O Touro Sequencia
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SEQUÊNCIA DIDÁTICA: Leitura de quadro e produção de texto – O Touro de Tarsila do Amaral* Adaptação da sequência didática “Leitura de quadro e produção de comentário de Anamélia Bueno Buoro para a Revista Nova Escola.
Se as obras de arte são apenas submetidas a uma análise
ingênua elas podem ser bem conhecidas como combinações de forma,
cor, texturas e massa, mas pouco entendidas em relação aos motivos
religiosos, históricos, sociais, políticos, econômicos e outros que as
originaram. David Thistlewood, 1989.
CBC – Arte (em fase de elaboração)
Tópico e subtópico de conteúdo Habilidades e detalhamento das habilidades
1. Análise e crítica de obras de artes visuais
1.1. Identificar os elementos de composição de obras de artes visuais.
1.2. Usar vocabulário apropriado para a análise de obras de artes visuais.
1.3. Estabelecer relações entre análise formal, contextualização, pensamento artístico e identidade pessoal.
1.4. Usar vocabulário apropriado para discorrer sobre essas relações.
Matriz de Referência
I CONHECIMENTO, USO E ANÁLISE DOS ELEMENTOS NA PRODUÇÃO ARTÍSTICA.
D3 Analisar os elementos básicos formais.
D4 Argumentar sobre o uso dos elementos formais básicos utilizando o vocabulário adequado.
II CONHECIMENTO, USO E ANÁLISE DA ARTE NA HISTÓRIA
D19 Identificar e valorizar a arte local e nacional.
D26 Refletir e argumentar, utilizando vocabulário adequado, sobre as relações entre a arte e a realidade.
D28 Refletir, relacionar e argumentar sobre os produtores de arte e seus produtos na história.
III RELAÇÕES ENTRE ARTE E VIDA
D17 Utilizar vocabulário apropriado ao identificar, analisar e argumentar sobre sua produção pessoal.
CBC – Língua Portuguesa
Tópicos e subtópicos de conteúdo Habilidades e detalhamento das habilidades
3. Organização temática 3.0. Construir coerência temática na compreensão e na produção
de textos, produtiva e autonomamente.
11. Textualização do discurso expositivo 11.0. Reconhecer e usar, produtiva e autonomamente, estratégias de textualização do discurso expositivo, na compreensão e na produção de textos.
12. Textualização do discurso argumentativo 12.0. Reconhecer e usar, produtiva e autonomamente, estratégias de textualização do discurso argumentativo, na compreensão e na produção de textos.
Matriz de Referência
I – PROCEDIMENTOS DE LEITURA
D1 Identificar o tema ou o sentido global de um texto.
D3 Inferir informações implícitas em um texto.
SEQUÊNCIA DIDÁTICA: Leitura de quadro e produção de texto – O Touro de Tarsila do Amaral
O Touro, de Tarsila do Amaral.
CONTEÚDOS VINCULADOS AO TEMA
- Leitura de imagens.
- Modernismo.
- Relações entre o texto visual e o contexto histórico da produção da obra.
- Produção estética.
- Produção de Texto.
ANOS
- 8º e 9º anos.
TEMPO ESTIMADO
- 5-6 aulas.
PREPARO PRÉVIO DO PROFESSOR
- Leitura do texto original adaptado “(Des) Carneando O Touro de Tarsila do Amaral: um ensaio crítico
permeado de alegorias e sons” de Teresa Cristina Melo da Silveira.
- Apreciação das músicas e obras citadas no texto. (em anexo)
- Visita ao site www.tarsiladoamaral.com.br para exploração e conhecimento prévio.
- Em anexo jogos que podem ser encontrados no site acima citado para envio para os alunos.
- Assistir ao filme A Marvada Carne.
MATERIAL NECESSÁRIO
- Cópias coloridas (uma para cada aluno), imagem para projeção (através de retro-projetor, data-show) ou
uma imagem impressa em tamanho igual ou maior que A2 do quadro O Touro, de Tarsila do Amaral.
- Quadro para anotações.
- Cadernos de Artes, lápis, caneta e borracha.
- Cópias do Texto resumido e adaptado “(Des) Carneando O Touro de Tarsila do Amaral: um ensaio crítico
permeado de alegorias e sons” ou projeção do texto através de data-show ou retroprojetor em anexo.
- Duas obras produzidas pelo professor de Arte nas técnicas “óleo sobre tela” e “acrílica sobre tela”.
- Materiais para elaboração de uma pintura: telas, papel cartão ou papelão paraná; pincéis; tintas de cores variadas; potes para água, panos para limpeza dos pincéis e para limpeza do ambiente (dois panos para cada grupo, sendo que um para cada função).
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INTRODUÇÃO
Situação Prévia Sondagem oral, visualização e observação dos elementos da obra.
Instruções:
- Organize a sala formando duplas, peça que estejam com o caderno de artes e com todo o material
necessário.
- Apresente aos alunos a imagem, convidando-os a observar livremente a imagem do objeto artístico. Deve
ser feita antes de se acrescentar informações.
- Pergunte-os já conhecem a obra iniciando uma conversa.
Descrevendo1 Expressão/exteriorização do que foi observado na obra.
O professor apresenta questões que ajudam os alunos a exteriorizar suas percepções, sem direcioná-los
formalmente.
Instruções:
- Deve ser feita uma lista onde a maior quantidade de informações sobre o que é perceptível na obra esteja
registrado. Os alunos devem copiar essas informações.
- Peça que eles digam o que mais lhes chamou a atenção na obra.
- Faça perguntas que os estimulem a conseguir observar melhor: Como é o touro? Como os olhos do touro
são? Para onde ele olha? Aonde o touro está? Anote o maior número possível de informações que eles
conseguirem perceber.
Descrição (exemplo) - O que estou vendo?
- Um touro de chifres muito grandes.
- Parece que está em uma floresta.
- O animal está de pé, olhando para a frente. Parece que nos olha.
- O touro parece ser grande, mas como está longe não parece tão grande.
DESENVOLVIMENTO
Analisando2 Investigação intrínseca da imagem da obra de arte.
O professor deve ajudar os alunos a perceberem os elementos de composição, as formas, texturas, cores,
posicionamento dos elementos na superfície da imagem da obra, as habilidades da artista.
Instruções:
- A lista deve continuar a partir da análise das questões intrínsecas da obra.
Analisando (exemplo)
- Um touro está no meio da tela.
- As árvores da floresta parecem não ter folhas. O chão não tem nada.
Parece um círculo.
- O chifre parece a letra “U”. É maior que o corpo.
- Neste momento começarão a aparecer questões sobre as ideias da artista ao produzir a obra. Inicia-se o
módulo INTERPRETANDO.
Interpretando3 Percepção intuitiva e sensorial sobre a imagem da obra.
É o momento de maior possibilidade de desenvolvimento das habilidades pedagógicas.
Instruções:
- O professor, dando continuidade, deve permitir que os estudantes de arte deixem a imaginação fluir. Sem
tantas interferências. E, sempre anotar suas observações:
Interpretação (exemplo)
- Depois do chão que parece um círculo parece que há um despenhadeiro.
- Os olhos do boi parecem vazios. Parece que ele está com medo.
- Deve existir um caçador que ela não pintou. Ele deve estar no mesmo
lugar onde estamos. Pro isso o touro nos olha assustado: ele não tem para
onde ir.
Etc.
Fundamentando4 Informações adicionais sobre a história da arte e da obra.
O professor deve buscar várias referências e dominar o assunto. Este momento é a hora em que se traz as
informações históricas, curiosidades, críticas, etc. sobre a obra. De modo a auxiliar os alunos a ampliar seus
conceitos de compreensão sobre os valores da obra de arte.
Instruções:
Informações sobre a obra
- Pergunte-os se imaginam o título da obra e apresente-os o título original. Anote no quadro e peça-os que
copiem. Aproveite para falar da técnica. Se Possível leve uma pequena pintura com a técnica referida e
também uma com tinta acrílica para que eles percebam que existe diferença de técnicas de pintura. Faça
também uma medição com giz para que eles consigam visualizar o tamanho exato da obra.
Informações sobre a obra
Título: O Touro ou Boi na Floresta
Técnica: Óleo sobre Tela
Dimensões: 50 x 61 cm
- Contextualize a obra:
Data de execução da obra: 1928
Acontecimentos da época:
- Foi uma obra concebida em uma época em que a sociedade, era presa à tradição
acadêmica e vivia da importação atrasada dos modismos europeus.
- As discussões contemporâneas dos artistas sobre os novos rumos da Arte Moderna
eram recusadas.
- Entretanto, os avanços, sobretudo artísticos, ao redor do mundo, provocaram
profundas mudanças aqui no Brasil onde aconteceu o Movimento Modernista.
- Tarsila do Amaral juntamente com Oswald de Andrade iniciou o Movimento
Antropofágico no Brasil.
- Informações sobre a autora da obra:
Conte a eles quem pintou aquele quadro e fale sobre a vida da artista.
Anote tudo o que considerar pertinente na lousa.
Artista/autor: Tarsila do Amaral
Data de nascimento: 1886-1973
Quem foi a artista: Tarsila do Amaral nasceu em 1886, na fazenda São Bernardo em
Capivari, interior de São Paulo.
De família abastada, ela teve uma infância paradoxal, vivendo simultaneamente um
cotidiano de menina rica (pois tudo o que sua família usava – roupas e utensílios –
vinha diretamente da Europa), e crescendo entre bichos e plantas, em meio a
paisagens simples e de gente humilde, na fazenda onde morava.
Foi uma pessoa a frente do seu tempo, participou do Movimento Modernista e junto
com o seu 2° marido Oswald de Andrade iniciou o movimento antropofágico com a
tela Abaporu.
Faleceu na capital do Estado em 1973.
Aprofundando Leitura e compreensão do texto.
1ª Fase: Leitura do texto
Instruções:
- Leia o Texto “(Des) Carneando O Touro de Tarsila do Amaral: um ensaio crítico permeado de alegorias e
sons”.
- Explique os conceitos e use a imagem da obra projetada junto à leitura.
- Anote as informações mais importantes do texto e também os conceitos explicitados.
Informações dadas pelo texto sobre a obra O Touro:
Análise formal da obra baseada no texto Boi na floresta:
- Figura estilizada de um touro no centro da tela, com grandes olhos brancos, corpo volumoso e enormes
chifres apontando para cima.
- As patas direcionadas simultaneamente para a direita e para a esquerda, torna-o imóvel no ambiente.
- Contraste entre figura e fundo devido ao uso de cores escuras e claras.
- O fundo é formado por um plano côncavo que se encaixa, sobre um outro plano convexo.
- Volumes verticais ocupam grande parte do espaço, sendo que um deles parece se apoiar exatamente sobre a
cabeça do touro.
- As diferentes posições destes volumes, no que se refere ao limite inferior da tela, dão uma certa
profundidade à cena.
- Tais volumes, bem como a figura em cores escuras e a linha horizontal inclinada, tendem a sugestionar o
olhar do observador para baixo, atribuindo um peso maior à parte inferior da obra.
- Entretanto a linha curva formada pelos chifres do touro concede uma maior leveza ao quadro, equilibrando a
composição em um movimento ascendente.
- A linha do horizonte inclinada para baixo é fundamental para dar um certo movimento à composição, o que
não ocorreria caso fosse mais retilínea. - Excetuando-se as formas volumosas da cabeça e do corpo do touro, a
composição poderia ser resumida simplesmente em algumas linhas retas e curvas, dispostas ordenadamente na
tela.
- As linhas retas prevalecem.
2ª Fase: Informações Adicionais
- Convide-os a entrar no site informando o endereço www.tarsiladoamaral.com.br para conhecer outros de
seus trabalhos. Caso exista a possibilidade peça ao professor de informática que permita esse acesso
durante suas aulas ou se possível, leve-os à sala de computação que deverá ser agendada previamente para
que passeiem pela galeria de produções da artista de modo que estabeleçam um diálogo entre O Touro e
obras como Paisagem com Touro e O Sono, observando semelhanças e diferenças de forma e conteúdo.
CONCLUSÃO
Revelando5 Expressão artística em que o aluno revela o conhecimento
Uma nova obra é criada pelo aluno. Ele não tem que se pautar na imagem trabalhada, mas as referências a
ela deverão estar presentes em sua produção. Como, por exemplo, o tema, cores, composição, formas ou
modo de construção das ideias.
Finalização Expressão textual.
Instruções:
- Proponha a produção de um texto em que o aluno conjugue as informações obtidas e o conhecimento
construído ao longo das aulas.
Caso considerem pertinente, o professor de Arte e de Língua Portuguesa, a aula de produção textual pode
ser produzida durante a aula de Português destinada à produção de texto, quando a imagem da obra
deverá ser novamente utilizada diante de toda a turma.
Avalie:
Em Língua Portuguesa: Fluência, coerência entre as relações dos fatos e conceitos aprendidos.
Em Arte: Uso dos conceitos construídos na elaboração do texto, coerência entre as informações artísticas,
históricas e conceituais apreendidas.
* Adaptação da sequência didática “Leitura de quadro e produção de comentário de Anamélia Bueno Buoro para a Revista Nova Escola por Iara Lages de Alvarenga.
BUORO, Anamélia Bueno. Leitura de quadro e produção de comentário. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/arte/pratica-
pedagogica/leitura-quadro-producao-comentario-525536.shtml>. Acesso em: 10 de outubro de 2011.
1 “Descrevendo, analisando, interpretando, fundamentando e revelando são categorias que compõem o sistema Image Watching e permitem
formar um método direcionado ao ensino da arte. Essas categorias estão em um tempo verbal que expressa ação e são conhecidas como:
descrevendo, analisando, interpretando, fundamentando e revelando.” – OTT, Robert William. Ensinando Crítica nos Museus. In Arte-Educação:
leitura no subsolo. Ana Mae Barbosa, 1999. 2 Ibdem, 1999. 3 Ibdem, 1999. 4 Ibdem, 1999. 5 Ibdem, 1999.
(Des) Carneando1 O Touro de Tarsila do Amaral: Um Ensaio Crítico permeado de alegorias e sons Texto de Teresa Cristina Melo da Silveira resumido e adaptado por Iara Lages de Alvarenga para a Sequência Didática
interdisciplinar entre Arte e Língua Portuguesa.
Tarsila do Amaral foi uma artista modernista. Ela pintou o Brasil, desrespeitou
normas clássicas da pintura nacional e encheu suas telas de cores, muitas cores.
Conseguiu traduzir em tons vibrantes todas as sombras de um país que, segundo
a sua visão apurada, “também é caipira, interiorano e quase rústico”. Mas a
artista também desenvolveu trabalhos com temas sociais e urbanos, como em
Morro da Favela (1924)a, São Paulo (1924)
b, A Gare (1925)
c, Operários (1925)
d e
Segunda Classe (1933)e, dentre outras
obras.
Tarsila criou o conceito de “brasilidade”². Foi a primeira a usar as cores
“caipiras” e a utilizar temas do cotidiano brasileiro.
Boi na floresta, obra de Tarsila, também denominada O Touro, foi pintada em
1928 com a técnica óleo sobre tela. Suas dimensões são 50 x 61 cm e,
atualmente, pertence ao Museu de Arte Moderna da Bahia, na cidade de
Salvador.
Esta obra faz parte de uma das fases mais importantes da carreira da artista.
Foi uma obra concebida em uma época em que a sociedade, presa à
tradição acadêmica, vivia da importação atrasada dos modismos europeus,
relutando em aceitar as discussões contemporâneas dos artistas sobre os
novos rumos da denominada Arte Moderna. Entretanto, os avanços,
sobretudo artísticos, ao redor do mundo, influenciavam profundas
mudanças também no Brasil onde aconteceu o Movimento Modernista³.
O Movimento Modernista tinha como objetivos principais o direito à
pesquisa estética, à atualização da inteligência artística brasileira e à uma
consciência criadora nacional.”
Neste contexto Tarsila do Amaral juntamente com Oswald de Andrade, seu marido, iniciou o Movimento
Antropofágico4 no Brasil, que propunha a “deglutição” da cultura européia,
transformando-a em algo bem brasileiro. “A Antropofagia é o momento
histórico de grande densidade no Modernismo Brasileiro (...) um momento
de busca por emancipação e atualização dos artistas”.5
Na pintura Boi na floresta pode-se observar pesos e contrapesos, equilíbrio
e dinamismo convencional, linhas e cores
variando ao infinito. Apresenta a
“brasilidade” das cenas interioranas,
conquistando a emancipação das tradições
acadêmicas.
É possível realizar também um diálogo
pertinente entre outras obras da
própria Tarsila e a pintura Boi na
Floresta, partindo das linhas verticais
paralelas, dos volumes criados pela
intensidade da cor ou mesmo do
tema proposto, como pode ser percebido em O sono (1928), Floresta
(1929) e Paisagem com touro (1925), respectivamente.
O boi, parado defronte o espectador da obra, parece contar uma
história que conduz a um outro universo: o dos mitos regionais, tão comuns nos bocados de mundo caipira que
existem pelo Brasil adentro, um acervo precioso da cultura tradicional. O boi também está ligado a crendices, a
tradições rurais, a canções populares, a festas e folguedos em todo o país. O Boi-Bumbá em Parintins, no Amazonas5,
o Bumba-meu-boi nordestino, a Farra do Boi no Sul, o boi da cara preta dos
acalantos infantis, o boi sem coração das canções sertanejas, o boi dos
rodeios e festas de peão, o boi Barroso (personagem fictício do filme A
marvada carne6) e tantos outros, cuja narrativa de significação simbólica,
continua sendo transmitida de geração em geração, numa alegoria mítica. O
boi, parece estar pressentindo o seu destino, e recordando os tempos de
verdes pastagens, agora vive sozinho, inerte em meio à floresta que o
circunda. Desta forma, percebo, em uma análise iconológica, que a imagem
de Boi na floresta traz, no olhar da rês, o desassossego do animal que ruma ao
matadouro, perdido entremeio a formas verticais que gradeiam a
liberdade dos prisioneiros condenados à morte. Não há como escapar. A
floresta se fecha como as garras de um animal junto à sua presa.
Sem poder fugir da fatalidade iminente, o boi trava uma batalha
silenciosa e estática com as grades que o prendem. Grades metálicas,
resistentes. Firmes na repetição das
formas paralelas. Em uma
verticalidade ascendente que bem
poderia ser invertida. Distante do
campo, cenário natural de sua existência, o boi será constantemente derrotado
quando a batalha travada for contra a fome de milhões de brasileiros.
Esta pintura se achega a mim trazendo uma grande quantidade de sons, não
apenas das canções de ninar7, do Menino da Porteira
8 ou da Vaca Estrela e do Boi
Fubá9, mas principalmente da voz melodiosa dos boiadeiros, tocando a boiada bem
cedinho, logo ao raiar do dia. Ao observar a imagem Boi na Floresta, e permitindo ser por ela também observada,
posso perceber, ao longe, o som de algumas vozes entrecortadas. É a saudade teimando em ecoar, silenciosamente,
uma expressão sertaneja: “– Êêê, boi!”.
NOTAS 1 Carnear: v. t. Matar gado. (SILVEIRA BUENO, 1968. p.629.)
2 Fonte: http://www.tarsiladoamaral.com.br/ Consulta realizada em junho de 2004.
³A Semana de Arte Moderna de 1922, realizada em São Paulo, envolveu representantes das artes plásticas, da
literatura, música e dança, marcando o princípio deste movimento modernista denominado Modernismo
Brasileiro, que discutia como criar uma arte brasileira autêntica, incorporando as propostas das vanguardas artísticas européias do
início do século XX. 4 Em 11 de janeiro de 1928, Tarsila dá de presente de aniversário para Oswald de Andrade uma pintura que o deixa muito
impressionado: “É o homem, plantado na terra!”, diria ele a respeito desta tela. Desde então, Oswald, Tarsila e seu amigo Raul
Bopp, propuseram-se a fazer um movimento em torno desde quadro, dando origem ao Movimento Antropofágico. O título da
obra foi então composto consultando um dicionário da língua dos índios, o tupi-guarani. Abaporu vem de aba (homem) e poru
(comer) e significa o mesmo que Antropofagia, que vem do grego antropos (homem) e fagia (comer). Conforme consulta realizada
em junho de 2004 ao site oficial de Tarsila do Amaral. Fonte: http://www.tarsiladoamaral com.br/. 5Paulo Herkenhoff Cf. Material de apoio educativo para o trabalho do professor com Arte – XXIV Bienal de São Paulo.
6Ficha técnica: Título original: A marvada carne/ Gênero: comédia brasileira/ Duração: 77 min./ Lançamento: Brasil, 1985/
Distribuição: Embrafilme/ Direção: André Klotzel/ Roteiro: André Klotzel e Carlos Alberto Sofedini/ Produção: Cláudio Kahns, Tatu
Filmes/ Música: Rogério Duprat/ Fotografia: Pedro Farkas/ Direção de Arte: Adrian Cooper/ Figurino: Maísa Guimarães/ Edição:
Alain Fresnot. Elenco: Adilson Barros, Fernanda torres, Dionísio Azevedo, Geny Prado, Regina Case, Lucélia Machiavelli, Paco
Sanchez, Henrique Lisboa, Chiquinho Brandão, Tonico e Tinoco.
7 Com por exemplo Acalanto, de Dorival Caymmi, gravada por Roberto Carlos no Compacto Roberto Carlos, em 1973, pela CBS.
8 Composta por Teddy Vieira e Luizinho, gravada por Sérgio Reis no LP Sérgio Reis, 1973, pela Odeon.
9 Composta por Patativa do Assaré e gravada por Rolando Boldrin no LP Caipira, 1981, pela RGE.
Letras das músicas citadas no texto
Vaca Estrela e boi Fubá
Pena Branca e Xavantinho
Seu doutô, me dê licença Pra minha história contá Hoje eu tô em terra estranha É bem triste o meu pená Eu já fui muito feliz Vivendo no meu lugá Eu tinha cavalo bão Gostava de campear Todo dia eu aboiava Na porteira do curral Êeeeiaaaa Êeee vaca Estrela Ôoooo boi Fubá Eu sô filho do Nordeste Não nego meu naturá Mas uma seca medonha Me tangeu de lá prá cá Lá eu tinha o meu gadinho Não é bão nem imaginá Minha linda vaca Estrela E o meu belo boi Fubá Quando era de tardinha Eu começava aboiá Êeeeiaaaa Êeee vaca Estrela Ôoooo boi Fubá Aquela seca medonha Fez tudo se atrapaiá Não nasceu capim no campo Para o gado sustentá O sertão se esturricô Fez o açude secá Morreu minha vaca Estrela Se acabô meu Boi Fubá Perdi tudo quanto eu tinha Nunca mais pude aboiá Êeeeiaaaa Êeee vaca Estrela Ôoooo boi Fubá Hoje nas terra do Sul Longe do torrão natal Quando vejo em minha frente Uma boiada a passá As águas corre nos óio Começo logo a chorá Me lembro a vaca Estrela Me lembro meu boi Fubá Com sodade do Nordeste Dá vontade de aboiá Êeeeiaaaa Êeee vaca Estrela Ôoooo boi Fubá
Boi da Cara Preta
Temas Infantis
Boi, boi, boi boi da cara preta pega este menino que tem medo de careta
O Menino Da Porteira
Sérgio Reis
Toda vez que eu viajava pela Estrada de Ouro Fino de longe eu avistava a figura de um menino que corria abrir a porteira e depois vinha me pedindo: - Toque o berrante seu moço que é pra eu ficar ouvindo. Quando a boiada passava e a poeira ia baixando, eu jogava uma moeda e ele saía pulando: - Obrigado boiadeiro, que Deus vá lhe acompanhando pra aquele sertão à fora meu berrante ia tocando. Nos caminhos desta vida muitos espinhos eu encontrei, mas nenhum calou mais fundo do que isso que eu passei Na minha viagem de volta qualquer coisa eu cismei Vendo a porteira fechada o menino não avistei. Apeei do meu cavalo e no ranchinho a beira chão Ví uma mulher chorando, quis saber qual a razão - Boiadeiro veio tarde, veja a cruz no estradão! Quem matou o meu filhinho foi um boi sem coração! Lá pras bandas de Ouro Fino levando gado selvagem quando passo na porteira até vejo a sua imagem O seu rangido tão triste mais parece uma mensagem Daquele rosto trigueiro desejando-me boa viagem. A cruzinha no estradão do pensamento não sai Eu já fiz um juramento que não esqueço jamais Nem que o meu gado estoure, e eu precise ir atrás Neste pedaço de chão berrante eu não toco mais.
Referências Bibliográficas
BUORO, Anamélia Bueno. Leitura de quadro e produção de comentário. Disponível em:
<http://revistaescola.abril.com.br/arte/pratica-pedagogica/leitura-quadro-producao-
comentario-525536.shtml>. Acesso em: 10 de outubro de 2011.
BARBOSA, Ana Mae. 1975. Teoria e prática da educação artística. São Paulo, Cultrix.
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Primeiro e
segundo ciclos do ensino fundamental: Arte. Brasília: Ministério da Educação/Secretaria de
Educação Fundamental, 1997.
MINAS GERAIS, Secretaria de Estado de Educação. Conteúdo Básico Comum: Arte – Ensinos
Fundamental e Médio. Disponível em:
http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/banco_objetos_crv/%7BE9F7E455-BC41-480C-
BB41-6BC032BE8999%7D_livro%20de%20artes.pdf.
MINAS GERAIS, Secretaria de Estado de Educação. Conteúdo Básico Comum: Arte – Ensinos
Fundamental e Médio. Disponível em:
http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/banco_objetos_crv/%7B81BD08C9-B1A8-46F3-
BBE4-CC9C6E0F6319%7D_proposta-curricular_arte_ef.pdf.
FUSARI, Maria F. de Rezende e FERRAZ, Maria Heloísa C.de T. Metodologia do Ensino da Arte.
São Paulo: Cortez Editora, 1995.