteúdos distribuídos em pequenas unidades de ensino, que deverão contar com a

participação dos alunos; a formulação de objetivos, visando à avaliação em termos

de comportamento (cognitivo, social, emocional) observável, estabelecendo critérios

de tempo, qualidade e/ou quantidade; a elaboração de um esquema teórico que

permita a identificação dos pontos de maiores dificuldades; as correções de erros e

insuficiências para reforço dos comportamentos bem-sucedidos e supressão dos

desacertos; e a seleção de alternativas para auxiliar o aluno na recuperação de

alguma insuficiência no processo de ensino e aprendizagem.

246

A SOBREPOSIÇÃO DE MAPAS E O CONHECIMENTO DOS ASPECTOS FÍSICOS

ARAUJO, Itatiana Claudia Barbosa1 1 Colégio Jardins, [email protected], Brasil.

Resumo: Em primeiro momento, falei um pouco sobre clima, relevo, vegetação,

hidrografia, mas, falando somente o geral sobre vegetação, expliquei

sobre a importância de saber o grau de umidade (xerófitas, halófitas...),

os tipos de folhas (caducifólias, latifoliadas...), a formação (arbórea,

herbácea...), a variedade (homogênea e heterogênea). Sobre clima e

vegetação, relacionei com a latitude (as zonas térmicas e a influência

na variação de climas e vegetação), a hidrografia associei ao relevo

para relatar sobre as classificações dos rios e, para falar de relevo,

retomei a teoria das placas tectônicas e as forças internas e externas.

Em um segundo momento, reuni os alunos em trios e fui conduzindo-os

a observar os mapas enquanto ia lançando perguntas, tais como: quais

informações cada mapa apresenta, qual o tema abordado, orientando-

os como fazer uma leitura de mapas, para a qual é necessário analisar

título, legendas, escala, fonte dos dados, data da produção do mapa.

Aproveitei o momento e relembrei os alunos quanto às convenções

cartográficas, principalmente aquelas relacionadas às cores utilizadas

nos mapas e aos símbolos. Depois de relembrar alguns conceitos

básicos da cartografia, convidei os alunos a usar o atlas e iniciamos a

247

sobreposição dos mapas temáticos com o mapa político do continente

americano, momento em que eles puderam analisar, interpretar

descrever e relacionar o conteúdo mencionado com as informações

contidas nos mapas. Logo após, arrumei a sala em círculo e propus

uma socialização da análise e interpretação que cada trio produziu. Ao

final, pedi que cada trio produzisse um texto de 30 linhas,

caracterizando fisicamente o continente americano por meio da

sobreposição de mapas que foi feita. Como a maioria dos alunos não

demonstra interesse em aprender Geografia, falta de interesse que

muitas vezes deve-se ao próprio sistema educacional, que valoriza

muito mais as disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática, e muitas

vezes a disciplina é vista pelos alunos como chata, é nesse contexto

que sempre procuro mobilizar minhas aulas usando alternativas

pedagógicas que ofereçam atrativos e que desenvolvam nos meus

alunos um maior interesse pela pesquisa, já a que a própria disciplina

nos oferece essa oportunidade, aproveitando para desmitificar a velha

história de que a Geografia é decorativa e que só se aprende Geografia

desenhando mapas. Nesse contexto, é preciso clarificar a importância

de se trabalhar com mapas, mas não de maneira mecânica, e sim de

uma forma mais reflexiva e contextualizada, tornando as aulas mais

dinâmicas, confirmando assim que a leitura e a interpretação de mapas

são muito relevantes para a avaliação dos docentes, pois nortearão a

avaliação da criticidade do aluno. Assim como a Geografia, a avaliação

deve ser conscientemente vinculada à concepção de mundo e de

sociedade, sendo realizada de forma investigativa, a qual levará a um

diagnóstico que servirá como processo de inclusão do educando. A

avaliação permite que o professor verifique o que os alunos sabem

e/ou aprenderam sobre determinado assunto, dando suporte para que

o professor possa planejar suas aulas de acordo as dificuldades

apresentadas pelos alunos no momento da avaliação. Os instrumentos

para avaliação devem ser diversificados, seminários, maquetes,

pesquisas, atividades escritas, etc, lembrando que a avaliação deve

248

ser, ao mesmo tempo, diagnóstica, contínua, somativa e orientadora,

permitindo que o aluno tome consciência de seus avanços e

dificuldades, ajudando-o a progredir na construção de seu

conhecimento.

Abstract: At first, I talked a little about climate, topography, vegetation,

hydrography, but, speaking only generally about vegetation, I explained

about the importance of knowing moisture content (xerophytes,

halophytes ...), leaf types (deciduous, broadleaf .. .), formation (woody,

herbaceous ...), variety (homogeneous and heterogeneous), climate

and vegetation I related to latitude (the thermal areas and the influence

on the variation of climates and vegetation), hydrography I associated

to relief for reporting on the ratings of the rivers and to speak of relief I

resumed to the theory of plate tectonics and the internal and external

forces. In a second step, I gathered students in trios and lead them to

observe the maps while asking questions such as: what information

each map shows, what is the topic discussed, guiding them on how to

read maps, pointing to the necessity of analyzing title, legends, scale,

data source, map production date. I took the time and reminded

students about cartographic conventions, especially those related to the

colors and symbols used on maps. After recalling some basic concepts

of cartography, I invited students to use the atlas and began the overlay

of thematic maps with the political map of the Americas, when they

were able to analyze, interpret, describe and list the contents mentioned

with the information contained in maps. Soon after I gathered them a

circle and proposed a socialization of analysis and interpretation that

each trio produced. In the end, I asked each trio to produce a 30-line

text physically featuring the Americas through the overlaying of maps.

Since most students do not show interest in learning geography, often

due to the educational system itself, which values more the Portuguese

and Mathematics disciplines, and the subject is often seen by students

as boring, it is in this context that I always try to mobilize my classes

249

using pedagogical alternatives that offer attractiveness and to develop

in my students a greater interest in research, given that the subject itself

offers us that opportunity, taking the opportunity to demystify the old

story that geography is decorative and is only learnt by drawing maps.

In this context, it is necessary to clarify the importance of working with

maps, not in a mechanical way, but in a more reflexive and

contextualized way, making classes more dynamic, thus confirming that

reading and interpreting maps is very relevant for the teachers

assessment, as they will guide the critical assessment of the student.

As well as Geography, assessment must be consciously linked to the

conception of the world and society, being held in an investigative

manner, which will lead to a diagnosis that will serve as the student's

inclusion process. The assessment allows the teacher to check what

students know and/or learned about a subject, providing support for the

teacher to plan his lessons according the difficulties presented by the

students at the time of the evaluation. The tools for evaluation should

be diversified, seminars, models, research, written activities, etc., noting

that the evaluation should be diagnostic, continuous, summative and

guiding, allowing the student to become aware of his progress and

difficulties, helping him progress in building his knowledge.

Palavras-chave: Mobilização. Socialização. Práticas pedagógicas.

Keywords: Mobilization. Socialization. Teaching practices.

250

PROJETO INTERVALO MUSICAL

Encontros pela música.

Ary Potyguara Canagé de Pinho Filho

Colégio Integrado Diadema, [email protected],Rua Washington Luís, 574 Parque 7 de Setembro CEP 09910-190, Diadema/SP, Brasil

Resumo: O objetivo primordial do “Projeto Intervalo Musical” é propiciar um

espaço para que os alunos do Ensino Fundamental 2 e Médio

apresentem para a Comunidade Escolar a criação artística e estética

através da música. Esta ação acontece uma vez por mês nos 03

intervalos do período da manhã no refeitório do Colégio Integrado

Diadema. O Projeto teve o seu início em março de 2013 e já contou

com a participação de 34 alunos, alguns deles por mais de uma

oportunidade. A seleção é realizada a partir de uma investigação do

professor de Arte, que procura identificar quais são os alunos que

tocam ou cantam para um posterior trabalho de incentivo para que se

apresentem no Projeto. Esporadicamente realizados os “Encontros

Musicais” no contra turno para que os alunos musicistas se conheçam

e toquem juntos para posteriormente se apresentar no Projeto. Neste

momento os próprios alunos se organizam em bandas para que

251

possam participar do evento. Duas bandas já se formaram a partir

desta iniciativa, tocando inclusive em outros lugares.

Abstract: The primary goal of the "Project Musical Range" is to provide a space

for students of elementary and two high school show for School

Community artistic creation and aesthetics through music. This action takes place once a month in 03 intervals of the morning in the cafeteria of Diadema Integrated College. The project had its beginnings in March 2013 and has featured the participation of 34 students, some of them for more

than an opportunity. The selection is carried out from an investigation of a

professor of art, which seeks to identify those students who play or sing for

further work incentive to put up in the Project. Sporadically conducted the

"Musical Encounters" against the turn to the musicians students to meet and

touch together to present later in the Project. At this time the students

themselves organize into bands so that they can participate in the event. Two

bands have graduated from this initiative, including playing elsewhere. (by Google

Tradutor).

Palavras-Chave: Iniciativa. Música. Protagonismo.

Key-word: Initiative. Music. Leadership. (by Google Tradutor).

252

O ENSINO DE ARTES E OS DESAFIOS DA AVALIAÇÃO

BONFIM, Wagner Brito Santana¹ 1Colégio Batista Albert Schweitzer, [email protected], Rua A, 68 - Ecosane,

Itapetinga - BA, Brasil.

Resumo: Um dos papéis atribuídos ao professor, é o de avaliar. Essa prática

possui alguns caminhos que vem sendo trilhados ao longo dos anos;

a avaliação classifica os alunos em ordem decrescente, tendo por

base a nota alcançada por cada um em uma prova. Esse modelo de

avaliação mede no aluno não aquilo que o mesmo aprendeu, mas sim

tudo que ele foi capaz de memorizar e repetir no decorrer das aulas.

Para aqueles que não conseguiram alcançar uma média estabelecida,

estes são punidos, de maneira que não podem ou não estão aptos a

adquirir novos conhecimentos. Como avaliar o aluno que produz arte

e traz consigo todo um universo subjetivo? O professor deve estimular o

aluno ao aprendizado, buscando valorizá-lo como sujeito, fazendo-o

produzir de maneira que possa desenvolver habilidades que lhe

auxiliem na sua formação como indivíduo. O professor deve buscar

contextualizar o seu trabalho e o do próprio aluno visando uma

avaliação que tem como objetivo a superação das deficiências de

aprendizagem, o diagnóstico da realidade na busca da qualidade que

se deseja atingir. É necessário que o professor torne-se um

investigador, debruçando-se sobre a tarefa do aluno, buscando a

partir daí, numa perspectiva construtivista e dialógica detectar os erros,

transformando-os em elementos fundamentais a produção de

253

conhecimentos para o educador e educando. Para que possa haver

uma transformação nos processos avaliativos é necessário que haja

uma profunda mudança nas estratégias de ensino e nas práticas

realizadas pelos professores em sala de aula. É importante que o

professor repense o seu modo de ser, as suas habilidades, seus

métodos e seus recursos didáticos se tornando assim aliado do

processo oferecendo ganhos para ele, seu aluno e o sistema de

ensino.

Abstract: One of the roles assigned to the teacher, is to evaluate. This practice

has some ways that has been trodden over the years; evaluation

classifies students in descending order, based on the score achieved by

each one in a test. This evaluation model measures the student not

what it learned, but all he was able to memorize and repeat during

classes. For those who failed to achieve an established average, they

are punished, so that can not or are not able to acquire new knowledge.

How to evaluate the student who produces art and brings an entire

subjective universe? The teacher should stimulate student learning,

seeking treasure it as a subject, making it produce so that you can

develop skills that help you in your training as an individual. The teacher

should seek to contextualize his work and the students themselves

seeking an assessment that aims to overcome learning disabilities,

diagnosis of reality in pursuit of quality they want to reach. It is

necessary that the teacher becomes an investigator, leaning over the

task of the student, looking from thence in a constructive and dialogical

perspective detect errors, turning them into key elements to the

production of knowledge for the teacher and student. So it can be a

transformation in the evaluation processes there needs to be a

profound change in teaching strategies and practices carried out by

teachers in the classroom. It is important that teachers rethink their way

of being, his skills, his methods and his teaching resources thus

254

becoming an ally of the offering process gains for him, his student and

the education system.

Palavras-Chave: Avaliação; Aprendizagem; Práticas.

Key-word: evaluation; learning; practices.

REFERÊNCIAS

LUCKESI, C.C. Avaliação da Aprendizagem Escolar. São Paulo, Cortez, 2003

RELATOS DE EXPERIÊNCIAS

SUBTEMA 7: Práticas de ensino inclusivas nos espaços educativos

Resumo: As novas DCN (BRASIL, 2013) salientam que o trabalho educativo

deve empenhar-se na promoção de uma cultura escolar acolhedora e

respeitosa, que reconheça e valorize as experiências dos estudantes,

atendendo a suas diferenças e necessidades específicas, de modo a

contribuir para efetivar a inclusão escolar e o direito de todos à

educação. Assim, nesse subtema podem ser inscritos trabalhos cuja

abordagem metodológica das práticas de ensino escolares promova a

inclusão, sejam eles desenvolvidos em espaços físicos ou virtuais de

aprendizagem. Alguns exemplos de práticas de ensino inclusivas nos

espaços educativos que poderiam ser apresentados neste subtema são

o uso de jogos/games com regras modificadas para possibilitar a

participação de todos os estudantes em práticas de ensino, a utilização

de interfaces naturais entre as pessoas com necessidades especiais e

seus computadores (sensores que captam gestos, toques, movimento

de mão e de braços e que possibilitem a inclusão).

255

Todos os sonhos do mundo

Impactos da tecnologia na inclusão

Rui Fernandes, Susana Tavares

Centro de Avaliação em Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (Cantic)

[email protected]; [email protected]

Lisboa, Portugal

Resumo: Neste relato, em que falamos sobre a importância das tecnologias no

surgimento de práticas inclusivas em contexto escolar, apresentamos

em primeiro lugar os Centros de Recursos em Tecnologias de

Informação e Comunicação para a Educação Especial, como principal

resposta no apoio a alunos com necessidades especiais em Portugal

ao nível das Tecnologias de Apoio e, em seguida, destacamos três

casos de alunos que foram pioneiros na utilização de videoconferência

(um conjunto de conceitos e práticas a que chamámos TeleAula) em

contexto escolar e que são, ao mesmo tempo, exemplos de boas

práticas de inclusão.

Abstract: With this account, we aim to talk about the importance of technologies

to the emergence of inclusive practices in school. First, we present the

ICT Resource Centers for Special Education as the main answer to

students with special needs in Portugal, in terms of assistive

technologies. Then, we highlight the stories of three students who were

pioneers in the use of videoconference systems (a set of concepts and

practices we called TeleAula) in a school setting and that are, at the

same time, good examples of inclusive practices.

256

Palavras-chave: Tecnologias de apoio. Centros de Recursos TIC para a Educação

Especial. TeleAula.

Keywords: Assistive technologies. ICT Resource Centers. TeleAula.

AUTOR(ES)

Rui Fernandes

Professor licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade de

Lisboa e Mestre em Educação Especial, domínio cognitivo-motor. Desde a génese

do Cantic (www.cantic.org.pt), em 1996, desenvolve a sua atividade nesse Centro,

sendo atualmente o coordenador. Formador em Tecnologias de Informação e

Comunicação e em Tecnologias de apoio desde 1992 e formador de formadores em

Tecnologias de apoio. Docente de pós-graduações e mestrados em instituições de

Ensino Superior desde 2002 (Tecnologias de apoio). Assessor em projetos de

âmbito nacional nas áreas de acessibilidade e tecnologias de apoio. Colabora

regularmente na tradução, nos testes e na adaptação de Recursos Educativos

Abertos.

Susana Tavares

Professora licenciada em Ensino Básico 2º Ciclo variante Matemática e Ciências da

Natureza, pela Escola Superior de Educação Jean Piaget de Almada; Especializada

em Tecnologias Educativas, pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa;

Mestre em Educação Especial, domínio cognitivo e motor, pelo Instituto Superior de

Educação e Ciências de Lisboa; Estudos avançados em Educação – especialidade

em Tecnologias, Redes e Multimédia na Educação, pela Faculdade de Ciências e

Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa; Doutoranda em Formação de

Professores – especialização Educação Especial, pelo Instituto de Educação da

Universidade de Lisboa. Desde 2006 desenvolve a sua atividade no Cantic

257

(www.cantic.org.pt) avaliando alunos com necessidades educativas especiais que

necessitam de Tecnologias de Apoio e participando na adaptação de Tecnologias de

Apoio às necessidades funcionais dos alunos avaliados (hardware, software e

interfaces especiais). Formadora em Tecnologias de Apoio. Docente de pós-

graduações e mestrados no Ensino Superior de 2011 a 2014 (Tecnologias de Apoio)

INTRODUÇÃO

Este artigo surge no seguimento de um convite para falarmos de práticas de ensino

inclusivas na escola portuguesa. Tendo em conta a nossa experiência enquanto

professores de um Centro de Recursos TIC para a Educação Especial (Cantic –

CRTIC Amadora), partilharemos algumas aprendizagens que nos foram marcando e

ensinando ao longo destes 19 anos de existência. Contextualizamos, primeiro, com

uma apresentação dos Centros de Recursos TIC para a Educação Especial e a

importância das tecnologias de apoio nos percursos escolares de alunos em

situações de doença ou com deficiência para depois contarmos as histórias de três

alunos com doenças crónicas severas que, sem tecnologias, estariam isolados e

impedidos de ir à escola.

DESENVOLVIMENTO

1. Centros de Recursos TIC para a Educação Especial

O Cantic17 é um Centro de Recursos TIC que foi criado em 1996. Nessa altura foi

pioneiro de um modo de fazer porque permitiu o apoio a alunos com deficiência

motora severa que estavam na escola e não tinham o acompanhamento devido nem

as tecnologias necessárias para cumprir as tarefas escolares. No Cantic, íamos às

escolas da região de Lisboa avaliar os alunos com deficiência motora severa,

trabalhar com os respetivos professores e fazer sessões de sensibilização,

divulgação e formação que pretendiam alargar o conhecimento de toda a

comunidade educativa na área das tecnologias de apoio.

17 Para mais informações sobre o Cantic, ver CORDEIRO, 2006.

258

No ano letivo de 2007/2008, e no âmbito de várias mudanças no apoio aos alunos

com deficiência, o Ministério da Educação concebeu uma resposta de nível nacional

baseada na experiência do Cantic e criou uma rede de Centros de Recursos TIC.

A rede nacional de Centros de Recursos TIC para a Educação Especial (CRTIC), à

qual o Cantic foi integrado, é constituída por 25 centros sedeados em escolas

públicas que, no país, avaliam as necessidades de tecnologias de apoio dos alunos

com necessidades educativas especiais (NEE) de caráter permanente.

Anualmente, são avaliadas centenas de alunos com NEE com problemáticas do foro

sensorial, mental e neuromusculoesquelético. Apesar de os alunos avaliados

estarem distribuídos por todos os anos de escolaridade, o maior número de

avaliações centra-se nos primeiros anos. O financiamento das tecnologias de apoio

recomendadas pelos CRTIC é, sobretudo, da responsabilidade do Ministério da

Educação e Ciência (MEC).

Em termos de tecnologias de apoio nas escolas, os CRTIC são, desde 2007, em

Portugal, a resposta para os alunos com NEE.

O Cantic desloca-se às escolas para fazer avaliação dos alunos e dos contextos;

ministra formação a professores, pais, alunos e técnicos; apoia a implementação de

sistemas de TeleAula18 (criação de condições técnicas e pedagógicas para que os

alunos que estão doentes e que não podem ir à escola – em escolas de hospital ou

em domicílio –, possam ter aulas por videoconferência e não percam os laços com

os amigos e a escola). Para além disso, temos também a preocupação de divulgar o

nosso trabalho e a importância das Tecnologias de Apoio e do software aberto e

livre e das baixas tecnologias.

2. Deslumbramento das TA

Apesar de todo o esforço que temos feito na avaliação de alunos e na atribuição de

equipamentos, formação de professores e monitorização de práticas, continuamos

com resultados muito abaixo dos esperados e questionamo-nos sobre as razões

dessa situação. Ao chegarmos às escolas, deparamo-nos com profissionais que

18 Para mais informações sobre a TeleAula, ver CORDEIRO, 2005.

259

depositam grandes esperanças na tecnologia para ajudar no trabalho dos alunos,

mas depois não existe um investimento na sua utilização efetiva. Parece que se

espera que, de algum modo, seja a presença da tecnologia a operar alterações na

vida dos alunos.

Para muitos alunos, as tecnologias de apoio são fundamentais. No entanto, as

tecnologias não são perfeitas e a sua utilização acarreta dificuldades. Por um lado, e

como diz Hugh Herr (2014), “o ser humano não é deficiente. Uma pessoa nunca

pode estar danificada. São os nossos edifícios e as nossas tecnologias que estão

danificados e deficientes”. E, para além da incompletude, imperfeição e

incapacidade das tecnologias, existem também as atitudes de resistência à

tecnologia (ou à sua utilização), a falta de informação e de formação ou os contextos

que não estão adaptados. Além disso, mesmo quando as tecnologias cumprem o

seu papel de dar alguma autonomia aos alunos na realização das tarefas, corremos

o risco de não dar oportunidade aos alunos de utilizar essa autonomia conquistada

na concretização de atividades e projetos com maior valor nas suas vidas!

E nem sempre percebemos que, afinal, “consertámos” o aluno, demos-lhe a prótese

de que ele precisava e ele já pode escrever, comunicar e ler, mas isso não se traduz

em impactos relevantes e na sua capacidade de participar e de ter voz na definição

do seu percurso de vida.

No entanto, e independentemente de considerarmos que, em muitos casos, a

tecnologia não cumpre em plenitude o papel que deveria cumprir, também há muitos

outros casos em que a tecnologia foi motor de mudanças incalculáveis que

ultrapassaram tudo o que pensámos possível.

3. Três histórias

Apresentamos, a seguir, três alunos que têm em comum o facto de terem usado um

sistema de comunicação a distância para a maior parte da sua escolarização.

São casos de alunos com doenças crónicas severas que, sem tecnologias, ficariam

em casa ou no hospital sem possibilidade de estar na escola. Cada um, à sua

maneira, ajudou a construir caminhos, na escola e fora dela, para ser mais

autónomo e para fazer surgir verdadeiros ambientes de inclusão.

260

Nas três situações, consideramos que as tecnologias de apoio tiveram um papel

fundamental na criação de ambientes inclusivos. A desescolarização dessas

tecnologias permitiu que não fossem esterilizadas pela escola. Ou seja, as

tecnologias permitiram que os alunos realizassem o seu percurso escolar, mas

permitiram também a socialização e o surgimento de projetos de vida que foram

além da escola e, como tal, tiveram influência maior na autonomia dos seus

utilizadores e na criação de uma escola para todos e com todos.

O Sérgio tinha fibrose quística, uma doença altamente incapacitante, e tinha muita

dificuldade em ir à escola. Quando conseguia ir, raramente voltava no dia seguinte

porque se sentia um estranho no meio dos colegas, que não o reconheciam como

parte do grupo. A maior parte do tempo estava em casa ou no hospital. Por meio do

Programa Nónio Séc. XXI, na altura vigente em Portugal, adquirimos dois

equipamentos de videoconferência para que o Sérgio pudesse estar em casa a

trabalhar com a turma na escola. A implementação da TeleAula, que foi como

chamámos a este projeto de videoconferência, provocou alterações enormes na vida

deste aluno.

O facto de se poder ligar à escola permitiu-lhe acompanhar o currículo e criar

relações de amizade com os colegas. De facto, passou a ir à escola

presencialmente por períodos mais alargados e com maior regularidade. Houve uma

mudança de comportamento da turma: para os colegas, o Sérgio era a “estrela do

computador” e passou a fazer parte do grupo. Para permitir ao colega ouvir as aulas,

deixou de haver ruído de fundo na sala. Os professores passaram a enviar os

materiais das aulas por videoconferência e alteraram a forma de dar as aulas,

optando por trabalhos de grupo (com um grupo junto ao computador da

videoconferência). Os alunos operavam o sistema de videoconferência, ligando-o

quando chegavam à sala e desligando-o à saída se não ficassem nos intervalos a

falar com o colega. Criou-se uma relação de maior confiança e disponibilidade entre

professores e alunos. O aluno conseguiu a carta de condução, paga por um familiar

que, além disso, emprestava o seu carro para que o Sérgio pudesse ir à escola. A

nível da comunidade escolar, houve também alterações e, numa recolha de fundos,

para uma viagem ao estrangeiro para tratamentos, recolheu-se uma verba

261

significativa.O Nuno vivia numa enfermaria do Hospital de Dona Estefânia. Tem

osteógenese imperfeita e, apesar de a enfermaria ser muito próxima da escola

existente no hospital, o Nuno não podia deslocar-se à escola por risco de fraturas

ósseas. Durante algum tempo, uma professora da escola fez apoio a tempo parcial

mas, em 1999, montámos um sistema que permitiu a videoconferência entre a

enfermaria e a escola. Para além dos resultados escolares terem melhorado, a mãe

do aluno, que estava sempre ao lado da cama na enfermaria, passou a ajudar nas

tarefas escolares e a adotar comportamentos que viriam a permitir uma maior

autonomização do seu filho. Na família, ainda hoje se sentem as repercussões da

videoconferência (alteração de comportamentos, aumento dos níveis de

escolaridade de outro elemento da família, etc.). Os professores e os profissionais

de saúde – médicos, enfermeiros, psicólogos – passaram a interagir mais com o

aluno. Foram realizadas visitas ao Jardim Zoológico e ao clube de futebol de que o

aluno é adepto, com total colaboração do hospital. A escola de referência (uma

escola exterior que tem atividades pedagógicas regulares partilhadas por

videoconferência com o hospital), alterou as dinâmicas, preparando as sessões de

TeleAula com o envolvimento de todos os alunos. A escola da área de residência do

aluno também fazia TeleAula e, mais tarde, quando o Nuno teve alta hospitalar,

continuou o processo de escolarização por videoconferência até a mudança de ciclo

de ensino.O David foi outro aluno que apoiámos. Aos 8 meses de idade, uma

alteração inesperada do estado de saúde culminou num diagnóstico de tetraparésia

flácida de etiologia desconhecida. Só no ano passado foi finalmente diagnosticado

com atrofia espinhal tipo II. Em 1999, por razões de saúde, o David foi obrigado a

interromper a escola por quase 5 anos. Em 2003, avaliámos o aluno e ele passou a

utilizar o computador para trabalhar durante a maior parte do dia. Foi também

implementado o sistema de TeleAula e, a partir dessa altura, o David não parou de

estudar. Terminou o ensino obrigatório em 2009 e, logo de seguida, ingressou no

Curso de Sociologia, no ISCTE – da Universidade de Lisboa. O David foi o primeiro

aluno em Portugal a terminar a licenciatura com recurso exclusivo à

videoconferência. No ano passado, voltou ao ISCTE para frequentar o Mestrado em

Economia Social e Solidária.

262

CONCLUSÃO

Pensamos que, nesses casos, se construíram verdadeiros ambientes inclusivos. E

uma das razões para tal é, certamente, o grupo de profissionais que em cada

escola e hospital criou as condições e se disponibilizou para trabalhar com os

alunos, em condições nunca ótimas. Apesar de considerarmos a TeleAula uma

resposta educativa de eleição para os alunos que se encontram impossibilitados de

frequentar presencialmente a escola, a responsabilização e concretização eficaz

desse processo envolve o compromisso de TODOS.

Figura 1. Relações sistémicas – eficácia das tecnologias de apoio

As tecnologias são o motor que permitiu, primeiro, o acesso à escrita e à

informação e à escola e, depois, potenciou a ocorrência de mudanças em todos os

contextos significativos de vida dos alunos.

E, apesar de nos três casos existir a videoconferência como fator tecnológico

comum, acreditamos que a videoconferência pode não ser o ingrediente essencial

para o sucesso da inclusão desses alunos. Nesses casos, a tecnologia foi muito

além da escola e a valorização de aspetos exteriores à escolarização permitiu o

sucesso na escola e fora dela. Por um lado, houve uma libertação dos

constrangimentos de espaço – de uma situação confinada de enfermaria ou de casa,

Comunidade escolar

Família

Professores

Pares

Aluno

263

acede-se a uma outra dimensão, onde existem desafios que não passam pelos

problemas de saúde diariamente enfrentados. Por outro lado, e apesar de alguns

problemas técnicos recorrentes (pouca visibilidade do quadro; pouco fiabilidade do

som), sempre se encontraram formas de resolver os problemas com apontamentos,

com sessões com os colegas, etc., e acabaram por não se notar as falhas do

sistema. O nosso foco era a criação de oportunidades de aprendizagem em espaços

educativos, mas a aula era apenas um dos motivos para os alunos estarem na

escola. As relações sociais com os pares eram essenciais. Finalmente, entre as

mudanças físicas operadas pelas tecnologias (necessidade de instalação dos

sistemas de videoconferência, alteração dos horários/salas da escola) e as

mudanças nas pessoas, esses alunos puderam sentir mudanças reais na escola

pelas quais eram responsáveis. Estavam a provocar alterações no seu contexto,

podiam ter e realizar projetos pessoais. Achamos que a tecnologia pode ajudar a

mudar atitudes e esses três casos, não sendo de modo nenhum únicos, cristalizam

para nós a ideia de que as tecnologias podem ser um forte agente de inclusão. Para

isso, temos que atribuir as tecnologias e integrá-las no currículo, mas também na

vida, permitir aos alunos que participem na vida da escola (e não só na sala de aula)

e fora dela, que tenham projetos, que façam da escola um lugar de libertação da

escola! Porque é para isso que a escola existe. Um dos alunos de que falámos

acima faleceu durante o percurso no ensino secundário. Os outros frequentam a

faculdade e são convidados a falar em palestras dando o seu testemunho de vida.

Um escreveu um livro e o outro criou uma associação de apoio comunitário com o

intuito de apoiar outras pessoas a conquistar os seus sonhos.

REFERÊNCIAS

HERR, H. New bionics let us run, climb and dance. [Arquivo de vídeo]. 28 mar. 2014.

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=CDsNZJTWw0w>.

CORDEIRO, E. TeleAula: Um recurso educativo para alunos que não podem ir à

escola. Diversidades, n. 7, p. 10-16, 2005. Disponível em: <http://www.madeira-

edu.pt/Portals/7/pdf/revista_diversidades/revistadiversidades_7.pdf>.

264

______. Necessidades Educativas Especiais e Tecnologias de Informação e

Comunicação. Diversidades, n. 11, p. 31-36, 2006. Disponível em:

<http://www02.madeiraedu.pt/Portals/5/documentos/PublicacoesDRE/Revista_Divers

idades/dwn_pdf_ParadigmasDiferenca_Pensar_11.pdf>.

Uma escola para além dos muros

Iara Liane Ferreira França, Maria Eduarda C. da Silva Teixeira

Resumo: Considerando a escola como um espaço estratégico para a

concretização da participação coletiva, aberta a todos,

desenvolvendo a socialização do conhecimento entre os comuns e os diferentes, o

Colégio Expressão – Cooperativa de Profissionais em Educação da

Serra Ltda. (Coopeserra), oportuniza um projeto de inclusão social

para uma vivência entre duas realidades diferentes. Na perspectiva

da educacional de inclusão, nasce o projeto A Comunidade é Nossa,

com o objetivo de ampliar a convivência social comunitária, voltada

para a prática da cidadania, da ética e da solidariedade,

proporcionando o encontro entre os saberes sociais diversificados

entre os alunos do Ensino Médio do Colégio Expressão e os

educandos da Apae de São Francisco de Paula – RS. O projeto A

Comunidade é Nossa se constitui inicialmente num projeto-piloto de

metodologia de pesquisa-ação, na qual se promove “uma

intervenção de pequena escala no funcionamento do mundo real e um estudo

próximo sobre os efeitos de tal intervenção” (COHEN; MANION,

1994, p. 186). Nessa pesquisa-ação, o grupo de coordenadores e os

alunos do Ensino Médio foram os investigadores da prática e juntos

identificaram as dificuldades a serem eliminadas na aceitação e

convivência social nas diversas formas de experienciar a

diversidade. A educação se faz com atitudes – a escola lança o desafio de

engajar os jovens para a prática de ações solidárias, para a construção de

265

um meio mais humano e social, partindo da estratégia de aprendizagem

de colocar-se no lugar do outro.

Abstract: Considering the school as a strategic space for the realization of

collective participation, open to all, developing the socialization of

knowledge among the common and the different, Colégio Expressão

– Cooperativa de Profissionais em Educação da Serra Ltda.

(Coopeserra) runs a social inclusion project for a living between two

different realities. In the educational perspective of inclusion, the

project The Community is Ours came to life in order to increase

community social life, focused on the practice of citizenship, ethics

and solidarity, providing the meeting of the diverse social knowledge

among students from Colégio Expressão and the students from

Apae São Francisco de Paula, Brazil. The project The Community is Ours

initially is a research methodology pilot action, which promotes "a

small-scale intervention in the functioning of the real world and a

close study of the effects of such intervention" (COHEN; MANION, 1994, p.

186). In this action research, a group of coordinators and high school

students were researchers of the practice and together identified the

difficulties to be eliminated for the acceptance and social interaction

in different ways of experiencing the diversity. Education is made of

attitudes – the school launches the challenge of engaging young

people to practice solidarity actions, to build a more human and

social environment, starting from the learning strategy of trying to fill

someone else‟s shoes.

Palavras-chave: Diversidade. Inclusão Social. Parceria. Solidariedade social.

Keywords: Diversity. Social inclusion. Partnership. Social solidarity.

266

INTRODUÇÃO

Sabendo que a educação se faz com a coordenação de estratégias que

mobilizam a aprendizagem por meio de desejos e atitudes, o Colégio Expressão

lança o desafio de engajar os alunos do Ensino Médio no projeto A Comunidade é

Nossa, em que a prática da cidadania e da solidariedade social proporcionem a

construção de uma interação entre duas realidades diferenciadas.

O projeto surgiu da observação e da manifestação das dificuldades de

convivência social harmônica com os diferentes, tanto da parte dos alunos quanto

dos professores, sinalizando uma ação pedagógica na busca de soluções.

No entendimento de Marilu Mourão (2006), “A inclusão é um movimento

mundial de luta das pessoas com deficiências e seus familiares na busca de seus

direitos e de um lugar na sociedade”.

Pensando em promover uma escola aberta à diversidade social na

perspectiva de aprendizagens nas trocas com diferentes realidades, destacam-se as

fases e etapas vivenciadas.

No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases de 1996 refere-se ao aluno com

necessidades especiais, sugerindo que este, deve estar "preferencialmente"

incluído, e também, quando necessário, deverá ser encaminhado para serviços de

apoio especializado na escola regular, para atender às peculiaridades e o

atendimento educacional será realizado em classes, escolas ou serviços

especializados, sempre que, em função das condições específicas do aluno, não for

possível sua integração nas classes comuns do ensino regular.

Com a Resolução n.2/2001, que instituiu as Diretrizes Nacionais para a

Educação Especial na Educação Básica, houve um avanço na perspectiva da

267

universalização e atenção à diversidade, na educação brasileira, com a seguinte

recomendação:

Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para a educação de qualidade para todos.

No entanto a realidade desse processo INCLUSIVO é bem diferente do que

se propõe na legislação e requer muitas discussões relativas ao tema. Pensando em

uma escola diferente, inicialmente o projeto se organiza por meio de encontros dos

professores das disciplinas de Sociologia, Filosofia e Psicologia, com a finalidade de

abrir espaço para a interlocução entre as instituições Colégio Expressão e Apae de

São Francisco de Paula.

Após estabelecidas as combinações entre os atores sociais, seguiram-se as

definições de objetivos e o planejamento de estratégias para as ações entre as

instituições envolvidas.

O objetivo era ampliar a convivência social comunitária, voltada para a prática

da cidadania, da ética e da solidariedade, proporcionando o encontro entre os

saberes sociais diversificados dos alunos do Ensino Médio do Colégio Expressão e

dos apaeanos da Apae de São Francisco de Paula.

O projeto A Comunidade é Nossa se estruturou por meio do planejamento

das atividades – o cronograma de inserções aconteceria quinzenalmente entre os

apaeanos e os alunos, mediado pelas equipes de profissionais do Colégio

Expressão e da Instituição Apae. Essas atividades tinham como objetivos

específicos a ludicidade e a recreação.

Projeto em andamento, com objetivos sendo alcançados pelo voluntariado,

surge o reconhecimento da repercussão social em Educação Inclusiva pelo Sistema

Positivo de Educação, que classifica a experiência social e a inclui no Programa

Além dos Muros.

Foram momentos de grandes descobertas, novos aprendizados, situações de

envolvimento afetivo, empatia, reconhecimento da diversidade, despertar de

268

competências e novas habilidades, processos criativos nunca imaginados, sorrisos,

lágrimas... O exercício da cidadania, a participação ativa na comunidade.

DESENVOLVIMENTO

O projeto A Comunidade é Nossa surgiu do desejo de inclusão dos alunos

por meio da convivência social com a comunidade. Com a parceria das disciplinas

de Sociologia, Filosofia e Psicologia, com a aceitação dos alunos, professores,

direção e pais da escola, o projeto voluntário nasceu em 2013.

Embora enfrentasse resistência por parte de poucos alunos, pais e

professores, o desejo de uma inclusão social era mais forte.

Kunc (1992) fala sobre inclusão:

o principio fundamental da educação inclusiva é a valorização da diversidade e da comunidade humana. Quando a educação inclusiva é totalmente abraçada, nós abandonamos a idéia de que as crianças devem se tornar normais para contribuir para o mundo.

Assim começamos as inserções na instituição da Apae, a qual nos recebeu

de braços abertos, tanto a equipe diretiva quanto seus usuários, fator primordial para

mexer com as emoções de todos os envolvidos no projeto, pois fomos recebidos

com tanto amor que não teve outro jeito a não ser a entrega total, de coração, de

todos que se envolveram no projeto em 2013.

Nossas inserções aconteciam de 15 em 15 dias, num período de 2 horas,

com a intenção de “colocar-se no lugar do outro”, aceitando as diferenças e

aprendendo a conviver com elas.

Realizamos muitas atividades, vencendo muitos desafios – o que para nós

parecia ser brincadeira muito simples, para os nossos amigos parceiros (apaeanos)

exigia esforço e dedicação, porém, com a ajuda dos alunos maravilhosos do Colégio

Expressão, tudo entrou no ritmo de alegria e confraternização.

A realização de atividades pedagógicas também nos proporcionou imensa

satisfação de poder propiciar novas aprendizagens aos apaeanos e eles, por sua

vez, sentiram-se realizados com o cuidado especial dos nossos alunos para com

eles.

269

Essa integração proporcionou uma grande amizade regada com carinho e

cumplicidade de ambos os lados.

Empurrar uma cadeira de rodas, para muitos alunos da nossa escola, era fato

desconhecido, talvez nem imaginassem vivenciar essa experiência, por isso, o

projeto proporcionou essa aproximação de maneira muito natural, embora muitas

vezes tenhamos nos emocionado, pelo simples fato de perceber que somos

perfeitos e nem nos lembramos de agradecer por esse fato no nosso dia a dia.

Brincadeiras de infância, brincar de roda, jogar bola: tudo era realizado com

muita alegria. Um grupo de danças das alunas do Colégio Expressão com os

apaeanos emocionou muitas pessoas em diversos lugares em que se apresentou.

Esse grupo vale ouro e exigiu muita dedicação das alunas e da professora de

Educação Física do Colégio Expressão, responsável que coordenava o grupo.

Foram muitas atividades realizadas durante o ano de 2013 conforme

cronograma previamente planejado entre as duas instituições, relacionando temas

de interesse de ambas, como: participação no movimento pró-Apaes do Brasil,

desfile cívico de 7 de Setembro, encontros festivos de halloween, passeios e

piqueniques, filmes, jogos recreativos, atividades físicas lúdicas.

Com toda essa integração, esse envolvimento, esse carinho, percebemos

que o projeto estava contribuindo para a prática da cidadania, da ética e da

solidariedade por meio da proposta de uma inserção social, proporcionando o

encontro de saberes sociais diversificados nas relações de nossos alunos, motivo

suficiente para inscrever esse belíssimo projeto no programa Além dos Muros, do

Sistema Positivo de Ensino, ao qual nossa escola é conveniada, concorrendo com

escolas conveniadas de todo o Brasil a uma verba de vinte mil reais para ser usada

no projeto. Seriam escolhidos cinco projetos de todo o Brasil e para nossa grande

alegria o projeto A Comunidade é Nossa foi um dos selecionados.

Surpresa geral para muitos e principalmente para aqueles que não

acreditaram nos resultados desse projeto, porque conviver com as diferenças não é

fácil, mas com carinho, amor e comprometimento tudo é possível.

270

Em março de 2014, iniciamos uma nova etapa do projeto com ênfase na

ampliação de novas propostas de convivência social comunitária, dialogando sobre

os aspectos da educação inclusiva e oportunizando o contato e a instrumentalização

das novas tecnologias educacionais na perspectiva da socialização de saberes

multidisciplinares e transdisciplinares.

Além das atividades realizadas pelos alunos, como carnaval de inverno,

participação no seminário dos 25 anos da Apae, inserções semanais, grupo de

danças e teatro, foi possível montar um Laboratório de Informática para os apaeanos

usando equipamentos próprios para as suas necessidades.

Após estudo técnico e pedagógico, foram adquiridos equipamentos de

tecnologia assistiva conforme as necessidades dos apaeanos, que ficaram assim

definidas: computadores com monitor LCD e tela de toque; notebook; uma

impressora; máquina fotográfica; antena para internet via rádio; pagamento das

parcelas (do ano) de internet; instalação elétrica dos computadores; mouses e

teclados adaptados; modem.

A inserção dos aparelhos, utilizando os recursos tecnológicos, aconteceu por

meio do projeto A Comunidade é Nossa, oportunizado pelo programa Além dos

Muros do Sistema Positivo de Ensino. Os alunos e professores do Ensino Médio do

Colégio Expressão desenvolveram atividades direcionadas para as tecnologias com

acesso à internet, a criação de um blog do projeto

(http://acomunidadeenossaparaalemdosmuros.blogspot.com.br/), acesso às redes

sociais, fotografia, jogos pedagógicos, possibilitando o desenvolvimento de

competências pessoais por meio da oportunidade de operar e utilizar os recursos

tecnológicos.

271

Cada professor envolvido no projeto realizou atividades conforme sua área de

competência ou preferência juntamente com os alunos do Ensino Médio. A

professora Claudia utilizou as novas tecnologias familiarizando os apaenos, com a

ajuda dos nossos alunos, aos computadores, criando um espaço para a

comunicação verbal por meio do Skype e a comunicação corporal com a produção

de selfies.

A professora Luanda se utilizou da terapia da amizade, do carinho e do afeto

nas suas atividades de terapia, fortalecendo a motivação e o afeto mútuo entre os

grupos.

A professora Sandra contribuiu com suas belas artes, produzindo o corpo

humano, trabalhando as partes do corpo e confeccionando acessórios para

embelezar os encontros.

A professora Elanir envolveu os jovens do Expressão em uma peça teatral

interativa com os apaeanos, contribuindo para os movimentos corporais e a alegria

de representar dos nossos apaeanos.

A professora Iara construiu o blog do projeto A Comunidade é Nossa,

divulgando as ações desenvolvidas.

Como em toda ação, houve lições aprendidas. O projeto oportunizou

verdadeira lição de aprender conteúdos atitudinais e procedimentais que são tão ou

mais importante do que conteúdos conceituais, promovendo, por meio das relações

sociais, grandes aprendizagens, vencendo o medo e aceitando as diferenças no

convívio social.

Um projeto como esse é para além dos muros mesmo, pois o sucesso foi tão

grande e a satisfação pessoal de cada envolvido nele foi tão prazerosa que

inscrevemos novamente o projeto A Comunidade é Nossa no programa Além dos

Muros, do Sistema Positivo de Ensino, e ganhamos mais vinte e cinco mil reais para

serem utilizados no projeto. Desta vez priorizamos as competências cognitivas,

disponibilizando um profissional de pedagogia para desenvolver habilidades da

escrita e da leitura de mundo dos apaeanos.

272

Além do profissional de pedagogia, os alunos do Colégio Expressão

continuaram com as inserções de interação, as quais foram o ponto de partida dessa

inclusão social. Essas inserções seguem acontecendo de quinze em quinze dias,

conforme o cronograma de atividades desenvolvido pela equipe técnica da

Instituição Apae e pelos profissionais do Colégio Expressão.

CONCLUSÃO

Conclui-se que o projeto causou seu primeiro impacto na comunidade por meio da

inclusão proporcionada em um espaço de diálogo social e cultural entre a Apae, o

Colégio Expressão e a comunidade envolvida, priorizando a convivência e a

aprendizagem real, por meio de ações sociais comunitárias diferenciadas, em que o

exercício da ética, da cidadania e da solidariedade resultou em uma experiência

consciencial.

Enquanto escola, contribuir de forma tão marcante com nossos jovens para a

inclusão social e poder proporcionar à instituição Apae melhorias no atendimento

aos seus usuários causam um impacto significativo na sociedade, pois é com ações

e atitudes que podemos mudar os estigmas sociais.

A escola pode causar um impacto de mudanças significativas na sociedade

com suas ações e atitudes, essa é a escola que desejamos.

“Sabemos que palavras convencem, mas o exemplo arrasta.” (Confúcio)

O segundo impacto social foi oportunizar o ensinar e o aprender a aprender,

por meio de trocas lúdicas com mediação das tecnologias, enfocando as

competências e habilidades já adquiridas pelos alunos do Ensino Médio, e valorizar

o processo de ensino e aprendizagem trans e multidisciplinar por meio de diferentes

jogos simbólicos de representação da arte, do corpo, da dança, da musicalidade e

do teatro.

O impacto social, a convivência comunitária e humanitária, por meio de um

espaço de diálogo cultural, trocas e contrapartidas entre as duas instituições

273

procurando vencer desafios como o preconceito e a aceitação das diferenças,

possibilitando conhecer o outro, fazer algo de diferente, colocando-se no lugar do

outro, permitem que sejamos mais humanos e, quando agimos com humanidade,

conseguimos fazer a diferença onde estivamos inseridos.

AUTORES:

Iara Liane Ferreira França, Colégio Expressão – Coopeserra, [email protected].

Rua da Cervejaria, 199, Bairro Rincão, São Francisco de Paula – RS. Licenciada em

Pedagogia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Pós-graduada em

Sociologia pela Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS). Coordenadora do

projeto A Comunidade é Nossa, do Colégio Expressão.

Maria Eduarda da Silva Comin Teixeira, Colégio Expressão – Coopeserra,

[email protected]. Rua Tiradentes, 567, Centro, São Francisco de Paula –

RS. Licenciada em Estudos Sociais pela PUCRS. Pós-graduada em Gestão

Educacional pela Faccat – RS. Pós-graduada em Psicopedagogia pela Universidade

Gama Filho. Pós-graduada em Gestão de Pólos em EAD pela Universidade Federal

de Pelotas – RS. Pós-graduada em Terapia Floral pela Uerj e pelo Instituto Brasileiro

de Estudos Homeopáticos – SP.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por estar presente em todos os momentos da minha caminhada

dirigindo minha prática educativa com a prática da solidariedade em prol das

diferenças.

A meu pai (in memorian), o qual sempre me inspirou ao trabalho voluntário e ao

respeito às diferenças, pois conviveu conosco neste plano como um deficiente físico.

Ao Sistema Positivo de Ensino pela oportunidade de poder fazer a diferença

com os diferentes.

À direção da escola por acreditar e nos proporcionar a possibilidade da

realização do projeto.

274

À colega Maria Eduarda Comim Teixeira, idealizadora do projeto, pela ideia

iluminada em prol das diferenças.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Congresso Nacional. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Brasília, 1996.

______. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução

CNE/CNB n. 2 de 11 de setembro de 2001. Brasília.

______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Educação

Inclusiva. Brasília: MEC/Seesp, 2004.

______. Ministério de Educação. Secretaria de Educação Especial. Política nacional

de educação especial. Brasília: MEC/Seesp, 1994.

______. Ministério da Justiça. Declaração de salamanca e linha de ação sobre

necessidades educativas especiais. Brasília, 1997.

______. Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,

1988.

275

FIGUEIRA, E. A imagem do portador de deficiência mental na sociedade e nos

meios de comunicação. Brasília: MEC/Seesp, 1995.

FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL. Mídia e deficiência. Brasília, 2003 (Diversidade).

KUNC, N. - The Need of belong. Rediscovering Maslows Hierarchy of Needs in

VILLA, J. S. THOUSAND, W. STAINBACK E S. SATINBACK - REESTRUCTURING

FOR CARING AND EFFECTIVE EDUCATION: NA ADMINISTRATORS GUIDE TO

CREATING HETEROGENEOUS SCHOOLS. Baltimore, Paul H. Brookes, 1992, p.

25-39.

MONTOAM, Maria Tereza Eglér et al. Integração de pessoas com deficiência. São

Paulo: Memnon, 1997.

POSO, Juan Ignácio. Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem.

Tradução de Emani Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2002.

YUS, Rafael. Educação especial: uma educação holística para o séc. XXI. Tradução

de Daisy Vaz de Moraes. Porto Alegre: Artmed, 2002.

Sites

http://www.pedagobrasil.com.br/educacaoespecial/inclusaoescolar.htm, artigo de

MARILU MOURÃO, publicado em 2006, acesso em 15 de

agosto/2015;<http://educadoraiarafranca.blogspot.com.br/><https://www.youtube.co

m/watch?v=cejzfkepjgq>

276

PÔSTERES

SUBTEMA 7: Práticas de ensino inclusivas nos espaços educativos

Resumo: As novas DCN (BRASIL, 2013) salientam que o trabalho educativo deve

empenhar-se na promoção de uma cultura escolar acolhedora e respeitosa, que

reconheça e valorize as experiências dos estudantes, atendendo a suas diferenças e

necessidades específicas, de modo a contribuir para efetivar a inclusão escolar e o

direito de todos à educação. Assim, nesse subtema podem ser inscritos trabalhos

cuja abordagem metodológica das práticas de ensino escolares promova a inclusão,

sejam eles desenvolvidos em espaços físicos ou virtuais de aprendizagem. Alguns

exemplos de práticas de ensino inclusivas nos espaços educativos que poderiam ser

apresentados neste subtema são o uso de jogos/games com regras modificadas

para possibilitar a participação de todos os estudantes em práticas de ensino, a

utilização de interfaces naturais entre as pessoas com necessidades especiais e

seus computadores (sensores que captam gestos, toques, movimento de mão e de

braços e que possibilitem a inclusão).

277

O USO DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NO PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA PARA

ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Cláudio César Santos Leite1 Elisângela Cardoso2 1Especialista em Educação Matemática pela UCSal/Ba e membro do grupo de pesquisa em Educação Inclusiva

em Necessidades Especiais (GEINE) e membro do Observatório da Educação Matemática - OEM/FACED-UFBA http://www.educacaomatematica.ufba.br/index.php e Professor no Colégio Flamboyants /

[email protected], Salvador/Ba/Brasil

2Elisângela Cardoso – Aluna do curso de Licenciatura em Pedagogia pela UFBA.

Resumo: Durante muitos anos, o ensino da Matemática teve como

característica marcante aulas expositivas. Atualmente, estudos no

campo da Educação Matemática vêm mostrando que o

ensino/aprendizagem da Matemática tradicional não é mais o único

modelo a ser seguido. O aluno com Deficiência Intelectual tem uma

maneira própria de lidar com o saber, e o uso de materiais

manipuláveis nas aulas de Matemática tem contribuído com

aprendizados significativos. Assim sendo, se faz necessário ressaltar

a atenção dada para a importância da presença de atividades

práticas nas rotinas escolares como forma de tentar superar as dificuldades

dos alunos com Deficiência Intelectual em aprender Matemática.

Além disso, mostrar que a disciplina de Matemática trabalhada com

materiais manipuláveis podem ser aprendidos de uma forma

diferente e contextualizada. Logo, o uso desses materiais dentro da Educação

Matemática para o ensino é um caminho para a fim de despertar no

aluno o interesse por tópicos matemáticos que ele ainda

desconhece. De acordo com os marcos políticos legais, para atuar na educação

278

especial, o professor deve ter como base da sua formação inicial e

continuada conhecimentos gerais, para o exercício da docência e

conhecimentos específicos na área que irá favorecer a comunicação

e aprendizagem de forma única na educação especial. Experiências

concretas foram trabalhadas por um grupo de professores na

construção de materiais pedagógicos utilizando materiais

reutilizáveis que poderão contribuir para o ensino/aprendizagem da Matemática

para alunos com Deficiência Intelectual. Foram realizadas atividades

através de materiais pedagógicos confeccionados com materiais

reutilizáveis podendo ser utilizado em sala de aula para auxiliar ou

complementar o ensino/aprendizagem de Matemática para os alunos

com ou sem " Deficiência Intelectual". Envolvendo atividades com

toda a turma, em grupos, em duplas ou individual de: Adição e

subtração; Correspondência; Comparação; Classificação;

Sequência; Seriação; Inclusão; Formas Geometricas; e Conservação.

Abstract: For many years, the teaching of mathematics had the hallmark lectures. Currently, studies in the field of mathematics education have shown that the teaching / learning of traditional mathematics is no longer the only model to be followed. Students with Intellectual Disabilities has its own way of dealing with knowledge, and the use of manipulatives in mathematics classes has contributed to significant learning. Therefore, it is necessary to emphasize the attention given to the importance of the presence of practical activities in school routines as a way to try to overcome the difficulties of students with Intellectual Disabilities in learning mathematics. In addition, show that mathematics discipline crafted with manipulatives can be learned in a different and contextualized way. Therefore, the use of these materials within the mathematics education for teaching is a way to wake up in student interest in mathematical topics he still unknown. According to the legal policy frameworks, to work in special education, the teacher should be based on their initial training and continuing general knowledge, to carry out teaching and expertise in the area that will facilitate communication and unique way of learning in special education. Concrete experiences were worked by a group of teachers in the construction of teaching materials using reusable materials that could contribute to the teaching / learning of mathematics for students with

279

Intellectual Disabilities. Activities through teaching materials made with reusable materials have been made can be used in the classroom to assist or complement the teaching / learning mathematics for students with or without "Intellectual Disability". Involving activities with the whole class, in groups, in pairs or individual: Addition and subtraction; Correspondence; Comparison; Classification; Sequence; Ranking; Inclusion; Geometric forms; and Conservation.

Palavras-Chave: Deficiência Intelectual. Educação Matemática. Materiais manipuláveis.

Key-word: Intellectual Disabilities. Mathematics education. Manipulates.

1. Introdução

Na atualidade são frequentes os debates sobre a importância de garantir o

acesso ao conteúdo para todos os alunos, apesar dos pressupostos legais existirem

há uma carência na prática efetiva de leis e decretos nos espaços escolares. A

Constituição Federal assegura a todos os educandos o direito de acesso aos níveis

mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, de acordo com a

capacidade de cada um (art. 208, V) e que o Ensino Fundamental é obrigatório. Por

isso, é inegável que as práticas de ensino devam acolher as peculiaridades de cada

aluno, independente de terem ou não necessidades educacionais especiais.

Dessa forma, pesquisadores e educadores, envolvidos com o ensino da

Matemática, estão em busca de novos métodos para trabalhar essa disciplina, de

modo estimulante e prazeroso, visando também atender à sociedade que exige do

ser humano a capacidade de interpretar situações, fazer perguntas e elaborar

hipóteses. Segundo os atuais marcos normativos e legais, reconhecem que as

“dificuldades enfrentadas nos sistemas de ensino evidenciam a neceessidade de

confrontar as práticas discriminatórias e criar alternativas para superá-las”. (BRASIL,

2010, p. 09).

280

Nessa visão, o ensino da Matemática é entendido como uma construção

constante que perpassa na formação inicial e continuada do professor, relacionando

a sua prática a criação das diversas atividades, aonde o primeiro passo é criar

dentro do sistema de ensino condições de acesso aos recursos pedagógicos e à

comunicação que favoreçam a promoção da aprendizagem e a valorização das

diferenças. É necessário que se faça uma mudança no trabalho realizado nas aulas

de Matemática, em todos os níveis.

Alguns autores apresentam o uso de materiais manipuláveis como uma

abordagem pedagógica que permite ao educando aprender Matemática num

processo de construção constante. Segundo Lorenzato (2010, p. 05) os materiais

manipuláveis são objetos “facilitadores do aprendizado”. Quando se trabalha com

qualquer tipo de material manipulável deve-se definir bem os objetivos que se

pretende, para alcançá-los de forma significativa.

Atualmente, a Educação Matemática vem sendo vista por educadores como

uma área de pesquisa que possibilita ao aluno a construção do conhecimento

matemático para além da simples tarefa de calcular, abordando aspectos sociais,

políticos e econômicos, propiciando ao cidadão uma formação para a vida, trazendo

então uma metodologia alternativa para os alunos com Necessidades Educativas

Específicas (NEE).

Auarek (2000, apud FONSECA, 2007, p. 19) afirma que:

O ensino de matemática se configura muitas vezes como foco de resistência às investidas contra estruturas e práticas escolares tradicionais, resistência que se pretende legitimada pela natureza do conhecimento matemático arrolado como algo intrínseco à matemática e não forjado na representação calçada na versão escolar desse conhecimento.

A Deficiência Intelectual não é considerada uma doença ou um transtorno

psiquiátrico, são fatores que causam prejuízos nas funções cognitivas que

acompanham o desenvolvimento do cérebro, levando a limitações associadas às

281

habilidades cognitivas, adaptativas, nítido atraso em seu desenvolvimento

neuropsicomotor, aquisição da fala e outras habilidades, seja na comunicação

(linguagem), socialização, ou aquisições práticas da vida cotidiana. De acordo com a

Organização das Nações Unidas (ONU), no art. 1º pessoas com deficiência:

são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física,

mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua

participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas

(BRASIL, 2009, p. 04 ).

É nesse olhar que precisamos inserir o nosso papel de educador no processo

de ensino e aprendizagem dos alunos com Deficiência Intelectual, desenvolvendo a

sua formação em um espaço de aprendizagem prazeroso, alegre, estimulante e

desafiador.

O conhecimento que o aluno traz para o espaço escolar é de grande

importância, devendo ser considerado pelo educador como o ponto de partida para a

aprendizagem.

Segundo Brasil (1998, apud ROZAL, 2002, p. 5):

Aprender matemática é um direito básico de todos e uma necessidade individual e social de homens e mulheres. Saber calcular, medir, raciocinar, argumentar, tratar informações etc... São requisitos necessários para exercer a cidadania [...].

No entanto, um ensino baseado na memorização de regras ou de estratégias

para resolver problemas não contribui para uma boa formação matemática do aluno

com Deficiência Intelectual, pois dessa forma não se está estimulando nem se

propondo a construção de estratégias nas quais a criatividade e o trabalho coletivo

proporcionam desafios na formação dos alunos com Necessidades Educativas

Específicas (NEE).

Todo aluno com Deficiência Intelectual ou não, precisa aprender a conviver

em grupo ou sentir-se parte desse grupo e para que isso aconteça é necessário que

282

lhe seja oferecido experiências que o faça descobrir o mundo ao seu redor. É

através da socialização com o outro, que a criança irá aprender e encontrará um

significado e propósito na aprendizagem. Nesse sentido, atividades lúdicas são

fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia.

De acordo com Sampaio (2009, p. 37), quanto aos aspectos escolares, o

sujeito com Deficiência Intelectual deve “participar das atividades sociais, recreativa

e educacional frequentada pelas demais pessoas de sua idade cronológica em sua

comunidade”. O Decreto nº 7.611/11 assegura a todos os alunos com Necessidades

Educacionais Específicas (NEE), direito ao sistema educacional inclusivo em todos

os níveis, sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades prestado

de forma complementar ou suplementar aos estudantes com deficiência, transtornos

globais do desenvolvimento, altas habilidades/superdotação matriculados em

classes comuns do ensino regular, assegurando-lhes condições de acesso,

participação e aprendizagem.

Assim sendo, ao tratar da educação para alunos com deficiência no contexto

educacional, de acordo com Decreto nº 7.611/11, cabe ao Estado “adoção de

medidas de apoio individualizadas e efetivas, em ambientes que maximizem o

desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão plena” (art.

1º, VI). A educação inclusiva, na medida em que promove um ensino/aprendizagem

respeitoso e com significados para os alunos, favorece o desenvolvimento da

consciência de que todos são igualmente beneficiários de direitos e deveres.

Nos últimos anos, as estratégias de aprendizagem têm adquirido uma

importância cada vez maior, tanto na investigação psicológica como na prática

educativa. Com isso, tem-se como objetivo um trabalho interativo para construir e

reconstruir recursos utilizando materiais reutilizáveis que possam contribuir para o

ensino/aprendizagem da matemática para alunos com Deficiência Intelectual.

Pretende-se desenvolver uma proposta de trabalho com sugestões e

confecção de materiais manipuláveis, como forma de tentar superar as dificuldades

dos alunos com Deficiência Intelectual em aprender Matemática, e mostrar que a

283

Matemática trabalhada com materiais manipuláveis pode ser aprendida de uma

forma contextualizada e prazerosa. “A ação pedagógica voltada para esse aluno

deve resultar em opções que indiquem à possibilidade de reorganizar situações de

aprendizagem que favoreçam esse processo. ” (GOMES; POULIN; FIGUEIREDO,

2010, p. 14).

Portanto, na esperança de incentivar e contribuir para o ensino/aprendizagem

dos alunos com Deficiência Intelectual, é que propomos experiências com materiais

manipuláveis confeccionados com matérias reutilizáveis como uma forma de

aproveitar estes saberes e experiências que eles trazem para a escola.

1. Justificativa

Num momento em que a educação passa por reformulações estruturais e

conceituais tão importantes, a legislação assegura que: “as pessoas com deficiência

possam ter acesso ao ensino primário inclusivo, de qualidade e gratuito, e ao ensino

secundário, em igualdade de condições com as demais pessoas na comunidade em

que vivem”. (BRASIL, 2009, p. 13).

Alguns fatores foram decisivos para essa pesquisa: a carência de referências

teóricos que abordem o tema Matemática para pessoas com Necessidades

Educativas Específicas (NEE) que são pouco encontradas, a importância de se

conhecer práticas pedagógicas e as dificuldades de aprendizagem dos alunos com

Deficiência Intelectual nas aulas de Matemática.

No decorrer da pesquisa foi ministrado alguns minicursos com materiais

pedagógicos confeccionados com materiais reutilizáveis pode ser utilizado em sala

de aula para auxiliar ou complementar o ensino/aprendizagem de Matemática para

os alunos com ou sem " Deficiência Intelectual". Envolvendo atividades com toda a

turma, em grupos, em duplas ou individual de: Adição e subtração;

Correspondência; Comparação; Classificação; Sequência; Seriação; Inclusão;

Formas Geometricas e Conservação.

284

Dessa forma, faz-se necessário oferecer ao professor oportunidades e

espaços para o aprimoramento de sua prática docente. Com esta pesquisa deseja-

se despertar no docente um novo olhar para a utilização de materiais manipuláveis

confeccionados com materiais reutilizáveis em sua prática tanto como um facilitador

natural das múltiplas relações necessárias ao processo de ensino/aprendizagem, e

que possa fazer sentido para o aluno com "Deficiência Intelectual".

2. Objetivo Geral

A pesquisa tem como objetivo oferecer ao docente a oportunidade de um

trabalho conjunto e interativo para construir e reconstruir recursos utilizando

materiais reutilizáveis que possam contribuir para o ensino/aprendizagem da

Matemática para alunos com Deficiência Intelectual.

3. Objetivos Específicos

Proporcionar ao professor um momento de reflexão sobre a utilização de

materiais manipuláveis confeccionado com materiais reutilizáveis no

ensino/aprendizagem a partir de experiências teóricas/práticas, nas aulas de

Matemática para alunos com Deficiência Intelectual.

Sensibilizar quanto a aspectos envolvidos nas atividades lúdicas;

Possibilitar a análise e reflexão sobre as situações/atividades lúdicas;

Proporcionar vivências lúdicas por meio de materiais manipuláveis

relacionados à atividade docente.

Fotos das oficinas

285

Foto: Cláudio Leite Foto: Cláudio Leite

286

Foto: Cláudio Leite Foto: Cláudio Leite

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988.

______. Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011. Dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências. Brasília, 2011.

______. Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Brasília, 2009.

______. Marcos Político-Legais da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2010.

FONSECA, Maria da Conceição F.R. Educação Matemática de Jovens e adultos. 2ª Ed. Belo Horizonte: Autentica, 2007.

GOMES, Adriana Leite Lima Verde; POULIN, Jean-Robert; FIGUEIREDO, RV de. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: o atendimento educacional especializado para alunos com deficiência intelectual. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2010.

LORENZATO, Sergio. O Laboratório de Ensino de Matemática na Formação de Professores. 3º Ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2010.

ROZAL, Edilene Farias. A modelagem Matemática como caminho para trabalhar a Educação de Jovens e Adultos. X Encontro Brasileiro de Estudantes de Pós-Graduação em Educação Matemática. Belo Horizonte - MG, 2006.

SAMPAIO, Cristiane T.; SAMPAIO, Sônia R. Educação Inclusiva: o professor mediando para a vida. Salvador: EDUFBA, 2009.

287

RELATOS DE EXPERIÊNCIAS

SUBTEMA 8: Práticas de alfabetização e letramento nos diversos

componentes curriculares

Resumo: Alfabetizar e letrar incitam ações didáticas e metodológicas para as quais

a mediação pedagógica é essencial. Para além da tradição quanto ao ensino das

linguagens como foco em Língua Portuguesa e Matemática, este subtema aceitou

trabalhos que apresentem experiências de sala de aula que façam a articulação dos

objetos de estudo das diferentes áreas do conhecimento e que promovam

concretamente as competências leitoras, interpretativas e de escrita no

entendimento e intervenção do mundo no momento histórico em que se encontram.

288

"PROJETO RECONTANDO: O JORNAL FALADO E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO"

Vera Márcia da Silva*

*Escola Samaritano, Franca - SP. [email protected]

Resumo: Este trabalho apresenta o relato de experiência do "Projeto

Recontando: o jornal falado e o processo de alfabetização e

letramento" desenvolvido na escola Instituto Samaritano de Ensino, em

Franca SP, com alunos de 5º ano do Ensino Fundamental I. A partir do

Material Didático Positivo (MDP) de Língua Portuguesa, Volume 2,

Unidade 3 – “Qual é a sua opinião?”, foi possível explorar com os

alunos as diferenças entre as várias seções de um jornal e seus

gêneros próprios a proposta de se estudar gêneros jornalísticos.

Utilizando-se do jornal impresso como instrumento de apoio no

processo ensino-aprendizagem, a partir da leitura de notícias

jornalísticas veiculadas durante os meses de setembro e outubro, os

alunos deveriam recontá-las através de um jornal falado. E, para tal,

imprescindível se tornou a necessidade de redigi-las, adequando-as de

modo a torná-las inteligíveis para si mesmos bem como para toda

classe. Poucos trabalharam individualmente; a maioria optou por

realizar a tarefa em duplas e trios, e todos contaram com o apoio da

família para a realização de entrevistas, cartazes, vídeos, reportagens,

fotos etc. Os resultados alcançados pelos alunos a partir do exercício

da expressão oral e escrita têm sido significativos o que favoreceu a

continuidade do projeto no 4º bimestre.

Palavras-chave: Jornal impresso - Jornal falado - Letramento. Introdução

Com o objetivo de efetivar a participação dos alunos do 5º ano no Programa

“Jornal Escola 2015”, desenvolvido pelo Jornal Comércio da Franca em parceria

com algumas escolas da cidade e região, optou-se por realizar um trabalho que, de

289

fato, despertasse o interesse das crianças em saber qual a função dos jornais, como

são organizados e de que tratam.

Felizmente, o Material Didático Positivo (MDP) de Língua Portuguesa, traz no

Volume 2, Unidade 3, a proposta de se trabalhar com gêneros jornalísticos. E, foi a

partir do material didático dos alunos que esse projeto se efetivou e ampliou de tal

forma que não se limitará apenas ao 3º bimestre, como proposto no início.

Mas, como promover o interesse das crianças pela leitura de jornais quando

as notícias veiculadas não despertam o interesse do público infantil? Ao navegar

pela internet em busca de alternativa, chegou-se ao site recontando.com - o

jornalismo na medida das crianças, criado por Simone Ronzani.

Nesse site, através de vídeos, as notícias de maior impacto ganham vida e

movimento ao serem “recontadas” sob a forma de animação. Evidente que os alunos

se apaixonaram pela proposta da jornalista, criadora do site.

É importante ressaltar que o objetivo primordial do “Recontando” é estimular o

espírito crítico e aprendizagem cidadã, e ao mesmo tempo, desenvolver o hábito da

leitura e escrita, tendo o jornal como instrumento de informação e compreensão da

realidade social.

Desse modo, o projeto se estruturou seguindo algumas etapas.

Metodologia Através das Orientações Metodológicas contidas no Material Didático Positivo de

Língua Portuguesa (MDP), do referido volume, as habilidades específicas do artigo

de opinião, da notícia, reportagem, entrevista, charge e outros gêneros jornalísticos

foram sendo exploradas, tais como: a) identificação: do assunto/tema, do(s)

interlocutor(es), do suporte original, do efeito de sentido produzido pelo uso de

recursos gráfico-visuais e das informações explícitas e implícitas distribuídas ao

longo do texto; b) compreensão da importância do texto não verbal na sua relação

com o texto verbal. Concomitantemente, à medida que se desenvolviam essas

habilidades específicas, as três classes envolvidas (5ºs anos A/B/C) foram

produzindo o jornal falado. Espontaneamente, foram distribuídas as funções de cada

aluno para a produção e apresentação: âncoras, repórteres, entrevistadores,

chargistas, quadrinistas, críticos literários etc.

290

Selecionadas as matérias, veiculadas no Jornal Comércio da Franca entre os

meses de agosto e setembro, os alunos recontaram-nas com as próprias palavras,

mantendo o zelo com a linguagem formal ao evitarem o uso das expressões: daí né;

tipo assim; aí né; por causa que, as quais fazem parte da linguagem coloquial

(falada).

Em duplas, trios ou individualmente, transformaram-nas em reportagens,

entrevistas, charges, tirinhas, artigos de opinião, classificados poéticos, resenha

crítica de filme e livro, leads (lides) e criação de propagandas.

A partir da notícia que exemplifica este projeto, alunos responsáveis por ela

foram até ao Burger King e ao Giraffas (Franca Shopping) e fizeram uma entrevista

com os gerentes, filmaram, tiraram fotos com a colaboração de familiares. Algumas

crianças optaram por gravar vídeos; outras escolheram fazer ao vivo, e todas se

caracterizaram para o Jornal Falado.

291

Eis algumas matérias abordadas no jornal falado do 3º bimestre: Problemas

provocados pelo lixo; Uso consciente da água e energia; Crise hídrica em SP;

Conflitos no Oriente Médio impedem milhões de crianças de frequentarem escolas;

Inauguração do Quiosque “Tapioca da Rê” no Franca Shopping; Estudo revela os

prejuízos que a tecnologia pode causar às crianças e outros.

Outro cuidado que se teve ao apresentar o Recontando, foi o de respeitar as

concordâncias verbal e nominal, além de se observar a conjugação dos verbos. No

transcorrer do bimestre, foi possível notar que os alunos melhoraram a capacidade

de se comunicar. Podem-se ver algumas fotos da apresentação dos alunos.

Burger King aceita convite de Giraffas e repete proposta a McDonald's

Brasil e Mundo Geral 03/09/2015 Foto(s): Reprodução Facebook

Giraffas e Burger King farão parceria no Dia da Paz

A polêmica sobre a proposta do Burger King em criar um lanche combinado no Dia

da Paz teve nesta quarta-feira, dia 2, um novo capítulo. Em uma carta aberta, a empresa convida outras redes de lanchonetes a participar do

projeto. São convidadas a Denny's, a Wayback Burgers, a Krystal, o Giraffas e por último, o McDonald's. "Como sabemos, recentemente convidamos nossos companheiros do McDonald's propondo unir forças para aumentar a conscientização quanto ao Dia da Paz Mundial, no dia 21 de setembro. Embora eles tenham se recusado a participar, nossa proposta original está em pé. McDonald's, por favor, não tenha pressa, estamos totalmente em paz com isso", afirma a carta.

Em seguida, o Burger King confirma ter aceitado as ofertas de parceria do Denny's, Wayback Burgers, Krystal e Giraffas, explicando que fará a união dos principais lanches de cada um para criar algo inesquecível.

Com a proposta de pedir uma trégua em comemoração ao Dia da Paz (21 de setembro), o Burger King fez uma campanha, convidando o McDonald's a criar junto deles um lanche que unisse os dois hambúrgueres principais das duas redes.

O projeto foi recusado pelo McDonald's que terminou sua explicação com uma declaração considerada grosseira por muitos internautas, afirmando que um simples telefonema bastaria.

gcn.net.br - Jornal Comércio da Franca

292

Alunos do 5º ano B após a apresentação do jornal falado.

Âncoras: Bruna Pena e Souza e Yngrid Valadares e Guilherme Buranelli - 5º A.

Miguel Nassif - João Victor Meleti Rodrigues - Guilherme Ângelo –

alunos do 5º ano A

Pedro Sato - 5ºano C - charge criada para a matéria “Crise hídrica em São Paulo”.

Aluna Esther Martins - 5º ano C - durante a apresentação do jornal

293

Análise e discussão

Importante considerar que durante muito tempo, o texto servia apenas como

fonte de informações e para se ensinar gramática. Foi a partir do ano de 1996 que

vieram à tona, mais uma vez, os questionamentos a respeito do trabalho com o

texto.

Com a divulgação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), leitura e

produção textual, passam a exercer papel relevante no ensino da Língua

Portuguesa.

Formar um leitor competente supõe formar alguém que compreenda o que lê; que possa aprender a ler também o que não está escrito, identificando elementos implícitos; que estabeleça relações entre o texto que lê e outros textos já lidos; que saiba que vários sentidos podem ser atribuí- dos a um texto; que consiga justificar e validar sua leitura a partir da localização de elementos discursivos que permitam fazê-lo.” (PCNs 1999)

O jornal - impresso e falado - tem se tornado um recurso bastante frequente

na sala de aula com o intuito de melhorar a prática pedagógica. O mestre do

trabalho e do bom senso, Freinet (1976), notou a necessidade de inovação da

prática pedagógica a partir da imprensa.

Ele asseverava que o jornal é um recurso, uma técnica que faz com que os

alunos desenvolvam um senso crítico, construindo e cultivando conhecimentos e

interesses necessários ao desenvolvimento de seu pensamento e de sua cultura.

O que se comenta é que se aprende a escrever, escrevendo. E aprende-se a

ler, lendo. E lendo as crianças se tornam leitoras. Parece simples, entretanto, o

baixo nível de compreensão leitora não se revela apenas na leitura de textos da

disciplina de Língua Portuguesa, mas também em outras, pois todas demandam

raciocínio, habilidade para o entendimento de ideias e, principalmente,

conhecimentos prévios (FREIRE, 2001).

Desse modo, é preciso que a criança seja capaz de fazer, primeiramente,

uma leitura contextualizada do mundo, com tudo o que a cerca, ou seja, é preciso

Pedro Henrique Polo - Túlio Teixeira Silva – Guilherme Franchini de Sousa - alunos do 5º C

294

que, antes de estar alfabetizada na língua materna, ela esteja alfabetizada

politicamente, pois, assim, terá melhores condições de se apropriar do sentido e do

conceito do que lê e sobre o que lê.

Vale ressaltar que Freire já considerava a concepção do letramento na

aprendizagem da leitura e da escrita, embora não fizesse uso do termo. A questão

relevante é: Não basta ler, é imprescindível ler bem, ter fluência leitora para

compreender o que está escrito.

Dentre as várias estratégias existentes para essa aquisição, destaca-se a

pesquisa de Fulgêncio e Liberato (2000) que apontam para a importância do que

denominam informação não visual (InV), abrangendo, além do conhecimento

implícito da língua, várias outras modalidades de conhecimentos que, inter-

relacionados, constituem a teoria de mundo de cada indivíduo e estão arquivados na

memória a longo prazo:

“Resumidamente, podemos afirmar que a leitura é o resultado da interação

entre o que o leitor já sabe e o que ele retira do texto. Em outras palavras, a leitura é

o resultado da interação entre IV e InV”.(FULGÊNCIO &LIBERATO, 2000, p. 14). As

autoras apresentam a seguinte fórmula:

É possível compreender o que está exposto a partir do trecho extraído da

notícia Giraffas e Burger King farão parceria no Dia da Paz. “McDonald's, por favor,

não tenha pressa, estamos totalmente em paz com isso.”

A frase traz informações que não estão explícitas no texto (InV), mas que

estão subentendidas. Caso o leitor não consiga percebê-las, dificilmente conseguirá

notar a coerência entre o termo paz, que dá nome ao lanche, e paz - estado de

harmonia que faltou ao McDonald‟s ao rejeitar o acordo proposto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

LER = Informação Visual + Informação não Visual

LER = IV + InV

295

Por meio da experiência em sala de aula, leitura e produção do jornal falado,

verificou-se que as crianças compreenderam a função dos jornais, como são

organizados e de que tratam.

Mais que isso, o projeto Recontando: o jornal falado e o processo de

alfabetização e letramento vem despertando nas crianças a capacidade de

argumentar, de posicionar-se criticamente sobre o que acontece ao seu redor e ao

redor do mundo, além do desenvolvimento de habilidades e conhecimentos

linguísticos presentes nas atividades do material Didático Positivo (MDP).

A motivação se deu a partir do momento em que foi apresentado para o 5º

ano o site recontando.com. A maneira criativa como as matérias sobre política,

economia, educação, problemas sociais – água e lixo são apresentadas, facilita a

compreensão e aguça a curiosidade infantil para os assuntos atuais.

Fica claro que, ao professor cabe a tarefa de favorecer ao aluno o acesso à

leitura e à reflexão dos diversos gêneros textuais. No caso em pauta, o jornalístico

teve relevância.

É preciso considerar outro aspecto relevante. A partir do 3º bimestre, o que se

vê não só nas aulas de Língua Portuguesa, mas também em outras disciplinas e até

mesmo em casa, junto à família, é uma enorme preocupação das crianças com a

oralidade.

Se, porventura, escapam-lhes as expressões da linguagem coloquial: daí né;

tipo assim; aí né; por causa que, imediatamente elas próprias reconstroem a frase

fazendo o uso de uma linguagem mais elaborada, dispensando inclusive a

intervenção da professora de Língua Portuguesa ou de um adulto.

É notório que o 5º ano melhorou de modo significativo a capacidade de se

comunicar a partir do momento que são respeitadas as concordâncias verbal e

nominal e a conjugação dos verbos.

Assim, somente assim, é possível formar alunos letrados que saibam ler e

dialogar com os textos, na condição de leitores de textos alheios ou de escritores de

seus próprios textos.

O projeto continua no 4º bimestre a fim de se aprimorar o que vem sendo

trabalhado. A ênfase será com relação à pesquisa de Fulgêncio e Liberato (2000),

296

no que se refere ao valor das informações visuais e não visuais para a aquisição da

leitura.

Referências Bibliográficas http://www.filologia.org.br/xiv_cnlf/tomo_3/2215-2225.pdf - A leitura na escola: o intertexto como fator de interpretabilidade - Márcia Leite Alfabetizando e letrando... o despertar e a tessitura de conhecimentos nos caminhos trilhados - Andrea da Paixão Fernandes - file:///C:/Users/VeraPC/Downloads/11473-14347-1-PB.pdf Material Didático Positivo de Língua Portuguesa (MDP) – Ensino Fundamental I – 5º ano – autora: Rosalina Mariana Rathlew Soares 2013 – Editora Positivo – Curitiba/PR Como facilitar a leitura – Lúcia Fulgêncio/ Yara Liberato – Editora Contexto – 1992 - São Paulo/SP FREINET, C. O jornal escolar. Lisboa: Estampa, 1976. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 45. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

Leituras sem livros Leitura digital com eReaders para professores e alunos

Paulo M. Faria1, Ádila Faria2 e Altina Ramos3

1CIEd – Centro de Investigação em Educação – Universidade do Minho –

[email protected]. Braga, Portugal.

297

2CIEd – Centro de Investigação em Educação – Universidade do Minho –

[email protected]. Braga, Portugal. 3Professora e Investigadora na Universidade do Minho – [email protected]. Braga –

Portugal.

.

Resumo: É hoje amplamente reconhecido que a revolução digital a que

assistimos tem provocado uma alteração profunda na forma como se lê

e nos meios de acesso e reprodução da informação. Nesse contexto,

não se pode ignorar que a proliferação de dispositivos tecnológicos

digitais exige da escola uma resposta inventiva na descoberta de

estratégias inovadoras para que se leia mais e melhor. Pretende-se,

então, que a multiplicação de ecrãs e o mobile learning constituam

oportunidade para responder a essa problemática complexa da

promoção da leitura tanto na dinamização da biblioteca escolar como

no ensino do Língua Portuguesa e das línguas em geral. Respondendo

a esse desafio, apresentamos neste artigo resultados prévios de um

estudo exploratório, inspirado em metodologias participativas próximas

da investigação-ação, para desenvolver todas as ações na escola e

com os professores.

Abstract: It is now widely recognized that the digital revolution we are witnessing

is causing a profound change in how we read and in the means of

access and reproduction of information. In this context, it cannot be

ignored that the proliferation of digital technology devices requires from

the school an inventive response in the discovery of innovative

strategies to make people read more and better. So it is intended that

the multiplication of screens and mobile learning constitute an

opportunity to respond to the complex problem of reading promotion in

the school library and in the teaching of Portuguese and languages in

general. In response to this challenge, in this paper we present

298

preliminary results of an exploratory study which includes two projects

as well as prospects of evolution for the work already done.

Palavras-chave: Formação de professores. eReader. Leitura. Mobile learning.

Keywords: eReader. Mobile learning. Reading. Teacher training.

1. INTRODUÇÃO

Partimos do pressuposto de que um dos mandatos centrais e inalienáveis da

escola é a formação de leitores (DUARTE, 2013). Da afirmação, certamente

incontroversa, temos presente que o espaço natural e emergente do mobile learning

desafia a construção de novos e diversificados modelos pedagógicos (NORDIN,

EMBI, YUNUS, 2010; PARSONS, RYU, CRANSHAW, 2007).

Efetivamente, atender a novos procedimentos de leitura digital não pode

representar enveredar pelo fascínio acrítico da novidade digital que tudo motiva e

que se renova dia após dia através da rede e da multiplicação de ecrãs, por não ter

sujacente evidência empírica, tal como salientaram vários autores a propósito do

que outrora se designou por nativos digitais e outras designações

semanticamentepróximas (MCKENZIE, 2007; KOUTROPOULOS, 2011). E, nesse

sentido, há uma clarividência cada vez mais presente de que a utilização de

dispositivos digitais não é por si mesma uma garantia de benefícios (LIVINGSTONE,

2009) no processo educativo e formativo. Daí resulta a necessidade de

percorrermos um caminho que nos deve conduzir a uma dimensão que ultrapassa

as questões do acesso à tecnologia (LIVINGSTONE, 2009), bem como da sua

utilização instrumental.

Por conseguinte, para se compreender o potencial que a tecnologia digital pode

desempenhar no desenvolvimento cognitivo, na socialização e na aprendizagem em

rede é necessário ter em conta três ângulos distintos, mas complementares: os

professores, os alunos e os dispositivos digitais. Com base em uma visão

integradora dos três elementos, é imperioso que se reflita acerca dos riscos e das

enormes oportunidades e desafios que a autêntica revolução digital, que a todos

299

incorpora, encerra (BARRON, 2006; COLLINS & HALVERSON, 2010). Ao assumir-

se a revolução digital em curso (GREEN, 2010), é necessário reaprender a

ensinar, no sentido de assumir as profundas mudanças (HILL; HANNAFIN, 2001; Y.

LI; RANIERI, 2010) de uma sociedade que vive em rede à escala planetária e saber

operacionalizá-las com os alunos na sala de aula e em qualquer lugar a qualquer

hora.

Ora, interessa então numa perspectiva diacrónica, tentar compreender que as

grandes mudanças na tecnologia literária têm circulado em torno de durabilidade,

usabilidade e facilidade de reprodução. A bem-sucedida fusão desses fatores

poderia difundir esta inovação eReader (CAMERON; BUSH, 2011). Mas por que

razão ainda não se chegou mais longe no uso escolar de eReaders? Segundo

Nelson (2008), uma das principais barreiras à sua integração é a disponibilidade do

corpo docente (se bem que neste caso se refira ao Ensino Superior). O autor afirma

caber aos professores descobrir materiais didáticos digitais e mais evidência

empírica para que melhorem as aprendizagens dos alunos. Mas parece não ser

pacífica essa posição de colocar a responsabilidade do não uso de eReaders

imputada aos professores, porque as atitudes de adoção, rejeição e de convergência

estão situadas em vários planos (CHEN; GRANITZ, 2012). As investigações são

consonantes no ponto de que, para haver sucesso, o corpo docente precisa de se

formar, reiterando a ideia da relevância das metodologias (GRAYDON, URBACH-

BUHOLZ, KOHEN, 2011).

Atualmente, fazem-se prognósticos muito diversificados acerca do futuro do livro.

Quanto a essa questão, não defendemos uma posição maniqueísta, mas

acreditamos na coexistência enriquecedora dos suportes analógicos e digitais –

portanto, é desejável que os livros em papel e em suporte digital coexistam. A este

propósito, defendemos a posição expressa a seguir:

The book has many futures ahead, as many as the various hybrid forms it is going to evolve into. Some such forms, as it has been predominantly the case so far, will aspire to be literal translations of the printed page into its digital representation, while others are going to develop into multimedia art forms connected to the World Wide Web. In any case they will all be part of a complex media system, which includes not only social, economic, and cultural issues but also the authors‟ and the readers‟/viewers‟ collective perspectives, dreams, and aspirations (Notaro, 2012, p. 227).

300

2. PROJETO DE INTERVENÇÃO

Há cerca de três anos realizou-se a primeira experiência exploratória com

eReaders na Escola Básica e Secundária de Vila Cova, Barcelos. Posteriormente, e

na sequência do bom acolhimento do projeto e-leitura e dos indicadores positivos

recolhidos, fui convidado a orientar um Curso de Formação, acreditado pelo

Conselho Científico para professores bibliotecários (CCPFC/AAC-78116/14). Com a

designação Leitura Digital e formação de leitores: desafio para os professores na era

da multiplicação de ecrãs, tinha como objetivo central desenvolver um programa de

formação técnica e pedagógica dirigido aos professores bibliotecários do município

de Barcelos que tutelam as 27 bibliotecas escolares do concelho. A intenção central

passava por desenvolver e potenciar novas formas de leitura na escola junto de

professores e alunos.

A motivação foi comum às duas iniciativas – visava implementar um programa de

formação de âmbito técnico e pedagógico, de modo que os professores de

Português e de Línguas e os professores bibliotecários pudessem conhecer e depois

descobrir o potencial pedagógico associado aos eReaders. Tratava-se, assim, de

dois projetos emergentes, que se foram construindo por meio de uma metodologia

exploratória e que convergiam numa lógica de formar professores para oferecer

novos espaços de leitura aos novos leitores. Seguiu, portanto, uma perspetiva

naturalista, indutiva, de atuação no “contexto da descoberta” (LESSARD-HÉBERT,

GOYETTE, BOUTIN, REIS, 1994) com professores e alunos, na sala de aula e em

qualquer lugar onde fosse possível ler. Na perspetiva de que a leitura em suportes

digitais móveis tem um grande potencial e abre novas possibilidades de exploração

em ambiente escolar (SIEGENTHALER, WURTZ, BERGAMIN, GRONER, 2011), os

eReaders, pela sua função praticamente restrita à leitura, podem colaborar para

recentrar a atenção dos leitores na narrativa.

A realização desses projetos indicia ter havido um desenvolvimento de novos

estímulos à leitura, por meio de um conjunto de ações que privilegiaram a utilização

de meios e dispositivos digitais. Na verdade, propôs-se um novo paradigma que

passou por desenvolver um modelo emergente de formação de professores para

301

utilização de meios e novas estratégias que fomentassem a proficiência leitora dos

alunos, desde o acesso, partilha e disponibilização de textos literários.

3. METODOLOGIA

Ambos os projetos elegeram a análise de conteúdo Bardin (1979) como principal

técnica de análise de dados e seguiram pressupostos epistemológicos ligados a

metodologias participativas próximas da investigação-ação. Nesse sentido, o

processo associado à investigação-ação estabeleceu na dinâmica iterativa a

característica mais distintiva, no caso deste estudo, cujas etapas se detalharam ao

longo da conceção das atividades, dos projetos, nas planificações didáticas e nos

planos de intervenção, baseado na:

análise e reflexão sobre as práticas de ensino;

identificação dos aspetos que se podem alterar ou melhorar;

conceção de ideias e planos de intervenção;

modificação dos planos à luz dos resultados e continuação com a ação;

controlo da ação;

avaliação das estratégias.

Os dados foram recolhidos por meio da observação participante, de conversas

informais e de notas de campo. Esses instrumentos se beneficiam da existência de

um vínculo forte entre o investigador e os participantes de forma a poder estudar

ativamente os fenómenos delimitados para a investigação (CAMERON; BUSH,

2011; GRAUE; WALSH, 1998). Com o decurso do tempo, compreendemos a

importância das conversas informais na descoberta de novos elementos

emergentes, dos mais elementares nas palavras, atitudes e planos de trabalho e

outras manifestações que só se compreenderiam no diálogo com os professores

envolvidos. Relativamente às notas de campo, estão especialmente ligadas às

conversas informais, fundamentais no estudo que privilegia a observação

participante que, segundo Bogdan e Bilken (1994) contribuem, globalmente, para

que cada ação se compreenda.

302

Definimos a categoria promoção da leitura e formação de leitores e as

subcategorias comuns: (i) concentração; (ii) vocabulário (dicionário integrado); (iii)

leitura analítica; (iv) hábitos e leitura; (v) intertextualidade; (vi) motivação

4. RESULTADOS

Os eReaders utilizados neste projeto, pelas suas características técnicas,

estão praticamente limitados à sua funcionalidade principal, que é disponibilizar

textos para leitura. Foi nesse contexto que, depois de os professores conhecerem

mais aprofundadamente o dispositivo digital, afirmaram por diversas vezes que as

suas limitações intrínsecas poderiam ser uma vantagem no desenvolvimento de uma

leitura mais linear e, sobretudo, aumentar o tempo da concentração.

Uma segunda categoria emergente da análise de conteúdo realizada revela a

facilidade de acesso táctil aos dicionários de Português ou de outras línguas,

favorecendo o desenvolvimento do vocabulário dos alunos ao enriquecer o seu

campo lexical. Ao mesmo tempo ampliou e diversificou o campo de propostas

didáticas. Em terceiro lugar, foi possível proceder a técnicas de leitura analítica e

pesquisa de termos. Por último, referiu-se a intertextualidade como um fator muito

relevante na medida em que permitiu estabelecer relações formais ou de sentido em

vários textos, abrindo redes semânticas entre textos. Em síntese, sistematizou-se

um conjunto de vantagens evidenciadas pelo uso dos eReaders, pelos professores e

alunos:

Portabilidade, que se repercute na rentabilização do tempo para ler.

Capacidade de armazenamento de mais de mil livros e uma autonomia que

ultrapassa um mês.

O tipo de ecrã utilizado, pela sua natureza, é também muito agradável para

ler e não tem qualquer tipo de problema em ser utilizado na rua, mesmo com

muito sol. O cansaço visual é equivalente ao que temos ao ler um livro em

papel.

Além disso, é também bastante fácil tirar notas, sublinhar partes interessantes

e exportá-las.

O leitor de e-books permite a leitura de vários livros ao mesmo tempo.

303

Dispõe-se de um grande acervo de livros gratuitos, pertencentes ao domínio

público.

Faculdade de comparar um e-book e recebê-lo no momento e em qualquer

lugar.

O dicionário integrado permite ler mais facilmente um livro numa língua

estrangeira.

As afirmações que seguem foram proferidas num quadro comparativo com outros

gadgets que permitem aceder à Internet, permitindo o que vulgarmente se apelida

de multitasking, e, por conseguinte, favorecem a dispersão e o foco de atenção. A

fruição estética de uma obra literária exige que o leitor focalize a sua atenção.

O que aprecio mais no eReader é que não serve para mais nada, senão ler. [QPBGN] Quando começamos a formação e peguei pela primeira vez num Kobo e pensei cá para mim: isto vai ser mais do mesmo. Afinal, depois percebi que o Kobo é diferente. [CPBVT] O Kobo tem a vantagem de evitar a dispersão para outras utilizações típicas dos dispositivos móveis que são também fonte de motivação numa fase inicial da promoção da leitura. [CPBP]

O eReader Kobo, ao permitir aceder aos dicionários de Português ou de Língua

Estrangeira, por meio do acesso táctil, está naturalmente a favorecer o

desenvolvimento do vocabulário dos alunos a enriquecer o seu campo lexical e a

ampliar um campo de propostas didáticas diversificado, de forma até eventualmente

mais lúdica.

Penso que o dicionário incorporado é uma mais-valia para os alunos entenderem melhor; contudo, nesta primeira fase, e atendendo à curiosidade característica dos alunos, é também um pouco distrator, requerendo de nós, professores, um grande controlo da aula/turma. [QPBVT] O dicionário integrado é uma ferramenta poderosa, porque permite diversificar as tarefas a desenvolver na sala de aula. A consulta é imediata e dá para fazer jogos de palavras e competições. [QPBB]

Os Programas de Português– coordenados por Reis (2009) sublinham a

importância de tornar a leitura um processo interativo estabelecido entre o leitor e o

304

texto, exigindo do leitor “vários processos de actuação interligados: decifração de

sequências grafemáticas, acesso a informação semântica, construção de

conhecimento” (p. 26), de “diferentes tipos de textos e em suportes variados para

obter informação e organizar conhecimento” (p. 26). A diversidade de atividades a

realizar com os alunos passa por “localizar a informação pretendida” (p. 36) e

“utilizar, de modo autónomo, a leitura para localizar, seleccionar, avaliar e organizar

a informação” (p. 123). O recurso ao eReader facilitará sem dúvida a “activação de

estratégias variadas de leitura: global, selectiva, analítica; leitura a partir de

diferentes suportes da informação (p.123).

O Kobo permite fazer pesquisa de termos ou palavras. Isso pode dar para trabalhar aspetos mais particulares da obra tendo em conta a sua globalidade. [CPVC] Há atividades de leitura que só podemos operacionalizar em excertos curtos. O eReader dá para correr o livro todo do fim para o princípio e do princípio para fim, facilmente. [CPVE]

Os hábitos de leitura são construídos num processo moroso, e precisam de ser

consolidados ao longo de todo o percurso escolar dos alunos. É necessário construir

referenciais e pensar em estratégias que os sustentem.

[Os Kobo] são um grande atrativo pois são dispositivos de utilização "quase" intuitiva por grande parte dos nossos alunos. São também uma fonte de motivação e concretização de conteúdos. […] Numa primeira fase, os eReaders serão uma fonte de motivação acrescida, quer pela curiosidade, quer pela inovação. Posteriormente funcionarão mais como facilitadores da leitura (pela sua portabilidade e acessibilidade), consolidando e "viciando" mais leitores. [QPBP]

Os Programas são explícitos no que se refere ao lugar que deve merecer a

intertextualidade nas planificações didáticas. Aliás, consideram, que os professores

deverão levar em linha de conta a intertextualidade com um critério prioritário na

hora de construir os corpora textuais. Assinalam que devem “interpretar várias

modalidades e relações de intertextualidade” (p. 134) e “identificar relações, formais

ou de sentido, em vários textos, abrindo redes intertextuais” (p. 85).

Talvez mais para nós do que para os nosso alunos, poder andar com muitos livros é uma vantagem. Com o eReader podemos escolher o livro que

305

queremos ler, porque às vezes não apetece continuar o mesmo, não é verdade? [QPBM] Está tudo lá! [CPBF]

A motivação para a leitura pode fazer-se por meio de um sem-número de

procedimentos e estratégias. O recurso a dispositivos digitais para ampliar o valor

didático da leitura está bem presente nas potencialidades inerentes aos eReaders.

Nesse caso, também a facilidade de utilização é uma grande vantagem. Um dos

aspetos ainda pouco explorados, mas muito importantes, tem que ver com a

possibilidade de “explorar formas de interessar e implicar os leitores, considerando o

papel da audiência na construção do sentido” (p. 126). Esse assunto pode ser

explorado por meio da divulgação dos próprios textos dos alunos nos eReaders.

Esta ferramenta foi muito importante na motivação para a leitura, o seu manuseamento não foi difícil, os próprios alunos estavam à vontade quando tinham que fazer qualquer alteração no documento ou mudar de página. [CPBL] Eles estão no seu mundo. [QPBM]

5. CONCLUSÕES

Esses resultados, ainda que preliminares, revelam benefícios inerentes aos

suportes digitais como incentivos à modificação das atitudes dos professores diante

das tecnologias (J.-Q. CHEN; CHANG, 2006), especialmente da utilização de

eReaders. Os novos suportes de leitura podem trazer inovação e vantagens

evidentes para as práticas pedagógicas, implicando aprendizagens não só em nível

tecnológico e metodológico, mas também no plano relacional com os alunos. Assim,

as tecnologias digitais criam oportunidades de leitura e também na escrita que

desafiam as práticas das escolas tradicionais (COLLINS; HALVERSON, 2010) para

uma nova realidade ancorada numa ecologia de aprendizagem – como define

Barron (2006) –em que o ato de aprender acontece cada vez mais em contextos

informais.

Os dados disponíveis levam a concluir que se desenvolveram novos

estímulos à leitura, por meio de um conjunto de estratégias que privilegiaram a

utilização de eReaders na escola. Por outro lado, as novas ações surgem na

306

sequência e como resposta ao desenvolvimento de um modelo emergente de

promoção da leitura que tem em conta novos meios de acesso, partilha e

disponibilização de textos literários. Na linha de Chartier (2010), assumimos que a

terceira revolução do livro não se faz unicamente notar nos suportes físicos, mas

também na forma como circula, se acede ou partilha os novos livros.

Motivados por esses bons resultados, e apoiados nos estudos de Goodwyn

(2014), submeteu-se uma candidatura ao Projeto Estímulo da Melhoria das

Aprendizagens (EMA) da Fundação Calouste Gulbenkian, que foi aceite em julho de

2014 para financiamento de 80 eReaders e outros recursos – e também para apoio

para a formação de professores. Nesta fase, tendo presente que esta é uma área

onde é necessário desenvolver conhecimento, o universo das ações deste projeto

serão analisadas no âmbito do Pós-doutoramento, aprovado pelo Instituto de

Educação em julho de 2015.

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Multiletramentos em aula de Ensino Fundamental: Ampliando os Conceitos de Linguagem na fase de

alfabetização, com alunos na faixa etária de 6 a 7 anos do 1o

ano do Ensino Fundamental.

Lygia Nascimento de Almeida Vecina*

*Colégio Dom Aguirre Rua Souza Moraes, 305 Sorocaba-SP Brasil.

[email protected]/ [email protected]

Resumo: Ao longo desses anos, lecionando no Ensino Fundamental I, para

crianças na faixa etária entre 6 a 8 anos, me permitiram refletir sobre

as práticas letradas e a mudanças que ocorreram no comportamento

dos alunos em relação ao uso das tecnologias e como essa ferramenta

influenciou nas suas atitudes, brincadeiras e na construção da leitura e

escrita. Dessa forma comecei a observar que essas ferramentas

multimodais, também exigiram uma mudança na postura do educador,

sobretudo, como um trabalho que parte das culturas de referência do

alunado (popular, local, de massa). Dessa forma a proposta é um a

partir de relatos de experiências realizadas no cotidiano escolar,

promovendo uma redefinição da escola como espaço de encontro e

diálogo, produção de pensamento e decantação de experiências.

Palavras-chave: multiletramentos- alfabetização- conexões- cotidiano escolar

1- INTRODUÇÃO

1.1 Ampliando os conceitos de linguagem

309

Esse artigo faz parte de uma pesquisa no cotidiano escolar onde pretendo

apresentar uma articulação de pensamentos que consistem na criação de conceitos

do devir da educação. Esse termo é utilizado, pois quer indicar que muitas

habilidades encontradas no cotidiano dos alunos não aparecem no contexto

pedagógico da escola, que na sua maioria insistem em continuar sustentando na

ideia da “cultura letrada”, caminhando em direção oposta ao universo infantil que se

conecta e se relaciona com as múltiplas linguagens.

No decorrer dos anos, trabalhando com crianças na fase de alfabetização no

Ensino Fundamental I, com alunos na faixa etária entre 6 a 8 anos, permitiram fazer

reflexões acerca dessas práticas letradas e a mudanças que ocorreram no

comportamento dos alunos em relação ao uso das tecnologias e como essa

ferramenta influenciou nas suas atitudes, brincadeiras e na construção da leitura e

escrita.

Dessa forma comecei a observar que essas ferramentas multimodais,

também exigiram uma mudança na postura do educador, sobretudo, como um

trabalho que parte das culturas de referência do alunado (popular, local, de massa).

Assim, a escola na contemporaneidade necessita de uma mudança radical,

uma redefinição onde ela possa multiplicar suas conexões disseminando sua

prática, formando redes. Os Multiletramentos desde cedo, já fazem parte da cultura

do alunado, assim novos desafios são postos à escola e convém que o professor

esteja atualizado no manejo das (TICs) tecnologia de informação e conhecimento.

De acordo com Pedro Demo:

O termo “multi-alfabetizações” quer indicar que alfabetização se tornou plural, porque são muitas as habilidades esperadas para enfrentar a vida e o mercado hoje, com destaque para fluência tecnológica. O termo “novas alfabetizações” sugere que há outras motivações para a alfabetização oriundas em geral das novas tecnologias, não bastando saber ler, escrever e contar.

Dessa forma, surge um questionamento acerca do trabalho em sala do

professor, de engajar a criança nesse processo, traçando estratégias de ensino

utilizando os conhecimentos prévios dos alunos, tecendo uma rede que engloba a

“cultura da imagem”.

Nesse sentido Rojo apresenta os princípios básicos dessa pedagogia. Formar um usuário funcional (que tenha “competência técnica e conhecimento prático”), criador de sentidos (“entenda como diferentes tipos de textos e de

310

tecnologias operam”), analista e crítico (“ entenda que tudo o que é dito e estudado é fruto de seleção prévia”) e transformador (“usa o que foi aprendido de novos modos”). Essa pedagogia envolve uma “prática situada”, ou seja, baseia-se inicialmente, em práticas que fazem parte das culturas dos alunos (de massa, popular, erudita), em gêneros, mídias e linguagens por eles conhecidos, envolve “instrução aberta”, ou seja, uma análise dessas práticas, gêneros, mídias e linguagens e de seus processos de produção e de recepção, o que se dá a partir de um “enquadramento dos letramentos críticos que buscam interpretar os contextos sociais e culturais de circulação e produção desses designs e enunciados”, tendo em vista uma prática transformadora.

Percorrendo pela história do processo de ensino aprendizagem verificamos

que, durante muito tempo o que predominava em nossas escolas era o

entendimento que a alfabetização acontecia em partes, descontextualizada das

práticas vivenciadas pelos alunos. A alfabetização se baseava no ensino de

codificação e decodificação de letras, palavras, frases e textos sem sentido que não

condiziam com os conhecimentos prévios da criança. Ficando excluídos os

indivíduos que não conheciam esse sistema de escrita tornando-se, marginalizados

pela sociedade e rotulados como analfabetos.

A partir dos anos de 1990 alguns conceitos foram modificados que trouxeram

reconhecimento de que mesmo um cidadão que não sabe ler e escrever o código

tem uma representação acerca da função social da escrita, pois é capaz de realizar

tarefas complexas orientadas por tal representação. Assim, letramento passou a ser

o termo pelo qual poderíamos explicar a revolução sócia histórica que a escrita

provocou na nossa sociedade.

É nesse sentido que segundo Paulo freire (1980) saber desfrutar desta leitura

e escrita e transformar-se socialmente, utilizando-a para saber solucionar os

problemas do cotidiano, saber ler e interpretar o mundo em que vive usar essa

habilidade para assimilar, transmitir e produzir conhecimento, competência que, se

adquire com a leitura do mundo, assim “a leitura do mundo precede a leitura da

palavra” as pessoas já conseguem ler o mundo antes mesmo de serem

alfabetizadas e possuírem a tecnologia da escrita.

Deste modo, podemos perceber que as pessoas já possuem letramento

mesmo não sendo alfabetizadas formalmente. As situações cotidianas de práticas

311

sociais, de convivência em grupos específicos já ensinam saberes que se adquire

mesmo sem ir à escola.

Nesse sentido Kleiman (2001) acredita que é na escola, agência de

letramento por excelência de nossa sociedade, que devem ser criados espaços para

experimentar formas de participação nas práticas sociais letradas e, portanto,

acredito também na pertinência de assumir o letramento, ou melhor, os múltiplos

letramentos da vida social, como o objetivo estruturante do trabalho escolar em

todos os ciclos.

Atualmente é preciso que o indivíduo não somente conheça o código

alfabético, como também as integre a múltiplas linguagens que fazem parte desse

plano movente. Aprender é ser suscetível a esses intervalos situados entre os

estímulos do mundo externo e a duração interior, é ser coagido por aquilo que

fulgura nesse ínterim, o signo. Tudo que se aprende é emitido nessa faísca, no entre

tempo, no entre lugar...

No dizer de Soares (2001, p. 47), a alfabetização é definida como “ação de ensinar a ler e a escrever”, já o termo letramento é caracterizado como o “estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce práticas sociais que usam a escrita. ”.

2. Experiências no cotidiano escolar

Assim comecei a minha busca por referenciais teóricos que pudessem me

ajudar oriundos desse contexto contemporâneo onde corpos e subjetividades estão

hiperconexos afetando o funcionamento da escola, instituição idealizada na

modernidade.

Em 2013 eu ingressei no curso de mestrado na UNISO - Universidade de Sorocaba

como aluna especial participei da disciplina de Novos Letramentos e Educação

Superior, onde tive a oportunidade de criar um BLOG, Novos Letramentos na

Educação. Disponível em <www.lyvecina.blogspot.com.br> para registro semanal

das discussões realizadas em aula. Participei do 1º Seminário UNISO-UFSCAR

(Câmpus Sorocaba) Tendências e Desafios da Educação Superior no Brasil.

Embora o Seminário tivesse o enfoque na Educação Superior, busquei

relacionar o tema a minha experiência em alfabetização, pois acredito que os alunos

precisam ser trabalhados em sua totalidade e acolhidos em suas potencialidades.

312

Segundo Faria (2007), “faz nascer uma pedagogia da educação infantil com

uma concepção de criança portadora de história, capaz de múltiplas relações,

construtora de culturas infantis, sujeito de direitos” (p. 280).

Descobrindo e ampliando seus letramentos no contexto escolar, criando

estratégias, não só interagir, mas também produzir e criar conteúdos através das

vivências escolares. Sob a orientação do meu professor elaborei um Pôster com

fotos e relatos das práticas realizadas com meus alunos em sala de aula, onde os

Multiletramentos aparecem no cotidiano escolar. Utilizei como referencial teórico

Rojo, Roxane Multiletramentos na, Ana Carla Coscarelli e Luiz Fernando Gomes.

(Imagem do Pôster em anexo)

No ano seguinte realizei uma nova disciplina onde conheci os conceitos

criados pelos filósofos Deleuze e Guattari e assim mergulhei nas potências da

criação onde novos modos de vida são criados através de rizomas, onde a

aprendizagem de uma vida busca a transformar uma ação no ato infinitivo de pensar

as forças que compõem a vida em suas múltiplas singularidades.

Dessa forma comecei a pensar a educação como acontecimento: o devir pela

transformação, uma Pedagogia rizomática que faz de cada encontro uma nova

aprendizagem e onde as conexões de saberes se envolve em uma multiplicidade de

experiências na sua horizontalidade onde não vemos o começo nem o fim,

inteiramente voltado para uma experimentação ancorada no real. Esses e outros

conceitos Deleuzianos que ficarão para outro artigo em outro momento, mas que eu

não poderia deixar de citá-lo como uma fonte inspiradora dessa produção atual, pois

senti o quanto esse filósofo pode contribuir ainda que no devir na educação

brasileira, pois seus conceitos nos remetem a pensar a educação, um renovo.

3. Síntese comentada sobre as leituras realizadas

Deleuze o filósofo do devir, da contemporaneidade, faz dos filósofos antes de

tudo um roubo. Deleuze afirma que “roubar é o contrário de plagiar, de copiar, de

imitar ou fazer como”. (...) A produção depende de encontros, encontros são roubos

e roubos são sempre criativos, roubar um conceito é produzir conceito novo. Nesse

sentido a filosofia de Deleuze pode ser vista como um desvio. Guiles Deleuze foi o

313

filósofo da multiplicidade e afirma que a filosofia é a teoria das multiplicidades. A

filosofia de Deleuze não é de forma alguma uma filosofia do Uno. A intuição, em

Deleuze, é um trabalho de pensamento que, articulando multiplicidades de

conceitos, intui novos conceitos.

Para Rojo, em seu livro Multiletramentos na escola, o mundo expressa e se

comunica por meio de textos multissemióticos (impressos ou digitais), ou seja, textos

que se constituem por meio de uma multiplicidade de linguagens (fotos, vídeos e

gráficos, linguagem verbal oral ou escrita, sonoridades) que fazem significar estes

textos.

Os multiletramentos são “híbridos”, são interativos, colaborativos, sobretudo se

pensarmos na tecnologia digital e suas ferramentas como, por exemplo, o blog.

Também são “subversivos”, sobretudo se consideramos o design do hipertexto, que

permite várias conexões e trajetórias.

O protótipo é um trabalho descrito em seu livro cujo objetivo é formar as

crianças nos anos iniciais (1º e 2º anos) para que saibam utilizar a tecnologia com

propriedade. Segundo Rojo

O trabalho tem início a partir das coleções dos alunos. A partir de seu mundo conhecido, ele será desconstruído e reconstruído será hipermodal, na medida em que as conexões forem feitas e os conhecimentos se interligarem. Nesse processo, as crianças poderão avaliar (de maneira crítica) quando e como usar a língua (oral ou escrita), as outras linguagens e as ferramentas computacionais adequadas.

Pedro Demo em seu artigo Olhar do Educador e Novas Tecnologias avalia o

educador frente às novas tecnologias e nesse sentido destaca o vazio existente

entre o potencial dessas novas tecnologias e a prática escolar. A aula perde sua

centralidade, porque os estudantes apreciam muito mais participar, colaborar e

compartilhar do que apenas serem meros espectadores, sendo assim, o professor

será um mediador dessa relação nesse processo de aquisição da leitura e escrita

onde o sujeito não será um mero espectador nem um copiador de conhecimentos, o

aluno passa a ter mais autonomia e autoria nessa relação de aprendizagem.

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ANEXO