O SEDENTARISMO NA FASE ESCOLAR - … · prazeroso, contribuindo na participação positiva e na...

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O SEDENTARISMO NA FASE ESCOLAR: medidas preventivas

NACK, Maria Lucia1

CARMO, Gonçalo Cassins M.2

RESUMO

O presente artigo é resultado do projeto desenvolvido no processo de Intervenção Pedagógica na Escola, do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, que foi implementado no Colégio Estadual Professor Becker e Silva no município de Ponta Grossa/PR, para alunos da 5ª série do Ensino Fundamental, no período vespertino, em contraturno, desenvolvido semanalmente. O objetivo principal do projeto foi apresentar os riscos ocasionados pela inatividade física e medidas preventivas, desenvolvendo atividades teórico práticas que estimulem a manutenção de um estilo de vida ativo. Durante o desenvolvimento do projeto percebemos grande interesse pelas atividades e pelo assunto, priorizando os jogos e as brincadeiras. Concluímos que atividades que não segregam os alunos e visam a sua efetiva participação são bem aceitas, incentivando a integração, a consciência corporal, a liberdade de expressão, favorecendo o despertar de hábitos favoráveis no combate ao sedentarismo ao longo de suas vidas.

Palavras-chave: sedentarismo; atividades lúdicas; medidas preventivas.

1 Professora.Licenciada em Educação Física (PUC-PR). Especialista em Ciência da Educação Motora (UEPG).

Atua na Rede Pública do Estado do Paraná, no município de Ponta Grossa. Professora PDE, desenvolveu o

projeto que é a temática deste trabalho, no Colégio Professor Becker e Silva. 2 Professor Orientador PDE. Licenciado em Educação Física. Especialista em Políticas Públicas para o Lazer e o

Esporte. Mestre em Educação Física (Unicamp). Professor Assistente da Universidade Estadual de Ponta

Grossa

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1 INTRODUÇÃO

O presente Artigo Científico é parte integrante do Programa de

Desenvolvimento Educacional – PDE - 2010, da Secretaria de Estado da Educação

do Paraná. O PDE é uma política pública educacional que propicia o diálogo entre

os professores da Educação Básica e Ensino Superior, em diversas atividades

teórico/práticas. Esta interação resulta na produção conjunta do conhecimento e

busca uma melhoria nas práticas pedagógicas a fim de enriquecer o processo

ensino-aprendizagem nas escolas públicas paranaenses. Este programa, além de

visar à formação continuada do professor, propõe uma intervenção pedagógica na

escola a partir de um projeto de pesquisa e ação.

O tema de estudo deste trabalho é o sedentarismo e suas implicações ao

longo da vida. Justifica-se pela importância de formar jovens mais ativos e

saudáveis, conscientizando-os dos perigos da inatividade física. O tema surgiu da

constatação de que existe, na escola em que atuo um grande número de alunos

resistentes a realizar atividades físicas e sem interesse em mudar de

comportamento. Seu objetivo é desenvolver atividades teórico/práticas que

estimulem a manutenção de um estilo de vida ativo, fortalecendo a autoestima,

prevenindo atitudes de descuido e abandono com o corpo e a saúde.

A pesquisa buscou também uma forma de amenizar a mudança brusca que

ocorre nesta fase, pois, a escola passa a oferecer menos oportunidades para

brincar, criar com liberdade e expressar-se com naturalidade. Algumas crianças

ainda, nesta fase escolar, enfrentam problemas de convivência, como dificuldades

de integrar-se ao grupo e timidez, fatores que prejudicam o desenvolvimento positivo

de suas potencialidades, reprimem a criatividade. Procurou-se então uma maneira

de intervir e oportunizar atividades de caráter lúdico que, além de produzirem o

conhecimento, promovam a socialização, alimentem a autoestima, momentos de

alegria e o potencial criativo.

O projeto foi desenvolvido através da metodologia da pesquisa social, dando

particular destaque à pesquisa-ação, enquanto linha de pesquisa que foi aplicada na

averiguação e resolução de problemas, objetivando a transformação.

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De acordo com as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008), os

jogos e as brincadeiras como conteúdo estruturante, apresentam aspecto lúdico,

flexibilização das regras e a busca da participação de todos os alunos nas aulas de

educação física, desmistificando assim desigualdades arraigadas no contexto social.

Pretendeu-se estabelecer uma estreita relação entre o elemento articulador

“CULTURA CORPORAL E SAÚDE”, com o conteúdo estruturante “JOGOS E

BRINCADEIRAS”, possibilitando subsídios teóricos e práticos que possam colaborar

na conscientização e construção de novos paradigmas.

Uma preocupação no campo da Educação Física estabelece uma relação

emergente entre a prática da atividade física e a conduta saudável. Segundo

Guedes (1995), quanto mais precocemente se iniciarem os programas de prática de

exercícios físicos, maior deverá ser a proteção contra as disfunções crônico-

degenerativas (hipertensão, doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, obesidade,

câncer) e, por sua vez, o risco de mortes prematuras.

Os alunos foram estimulados através dos jogos e brincadeiras e assim

motivaram-se a praticar diversas atividades físicas como medidas preventivas contra

o sedentarismo e suas implicações.

3 DESENVOLVIMENTO

3.1 Saúde

Como afirma Nahas (2007), um estilo de vida ativo reduz o risco de doenças

crônicas e, aumenta a qualidade de vida de adultos e idosos e é fundamental para

um crescimento saudável.

De acordo com a Carta de Otawa ( 1986 ), boa saúde é um dos maiores

recursos para o desenvolvimento pessoal, social e econômico; é uma dimensão

importante da qualidade de vida; é muito mais que ausência de doenças. Faz-se

necessário motivar os jovens para mudanças no estilo de vida, buscando o

aprimoramento pessoal.

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Quando inicia sua vida escolar, a criança traz consigo a valoração de comportamentos favoráveis ou desfavoráveis à saúde oriundos da família e outros grupos de relação mais direta. Durante a infância e a adolescência, épocas decisivas na construção de condutas, a escola passa a assumir papel destacado devido à sua função social e por sua potencialidade para o desenvolvimento de um trabalho sistematizado e contínuo. Deve, por isso, assumir explicitamente a responsabilidade pela educação para a saúde, já que a conformação de atitudes estará fortemente associada a valores e que o professor e toda a comunidade escolar os transmitirão inevitavelmente aos alunos durante o convívio escolar. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1998, p.261)

3.2 Sedentarismo

Lembrando o homem primitivo que saltava para apanhar alimentos,

caminhava e corria para caçar ou fugir de animais ferozes, era uma questão de

sobrevivência. Com a evolução, o progresso e as facilidades da vida moderna, a

atividade física foi se tornando dispensável para o ser humano.

Segundo Lucchese (2010), ao deixar de realizar tarefas físicas, o corpo

humano perde parte de suas funções, estando sujeito a uma série de alterações em

todos os seus sistemas. O acúmulo de gordura provocado pela inatividade não se

manifesta apenas esteticamente. A deposição das gorduras também ocorre no

interior de nossos vasos e artérias, dificultando a passagem do sangue,

comprometendo a circulação. A interrupção de sangue nas artérias do cérebro

provoca o derrame, e no músculo cardíaco, o infarto.

Com a inatividade física nosso corpo vai ficando progressivamente

preguiçoso, aparecem dores musculares, lesões nas articulações, na coluna

cervical, torácica e lombar. Passamos a ser mais suscetíveis a gripes e infecções

pulmonares, pois a imunidade também é comprometida pelo sedentarismo.

3.3 Educação Física escolar na Promoção da Saúde

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Devido aos riscos enfrentados pela população urbana devido à violência,

podemos dizer que a escola parece ser, ainda, um dos únicos locais seguros para

esta prática nos dias de hoje. A Educação Física escolar deve ampliar a gama de

possibilidades práticas a fim de que um número maior de alunos possa usufruir de

seus benefícios.

Segundo Alves (2007), o sedentarismo já tem índices considerados

alarmantes. Na verdade, trata-se de um comportamento induzido por hábitos dos

confortos da vida moderna e que, com a evolução da tecnologia, o ser humano

adota cada vez mais a lei do menor esforço, reduzindo assim, o consumo energético

de seu corpo. Associado a ele, a obesidade, as cardiopatias, o diabetes e tantas

outras doenças aparecem com índices muito preocupantes principalmente nas

populações de jovens em idade escolar.

Pretende-se que a escola possa contribuir na formação de cidadãos mais

conscientes e preparados no aspecto biopsicossocial, realizando suas tarefas

cotidianas de maneira positiva, vencendo os desafios diários.

A sociedade moderna exige indivíduos cada vez mais saudáveis e sempre mais conscientes, suscitando que educação e saúde se entrelacem, como necessidades decisivas e imprescindíveis para a auto-realização humana. Nessa perspectiva surge e educação para a saúde, que se caracteriza como um trânsito entre as mais diversas áreas do conhecimento, para promoção de um melhor nível na qualidade de vida, para os indivíduos, para as comunidades e para a nação. A educação para a saúde exerce influência direta sobre a existência humana, pois compreende conhecimentos, atitudes e comportamentos que constituem o seu ser, o seu saber e o seu fazer (MENESTRINA, 2005, p.29)

Assim, a Educação Física tem o papel de desenvolver a consciência

corporal, o autoconhecimento, a cidadania, promovendo o desenvolvimento humano

em sua totalidade, preparando-o para as demandas do mundo atual.

3.4 Análise e Discussão dos resultados obtidos durante a implementação do

projeto

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O projeto foi desenvolvido na Escola Becker e Silva, com aproximadamente

20 alunos de 5ª séries do Ensino Fundamental em contraturno, uma vez por

semana. O estudo foi desenvolvido através da metodologia da pesquisa social,

dando particular destaque à pesquisa-ação, enquanto linha de pesquisa que foi

aplicada na averiguação e resolução de problemas, objetivando a transformação.

Foi aplicado inicialmente um questionário para avaliar a situação atual da

atividade física, como sugere Barbosa e Silva (2009), com modificações e

adaptações dos principais questionários (Aaron et al, OMS – WHO HBSC e PAQ-

NHANES), possibilitando estimular o aumento da atividade, a intervenção e

orientação nas modificações dos hábitos de vida dos educandos que foram

avaliados periodicamente por estes práticos métodos. O questionário acima citado

encontra-se disponível na Produção Didático Pedagógica, descrito na Unidade

Didática, no Portal dia-a-dia da Educação-PR.

Os adolescentes foram classificados de acordo com a frequência e

intensidade dos exercícios realizados em: inativos, se não realizavam nenhuma

atividade física; inadequadamente ativos, se realizavam atividade física numa

frequência de duas ou menos ou duração inferior a uma hora por semana; ativos, se

realizavam atividade física três vezes ou mais e duração superior a uma hora por

semana. O período sem realizar atividade física, foi dividido entre os que passam

mais ou menos de três horas ao dia assistindo televisão ou em outras atividades

sedentárias.

Através do questionário aplicado e das observações feitas, constatou-se que

os alunos desta faixa etária demonstram interesse sobre sua saúde, porém

apresentam hábitos errôneos que comprometem a mesma, participando de

atividades passivas como jogos eletrônicos, televisão e vídeo, diariamente.

Acreditam que preocupações e cuidados relevantes com hábitos saudáveis não

precisam ser adotados de imediato e sim quando forem adultos. Neste sentido foi

necessário conscientizá-los da necessidade de um trabalho preventivo, modificando

hábitos nocivos, orientando e fazendo-os perceberem que não estão imunes às

diversas doenças oriundas do sedentarismo apenas por serem adolescentes e que

quanto mais conhecerem e cuidarem de si, estarão mais preparados para atuarem

de maneira produtiva no dia-a-dia.

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Para enriquecer e fundamentar as aulas foram utilizados textos e vídeos

que contribuíram para a assimilação do conhecimento, conscientização dos riscos

da inatividade e principalmente nos benefícios que as atividades físicas propiciam no

organismo como um todo.

As diversas brincadeiras e jogos foram bem aceitas e tiveram a participação

de todos, pois não visavam competições acirradas e sim o envolvimento lúdico e

prazeroso, contribuindo na participação positiva e na expectativa a cada jogo

apresentado.

A avaliação de acordo com as Diretrizes Curriculares (2008) foi permanente,

contínua, com o objetivo de (re)planejar, identificar os avanços e dificuldades

constatadas no processo pedagógico. Tanto o professor quanto os alunos puderam

revisitar o trabalho realizado, contribuindo de forma crítica para a aprendizagem.

Reconhecer as possibilidades e importância de vivenciar o lúdico, o respeito

individual e coletivo, sem a preocupação de ser o melhor.

O projeto foi discutido com professores da rede estadual de ensino do

Paraná através do GTR - Grupo de Trabalho em Rede. Estes professores, que

atuam na mesma área de ensino, participaram ativamente desta intervenção

refletindo e dando ideias para a melhoria do projeto. A discussão em rede foi muito

interessante e possibilitou a todos um enriquecimento pessoal e profissional, assim

como a construção conjunta do conhecimento, as dificuldades encontradas, as

experiências vividas e possíveis ajustes necessários.

Desta maneira, os resultados obtidos do presente estudo foram produtivos,

os objetivos foram alcançados, os problemas surgidos revistos e superados.

4 CONCLUSÃO

O referido estudo mostrou-se relevante e bem aceito, visto que o

Sedentarismo é considerado uma epidemia mundial e precisa ser combatido.

Cabe a nós como educadores comprometidos com a disciplina de educação

física, alertar e conscientizar os educandos dos males e riscos da inatividade física.

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Os alunos durante a implementação do projeto, demonstraram curiosidade

sobre o assunto e foram motivados a adotar um estilo de vida mais ativo e saudável,

através das diversas brincadeiras e jogos aplicados. Verificou-se um crescente

interesse e participação dos alunos pelo referido estudo, favorecendo assim

mudanças de hábitos em seu cotidiano.

Durante o GTR, foi possível trocar ideias e enriquecer nosso estudo com os

participantes, e muitos cursistas colocaram em prática o referido projeto e seus

comentários foram positivos, pois seus alunos foram motivados a participar de

atividades físicas como brincadeiras e jogos com novos olhares, tendo como objetivo

a valoração de comportamentos favoráveis à saúde.

Neste sentido, o estudo estabeleceu a responsabilidade pela educação para

a saúde, visando o despertar e o conhecimento na adoção de novas condutas no

decorrer de suas vidas.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Ubiratan Silva. Não ao sedentarismo, sim à saúde: contribuições da Educação Física escolar e dos esportes. São Paulo, 2007.

Carta de Ottawa sobre a Promoção da Saúde. Disponível em: http://www.saudeemmovimento.com.br/conteudos/conteudo_exibe1.asp?cod_noticia=202.

Acesso em: 08/08/2011.

GUEDES, Dartagnan Pinto. Exercício físico na promoção da saúde. Londrina: Midiograf, 1995.

LUCCHESE, Fernando; CASTRO, Cláudio Nogueira de. Desembarcando o Sedentarismo. Porto Alegre: L&PM, 2010.

MENESTRINA, Eloi. Educação Física e Saúde. 3ª ed. – Ijuí: Unijuí ,2005.

NAHAS, Marcos V. Curso 6: Atividade Física & Saúde – 6º FÓRUM INTERNACIONAL DE ESPORTES. Florianópolis, 2007.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – Temas Transversais – Brasília, 1998.

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Educação Física. 2008.

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SILVA, Odwaldo Barbosa e. Questionários de Avaliação da Atividade Física e do Sedentarismo em Crianças e Adolescentes. Disponível em: http://departamentos.cardiol.br/sbc-derc/revista/2009/45/pdf/Rev45-p14-p18.pdf. Acesso em:

07/07/2012.